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Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XVII • Nº 202 • Março 2016 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

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GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

CCCultivar

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes

• AssinaturasNatália RodriguesClarissa CardosoAline Borges Furtado

• ExpediçãoEdson Krause

Destaques

Índice

Sustentabilidade pressionada - 26A luta para manter a longevidade das ferramentas de controle químico da

ferrugem asiática, em um cenário favorável à doença e que vai exigir manejo intenso

Insetos vorazes - 10Como manejar de modo

adequado pragas que atacamas plântulas de milho

Diretas

Poda no café adensado

Pragas de plântulas em milho

Nematoides em cana

Mancha alvo em algodão

Nematoide das galhas

Capa - Ferrugem asiática

Dessecação em soja

Diversificação sustentável de soja

Empresas - CBC Negócios

Lagarta-da-panícula em arroz

Mancha amarela em trigo

Coluna ANPII

Coluna Agronegócios

Mercado Agrícola

Observação atenta - 36A necessidade de reforçar os cuidados com a lagarta da

panícula em áreas de arroz irrigado

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Nossa capa

Lucas Navarini

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dIretAS

04 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Novos rumosCom 20 anos de carreira e após ocupar vários cargos na Dow Agrosciences, Mozart Fagundes Júnior retorna ao Brasil como diretor de Sementes e Biotecnologia. Du-rante o Show Rural, o executivo destacou que o país é um mercado prioritário para a Dow, onde a empresa realiza investimentos frequentes, como o laboratório localizado em Cravinhos, São Paulo, e também o Centro de Pesquisa em Melhoramento e Conversão de Traits, em Sorriso, Mato Grosso. “Com um portfólio robusto na área de sementes e biotecnologia, as ações da empresa são sempre focadas na necessidade do agricultor e na melhoria do agronegó-cio”, afirmou Fagundes Júnior.

VisitaMark Woodruff, Global Corn Trait Project Leader da Dow Agrosciences, esteve presente pela primeira vez no Show Rural Coopavel, em Cascavel, no Paraná. O executivo elogiou o evento e também reafirmou a im-portância do Brasil para a companhia.

SoluçõesA Syngenta apresentou suas soluções e serviços para o público visitante do Show Rural Coopavel. O destaque da marca ficou com o fungicida Elatus, que apenas no primeiro ano já tratou 13 milhões de hectares de soja, com média de aumento de produtividade de 3,25 sacas por hectare, segundo o fabricante. Com o apoio de um vídeo wall e também de óculos rift, os visitantes puderam ampliar o conhecimento sobre o produto, seus benefícios e resultados. Além disso, o recém-lançado aplicativo de Elatus, “Aplicou, Rendeu”, pode ser explorado em um totem disponível no estande.

Mark Woodruff

PresençaOs principais executivos da Syngenta marcaram presença no Show Rural Coopavel, em fevereiro, em Cascavel, no Paraná. A participação reconhece a importância do evento, referência em agronegócio e um dos mais importantes do Brasil.

Mozart Fagundes Júnior

HíbridosDurante o Show Rural Coopavel, a Morgan Sementes e Biotecnologia lançou os híbridos de milho MG600 e MG580. Os agricultores que visitaram o estande tiveram a oportu-nidade de observar parcelas demonstrativas com os dois híbridos já em ponto de co-lheita. “O MG600 alia alta produtividade com estabilidade produtiva. Já o MG 580 é um híbrido versátil com alto potencial produtivo, tanto para o verão quanto para a safrinha”, explicou o gerente de Marketing Denilson Anderson Rigonatto.

SementesDurante o Show Rural Coopavel, a Monsanto lançou a Refúgio Max, primei-ra marca de sementes para o refúgio do milho. Outro destaque foi a tecnologia para a proteção da raiz da planta, VTPRO3. “Por meio da conscientização e adoção das boas práticas agronômicas, o produtor certamente manterá o incremento de produtividade e consequentemente melhor retorno econômico sobre o seu negócio. Este é o principal objetivo da companhia”, afirmou o gerente de Biotecnologia de Milho da Monsanto, Guilherme Lobato.

TridimensionalA UPL inovou na apresen-tação de seus produtos aos visitantes do Show Rural 2016. Com o Multissítio Experience, a empresa mostrou através de uma demonstração tridimen-sional com óculos de realidade aumentada, como o fungicida Unizeb Glory atua na célula do fungo da ferrugem-asiática. Os visitantes foram recepcionados pelas já conhecidas persona-gens da campanha.

ManejoO manejo correto do controle das doenças com o portfólio da Basf foi mostrado de forma prática no estande da empresa no Show Rural Coopavel 2016, possibilitando ao agricultor conferir a performance do fungicida Orkestra, recomendado no controle da ferrugem e da mancha alvo em soja. Com um time formado por especialistas nos produtos, a Basf acolheu os visitantes, tirando dúvidas, mostrando novas soluções para pragas, doenças e invasoras.

Denilson Anderson Rigonatto

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Mozart Fagundes Júnior

TendaA Dow AgroSciences levou ao Show Rural Coopavel a Tenda de Boas Práticas Agrícolas. Lá foram apresentados três temas de forma interativa: Tecnologia de Aplicação, com um Simulador de Deriva desenvolvido em parceria com a Unesp; Manejo da Resistência de Plantas Daninhas, através de uma plataforma digital, e Manejo de Resistência de Insetos, que abordou aspectos importantes como o refúgio, que tem por objetivo assegurar a gestão da biotecnologia e garantir sua longevidade.

DestaquesA Dow AgroSciences destacou no Show Rural Coopavel duas novas alternativas de controle para as culturas de soja, milho e trigo. O inseti-cida Exalt, com tecnologia para o controle de lagartas em soja e milho e altíssimo efeito de choque, e o herbicida Tricea, pós-emergente seletivo para a cultura do trigo, com amplo espectro de controle de plantas daninhas. Também destacou a tecnologia PowerCore, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, que atua contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura.

ProtetorUnizeb Glory, nova tecnologia para pro-teção de soja e milho da UPL Brasil, foi lançada no Show Rural Coopavel. De acordo com o gerente de Marketing da UPL Brasil Gilson Oliveira, o Unizeb Glory é a primeira mistura de protetor e solução sistêmica com ação multissítio para manejo de resistência de fungos. “Sua ação multissítio garante, além da produtividade, um excelente controle no manejo de resistência das doenças”, afirmou Oliveira.

PercevejosOs grandes destaques da FMC durante o Show Rural Coopavel foram o fungicida Authority - para controle da cercosporiose no milho, doença que causa necrose foliar; e os inseticidas Talisman e Hero - para controle de percevejos na soja e no milho. “O time FMC atendeu aos produtores de maneira personalizada para as necessidades da sua região”, afirmou o gerente de Marketing Sul da FMC, Claudinei Goi. No estande, os visitantes puderam assistir a uma encenação, que, de forma divertida, abordou a problemática do ataque de percevejos.

ReforçoCom mais de 20 anos de experi-ência no mercado de defensivos agrícolas, o engenheiro Marcelo Figueira assumiu a gerência de produtos fungicidas na empresa UPL. “Chego com o objetivo de dar continuidade aos projetos do segmento de fungicidas da UPL, que agora ganhou também mais um produto, o Unizeb Glory, para fortalecer ainda mais o por-tfólio”, projetou Figueira.

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 05

FeedbackCom foco no fungicida Orkestra, a Basf recebeu um grande número de produtores em seu estande no Show Rural Coopavel 2016, que tiveram a oportunidade de con-ferir os benefícios do produto aplicado. Para o coordenador de marketing para Cultivos Extensivos, Gustavo Bastos Alves, foi uma grande satisfação receber os agricultores no estande e obter feedback positivo em relação à performance do produto. “Isto nos traz alegria e motivação para continuarmos tra-zendo novas tecnologias que proporcionem maiores rentabilidades para o agricultor. Esse é o nosso compromisso”, enfatizou. Gustavo Bastos Alves

Gilson Oliveira

Ricardo Calçavara e Marcelo Figueira

Monitoramento da ferrugemO Consórcio Antiferrugem dispo-nibiliza um aplicativo para produ-tores, técnicos e estudantes com a finalidade de monitorar a disper-são da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi) no Brasil. Utilizando-se de mapas de risco o aplicativo demonstra a dispersão da doença no decorrer das safras, permite a pesquisa por cidades onde houve focos e apresenta os detalhes sobre cada ocorrência registrada. O aplicativo está disponível na Apple Store e na Google Play.

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06 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

RedeA Bayer participou do Show Rural Coopavel 2016 com destaque para a Rede AgroServices, plataforma digital de relacionamento que reúne produtores, cooperativas, prestadores de serviço, pesquisadores e distri-buidores. “A Bayer tem muito orgulho de liderar esta iniciativa e ajudar a conectar importantes elos para mostrar a força e a importância do agronegócio brasileiro”, destacou o gerente comercial da Bayer para a região de Toledo, Paraná, Everton Queiroz. O objetivo é debater o de-senvolvimento da agricultura brasileira, compartilhando visões, somando conhecimentos e multiplicando possibilidades de negócios.

Fertilizantes foliaresA Spraytec esteve presente no Show Rural Coopavel, onde apresen-tou aos seus clientes e visitantes a sua linha de fertilizantes foliares. O destaque foi o fertilizante foliar Ultrazeb Premium que tem como função trabalhar em três conceitos: sanidade, tecnologia de aplicação e nutrição. Segundo o consultor de vendas Eduardo Vasconcelos, o Ul-trazeb Premium é recomendado para promover a proteção e favorecer a sanidade das plantas. “Devido a sua composição inovadora e líquida é rapidamente associado à calda e a outros produtos, possibilitando uma melhor qualidade da aplicação e distribuição nas plantas", explicou.

LançamentoA Nidera Sementes participou do Show Rural Coopavel. “Na feira, apresentamos o lançamento NS 6906 Ipro, cultivar de soja de alta produtividade, com ampla adaptação geográfica, elevado peso de grão e potencial para antecipação do plantio de safrinha. Já temos excelentes resultados desta cultivar nas regiões Sul e Centro”, destacou Nélio Reis, Marketing e Comunicação da Nidera Sementes.

Para o plantioQuem visitou o estande da Brasmax no Show Rural Coopavel pôde conferir os lançamentos Brasmax Lança Ipro e Brasmax Garra Ipro. “A Brasmax Garra Ipro é adaptada para M1 e M2, possui estabilidade em plantios antecipados e bom comportamento. Já a Lança Ipro, reco-mendada para M1 e Oeste Alto do Paraná, possui potencial produtivo e arquitetura de planta semelhante à Brasmax Alvo RR”, afirmou o supervisor comercial, Fernando Frehner.

LinhaEste ano, quem visitou o estande da Adama no Show Rural Coopavel pôde conferir as novidades na sua linha de produtos voltados ao manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. “Reconhecemos a importância do evento, já verificada durante os mais de dez anos em que participa-mos”, destacou o gerente de Marketing de Culturas, Fabrício Pacheco.

TecnologiaA Alta-América Latina Tecnologia Agrícola, empresa do grupo Agrihold, participou pela primeira vez do Show Rural Coopavel. De acordo com o gerente de Marketing e Vendas Ernesto Eugênio Belloto, a empresa focou na sua linha de defensivos agrícolas, com ênfase no fungicida Evos e demais produtos para o controle fitossanitário em milho. O gerente também destacou o Vitasoil, complexo orgânico que nutre e estimula os microrganismos benéficos no solo e nas plantas.

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www.revistacultivar.com.br • Março 2016 07

SafrinhaA marca Sementes Agroceres levou ao Show Rural Coopavel seus hí-bridos para região Sul e lançou duas tecnologias para a safrinha deste ano - AG 9000 PRO3 e AG 8780 PRO3. O híbrido AG 9000 PRO3 apresenta potencial produtivo, superprecocidade e qualidade de grãos. Já a cultivar AG 8780 PRO3 oferece teto produtivo, grãos pesados e um rápido florescimento, o que ajuda na redução de riscos contra secas e geadas.

NovidadesA BioGene levou suas novidades ao Show Rural Coopavel 2016. Durante o evento, os produtores que visitaram o estande puderam conhecer o Tratamento de Sementes Industrial com DuPont Dermacor, solução para controle de corós e lagarta-do-cartucho-do-milho nas fases iniciais da lavoura. “A nossa equipe de representantes e engenheiros agrônomos apresentou também as novas tecnologias associadas às recomendações de manejo para que os produtores possam atingir maiores produtividades”, complementou o gerente de Conta da BioGene na região do Paraná e Paraguai Marcos Gruzska.

CampanhaDurante o Show Rural Coopavel, a Monsoy reforçou a campanha de 20 anos da marca no Brasil, criada para fortalecer o relacionamento com o produtor de sementes e o sojicultor. “O destaque para a feira foi a variedade precoce M5705, que oferece grande amplitude de plantio, além de proporcionar alto potencial produtivo e sanidade de planta” destacou o representante de Licenciamento Monsoy, Edson Jatti.

ConceitoA Arysta aproveitou o Show Rural Coopavel 2016 para apresentar o Con-ceito Pronutiva: soluções com foco em proteção e nutrição dos cultivos. Além disso, a equipe técnica da empresa ministrou palestras técnicas com foco em Biosolutions e ervas resistentes. “Para a Arysta, a feira represen-ta uma oportunidade de estar em contato com o produtor, levando as informações necessárias para que ele atinja o melhor resultado na sua colheita”, destacou o gerente de Produtos e Mercado, Marcus Bonafé.

Área tecnológicaOs produtores que visitaram a área tecnológica da DuPont Pioneer no Show Rural Coopavel 2016 puderam conhecer toda linha de produtos recomendados para o plantio na região Sul do País. “Para o verão lançamos os híbridos P1680YH, P3271H e P3779H e, para a safrinha, os híbri-dos P3380HR e P3456H. Na soja, o destaque é a nova cultivar 95Y52, produto com precocidade e alta produtividade”, explicou o gerente das regiões do Paraná e do Paraguai, Gino Di Raimo Júnior.

EquipamentoA Limagrain levou ao Show Rural 2016 o NIRS, um equipamento portátil para análise bromatológica de silagem. “O projeto LGNA tem consolidado a Limagrain como líder mundial em silagem de milho, que visa a obtenção de uma linha de variedades que combinam alto rendi-mento, com alta qualidade e valor nutritivo”, destacou o engenheiro de Marketing e Desenvolvimento, Maico Silva.

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08 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Café

Como podarEfeito de diferentes distâncias de corte dos ramos

laterais e tipo de esqueletamento em cafeeiros conduzidos em sistema de plantio adensado

Na cafeicultura de montanha, a adoção de sistema de plantio adensado é uma condição

essencial para a obtenção de elevada produtividade e maior competitividade em áreas onde não é possível mecanizar. Nas lavouras adensadas ocorre rápido fechamento das plantas nas entre linhas e consequente dificuldade de manejo. A solução mais usada nessas lavouras, para facilitar os tratos culturais e recuperar as plantas, tem sido a recepa, efetuada quan-do os cafeeiros já perderam a saia, sistema que leva à redução de produção nos dois

anos seguintes. A alternativa de uso da poda, deno-

minada esqueletamento, é indicada para a renovação da ramagem, com menores perdas produtivas das plantas em curto prazo. Restam, no entanto, dúvidas sobre as distâncias de corte dos ramos laterais em relação ao tronco, especialmente nas lavouras muito adensadas.

No presente trabalho objetivou-se estudar o tipo de esqueletamento mais adequado em lavouras adensadas, mas ainda sem perda de saia, a mesma que seria aplicada em sistema safra zero.

Fotos Divulgação

Foi conduzido um ensaio no muni-cípio de Martins Soares, Minas Gerais, no Centro de Pesquisas Cafeeiras Eloy Carlos Heringer (Cepec), pertencente à Fertilizantes Heringer, em lavoura de café Catuaí vermelho IAC 44, plantada em 1993, no espaçamento de 1,50m x 0,70m, recepada em 2008. Foram montados seis tratamentos, sendo cinco tipos de esqueletamento (tamanho de corte dos ramos laterais e formato do corte), mais a testemunha sem poda. O decote, ou seja, o corte da haste prin-cipal da planta, foi feito a 1,50m nos tratamentos 1 a 4, e no 5º (poda regio-nal) foi usado decote a 1m, conforme se utiliza na região para recuperação de lavouras.

O ensaio foi instalado em blocos ao acaso, com parcelas de quatro linhas, de dez plantas cada, em um total de 40 plantas por parcela. Foram implantadas quatro repetições.

Os tratamentos de poda foram aplica-dos em setembro de 2010 e a área recebeu os tratos usuais recomendados nesses últimos quatro anos.

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Para avaliação do efeito das podas foram controladas até o momento três safras, no período 2011, 2012 e 2013, com a colheita e conversão de litros por planta para sacas por hectare.

Resultados e conclusõesOs resultados de produtividade nas

três safras são demonstrados na Tabela 1.Verificou-se que, na média das três

safras, o esqueletamento onde os ramos foram cortados mais longos (50cm e 30cm) ou em forma de árvore de Natal, resultou em maiores produtividades. Onde houve poda mais curta e com menor altura no decote ocorreu perda de produtividade em relação aos outros tipos de esqueletamento. No que diz respeito à testemunha, não houve melhoria produtiva pelo esquele-tamento, como é comum, ainda mais em

Muitas vezes restam dúvidas sobre as distâncias de corte dos ramos laterais em relação ao tronco, especialmente nas lavouras de café conduzidas em sistema de plantio muito adensado

CC

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 09

Tabela 1 - Produtividade em cafeeiros adensados submetidos a diferentes tipos de esqueletamento, Cepec/Fertilizantes Heringer. Martins Soares (MG), 2013

201100

42,215,0

0129,3

2012132,3134,6114,3144,0115,257,9

Tratamentos

Esqueletamento a 10cmEsqueletamento a 30cmEsqueletamento a 50cm

Esqueletamento em forma de árvore de Natal Poda regional (corte a 10cm e decote a 1m)

Testemunha, sem poda

201368,575,581,475,387,687,3

Produtividade (sc/ha)201368,575,581,475,387,687,3

O esqueletamento é indicado para a renovação da ramagem com menores perdas das plantas em curto prazo

função da primeira safra nas plantas deste tratamento ter sido alta. O ensaio deverá ser conduzido por mais duas safras.

Preliminarmente é possível concluir que o esqueletamento com corte mais longo dos ramos, possibilitando maior brotação e multiplicação de novos ramos produtivos, resulta em maior produtivida-de em relação ao corte mais curto.

Gustavo Nogueira G. P. Rosa e Henrique Maia Ribeiro,Fertilizantes Heringer José Brás Matiello, ProcaféSinésio Leite Filho,Fazenda HeringerVinícius Vieira Cunha, Cepec – Fertilizantes Heringer

Ensaio foi conduzido no município de Martins Soares, no estado de Minas Gerais

CC

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10 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Insetos vorazesCom a expansão do cultivo do milho para outras regiões agrícolas, no Brasil, cresceu também

o número de pragas que atacam as plântulas. É o caso da lagarta elasmo, lagarta rosca, percevejo barriga verde, cigarrinha, tripes, lesmas e caracóis. O tratamento de sementes,

aliado a outras estratégias de manejo, está entre as principais ferramentas para o controle destes insetos, capazes de resultar em severas perdas quando não manejados adequadamente

As plantas de milho podem ser ataca-das por pragas desde a germinação das sementes e emergência das

plantas até a fase de maturação fisiológica dos grãos, sendo esses organismos maléficos constituídos por insetos, moluscos, diplópodes e ácaros. Essas pragas são classificadas como de importância primária, regional ou secundária, em função da sua frequência de ocorrência, abrangência e do potencial de danos que podem causar na cultura.

Os sistemas de produção de grãos da re-gião Centro-Oeste constituem um ambiente favorável para o estabelecimento de pragas, pois prevalece o cultivo do milho em exten-sivas áreas tanto no período de verão quanto na safrinha, além do cultivo de uma planta de cobertura entre o cultivo de inverno e de

verão. Com a expansão da cultura do milho para novas regiões agrícolas, tem-se observado um número crescente de pragas que atacam plântulas. O surgimento destes novos orga-nismos pragas nos agroecossistemas de milho pode ser explicado pela sua adaptação a esta cultura, na ausência dos hospedeiros nativos ou como consequência de uma ação seletiva dos produtos químicos de amplo espectro utilizados para controle de desfolhadores e sugadores na cultura.

LaGarTa-ELaSMoA lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus

Zeller, é uma praga que pode danificar plan-tas jovens de milho, especialmente quando o inseto já estiver presente na cobertura a ser dessecada (exemplo trigo, aveia) para a

semeadura da cultura. O inseto é polífago, ou seja, alimenta-se de diversas espécies de plantas cultivadas, silvestres e daninhas, em especial de gramíneas e leguminosas. O adulto faz a postura nas plantas de milho, no solo ou em restos culturais presentes na área. Após a eclosão, as larvas alimentam-se inicialmente de matéria orgânica ou raspam o tecido vegetal e, em seguida, penetram no colo da planta, um pouco abaixo do nível do solo, onde constroem uma galeria ascendente. Próximo ao orifício de entrada na planta, as larvas tecem um casulo formado de excrementos, restos vegetais e partículas de terra, sintomas que caracterizam a presença da praga na área. Uma mesma lagarta pode atacar até três plantas de milho durante a sua fase larval, sendo do período da emergência até os 30 dias de desenvolvimento

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das plantas a fase da cultura mais suscetível ao ataque da praga. Como consequência do dano de elasmo nas plantas de milho surge o sintoma denominado de “coração morto”, caracterizado pelo murchamento das folhas centrais, que se destacam facilmente quando puxadas, causando a obstrução no transporte de água e de nutrientes do solo para a parte aérea da planta. Nestes casos, pode ocorrer também o perfilhamento, o que torna a planta improdutiva. A intensidade de danos de elasmo no milho é maior e mais frequente em condições de alta temperatura e de défi-cit hídrico no solo, especialmente em solos arenosos ou mistos conduzidos em plantio convencional, como eventualmente ocorre na região do Cerrado.

LaGarTa-roSCaDiversas espécies de lagarta-rosca ocor-

rem na cultura, sendo Agrotis ipsilon a mais frequente. A denominação lagarta-rosca é decorrente do hábito que este inseto possui de se enrolar, tomando o aspecto de uma rosca, quando tocada. De modo geral, a plântulade milho é atacada pela lagarta-rosca quando apresenta até 50cm de altura, manifestando de acordo com Cruz et al (1987) três sin-tomas diferentes: a) Inicialmente evidencia seccionamento parcial do colmo e, quando a lesão é grande, provoca o sintoma conhecido como “coração morto”; b) surgimento de manchas semelhantes às causadas por defi-ciências minerais, quando a lesão é pequena ou c) perfilhamento da planta, tornando uma “touceira” improdutiva.

PErCEvEjo barriGa-vErdEAs espécies Dichelops melacanthus e D.

furcatus são relatadas como constituintes do complexo de pragas secundárias da soja em

várias regiões do Brasil. Todavia, em 1993 foi relatada pela primeira vez no Brasil a ocorrência de D. melacanthus causando danos em plântulas de milho no município de Rio Brilhante, MS (Ávila & Panizzi, 1995). Desde então, as espécies D. melacanthus e D. furcatus, em ocorrência simultânea ou não, têm sido encontradas em lavouras de milho do Brasil. O inseto apresenta a parte dorsal marrom e a ventral verde, daí o nome barriga-verde. Os ovos, de coloração verde-azulada, são coloca-dos sobre as folhas do milho ou até mesmo de plantas daninhas. Durante a alimentação, esses percevejos posicionam-se, normalmen-te, no sentido longitudinal da planta, com a cabeça orientada para a região do colo. Se, no processo de alimentação, o meristema apical for danificado, as folhas centrais da plântula murcham e secam, manifestando o sintoma denominado “coração morto”, podendo também ocorrer o perfilhamento da planta. Quando o meristema apical não é danifica-do, as primeiras folhas que se desenrolam do cartucho apresentam estrias esbranquiçadas transversais, muitas vezes com perfurações

de halo amarelado, provenientes das punções que o inseto fez quando se alimentou na base da planta ainda jovem. Quando as folhas do cartucho não conseguem se desenrolar, conferem um aspecto de “encharutamento” da planta. Os danos causados pelo percevejo barriga-verde no milho têm sido mais acen-tuados na época de cultivo safrinha, uma vez que o inseto se multiplica no verão, ao final do cultivo da soja.

Além do percevejo barriga-verde, outras espécies de percevejo como Euschistus heros e Nezara viridula podem eventualmente atacar as plântulas de milho, porém com menor ca-pacidade de causar danos que o barriga-verde.

lesmas e caRacóisAs lesmas e os caracóis são moluscos da

classe Gastropoda, que ocorrem com maior frequência em ambientes úmidos e frescos. As lesmas apresentam o corpo nu, mas os cara-cóis carregam sobre o seu dorso uma capa ou concha de carbonato de cálcio, que lhe confere abrigo e proteção. Estes organismos são muito sensíveis à desidratação e nos períodos secos ficam inativos enterrados no solo ou sob a pa-lhada de lavouras implantadas em semeadura direta. Essas pragas apresentam maior abun-dância em solos com elevada quantidade de palha ou de matéria orgânica e têm forte asso-ciação com plantas do grupo das leguminosas e crucíferas (exemplo feijão, soja, ervilhaca, nabo-forrageiro, serralha etc). Os ovos das lesmas e dos caracóis são colocados geralmente em grande número nas fendas do solo ou sob restos vegetais em processo de decomposição.

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 11

Planta de milho sob ataque da lagarta Spodoptera cosmioides

A lagarta-elasmo pode danificar plantas jovens, quando já estiver presente na cobertura dessecada

Presença de lagarta Spodoptera frugiperda em área de cultivo de milho

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12 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Tanto as lesmas quanto os caracóis alimentam--se das folhas das plântulas de milho, sendo as injúrias semelhantes a aquelas causadas por insetos. Em Mato Grosso do Sul, as espécies de caracóis e lesmas encontradas na cultura domilho foram identificadas, respectivamente, como Drymaeus interpunctus (Molusca: Buli-mulidae) e Sarasinula linguaeformis (Molusca: Veronicellidae).

TriPESOs tripes, Frankliniella williamsi, são

pequenos insetos amarelados encontrados, com frequência, entre as folhas de plântulas de milho que ainda se encontram enroladas. Os danos causados pelos tripes são frequentemen-te verificados em períodos de estiagens e que prevalecem condições de baixa umidade rela-tiva e temperatura elevada após a emergência das plantas. Em função da raspagem do limbo foliar, as folhas apresentam-se amareladas, esbranquiçadas ou prateadas podendo, em condições de alta infestação, afetar o rendi-mento da cultura.

CiGarriNHa-do-MiLHoA cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis,

é um pequeno inseto cujos adultos medem cerca de 3mm e apresentam coloração variável, do amarelo ao palha. Por serem da família Cicadellidae, apresentam a tíbia do terceiro par de pernas com fileira de espinhos; são muito ágeis e apresentam o comportamento de deslocamento lateral quando molestadas. A importância desta cigarrinha na cultura do milho está no fato de ser vetor da doença denominada “enfezamento”, associada a dois patógenos conhecidos coletivamente como molicutes, cuja incidência tem aumentado nos últimos anos, especialmente em cultivos de milho safrinha. As plantas de milho com sinto-mas desta doença ficam com aspecto marrom--avermelhado (fitoplasma) ou verde-claro (espiroplasma), proporcionando a produção de espigas pequenas, muitas vezes com pouco

ou ausência de grãos. Quanto mais precoce for a infecção da planta pelo patógeno, maior será a redução da produtividade do milho.

MaNEjo dE PraGaS quE atacam plântulas de milhoNo manejo da lagarta-elasmo, tem sido

comprovado que chuvas bem distribuídas, durante os primeiros 30 dias de desenvolvi-mento da cultura, praticamente eliminam a infestação do inseto nas lavouras. No sistema plantio direto, que propicia melhor conservação de umidade do solo, essa praga tem ocorrido em menor intensidade quan-do comparado ao sistema convencional. A pulverização de inseticidas na parte aérea do milho tem proporcionado baixa eficiência de controle da lagarta-elasmo (50%), em razão da posição em que a praga fica alojada na planta. Já o tratamento das sementes do milho com inseticidas sistêmicos tem se mostrado uma tática eficiente para o controle da lagarta--elasmo. Já para o controle da lagarta-rosca, sugere-se realizar aplicações de inseticidas em alto volume, sendo as pulverizações dirigidas ao colo das plantas, de preferência ao entar-decer, utilizando-se os mesmos produtos reco-mendados para o controle da lagarta elasmo.

O controle do percevejo-barriga-verde pode ser realizado preventivamente, com emprego de inseticidas via semente ou em pulverização sobre a cultura. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oes-te evidenciaram que o nível de dano para o controle do percevejo-barriga-verde no milho safrinha é inferior a um inseto para cada cinco plantas de milho na lavoura. Os inseticidas recomendados, em pulverização, para o complexo de percevejos fitófagos da soja são normalmente eficientes no controle do percevejo barriga-verde, no milho. Antes de realizar a semeadura do milho, recomenda-se fazer uma inspeção na área em que a lavoura será implantada para constatar a presença de ninfas e de adultos do percevejo, para avaliar a

necessidade ou não de se tratar as sementes ou até mesmo de efetuar uma pulverização com inseticida logo após a emergência do milho. O período de maior cuidado com o percevejo é durante a fase inicial de desenvolvimento da planta, quando o milho é mais suscetível ao ataque do inseto, ou seja, da emergência da planta ao surgimento da quarta folha aberta (V4) que corresponde à idade entre 15 dias e 20 dias após a emergência das plantas.

Para o controle de lesmas e caracóis, pro-dutos à base de metaldeído são sugeridos, mas além de terem preço elevado, apresentam baixa praticabilidade para uso em extensas áreas. A dessecação prévia da cobertura infestada com lesmas e/ou caracóis constitui uma medida auxiliar para reduzir a sobrevivência dessas pragas, uma vez que tal operação reduz a umidade e o teor de água na superfície do solo, além de extinguir a fonte de alimento. Trabalhos preliminares conduzidos pela coo-perativa Coamo, em Campo Mourão, Paraná, evidenciaram que a mistura de abamectina + leite integral, colocada em quirelas de milho, constituiu uma isca eficiente no controle de caramujos. Todavia, convém salientar que não existe, até o momento, registro de produtos para o controle de caracóis e lesmas na cultura do milho. Em adição, sugere-se que as aplica-ções de inseticidas ou iscas nas lavouras de milho para o controle de lesmas e caramujos sejam realizadas durante a noite, período em que essas pragas apresentam maior atividade devido às condições favoráveis de umidade e de temperatura e, dessa forma, maior vulnera-bilidade à ação dos produtos químicos.

Para o controle de tripes, os inseticidas sistêmicos aplicados nas sementes dão boa proteção inicial contra o ataque dessa praga no milho. Da mesma forma, pulverizações das plantas, utilizando-se inseticidas de “choque”, podem controlar eficientemente o tripes, especialmente quando se adiciona óleo mineral na calda inseticida. Para o con-trole da cigarrinha do milho, o tratamento de sementes pode proteger as plantas na fase inicial da cultura. CC

O percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus) tem sido encontrado em lavouras de milho no Brasil há vários anos

Crébio José Ávila,Embrapa Agropecuária OesteSilvestre Bellettini,UENP/CLM - Bandeirantes, PR

Lemas alimentam-se das folhas das plântulas de milho e causam injúrias semelhantes às dos insetos

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14 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Cana

Os nematoides são reconhecidos em todos os países produtores de açúcar e de álcool, tecnolo-

gicamente desenvolvidos, como importantes problemas fitossanitários dos canaviais. Esses países, por conseguinte, processam o monitoramento sistemático das populações desses parasitos e efetuam o controle, quando necessário.

No Nordeste, como ocorre nas demais regiões produtoras de açúcar e álcool do Brasil, dois grupos parasitários de nematóides são reconhecidos como indutores de reduções significativas da produtividade agrícola da cana-de-açúcar. São os endoparasitos seden-tários, representados, em primeiro lugar, pelas espécies Meloidogyne javanica e M. incognita, igualmente disseminadas na região. Esses nematoides são responsáveis pela doença denominada meloidoginose, que afeta indis-tintamente as variedades de cana cultivadas no Brasil. Os sintomas primários da doença são galhas e engrossamentos das raízes, formações semelhantes a tumores. Essas galhas podem

ocorrer isoladas ou associadas em aglome-rados. Examinando-se em maior aumento essas hipertrofias, podem também ser vistas necroses, produzidas por micro-organismos oportunistas, que se associam aos nematoides nas síndromes, aumentando a severidade da doença. Em áreas no campo onde ocorrem meloidoginose podem ser vistas reboleiras, ou seja, grupo de plantas da mesma idade, porém com diferentes alturas. Entretanto, em solos de adequada fertilidade e com a presença de boas condições climáticas, as plantas parasitadas apresentam os sintomas primários sem a formação das reboleiras. Outras espécies do gênero Meloidogyne têm sido identificadas associadas à cana-de-açúcar no Brasil. Entretanto, tais assinalamentos têm sido esporádicos e as virulências dessas espécies (capacidade de causar danos às plantas) não reconhecidas. O parasitismo dos nematoides das galhas pode ocasionar perdas que podem atingir valores superiores a 80% da produtividade de campo (toneladas de colmo por hectare), principalmente quando as

condições climáticas e ambientais são desfavo-ráveis à hospedeira, a exemplo das deficiências nutricionais e longas estiagens. O segundo grupo parasitário de fitonematoides é o das lesões radiculares, constituído pelas espécies Pratylenchus zeae e P. brachyurus, sendo a primeira a prevalente e a mais virulenta. Esses nematoides causam a doença conhecida por pratilencose e, igualmente à meloidoginose, também incide sobre todas as variedades cultivadas de cana. Seus sintomas primários são lesões radiculares necróticas, de pequenas dimensões (pouco milímetros), mas que po-dem confluir, formando extensas regiões de coloração marrom ou negra, constituídas por tecidos mortos. Nessas circunstâncias, o siste-ma radicular fica significativamente reduzido em volume e o desenvolvimento da parte aérea e do diâmetro do colmo reduzidos. Em análise pouco atenciosa de campo, essa síndrome pode ser confundida com a do raquitismo das soqueiras, conhecida doença bacteriana, muito frequente no Nordeste. Devido a essas semelhanças, o diagnóstico deve ser feito em

Favorável, por suas próprias características, ao estabelecimento e desenvolvimento de populações de fitonematoides o sistema de cultivo de cana-de-açúcar demanda atenção e monitoramento

criterioso. Combater estes minúsculos organismos passa pelo controle químico, através de nematicidas sistêmicos e pelo uso integrado de múltiplas técnicas de manejo

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condições laboratoriais, evitando-se o diag-nóstico ocular de campo. Nas pratilencoses, geralmente não são observadas reboleiras e sim extensas áreas com plantas raquíticas e portadoras dos demais sintomas da doença. Igualmente aos nematoides das galhas, os das lesões podem ocasionar perdas muito elevadas.

NEMaToidES vErSuS daNoSO sistema de cultivo da cana-de-açúcar

é muito favorável ao estabelecimento e ao desenvolvimento de populações de fitone-matoides no solo. Em primeiro lugar, pelo tipo de plantio, feito em solos desestruturados fisicamente e biologicamente, provocado pela mecanização do solo no pré-plantio. Esse processo dispersa a microfauna e a flora, impedindo supressividade e manutenção de equilíbrio populacional entre os componentes das comunidades edáficas. Com isto, é permi-tido que os fitonematoides multipliquem-se exponencialmente nos primeiros meses de desenvolvimento da cultura, pela alta oferta de alimentos e baixa competitividade biológica. Por outro lado, a cana-de-açúcar é uma cultura de longa permanência no campo, no mesmo lugar, ano após ano. Essas condições fazem com que os nematoides multipliquem-se em escala logarítmica na rizosfera. Assim sendo, as densidades populacionais médias (DPMs) desses organismos no solo atingem valores máximos e mantêm-se em níveis de dano ao longo das sucessivas colheitas. Por ocasião da renovação do canavial, devem ser analisadas dez amostras de solo de rizosfera e dez amos-tras de raízes, colhidas nas mesmas touceiras, distribuídas aleatoriamente, para diagnóstico do campo. Os volumes das amostras e as alí-quotas utilizadas nas análises laboratoriais são padronizados. A média aritmética encontrada com os resultados e que caracteriza a DPM do hectare do talhão é enquadrada em níveis denominados baixos, médios e altos. Esses

níveis foram estabelecidos no Brasil por W.R.T. Novaretti, em 1997 (Quadro 1), no estado de São Paulo. Mais tarde, este sistema foi alterado por Moura, em 2005, procurando ajustá-lo às condições do Nordeste. Muito embora os valores numéricos desses níveis possam variar com o clima, variedade, níveis populacionais do nematoide e condições de fertilidade do solo têm ajudado nos estudos epidemioló-gicos, diagnósticos e tomadas de decisão em Nematologia da cana-de-açúcar. No Nordeste, essas avaliações são conduzidas nos meses de junho, julho ou agosto, quando as DPMs atingem os mais altos níveis anuais, devido ao favorecimento das condições climáticas, especialmente chuvas e temperaturas do solo mais amenas. Paralelamente à determinação

da DPM, devem ser feitas as avaliações das produtividades das unidades de cultivo, utilizando-se o procedimento amostral, pa-dronizado para a cana-de-açúcar. De posse desses dados, ou seja, DPM e produtividade, efetuam-se os cruzamentos, para o estabele-cimento do diagnóstico do campo, segundo o Quadro 2, para posterior tomada de decisão. Caso seja diagnosticada uma fitonematose na unidade produtiva, deve-se programar o controle populacional do agente causal.

contRole químico: nematicidas sistêmicosA primeira opção que se apresenta para

o controle dos nematoides em canaviais é o método químico, que se fundamenta no

Galhas e necroses observadas em cana-de-açúcar, produzidas por Meloidogyne incógnita (esquerda). Uma larga área de reboleira em um canavial, consequência do parasitismo do nematoide (direita)

Agentes das principais fitonematoses da cana-de-açúcar: esquerda: Meloidogyne sp., direita: Pratylenchus sp.

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Síndrome da pratilencose. (esquerda) Necroses e subdesenvolvimento do sistema radicular. (direita) Extensa área formada por plantas raquíticas. Agente causal o nematoide Pratylenchus zeae

uso de um nematicida sistêmico. Trata-se de uma técnica especialmente buscada pelos agricultores por trazer resultados objetivos, em curto prazo (aumento da produtividade, no mesmo ano, na colheita da cana-planta). Os nematicidas podem ser granulados ou líquidos, carbamatos ou organofosforados, e a seleção do produto deverá ser coerente com as previsões das condições climáticas do local no momento da aplicação, ou seja, se é época de chuvas ou de estiagem. Consideram-se também as condições gerais do solo; se mais arenoso ou argiloso. A aplicação do método químico é mais indicada nos casos de popu-lações em níveis médios, para serem reduzidas para o nível baixo. Para populações em níveis altos a aplicação de um nematicida sistêmico passa a ser uma decisão de risco, com baixa probabilidade de sucesso. Para a escolha do nematicida, como armazená-lo e para as recomendações de segurança na aplicação, manuseio e destino das embalagens vazias, um técnico especialista deve ser obrigatoriamente consultado.

O controle químico dos dois grupos de fitonematoides da cana-de-açúcar possui van-tagens e desvantagens. A primeira vantagem é a praticidade da aplicação do produto, que é feita por meio de equipamentos acoplados ao trator. Esses aplicadores depositam o nematicida no fundo do sulco, no momento do plantio, com controle de gastos. Quanto aos resultados esperados, as pesquisas e o uso comercial têm demonstrado aumentos signi-

senvolvimento e produção de colmos na colheita da cana-planta, gerando aumento da produtividade. Este aumento pode ser da ordem de até 50%, comparando-se plantas tratadas com não tratadas. Entretanto, o uso dos nematicidas em cana-de-açúcar apresenta riscos e limitações epidemiológicas, que po-dem comprometer o sucesso das aplicações. A primeira é relacionada com o desaparecimento do efeito residual nematicida, que ocorre, em média, 90 dias contados após a aplicação. Este fato proporciona a volta dos nematoides para um sistema radicular sadio e sem necroses. Também, aos 90 dias, os inimigos naturais ainda não estão presentes de modo efetivo na rizosfera, fato que proporciona alta taxa de reprodução do nematoide-alvo. Consequen-temente, é comum serem encontradas DPMs do nematoide mais altas em plantas tratadas que em não tratadas, por ocasião da colheita da cana-planta, a despeito da sua maior pro-dutividade. Isto pode ser constado em Moura e colaboradores em “Efeito da aplicação de carbofuram em cana-de-açúcar variedade CB 45-3” (Fitopatologia Brasileira, p.503, 1998). Este fato compromete a longevidade das so-cas. Para contornar essa dificuldade, algumas empresas desenvolveram equipamentos para aplicações de nematicidas sistêmicos nas socas, após a colheita anterior. Entretanto, devido aos custos da nova aplicação e a outras implicações, sobretudo ambientais, e também devido aos danos causados às socas pelos equi-pamentos, essa prática tem sido evitada. Um

segundo problema que traz implicações diretas quanto ao sucesso do uso do controle químico é a ocorrência de chuvas durante os 40 dias, contados após a aplicação. Ausência de chuvas durante esse período impossibilita ou diminui a taxa de liberação da molécula nematicida para absorção pelas raízes, enquanto chuvas torrenciais provocam lixiviação, com perdas do produto e consequências ambientais negati-vas. No Nordeste é comum a ocorrência desses dois fenômenos climáticos durante a época do plantio da cana-de-açúcar. Somam-se a essas dificuldades a relação custo-benefício do método, pois os preços dos nematicidas sistê-micos estão associados às variações cambiais, e os malefícios à saúde humana e ao meio ambiente, causados pelos efeitos tóxicos dos resíduos nematicidas. Todos os nematicidas sistêmicos são da classe toxicológica 1, ou seja, altamente tóxicos. Atualmente, admite--se como valor de referência na avaliação do sucesso de uma aplicação de nematicida sistêmico em cana-de-açúcar, um aumento mínimo 25t/h. Essa relação pode variar com as variações do preço do produto comercial e da tonelada da cana. Em condições ideais para a aplicação, este valor é facilmente obti-do. A despeito dessas dificuldades, o controle químico dos nematoides da cana-de-açúcar por meio dos nematicidas sistêmicos continua sendo recomendado para situações definidas, conforme mostra o Quadro 2.

contRole integRado: múltiplas técnicas associadasO controle integrado dos nematoides da

cana-de-açúcar foi desenvolvido por Moura e Oliveira, em 2009, (Nematologia Brasileira 67-73) e tem por objetivo recuperar canaviais pouco produtivos, destinados à renovação. São consideradas nesta categoria unidades produtivas ou talhões com produtividades iguais ou menores do que 40t/h, em solos com populações de nematoides em níveis altos. Na região Nordeste do Brasil, esses diagnósticos devem ser feitos até o mês de setembro, quando começam as moagens. Após serem diagnosticados, tais canaviais devem ser colhidos, de preferência no fim do período de moagem, ou seja, janeiro-fevereiro. O início do método de controle integrado se dá por ocasião do início do período das chuvas (março-abril). As áreas identificadas como

quadro 1 - valores referentes aos diferentes níveis populacionais dos fitonematoides em cana-de-açúcar

baixo 0 - 2000 -3000-2.500

05

Médio 200-400300-600

2.500 -5.00010

FiToNEMaToidE

Meloidogyne incognitaMeloidogyne javanica

Pratylenchus zeaePerdas (aumento médio em t/h com controle)

Fonte: controle de Meloidogyne incognita, Meloidogyne javanica e Pratylenchus zeae em cana-de-açúcar com nematicidas, associados ou não à matéria orgânica. W.r.T. Novaretti, Tese de doutorado, Esalq (uSP), 1997

alto> 400> 600>5.000

15

Nível populacional (50g de raízes)

quadro 2 - Cruzamento de dados epidemiológicos para tomada de decisão sobre renovação de canavial

baiXa (<40t/h) (1) renovar com outra variedade

(3) Não renovar(5) Não renovar

aLTa (> 40 t/h) (2) renovar simplesmente

(4) renovar (6)Não renovar

NEMaToidEPopulação de campo (níveis)*

baiXamédiaaLTa

*Fundamentado em W.r.T. Novaretti (1997), modificado por r.M. Moura (2005)

Nível populacional (50g de raízes)

ficativos da brotação, perfilhamento, de-

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1- Aparente reação de intolerância. O campo deve ser renovado com outra varie-dade. Outro agente pode estar envolvido;

2- O solo encontra-se em supressivi-dade e o campo pode ser renovado. Com este nível populacional não haverá danos mensuráveis. Não é necessário controle. Se possível, usar o cultivo mínimo;

3- Reação de suscetibilidade. Aplicar o sistema integrado de controle ou o controle químico. Outro agente causal pode estar envolvido;

Orientações Gerais 4- Situação não definida de susceti-

bilidade ou tolerância. A renovação do campo pode ser efetuada e a aplicação de um nematicida tende a trazer benefícios econômicos à cana-planta. O controle integrado aplica-se ao caso.

5- Reação suscetibilidade. Deve-se aplicar o sistema integrado de controle. O controle químico passa a ser de risco econômico.

6- Reação de tolerância. Deve-se aplicar o sistema integrado de controle.

pouco produtivas, segundo o diagnóstico de campo, devem ser limpas, com a retirada das socarias, seguindo-se a destruição com fogo. Em seguida, o solo deve ser preparado para o plantio da Crotalaria juncea (geralmente no início de abril), efetuando-se a incorporação da cultura na primeira quinzena de julho, sem-pre por ocasião da floração. Trinta dias mais tarde, após a mineralização da maior parte do material orgânico incorporado, faz-se o plantio da mucuna-preta (Mucuna aterrima) (primeira quinzena de agosto), com incorpo-ração em novembro, também por ocasião da floração. Durante o período de novembro até o início das chuvas do ano seguinte (março--abril), a área deve ser mantida em alqueive químico (herbicidas) ou mecânico (aração rasa e incorporação das ervas daninhas). Conforme é costume, o plantio comercial da cana-de-açúcar no Nordeste se dá no início das chuvas. Nesse momento, um especialista em nutrição de plantas deve ser consultado, especialmente para verificar a necessidade de calagem. Os benefícios com o controle inte-grado são muitos. Inicialmente, independen-temente da presença de nematoides no solo, o simples cultivo das duas leguminosas antes do plantio da cana-de-açúcar pode aumentar a produtividade desta gramínea em até 20%, conforme atestam muitos trabalhos da Seção de Leguminosas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a exemplo de “Efeito resi-dual de leguminosas sobre o rendimento físico e econômico da cana-planta”, de A.A. Mas-carenhas et al, (1994) (Boletim Científico nº 32 e, também, o trabalho de Ambrosano et al, 1997, em “Leguminosas para adubação verde, uso apropriado para rotação de culturas”, entre outros. Os referidos autores constataram que estas duas leguminosas superaram todos os demais tratamentos experimentais com outras leguminosas em termos de aumento da pro-dutividade da cana-de-açúcar. Por outro lado, as duas leguminosas, cultivadas em sequência, atuam suprimindo diferencialmente popula-ções de Meloidogyne spp. e Pratylenchus spp. A ação de controle dessas leguminosas é am-

plamente conhecida, conforme demonstraram pioneiramente no Brasil Silva, G.S. em 1988 (tese de doutorado/UFV,MG.), seguindo-se muitas outras publicações pertinentes.

Para operacionalização do sistema inte-grado de controle para nematoides da cana, é fundamental que as usinas e destilarias isoladas façam acompanhamento perma-nente das populações dos fitonematoides, utilizando-se dos seus próprios laboratórios, e de um nematologista bem treinado. Este acompanhamento deve ser feito nos meses mais favoráveis à biologia do parasito, dando preferência às áreas destinadas à renovação. Em nenhuma hipótese talhões improdutivos devem ser colocados em pousio, pois esta prá-tica pode manter populações de nematoides em atividade, devido à diversidade botânica das ervas invasoras, que aumenta a probabi-lidade de ocorrência de plantas hospedeiras no campo.

Até o momento, não existem variedades de cana-de-açúcar resistentes a nematoides. Entretanto, observações de campo têm revelado reações de tolerância em certas variedades. Entende-se por tolerância em Nematologia a capacidade de determinado genoma proporcionar ao hospedeiro uma resistência ao parasitismo de um fitonema-

toide, protegendo-o de danos significativos, mas proporcionando a sua reprodução. Do ponto de vista epidemiológico, o uso da tolerância varietal em Nematologia não deve ser incentivado para a prática rotineira de controle, pois permite o aumento popu-lacional do parasito no solo. Por meio deste aumento populacional descontrolado, o cará-ter tolerância pode ser afetado, assim como os índices de necroses radiculares, tornando sem efeito o primeiro.

Igualmente ao método químico, o controle integrado dos nematoides da cana-de-açúcar possui vantagens e desvantagens. A grande vantagem é se tratar de um método não polui-dor e que enriquece o solo pelo uso dos adubos verdes. As desvantagens residem no tempo requerido (um ano) e na toxidez da crotalária para os animais domésticos. A incorporação das leguminosas, antes dificultada por falta de equipamentos adequados, é feita com relativa facilidade.

Muito embora outras técnicas possam ser aplicadas no controle dos nematoides da cana--de-açúcar, as que foram discutidas parecem ser as mais adequadas.

Romero Marinho de Moura,Univ. Federal de Pernambuco

Demonstração de campo mostrando faixas tratadas com nematicidas à direita e faixas não tratadas à esquerda, com evidentes sintomas de ganhos agronômicos

Parcela com Crotalaria juncea em processo de corte para incorporação

CC

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18 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

A área destinada à cultura do algodo-eiro não teve aumento nos últimos anos. No entanto, a cultura pode

ser encontrada em diversas regiões do Brasil e do mundo, devido à sua utilidade e ampla diversidade de aplicações. O algodoeiro apre-senta rendimento ao produtor desde que seja cultivado com boa técnica cultural. Porém, observa-se uma evolução e o agravamento de doenças na cultura.

As doenças que afetam o algodoeiro são várias, podendo ocasionar danos consideráveis à produção. Sua importância depende de cada local, sendo que algumas destas, consideradas pouco expressivas em determinadas regiões, podem reduzir significativamente a produti-vidade em outras.

Dentre as doenças que ocorrem no algodoeiro, a mancha alvo vem ganhando importância. Existem relatos da sua ocorrência no ano de 2005, na cidade de Campo Verde, Mato Grosso. Naquela ocasião o fungo causou

contínua parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus Chapadão do Sul, se confirmava a presença do patógeno em mais áreas, atingindo ainda a região sudoeste goiana (Chapadão do Céu, Goiás).

O fato foi comunicado ao fiscal federal da Delegacia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Ricardo Hil-man, que por sua vez encaminhou amostras a um laboratório credenciado, no Rio Grande do Sul, que comprovou oficialmente tratar-se do fungo Corynespora cassiicola.

No mesmo ano, nas áreas de cultivo monitoradas e na área experimental da Fun-dação Chapadão localizada no distrito Baús, notou-se com mais clareza a ocorrência e a agressividade da doença na cultura do algo-doeiro. Foi comprovado que inicialmente os sintomas são observados nas folhas do terço inferior da planta de algodoeiro e que levam ao amarelecimento da folha, causando desfolha precoce. Este efeito poderá acarretar danos na produtividade da cultura.

Já no decorrer da safra 2014/2015, a Fundação Chapadão acompanhou áreas com histórico da doença e no início do mês de março já era possível constatar alguns campos com sintomas de mancha alvo (Corynespora cassiicola), no entanto, com um número me-nor de áreas. Atualmente os principais estados brasileiros que cultivam algodoeiro relatam a incidência do patógeno.

diaGNoSEA doença de mancha alvo é caracterizada

por sintomas de lesões pontuais de coloração parda e halo amarelo. Com a evolução são constatadas manchas grandes circulares, de cor castanha, formando anéis concêntricos de coloração mais escura, com uma pontuação no centro da lesão. Inicialmente os sintomas são observados nas folhas da metade inferior da planta de algodoeiro, podendo ocorrer também nas brácteas. A baixa severidade pode levar ao amarelecimento da folha, causando desfolha precoce e quando ocorrem condições climáticas favoráveis, a cultura pode sofrer desfolha severa, podendo, entre dez dias e 15

Alvo manchadoA mancha alvo (Corynespora cassiicola) é uma doença que tem granjeado importância ao longo dos últimos anos na cultura do algodoeiro. Seu manejo exige a integração de vários

métodos de controle como genético, cultural, físico, químico e biológico

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uma desfolha agressiva na cultura (Mehta et al, 2005), sendo divulgada durante congresso de Fitopatologia realizado no mesmo ano. A partir de então, foi considerada como doença secundária, devido à sua constatada incidência em lavouras comerciais. Porém, não existem relatos de impacto econômico neste estado.

No estado de Mato Grosso do Sul o primeiro relato ocorreu durante a safra de 2011/2012. Foram detectados os primeiros sintomas de mancha alvo no município de Costa Rica, pelo engenheiro agrônomo André Luiz Silva, do Grupo Schlatter. Desde então a doença passou a ser monitorada e estudada na região. Na safra 2012/2013, o mesmo fato ocorreu, porém os sintomas na cultura do algodoeiro começaram no mês de abril, e em um número maior de áreas com os sintomas de mancha alvo (Corynespora cassiicola).

Na safra 2013/2014 o fato se repetiu, semelhante ao primeiro ano de identificação. No entanto, ocorrendo no mês de março. Em

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dias, ocorrer a queda das folhas infectadas.Os sintomas iniciais são observados em

lavouras logo após o começo do fechamento das entrelinhas, principalmente nas áreas em que ocorre o maior crescimento de plantas, seja pelo excesso de nutrientes, pelo uso inadequado do regulador de crescimento ou ainda devido à redução do espaçamento entre linhas. Estas condições, associadas a um período chuvoso e temperatura amena, formam um microclima extremante favorável ao desenvolvimento do patógeno, ocasionando as primeiras infecções, que podem desencade-ar uma epidemia.

Tais características podem causar confu-são, devido à semelhança dos sintomas iniciais de outros patógenos, como, por exemplo, a mancha de mirotécio, onde nas folhas, inicial-mente, ocorrem manchas isoladas com anéis concêntricos, circundadas por halo violeta, que ao coalescer causa desfolha. No entanto, as lesões causadas pelo patógeno Myrothecium roridum apresentam esporodóquios, que são estruturas de formas irregulares e negras circundadas por hifas de cor branca. Os es-porodóquios podem ser encontrados junto às lesões, tanto na face inferior quanto superior das folhas.

A mancha de alternaria, causada pelo patógeno que sobrevive em restos culturais Alternaria sp, também pode gerar confusão com a mancha alvo no momento da diagnose. Nas folhas, os sintomas parecem pequenas manchas de formato circular com anéis con-cêntricos enegrecidos e centro marrom a cinza. As lesões velhas apresentam o centro seco e quebradiço. Com a evolução do número das manchas ocorre queda das folhas.

Os sintomas de fitotoxicidez causados pela adubação de fertilizantes também podem apresentar semelhança ao sintoma causado por diferentes patógenos. Assim, é necessária muita atenção aos pequenos detalhes quando realizado o monitoramento da lavoura. Os sintomas podem conter formato irregular, manchas isoladas com anéis concêntricos, com aspecto de escorrimento, coloração variada de acordo com a fonte do nutriente. O local onde prevalecem os sintomas, seja na meta-

de inferior ou superior da planta, ajuda na identificação, pois normalmente os sintomas causados por fertilizantes são observados no terço superior. Neste local dificilmente haverá microclima favorável ao desenvolvimento de patógenos aos quais estes sintomas possam apresentar semelhança.

CoNTroLEDesde a safra 2012, são vários os traba-

lhos desenvolvidos a campo pela Fundação Chapadão e UFMS na busca por alternativas para um controle integrado deste patógeno em algodoeiro. Mas ainda pouco se sabe a respeito do controle desta doença no algodoeiro. Em um primeiro instante é importante que seja realizado o monitoramento para identificar quais talhões e propriedades apresentam a incidência da mancha alvo (Corynespora cassiicola) no algodoeiro e ao mesmo tempo identificar seu comportamento de evolução (Gráfico 1).

Ao analisar o gráfico da evolução dos sin-tomas de mancha alvo na área experimental da Fundação Chapadão (Gráfico 1), nota-se que a incidência ocorre simultaneamente ao

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 19

Sintomas de Corynespora cassiicola na cultura do algodoeiro

Gráfico 1 - Curva de progresso da Mancha alvo (Corynespora cassiicola), na cultura do algodão na região dos Chapadões

Gráfico 2 - Eficácia de fungicidas em relação a curva de progresso de Mancha alvo na cultura do algodoeiro. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. Cv (%)= 27,86. Chapadão do Sul (MS), safra 2014/2015. PNr Produto Não registrado. Fundação Chapadão 2015

fechamento das entre linhas da cultura. É neste momento que se tem a formação de um microclima favorável ao desenvolvimento do patógeno, permitindo o maior progresso dos sintomas. No momento em que a severidade na folha atinge níveis entre 25% e 30%, começa a desfolha da planta em função das infecções severas, resultando aparentemente na redução dos sintomas. Essa desfolha pro-porciona condições desfavoráveis ao desenvol-vimento de C. cassiicola, pois ocorrerá maior incidência de luz, maior ventilação e menor período de umidade, reduzindo seu progresso e proporcionando ao monitor ou avaliador um falso controle da mancha alvo.

São necessárias práticas de controle cul-tural para manipular as condições em que a cultura é cultivada, antes, durante e após o seu início, de modo a desfavorecer o desenvolvi-mento de patógenos e proporcionar o pleno crescimento das plantas.

A planta de algodoeiro, por ser caracteriza-da com hábito de crescimento indeterminado e contínuo, proporciona que as plantas cres-çam e atinjam grande porte. Tal fator permite que a planta produza grande quantidade de

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20 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

folhas, e desta forma impede que com que os raios solares penetrem no interior do dossel da planta acondicionando ambiente favorável ao desenvolvimento do patógeno.

As condições ideais para o desenvolvimen-to da mancha alvo (Corynespora cassiicola) são temperaturas em torno de 22°C e alta umidade relativa do ar. Essas condições podem ser alcançadas quando o manejo da altura de plantas, juntamente com a sua densidade, é realizado de forma inadequada. Desta forma se torna importante efetuar o manejo da altura de forma correta, com a utilização de reguladores de crescimento, a fim de que se obtenham plantas de porte médio com boa aeração no interior do dossel. Já para o manejo da densidade de plantas é importante seguir a recomendação da população de planta adequada. A realização desse manejo com plantas de menores portes e a utilização da quantidade ideal de semente por área fazem com que o ambiente se torne menos propenso ao desenvolvimento da doença.

Outra prática de controle que tem apre-sentado resultado interessante é a rotação de cultura. Esta prática consiste no plantio alternado de espécies diferentes ao longo dos anos. Nas principais regiões produtoras, em função das condições econômicas, o sistema de produção é caracterizado pelo cultivo de soja primeira safra seguida pelo

algodão segunda safra. Este tipo de manejo pode resultar em uma continuidade do ciclo do fungo, aumentando a fonte de inóculo e elevando seu potencial de dano na área de cultivo. Uma das alternativas para enfrentar esse tipo de problema seria a utilização de espécies como milheto e milho, entre outras, pois essas espécies não apresentam susceti-bilidade ao patógeno da mancha alvo, o que consequentemente poderá ajudar a reduzir a quantidade de inóculo na área em questão.

Atualmente a principal doença da cul-tura algodoeira é a mancha de ramulária (Ramularia areola), que há muitos anos exige medidas de controle químico, na região dos Chapadões. É necessário reali-zar ao menos sete aplicações de fungicidas específicos para este fungo. Através dos trabalhos efetuados na safra 2014/2015 com o objetivo de controle químico da mancha de ramulária, ocorreu a incidência de Corynespora cassiicola. Os resultados mostram uma condição preocupante, onde aqueles fungicidas comumente utilizados na cultura do algodoeiro apresentaram baixa eficácia na redução do progresso de mancha alvo, ou seja, é possível destacar que os fungicidas que proporcionam melhor eficácia no controle da mancha de ramulária não apresentam a mesma performance para a mancha alvo (Gráficos 2 e 3).

Um dos trabalhos desenvolvidos pela Fundação Chapadão teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes fungicidas aplicados no início dos sintomas de man-cha alvo na cultura do algodoeiro cultivado na segunda safra em sistema adensado (espaçamento de 0,45m entre linhas) em condições de campo. Neste caso, os fungici-das apresentaram baixa eficácia no controle de mancha alvo no algodoeiro, devido à aplicação ter começado junto aos primei-ros sintomas nas folhas, comprometendo seu desempenho (Gráfico 4). No entanto, houve incremento significativo na produ-tividade em função do controle químico de C. cassiicola (Gráfico 5).

Diante destas condições, a mancha alvo se faz presente no algodoeiro cultivado na região dos Chapadões, sendo necessária a integração de vários métodos de controle de doenças como genético, cultural, físico, químico e biológico, a fim de manter maior sanidade da cultura, o que acarretará ganhos de produtividade frente a este novo proble-ma fitossanitário.

Sintomas de Alternaria sp na cultura do algodoeiro

Gráfico 5 - Produtividade de algodão em caroço em função da aplicação de fungicidas. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. Cv (%) = 3,51. Chapadão do Céu (Go), safra 2013/2014. Fundação Chapadão 2015

CC

Gráfico 3 - Produtividade de algodão em caroço em função da aplicação de fungicidas. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. Cv (%) = 3,51. Chapadão do Sul (MS), safra 2014/2015. PNr Produto Não registrado. Fundação Chapadão 2015

Gráfico 4 - Eficácia de fungicidas em relação a curva de progresso de Mancha alvo na cultura do algodoeiro. Colunas seguidas de cores iguais, não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. Cv (%) = 19,97. Chapadão do Céu (Go), safra 2013/2014. Fundação Chapadão 2015

Alfredo Riciere Dias, Fundação ChapadãoHugo Manoel de Souza e Gustavo de Faria Theodoro, UFMS

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24 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Identificação e manejo

Nematoides de galhas, principalmente das espécies Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica, estão entre os fatores que mais limitam a produção de soja no Brasil, com relatos de perdas de até 56%. O uso de cultivares resistentes

é o método de controle mais eficiente, barato e de fácil assimilação pelos produtores no combate a esse problema

No Brasil, os nematoides forma-dores de galha (Meloidogyne spp.) estão entre os fatores que

mais contribuem para a queda do rendimen-to da soja. Apesar deste gênero compreender um grande número de espécies, Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica são as que mais limitam a produção de soja no País. Meloidogyne javanica tem ocorrência gene-ralizada, enquanto M. incognita predomina em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão.

Levantamentos sistemáticos de perdas por fitonematoides, envolvendo diversas ins-tituições de pesquisa, não estão disponíveis no Brasil. Entretanto, dados de perdas pontuais em soja por conta de nematoides de galha são

Arq

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Em

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Soja

comuns. Por exemplo, Antonio & Oliveira (1989) registraram, em Pedrinhas Paulista, São Paulo, perdas de 18% no rendimento da cultura, em função do ataque de M. javanica. Na safra anterior, em outras propriedades da região, as perdas tinham sido de aproxima-damente 56% (Antonio, 1988). Diferenças anuais nos volumes de perdas causadas por nematoides de galha são comuns e se devem, principalmente, a variações nas condições climáticas.

O ciclo de vida dos nematoides do gênero Meloidogyne depende de alguns fatores, entre os quais a temperatura é um dos mais impor-tantes. A temperatura ótima para a maioria das espécies oscila entre 15oC e 30oC. De modo geral, a 27oC o ciclo completa-se em

25 dias, mas pode se tornar mais longo em temperaturas mais elevadas ou inferiores (Agrios, 1988). Fêmeas adultas, com formato de pera e cor branco-pérola, são encontradas com facilidade no interior de raízes de plantas parasitadas. Cada uma produz, em média, por partenogênese mitótica, cerca de 500 ovos. Esse número pode variar em função da espécie de Meloidogyne, do estado nutricional da planta e da densidade populacional do patógeno na área (Ferraz & Mendes, 1992). Todos os ovos são depositados em uma subs-tância gelatinosa (massa de ovos) secretada por glândulas localizadas no reto da fêmea. Sua eliminação pelo ânus começa antes da oviposição e continua à medida que os ovos vão sendo produzidos. Esses, em diferentes estádios de desenvolvimento, ficam envoltos e protegidos pela matriz gelatinosa. O juvenil de primeiro estádio (J1) sofre ecdise dentro do ovo, tornando-se juvenil de segundo estádio (J2). Após a eclosão, o J2 move-se no solo até encontrar a raiz de uma planta e penetrá-la. Dentro da raiz, o J2 migra para a região dos vasos e, se a planta é suscetível, torna-se se-dentário e começa a alimentar-se das células em volta da sua região labial. Nelas, o nema-toide insere o estilete e secreta substâncias que estimulam o aparecimento das células de alimentação, denominadas células gigantes. Estabelecidos os sítios de alimentação, o nematoide continua seu desenvolvimento, sofrendo mais três ecdises até atingir a fase adulta de macho ou fêmea. O macho, que é vermiforme, não se alimenta e, normalmente, não é necessário para a reprodução de M. incognita ou de M. javanica. Entretanto, sua participação assegura a variabilidade genética, através da recombinação, além de ser um me-canismo de sobrevivência (Eisenback, 1985).

Nas lavouras de soja onde os nematoides de galha estão presentes, são observadas manchas em reboleiras, onde as plantas ficam pequenas e amareladas. As folhas das plantas afetadas normalmente apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, carac-terizando a folha “carijó”. Às vezes pode não ocorrer redução no tamanho da planta, mas, por ocasião do florescimento, nota-se intenso abortamento de vagens e amarelecimento prematuro da planta atacada. Em anos em que ocorrem estiagens prolongadas, na fase de enchimento de grãos, os danos tendem a ser maiores. Nas raízes das plantas parasitadas, se observam galhas em número e tamanho variados, dependendo da suscetibilidade da cultivar e da densidade populacional do nematoide no solo. As galhas não devem ser confundidas com nódulos de Bradyhizobium japonicum, que se destacam facilmente da raiz, o que não se dá com as galhas.

Para culturas de ciclo curto como a soja, todas as medidas para o controle dos nema-

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www.revistacultivar.com.br • Março 2016 25

toides de galha devem ser executadas antes da semeadura. Ao constatar que uma área está in-festada, o produtor nada poderá fazer naquela safra. Todas as observações e os cuidados deve-rão estar voltados para os próximos cultivos na área. O primeiro passo é a identificação correta da espécie de Meloidogyne predominante na área. A partir do conhecimento da espécie, monta-se um programa de manejo integrado, que deve incluir várias estratégias. Entretanto, as mais eficientes são a rotação/sucessão com culturas não hospedeiras ou hospedeiras des-favoráveis e, quando disponíveis, a utilização de cultivares de soja resistentes.

A rotação de culturas para controle dos nematoides de galha deve ser bem planeja-da, uma vez que a maioria das espécies cul-tivadas pode ser atacada. Algumas plantas daninhas e adubos verdes também possibi-litam a reprodução e a sobrevivência desses vermes. A escolha da rotação adequada deve se basear, também, na viabilidade técnica e econômica da cultura na região, sendo bastante variável de um local para outro. Para recuperação da matéria orgânica e da atividade microbiana do solo e possibilitar o crescimento da população de inimigos naturais, também é importante incluir, na rotação/sucessão, plantas utilizadas como adubos verdes (crotalárias, brássicas, mucunas, guandus etc) ou para cobertura do solo (braquiárias, milhetos, aveias etc). Como existe variação entre e dentro das espécies vegetais com relação à capacidade de multiplicar as diferentes espécies de Me-loidogyne, somente a partir do conhecimento da capacidade de cultivares e híbridos em multiplicar a espécie predominante na área é que se pode montar um esquema eficiente de rotação/sucessão de culturas.

O método para o controle de nematoi-des mais eficiente, barato e de fácil assimi-lação pelos produtores é o uso de cultivares resistentes. Um sistema radicular mais agressivo e saudável é característico dos genótipos de soja resistentes a nematoides formadores de galha. Atualmente, mais de 100 cultivares de soja resistentes ou moderadamente resistentes a M. incognita e/ou M. javanica estão disponíveis no Brasil (Tabela 1). Todas descendem de uma única fonte de resistência, a cultivar norte-americana Bragg. Como os níveis de resistência dessas cultivares não são muito altos, em situações de populações muito altas do nematoide no solo, antes de semear uma cultivar resistente o agricultor deve fazer rotação de culturas com uma espé-cie vegetal não hospedeira ou hospedeira desfavorável.

Tabela 1 - Cultivares de soja brasileiras com resistência a nematoides de galha. Embrapa Soja, agosto de 2015

CultivarbMX impacto rr

bMX Titan rrbMX Turbo rr

brS 211brS 213brS 216brS 230brS 232brS 239brS 240brS 241

brS 256rrbrS 257brS 260

brS 279rrbrS 282brS 283brS 284brS 285

brS 313 [Tieta]brS 316rr

brS 317brS 318rr

brS 326brS 8160rrbrS 8560rr

brS 8590brS baliza rrbrS CandeiabrS CandierobrS Corisco

brS Favorita rrbrS PétalabrS Pirara

brS raimundabrS Silvânia rrbrS Taura rr

brS Tertúlia rrbrS valiosa rr

brSGo 204 [Goiânia]brSGo 7360

brSGo 7460rrbrSGo 7760rr

brSGo 7963brSGo 8061brSGo 8360

brSGo 8560rrbrSGo 8660rrbrSGo 8661rrbrSGo 8860rrbrSGo 9160rr

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brSGo EdéiabrSGo Gisele rr

brSGo iara

M. incognita---

resistenteresistente

Mod. resistenteMod. resistenteMod. resistente

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Mod. resistenteresistenteSuscetívelSuscetívelresistenteresistenteSuscetível

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*as informações sobre a resistência das cultivares foram obtidas a partir de materiais de divulgação dos respectivos obtentores.

M. javanicaMod. resistenteMod. resistenteMod. resistente

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SuscetívelSuscetívelresistente

Mod. resistenteMod. resistente

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CultivarbrSGo indiarabrSGo ipameri

brSGo jataíbrSGo juliana rrbrSGo LuziâniabrSGo Mineiros

brSGo Mineiros rrbrSGo Paraíso

brSMG 68 [vencedora]brSMG 740Srr

brSMG 752SbrSMG 790abrSMG 810C

brSMG 811CrrbrSMG 850GrrbrSMG Garantia

MG/br 46 (Conquista)Cd 201Cd 202Cd 206Cd 208Cd 214Cd 216Cd 217Cd 218

Cd 219rrCd 224

Cd 225rrCd 226rrCd 229rrCd 230rrCd 231rr

Cd 232Cd 235rrCd 236rrCd 237rrCd 238rrCd 239rrCd 240rrCd 241rr

Cd 246Cd 247rrCd 248rrCd 249rrCd 250rr

Cd 252Cd 254rrM 7908rrM 8109rrNS 7490rr

NS 8270P 97r01

TMG 103rrTMG 1188rr

W 810rr

M. incognitaresistente

Mod. resistenteSuscetível

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Mod. resistenteMod. resistente

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TMGTMG

Wehrmann

M. javanicaMod. resistente

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Mod. resistente

Continua...

...Continuação

Waldir Pereira Dias,Embrapa Soja

CC

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26 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Sustentabilidade pressionada

Favorecida pelo clima, a ferrugem-asiática chegou mais cedo às lavouras de soja do Sul do Brasil, com aumento da pressão da doença e tendência de que a safra demande manejo mais intenso e muita atenção por parte dos produtores. Ao mesmo tempo, cresce a preocupação

com a manutenção da eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado e a busca pela prevenção da resistência e da menor sensibilidade dos fungos à aplicação destes defensivos

O cenário de doenças de soja está sendo bastante atípico na safra 2015/16, principalmente em

função da distribuição irregular de chuvas nas regiões, influenciada pelo fenômeno El Niño. Do início da safra até dezembro, chuvas acima da média ocorreram na metade Sul do País, prolongando a semeadura e dificultando os tratos culturais. Já nas regiões Centro-Oeste e Norte, o baixo índice de chuvas até dezembro dificultou o estabelecimento e desenvolvimen-to das lavouras, com necessidade de replantios em algumas regiões. A ocorrência de doenças está diretamente ligada a fatores climáticos, especialmente umidade, necessária para a infecção da maioria dos fungos.

Na região Sul, o excesso de chuvas teve como consequência a ocorrência de morte de plântulas na fase de estabelecimento da lavoura, algumas vezes em decorrência da morte de radicelas pelo excesso de umidade e ambiente anaeróbico do solo, com posterior colonização de tecidos mortos por fungos, e também diretamente por patógenos, como Phytophthora sojae, causador da podridão radicular de Phytophthora. Mas o destaque na região Sul ficou por conta da incidência precoce da ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. O inverno pouco rigoroso de 2015, também sob influência do El Niño, aliado ao aumento do cultivo de soja safrinha (semeaduras de janeiro), favoreceu a sobrevivência de plantas de soja voluntárias (guaxas ou tigueras) no Sul do Brasil (Figura 1). No mapa do Consórcio Antiferrugem foram cadastradas ocorrências de soja volun-tária nos estados do Rio Grande de Sul e de Santa Catarina durante os meses de julho e agosto. Esses dois estados não adotam o vazio sanitário porque as geadas no inverno geralmente matam a soja tiguera, o que não ocorreu esse ano. O primeiro registro de fer-rugem em lavoura comercial ocorreu em 6 de

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www.revistacultivar.com.br • Março 2016 27

Figura 1 - Mapas com relatos de ferrugem-asiática cadastrados no site do Consórcio antiferrugem (www.consor-cioantiferrugem.net), 2015/16. círculos amarelos - soja voluntária; círculos vermelhos – lavouras comerciais.

novembro, em Tibagi, Paraná, pela Fundação ABC, integrante do Consórcio Antiferrugem. Relatos subsequentes ocorreram em diversos municípios do estado e também no Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul (Figura 1).

Mesmo com clima mais favorável à ocor-rência da ferrugem na região Sul, as lavouras semeadas logo após o final do vazio sanitário tiveram baixa incidência, mostrando que essa ainda é uma das principais estratégias para escapar da doença. Apesar de o produtor ter se preparado para fazer o controle da ferrugem com fungicidas, em alguns casos houve atrasos nas aplicações e nas reaplicações em função das chuvas. Em algumas lavouras, semeadas após a segunda quinzena de outubro, o atra-so nas primeiras aplicações comprometeu o controle, mesmo com os fungicidas mais eficientes.

O estado do Mato Grosso, que normal-mente tem maior pressão de ferrugem em função das chuvas mais regulares, esse ano teve seu primeiro relato em lavoura comercial somente em 4 de janeiro, em Primavera do Leste, pela Ceres Consultoria, em lavoura em estádio R7, já próxima à colheita. A partir daí novos focos foram detectados quase que diariamente, devido principalmente à volta das chuvas no mês de janeiro, ocasionando um aumento na pressão de ferrugem. Outro fator que contribuiu para o incremento da doença foi a intensificação da colheita das primeiras lavouras, espalhando esporos nessa operação. Próximo à maturação há um aumento na produção de esporos do fungo devido à perda de residual dos fungicidas. Todos esses fatores, aliados ao atraso na semeadura, causado pela irregularidade das chuvas no início da safra, caracterizam atualmente um cenário bastante sério quanto ao potencial de perdas que a fer-rugem tem nessa safra no Mato Grosso, visto que a maioria das áreas foi semeada a partir de novembro. Pelos levantamentos que se têm, as lavouras semeadas depois de 31 de outubro têm maior risco de perdas pela ferrugem. Isto por si só demanda uma maior atenção às recomendações para um controle eficiente.

No Oeste da Bahia a semeadura da soja em áreas de sequeiro, que tem início no final de outubro/início de novembro, também foi prejudicada nesta safra pelos veranicos ocorridos na região neste período, e quando associados às pragas iniciais, principalmente a lagarta elasmo, comprometeram seu estabe-lecimento, resultando em replantios e atrasos na instalação das lavouras. Essa situação climática se prolongou pelo mês de dezem-bro e, assim, não foi observada alta pressão das doenças comuns na região. As doenças somente foram observadas com maior fre-quência e intensidade no mês de janeiro, que foi chuvoso na região, dificultando o manejo

e contribuindo para o seu aparecimento. A ferrugem foi detectada pela primeira vez no dia 25 de janeiro, no município de Barreiras, sendo confirmada pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) em soja no estádio R6. A partir dessa data, a ferrugem pôde ser encontrada nas lavouras com soja, mas a evolução cessou com a redução das chuvas em fevereiro. A presença de esporos na região, mantidos pelo orvalho, ainda ameaça a cultura que está fenologicamente mais nova, necessitando atenção dos produtores com o retorno das chuvas, o que pode demandar um manejo mais intenso dessa doença.

Os fungicidas são uma ferramenta im-portante de controle e têm evitado perdas com a ferrugem. No entanto, apesar de haver 119 fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da ferrugem, estes vêm perdendo sua eficiência nos últimos anos em decorrência da seleção de isolados do fungo P. pachyrhizi menos sensíveis aos mesmos. Os

principais fungicidas sítio-específicos registra-dos para o controle da ferrugem pertencem a três grupos químicos, atuando na biossíntese de ergosterol, importante componente da membrana celular dos fungos (IDM, tria-zois) e na respiração mitocondrial, como os inibidores da quinona oxidase (IQo, estrobi-lurinas) e da succinato desidrogenase (ISDH, carboxamidas). Desde 2003/04, os fungicidas vêm sendo avaliados em uma rede de ensaios cooperativos, coordenados pela Embrapa Soja, pela empresa de Tecnologia Agropecuária (Tagro) e pela Universidade de Rio Verde/GO (UniRV). Dos 14 fungicidas avaliados pela rede de ensaios em 2014/15, somente cinco registrados apresentaram eficiência acima de 50% de controle (Tabela 1; tratamentos 6 a 10). As misturas triplas (triazol-estrobilurina--carboxamida; tratamentos 14 e 15), ainda em fase de registro, também apresentaram boa eficiência de controle, mas são combinações dos modos de ação já em uso no campo. Os ensaios em rede da safra 2015/16 estão no

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campo, mas não há nenhum modo de ação novo em teste. Os fungicidas em teste são novas combinações ou misturas prontas com fungicidas multissítios.

Entre os fungicidas sítio-específicos, o único modo de ação que ainda não teve sua eficiência reduzida foram as carboxamidas, em razão da recente entrada no mercado no Brasil (2013). No entanto, casos de resistência a carboxamidas já foram relatados para 14 patógenos no mundo, incluindo fungos como Corynespora cassiicola (em pepino) e Sclerotinia sclerotiorum (em canola), que também são patógenos da soja. Em função da sua maior eficiência, esses produtos tendem a ser mais utilizados, resultando em maior pressão de seleção para resistência a esses fungicidas.

Os fungicidas mutissítios ou protetores tinham sido avaliados quando a ferrugem entrou no Brasil. No entanto, em função da menor eficiência de controle comparado aos triazóis no início dos testes, foram descartados para o controle da ferrugem. Com a redução de eficiência dos triazóis e das misturas de triazóis e estrobilurinas, fungicidas multis-sítios têm sido registrados para o controle de doenças na soja e sua utilização aumentou na última safra em associação aos fungicidas sistêmicos.

Na safra 2014/15, a rede de ensaios ava-liou pelo primeiro ano a eficiência de fungici-das multissítios. Esses fungicidas são antigos, alguns com mais de 60 anos de mercado, e vêm sendo reavaliados para aumentar as opções no manejo de doenças. Nos ensaios em rede, foram realizadas cinco aplicações de fungicidas multissítios isolados, com intervalo médio de dez dias entre reaplicação. A eficiência dos melhores fungicidas multissítios variou de 59% a 69% (Circular Técnica 113), bastante superior a triazóis e estrobilurinas isolados. Os fungicidas multissítios têm sido vistos como uma ferramenta importante em programas de manejo da ferrugem na soja, aumentando a eficiência de controle dos fungicidas já com

problemas de resistência e podendo atrasar o aparecimento nos que ainda não apresentam.

Resistência de fungos a fungicidas é uma resposta evolutiva natural. Aplicações sequen-ciais de fungicidas com um mesmo modo de ação podem selecionar indivíduos resistentes/menos sensíveis, a exemplo do que ocorreu com os triazóis. Uma das formas de reduzir a pressão de seleção para resistência é limitar o número de aplicações de fungicidas na cultura. Como o aumento na necessidade de utilização de fungicidas ocorre com o avanço na época de semeadura, a definição de datas--limites de semeadura pode contribuir para a redução do número de aplicações. Situações de soja semeada próxima a lavouras em maturação com alta infestação de ferrugem podem ser observadas nesta safra (Figura 2). Com a alta quantidade de inóculo do fungo e incidência precoce da ferrugem, essas áreas acabam demandando até sete aplicações de fungicidas, impondo alta pressão de seleção para resistência do fungo que vem de lavouras semeadas mais cedo, onde já ocorreram em torno de três aplicações.

Instruções normativas têm sido propostas limitando a data de semeadura para reduzir a pressão de seleção para resistência. Os estados de Goiás e de Mato Grosso limitaram a seme-adura da soja até 31 de dezembro e a mesma

restrição entra em vigor no Paraná no final de 2016. O objetivo é reduzir as semeaduras que necessitam de maior número de aplicações para atrasar a resistência às carboxamidas. Essas semeaduras após janeiro representaram menos de 1% da área de soja no Brasil em 2014/15 (Figura 3), no entanto, o uso inten-sivo de fungicidas nessas áreas pode acelerar a perda de eficiência dos fungicidas. Essa medida só será efetiva se adotada por todas as regiões produtoras, uma vez que o fungo se dissemina de forma eficiente pelo vento de uma região para outra.

Outra forma de atrasar o aparecimento da resistência é adotando as estratégias antirresistência em todas as semeaduras. As estratégias gerais antirresistência para fungos incluem rotacionar e empregar misturas co-merciais de fungicidas com diferentes modos de ação e sem resistência cruzada; utilizar dose e intervalo de aplicação recomendados pelo fabricante, ajustados para a epidemia da doença, evitando extenso intervalo entre as aplicações; aplicar preventivamente, monito-rando a lavoura e acompanhando a situação de inóculo na região, aplicando próximo ao fechamento das entrelinhas da soja quando a ferrugem já foi relatada na região. Quanto aos produtos com carboxamidas, não devem ser utilizados em mais que duas aplicações por cultivo.

O grande risco de perder os fungicidas atualmente disponíveis reside no fato de que não há nenhum modo de ação novo para entrar no mercado nos próximos anos. Em função de ser um processo natural, é quase certo que a resistência à maioria dos novos fungicidas vai ocorrer. No entanto, a vida útil pode ser prolongada com o uso racional e a adoção de boas práticas culturais. Para ferrugem, essas boas práticas devem incluir todas as estratégias disponíveis como a adoção do vazio sanitário, a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, a redução da janela de

Figura 2 - Lavoura com alta infestação de ferrugem ao ladode lavoura de soja em estádio vegetativo no Rio Grande do Sul

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Figura 3 - distribuição temporal da semeadura de soja no brasil, na safra 2014/15

Aplicativo do Consórcio Antiferrugem está disponível na Apple store e Google play

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semeadura, o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, a utilização de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e o uso de cultivares resistentes.

Cultivares com genes de resistência vêm sendo lançadas no mercado. Essas cultivares apresentam lesões com menor quantidade de esporos e não dispensam a utilização de fungicidas. São ferramentas importantes de

Tabela 1 - Severidade da ferrugem, porcentagem de controle (C) em relação à testemunha sem fungicida, produtivi-dade e porcentagem de redução de produtividade (rP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. Média de 21 ensaios para severidade e de 26 ensaios para produtividade. Safra 2014/15

dose g i.a. ha-1

-1003050

60+2460+2460+7060+100

116,55+58,4560+3060+24

62,5+12060+100

64,8+40+4062,5+87,5+75

Severidade (%)76,9 a63,0 b56,4 d59,8 C45,6 E32,3 F19,7 i27,4 G27,3 G13,6 j44,4 E56,2 d57,2 d23,7 H18,4 i

Tratamento / ingrediente ativo1 testemunha2 tebuconazol 3 ciproconazol

4 azoxistrobina1

5 azoxistrobina+ciproconazol2 6 picoxistrobina+ciproconazol3

7 trifloxistrobina+protioconazol4 8 picoxistrobina+tebuconazol1

9 piraclostrobina+fluxapiroxade5

10 azoxistrobina + benzovindiflupir2 11 azoxistrobina+ ciproconazol1,6 12 azoxistrobina+tebuconazol1,7 13 azoxistrobina+ tebuconazol1,7

14 piraclostrobina+epoxiconazol+fluxapiroxade5,7

15 bixafen+ protioconazol +trifloxistrobina4,7 C.v. (%)

Médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p=0,05). 1adicionado Nimbus 0,5% v/v; 2adicionado Nimbus 0,6 L ha-1 ; 3adicionado Nimbus 0,75 L ha-1; 4adicionado aureo 0,25% v/v; 5adicionado assist 0,5 L ha-1; 6Fungicida com registro especial temporário (rET) ii; 7rET iii. Circular técnica 111.

C (%)01827224158746464824227266976

Produtividade kg ha-1

2278 j2455 Hi2632 FG2435 i2764 E2873 d3237 b2929 d3078 C3448 a2709 EF2582 G

2555 GH3135 bC3361 a

rP (%)403428352320718130253031113

8,9 7,8

Cláudia Vieira Godoy e Maurício Conrado Meyer, Embrapa SojaFabiano Siqueri, Fundação Mato GrossoLucas Navarini, IFRSMônica C. Martins, Fac. Arnaldo Horácio Ferreira/Círculo Verde Ass. Agron. e Pesq.

manejo e podem ajudar a reduzir a pressão de resistência aos fungicidas, mas, como apresentam um ou no máximo dois genes de resistência, o fungo pode vencer essa re-sistência de forma semelhante ao que ocorre com os fungicidas.

Apesar da ferrugem parecer estar sob controle nos últimos anos, falhas devido à baixa eficiência curativa dos fungicidas em áreas onde ocorreram atrasos de aplicações foram observadas esse ano no Sul. Essas situações tendem a se repetir no Cerrado em anos com distribuição regular de chuvas. A sustentabilidade da soja brasileira pode ser ameaçada se os fungicidas continuarem a ter eficiência reduzida por causa da resistência e menor sensibilidade do fungo a esses produtos. CC

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30 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

No tempo certoO fator-chave para que o produtor possa obter sucesso com a dessecação reside em acertar o momento exato de realizá-la. Aplicações antecipadas podem reduzir significativamente a produtividade da soja ao mesmo tempo em que as realizadas com atraso não apresentarão

bons resultados na antecipação da colheita, objetivo principal da operação

A dessecação da soja foi muito uti-lizada no Brasil na década de 90. Em função de falhas no manejo

de plantas daninhas, a colheita mecanizada tornava-se uma prática muito difícil. Assim, a dessecação era indispensável para facilitar a colheita dos grãos e reduzir perdas. Após a

Soja

Tabela 1 - Produtos registrados e com eficiência na dessecação da soja rr

Concentração g/L200200276276200200200200200

dose recomendada L/ha2,0

1,5 - 2,01,5 - 2,01,5 - 2,0

2,01,5 - 2,01,5 - 2,01,0 - 2,01,5 - 2,0

ingrediente ativo

glufosinato - sal de amônioparaquateparaquateparaquate

glufosinato - sal de amônioparaquateparaquate

diquateparaquate

intervalo de segurança

10 dias7 dias7 dias7 dias10 dias7 dias7 dias7 dias7 dias

Tabela 2 - redução de produtividade estimada em função de dias que antecedem a matura-ção de colheita (r8). Cafelândia (Pr)

Produtividade(kg ha-1)

42834285428342754262424542224195416241244082403439823924386237953722364535623475

redução deprodutividade (%)

0,0%0,1%0,2%0,5%0,9%1,5%2,1%2,9%3,8%4,8%5,9%7,1%8,4%9,9%11,5%13,1%15,0%16,9%18,9%21,1%

dessecação(dias até r8)

1234567891011121314151617181920

Fávero e Madalosso destacam importância do momento da dessecação

Visão geral das parcelas na data da dessecação,20 dias (esq.), 15 dias (centro) e 10 dias (dir.)

inserção no campo e expansão da soja RR, o controle das plantas daninhas melhorou, re-duzindo a necessidade da utilização da prática de dessecação, com esta finalidade.

No cenário atual, a dessecação em soja proporciona benefícios importantes para os produtores, como: facilitar a colheita dos grãos,

escalonamento da colheita e semeadura (milho 2a safra) com consequente otimização do uso de máquinas (colhedora e semeadora), unifor-mização da maturação, redução de impurezas nos grãos, redução do custo de secagem dos grãos, aproveitamento de melhores condições comerciais da soja, antecipação da semeadura do milho de inverno aumentando o potencial produtivo e reduzindo o risco de perdas por geadas e secas deste cultivo. Estima-se que na região Oeste do estado do Paraná mais de 30% das áreas são dessecadas anualmente. Na re-gião de atuação da Copacol, na safra 2014/15, foram dessecadas 45% das áreas comerciais de soja. (Figura 1).

Os ativos mais utilizados e registrados para dessecação de soja RR são: paraquat, diquat e glufosinato de amônio, presentes em diversas marcas comerciais (Tabela 1). A aplicação destes produtos para dessecar a soja representa acréscimo no custo de produção. Na última safra, o custo médio do produtor paranaense para dessecar um hectare de soja foi de R$ 41,82. Esse custo já foi maior, porém

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www.revistacultivar.com.br • Março 2016 31

Figura 1 - Percentagem da soja dessecada na região de atuação da Copacol em função das safras

com o registro de diversas marcas de produtos genéricos do paraquate houve um aumento da oferta de marcas e diminuição do preço para o produtor (Figura 2).

Diante deste cenário a equipe do Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol (CPA) elabo-rou um ensaio na safra 2014/15 para avaliar o melhor produto e momento adequado para dessecação da soja. O ensaio foi montado em blocos ao acaso e delineamento de tratamentos fatorial. Avaliaram-se três produtos distintos: paraquate, diquate e glufosinato de amônio, na dose de 2L/ha do produto comercial e três momentos de dessecação: 20 dias, 15 dias e dez dias antes da maturação de colheita da soja, com quatro repetições.

A cultivar utilizada foi a BMX Alvo RR que possui ciclo de aproximadamente 120 dias para a região. A semeadura ocorreu no dia 12/10/2014, com a utilização de 330kg/ha do fertilizante formulado 04-24-16 (N--P2O5-K2O) e espaçamento entre linhas de 45cm. Os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações oficiais para cultivo da soja na região Oeste do Paraná. Em 23/1/2015 foram demarcadas as parcelas com cinco linhas e dez metros de comprimento. Na mesma data foram aplicados os tratamentos na primeira época de aplicação (20 dias antes da maturação de colheita). Nos dias 28/1/2015 e 2/2/2015 foram aplicadas a segunda e a terceira épocas, 15 dias e dez dias antes da maturação de colheita, respectivamente (Fi-

gura 3). As aplicações foram realizadas com equipamento pressurizado a CO2, utilizando ponta de pulverização XR 110 02, e 300L/ha de vazão.

No dia 12/2/2015 todas as parcelas foram colhidas, determinando a produtivi-dade e massa de mil grãos (MMG). A massa das parcelas foi corrigida para umidade de 13%. Os dados foram submetidos à Anova utilizando-se teste de regressão para as épocas de aplicação.

Não houve diferenças entre os produtos aplicados, tanto para a produtividade, quan-to para a MMG. Porém, ocorreu resposta significativa em função da época de aplicação dos produtos. Quanto maior a antecipação, maiores foram as perdas de produtividade e redução da MMG. Como pode ser visto nas Figuras 4 e 5, a dessecação 20 dias antes da maturação de colheita causou uma redução de 904kg/ha (15sc/ha). Observa-se perda em todas as épocas de dessecação, porém foram menores abaixo dos dez dias (<5% de perdas).

A redução de produtividade está relaciona-da à prematura queda das folhas. A perda total da área foliar cessa a produção e a translocação de fotoassimilados das folhas para os grãos. Com interrupção da translocação, ocorre re-dução na MMG, que é um dos componentes de rendimento que interfere diretamente na produtividade da soja. Na Figura 5, observa-se que com a dessecação antecipada de 20 dias, reduziu-se em 22,83g grãos1000.

Na Tabela 2 está apresentada a estimativa do percentual de perda diária (dias antes da maturação de colheita), calculada a partir da equação obtida no ensaio (Figura 4). Aplica-ções realizadas antes de sete dias da maturação de colheita, possuem maior taxa de perda diá-ria de produtividade. Portanto, os benefícios e subtrações obtidos pela dessecação devem ser devidamente calculados.

Avaliar a real necessidade da dessecação é fundamental. Assim, entender a dinâmica dos sistemas de cultivos (sucessão de culturas) adotados na propriedade, oferta de máquinas, espécies e quantidade de plantas daninhas presentes, uniformidade da lavoura de soja e previsão das condições climáticas que serão enfrentadas são alguns dos pontos que devem ser avaliados para tomar a decisão sobre a necessidade da dessecação.

Quando adotada, o fator-chave de sucesso da dessecação está em acertar o momento correto de realizá-la. Aplicações antecipadas podem reduzir significativamente a produ-tividade da soja, diminuindo assim a renta-bilidade do produtor rural. Por outro lado, a aplicação atrasada não apresentará resultados significativos na antecipação da colheita, obje-tivo principal da operação, elevando custo de produção sem o retorno esperado.

Figura 2 - Custo médio do dessecante para soja na região de atuação da Copacol em função das safras

Figura 3 - Produtividade da soja em função da dessecação com diferentes produtos e dias antes da maturação de colheita

Figura 4 - Massa de mil grãos da soja em função da dessecação com diferentes produtos e dias antes da maturação de colheita

Fernando Fávero eTiago Madalosso,CPA/Copacol

CC

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32 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Diversificação sustentável

Manter e aperfeiçoar a produção de soja, de modo lucrativo e duradouro, requer encaixe de seu cultivo como um dos componentes de espécies agrícolas no sistema de produção de grãos, de modo a diversificar as espécies de plantas e evitar os efeitos negativos do

plantio isolado da mesma cultura

A soja é hoje a maior fonte direta de renda na agricultura de produção de grãos no verão. O cultivo desta

oleaginosa no Rio Grande do Sul tem se expandido nos anos recentes, por vezes, para áreas agrícolas marginais ou com menor ca-pacidade produtiva. O preço do grão é estável e tem remunerado a atividade agrícola ano após ano, contribuindo para mudar o cenário agrícola de diversas regiões do estado. Pelas significativas contribuições à sociedade do meio rural e das cidades, é importante que a soja também contribua para a sustentabilidade econômica, ambiental e social dos sistemas de produção de grãos. Neste contexto, manter e aperfeiçoar a produção de grãos desta oleagi-nosa requer encaixe de seu cultivo como um dos componentes de espécies agrícolas no sistema de produção de grãos, sempre evitando o cultivo isolado da soja e sem diversificação de espécies de plantas.

Embora seja cultura plástica e com adaptação de cultivo para ambientes de pro-dução diversos, para alcançar desempenho

Soja

agronômico desafiador de 90sc/ha a 100sc/ha, por exemplo, a soja requer solo fértil e es-truturado, com capacidade de infiltração e de armazenamento de água, além da ausência de camada compactada, de doenças radiculares e de nematoides. Diversificar os cultivos no e entre anos, através da rotação e sucessão de culturas no verão e inverno, é prática agro-nômica indicada e conhecida de técnicos e agricultores, que ainda propicia alternância na renda da propriedade agrícola por diversificar os produtos colhidos e comercializados.

Estudos conduzidos nas últimas três dé-cadas no Sul do Brasil têm evidenciado que, a cada três ou quatro safras de verão, o milho deve compor a rotação com a soja na safra de verão, pois este cereal contribui com aporte de carbono ao sistema, ajudando na estruturação do solo pelo alto volume de resíduos decor-rente de seu cultivo. No milho, facilmente obtêm-se resíduos de colheita de 8t/ha -10t/ha, ao contrário da soja, onde apenas cerca de 3t/ha de palha restam da colheita de 60sc/ha, diferença exacerbada e preocupante pelo fato

dos resíduos da planta de soja colhida terem alto teor de nitrogênio e, portanto, serem rapidamente decompostos pela microbiota do solo. Diversificar os cultivos de verão com gramíneas como o milho, em contraparte ao atual “mar de soja”, é urgente e necessário para prolongar a duração do período recente de su-cesso da agricultura e valorizar este importante setor da economia brasileira e regional.

Além da diversificação dos cultivos no verão, o alcance das características de solo e de produtividade da soja é dependente do cultivo de toda área agrícola durante o inver-no, seguindo indicações técnicas decorrentes de pesquisas. A diversificação de culturas no inverno e no verão será avanço agronômico expressivo a ser implantado efetivamente nas próximas safras agrícolas. Segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), no Rio Grande do Sul, enquanto as espécies de verão - soja e milho - ocuparam 7,3 milhões de hectares para produção de grãos em 2014, espécies de inverno ocuparam apenas 1,4 milhão

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de hectares (Figura 1). A situação se repete nos demais estados da região Sul e também no País, evidenciando que a relação de área inverno/verão cultivada seguindo indicações técnicas e preconizando a diversificação de cultivos é inferior a 1:5, ou seja, menos de 20% da área cultivada no verão é efetivamente cultivada no inverno para este propósito. A este respeito, todavia, cabe ressaltar ausência de estatísticas oficiais sobre o uso da terra com plantas para cobertura vegetal e alimentação animal, como, por exemplo, espécies utilizadas exclusivamente como forrageiras (alfafa, trevo) e lavouras de grãos destinados à forragem, silagem ou pastagem e cobertura morta para plantio direto (aveia preta, sorgo forrageiro, cevada forrageira).

Solos agrícolas melhor estruturados e com maior capacidade de armazenamento de água e de sua oferta às plantas, aos animais e à sociedade são alguns dos benefícios potenciais deste novo sistema de produção de grãos a ser estruturado, implantado e dispersado para todas as regiões de cultivo de grãos, como já o foi de forma mais equilibrada nos anos 1990 e início dos anos 2000. Tecnicamente, uma agricultura com diversificação em cul-tivos de inverno e de verão contribuirá para diminuir os efeitos adversos de eventos como o El Niño ocorrente nos meses recentes. O sistema de produção diversificado também poderá atenuar os efeitos da ocorrência de La Niña, caracterizado por limitação hídrica aos cultivos de espécies anuais no Sul do Brasil e que pode ter intensidade aumentada na próxima safra de verão, caso se confirmem recentes previsões de institutos de pesquisa que estudam o fenômeno.

Um sistema de rotação e de sucessão de culturas é proposto na Tabela 1, em que a área de cultivo da propriedade é fracionada em três glebas. No verão do primeiro ano, 1/3 da área é semeada com a cultura do milho e 2/3 da área com soja. Desta área com soja, metade deve ser semeada no início da época indicada pelo

Zoneamento Agrícola de Risco Climático em sucessão à aveia preta dessecada pelo menos 20 dias antes da data prevista para semeadura da soja, enquanto o restante daquela área de soja é semeado na resteva de trigo, que geral-mente é colhido entre meados de novembro e de dezembro.

No inverno, a cultura do trigo deve ser semeada em 1/3 da área intercalada com 1/3 de aveia preta e com 1/3 de aveia preta + ervilhaca. Por sua vez, o milho será semeado durante o mês de setembro, em sucessão à aveia preta + ervilhaca dessecada previa-mente, ajuste que permite colheita do cereal no verão entre o final de janeiro ou durante o mês de fevereiro. Com este manejo dos cul-tivos de inverno e verão, a colheita do milho possibilita a implantação da terceira cultura da safra agrícola. Esta chamada segunda safra de verão, ou ainda safra de verão/outono, será adotada principalmente para adicionar mais

carbono ao sistema, via palhada, que após diversos processos biológicos e no longo prazo será incorporado à matéria orgânica do solo, culminando com melhoria na estruturação do solo. Capim sudão e milheto são boas opções de cultivo neste período de entressafra de grãos. Dependendo da região, culturas tam-bém potenciais para o período de verão/outono são o nabo forrageiro, pela contribuição na reciclagem de nutrientes, e o feijão de segunda safra, que agrega receita à propriedade, embora ambas tenham relação carbono:nitrogênio mais estreita que aquelas gramíneas. Em áreas com histórico de ocorrência de doenças como Sclerotinea sclerotiorum deve-se evitar fazer uso destas duas alternativas.

Nas áreas da propriedade para cultivo da aveia preta não há necessidade de semear esta terceira cultura, pois, ao ser implantada após a colheita da soja, pode ser mantida em vege-tação até o período próximo ao de semeadura

No inverno, a cultura do trigo deve ser semeada em 1/3 da área intercalada com 1/3 de aveia preta e com 1/3 de aveia preta + ervilhaca

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34 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

O milho deve compor a rotação com a soja na safra de verão, pois contribui com aporte de carbono

da cultura de verão subsequente. O sistema de rotação e de sucessão de

culturas apresentado na Tabela 1 preconiza manter pelo menos uma cultura implantada em todas as áreas durante todo ano, desfavo-recendo a ocorrência de pousio vegetado ou espontâneo (Figura 1), mesmo na entressafra dos cultivos. Portanto, após a colheita da cultura anterior ou o manejo desta via de dessecação, deve ocorrer imediatamente a semeadura da próxima cultura.

Os benefícios ambientais advindos da rotação de culturas são bem conhecidos, principalmente quando contextualizados no âmbito do sistema plantio direto, pois este contribui para a adição de matéria orgânica ao solo, reciclagem de nutrientes, fixação simbiótica de nitrogênio, retenção e infiltração de água no solo, além de ter papel importante para a redução do escoamento superficial e no controle da erosão hídrica, resultando na preservação dos recursos naturais.

Nas últimas décadas estudos têm reforça-do as evidências de que a atividade humana tem parte no aquecimento global experi-mentado pela Terra, sendo esse aquecimento apontado como precursor de mudanças no clima mundial. Em decorrência, os países discutem alternativas locais e conjuntas para mitigar a emissão de gases de efeito estufa, considerados importantes contribuintes e aceleradores destes eventos. Ademais, estes estudos buscam identificar o nível de associa-ção, a intensidade do fenômeno e os setores (agrícola ou não) que poderão ser afetados pelas mudanças climáticas e, principalmente, identificar alternativas de adaptação de plantas e a capacidade e eficiência destas em responder aos impactos e cenários preditivos advindos das mudanças climáticas.

Através do Decreto nº 7.390/2010, o governo brasileiro regulamentou o Plano

Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mu-danças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura - Plano ABC. Este plano tem por finalidade organizar e planejar as ações a serem realizadas para a adoção das tecnologias de pro-dução sustentáveis, selecionadas com o objeti-vo de responder aos compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa no setor agropecuário assumidos pelo país. No setor agropecuário, a ampliação da área sob Sistema de Plantio Direto em oito milhões de hectares é prática agrícola que contribuirá para atingi-mento da meta brasileira. Neste contexto, a rotação de culturas figura como alicerce para o cumprimento da meta de menor emissão de gases do efeito estufa, onde a soja tem papel preponderante, por ser cultura que, geralmen-te, tem grande participação para a viabilidade financeira do sistema de produção anual nas propriedades rurais. Além disso, a soja pode contribuir em outra importante linha do Plano ABC, a fixação biológica de nitrogênio, que é o principal gás de efeito estufa da agricultura de sequeiro, sendo emitido, principalmente, devido à utilização da adubação nitrogena-da. Aliás, é notório o destaque do Brasil no desenvolvimento científico e tecnológico que viabilizou a inoculação da semente de soja com Bradyrhizobium, prática de baixo dispêndio

Tabela 1 - Sistema de rotação de culturas a ser utilizado no cultivo de áreas no verão, outono e inverno, considerando três anos de cultivo e divisão da propriedade em três glebas

verãoMilhoSojaSoja

outono*Capim sudão

Nabo forrageiro**

ano201620172018

invernoaveia preta

Trigo

verãoSojaMilhoSoja

outono*

Capim sudãoNabo forrageiro**

inverno

aveia pretaTrigoErvilhaca + aveia preta

Ervilhaca + aveia pretaverãoSojaSojaMilho

outono*Nabo forrageiro**

Capim sudão

invernoTrigo

aveia pretaErvilhaca + aveia preta

Área 1 (1/3) Área 2 (1/3) Área 3 (1/3)

* Nesta situação, pode ser utilizada cultura isolada em cobertura ou uma cultura no outono e outra no inverno. Espécies leguminosas contribuem com adição de mais nitrogênio ao sistema, enquanto as gramíneas de outono, como o capim sudão, adicionam mais carbono ao sistema.**Existem outras opções para culturas de outono que podem substituir ao nabo forrageiro, seja para adição de carbono e nitrogênio ao sistema, seja para a produção de grãos. a decisão deve considerar também o manejo de cada gleba.

Figura 1 - Área agrícola ocupada com lavouras temporárias no verão e inverno e estimativa de área de pousio vegetado no inverno. (Elaborado a partir de dados publicados pelo iBge, referentes ao pam 2014 – produção agrícola municipal - http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2014)

pelo agricultor, mas que dispensa a aplicação externa de nitrogênio à cultura. Estudos recen-tes da Embrapa demonstram que a sucessão trigo/soja, ou seja, o monocultivo de inverno e verão, respectivamente, pode aumentar em 20% a emissão de óxido nitroso para a atmos-fera, comparativamente a rotações de culturas compostas por gramíneas (2/3) e leguminosas (1/3) no inverno e mais 2/3 de soja no verão.

Não há dúvidas que a soja tem sido e continua sendo o “seguro” da propriedade rural. À cultura tem se atribuído muito do sucesso pelo qual passa o setor agropecuário atualmente. Não obstante os bons frutos colhidos pelos produtores rurais, o monocul-tivo da soja em grande parte das áreas do Rio Grande do Sul tem sido visto como risco para a manutenção da qualidade do solo, pilar da qualidade ambiental e da sustentabilidade dos sistemas produtivos. A “boa notícia”, no entanto, está no estabelecimento de opções de cultivo que mantêm a rentabilidade do sistema de produção, aliadas à preservação do meio ambiente, sem observar e analisar somente os dados isolados de cada cultura anual.Paulo Fernando Bertagnolli,Mércio Luiz Strieder,Anderson Santi eGenei Antonio Dalmago,Embrapa Trigo

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www.revistacultivar.com.br • Março 2016 35

empresas

Conectando o agronegócio

O universo da comercialização de commodities e insumos ganhou uma nova ferramenta para auxi-

liar o produtor agrícola: a Central Brasileira de Comercialização (CBC Negócios). O ser-viço, que está em operação há três meses, foi anunciado em 2011 e vem sendo desenvolvido desde o início de 2014. Com investimentos de aproximadamente R$ 10 milhões em tecnolo-gia, infraestrutura e treinamento de pessoas, até o momento, a plataforma é a aposta para o futuro das negociações do agronegócio.

Apesar de estar em operação há pouco tempo, já conta com 800 cadastros ativos, entre alguns dos principais players do agrone-gócio, que realizam transações diariamente no mercado brasileiro. Esse espaço inclui os maio-res exportadores agrícolas do país, além de em-presas nacionais e internacionais. A novidade não impediu o início das movimentações pela plataforma: até agora, aproximadamente R$ 2,5 milhões em negócios foram movimenta-dos, incluindo negociações de farelo de soja, algodão e leite em pó.

Segundo o conselheiro da CBC Negócios, Sérgio Barroso, esse novo modelo de realizar negócios é o que se pode esperar para o futuro do setor. "Ainda estamos aprendendo com o

serviço a maneira que podemos nos inserir no mercado, auxiliando da melhor forma. Nunca imaginamos que nossa primeira transação fosse ser com leite em pó, por exemplo", brincou Barroso.

"Atualmente, nos encontramos em um cenário em que temos um leque tecnológico muito grande da porteira pra dentro. Já da porteira pra fora ainda há obstáculos a superar, até conseguirmos a melhor maneira de utilizar a tecnologia a favor do produtor rural e do

mercado agrícola. A CBC é o primeiro passo a ser dado nessa direção", afirmou o conselheiro.

O diretor comercial da CBC, Eduardo Fogaça, possui 17 anos de experiência na área de comércio exterior e é especialista na comercialização de grãos. Segundo Fogaça, por meio da CBC é possível que os profissionais do segmento fechem negócios de maneira rápida, confiável e eficiente. "A venda de uma safra pode girar o volume por três vezes ou mais en-tre os players do agronegócio, portanto, quanto mais agilidade e confiabilidade no processo, maior o volume de negócios bem-sucedidos", exemplificou o diretor.

Depois de dois anos de desenvolvimento e testes, a plataforma atingiu um patamar de eficiência e abrangência que permite que o produtor a acesse de qualquer local, 24 horas por dia, sete dias por semana. "Sua capacidade de receber usuários é infinita, com possibili-dades técnicas de atuação global", explicou o diretor. O objetivo é atender a todos os profissionais atuantes no mercado, desde produtores, corretores, tradings, indústrias, ce-realistas e toda a cadeia produtiva do setor, no Brasil e no restante do mundo. Não há limites de valores das transações comerciais feitas via plataforma, o que é um grande atrativo para os grandes players do mercado.

O cadastro na plataforma é gratuito. "A CBC cobra um percentual sobre negócios fechados, calculado sobre cada transação, com alíquotas que variam conforme os produtos, mas se comparado aos métodos tradicionais, representa a redução de, no mínimo, 50% dos custos de operação", garantiu Fogaça.

Acesso e independência são objetivos perseguidos pela plataforma. "Dar indepen-dência ao produtor, para que ele visualize de que forma sua produção se insere no mercado, com um serviço transparente e eficiente, é o nosso grande objetivo", concluiu o diretor. Mais informações podem ser obtidas em www.cbcnegocios.com.br.

Anunciada em 2011, a CBC Negócios é uma plataforma digital concebida com o objetivo de conectar quem produz a quem

compra, de maneira eficiente e rápida

Para Barroso modelo de realizar negócios é o que se pode esperar para o futuro do setor

*Karine Gobbi viajou a convite da CBC Negócios

Fogaça destaca negócios de maneira rápida, fácil e eficiente com a plataforma

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36 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

As lavouras do arroz irrigado do Rio Grande do Sul, em geral, sofrem o ataque de vários insetos-praga que

contribuem para a redução da produtividade e o aumento dos custos de produção. Nos últimos dez anos, alguns insetos ocorriam nas lavouras de arroz irrigado, mas não causavam danos. É o caso da lagarta-da-panícula (Pseu-daletia spp.), antes de importância secundária e ocorrência esporádica, mas que nas últimas safras tem sido uma das principais pragas do arroz irrigado no estado. Esta denominação praga é dada a partir do momento em que se dá aumento da densidade populacional do in-seto causando prejuízos. A lagarta-da-panícula ocorre todos os anos atacando mais de 40% da lavoura e causando perdas. Muitos produ-tores, por não realizarem o monitoramento, desconhecem sua ocorrência. Esta demora na identificação da lagarta favorece o aumento da população e dos danos.

A lagarta-da-panícula sempre esteve dis-seminada por todo o estado gaúcho, porém nas regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste, Campanha e Planície Costeira Exter-na, as populações e os danos eram maiores. Nas duas últimas safras na região da Planície Costeira Interna, lavouras apresentaram altas

infestações e alguns produtores acharam que o dano foi causado por granizo.

As causas do aumento da população da lagarta-da-panícula estão associadas às condi-ções favoráveis na lavoura de arroz irrigado e também pelo hábito de suportar temperaturas mais baixas. Assim, após a colheita, o inseto continua a reproduzir-se na entressafra, per-manecendo na área.

Como as populações estão altas no Rio Grande do Sul, é importante o produtor reali-zar observações periódicas, ou seja, monitorar a lavoura.

espécies e BiologiaNo Rio Grande do Sul ocorrem duas espé-

cies, a Pseudaletia adultera e a P. sequax, ambas conhecidas também como lagarta-do-trigo. As lagartas dessas espécies são semelhantes nos primeiros estágios de desenvolvimento. A par-tir do quarto instar, a diferenciação é possível, pois as lagartas de P. adultera são escuras e as da espécie P. sequax, são rosadas.

Na fase adulta a identificação é mais fácil por serem de cor pardo-acinzentada, e o adulto de P. adultera é uma mariposa que apresenta ao centro de cada asa anterior um ponto de coloração escura.

A fêmea realiza as posturas nas folhas e colmos colocando até mil ovos. Passados oito dias, nasce a lagartinha que apresenta ciclo em média de 28 dias. A seguir a fase de pupa, com coloração marrom-avermelhada, desenvolvida nas partes inferiores das plantas ou no solo, sendo o ciclo em média de 14 dias. Após, surgem os insetos adultos.

No estágio inicial as lagartas se alimen-tam das folhas e posteriormente atacam as panículas.

hÁBitosEm função do hábito noturno, as lagar-

tas ficam abrigadas durante o dia nas partes inferiores das plantas. Logo, existe grande di-ficuldade para determinar sua ocorrência. Ao final da tarde ou em dias nublados, as lagartas sobem para atacar as panículas.

Esta praga permanece na lavoura após a colheita, sendo encontrada principalmente na fase de lagarta, até o mês de junho nos restos culturais.

ocoRRência e danosEsta lagarta mudou o seu comportamen-

to, pois tem ocorrido antes da emissão da panícula, na fase de afilhamento, ou seja, a

De importância secundária ao longo de muito tempo na cultura do arroz, a lagarta-da-panícula detém atualmente o status de uma das principais pragas que atacam as lavouras orizícolas do Rio

Grande do Sul. O monitoramento deste inseto é de extrema importância, pois a demora na sua identificação é proporcional ao agravamento da população e dos danos

Observação atenta

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partir dos 60 dias após a emergência, e em geral ataca as folhas. Também nesta fase, por conta das lagartas serem pequenas, os danos são menores. A maior incidência se verifica a partir da emissão da panícula, ocorrendo até a fase final da cultura, no estádio de maturação dos grãos, quando a lagarta corta as panículas. Muitos produtores percebem a presença da lagarta em um estágio avançado do ataque, quando já ocorreram os danos, pois panículas praticamente inteiras são cortadas.

Na região da Fronteira Oeste, a lagarta--da-panícula ocorre nos meses de janeiro e fevereiro e nas demais regiões orizícolas, de fevereiro a abril, períodos de maiores densida-des populacionais. Esta elevação do número de indivíduos por área vai aumentar o nível de dano.

Estudos realizados mostram que com a ocorrência de uma lagarta/m-2, pelo período de uma semana, as perdas no rendimento de grãos podem ser superiores a 2%, que em altas populações com mais de oito lagartas/m-2, após cinco dias a redução no rendimento de grãos pode chegar a 350kg/ha. O produtor deve vistoriar a lavoura e, se necessário, realizar o controle antes que ocorram danos à cultura.

MoNiToraMENTo As estratégias de manejo devem começar

com o adequado monitoramento da lavoura por parte do produtor. Conhecer os sinais do ataque, os hábitos do inseto e os locais mais prováveis de sua atividade são requisitos bási-cos para que o produtor saiba o local e o mo-mento de procurá-las. O monitoramento deve ser iniciado no período do afilhamento, mas se deve dar maior atenção ao florescimento e du-rante o enchimento de grãos. As observações devem começar principalmente pelas taipas e para determinar a sua incidência, o produtor deve realizar um exame minucioso abrindo as plantas e observando se há as lagartas ou os seus resíduos na base das plantas. O dano é fácil de ser identificado, pois as panículas cortadas ficam caídas no solo entre as plantas.

As avaliações para determinar a população do inseto e os sintomas devem ser realizadas

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 37

a cada sete dias, determinando o início da infestação e a ocorrência de lagartas pequenas, ideal para adoção de medidas de controle.

MaNEjo do iNSETo

Eliminação da restevaA destruição dos restos culturais pode

auxiliar na redução da população do inseto ao tornarem o ambiente desfavorável a algumas de suas formas, como as lagartas e pupas e também expondo-as ao ataque de inimigos naturais, no caso dos pássaros.

A redução das plantas espontâneas que servem de abrigo e alimento para as lagartas no período de entressafra ajuda na diminuição da população para a safra seguinte. Estas medidas podem ser adotadas por meio de pastoreio e pelo preparo antecipado do solo.

rotação de culturasO método de rotação de culturas com

a eliminação do alimento, pela ausência da planta hospedeira cultivada provoca a redução da população inseto-praga. Portanto, a rotação com soja mostra-se eficiente, pois a lagarta-da--panícula não ataca essa cultura.

Manutenção da lâmina de irrigaçãoO manejo da irrigação, através da manu-

tenção de lâmina de água uniforme em todo o quadro, sem a existência de coroas ou partes da lavoura sem água, pode reduzir ou retar-dar a infestação de lagartas. As partes secas, incluindo as taipas, são as primeiras áreas a serem atacadas. Também manter a irrigação até a colheita ou próxima, vai manter as lagar-tas apenas nas taipas, diminuindo os danos.

inimigos naturaisA lavoura de arroz é um ambiente riquíssi-

mo em espécies de predadores como aranhas, libélulas, vespas e tesourinhas, que realizam

um controle natural, podendo manter a po-pulação abaixo do nível de dano econômico. O uso inadequado de inseticidas, como de produtos não registrados ou em doses e fre-quência mais alta que a recomendada, elimina tais espécies do ambiente, causando além do desequilíbrio imediato, problemas como res-surgência, que é o aumento da população de insetos secundários e a resistência a inseticidas.

Controle químicoO uso de inseticidas na lavoura orizícola

do Rio Grande do Sul é muito frequente. Po-rém, sua adoção deve ser realizada de maneira correta, sem comprometer a biodiversidade ocorrente nas lavouras de arroz. Devido às lagartas localizarem-se nas partes inferiores das plantas, este comportamento dificulta o seu controle.

Existem produtos registrados para o con-trole da lagarta-da-panícula na cultura do arroz no estado. O princípio ativo clorantraniliprole tem apresentado ótima eficiência. Não devem ser utilizados produtos químicos sem registro, para o seu controle na cultura do arroz irrigado.

Como as lagartas sobem ao final do dia, este é o período adequado para realizar o controle, pois o produto vai atuar por contato e ingestão. Estudos mostram que 48 horas após a aplicação do inseticida, a mortalidade das lagartas pode atingir 100% de controle.

Lagartas de Pseudaletia sequax possuem como característica a coloração rosada

Jaime Vargas de Oliveira,UnitecDanielle Almeida,Carlos Eduardo M. de Souza e Tailor Pivoto Perufo,Irga

Pseudaletia adultera, apresenta ao centro de cada asa anterior um ponto de coloração escura

Lagarta flagrada em situação de ataque à panícula de arroz

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38 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

No Sul do Brasil, o clima contribui para a ocorrência e o aumento da intensidade de doenças, pois du-

rante o desenvolvimento da cultura observa-se de forma frequente excesso de chuva, acúmulo de dias encobertos e alta umidade do ar. Nesse cenário, a mancha amarela da folha do trigo ganha importância, principalmente nas regiões mais frias em que o trigo é cultivado em monocultura e sistema de plantio direto, alcançando um potencial de danos de até 48%.

A doença é causada pelos fungos Dre-chslera tritici-repentis (Died.) Shoemaker e Drechslera siccans (Drechsler) Shoemaker. Os primeiros sintomas aparecem nos estádios iniciais da planta, geralmente nas folhas próximas ao solo. Uma vez no interior da planta, o fungo secreta toxinas que podem causar amarelecimento e necrose dos tecidos, originando pequenas lesões ovaladas com halo amarelado e centro necrótico. Essas lesões evoluem, através de um processo chamado expansão de lesão, podendo coalescer e tomar grande proporção do tecido foliar. Esse pro-cesso é menos dependente do ambiente, por isso as manchas foliares tendem a evoluir sob condições adversas à esporulação, dispersão do inóculo e indução de novas infecções.

As principais formas de sobrevivência do patógeno de uma safra para outra se dão através de sementes infectadas e restos cultu-rais. Nos restos culturais, o patógeno forma estrutura de sobrevivência, que libera esporos sexuais no início da safra sob condições favorá-veis, começando o ciclo da doença em sistema de plantio direto com monocultura. Durante o desenvolvimento da cultura, sob condições favoráveis e sem adoção do controle químico, esporos assexuais são formados sobre as lesões e permitem que a doença se expanda e se torne mais agressiva. Dentro desse contexto, medi-das integradas para diminuir a quantidade de inóculo em sementes e restos culturais são importantes. A intenção é atrasar o início da doença no campo e, assim, diminuir os danos sobre a cultura e as perdas para o agricultor.

Em áreas com problemas de mancha amarela, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras por pelo menos um ano, como aveia, nabo forrageiro e canola, pode ser efi-ciente para reduzir a quantidade de inóculo no campo, assim como a utilização de sementes com boa qualidade sanitária. Deve-se optar sempre que possível por cultivares menos suscetíveis à doença, sendo esta informação oferecida em dias de campo, instituições de

pesquisa e informativo técnico da cultivar desejada. O tratamento de sementes com fungicidas é outra ferramenta importante, e deve ser realizado sempre que houver presença do patógeno na área ou na semente. Por fim, a aplicação foliar de fungicidas junto às outras medidas de manejo da doença é essencial, devido ao aumento da intensidade da doença e à dificuldade de controle nos últimos anos no Sul do Brasil.

Tendo em vista que a mancha amarela é de difícil controle, a Universidade de Passo Fundo (UPF), através dos professores Carlos Forcelini e Carolina Deuner e orientandos, desenvolvem trabalhos nesse sentido. As respostas de rendimento de trigo à aplicação foliar de fungicida é altamente variável, sendo influenciada pela resistência genética da culti-var à doença, quantidade de doença presente no campo, época, dose e número de aplicações, tecnologia de aplicação, rendimento potencial da cultura, condições climáticas durante o ciclo da cultura e virulência do patógeno.

A maioria dos fungicidas foliares utilizados para o controle de mancha amarela possui o grupo químico triazol ou estrobilurina, ou a mistura de ambos. Em trabalho realizado na área experimental da UPF, safra 2013, foi

Folhas amareladas

trigo

A mancha amarela é limitante da cultura do trigo, principalmente em sistema de plantio direto e monocultura, em regiões mais frias, com chuvas frequentes, dias encobertos e alta umidade

do ar, como ocorre no Sul do Brasil. A aplicação foliar de fungicidas, em especial triazóis e estrobilurinas, associada a outras estratégias de manejo, tem se tornado essencial nos últimos

anos ante ao aumento da intensidade da doença e das dificuldades de controle

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avaliado o desempenho de fungicidas sobre o controle de mancha amarela. A cultivar uti-lizada foi TBio Pioneiro, suscetível à mancha amarela. Os fungicidas empregados foram piraclostrobina + epoxiconazol (66,5 + 25g i.a./ha), azoxistrobina + ciproconazol (60 + 24), trifloxistrobina + protioconazol (60 + 70), propiconazol (100) e epoxiconazol (62,5) nos estádios de perfilhamento, elongamento e florescimento.

A porcentagem de controle da mancha amarela variou entre os tratamentos (Ta-bela 1). A melhor eficiência de controle foi constatada para o tratamento 9, primeira aplicação de trifloxistrobina + protioconazol com adição do propiconazol e as duas subse-quentes de trifloxistrobina + protioconazol, com eficiência de 72%. Os dois tratamentos que apresentaram a menor eficiência foram o 5 e o 7 (34%), ambos com aplicações de azoxistrobina + ciproconazol, porém, o tratamento 7 teve adição do fungicida epoxi-conazol a esta mistura somente na primeira aplicação. Uma possível explicação para o resultado de menor eficiência de controle, apresentado pelos dois tratamentos, é a menor quantidade de triazol na formulação, 24g i.a./ha comparado, por exemplo, com o tratamento 9, que tem 70g i.a./ha. As manchas foliares são melhor controladas pelos triazóis, respondendo positivamente à adição de mais triazol à mistura (triazol + estrobilurina). Esse procedimento é fundamental em cenários favoráveis a manchas foliares, como cultivares suscetíveis, monocultura de trigo e condições ambientais favoráveis. Segundo a indicação técnica da pesquisa do trigo (Reunião, 2006), considera-se bom controle quando o fungicida apresenta eficiência superior a 70%, e controle regular quando a eficiência fica entre 50% e 70%. Portanto, o tratamento que apresentou bom controle, conforme os critérios descritos,

www.revistacultivar.com.br • Março 2016 39

Grupo de pesquisa da UPF liderado pelos professores Carlos Forcelini e Carolina Deuner

tabela 1 – eficiência de controle (%) e rendimento de grãos (kg/ha) dos diferentes tratamentos após três aplicações de fungicidas foliares. uPF, Passo Fundo (rS). 2013

Eficiência de controle (%)

¬-606058346634607260

rendimento(Kg/ha)

3885,0 b65034,1 a5072,5 a

4616,6 ab4877,5 ab4694,1 ab4934,1 ab4778,3 ab4955,0 a4317,5 ab

Tratamento

1 - Testemunha2 - 3x (Pira+epoxi)1

3 - 1x (Pira+epoxi + (Propi)2) + 2x (Pira+epoxi)4 - 1x (Pira+epoxi + (Epóxi)3) + 2x (Pira+epoxi)

5 - 3x (azox+cipro)4

6 - 1x (azox+cipro + (Propi)) + 2x (azox+cipro)7 - 1x (azox+cipro + (Epoxi)) + 2x (azox+cipro)

8 - 3x (Triflox+protio)5

9 - 1x (Triflox+protio + (Propi)) + 2x (Triflox+protio)10 - 1x (Triflox+protio + (Epoxi)) + 2x (Triflox+protio)

1piraclostrobina + epoxiconazol (66,5+25 g i.a./ha); 2propiconazol (100); 3epoxiconazol (62,5); 4azoxis-trobina + ciproconazol (60+24); 5trifloxistrobina + protioconazol (60+70). 6Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey 5% de probabilidade.

C. v.= 9,19%

foi o 9, e todos os outros, exceto os tratamentos 5 e 7, que apresentaram um controle regular, com eficiência variando de 58% a 66%.

Os maiores rendimentos foram obser-vados nos tratamentos: 2 - três aplicações da mistura piraclostrobina + epoxiconazol (5.034,1kg/ha); 3 - mesma mistura com adição de propiconazol na primeira apli-cação (5.072,5kg/ha); 9 - aplicações de trifloxistrobina + protioconazol, com pro-piconazol adicionado na primeira aplicação (4.955,0kg/ha).

A testemunha produziu 1.147,1kg/ha a menos em relação ao tratamento 2, que apre-sentou a maior produtividade. Isso reforça a importância de uma boa condução da lavoura e auxílio de fungicidas que se mostram como uma ferramenta importante para minimizar os danos causados pelas doenças, sendo uma medida emergencial, rápida e eficiente. Para que a cultura do trigo seja sustentável, é neces-sário manter altos patamares de rendimento de grãos. Nesse sentido, os fungicidas devem ser aplicados segundo critérios que assegurem o retorno econômico, considerando o ciclo biológico do patógeno, o comportamento das cultivares e as condições climáticas.

As pesquisas que têm como objetivo o ma-nejo integrado de manchas foliares devem ser intensificadas e contínuas, com o objetivo de orientar o manejo dos agricultores para reduzi-

rem danos na triticultura. Há a necessidade de que sejam desenvolvidos novos fungicidas ou reposicionados os fungicidas do mercado para atenuar o problema de controle da mancha amarela. Porém, isso deve estar associado a outras estratégias de manejo, como resistência genética e rotação de culturas.

Sintomas da mancha amarela do trigo com expansão de lesãoa partir do ponto de infecção. UPF, Passo Fundo (RS). 2013

O trigo (Triticum spp.) é o segun-do cereal mais produzido no

mundo, com significativa importância na alimentação humana e na economia agrícola global. O cereal é cultivado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País, sendo o Sul responsável por mais de 90% da produção nacional.

A produção brasileira de trigo supre aproximadamente metade da demanda nacional. No entanto, é de conhecimento geral que o Brasil possui imenso potencial para produzir trigo sem exigir a incorporação de áreas ainda não cultivadas com grãos. Sendo assim, dentre os componentes que limitam o potencial produtivo da cultura, as do-enças de origem fúngica se destacam, pois comprometem a qualidade e o rendimento de grãos.

dOenças funGicas

Victória V. Bertagnolli,Camila Ranzi,Valéria C. Ghissi,Pedro Bertagnolli Neto,Giovani Pastre,Gustavo Visintin eCarolina C. Deuner,Univ. Federal de Passo Fundo

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40 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

Marketing correto

Os produtos biológicos no Brasil sempre padeceram de uma grande dificuldade:

seu posicionamento. Em marketing, entende-se por posicionamento a forma como se deseja que o mercado veja, per-ceba, um produto. Assim, se o produto é para atender um mercado de baixa renda, nunca poderá ser posicionado como sofisticado, que possa levar à per-cepção de que se trata de um produto caro. Por outro lado, se o produto for voltado para um público de mais alta renda, deve-se partir justamente para o contrário, evitando conotações mais populares na sua embalagem, divulga-ção, pontos de venda etc.

Infelizmente os inoculantes, os produtos biológicos de mais largo uso na agricultura, foram posicionados desde o início de sua comercialização como produtos baratos, alternativos, sem ressaltar sua essencialidade para elevadas produtividades e seu elevado benefício em relação ao custo. A ven-da desde seu início centrou-se mais no preço baixo que nas vantagens do produto. E este erro mercadológico permaneceu ao longo dos anos, mes-mo quando a agricultura mudou de patamar e passou a ser uma atividade altamente tecnificada e rentável.

Na esteira do inoculante os demais produtos biológicos, inclusive os de controle biológico, entraram nesta trilha. Muitas vezes são posicionados como produtos “alternativos” e não como de primeira escolha. Este posi-cionamento errado tem trazido muitas dificuldades tanto para o ingresso des-tes produtos no mercado, como para que se possa precificá-los de maneira justa, proporcional à sua tecnologia e ao seu custo/benefício.

Ao observar os inoculantes sob o ponto de vista custo/benefício, observa--se que não existe na agricultura, talvez em nenhum segmento da economia,

em paralelo, aumentam as ameaças por conta da instabilidade climática que, independentemente de suas causas, veio para ficar por um longo tempo. Sabendo-se que o déficit hídrico é uma das grandes ameaças às altas taxas de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), é importante trabalhar fortemente no aumento da resistência do sistema simbiótico a estes estresses que vêm ocorrendo com muito maior frequência. Este é apenas um dos exemplos de que o investimento em P&D deve se elevar cada vez mais para que não se percam os grandes ganhos de nossa agricultura com o uso de inoculantes. E isto só se conseguirá com empresas fortes, sau-dáveis economicamente, que possam investir em pesquisa e desenvolvimento e apoiar trabalhos das entidades oficiais.

O importante é que se trace um pla-nejamento de marketing para posicio-nar o inoculante, bem como os demais produtos biológicos, como insumos es-senciais para uma agricultura altamente produtiva, como “primeira escolha” e não como “alternativos”. Logicamente que os aspectos ambientais que estes produtos apresentam são de grande importância, fundamentais mesmo para uma agricultura sustentável, mas pontos como custo/benefício, aumento de produtividade e outros ligados ao dia a dia do agricultor devem ser ressalta-dos. É preciso auxiliar o agricultor a perceber os produtos biológicos como insumos altamente tecnificados, que agregam valor à sua atividade, seja do ponto de vista de rentabilidade ou da sustentabilidade.

A ANPII, através de suas ações de marketing, vem trabalhando para que esta linha de produtos seja, cada vez mais, percebida como fundamental para a prática agrícola, fazendo com que o agricultor agregue valor à sua atividade pelo uso de produtos de ele-vada qualidade.

É preciso auxiliar o agricultor a perceber os produtos biológicos como insumos altamente tecnificados, que agregam valor à sua atividade,

seja do ponto de vista de rentabilidade ou de sustentabilidade

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um produto tão desequilibrado nesta relação. O fornecimento de nitrogênio para as leguminosas, em especial a soja, é fundamental para a obtenção de elevadas produtividades. Para produzir 3.000kg, a soja necessita de 250kg a 300kg de nitrogênio, equivalente a 600kg ou 800kg de ureia. Isto custaria mais de R$ 1.000,00. Esta mesma quantidade de N é obtida pelo uso de uma dose de inoculante ao custo de R$ 5,00. A princípio pode-se pensar que isto seja uma grande vantagem para o agricultor, pois compra um produto barato que resulta em um grande retor-no. Analisando no imediatismo, de fato parece haver razão neste raciocínio. Entretanto, pensando no longo prazo, a atividade produtiva de inoculantes pode passar a ser de baixíssima renta-bilidade e diminuir a concorrência no mercado, bem como impedir um inves-timento em pesquisa e desenvolvimen-to. Este aspecto, o do desenvolvimento, é de capital importância, pois a agricul-tura se moderniza a passos rápidos e,

Solon C. de Araujo,Consultor da ANPII

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Infelizmente os inoculantes,

os produtos biológicos de

mais largo uso na agricultura, foram

posicionados desde o

início de sua comercialização como produtos

baratos

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Polinizadores, néctar e pólen

A polinização é o ato sexual das flores, o processo que promove a união dos gametas masculino

e feminino das plantas, a formação do fruto e das sementes. Há dois grandes tipos de polinização, a autopolinização, em que a flor somente abre (por vezes sequer abre) após ocorrer a polinização com pólen da mesma flor; e a polinização aberta, em que existe a possibilidade de pólen de outras flores, de plantas da mesma espécie, vir a ser depositado no estigma – o que é chamado de polinização cruzada. No sistema aberto, o pólen pode ser transportado entre flores pelo vento (polinização anemófila) ou por insetos (entomófila), embora outros animais (aves, morcegos) possam atuar como polinizadores, além dos insetos (mariposas e borboletas, besouros), sendo as abelhas os principais agentes polinizadores.

Quando a estratégia é aumentar a taxa de polinização cruzada, em plantas de poli-nização entomófila, há que atrair os polini-zadores – um processo de sedução, encanto e fidelização. A orientação ocorre em duas etapas, sendo a primeira de uma distância relativamente grande até a proximidade da flor, e a segunda governa a orientação a curta distância, quando a abelha pousa e prova o néctar. As abelhas são primeiramente atraídas pela cor e/ou forma da flor, através de sinais visuais detectados por dois tipos de canais paralelos, situados atrás da retina. Um canal é usado para identificar as cores; o outro é monocromático e orienta a abelha até as bordas de um item do campo visual. Experimentos demonstraram que as abelhas diferenciam entre cores o que deve estar associado com as cores das flores preferidas para seu forrageamento.

Quando a abelha já se encontra próxima à flor, começa a segunda parte do processo de orientação, pela detecção de substâncias voláteis emitidas pela flor. Os voláteis podem ser liberados pela secreção do néctar, ou provir das pétalas ou ainda de outras partes da flor. As abelhas têm um grande número de sensilas nas antenas, que são os principais quimiorreceptores para aromas (voláteis) florais. A amputação parcial das antenas indicou que a acuidade da percepção do per-fume das flores pelas abelhas varia de acordo com o número de sensilas intactas restantes na antena. Alguns autores sugerem que o olfato desempenharia um papel até mais

de carboidratos, uma solução de frutose, glicose e sacarose em água, com quantidades menores de muitos outros compostos, como outros hidratos de carbono, aminoácidos, proteínas, íons minerais, ácidos orgânicos, vitaminas, lipídios, antioxidantes, glicosídeos, alcaloides e flavonoides. O conteúdo de hidra-tos de carbono no néctar pode variar de 4% a 60%, dependendo das espécies de plantas e das condições ambientais. Estudos demonstraram que, tanto a concentração de açúcares, quanto a proporção entre eles é fundamental para atração e fidelidade de polinizadores.

Segundo alguns autores, a abelha domés-tica prefere soluções de sacarose na faixa de 30%-50%, e pode discriminar entre concentra-ções de sacarose diferindo entre si por valores tão baixos quanto 5%. Eles mostraram que as abelhas podem distinguir entre 50% e 45%, mas não entre 50% e 47,5% ou entre 47,5% e 45% de sacarose.

A quantidade de néctar e a sua qualidade podem desempenhar um papel importante na determinação do forrageamento das abe-lhas, embora não esteja claro se as abelhas adaptam suas estratégias de forrageamento considerando as flutuações nas característi-cas do néctar, entre dias ou entre horários, dentro de um mesmo dia. Essas alterações afetam a atratividade dos polinizadores e a sua fidelidade.

Apesar de os açúcares do néctar serem 100-1000 vezes mais concentrados que os aminoácidos, podem afetar significativamente a atratividade de néctar. Enquanto pássaros e morcegos podem obter nitrogênio de outras fontes, muitos insetos adultos alimentam-se apenas de líquidos. Portanto, as flores polini-zadas por insetos devem possuir mais amino-ácidos em seu néctar que as flores polinizadas por vertebrados.

Estima-se que 80% das plantas superio-res necessitem de polinização para produção de frutos e sementes. Sem o serviço ambien-tal de polinização entomófila, a maioria dos alimentos que chega à nossa mesa não exis-tiria, assim como muito da flora nativa tam-bém não existiria. Conhecer os meandros dessa intrincada relação é fundamental para estabelecer uma consciência da necessidade de adaptarmos nossos sistemas de produção agrícola e tomarmos atitudes claras para favorecer os polinizadores e outros insetos benéficos, a fim de que toda a sociedade possa usufruir de seus benefícios.

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importante no recrutamento das forrageiras do que as manobras de dança, observadas em colônias de abelhas.

Fidelidade é FundamentalNão basta atrair e seduzir, é necessário

fidelizar, e os aromas florais são fundamentais para tanto. Já foi demonstrada a importân-cia de substâncias voláteis, como ocimeno, mirceno, limoneno e linalol para manter a fidelidade das abelhas. O exame de 150 es-pécies de orquídeas demonstrou a existência de um espectro volátil complexo, que envolve mais de 50 compostos diferentes. A produção de voláteis florais em orquídeas é específica de cada espécie, e é fundamental para a polinização, uma vez que seus principais polinizadores, as abelhas da tribo Euglossini, discriminam entre espécies de orquídeas por olfação. A emanação de voláteis segue um ritmo cíclico durante o dia, provavelmente associado a mudanças na composição e na quantidade de néctar disponível na flor.

No entanto, chegar a uma flor de uma determinada planta não é suficiente, como em qualquer relação, a fidelidade exige um reforço contínuo, que vai além dos voláteis. Para tanto, as flores oferecem pólen e néctar em quantidades que superem a capacidade de forrageamento de cada abelha, indivi-dualmente. Este limiar de forrageamento é considerado a recompensa mínima aceitável para as abelhas, devendo superar em abun-dância e qualidade a recompensa de outras espécies de plantas próximas, que competem pela visitação das abelhas. Trata-se de uma questão de eficiência e de consumo mínimo de energia para o máximo de coleta dos produtos, os quais servem de alimento para si e para a colônia.

pólen e néctaR, aLiMENToS daS abELHaSO pólen é o repositório do gameta

masculino, composto quase exclusivamente por proteínas, que é coletado pelas abelhas como alimento, e assim ganha a chance de fecundar as flores que são visitadas durante o forrageamento. O néctar é uma secreção doce e aquosa de uma planta, que medeia as interações com polinizadores e defensores, às vezes protegendo contra usurpadores ou mi-crorganismos devido à presença de compos-tos secundários e proteínas antimicrobianas na sua composição. Trata-se de um complexo

Decio Luiz GazzoniO autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

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42 Março 2016 • www.revistacultivar.com.br

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Vlamir [email protected]

Produtores melhoraram tecnologia, driblaram o clima e colhem uma boa safra

TRIGO - O mercado já está reagindo e como a safra que passou teve boa parte da colheita destinada ao setor de ração, haverá menos trigo nacional em oferta, o que obrigará os moinhos a maiores importações. Esse produto continuará chegando com valores altos, porque o dólar não dá sinais de que irá ceder a bar-reira de R$ 4,00. Com isso, o produto importado tende a atingir patamares de R$ 1.100,00 a R$ 1.300,00 a tonelada, o que servirá de fator de valorização do grão nacional. Com a expectativa de final do El Niño e indicativos de chuvas em volumes menores, este pode se transformar em um bom ano para o trigo, que se adapta melhor a períodos mais secos, principalmente na fase final das lavouras.

chIna - As compras foram mais fracas nestes primeiros dois meses de 2016 porque o país tinha importado em ritmo acelerado em 2015. Mas a expectativa sobre a soja em grão, que teve 81,7 milhões de toneladas importadas no ano passado, é de que agora possa chegar à marca de 86 milhões de toneladas. Os mais otimistas falam em até 87 milhões de toneladas, com a China aprovei-tando as boas cotações, do período de grãos baratos que o mundo ainda vive. Nos próximos anos tudo aponta para uma fase de alta dos indicativos, porque a produção mundial de grãos vem sendo menor que a demanda. Isso pode ser um ciclo que está começando e favorecerá aumento das cotações. Os chineses normalmente gostam de trabalhar com grandes estoques e pouco risco. Por isso

MiLHoMilho com recorde de exportação O mercado do milho teve um excelente ano e tudo

indica que vem outro período bom pela frente. As expor-tações de janeiro a dezembro de 2015 superaram os 28,9 milhões de toneladas, com recorde histórico. Em 2016 já começa com mais de dois milhões de toneladas exporta-das em janeiro e em fevereiro caminha para mais de 5,5 milhões de toneladas exportadas, com bons indicativos de que irá fechar o ano comercial também com recorde histórico. Com cotações excelentes, os produtores têm al-cançado grande margem de lucratividade. Os que vinham colhendo a safra de verão já estavam vendendo e exer-cendo os lucros para fazer caixa e quitar dívidas. Muitos anteciparam pagamentos de dívidas com o faturamento do milho e conseguiram, além de descontos, vender o produto em alta. Desta forma, o quadro segue positivo e animador para o plantio da safrinha, que avança em ritmo forte e também mostra recorde de área plantada, maior que em anos anteriores, principalmente no Centro-Oeste e no Paraná, que dominam a área e a produção. Há menor potencial de área somente nas regiões Nordeste e Norte, que tiveram problemas com falta de chuvas para plantar a soja e estão perdendo a janela do milho safrinha. Mas, no plano global o Brasil vem com potencial de uma produção de mais de 60 milhões de toneladas nesta segunda safra, o que pode resultar em uma safra total de 85 milhões de toneladas, suficiente para atender e manter grandes

exportações, além de proporcionar o abastecimento do mercado interno, que tende a ter crescimento da deman-da pelo setor de ração. Já há quase 50% da nova safrinha negociada de forma antecipada. Um fato inédito, porque nos anos anteriores quase não havia negócios antecipados com o milho porque no plantio não se vislumbravam lucros aos produtores. Agora, o quadro já começa com indicativos de lucros.

SojaColheita surpreende com boa produtividadeOs produtores estão em colheita da safra e nos

estados que já colheram boa parte das lavouras, como Centro-Oeste e Paraná, a produtividade esteve acima do esperado. Há perdas no potencial produtivo, mas são menores do que estavam sendo apontadas. Tudo cami-nha para uma safra cheia e níveis acima de 98 milhões de toneladas. Mais de 55% desta soja está negociada e os indicativos são de que os produtores vão usar parte do que resta como ativo financeiro e deixar para negociar a partir da metade do ano, em busca de cotações me-lhores. Os fretes subiram forte e, com isso, tiram parte dos ganhos dos produtores, que dão preferência para atender a entrega dos contratos e o restante deixam a fixar para negociações futuras. Com boas expectativas de ganhos depois de maio, quando entram em cena a safra dos EUA e seus riscos e pressão positiva, que poderão vir de Chicago.

FeijãoSegue forteO mercado do feijão começou em alta, com safra menor

que a demanda, em ano em que os brasileiros estão voltando ao consumo de alimentos básicos nos domicílios. Se houvesse, no Brasil, volumes de feijão para negociar, seria este o ano do feijão com arroz, prato diário do brasileiro. Mas como há pouco produto, será o ano do feijão valorizado. Como existem dificuldades para importar o produto, com cotações do dólar acima de R$ 4,00, o mercado caminha com indicativos firmes e favoráveis aos produtores internos, principalmente para o produto bem conduzido e de alta qualidade.

arrozForte demanda e boas cotaçõesA safra chega com produção menor que a do ano

passado, devendo ficar na faixa de 11 milhões de toneladas ou pouco acima deste patamar, para um consumo que certamente irá ultrapassar 12 milhões de toneladas. Como o país tem exportado bons volumes do produto nacional (na casa de 10% da produção), vai necessitar de importações e neste ano, com o dólar acima de R$ 4,00, o arroz importado não chegará ao mercado brasileiro abaixo de R$ 45,00 por saca. Neste momento de colheita ocorrerá pressão de baixa de 10% a 15% nos indicativos frente aos bons momentos do começo do ano. A partir de abril e maio os níveis tendem a apresentar recuperação. A demanda seguirá forte, neste ano de crise econômica.

CURTAS E BOASpoderão comprar mais.

aRGenTIna - As estimativas da safra já apontam avanços, com a soja podendo alcançar 58 milhões de toneladas. Em milho há mais otimismo ainda, porque o plantio cresceu e agora a Bolsa de Buenos Aires estima uma colheita de 25 milhões de toneladas do Cereal, frente a níveis de 22 milhões de toneladas projetados anteriormente. Além de tirar o imposto de exportação do milho e de baixar o da soja para 30% frente aos 35%, o novo governo levou otimismo aos agricultores e isso tende a favorecer a produção local.

eua - Os produtores se encontram diante do dilema de produzir com riscos de não ganhar nada ou reduzir a área plantada para forçar alta nas cotações. O fato é que por enquanto boa parte das pesquisas mostra poucas alterações no quadro da área plantada e até há quem projete crescimento da soja e do milho. Mas, o que se percebe a respeito dos produtores é que mesmo reduzindo o custo com investimentos menores, terão de colher altas produtividades para conseguir obter lucros. É o caso do milho, em que é necessário colher mais de 14,5 toneladas/hectare para ganhar, e da soja, que precisa ultrapassar quatro toneladas/hectare para gerar lucros. Níveis estes muito acima da média nacional americana. Ou seja, ainda existem indefinições que irão até as vésperas do plantio, no final de abril e começo de maio.

A safra registra bom ritmo de colheita, com a soja com desempenho melhor que em anos anteriores no Centro-Oeste e no Paraná. O resultado está sendo melhor que o esperado. Houve problemas para plantar, com chuvas escassas ou a falta total de precipitações nos meses de setembro a novembro. Com isso ocorreu atraso em muitos casos e aqueles que plantaram sofreram com o clima. Mas o sucesso do setor veio com a boa tecnologia empregada. Desta forma, as plantas responderam bem e mesmo com adversidades se vislumbra uma grande safra de soja, com recorde de produção, que deve superar com facilidade os 98 milhões de toneladas e com fôlego até para bater os 100 milhões de toneladas. Um ganho de produção frente à safra passada, que teve colheita de pouco mais de 94 milhões de toneladas. Mas é preciso lembrar que neste ano houve aumento da área plantada e assim a produtividade não será recorde, pois o El Niño causou problemas em grande parte do país. Já no caso do milho da primeira safra, o que ocorreu foi avanço da produtividade, porque houve forte queda de plantio, com redução de 20% na área da primeira safra, destinada à soja. O ano tinha tudo para resultar em perdas ainda maiores, mas como o cereal está com boas cotações e aponta para lucros, houve bons investimentos, com boas sementes, boa adubação e tratamento adequado das lavouras, que seguiram com sanidade até o final do ciclo. O que se observa em milho são lavouras com alta produtividade e recorde histórico em determinados casos. Os ganhos têm sido maiores que os alcançados com a soja. Deste modo, a queda da área vista no milho nos últimos anos pode enfrentar uma reviravolta neste novo plantio de 2016/17. Com todos os grandes grãos indicando lucros, o setor vem para esta colheita com otimismo e deve proporcionar melhor capitalização para os produtores enfrentarem os anos que virão.

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