Museu Sensorial e Cultural Indígena do povo Paresí na ...
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EIXO TEMÁTICO: ( ) Arquitetura da Paisagem: Repensando a Cidade ( ) Arquitetura, Tecnologia e Meio Construído (X) Cidade, Patrimônio Cultural e Arquitetônico ( ) Cidade: Planejamento, Projeto e Intervenções ( ) Espaço Público, Processos de Produção e Espacialidades na Cidade Contemporânea ( ) Geotecnologias Aplicadas ao Planejamento Urbano ( ) Inovação e Criatividade na Cidade ( ) Mobilidade e Acessibilidade em Áreas Urbanas ( ) Parques Tecnológicos e Sustentabilidade ( ) Políticas Urbanas e a Produção da Habitação Social Sustentável ( ) Produção do Território, Política Urbana e Gestão da Cidade ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente ( ) Sustentabilidade, Conforto Ambiental e Questões Bioclimáticas
Museu Sensorial e Cultural Indígena do povo Paresí na cidade de Campo Novo do Parecis-MT
Indigenous Sensory and Cultural Museum of the Paresí people in the city of Campo
Novo do Parecis-MT
Museo Sensorial y Cultural Indígena del pueblo Paresí en la ciudad de Campo Novo do Parecis-MT
Júlia Emília Alice Zambaldi Schneider Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário UNIVAG, Brasil
Daniela Nazário Barden Arquiteta e Urbanista
Professora Especialista, Centro Universitário UNIVAG, Brasil [email protected]
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RESUMO A comunidade indígena no Mato Grosso se faz presente em inúmeras cidades, como, por exemplo, em Campo Novo dos Parecis, onde o povo Paresí-Haliti é predominante. Com o objetivo de homenagear a cultura e garantir sua valorização cultural propõe-se a criação do Museu Sensorial e Cultural Indígena do povo Paresí no município. Para tal feito, foram selecionados alguns aportes teóricos relacionados à quantidade e características de museus no Brasil e em Mato Grosso. Em outro momento fora realizado visita á aldeia indígena Quatro Cachoeiras, distante 33 quilômetros do município de Campo Novo dos Parecis, para melhor compreender os aspectos sensoriais e as características construtivas existentes nas aldeias e habitações, uma vez que, esses são o principal enfoque do presente trabalho. A escolha por classificar o museu na categoria sensorial é o desejo de apresentar a cultura indígena com uma experiência dinâmica, interativa e o mais vívida possível.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura. Paresí. Sensorial. ABSTRACT The indigenous community in Mato Grosso is present in many cities, such as Campo Novo do Parecis, where the Paresí-Haliti people predominate. With the objective of honoring the culture and guaranteeing its cultural value, it is proposed to create the Sensorial and Indigenous Cultural Museum of the Paresí people in the municipality. For this purpose, some theoretical contributions related to the quantity and characteristics of museums in Brazil and in Mato Grosso were selected. Another visit to the Quatro Cachoeiras indigenous village, a distance of 33 kilometers from the municipality of Campo Novo do Parecis, was carried out to better understand the sensorial aspects and constructive characteristics that exist, since these are the main focus of the present work. The choice to classify the museum in the sensory category is the desire to present the indigenous culture with a dynamic, interactive and as vivid experience as possible. KEY-WORDS: Culture, Paresí, Sensorial.
RESUMEN La comunidad indígena en Mato Grosso se hace presente en innumerables ciudades, como, por ejemplo, en Campo Novo do Parecis, donde el pueblo Paresí-Haliti es predominante. Con el objetivo de homenajear la cultura y garantizar su valorización cultural se propone la creación del Museo Sensorial y Cultural Indígena del pueblo Paresí en el município. Para ello, se seleccionaron algunos aportes teóricos relacionados a la cantidad y características de museos em Brasil y em Mato Grosso. En otro momento se realizó visita a la aldea indígena Quatro Cachoeiras, distante 33 kilómetros del município de Campo Novo do Parecis, para comprender mejor los aspectos sensoriales y las características constructivas existentes, ya que estos son el principal enfoque del presente trabajo. La elección por clasificar el museo en la categoria sensorial es el deseo de presentar la cultura indígena com una experiência dinâmica, interactiva y lo más vívida possible. PALAVRAS-CLAVE: Cultura, Paresí, Sensorial.
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1 INTRODUÇÃO
O termo “índio” foi utilizado para designar os povos que habitavam as Américas antes das
colonizações, e fora dado pelo velejador espanhol Cristóvão Colombo, uma vez que, o mesmo
à procura das Índias, chegara à América do Sul e, portanto, denominou os seus habitantes de
índios.
A riqueza cultural proveniente dos nativos que habitavam a América fora perdida ao longo dos
séculos devido às constantes colonizações e imposições de outras culturas, em sua maioria
portuguesa e espanhola. No entanto, em lugares onde tais colonizações demoraram a se
instalar é perceptível a resistência dessas culturas, denominadas então, indígenas.
O estado do Mato Grosso, localizado na região central do Brasil é o estado detentor da maior
diversidade cultural indígena presente no país. Nele estão enraizados cerca de 40 povos, entre
eles o povo Paresí, autodenominados Háliti, localizados na Chapada dos Parecis, na cidade de
Campo Novo dos Parecis, 400 quilômetros ao norte da capital Cuiabá.
Durante o período colonial no Brasil, devido à extração do ouro nos centros auríferos, resultou
uma intensa busca por mão-de-obra escrava no interior do país. E, por conseguinte o intenso
contato com outras culturas, não sendo diferente com o povo Paresí que sofreu fortes perdas
nos aspectos socioculturais do seu povo.
Na atualidade, há uma incisiva campanha na valorização cultural indígena no Brasil a fim de
amenizar as perdas socioculturais desses povos, porém é de extrema dificuldade preservar
esses valores e tradições, uma vez que, os mesmos são considerados bens culturais imateriais,
ou seja, são impalpáveis, podendo ser modos de viver, os saberes, expressões culturais e/ou
atividades de um determinado grupo de indivíduos.
O desejo de homenagear a cultura do povo Paresí e compreender a sua importância na
história do estado do Mato Grosso influenciou na proposta de implantação de um museu
sensorial indígena.
Observando a palavra sensorial podemos notar em seu radical a palavra senso, que também
origina outras palavras, dentre elas: sensação, sendo esta, a principal proposta para este
projeto, proporcionar aos visitantes as experiências socioculturais da tribo. As sensações são
provocadas por estímulos externos e/ou internos provocando assim os nossos sentidos, sendo
eles o olfato, a visão, o paladar, o tato e a audição. Os sentidos são os responsáveis pelo
reconhecimento das características do mundo e o seu contexto, ou seja, toda a nossa
comunicação com o mundo envolve tais questões sensoriais.
O principal enfoque do resultado final deste projeto é valorizar a cultura indígena do povo
Paresí e apresentá-la aos seus visitantes de uma maneira diferenciada e mais vívida possível,
possibilitando aos mesmos sentir – no sentido original da palavra -, como é ser índio.
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2 OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é propor um projeto arquitetônico de Museu Sensorial e Cultural
Indígena do povo Paresí para a cidade de Campo Novo dos Parecis no Estado de Mato Grosso,
oferecendo aos seus visitantes uma experiência vívida e exploradora das atividades rotineiras
da tribo e suas percepções de mundo. Utilizando as técnicas construtivas e tipologia da
arquitetura indígena como referencial arquitetônico para o projeto arquitetônico do Museu;
3 METODOLOGIA/MÉTODO DE ANÁLISE
Pesquisa bibliográfica: sobre os aspectos históricos e socioculturais do povo Paresí;
contextualização e caracterização da Cidade de Campo Novo dos Parecis. E, a análise e
discussão sobre as características vernáculas do povo Paresí através de visitas de campo para
registro e compreensão dos aspectos sensoriais.
4 REFERENCIAL TEÓRICO
4.1. História indígena brasileira
A História Indígena Brasileira nos é contada, desde os primeiros anos de educação escolar
apenas pelos olhares portugueses, com informações provenientes de cartas e relatos durante
a colonização do país. Ao longo da intensa colonização do país fora possível perceber a
contínua devastação não apenas dos minérios explorados, mas também da fauna e flora, e,
sobretudo, das diversas culturas que aqui residiam.
Durante o processo da exploração aurífera no centro do país, houve uma intensa busca de
mão-de-obra escrava, a qual resultou na escravização de muitos índios e, na consequente
perda de elementos socioculturais das tribos. Tais fatos respondem a forte queda no número
da população indígena no Brasil durante os anos de 1500 à 1970 (FUNAI).
Porém, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na década de 90, houve
um aumento significativo da população indígena brasileira e, no último censo realizado pelo
órgão em 2010 registra-se que a população indígena esteja estimada em 817.963 habitantes
em distribuídas em 305 etnias diferentes. A região com maior incidência indígena no país é a
Norte, que possui 305.873 habitantes.
4.1.1 Valorização da cultura indígena
O principal objetivo da valorização cultural é de compreendê-la como patrimônio imaterial. A
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) definiu como
patrimônio imaterial na Convenção da Unesco, para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial, Brasil em março de 2006:
[...] as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os
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indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. (UNESCO, 2016.)
Diante disso, as dificuldades para garantir uma valorização cultural das tribos indígenas
decorrem do intenso convívio com a sociedade não indígena e, portanto, gera perdas nos
principais aspectos socioculturais de seus povos, como, por exemplo, a língua nativa, rituais e
técnicas construtivas e/ou de cultivação e caça.
Porém, em contrapartida a esses casos, existem a cada dia mais grupos e organizações não
governamentais que estão dispostas e engajadas em promover cada vez mais a valorização
cultural indígena.
4.2 Características históricas e socioculturais do povo indígena paresí haliti
A aldeia é uma unidade social para todos os povos indígenas, para os Paresí, no entanto as
relações sociais ali vividas são marcadas pela solidariedade, uma vez que, os produtos
advindos da caça, como animais e peixes, são divididos por todos os moradores da
comunidade.
Geralmente as aldeias localizam-se em acidentes geográficos, como, por exemplo, cabeceiras
de rios com campos próximos e, mais uma vez, o uso desses recursos naturais é comum entre
todos os aldeandos. As aldeias Paresí são caracterizadas por possuírem baixa densidade
populacional, com formações familiares pequenas e/ou extensas, que possuem 03 gerações.
Os Paresí mantém a densidade populacional baixa para evitar conflitos internos, uma vez que,
consideram fofocas entre as famílias as principais causas dos conflitos, podendo destruir os
vínculos sociais que os unem.
4.2.1 População e localização
A terra indígena Utiariti possui situação homologada pelo Decreto 261 de 30 de outubro de
1991 e ocupa uma área de 412 mil hectares, fazendo limite com os municípios de Sapezal e
Campo Novo dos Parecis, majoritariamente no município de Campo Novo, uma vez que a terra
ocupa 29,29% da área do município.
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Figura 01: Delimitação geográfica da Terra Indígena Utiariti
Fonte: GOOGLE EARTH, 2017.
De acordo com o último censo realizado pelo IBGE no ano de 2010 na terra indígena Utiariti
encontram-se vivendo atualmente 406 habitantes da etnia Paresí.
4.2.2 Dinâmica organizacional da aldeia
Geralmente, uma aldeia Paresi possui de duas a três hátis (habitação nativa dos Paresí) e uma
pequena para o abrigo das flautas sagradas (Yámaka). Cada háti abriga uma família,
geralmente constituídos de indivíduos de três gerações, o casal, seus filhos e seus netos.
O pátio, denominado watéko na língua aruak é considerado o hall de uma casa e sua
conservação revela a harmonia do grupo e a boa direção do seu chefe. Além disso, a área
posterior a casa é o local onde as mulheres preparam os alimentos, como, por exemplo, a
mandioca, os peixes e as carnes de caça.
4.2.3 Elementos geográficos da Terra indígena Utiariti
Localizada na Chapada dos Parecis, região noroeste do Mato Grosso, a Terra Indígena Utiariti,
portanto, possui terreno plano com suaves ondulações, características do relevo de Chapada.
Além disso, outra característica é a presença de quedas d’águas como cachoeiras e rios.
Entre os rios presentes na Terra Indígena estão o Rio Sacre, o Rio Papagaio e o Rio Verde. Além
dos rios, existem também cachoeiras e a mais famosa delas é o Salto Utiariti.
A Terra Indígena possui 100% de cobertura do bioma Cerrado e, de acordo com o Ministério
do Meio Ambiente as características principais da vegetação definem-se em árvores de
pequeno porte, com troncos retorcidos e folhas largas.
De acordo com a classificação climática de Köppen e Geiger, o clima característico é Aw, ou
seja, clima tropical com inverno seco. Apresentando duas estações distintas, um verão
chuvoso de novembro a abril e um inverno seco de maio á outubro com temperatura média de
23,7°C.
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4.2.4 Habitações do povo Paresí e suas técnicas construtivas
De acordo com Romana Costa, 1985:
O plano ideal de uma aldeia consiste em duas háti, situadas nas extremidades do pátio da aldeia (watéko) em relação de oposição. Estas tem o formato elíptico, com duas portas nas extremidades: uma voltada para o nascente e outra para o poente. Sua estrutura é de madeira, designada kwáre-kwáre (aroeira) e coberta por folhas de guariroba.
É na hati que se desenvolve toda a vida social de uma aldeia, nela se prepara comida, nascem
os filhos, enterram-se os mortos, realizam as festas de chicha, entre outras interações sociais.
A distribuição espacial no interior de uma hati é classificada de acordo com a função dos
espaços. Os situados nas extremidades são denominados hitihozóa, já onde se localiza o fogo é
denominado irikátiaose e o espaço central denomina-se kotázakõ.
Figura 03: Háti na aldeia indígena Quatro Cachoeiras em Campo Novo do Parecis
Figura 04: Irikátiaose local onde se localiza o fogo na Háti na aldeia indígena Quatro Cachoeiras em Campo
Novo do Parecis
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2017. Fonte: ACERVO PESSOAL, 2017.
As hatí são construídas com madeiras, cobertas com palhas da palmeira guariroba e são
habitadas por famílias celulares e nucleares. Em média, a hatí possui 12m de comprimento, 6m
de largura, 3m de altura e duram em média dez anos. Durante o dia, tornam-se um grande
espaço social e à noite são organizadas para o repouso de todos com a distribuição das redes.
(OLIVEIRA, 1994; MACHADO, 2004, Apud TERÇAS, 2016).
4.3 Arquitetura Vernácula
Para compreender o que é a arquitetura vernácula é preciso entender alguns significados e
denominações sobre o tema. A palavra vernácula é catalogada como adjetivo e significa
particular ou característico de um país, nação e/ou região. Segundo Silva (1994), é a
arquitetura sem arquitetos, anônima, também denominada de espontânea ou popular. Mas
mais que isso, é uma arquitetura autóctone, com expressiva identidade e resultante de uma
produção coletiva de trabalho.
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Enquanto em Lima (2010), a arquitetura vernácula caracteriza-se como uma obra com
características constantes, que possui autenticidade na sua expressão, e, ao mesmo tempo
complexa e conservadora, uma construção adaptada ao entorno, autêntica, autossuficiente e
baixo conteúdo energético.
Diante dessas caracterizações, é possível compreender que a arquitetura vernácula é a
maneira como um determinado povo ou sociedade constrói e desenvolve seus modos de
construção seja diante dos materiais de cada região, seja em relação ao clima na localidade,
por isso a cada análise desse tipo de arquitetura, deve verificar-se também o aspecto
sociocultural em que a sociedade ou comunidade se insere, deve-se também analisar o clima e
relevo da região, a fim de compreender as razões socioculturais da arquitetura.
4.4 Museologia
4.4.1 Definição de museus
De acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto de Museus:
Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.
Ainda de acordo com a Lei n° 11.904 de 14 de janeiro de 2009, os princípios fundamentais de
um Museu são: a valorização da dignidade humana; a promoção da cidadania; o cumprimento
da função social; a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental; a
universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural e o intercâmbio
institucional.
4.4.2 Função social de um museu
O museu possui figura norteadora na sociedade, ele expõe, conserva, demonstra e ensina
diversas experiências durante suas visitações, promovendo uma interação com a sociedade e
com os visitantes. Portanto é deveras importante que um museu exerça sua função social no
meio em que está inserido e, claro deve ser incentivado por órgãos públicos e privados, uma
vez que o enriquecimento cultural de uma sociedade eleva a qualidade de vida de todos que a
compõem. Além disso, o museu exerce função importantíssima de lazer e de interação social
e, por isso deve-se contar com atrativos interativos, experiências diferenciadas, ambientes
adequados, boa acústica e iluminação, ampla circulação e acessibilidade universal.
O museu pode mobilizar duas molas propulsoras bastante diferentes: o encantamento diante
da obra ou do objeto completamente fora de seu contexto, ou sua exposição em paralelo com
saberes e experiências. (KARPM & LAVINE, 1991, apud POULOT, 2013).
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4.4.3 Museus No Brasil
No Brasil o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus, criado em 2009 pela Lei n° 11.906 é quem
possui os direitos, deveres e obrigações relacionados aos museus do país, antes destinados ao
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O órgão é responsável pelo CNM – Cadastro Nacional de Museus o qual cataloga, identifica e
localiza todas as instituições museológicas cadastradas. Em 2011 eram 3.025 unidades
museológicas mapeadas pelo CNM em todo Brasil.
4.4.4 Museus em Mato Grosso
De acordo com o IBRAM, o estado do Mato Grosso possui 43 museus sendo que 20 estão
situadas na capital, Cuiabá.
Figura 05: Quantidade de Museus por unidade da federação.
Figura 06: Mapa de dispersão dos Museus de Mato Grosso.
Fonte: MUSEUS EM NÚMERO – VOL.1 – MINISTÉRIO DA CULTURA – INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS, Brasília, 2011.
Fonte: MUSEUS EM NÚMERO – VOL.2 – MINISTÉRIO DA CULTURA – INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS, Brasília, 2011.
4.5 Aspectos sensoriais em ambiência
A principal função de um arquiteto é projetar ambientes aos quais as pessoas se sintam
confortáveis para desenvolver suas atividades e suas vidas, não somente nos aspectos físicos,
mas principalmente nos aspectos sensoriais e psicológicos. Entretanto, a qualidade de um
ambiente qualquer é analisada principalmente pela percepção do usuário e de suas bagagens
históricas e emocionais, como, por exemplo, um ambiente pode trazer conforto para alguns e
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desconforto para outros. Nesse caso, a qualidade de um ambiente pode ser relativa de acordo
com seus usuários.
Para compreendermos melhor as relações entre o homem e o ambiente o qual está inserido
devemos aprofundar os conhecimentos sobre sua percepção ambiental, ou seja, como cada
indivíduo percebe o ambiente, qual sua reação, seus valores e condutas.
Somando ainda, quando se trata de percepção ambiental devemos ressaltar a importância dos
sentidos tato, olfato, visão, paladar e audição que são a principal maneira como um
determinado indivíduo interage com o mundo a sua volta, uma vez que em contato com o
ambiente todos são utilizados. A utilização de todos os sentidos ocorre de forma única em
cada ser humano, devido às diferentes reações sobre o meio, tais reações estão relacionadas
às culturas distintas, às personalidades.
Segundo PALLASMAA (2009), determina-se que o significado final de qualquer edificação ultrapasse a arquitetura em si; ele redireciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos. Ainda em PALLASMAA (2009) discorre que o aumento da alienação, o isolamento e a solidão no mundo tecnológico de hoje instiga a subutilização dos nossos sentidos, sendo eles a visão, o tato, a audição, o paladar e o olfato.
4.6 Análise de projeto ou obra similar ao tema proposto
4.6.1 Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou
O Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou localiza-se em Nouméa, capital da Nova Caledônia, ilha
do Pacífico. O projeto fora idealizado a partir de um concurso internacional, o qual o escritório
Renzo Piano Building Workshop venceu, data-se o início do projeto em 1991 e a sua conclusão
em 1998.
Figura 07: Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou, de Renzo Piano
Figura 08: Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou, de
Renzo Piano
Fonte: RENZO PIANO PARA INHABITAT. Fonte: RENZO PIANO PARA INHABITAT.
As condicionantes do projeto de Renzo Piano são a influência do local e do ambiente o qual o
projeto está inserido. O volume e a estética dos edifícios foram inspirados nas residências
tradicionais dos Kanak, porém de forma descontruída Piano programou uma sequência de 10
edifícios semicirculares que se assemelham a conchas, com alturas variadas entre 20 a 28
metros de altura, o que contribui para que o edifício possua uma presença monumental de
onde se aviste. A união desses 10 edifícios dá-se por uma praça que funciona como núcleo
central, seguindo a configuração organizacional dos nativos kanak.
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4.7 Área de Estudo
4.7.1 O município
O local de estudo para implantação do Museu Sensorial e Cultural Indígena está localizado no
município de Campo Novo dos Parecis, na mesorregião Norte Mato-grossense e microrregião
Parecis, no estado de Mato Grosso.
O município possui uma extensão territorial de 9.434,42 km², com área de 1.1672.5 km², e
população de 27.577 habitantes (IBGE, 2010). Localizada na Chapada dos Parecis, o relevo da
cidade é estritamente plano com suaves ondulações e a vegetação predominante é o Cerrado
Apresenta clima Equatorial e Tropical Quente Úmido, assim como a maioria do Estado de Mato
Grosso.
O município possui IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,734, o qual pode ser
considerado um bom índice em comparação com o restante do Estado.
Figura 09: Localização de Campo Novo dos Parecis no estado de Mato Grosso
Fonte: GOOGLE EARTH, 2017.
4.7.2 O bairro
O terreno escolhido para o presente projeto localiza-se no bairro Nossa Senhora Aparecida,
criado no ano de 1992 e contempla de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do
município cerca de 8.000 moradores.
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4.7.3 O terreno
O terreno pertence uma área comunitária, entre as pela Avenida Rio Grande do Sul e Ruas
Tito Lívio, Severino de Lima e Belém. Possui uma área de 9.600 m². A topografia atual do
terreno encontra-se nivelado, todas as calçadas existentes possuem 3 metros de largura e
rebaixo de meio para acessibilidade nas esquinas, além de intensa arborização. Foram
realizadas visitas em campo para coleta de informações para processamento de dados
geográficos da área, problemas, potencialidades e cenário das condições locais.
Figura 10: Delimitação do terreno no bairro Nossa Senhora Aparecida
Figura 11: Terreno em seu atual estado Figura 12: Terreno em seu atual estado
Fonte: ACERVO PESSOAL, 24/07/2017. Fonte: ACERVO PESSOAL, 24/07/2017.
4.8 Visita a Campo
Fora realizada no dia 27 de julho de 2017 durante o recesso letivo a visita á aldeia indígena
Quatro Cachoeiras, localizada a 33 quilômetros do município de Campo Novo dos Parecis,
liderada pelo cacique Narciso Kazaizase de 85 anos. A aldeia localiza-se na Terra Indígena
Utiariti e o nome refere-se à homenagem às quatro quedas d’água do Rio Sacre.
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Vivem atualmente 98 pessoas na aldeia e a principal fonte de economia são as atividades
turísticas, o pedágio da MT-235 que faz ligação entre os municípios de Campo Novo do Parecis
e Sapezal e atividades de artesanato. Figura 13: Visita á aldeia indígena Quatro Cachoeiras,
Campo Novo do Parecis/MT no ano de 2001. Figura 14: Visita á aldeia indígena Quatro Cachoeiras,
Campo Novo do Parecis/MT no ano de 2017.
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2001. Fonte: ACERVO PESSOAL, 27/07/2017.
Figura 15: Fechamento de uma háti com folha de guariroba na aldeia indígena Quatro Cachoeiras no ano
de 2001
Figura 16: Esteios de uma háti em construção na
aldeia indígena Quatro Cachoeiras no ano de 2001
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2001. Fonte: ACERVO PESSOAL, 27/07/2017. Figura 17: Detalhe construtivo do fechamento da
parede-cobertura da háti na aldeia indígena Quatro Cachoeiras
Figura 18: Detalhe para o acesso principal da háti na aldeia indígena Quatro Cachoeiras
Fonte: ACERVO PESSOAL, 27/07/2017. Fonte: ACERVO PESSOAL, 27/07/2017.
5 RESULTADOS
5.1 Croquis do Processo Criativo
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Para compreender melhor os aspectos sensoriais vivenciados durante a visita a aldeia indígena
fora desenvolvidos croquis com o objetivo de nortear as referências indígenas culturais e
estéticas a serem enfatizadas na realização do projeto do Museu.
Figura 19: Croqui referente á cabaça utilizada para
produzir sons durante os rituais Figura 20: Croqui referente á trama da palmeira de
guariroba
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2017. Fonte: ACERVO PESSOAL, 2017.
5.2 Projeto Arquitetônico
5.2.1 Programa de Necessidades
Para o Museu Sensorial serão previstos os seguintes setores e respectivos ambientes: Setor
Serviços – 2 Sanitários, 2 Sanitários P.N.E, 1 Depósito de Equipamentos, 1 D.M.L, 1 Copa para
Funcionários e 1 Manutenção; Setor Administrativo – 1 Recepção, 1 Administração, 1
Financeiro, 1 Sala de Segurança, 1 Reserva Técnica, 1 R.H; Setor Social – 1 Hall, 1 Recepção, 1
Café, 1 Espaço ao ar livre, 1 Redário, 2 Sanitários, 2 Sanitários P.N.E, 1 Sala Multiuso e 3 Salas
de Aula; Setor de Exposição – 5 Salas de Exposição.
Tabela 1: Pré-dimensionamento do Museu (continua)
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Tabela 1: Pré-dimensionamento do Museu, continuação
Fonte: ACERVO PESSOAL, 2017.
5.3 Descrições dos Projetos
5.3.1 Implantação e Planta Baixa Humanizada
A fim de evitar possíveis problemas com fluxo de entrada e saída de veículos e pedestres foi
setorizado o estacionamento na implantação. O acesso principal de veículos assim como a
saída foram destinados para a Rua Tito Lívio, e o acesso principal de pedestres para a Rua
Severino de Lima e Avenida Rio Grande do Sul. O setor de serviços ficou implantado em uma
edificação aglomerada única a fim de evitar problemas no fluxo. Assim como o setor de
exposição, o qual teve suas salas desmembradas no entorno da edificação em um pátio a fim
de garantir o fluxo total ao edifício.
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Figura 21: Implantação do Museu Sensorial e Cultural
Indígena do povo Paresí Figura 22: Implantação do Museu Sensorial e Cultural
Indígena do povo Paresí
Fonte: Acervo pessoal, 2017. Fonte: Acervo pessoal, 2017.
6 CONCLUSÃO
A criação do Museu Sensorial e Cultural Indígena do povo Paresí no município de Campo Novo
dos Parecis tende a ser além de um espaço cultural e de conhecimento, um espaço de lazer
com vasta área ao ar livre disponível para a população. Além disso, há um forte engajamento
cultural na implantação deste edifício, uma vez que a população muitas vezes desconhece o
significado –tão importante- da cultura do povo Paresí. Com a certeza de que o projeto não
fará uma mimetização da arquitetura indígena, uma vez que, foram utilizados diversos
aspectos estéticos e visuais que remetem ao povo Paresí.
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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN 978-85-68242-59-9
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