Neoclassicismo e Pre-romantismo

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    Iluminismo

    Movimento de ideias que engloba o século XVIII, a partir da filosofia inglesa e

    da agonia do regime político absolutista em França, sobretudo a partir da

    publicação da Enciclopédia, de Diderot e D'Alembert, e que valoriza as

    noções de natureza, sociedade, espírito crítico e progresso, estando por isso

    na base das «modernidades» dos séculos XIX e XX.

     Em Portugal, manifesta-se na sensibilidade cultural dos «estrangeirados»,

    em prosadores como Luís António Verney (Verdadeiro Método de Estudar)

    e Matias Aires (Reflexões sobre a Vaidade dos Homens), e com os

    «árcades» (ex. «Arcádia Lusitana», academia de reflexão e debate), ex.

    Correia Garção, Cruz e Silva. Poetas importantes, ligados ou não à Arcádia:

    Nicolau Tolentino, Filinto Elísio, Abade de Jazente; e, mais ligados já ao

    espírito emergente da sensibilidade romântica: Marquesa de Alorna, José

    Anastácio da Cunha e Bocage(«Liberdade»).

     

    Liberdade, onde estás? Quem te demora?

      Quem faz que o teu influxo em nós não caia?

      Porque (triste de mim!) porque não raia

      Já na esfera de Lísia a tua aurora?

     

    Da santa redenção é vinda a hora

      A esta parte do mundo, que desmaia:

      Oh! Venha... Oh, Venha, e trémulo descaia

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      Despotismo feroz, que nos devora!

     

    Eia! Acode ao moral, que frio e mudo

      Oculta o pátrio amor, torce a vontade,

      E em fingir, por temor, empenha estudo;

     

    Movam nossos grilhões tua piedade;

      Nosso númen tu és e glória e tudo,

      Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

    Luís António Verney

    Erudito português (1713-1792), foi o autor da obra mais discutida de todo o

    século XVIII português, Verdadeiro Método de Estudar (1746). Integrada no

    Iluminismo católico, revelava o conhecimento de Verney das modernas

    correntes de pensamento que pontificavam na Europa e dos trabalhos de

    filósofos como Descartes e Locke.

    Luís António Verney nasceu em Lisboa, filho de pai francês de Lião que se

    estabeleceu em Portugal e aqui casou com uma senhora cujo apelido denota

    a mesma origem. Teve, por conseguinte, uma educação à maneira francesa,

    que se repercutiu nos ramos culturais que seriam, mais tarde, os seus. Além

    dos professores particulares que a sua família lhe proporcionou, estudou no

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    Colégio de Santo Antão e na Congregação do Oratório. Daí foi ele mandado

    para Évora, onde se graduou em Artes no Colégio da Madre de Deus e de

    onde saiu, finalmente, formado em Teologia pela respetiva universidade. Em

    1736, viaja para Itália de forma a continuar os seus estudos superiores.

    Querendo engolfar-se nos escaninhos da cultura científica, que era

    desconhecida por esse tempo em Portugal, dirigiu-se a Roma, onde se

    doutorou em Teologia e Jurisprudência. O nosso mais conhecido e ativo

    estrangeirado colheu fora de Portugal os pensamentos de renovação que

    iluminavam a Europa, enquanto o seu país vivia as trevas obscurantistas da

    intolerância inquisitorial.

    Regressando a Portugal, dedicou-se ao ensino e em 1741 é nomeado pelo

    papa arcediago de Évora. Só em 1749 é que recebeu ordens presbiterais.

    Partiu definitivamente para Roma devido a problemas de saúde e,

    principalmente, devido a incompreensões por parte dos seus compatriotas.

    Aqui empreendeu uma vastíssima obra que publicou anonimamente sob o

    título O Verdadeiro Método de Estudar. Não conseguiu, porém, publicar todos

    os volumes que pretendia. A pedido de D. João V, Verney iniciou a sua

    colaboração com o processo de reforma pedagógica em Portugal,

    fornecendo o seu contributo inestimável para uma maior aproximação com os

    ventos de progresso cultural que animavam os espíritos europeus mais

    progressistas.

    Entre 1747 e 1750, Verney esteve sujeito a duas contrariedades: a polémica

    levantada contra a sua obra, que o obrigava a ripostar em folhetos (Resposta

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    às reflexões de Frei Arsénio da Piedade, Carta do Filólogo de Espanha,

    Parecer do Doutor Apolónio Filomuso, Última Resposta), e a perda de

    esperança em favores reais com que contava da parte de D. João V, que

    foram reavivadas com a ascensão de D. José, que lhe financiaria as obras

    aparecidas entre 1751 e 1753. Todavia, dessa data em diante, nunca mais

    recebeu subsídio algum, não obstante os seus esforços consecutivos junto

    do embaixador e da corte. Nada mais publicou até 1760, à exceção de

    reedições e da Gramática Latina. Nesse ano abandonou Roma devido à

    rutura de relações entre a corte portuguesa e a Santa Fé e instalou-se em

    Pisa. Daí enviou para o Journal des Savants um resumo, em latim e em

    francês, do Verdadeiro Método de Estudar sob o pseudónimo de António

    Teixeira Gamboa, que viria a ser publicado em 1762 com o título de Synopsis

    Primi Tentaminis pro Litteratura Scientiisque instaurandis apud

    Lusitanos.Verney envolveu-se em questões políticas, de que não retira senão

    vexames, que culminaram com um despacho de demissão e de desterro para

    San Miniato, em 1771. Nesse intervalo de tempo em que desempenhou o

    cargo de secretário de embaixada publicou o De Re Physica.

    Ignorado pelo Marquês, Verney viu-se obrigado a esperar pela morte de D.

    José para uma revisão da sua situação. Conseguindo-a, regressou a Roma

    onde foi nomeado sócio da Academia das Ciências e deputado honorário da

    Mesa de Consciência e Ordens. Morreu em Roma, com 79 anos.

    Verdadeiro Método de Estudar

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    Esta obra, verdadeiro manifesto de modernidade do pensamento de Luís

    António Verney, à luz da Europa iluminista, apresenta-se em dois generosos

    volumes publicados em 1746 e reeditados em 1747. Escrita por um

    enigmático Barbadinho da Congregação de Itália, máscara onomástica do

    nosso renovador, revela um progressismo notável na orientação pedagógica

    nova que defende, profundamente articulada com as correntes filosófico-

    culturais da época e com os conceitos basilares do Iluminismo, e motiva, por

    este seu carácter inovador, fortíssimas reações e acesa polémica.O

    Verdadeiro Método de Estudar é constituído por 16 cartas dirigidas a um

    doutor de Coimbra e dado em oferta aos padres da Companhia de Jesus.

    Abre com uma carta-prefácio redigida em nome de António Balle, o

    impressor do livro, a qual pode dividir-se em três partes.Na primeira parte

    apresentam-se os motivos (simulados, claro) desta correspondência e a

    conveniência em publicá-la.A obra é dedicada aos jesuítas, na segunda parte

    desta carta, e são enaltecidos os méritos da ordem e o seu papel notável em

    prol da cultura entre nós.Finalmente, na terceira parte são esclarecidas

    algumas questões de ortografia e termos novos usados na impressão da

    obra.Elabora-se, seguidamente, um plano completo da instrução pública com

    referência aos mais diversos assuntos como a aprendizagem do português,

    que deveria ser feita por Gramática Portuguesa e não latina; a defesa do uso

    de estrangeirismos e de palavras novas; a apresentação de uma gramática

    latina moderna com dificuldades graduadas; a explanação de planos de

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    estudo do Grego e do Hebraico; a exortação ao estudo das línguas

    modernas, sobretudo do Francês e do Italiano; a divisão da Retórica em

    várias espécies; a ridicularização do estilo barroco e dos seus vários

    processos cultistas e a crítica a Camões, a cuja obra são apontados defeitos.

    Nas cartas VIII, IX, X e XI há referências à Filosofia e à Física, pela defesa

    de Descartes, Bacon e Newton e pelo destaque do seu contributo para o

    progresso científico. A Metafísica não é aceite como independente e é

    reduzida à Lógica e à Física. Verney critica ainda a nobreza de sangue,

    defendendo que a única nobreza está na cultura, na educação e na

    simplicidade. Disserta ainda sobre Medicina, nas cartas XII e XIV, apontando

    métodos e programas de curso para a sua aprendizagem e lamentando o

    escasso estudo de anatomia. Finalmente, expõe um plano geral de estudos e

    aborda a educação da mulher: defende a sua instrução, pois "pelo que toca à

    capacidade, é loucura persuadir-se que as mulheres tenham menos que os

    homens". Considera que a mulher deve aprender Gramática Portuguesa,

    Geografia, a Bíblia, a História dos Gregos, dos Romanos e de Portugal e

    noções de economia doméstica, canto, música e dança.As ideias expostas

    nesta obra nem sempre primam pela originalidade, dado que Verney

    alicerça-se em luminares estrangeiros propensos a uma desvalorização da

    metafísica, cientistas de base experimental e pedagogistas de orientação

    racionalista como Locke (relativamente ao aspeto filosófico), Newton e

    Boerhaave (no que toca o lado científico) e Rollin, Fénelon e Lamy

    (relativamente ao aspeto pedagógico). Todavia, Verney não deixou de ser o

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    mais importante dos estrangeirados, dado que, após a divulgação do seu

    programa de renovação, assistimos à ultrapassagem do reinado da

    escolástica dos jesuítas medievalizantes, expulsos por Pombal, e à sua

    substituição no ensino pela empreendedora Congregação do Oratório,

    edificadora da modernidade científica no ensino superior. O seu mérito

    encontra-se ainda no modo singular como conseguiu conjugar todo um

    caudal de informações de origem variada.As posições de Verney não deixam

    dúvidas: alicerçado numa crítica à orientação escolástica tradicional, insurge-

    se contra a Companhia de Jesus, contra a entrega aos frades do ensino da

    ciência, contra a Inquisição e contra os processos do Tribunal do Santo

    Ofício.A linguagem da sua obra é familiar e sóbria, franca e despreocupada,

    objetiva e direta.O Verdadeiro Método de Estudar desencadeou uma

    violentíssima polémica, a qual se estendeu para além fronteiras e perdurou

    durante muitos anos. Verney viu-se obrigado a publicar quatro réplicas

    (Respostas às Reflexões de Frei Arsénio da Piedade, Carta do Filólogo de

    Espanha, Parecer do Doutor Apolónio Filomuso e Última Resposta) contra os

    que o atacaram, que tantos foram, embora nenhum se mostrasse à sua

    altura.

    O Verdadeiro Método de Estudar

    "Verdadeiro Método de Estudar" (Valença, 1746).

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    O Verdadeiro Método de Estudar, para ser útil à República e à Igreja:

    proporcionado ao estilo, e necessidade de Portugal é uma obra de autoria de

    Luís António Verney, cuja primeira edição veio à luz em Valença, em 1746.

    É a obra mais conhecida deste que é considerado o mais ativo estrangeirado

    português, reputada como um autêntico manifesto da modernidade do

    pensamento à luz das ideias iluministas.

    Em dois volumes, após a sua primeira edição em 1746 voltou a ser reeditada

    em 1747. A autoria, à época, foi atribuída a um anónimo religioso Barbadinho

    da Congregação de Itália, pseudónimo de Verney, que prudentemente

    preferiu ocultar o seu nome devido à omnipresença e omnisciência de um

    clima cultural profundamente avesso a obras de ruptura. Esta referência à

    Itália é fruto dos contatos do autor com os iluministas italianos,

    principalmente com Ludovico Antonio Muratori, com o qual se correspondeu

    sobre jurisprudência e Ensino. Este contato direto com a realidade italiana é

    relevante para o conhecimento do funcionamento das suas escolas, hospitais

    e tribunais, então regidos por diretrizes modernas e eficazes.

    O conteúdo da obra indica um progressismo notável que motivou fortíssimas

    reações e acesa polémica devido às orientações pedagógicas defendidas

    (entre elas, o acesso da mulher à Educação), tributo às investigações

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    desenvolvidas por Verney e aos seus contatos com as ideias basilares do

    Iluminismo.

    "Na verdade o primeiro princípio de todos os estudos deve ser a gramática

    da própria língua [...]. Julgo que este deve ser o primeiro estudo da

    mocidade, e que a primeira coisa que se lhe deve apresentar é uma

    gramática da sua língua, curta e clara; porque, neste particular, a voz do

    mestre faz mais do que os preceitos. E não se deve intimidar os rapazes com

    mau modo ou pancadas, como todos os dias sucede; mas, com grande

    paciência, explicar-lhes as regras e, sobretudo, mostrar-lhes, nos seus

    mesmos discursos, ou em algum livro vulgar e carta bem escrita e fácil o

    exercício e a razão de todos estes preceitos."

    — Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar.

    A obra constitui-se por dezesseis cartas que o autor Barbadinho escreve a

    um doutor da Universidade de Coimbra. São elas: I - Língua Portuguesa; II -

    Gramática Latina; III – Latinidade; IV - Grego e Hebraico; V e VI – Retórica e

    Filosofia; VII – Poesia; VIII – Lógica; IX – Metafísica; X – Física; XI - Ética; XII

    – Medicina; XIII - Direito Civil; XIV – Teologia; XV - Direito Canónico; XVI -

    Regulamentação geral dos estudos.

    Neoclassicismo

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    O Neoclassicismo, também designado por estilo neoclássico, foi uma

    corrente artística desenvolvida desde o século XVIII até aos inícios do século

    XIX (aproximadamente entre 1755 a 1830, embora com algumas variações

    nos diferentes países), resultante da recuperação da gramática formal das

    artes da antiguidade clássica greco-romana, como a clareza, o equilíbrio e a

    ordem.

    Na segunda metade do século XVIII atingiu-se o esgotamento das

    possibilidades expressivas e formais dos estilos Barroco e Rococó,

    acompanhando a crise da própria ordem social que os sustentara. Tal como

    verificara noutros momentos de crise, o retorno às raízes artísticas da

    civilização ocidental, a antiguidade greco-romana, parece ser a solução para

    encontrar a estabilidade e as possibilidades de progresso. Este processo

    ideológico encontrou apoio no pensamento histórico ilustrado que, através da

    arqueologia (com as escavações de Herculano, de Pompeia e de Roma) e da

    história de arte (protagonizada pelo historiador alemão J. J. Winckelmann),

    permitira a redescoberta da antiguidade.

    Arquitetura

    A arquitetura neoclássica surgiu em Roma, em meados de setecentos,

    através da ação teórica e prática de Anton Rafael Mengs (1728-1779) e J. J.

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    Winckelmann (1717-1768), tendo conhecido um significativo

    desenvolvimento nas cidades de Milão e de Turim, com a atividade de G.

    Piermarini.

    Em França, a construção do Panteão de Paris (também conhecido por Igreja

    de Sainte Geneviève), projetado por Jacques Germain Soufflot (1713-1780)

    para o rei Luís XV, representa o momento de imposição da estética

    racionalista clássica sobre o Barroco decadente. Soufflot desenvolveu outros

    trabalhos importantes como a coluna de Austerlitz, a Place Vendôme e o

    Arco do Carroussel, todos em Paris. Outros arquitetos importantes neste

    período foram J. A. Gabriel (1698-1782) primeiro arquiteto real, autor da

    Praça da Concórdia (1757) e do Petit Trianon de Versalhes (1762); Charles

    Percier e Pierre François Fontaine, arquitetos de Napoleão e responsáveis

    pelo Arco do Triunfo da Étoile, em Paris (1806-1836) e Barthélemy Vignon

    (1806-42), famoso pelo projeto da Igreja da Madeleine de Paris, construída

    para comemorar as vitórias de Napoleão.

    Étienne-Louis Boullée (1728-99) e Claude Nicholas Ledoux, os arquitetos

    mais ousados deste período, desenvolveram projetos utópicos e visionários

    de edifícios gigantescos constituídos por sólidos perfeitos e de grande

    pureza linguística. Embora pouco tenham construído, a sua influência teórica

    e pedagógica tornou-os precursores da arquitetura moderna.

    Outro país europeu onde o Neoclassicismo teve um grande desenvolvimento

    foi a Alemanha. A sua gramática severa e simples, fortemente marcada pela

    arte grega, está bem representada nos trabalhos de Karl Friedrich Schinkel,

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    de Langhans, autor da Porta de Brandeburgo em Berlim, (1788-1791) e de

    Leo von Klenze, responsável por inúmeros projetos, entre os quais, a

    Glipoteca, a Pinacoteca e os Propileus de Munique e o templo Walhalla

    (1830-1842), próximo de Ratisbona.

    Em Inglaterra, destaca-se a obra do pioneiro Robert Adam (1728-1792),

    responsável por algumas importantes escavações arqueológicas em Itália, de

    W. Chambergs, ou de Sir John Soane (1753-1837), um dos mais originais

    artistas deste período, autor do Banco de Inglaterra (1796).

    O Neoclassicismo em Espanha, desenvolvido desde o último quartel do

    século XVIII, teve como protagonistas os arquitetos F. Sabatini e J. de

    Villanueva, responsáveis pelo projeto do Museu do Prado.

    Nos Estados Unidos, o Neoclassicismo, conhecido por Estilo Georgiano,

    inspira-se de forma direta no neo-palladianismo inglês. Dos exemplos mais

    interessantes desta tendência refiram-se a casa do arquiteto Thomas

    Jefferson (1743-1826) em Monticello e o Capitólio de Richmond, do mesmo

    projetista.

    Em Portugal, a primeira obra construída dentro do novo estilo foi inteiramente

    importada de Itália. Trata-se da capela de S. João Batista na igreja de S.

    Roque de Lisboa, encomendada em 1742, pelo rei D. João V aos arquitetos

    Salvi e Luigi Vanvitelli. José Costa e Silva (1714-1819), formado em Bolonha,

    representaria o apogeu nacional deste estilo. Projetou, entre muitos outros

    edifícios, o Teatro Nacional de S. Carlos (1792) e o Palácio Nacional da

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    Ajuda (este em conjunto com o italiano Fancisco Xavier Fabri), que não

    chegou a concluir-se.

    Em Coimbra salientam-se alguns trabalhos do engenheiro militar Guilherme

    Elsden, como o edifício do Museu da Universidade, construído entre 1773 e

    1774.

    No Porto a introdução do estilo neoclássico deve-se à ação dos ingleses

    residentes nesta cidade, o que explica a enorme influência da tendência

    palladiana, presente nomedamente no Hospital de Santo António, projetado

    pelo inglês Jonh Carr (cerca de 1770), no edifício da Feitoria Inglesa ou no

    Palácio da Bolsa, de J. da Costa Lima. Um dos expoentes máximos do

    Neoclassicismo nortenho foi o engenheiro Carlos Amarante (1748-1815),

    autor de vários edifícios tardo-barrocos e neoclássicos, como a Igreja da

    Trindade no Porto.

    Artes Plásticas e Decorativas

    Roma constituiu o núcleo de formação e de divulgação da estética pictórica

    neoclássica. Alguns trabalhos pioneiros, influenciados pelos trabalhos

    históricos do alemão Johann Winckelmann, do estilo académico de Nicolas

    Poussin (1594-1665), da pintura renascentista de Rafael e da estatuária

    antiga, foram realizados por um conjunto de pintores de inúmeras

    nacionalidades, de entre os quais se destacaram o alemão Anton Raphael

    Mengs (1728-1779), o escocês Gavin Hamilton e o americano Benjamin

    West e o francês Joseph-Marie Vien.

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    O francês Jacques-Louis David (1748-1825), discípulo de Vien e estudante

    em Roma entre 1755 e 1781, representou o ponto máximo da pintura

    neoclássica. O quadro "Julgamento dos Horácios", executado em 1784,

    revela alguns dos elementos fundamentais da sua gramática, como a frieza e

    rigidez das figuras, a clareza da solução compositiva ou a suavidade do

    cromatismo.

    No contexto artístico francês, onde a pintura neoclássica conheceu um vasto

    desenvolvimento, muitos outros artistas alcançaram um alto nível de

    qualidade estética. Entre estes refiram-se Jean-Baptiste Greuze (1723-1805),

    Jean Gros (1771-1835), principal artista de Napoleão, e Jean-Auguste

    Dominique Ingres (1780-1867), discípulo de David e um dos precursores do

    gosto exótico romântico.

    A pintura neoclássica espanhola revela uma dupla inspiração: a obra de

    Mengs, que marcou gande parte dos artista da escola madrilena de finais do

    século XVIII, e a de J. L. David, representada na pintura de José de Madrazo

    e José Aparicio.

    Em Portugal, a pintura neoclássica teve como expoentes máximos dois

    artistas formados em Roma: Francisco Vieira Portuense (1765-1805), e

    Domingos António de Sequeira (1768-1837).

    Tal como se verificou ao nível da pintura, o principal impulsionador do gosto

    neoclássico na escultura foi o historiador Winckelmann, durante a sua estada

    em Roma. A reputação do meio artístico romano atraía artistas oriundos de

    diversos países, como o sueco John Tobias Sergel e o inglês Thomas Banks,

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    que assumiriam um papel fundamental na divulgação internacional da nova

    estética.

    O italiano Antonio Canova (1757-1822) iniciou a sua produção artística em

    Roma, na década de quarenta do século XVIII. Desde os seus primeiros

    trabalhos, Canova denuncia o desejo de recuperação do carácter calmo e

    puro das formas clássicas, tornando-se quase de imediato no expoente

    máximo da escultura neoclássica.

    Outros escultores importantes deste período foram o dinamarquês Bertel

    Thorvaldsen (1770-1844), o americano Horatio Greenough (1805-1852) e o

    francês Jean-Antoine Houdon (1741-1828). Em Portugal, o escultor João

    José de Aguiar, discípulo de Canova em Roma, realizou importantes

    trabalhos como as estátuas do Palácio Real da Ajuda, em Lisboa.

    Ao nível das artes menores (como o mobiliário, os objetos decorativos e a

    porcelana, a joalharia e a tapeçaria, entre outras áreas), o estilo neoclássico

    apresentou uma expressão significativa em França (com os estilos Luís XVI e

    Império) e em Inglaterra, com os trabalhos de Robert Adam.

    Literatura 

    É um movimento literário que se propõe um regresso ao Classicismo de

    Quinhentos quanto aos géneros, quanto à forma, quando à linguagem. Duas

    serão as suas grandes vertentes: uma, a doutrinação estética, consequente

    do racionalismo presente no Verdadeiro Método de Estudar, que muito deve

    à Arte Poética de Francisco José Freire (o «Cândido Lusitano»); a outra, a

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    criação literária. Estava, porém, reservada à Arcádia Lusitana, fundada em

    1756, a magna tarefa de reação contra os exageros do barroquismo. À sua

    fundação presidiu o intento de reabilitar o gosto literário e restabelecer o

    equilíbrio na literatura. As ideias da Arcádia, mais especificadamente de

    Correia Garção, o grande teórico do Neoclassicismo quer em dissertações

    quer em textos poéticos documentais, são principalmente estas: segundo

    Boileau, «nada é belo senão a verdade», por isso, o Neoclassicismo realça a

    verdade da natureza e a verdade humana; o teatro deve moralizar; logo,

    também a poesia tem de ser útil; devem imitar-se os antigos, mas com

    originalidade; deve banir-se a rima e usar-se o verso branco; deve procurar-

    se o ajustamento do atual e do quotidiano, à sobriedade e pureza dos

    moldes antigos - e nisto falhou; preconiza o uso da mitologia; tenta renovar o

    teatro, a poesia (e nesta cultivam, além das espécies que o século XVI

    restaurara, essencialmente o ditirambo e as odes pindáricas e anacreônticas,

    o que era anacrónico). Os resultados não corresponderam inteiramente ao

    plano traçado, talvez pelo cansaço do que era clássico. Na Oração II, Garção

    põe o dedo na ferida, quando diz: «Aqueles pomposos desígnios de domar o

    génio da Nação, fazendo que a crítica fosse recebida como conselho não

    como ofensa, aquela magnífica ideia de banir da Poesia portuguesa o inútil

    adorno de palavras empoladas, conceitos estudados, frequentes antíteses,

    metáforas exorbitantes e hipérboles sem modo, introduzindo em nossos

    versos o delicioso e apetecido ar de nobre simplicidade, foram os dous polos

    que primeiro perdemos de vista». Insiste sempre no valor construtivo da

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    crítica mas aponta, ainda, a necessidade de "ensinar o que se há de de

    fazer", o que obrigava a estudo e trabalho. Para ele, o mau gosto que

    invadira a literatura era a liberdade, a facilidade, o desprezo das regras de

    Aristóteles, Horácio, Cícero e Quintiliano, quanto à poética e à retórica, a

    falta de leitura dos clássicos, de pureza de dicção, de harmonia nos versos,

    de magnificência na fábula, de constância nos caracteres; enfim, a falta de

    ordem, de pureza e de simplicidade que o Gongorismo arrastara consigo.

    Era, pois, um movimento desajustado na época, pois caminhava-se cada vez

    mais para o individualismo na arte que vai caracterizar o Romantismo.

    Salvaguardem-se alguns toques do quotidiano e da natureza exótica em

    Garção, a forma como Cruz e Silva observa a riqueza vegetal do Brasil onde

    situa, entre outras, a metamorfose do Manacá e do Beija-flor, aproveitando a

    lição de Ovídio nas suas Metamorfoses (Orfeu e Eurídice). Refira-se ainda o

    poema herói-cómico, o Hissope, possivelmente inspirado por Le Lutrin de

    Boileau, onde se desvia das limitações que o Neoclassicismo quase

    impunha. O assunto do poema desenvolve-se num plano regular, com uma

    certa comicidade, que resulta da imponência com que o autor nos apresenta

    um assunto tão irrisório, numa linguagem saborosamente irónica e até

    grosseira - marmanjo, bestial patada - a contrastar com o estilo

    grandiloquente, próprio do género épico, onde a animização de entidades

    abstratas (a Lisonja, a Excelência, a Senhoria, a Discórdia...) está ao serviço

    da crítica e da sátira à futilidade e aos caprichos da moda, à vã filosofia

    escolástica, à loucura da poesia barroca, à mania filologante, aos lisonjeiros

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    que, em vão, «compõem grandes Ilíadas e tecem / Aos vaidosos magnates,

    mil sonetos, mil pindáricas odes, epigramas... ». Bocage encostado ainda ao

    Neoclassicismo pela forma, pelos temas (a aurea mediocritas, o tema das

    mudanças...) e pela mitologia, afirma um notável avanço para a corrente

    literária que se anuncia, o Pré-Romantismo.

    Pré-Romantismo

    Época literária (primeiro quartel do século XIX) caracterizada pelo surgimento

    de manifestações que viriam a caracterizar o movimento romântico (por

    exemplo: o fatalismo; a busca do isolamento; a hiperbolização do sofrimento;

    a obsessão da morte), sendo, desta forma, considerada de preparação para

    a corrente artística que se avizinhava. Não podemos dizer que existiu um

    movimento literário, mas, sim, manifestações e aspetos que acusam o

    dealbar do Romantismo, o qual se afirmará em 1825. Haja, embora, em

    alguns poetas do século XVIII uma declarada sensibilidade pré-romântica,

    esta assume vertentes várias em José Anastácio da Cunha e o instinto

    tocando as raias do erotismo a anunciar Garrett, o poeta das Folhas Caídas;

    em João Xavier de Matos, no qual o Neoclassicismo ainda comanda o

    sentimento, em Tomás António Gonzaga com um amor de sentidos delicados

    com toques de espiritualidade, em Bocage, na Marquesa de Alorna... Por

    isso, estamos mais na presença de pré-românticos do que de um movimento

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    genérico, uno. Refiram-se, no entanto, algumas características nestes poetas

    precursores do Romantismo: o fatalismo (evidente em Bocage) que conduz à

    tristeza, por vezes, ao desespero; a busca do isolamento e de uma natureza

    nublada, lúgubre (o "locus horrendus" em perspetiva); a noite com a

    paisagem sepulcral do mocho sobre o "agoireiro cipreste", a hiperbolização

    do sofrimento provocado pelo ciúme, pela saudade, pela desconfiança; um

    evidente choque psicológico entre a razão (que comandava o sentimento

    clássico) e o coração (confirmando o pensamento de Pascal: «O Coração

    tem razões que a Razão desconhece»), a obsessão da morte completa o

    quadro sombrio de uma produção literária na qual um pessoalismo

    desbordante faz brotar algumas cambiantes românticas. Esta poesia sai dos

    outeiros e das assembleias e improvisa (Bocage) ou oferece-se aos

    frequentadores de cafés e botequins. É uma poesia que recebe cunho mais

    pessoal, quer como veículo do pensamento científico (Marquesa de Alorna),

    quer como expressão do sentimento (marcada pelas tonalidades

    anunciadoras do Romantismo), quer como fotografia colorida e animada do

    viver de uma sociedade, que passa perante nós em curiosos clichés, mesmo

     já na poesia dos árcades como vemos em Cruz e Silva e Correia Garção.

    Mas é na produção poética dos chamados dissidentes, precursores do

    Romantismo, que essa poesia ganha volume e afirma a certeza de que o

    Classicismo, com todas as suas excelências, fora, finalmente, ultrapassado

    por um individualismo irrequieto e ansioso que se não conformava já com os

    padrões que fizeram exageradamente uma época que se arrastara através

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    de três séculos. E foi, possivelmente, o contacto direto com a literatura dos

    nórdicos, nas abundantes traduções feitas por Bocage, Filinto Elísio e pela

    Marquesa de Alorna, que propiciou essa forma de expressão necessária para

    a tradução de estados de alma que, só depois disso, se mostraram,

    inteiramente, em verdadeira radiografia espiritual.

    ARCÁDIA LUSITANA

    A Arcádia Lusitana era o designativo da Academia de Belas-Artes criada em

    1756, fazendo parte de um amplo movimento de criação de academias, ato

    muito em voga nos séculos XVII e XVIII. O seu modelo foi a Academia dell'

    Arcadia de origem italiana. O objetivo da criação desta Academia era,

    fundamentalmente, combater o "mau gosto" que imperava no século XVII

    relativamente à obra literária poética e implantar um novo gosto estético. Os

    seus impulsionadores - os Árcades - eram defensores da ideia de que a

    razão deveria ser colocada em primeiro plano relativamente ao sentimento.

    Sinónimo de uma época marcada pelo despotismo esclarecido, é também o

    reflexo de uma nova ordem social apoiada na burguesia, já que os seus

    membros eram maioritariamente burgueses. Os poetas passariam a usar

    expressões do mundo burguês.

    Um dos grandes protetores da Arcádia Lusitana foi o Marquês de Pombal.

    A intervenção dos Árcades estende-se a todos os setores da vida cultural

    portuguesa, desde a literatura, com especial destaque para a poesia,

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    passando pelas artes plásticas, cujo seu maior expoente é Machado de

    Castro, até ao teatro, manifestando o propósito de criar um teatro nacional.

    A Arcádia Lusitana viria a extinguir-se em 1764 mas continuaria a influenciar

    gerações posteriores de artistas, porque foi através da ação dos Árcades que

    Portugal se preparou para entrar no Romantismo, principalmente no âmbito

    da obra literária, cujo seu mais importante discípulo foi Almeida Garrett.

    Arcadismo

    É a influência literária exercida pelas arcádias, sobretudo pela Arcádia

    Lusitana (1757). Esta agremiação dedicou-se à crítica de obras e à

    discussão de teorias literárias. Combateu o barroquismo e tentou aliar às

    primitivas normas do Classicismo o racionalismo de Boileau, Muratori e

    Luzán. Deste modo, o Arcadismo e o movimento literário do Neoclassicismo

    associam-se.

    O Neoclassicismo defendeu a recuperação da expressão, dos géneros

    clássicos, das formas e das técnicas que ganharam força no século XVI.

    Como normas ditou: - a condenação do cultismo e do conceptismo barrocos;

    - o princípio aristotélico da Arte como imitação da Natureza; - o

    desaparecimento da rima; - o fim ético e moral da literatura; - o equilíbrio

    entre a razão e o sentimento.Em Portugal, este movimento cimentou-se com

    traduções, como por exemplo da Arte Poética, de Boileau; com obras

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    teóricas portuguesas como a Arte Poética (1748), do árcade Cândido

    Lusitano; com as Conferências Eruditas e principalmente com a atividade da

    Arcádia Lusitana. Hissope, de Cruz e Silva, um dos fundadores da referida

    instituição, é considerada a obra mais emblemática do Neoclassicismo

    português.

    Correia Garção (1724-1772)

    Poeta português, de nome completo Pedro António Correia Garção, nascido

    em 1724 e falecido em 1772, estudou Literatura Clássica no Colégio dos

    Jesuítas, em Lisboa, e frequentou o curso de Direito na Universidade de

    Coimbra, não chegando, contudo, a terminá-lo. Em 1756, juntamente com

    Cruz e Silva, Teotónio Gomes de Carvalho e Manuel Nicolau Esteves

    Negrão, fundou a Arcádia Lusitana, utilizando como pseudónimo arcádico

    Coridon Erimanteu. Foi escrivão na Casa da Índia e dirigiu a Gazeta de

    Lisboa de 1760 a 1762. Casado e apreciador da convivência social, manteve

    relações com estrangeiros, facilitadas pelo domínio do inglês, do francês e do

    italiano, e também com alguns portugueses das classes mais privilegiadas.

    Devido a problemas financeiros, passou a viver na Quinta da Fonte Santa e

    em 1771 foi detido no Limoeiro, por razões não esclarecidas, onde veio a

    falecer.

    Tentou a criação de um teatro nacional com a redação de alguns textos

    dramáticos (na comédia Assembleia insere-se a célebre Cantata de Dido) e

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    também dedicou alguma atenção ao género epistolar e à poesia de

    circunstância. Esforçou-se sobretudo no sentido de cultivar os géneros

    greco-latinos. Admirador de Horácio, fundiu o horacianismo com a poesia do

    quotidiano e atingiu assim o melhor da sua obra. Para além do poeta latino,

    também seguiu os quinhentistas portugueses Sá de Miranda, António

    Ferreira, Camões e Diogo Bernardes.

    Cruz e Silva (1731-1799)

    Poeta português, António Dinis da Cruz e Silva nasceu em 1731, em Lisboa,

    e faleceu em 1799, no Rio de Janeiro. Oriundo de uma modesta família

    lisboeta, estudou nos Oratorianos e licenciou-se em Leis na Universidade de

    Coimbra. Foi juiz de fora em Castelo de Vide, em 1759, e juiz auditor militar

    em Elvas, em 1764. Foi depois nomeado desembargador da Relação do Rio

    de Janeiro, tendo mais tarde regressado a Portugal como juiz da Relação do

    Porto. Voltou ao Brasil em 1790 para julgar os implicados na revolução de

    Tiradentes, na qual estava implicado o poeta Tomás Gonzaga.

    Poeta do Neoclassicismo, foi um dos fundadores da Arcádia Lusitana ou

    Ulissiponense, em 1756, adotando o pseudónimo de Elpino Nonacriense.

    Admirador da ideologia pombalina, exaltou literariamente, em 1755, o

    marquês em Falso Heroísmo.

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    A sua obra, constituída por géneros diversos, da ode ao drama lírico e à

    sátira, obedece aos preceitos antibarrocos, imitando os poetas neoclássicos

    franceses. Na sua poesia notam-se as recordações que a passagem pelo

    Brasil, enquanto desembargador e juiz da rebelião da Inconfidência Mineira,

    lhe deixaram. Para além do género dramático, também fez, segundo parece,

    uns estudos mineralógicos, que integram a sua extensa obra só

    postumamente publicada na totalidade.

    Na sua escrita, cheia de artificialismo estético, interessou-se pela descrição

    da realidade e pelas diversas sensações que esta desperta, negando

    qualquer manifestação lírica pessoal.

    Além de poemas vários, escreveu oHissope, poema heroico-cómico,

    considerado um dos melhores exemplos do Neoclassicismo português.

    NOVA ARCÁDIA

    Academia de oratória e poesia fundada por Domingos Caldas Barbosa em

    1790, pretendendo sob a forma de tertúlias - com carácter algo mundano -

    defender os princípios da Arcádia Lusitana, entre os quais a oposição à

    exuberância do estilo barroco, voltando à simplicidade, ao estilo bucólico e à

    imitação da tradição normativa dos greco-latinos. Os desentendimentos

    pessoais entre poetas, sobretudo entre Bocage e José Agostinho de Macedo,

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    levaram a Nova Arcádia ao fim em 1794, deixando apenas uma obra

    publicada, o Almanaque das Musas.

    BOCAGE (1765-1805)

    Considerado por muitos autores como o mais completo poeta do nosso

    século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage, filho de um advogado e de

    uma senhora francesa de quem herdou o último apelido, nasceu a 15 de

    setembro de 1765, em Setúbal, e morreu a 21 de dezembro de 1805, em

    Lisboa. Aos 16 anos assentou praça na Infantaria de Setúbal, mas em 1783

    alistou-se na Academia Real da Marinha. Em Lisboa, participou na vida

    boémia e literária e começou a ganhar fama devido à sua veia de poeta

    satírico. Em 1786 embarcou para a Índia, chegando a ser promovido a

    tenente; em 1789 aventurou-se a ir a Macau e logo no ano seguinte

    regressou a Portugal. Em Lisboa encontrou a amada Gestrudes (em poesia

    Gestúria) casada com o seu irmão. Infeliz no amor, sem carreira e com

    dificuldades financeiras, dedicou-se à vida boémia e à poesia, tendo

    publicado, em 1791, o primeiro volume de Rimas . Aderiu então à Nova

    Arcádia (ou Academia de Belas Letras) onde recebeu o nome de Elmano

    Sadino. No entanto, Bocage, pela sua instabilidade e irreverência, não se

    adaptou ao convencionalismo arcádico e abriu conflitos com os seus

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    confrades, sendo expulso em 1794. Três anos depois foi acusado de

    "herético perigoso e dissoluto de costumes" e, como era conhecida a sua

    simpatia pela Revolução Francesa, foi preso e condenado pela Inquisição.

    Quando saiu da reclusão, conformista e gasto, viu-se obrigado a viver da

    escrita (sobretudo de traduções). Apesar de ter recebido o auxílio de alguns

    amigos, acabaria por morrer doente e na miséria.

    Se formalmente a poesia bocagiana ainda é neoclássica, se nalgum

    vocabulário e nos processos de natureza alegórica ainda se sente a herança

    clássica, concretamente a camoniana, pelo temperamento, por grande parte

    dos temas (como o ciúme, a noite, a morte, o egotismo, a liberdade, o amor -

    muitas vezes manifestado por uma expressão erotizante) e pela insistência

    nalgumas imagens e verbos que denunciam uma vivência limite, pode bem

    dizer-se que uma parte significativa da produção poética de Bocage é já

    marcadamente pré-romântica, anunciando assim a nova época que se

    aproxima. Apesar de a sua poesia ser contraditória, irregular, e de os seus

    versos revelarem concessões artisticamente duvidosas, Bocage é

    considerado, com justeza, um dos maiores sonetistas portugueses.

    As obras de Bocage encontram-se editadas atualmente nas antologias:

    Opera Omnia, Poesias (antologia que inclui a lírica, a sátira e a erótica) e

    Poesias de Bocage.

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    BOCAGE

    AUTORRETRATO

    Magro, de olhos azuis, carão moreno,

    Bem servido de pés, meão na altura,

    Triste de facha, o mesmo de figura,

    Nariz alto no meio, e não pequeno:

    Incapaz de assistir num só terreno,

    Mais propenso ao furor do que à ternura;

    Bebendo em níveas mãos por taça escura

    De zelos infernais letal veneno:

    Devoto incensador de mil deidades

    (Digo, de moças mil) num só momento,

    E somente no altar amando os frades:

    Eis Bocage, em quem luz algum talento;

    Saíram dele mesmo estas verdades

    Num dia em que se achou mais pachorrento.

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    Este soneto de Bocage apresenta uma estrutura interna claramente bipartida.

    Na primeira parte, constituída pelas quadras e pelo 1.º terceto, o sujeito

    poético esboça o seu autorretrato, em dois momentos distintos:

    - a primeira quadra, que respeita ao retrato físico - rosto magro, olhos azuis,

    pele morena, pés grandes ("bem servido de pés"), estatura média ("meão na

    altura") e nariz grande ("alto no meio e não pequeno").

    - a segunda quadra e o primeiro terceto, que evidenciam o retrato psicológico

    - triste de aspeto e de figura, volúvel e inconstante ("Incapaz de assistir num

    só terreno"), irascível ("Mais propenso ao furor do que à ternura"),

    enamorado por muitas mulheres ("Devoto incensador de mil deidades").

    Na segunda parte, constituída pelo último terceto, o sujeito poético revela a

    sua identidade e as circunstâncias que proporcionaram a criação do soneto.

    De destacar ainda que este soneto, como muitos outros da lírica de Bocage,

    apresenta elementos neoclássicos: a forma (soneto) e o vocabulário

    alatinado (níveas, letal, deidades). No entanto, predominam os elementos

    românticos: o carácter autobiográfico, o individualismo, o tom confessional, o

    amor sensual.

    O universo poético bocagiano gira à volta de três grandes temáticas: o eu, o

    amor, a morte. Daí, o aparecimento de temas autobiográficos (o eterno

    apaixonado, volúvel e inconstante; o destino cruel; o sofrimento na vida e o

    desejo de morte; as dificuldades económicas), as referências ao amor

    (guiado pelo coração, não pela razão; amor imenso que conduz ao

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    Importuna Razão, não me persigas

    Importuna Razão, não me persigas;

    Cesse a ríspida voz que em vão murmura;

    Se a lei de Amor, se a força da ternura

    Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

    Se acusas os mortais, e os não abrigas,

    Se (conhecendo o mal) não dás a cura,

    Deixa-me apreciar minha loucura,

    Importuna Razão, não me persigas.

    É teu fim, teu projecto encher de pejo

    Esta alma, frágil vítima daquela

    Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

    Queres que fuja de Marília bela,

    Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo

    É carpir, delirar, morrer por ela.

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    Sobre estas duras, cavernosas fragas

    Sobre estas duras, cavernosas fragas,

    Que o marinho furor vai carcomendo,

    Me estão negras paixões n'alma fervendo

    Como fervem no pego as crespas vagas;

    Razão feroz, o coração me indagas.

    De meus erros a sombra esclarecendo,

    E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo

    De agudas ânsias venenosas chagas.

    Cego a meus males, surdo a teu reclamo,

    Mil objectos de horror co'a ideia eu corro,

    Solto gemidos, lágrimas derramo.

    Razão, de que me serve o teu socorro?

    Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;

    Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.

    Liberdade querida e suspirada

    Liberdade querida e suspirada,

    Que o Despotismo acérrimo condena;

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    Liberdade, a meus olhos mais serena,

    Que o sereno clarão da madrugada!

    Atende à minha voz, que geme e brada

    Por ver-te, por gozar-te a face amena;

    Liberdade gentil, desterra a pena

    Em que esta alma infeliz jaz sepultada;

    Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,

    Vem, oh consolação da humanidade,

    Cujo semblante mais que os astros brilha;

    Vem, solta-me o grilhão da adversidade;

    Dos céus descende, pois dos Céus és filha,

    Mãe dos prazeres, doce Liberdade!

    Meu ser evaporei na lida insana

    Meu ser evaporei na lida insana

    Do tropel de paixões, que me arrastava;

    Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava

    Em mim quase imortal a essência humana.

    De que inúmeros sóis a mente ufana

    Existência falaz me não dourava!

    Mas eis sucumbe a Natureza escrava

    Ao mal, que a vida em sua orgia dana.

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    Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!

    Esta alma, que sedenta em si não coube,

    No abismo vos sumiu dos desenganos.

    Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roube,

    Ganhe um momento o que perderam anos,

    Saiba morrer o que viver não soube.