Música Medieval Doc Sisuama

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1 2. MÚSICA MEDIEVAL O termo medieval refere-se ao período de tempo que se situe entre a antiguidade e a Era moderna. A era medieval corresponde a um vasto período de aproximadamente dez séculos (de V a XV) que parte da dissolução do Império Romano do Ocidente (476 d. C) até 1453 data que marca o fim do Império Bizantino ou Império Romano do Oriente. Portanto, Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental que se subdivide em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média. O quadro mais comum dos analistas da história europeia sempre considerou a periodização da história em três grandes períodos, isto é, antiguidade, Idade média e a Era moderna que compreende a Idade moderna e contemporânea. “O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni na sua História do Povo Florentino em 1442”. O mais antigo registo com termo Idade médio data de 1469. Entretanto, ele será adotado padrão de periodização histórica somente em 1683 aquando da publicação da obra História Universal dividida nos períodos antigo, medieval e novo do historiador alemão *Christoph Cellarius. (Idade Média. 2013). A problemática divisória de período antigo retrata uma das razões pela qual alguns peritos na matéria musical preferem associar o estilo medieval e o renascentista num só estilo musical que eles intitulam de música antiga. John Burrows na coordenação do livro música clássica alega que a terminologia “Música Antiga” faz referência ao repertório de períodos históricos menos familiares aos músicos experientes e seus públicos que o das Eras romântica e clássica. A música antiga desta feita é uma intitulação que abrange a música da idade média e do renascimento, um vasto panorama de séculos de ideias musicais, desenvolvimentos e estilos de execução. (Música clássica. 2010: 47) Normalmente, o princípio e o final de um período seus marcos históricos coincidem com factos que possuem capacidade de ruptura com o tempo anterior e de influência sobre o tempo seguinte. É de salientar que na matéria de delimitação de tempo adopta-se de forma fortuito acontecimento fenomenal como marco histórico para marcar a passagem periódica de certo espaço de tempo. Isto faz com que haja mais de uma datação que marca limites do mesmo período de tempo ou época. Por exemplo, para a professora Jacqueline Jamim e eventualmente outros teóricos, indicam o fim do medieval em 1492, data correspondente a descoberta de América (12 de outubro) pelo Cristóvão Colombo, também considerado como o início dos tempos modernos. Actualmente os historiadores contemporâneos consideram a data de 11 de Novembro 2011 que presenciou o ataque de torres gémeos dos Estados Unidos de América como a data do inicio da Era pós-contemporânea. _________________ *Cristóbal Cellarius (1638-1707, em Alemanha Cristoph Keller) : Historiador alemão e professor de retórica e história na Universidade de Halle. Fundamentalmente é conhecido por sua introdução sobre a divisão clássica da periodização histórica ou das idades da história: antiguidade, média e moderna.

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2. MÚSICA MEDIEVAL

O termo medieval refere-se ao período de tempo que se situe entre a antiguidade e a Era

moderna. A era medieval corresponde a um vasto período de aproximadamente dez séculos (de V a XV)

que parte da dissolução do Império Romano do Ocidente (476 d. C) até 1453 data que marca o fim do

Império Bizantino ou Império Romano do Oriente. Portanto, Idade Média é o período intermédio da

divisão clássica da História ocidental que se subdivide em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e

Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média.

O quadro mais comum dos analistas da história europeia sempre considerou a periodização da história

em três grandes períodos, isto é, antiguidade, Idade média e a Era moderna que compreende a Idade

moderna e contemporânea. “O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni

na sua História do Povo Florentino em 1442”. O mais antigo registo com termo Idade médio data de 1469.

Entretanto, ele será adotado padrão de periodização histórica somente em 1683 aquando da publicação

da obra História Universal dividida nos períodos antigo, medieval e novo do historiador alemão *Christoph

Cellarius. (Idade Média. 2013). A problemática divisória de período antigo retrata uma das razões pela

qual alguns peritos na matéria musical preferem associar o estilo medieval e o renascentista num só

estilo musical que eles intitulam de música antiga. John Burrows na coordenação do livro música clássica

alega que a terminologia “Música Antiga” faz referência ao repertório de períodos históricos menos

familiares aos músicos experientes e seus públicos que o das Eras romântica e clássica. A música antiga

desta feita é uma intitulação que abrange a música da idade média e do renascimento, um vasto

panorama de séculos de ideias musicais, desenvolvimentos e estilos de execução. (Música clássica.

2010: 47) Normalmente, o princípio e o final de um período – seus marcos históricos – coincidem com

factos que possuem capacidade de ruptura com o tempo anterior e de influência sobre o tempo seguinte.

É de salientar que na matéria de delimitação de tempo adopta-se de forma fortuito acontecimento

fenomenal como marco histórico para marcar a passagem periódica de certo espaço de tempo. Isto faz

com que haja mais de uma datação que marca limites do mesmo período de tempo ou época. Por

exemplo, para a professora Jacqueline Jamim e eventualmente outros teóricos, indicam o fim do medieval

em 1492, data correspondente a descoberta de América (12 de outubro) pelo Cristóvão Colombo,

também considerado como o início dos tempos modernos. Actualmente os historiadores contemporâneos

consideram a data de 11 de Novembro 2011 que presenciou o ataque de torres gémeos dos Estados

Unidos de América como a data do inicio da Era pós-contemporânea.

_________________

*Cristóbal Cellarius (1638-1707, em Alemanha Cristoph Keller) : Historiador alemão e professor de retórica e história na

Universidade de Halle. Fundamentalmente é conhecido por sua introdução sobre a divisão clássica da periodização histórica ou

das idades da história: antiguidade, média e moderna.

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Considerando a extensão do seu cumprimento, a movimentação populacional devido das “migrações e

incursões dos godos e dos hunos durante os séculos V e VI” (Encarta corporation. 2002) e a perplexidade

do poder público em disputa entre o Estado e as autoridades eclesiásticas; a leitura do seu período e a

reconstrução da sua história torna-se uma tarefa mais difícil e sujeita a marcação fortuita e pragmática.

2.1 Europa Medieval

Aproximadamente no século II a.C., os Germanos (grupo de tribos indo-europeias) - também conhecidos

por povo que habitava a antiga Germânia, região da Europa central ou seja a Alemanha - já haviam

ocupado o norte da Germânia e o sul da Escandinávia (nome que se aplica em conjunto à Noruega,

Suécia que formam a península Escandinava e Dinamarca. Os três países se agrupam devido a um

passado histórico, cultural e linguístico em comum.) Esses três povos são herdeiros dos vikings

chamados também de normandos que eram conhecidos como piratas do mar de renome durante a alta

média. Vikings ou Normandos é o nome coletivo pelo qual se autodenominaram alguns povos nórdicos

(dinamarqueses, suecos e noruegueses) que se dispersaram em um período da expansão dinâmica

escandinava durante a idade média, de 800 d.C. a 1100. Esse período, chamada idade viking, foi

associado popularmente, durante muito tempo, a uma pirataria desenfreada a partir do momento em que

os assaltantes chegavam das terras nórdicas em seus barcos, assolando e saqueando tudo em seu

caminho pela Europa. Contudo, os modernos historiadores destacam os êxitos dessa idade viking no que

se refere à arte, ao artesanato, à tecnologia naval, às viagens de exploração e ao desenvolvimento do

comércio.

a) As rotas dos vikings

Os vikings eram um povo guerreiro que habitava a região escandinava. Sulcaram mares distantes de

seus domínios, não só com o propósito de conquistar novas terras, como também de estabelecer

povoações em outras regiões do mundo. Os vikings dinamarqueses se dirigiram ao sul, até a região

continental europeia, e às ilhas britânicas. Além disso, também avançaram em regiões do noroeste da

costa mediterrânea. Os vikings suecos viajaram até o leste da Europa, enquanto os noruegueses

chegaram à Groenlândia e América do Norte.

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O primeiro encontro com os romanos deu-se quando cimbros e teutões (antigo povo germânico que no

princípio vivia na península da Jutlândia. Em aproximadamente 120 a.C., uniu-se aos cimbros em sua

emigração para o sul) invadiram a Gália, sendo derrotados na atual Provença. Gália, nome romano dado

às terras dos celtas no oeste da Europa; cobria grande parte da atual França, embora se estendesse

além das fronteiras do referido país. Júlio Cesar aquando de seus comentários em seus Comentários,

narra sua conquista da região chamada Gália Transalpina. Descreve o país como dividido em três partes,

habitadas por belgas, aquitanos e gauleses ou celtas. As três nações tinham diferentes línguas, costumes

e leis. Os aquitanos, ademais, eram etnicamente diferentes dos belgas e celtas. Os romanos dividiram-na

em duas regiões principais: a Gália Cisalpina (atual norte da Itália) e a Gália Transalpina. Roma logo

estendeu seu controle a toda a Gália Cisalpina (os etruscos ou seja a Itália). As guerras das Gálias,

vencidas por Júlio César, resultaram na submissão da Gália Transalpina (os celtas ou galeses ou seja os

Franco-flamengo) e na formação de uma província nova, Aquitânia. No século V d.C., foi invadida pelas

sucessivas vagas de godos.

Os etruscos habitaram a costa noroeste da península Itálica, antes de aparecer a civilização romana.

Provavelmente procediam da Ásia Menor e chegaram à Itália ao redor de 800 a.C. Os reis etruscos,

influenciados pela cultura grega, governaram Roma no século VI a.C., até que a Etrúria foi eclipsada pelo

poder e influência romana ao redor do ano 200 a.C. A civilização etrusca representa a cultura criada e

desenvolvida na península italiana pelo povo da Etrúria, durante o primeiro milênio a.C. Na época de seu

maior poder, entre os séculos VII a.C. e V a.C., a Etrúria provavelmente englobava toda a Itália.

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Jutlândia é a península da Europa setentrional, que se estende para o norte, desde o rio Eider. Limita-se

ao norte com o estreito de Skagerrak, a leste com o estreito de Kattegat e o pequeno canal de Baelt e a

oeste com o mar do Norte. Compreende parte de Schleswig-Holstein, na Alemanha, e toda a terra firme

da Dinamarca. No século V, a região foi ocupada pelos jutos, tribo que deu seu nome à península, pouco

tempo depois, foram expulsos pelos vikings, ancestrais dos atuais daneses.

Durante o século III, godos, alamanos e francos penetraram pelas fronteiras. No século V, ocuparam

todo o Império Romano do Ocidente. Durante os séculos seguintes, converteram-se ao cristianismo e

definiram as bases da Europa medieval. No final do século V, o término de uma série de processos de

longa duração, entre eles o grave deslocamento econômico e as invasões e os assentamentos dos povos

germanos no Império Romano, transformou a face da Europa.

a) Império Romano

O cenário do poder romano começa com a governancia da república caracterizado pelo regime

republicano como forma de governo. Estende-se de 510 a.C., fim da monarquia, até 27 a.C., início do

Império. É durante o período histórico da monarquia romana (de 753 a 510 a.C.) que se narra enumera

lendas e histórias simbólicas. Segundo a lenda, Roma foi fundada em 753 a.C. por Rômulo e Remo. Os

sete reis do período monárquico foram: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Lúcio

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Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Lúcio Tarquínio, o Soberbo. Tarquínio o Soberbo, Lúcio (?-496 a.C.),

sétimo e último rei de Roma (534-510 a.C.), diz-se que era filho de Tarquínio Prisco. Foi destronado por

uma revolta popular liderada por Lúcio Júnio Bruto, que proclamou a República romana em o 509 a.C.

Em lugar do rei, o conjunto da cidadania elegia anualmente dois cônsules. Apenas os patrícios podiam

ocupar as magistraturas, porém o descontentamento da plebe originou uma violenta luta e a progressiva

aparição da discriminação social e política. A conquista de Veyes, em 396 a.C., iniciou a decadência da

civilização etrusca. Roma obteve o controlo da Itália central. As coalizões formadas por etruscos, umbros

e gauleses, ao norte, e por lucanos e samnitas, ao sul, foram finalmente derrotadas. Em 264 a.C., Roma

começou sua luta contra Cartago pelo controle do Mediterrâneo. Cartago, que era a potência marítima

hegemônica, após as duas primeiras Guerras Púnicas perdeu sua posição em favor de Roma. A Gália

Cisalpina, Córsega, Sardenha e Hispânia foram submetidas. A Macedônia foi enfrentada nas Guerras

Macedônicas, depois das quais Roma conseguiu apoderar-se da Grécia, adotando boa parte de sua

cultura, e da Ásia Menor. Na terceira Guerra Púnica, Públio Cornélio Cipião Emiliano conquistou e

destruiu Cartago. Roma havia criado, em 131 anos, um império que dominava o Mediterrâneo. César

atraiu a inimizade da aristocracia ao ignorar as tradições republicanas e foi assassinado. Marco Túlio

Cícero tentou restaurar a República, porém Marco Antônio se uniu a Marco Emílio Lépido e a Otávio para

formarem o segundo triunvirato. Os triúnviros proscreveram e assassinaram seus opositores republicanos

e repartiram entre si o controle do Império. Otávio, que havia reforçado sua posição no Ocidente ao privar

Lépido de seu território, viu-se apenas diante de Marco Antônio. Após a batalha de Actium (31 a.C.),

Otávio obteve a supremacia total sobre o território.

O Império Romano é o período da história de Roma caracterizado por um regime político dominado por

um imperador, que compreende desde que Otávio recebeu o título de Augusto (27 a.C.) até a dissolução

do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). O Império sucedeu à República de Roma. Augusto

reorganizou o território, acabando com a corrupção e extorsão que haviam caracterizado a administração

do período anterior. Esse período representa o auge da idade de ouro da literatura latina, em que se

destacam as obras poéticas de Virgílio (Considerado o maior poeta da Roma antiga, Virgílio, que viveu

entre os anos 70 e 19 a.C. compôs a Eneida, poema épico de caráter mitológico, durante os últimos 11

anos da sua vida. Moldada como a Ilíada e a Odisséia, do poeta grego Homero, foi a primeira obra-prima

do estilo épico. Numerosos escritores posteriores a tomaram como modelo, tanto nos temas como nas

técnicas, e renderam-lhe homenagem em seus textos e desenhos. Esta pintura de 1469 representa o

autor escrevendo o poema Geórgicas (36-29 a.C.) diante da estátua da deusa grega Artemis.),

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Horácio e Ovídio e a obra em prosa de Tito Lívio. Os imperadores seguintes da

dinastia Júlio-Cláudia foram: Tibério, Calígula, Cláudio I e Nero. Durante os últimos anos, cometeram-se

muitos excessos de poder. Vespasiano, junto com seus filhos Tito e Domiciano, constituíram a dinastia

dos Flávios. Ressuscitaram a simplicidade do início do Império e tentaram restaurar a autoridade do

Senado e promover o bem-estar do povo. Marco Cocceius Nerva (96-98) foi o primeiro dos denominados

cinco bons imperadores, junto com Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio.

busto do imperador trajano

Com Trajano, o Império alcançou sua máxima extensão territorial e seus sucessores estabilizaram as

fronteiras. Trajano foi imperador de Roma no ano 98 e expandiu o Império pela Europa Central e

Mesopotâmia graças às suas vitórias militares. Empreendeu importantes projetos de engenharia civil

(construiu estradas, canais e portos). Também instituiu reformas sociais para reconstruir as cidades e

reduzir a pobreza.

A dinastia dos Antoninos terminou com o sanguinário Lúcio Aurélio Cômodo. Constituíram a dinastia dos

Severo: Lúcio Sétimo Severo, hábil governante; Caracala, famoso por sua brutalidade; Heliogábalo,

imperador corrupto; e Alexandre Severo, que se destacou por sua justiça e sabedoria. Dos 12

imperadores que governaram nos anos seguintes, quase todos morreram violentamente. Os imperadores

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ilírios conseguiram que se desenrolasse um breve período de paz e prosperidade. Esta dinastia incluiu

Cláudio II, o Gótico, e Aureliano. Diocleciano levou a cabo um bom número de reformas sociais,

econômicas e políticas. Após seu mandato, houve uma guerra civil que só terminou com a ascensão de

Constantino I, o Grande, que se converteu ao cristianismo e estabeleceu a capital em Bizâncio. Teodósio

I reunificou o Império pela última vez. Após sua morte, Arcádio se converteu em imperador do Oriente e

Honório, em imperador do Ocidente. Os povos invasores empreenderam gradualmente a conquista do

Ocidente. Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, foi deposto no ano de 476. O Império do

Oriente, também denominado Império Bizantino, perduraria até 1453.

Embora se creia que os nomes pertençam à ficção, existem provas sólidas da existência de uma antiga

monarquia, do crescimento de Roma e suas lutas contra os povos vizinhos, do estabelecimento de uma

dinastia de príncipes etruscos e de sua derrubada e abolição da monarquia. Também é provável a

existência de certa organização social, como a divisão dos habitantes em duas classes: patrícios e plebe.

Na mitologia grega o Rômulo é tido como o fundador e primeiro rei de Roma. Ele e seu irmão gêmeo,

Remo, eram filhos de Marte (na mitologia romana, deus da guerra, filho de Júpiter e Juno. Era

considerado pai do povo romano, porque era pai de Rômulo, o lendário fundador de Roma.) e da Réa

Sílvia, uma das virgens vestais. De acordo com a lenda, Rômulo foi levado por seu pai aos céus e depois

lhe foi prestado culto como deus Quirino.

Durante esse período não existiu realmente um mecanismo de governo unitário nas diversas entidades

políticas, embora tenha ocorrido a formação dos reinos. O desenvolvimento político e econômico era

fundamentalmente local, e o comércio regular desapareceu quase totalmente. Com o fim de um processo

iniciado durante o Império Romano, os camponeses começaram seu processo de ligação com a terra e

de dependência dos grandes proprietários para obter proteção. Essa situação constituiu a semente do

regime senhorial. Os principais vínculos entre a aristocracia guerreira foram os laços de parentesco,

embora também tenham começado a surgir as relações feudais. A única instituição europeia com caráter

universal era a Igreja, mas dentro dela também ocorreu uma fragmentação na autoridade. Em seu núcleo

havia tendências que desejavam unificar os rituais, o calendário e as regras monásticas, opostas à

desintegração local.

Durante a Idade Média europeia, os camponeses passaram, obrigatoriamente, a viver e trabalhar em um

único lugar a serviço dos nobres latifundiários. Esses trabalhadores chamados servos que cuidavam das

terras de seu dono, a quem chamavam de senhor, recebiam em troca uma humilde moradia, um pequeno

terreno adjacente, alguns animais de granja e proteção ante os foragidos e os demais senhores. Os

servos deviam entregar parte de sua própria colheita como pagamento e estavam sujeitos a muitas outras

obrigações e impostos. A atividade cultural durante o início da Idade Média consistiu principalmente na

conservação e sistematização do conhecimento do passado. Isto implica dizer que até neste preciso

momento os modos gregos continuavam a bater o seu pleno e dominava o sistema sonoro da música

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eclesiástica. Essa primeira etapa da Idade Média foi encerrada no século X com a segunda migração

germânica e as invasões protagonizadas pelos vikings, procedentes do norte, e pelos magiares das

estepes asiáticas.

b) Império Sacro Bizantino (476 a 1453 a.C.)

parte oriental do Império Romano, que sobreviveu à queda do Império do Ocidente no século V d.C. Sua

capital era Constantinopla (a atual Istambul) que foi convertida na capital do Império Romano do Oriente

no ano 330, depois que Constantino I, o Grande, fundou-a no lugar da antiga cidade de Bizâncio, dando-

lhe seu próprio nome. Foi a capital das províncias romanas orientais, ou seja, daquelas áreas do Império

localizadas no sudeste de Europa, sudoeste da Ásia e na parte nordeste de África, que também incluíam

os países atuais da península Balcânica, Turquia ocidental, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Chipre, Egito e

a região mais oriental da Líbia. Seus imperadores consideraram os limites geográficos do Império

Romano como os seus próprios e buscaram em Roma suas tradições, seus símbolos e suas instituições.

O imperador Justiniano I e sua esposa, Teodora, tentou restaurar a antiga suntuosidade e os limites

geográficos do Império Romano. O Império sobreviveu às migrações e incursões dos godos e dos hunos

durante os séculos V e VI. No século VII, o imperador Heráclio I acabou com um grande período de

guerras com os persas, recuperando a Síria ocupada pelos persas, a Palestina e o Egito. Constantinopla

agüentou grandes cercos por parte dos árabes na década de 670 e durante os anos 717 e 718. No início

do século IX, o Império Bizantino experimentou uma grande recuperação, alcançando sua plenitude sob o

duradouro reinado da dinastia macedônica, que começou com seu fundador, o imperador Basílio I. A vida

intelectual reviveu. O renascimento cultural foi acompanhado por um retorno consciente aos modelos

clássicos na arte e na literatura. O maior imperador macedônico foi Basílio II, que reprimiu vigorosamente

uma abrangente rebelião búlgara (1014) e ampliou seu controle até os principados independentes da

Armênia e Geórgia. Em 1071, os Seljúcidas invadiram a maior parte da Ásia Menor bizantina. Os

bizantinos perderam suas últimas possessões na Itália e foram separados do Ocidente cristão devido ao

cisma de 1054 aberto entre a Igreja ortodoxa e o Papado. Grande cisma do ocidente significa

simplesmente a separação formal da unidade da igreja cristã. Na história do cristianismo, Cisma do

Ocidente é a expressão utilizada para fazer referência tanto à ruptura da Igreja Oriental e Ocidental, em

1054, quanto para definir o período, entre 1378 e 1417, no qual dois papas reclamavam, ao mesmo

tempo, a legitimidade. Miguel Cerulário, patriarca de Constantinopla, excomungou Leão IX depois de ter

sido excomungado por este. O Concílio de Constança (1414-1418) desautorizou e destituiu ambos e a

eleição de Martinho V (1417-1431) recebeu aprovação de toda a Igreja.

O imperador Aleixo I Comneno, fundador da dinastia dos Comnenos, pediu ajuda ao Papa contra os

turcos. A Europa Ocidental respondeu com a primeira Cruzada (1096-1099). Embora, em um primeiro

momento, o Império tenha se beneficiado das Cruzadas, recuperando alguns territórios na Ásia Menor,

estas precipitaram sua decadência. O imperador Miguel VIII Paleólogo, recuperou Constantinopla das

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mãos dos latinos em 1261 e fundou a dinastia dos Paleólogos, que governaram até 1453. Os turcos

otomanos, em plena ascensão, conquistaram o resto da Ásia Menor bizantina no princípio do século XIV.

Depois de 1354, ocuparam os Balcãs e finalmente tomaram Constantinopla, o que representou o fim do

Império em 1453. Contudo, a tradição intelectual bizantina não morreu em 1453: os eruditos bizantinos

que visitaram a Itália durante os séculos XIV e XV, exerceram uma forte influência sobre o Renascimento

italiano.

2.1.1 Alta Idade Média

Até a metade do século XI, a Europa se encontrava em um período de evolução desconhecido até esse

momento. A época das grandes invasões havia chegado ao fim e o continente europeu experimentava o

crescimento dinâmico de uma população já assentada. Renasceram a vida urbana e o comércio regular

em grande escala. Ocorreu o desenvolvimento de uma sociedade e uma cultura complexas, dinâmicas e

inovadoras.

Durante a Alta Idade Média, a Igreja Católica, organizada em torno de uma hierarquia estruturada, com o

papa como o ápice indiscutível, constituiu a mais sofisticada instituição de governo na Europa Ocidental.

As ordens monásticas cresceram e prosperaram participando ativamente da vida secular. A

espiritualidade da Alta Idade Média adotou um caráter individual, pelo qual o crente se identificava de

forma subjetiva e emocional com o sofrimento humano de Cristo.

Dentro do âmbito cultural, houve um ressurgimento intelectual com o desenvolvimento de novas

instituições educativas como as escolas catedráticas e monásticas. Foram fundadas as primeiras

universidades; surgiram ofertas de graduação em medicina, direito e teologia, além de ter sido aberto o

caminho para uma época dourada para a filosofia no ocidente.

Também surgiram inovações no campo das artes. A escrita deixou de ser uma atividade exclusiva do

clero e o resultado foi o florescimento de uma nova literatura, tanto em latim como, pela primeira vez, em

línguas vernáculas. Esses novos textos estavam destinados a um público letrado que possuía educação

e tempo livre para ler.

Nesta óptica convém se referir da invenção do papel, um material mais adequado à impressão que o

papiro e o pergaminho, pelos chineses em volta do ano 105 da Era cristã e da técnica tradicional de

impressão de Johann Gutenberg. O papiro era frágil demais para ser usado como superfície de

impressão e o pergaminho, caro demais. Gutenberg com a sua tipografia lança as bases solidas que

sustentaram a evolução e o desenvolvimento conceituado da arte gráfica e das técnicas modernas de

impressão. A tipografia, a mais antiga forma de composição e impressão, originada com a invenção dos

tipos móveis de Gutenberg, foi, durante cinco séculos, o único processo viável de impressão em grande

escala. Só a partir de meados do século XX foi desbancada pelo offset, mas inovações técnicas como as

rotativas de alta velocidade e o emprego de chapas de foto polímeros, ainda a mantêm competitiva em

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alguns setores, como a impressão de jornais.“Em 1796, o alemão Aloys Senenfelder estabelece as bases

para o mais versátil processo de impressão, o offset.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft

Corporation).

O processo, batizado por Senenfelder de impressão química, logo se tornou popular entre artistas,

porque lhes permitia fazer múltiplas cópias de seus desenhos feitos a mão.

Os tipos móveis de Gutenberg, com letras, algarismos e sinais de pontuação gravados, eram colocados

lado a lado, à mão, para formar as palavras e as frases, sobre uma bandeja de madeira. A superfície era

então coberta com tinta e sobre ela pressionava-se uma folha de papel. A pressão era feita por uma

prensa de madeira, também criada por Gutenberg, e aparentemente inspirada na prensa utilizada pelos

produtores de vinho para espremer as uvas. Tal método, ao contrário da xilografia, permitia imprimir

ambos os lados de uma folha e resultava em impressos de melhor qualidade.

Assim sendo, o invento de Gutenberg foi sendo progressivamente aperfeiçoado, sem perder suas

características básicas. Durante o século XIX, as melhorias, quase todas destinadas a aumentar a

velocidade do processo, incluíram o desenvolvimento da prensa acionada por vapor; a prensa de cilindro,

que utiliza um rolo giratório para pressionar o papel contra uma superfície plana; a rotativa, na qual tanto

o papel como a chapa com o texto a ser impresso estão montados sobre rolos; e a rotativa de dupla

impressão, que imprime os dois lados do papel ao mesmo tempo. No final do século XIX, o alemão

Ottmar Mergenthaler inventou, e os Estados Unidos logo adotaram, a linotipia, técnica que utilizava uma

máquina, chamada linotipo, para compor o texto a ser impresso. Enquanto a composição manual

compunha o texto tipo por tipo, a máquina compunha e montava linhas inteiras de uma só vez (ver

Sistemas de edição).

No campo da pintura foi dada atenção sem precedentes à representação de emoções extremas, à vida

cotidiana e ao mundo da natureza. Na arquitetura, o românico alcançou sua perfeição com a edificação

de incontáveis catedrais ao longo de rotas de peregrinação no sul da França e Espanha, especialmente o

Caminho de Santiago, inclusive quando começava a surgir o estilo gótico, que nos séculos seguintes se

converteu no estilo artístico predominante. O século XIII foi o século das Cruzadas, defendidas pelo

Papado para libertar os Lugares Santos no Oriente Médio que estavam nas mãos dos muçulmanos.

Essas expedições internacionais foram mais um exemplo da unidade europeia centrada na Igreja,

embora também tenham sido influenciadas pelo interesse em dominar as rotas comerciais do oriente.

Portanto, o visionário das guerras santas para libertar os lugares santos em possessão dos infiéis, neste

caso os muçulmanos, foi o Papa Urbano II.

Foi respondendo “Deus o quer” que a multidão reunida em Clermont no dia 27 de novembro de 1095

acolheu a prédica do papa Urbano II em favor da guerra santa destinada a libertar o sepulcro de Cristo do

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controle dos “infiéis”. A repercussão a esse apelo foi tal, que as Cruzadas, que constituíram o fato político

e religioso mais importante da Idade Média, marcaram a história do Ocidente durante dois séculos.

Culver Pictures

2.1.2 Baixa idade Média

A Baixa Idade Média foi marcada pelos conflitos e pela dissolução da unidade institucional. Foi então que

começou a surgir o Estado moderno, e a luta pela hegemonia entre a Igreja e o Estado se converteu em

um traço permanente da história da Europa nos séculos posteriores. A espiritualidade da Baixa Idade

Média foi o autêntico indicador da turbulência social e cultural da época, caracterizada por uma intensa

busca da experiência direta com Deus, através do êxtase pessoal ou mediante o exame pessoal da

palavra de Deus na Bíblia. A situação de agitação e inovação espiritual culminaria com a Reforma

protestante. As novas identidades políticas conduziriam ao triunfo do Estado nacional moderno, e a

contínua expansão econômica e mercantil estabeleceu as bases para a transformação revolucionária da

economia europeia.

No fim da Idade média a Europa foi divida em pequenos estados feudais. A maioria deles fazia parte do

reino da França ou do Sacro Império Romano-Germânico.

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2.2 Música Medieval (Música Antiga)

A terminologia música medieval contextualiza os estilos e formas musicais que foram envolvidos durante

a Idade media. Segundo Lord Maria (2008: 12) a música medieval foi fortemente influenciada pela

hegemonia predominante da Igreja Católica Romana enquanto força emergente de momento. Em

paralelo a música sacra ou litúrgica, a época medieval assinalou também a presença da música secular

constituída pelas canções de amor cortes e canções épicas. Por falta de registos escritos e matriz sonora

a verdadeira sonorização da música medieval nos escapa completamente. O pouco conhecimento

daquilo que nos é chegado se apresenta de forma parcial com partituras incompletas ou simplesmente

inexistentes. No entanto, algumas provas indicam as tradições de canções sobreviventes dos primeiros

tempos da idade média. Neste caso refere-se à existência de épicos germânicos e escandinavos tais

como o Nibelungenlied (Cantar dos Nibelungos) - poema épico mais importante do período médio do alto

alemão do século XIII - e as sagas (narração em prosa sobre heróis históricos ou legendários na literatura

medieval da Islândia. Confere a literatura irlandesa e norueguesa). A canção dos nibelungos é um

conjunto de poema épico medieval de autor desconhecido, escrito em alemão no início do século XIII. O

poema contém elementos das mitologias escandinavas e germânicas, e relata a história prematura da

Burgúndia (do burgo, palavra da idade média que indica uma povoação menor de uma cidade ou vila).

Richard Wagner baseou sua ópera O anel do Nibelingo neste texto, um poema profundamente trágico

que trata do tema do destino e da transformação da felicidade em dor. Foi uma das epopeias medievais

germânicas mais populares até o século XVI. No entanto a Islândia é famosa por suas sagas medievais,

contos escritos geralmente por autores desconhecidos entre os séculos XII e XIV, que tratam de reis

noruegueses ou de heróis lendários da Islândia e da Escandinávia. Foram escritas centenas de sagas

que podem ser divididas em três grupos: Sagas de reis, como o Heimskringla, de Snorri Sturluson, e as

sagas Knýtlinga, centradas nos reis daneses; Sagas lendárias, basicamente romances de cavalaria e

fantasia e Sagas de islandeses, em sua maioria ficcionalização de fatos, alguns deles reais, ocorridos na

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Islândia durante a “era das sagas” (900-1150). De facto a mais antiga prova real que o confirma vem de

um fragmento da Petruslied alemã que data aproximadamente de 850 d. C.

2.2.1 Música Religiosa ou Sacra

A canção religiosa cristã já existia desde os primórdios da alta medieval. A partir do primeiro milénio pode

se notar a presença de hinos de louvor e adoração dos hebreus dentro do templo aquando da sua

institucionalização na celebração do culto a cargo dos levitas pelo Rei David. Portanto, já no segundo

milénio até aproximadamente século IV o repertório religioso cristão espalhava-se em todo o território do

ocidente onde existiam as comunidades cristãs. Neste período de tempo o repertório cristão era

fundamentalmente formado pelos hinos judaicos, salmos e cânticos espirituais, o repertório Ambrosíaco,

Moçárabe, Galiano e Céltico.

Durante a alta idade média somente a arte religiosa é tolerada, a moral cristão reage contra os

divertimentos da civilização romana. Depois da queda do Império Romano de Ocidente a igreja triunfante

estende a sua influência sobre Europa; ela traz neste tempo perplexo um elemento de ordem e de

esperança. Esta época testemunhou não só a emergência da igreja católica enquanto grande força e

influência sobre estilos musicais e tradições, como também uma diversidade de músicas não litúrgicas,

em especial canções de amor e épicas.

a) Cantochão ou Cantus Firmus

Cantochão, melodia cantada sem acompanhamento, com ritmos e contornos melódicos estreitamente

relacionados com os ritmos da fala e as inflexões do texto. Os textos do denominado cantochão podem

ser tanto sagrados como profanos, ainda que o termo geralmente se aplique à música litúrgica sacra.