O Bolchevique # 2

12
O Bolchevique - Outubro de 2010 1

description

Ocupação militar dos bairros proletários do Rio; Coréia do Norte

Transcript of O Bolchevique # 2

Page 1: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 1

Page 2: O Bolchevique # 2

2 O Bolchevique - Outubro de 2010

Dilma deu carta branca para Guido Mantega, o re-empossado Ministro da Fazenda, anunciar que o próximo governo fará o ajuste fiscal e o arrocho salarial. Depois de distribuir mais de 300 bilhões de reais para os grandes capitalistas para “salvá-

los” da crise e até de “emprestar” dinheiro para a agiotagem internacional do FMI, agora é hora de fazer o ajuste com os salários dos que foram forçados a apertar os cintos durante a crise.

Segundo o ministro: “Nos últimos dois anos nós gastamos um pouco mais. Foi ano de recuperação da crise, o Estado tin-ha que ter presença maior, dando maior subsídio, mais gastos. Agora, nós vamos consolidar, fazer uma consolidação fiscal... O funcionalismo está ganhando bem. Nós aumentamos os ven-cimentos durante o governo Lula, várias vezes, o funcionalismo do judiciário, do legislativo, do executivo. Então é o momento de dar uma parada: no ano de 2011, nós não estamos prevendo aumento para o funcionalismo... Salário mínimo, o valor é R$ 540. Não dá para subir mais, porque senão aumentam os gastos da Previdência.” (entrevista do Ministro da Fazenda ao Jornal Nacional, Rede Globo, 24/11/2010). De quebra, Mantega, ape-lando para uma velha desculpa utilizada por todos os governos patronais, justifica o arrocho citando a previdência, que será alvo do próximo ataque, retomando no Brasil a reforma anti-operária que os trabalhadores dos EUA e da Europa vêm so-frendo após a crise.

Diante desta necessidade da burguesia de impor os custos da crise ao proletariado, a truculenta ação militar policial dos governos Lula-Dilma/Cabral no Rio de Janeiro contra os bai-rros proletários não é um fenômeno à parte, como podem acre-ditar os mais desatentos. A orientação do governo para impor aos trabalhadores em geral, a começar pelos servidores públi-cos federais que estão no topo da cadeia profissional, o custo da crise capitalista combina-se com o incremento da política sistemática do Estado de aterrorizar o conjunto da classe a par-tir de uma operação de guerra contra os bairros proletários em nome do combate ao setor mais desagregado das classes des-possuídas, o lumpemproletariado que trabalha para a empresa capitalista do tráfico de drogas.

Para além da questão do controle do tráfico e do comércio nas favelas, o detonador imediato da guerra contra os pobres, a ofensiva policial militar que se iniciou nos morros cariocas, já estava engatilhada. Foi encomendada como parte da limpeza social anterior aos eventos imperialistas da copa e olimpíadas e não se restringirá ao Rio.

Neste quadro existe uma unidade programática pela milita-rização do controle social dentre todos os partidos defensores do regime democrático burguês, incluindo os partidos pequeno burgueses como PSOL e PSTU. O prefeito fascistóide paulista

Gilberto Kassab, que anunciou sua futura filiação ao PMDB de Quércia, saiu na frente. Em São Paulo, desde o despejo da “Ocupação Ipiranga”, na Avenida do mesmo nome, no centro da cidade, a pedido da mega construtora Camargo Correa, até as tarefas mais simples como a “fiscalização” de camelôs e táxis já estão a cargo da Polícia Militar que controla diretamen-te 14 das 31 subprefeituras.

No Maranhão, onde o PT está coligado com a oligarquia ar-quicorrupta do clã Sarney, a repressão aos setores mais oprimi-dos da população como índios, quilombolas e presidiários tem produzido dezenas de mortes pela mão do aparato repressivo estatal-patronal.

Cada vez se configura mais a existência de um único par-tido burguês que administra o país a serviço do imperialismo, sob o mesmo programa anti-operário para oprimir e explorar a população trabalhadora. O que não quer dizer que a política do “fogo amigo” principalmente entre PMDB e PT na disputa pelo botim estatal não seja a tônica predominante no governo Dilma.

Todo o conjunto da esquerda revisionista segue a reboque da propaganda burguesa que justifica neste momento o recru-descimento da repressão estatal contra o proletariado.

PT E PSOL:IMPOR UPPs EM TODAS AS FAVELAS DO PAÍS

O PT defende que todos os Estados adotem as famigeradas Unidades de Polícias Pacificadoras (UPPs), organismos de re-

Pré-estréia do governo Dilma:uma guerra de classes contra a população

pobre e trabalhadora. Organizar umaforte oposição revolucionária contra o

“novo” governo e seus ajustes!

SEGUE è

EDITORIAL

Durante inauguração no Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro, a primeira favela ocupada pelas UPPs, Lula garantiu que este modelo de controle dos bairros proletários será estendido para os outros estados

Page 3: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 3

pressão especializados em ocupar favelas e assassinar trabal-hadores.

Seguindo a política repressiva do governo Lula, o PSOL através de seu “especialista em direitos humanos”, deputado Marcelo Freixo, defende a extensão do domínio das (UPPs), para todas as favelas: “Por que as UPPs não chegam para to-dos? E por quê? Por que, indiretamente, nas entrelinhas, o Go-vernador voltou a acreditar que as milícias representam um mal menor? É isso que está sendo dito, porque as UPPs não chega-ram às áreas de milícia? Isso o Governador vai ter que explicar. E a gente está aqui para cobrar... São mais de mil favelas no Rio e as UPPs não chegam a 13 delas.” (Por que as UPPs não chegam para todos, site do deputado Marcelo Freixo).

LER-QI:PELA RETIRADA DAS UPPs JUNTAMENTE COM O PSOL QUE DEFENDE UPPs EM TODAS AS FAVELAS

A LER fez entrismo orgânico no PSOL entre 2006 e 2007. Saiu deste partido, porém a sua política oportunista não saiu de dentro da LER. Uma corrente principista denunciaria a política policialesca do deputado estadual psolista fluminense, mas a LER admira-o por sua popularidade e votação e chama-o a fa-zer uma frente popular, unindo os programas inconciliáveis da expulsão do aparato repressivo com o da ampliação do controle social do mesmo aparato. Por isto, a LER defende: “Chamamos as organizações de direitos humanos, os sindicatos, as centrais sindicais, as entidades estudantis, os partidos de esquerda, e antes de mais nada o recentemente bem-votado e conhecido defensor dos direitos humanos Marcelo Freixo do PSOL, a organizarmos imediatamente uma campanha pela retirada das tropas policiais dos morros e favelas e contra os interesses rea-cionários dos dois lados envolvidos nesta disputa de lucros e re-pressão.” (Rio de Janeiro: Frente à onda de violência e a ofensi-va policial, declaração da LER-QI Rio de Janeiro, 26/11/2010).

CONLUTAS E PSTU:PELO AUMENTO DOS INVESTIMENTOS NA RE-

PRESSÃO E POR UMA NOVA PM TENDO COMO RE-FERÊNCIA A “DEMOCRÁTICA” POLÍCIA DOS EUA

A Conlutas e o PSTU não deixaram espaço para ninguém posicionar-se a sua direita nesta questão. Depois do fiasco do Conclat, e da derrota de suas ambições por receber gordas ver-bas estatais com a legalização de um novo aparato sindical re-formista, o PSTU abandonou de vez todos os pudores políticos para defender desesperadamente a preservação da sobrevivên-cia política do seu aparato sindical. Fez frente com o PPS, par-tido do presidente da Fiesp, nas eleições dos metroviários pau-listas e outra frente não menos oportunista com a Articulação para o Sindicato dos Correios de São Paulo.

A CSP-Conlutas defende “aumentar os investimentos para capacitar a polícia” (“O Rio de Janeiro é sacudido pela violên-cia por culpa do governo”, nota da CSP-Conlutas, 26/11/2010), como se a PM, o BOPE, agora apoiados pelas Forças Armadas de Lula e Dilma, treinadas na repressão aos nossos irmãos hai-tianos, precisassem de mais patrocínio estatal para realizar as execuções sumárias e os despejos criminosos que estão fazendo nos morros proletários cariocas (Vila Cruzeiro, Complexo do Alemão,...).

O PSTU já propõe a criação de uma nova polícia a espelho da que existe nos EUA: “É necessário acabar com as polícias atuais, investigar e prender toda sua banda podre, e criar outra. A nova polícia teria que se organizar de forma radicalmente di-ferente da atual. Deve desaparecer a diferença entre polícia civil

e militar, que não serve de nada, e assegurar todas as liberdades sindicais e políticas a seus participantes. É preciso também que seus comandantes ou delegados sejam eleitos pela população da região onde atuam. Ao contrário dos que se escandalizem com a proposta, a eleição de delegados locais é realizada em muitos países, inclusive nos EUA. É uma forma democrática de com-prometer esses comandantes com a população local.” (Como enfrentar a violência urbana? Um programa radical dos trabal-hadores para um gravíssimo problema, Eduardo Almeida, site do PSTU, 27/10/2009). O que chama atenção é o fato de que a “radicalidade” do programa do principal dirigente do PSTU não está a favor dos trabalhadores, mas da direita reacionária, já que tem como modelo a “democrática” polícia dos EUA que cumpre muito bem seu papel racista em defesa dos interesses imperialistas contra o proletariado estadunidense.

LBI:PROSTRAÇÃO QUE DESARMA

POLITICAMENTE OS TRABALHADORES,ASSEGURANDO QUE DILMA NÃO IRÁ ATACÁ-LOS

Mesmo que o governo tenha antecipadamente anunciado em alto e bom som e com todas as letras que vai realizar um drástico ajuste fiscal e um brutal arrocho salarial, há quem ga-ranta que Dilma não realizará este ataque. Trata-se da LBI que no texto principal de sua última brochura faz o seguinte prog-nóstico: “Assim como a grande burguesia “tratorou” seus pró-prios pares descontentes (por mais poderosos que fossem como a Rede Globo) já projeta a construção de uma alternativa segura em 2014. Colocará em marcha a “cláusula sagrada” do reve-zamento democrático, apostando no retorno de Lula somente em 2018, deixando este próximo interregno (2014-2018) para o surgimento de um novo bloco político, liderado por Marina e futuros aliados. Este governo sim, possivelmente chefiado

Soldados do Bope entrando em veículo blindado de guerra para invadir morro e o protesto da população contra a ocupação militar

SEGUE NA PÁGINA 5 è

Page 4: O Bolchevique # 2

4 O Bolchevique - Outubro de 2010

OB: Você concorda com a avaliação das direções da CUT/CONTRAF e APCEF/SP (Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal) de que a greve foi vitoriosa?

Vladimir: Não, em hipótese nenhuma. Foi uma greve fortíssima em todos os bancos, inclusive nos bancos privados, onde a ades-ão costuma ser menor do que no BB (Banco do Brasil) e na CEF (Caixa Econômica Federal). Os odiados banqueiros do ITAÚ e do Bradesco tiveram que enfrentar a maior greve dos últimos 20 anos. Contra toda essa disposição de luta da categoria, a greve foi bu-rocratizada desde o primeiro dia. Na primeira assembléia de São Paulo, foi vetada a palavra aos bancários de base e às correntes sindicais menores, como produto de um acordo entre CUT, CTB, Conlutas e Intersindical, que foram os únicos a terem acesso ao microfone.

OB: O que você achou do acordo assinado?

Vladimir: O índice de reposição aprovado, de 7,5%, foi extrema-mente rebaixado, tanto diante da inflação real quanto, mais ainda, diante dos lucros estratosféricos dos banqueiros. No primeiro se-mestre de 2010, os bancos BB, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander, juntos, tiveram como lucro líquido a “baba” de 21,3 bilhões de reais. A conferência nacional da CONTRAF, que é dirigida pela CUT e pela CTB, aprovou como índice a ser reivindicado pífios 11%. Esta reivindicação elaborada por estas centrais pró-patronais e pró-governamentais desconsiderou de forma vergonhosa as per-das históricas dos bancários que, na Caixa, ultrapassam os 90%, no BB os 80% e nos bancos privados os 20%. Para se ter uma idéia do disparate da política traidora dessas centrais, já nos primeiros dias da greve, o pequeno BRB (Banco Regional de Brasília) ofereceu 12% de reajuste salarial. Ou seja, embora eu considere esse índice já rebaixado, não poderíamos aceitar nada menos que isto. Além de tudo, saímos da greve punidos, pois os bancários vão ter que repor os dias parados através da realização de horas extras não pagas, além do desconto de 15 dias no vale-transporte. Esta questão não é de menor importância, pois esse tipo de resultado faz com que o bancário pense duas vezes antes de aderir a greves futuras.

OB: Qual sua posição sobre a PLR?

Vladimir: Antes de mais nada, considero a PLR (participação nos lucros e resultados) uma adaptação equivocada do sindicalismo pelego ao programa dos patrões e confunde propositadamente os interesses dos trabalhadores com os interesses dos seus inimigos de classe de lucrar explorando os bancários e os clientes. Lamen-tavelmente este programa burguês foi incorporado à pauta de reivindicações de todas as correntes do movimento sindical bra-sileiro, da Articulação à LBI. E além da adaptação à PLR, a bu-rocracia sindical e essas correntes que se dizem revolucionárias e proletárias se submetem a uma nova capitulação: aceitam, nos acordos, valores ínfimos em relação aos lucros dos banqueiros. O que deveríamos reivindicar é a reposição das perdas históricas, ou seja, a Caixa, por exemplo, deveria ter mais de 90% de reajuste salarial.

OB: Como você avalia o papel das Centrais que estão à esquer-da da CUT, como a CSP-Conlutas e a Intersindical?

Vladimir: A posição da Intersindical (PSOL) é clara. Apesar de ter defendido a continuidade da greve, compõe a direção do sindi-cato dos bancários. A ascensão de Lula ao governo não alterou em nada a disposição desta corrente em colaborar com a direção lulis-ta traidora. O PSTU, que é direção majoritária da CSP-Conlutas, apesar de ter atuado no movimento ter defendido a não aceitação do acordo e a continuidade da greve, teve em seu balanço uma posição quase tão vergonhosa quanto os que celebraram o “acordo histórico”. O título do balanço dos morenistas sobre a greve de bancários publicado em seu site no dia 11/11/2010: “Greve nos Bancos Arranca Conquistas”, já denuncia sua adesão ao engodo triunfalista da CUT. O argumento principal do PSTU é tão falso quanto o da direção do sindicato dos bancários. Ambos baseiam-se em que o acordo aumentou os pisos salariais acima de 11%, quando todos sabemos que é uma minoria de bancários que recebe o piso. Também é sabido pela categoria que os membros do Movi-mento Nacional de Oposição Bancária – MNOB (Conlutas/PSTU) rebaixaram sua reivindicação econômica inicial para 12%, apenas 1% acima do que tirou a Contraf. A burocracia do PSTU está mais preocupada em montar uma chapa de oposição para as eleições sin-dicais de 2011, embora tenha uma política cada vez mais parecida à da Articulação.

OB: Que métodos a direção do sindicato usou para conduzir a greve à derrota?

Vladimir: O governo Lula vem, desde o início do mandato, uti-lizando a mesa única para atrelar as negociações ao teto imposto pela Fenaban, aproveitando-se para nivelar por baixo o reajuste aos bancários dos bancos estatais, onde a greve é mais forte. Quando as negociações emperram neste tipo de mesa viciada, inicia-se no sindicato a operação desmonte nas assembléias. Nesta campanha o sindicato dividiu o movimento em três assembléias (BB, Caixa e privados) no dia 13/10/2010, quando defendia a aceitação do acordo e o fim da greve. Mudou o horário das assembléias de 16h para 18h30, possibilitando a participação de gerentes e demais fu-ra-greves que compareceram em massa a mando de suas adminis-trações para votar o fim da mobilização. Na assembléia da Caixa, a direção do sindicato mentiu ao informar que a greve no Rio de Janeiro havia acabado, além de omitir à base que a PLR teria um redutor. Na entrada da quadra dos bancários onde se realizou a as-sembléia da CEF, havia funcionários do sindicato distribuindo a folha bancária e abordando os trabalhadores, induzindo os mesmos a aceitar o acordo baseando-se na mentira descarada de que a greve estava refluindo neste banco estatal, quando na verdade a adesão ainda beirava os 100%. Ao final da assembléia, onde a proposta do sindicato venceu por cerca de 60% a 40%, podia- se notar no semblante de parte significativa dos trabalhadores que lutaram por quinze dias, um misto de revolta e frustração. Cabe ainda desta-car que o sindicato não organizou piquetes – espaço privilegiado para politização da categoria – substituindo-os por comissões de esclarecimento compostas por funcionários do sindicato. Também

BANCÁRIOS

“Fomos derrotados na greve de 2010”O Jornal O Bolchevique entrevista o companheiro Vladimir Marques (codinome), simpatizante da Liga Comunista, bancário da Caixa Econômica Federal de São Paulo. Ativista do banco estatal que tem sido a vanguarda das lutas da categoria durante os oito anos do governo Lula, mais de um mês após finalizar a greve nacional, o companheiro entrevistado reflete as consequências para a categoria do resultado do que a burocracia da CONTRAF – CUT, Sin-dicato dos Bancário de São Paulo comemoraram como vitória e “acordo histórico”.

Page 5: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 5

o que o sindicato apresenta como comando de greve são uma frau-de burocratizada, porque não são eleitos nas assembléias grevistas ou por locais de trabalho. Não passam de ajuntamentos da própria diretoria com delegados sindicais eleitos a frio, fora do momento da greve. Não podemos deixar de lembrar que a burocracia sindical tem usado bate-paus para combater os que se opõem a suas po-sições, proibido a distribuição ou venda de material político no in-terior das assembléias, impedido a participação dos demitidos nas assembléias, controlado rigidamente a participação dos bancários com uso até de pulseiras de plástico e proibido a participação de trabalhadores de outras categorias que se solidarizam com a nossa greve e que antes da era lula tinham livre acesso.

OB: Voltando à questão da mesa única, qual a solução para o impasse?

Vladimir: Hoje, mesmo quando somos derrotados no campo econômico, as direções governistas/patronais e as oposições refor-mistas (PSOL-PSTU) cantam vitória. Para nós, marxistas, a vitória vai além da conquista do reajuste econômico: está no fortalecimen-to da unidade e no amadurecimento da consciência de classe dos trabalhadores. Como afirmam Marx e Engels no Manifesto Comu-nista: “Às vezes, os operários triunfam; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas é menos o sucesso imediato que a crescente união dos trabalhadores”. E o que tem isso a ver com a mesa única? Historicamente, os trabalhadores defendem a negociação coletiva de todo um ramo profissional, independente de ser público ou privado. A mesa única instaurada no governo Lula converteu-se num mecanismo utilizado pelo Estado para nivelar por baixo o reajuste nos bancos públicos, o que provoca, apesar de a mesa ser única, uma divisão da categoria. A defesa pura e sim-ples de mesas separadas, como fazem a LBI e mais recentemente o PSTU, também é um equívoco, porque coloca como objetivo final da greve unicamente o reajuste salarial. Ou seja, é uma posição trade-unista, portanto não marxista.

OB: Que saída o companheiro vê para que derrotas como essa não se repitam no futuro?

Vladimir: Creio que a única saída seja a construção de uma nova direção que impulsione um trabalho de base, ganhando os mel-hores lutadores e forjando militantes marxistas revolucionários, não só para os bancários, mas para o conjunto dos trabalhadores, a fim de superar a degeneração lulista e de seus satélites reformis-tas e centristas.Só uma direção revolucionária do proletariado po-derá desenvolver todo o potencial que as greves nacionais anuais dos bancários são capazes de desencadear sobre a luta de classes no Brasil. Para isso é preciso ter como norte a estatização sob o controle dos trabalhadores dos bancos, expropriando o parasitário capital financeiro e impulsionando a classe trabalhadora para a to-mada do poder e o socialismo.

por Marina, terá como missão absorver os impactos da crise mundial sobre os “BRICs” e preparar um drástico ajuste mo-netário e fiscal nas contas estatais. Quanto às “premonições” da iminência da crise cambial atingir o Brasil já em 2011, são mais baseadas no desejo eleitoral de forças marginais da política burguesa como PSOL e congêneres, do que em uma rigorosa avaliação científica do quadro da economia mun-dial.” (Triunfou Dilma, Referendou-se o deliberado, Jornal Luta Operária, nº 203, 11/2010, reproduzida na brochura: Crônica de uma eleição anunciada).

Ficamos pensando em como alguém em sã consciência pode dizer que a Rede Globo foi “tratorada” pela burguesia para que Dilma fosse eleita, se a Globo é o principal porta-voz da classe dominante. A LBI cai no mesmo impressionis-mo de grande parte dos ideólogos revisionistas tupiniquins, diante da chantagem que a grande mídia exerce sobre o go-verno burguês bastardo da frente popular a fim de adestrá-lo ainda mais. No entanto, o que mais chama a atenção é o papel nefasto da “rigorosa avaliação científica” que logo na pré-estréia do Governo Dilma cai por terra e desarma os trabalhadores para os enormes ataques que já estão sofrendo.

CRIAR COMITÊS POPULARES DE AUTO-DEFESAPARA DERROTAR A REPRESSÃO DE LULA-DIL-MA E SEUS TÍTERES ESTADUAIS E MUNICIPAIS

Nós da Liga Comunista acreditamos que a população vítima do governo burguês nacional de conciliação PT-PMDB... não pode esperar da oposição de esquerda revisio-nista mais do que um seguidismo impotente aos inimigos mortais da classe trabalhadora. No Brasil, França, Argenti-na, Cuba e Coréia do Norte é mais do que nunca necessário organizar um partido leninista-trotskista da classe trabalha-dora. Somente um partido com estas características será ca-paz de elevar a consciência do proletariado à defesa de seus interesses históricos. No momento, frear o massacre perma-nente da classe em seus locais de trabalho e moradia passa por criar comitês populares de auto-defesa para derrotar o aparato repressivo de Lula-Dilma e seus títeres nos governos estaduais e municipais como parte da luta pela expropriação do conjunto da burguesia, incluindo o narcotráfico, e pela tomada do poder pelos trabalhadores.

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 3

...Pré-estréia dogoverno Dilma

Ocupação na Av. Ipiranga, São Paulo, antes de ser despejada pela PM a serviço de Kassab e a mando da empreiteira Camargo Correa

Page 6: O Bolchevique # 2

6 O Bolchevique - Outubro de 2010

A Coréia do Sul e os EUA realizaram um exercício de gue-rra agrupando 70 mil efetivos militares no mar Amarelo, próximo ao litoral da Coréia do Norte e disparando projé-

teis contra o país. Em resposta, o Estado Operário burocratizado contra-atacou Yeongpyeong, uma ilhota sul coreana, com sua ar-tilharia. Imediatamente, a Coréia capitalista respondeu com mais 80 disparos de projéteis contra o Norte. Esta escalada de agres-sões tem provocado os maiores enfrentamentos entre os dois paí-ses desde o fim da Guerra que dividiu a península em 1953.

Não por coincidência as atuais provocações contra a Coréia do Norte tiveram início logo após as cúpulas de Seul e Lisboa (G20 e OTAN). O consenso em torno do plano foi “multilate-ralizado” por Obama e seu corpo diplomático nos dois fóruns internacionais recentes.

Os EUA mantém 26 mil soldados na parte capitalista da pe-nínsula e a pressão sobre o governo de Pyongyang se tornou mais forte no governo Obama que recauchutou a macabra doutrina de segurança nacional dos EUA na era Bush, denominada de “gue-rra ao terror”, rebatizando-a de “guerra ao terrorismo nuclear”. As escaramuças obedecem um padrão de provocações (muitas das quais orquestradas nos exercícios militares conjuntos entre EUA e CS), seguidas de vitimização para justificar uma nova ofensiva à Coréia do Norte.

Em maio, Obama anunciou a disposição dos EUA de “apoiar” um plano de ofensiva militar de Seul, elaborado de fato pelos instrutores militares ianques estacionados na Coréia em resposta ao afundamento de uma embarcação de guerra sul coreana, fal-samente atribuída à Coréia do Norte. Na época, um membro da equipe de investigação afirmou que o naufrágio foi um acidente, dizendo ainda que as provas que implicavam o Norte haviam sido forjadas. Levou um cala-boca de imediato. Os promotores do caso o convocaram para um interrogatório e o Ministério da Defesa pediu à Assembléia Nacional para expulsá-lo do inquéri-to para que não “despertasse a desconfiança do público” (Bloom-berg Businessweek, 29/05/2010). No entanto, assim como Bush se apoiou em provas fraudadas da existência de “armas de des-truição em massa” para invadir o Iraque, Obama aposta na esca-lada belicista: “Nós endossamos o pedido do presidente Lee de exigir da Coréia do Norte imediatamente desculpas e punir os responsáveis pelo ataque e, mais importante, parar seu compor-tamento agressivo e ameaçador. O apoio dos EUA para a defesa da Coréia do Sul é inequívoca, e o presidente tem dirigido seus comandantes militares para coordenar estreitamente com os seus homólogos da República da Coréia para garantir a disponibilida-de e para prevenir agressões futuras. Iremos construir uma base já sólida da excelente cooperação entre as nossas forças armadas e explorar novas melhorias para a nossa postura comum sobre a Península.” (Obama diz aos militares: estejam preparados para a guerra na Coréia, Business Insider, 24/05/2010).

O presidente sul coreano Lee Myung-bak, ex-gerente da multinacional Hyundai, foi quem em 2009 ordenou a bárbara repressão militar e policial contra os operários sul coreanos que ocuparam a montadora SsangYong Motors por 77 dias. Há um ano estes metalúrgicos lutaram bravamente contra 2.446 demis-sões (pouco mais do que a metade dos que o PSTU que dirige o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos deixou de-mitir a Embraer sem luta) e resistiram heroicamente com comitês armados de autodefesa contra a desocupação policial (ver foto).

O presidente títere sul-coreano definiu o Estado do Norte como seu “inimigo principal”, pela primeira vez desde a sua distensão, em 2004, cortou laços comerciais e negou o acesso da Coréia do Norte para as rotas marítimas e pediu medidas punitivas da ONU a Piongyiang.

Como ressaltou o diário londrino The Guardian: “Coréia do Norte: ‘a guerra estúpida’ de Obama? O mesmo Obama que cri-ticou Bush pela guerra “imprudente” no Iraque, por gastar re-cursos militares e distrair as tropas na busca por Bin Laden, está agora ajudando a aumentar as tensões contra a Coréia do Norte. Enquanto Hillary Clinton, vistoriava a região e falava sobre uma situação de ‘alta tensão’, o Pentágono anunciava planos para ma-nobras militares navais conjuntas que comecem em breve numa poderosa demonstração de força.” (25/05/2010).

Em agosto, como fez meses antes contra o outro membro do “eixo do mal”, o Irã, o mandatário da Casa Branca ampliou as sanções econômicas à Coréia do Norte: “Obama assinou uma ordem executiva que dá permissão aos EUA de bloquear as ati-vidades de entidades norte coreanas que comercializam armas, produtos luxuosos, falsificação ou lavagem de dinheiro, carre-gamento de drogas ou outras atividades ‘ilícitas’ que patrocinam o governo ou seus líderes. Não está claro porém como essas ações possam afetar as negociações para terminar o programa nuclear da Coréia do Norte.” (Reuters, 30/08/2010). Estas me-didas estúpidas, atacam justamente os privilégios da burocracia norte-coreana e são um tiro no pé do processo de restauração capitalista por frearem o ritmo de acumulação capitalista da casta dirigente e o estreitamento de suas relações com o grande capital internacional.

O BLOQUEIO ECONÔMICO IMPERIALISTAE A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA NA

CHINA, VIETNÃ, CUBA E CORÉIA DO NORTE

Entendemos como Lenin que a política é a economia con-centrada. A política interage e às vezes determina processos econômicos podendo retardá-los ou precipitá-los. Este é o caso dos bloqueios econômicos impostos pelo imperialismo aos Es-

CORÉIA DO NORTE: WASHINGTON E SEUL REALIZAM SUA MAIOR PROVOCAÇÃO MILITAR DESDE 1953

Defender o Estado OperárioBurocratizado dos ataques

imperialistas e preparar a revolução política no norte e a social no sul!

Metalúrgicos armados de coquetéis molotov da fábrica ocupada SsangYong entram em confronto com a tropa de choque sul coreana

Page 7: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 7

tados operários burocratizados. Contraditoriamente, ao retardar o estreitamento das relações comerciais, o bloqueio imperialista também atrasa a conversão dos então burocratas em burgueses.

Uma das condições excepcionais da luta de classes que le-varam as direções pequeno burguesas burocráticas, como o cas-trismo, em Cuba, ou o kimilsonguismo (ou juchismo), na Coréia do Norte, a irem além de onde desejavam em sua ruptura com o capitalismo foi a negativa do imperialismo e das burguesias destes países a um acordo político com estas direções militares de massa. Esta lei também vale para a restauração do capitalis-mo. Não por acaso, após a contra-revolução na URSS e Leste Europeu e a guerra fratricida patrocinada pelo imperialismo que destruiu a Iugoslávia, foram nos EOBs que mais sofreram assé-dio propositivo do grande capital internacional que a restauração mais avançou, notadamente na China e no Vietnã.

O reatamento das relações entre EUA e China, representada no famoso encontro de Mao-Tse-Tung com Nixon em 1972, de-pois do fiasco econômico da “metalurgia de fundo de quintal” maoísta, abriu caminho para a ala direita da burocracia chinesa, encabeçada por Deng Xiauping, catapultar com seu “socialismo de mercado” o comércio China-EUA de US$ 5 bilhões em 1980 para US$ 333 bilhões em 2008, tornando-se o principal parceiro comercial dos EUA.

O embargo estadunidense contra o Vietnã foi suspenso em fevereiro de 1994 e o comércio internacional cresceu de US$ 220 milhões em 1994 para US$ 6,4 bilhões em 2004.

Inversamente, foi em Cuba e na Coréia do Norte, que o impe-rialismo impôs um bloqueio econômico mais severo, onde per-manecem em diferentes níveis de degeneração as bases materiais herdadas do processo revolucionário. Comparativamente, foi graças ao estreitamento dos vínculos entre a burocracia castrista e a União Européia que a restauração capitalista avançou em de-terminados setores da economia cubana (notadamente, turismo e mineração).

O isolamento imposto pelo bloqueio imperialista só pode ser quebrado por uma política internacionalista proletária. A buro-cracia seja ela castrista ou kimilsonguista é incapaz de romper o cerco imperialista. Pelo contrário, sua política se opõe pelo vértice a uma saída internacionalista proletária para o problemas do isolamento nacional. Recentemente Castro declarou que “o modelo cubano não serve nem para Cuba”, décadas antes deu conselhos contra-revolucionários a Daniel Ortega, dirigente da Frente Sandinista nicaragüense, para que “não repetisse os erros cometidos por ele”, de expropriar o conjunto da classe burguesa. O mesmo orienta para Chaves e Evo.

A seu modo, a burocracia nortecoreana prima pelo isolamen-to como mecanismo de defesa do estado operário, a fonte de seu parasitismo.

Desde 1960, o Partido dos Trabalhadores da Coréia do Norte reivindica a Ideologia Juche que em coreano, significa “conjunto principal” ou “matéria”; que também pode ser traduzido como “posição de independência” e “espírito de auto-suficiência”. De-fende que o objetivo da revolução deve ser as massas e não qual-quer poder externo, o que implica que a nação tenha confiança em si mesma como autarquia, num sentido lato. O ideólogo do Juche foi Kim Il-Sung. o Juche defende a auto-suficiência industrial e de serviços, o patriotismo e o culto a personalidade, apoiados em um poder quase dinástico dos herdeiros de Kim Il-Sung. A economia se concentra no desenvolvimento da indústria pesada, defesa nacional e agricultura. Pretendia-se que a Coréia do Norte fosse auto-suficiente em todos os níveis o que é economicamente impossível. Trata-se de uma concepção anti-internacionalista e que conduz ao isolamento nacional e, ao contrário da auto-sufi-cência leva desesperadamente o país a dependencia externa e a chantagem imperialista, que a burocracia norte-coreana trata de contrabalancear com uma chantagem atômica, ameaçando bom-bardear a Coréia do Sul, o Japão e os próprios EUA, como se vê nos cartazes que estão neste O Bolchevique #2.

Um dos pré-requisitos da nova ofensiva contra Irã e Coréia é a centralização dos ex-estados operários da China e da Rússia sob a política de Washington. Como os próprios meios burgueses identificam: “Tanto a China como a Rússia tem sido compla-

centes com as agressões da Coréia do Norte através dos anos. Mesmo sendo os testes de mísseis de Kim um aborrecimento di-plomático, isso nunca foi o suficiente para Pequim ou Moscou se pronunciar verbalmente contra seu antigo aliado da era soviética. Porém, agora é diferente, e a vantagem é toda de Obama.” (The Huffington Post, 28/05/2009).

Estes elementos são a chave da nova ofensiva, como analisa-mos há alguns meses quando ainda estávamos na LBI: “As derro-tas históricas de 1989-1991 fortaleceram o imperialismo e abri-ram um período reacionário. O marco que fechou o ciclo desses últimos 20 anos de reação anticomunista mundial que se ergueu sobre o acúmulo de derrotas decorrentes foi a crise econômica mundial de 2008-2009, a qual permitiu uma sobreacumulação, e uma concentração de riquezas historicamente incomparáveis ao grande capital e forjou as bases de uma nova ofensiva ainda mais reacionária. Se até os anos 1980, em virtude da defesa da fonte de seus próprios interesses parasitários e a fim de possuir suas próprias zonas de influência, as burocracias da URSS e da China estabeleciam limites burocráticos ao avanço do imperia-lismo sobre o globo erguendo Muros de Berlim ou ocupando o Afeganistão e, se nas últimas duas décadas Rússia e China foram cúmplices passivos da ofensiva, agora os governos burgueses restauracionistas de Moscou e Pequim colaboram diretamente com os EUA, União Européia e seu pit-bull nazi-sionista, favo-recendo a nova ofensiva recolonialista contra os Estados ope-rários remanescentes e os povos oprimidos.” (SANÇÕES DA ONU AO IRÃ: Os sinais da nova ofensiva mundial imperialista, JLO#196 - 1ª Quinzena de Julho/2010)

EXPROPRIAR A BURGUESIA, EXPULSAR OIMPERIALISMO NO SUL E PREPARAR A REVO-

LUÇÃO POLÍTICA NO NORTE

Os verdadeiros marxistas revolucionários reivindicam do regime norte-coreano meios para resistir à ameaça imperialista, como o armamento de todo o povo, o pleno desenvolvimento do programa nuclear para fins militares e o controle das usinas e de todo o arsenal pelos trabalhadores organizados.

As correntes que se autodenominam trotskistas mas renun-ciam à luta pela defesa incondicional do estado operário norte-coreano revelam que nada têm em comum com o trotskismo. Somente um partido trotskista de caráter conspirativo é capaz de combinar o trabalho legal com o ilegal, forjando-se como al-ternativa, apesar da repressão estalinista no norte e da caça aos comunistas em geral no sul.

Somente um partido trotskista pode levar adiante a unidade revolucionária do proletariado coreano para derrubar o governo de Lee, ocupar as fábricas, expropriar os capitalistas, expulsar o imperialismo no sul, preparar a revolução política, derrotando a burocracia de Kim Jon Il e instaurar um verdadeiro estado prole-tário soviético a serviço da revolução mundial!

Humberto Rodrigues

Page 8: O Bolchevique # 2

8 O Bolchevique - Outubro de 2010

MARANHÃO

Criar comitês de autodefesa para os crimescometidos contra índios, presos e quilombolas pelos

Governos Lula/Dilma/Roseana Sarney

Nos destaques menores, Flaviano Pinto, líder quilombola, os presidiários de Pedrinhas e a capa dO Estado com a foto dos índios guajajaras presos, vítimas do regime assassino cujos representantes são Roseana Sarney, Lula e Dilma.

O Maranhão governado pela oli-garquia Sarney coligada a Lula e Dilma está inundado de san-

gue das massas trabalhadoras e oprimi-das. Em menos de dois meses, o Estado foi palco do assassinato a queima roupa de Flaviano Pinto Neto, líder dos qui-lombolas do Charco (São Vicente Fé-rrer), do ataque aos indígenas Guajajara, baleados por um delegado da policia ci-vil, e do massacre de dezoitos presos da penitenciária de Pedrinhas.

ASSASSINATO DELÍDER QUILOMBOLA

Flaviano Pinto Neto foi morto em 30 de outubro de 2010 com vários tiros de pistola calibre 38 na BR 014. A mo-tivação para tal crime se deu em virtude de o trabalhador rural ser uma liderança numa comunidade remanescente de qui-lombo conhecida por Charco, em São Vicente Férrer - MA. O líder quilombola esteve uma semana antes de ser brutal-mente assassinado na Federação de Sin-dicatos de Trabalhadores e Trabalhado-ras Rurais do Maranhão, e já havia feito diversas denúncias ao INCRA, ITER-MA, Secretaria de Segurança do Estado do Maranhão, sem que nada tenha sido feito para que o crime fosse evitado.

Lamentavelmente, as lideranças políticas camponesas buscam nesses órgãos proteção, quando na verdade o Estado burguês não tem o menor inte-resse em protegê-las, pois são inimigas do poder de propriedade dos grandes la-tifundiários - estes, sim, são protegidos por lei e têm à sua disposição a polícia assassina para massacrar aqueles que ousarem adentrar suas terras.

Flaviano destacou-se na luta contra o despejo da comunidade Charco pelo fazendeiro Gentil Braga, numa ação policial que dispunha de 120 homens fortemente armados contra 70 famílias pobres remanescentes de quilombolas, que há mais de 150 anos habitam a lo-calidade.

MASSACRE EM PEDRINHAS

Nos dias 9 e 10 de novembro de 2010, foram brutalmente assassinados

18 detentos no Complexo Penitenciá-rio de Pedrinhas, em São Luís-MA. Os prisioneiros se rebelavam contra a falta de água, que já durava quatro dias. Não havia água sequer para beber. Dentre as razões falsamente veiculadas pela mídia burguesa a serviço da oligarquia Sarney no Maranhão, foi citada uma su-posta rivalidade entre grupos de presos da capital São Luís e grupos do interior. Contudo a mais absurda declaração par-tiu do Secretário de Segurança Pública de Roseana Sarney, Aluísio Mendes, que afirmou durante entrevista para a Miran-te (emissora da oligarquia Sarney, em 10 de novembro de 2010), que não havia nenhuma pauta de reivindicação por par-te dos presos, unicamente o gosto pela barbárie. Como se não bastasse a super-lotação e as demais condições desuma-nas às quais estão submetidos os presos.

O abastecimento de água teria sido interrompido por conta de uma bomba d’água queimada, sendo que os presos aguardavam a chegada de um carro-pi-pa da Secretaria Estadual de Segurança (SSP) na Casa de Detenção. Depois de 30 horas de tortura e desespero, a SSP enviou o carro, dando cabo ao protesto, que resultou num dos maiores massacres da história daquele presídio.

ATAQUE AOSÍNDIOS GUAJAJARA

No dia 23 de novembro de 2010, o jornal “O Estado do Maranhão” do gru-po Sarney ostentava em sua capa a foto de um policial federal notavelmente or-gulhoso por conduzir à prisão a triste figura de um índio Guajajara. A repres-são aos remanescentes indígenas no Ma-ranhão não é novidade para a população maranhense. Sempre que são lembrados pela mídia burguesa são expostos como assaltantes, criminosos, terroristas que amedrontam cidades vizinhas de sua re-serva, como Grajaú e Barra do Corda.

Os Guajajara tinham como principal motivo para a revolta iniciada no 7 de novembro de 2010 com bloqueio da BR 226 a falta de investimento em transpor-te escolar para seus filhos pelo Governo do Estado. A Reserva Canabrava decla-rou, por meio de manifesto, que a FU-NAI, o DNIT e a Companhia Eletronorte não honram compromissos firmados, ou seja, usufruem e exploram as terras dos indígenas, enquanto a reserva permane-ce sem assistência, educação e apoio às suas atividades produtivas.

A revolta só teve destaque na mídia

Page 9: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 9

O SUS - Sistema ùnico de Saúde - tal como o conhecemos hoje, teve sua formulação a partir do Movi-

mento de Reforma Sanitária, o qual, por sua vez, inicia-se no momento histórico do ascenso de lutas que derrubou a dita-dura militar e de fortalecimento da polí-tica de cooptação popular à democracia burguesa.

Tendo se estruturado formalmente como projeto na 8a Conferência de Saú-de em 1986 e como lei na Constituição Federal de 1988, o SUS foi depois regu-lamentado pelas leis 8080/90 (Lei Orga-nica da Saude) e Lei 8142/90, que define em que termos se dará o controle social na saúde.

Longe, porém, de acreditar que o mo-tor para a formulação do SUS foi pura-mente o empenho militante dos setores mais progressistas da luta de classes, ou da “bondade” do Estado capitalista é pre-ciso identifica a necessidade do capitalis-ta de manter o trabalhador vivo e em mí-nimas condições para voltar a trabalhar.

Alguma coisa tinha de ser feita, e nada mais adequado do que a aplicação de um deformado projeto de Reforma Sa-nitária, que contemplava tanto os interes-ses dos capitalistas, como trazia todo um palavreado e uma retórica que agradou os militantes de esquerda da área da saúde e inclusive cooptou muitos daqueles que antes lutavam contra a ditadura militar e na “redemocratização” engrossaram as fileiras da burocracia estatal, acreditan-do ser possível construir um sistema pú-blico, integral, equitativo e universal no atendimento à saude - como reza a car-tilha do SUS - dentro de um Estado cuja existência se dá a serviço das burguesias nacionais e internacionais.

A concepção burguesa da cidadania é o que está na base da defesa da parti-cipação popular nas políticas públicas, sejam elas saúde, educação, habitação ou qualquer outra. O “cidadão” é um ser ge-nérico, sem classe, que não se reconhece dentro do processo de produção de rique-zas na sociedade. O patrão, o burocrata, o político e o trabalhador são cidadãos, são iguais. Logo, por que não trabalhar juntos por uma sociedade mais justa e igualitária? Está aberto o campo da mais desprezível e oportunista política de cola-boração de classes.

Ora, sabemos que desde que há di-visão do trabalho há divisão de classes e que, no capitalismo, essa divisão se dá entre a classe que detém os meios de produção e concentra em suas mãos a riqueza socialmente produzida, e a clas-se de quem esta outra lhe retira a mais-valia, ou seja, que nada possui além de

sua força de trabalho. O Estado, então, atua como um instrumento supostamente “superior” a esta luta de classes e regu-lador da ordem social. De onde se torna fácil concluir que, se a ordem social é a exploração de uma classe sobre a outra, fechando a equação matemática, o Esta-do é o regulador desta mesma opressão.

Isso é facil de constatar na prática, apenas observando como vem sendo a atuação dos conselhos de saúde, sejam eles municipais, estaduais ou nacional, os quais são defendidos e reivindicados por toda a esquerda brasileira como “grande conquista” e “espaços privilegiados de participação de controle social”, quando na realidade expressam a derrota da clas-se trabalhadora em sua luta por controlar efetivamente o Estado e derrubar o capi-talismo, como único caminho real para se ter um sistema de saúde de qualidade e que corresponda às demandas da popu-lação. Os conselhos tem sim, historica-mente, cumprido o papel de homologar e legitimar as decisões dos governos e, dessa forma, fazer demagogia e forjar um controle social jamais exercido.

Não poderíamos, aliás, trazer exem-plo mais contundente da farsa que é a participação consentida no estado capi-talista, do que o que está acontecendo entre esse mês e o próximo no municí-pio de São Paulo: apesar de o Conselho Municipal de saúde não aprovar a rea-lização da 15a Conferência Municipal, devido a uma série de irregularidades da sua organização, a Secretaria da Saúde está realizando essa Conferência da for-ma que mais lhe convém para assegurar a continuidade de seu projeto de priva-tização e desmonte de tudo o que havia de progressivo dentro dos princípios que arregimentavam o atendimento à saude, e alcançando rendimentos estratosféricos através das “parceiras”, com a indústria farmaceutica e com as empresas parasitas da saúde que já compraram quase todos os hospitais públicos da cidade e esten-dem cada dia suas teias bilionárias para os demais centros de atendimento à saú-de.

Rechaçamos os engodos dos consel-hos de saúde das três esferas da adminis-tração estatal que só servem para camu-flar a degeneração burocratica privatista da questão da saúde. O sistema de saúde só poderá atender as demandas da popu-lação trabalhadora quando for controlado pela mesma, através de verdadeiros con-selhos populares de trabalhadores desde a expropriação da indústria farmacêutica até a formação dos profissionais da área.

Luiza Freitas

Por um sistema de saúdeúnico, nacional, estatal e integralsob o controle dos trabalhadores

MUNICIPÁRIOS SPquando o delegado regional de Barra do Corda, Edmar Gomes Cavalcanti, ao tentar furar o bloqueio na BR 226 e in-timidar os Guajajara com uma arma, foi impedido por um grupo de indígenas. O delegado baleou cinco indígenas, o caso ganhou repercussão na mídia nacional e a polícia federal interveio, apresentando 42 mandados de prisão aos Guajajara, que desbloqueram o Km 342 e o Km 366 da estrada.

O PAPEL DOS APARELHOSREPRESSORES DO ESTADO

O governo Lula/Dilma/Roseana gerencia estes ataques através de seus aparelhos repressores (polícias fede-ral, civil, militar, etc) para intimidar, perseguir, assassinar aqueles que his-toricamente sempre foram massacra-dos pelo Estado burguês. Apesar de não aparecerem em público para ma-nifestação de opinião sobre tais casos, todo o posicionamento político destes gestores pode ser captado através das declarações de seus secretários, co-mandantes, delegados, juizes, super-intendentes, dentre outros porta-vozes da burguesia, na mídia: todo o apara-to repressivo do Estado armado para amedrontar a população pobre, impe-dindo-a de organizar qualquer esboço de resistência.

À mídia burguesa cabe o papel de mascarar e legitimar o processo de precarização das condições de vida destes homens e mulheres segregados socialmente, já que, no regime capi-talista, qualquer marca de raça, etnia, sexualidade, religiosidade serve como justificativa aos interesses da classe dominante para explorar seres huma-nos ou massacrar e exterminar aqueles que, por mínima consciência de classe que tenham, resistem para não serem tragados pela barbárie capitalista e lu-tam por sua dignidade humana.

Todos esses crimes hediondos co-metidos pelo Estado burguês contra a população negra/indígena e pobre têm como base fundamental uma política de desvalorização lucrativa da força de trabalho de suas vítimas. Na luta con-tra estes ataques do Estado gerenciado pelo Governo Lula/Dilma/Roseana, toda a classe trabalhadora deve unir-se para combater, por meio de comitês de autodefesa, os golpes desferidos pela classe dominante, cuja principal meta é aprofundar cada vez mais a explo-ração do proletariado.

Pilar Oliveira e Nádia Silva

Page 10: O Bolchevique # 2

10 O Bolchevique - Outubro de 2010

O XXIII Congresso dos trabalhadores da educação do estado de São Paulo é o momento em que a categoria deve aprofun-dar o debate acerca das questões da luta de classes, prepa-

rando-se e organizando-se para as próximas lutas contra a burguesia e seu Estado. Um Congresso desse tipo não interessa à diretoria da APEOESP, totalmente corrompida e atrelada aos interesses gover-namentais.

Devido à influencia direta e indireta da política da classe domi-nante no interior dos sindicatos, em nossos congressos, somente os representantes dos governos fazem parte das mesas, falando horas e horas enquanto nós trabalhadores temos apenas três minutos (e quando temos!) para defender as bandeiras e a política classista. A direção usa de mecanismos como cortar o som, além de métodos violentos como contratar seguranças para impedir o debate. Dessa forma, sempre aprovam aquilo que é de interesse dos patrões, sejam eles tucanos ou petistas e liquidam a democracia operária, a inde-pendência e a luta direta, submetendo as nossas lutas à agenda do podre e corrupto parlamento.

Esse congresso ocorre no momento em que grande parte da categoria está temerosa diante da prova seletiva, do desemprego de-vido ao fechamento de salas, das reformas do ensino médio e fim da EJA. No entanto a direção majoritária do Sindicato (Artsind/CUT) durante todos os períodos de luta da categoria, tratou de combater os métodos revolucionários fazendo apelo eleitoral, e contando com a colaboração direta das direções das oposições Alternativa e Apeoesp Na Escola e Na Luta, as quais gritavam em coro “PSDB nunca mais vai se eleger”, enquanto escondiam todo o debate das reformas in-cluídas no PDE do Lula e as Dez metas do Serra. Por isso defende-mos que nenhum advogado dessas famigeradas reformas contra a educação pública, seja do governo federal, estadual ou municipal, tenha a palavra em nossos congressos.

A Oposição Revolucionária combateu arduamente essa pratica das direções eleitoreiras e carreiristas que se aliaram com a articu-lação petista traidora. Conclamamos todos os lutadores a juntarem-se para construirmos um programa classista que combata a política governista no interior dos sindicatos, com:● Plenárias de bases;● Assembleias como órgãos máximos de deliberação da categoria;● Unidade entre pais e alunos na defesa da escola pública● Retirada da presidente do sindicato do CNE;

SOCIALISMO OU BARBÁRIE

A crise do capitalismo avança nos países centrais do imperialis-mo e arrasta milhares de trabalhadores a níveis de miserabilidade jamais vistos na historia. O alto grau de desenvolvimento tecnológi-co voltado para a concentração de riquezas destroi o meio ambiente, liquida os postos de trabalho, provoca conflitos bélicos e chacinas e arrasta milhares de jovens ao lumpesinato, além de colocar o Estado cada vez mais na ofensiva fascista contra o proletariado.

As eleições ocorridas no mundo nos últimos anos evidenciam o ascenso de governos de extrema direita que reforçam a xenofobia, ou governos ditos de esquerda que, assentados nas centrais sindi-cais, obrigam os trabalhadores a entregarem suas conquistas para a burguesia em nome do chamado crescimento econômico, como temos assistido no Brasil. A continuidade do petismo só foi possível devido ao uso das estruturas sindicais e movimentos populares que descaradamente convenceram os trabalhadores a curvarem-se diante da retiradas de direitos, oferecendo, em troca, demagogias paterna-

listas a alguns explorados, servindo-se da miséria.A ocupação militar no Haiti, capitaneada pelo governo Lula, ser-

viu de campo de treinamento do aparato repressivo nacional para ocupar as favelas cariocas, aspirando fazer o mesmo nos bairros pro-letários de todo o Brasil.

Nas eleições, os problemas de emprego, moradia, educação e saúde pública estavam na pauta de todos os políticos eleitoreiros, que prometeram resolvê-los por meio de mágica (em quatro anos), como se o problema fosse de tempo ou de governo. Contudo, muita gente ainda acredita que algum dia é possível aparecer um “salva-dor da pátria” (vereador, deputado, senador, prefeito, governador ou presidente) para salvar os trabalhadores das mazelas do capitalismo; assim, continuam votando, apesar de isso custar seus direitos e apro-fundar a situação de miséria em que vivem.

ESTRUTURAR UMA OPOSIÇÃOPROGRAMÁTICA NA APEOESP

Na véspera da eleição passada para a direção central da Apeoesp, formou-se a chamada “Oposição Unificada”, composta majoritaria-mente pelo PT, PSTU e outras correntes menores. Hoje, não se ouve falar mais nessa oposição. Já a “Oposição Alternativa”, dirigida majoritariamente pelo PSTU e que estava no interior da “Oposição Unificada” continua sem romper com a prática burocrática, pois: 1- Mantém o afastamento pago à conselheiros e diretores às custas dos professores; 2 - Apesar de falarem em controle da base, não defendem a assembléia geral como instância máxima de deliberação do sindicato; 3 - Na prática, combatem a proporcionalidade direta e qualificada, bem como a democracia operária. 4 – Se opõem à realização de assembléias e em função do seu apego ao carreirismo eleitoral, não defendem a ação direta como método de luta contrário ao oportunismo e eleitoralismo burguês praticado pela atual direção. 5 - Através de sua direção tem se juntado com a Articulação Sindi-cal-PT para se contrapor à realização de assembléia impulsionando atos eleitoreiros

Oposições dessa natureza, que mudam a cada eleição, não só em sua composição, mas nos princípios e no programa, (quando os têm!) demonstram que não abraçam a luta política para combater a burocracia e o governo. Mas, ao contrário, ficam apenas no campo das disputas do aparelho e das eleições.

Para ser conseqüente com as lutas dos trabalhadores, é preciso o combate pela independência em relação às organizações burguesas (inclusive seus partidos) e sua política. A luta contra a exploração capitalista precisa atingir na consciência dos trabalhadores um pa-tamar de luta política contra todo o regime democrático burguês.

PROFESSORES - SP

O documento que reproduzimos abaixo é uma contribuição ao XXIII Congresso da Apeoesp que ocorrerá entre os dias 1 e 3 de dezembro em Serra Negra. Em 2010, os professores estaduais paulistas protagonizaram uma de suas maiores e mais comba-tivas greves. Todavia, desgraçadamente foram traídos mais uma vez pela direção do Sindicato (PT, PCdoB, PSTU e PSOL) e derrotados pelo governo estadual do PSDB. Acreditamos que este balanço deva ser um dos temas centrais do Congresso para que a categoria consiga superar sua crise de direção política revolucionária a fim de se reorganizar para as próximas lutas.

Por um Congresso classistaAbaixo a política governista nos Sindicatos!

Page 11: O Bolchevique # 2

O Bolchevique - Outubro de 2010 11

Nesse sentido, a orientação política para a luta nos sindicatos é a orientação da política revolucionária (programa, métodos, princí-pios e táticas).“Sob o imperialismo, no in-terior dos sindicatos só são possíveis duas políticas: Ou se atua e se luta sob a bandeira da política revolucionária, ou se coloca em colaboração com a política burocrática bur-guesa”.

PLANO DE LUTAS

Somente através de lutas que se ba-seiam nas ações diretas e de massas dos professores poderemos fazer frentes e estabelecer vínculos e nos unificar com os trabalhadores que atuam diretamente na produção para que, através das as-sembléias unitárias e ações conjuntas possamos nos fortalecer e interferir di-retamente na produção controlada pela burguesia. Para isso, propomos:

● Iniciar desde já uma campanha de mobilização da categoria anunciando

Cartaz do debate em que a LC, o CLPI e a Oposição Revolucionária da Apeoesp convocam os congressistas para discutir uma persepectiva revolucionária dos trabalhadores diante da ofensiva pós-crise capitalista

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOCarta aberta à comunidade acadêmica

Os estagiários (bolsistas do NAE/UFMA), Trabalhadores em Edu-cação, da Universidade Federal do Maranhão vêm a público expor à

comunidade acadêmica a situação precarizada de trabalho em que se encontram:

Somos estudantes universitários contrata-dos para suprir a carência de funcionários dos setores da UFMA;

Deveríamos desempenhar atividades de apoio aos setores (coordenações, departamen-tos, divisões, etc), mas comumente assumi-mos funções de um Técnico-Administrativo em Educação (Assistente Administrativo, Contínuo, Auxiliar Operacional, Secretário, etc) em decorrência da carência deste profis-sional na Universidade, o que acarreta sobre-carga de trabalho, maior cobrança e super-ex-ploração daqueles que trabalham na UFMA, nosso caso;

Em alguns casos, o setor não dispõe de, nem mesmo, UM Técnico, e somos nós quem atendemos ao público insatisfeito com diver-sas situações da Universidade (não somente questões acadêmicas), resolvemos problemas redigindo documentos e encaminhando a se-tores competentes, orientamos o público para a resolução de problemas, ou seja, assumimos responsabilidades que estão além das nossas atribuições, carregando um setor nas costas para que no fim do contrato sejamos sumaria-mente demitidos;

Nossa bolsa de trabalho é de R$ 200,00 e, pelo fato de o vínculo só poder ser man-tido por até dois anos, assim que esse prazo acaba, mesmo sem estarmos formados, somos descartados e logo substituídos, sendo que necessitamos deste valor para nos manter em nossos cursos;

Muitas vezes chegamos ao fim do mês sem mais dinheiro para vir à Universidade, onde trabalhamos e estudamos, e, se faltamos ao trabalho, mesmo por esta razão, sofremos a constante ameaça de perder bolsa.

TUDO PORQUE:

que não há negociação com o governo, que todas as suas medidas representam ataques à escola pública e à carreira do magistério. Convocar assembléia geral para a 1ª quinzena de fevereiro, a fim de organizar a luta.● AÇÕES DIRETAS das massas (gre-ves, ações de rua, bloqueios e outros). Nada de submeter as lutas dos trabalha-dores às inócuas pressões parlamentares; ● Construir a unidade através das AS-SEMBLÉIAS UNITÁRIAS com os de-mais setores em luta; ● As assembléias gerais da educação deverão estar abertas à participação dos alunos e pais juntamente com os profes-sores decidindo os rumos da luta; ● Construir COMANDOS DE GRE-VE COM PARTICIPAÇÃO DA BASE, ELEITOS EM ASSEMBLÉIA.

CLPI - Centro de Luta do Partido Internacionalista

LC - Liga Comunista

Assim como nós, há milhares de univer-sitários nestas mesmas condições nas Univer-sidades Federais do Brasil todo, que têm seu trabalho explorado, carregando a Universida-de Pública nas costas, já que o Governo Fe-deral não abre vagas para Trabalhadores em Educação e a necessidade é imensa;

O REUNI, Programa do Governo Lula implantado pelos Reitores das Universida-des Federais, tem ameaçado cada vez mais a qualidade dos serviços oferecidos pelas IFES, posto que as universidades são expandidas, mas quase nada é investido pelo Ministério do Planejamento em contratação de funcioná-rios e docentes. Tudo isto implica TERCEI-RIZAÇÃO: exploração de trabalhadores que desempenham as mesmas funções de um servidor efetivo por baixíssimos salários com conseqüente enriquecimento das empre-sas que “fornecem” essa mão de obra. Sendo que, ao mesmo tempo, através do PROUNI, o Governo Federal aplica nas universidades particulares o recurso que deveria direcionar às públicas, pagando milhões para os tubarões do ensino cederem algumas bolsas a poucos indivíduos carentes em vez de investir no acesso de todos aqueles que queiram ingressar no Ensino Superior Público.

As grandes beneficiadas pelo REUNI são as empresas que constroem os prédios das Universidades, fazendo serviços de péssima qualidade, ficando a manutenção, as recla-mações e as respostas ao público insatisfeito como uma bomba nas mãos dos próprios tra-balhadores da Universidade, não somente os efetivos, mas principalmente os terceirizados responsáveis pela limpeza (que sofrem cons-tantes ataques de professores, funcionários e alunos alienados que não sabem a razão pela qual falta gente e material adequado para atendê-los em suas atividades de ensino, pes-quisa, extensão e administrativas).

Em reunião que marcamos com a Reito-ria, no dia 04 de novembro de 2010, Natalino Salgado defendeu que não poderia aumentar

nossa bolsa de R$ 200,00 para R$ 300,00, porque “está construindo obras por toda a UFMA” e a Universidade “não dispõe de re-cursos” para nos dar aumento. O que acontece na verdade é que existem diferentes fundos para diferentes serviços e os mesmos podem ser remanejados pela Administração Superior. Ou seja, o Reitor apenas defende os interesses das construtoras a despeito das condições de trabalho daqueles que se dedicam a sustentar a Universidade e nela estudam: nossas bolsas mal pagam nossas passagens para vir ao Cam-pus (trabalho/estudo), muito menos as cópias dos livros sem os quais não podemos ter uma boa formação.

Tudo indica que esta situação vai piorar, pois com a “Mãe do PAC”, Dilma, o Governo Federal continuará sendo a testa de ferro das empreiteiras, beneficiadas não somente nas Universidades, mas nos mais diversos setores da sociedade brasileira.Vale destacar que só no quesito doação de campanha, para registro oficial, ou seja, só no caixa 1, as candidaturas do PT, e principalmente a de Dilma recebe-ram do empresariado da construção civil 25 milhões de reais (Folha de São Paulo, 07/11).

Precisamos dar uma basta nesta super-ex-ploração promovida pelos Reitores das Uni-versidades a serviço dos empresários, parali-sando e declarando à comunidade acadêmica que somos imprescindíveis para a construção da Universidade Pública de qualidade pela qual todos em discurso dizem tanto prezar, mas ficam completamente alheios a situações da Academia tão elementares como esta.

Exigimos das entidades representativas dos estudantes, técnico-administrativos e do-centes que potencializem nossa luta através de uma Jornada de Combate ao REUNI, posto que se não servirem para atender os interes-ses da BASE da Universidade para que/quem servirão?

Estágiários/Bolsistas NAETrabalhadores de Base da UFMA

Page 12: O Bolchevique # 2

12 O Bolchevique - Outubro de 2010