Neoliberalismo e educação (resumo)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA DISCIPLINA: PROFESSOR: ALUNA: Orídia Machado de Oliveira NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO: MANUAL DO USUÁRIO O trabalho pretende analisar e questionar as dimensões da configuração do discurso neoliberal no campo educacional. Mostrando a importância teórica e politica de se entender o neoliberalismo como uma construção hegemônica. Apresentando algumas considerações sobre como se constrói a retorica neoliberal no campo educacional. 1. O neoliberalismo como construção hegemônica O neoliberalismo expressa a dupla dinâmica que caracteriza todo o processo de construção de hegemonia. Tratando se por outro lado de uma alternativa do poder extremamente vigorosa constituída por uma série de estratégias politicas, econômicas e jurídicas orientadas para encontrar uma saída dominante para a crise capitalista. Com frequência costumamos enfatizar a capacidade que o neoliberalismo possui para impor com êxito seus programas de ajuste, esquecendo a conexão existente entre os programas e a construção de um novo senso comum. Desde muito cedo, os intelectuais neoliberais reconhecem que a construção desse novo senso comum era um dos desafios prioritário para garantir o êxito na construção de uma ordem social regulada pelos princípios odo livre mercado. As obras de Friedrich A. Hayek e Milton Friedman, permitem observar a sagacidade desses intelectuais que reconhecem a

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIAINSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA

DISCIPLINA: PROFESSOR:

ALUNA: Orídia Machado de Oliveira

NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO: MANUAL DO USUÁRIO

O trabalho pretende analisar e questionar as dimensões da configuração do discurso neoliberal

no campo educacional. Mostrando a importância teórica e politica de se entender o

neoliberalismo como uma construção hegemônica. Apresentando algumas considerações

sobre como se constrói a retorica neoliberal no campo educacional.

1. O neoliberalismo como construção hegemônica

O neoliberalismo expressa a dupla dinâmica que caracteriza todo o processo de construção de

hegemonia. Tratando se por outro lado de uma alternativa do poder extremamente vigorosa

constituída por uma série de estratégias politicas, econômicas e jurídicas orientadas para

encontrar uma saída dominante para a crise capitalista.

Com frequência costumamos enfatizar a capacidade que o neoliberalismo possui para impor

com êxito seus programas de ajuste, esquecendo a conexão existente entre os programas e a

construção de um novo senso comum. Desde muito cedo, os intelectuais neoliberais

reconhecem que a construção desse novo senso comum era um dos desafios prioritário para

garantir o êxito na construção de uma ordem social regulada pelos princípios odo livre

mercado.

As obras de Friedrich A. Hayek e Milton Friedman, permitem observar a sagacidade desses

intelectuais que reconhecem a importância política de se acompanhar toda à reforma

econômica.

Em seu prefácio de 1976, Hayek lamentava as ideias defendidas no texto mesmo após 30

anos, continuassem mantendo vigência. E que mesmo após essas três décadas a sociedade não

tinha aceitado a evidência de que toda forma de intervenção estatal constitui um sério risco a

liberdade individual. Mesmo após o desafio de “O caminho da servidão” continuava em

aberto a seguinte problemática de que só quando a sociedade reconhecer o verdadeiro desafio

da liberdade será possível evitar as armadilhas do coletivismo. A respeito das consequências

Hayek dizia que se a sociedade não aceita a modernização mercado oferece quando atuam

sem interferência do Estado, essas consequências será nefasto para a própria democracia onde

os piores serão os primeiros, o totalitarismo aumentará e a planificação centralizada tomara

conta da vida das pessoas.

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Milton Friedman publicou no início dos anos oitenta o livro Free to Choose [Liberdade de

Escolher] sendo vendido mais de 400.000 mil exemplares apenas na edição luxo. Então

trouxe a tona a seguinte questão porque o livro Free to Choose [Liberdade de Escolher] havia

vendido em apenas poucas semanas o que seu antecedente direto demorou vinte anos

Capitalism and Freedom [Capitalismo e liberdade] para alcançar o mesmo feito, visto que

ambos abordavam a mesma temática?

Friedman explica que a opinião publica havia mudado, e que as pessoas estavam mais

receptivas as insistências dos defensores do livre mercado, que essas pessoas estavam mais

alertas para se defenderem do Estado que estava disposto a monopolizar tudo.

O Chile foi o cenário trágico para a implementação do neoliberalismo na América Latina,

sendo esse experimento a nível mundial, a ditadura do general Augusto Pinochet em 1973.

Sendo que o experimento não parou por ai, nos anos 80 o neoliberalismo chegava ao poder

pelo voto popular.

A possibilidade de conhecer e reconhecer o movimento neoliberal, não é suficiente para frear

a forma de sua retorica. No entanto pode ajudar a desenvolver mais e melhores estratégias de

luta contra a exclusão social promovida pelas politicas.

Podemos aproximar de uma compreensão critica da forma neoliberal de pensar e traçar

politicas educacionais procurando responder, brevemente, a quatro questões:

1) como entendem os neoliberais a crise educacional?

2) quem são, de acordo com essa perspectiva, seus culpados?

3) que estratégias definem para sair dela?

4) quem deve ser consultado para encontrar uma saída para a crise?

Deve-se ressaltar que os sistemas educacionais enfrentam uma profunda crise de eficiência,

eficácia e produtividade, mas do que uma crise de quantidade, universalização e extensão.

O processo de expansão escolar, durante a segunda metade do século ocorreu de forma

acelerada sem que tenha garantido uma distribuição eficiente dos serviços oferecidos. Trata-se

de uma crise de qualidade decorrente da improdutividade que caracteriza as práticas

pedagógicas e a gestão administrativa escolar.

A existência de mecanismos de exclusão e discriminação educacional resulta da própria

ineficiência da escola e profunda incompetência daqueles que nela trabalham. Sob a

perspectiva neoliberal, o sistema educacional enfrenta uma crise gerencial. Crise que geram

evasão, repetência, analfabetismo funcional, etc.

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O objetivo politico de democratizar a escola depende realização de uma profunda reforma

administrativa, introduzindo mecanismos para aprimorar a qualidade dos serviços

educacionais.

Toda a crise de acordo com os neoliberalistas e decorrente da má gerencia por parte do Estado

das políticas públicas. A educação não funciona porque foi estatizada pela política.

A planificação centralizada trava a liberdade individual de eleger. Para os neoliberais, o

Estado de Bem-estar e o populismo que conheceram nossos países têm intensificado os efeitos

improdutivos que se derivam da materialização histórica dessas praticas clientelistas.

Para os neoliberais a democracia não tem nada a ver com isso. Ela é simplesmente um

processo político que deve permitir aos indivíduos desenvolver sua inesgotável capacidade de

livre escolha na única esfera que garante e potencializa a referida capacidade individual: o

mercado.

A crise é produto da difusão da noção de cidadania. Para eles o conceito de cidadania baseia a

concepção universal e universalizante dos direitos humanos.

A grande operação do neoliberalismo consiste em transferir a educação da esfera da politica

para a esfera do mercado. O modelo de homem neoliberal é o cidadão privatizado o

entrepreneur, o consumidor.

2. Os culpados

Avançaremos assim para a segunda pergunta: quem são os culpados pela crise educacional?

Existem responsáveis diretos e indiretos. Entre os primeiros se encontram, o modelo de

Estado assistencialista: os sindicatos. Nesse sentido os principais responsáveis são os

próprios sindicatos de professores e todas aquelas organizações que defendem o direito

igualitário a uma escola pública de qualidade. Se Estado e sindicato são os principais

responsáveis, deveria supor-se que a simples redução do primeiro à mínima expressão e a

desaparição definitiva dos segundos.

Na perspectiva neoliberal a crise não se reduz apenas à existência de certo modelo de Estado

ou de entidades sindicais, o problema é mais complexo, os indivíduos em si, também são

culpados pela crise. O neoliberalismo privatiza tudo, inclusive também o êxito e o fracasso

social.

A escola funciona mal porque as pessoas não reconhecem o valor do conhecimento; os

professores trabalham pouco e não se atualizam, são preguiçosos; os alunos fingem que

estudam quando, na realidade, perdem tempo, etc.

Segundo os neoliberais, trata-se de um problema cultural provocado pela ideologia dos

direitos sociais e a falsa promessa de que uma suposta condição de cidadania. A lógica

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competitiva promovida por um sistema de prêmios e castigos com base em tais critérios

meritocráticos cria as condições culturais que facilitam uma profunda mudança institucional

voltada a Configuração de um verdadeiro mercado educacional.

3. As estratégias

As administrações neoliberais permitem reconhecer uma série de regularidades que

caracterizam e unificam as estratégias de reforma escolar. Existe um consenso estratégico

com os intelectuais conservadores, consenso que decorre da formulação de um diagnóstico

comum ao qual é possível explicar e descrever os motivos que originam a crise, e identificar

os supostos responsáveis pela crise.

As regularidades se expressam através de uma série de objetivos que articula e dão coerência

às reformas educacionais implementadas pelos governos neoliberais:

a) por um lado, a necessidade de estabelecer mecanismos de controle e avaliação da

qualidade dos serviços educacionais,

b) por outro lado, a necessidade de articular e subordinar produção educacional às

necessidades estabelecidas pelo mercado de trabalho.

O primeiro objetivo promove, e garante a materialização dos citados princípios meritocráticos

competitivos. O segundo dá sentido e estabelece o rumo das políticas educacionais, ao mesmo

tempo que permite estabelecer critérios para avaliar a pertinência das propostas de reforma

escola.

E importante especificar brevemente duas questões relevantes vinculadas a tais objetivos. O

neoliberalismo formula o conceito especifico de qualidade. Se os sistemas de Total Quality

Control (TQC) têm demonstrado um êxito comprovado no mundo dos negócios, deverão

produzir os mesmos efeitos produtivos no campo educacional.

Uma dinâmica caracteriza a estratégias de reforma educacional promovidas pelos governos

neoliberais: as lógicas articuladas de descentralização centralizante e de centralização-

descentralizada.

O Estado neoliberal é mínimo quando deve financiar a escola pública e máximo quando

define de forma centralizada o conhecimento oficial. Centralização e descentralização são as

duas faces de uma mesma moeda: a dinâmica autoritária que caracteriza as reforma

educacionais implementadas pelos governos neoliberais.

3.1. A mcdonaldização da escola

A mcdonaldização da escola, processo que se concretiza em diferentes e articulados planos,

constitui uma metáfora apropriada para caracterizar as formas dominantes de reestruturação

educacional propostas pelas administrações neoliberais.

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Os McDonald’s constituem um bom exemplo de organização produtiva com tais atributos e,

nesse sentido, representam um bom modelo organizacional para modernização escolar.

Vejamos as coincidência entre ambas. A mcdonaldização da escola. Os processos de

mcdonaldização têm sido destacados por alguns autores para referir-se à transferência dos

princípios que regulam a lógica de funcionamento dos fast foods a espaços institucionais cada

vez mais amplos na vida social do capitalismo contemporâneo.

Os McDonald's constituem um bom exemplo de organização produtiva com tais atributos e,

nesse sentido, representam um bom modelo organizacional para a modernização escolar.

Vejamos as possíveis coincidências entre ambas as esferas, sendo que esta comparação

permitira caracterizar o processo mcdonaldização da escola.

Os processos de mcdonaldização têm sido destacados para referir-se a transferência dos

princípios que regulam a lógica de funcionamento dos fast foods a espaços institucionais cada

vez mais amplos na vida social do capitalismo contemporâneo. A mcdonaldização da escola

constitui uma metáfora para caracterizar as formas dominantes de reestruturação educacional

propostas pelas administrações neoliberais.

As coincidências entre ambas as esferas são de fácil apontamento. Os fast foods e as escolas

tem um ponto básico em comum. Ambas existem para das contas das necessidades

fundamentais nas sociedades modernas: comer e ser socializado escolarmente.

Os princípios que regulam a prática cotidiana dos McDonald’s em todas as cidades do planeta

poderiam ser aplicadas as escolas. Desse modo, percebe-se que a perspectiva neoliberalista

tem enfatizado uma educação baseada em princípios mercadológicos, competitivos e que já

foi denominado por diversos autores de processo de “mcdonaldização” da escola, visto que

mcdonaldizar a escola supõe pensá-la como uma instituição flexível que deve reagir aos

estímulos (os sinais) emitidos por um mercado educacional altamente competitivo,

transferindo a educação da esfera dos direitos sociais à esfera do mercado. Para o

neoliberalismo, a crise educacional é, antes de mais nada, uma crise de eficiência, eficácia e

produtividade (em suma, uma crise de qualidade) derivada do inevitável efeito perverso ao

qual conduz a planificação estatal.

4. Os sabichões

Respondendo agora a última questão (quem deve ser consultado para encontrar uma saída

para a crise?), sabe-se quem não deve ser consultado são os próprios culpados. Defender e

promover aquele velho e “improdutivo” modelo de Estado de Bem-Estar parece também não

ser um bom caminho para superar a crise.

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Quem poderá nos ajudar? Os homens de negócios. O raciocínio do neoliberalismo é neste

aspecto, transparentes: se os empresários souberam triunfar na vida eles saberão melhor dar

dicas sobre os que é necessário para triunfar nas escolas. Se cada empresário adotasse uma

escola, o sistema educacional melhoraria de forma quase automática graças aso recursos

financeiros que padrinhos doariam.

A questão não se esgota aqui. Para os neoliberais, a crise envolve um conjunto de problemas

técnicos, desconhecidos pelos empresários, mas que devem ser resolvidos eficientemente.

Assim basicamente sair da crise seria consultar especialistas e técnicos competentes que

dispõe de instrumental necessário para levar a cabo as citadas propostas de reforma.

5. Conclusão

O aumento da pobreza e a exclusão, mostram sociedades estruturalmente divididas, nas quais

o acesso a educação de qualidade é limitado. Dois processos também produzem impacto nas

esferas politicas educacionais: a dificultade de manter os mecanismos democráticos de

governabilidade, e o aumento acelerado da violência social, politica e econômica.

Os governos neoliberais deixam os países mais pobres, e mais desiguais. Auxiliam na

exclusão de social, racial e sexual, promete mais mercado, quando realmente é nesse mercado

que se encontra a desigualdade.

Conclui-se, portanto, que a proposta neoliberal para a educação, que tem como uma de

suas finalidades atender seus interesses mercantilizantes, vem sendo efetivada com

“competência”, por meio de inúmeras estratégias: das políticas educacionais, da

descentralização, da instalação do Estado Mínimo, da responsabilização dos sujeitos por sua

própria “sorte”, da promoção da cultura do medo, da mídia.

Referência Bibliografica:

(Texto retirado do livro “Escola S.A”, Tomaz Tadeu da Silva e Pablo Gentili – org.)