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ENTREVISTA: General-de-exército José Elito Carvalho Siqueira Secretário de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa ano 1 nº 1 R$ 14,90

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Segurança militar

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1DEFESA LATINAjulho-setembro 2009

ENTREVISTA: General-de-exército José Elito Carvalho Siqueira

Secretário de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa

ano 1 nº 1 R$ 14,90

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DE VOLTA AOS CÉUS

Primeiro foi o Demoiselle, a levíssima aeronave na qual Alberto Santos-Dumont passeava pelas avenidas aéreas de Paris. Nos EUA, ao lado do Flyer B dos irmãos Wright, ele estrelou o primeiro voo conjunto de réplicas da história da aviação. Conquista do Instituto Arruda Botelho, instituição não-governamental e sem fins lucrativos, que trabalha com preservação ambiental, manutenção do patrimônio cultural e restauração de aeronaves de importância histórica.

Agora, é a vez do Blériot XI-2, avião de Louis Blériot (1872-1936) – o primeiro aviador do mundo a receber brevê e pioneiro na traves-sia aérea do Canal da Mancha em 25 de julho de 1909. A aeronave teve significativa presença nos céus da América Latina. Selecionado para participar ainda em 2009 das festividades do Ano da França no Brasil, o Projeto Blériot é um extraordinário exemplo de cooperação multinacional, envolvendo instituições, profissionais, artesãos e estu-dantes franceses, brasileiros e indianos.

O resultado, mais do que uma aeronave, é a replicação do espírito de ousadia, empreendedorismo e da exemplaridade de homens que estiveram na vanguarda tecnológica de seu tempo.

A serviço da humanidade.Resgatando a memória

da aviação e promovendo a cultura

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A Editora de Cultura atua no mercado nacional há mais de 30 anos, estando consolidada na área de livros, com autores consagrados e novos talentos em seu catálogo. Foi o encontro com um desses es-critores que nos levou à comichão de fazer uma revista – para mim, um retorno às origens acalentado, mas sempre adiado. Com Cosme Degenar Drumond, jornalista com grande experiência no setor de defesa e incansável estudioso das matérias correlatas, tivemos opor-tunidade de amadurecer a ideia entre as edições de Asas do Brasil (2004) e Santos-Dumont, novas revelações (2009).Acontece que ideia não faz revista, como sabemos os profissionais da área. É do convívio com as fontes e com o público que o projeto, um patinho feio, se tornará de fato um cisne ou acabará naufragando.Nossa intenção é produzir uma publicação ágil, séria, bonita, aberta a inovações e interessada na área de defesa sobretudo como fonte geradora de riqueza e tecnologia para o país. Sem perder de vista o papel estratégico do Brasil como exportador de paz e de concórdia.Queremos ainda observar a trajetória da indústria nacional e, na medida do possível, contribuir para a geração de negócios, falando com tomadores de decisão da América Latina em nível de autorida-des e de empreendedores.Aprovado o projeto e escolhido o título da revista (que considera-mos um achado, sem modéstia alguma!), passamos a trabalhar na sua viabilização. Nesta oportunidade, queremos agradecer a todos, em especial às empresas que acreditaram em nosso projeto, partici-pando desta primeira edição, e às nossas autoridades do setor, pelo estímulo que recebemos – inaugurando com pompa e circunstância nossa seção de correspondências.Esperamos agradar em forma e conteúdo e ficamos no aguardo de sua manifestação. Sem isso, como produzir um número melhor neste semestre?

Boa leitura.

Mirian Paglia Costa, editora

ao leitor

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Ano 1 - Nº 1 julho-setembro 2009

EditoraMirian Paglia Costa

MTB Nº [email protected]

Diretor de RedaçãoCosme Degenar Drumond

[email protected]

Diretora de Marketing e PublicidadeHelena Maria Alves

[email protected]

Diretor de ArteYves Ribeiro Filho

Expedição e AssinaturasMaria Angela Silveira de Souza

Conselho EditorialJoão Lins de Albuquerque, Maura Sylvia

Pasculli de Curci, Norton de Andrade Rapesta, Peterson Ferreira da Silva,

Rubens Ribeiro Cardoso Filho

Conselho TécnicoGeneral Antônio Burgos, Brigadeiro

José Antônio Scheer, Almirante Marcílio Boavista da Cunha

ColaboradoresAngela Schnoor, Lucca Alves

Lucita Briza, Luiza Lusvargui, Marília Schumann, Márcia Cristina Gonçalves de Souza, Paulo Fernando Kasseb, Rita de Sousa, Roberto Caiafa, Roberto Guima-

rães Carvalho, Alejandro Valdéz (Buenos Aires, Argentina), Armen Kouyoumdjian

(Valparaíso, Chile)

RevisãoPagliacosta Editorial

(Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras | Nova Ortografia)

DEFESA LATINA é uma publicação da Editora de Cultura Ltda. Terá circulação trimestral

e distribuição em todo o território nacional por Fernando Chinaglia Distribuidora Ltda.

Endereço para correspondência:Rua Pimenta Bueno, 324

03060-000 – São Paulo – SP – BrasilTel: 55 11 2894.5100 Fax: 55 11 2894.5099

E-mail: [email protected]

Apoio institucionalAbimde | Aiab | Comdefesa-Fiesp

6 CARTAS

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14 POLíTICA Alerta na defesa Estratégia Nacional de Defesa depende de 23 atos legislativos e administrativos a serem apresentados até o fim de 2009

20 ENTREVISTA General-de-exército José Elito Carvalho Siqueira “Finalmente, a Nação está comprometida com a valorização da defesa em benefício do país e do seu povo”

24 CAPA Guerreiras do BrasilElas já são quase 14,5 mil no Exército, na Marinha e na Força Aérea, mas ainda longe das frentes de combate

28 LAAD 2009 Indústria de defesa exibe suas armas

30 INDÚSTRIA índios: Armas que previnem Armamentos para dissuasão ganham importância

Atech: Tecnologia do conhecimento Intimidade com P&D e incubação de soluções

Inbra: Inovação em destaque Muito apetite por tecnologias

36 AVIAÇÃO MILITAR KC-390 O futuro do transporte aéreo militar Terceira maior indústria de aviação do mundo, Embraer investe em transporte tático

38 SOCIEDADE Conduta ética nos negócios Denegrir a concorrência não é boa tática para vencer no mercado

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40 SUBMARINO Senhor dos mares A caminho da construção do submarino nuclear brasileiro

42 PONTO DE VISTA Combate e psiquismo Reações humanas a situaçõesde conflito e violência

44 CAÇAS F-X2: Francês, americano ou sueco? Chega ao fim o processo de seleção para os esquadrões de combate da Força Aérea Brasileira

48 LOGíSTICA Voando com as próprias asas O Centro Logístico da Aeronáutica avança em nacionalização e autonomia tecnológica para o país

50 INTERNACIONAL Importância das missões de paz da ONU Forças do Brasil trabalham pela paz sob a bandeira das Nações Unidas

52 CIÊNCIA & TECNOLOGIA Ameaça cibernética Guerra virtual com efeitos reais: o lado mau do mundo informatizado

54 CULTURA Arte: Veleiro encantado O Cisne Branco nas aquarelas doartista paraense Mário Barata

Livros: Stalingrado, 1942 A “guerra dos ratos” no fronte aéreo

A guerra das privatizações Brasil S/A ou a desestatização dos anos 1990

Memória: Ada Rogato A brasileira que voava só

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De: Ministério da DefesaPara: Defesa LatinaO Brasil é reconhecido historica-mente por pautar sua política ex-terna na primazia da diplomacia sobre o confronto. Ao longo de sua formação e consolidação, o país sempre privilegiou a via pací-fica para a resolução de conflitos. Tal atitude resultou em uma privi-legiada situação de amizade, paz e harmonia do Brasil com os países com os quais faz fronteira, o que o levou a assumir o papel de media-dor em conflitos regionais.O cenário internacional, no entan-to, apresenta alto grau de incer-tezas e focos de instabilidade. E, quando os desequilíbrios levam ao caminho da solução armada, verifi-ca-se que esses conflitos modernos apresentam características distintas das que tinham as guerras do século XX, quais sejam: combates de baixa intensidade com emprego de exces-sivo poder tecnológico e rapidez em sua perpetração e resolução.A natural e crescente participação brasileira no contexto internacio-nal, em conjunção com a necessi-dade de assegurar nossa soberania sobre os abundantes recursos natu-rais, indica a exigência de não nos descurar da segurança nacional, que deve ser buscada pelas vias di-plomáticas e escudada por capaci-dade militar e tecnológica adequa-da aos conflitos do século XXI.O conhecimento é a nova frontei-ra da soberania, daí ser imprescin-dível o envolvimento de toda a sociedade com o tema defesa. A classe política deve pensar a defe-sa como assunto de Estado e ditar as diretrizes respaldadas pela so-ciedade. Do acadêmico, espera-se o debate para aprofundar o seu

conhecimento. O setor científico e tecnológico deve perseguir o domínio da tecnologia e ao setor industrial cabe o uso dessa tecno-logia na produção dos meios de ponta necessários à defesa. Esse é o caminho para adensar o conhe-cimento e promover o desenvol-vimento, necessários para que as Forças Armadas disponham dos instrumentos indispensáveis para assegurar a nossa soberania.Com o intuito de promover a evolução tecnológica do Brasil e de modernizar nossas Forças Armadas, capacitando-as a res-guardar nossos interesses pela dissuasão, foi implementada, em dezembro de 2008, por decreto presidencial, a Estratégia Nacio-nal de Defesa, que delineia as ações a serem desenvolvidas na busca desses objetivos.Ciente de que desenvolvimento e segurança caminham juntos e que a indústria de material de defesa, em todo o mundo, tem sido motor de desenvolvimento tecnológico, a Estratégia orienta as ações de modernização das Forças Armadas brasileiras e de sua adequação ao contexto internacional do século XXI. Isso visa a promover a indústria nacional, privilegiando as associa-ções internacionais que permitam transferências de tecnologia para a indústria nacional, com o propósito final de colocar o Brasil na linha de frente tecnológica. Honrado com o convite da direção de DEFESA LATINA para participar desta edição inaugural, ressalto a inestimável contribuição que este periódico dará para a divulgação e a inclusão do tema defesa na agen-da nacional, assegurada pela parti-cipação, em sua direção e em seu

corpo editorial, de jornalistas espe-cializados no setor e de renomados profissionais e acadêmicos.Parabéns,

Nelson JobimMinistro de Estado da Defesa do Brasil

De: Comando do ExércitoPara: Defesa LatinaA Estratégia Nacional de Defesa (END), lançada no final do ano de 2008, fruto de trabalho presidido pelo Ministro da Defesa e coorde-nado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, com a participação dos Comandantes das Forças, cum-pre um objetivo governamental de suscitar na sociedade brasileira, particularmente no segmento civil, o interesse pelos assuntos ligados à defesa do país, haja vista que este assunto historicamente ficou ao encargo das Forças Armadas, justa-mente pela falta de um elo entre a Política de Defesa Nacional (PDN) e a Política Militar de Defesa (PMD) que a END veio completar.Após esse primeiro passo, é fun-damental que os propósitos cons-tantes desse documento sejam difundidos nas diversas instâncias do Poder Nacional, com ênfase na política e na econômica, dois dos principais vetores que farão com que a estrutura de defesa atinja a dimensão compatível com a im-portância que o país vem adquirin-do no cenário mundial.Neste contexto, o surgimento da revista DEFESA LATINA, com a pro-posta de divulgação de temas rela-cionados à defesa nacional, às For-ças Armadas, à soberania nacional,

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à indústria de defesa, à tecnologia dual, ao pensamento estratégico e à história militar, vem somar esfor-ços e complementar outras publi-cações do gênero.Recebam os cumprimentos do Exér-cito Brasileiro pela iniciativa e os nossos votos de que sejam felizes nessa empreitada, transmitindo aos seus leitores todas as informações necessárias ao entendimento e à participação da sociedade na evolu-ção do sistema de defesa do país.

General-de-exército Enzo Martins PeriComandante do Exército

De: Comando da MarinhaPara: Defesa LatinaNa atualidade, observa-se um con-tínuo e benéfico crescimento do jornalismo especializado em defe-sa, o que tem contribuído para a evolução da consciência da socie-dade sobre temas de relevância para a soberania nacional, cuja divulgação promove o debate, in-centiva o exercício da crítica e gera formação de opinião.Nesse contexto, considero funda-mental o aproveitamento de todas as oportunidades para proporcio-nar maior visibilidade das ativida-des da Marinha do Brasil junto à opinião pública, intensificando e dinamizando a comunicação social relativa à atuação da Força.Torna-se vital o convencimento, não só da sociedade, mas também do po-der político, quanto à importância da “Amazônia Azul” – região assim cha-mada em razão de seus incomensu-ráveis recursos naturais, dimensões e potencial econômico, representando,

metaforicamente, ou tra Amazônia em pleno mar – e das nossas águas interiores tanto para o crescimento da nossa economia como em relação à manutenção da soberania e à garan-tia dos interesses nacionais. O Brasil não pode prescindir de uma Marinha pronta e de porte compatível com suas responsabilidades constitucionais e que esteja à altura da estatura polí-tico-estratégica do país. Isso possibili-tará a formação de um círculo virtuo-so: atuação>reconhecimento>apoio> mais recursos >mais atuação.Ao pretender despertar o interes-se da sociedade brasileira para as questões concernentes às tarefas das Forças Armadas, a revista DEFE-SA LATINA levará conhecimento e esclarecimento aos profissionais de jornalismo, às comunidades científi-ca e acadêmica, às classes dirigentes, aos núcleos de pesquisa e de produ-ção de bens e serviços, tornando-se mais um importante instrumento na formação de uma mentalidade marítima, necessária à proteção do imenso patrimônio contido na “Amazônia Azul”.Todo esse esforço editorial, que ora se lança no mercado, por certo re-presentará uma parcela indispensá-vel para tornar a Marinha do Brasil mais conhecida e admirada por nos-sa sociedade, reforçando a existên-cia de um Poder Naval adequado aos interesses do Brasil no mar.Bons ventos à DEFESA LATINA!

Almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura NetoComandante da Marinha

De: Comando da AeronáuticaPara: Defesa LatinaAs novas tecnologias têm permitido aos veículos de comunicação ofere-cer ao cidadão a possibilidade de acessar um universo incomensurável de informações, exigindo na mídia um jornalismo cada vez mais dinâmi-co e individualizado.Dessa forma, a segmentação dos veículos de comunicação tornou-se obrigatória como forma de facilitar o acesso a informações específicas, disponibilizando notícias na pro-fundidade de conteúdo que aten-da aos diversos segmentos sociais.Nesse cenário tão favorável aos con-sumidores de informação, é sempre oportuna a oferta de novos produ-tos midiáticos específicos a assun-tos relacionados à defesa nacional, principalmente após a apresentação da Estratégia Nacional de Defesa.Consequentemente, o Comando da Aeronáutica vê com entusiasmo o lançamento da revista DEFESA LATI-NA pela Editora de Cultura e coloca-se à disposição para bem divulgar as ações de nossa instituição.Felicidades!

Tenente-brigadeiro-do-ar Juniti SaitoComandante da Aeronáutica

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Missões comerciaisNa América do Sul, as perspec-tivas de negócios para a indús-tria de materiais de defesa do Brasil são boas. Daí o desenvol-vimento de missões comerciais, que, com apoio dos ministérios da Defesa; do Desenvolvimen-to, Indústria e Comércio; e das Relações Exteriores, buscam incrementar as vendas exter-nas do setor, cujos sistemas são considerados competitivos e estão presentes em diversas forças armadas, inclusive em países do Primeiro Mundo. No passado, uma única empresa, a Engesa, chegou a vender blindados sobre rodas para 35 países em vários continentes, configurando um exemplo no-tável da capacidade tecnológi-ca e comercial brasileira.

ChILEO Chile, por exemplo, tem mantido suas forças em constante modernização. Há razões geopolíticas para isso. E recursos ade-quados constam dos orçamentos do Estado, cuja legislação lança mão das receitas da exportação de cobre – uma das principais riquezas do país andino – para amparar as compras.

Tradicional cliente da indústria de defesa da Inglaterra, o Chile tem mantido boa sintonia comercial com Israel nessa área nos últimos anos. Várias empresas brasileiras também estão presentes entre os fornece-dores das Forças Armadas chilenas. Neste caso, no entanto, a participa-ção pode ser maior, inclusive junto aos Carabineiros (polícia militar). Foi o que constatou em abril a primeira missão comercial enviada ao país vizinho. A relação comercial entre os dois países atingiu em 2008 cerca de US$ 8 bilhões. O Chile tem demonstrado interesse em ter o Brasil como parceiro, inclusive para a diversificação do seu parque industrial nessa área. Em agosto, uma comissão chilena, liderada pela presidente Michelle Bachelet, programou-se para visitar o Brasil, prevendo encon-tros de negócios inclusive no segmento de defesa.

COLôMBIATambém são boas as perspectivas no mercado colombiano, onde a es-trutura militar projeta renovação de seus materiais de defesa, com disponibilização inicial de cerca de US$ 5 bilhões. Segundo dados da Fiesp, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Co-lômbia está entre as maiores da América Latina e sua economia tem apresentado bom ritmo de expansão, tendo chegado a 7,7% em 2007, informou a agência de classificação de risco Fitch Ratings. As projeções para o corrente ano e o próximo, de acordo com a mesma fonte, são de aumento do PIB de 2,3% e 2,7% respectivamente.

Embora a corrente de comércio bilateral ainda seja tímida, dados da Fiesp indicam que o volume cresceu substancialmente, passando de US$ 573 milhões em 1998 para US$ 3,124 bilhões em 2008. Em agosto desse ano, uma missão empresarial brasileira esteve na Colômbia, cumprin-do agenda da qual participaram o presidente Lula e o ministro Nelson Jobim, da Defesa. Na ocasião, foram feitas reuniões com autoridades militares e industriais do país. Já em fevereiro de 2009, foi o presidente Álvaro Uribe quem veio ao Brasil.

Em julho, outra missão industrial multissetorial brasileira foi pro-gramada para realizar rodadas de negócios com representantes de diferentes setores industriais da Colômbia, além de participar de eventos culturais e gastronômicos, com respaldo institucional do Ministério da Defesa. Em resposta, uma comitiva da Colômbia da área de logística militar deverá vir ao Brasil para uma visita ao nosso parque industrial. O evento está sendo planejado pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (Abimde).

Depois de encontros com industriais em São Paulo, o presidente Uribe foi

para Brasília, onde assinou acordos bilaterais com o presidente Lula

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Sob nova direção

Eduardo Marson Ferreira, que ocupava o cargo de diretor-geral no Brasil do Grupo EADS (Euro-pean Aeronautics Defence and Space), é o novo presidente da fa-bricante de helicópteros Helibras desde 1º de junho. Embora jovem, Marson é um executivo com gran-de experiência no setor de defesa, tendo participado de importantes projetos da EADS no Brasil, entre os quais a ven-da do avião Airbus para a Pre si dê n cia da República e 50 helicópteros EC-725 para as três Forças. Seu maior desafio, agora, será ampliar a participação da He-libras na estratégia global de sua controladora, a Eurocopter, per-tencente ao consórcio EADS, em cooperação com a indústria brasi-leira. Cooperação multinacional, aliás, é sua palavra de ordem: “Este é o presente e o futuro das relações empresariais nos setores industriais mais tecnológicos”, es-creveu em 2007 num artigo para o jornal Gazeta Mercantil. E com-pletou: “Produzir juntos, vender juntos e ganhar juntos através de projetos cooperativos é um mo-delo que, atualmente, não ape-nas determina o sucesso de um produto, mas, no caso de países com capacidade técnica compro-vada como o Brasil, pode repre-sentar um importante apoio para o desenvolvimento tecnológico, econômico e social”. Ele também passa a compor o Conselho de Administração da EADS Brasil.

PERUOutro país da região que projeta oportunidades de negócios na área de defesa e segurança é o Peru, que, em face da situação de obsolescência dos materiais hoje em operação, disponibilizou US$ 650 milhões para renovar seus equipamentos militares em 2009, lançando inclusive licitação

para veí culos blindados. Por ou-tro lado, está em tramitação no Congresso peruano lei semelhan-te à Lei do Cobre do Chile, que objetiva garantir investimentos anuais do setor militar com par-te dos recursos da venda de gás natural. A Divisão de Exportação da Fiesp já está planejando uma missão comercial ao Peru.

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LEduardo Marson Ferreira, presidente

da helibras e do conselho da EADS

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Míssil made in BrazilO Exército Brasileiro receberá em breve um

lote-piloto do Míssil MSS 1.2 AC (míssil superfície-superfície anticarro) de fabricação nacional. A encomenda total feita pelo EB via Centro Tec-

nológico do Exército (CTEx) compreende 66 uni-dades de tiro e munição, três simuladores e três equipamentos de teste, compreendendo ainda

desenvolvimento e produção de dois mecanismos adaptadores para uso das unidades em viatura e dois sistemas de visão noturna para as unida-

des de tiro. Trata-se da retomada de um projeto datado de 1986 e paralisado em 1989. O pro-

grama, sob a responsabilidade da Mectron e do CTEx, terá duração

de quatro anos, com entregas regulares

de sistemas comple-tos (armamentos e equipamentos de suporte logístico).

Conduzido ao alvo por um feixe de laser projetado no espaço por

unidade de tiro terrestre, com sistema óptico independente de apontamento de mira, igual a

um periscópio, o míssil brasileiro pesa cerca de 15 quilos, tem alcance de 3 quilômetros e pode ser

lançado de paraquedas contra veículos blindados e navios. A Marinha do Brasil também já manifes-

tou interesse pelo mesmo armamento.

10 DEFESA LATINA

Saber mais

Gestão de recursos de defesa

Na manhã do dia 26 de junho, a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) promoveu em sua sede, na avenida Paulista, um ciclo de palestras para os estagiários do Curso de Gestão de Recursos de Defesa (C-Gerd), promovido pelo Departamento da Indústria de Defesa (Comdefesa/Fiesp), com o apoio da Escola Superior de Guerra (ESG). O seminário abordou os temas Ética Empresarial e Comunica-ção Social nas Forças Armadas, com palestras da jornalista e escritora Márcia Cristina Souza e dos chefes da Comunicação Social do Exérci-to, da Marinha e da Aeronáutica, respectivamente general-de-divi-são Adhemar da Costa Machado Filho, contra-almirante Domingos Sávio Almeida Nogueira e brigadeiro-do-ar Antônio Carlos Moretti Bermudez, que responderam a perguntas dirigidas pelos estagiários do curso. O mediador dos debates foi o jornalista Cosme Degenar Drumond, diretor de redação de DEFESA LATINA.

O C-Gerd, que dura 9 semanas e tem 180 horas/aulas, está em sua quarta edição e tem atraído o interesse de militares, agentes policiais, professores, executivos, empresários e profissionais liberais, o que de-monstra a importância da defesa nacional nos vários segmentos da sociedade. Em Brasília, o curso – sempre gratuito e montado para 40 estagiários selecionados por análise curricular – terá início em 31 de agosto, prolongando-se até outubro. A grade curricular contempla três grandes áreas temáticas: Poder Nacional, Relações Internacionais e Política e Gestão de Recursos Públicos.

Mestrado em engenharia de defesa

Está programado para ter início em 2010 o primeiro Mestrado lato sensu em Engenharia de Defesa no país, cujo objetivo é aprofundar conhecimentos dos engenheiros de diversas especialidades que tra-balham na Base Industrial de Defesa.

Um passo importante para viabilizar esse projeto foi dado no dia 2 de junho último, no 1º Workshop de Engenharia de Defesa, reali-zado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde).

O evento aconteceu nas dependências do Comando Militar do Su-deste, em São Paulo, e reuniu mais de 40 participantes entre enge-nheiros, diretores e presidentes das empresas associadas à Abimde, que assistiram à apresentação do primeiro módulo do curso, abran-gendo fundamentações dos Estudos Estratégicos, uma visão da Es-tratégia Nacional de Defesa e os principais programas governamen-tais para o setor. Fizeram-se representar o Ministério da Defesa e a Rede de Defesa do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Número 100Feliz coincidência: o centésimo Super Tucano saiu para a FAB, primeira a utilizá-lo; os outros compradores são Equador, Chile, República Dominicana e Colômbia.

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Apoio fundamental

Pioneira na criação de um comitê da cadeia produtiva de defesa, que chamou de Departamento da Indústria de Defesa (Comde-fesa), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está inspirando suas congêneres. No Rio de Janeiro e no Rio Gran-de do Sul , a Fierj e a Fiergs já ins-tituíram seus respectivos fóruns, enquanto a Federação das Indús-trias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) anuncia que vai trilhar o mesmo caminho.

Por um lado, destaca-se o apoio que o setor produtivo da defesa vem recebendo das ins-tituições públicas. Por outro, as entidades que reúnem os indus-triais têm reconhecido de forma ostensiva o papel das Forças Ar-madas em benefício da socie-dade brasileira, sobretudo nos rincões mais distantes e isolados do país. No caso da Fiesp, tem ha-vido constante diálogo entre as partes – o que inclui seminários, palestras, reuniões de estudos e, por que não?, também reuniões comemorativas. A última delas foi a homenagem à Marinha do Brasil no início de julho, abri-lhantada pela Banda Fuzi Bossa, dos Fuzileiros Navais. Presente, o comandante da Força, almirante Júlio Soares de Moura Neto.

Aeronave encontrada é a de João Verdi

ABRIL DE 1961. A moderna construção aeronáutica brasileira tomava forma. Em São José dos Campos (SP), um grupo de engenheiros que participara dos projetos pioneiros Convertiplano e Beija-Flor trabalha-va no desenvolvimento de um avião que revolucionaria os processos até então praticados. Na liderança do grupo, um mineiro de Alfenas, João Verdi de Carvalho Leite, engenheiro diplomado pelo ITA em 1958 na especialidade de Aeronaves e piloto desde os 17 anos.

Verdi havia ajudado a montar o laboratório de pesquisas e en-saios mecânicos do Departamento de Materiais do CTA e também participara de estudos sobre tecnologia para o desenvolvimento da microeletrônica. E foi assim que nasceu, naquele mês e ano, a Avibras Indústria Aeroespacial, uma empresa vocacionada para o setor aero-náutico, mas que ganharia destaque no campo da defesa ao conceber e exportar sistemas bélicos de última geração para vários países.

Em 23 de janeiro de 2008, uma quarta-feira, ele saiu de sua casa de praia com a mulher, Sônia, e decolou de Angra dos Reis (RJ) para São José dos Campos, onde morava. O helicóptero EC120 Colibri, de prefixo PP-MJV, desapareceu junto com seu comandante, João Verdi (72 anos), e sua esposa. No dia 13 de julho passado, quase um ano e meio de buscas depois, um mateiro encontrou por fim os destro-ços da aeronave e os restos mortais de Sônia e João Verdi na região serrana de Ubatuba (SP) – na altura da praia de Maranduba, onde, na noite do desaparecimento, moradores teriam ouvido barulho de helicóptero seguido de estrondo.

João Verdi foi e será lembrado não apenas por sua participa-ção direta e ativa na evolução das indústrias aeroespacial e de defesa do país, mas também por sua singular figura humana. “Era um exemplo de profissionalismo, talento, ética e criatividade”, diz o jornalista Cosme Degenar Drumond, que conviveu profissio-nalmente com o engenheiro.

Sônia Regina Brasil Leite e o empresário

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Banda Fuzi Bossa na homenagem à Marinha prestada pela Fiesp

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a chefia do ministro Nelson Jobim, o Ministério da Defesa resgatou a identidade das Forças Armadas e restabeleceu a importância da de-fesa nacional para o país ao lançar, em dezembro passado, a Estraté-gia Nacional de Defesa (END).

Portanto, tirar o país de um circulo vicioso – o de, ao lon-go de toda sua história, haver conduzido seus meios de defe-sa de forma improvisada – é o que deverá acontecer a partir da aplicação do novo plano go-vernamental, cujo texto, com mais de 90 páginas, prevê sua implementação com base em 23 atos legislativos e adminis-trativos a serem apresentados até o fim de 2009.

Reorganização geralO plano apresenta três eixos es-truturantes: reorganização do setor militar, reestruturação da indústria de materiais de defesa e composição dos efetivos mili-tares. A modernização do pro-fissional militar é outra meta. “Esse ideal tem de estar encar-nado no combatente brasileiro, seja infante, aviador, marinhei-ro ou fuzileiro. Cada um deles terá de reunir vários atributos, como a capacidade de atuar em rede com outros componentes”, disse a respeito o coordenador dos trabalhos de estruturação do projeto, ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secre-taria de Assuntos Estratégicos.

Alerta na DefesaCOM O FIM do regime militar (1964-1985), os sucessivos gover-nos no Brasil não chegaram a dar importância à defesa nacional, que passou a ser interpretada pelos po-líticos como “coisa dos militares”, e não como instrumento estratégico do Estado. Em consequência dessa visão equivocada, ano após ano, as Forças Armadas perderam ca-pacidade de dissuasão, enquanto as fronteiras do país se tornavam vulneráveis a atos ilícitos de todos os tipos. Não se compreendia por que o Brasil, dono de imensas ri-quezas naturais, com posição de líder regional e expressivo PIB no-minal, tratava com indiferença seu próprio escudo protetor. Mas essa interpretação política mudou. Sob

Ministro Nelson Jobim,

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O EMB 145 SA 2 com o dispositivo de alerta aéreo antecipado (AEW)

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No distante passado, a solução para reprimir as agressões ex-ternas ao patrimônio brasileiro era mobilizar milhares de ho-mens e colocar uma arma na mão de cada um. índios, escra-vos e mamelucos pegaram em armas para ajudar a defender o país. Há tempos já não é assim. Hoje, porém, os sistemas inteli-gentes fazem a diferença, e o Brasil terá de evoluir mais em tecnologias de ponta.

A Força Aérea Brasileira (FAB), por exemplo, pretende avançar do atual estágio básico de ope-racionalidade para um nível mais sofisticado a partir das inovações tecnológicas embarcadas no jato de combate que a instituição pre-tende adquirir e se encontra em fase final de seleção. A Marinha deverá buscar meios capazes de negar o uso do mar brasileiro a qualquer força naval invasora. O mesmo ideal de vanguarda en-volverá o Exército, cujas brigadas de ação rápida cumprirão papel mais relevante no futuro, comu-nicando-se por enlace de dados e apoiadas por avançados conceitos de logística, doutrina e estratégia.

Modernização em três décadasAs ações contempladas no plano governamental para a defesa es-tão lastreados em três tempos para solucionar as questões de equipa-mentos, armamentos, meios de transporte e suprimentos:

curto prazo até 2014 médio prazo até 2022 longo prazo até 2030

O grande destaque é a partici-pação maciça da indústria brasilei-ra para fornecer os materiais mili-tares, cumprindo papel relevante e estratégico ao mesmo tempo. Nesse sentido, ao apresentar a Estratégia Nacional de Defesa ao Congresso, ainda em dezembro de 2008, o ministro Jobim ressal-tou que o desenvolvimento nacio-nal está ligado à defesa nacional: “São premissas inseparáveis e a defesa serve de escudo ao desen-volvimento. Um influencia o outro e quem não tem defesa, não tem capacidade de dizer não”.

Nas previsões da Associação Brasileira das Indústrias de Ma-teriais de Defesa (Abimde), o fa-turamento no setor já em 2011 deverá somar R$ 5 bilhões, com geração de R$ 366 milhões em tributos e criação de 20 mil novos empregos diretos. O faturamento poderá triplicar até 2014 e quin-tuplicar até 2019. Fortalecer a base militar, portanto, significa incrementar a economia nacional e gerar benefícios sociais e tecno-lógicos de vulto para o país.

ExércitoA mudança de conceitos está no começo e encontra o acervo bélico do Exército bastante des-gastado e defasado em termos

Alerta na Defesatecnológicos. Nos últimos anos, os investimentos em defesa no Brasil superaram apenas os do Peru e da Argentina no subcon-tinente. O país chegou a gastar minguados 0,9% do PIB no setor. Em 2006, segundo dados do Fun-

do Monetário Internacional (FMI) não atingiu 2% nessa área, supe-rado até pela Bolívia, ao passo que a Venezuela ultrapassou os 5% e o Chile, os 3%, seguido de perto pela Colômbia.

Para uma ideia do que isso representou para o Brasil, cons-tate-se que 78% da frota de cer-ca de 1.600 veículos blindados do Exército tem mais de 35 anos de operação. É a mais velha da re-gião. Em termos de aeronaves, a Colômbia possui quase 120 uni-dades no seu exército, enquanto Peru e Argentina operam apro-ximadamente 90 unidades cada um. O Exército Brasileiro tem menos de 80 aeronaves.

Cosme Degenar Drumond

CMNE

Blindado da Força Guararapes, do Comando Militar do Nordeste

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Mas não adianta chorar so-bre o leite derramado. Com as novas medidas oficiais, em curto prazo o Exército Brasileiro terá condições materiais para en-frentar antagonismos no entor-no nacional. Hoje, são 26 briga-das e um comando de aviação. As estratégias de emprego es-tão diretamente relacionadas a dissuasão, presença, resistência e projeção de poder. Em se tra-tando de presença, há apenas 71 quartéis ao longo dos 15.700 quilômetros de fronteira terres-

Fronteira. Hoje, são 21; deverão passar para 28 unidades. Em mé-dio prazo, o Exército vai iniciar a implantação e transformação das Brigadas, processo que de-verá ser concluído já no limite do longo prazo, por volta de 2030. Até lá, os investimentos do Exér-cito para as novas metas deverão totalizar R$ 65,8 bilhões. Só a nova família de blindados custa-rá R$ 15,5 bilhões até 2022, com adicional de R$ 10 bilhões para fechar o ciclo de longo prazo.

MarinhaComo no Exército, o plano de re-equipamento da Marinha é an-tigo e decorrente de necessida-des bem latentes. Se nada fosse feito, a Armada certamente te-ria suas atividades asfixiadas no médio prazo. Mas a Estratégia Nacional de Defesa projeta no-

vos horizontes para a Marinha. Em curto, médio e longo prazo, ela poderá modernizar seus cin-co submarinos convencionais das classes Tupi e Tikuna, construir outros 15 da classe Scorpène e obter seis unidades de propul-são nuclear com capacidade de operar a 350 metros de profun-didade, em velocidade de 24 nós (44 km/h), tripulados por 70/80 homens. O porta-aviões São Pau-lo deixa a desejar ultimamente. Afinal, seus jatos de intercep-tação e ataque (AF-1 Skyhawk)

Submarinos Tupi e Tikuna

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tre (a fronteira México-EUA tem 2.500 quilômetros). A ideia é aumentar o número desses bas-tiões, mas, antes disso, a Força terá de melhorar a operacionali-dade das unidades existentes.

A prioridade é dar ao Exér-cito maior capacidade de pron-tidão, monitoramento e vigi-lância, mobilidade, de defesa antiaérea e de defesa civil e

GLO, isto é, missões de garan-tia de lei e ordem.

Os projetos mais urgentes contemplam uma nova família de blindados de rodas, o veícu-lo aéreo não-tripulado (UAV), a defesa antiaérea, sistemas de comando e controle e de guer-ra eletrônica, míssil anticarro, morteiros médios e pesados, arma leve anticarro, equi pa men-tos de visão noturna e fuzil 5.56 mm. Do plano de articulação, em curto prazo, será aumentado o número de Pelotões Especiais de

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Legacy 500

carecem de modernização. A própria belonave entrará em regime de modernização e dois outros navios-aeródromos deve-rão ser adquiridos. Na realidade, em termos materiais, a esquadra será inteiramente renovada com quatro novos navios de propó-sitos múltiplos, 30 de escolta, quatro de transporte de apoio, cinco de apoio logístico, 12 de 1.800 toneladas, 46 de patrulha (500 toneladas), quatro de 200 toneladas e 14 de patrulha flu-vial, cinco de assistência hospita-lar, oito para transporte fluvial, oito varredores, oito caça-minas, um oceanográfico, um polar, 13 rebocadores de alto-mar e 926 embarcações menores para ope-rações básicas e de apoio.

Para modernização, deverão entrar em diques três navios de patrulha fluvial, quatro caça-mi-nas, cinco rebocadores de alto-mar, um de apoio logístico, sete de escolta (fragatas classe Niterói e a corveta Barroso) e um de as-sistência hospitalar. Na aviação naval, além dos 12 AF-1 Skyha-wk, serão modernizados seis he-licópteros de ataque AH-IIA Su-per Lynx e adquiridos 48 jatos de interceptação e ataque tipo F-18 e Rafale, oito aviões de alarme aéreo antecipado, vigilância ma-

rítima, transporte administrativo e reabastecimento em voo, 16 helicópteros de múltiplo empre-go, veículos aéreos não-tripula-dos, 66 helicópteros de emprego geral de médio porte, 60 helicóp-teros de emprego geral de pe-queno porte e 30 de instrução.A Marinha será reforçada com 78 carros lagarta anfíbios (CLAnf), 26 carros de combate (CC) tipo SK-105AT, 42 viaturas blindadas sobre rodas para transporte de pessoal (VB TP SR), seis baterias de artilharia de campanha, uma bateria de lançadores múltiplos de foguetes (LMF), dois sistemas de defesa antiaérea (SisDefAAe) e dois sistemas de guerra eletrô-nica (SisGE), além de moderni-zação de 30 viaturas blindadas de transporte de pessoal sobre lagartas (VB TP SL) e outras 42 viaturas do mesmo tipo.

Como nenhum equipamen-to bélico opera sem munição, estão previstas compras de tor-pedos pesados e leves, minas de contato e influência (MCI), mís-seis superfície-superfície (MSS), mísseis superfície-ar (MSA) de curto e médio alcance, mísseis ar-superfície (MAS) de médio e longo alcance, mísseis anticarro (MAC), foguetes ar-solo de cur-to alcance, despistadores de mís-

seis, bombas de profundidade e de aviação, munição convencio-nal, explosivos e pirotécnicos.

Deverão ser estruturadas uma 2ª Esquadra (três bases: na-val, aeronaval e de abastecimen-to) e também uma 2ª Divisão An-fíbia (base de fuzileiros navais). O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), braço industrial da Armada, será revitalizado. A Base Naval do Rio de Janeiro será ampliada e modernizada, en-quanto uma base e um estaleiro de submarinos serão construídos em Itaguaí (RJ). Por fim, será cria-da uma Estação Naval em Taba-tinga, no Amazonas, prevendo-se ainda obras de ampliação das bases e estações navais de Rio Grande (RS), Rio Negro (AM), Aratu (BA), Ladário (MS) e Val-de-Cães (PA) e de construção de paióis. Fechando o ciclo de con-quistas, a Marinha consolidará o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul por Satélites.

Os investimentos serão, no cur-to prazo, de R$ 12.636 bilhões; no médio prazo, de R$ 31.248 bilhões; e de R$ 31.581 bilhões no longo prazo. Após 2030, a Marinha in-vestirá mais R$ 15.625 bilhões em materiais suplementares. O total dos investimentos chegará a R$ 91 bilhões, ou 0,2% do PIB.

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deverá ser fabricada no Brasil, o P-X2, com produção seriada de 21 unidades prevista para o período 2020-2028. Há ainda a previsão para desenvolvimento e fabrica-ção de cinco E-X, visando comple-mentar as necessidades de contro-le e alarme em voo – o que deverá acontecer entre os anos de 2017 e 2025 –, e também de novos R-X de reconhecimento estratégico. Entre 2020 e 2028, serão três aeronaves desse tipo.

Quanto aos veículos aéreos não-tripulados, serão 30 unidades nos modelos RE e CBT, meio a meio, para maior precisão em monitora-mento e controle do território bra-sileiro. Esses pequenos aviões são o futuro na aviação militar, inclusive para missões de combate. No caso brasileiro, eles serão desenvolvidos e fabricados no período de 2011 a 2023. Satélites de órbita polar, saté-lite geoestacionário (comunicações) e estações fixas e móveis de controle de solo estarão interligando as ope-rações da Força a partir de 2015.

Na parte de armamentos, se-rão desenvolvidos e adquiridos kits de bomba GPS e a laser, mís-seis ar-ar de curto e médio alcan-ce, mísseis antirradiação (MAR), mísseis superfície anticarro (MAS-Anav), mísseis ar-superfície, mís-seis solo-ar de média altura (MAS-MABR) e alvo aéreo manobrável.

AERONÁUTICANo início da próxima década, a Força Aérea Brasileira (FAB) rece-berá novas aeronaves de emprego geral. Em seguida, no período de 2014-2016, os 36 caças do Proje-to F-X2. Em 2014, chegam os pri-meiros aviões de transporte tático KC-390, da Embraer, cerca de 30 aeronaves. Os planos de aquisição abrangem também quatro C-105, quatro KC-X2, dois VC-2, dez C-98 e quatro C-97, além de oito jatos executivos Legacy 500 para trans-porte de autoridades. A moderni-zação de curto prazo vai contem-plar 57 F-5, 43 A-1 (AM-X), 41 C-95 e 18 Hércules, cinco E-99M e três R-99M, além de 13 P-95M. Diver-sos F-5 já foram modernizados e entregues à Força.

Na área de helicópteros, estão previstas compras de dez H-60, 12 AH-2 e 18 EC-725, que deverão entrar em operação em meados da próxima década. No longo pra-zo, 41 C-X2 substituirão os atuais C-97 Brasília e C-95 Bandeirante (2020-2028), ao passo que 21 TH-X substituirão os helicópteros H-50 de instrução. No período 2019-2030, deverá ser desenvolvido o F-XBR, futuro caça de fabricação nacional. Estão previstos 52 exem-plares para entrega entre os anos de 2030 e 2036. Uma aeronave de patrulha marítima também

As necessidades continuarão impulsionando as Forças Arma-das para novos níveis tecnoló-gicos. Se eventualmente o país tiver de agir contra adversário menor, o F-X2 e os mísseis de cru-zeiro poderão resolver a questão. Mas, para confrontar forças po-derosas, isso não basta. O novo patamar exigirá tecnologia mais sofisticada, sobretudo em eletrô-nica e integração. Paralelamente, o parque industrial terá de estar plenamente maduro em tecno-logias de ponta e, destaque-se, funcionando plenamente coeso. Sem isso, a confiança nas van-guardas será inútil e o país ficará sem blindagem segura contra as ameaças que o patrimônio nacio-nal poderá vir a sofrer no futuro.

Os custos para o reapare-lhamento das Forças Armadas podem dar a impressão imedia-ta de que são monumentais. E realmente o são. Contudo, são relativamente baixos, conside-rando-se o longo prazo. O Brasil tem tido receitas da ordem de R$ 1,3 trilhão por ano. Quando 2030 chegar, quanto os atuais investimentos na Defesa Nacio-nal estarão representando em percentuais relativos, compara-tivamente às receitas anuais do país, já que são fixos? É só fazer as contas.

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Veículo aéreo não-tripulado

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Desde adolescente, o sergipano José Elito Carvalho Siqueira queria ser oficial do Exér-cito. Nascido em Aracaju em 1946, foi aprovado aos 18 anos no concurso para a então Escola Preparatória de Cadetes do Exército, sediada em Campinas (SP). Cinco anos depois, consolidava sua vocação profissional ao ser declarado aspirante-a-oficial de Infantaria. Ao longo de sua trajetória, realizou cursos de especialização e de aprimo-ramento, exerceu cargos de prestígio no Brasil e no exterior e galgou todos os postos da carreira militar. Dentre outras funções, comandou a 16ª Brigada de Infantaria de Selva, o 28º Batalhão de Caçadores, a Polícia Militar do Estado de Alagoas e a Aviação do Exército. Foi também Adido Militar e Aeronáutico na África do Sul, oficial de ga-binete do então Ministério do Exército e da Casa Militar da Presidência da República. Em 2006, esteve à frente da Força de Paz no haiti. Por onde passou, mostrou dedi-cação e competência. Foi condecorado no Brasil e em países como Chile, Argentina, Guatemala, Espanha, Uruguai, Líbano e Portugal, tendo ainda uma condecoração da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao ser nomeado para o cargo que ocupa no Ministério da Defesa, detinha o Comando Militar do Sul, em Porto Alegre (RS), função que exerceu até novembro de 2008.

Em Brasília, uma de suas responsabilidades é assessorar o ministro nos assuntos mais estratégicos da vida nacional conduzidos pelo Ministério da Defesa. Sua atuação adquiriu importância ainda maior com o recente lançamento da Estratégia Nacional de Defesa, documento de Estado que prevê mudanças estruturais nas Forças Armadas e o envolvimento concreto da indústria brasileira no aparelhamento militar. Cumprin-do suas atribuições, o general José Elito reúne-se frequentemente com empresários e entidades do setor. Numa dessas oportunidades, DEFESA LATINA o convidou para ser o entrevistado da edição inaugural. Receptivo e gentil, o general falou sobre este momento particular da defesa nacional.

entrevista

General-de-exército José Elito Carvalho Siqueira, Secretário de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa

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O Brasil vive um tempo de de-cisões importantes no campo da defesa. Como o senhor ana lisa este momento? A pu-blicação do Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, con-tendo a Estratégia Nacional de Defesa, marca, sem dúvida, um novo momento e o comprometi-mento da nação com o sensível e estratégico tema da defesa.

Nos últimos 25 anos, nas três Forças, projetos de alta rele-vância estratégica não logra-ram consolidação, como o FT-2000 no Exército Brasilei-ro, por exemplo. O senhor é um soldado preparado para o combate. Como acompa-nhou essa realidade? Essa situação não foi um problema brasileiro isolado. Com a que-da do Muro de Berlim em 1989, houve um natural e necessário reajuste nas estruturas de defe-sa de vários países do mundo e em suas políticas e estratégias. Como soldado, sinto que, com um documento de Estado que prioriza e interliga permanente-mente defesa e desenvolvimen-to, poderemos finalmente ter orça mentos contínuos e plane-jamentos que evitarão situações como as mencionadas.

A Estratégia Nacional de De-fesa (END) visa, também, mo-dernizar e robustecer a capa-cidade militar do país. Nesse aspecto, quais os principais

benefícios para a socieda-de? Para atingir essas e outras metas, é compulsório um nível tecnológico adequado. Esse ní-vel somente será alcançado com o envolvimento de toda a indús-tria nacional e a crescente parti-cipação do seu recurso humano. Portanto, os grandes benefícios para a sociedade serão a maior inserção de todos pelas oportu-nidades que surgirão e a certeza da garantia do nosso maior pa-trimônio – nossa Pátria.

O Brasil está preparado para reprimir potenciais agressões futuras ao patrimônio nacio-nal, sobretudo na Amazônia? Há vários anos que a Amazônia já é considerada uma área prioritá-ria. A Estratégia Nacional de De-fesa ratifica essa posição e destaca outras áreas também fundamen-tais para a manutenção da sobera-nia nacional – e, em consequência, para o desenvolvimento do Brasil. As Forças Armadas, apesar dos óbices que enfrentam, estão em condições de cumprir sua missão constitucional. Mas precisam, per-manentemente, se modernizar.

Segundo a Estratégia Nacio-nal de Defesa, a reorganiza-ção das Forças Armadas passa pela redefinição do papel do próprio Ministério da Defesa. O que é isso e como se proces-sará? Os três eixos estruturantes estabelecidos na Estratégia são a reorganização das Forças Arma-

das, da indústria de defesa e a composição dos efetivos das For-ças Armadas. Esses são pilares, mas a END estabelece diretrizes para várias áreas, inclusive na possibilidade de reestruturação do Ministério da Defesa. Estare-mos em 2009 executando essas tarefas impostas pela END.

As Forças Armadas moder-nas desenvolvem suas ope-rações estratégicas apoiadas na chamada “arquitetura de sistemas inteligentes basea-dos em rede”. Como estamos nessa área? É também uma das prioridades da END quando de-fine três setores de importância estratégica: o cibernético, o espa-cial e o nuclear. Os nossos sistemas certamente serão priorizados e modernizados regularmente.

O senhor poderia explicar de modo simples o significado e a importância de logística e mobilização para o país? Podemos afirmar que não há sucesso estratégico/operacional

“As Forças Armadas, apesar dos óbices que enfrentam, estão em condições de cumprir

sua missão constitucional. Mas precisam, permanentemente, se modernizar.

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nas suas especificidades e nas possibilidades de ameaça. O do-mínio de tecnologias adequadas e um recurso humano preparado e bem-equipado são fatores de sucesso de qualquer país. É lógi-co, portanto, que o Ministério da Defesa e as Forças estejam per-manentemente atentos a este e outros temas semelhantes.

O parque industrial de defe-sa deve funcionar integrado aos centros de pesquisas das Forças Armadas e a univer-sidades. O Ministério da De-fesa tem trabalhado no sen-tido de tornar essa sintonia forte e integrante do proces-so de desenvolvimento tec-nológico do país? Baseado no eixo estruturante denominado “reorganização da indú stria de defesa”, a END estabelece várias diretrizes visando implementar maior integração dos setores acadêmico, militar e industrial. Várias metas estão previstas para 2009 com essa finalidade.

O que o empresário do se-tor pode esperar dessas no-vas diretrizes para elevar sua produção e atender às necessidades do país nes-se campo? Como temos en-fatizado, vemos um momento especial para todos, porque, finalmente, a Nação está com-prometida com a valorização da defesa em benefício do país

e do seu povo. O senhor minis-tro da Defesa tem destacado que não seremos mais compra-dores de produtos acabados, e sim parceiros em toda a cadeia produtiva e com a obrigato-riedade de transferência total ou parcial de tecnologia. É um foco estratégico que certamen-te trará grandes benefícios.

O senhor é um líder militar com notável experiência pro-fissional, tendo participado inclusive de uma Missão de Paz da ONU. Como foi essa sua experiência no exterior? Foi uma experiência de vida, pessoal e profissional, totalmen-te inusitada, mas acima de tudo uma grande honra poder coman-dar cerca de 7 mil homens de 20 nações em missão real. Cabe des-tacar aqui o valor do militar bra-sileiro no cumprimento de tão sensível missão. O sucesso da Mi-nustah [sigla da missão no Haiti] é de todos, mas o desempenho do Brasil foi e é fator determi-nante em todas as ações naquele pobre e especial país.

Para finalizar, o senhor gos-taria de fazer neste espa-ço algum comentário adi-cional? Apenas agradecer a oportunidade da entrevista e desejar muito sucesso a todos os que contribuem, direta e in-diretamente, na edição da nova revista DEFESA LATINA.

sem o adequado apoio logístico. E quando a nação convocar suas Forças Armadas para garantir a sua soberania, estas precisarão, também, da mobilização nacio-nal de pessoal, material e infra-estrutura para cumprir sua mis-são constitucional. Concluindo, sem logí stica e/ou mobilização, poderemos fracassar.

As novas tecnologias revo-lucionaram os conceitos de guerra. Mísseis de grande alcance e veículos aéreos não-tripulados, por exemplo, já são considerados equipa-mentos indispensáveis na defesa de um país. Existe es-tudo no Ministério da Defesa voltado para atender o país nesse ambiente? Obviamen-te, as estratégias dos países são muito distintas, pois baseiam-se

SABER MAIS DÁ LUCROEmpreendedor moderno valoriza seu capital humano

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Tudo começou na MarinhaA Marinha foi a primeira a admi-ti-las em seu efetivo. São 3.440 mulheres ocupando postos e gra-duações, desde 1980, quando foi criado o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM). Ainda não são aceitas em navios, batalhões de Fuzileiros Navais ou unidades operativas, mas, nessa Arma, a carreira militar lhes pos-sibilita chegar ao almirantado.

A paulista Sandra Lúcia Ferrei-ra da Câmara Chaves, hoje capi-tão-de–mar-e-guerra, foi uma das pri meiras a ingressar na Marinha, em 1981. Formada em Serviço So-cial pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC-SP), especializou-se em Administração Hospitalar pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e em Serviço Social pela PUC-Rio. Já serviu no Rio de Janeiro e em Be-lém (PA). Agora, é vice-diretora do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo. O interesse pela

A PRESENçA feminina nas car-reiras das Forças Armadas com-pleta 28 anos neste ano. Com números impressionantes: elas já são quase 14,5 mil no Exérci-to, na Marinha e na Força Aérea. Estão em hospitais, na comunica-ção social, nas cabines dos aviões e em missões em outros países, como Iraque, Timor-Leste e Hai-ti. E, claro, fundamentalmente em áreas que as mantêm longe das frentes de combate. Mas isso vai mudar. Elas serão convidadas a deixar a farda de passeio, os sapatos de salto e o trabalho bu-rocrático para trás, assim como suas famílias, passando a encarar

longas marchas pela selva com uniformes camuflados, coturnos, fuzis e mochilas pesadas, além de encontrar disposição física e mental para enfrentar outras missões iguais às dos homens em suas respectivas Armas. É o que dispõe a Estratégia Nacional de Defesa para o futuro próximo.

carreira militar começou a partir de uma propaganda sobre a mu-lher nas Forças Armadas. “Havia três vagas para oficiais formadas em Serviço Social e senti curiosida-de”, recorda. Apesar das restrições iniciais do pai, ela teve o apoio da mãe e da irmã mais nova e seguiu seu caminho. Durante o curso de adaptação, no Rio de Janeiro, sua maior dificuldade foi o afasta-mento da família. Diz que nunca se sentiu discriminada na corpora-ção por ser mulher. “Tive sempre a oportunidade de atuar na minha área de formação, voltada para recursos humanos”.

Já a primeiro-tenente Lai-ne Chapada de Amorim, do Rio

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A primeiro-tenente Laine Chapada de Amorim: orgulho de pertencer à Marinha do Brasil

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Luiza Lusvarghi

de Janeiro, é psicóloga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com MBA em Gestão Empresarial pela Funda-ção Armando Álvares Penteado. Saiu oficial em 2004. Desde 2005, serve no Comando do 8º Distrito Naval, em São Paulo. “Durante o estágio em duas organizações mi-litares, eu me identifiquei com o ambiente organizado e formal de trabalho. Observei que a hierar-quia e a disciplina são os fatores diferenciais das Forças Armadas”, assinala. O atrativo que a levou à Marinha foi a remuneração, “bem acima do que as jovens psicólogas recebem ao concluir o curso, e de acordo com o posto que ocupa-mos, não com a profissão”.

No curso de adaptação e formação militar, de nove me-ses, ela enfrentou algumas dificuldades iniciais, fruto da inexperiência. “Para superá-las, contei com a orientação de mi-litares experientes e procurei o aprimoramento profissional a tra v és de uma pós-graduação na área gerencial”, conta. Laine diz que tem orgulho de perten-cer à Marinha, ter estabilidade no emprego e plano de car reira

definido, com igualdade de condições para evoluir. Acredi-ta que, da década de 1980 para cá, a imagem da mulher mudou não apenas na Marinha, mas na sociedade de modo geral. “Quando entrei na Força, a pre-sença da mulher no meio mili-tar já era algo comum”.

A mulher no ExércitoA primeira missão da ONU a enviar militares brasileiras para uma zona de conflito foi a do Iraque. A primeira Missão de Paz aconteceu no Timor-Leste e seu sucesso abriu caminho para a presença feminina no Haiti. Em 2008, o Batalhão Brasileiro de Infantaria de Força de Paz (Brabat) participou ativamente das operações de resgate aos soterrados pelo desabamento da escola La Promesse, em Por-to Príncipe, capital do Haiti, que provocou a morte de cerca de 90 pessoas, a maioria crianças. A ca-pitão médica Carla Maria Clausi participou dessa operação. Ela entrou para o Exército em 1996, como médica voluntária. Até então, o acesso só era permitido a enfermeiras e médicas veteri-nárias. Com o concurso aberto nesse mesmo ano para médicas, dentistas e farmacêuticas, inscre-veu-se e, aprovada, seguiu para a Escola de Saúde do Exército, no Rio, de onde saiu oficial.

A dra. Carla já foi chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e do Serviço de Cardiologia do Hospital Geral do Exército em Curitiba, onde serve, e fez espe-cialização no Centro de Capacita-ção Física do Exército (CCFEx). Foi a primeira mulher a cumprir essa etapa. Esteve na Bélgica por dois anos e, em 2007, cursou a Escola

Guerreiras do Brasilde Aperfeiçoamento de Oficiais – passo indispensável para o pros-seguimento na carreira, equiva-lente ao mestrado. Em 2008, foi convocada para a Minustah, a missão da ONU para a estabiliza-ção do Haiti. “Eu sempre gostei muito das coisas do Exército, de armas, de atirar... Era a única fi-lha entre outros quatro irmãos. Meu avô, um italiano, lutou na Grande Guerra e recebeu a Me-dalha de Prata do Exército Italia-no por bravura em combate”.

O pai de Carla praticava tiro e tinha armas em casa, entre elas, pistolas Lugger e Steier – esta última capturada pelo avô em combate contra uma tropa austríaca. Ela aprendeu a atirar com o pai, foi bandeirante na infância e adolescência e sempre gostou dos chamados “esportes radicais”. Paraquedista de salto livre, mergulhadora, esgrimista (florete), corredora de orienta-ção (esporte de campo, guiado por mapa e bússola) e de rally de regularidade, é também esquia-dora em água e neve. Diz que sempre achou os militares char-mosos em suas fardas. Em 1986, conheceu um oficial do Exército durante um curso de corrida de orientação, do qual ele era ins-trutor, com quem se casou dois anos depois. Carla jamais imagi-nou que seguiria a carreira mili-tar. Mas lá está ela nas missões de solidariedade do Exército.

A participação das brasileiras nessa Força não é coisa de hoje. A baiana Maria Quitéria de Je-sus Medeiros (1792-1853), por exemplo, hoje patrono do Qua-dro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, foi a gran-de heroína das lutas pela Inde-pendência na Bahia no início do

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século XIX. Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), um grupo de enfermeiras serviu no teatro da Itália como voluntárias – a mais conhecida delas foi a major Elza Cansanção, que em 2004 se

tornou a primeira escritora militar imortal, ao assumir a Cadeira 3 da Academia Alagoana de Letras.

Diz Carla que a grande dife-rença entre essas pioneiras e as de hoje “é que temos mais facilida-des do que elas, principalmente em termos de conforto nas insta-lações e, claro, por não estarmos em guerra... Mas ainda não te-mos uniformes operacionais sob medida, coletes táticos ou fuzis um pouco mais leves, ou um pou-co menores, pela nossa menor força física”, compara. E, claro, as pioneiras não faziam carreira em nenhuma das Armas.

As peacekeepers, quer dizer, as que participam de missões de paz, são mais facilmente aceitas pela população em geral. O epi-sódio do resgate das crianças no desabamento da escola no Haiti, por exemplo, foi episódio que lhes trouxe aplausos. E muitas emoções também, diz a oficial médica. “O procedimento do resgate foi dramático, pois per-manecemos por cerca de seis horas e meia trabalhando num ambiente pesado, vivenciando a dor, o medo e o sofrimento da-quelas crianças, e sob forte calor,

com escassez de luz, com sede, em meio à caliça que caía cons-tantemente sobre nossas cabe-ças e correndo o risco de sermos todos soterrados”, revela.

A população haitiana tem excelente relacionamento com os militares brasileiros. Vê-se a bandeira do Brasil pintada nos tap-taps (veículos de transporte coletivo no Haiti) e nos muros, assim como é comum encontrar pessoas usando camisas da Sele-ção Brasileira de Futebol. “Para eles, somos bombagais, termo do idioma créole (derivado do francês) que significa “amigo”, diz. Numa missão internacio-nal, estar habilitada em uma ou mais línguas estrangeiras faz parte das exigências. Atual-mente, são três mulheres no 10° CTG e 1.200 homens. Carla fala inglês, francês, espanhol e ita-liano. Ela é apenas um exemplo das muitas mulheres que busca-ram a vocação militar. Na Bahia, funciona o curso de adaptação ao Exército para as oficiais jor-nalistas concursadas.

Presença feminina na Força AéreaA primeira turma de mulheres foi admitida na FAB em 1982. Em 2003, já eram 2.105, passando para 6.255 em 2009. São oficiais e sargentos. Em Guaratingue-tá (SP), a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer) abre concurso anual para graduados técnico-especializados. O curso de oficial é feito na Academia da Força Aérea (AFA) em Pirassu-nunga (SP). Em 1999, 17 cadetes mulheres concluíram o curso de oficial de intendência, de quatro anos de duração. Hoje, elas já es-tão no posto de capitão.

Em São José dos Campos (SP), o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) também for-ma oficiais mulheres no curso de engenharia aeronáutica. Mas, enquanto as formadas na AFA têm a carreira militar assegura-da, isso nem sempre acontece com as do ITA. É que o número de vagas para engenheiro mili-tar é menor do que o número de diplomados anualmente. As-sim sendo, a maioria opta pelo mercado civil.

A capitão intendente Larissa Leocadio serviu por cinco anos no Parque de Material Aero-náutico do Galeão, unidade que realiza a manutenção das aeronaves da FAB no Rio de Janeiro. Depois, por dois anos, foi auditora da Subsecretaria de Auditoria da Aeronáutica. Desde 2007, trabalha na Divi-são de Contratos e Convênios da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica (Sefa) em Brasília. Ela abraçou a car-reira militar porque seu pai po-voava sua infância com relatos sobre o serviço militar obrigató-rio, que prestou no 1º Batalhão de Guardas do Exército, no Rio. Aos 17 anos, quando Larissa es-tudava para o vestibular, a AFA abriu seus portões para as mu-lheres. Ela se apresentou e pas-sou no concurso, assim como foi aprovada nos vestibulares para Medicina da UERJ e Enge-nharia Mecânica na UFRJ. “Vejo as mulheres motivadas a seguir a carreira quando surgem as oportunidades. Nos cursos de formação de oficiais médicos, dentistas e farmacêuticos da Aeronáutica e de oficiais tem-porários, cujos concursos não separam vagas específicas pelo

A capitão médica Carla Maria Clausi,

em missão no haiti

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27DEFESA LATINAjulho-setembro 2009

sexo, já tivemos turmas forma-das predominantemente por mulheres, com cerca de 90%. O mesmo pode ser observado nos cursos de formação de sargen-tos”, comenta.

A AFA é pioneira na admissão de cadetes mulheres. A Acade-mia Militar das Agulhas Negras (Aman), do Exército, e a Escola Naval (EN), da Marinha, ainda não abriram concurso para o público feminino. Mas é questão de tem-po. Desde 2004, a AFA ministra também o curso de oficial aviador para mulheres. A primeira turma formou-se em 2006. O intendente e o aviador podem chegar a oficial-general, assim como o médico, o engenheiro e o infante. Larissa diz que viveu experiências grandiosas, entre elas, saltar de paraquedas, aprender a atirar, aplicar técnicas de sobrevivência na selva e no mar e conviver em grupo com pessoas de culturas diferentes. Diz ela que amadureceu rapidamente com a disciplina e a ordem impostas pela rotina militar. “A AFA me deu au-tonomia e uma visão muito lógica da vida”, avalia.

Larissa pertence à primeira turma mista de oficiais da AFA. “Minha turma carregou a ex-pectativa de que o curso na Aca-demia daria certo. Isso gerou um senso de responsabilidade e comprometimento generaliza-do, tanto nas mulheres quanto nos homens da turma”, recorda a oficial intendente ao mesmo tempo que reconhece sua con-tribuição como parte ativa nessa história de pioneirismo.

A FAB também oferece às mulheres oportunidades de ingresso nas áreas de saúde, técnica e administrativa. Elas podem ingressar como sargen-

A MULhER NAS FORçAS ARMADAS DA AMÉRICA LATINA

Mirian Paglia Costa

EM SEU ESTUDO “As mulheres chegam aos quar-téis” (*), datado de 2005 e publicado pela Red de Seguridad y Defensa de la América Latina, a cientista política brasileira Suzeley Kalil Mathias analisou a situação da mulher-soldado nas Forças Armadas latino-americanas – em particular naque-las do “Mercosul ampliado”, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

O pano de fundo da entrada das mulheres nas Forças Armadas na região do Mercosul é a transi-ção dos “regimes autoritários burocráticos” dos anos 1960-1970 – as ditaduras militares – para governos democráticos a partir dos anos 1980, como se vê no primeiro quadro.

Conforme a professora, o recrutamente militar feminino nos países da América Latina seguiu as linhas gerais do processo ocorrido no Brasil e nos países da Organização do Atlântico Norte (Otan): incorporação em quadros complementares das For-ças, nos quais as mulheres desempenham funções de menor prestígio, porque não ligadas diretamen-te ao combate – entre essas atividades, cargos admi-nistrativos, de ensino e saúde. A grande exceção en-tre os países estudados é o Uruguai, onde mulheres e homens têm o mesmo status como militares, com funções, responsabilidades e direitos iguais.

tos (nível médio) e como oficiais (nível superior). Para aquelas que já concluíram o nível supe-rior, o ingresso se dá no Quadro Complementar de Oficiais, que apresenta amplo leque de es-pecialidades, como jornalismo e relações públicas.

Mais igualdadeParte do Plano Estratégico Na-cional de Defesa adianta que dentro dos próximos anos as atribuições das moças devem aumentar. O texto determina três ordens de meios e de habi-litações para elas: atuação em rede (trabalho em combinado com as três Forças); conheci-mento e habilidade para usar meios de mobilidade terrestres e aquáticos e capacitação para o combate. A ideia é que elas recebam treinamento focado em flexibilidade, adaptabilida-de, audácia e surpresa no cam-po de batalha.

Condições de incorporação feminina às Forças Armadas no Mercosul ampliado País Acesso a armas Acesso ao oficialato Qual Força iniciou Quanto tempo até de combate? superior em quais Forças? a incorporação? a incorporação integral?

Argentina não todas Força Aérea 2 anos Brasil não Força Aérea Marinha 12 anos Chile sim Força Aérea Exército 7 anos Uruguai sim todas Exército 3 anos Paraguai não Exército Exército não houve Bolívia não Exército Exército não houve

Fonte: Comando das forças singulares dos países

Ano de ingresso feminino na carreira militar País (*) Corpo Profissional Corpo de Comando

Terrestre Naval Aérea Terrestre Naval Aérea

Argentina 1982 1981 1982 1997 2001 2001 Brasil 1992 1980 1982 1998 1998 2001 Chile 1974 2003 1974 1995 2007 2000 Uruguai 1996 1998 1994 1998 2000 1997 Paraguai 1970 s/d s/d 2003 2003 2003 Bolívia 1982 2004 1979 2007

Fonte: Organismos e documentos oficiais dos países, Resdal (Red de seguridad y defensa de la América Latina)(*) A tabela original contempla outros países da região. Selecionamos apenas os dados do Mercosul ampliado.

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28 DEFESA LATINA julho-setembro 2009

A LATIN AMERICA Aero and Defence (LAAD), maior expo-sição de materiais de defesa do Cone Sul, é uma vitrine fascinante. São tantos os equi-pamentos em exibição que o visitante se surpreende ao se encontrar, de repente, diante de um míssil que conhece de ouvir falar, um foguetinho de

nada, mas com enorme poder bélico. Mais estupefato fica ao saber que a tecnologia que compõe o armamento, o laser, por exemplo, é também usada para salvar vida. No campo da defesa, a dualidade do conhe-cimento revelou a informática, o GPS (Global pos itio ning sys-tem) e outros produtos que fa-cilitaram a vida da sociedade.A sétima edição da feira, a LAAD 2009, ocorrida em meados de abril, atraiu para o Rio de Janei-ro profissionais, especialistas e admi ra dores do setor. Ocupou um dos pavilhões do Riocentro, na barra da Tijuca, onde reuniu quase uma centena de empre-sas do Brasil e representantes

Bienal da Defesa gera negócios

LAAD 2009

Lucca Alves

A próxima edição da LAAD está programada para acontecer entre os dias 12 e 15 de abril de 2011

de grupos empresariais de 40 países. O público visitante foi estimado em 18 mil pessoas. Os comentários pós-evento mos-tram que as empresas voltaram às suas sedes satisfeitas com os resultados que colheram no Riocentro. As feiras são um bal-cão de promoção de produtos. Com o tempo, as conversações ali iniciadas geram negócios.O presidente Lula visitou a feira, na companhia do governador e do prefeito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, e de autoridades civis e militares. O presidente esteve nos estan-des, sempre mostrando simpatia e inte resse em conhecer as tec-nologias em exposição. O Minis-tério da Defesa foi o anfitrião do evento, juntamente com as Forças Armadas. A feira é orga-nizada pela Clarion Eventos, em-presa britânica com sucursal na capital paulista

No comentário geral, a LAAD agradou. Para o almi rante Mar-celio de Castro Pereira, presi-dente da Em pre sa Geren cial de Projetos Navais (Emge pron), ligada à Marinha, a feira se des-tacou pelo aspecto internacio-nal. “Foi uma excelente oportu-nidade para manter contatos antigos, discutir ideias e pro-jetos e apresentar novas pro-postas. Em termos de contatos

e de possibilidades de negócios, foi importante”. Sérgio Jardim, da Clarion Eventos, diz que a presença dos delegados estran-geiros é de fato significativa, pois são tomadores de decisão em seus países.Com as novas perspectivas do apa-relhamento do setor militar bra-sileiro, as Forças Armadas foram cortejadas na LAAD. No centro da exposição, um grande estande com salas de reuniões concentrou representantes e negociadores da Marinha, do Exército e da Ae-ronáutica, com destaque para a apresentação da Estratégia Nacio-nal de Defesa pelo Ministério da Defesa. A movimentação de em-presários no estande central foi visível. Os próprios comandantes das Forças reuniram-se com expo-sitores e visitantes.Quanto às perspectivas de ne-gócios, o ministro Nelson Jobim disse que o Brasil não quer ser

apenas comprador, mas parceiro dos países que produzem mate-riais de defesa, pois a intenção é que o aparelhamento militar corra em paralelo ao desenvol-vimento da indústria de defesa brasileira. Daí a necessidade das parcerias. “É preciso que o país tenha uma agenda nacional. Temos grandes centros de tec-nologia, mas é preciso triplicar sua produção”, afirmou.

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governador Sérgio Cabral na LAAD 2009

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Quem fala é o comandante da tropa chamada a controlar a situa ção: um grupo de traba-lhadores rurais sem-terra que bloqueia importante rodovia es-tadual. É o que pontua Márcio S. H. Couto no artigo “Munições não letais” publicado no número 79 da revista Magnum. O coman-dante vê que os atacantes usam mulheres e crianças como escu-do. Razão a mais para reagir com cuidado. Trata-se de uma típica OCD, isto é, operação de contro-le de distúrbios. E é com balas de borracha atiradas nas pernas dos manifestantes, granadas de gás lacrimogênio e cargas de casse-tete que a turba é controlada e a rodovia, reaberta. Nitidamente aliviado, conclui o comandante: “Saldo da operação: meia dúzia

de manifestantes feridos leve-mente, cinco agitadores presos e nenhum policial ferido. Não há nenhum morto. Penso então como o treinamento e o equipa-mento fazem a diferença”.

No município paulista de Santa Isabel, em meio a imen-sa mata nativa, a índios Indús-tria e Comércio trabalha para prover os equipamentos que fazem essa diferença e são re-comendados tanto pela ONU em suas missões de paz quanto pelas forças militares e policiais de seus Estados-membros – o Brasil inclusive – em operações preventivas, de repressão e dis-persão de tumultos.

Originada na conhecida fá-brica de fogos de artifício Cara-muru, foi a chamado da Marinha do Brasil, nos anos 1970, que a índios ampliou sua tradicional linha de produtos pirotécnicos e explosivos e começou a produzir sinalizadores de salvatagem para equipar navios e aeronaves. A linha de armas menos letais foi aberta em 2007, respondendo a

outra convocação militar. Desde então, a empresa desenvolveu variada linha de artefatos piro-técnicos, de acordo com os proce-dimentos previstos pela Diretoria de Fiscalização de Produtos Con-trolados (DFPC) e pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx).

São munições antidistúrbio, granadas explosivas de efeito moral, lacrimogênias, de som e luz para emprego nas Forças Armadas, por forças de segu-rança e polícias civis e militares. Outros equipamentos congêne-res levaram à expansão da atu-ação da empresa nesse merca-do. Que, aliás, está em fase de abertura também para empre-sas de segurança privada.

A linha de artefatos pirotéc-nicos menos letais inclui os de uso militar e controle intensivo a curta distância de manifestações, os para dispersão de rebeliões ou desalojamento de pessoas em recinto fechado e cobertura de apoio para outras ações. Além de causar mal-estar e irritação nos olhos, a densa nuvem de fumaça lacrimogênia provoca efeito quí-mico nocivo à saúde se aspirada por longo tempo.

A esse propósito, é bom lembrar o ponto destacado por Francis Gomes Roos no artigo “O emprego de armas não letais em operações de garantia da lei e da ordem”, publicado no site da Cemi Brasil: “Não existe um pó mágico, ou dardo, químico, que ponha a pessoa instantanea-mente para dormir e que depois permita recuperá-la completa-mente. Ainda que existam drogas de ação rápida, todas as reações farmacêuticas com humanos ba-

Armas que previnemOs armamentos menos letais ganham importância para operações militares e policiais

indústria

“A massa de manifestantes, enlouquecida, avança em nossa direção brandindo suas ar-mas. Rapidamente, ordeno que meus homens façam uma formação em linha, protegidos atrás dos escudos à prova de balas. Foi nossa sorte, pois logo começo a ouvir projéteis de arma de fogo batendo nos escudos.”

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31DEFESA LATINAjulho-setembro 2009

Nesse último ponto, aliás, um dos detalhes que chamam a atenção nas instalações da índios é o seu entorno. Ali, a natureza permanece intocada e imponen-te. “Essa preocupação começa no momento do manuseio da maté-ria-prima, pois levamos muito a sério esse objetivo”, explica o empresário Pedro Miranda, pre-sidente da índios. “Não se pode produzir em detrimento do nos-so maior patrimônio.”

Entre os produtos de destaque da fabricante estão a granada de efeito moral, a manual fumígena colorida, a explosiva de adestra-mento e a iluminativa atordoante. O sinalizador pirotécnico de uso civil e militar é um dos equipa-mentos exportados para Argenti-

seiam-se em muitos fatores com-plexos, inclusive peso corporal e condições físicas. A dose necessá-ria para um homem normal pode matar uma criança. Uma dose menor pode falhar”.

Daí a insistência da fabricante para a necessidade de instrução prévia de todos os que irão utilizar tais armamentos – por mais sim-ples que seja seu manuseio. Afinal, de acordo com a Organização dos Tratado do Atlântico Norte (Otan), armas menos letais são sistemas especificamente projetados e em-pregados para incapacitar tempo-rariamente pessoas e materiais, ao mesmo tempo que minimizam mortes, ferimentos permanentes e danos indesejáveis à propriedade e ao meio ambiente.

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na e Egito, enquanto o sinalizador pirotécnico com munição menos letal vem sendo divulgado nos paí-ses da América Latina.

A índios está em permanen-te processo de aperfeiçoamento tecnológico de suas munições me nos letais. Essa preocupação é um dos pontos da visão de futuro de Pedro Miranda: “Eu acredito que a munição menos letal terá emprego não só para controle de distúrbios, mas também em con-flitos bélicos”.

Tecnologia do conhecimentoO setor de defesa gera tecnologias de ponta de dupla aplicação – civil e militar –, como prova o think tank brasileiro Atech Tecnologias Críticas

Em meados da década de 1940, o então recém-criado Mi-nistério da Aeronáutica, hoje Comando da Aeronáutica, con-cebeu um arrojado plano de pesquisa e desenvolvimento aeroespacial, do qual nasce-ram o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Com o desenvolvimento da en-genharia aeronáutica, a Força Aérea passou a operar aerona-ves fabricadas por brasileiros. Hoje, o Brasil é o maior sítio de tecnologia aeroespacial da América Latina e está entre os

três maiores fabricantes de avi-ões do mundo. Porém, produ-zir aeronaves não foi a única li-ção dada pelos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento da Aeronáutica à indústria nacio-nal, pois fomentaram também a capacitação em sistemas de

comando e controle e ensina-ram como usar o conhecimento de ponta para melhorar os pro-cessos de projetos, programas e produtos.

A Atech Tecnologias Críticas, fundação de direito privado e sem fins lucrativos com sede na

Controle de tráfego aéreo Sistema Atech

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capital paulista, é uma das or-ganizações depositárias do sa-ber estratégico gerado nesses pioneiros centros de excelência. Nasceu em 1997, como integra-dora do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), com a fina-lidade de garantir a autonomia tecnológica do Brasil na inteli-gência do sistema. Em poucos anos, adquiriu maior capacitação em integração de hardwares e softwares de várias origens. En-tão, abrindo seu leque de ativi-dades, destacou-se no mercado com amplo portfólio de tecnolo-gias críticas de aplicações civis e militares. No gerenciamento de tráfego aéreo (Air traffic mana-gement, ATM), por exemplo, um campo de domínio do conheci-mento restrito a poucos países, seus sistemas operam em 13 dos 29 centros de aproximação de voo (APP) e nos quatro centros de controle de área do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo do Brasil, monitorando aproxima-damente 6 mil pousos e deco-lagens diários nos aeroportos brasileiros. Até 2010, a Atech terá concluído a modernização de mais nove APP, totalizando 22 centros principais.

Evoluindo num rápido cres-cendo, a organização agregou valor às Forças Armadas e ao mercado espacial brasileiro. Para

o setor logístico, desenvolve técnicas de análise e fusão de dados, geotecnologias, comu-nicação, soluções integradas de transporte e sistemas de geren-ciamento e monitoramento de frotas. No tráfego urbano, con-tribuiu na integração e valida-ção final do sistema de transpor-te da região metropolitana de São Paulo – o chamado Bilhete Único – e no monitoramento de frotas de ônibus da região me-tropolitana da cidade. Ainda na capital paulista, atua na in-tegração do sistema de gestão de saúde pública. Na segurança pública, desenvolveu um tipo de sistema inteligente que permite o acompanhamento em tem-po real de diversos indicadores, como ocorrências policiais por tipo, dias da semana e região – com o cruzamento desses dados, é possível fazer a diagnose cri-minal e planejar ações policiais preventivas. No setor ambiental, oferece bancos de dados amplos e interativos para uso racional e sustentável de recursos naturais em iniciativas de desenvolvimen-to. No campo da energia, realiza parcerias variadas, que incluem desde projetos dedicados à pros-pecção de petróleo até sistemas para melhorar o atendimento aos usuários por meio de detec-ção de falhas e rápida reativação da energia nos casos de corte.

Absorção de conhecimento críticoO produto da Atech é o conhe-cimento estratégico, que a levou a especificar o satélite geoesta-cionário brasileiro e a desenvol-ver a plataforma multimissão de lançamento de foguetes da Al-cântara Cyclone Space (ACS), um empreendimento binacional for-mado por Brasil e Ucrânia, sob a coordenação da Agência Espacial Brasileira. Fora do Brasil, foi sele-cionada pela União Européia para participar do Projeto Galileo, uma alternativa complementar ao sis-tema GPS, de propriedade dos EUA. Também está presente na Venezuela e em Aruba, através de seus sistemas de controle de tráfego aéreo – os quais lhe ren-deram o Prêmio Flyer do governo da Catalunha, Espanha, em 2007, como melhor empresa na área de infra-estrutura aeroportuária.

O grande desenvolvimento da Atech deve-se aos seus 360 colaboradores – a maioria de mestres e doutores, engenhei-ros, matemáticos, administrado-res, físicos, biólogos, geógrafos, analistas de sistemas, adminis-tradores e arquitetos, profis-sionais de total intimidade com P&D, gestão do conhecimento, capacitação em tecnologias e in-cubação de soluções. Assimilan-do os horizontes projetados pela Estratégia Nacional de Defesa, a

Os sistemas e serviços inteligentes da Atech na área de defesa estão

presentes em terra, mar e ar

CCSM

indústria

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33DEFESA LATINAjulho-setembro 2009

Atech tem planos de ampliar sua participação no mercado inter-nacional, mais especificamente na América Latina e no Caribe. “Trabalhamos com domínio tec-nológico em áreas consideradas críticas”, diz o diretor de Defesa da Atech, engenheiro Giacomo Feres Staniscia. “Somos uma or-ganização que atua junto com o cliente, identificando suas ne-cessidades, desenvolvendo sis-temas e customizando soluções

com transferência de tecnologia e realizando parcerias locais”.

No momento, uma equipe de 14 engenheiros e analistas da Atech trabalha integrada ao corpo técnico da empresa espa-nhola EADS-Casa no projeto de modernização de aeronaves P-3 Orion. Trata-se de nove aviões adquiridos da Marinha dos EUA, que deverão ser dotados de equi-pamentos e sensores para detec-tar navios, submarinos e aviões e

processar dados táticos. Missão: desenvolver conjuntamente o sistema e se capacitar para pro-ver o suporte técnico e cuidar da evolução do sistema no Brasil. O projeto, iniciado em 2006, teve sua primeira prova em abril , com o voo inaugural de teste da P3-BR. De acordo com as previsões, a primeira aeronave modernizada deverá ser entregue em dezem-bro deste ano. Mais tecnologia crítica no portfólio.

A INBRAFILTRO iniciou suas atividades no ramo de tecidos industriais e produtos filtran-tes. Hoje, é um grupo formado por cinco empresas com instala-ções industriais no município de Mauá, na Grande São Paulo. A diversificação de suas atividades decorreu da visão de futuro de seus fundadores, Jairo e Lourival Cândido. Fabricando coletes de proteção individual, eles decidi-ram guardar as sobras de fibra de aramida, a matéria-prima de alto valor agregado usada na produção. Quem sabe pudessem ser usadas para novos produtos?

Soluções inovadoras e tecnologia de ponta são as características do Grupo Inbra, que está completando 30 anos no mercado

Inovação em destaque

A oportunidade surgiu quan-do o governo de São Paulo ini-ciou a implantação do Metrô e incrementou o transporte de massa por trens urbanos, lan-çando concorrências públicas para selecionar os fornecedores de componentes metroviários e ferroviários. A InbraFiltro pos-suía mais de 200 toneladas de aramida em estoque e know how obtido em vários anos de pesquisa para transformar as aparas em polpa. Resultado: foi selecionada e usou as antigas sobras na industrialização de sistemas de frenagem para os

trens da Companhia do Metro-politano de São Paulo.

Com capital humano de alto nível e soluções inovadoras, a Inbra cresceu no mercado. Para cada opor-

Na moda: colete com design feminino é o lançamento de 2009

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34 DEFESA LATINA julho-setembro 2009

O veículo blindado leve (VBL) exposto na LAAD, que terá suas primeiras unidades

circulando a partir de setembro

Gru

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tunidade de negócio, implantou novas unidades industriais. Assim nasceram a InbraGlass, a InbraBlin-dados e a InbraAerospace, que se somaram à InbraTêxtil e à InbraFil-tro. Parcerias também foram firma-das. A InbraBlindados, por exemplo, aliou-se à Agrale, fabricante 100% nacional de tratores, caminhões e chassis de ônibus, e desenvolveu para o mercado de defesa o veícu-lo blindado leve (VBL), versão 4x4, para emprego em operações de alta complexidade e mobilidade.

Apetite por tecnologiaProjetado com base em requisitos operacionais das Forças Armadas, o VBL pesa 6,5 toneladas e pode transportar 8 soldados, incluindo o motorista, em missões de cava-laria, reconhecimento, transpor-te de tropas, missões de paz e operações urbanas. Tem compar-timento para peças de artilharia e pode ser armado com torreta 360 graus para metralhadora .30 e lançadores de granadas de vá-rios tipos e aplicações. Equipado com escudo defletor de proteção contra minas terrestres, seus fa-róis utilizam lentes de policarbo-nato e os paralamas são fabrica-dos com fibra de vidro, materiais que permitem ao veículo romper explosões sem sofrer tombamen-to. A parte externa é limpa, sem parafusos ou dobradiças, e o de-senho do carro agrega a configu-ração furtiva contra emissões de radar. O motor é um MWM de 185 HP, com câmbio automático de seis velocidades e máxima de 140 km/h, com autonomia para 1.000 quilômetros.

O VBL é resultado de investi-mentos de mais de US$ 3 milhões e quase cinco anos de desenvol-vimento. A previsão é que em setembro as primeiras unidades cabeças-de-série sejam produzidas em escala, com cerca de 250 unida-des em 2010. O veículo esteve em exposição na LAAD 2009 e atraiu a atenção do público profissional. O governador do Rio de Janeiro, Sér-gio Cabral, conheceu o carro jun-tamente com o presidente Lula, o ministro Nelson Jobim e outras autoridades, declarando ao final que se tratava de excelente equi-pamento para as operações táticas urbanas da Polícia Militar carioca. Em cima da visão do quarto risco (terrorismo urbano), a InbraBlin-dados vai desenvolver e produzir o veículo policial.

Na linha de produtos desta-cam-se ainda os coletes à prova de tiro. Uma novidade é o mo-delo projetado para policiais femininas, que possibilita maior conforto e desenvoltura para as agentes em operação. Capacetes

para uso militar, policial e anti-tumulto, com proteção balísti-ca, nos níveis I, II e IIIA, além de escudos individuais para tropas de choque, também integram o portfólio de produtos do grupo.

Com centros de pesquisa e desenvolvimento próprios – únicos no mundo na área de vidros – e laboratórios de testes para cada área em que atua, o grupo mantém um seleto corpo de técnicos e engenheiros e cer-ca de 600 empregados.

“Tudo aqui é feito à base de muito investimento e avançados conhecimentos de ponta”, enfa-tiza o advogado Jairo Cândido, presidente do grupo. “Trabalha-mos com universidades e centros de excelência tecnológica, princi-palmente das três Forças Arma-das. As janelas de oportunidades sempre se abrem. Portanto, a indústria precisa ter apetite por tecnologias, recursos para investi-mentos, soluções de engenharia e estrutura de base industrial. E isso nós temos aqui”.

indústria

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mostrou vocação para as ativi-dades aeroespaciais. Nem have-ria de ser diferente no país que revelou figuras de singular ta-lento na aeronáutica mundial, como Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) e Alberto Santos-Dumont (1873-1932), entre outros. Nessa área, sempre que governo e indústria trabalha-ram juntos, seja em desenvol-vimento tecnológico, seja para produzir em conjunto equipa-mentos de defesa, seus resul-tados mostraram-se de grande valia no fortalecimento da per-sonalidade brasileira. A históri-ca parceria entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Embraer é um exemplo clássico.

Pois um novo empreendi-mento tecnológico está pró-ximo de oferecer um salto de qualidade para a engenharia aeronáutica brasileira, com contribuições relevantes para o país. É o Programa Embraer KC-390, com responsabilidades compartilhadas entre o gover-no e a indústria, que visa desen-volver para a FAB uma nova ae-ronave de transporte militar. O projeto surgiu há pouco mais de dois anos. Na ocasião, um estu-do de mercado revelou que, em

médio prazo, haverá demanda mundial por cerca de 700 aviões de transporte tático na faixa de até 20 toneladas de carga útil. O mercado endereçável abran-geria 77 países. Na América do Sul, a demanda projetada se si-tua em torno de 100 unidades.

O Brasil está incluído entre os países que em médio prazo irão renovar suas frotas nesse segmento. Com base nas proje-ções e nos requerimentos opera-cionais da FAB, a Embraer con-cebeu o projeto para atender à futura necessidade brasileira e competir no mercado mundial. Em abril passado, o programa foi disparado com a assinatura do contrato que ampara o ciclo de vida do programa. O empre-endimento será impulsionado por investimentos públicos da ordem de R$ 3,2 bilhões e sua execução se estenderá por sete anos, com o novo avião entrando no mercado no mo-mento exato em que a frota mundial começará a exigir re-novação. Segundo previsão da Embraer, as possibilidades de vendas externas do KC-390 são de fato muito boas, pois tudo nele foi concebido para facili-tar a vida de seu operador.

Desenhos do projeto: em 2005, a proposta original; em 2009, a aeronave

com modificações requisitadas pela FAB

Embraer KC-390O futuro do transporte aéreo militarA terceira maior indústria de aviação do mundo investe no mercado de aviões de transporte tático

aviação militar

O BRASIL SEMPRE

Arte

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37DEFESA LATINAjulho-setembro 2009 37DEFESA LATINA

ALTO, FORTE E ESPADAÚDOCom desenho aerodinâmico ro-busto, o KC-390 foi projetado para missões de transporte de tropas, carga paletizada, contêi-neres e veículos militares, ope-rações de lançamento de para-quedistas e cargas, evacuação médica e reabastecimento em voo e no solo. A cabine é ampla e ele tem rampa de acesso para cargas. Sua arquitetura aviônica é moderna e inclui sistemas de navegação diurna e noturna, se-jam quais forem as condições de tempo. Terá capacidade de trans-portar 19 toneladas de carga útil e realizar pousos e decolagens a partir de pistas semipreparadas.

O novo avião brasileiro in-corpora vantagens técnicas e

operacionais superiores às do concorrente mais próximo – o Lockheed-Martin C-130J (19,1 toneladas de carga). Sua capa-cidade interna permite trans-portar 80 soldados sentados ou 64 paraquedistas equipados. Em missões Medevac (isto é, de evacuação médica), poderá transportar 82 pacientes devi-damente acomodados em ma-cas e quatro especialistas em saúde. Para transporte de car-gas, o espaço interno poderá receber um blindado como o Patria AMV 8x8, um LAV 25, ou um EE-11 Urutu, ou três veícu-los do tipo HMMVW, ou ainda um helicóptero do tipo S-70A. O KC-390 terá preço unitário inferior ao de um C-130J – hoje

em torno de US$ 100 milhões. Outra vantagem é que será a única aeronave “zero quilôme-tro” a coincidir com o timing previsto para a demanda mun-dial nessa classe.

Nos próximos dois anos, o programa de desenvolvimento do KC-390 estará com suas por-tas abertas para receber parcei-ros de outras nacionalidades, sob prévia avaliação do gover-no federal, proprietário intelec-tual do projeto, representado pelo Comando da Aeronáutica. Enfim, o futuro avião de trans-porte tático militar da Embraer tem tudo para se destacar no mercado e repetir o sucesso co-mercial da linha de equipamen-tos de defesa da empresa.

FIChA TÉCNICA

Alcance com carga paga máxima: 2.700 km Velocidade máxima de cruzeiro: 850 km/h Peso máximo de decolagem: 72 toneladas (operação logística) Teto operacional máximo: 36.000 pés (cerca de 11.000 metros de altitude) Fator de carga máximo: 3,0 g (operação tática) Velocidade máxima: 870 km/h (Mach 0.80) Alcance máximo: 6.208 km Comprimento: 33,50 m Pressurização: 7,6 psi Envergadura: 33,95 m Propulsão: 2 motores da classe - 27.000 libras/empuxo Altura: 11,35 m

julho-setembro 2009

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38 DEFESA LATINA julho-setembro 2009

O MERCADO de defesa envolve relativamente poucas indús-trias, mas é constituído de empresas de grande porte, que disputam um número de clientes em todo o mundo. Os ne-gócios envolvem cifras que chegam aos bilhões de dólares e exigem pessoal altamente qualificado em conhecimento técnico, tanto na condução dos relacionamentos negociais e contratuais como no que se refere a projeto, engenharia e

produção. É comum as nego-ciações envolvendo equipa-mentos de defesa demorarem anos até a concretização da venda. Algumas vezes, anos de árduas conversações re-dundam em negócio frus tra-do por várias razões.

As negociações no mer-cado de defesa são, de fato,

complexas. Porém, a despeito da alta capacitação técnica e profissional no setor, o treinamento do pessoal envol-vido, na maioria das empresas, não inclui questões im-portantes como a conduta ética. Existem muitos casos de comportamento antiético registrados, sobretudo na disputa de contratos bilionários. A necessidade de gerar faturamento que viabilize a lucratividade e, portanto, a sobrevivência da indústria ou a manutenção do empre-go, costuma gerar ansiedade nos profissionais de vendas, que podem se ver tentados a usar argumentos inadequa-dos para convencer o comprador quanto à superioridade de seus produtos. Às vezes, são casos praticados por uma empresa contra outra da mesma bandeira nacional.

Na década de 1980, uma fase de fertilidade jamais vista em produção e venda de produtos de defesa, as empresas lançaram mão de estratégias antiéticas para tentar desqua-lificar o produto concorrente. O Brasil não esteve à margem desse comportamento – algumas empresas que disputavam o mercado tiveram primeiro de desatar os nós trançados pela concorrência, sobretudo no mercado árabe, para só depois promoverem seus próprios produtos.

É claro que a compra de produtos de alto valor agregado envolve análise detalhada dos compradores. As características intrínsecas e o preço dos produtos são diferenciais importan-tes, mas, sem dúvida, a credibilidade quanto à qualidade e à

Conduta ética nos negóciosMárcia Cristina Souza

A prática de denegrir os produtos da concorrência ainda é adotada por profissionais que pensam que agindo assim vão aumentar suas chances no mercado

sociedade

durabilidade desses produtos, assim como a confiança nos ser-viços de pós-venda e assistência técnica pesam muito na hora de escolher o fornecedor. Será que agindo de forma antiética eles conquistam confiança e semeiam credibilidade?

Profissionais inescrupulosos preferem falar mal da con-corrência em vez de promover o seu produto. Não perce-bem que, com negociadores com prometidos com a ética, argumentos desse tipo costumam provocar percepção oposta àquela que eles tentaram passar. Além disso, con-tribuem para provocar descrédito no próprio setor da in-dústria que representam. Se cada vendedor defende seus produtos colocando em dúvida a qualidade do outro, qual deles merece crédito? Então, é correto supor que todos po-dem estar mentindo, certo? Dessa forma, tem maior chance de fechar a venda o concorrente que se preocupou unica-mente em demonstrar as qualidades de seu produto de for-ma honesta e objetiva, no interesse do comprador.

Outro fator importante a considerar é que, na maior parte das vezes, se está tratando com compradores que representam governos. Será então necessário se preo-cupar com a destinação a ser dada aos equipamentos? É ético vender sistemas de defesa a países que desrespei-tam os direitos humanos ou usam armas contra mino-rias étnicas, religiosas ou políticas?

Como tudo o que se refere à conduta ética, trata-se de uma questão pessoal e flexível, cuja resposta é sujeita a diferentes interpretações. É um dilema ético que vai exigir a decisão pessoal de cada profissional e de cada empresa envolvida. O dilema ético nos põe frente a ques-tões relacionadas à consciência e à personalidade, exige análise de ganhos, benefícios, prejuízos e consequências na visão utilitarista ou de princípios éticos adotados pe-las empresas de forma corporativa.

Nunca é uma decisão fácil. Abrir mão de uma venda que envolve milhões de dólares, reduzir lucros em busca de ganho de credibilidade e de tranquilidade na consci-ência corporativa é muito complicado. Qual seria a pos-tura mais correta? O lucro é mais importante?

A Estratégia Nacional de Defesa, lançada pelo gover-no brasileiro, tem entre suas metas a reorganização do setor industrial. A ética, portanto, deve ser uma premissa fundamental nesse processo de reorganização.

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A MARINhA do Brasil foi uma das primeiras instituições navais do mundo a operar submarinos. Em 1914, recebeu seu primeiro submer-sível, de origem italiana. Décadas depois, passou a operar belonaves americanas e inglesas. Desde o final dos anos 1980, usa em suas opera-

ções modelos IKL-209, um deles fabricado na Alemanha e quatro fei-tos no Brasil, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). No final dos anos 1970, a Arma-da brasileira já mostrava interesse pelo submari-no nuclear ao iniciar em São Paulo um programa de desenvolvimento tec-nológico, cuja meta era o domínio completo do ciclo do combustível nu-clear, o que foi concre-

tizado em 1982. O passo seguinte, construir um reator nuclear, deverá se concluir em 2013. A terceira eta-pa contempla a construção de um submarino nuclear.

Trata-se de um empreen-dimento de alto conteúdo tec-

nológico. Por sua característica furtiva, o submarino tem a van-tagem operacional do fator sur-presa, um diferencial em qual-quer confronto. Se o radar não o detecta embaixo d’água, não se pode dizer o mesmo em relação ao sonar. Porém, como a propa-gação acústica no mar não se dá em linha reta e gera “zonas de sombra”, isso permite ao sub-marino confundir-se com o meio ambiente marinho. A luta contra um submarino exige um comple-xo sistema de meios navais de su-perfície e aeronavais. Não é sem motivo, portanto, que é chama-do de “senhor dos mares”.

São dois os tipos de subma-rinos: o convencional e o nu-clear. O convencional usa óleo diesel para mover seus motores e geradores elétricos. Periodica-mente, precisa subir à superfície para recarregar suas baterias e renovar o ar ambiente, processo que também pode ser feito com a belonave semioculta e usan-do o esnorquel em tais funções. Nessas ocasiões, contudo, fica vulnerável. Para limitar tal ex-

posição, ele deve economizar o máximo de energia, o que acar-reta baixa mobilidade e o deixa restrito mais a áreas litorâneas. Estas são as grandes limitações do tipo convencional.

Já o submarino nuclear incor-pora todas as vantagens operacio-nais não encontradas no modelo convencional. Utiliza reator nu-clear, que aciona seus geradores elétricos e propulsão, e produz a energia necessária à vida a bordo. Silencioso e de excelente mobi-lidade, é o equipamento mais adequado para atuar em águas profundas. Sua fonte de ener-gia é praticamente inesgotável, permitindo-lhe permanecer por meses navegando submerso.

O importante não é apenas saber construir o submarino, mas ter a capacidade de desenvolver projetos nessa área. A Marinha do Brasil domina a tecnologia de construção. Mas falta-lhe a ou-tra parte. A solução seria desen-volver sucessivos protótipos até chegar a um projeto adequado que possa abrigar a planta nu-clear. Ao debruçar-se sobre esse desafio, nos primeiros dez anos, até 2006, o programa se desen-volveu a passos lentos, quase parando, por falta de recursos orçamentários para viabilizar o processo no prazo e no ritmo que fora planejado. A partir de 2007, contudo, com a nova visão política do governo de fortalecer a defesa nacional, o programa voltou a ganhar força. Agora, a Marinha terá de encurtar etapas

Senhor dos mares

Acima, a Amazô-nia Azul, alcance

do patrimônio brasileiro no mar.

Ao lado, caracte-rísticas originais

do submarino clas-se Scorpène, que

o Chile já tem e o Brasil fabricará

O submarino sempre ocupará lugar de destaque nas marinhas modernas

DCNS

submarino

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para resgatar o tempo perdido. Para isso, o ideal será trabalhar em conjunto com um parceiro estratégico, isto é, um país com pleno domínio nessa área. Feita a sondagem no mercado mun-dial, a França respondeu melhor às exigências brasileiras e aceitou participar do empreendimento.

Assim sendo, o submarino nu-clear brasileiro vai estar, a tempo e a hora, presente em qualquer ponto da Zona Econômica Exclu-siva, uma vastidão oceânica que abrange cerca de 4,4 milhões de quilômetros quadrados. Mas os interesses do Brasil no mar não terminam nos limites da Amazô-nia Azul e se estendem a qualquer lugar onde um navio de bandeira brasileira navegue, cuja proteção é dever do Estado brasileiro.

AVANçO TECNOLÓGICOAo tempo em que a Marinha do Brasil planejava desenvolver um submarino nuclear, a França lançava ao mar sua primeira uni-dade de ataque (SSN), da Classe Rubis. Pouco mais de três déca-das se passaram desde então. Hoje, os franceses representam, juntamente com russos, chineses, americanos e ingleses, o seleto grupo de nações com autossufi-ciência tecnológica nessa área.

O acordo entre os países foi assinado em fins de 2008. Inicial-mente, serão enviados à França projetistas navais brasileiros que, juntamente com seus colegas franceses, trabalharão durante um ano fazendo os ajustes no projeto do submarino convencio-nal (S-BR), uma versão brasileira do modelo francês Scorpène, cujo desenvolvimento também está previsto no acordo. Um se-gundo grupo de técnicos brasi-

leiros realizará cursos de projeto na França. Outra equipe de enge-nheiros fará estágio em sistemas de combate de submarinos (sona-res, direção de tiro etc.) e torpe-dos, para absorção de tecnologia de projeto. Fechando essa etapa, um grupo de técnicos franceses ficará baseado no Brasil por cinco anos, participando do desenvol-vimento do projeto do primeiro submarino nuclear brasileiro – com exceção da parte do reator nuclear e seu compartimento.

A primeira das quatro seções do primeiro submarino será cons-truída em Cherbourg, na França, e terá participação de técnicos e engenheiros do Arsenal de Mari-nha do Rio de Janeiro. O grupo absorverá métodos, normas e processos de construção france-ses. De volta ao Brasil, formará o núcleo de transferência de tecnologia para a Sociedade de Propósito Específico (SPE), que administrará o novo estaleiro a ser construído, atuando depois na fiscalização das obras e na ga-rantia do controle de qualidade.

Um dos objetivos do mega-projeto é contemplar a indústria

Da Redação

Com base em “A importância da construção do submarino de propulsão nuclear brasileiro”, artigo do almirante Júlio Soares de Moura Neto, comandante da Marinha do Brasil

Almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto

naval brasileira para produzir cerca de 20% de todo o material a ser empregado nos submari-nos – cerca de 36 mil itens. Nes-se processo, a Marinha do Brasil adotou a postura de não indicar empresas, cabendo aos france-ses selecioná-las de acordo com critérios próprios, qualificá-las e homologá-las. Essa decisão foi tomada no intuito de evitar in-termináveis controvérsias futu-ras, normalmente presentes em casos de concorrências públicas, que acabam comprometendo o cronograma e até a continuidade do empreendimento. Exemplo disso é o programa de desenvol-vimento de satélites brasileiros, ocorrido nos anos de 1990.

O parque nacional é altamen-te capacitado em engenharia e instalações. A França já selecionou mais de trinta empresas brasileiras e deverá qualificar outras tantas. O AMRJ tem tradição secular na área e capacitação tecnológico-industrial. Dos programas mais recentes com os quais esteve en-volvido, destacam-se o das fraga-tas classe Niterói (modelo Vosper MK-10, britânico) e dos submari-nos classe Tupi e Tikuna (modelo IKL-209, alemão). Porém, no caso dos novos submarinos, inclusive os nucleares, um estaleiro será cons-truído, atendendo aos requisitos ambientais e de controle de quali-dade, prática mundialmente ado-tada. A operação do estaleiro fi-cará a cargo da SPE, formada pelo consórcio construtor, composto pela indústria francesa Direction des Constructions Navales Services (DCNS); pela Odebrecht, a parceira selecionada pela DCNS no Brasil; e o governo federal, representado pela Marinha, através de golden share, com poder de veto.

CCSM

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As reações humanas a situações de conflito e violência

to, na época em que vivemos, a violência e os conflitos passaram a acontecer a todo instante e em todo o lugar e as dificulda-des, quando excessivas, podem matar a criatividade. As guerras permeiam nosso cotidiano sob muitas de suas formas, quando não acontecem em nossa porta e em nosso caminho.

Sob o ponto de vista da psi-cologia individual, posso dizer que as reações humanas a situa-ções de conflito, combate e vio-lência podem ser analisadas sob quatro pontos de vista, que se permeiam e inter-relacionam: a natureza do indivíduo, a forma-ção recebida, a motivação para a vida e a experiência.

NATUREzA DO INDIVíDUO: Cada pessoa vem ao mundo com características próprias, fruto da combinação de fatores herdados que predispõem a uma forma fí-

NO FILME O terceiro homem (1949), Harry Lime, o persona-gem vivido por Orson Welles, diz: “Na Itália, durante os trinta anos em que os Borgia estive-ram no poder, houve guerras, terror, violência e assassinatos, mas ainda assim lá surgiram Mi-chelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. A Suíça, com toda sua fraternidade e seus 500 anos de democracia e paz, produziu o quê? O relógio cuco.”

Escassez de recursos, cren-ças desiguais e impasses com o poder alimentam conflitos que, uma vez instalados, são nutridos por preconceitos e atitudes ne-gativas. Entretanto, os conflitos podem servir como base para o desenvolvimento pessoal e de grupos, desacomodando e ati-vando a criatividade como for-ma de superação e sublimação.

Diz o ditado: ‘A dificuldade é a mãe das invenções’. No entan-

42 DEFESA LATINA

Angela Schnoor

ponto de vista

sica, intelectual e emocional. Esse potencial implícito influenciará sua seleção e leitura de fatos e pessoas. O tipo psicológico indivi-dual poderá nos esclarecer tanto sobre sua predisposição – intro-vertida ou extrovertida – em rela-ção ao mundo quanto sobre sua aptidão predominante para lidar com a existência, que pode ser sensorial, por pensamento, senti-mento ou intuição.

Sob esse ponto de vista, pode-se imaginar como serão diferen-tes as reações das pessoas a guer-ras, conflitos e violências. Alguém que gosta de desafios, sabe lidar com eles e se sente bem com sua agressividade enfrenta facilmen-te situações externas, ao passo que a pessoa interiorizada, que aprecia segurança, conforto, be-leza e arte e procura harmonizar as pessoas à sua volta perceberá o mundo externo como intimi-dador. De forma geral, podemos nomear esses dois tipos como pessoas masculinas e femininas. Esse termos nada têm a ver com gênero ou sexualidade, apenas se aplicam aos princípios opostos e complementares que os orien-tais tão bem conhecem – o yin e o yang, associados a sombra e luz, defesa e ataque, dentro e fora, noite e dia.

Assim, o indivíduo prepon-derantemente masculino (yang) teria potenciais ou “armas” psí-

“Massacre”, pintura em que o colombiano

Fernando Botero registra o cotidiano de guerra e violência que,

sob muitas formas, permeiam a realidade

do cidadão

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Combate e psiquismo

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43DEFESA LATINAjulho-setembro 2009 43DEFESA LATINA

Na juventude, o heroísmo e o idealismo são, quase sempre, mais marcantes, enquanto o tempo vivido traz a consciência da vacuidade de alguns valores e arrefece a impaciência carac-terística do jovem.

O homem tem necessidade de desafios. Em locais e situa-ções em que vencer a natureza é imperioso, os seres crescem desacomodados e combativos, mas colaboram entre si contra o desafio comum. Com as facili-dades do mundo moderno, não há expressões positivas para a combatividade e a necessidade de conquista. Nos extremos da facilidade absoluta e das gran-des dificuldades, o ser humano se destrói pelo tédio ou pelas guerras e disputas.

Em tempos de excessiva violência como hoje vivemos, a banalização da morte rouba-lhe o brilho e o valor e, mesmo a criatividade mencionada por Orson Welles deixa de existir. Ou está tomando novas formas, que ainda não temos perspecti-va para compreender.

quicas mais adequadas para o combate, aceitaria os enfrenta-mentos com eficiência e galhar-dia e teria melhores condições de adaptação a situações duras e dolorosas. Já o tipo feminino (yin) estaria mais capacitado para a diplomacia e as ativida-des defensivas. Caso essa pessoa, além do tipo feminino, tivesse a predominância dos sentimentos em seu psiquismo, correria sé-rios riscos de comprometimen-to emocional durante e após algum conflito. Aquele cuja preponderância da percepção é mental, embora em tese seja um tipo masculino, não estará interessado e nem muito habi-litado para ações e lutas, pois as relações que faz entre fatos e coisas acontecem através do conhecimento. Seria então mais indicado para atuar onde o pen-samento e as articulações se fa-çam necessárias. Alguém desse tipo poderá fazer um estudo es-tratégico sobre armas de guerra, mas dificilmente as usará.

FORMAçãO RECEBIDA: A natureza do indivíduo vai ser moldada e ajustada pelo meio em que nasce e vive. Assim, a família, a escola, o local onde cresce, as re-gras de convivência de sua cidade e país podem ajudá-lo a desenvol-ver seus potenciais ao respeitar e moldar seus limites. Também po-derão castrá-lo e impedir seu de-senvolvimento, criando distorções na percepção de si mesmo e do mundo, ou ainda deixá-lo solto, sem orientação e sem respeito pe-los outros. Tomemos como exem-plo uma criança que nasce com potencial combativo e criativo. Se, pelo fato de atrapalhar a paz do-méstica, for constantemente pu-

nida, impedida e criticada a cada iniciativa; se não for estimulada a desenvolver e canalizar positiva-mente sua agressividade, pode vir a tornar-se um ser medroso e apá-tico. Já adulto, frente a situações de conflito, os impulsos represa-dos poderão explodir em atitudes violentas e inadequadas, inclusive frente a figuras de autoridade.

MOTIVAçãO PARA A VIDA: Embora possam ser subprodutos do meio, os valores, o significado da existência, a filosofia de vida e até a religião que uma pessoa professa são fatores fundamen-tais para determinar a percepção e as reações individuais diante dos conflitos. Por um lado, podem acirrar as diferenças – como é o caso de culturas com filosofias e religiões radicais. Mas, por outro, a ética e a motivação do indiví-duo podem servir como elemen-tos moderadores de sua natureza, auxiliando-o quando esta estiver exacerbada.

A convicção pacifista de al-guém o impedirá de enfrentar um conflito. O amor à pátria motiva e sustenta os atos do nacionalista, enquanto um universalista não encontrará sentido em defender uma só pátria. O idealismo levará a pessoa a batalhar pela causa que apóia, enquanto um mercenário usará sua energia belicosa com fi-nalidade exclusivamente material.

ExPERIêNCIA: O potencial de um indivíduo molda-se de acordo com o tem-po e a experiência de vida. As-sim, quando uma situação de conflito ocorre, a idade da pes-soa e tudo o que ela já viveu terá suprema importância em suas reações e motivações.

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O PROJETO F-x2, a competição aberta pelo governo brasileiro para adquirir três dezenas de aviões de combate de primeira linha para a Força Aérea Brasi-leira (FAB), selecionou três fabri-cantes internacionais para a fase final do processo: a sueca SAAB, a francesa Dassault Aviation e a americana Boeing. Os aviões pré-selecionados são o Gripen NG; o Rafale e o F/A-18, respec-tivamente, todos com excelente perfil de dissuasão e combate, dotados com modernos sistemas para guerra eletrônica, auto-proteção, capacidades datalink e outras sofisticadas facilidades de manejo que possibilitam ao piloto visualizar o quadro tático completo do ambiente em que estiver operando. A despeito de suas excelentes qualidades tecnológicas e operacionais, é provavelmente no campo das contrapartidas comerciais que eles se digladiarão para vencer a concorrência brasileira. No en-tanto, a influên cia política po-derá decidir o vencedor.

Uma das exigências brasilei-ras é a transferência dos conhe-cimentos de ponta incorporados nas aeronaves. Sabe-se de an-temão, porém, que tecnologia de ponta não se vende, não se transfere e nem se dá; conquis-ta-se com programas próprios de desenvolvimento. No caso do F/A-18, por exemplo, a legis-

Francês, americ ano ou sueco?Qual dos três caças que disputam o F-X2 comporá os esquadrões de combate da Força Aérea Brasileira?

lação americana não permite a cessão de tecnologias considera-das estratégicas. A Boeing tenta compensar a restrição oferecen-do vantagens adicionais para vender seu caça ao Brasil. Já os dois outros fabricantes dizem ter liberdade para atender a to-dos os requisitos brasileiros.

Para o diretor da Gripen International no Brasil, Bengt Janér, representante da SAAB, “não existe transferência de tec-nologia no papel”. Ele garante que a atuação direta de empre-sas brasileiras no desenvolvi-mento do Gripen NG permitirá esse acesso, inclusive aos códi-gos-fontes de missão e controle de voo da aeronave, conheci-mentos fundamentais para a autonomia de operação do jato militar. A Rafale International, por sua vez, que representa a Dassault Aviation, oferece coo-peração tecnológica e industrial, visando garantir o investimento brasileiro e a cessão de tecnolo-gias para projeto e produção de aeronaves de combate.

As preferências no mer-cado brasileiro variam. Má-quina por máquina, há quem diga que o F/A-18 é a melhor. Para outros, o Rafale atende ao envelope de operações. Já os simpatizantes do Gripen NG acreditam que a partici-pação da indústria brasileira no desenvolvimento do caça

sueco representa a melhor opção em termos de futuro. De qualquer modo, é tarefa da FAB definir o vencedor, que deverá atender ao con-junto dos requisitos.

RAFALEA exemplo dos americanos, os franceses tiveram atuação de destaque na aviação brasileira. Na primeira década do século XX, instrutores dos EUA ajuda-ram a implementar a aviação na Marinha do Brasil, enquanto os franceses contribuíram com a aviação do Exército Brasileiro. Na Segunda Guerra Mundial, a FAB foi totalmente renovada com aeronaves de origem ame-ricana. No último quartel do século pasado, a França atuou mais em helicópteros e forne-ceu ao Brasil os primeiros jatos da família Mirage, da Dassault, mesma fabricante do Rafale.

Para a Dassault Aviation, o F-X2 não é um simples proces-so de licitação, mas uma opor-tunidade para deslanchar um programa tecnológico de longo prazo, com cooperação em lar-ga escala industrial entre os dois países. Há uma motivação adi-cional. O Brasil já assinou com a França dois compromissos de alto valor financeiro e tecnoló-gico – a construção no Brasil de 51 helicópteros EC-725 para as Forças Armada e o fornecimen-

caças

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Francês, americ ano ou sueco?Qual dos três caças que disputam o F-X2 comporá os esquadrões de combate da Força Aérea Brasileira?

to e cooperação para a constru-ção de submarinos Scorpène. Se conquistar o contrato do F-X2, a França consolidará uma posição jamais conquistada por outro fa-bricante estrangeiro no Brasil.

A FAB pretende operar uma aeronave de alto desempenho, mas também assimilar conheci-mentos para, numa perspectiva de longo prazo, produzir suas próprias aeronaves. Os concorren-tes no F-X2 dizem que estão dis-postos a contribuir para tal meta. Segundo a Dassault Aviation, no campo da defesa e aeronáutica, a França é o único país, fora os EUA, a possuir e dominar com indepen-dência o espectro das tecnologias críticas necessárias ao Brasil. “Essa mesma ambição foi sentida pela França há alguns anos”, registra um documento da empresa distri-buído à imprensa.

Com essa justificativa, o pa-cote de cooperação tecnológica e industrial da Rafale Internacio-na, inclui software, hardware e entrega de todas as ferramentas e todos os códigos-fontes, sem nenhuma restrição, com o objeti-vo de fornecer plena capacidade para manter, melhorar e até mes-mo produzir o Rafale no Brasil. É o que informa a empresa.

O birreator da Dassault im-pressiona. Está em serviço na Marinha Francesa desde 2001 e na Força Aérea desde 2004, tendo participado de campa-

nhas no Afeganistão a partir do porta-aviões Charles de Gaul-le, no oceano índico, e de ba-ses rudimentares do Himalaia. Com capacidade para realizar missões de cooperação com for-ças aliadas, tanto no ar como em terra, pode ser operado de modo autônomo ou em ope-rações conjuntas. Seu raio de ação é da ordem de 1.850 qui-lômetros – o dobro do raio do Mirage 2000 em serviço na FAB. Sua configuração bimotora for-nece segurança e capacidade de sobrevivência para sobrevoo de áreas extensas e inóspitas, sobre o mar ou sobre a terra, com redução do risco de ejeção. Cumpre missões ar-ar, ar-mar, ar-solo, projeção de força e re-conhecimento, além de outras, e está também disponível na versão naval.

Cosme Degenar Drumond

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SUPER hORNETO F/A-18 tem horizonte de vida de pelo menos mais 30 anos. É um senhor avião, que qualquer força aérea certamente gostaria de operar. Entretanto, a legis-lação americana não permite a exportação dos códigos-fontes. O fato curioso é que, se a Boeing decidiu participar do F-X2 (não se apresentou na concorrência do F-X) e chegou à fase final, é por-que deve ter algum trunfo, possi-velmente alguma forma de com-pensação adicional. De qualquer modo, a FAB precisa ter acesso aos códigos-fontes até para po-der usar armamentos brasileiros, como o míssil antirradiação, sem correr o risco de comprometer a plataforma do avião.

Segundo Bob Gower, vice-presidente dos programas F/A-18 e E/A-18 da Boeing, o modelo E/F estreou em 2005 incorporando a melhor tecnologia do século XXI, como o radar de varredura ele-trônica APG-79 (active electroni-cally scanned array). “Isso confe-re ao Super Hornet a capacidade única de conduzir operações de combate aéreo e terrestres ao mesmo tempo”, diz o executivo da Boeing.

Os sensores da aeronave tra-balham integrados e formam

uma rede ao se conectar entre si no ar, em solo ou no mar. O pi-loto tem integral consciência do ambiente de batalha o tempo todo. Isso significa que recebe permanentemente informações importantes do ambiente de operações, identifica ameaças e decide se deve evitá-las ou enfrentá-las. Com 11 estações de armas para combate e para abrir caminho no ar, ele é hábil em missões ar-ar, escolta aérea, suporte aéreo próximo e/ou dis-tante do solo, reconhecimento e reabastecimento tático em voo.

No aspecto da transferência de tecnologias como parte da venda, segundo o executivo, as negociações se fazem de go-verno para governo. Enquanto discute essa parte, a fabricante está buscando gerar mais opor-tunidades de negócios com o Brasil. “Estamos objetivan-do parcerias de longo prazo, nas quais possamos estabele-cer planos e metas benéficas e crescimento futuro para os dois lados, focando tecnologias aeroespaciais e relacionamen-to com centros de excelência, trabalhando ao mesmo tempo para assegurar suporte local, manutenção, integração e mo-dificações do Super Hornet”.

Outra oferta da empresa é criar um programa de trabalho conjunto com o parque aeroes-pacial do Brasil. Ou seja, a meta da Boeing é ser um parceiro in-dustrial de longo prazo, gerando benefícios de crescimento mú tu os na indústria e na economia.

GRIPEN NGA SAAB não tem a mesma força política que seus dois concorren-tes. Mas, a exemplo deles, detém avançada base tecnológica, resul-tado de pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimen-to. O Gripen NG é baseado na plataforma do modelo anterior. Nas previsões do fabricante, em 2014, quando o programa esti-ver concluído, será o mais atual dos caças em operação do mun-do, com vida útil projetada para até 2040. Fabricado à base de materiais compostos (uso intensi-vo), o avião sueco terá o menor Radar Cross Section das aerona-ves de sua classe, um sistema de alta importância em missões de combate ar-ar. Na avaliação da empresa, por ser monomotor (os outros dois são birreatores), terá custos de aquisição, manutenção e operação relativamente baixos, adequados a forças aéreas com orçamentos restritos.

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A proposta sueca prevê en-trega da aeronave já armada com o míssil A-Darter, proje-to que o Brasil desenvolve em parceria com a África do Sul, e com o Meteor BVR (sigla em in-glês para “além do alcance vi-sual”), míssil europeu em fase de ensaios finais. A SAAB tem uma história de cooperação com o setor aeroespacial bra-sileiro, especialmente nos pro-gramas dos jatos Embraer EMB-145 AEW&C Erieye, exportados para o México e a Grécia, e em operação no Brasil. Na parte de compensação comercial, indus-trial e tecnológica, a empresa garante que atende aos requi-sitos da FAB. Um volume de 75% a 80% das compensações comerciais serão do tipo offset direto, com financiamento de 100% do valor do contrato.

As primeiras versões do Gri-pen sofreram críticas quanto a alcance. Como forma de com-pensação, o fabricante estu-dou a alteração da plataforma original e a adoção de um tipo de motor mais potente. Com isso, o Gripen carregará 40% mais combustível, podendo atingir 2.200 milhas, alcance bem maior do que o anterior. A Comissão Gerencial de Pro-

jetos incluiu-o na última fase do F-X2 depois de considerar que seu desenvolvimento aten-de ao cronograma de entrega, caso venha a ser o vencedor da concorrência. Até 2014, o mo-delo NG terá cumprido os en-saios, inclusive de qualificação de armas e softwares. O conge-lamento dos sistemas embarca-dos (configuração aviônica) se dará em 2010.

Quanto a ser monoturbina, o que alguns analistas consi-deram fator de desvantagem operacional em relação aos modelos birreatores, Bengt Janér contra-argumenta: para ele, o grande problema está no jato biturbina, cujo custo de operação, ciclo de vida e suporte logístico é maior em relação ao monomotor. Segun-do o executivo, enquanto o Gripen custa menos de US$ 4 mil por hora de voo, incluídos investimentos e atualizações, o birreator custa cerca de US$ 12 mil. “O que importa é ter uma Força verdadeiramente ope-racional, que não vá ficar no chão por conta dos altos custos de ciclos de vida da frota”, diz Janér, para quem o novo Gri-pen terá alcance de traslado de cerca de 4 mil quilômetros, “o

mesmo alcance ou até maior”, se comparado ao F/A-18, e pra-ticamente o mesmo do Rafale.

Informa ainda que o caça sueco terá condição de trans-portar 6 toneladas, indo mais longe dos que seus concorren-tes, e de operar usando até estradas para decolar e ater-rissar. “Nossa proposta vai ao encontro da Estratégia Nacio-nal de Defesa. Portanto, temos certeza de que o Gripen NG possibilitará um novo salto de qualidade para a indústria bra-sileira. Em termos de mercado, a Embraer é 10% militar e 90% civil; a SAAB é 90% militar e 10% civil. Então, existe a pos-sibilidade concreta de comple-mentaridade”.

Os próximos passos do pro-jeto serão a indicação do ven-cedor pela FAB ainda em julho; encaminhamento dessa reso-lução para análise do ministro da Defesa, que, por sua vez, a encaminhará ao Conselho de Defesa Nacional, que tem a úl-tima palavra no processo e de-verá torná-la pública em agos-to. A assinatura do contrato de compra das aeronaves não deverá ultrapassar o segundo semestre deste ano.

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A FROTA da Força Aérea Brasilei-ra (FAB) é composta de cerca de 700 aviões de 33 modelos diferen-tes. Para manter as aeronaves na disponibilidade ideal, precisa de um sistema de logística rápido, flexível e eficiente. É nessa parte que entra em cena e se destaca o Centro Logístico da Aeronáu-tica (Celog), moderna organiza-ção com sede na capital paulista, cujas origens estão assentadas na década de 1940, quando o então Ministério da Aeronáutica pôs em prática um projeto industrial visando apoiar a manutenção de aeronaves. A recém-criada Força Aérea Brasileira precisava desse tipo de serviço, que seria feito no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (Pamasp), sediado no Campo de Marte. Com o tem-po, além de fazer o atendimento logístico da FAB, o Pamasp tornou-se o maior complexo industrial da América Latina em aeronáutica e fomentou o desenvolvimento da indústria brasileira no setor.

Nos anos 1970, porém, a crise internacional do petróleo levou a FAB a enfrentar crescentes di-ficuldades na importação de lo-gística para sua frota. Diz o dita-do que “há males que vêm para bem”. Pois, para manter suas aeronaves em voo, a FAB ado-tou a nacionalização do material de que necessitava. O processo cresceu e exigiu nova identidade estrutural. Em julho de 1977, sob a coordenação do brigadeiro-do-

Voando com as próprias asas

ar Massao Kawanami, nasceu a Comissão de Nacionalização de Material Aeronáutico (Conma). Mas era preciso fazer a separação entre nacionalização e atividade de aquisição, o que originou a Comissão Aeronáutica Brasileira em São Paulo (CABSP), em maio de 1982, que, ao final, incorpo-rou as duas atividades.

Com a modernidade a exigir novas adaptações, o comandante da Aeronáutica, tenente-briga-deiro Juniti Saito, decidiu mudar a sistemática e, em 2005, criou o Celog com o objetivo de ampliar a estrutura e normatizar, executar, controlar e supervisionar as ativi-dades de logística – desde a procu-ra e compra do material desejado até sua distribuição aos “clientes”, isto é, as grandes organizações do Comando da Aeronáutica. “A For-ça Aérea diz o que quer e nós nos desdobramos para adquirir”, diz o brigadeiro Edgard de Oliveira Jú-nior, diretor do Celog.

Mais vida útilNo dia 25 de julho de 2008, o brigadeiro Edgard foi o anfitrião das comemorações dos três anos da instituição, que incluíram ho-menagem ao brigadeiro Masao Kawanami. Ele recebeu um pre-sente bizarro e ao mesmo tempo significativo: uma lâmpada, que foi o primeiro item nacionaliza-do pela organização.

Velhos tempos. Hoje, a nacio-nalização tomou vulto em razão

das imensas complexidades tec-nológicas e do envelhecimento natural dos aviões. Com mais de 30 anos de operação, muitas ae-ronaves da frota ainda tinham bom horizonte de vida útil. Eram os casos de Xavante, Búfalo e Mirage, que tiveram suas vidas estendidas. Com equipamentos como Tucano, Bandeirante e Universal, porém, os problemas eram a real falta de peças ou a demora na entrega de compo-nentes pelos fabricantes, pois os aviões não estão mais em linha de produção. Mas a FAB não po-deria mandá-los para a sucata, se ainda podiam ser úteis em suas missões específicas. A nacionali-zação foi a resposta.

O processo envolve profunda análise da peça necessária em fal-ta no mercado e a viabilidade de sua produção no Brasil. O primei-ro passo é identificar a peça fora de linha em todas as suas carac-terísticas, como matéria-prima, estrutura, resistência, design en-tre dezenas de aspectos técnicos considerados. A engenharia re-versa, que cuida dessa parte, tam-bém trata de melhorar o desenho original, o desempenho do item e todo o projeto industrial. Em seguida, verifica qual a empresa brasileira com capacidade em ma-quinário para produzi-la. Os pró-prios engenheiros da FAB auxi-liam o fabricante a materializar a peça em pauta. Os resultados têm sido altamente satisfatórios, con-

O Centro Logístico da Aeronáutica completa seu quarto ano de atividades com razões para comemorar os avanços da nacionalização no âmbito da Força Aérea Brasileira, que economiza divisas e contribui para a autonomia tecnológica do país

Laboratório afere a

qualidade das peças dos

produtores nacionais

logísticaRita de Sousa

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forme constatado em rigorosos testes de qualidade, regidos pe-las normas internacionais. Ganha o país, que evita gastar divisas, a economia é incrementada, as ae-ronaves da FAB continuam no ar, o parque nacional recebe injeções de novos conhecimentos de pon-ta e excelência do produto.

Ganha-se ainda com o cadas-tramento e a certificação, pois as empresas passam a figurar como possíveis fornecedoras no banco de dados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao lado de mais de 1,5 milhão de empresas do mundo inteiro e está permanentemente à disposição para consulta de vá-rios países signatários.

O trabalho e os efeitos são entusiasmantes. Contudo, nem sempre a nacionalização sai em conta. Ocorre que a alternativa é inaceitável: condenar à condi-ção de sucata aviões que valem milhões de dólares.

Assim, a despeito do alto preço unitário, os benefícios da nacionalização são visíveis, so-bretudo no que diz respeito ao salto extraordinário de qualifica-ção da empresa e seus produtos. Para uma ideia do valor agrega-do, a construção civil tem padrão de qualidade nível 3; o setor au-tomotivo, nível 7; enquanto na aviação é 20 vezes maior.

Mais de 25 mil pedidos de produtos chegam ao Celog por ano. A maioria das com-pras (87%) é feita via pregão eletrônico; as outras 13%, por outras modalidades de licita-ção, dependendo da urgência da demanda, da disponibilida-de do item ou do fabricante. O Celog também compra produ-

tos como tinta, combustível de aviação, aeronaves, viaturas, ar-mamento, suprimento de avia-ção, material de comunicação e radar, material de escritório e hospitalar. Para atender à FAB e suas organizações subordina-das, trabalha com mais de 200 contratos. Os itens catalogados superam a ordem de 700 mil. A nacionalização já produziu mais de 15 mil itens no Brasil para mais de 30 tipos de aeronaves. No início, eram itens peque-nos, mas atualmente inclui, por exemplo, praticamente todas as partes do sistema dos trens de pouso da famosa aeronave T-27 Tucano, que equipa a Esqua-drilha da Fumaça e também a Academia da Força Aérea para treinamento avançado.

O Celog tem escritórios que respondem pela compra de ma-terial nos cinco continentes, bem como por manutenção e con-trole dos contratos firmados nas diversas regiões. Efetivamente, eles economizam de 15% a 35% nas aquisições que fazem.

Em termos de distribuição do material adquirido, aviões do Correio Aéreo Nacional (CAN) fa-

zem o transporte das peças para as unidades requisitantes. Por via terrestre, o trabalho é feito pelo Depósito de Aeronáutica do Rio de Janeiro (DARJ), unidade mili-tar da estrutura do Comando da Aeronáutica que, na realidade, funciona como um centro logísti-co de distribuição, respondendo por desembaraço alfandegário, recebimento, triagem e distribui-ção de todo material adquirido no exterior, destinado às diversas organizações da Aeronáutica.

Em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Celog tem pro-movido um continuado processo de cadastramento da capacidade instalada da indústria brasileira. Enfim, como o brigadeiro Edgard enfatiza, “o difícil, o impossível ou o vencer é questão de capaci-dade logística”.

Brigadeiro Edgard de Oliveira Júnior, diretor do Celog

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Apesar das periódicas dificuldades financeiras da ONU, provocadas pelo atraso no pagamento das contribuições por alguns Esta-dos membros poderosos – como os Estados Unidos –, as opera-ções de paz das Nações Unidas se apresentam como cada vez mais necessárias. E, a despeito do não engajamento e da incompreensão de alguns países sobre a forma de fortalecer a organização nos domí-nios da diplomacia preventiva, do restabelecimento e da manuten-ção da paz, a comunidade interna-cional tem sido chamada a assumir responsabilidades cada vez maio-res na esfera da segurança coletiva nos quatro cantos do mundo.

O fim da imensa barreira ideológica que durante décadas alimentou suspeitas e hostili-dades entre o Leste e o Oeste não impediu a continuação de guerras e conflitos armados que semeiam morte, sofrimento e horror e exigem intervenções ur-gentes, pois representam riscos, ameaças e desafios para a segu-rança nacional, regional e inter-nacional. Daí por que democra-cias como o Brasil são levadas a integrar forças multinacionais de intervenção sob a bandeira das Nações Unidas. Assim, as novas missões de paz tornaram-se indispensáveis, não só para a

O Brasil é o 18º país que mais contribui com pessoal para as missões de paz da ONU

internacionalcontenção de catástrofes huma-nitárias, mas para a solução das crises em que a democracia não existe ou o Estado faliu.

O Brasil ocupa o 18º lugar en-tre os países que mais contribuem com pessoal para as missões de paz da ONU. Está presente em dez delas, das quais a mais expres-siva é hoje a Minustah (sigla fran-cesa para Missão das Nações Uni-das para a Estabilização do Haiti). Criada pela Resolução 1.542 do Conselho de Segurança da ONU em 30 de abril de 2004, ela foi classificada desde o início como a maior operação multidimensio-nal realizada no Hemisfério Oci-dental. Envolve 7.060 militares de quarenta países, dos quais mais de 1.200 são brasileiros. Tanto no Haiti como em Angola e Mo-çambique, onde o comando das operações ficou a cargo do Brasil, a distinção e o profissionalismo dos militares brasileiros demons-tram como – em poucas décadas – as Forças Armadas souberam responder aos novos desafios das relações internacionais, não mais pautadas pelo conflito Leste-Oes-te, mas pela multipolaridade de nosso mundo.

Brasil, protagonismo globalParece claro que a defesa nacional compreende que precisa conjugar estabilidade e objetivos perma-nentes, implícitos em suas funções, com as mudanças rápidas – por ve-zes inesperadas – impostas pelo contexto internacional. Nesse sen-tido, o Brasil já não é mais o gigan-te adormecido: não pode ficar e não fica alheio às questões que en-

Sob a faixa de “Feliz Natal e Ano Novo”, membros do contingente brasileiro no haiti atendem ao garoto e à senhora em Porto Príncipe (25/12/2008)

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João Lins de Albuquerque

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volvem o mundo e, em particular, a América Latina, onde a condição do país é, inegavelmente, de lide-rança. Isso implica estar presente onde e quando for necessário.

A importância de um país no cenário internacional é medida pela sua expressão nos campos po-líticos e militar, econômico, científi-co, cultural, territorial e demográ-fico, afirmou na ONU, em 1996, o embaixador brasileiro Ivan Canna-brava. A capacidade de atuação externa dos diferentes Estados

– completou – depende essencial-mente de seu peso relativo nessas áreas de atuação. Poucas vezes al-guém disse coisas tão claras!

A inserção do Brasil na esfera internacional por meio das mis-sões de paz – catalisadoras de mo-dernização e adequação de nossas Forças Armadas ao contexto do século XXI – deve ser compreendi-da também como instrumento es-tratégico da nossa política externa para garantir objetivos regionais e internacionais. Naturalmente, se

Mulheres, vítimas da guerra civil, recebem ajuda da ONU em Agok, Sudão (21/05/2008)UN

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alguém perguntar que objetivos são esses, a resposta poderia ser sincera e resumida: conquistar cre-dibilidade internacional a ponto de o Brasil ser reconhecido como autêntico global player, legitiman-do assim sua justa reivindicação a uma cadeira permanente num Conselho de Segurança reformado e democratizado na Organização das Nações Unidas. Enfim, sair da retórica das relações externas para um papel autenticamente ativo no novo cenário internacional.

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O MUNDO vivencia uma série de transformações aceleradas e avanços tecnológicos que, somados ao gradativo acesso da humanidade à informação, fomentam o crescimento de redes de alcance transnacional as quais entrelaçam e desafiam diversos atores, processos e va-lores. Desafios que atentam, às vezes de forma simultânea, con-tra a segurança internacional, nacional e individual por meio de atividades ilícitas, como la-vagem de dinheiro; tráfico de armas, drogas e pessoas; crimes contra a propriedade intelec-tual e, dentre muitos outros, os crimes cibernéticos. Estes, por sua vez, não tardaram a suscitar novas práticas no contexto da dimensão militar de segurança por meio da assim denominada “guerra cibernética”.

Se a origem da Internet re-mete ao programa militar ame-ricano da Agência de Pesquisa e Projetos Avançados (Arpa, de Advanced Research and Projects Agency) no contexto da Guerra Fria, foi a ArpaNet, em contato com universidades e outras ins-tituições, que levou à moldagem da rede global de computadores na forma como a conhecemos hoje. Trata-se de mais uma evi-dência da recorrente aproxima-ção entre tecnologias utilizadas nos mais sofisticados sistemas civis e militares a ponto de se tornarem frequentemente duais. Fenômeno demonstrado pelos EUA na I Guerra do Golfo, em 1991, e que alguns derivam da assim apregoada “Revolução dos Assuntos Militares” (RAM) – con-ceito que diz respeito a teorias

Ameaça cibernéticaA ciência e a tecnologia significam progresso, mas também criam vulnerabilidades e ameaças

Peterson Ferreira da Silva

ciência | tecnologia

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sobre o futuro da guerra, nor-malmente ligado a temas de or-ganização, estratégia e impacto de novas tecnologias.

Desde então, uma avalanche de sensores e dados domina os conflitos modernos, possibilitando o entrosamento das mais variadas esferas de decisão e culminando em concepções como a de guerras centradas em redes, que são de-senvolvidas sobretudo nos países mais avançados tecnologicamen-te. Porém, tal dependência trouxe consequências alarmantes.

Apenas para lembrar eventos recentes, só no início deste ano de 2009, houve vários indícios de invasões cibernéticas nos sis-temas de controle de tráfego aé-reo e de centrais de distribuição de energia elétrica americanos. Contudo, o que mais chamou a atenção na grande mídia foi a invasão de sistemas do Pentágo-no associados ao programa do Joint Strike Fighter (JSF) da Força Aérea Americana na qual foram roubados muitos terabytes de dados – provavelmente estraté-gicos. Ações dessa natureza são cada vez mais frequentes: estima-se que só no ano fiscal de 2008 tenham ocorrido mais de 18 mil invasões cibernéticas contra o go-verno americano, segundo o De-partamento de Segurança Interna, totalizando cerca de US$ 8 bilhões em prejuízos aos cofres america-nos, informou a Casa Branca.

Como se esse quadro não bastasse, muitos países, espe-cialmente os mais desenvol-vidos – mas não apenas eles – investem na formação de ver-dadeiros guerreiros cibernéti-cos (ver boxe).

Guerra cibernéticaA guerra cibernética pode ser entendida como o conjunto de ações ofensivas e defen-sivas de informações e seus sistemas para explorar ou manipular de algum modo determinados alvos civis ou militares. E nos conflitos re-centes sua disseminação tem ocorrido rapidamente.

Em novembro de 2008, en-quanto tanques russos invadiam a Geórgia, sites do governo de Tbilisi eram tirados do ar por hackers. Em ocasião semelhante em 2007, ata-ques provavelmente originados na Rússia tiraram do ar vários sites governamentais e de importantes bancos na Estônia. Mesmo simples vírus de computadores tornam-se motivos de apreensão de civis e militares – como no caso dos Rafale franceses, que, em janeiro último, foram impedidos de voar devido à apreensão dos pilotos quanto a “baixar” os planos de vôo dos computadores infectados. Outro exemplo ocorreu, no mesmo mês, em várias bases da Força Aérea Britânica e significativa parcela da frota naval de Sua Majestade – in-cluindo o porta-aviões Ark Royal –, que foram afetados por uma ver-são híbrida do mesmo vírus.

Trata-se, portanto, de práti-ca de alto impacto, baixo custo e difícil rastreamento em razão de seu caráter transnacional, cujos alvos principais são redes de comunicações, sistema fi-nanceiro, serviços críticos e sis-tema de infraestrutura em ge-ral. O ciberespaço tornou-se um domínio passível de combates e suas ações, ataques de desorga-nização em massa.

Nesse sentido, é com a China que alguns governos ocidentais estão preocupados. Desde 1999, quando hackers chineses ataca-ram sites do governo dos EUA após o bombardeio americano à embaixada chinesa em Belgrado, os ataques originados daquele país só têm crescido, segundo in-formações dos governos britânico e americano. Ações perfeitamen-te condizentes com os princípios de “guerra irrestrita” formulados pelos militares chineses no con-texto das atuais transformações da guerra como fenômeno.

Em resposta, vários países rea-lizam regularmente manobras cibernéticas em suas academias militares, reforçam sua seguran-ça virtual por meio de novas ins-tituições e até mesmo desenham planos, como no caso do Pentá-gono, de criar comandos milita-res dedicados exclusivamente à questão do ciberespaço.

Já os países incapazes de acompanhar o volume de in-vestimentos necessário para dar conta sozinhos do desafio – como a Estônia – decidiram cen-tralizar nas esferas civis tal res-ponsabilidade, supervisionando serviços críticos, fomentando uma “cultura de segurança vir-tual”, apoiando cursos de gra-duação sobre o tema e linhas de pesquisa específicas, claramente com o intuito de negar o uso es-trangeiro de sistemas nacionais em um eventual ataque.

O modelo 5150, primeiro PC da IBM, 1981

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Consequências para o BrasilApesar da expansão do uso da internet nos últimos anos, o Brasil ainda está coloca-do em 59º lugar no ranking dos países mais conectados à rede, conforme levantamento do Fórum Econômico Mun-dial. Entretanto, os avanços já constituem exemplos para outros países, como os servi-ços públicos do governo ele-trônico (e-gov), o sistema de compras eletrônicas do gover-no federal (Comprasnet), tido como referência pelo Banco Mundial, e os serviços do sis-tema Receita Federal, que já recebeu vários prêmios.

Assim, ao mesmo tempo que vislumbra maior popularização da internet, o Brasil precisa ze-lar pela segurança de suas con-quistas, sob o risco de assistir a novas panes no serviço de transmissão de dados e de aces-so à internet, a exemplo da que afetou praticamente todo o es-tado de São Paulo em julho de 2007, gerando sérios problemas a bancos, empresas, delegacias, bombeiros, tribunais e usuários de banda larga em geral.

Apesar de iniciativas louvá-veis no âmbito do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, como a criação do Comitê Gestor da Segurança da Informação em 2000, há muito a ser feito. A própria recém-lançada Estraté-

gia Nacional de Defesa elenca o setor cibernético como uma das prioridades e, ao que tudo indica, almeja maior sinergia entre setores civis e militares nesse campo.

Se a iniciativa do governo de estabelecer parceria público-pri-vada (PPP) para construir o pri-meiro satélite geoestacionário brasileiro vai garantir razoável autonomia nas telecomunica-ções civis e militares – hoje de-pendentes em última instância de operadoras comerciais es-trangeiras –, a conclusão do ve-ículo lançador de satélites (VLS) torna-se fundamental nesse sen-tido também.

Portanto, a difusão de even-tos sobre segurança de com-putadores no Brasil – como o Computer Security Day (CSD), celebrado anualmente em 30 de novembro –, unindo desde entidades como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) até o 3º Centro de Telemática de Área (3º CTA) do Exército Brasileiro, pode ser considerada mais uma pequena e necessária iniciativa para en-frentar o desafio cibernético.

Ataque virtual, dano realEM 9 DE JULhO, pela quarta noite consecutiva, o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos foi invadido por hackers. A onda de ataques ciberné-ticos, que satura conexões e paralisa sites, provocou apreensão nesse mesmo dia ao causar lentidão também no sistema de in-ternet de um país inteiro: a Coreia do Sul.De acordo com infor-mações dos serviços de inteli gên cia encarregados de investigar o evento, os ataques partiram de 16 países, inclusive dos pró-prios territórios americano e sul-coreano, utilizaram pelo menos 20 mil com-putadores domésticos e 86 provedores de internet. Os alvos principais foram bancos e órgãos ligados às Forças Armadas do país. Um comunicado da inteligência sul-coreana pontuou que ofensiva tão ampla e orquestrada só poderia ter sido “elabora-da por uma organização bem-montada ou por um Estado”. E indicou sua principal suspeita, a Coreia do Norte. Embora no país comunista poucos tenham acesso à internet, a Coreia do Sul alega que sua arqui-inimiga tem uma unidade especializada em ataques cibernéticos.

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56 DEFESA LATINA julho-setembro 200956 DEFESA LATINA julho-setembro 2009

“CONSTRUA VOCê mesmo um dos mais belos veleiros do mun-do”. Não poderia ser mais exata a chamada feita pela editora Pla-neta De Agostini ao lançar nas bancas do país sua coleção de 29 fascículos, ao fim dos quais o leitor fiel terá adquirido todas as peças para montar o veleiro Cis-ne Branco, da Marinha do Brasil. Um oportunidade de negócio que não passou despercebida à gigante editorial ítalo-espanho-la de colecionáveis e um modo original de dar mais visibilidade a essa nave maravilhosa, usada para treinamento e representa-ção do país nos portos do mundo (“mostrar bandeira”).

Nos portos onde atraca, o Cisne Branco atrai multidões. A

razão é simples: ter acesso ao convés, mesmo por alguns instan-tes, equivale a entrar no túnel do tempo, quando qualquer grande viagem implicava alguma traves-sia marítima e praticamente toda a civilização humana dependia da navegação. Moderno, mas pela aparência pertencente à linha-gem dos soberanos dos mares dos séculos XVIII e XIX, ocasião em que os ventos foram enfim domina-dos e se abriu uma nova era para o conhecimento do mundo e dos oceanos, o Cisne Branco é uma autêntica celebridade. Fotografa-do e filmado sob todos os ângu-los para documentários, revistas e jornais, ele foi homena geado no Carnaval 2005 pela Escola de Samba Unidos de Vila Isabel e se

tornou personagem de um artista da aquarela – o paraense Mário Barata. Com base nas artes pro-duzidas por ele, foi desenvolvido o livro Aquarela e navegação: um encontro que fez história, que hoje viaja com o veleiro e é ofe-recido a personalidades de desta-que nos países visitados.

O projeto cultural foi pa-trocinado pelo Grupo Bunge para comemorar seus 100 anos de presença no Brasil em 2005. Construído pelo estaleiro ho-landês Damen ao custo apro-ximado de US$ 15 milhões, sua entrega ocorreu em 4 de fevereiro de 2000 – no tempo exato de chefiar as comemora-ções marítimas dos 500 anos do Descobrimento.

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O Cisne Branco nas aquarelas do artista paraense Mário Barata

"Foz do Rio Amazonas", 2005

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U-20, navio veleiro Cisne Branco Batimento de quilha: 9/11/1998 Lançamento e batismo: 4/08/1999 Incorporação: 9/03/2000 Deslocamento: 1.038 toneladas (carregado) Dimensões: comprimento 76 metros (249 pés) boca 10,6 metros calado 4,80 metros Propulsão: Diesel e vela (três mastros) Área vélica: 2.195 metros quadrados Energia elétrica: 2 geradores diesel Velocidade máxima: 11 nós a vela, até 17,5 nós a motor Raio de ação: 1.250 milhas Sensores: 1 radar de navegação Furuno FR 1510 Mk-3 Tripulação: 52 homens (10 oficiais e 42 praças) Armamento: 2 canhões de salva 47 mm Comandantes: CMG José Sadi Cantuária, 2000 CMG Bernardo José Pierantoni Gambôa, 2002 CMG Paulo Vinicius C. Rodrigues Júnior, 2004 CMG Leonardo Puntel, 2006 CMG Flavio Soares Ferreira, 2008

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SOBRE O ARTISTAChamado pela crítica de “Turner tropical”, em referência ao grande marinhista britâni-co J. M. W. Turner (1775-1851), Mário Barata, Belém (PA), 1963, é arquiteto, professor e artista plástico. Especialista na difícil arte da aquarela, realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Suas aquarelas têm servido à ilustração de livros científicos, revistas e coleções de literatura infanto-juvenil. Figuram ainda em peças institucioniais e culturais de empresas e organizações, como Universidade da Amazô-nia, Universidade do Estado do Pará, Museu Náutico da Bahia, Marinha do Brasil.

"O veleiro atracado no Rio de Janeiro", 2004

“Cisne Branco a todo o pano”, 2005

“Partida”, 2004

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EDITOR DA REVISTA Asas, dedicada a cultura e história da avia-ção, o jornalista Claudio Lucchesi voa novamente ao passado para trazer aos leitores mais um título da série Grandes Batalhas Aéreas: Stalingrado, 1942. (C&R Editorial, 98 págs., R$ 63,00). Nele, estuda e analisa uma por uma as ações do longo enfrentamento entre so-viéticos e alemães pelo domínio da cidade – rebatizada de Volgo-grado em 1956 –, que acabou com a primeira grande derrota das forças do III Reich na Segunda Guerra Mundial.

Como em seu trabalho anterior, Kursk, 1943, o livro tem fácil leitura e confirma a especialização do autor em assuntos de defesa. Sobretudo seu conhecimento da aviação do Leste Europeu. Quan-do Hitler ordenou a tomada da cidade, no final da primavera de 1942, com o clima ainda ameno, os alemães encurralaram os russos na beira do rio Volga. Mas estes não se renderam. Obedecendo ao desafio lançado por Stalin – “nenhum passo para trás” –, os cida-dãos e soldados defenderam o terreno rua por rua, protegendo-se embaixo da terra, num corpo a corpo em que até simples facas eram utilizadas. Daí os nazistas a batizarem de “guerra dos ratos”.

Porém, embora documentada por cinegrafistas filmando em tempo real e no enregelar da hora – mostrando o sofrimento imposto às for-ças nazistas pelo conhecido General Inverno, responsável também pela derrota de Napoleão Bonaparte em 1812 –, a batalha de Stalingrado não foi suficientemente explorada no que diz respeito à importância das Forças Aéreas no teatro das operações. Essa é a lacuna preenchida por Claudio Lucchesi em seu livro, que ainda premia o leitor com fotos e mapas raros e com 24 desenhos de aviões das duas forças envolvidas na batalha, na qual 4.400 aeronaves foram perdidas.

Lucchesi está pesquisando a preferência dos leitores no site de Asas – talvez para definir sua próxima incursão historiográfica so-bre batalhas. Por enquanto, está ganhando a batalha aérea de Yom Kippur, da guerra que envolveu Egito, Síria e Iraque contra Israel e durou de 6 a 26 de outubro de 1973. (MPC)

cultura.livros

A “guerra dos ratos” no fronte aéreo

Russos decolam para missão e avião nazista derrubado em 1942

em Stalingrado, fotos clássicas do documentarista russo Georgi A. zelma

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Brasil S/ACOM FORMAÇÃO jurídica, vivência intensa no mercado de capitais e inegável vocação de historiador, Ney Carvalho vem contribuindo para a revisão da história econômica do Brasil. Sua opção tem sido registrar momentos decisivos a partir do exame de documentos, repercussão na imprensa e análise ideológica de prós e contras – sem nunca encobrir sua posição de privatista convicto. Em 2004, seu estudo O Encilhamento – Anatomia de uma bolha brasileira contraditou a tradicional visão negativa do evento, baseada em ro-mance do Visconde de Taunay de 1894, destacando o incentivo que representou para o início da industrialização no país.Agora, Carvalho revisita o conjunto dos processos de privatiza-ção dos anos 1990 num livro que também procura mostrar “o outro lado” do tema. Até agora, só a visão dos que acham que as privatizações representaram profundo prejuízo ao Estado tinha obtido expressão. Em A guerra das privatizações (Editora de Cul-tura, 512 págs., R$ 66,00), ele avança através do campo minado de manifestos, passeatas, greves, lobbys e demais escaramuças das forças contrárias para revelar o que e como foi, de fato, a desestização no Brasil da última década do século XX.

“A ‘guerra das privatizações’ foi, na verdade, uma sucessão de combates entre razões e emoções, tendo como foco de disputa a manutenção do que se convencionou denominar Estado-empresá-rio”, define o autor, lembrando que esse modelo, surgido na dita-dura de Vargas, nos anos 1940, emitia nítidos sinais de esgotamen-to quando da Constituinte de 1988 – representados por “prejuízos imensos, ineficiência, empreguismo e terreno fértil para semeadu-ra de corrupção”.

Com quatro capítulos de informação e 13 dedicados à venda de empresas federais, o livro percorre desde a primeira privatização, que foi a da Usiminas, em 1991, passa por CSN, Vale do Rio Doce, Telebrás, entre outras, e chega até o Banespa, em 2000. O capítulo 17, intitula-do “A luta aérea”, é dedicado à Embraer – ascensão, queda, privatiza-ção e nova ascensão, até as portas da atual crise da economia mundial. Nenhum aspecto controverso é evitado e tudo é contextualizado a partir de dados históricos sobre a estatização nos séculos XIX e XX, ainda quase desconhecidos da maioria dos brasileiros.

No prefácio ao livro, o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, diz: “(...) as privatizações foram alvo de uma campanha de desinformação que acabou por estigmatizá-las. Um inestimável serviço prestado ao atraso do país, que nos cabe com-bater, pelo esclarecimento. É o que faz este livro, A guerra das pri-vatizações, de Ney Carvalho, em boa hora publicado”. (MPC)

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FOI EM 1952, portanto há 57 anos, que a aviadora brasileira Ada Rogato (1910-1986) surpreendeu as autoridades da aviação civil e militar do Brasil e da Bolívia ao chegar a La Paz e aterrissar em El Alto, o aeroporto mais alto do mundo. Sozinha em seu pequeno avião, ela pousou a 4.071 metros de altitude, façanha que nenhum piloto civil brasileiro – homem ou mulher – havia tentado antes.

Advertida sobre os riscos da empreitada em uma aeronave de poucos recursos – um Cessna-140 A, de apenas 90 Hp de potência –, Ada aliviou ao máximo o peso do avião antes da partida. Para lidar com as traiçoeiras correntes de ar nas alturas, ela confiava na perícia adquirida como a primeira mulher a pilotar planador no Brasil e na América

do Sul. Além disso, já havia cruzado os Andes duas vezes em 1950, visitando Paraguai, Argentina, Chile e Uruguai, num périplo de 11.200 quilômetros e 116 horas de voo. Voltara a cruzar a cordilheira em 1951, em seu reide so-litário de 51.064 quilômetros pelas três Américas, que a levou até o Círculo Polar Ártico, mas não à Bolívia – justa-mente devido à altitude de seu principal aeroporto.

Para cumprir essa última etapa do reide pan-ameri-cano, Ada partiu de São Paulo, passou por Mato Grosso, cruzou a fronteira e pousou em Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba antes de chegar a El Alto em 20 de junho de 1952. A presença dela causou alvoroço na capital e seu pequeno Cessna foi exibido em praça pública. Depois de tornar-se a primeira mulher a obter o brevê de piloto militar e as Asas da Força Aérea do país, Ada recebeu a medalha Condor dos Andes, a mais alta condecoração do governo boliviano. Seu vitorioso regresso ao Brasil se deu em 13 de julho.

Ada Rogato continuaria suas aventuras. Entre elas, um reide em homenagem a Santos-Dumont em 1956, que a levou a percorrer todo o território brasileiro – per-fazendo 25.057 quilômetros em 163 horas de voo –, e a viagem em 1960 à Terra do Fogo, ponto extremo da América do Sul, onde foi a primeira mulher a chegar pilotando um avião.

Lucita Briza

cultura.memória

Retrato de 1944, que Ada dedicou à também

pioneira da aviação Thereza de Marzo

2010 marcará os 50 anos do reide aéreo de Ada Rogato à Terra do Fogo

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julho 18 Coroação de D. Pedro II (1840)

20 Chegada do primeiro homem à Lua na Apollo 11 (Neil Armstrong, EUA, 1969)

28 Independência do Peru

agosto 5 Independência da Bolívia

6 Americanos lançama bomba atômica sobre Hiroxima (Japão) 1945

9 Americanos lançam a segunda bomba atômica sobre Nagasaki (Japão) 1945

13 Construção do Muro de Berlim,1961

23 Dia do aviador naval Dia da intendência da aeronáutica

24 Morte de Getúlio Vargas (1954), sua carta-testamento é transmitida por rádio

25 Independência do Uruguai

Jânio Quadros renuncia à Presidência (1961)

Dia do soldado

26 Sonda espacial Voyager II chega a Saturno em 1981

setembro

1 Início da 2ª Guerra Mundial(1939)

3 Dia da polícia militar

7 Dia internacional da aviação civil

Independência do Brasil (1822)

11 Atentado terrorista derruba as torres gêmeas do World Trade Center em NY (EUA)

12 Dia da América Latina

17 Lançamento do primeiro avião supersônico (EUA 1947)

30 Dia mundial da navegação

FONTE: http://fortuna.jard.com.br/

Colaboraram nesta edição

Angela Schnoor é psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e se dedica à clínica de psicoterapia individual e de grupo. Literaria-mente, exercita-se em minicontos.

Cosme Degenar Drumond iniciou carreira como redator no antigo Ministério da Aeronáutica. Atua na imprensa especializada em defesa desde 1985. Foi sócio e diretor de redação da revista Tecnologia & Defesa e tem as mesmas funções na DEFESA LATINA. É autor dos livros O Museu Aeroespacial Brasileiro, Asas do Brasil e Santos-Dumont, novas revelações.

João Lins de Albuquerque é bacharel em direito pela Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro (Universidade do Brasil) e pós-graduado em Sovieto-logia e Relações Internacionais pela Universidade de Estocolmo. Atuou como correspondente internacional em Londres, Estocolmo e Nova York, onde trabalhou para o Departamento de Informação Pública da Orga-nização das Nações Unidas. É autor de Conversações: 50 entrevistas essenciais para entender o mundo.

Julio Tarragó Ribeiro é estudante de arquitetura e ilustrador.

Lucca Alves é jornalista diplomado pela PUC-Campinas, tendo iniciado carreira em jornais do interior, transferin-do-se depois para a Assessoria de Imprensa da Telefônica em São Paulo.

Luiza Lusvarguhi é diplomada em letras e bacharel em jornalismo pela PUC-SP, sendo mestre e doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo. Trabalhou nos jornais Shopping News e O Estado de S. Paulo, além de colaborar com revistas femininas e com os suplementos culturais e de turismo dos jornais Diário Popular e Folha de S. Paulo. É autora do livro De MTV a Emetevê.

Lucita Briza é pedagoga e jornalista, tendo iniciado car-reira na imprensa nas revistas da Editora Abril. Depois, atuou no jornal O Estado de S. Paulo como pauteira, redatora e editora de Internacional. Interessou-se por aviação ao traduzir o livro sobre a saga dos aviadores poloneses durante a II Guerra Mundial (A Question of Honour, l. Olson & S. Cloud). Prepara uma biografia da pioneira da aviação Ada Rogato.

Márcia Cristina Gonçalves de Souza é jornalista di-plomada pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro; pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM, São Paulo, e em Gestão Empresarial pela Universidade Católica do Salvador, Bahia. É palestrante e autora do livro Ética no ambiente de trabalho.

Maria Angela Silveira de Souza é jornalista e publi-citária. Iniciou carreira respondendo pela área de pro-paganda da Livraria Nobel, em São Paulo, passando depois para a área de assessoria de imprensa e comu-nicação, atendendo a editoras, universidades e outras empresas de cunho cultural, como a Blue Comunica-ção e a Editora de Cultura.

Mirian Paglia Costa é bacharel em direito e em jor-nalismo, tendo atuado em jornais e nas revistas Visão e Veja. É publisher e diretora editorial da Editora de Cultura e da revista DEFESA LATINA. É autora dos li-vros Colar de maravilhas e Notícias do lugar comum, entre outros títulos.

Peterson Ferreira da Silva, bacharel e mestrando em Relações Internacionais; participa do Programa Pró-Defesa do Ministério da Defesa e Capes.

Rita de Sousa é jornalista diplomada pela Unesp-Bauru e se especializou em revistas segmentadas. Atuou como assistente editorial da Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, e como edi-tora das revistas IColetiva, do Núcleo de Inteligência Coletiva Aplicada à Educação, e OESP Construção.

Colaboraram nesta edição

Angela Schnoor é psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e se dedica à clínica de psicoterapia individual e de grupo. Literaria-mente, exercita-se em minicontos.

Cosme Degenar Drumond iniciou carreira como redator no antigo Ministério da Aeronáutica. Atua na imprensa especializada em defesa desde 1985. Foi sócio e diretor de redação da revista Tecnologia & Defesa e tem as mesmas funções na DEFESA LATINA. É autor dos livros O Museu Aeroespacial Brasileiro, Asas do Brasil e Santos-Dumont, novas revelações.

João Lins de Albuquerque é bacharel em direito pela Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro (Universidade do Brasil) e pós-graduado em Sovieto-logia e Relações Internacionais pela Universidade de Estocolmo. Atuou como correspondente internacional em Londres, Estocolmo e Nova York, onde trabalhou para o Departamento de Informação Pública da Orga-nização das Nações Unidas. É autor de Conversações: 50 entrevistas essenciais para entender o mundo.

Julio Tarragó Ribeiro é estudante de arquitetura e ilustrador.

Lucca Alves é jornalista diplomado pela PUC-Campinas, tendo iniciado carreira em jornais do interior, transferin-do-se depois para a Assessoria de Imprensa da Telefônica em São Paulo.

Luiza Lusvarguhi é diplomada em letras e bacharel em jornalismo pela PUC-SP, sendo mestre e doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo. Trabalhou nos jornais Shopping News e O Estado de S. Paulo, além de colaborar com revistas femininas e com os suplementos culturais e de turismo dos jornais Diário Popular e Folha de S. Paulo. É autora do livro De MTV a Emetevê.

Lucita Briza é pedagoga e jornalista, tendo iniciado car-reira na imprensa nas revistas da Editora Abril. Depois, atuou no jornal O Estado de S. Paulo como pauteira, redatora e editora de Internacional. Interessou-se por aviação ao traduzir o livro sobre a saga dos aviadores poloneses durante a II Guerra Mundial (A Question of Honour, l. Olson & S. Cloud). Prepara uma biografia da pioneira da aviação Ada Rogato.

Márcia Cristina Gonçalves de Souza é jornalista di-plomada pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro; pós-graduada em Gerência de Marketing pela ESPM, São Paulo, e em Gestão Empresarial pela Universidade Católica do Salvador, Bahia. É palestrante e autora do livro Ética no ambiente de trabalho.

Maria Angela Silveira de Souza é jornalista e publi-citária. Iniciou carreira respondendo pela área de pro-paganda da Livraria Nobel, em São Paulo, passando depois para a área de assessoria de imprensa e comu-nicação, atendendo a editoras, universidades e outras empresas de cunho cultural, como a Blue Comunica-ção e a Editora de Cultura.

Mirian Paglia Costa é bacharel em direito e em jor-nalismo, tendo atuado em jornais e nas revistas Visão e Veja. É publisher e diretora editorial da Editora de Cultura e da revista DEFESA LATINA. É autora dos li-vros Colar de maravilhas e Notícias do lugar comum, entre outros títulos.

Peterson Ferreira da Silva, bacharel e mestrando em Relações Internacionais; participa do Programa Pró-Defesa do Ministério da Defesa e Capes.

Rita de Sousa é jornalista diplomada pela Unesp-Bauru e se especializou em revistas segmentadas. Atuou como assistente editorial da Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, e como edi-tora das revistas IColetiva, do Núcleo de Inteligência Coletiva Aplicada à Educação, e OESP Construção.

efemérides

Americanos esperam lançamento da Apollo 11

(foto NASA)

Fat Man, a bomba de Nagasaki

(foto: Wikimedia Commons)

Duque de Caxias, patrono do Exército

Brasileiro

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