Neoclassicismo e Pre-romantismo
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8/16/2019 Neoclassicismo e Pre-romantismo
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Iluminismo
Movimento de ideias que engloba o século XVIII, a partir da filosofia inglesa e
da agonia do regime político absolutista em França, sobretudo a partir da
publicação da Enciclopédia, de Diderot e D'Alembert, e que valoriza as
noções de natureza, sociedade, espírito crítico e progresso, estando por isso
na base das «modernidades» dos séculos XIX e XX.
Em Portugal, manifesta-se na sensibilidade cultural dos «estrangeirados»,
em prosadores como Luís António Verney (Verdadeiro Método de Estudar)
e Matias Aires (Reflexões sobre a Vaidade dos Homens), e com os
«árcades» (ex. «Arcádia Lusitana», academia de reflexão e debate), ex.
Correia Garção, Cruz e Silva. Poetas importantes, ligados ou não à Arcádia:
Nicolau Tolentino, Filinto Elísio, Abade de Jazente; e, mais ligados já ao
espírito emergente da sensibilidade romântica: Marquesa de Alorna, José
Anastácio da Cunha e Bocage(«Liberdade»).
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia:
Oh! Venha... Oh, Venha, e trémulo descaia
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Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao moral, que frio e mudo
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo;
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és e glória e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!
Luís António Verney
Erudito português (1713-1792), foi o autor da obra mais discutida de todo o
século XVIII português, Verdadeiro Método de Estudar (1746). Integrada no
Iluminismo católico, revelava o conhecimento de Verney das modernas
correntes de pensamento que pontificavam na Europa e dos trabalhos de
filósofos como Descartes e Locke.
Luís António Verney nasceu em Lisboa, filho de pai francês de Lião que se
estabeleceu em Portugal e aqui casou com uma senhora cujo apelido denota
a mesma origem. Teve, por conseguinte, uma educação à maneira francesa,
que se repercutiu nos ramos culturais que seriam, mais tarde, os seus. Além
dos professores particulares que a sua família lhe proporcionou, estudou no
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Colégio de Santo Antão e na Congregação do Oratório. Daí foi ele mandado
para Évora, onde se graduou em Artes no Colégio da Madre de Deus e de
onde saiu, finalmente, formado em Teologia pela respetiva universidade. Em
1736, viaja para Itália de forma a continuar os seus estudos superiores.
Querendo engolfar-se nos escaninhos da cultura científica, que era
desconhecida por esse tempo em Portugal, dirigiu-se a Roma, onde se
doutorou em Teologia e Jurisprudência. O nosso mais conhecido e ativo
estrangeirado colheu fora de Portugal os pensamentos de renovação que
iluminavam a Europa, enquanto o seu país vivia as trevas obscurantistas da
intolerância inquisitorial.
Regressando a Portugal, dedicou-se ao ensino e em 1741 é nomeado pelo
papa arcediago de Évora. Só em 1749 é que recebeu ordens presbiterais.
Partiu definitivamente para Roma devido a problemas de saúde e,
principalmente, devido a incompreensões por parte dos seus compatriotas.
Aqui empreendeu uma vastíssima obra que publicou anonimamente sob o
título O Verdadeiro Método de Estudar. Não conseguiu, porém, publicar todos
os volumes que pretendia. A pedido de D. João V, Verney iniciou a sua
colaboração com o processo de reforma pedagógica em Portugal,
fornecendo o seu contributo inestimável para uma maior aproximação com os
ventos de progresso cultural que animavam os espíritos europeus mais
progressistas.
Entre 1747 e 1750, Verney esteve sujeito a duas contrariedades: a polémica
levantada contra a sua obra, que o obrigava a ripostar em folhetos (Resposta
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às reflexões de Frei Arsénio da Piedade, Carta do Filólogo de Espanha,
Parecer do Doutor Apolónio Filomuso, Última Resposta), e a perda de
esperança em favores reais com que contava da parte de D. João V, que
foram reavivadas com a ascensão de D. José, que lhe financiaria as obras
aparecidas entre 1751 e 1753. Todavia, dessa data em diante, nunca mais
recebeu subsídio algum, não obstante os seus esforços consecutivos junto
do embaixador e da corte. Nada mais publicou até 1760, à exceção de
reedições e da Gramática Latina. Nesse ano abandonou Roma devido à
rutura de relações entre a corte portuguesa e a Santa Fé e instalou-se em
Pisa. Daí enviou para o Journal des Savants um resumo, em latim e em
francês, do Verdadeiro Método de Estudar sob o pseudónimo de António
Teixeira Gamboa, que viria a ser publicado em 1762 com o título de Synopsis
Primi Tentaminis pro Litteratura Scientiisque instaurandis apud
Lusitanos.Verney envolveu-se em questões políticas, de que não retira senão
vexames, que culminaram com um despacho de demissão e de desterro para
San Miniato, em 1771. Nesse intervalo de tempo em que desempenhou o
cargo de secretário de embaixada publicou o De Re Physica.
Ignorado pelo Marquês, Verney viu-se obrigado a esperar pela morte de D.
José para uma revisão da sua situação. Conseguindo-a, regressou a Roma
onde foi nomeado sócio da Academia das Ciências e deputado honorário da
Mesa de Consciência e Ordens. Morreu em Roma, com 79 anos.
Verdadeiro Método de Estudar
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Esta obra, verdadeiro manifesto de modernidade do pensamento de Luís
António Verney, à luz da Europa iluminista, apresenta-se em dois generosos
volumes publicados em 1746 e reeditados em 1747. Escrita por um
enigmático Barbadinho da Congregação de Itália, máscara onomástica do
nosso renovador, revela um progressismo notável na orientação pedagógica
nova que defende, profundamente articulada com as correntes filosófico-
culturais da época e com os conceitos basilares do Iluminismo, e motiva, por
este seu carácter inovador, fortíssimas reações e acesa polémica.O
Verdadeiro Método de Estudar é constituído por 16 cartas dirigidas a um
doutor de Coimbra e dado em oferta aos padres da Companhia de Jesus.
Abre com uma carta-prefácio redigida em nome de António Balle, o
impressor do livro, a qual pode dividir-se em três partes.Na primeira parte
apresentam-se os motivos (simulados, claro) desta correspondência e a
conveniência em publicá-la.A obra é dedicada aos jesuítas, na segunda parte
desta carta, e são enaltecidos os méritos da ordem e o seu papel notável em
prol da cultura entre nós.Finalmente, na terceira parte são esclarecidas
algumas questões de ortografia e termos novos usados na impressão da
obra.Elabora-se, seguidamente, um plano completo da instrução pública com
referência aos mais diversos assuntos como a aprendizagem do português,
que deveria ser feita por Gramática Portuguesa e não latina; a defesa do uso
de estrangeirismos e de palavras novas; a apresentação de uma gramática
latina moderna com dificuldades graduadas; a explanação de planos de
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estudo do Grego e do Hebraico; a exortação ao estudo das línguas
modernas, sobretudo do Francês e do Italiano; a divisão da Retórica em
várias espécies; a ridicularização do estilo barroco e dos seus vários
processos cultistas e a crítica a Camões, a cuja obra são apontados defeitos.
Nas cartas VIII, IX, X e XI há referências à Filosofia e à Física, pela defesa
de Descartes, Bacon e Newton e pelo destaque do seu contributo para o
progresso científico. A Metafísica não é aceite como independente e é
reduzida à Lógica e à Física. Verney critica ainda a nobreza de sangue,
defendendo que a única nobreza está na cultura, na educação e na
simplicidade. Disserta ainda sobre Medicina, nas cartas XII e XIV, apontando
métodos e programas de curso para a sua aprendizagem e lamentando o
escasso estudo de anatomia. Finalmente, expõe um plano geral de estudos e
aborda a educação da mulher: defende a sua instrução, pois "pelo que toca à
capacidade, é loucura persuadir-se que as mulheres tenham menos que os
homens". Considera que a mulher deve aprender Gramática Portuguesa,
Geografia, a Bíblia, a História dos Gregos, dos Romanos e de Portugal e
noções de economia doméstica, canto, música e dança.As ideias expostas
nesta obra nem sempre primam pela originalidade, dado que Verney
alicerça-se em luminares estrangeiros propensos a uma desvalorização da
metafísica, cientistas de base experimental e pedagogistas de orientação
racionalista como Locke (relativamente ao aspeto filosófico), Newton e
Boerhaave (no que toca o lado científico) e Rollin, Fénelon e Lamy
(relativamente ao aspeto pedagógico). Todavia, Verney não deixou de ser o
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mais importante dos estrangeirados, dado que, após a divulgação do seu
programa de renovação, assistimos à ultrapassagem do reinado da
escolástica dos jesuítas medievalizantes, expulsos por Pombal, e à sua
substituição no ensino pela empreendedora Congregação do Oratório,
edificadora da modernidade científica no ensino superior. O seu mérito
encontra-se ainda no modo singular como conseguiu conjugar todo um
caudal de informações de origem variada.As posições de Verney não deixam
dúvidas: alicerçado numa crítica à orientação escolástica tradicional, insurge-
se contra a Companhia de Jesus, contra a entrega aos frades do ensino da
ciência, contra a Inquisição e contra os processos do Tribunal do Santo
Ofício.A linguagem da sua obra é familiar e sóbria, franca e despreocupada,
objetiva e direta.O Verdadeiro Método de Estudar desencadeou uma
violentíssima polémica, a qual se estendeu para além fronteiras e perdurou
durante muitos anos. Verney viu-se obrigado a publicar quatro réplicas
(Respostas às Reflexões de Frei Arsénio da Piedade, Carta do Filólogo de
Espanha, Parecer do Doutor Apolónio Filomuso e Última Resposta) contra os
que o atacaram, que tantos foram, embora nenhum se mostrasse à sua
altura.
O Verdadeiro Método de Estudar
"Verdadeiro Método de Estudar" (Valença, 1746).
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O Verdadeiro Método de Estudar, para ser útil à República e à Igreja:
proporcionado ao estilo, e necessidade de Portugal é uma obra de autoria de
Luís António Verney, cuja primeira edição veio à luz em Valença, em 1746.
É a obra mais conhecida deste que é considerado o mais ativo estrangeirado
português, reputada como um autêntico manifesto da modernidade do
pensamento à luz das ideias iluministas.
Em dois volumes, após a sua primeira edição em 1746 voltou a ser reeditada
em 1747. A autoria, à época, foi atribuída a um anónimo religioso Barbadinho
da Congregação de Itália, pseudónimo de Verney, que prudentemente
preferiu ocultar o seu nome devido à omnipresença e omnisciência de um
clima cultural profundamente avesso a obras de ruptura. Esta referência à
Itália é fruto dos contatos do autor com os iluministas italianos,
principalmente com Ludovico Antonio Muratori, com o qual se correspondeu
sobre jurisprudência e Ensino. Este contato direto com a realidade italiana é
relevante para o conhecimento do funcionamento das suas escolas, hospitais
e tribunais, então regidos por diretrizes modernas e eficazes.
O conteúdo da obra indica um progressismo notável que motivou fortíssimas
reações e acesa polémica devido às orientações pedagógicas defendidas
(entre elas, o acesso da mulher à Educação), tributo às investigações
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desenvolvidas por Verney e aos seus contatos com as ideias basilares do
Iluminismo.
"Na verdade o primeiro princípio de todos os estudos deve ser a gramática
da própria língua [...]. Julgo que este deve ser o primeiro estudo da
mocidade, e que a primeira coisa que se lhe deve apresentar é uma
gramática da sua língua, curta e clara; porque, neste particular, a voz do
mestre faz mais do que os preceitos. E não se deve intimidar os rapazes com
mau modo ou pancadas, como todos os dias sucede; mas, com grande
paciência, explicar-lhes as regras e, sobretudo, mostrar-lhes, nos seus
mesmos discursos, ou em algum livro vulgar e carta bem escrita e fácil o
exercício e a razão de todos estes preceitos."
— Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar.
A obra constitui-se por dezesseis cartas que o autor Barbadinho escreve a
um doutor da Universidade de Coimbra. São elas: I - Língua Portuguesa; II -
Gramática Latina; III – Latinidade; IV - Grego e Hebraico; V e VI – Retórica e
Filosofia; VII – Poesia; VIII – Lógica; IX – Metafísica; X – Física; XI - Ética; XII
– Medicina; XIII - Direito Civil; XIV – Teologia; XV - Direito Canónico; XVI -
Regulamentação geral dos estudos.
Neoclassicismo
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O Neoclassicismo, também designado por estilo neoclássico, foi uma
corrente artística desenvolvida desde o século XVIII até aos inícios do século
XIX (aproximadamente entre 1755 a 1830, embora com algumas variações
nos diferentes países), resultante da recuperação da gramática formal das
artes da antiguidade clássica greco-romana, como a clareza, o equilíbrio e a
ordem.
Na segunda metade do século XVIII atingiu-se o esgotamento das
possibilidades expressivas e formais dos estilos Barroco e Rococó,
acompanhando a crise da própria ordem social que os sustentara. Tal como
verificara noutros momentos de crise, o retorno às raízes artísticas da
civilização ocidental, a antiguidade greco-romana, parece ser a solução para
encontrar a estabilidade e as possibilidades de progresso. Este processo
ideológico encontrou apoio no pensamento histórico ilustrado que, através da
arqueologia (com as escavações de Herculano, de Pompeia e de Roma) e da
história de arte (protagonizada pelo historiador alemão J. J. Winckelmann),
permitira a redescoberta da antiguidade.
Arquitetura
A arquitetura neoclássica surgiu em Roma, em meados de setecentos,
através da ação teórica e prática de Anton Rafael Mengs (1728-1779) e J. J.
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Winckelmann (1717-1768), tendo conhecido um significativo
desenvolvimento nas cidades de Milão e de Turim, com a atividade de G.
Piermarini.
Em França, a construção do Panteão de Paris (também conhecido por Igreja
de Sainte Geneviève), projetado por Jacques Germain Soufflot (1713-1780)
para o rei Luís XV, representa o momento de imposição da estética
racionalista clássica sobre o Barroco decadente. Soufflot desenvolveu outros
trabalhos importantes como a coluna de Austerlitz, a Place Vendôme e o
Arco do Carroussel, todos em Paris. Outros arquitetos importantes neste
período foram J. A. Gabriel (1698-1782) primeiro arquiteto real, autor da
Praça da Concórdia (1757) e do Petit Trianon de Versalhes (1762); Charles
Percier e Pierre François Fontaine, arquitetos de Napoleão e responsáveis
pelo Arco do Triunfo da Étoile, em Paris (1806-1836) e Barthélemy Vignon
(1806-42), famoso pelo projeto da Igreja da Madeleine de Paris, construída
para comemorar as vitórias de Napoleão.
Étienne-Louis Boullée (1728-99) e Claude Nicholas Ledoux, os arquitetos
mais ousados deste período, desenvolveram projetos utópicos e visionários
de edifícios gigantescos constituídos por sólidos perfeitos e de grande
pureza linguística. Embora pouco tenham construído, a sua influência teórica
e pedagógica tornou-os precursores da arquitetura moderna.
Outro país europeu onde o Neoclassicismo teve um grande desenvolvimento
foi a Alemanha. A sua gramática severa e simples, fortemente marcada pela
arte grega, está bem representada nos trabalhos de Karl Friedrich Schinkel,
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de Langhans, autor da Porta de Brandeburgo em Berlim, (1788-1791) e de
Leo von Klenze, responsável por inúmeros projetos, entre os quais, a
Glipoteca, a Pinacoteca e os Propileus de Munique e o templo Walhalla
(1830-1842), próximo de Ratisbona.
Em Inglaterra, destaca-se a obra do pioneiro Robert Adam (1728-1792),
responsável por algumas importantes escavações arqueológicas em Itália, de
W. Chambergs, ou de Sir John Soane (1753-1837), um dos mais originais
artistas deste período, autor do Banco de Inglaterra (1796).
O Neoclassicismo em Espanha, desenvolvido desde o último quartel do
século XVIII, teve como protagonistas os arquitetos F. Sabatini e J. de
Villanueva, responsáveis pelo projeto do Museu do Prado.
Nos Estados Unidos, o Neoclassicismo, conhecido por Estilo Georgiano,
inspira-se de forma direta no neo-palladianismo inglês. Dos exemplos mais
interessantes desta tendência refiram-se a casa do arquiteto Thomas
Jefferson (1743-1826) em Monticello e o Capitólio de Richmond, do mesmo
projetista.
Em Portugal, a primeira obra construída dentro do novo estilo foi inteiramente
importada de Itália. Trata-se da capela de S. João Batista na igreja de S.
Roque de Lisboa, encomendada em 1742, pelo rei D. João V aos arquitetos
Salvi e Luigi Vanvitelli. José Costa e Silva (1714-1819), formado em Bolonha,
representaria o apogeu nacional deste estilo. Projetou, entre muitos outros
edifícios, o Teatro Nacional de S. Carlos (1792) e o Palácio Nacional da
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Ajuda (este em conjunto com o italiano Fancisco Xavier Fabri), que não
chegou a concluir-se.
Em Coimbra salientam-se alguns trabalhos do engenheiro militar Guilherme
Elsden, como o edifício do Museu da Universidade, construído entre 1773 e
1774.
No Porto a introdução do estilo neoclássico deve-se à ação dos ingleses
residentes nesta cidade, o que explica a enorme influência da tendência
palladiana, presente nomedamente no Hospital de Santo António, projetado
pelo inglês Jonh Carr (cerca de 1770), no edifício da Feitoria Inglesa ou no
Palácio da Bolsa, de J. da Costa Lima. Um dos expoentes máximos do
Neoclassicismo nortenho foi o engenheiro Carlos Amarante (1748-1815),
autor de vários edifícios tardo-barrocos e neoclássicos, como a Igreja da
Trindade no Porto.
Artes Plásticas e Decorativas
Roma constituiu o núcleo de formação e de divulgação da estética pictórica
neoclássica. Alguns trabalhos pioneiros, influenciados pelos trabalhos
históricos do alemão Johann Winckelmann, do estilo académico de Nicolas
Poussin (1594-1665), da pintura renascentista de Rafael e da estatuária
antiga, foram realizados por um conjunto de pintores de inúmeras
nacionalidades, de entre os quais se destacaram o alemão Anton Raphael
Mengs (1728-1779), o escocês Gavin Hamilton e o americano Benjamin
West e o francês Joseph-Marie Vien.
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O francês Jacques-Louis David (1748-1825), discípulo de Vien e estudante
em Roma entre 1755 e 1781, representou o ponto máximo da pintura
neoclássica. O quadro "Julgamento dos Horácios", executado em 1784,
revela alguns dos elementos fundamentais da sua gramática, como a frieza e
rigidez das figuras, a clareza da solução compositiva ou a suavidade do
cromatismo.
No contexto artístico francês, onde a pintura neoclássica conheceu um vasto
desenvolvimento, muitos outros artistas alcançaram um alto nível de
qualidade estética. Entre estes refiram-se Jean-Baptiste Greuze (1723-1805),
Jean Gros (1771-1835), principal artista de Napoleão, e Jean-Auguste
Dominique Ingres (1780-1867), discípulo de David e um dos precursores do
gosto exótico romântico.
A pintura neoclássica espanhola revela uma dupla inspiração: a obra de
Mengs, que marcou gande parte dos artista da escola madrilena de finais do
século XVIII, e a de J. L. David, representada na pintura de José de Madrazo
e José Aparicio.
Em Portugal, a pintura neoclássica teve como expoentes máximos dois
artistas formados em Roma: Francisco Vieira Portuense (1765-1805), e
Domingos António de Sequeira (1768-1837).
Tal como se verificou ao nível da pintura, o principal impulsionador do gosto
neoclássico na escultura foi o historiador Winckelmann, durante a sua estada
em Roma. A reputação do meio artístico romano atraía artistas oriundos de
diversos países, como o sueco John Tobias Sergel e o inglês Thomas Banks,
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que assumiriam um papel fundamental na divulgação internacional da nova
estética.
O italiano Antonio Canova (1757-1822) iniciou a sua produção artística em
Roma, na década de quarenta do século XVIII. Desde os seus primeiros
trabalhos, Canova denuncia o desejo de recuperação do carácter calmo e
puro das formas clássicas, tornando-se quase de imediato no expoente
máximo da escultura neoclássica.
Outros escultores importantes deste período foram o dinamarquês Bertel
Thorvaldsen (1770-1844), o americano Horatio Greenough (1805-1852) e o
francês Jean-Antoine Houdon (1741-1828). Em Portugal, o escultor João
José de Aguiar, discípulo de Canova em Roma, realizou importantes
trabalhos como as estátuas do Palácio Real da Ajuda, em Lisboa.
Ao nível das artes menores (como o mobiliário, os objetos decorativos e a
porcelana, a joalharia e a tapeçaria, entre outras áreas), o estilo neoclássico
apresentou uma expressão significativa em França (com os estilos Luís XVI e
Império) e em Inglaterra, com os trabalhos de Robert Adam.
Literatura
É um movimento literário que se propõe um regresso ao Classicismo de
Quinhentos quanto aos géneros, quanto à forma, quando à linguagem. Duas
serão as suas grandes vertentes: uma, a doutrinação estética, consequente
do racionalismo presente no Verdadeiro Método de Estudar, que muito deve
à Arte Poética de Francisco José Freire (o «Cândido Lusitano»); a outra, a
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criação literária. Estava, porém, reservada à Arcádia Lusitana, fundada em
1756, a magna tarefa de reação contra os exageros do barroquismo. À sua
fundação presidiu o intento de reabilitar o gosto literário e restabelecer o
equilíbrio na literatura. As ideias da Arcádia, mais especificadamente de
Correia Garção, o grande teórico do Neoclassicismo quer em dissertações
quer em textos poéticos documentais, são principalmente estas: segundo
Boileau, «nada é belo senão a verdade», por isso, o Neoclassicismo realça a
verdade da natureza e a verdade humana; o teatro deve moralizar; logo,
também a poesia tem de ser útil; devem imitar-se os antigos, mas com
originalidade; deve banir-se a rima e usar-se o verso branco; deve procurar-
se o ajustamento do atual e do quotidiano, à sobriedade e pureza dos
moldes antigos - e nisto falhou; preconiza o uso da mitologia; tenta renovar o
teatro, a poesia (e nesta cultivam, além das espécies que o século XVI
restaurara, essencialmente o ditirambo e as odes pindáricas e anacreônticas,
o que era anacrónico). Os resultados não corresponderam inteiramente ao
plano traçado, talvez pelo cansaço do que era clássico. Na Oração II, Garção
põe o dedo na ferida, quando diz: «Aqueles pomposos desígnios de domar o
génio da Nação, fazendo que a crítica fosse recebida como conselho não
como ofensa, aquela magnífica ideia de banir da Poesia portuguesa o inútil
adorno de palavras empoladas, conceitos estudados, frequentes antíteses,
metáforas exorbitantes e hipérboles sem modo, introduzindo em nossos
versos o delicioso e apetecido ar de nobre simplicidade, foram os dous polos
que primeiro perdemos de vista». Insiste sempre no valor construtivo da
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crítica mas aponta, ainda, a necessidade de "ensinar o que se há de de
fazer", o que obrigava a estudo e trabalho. Para ele, o mau gosto que
invadira a literatura era a liberdade, a facilidade, o desprezo das regras de
Aristóteles, Horácio, Cícero e Quintiliano, quanto à poética e à retórica, a
falta de leitura dos clássicos, de pureza de dicção, de harmonia nos versos,
de magnificência na fábula, de constância nos caracteres; enfim, a falta de
ordem, de pureza e de simplicidade que o Gongorismo arrastara consigo.
Era, pois, um movimento desajustado na época, pois caminhava-se cada vez
mais para o individualismo na arte que vai caracterizar o Romantismo.
Salvaguardem-se alguns toques do quotidiano e da natureza exótica em
Garção, a forma como Cruz e Silva observa a riqueza vegetal do Brasil onde
situa, entre outras, a metamorfose do Manacá e do Beija-flor, aproveitando a
lição de Ovídio nas suas Metamorfoses (Orfeu e Eurídice). Refira-se ainda o
poema herói-cómico, o Hissope, possivelmente inspirado por Le Lutrin de
Boileau, onde se desvia das limitações que o Neoclassicismo quase
impunha. O assunto do poema desenvolve-se num plano regular, com uma
certa comicidade, que resulta da imponência com que o autor nos apresenta
um assunto tão irrisório, numa linguagem saborosamente irónica e até
grosseira - marmanjo, bestial patada - a contrastar com o estilo
grandiloquente, próprio do género épico, onde a animização de entidades
abstratas (a Lisonja, a Excelência, a Senhoria, a Discórdia...) está ao serviço
da crítica e da sátira à futilidade e aos caprichos da moda, à vã filosofia
escolástica, à loucura da poesia barroca, à mania filologante, aos lisonjeiros
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que, em vão, «compõem grandes Ilíadas e tecem / Aos vaidosos magnates,
mil sonetos, mil pindáricas odes, epigramas... ». Bocage encostado ainda ao
Neoclassicismo pela forma, pelos temas (a aurea mediocritas, o tema das
mudanças...) e pela mitologia, afirma um notável avanço para a corrente
literária que se anuncia, o Pré-Romantismo.
Pré-Romantismo
Época literária (primeiro quartel do século XIX) caracterizada pelo surgimento
de manifestações que viriam a caracterizar o movimento romântico (por
exemplo: o fatalismo; a busca do isolamento; a hiperbolização do sofrimento;
a obsessão da morte), sendo, desta forma, considerada de preparação para
a corrente artística que se avizinhava. Não podemos dizer que existiu um
movimento literário, mas, sim, manifestações e aspetos que acusam o
dealbar do Romantismo, o qual se afirmará em 1825. Haja, embora, em
alguns poetas do século XVIII uma declarada sensibilidade pré-romântica,
esta assume vertentes várias em José Anastácio da Cunha e o instinto
tocando as raias do erotismo a anunciar Garrett, o poeta das Folhas Caídas;
em João Xavier de Matos, no qual o Neoclassicismo ainda comanda o
sentimento, em Tomás António Gonzaga com um amor de sentidos delicados
com toques de espiritualidade, em Bocage, na Marquesa de Alorna... Por
isso, estamos mais na presença de pré-românticos do que de um movimento
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genérico, uno. Refiram-se, no entanto, algumas características nestes poetas
precursores do Romantismo: o fatalismo (evidente em Bocage) que conduz à
tristeza, por vezes, ao desespero; a busca do isolamento e de uma natureza
nublada, lúgubre (o "locus horrendus" em perspetiva); a noite com a
paisagem sepulcral do mocho sobre o "agoireiro cipreste", a hiperbolização
do sofrimento provocado pelo ciúme, pela saudade, pela desconfiança; um
evidente choque psicológico entre a razão (que comandava o sentimento
clássico) e o coração (confirmando o pensamento de Pascal: «O Coração
tem razões que a Razão desconhece»), a obsessão da morte completa o
quadro sombrio de uma produção literária na qual um pessoalismo
desbordante faz brotar algumas cambiantes românticas. Esta poesia sai dos
outeiros e das assembleias e improvisa (Bocage) ou oferece-se aos
frequentadores de cafés e botequins. É uma poesia que recebe cunho mais
pessoal, quer como veículo do pensamento científico (Marquesa de Alorna),
quer como expressão do sentimento (marcada pelas tonalidades
anunciadoras do Romantismo), quer como fotografia colorida e animada do
viver de uma sociedade, que passa perante nós em curiosos clichés, mesmo
já na poesia dos árcades como vemos em Cruz e Silva e Correia Garção.
Mas é na produção poética dos chamados dissidentes, precursores do
Romantismo, que essa poesia ganha volume e afirma a certeza de que o
Classicismo, com todas as suas excelências, fora, finalmente, ultrapassado
por um individualismo irrequieto e ansioso que se não conformava já com os
padrões que fizeram exageradamente uma época que se arrastara através
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de três séculos. E foi, possivelmente, o contacto direto com a literatura dos
nórdicos, nas abundantes traduções feitas por Bocage, Filinto Elísio e pela
Marquesa de Alorna, que propiciou essa forma de expressão necessária para
a tradução de estados de alma que, só depois disso, se mostraram,
inteiramente, em verdadeira radiografia espiritual.
ARCÁDIA LUSITANA
A Arcádia Lusitana era o designativo da Academia de Belas-Artes criada em
1756, fazendo parte de um amplo movimento de criação de academias, ato
muito em voga nos séculos XVII e XVIII. O seu modelo foi a Academia dell'
Arcadia de origem italiana. O objetivo da criação desta Academia era,
fundamentalmente, combater o "mau gosto" que imperava no século XVII
relativamente à obra literária poética e implantar um novo gosto estético. Os
seus impulsionadores - os Árcades - eram defensores da ideia de que a
razão deveria ser colocada em primeiro plano relativamente ao sentimento.
Sinónimo de uma época marcada pelo despotismo esclarecido, é também o
reflexo de uma nova ordem social apoiada na burguesia, já que os seus
membros eram maioritariamente burgueses. Os poetas passariam a usar
expressões do mundo burguês.
Um dos grandes protetores da Arcádia Lusitana foi o Marquês de Pombal.
A intervenção dos Árcades estende-se a todos os setores da vida cultural
portuguesa, desde a literatura, com especial destaque para a poesia,
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passando pelas artes plásticas, cujo seu maior expoente é Machado de
Castro, até ao teatro, manifestando o propósito de criar um teatro nacional.
A Arcádia Lusitana viria a extinguir-se em 1764 mas continuaria a influenciar
gerações posteriores de artistas, porque foi através da ação dos Árcades que
Portugal se preparou para entrar no Romantismo, principalmente no âmbito
da obra literária, cujo seu mais importante discípulo foi Almeida Garrett.
Arcadismo
É a influência literária exercida pelas arcádias, sobretudo pela Arcádia
Lusitana (1757). Esta agremiação dedicou-se à crítica de obras e à
discussão de teorias literárias. Combateu o barroquismo e tentou aliar às
primitivas normas do Classicismo o racionalismo de Boileau, Muratori e
Luzán. Deste modo, o Arcadismo e o movimento literário do Neoclassicismo
associam-se.
O Neoclassicismo defendeu a recuperação da expressão, dos géneros
clássicos, das formas e das técnicas que ganharam força no século XVI.
Como normas ditou: - a condenação do cultismo e do conceptismo barrocos;
- o princípio aristotélico da Arte como imitação da Natureza; - o
desaparecimento da rima; - o fim ético e moral da literatura; - o equilíbrio
entre a razão e o sentimento.Em Portugal, este movimento cimentou-se com
traduções, como por exemplo da Arte Poética, de Boileau; com obras
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teóricas portuguesas como a Arte Poética (1748), do árcade Cândido
Lusitano; com as Conferências Eruditas e principalmente com a atividade da
Arcádia Lusitana. Hissope, de Cruz e Silva, um dos fundadores da referida
instituição, é considerada a obra mais emblemática do Neoclassicismo
português.
Correia Garção (1724-1772)
Poeta português, de nome completo Pedro António Correia Garção, nascido
em 1724 e falecido em 1772, estudou Literatura Clássica no Colégio dos
Jesuítas, em Lisboa, e frequentou o curso de Direito na Universidade de
Coimbra, não chegando, contudo, a terminá-lo. Em 1756, juntamente com
Cruz e Silva, Teotónio Gomes de Carvalho e Manuel Nicolau Esteves
Negrão, fundou a Arcádia Lusitana, utilizando como pseudónimo arcádico
Coridon Erimanteu. Foi escrivão na Casa da Índia e dirigiu a Gazeta de
Lisboa de 1760 a 1762. Casado e apreciador da convivência social, manteve
relações com estrangeiros, facilitadas pelo domínio do inglês, do francês e do
italiano, e também com alguns portugueses das classes mais privilegiadas.
Devido a problemas financeiros, passou a viver na Quinta da Fonte Santa e
em 1771 foi detido no Limoeiro, por razões não esclarecidas, onde veio a
falecer.
Tentou a criação de um teatro nacional com a redação de alguns textos
dramáticos (na comédia Assembleia insere-se a célebre Cantata de Dido) e
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também dedicou alguma atenção ao género epistolar e à poesia de
circunstância. Esforçou-se sobretudo no sentido de cultivar os géneros
greco-latinos. Admirador de Horácio, fundiu o horacianismo com a poesia do
quotidiano e atingiu assim o melhor da sua obra. Para além do poeta latino,
também seguiu os quinhentistas portugueses Sá de Miranda, António
Ferreira, Camões e Diogo Bernardes.
Cruz e Silva (1731-1799)
Poeta português, António Dinis da Cruz e Silva nasceu em 1731, em Lisboa,
e faleceu em 1799, no Rio de Janeiro. Oriundo de uma modesta família
lisboeta, estudou nos Oratorianos e licenciou-se em Leis na Universidade de
Coimbra. Foi juiz de fora em Castelo de Vide, em 1759, e juiz auditor militar
em Elvas, em 1764. Foi depois nomeado desembargador da Relação do Rio
de Janeiro, tendo mais tarde regressado a Portugal como juiz da Relação do
Porto. Voltou ao Brasil em 1790 para julgar os implicados na revolução de
Tiradentes, na qual estava implicado o poeta Tomás Gonzaga.
Poeta do Neoclassicismo, foi um dos fundadores da Arcádia Lusitana ou
Ulissiponense, em 1756, adotando o pseudónimo de Elpino Nonacriense.
Admirador da ideologia pombalina, exaltou literariamente, em 1755, o
marquês em Falso Heroísmo.
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A sua obra, constituída por géneros diversos, da ode ao drama lírico e à
sátira, obedece aos preceitos antibarrocos, imitando os poetas neoclássicos
franceses. Na sua poesia notam-se as recordações que a passagem pelo
Brasil, enquanto desembargador e juiz da rebelião da Inconfidência Mineira,
lhe deixaram. Para além do género dramático, também fez, segundo parece,
uns estudos mineralógicos, que integram a sua extensa obra só
postumamente publicada na totalidade.
Na sua escrita, cheia de artificialismo estético, interessou-se pela descrição
da realidade e pelas diversas sensações que esta desperta, negando
qualquer manifestação lírica pessoal.
Além de poemas vários, escreveu oHissope, poema heroico-cómico,
considerado um dos melhores exemplos do Neoclassicismo português.
NOVA ARCÁDIA
Academia de oratória e poesia fundada por Domingos Caldas Barbosa em
1790, pretendendo sob a forma de tertúlias - com carácter algo mundano -
defender os princípios da Arcádia Lusitana, entre os quais a oposição à
exuberância do estilo barroco, voltando à simplicidade, ao estilo bucólico e à
imitação da tradição normativa dos greco-latinos. Os desentendimentos
pessoais entre poetas, sobretudo entre Bocage e José Agostinho de Macedo,
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levaram a Nova Arcádia ao fim em 1794, deixando apenas uma obra
publicada, o Almanaque das Musas.
BOCAGE (1765-1805)
Considerado por muitos autores como o mais completo poeta do nosso
século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage, filho de um advogado e de
uma senhora francesa de quem herdou o último apelido, nasceu a 15 de
setembro de 1765, em Setúbal, e morreu a 21 de dezembro de 1805, em
Lisboa. Aos 16 anos assentou praça na Infantaria de Setúbal, mas em 1783
alistou-se na Academia Real da Marinha. Em Lisboa, participou na vida
boémia e literária e começou a ganhar fama devido à sua veia de poeta
satírico. Em 1786 embarcou para a Índia, chegando a ser promovido a
tenente; em 1789 aventurou-se a ir a Macau e logo no ano seguinte
regressou a Portugal. Em Lisboa encontrou a amada Gestrudes (em poesia
Gestúria) casada com o seu irmão. Infeliz no amor, sem carreira e com
dificuldades financeiras, dedicou-se à vida boémia e à poesia, tendo
publicado, em 1791, o primeiro volume de Rimas . Aderiu então à Nova
Arcádia (ou Academia de Belas Letras) onde recebeu o nome de Elmano
Sadino. No entanto, Bocage, pela sua instabilidade e irreverência, não se
adaptou ao convencionalismo arcádico e abriu conflitos com os seus
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confrades, sendo expulso em 1794. Três anos depois foi acusado de
"herético perigoso e dissoluto de costumes" e, como era conhecida a sua
simpatia pela Revolução Francesa, foi preso e condenado pela Inquisição.
Quando saiu da reclusão, conformista e gasto, viu-se obrigado a viver da
escrita (sobretudo de traduções). Apesar de ter recebido o auxílio de alguns
amigos, acabaria por morrer doente e na miséria.
Se formalmente a poesia bocagiana ainda é neoclássica, se nalgum
vocabulário e nos processos de natureza alegórica ainda se sente a herança
clássica, concretamente a camoniana, pelo temperamento, por grande parte
dos temas (como o ciúme, a noite, a morte, o egotismo, a liberdade, o amor -
muitas vezes manifestado por uma expressão erotizante) e pela insistência
nalgumas imagens e verbos que denunciam uma vivência limite, pode bem
dizer-se que uma parte significativa da produção poética de Bocage é já
marcadamente pré-romântica, anunciando assim a nova época que se
aproxima. Apesar de a sua poesia ser contraditória, irregular, e de os seus
versos revelarem concessões artisticamente duvidosas, Bocage é
considerado, com justeza, um dos maiores sonetistas portugueses.
As obras de Bocage encontram-se editadas atualmente nas antologias:
Opera Omnia, Poesias (antologia que inclui a lírica, a sátira e a erótica) e
Poesias de Bocage.
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BOCAGE
AUTORRETRATO
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
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Este soneto de Bocage apresenta uma estrutura interna claramente bipartida.
Na primeira parte, constituída pelas quadras e pelo 1.º terceto, o sujeito
poético esboça o seu autorretrato, em dois momentos distintos:
- a primeira quadra, que respeita ao retrato físico - rosto magro, olhos azuis,
pele morena, pés grandes ("bem servido de pés"), estatura média ("meão na
altura") e nariz grande ("alto no meio e não pequeno").
- a segunda quadra e o primeiro terceto, que evidenciam o retrato psicológico
- triste de aspeto e de figura, volúvel e inconstante ("Incapaz de assistir num
só terreno"), irascível ("Mais propenso ao furor do que à ternura"),
enamorado por muitas mulheres ("Devoto incensador de mil deidades").
Na segunda parte, constituída pelo último terceto, o sujeito poético revela a
sua identidade e as circunstâncias que proporcionaram a criação do soneto.
De destacar ainda que este soneto, como muitos outros da lírica de Bocage,
apresenta elementos neoclássicos: a forma (soneto) e o vocabulário
alatinado (níveas, letal, deidades). No entanto, predominam os elementos
românticos: o carácter autobiográfico, o individualismo, o tom confessional, o
amor sensual.
O universo poético bocagiano gira à volta de três grandes temáticas: o eu, o
amor, a morte. Daí, o aparecimento de temas autobiográficos (o eterno
apaixonado, volúvel e inconstante; o destino cruel; o sofrimento na vida e o
desejo de morte; as dificuldades económicas), as referências ao amor
(guiado pelo coração, não pela razão; amor imenso que conduz ao
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Importuna Razão, não me persigas
Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;
Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.
É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
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Sobre estas duras, cavernosas fragas
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas;
Razão feroz, o coração me indagas.
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.
Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objectos de horror co'a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.
Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.
Liberdade querida e suspirada
Liberdade querida e suspirada,
Que o Despotismo acérrimo condena;
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Liberdade, a meus olhos mais serena,
Que o sereno clarão da madrugada!
Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por gozar-te a face amena;
Liberdade gentil, desterra a pena
Em que esta alma infeliz jaz sepultada;
Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação da humanidade,
Cujo semblante mais que os astros brilha;
Vem, solta-me o grilhão da adversidade;
Dos céus descende, pois dos Céus és filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!
Meu ser evaporei na lida insana
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava;
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua orgia dana.
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Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.