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12 de dezembro de 2017 | Ano 1 nº 8 NESTA EDIÇÃO Instalações Portuárias - 1 Os Instrumentos Náuticos nas Grandes Navegações - 7 Relembrando a História - 16 Eventos do Mês - 18 Túnel do Tempo - 19 *** INSTALAÇÕES PORTUÁRIAS Ao se implantar uma obra portuária, cumpre lembrar que ela deverá inserir-se num determinado meio e cumprir determinada função. O meio de implantação da obra é caracterizado pelas condições de mar e de terreno, além das demais condições ambientais, como, por exemplo, o regime de ventos e condições climáticas. A função é caracterizada pelo objetivo da obra, em termos de carga e descarga dos navios ou do manuseio e manipulação das cargas na região do retroporto. A combinação dos fatores acima é responsável pelas características morfológicas da obra. O local de implantação da estrutura portuária deve oferecer boas condições de abrigo e proteção à ação do mar ou exigir obras especiais de defesa. As condições ideais de localização correspondem sempre à possibilidade de ser encontrada uma enseada abrigada e com profundidade de água suficiente para permitir o acesso dos navios ou embarcações, sem obras adicionais de dragagem ou derrocagem. Caso não sejam encontradas essas condições ideais, impõem-se realizar obras adicionais de abrigo, tais como, esporões e quebra-mares, além dos serviços de dragagem que, muitas vezes, representam investimentos de mesma ordem de grandeza ou mesmo superiores aos investimentos correspondentes às estruturas acostáveis. Na impossibilidade de serem encontradas condições adequadas para implantação das obras, na região costeira, pode-se recorrer às chamadas instalações em mar aberto (offshore), nas quais os navios operam praticamente com seus próprios recursos, mediante apoio de sistemas auxiliares de bóias de amarração (mooring buoys). É o caso de certos terminais petroleiros empregando monobóia. Do ponto de vista de sua localização, as obras acostáveis podem ser marítimas, fluviais ou lacustres. Quanto à proteção, as obras podem ser protegidas ou em mar aberto. 1 CENTRO DOS CAPITÃES DA MARINHA MERCANTE | O Sextante

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12 de dezembro de 2017 | Ano 1 nº 8

NESTA EDIÇÃO

Instalações Portuárias - 1

Os Instrumentos Náuticos nas GrandesNavegações - 7

Relembrando a História - 16

Eventos do Mês - 18

Túnel do Tempo - 19

***

INSTALAÇÕES PORTUÁRIAS

Ao se implantar uma obra portuária, cumprelembrar que ela deverá inserir-se numdeterminado meio e cumprir determinada função.

O meio de implantação da obra é caracterizadopelas condições de mar e de terreno, além dasdemais condições ambientais, como, por exemplo,o regime de ventos e condições climáticas.

A função é caracterizada pelo objetivo da obra, emtermos de carga e descarga dos navios ou domanuseio e manipulação das cargas na região doretroporto.

A combinação dos fatores acima é responsávelpelas características morfológicas da obra.

O local de implantação da estrutura portuária deve

oferecer boas condições de abrigo e proteção àação do mar ou exigir obras especiais de defesa.

As condições ideais de localização correspondemsempre à possibilidade de ser encontrada umaenseada abrigada e com profundidade de águasuficiente para permitir o acesso dos navios ouembarcações, sem obras adicionais de dragagemou derrocagem.

Caso não sejam encontradas essas condiçõesideais, impõem-se realizar obras adicionais deabrigo, tais como, esporões e quebra-mares, alémdos serviços de dragagem que, muitas vezes,representam investimentos de mesma ordem degrandeza ou mesmo superiores aos investimentoscorrespondentes às estruturas acostáveis.

Na impossibilidade de serem encontradascondições adequadas para implantação das obras,na região costeira, pode-se recorrer às chamadasinstalações em mar aberto (offshore), nas quais osnavios operam praticamente com seus própriosrecursos, mediante apoio de sistemas auxiliares debóias de amarração (mooring buoys). É o caso decertos terminais petroleiros empregandomonobóia.

Do ponto de vista de sua localização, as obrasacostáveis podem ser marítimas, fluviais oulacustres.

Quanto à proteção, as obras podem ser protegidasou em mar aberto.

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No primeiro caso, ou estão localizadas em baíasou enseadas naturais protegidas ou estão abrigadaspor obras de defesa e tranqüilização, tais comoquebra-mares, espigões, etc..

No segundo caso, estão compreendidos osterminais offshore.

Outro modo de classificar obras acostáveis é o dafunção da obra.

Assim podemos ter obras acostáveis para cargageral fracionada, terminais conteineiros, terminaisro-ro, terminais mineraleiros, terminaispetroleiros, terminais de fertilizantes, terminais decereais e outros.

De acordo com o tipo estrutural ou a natureza daestrutura, as obras acostáveis podem ser deestrutura contínua, como é o cais comercial de umporto ou de estruturas discretas, como é umterminal petroleiro.

O cais contínuo pode ser do tipo de parâmetroaberto ou fechado. O cais de parâmetro fechadopossui uma cortina frontal, que assegura acontenção do terrapleno de retaguarda. No cais deparâmetro aberto, esta cortina ou não existe ouestá na retaguarda do cais.

A zona abaixo do cais é taludada suavemente apartir do extremo interno da seção estrutural, atéatingir a linha de dragagem.

CAIS DE PARÂMETRO ABERTO

CAIS DE PARÂMETRO FECHADO

CAIS DE PARÂMETRO FECHADO

TIPOS DE BERÇOS DE ATRACAÇÃO

Nas soluções em estruturas discretas, estas estãosubdivididas em elementos isolados, realizandofunções específicas de acostagem, suporte deequipamentos e amarração de navios eembarcações como, por exemplo:

a) Plataforma de carga / descarga;b) Dolfins de atracação;c) Dolfins de amarração;d) Ponte de acesso;e) Estacas de proteção (dolfins elásticos);f) Defensas.

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“Porto Organizado” é o porto construído eaparelhado para atender as necessidades danavegação e da movimentação e armazenagem demercadorias, concedido ou explorado pela União,cujo tráfego e operações portuárias estejam sob acircunscrição de uma autoridade portuária.Os portos não enquadrados nessa situação sãoditos “não organizados”. Os portos “nãoorganizados” são geralmente pequenos e poucomovimentados, sem administração, resumindo-se,na maioria das vezes, a um pequeno cais pararecebimento de mercadorias.

“Área do Porto Organizado” é a áreacompreendida pelas instalações portuárias, quesão: ancoradouros, docas, cais, pontes e píer deatracação e acostagem, terrenos, armazéns,edificações e vias de circulação interna, bemcomo pela infra-estrutura de proteção

Um porto é formado por distintoscomponentes, naturais ou construtivos, que seclassificam em:

Anteporto: constituído essencialmente pelo: a) Canal de acesso; eb) Fundeadouros.

Porto propriamente dito, englobando: a) Bacia de evolução; b) Cais com faixa de atracação e

movimentação terrestre;c) Estação de serviços (local de atracação de

rebocadores, cábreas, pontões de serviço eembarcações de polícia e de bombeiros).

Retroporto que, por sua vez, se subdivide em:a) Armazenagem, que pode ser externa ou

de pátio e interna, em armazéns ougalpões, silos e tancagem;

b) Acessos terrestres, com os diferentesmodais que se conectam;

c) Instalações auxiliares, como as redes deutilidades, água potável e industrial, eletricidadeem alta e baixa tensão, telecomunicações,incêndio, segurança, manutenção, estiva ecapatazia.

Administração em seus diferentes segmentoscomo: Autoridade Portuária, Fazendária (SRF),Naval (DPC), Policial (PF), Trabalhista (MT) eSanitária (MS e MA); e Operadores Portuários eOGMO.

OBRAS COMPLEMENTARES: quecompreendem entre outras partes:

a) Balizamento dos canais, com bóias,balizas, faroletes, refletores de radar, etc.;

b) Quebra-mares, para proteção contra oimpacto das ondas;

c) Marégrafos, para registro da amplitudedas marés ao longo dos anos, de forma afacilitar sua previsão.

Ancoradouro: é o local onde a embarcação lançaferro. Também chamado fundeadouro. É o localpreviamente aprovado e regulamentado pelaAutoridade Marítima.

Docas: é a parte de um porto de mar ladeada demuros ou cais, em que as embarcações tomam oudeixam carga.

Cais: é a plataforma em parte da margem de umrio ou porto de mar em que atracam os navios e sefaz o embarque ou desembarque de pessoas oumercadorias.

Ponte: é a construção erigida sobre o marservindo à ligação com um cais avançado, a fimde permitir a acostagem de embarcações paracarga ou descarga e a passagem de pessoas eveículos;

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Píer: parte do cais que avança sobre o mar emlinha reta ou em L;

Bacia de evolução: Área localizada nasproximidades do cais, dotada de dimensões eprofundidades adequadas, cuja finalidade é a depossibilitar fundear e manobrar as embarcações.

Atracação: é operação de fixação do navio aocais.

Acostagem: é ato de acostar um navio(aproximar, arrimar, encostar).

Operação portuária: é a movimentação e/ouarmazenagem de mercadorias destinadas ouprovenientes de transporte aquaviário, realizadano porto organizado por operador portuário.

Mercadoria: é todo bem destinado ao comércio.

Capatazia: atividade de movimentação demercadorias nas instalações dentro do porto,compreendendo o recebimento, conferência,transporte interno, abertura de volumes para aconferência aduaneira, manipulação, arrumação eentrega, bem como o carregamento e descarga deembarcações, quando efetuados poraparelhamento portuário.

Estiva: atividade de movimentação demercadorias nos conveses ou nos porões dasembarcações principais ou auxiliares, incluindo otransbordo, arrumação, peação e despeação, bemcomo o carregamento e a descarga, quandorealizados com equipamentos de bordo.

Conferência de Carga: contagem de volumes,anotação de suas características, procedência ou

destino, verificação do estado das mercadorias,assistência à pesagem, conferência do manifesto edemais serviços correlatos, nas operações decarregamento e descarga de embarcações.

Conserto de carga: reparo e restauração dasembalagens de mercadorias, nas operações decarregamento e descarga de embarcações,reembalagem, marcação, remarcação,carimbagem, etiquetagem, abertura de volumespara vistoria e posterior recomposição.

Vigilância de embarcações: atividade defiscalização da entrada e saída de pessoas a bordodas embarcações atracadas ou fundeadas ao largo,bem como da movimentação de mercadorias nosportalós, rampas, porões, conveses, plataformas eem outros locais da embarcação.

Bloco: atividade de limpeza e conservação deembarcações mercantes e de seus tanques,incluindo batimento de ferrugem, pintura, reparosde pequena monta e serviços correlatos.

Operador portuário: pessoa jurídica pré-qualificada para exercer as atividades demovimentação de passageiros ou movimentação earmazenagem de mercadorias, destinadas ouprovenientes de transporte aquaviário, dentro daárea do porto organizado.

Autoridade portuária: é a administração doporto organizado.

O Sistema Portuário Brasileiro opera medianteduas modalidades de exploração das instalações:uso público e uso privativo.

As instalações de uso público estão localizadasdentro do porto organizado e as de uso privativosituam-se fora da área do porto organizado.

Ambas as modalidades de exploração poderão serrealizadas por pessoa jurídica de direito públicoou privado, devidamente habilitada namovimentação e/ou armazenagem de mercadoriasdestinadas ou provenientes de transporteaquaviário.

Na exploração de uso privativo, o particular detémmaior autonomia no uso da instalação, observandoo disposto no contrato de arrendamento celebrado

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com a Administração Portuária, sendo comumentechamada de terminal privativo.

A instalação portuária privativa pode ser de usoexclusivo, para movimentação somente de cargaprópria, ou de uso misto, para movimentação decarga própria e de terceiros.

A ADMINISTRAÇÃO DO PORTOORGANIZADO

É composta, em nível superior, pelo Conselho deAutoridade Portuária (CAP) e pela AdministraçãoPortuária propriamente dita.

Anteriormente cabia à Empresa de Portos doBrasil S.A. (Portobrás), a implantação e afiscalização da política portuária, assim como ocontrole e a supervisão técnica, administrativa,econômica e financeira sobre os portos brasileiros.

Atualmente é o CAP (Conselho de AutoridadePortuária), em cada porto organizado ou noâmbito de cada concessão, o detentor decompetências normatizadoras e de apreciação edecisão, em segunda instância administrativa, dosrecursos contra decisões proferidas pelaAdministração do Porto, nos limites de suacompetência.

Compete ao Conselho de AutoridadePortuária:

I. Baixar o regulamento de exploração;II. Homologar o horário de funcionamento

do porto;III. Opinar sobre a proposta de orçamento do

porto;IV. Promover a racionalização e a otimização

do uso das instalações portuárias;V. Fomentar a ação industrial e comercial do

porto;VI. Zelar pelo cumprimento das normas de

defesa da concorrência;VII. Desenvolver mecanismos para atração de

cargas;VIII. Homologar os valores das tarifas

portuárias;IX. Manifestar-se sobre os programas de

obras, aquisições e melhoramentos dainfra-estrutura portuária;

X. Aprovar o plano de desenvolvimento ezoneamento do porto;

XI. Promover estudos objetivandocompatibilizar o plano dedesenvolvimento do porto com osprogramas federais, estaduais emunicipais de transporte em suas diversasmodalidades;

XII. Assegurar o cumprimento das normas deproteção ao meio-ambiente;

XIII. Estimular a competitividade;XIV. Indicar um membro da classe empresarial

e outro da classe trabalhadora paracompor o conselho de administração ouórgão equivalente da concessionária doporto, se entidade sob controle estatal;

XV. Baixar seu regimento interno;XVI. Pronunciar-se sobre outros assuntos de

interesse do porto.

O CAP é órgão colegiado com ampla participaçãoda sociedade, composto por representantes dosgovernos federal, estadual e municipal, daautoridade portuária, dos empresários, dostrabalhadores portuários e dos usuários dos portos.Tal colegiado materializa a importância do porto,econômica e socialmente, no cenário local enacional.

A Administração Portuária, propriamente dita, é aexercida pela União ou pela entidadeconcessionária do porto organizado. Geralmente,essa entidade concessionária é representada pelasdenominadas Cias Docas.

TIPOS DE INSTALAÇÕES PORTUÁRIAS

BERÇOS PARA CARGA GERALFRACIONADA

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TERMINAL DE GRANÉIS SÓLIDOS

INSTALAÇÃO PORTUÁRIA COMTERMINAIS DIVERSIFICADOS

(MAASVLAKTE)

TERMINAL DE CONTÊINERES

TERMINAL GASEIRO

TERMINAL PETROLEIRO

TERMINAL ILHA

TERMINAL DE MONOBÓIA

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MONOBÓIA

TRANSFERÊNCIA DE NAVIO PARA NAVIO

DEFENSAS

CLC Alberto Pereira de [email protected]

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OS INSTRUMENTOS NÁUTICOS NASGRANDES NAVEGAÇÕES

Imagina-se que antes de se lançarem ao mar,algumas tribos de beduínos aprenderam a viajaratravés dos desertos com suas caravanas,utilizando as estrelas como referência.

Como as dificuldades da navegação no mar erammuito semelhantes àquelas da navegação no

deserto, é bem provável que muitosconhecimentos obtidos no deserto foramaproveitados por aqueles que se iniciavam nanavegação marítima de alto mar.

A moderna navegação marítima está baseada emtrês pilares: determinação da latitude, longitude ehora.

Antes da invenção da agulha magnética,cronômetro, sextante, odômetro, ecobatímetro ecarta náutica, o navegante experiente nunca perdiaa costa de vista e só utilizava, para se posicionar,os seus conhecimentos sobre os pontos notáveisda costa, o regime de ventos e a ação de correntesmarítimas notáveis, ou seja, era um verdadeiroprático da navegação.

Com o decorrer dos séculos, os navegantespassaram a usar a agulha magnética para indicar orumo, as ampulhetas para determinar a hora, oodômetro de barquinha para indicar as distânciaspercorridas e as velocidades, o prumo de mão paradeterminar a profundidade do mar no local dasondagem,

Passou também a ser possível determinar alatitude, com alguma imprecisão, no instante dapassagem meridiana do sol, ao meio-diaverdadeiro.

A latitude era obtida de uma maneirarelativamente simples. No instante em que o solatingia a sua maior altura sobre o horizonte (meio-dia verdadeiro), media-se essa altura em graus,por exemplo, com o astrolábio e calculava-se oseu complemento – a distância zenital. Adeclinação do sol era obtida, nos primeiros anos,no “Almanach Perpetuum” de Abraão Zacuto.Aplicando-se a fórmula:

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Latitude = distância zenital ± declinação

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Quando o navegante atingia a latitude do portodesejado, passava a navegar, conforme o caso,para leste ou para oeste, mantendo assim a mesmalatitude até avistar e reconhecer a costa, quandopassava a navegar a rumos práticos até o porto.

Outro meio para se determinar a latitude, quandose navegava no hemisfério norte em latitudesacima de 10°, era o de se determinar a altura daestrela polar sobre o horizonte, com o auxilio, porexemplo, da balestilha ou do kamal, quando areferida estrela e a linha do horizonte estavamperfeitamente visíveis. Esta preferência pela estrela polar era porque elanão se movimentava no céu, como as demaisestrelas, por estar praticamente sobre o “eixo domundo” e se projetando sobre o pólo norte celeste.

Os árabes tinham um método fácil, e aproximado,de medir a altura da polar sobre a linha dohorizonte, que era com o auxílio da largura de umdedo, denominada de “isba”. Sabendo-se que 360°= 224 isbas, tem-se que 1 isba = 1,60714° = 1° 36’25”.

Para a medida da velocidade, considerava-se quenavegando um dia inteiro, com a proa para aestrela polar, a sua altura aumentava em 1 isba.Então podemos conhecer a velocidade, em milhasnáuticas, fazendo o seguinte cálculo:1 isba = 1,60714°1° = 60’1’ = 1 milha náutica = 1.852 m1,60714 = 60’ + 36,4’ = 96,4 milhas náuticas / dia96,4 : 24 = 4,02 nós (velocidade média)

KAMAL

Os árabes também usavam uma medida maisprecisa, porém ainda simples, utilizando uminstrumento conhecido por kamal, que era umparalelogramo feito de chifre ou madeira,medindo 2,54 cm x 5,08 cm, tendo um barbanteinserido no seu centro. No barbante existiamvários nós colocados espaçadamente, cada umrelativo a um determinado porto.

O navegante árabe, quando navegava à noite, nohemisfério norte, entre a Índia e a PenínsulaArábica, estando a estrela polar à vista, podiasaber se estava a cima, a baixo ou na mesmalatitude do porto de destino, colocando na boca onó do referido porto e esticando o braço, voltadopara a estrela polar, colocava a aresta inferior dokamal tangenciando a linha do horizonte everificava a posição da estrela polar. Se a referidaestrela estava afastada acima da aresta superior dokamal, significava que o navegante estava em umalatitude mais ao norte que o referido porto. Assim,procurava ir mais para o sul, até que a estrelaficasse tangenciando a aresta superior do kamal.Quando a estrela estava abaixo da aresta superiordo kamal, navegava para o norte, até que elaficasse tangenciando a aresta superior do kamal.

Quando a estrela polar estava tangenciando aaresta superior do kamal, o navegante rumavapara leste ou para oeste, conforme a direção doporto.

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A latitude é igual à altura do pólo celestesobre o horizonte ou igual à declinação dozênite

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QUADRANTE

O quadrante era um instrumento náutico, comescala igual a ¼ de círculo (90°), fabricado demadeira ou latão. Era muito utilizado para medir aaltura da estrela Polar (através da distânciazenital) e assim determinar a latitude do lugar deobservação. Era costume marcar, em seu corpo, osângulos referentes às latitudes de váriaslocalidades.

Existem registros de sua utilização desde os anos1200 e, nos anos 1450, era muito utilizado nanavegação marítima européia.

ASTROLÁBIO

O astrolábio astronômico teve origem na Gréciaantiga e a primeira referência sobre ele é datada de225 a.C..

Quanto ao astrolábio náutico, acredita-se que oseu primeiro emprego, em viagens marítimas,tenha acontecido no final do século XV.

Ele era usado para determinar a latitude de umnavio no mar, pela medida da altura do Sol(através da distância zenital) ao meio-diaverdadeiro, ou a medida da altura de uma estrelade declinação conhecida, no momento de suapassagem meridiana.

ASTROLÁBIO NÁUTICO

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GNOMON

Ele não era como um astrolábio completo, comoeram aqueles usados pelos astrólogos (como naépoca eram conhecidos os astrônomos) e sim umcírculo vazado, dividido em 4 quadrantes, cadaum graduado de 0° a 90° na periferia. Era pesadoe feito de latão (cobre + zinco) e possuía umaalidade, que girava em torno de um eixo quepassava pelo seu centro.

O astrolábio náutico substituiu ou complementouas funções da balestilha e do quadrante, comoinstrumento de medição de ângulos verticais, abordo de navios. O astrolábio foi utilizado a bordo de navios até ofinal do século XVII, quando passou a sersubstituído pelo quadrante de Davis.

BALESTILHA

Instrumento náutico utilizado para medir ângulosentre astros e entre estes e o horizonte. O seunome é devido a sua semelhança com a besta oubalestra, uma arma medieval utilizada paradisparar dardos.A balestilha é constituída por uma régua demadeira, o “virote”, de seção quadrada e com 3 a4 palmos de comprimento, na qual se enfia a“soalha”, que corre perpendicularmente ao virote.

A leitura do ângulo era feita no ponto da escalagravada no virote, onde a soalha tinha ficado ao

fazer-se a medição.

QUADRANTE DE DAVIS

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Ao meio-dia verdadeiro local – aqui às 1215 – o Solprojeta a menor sombra possível, cuja direção é a donorte/sul verdadeira.

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Instrumento náutico que foi inventado, em 1594,pelo capitão inglês John Davis e era usado paramedir a altura de um corpo celeste, principalmenteSol e Lua. Quando observando o Sol, o naveganteconservava o referido astro nas suas costas eobservava a projeção da sombra feita pela pínulasuperior sobre a pínula do horizonte, que possuíaum rasgo, através do qual se podia ver ohorizonte. A soma dos ângulos obtidos nos doisarcos era igual à distância zenital do astro nomomento da observação.

SEXTANTE

O sextante é um instrumento náutico utilizadopara medir ângulos entre dois objetos visíveis,mas a sua principal utilização é para medirângulos entre corpos celestes e o horizonte, quesão conhecidos como “alturas de astros”.

A escala de um sextante tem um comprimento de1/6 do círculo (60°), daí a sua denominação de“sextante”. Existem outros instrumentos similarescomo o “oitante”, com escala igual a ⅛ do círculo(45°), o “quintante” com escala igual a 1/5 docírculo (72°) e o quadrante, com escala igual a ¼do círculo (90°).

Por volta de 1730 foi inventado o oitante e depoiso sextante, que substituíram o quadrante de Davis,como principal instrumento de navegação.

AGULHA MAGNÉTICA

Não se sabe exatamente quando a bússola foiinventada, mas existe uma grande probabilidadede tenha sido na China, onde existem registros,datados dos anos 400 a.C., com referência a um“indicador do sul”.Este instrumento consistia de uma colher,esculpida e polida, a partir de uma pedra demagnetita que, quando colocada sobre umasuperfície polida, o seu cabo apontava para o sul.

Somente entre os anos 850 e 1050 aparecemregistros indicando que as agulhas magnéticaspassaram a ser usadas em viagens marítimas.

Ao longo do tempo foi verificado que a agulhamagnética não apontava para o “norte verdadeiro”e sim para o “norte magnético” e que o ângulo,

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entre estas duas direções, a declinação magnética,variava de lugar para lugar e que, em um mesmolugar, apresentava uma variação anual.

Para evitar que os movimentos do navio no martivessem influência sobre as bússolas, passou-se acolocá-las em uma suspensão Cardan, que éformada por um conjunto de dois anéis pivotadosem eixos ortogonalmente dispostos.

As agulhas magnéticas atingiram a sua máximaprecisão no século XIX, com a patente concedidaao cientista escocês William Thomson (LordKelvin), relativa a um desses instrumentos.

AGULHA MAGNÉTICA DE LORD KELVIN

AMPULHETA

A ampulheta é um dos mais antigos meios para semedir o tempo.

Ela é constituía por dois recipientes cônicos oucilíndricos transparentes, que se comunicam entresi por um pequeno orifício, que deixa passar umaquantidade de areia, de um para o outro recipiente,em um determinado período de tempo.

Antigamente, no serviço de quarto dos navios, erautilizado um conjunto de oito ampulhetas de meiahora cada uma, para marcar as quatro horas deduração daquele serviço.

Para indicar o tempo decorrido, das quatro horas

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de cada quarto, a cada ampulheta esvaziada,virava-se a seguinte e dava-se uma, duas, três equatro badaladas duplas de sino, para as horas euma badalada singela, para as meia horas. Assim,por exemplo, no quarto das 1200 às 1600 horas,seguia-se a seguinte rotina: 1230 horas – 1badalada singela; 1300 horas – 2 badaladasduplas; 1330 – 2 badaladas duplas e 1 singela;1400 horas – 2 badaladas duplas; 1430 horas – 2badaladas duplas e 1 singela; 1500 horas – 3badaladas duplas; 1530 horas – 3 badaladas duplase 1 singela; 1600 horas – 4 badaladas duplas.Neste momento, virava-se a primeira das oitoampulhetas, para iniciar a contagem de tempo doquarto das 1600 às 2000 horas.

A exatidão da medição do tempo era corrigida,todos os dias, ao meio-dia verdadeiro local, noinstante da passagem meridiana do sol, quando seobservava a sua altura máxima, para o cálculo dalatitude. Essa tradição de assinalar as horas, utilizando osino, perdura até hoje, na era dos relógiosatômicos.

ODÔMETRO DE BARQUINHA

Uma das primeiras formas de se medir avelocidade de uma embarcação aparece descritano livro “A Regiment for the Sea” de WilliamBourne, publicado em 1574.

Na presunção de que ficaria parado na superfícieda água, lançava-se pela popa da embarcação, um

pedaço de tábua amarrado a uma linha, que eraliberada, por um período de tempo determinadopor uma ampulheta, à medida que a embarcaçãose deslocava. Decorrido o referido período detempo, verificava-se o comprimento liberado dalinha e calculava-se a velocidade.

No século XVI os navegantes holandeses tinhamoutro método para determinar a velocidade deuma embarcação, que consistia em lançar ao mar,pela proa, um pequeno pedaço de madeira e, emseguida, medir o tempo que levava para passarentre duas marcas feitas na borda, cuja distânciaentre elas era conhecida.

Costumava-se repetir a mesma operação diversasvezes, e se calculava a média das contagens desegundos medidos, com a qual se calculava avelocidade.

Na época das Grandes Navegações, osportugueses usavam a légua marítima para mediras distâncias navegadas e as velocidades.

Com o passar do tempo e a introdução da milhanáutica, a medida da velocidade passou a ser feitacom o auxílio do odômetro de barquinha, que eracomposto por um conjunto das seguintes peças:

XVII. Um sarrilho com uma linha de barca decomprimento adequado à velocidademáxima do navio, apresentando nós comespaçamentos de 14,40 m;

XVIII. Uma ampulheta de 28 segundos;

XIX. Um setor circular de madeira com 60°,devidamente construído nas dimensõesrecomendadas;

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Na popa da embarcação eram utilizados trêstripulantes para lançar o odômetro na água edeixar correr certo comprimento de linha de barca,até que determinada marca, nela existente, ficassesobre a balaustrada. A partir desta marca, a linhaestava marcada com um, dois, três, quatro, etc.nós separados por intervalos de 14,40 m.

A distância de 14,40 m era usada por se estarempregando uma ampulheta de 28 segundos. Avelocidade era calculada baseando-se nosconceitos:

O Nó é unidade de velocidade equivalente a 1milha marítima por hora.1 milha marítima = 1852 m1 nó = 1852 m/h1 h = 60 minutos = 3600 segundos3600s : 1852m :: 28s : x → x = (28 x 1852) :3600 = 14,40 m

Ao se iniciar a medição, no mesmo instante que sevirava a ampulheta, deixava-se a linha de barca

correr livremente.

Quando a areia da ampulheta acabava, o sarilhoera travado e contados quantos nós da linha debarca haviam passados pela balaustrada da popa.

Sendo o nó igual à velocidade de 1 milha porhora (1852 m/h), o número de nós passadosindicava a velocidade em nós.

HISTÓRICO DO CÁLCULO DA MILHAMARÍTIMA

Antigamente, o “metro” era definido comovalendo a 10-7 da metade de um (1) meridiano.

A metade de um meridiano mede 90° = 5.400’.Assim, tínhamos: 10-7 = 0,0000001 X 5.400’ =0,0005400 (que era o comprimento de 1 metro,obtido da metade de um meridiano). Então, a medida, em metros, da metade de ummeridiano era igual a: 5.400’ / 0,0005400 m =10.000.000 m.

O valor de 1milha náutica, em metros, era de:10.000.000 / 5.400’ = 1851,851852 metros porminuto de arco.

Em 1929, por um acordo internacional, foiadotada a Milha Náutica Internacional com ocomprimento de 1.852 m.

PRUMO DE MÃO

Consiste em um peso de chumbo de formatroncônica ou tronco de pirâmide de 2,5 a 7 kg,com uma alça no seu extremo superior, na qual éfixada uma linha de sonda ou sondareza, de 25 a45 metros de comprimento. A linha é graduada demetro em metro. Na base do peso, tambémdenominado chumbada, existe uma cavidade ondese coloca um pouco de sebo ou sabão, ao qualaderem as partículas do fundo em que tocou epelas quais se conhece a sua natureza.

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CARTA-PORTULANO

Tipo de carta náutica usada entre os séculos XIII eXVI, pela navegação marítima do MarMediterrâneo e Mar Negro. Nela, a linha da costaera indicada com detalhes e acompanhada com atoponímia dos acidentes geográficos. As partesafastadas da costa eram deixadas em branco.

Uma carta portulano representava a exatadescrição do que estava escrito no portulano, quedescrevia a referida área. Os portulanos eram osroteiros da época.

As linhas retas, que estão traçadas nas cartasportulano, representam a direção das 32 quartas darosa da agulha, a partir de um determinado ponto.

Por não levar em conta a esfericidade da Terra, ascartas portulano não serviam para representar, semdeformações, grandes áreas como o OceanoAtlântico, Oceano Índico, etc..

No final do século XV e início do século XVI, ascartas portulano foram substituídas por cartas derede de meridianos e paralelos.

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CARTA PORTULANO DO ATLÂNTICO

CARTA PORTULANO DO MEDITERRÂNEO

CARTA PORTULANO DO OCEANOÍNDICO

CLC Alberto Pereira de [email protected]

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RELEMBRANDO A HISTÓRIA- A Imprensa, 16 de novembro de 1898 – RUI

BARBOSA – Lições da Esquadra.

Há uns poucos de dias que o poço, o ancoradourodo Rio de Janeiro, nos oferece extraordináriopanorama. Ao correr dos bondes pelas ruas deonde se descortina o mar, todos os olhosestendem-se para ele. À superfície do elementoazul cinco pavilhões estrangeiros afirmamdiversamente o tamanho das nacionalidades, querepresentam. Ali se ostenta, de extremo a extremo,a escala inteira do poder naval, desde a grandezacrescente da Grã-Bretanha, a mãe dos mares, asemeadora de povos, até à majestadesimplesmente histórica da Lusitânia, a soberanadescoroada, mas venerável, de cujo manto asvagas parecem roçarem ainda com respeito afímbria em torno do Adamastor.

Passa e repassa a vista curiosa por essa assembléiaextraordinária de testemunhas do oceano, e nãolhes pergunta que nos dizem, que nos trazemdesses longes do espaço e do tempo, daimensidade vaga, aonde o passado se recolhe, edonde assoma o futuro, como as velas repontamdo horizonte. Povo descuidado, abrimos aspálpebras entre dois intervalos de sesta, à brisada costa dourada pelo sol, banhando-nos natipidez do ar, na volúpia do colorido, naembriaguez ambiente da luz, e banindo d’almaos pensamentos do imprevisto, cerrando-a aosussurro da consciência, que fala pelo rugir daságuas eternas.

Ingenuamente dilatamos as pupilas, com algumacoisa da impressão primitiva dos antigos hóspedesdas nossas selvas, quando essas grandes aves quearribam da civilização açoitaram pela primeira vezcom as largas asas brancas a quietude desteestuário, como se, tantos séculos depois, ainda

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inquiríssemos de onde vêm essas gaivotasgigantescas, onde foram buscar umas a elegânciadas suas linhas e a alvura do seu dorso, outras anegrura do seu vulto e a arrogância do seu colo.

No olhar dos mais inteligentes, quando muito, sedescobriria alguma coisa daquela sensação dospassageiros de um transatlântico, debruçados parao cristal retinto, nas paragens onde palpita ocoração do globo, pelas águas quentes do Equadorcismando nas maravilhas em que se anunciam àtona essas florestas submarinas, à vista das quaissão desertas as da terra, contando um a um essesencantos do inesperado, seguindo essas pradariasdo mundo líquido, as górgonas, as ísis, as pálidasanêmonas corde-rosa, os alcíones, a floracambiante e efêmera, com que as artérias danatureza oceânica ajardinam a zona das calmas, odomínio oscilante das algas, essas regiões onde seespelham complacentemente os resplendoressolares, e se ocultam os imensos reservatórios davida submersa.

Mas não basta admirar: é preciso aprender. Omar é o grande avisador. Pô-lo Deus a bramirjunto ao nosso sono, para nos pregar que nãodurmamos. Por ora a sua proteção nos sorri,antes de se trocar em severidade. As raçasnascidas à beira-mar não têm licença de sermíopes; e enxergar, no espaço, corresponde aantever no tempo. A retina exercida nas distânciasmarinhas habitua-se a sondar o infinito, como a domarinheiro e a do albatroz. Não se admitemsurpresas para o nauta: há de adivinhar aatmosfera como o barômetro, e pressentir atormenta, quando ela pinta apenas como umamosca pequenina e longínqua na transparência daimensidade. O mar é um curso de força e umaescola de previdência. Todos os seus espetáculossão lições: não os contemplemos frivolamente.

Na festa de ontem bem poucos se deteriam empenetrar a expressão íntima desses convidados dooutro hemisfério, ou do outro continente, cujoscanhões honraram a solenidade nacional, cujosgalhardetes flameavam em arco à luz do sol, ecujas miríades de focos rutilantes constelaram denoite a baía. Cada um deles era, entretanto, umainterrogação misteriosa ao novo porvir. Esses

mensageiros da civilização européia eamericana, deslumbrados na magnificência dasnossas costas, nas estupendas belezas da nossaterra natal, estudam o homem, que a habita, eprocuram nas suas obras o selo das grandezasque o circundam. Quando voltarem destacerimônia, a que concorreram com a distinção doseu obséquio, com a imponência da sua presença,irão dizer aos que os mandaram se a criatura aquiresponde à liberalidade do Criador, se este ramoda família humana trabalha pelo bem comum. Equeira Deus que desse juízo nos possamosdesvanecer, como com esta fineza noslisonjeamos.

Bastava que de nossa parte os estudássemos,para sentir quanto nos esquecemos de nósmesmos.

Por ele veríamos como presentemente o valordos povos quase se mede pelo seu valor nooceano.

Considerai nessa obra-prima do Adamastor,pequeno escrínio de ferro onde parece refugiar-seo maior dos poemas navais, como a mais formosadas línguas no canto dos Lusíadas. Vede o CarloAlberto, a Calabria, o Piemonte, o orgulho deRoma e de Veneza, esbordando o Mediterrâneo,para ostentar na outra metade do planeta o arrojodas suas aspirações, o garbo das suas obras e ovigor da sua gente.

Olhai para as duas fragatas, a Sofia e a Nixe,vedetas soberbas daquela formidávelnacionalidade, cuja ambição arde pela glória navalprelibada não há muito, no heróico lirismodaquelas palavras imperiais:

“Nosso futuro está no mar.” No Iowa e noOregon, quentes da guerra, estuantes do fogo,como que ainda frementes do canhoneio, medi opoder dos colossos que a liberdade levanta e amiséria dos países marítimos desapercebidos nooceano. Notai, enfim, com que fidalguia deprimeiros entre iguais se embalam nas ondas,entre os outros, o Beagle e o Flora, pequenas

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malhas esparsas da coiraça que abriga pelos maresa potência universal da maior das nações, a antigaregedora das vagas.

Nós tínhamos alguma glória, para não entrarhumilhados nesse comício brilhante. Não fazmais de trinta anos que as águas do Pratadavam testemunho de proezas inolvidáveis,consumadas por uma esquadra de heróisbrasileiros. Acabava a guerra separatista nosEstados Unidos, que tamanha revolução produziranas artes da luta naval. E, contudo, guardadas asproporções, afirmam os mestres que a campanhafluvial do Paraguai não foi nem menos gloriosa,nem, a certos respeitos, menos instrutiva.

Nos maiores movimentos estratégicos do nossoconflito com o déspota de Assunção coubesempre à nossa armada uma parte capital,decisiva, admirável, e a bravura dos nossosmarinheiros, sua inteligência, sua capacidademostraram em nós ao mundo o nervo, de quese faz o caráter das nações. Era um tesouro,que se não devia malbaratar; e malbaratou-se.Não haveria sacrifícios, que outros não fizessem,por conquistar esse prestígio. Nós o tivemos,obtido à custa do melhor do nosso sangue, edeixamo-lo perder.

É mister reavê-lo, se é que temos empenho emconservar a nossa nacionalidade. O oceano temsido quase invariavelmente o campo de batalhapela independência das nações que confinamcom o mar.

Essa Holanda, um de cujos navios visitou hápouco as nossas águas, não a deveu, no séculodezessete, senão às vitórias dos seus almirantes. AInglaterra não teria preservado a sua existência, seas suas frotas não houvessem desbaratado as daFrança em 1692, em 1759 e em 1805. A Françanão teria ido sepultar a sua fortuna com a deNapoleão nos gelos da Rússia, se batesse as forçasnavais inglesas em Abukir e Trafalgar. A Uniãonão teria suplantado, na América do Norte, arevolta dos estados meridionais, se as esquadrasda legalidade não levassem imensa vantagem àsda confederação. O Brasil sem os seus navios

não teria aniquilado o Paraguai. Foi no mar quese abismou a China. Foi no mar que pereceu aEspanha. No mar é que se liquidaria a questão daArgentina com o Chile. E na grande conflagraçãoeuropéia, se um dia se desencadeasse, a últimapalavra tocaria ao mar.

Ora, presentemente, quando o marintervém nas questões entre os povos, é como oraio. Em poucos dias a agressão, o combate e avitória, ou a ruína. Uma batalha suprime umaesquadra, e a supressão de uma esquadra podeenvolver o desaparecimento de uma nação.Feliz do que pode ser o primeiro no golpe, eamarrar por bandeira ao grande mastro a vassourade Tromp. Se ela encontrasse abandonado à suaviolência impetuosa um litoral de seis mil equinhentos quilômetros, pode ser que então asurdez crônica da política brasileira começassea perceber a voz que detona, por essas praias,além, no fragor contínuo das rochas e das ondas:“Marinheiros! Marinheiros! Marinheiros!”

CLC P.C.S.Di [email protected]

EVENTOS DO MÊS DE NOVEMBRO

Almoço de Confraternização do CCMMData: 20 de dezembro, 12:00.Local: Restaurante do Hotel Windsor Guanabara,Av. Presidente Vargas, 392, 2° andar, Centro, Riode Janeiro – RJ.

Para mais informações, contatar:

Centro dos Capitães da Marinha MercanteAv. Rio Branco, 45, salas 1907/[email protected]+55 (21) 2518-1638 | +55 (21) 2253-4623

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