O Avesso da Representação
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JAN ARAÚJO
“Agora vemos obscuramente como, através de um espelho; depois veremos diretamente”
Tomando como par-da as iluminuras do manuscrito das obras compiladas de Chris-ne de Pizan, entregue a rainha Isabel da Baviera, pretende-‐se fazer uma inves-gação esté-ca acerca da representação, significação e da polí1ca sexual no contexto da autora. O manuscrito é ricamente ilustrado, porém apenas três das miniaturas correspondem oficialmente ao Livro da Cidade das Damas. No entanto, em uma rápida visualização e análise já se é possível iden-ficar temas e signos recorrentes, tornando possível a construção de um imaginário -‐ assim como um ideário -‐ em Chris-ne. Nessa tenta-va de quebra do código medieval, será feito um trabalho semió-co, iconológico e iconográfico, buscando uma aproximação à visão simbólico-‐alegórica do universo caracterís-ca ao período.
Primeira epístola de São Paulo aos Corín1os (1Cor 13:12)
Serão examinadas as relações entre imagem e texto, por con-guidades e digressões, o “ut pictura poesis”, a écfrase; questões de composição espacial, luz e cor na arte medieval; a subversão do mito clássico (greco-‐romano), ou da mitografia masculina mais precisamente, que se dá na reivindicação e ressignificação de figuras femininas mís-cas e mí-cas da História; a intertextualidade peculiar a literatura medieval, a apropriação das Metamorfoses de Ovídio (e daqui possivelmente relações trans-‐espécie, pós-‐humanas do corpo), de modo a encontrar subje-vidade no lugar improvável da alegoria.
*As legendas iniciadas em algarismos arábicos ocidentais se referem à paginação no manuscrito original, enquanto a numeração romana representa capítulos equivalentes no Livro da Cidade das Damas.
XIX. Sobre a Rainha Pen-siléia e como ela ajudou a cidade de Tróia
XVI. Sobre Minerva, que descobriu muitas ciências, assim como a arte de fabricar armaduras de ferro e de aço.
XXXV. Sobre a Rainha Ceres, que inventou a arte de laborar a terra e outras artes mais.
XXXVI. Sobre Ísis que inventou a arte da jardinagem e do cul-vo das plantas.
XXXIX. História da virgem Aracne, que descobriu a arte de -ngir lã e tecer as estofas de alta linha, e também descobriu a arte de cul-var o linho e fazer a sua tessitura.
XLI. Sobre Tâmara, que foi inexcedível mestre na arte da pintura, e as
também pintoras Irene e Márcia, a Romana.
“(...) Todavia, por falar em mulheres talentosas na arte da pintura, eu mesma, conheço uma certa Anastásia, cujo pendor para a ornamentação das iluminuras e para as paisagens de miniaturas nos livros é tão grande que não se poderia citar na cidade de Paris onde vivem os melhores ar-stas do mundo, nenhum que a superasse. Ninguém fazia melhor do que ela mo-vos florais e miniaturas. O seu trabalho era tão apreciado que se lhe atribui o acabamento das obras mais ricas e luxuosas. Sei por experiência, pois ela pintou para mim algumas iluminuras que são -das por todos de uma beleza incomparável em relação a outras feitas por outros grandes mestres.’”
I. O primeiro capítulo fala das dez Sibilas
(...) A décima, de nome Tíbure, era por outros chamada de Albunea, muito es-mada por ter anunciado de maneira muito clara a vinda de Cristo.
V. Sobre Nicostrate, Cassandra e a Rainha Basina.
110 Cassandra se ajoelhando em oração diante do altar no templo
XXVIII. Provas contra aqueles que dizem que o homem que escuta sua mulher e segue seus conselhos é um ser desprezível. Chris-ne pergunta e Re-dão responde.
135 Heitor se despedindo de sua esposa Andrômaca e seu filho Astyanax antes de ir à guerra.
XXXI. História de Judite, a nobre dama que salvou o seu povo.
Caravaggio/Artemisia
LVIII. Sobre Ero
114 Ero pulando do parapeito do castelo para se afogar com seu amante Leandro
140 A fei-ceira Circe transformando Ulisses e seus companheiros em suínos.
116 rainha Pasífae abraçando o touro.
134 Dafne, a ninfa que foi transformado num loureiro enquanto fugia de Apolo.
132 Cabeça do rei Cyrus sendo trazida a frente de Thamyris, rainha das Amazonas.
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