MULHERES NO JORNALISMO ESPORTIVO_Um estudo sobre a atuação feminina nas editorias de esporte em...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
IZABELA PEREIRA MARTINS
MULHERES NO JORNALISMO ESPORTIVO:
UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO FEMININA NA EDITORIA DE ESPORTES
EM PALMAS
Palmas (TO)
2012
1
IZABELA PEREIRA MARTINS
MULHERES NO JORNALISMO ESPORTIVO:
UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO FEMININA NA EDITORIA DE ESPORTES
EM PALMAS
Monografia apresentada ao Curso
Graduação em Comunicação Social –
Habilitação Jornalismo da Universidade
Federal do Tocantins, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel
Orientadora: Profª Dra. Cynthia Mara Miranda
Palmas (TO)
2012
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitário de Palmas
M386m Martins, Izabela Pereira.
Mulheres no jornalismo esportivo: Um estudo sobre a atuação feminina na editoria de esportes em Palmas / Izabela Pereira Martins. – Palmas, 2012.
55 f. Monografia (TCC) – Universidade Federal do Tocantins, Curso de
Comunicação Social - Jornalismo, 2012. Orientadora: Profª. Drª. Cynthia Mara Miranda. 1. Gênero. 2. Mulheres. 3. Jornalismo Esportivo. 4. Palmas. I. Título.
CDD 070
Bibliotecária: Emanuele Santos CRB-2 / 1309
Todos os Direitos Reservados – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal.
3
IZABELA PEREIRA MARTINS
MULHERES NO JORNALISMO ESPORTIVO:
UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO FEMININA NA EDITORIA DE ESPORTES
EM PALMAS
Monografia apresentada ao Curso Graduação
em Comunicação Social – Habilitação
Jornalismo da Universidade Federal do
Tocantins, como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa. Dra. Cynthia Mara Miranda – UFT
Orientadora
___________________________________________________
Profa. Dra. Edna Mello – UFT
Examinadora
__________________________________________________
Prof. Msc. Valquíria Guimarães – UFT
Examinadora
Palmas, 20 de novembro de 2010
4
À Deus, minha família, amigos, professores e
colegas de trabalho, pelo companheirismo,
paciência e dedicação nesta caminhada.
5
AGRADECIMENTOS
No momento em que me aproximo do sonho de me tornar “jornalista diplomada”
agradeço a Deus, por ter me dado forças nos momentos onde desistir parecia o caminho
mais fácil. Mais fácil do que enfrentar as dificuldades, horas de estudo, saudade de casa.
Agradeço à minha família que sempre esteve “lá” pra mim. Ao meu pai, Pedro, pela
compreensão e força desde o momento em que decidi prestar vestibular no Tocantins,
pelo exemplo de ser humano e por todos os gestos de carinho em todas as etapas da
minha vida. À minha mãe, Cida, pelo jeito ‘brincalhão no momento certo’, ‘ajuizado no
momento certo’, e por todos os momentos em que disse ‘calma filha’, pessoalmente,
pela internet ou pelo telefone.
Ao meu irmão, Daniel, por ter escolhido se mudar para o Tocantins e por ter sido
a minha família inteira aqui, nas vezes em que precisei de um abraço ou de um puxão de
orelha; por ter sido a minha base, o meu parceiro e ter compreendido o incompreensível
nos piores momentos. À minha irmã, Dayse, por tudo o que vivemos juntas antes e
durante o meu período de faculdade; pelas longas conversas, pelo carinho, e por estar
sempre pronta pra meu ouvir. E é claro, por ter me dado um dos presentes mais
importantes que já ganhei: o meu sobrinho, Pedro Henrique. Aos meus cunhados –
André e Fernanda, que fazendo os meus irmãos felizes me fizeram mais feliz. Ao meu
avô, João, aos meus tios e tias, primos e primas e aos familiares ‘agregados’.
Aos meus professores, que além de me ensinarem muito sobre fotografia, texto e
televisão, também me ensinaram sobre a vida e a profissão, com suas histórias e
vivências, que vou guardar para sempre. Em especial, à minha orientadora Cynthia, que
me ajudou a encontrar o caminho que estava procurando para realizar este trabalho e
que foi determinante para que eu chegasse até aqui.
Aos meus amigos, ‘antigos’ e ‘novos’, que de longe ou de perto, dividiram
comigo as angústias, celebraram as conquistas e me ajudaram nesta caminhada. Não dá
para descrever o que senti com cada gesto de carinho. Aos meus colegas de trabalho que
deram a sua contribuição para o meu crescimento pessoal e profissional nesta jornada.
Atuando há três anos na área que escolhi para mim, antes mesmo do vestibular,
fico feliz em estar perto de ser uma jornalista esportiva diplomada, e espero que, daqui
pra frente, eu possa me tornar agente ativo desta causa, no sentido de transformar a
realidade do esporte/jornalismo local e continuar nessa busca incessante pelo
conhecimento, acadêmico e de vida.
6
“A visão sem ação, não passa de um sonho.
A ação sem visão é só um passatempo.
A visão com ação pode mudar o mundo.”
Martha Medeiros
7
MARTINS, Izabela Pereira. Mulheres no jornalismo esportivo: Um estudo sobre a
atuação feminina na editoria de esportes em Palmas. 2012. 55 p. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal do
Tocantins, Palmas, 2012.
RESUMO
Ao migrarem do posto exclusivo de mães e donas de casa as mulheres assumiram
funções nas mais diversas áreas do mercado de trabalho. As mulheres acumularam
conquistas ao longo dos anos e, a cada dia mais, têm ampliado o seu espaço nos mais
diversos setores da sociedade. Com isso, inevitavelmente, passam a fazer parte do
jornalismo e da cobertura esportiva, área tradicionalmente masculina e machista, mas
que vem abrindo espaço para as mulheres nos últimos anos. Em Palmas, Tocantins, as
mulheres também buscam conquistas, inclusive na área do esporte. No entanto, essa luta
esbarra em dificuldades que vão desde o amadorismo do esporte local à falta de
incentivo à cobertura esportiva. O presente trabalho visa analisar o contexto da atuação
feminina na editoria de esportes em Palmas, estabelecendo uma análise das
características locais e relacionando a realidade da capital tocantinense com opiniões de
profissionais e especialistas da área.
Palavras-chave: Gênero; Mulheres; Jornalismo Esportivo; Palmas.
8
MARTINS, Izabela Pereira. Women in sports journalism: A study on the role of
women in sports editorship in Palmas. 2012. 55 p. Monography for the conclusion of
the course (Degree in Social Communication - Journalism) – Universidade Federal do
Tocantins, Palmas, 2012.
ABSTRACT
By migrating of the unique position of mothers and housewives, women assumed roles
in several areas of the labor market. Women accumulated achievements over the years
and have expanded its space in the most diverse sectors of society. With that, inevitably,
become part of journalism and sports coverage, an area traditionally masculine and
macho, but that has opened space for women in recent years. In Palmas, Tocantins,
women also seek conquests, including in the area of sport. However, this fight comes up
against difficulties ranging from the amateur sport's location to the lack of incentive to
sports coverage. This study aims to analyze the context of female engagement in sports
editorship in Palmas, establishing an analysis of local features and linking the reality of
Tocantins capital with opinions of professionals and specialists.
Key-words: Gender; Women; Sports Journalism; Palmas
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... p.10
2 OS PAPÉIS DE GÊNERO NA SOCIEDADE ......................................................... p.14
2.1. Gênero e Jornalismo ............................................................................................. p.19
3 A BUSCA PELO PROTAGONISMO NO JORNALISMO ESPORTIVO ............. p.23
3.1Mulheres e o Jornalismo esportivo .......................................................................... p.27
3.2Imagem e Conteúdo ................................................................................................. p.29
4 METODOLOGIA ...................................................................................................... p.31
5 ATUAÇÃO FEMININA NO JORNALISMO ESPORTIVO EM PALMAS .......... p.34
5.1 Perspectiva do Mercado.......................................................................................... p.37
5.2 Particularidades femininas, preconceito e imagem ................................................ p.40
5.2 A presença feminina na editoria de esportes .......................................................... p.43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... p.49
7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ p.52
APÊNDICE .................................................................................................................. p.56
APÊNDICE A – Entrevista Alcione Luz ..................................................................... p.57
APÊNDICE B– Entrevista Alessandro Abate .............................................................. p.60
APÊNDICE C – Entrevista José Carlos Marques ........................................................ p.61
APÊNDICE D – Entrevista Renata Ramos .................................................................. p.62
APÊNDICE E – Entrevista Rogério Silva .................................................................... p.63
APÊNDICE F – Entrevista Thalita Tavares ................................................................. p.64
10
1 INTRODUÇÃO
De espectadoras a canal de transmissão da notícia as mulheres conquistaram seu
espaço no jornalismo em diversas editorias, entre elas destaca-se o recente crescimento
da presença feminina na editoria de esportes.
Assim como o futebol demorou a cair no gosto popular dos brasileiros, o ingresso
das mulheres no jornalismo esportivo se deu de forma gradativa até que sua presença já
não fosse mais considerada invisível perante o público da informação. Quando o futebol
chegou ao Brasil o escritor Graciliano Ramos disse que a modalidade não iria pegar,
pois se tratava de estrangeirice que não entra facilmente na terra do espinho, conforme
relata o jornalista Paulo Vinícius Coelho, em seu livro “Jornalismo Esportivo” (2003).
Desde a sua chegada ao país, o futebol, diferente do que preconizou Ramos, tem
se democratizado e se tornou o grande mercado da bola. Junto com esse sucesso do
futebol brasileiro, responsável por exportar os melhores jogadores de futebol para o
mundo, nota-se que as mulheres têm atuado na cobertura esportiva, especialmente no
futebol, que antes era um terreno masculino.
Mesmo com o crescimento das mulheres no jornalismo esportivo elas ainda
continuam sendo vítimas de preconceitos, de freqüentes dúvidas sobre a capacidade, e
por isso buscam diariamente na vivência esportiva e no intenso estudo das diversas
modalidades, uma forma de superar o sexismo ainda presente na editoria,
tradicionalmente masculina, de esportes.
Em Palmas, Tocantins, a presença das mulheres no jornalismo esportivo ainda é
discreta e a busca pela notícia esbarra no amadorismo do esporte local que, em alguns
casos, se reflete também na cobertura, onde, ocasionalmente, é possível notar locutores
esportivos sem formação migrando para outras mídias como televisão e internet.
O crescente número de mulheres que atuam no jornalismo esportivo é reflexo da
abertura de espaço no mercado de trabalho para elas que cada vez mais ocupam vagas
nos cursos de jornalismo em diversas faculdades no país. Além disso, também reflete o
aumento do interesse do sexo feminino pelos esportes.
O país do futebol também se tornou o país do voleibol, basquete e artes marciais,
por exemplo. Nas últimas Olimpíadas, disputadas em Londres, no ano de 2012, as
11
brasileiras foram medalhistas no judô, pentatlo moderno, voleibol, boxe e vôlei de praia.
No esporte masculino, o futebol ficou com a medalha de prata, e os homens também
obtiveram medalhas no vôlei de praia, boxe, voleibol e ginástica.
Com o esporte cada vez mais em evidência as mulheres estão mais presentes
como espectadoras, lêem, assistem, ouvem mais sobre esportes e consequentemente
adquirem mais interesse em atuar na área do jornalismo.
O crescimento do interesse pelo esporte se reflete em diversas áreas, inclusive na
comunicação esportiva. Cresce o número de mulheres na cobertura esportiva e cresce
também a busca pela igualdade de cargos e salários entre homens e mulheres em muitos
setores, inclusive nas editorias de esporte.
O jornalismo esportivo nasceu como uma editoria de menor importância e à
medida que o futebol foi ganhando espaço e caindo no gosto popular, a imprensa
esportiva acompanhou o crescimento e também ganhou destaque na mídia nacional.
Assim como os jornalistas esportivos sofreram preconceito dentro das redações,
por ter sua área considerada menos importante, a atuação da mulher nessa área também
foi ganhando espaço aos poucos, visto que, por serem do sexo feminino, muitas vezes
eram consideradas incapazes já que a editoria de esporte desde sua origem esteve mais
ocupada pelos homens.
Atualmente, é grande o número de “boleiras” país afora, que jogam, assistem,
debatem e consomem futebol, assunto que deixou de ser “papo de homem” e agora
também é tema das conversas femininas. As mulheres, além de torcerem pelo seu time
do coração, acompanham o noticiário esportivo e se especializam cada vez mais.
Passam da simples paixão para um conhecimento mais aprofundado do esporte,
inclusive técnica e taticamente.
O início da trajetória das mulheres no jornalismo esportivo se deu através da
cobertura de modalidades como voleibol e natação, por serem consideradas incapazes
de realizar a cobertura de futebol e corrida (Fórmula 1), esportes tido como
especializados. Com essa distinção e sendo considerado “esporte especializado” desde o
ingresso na cobertura esportiva, o futebol se torna referência ao falar de mulheres no
jornalismo esportivo.
Ao ganhar espaço e mostrar competência, as mulheres conseguiram se embrenhar
na cobertura futebolística, considerada, especialmente pelos homens, mais complicada
12
para o universo feminino, devido às suas peculiaridades e ao seu “des – interesse natural
pelo futebol”. No entanto, é importante ressaltar, que a busca pelo conhecimento das
particularidades e das regras, deve ser aplicada na cobertura de todas as modalidades
esportivas.
Uma breve análise permite identificar a presença de mais mulheres na televisão do
que no rádio ou nas editorias de jornal impresso, o que remete à exploração da imagem
feminina nos programas esportivos. Cabe considerar que a imagem feminina no esporte
é construída de forma distinta da imagem do homem sendo exigido delas um padrão de
beleza que não é exigido dos profissionais do sexo masculino.
A aparência pode atuar contra e a favor das mulheres, que, em sua maioria, travam
uma batalha para mostrar a inteligência e a competência por trás da imagem que se
constrói de forma padronizada e plastificada como sendo o corpo magro o ideal de
beleza para quem atua na cobertura esportiva.
Com 23 anos, a capital tocantinense passa por um processo constante de
crescimento e a mídia vê a necessidade de acompanhar esse processo. Em todo o mundo
o número de mulheres que atuam no jornalismo esportivo aumenta e a cada dia que
passa as mulheres se mostram mais capazes de atuar no jornalismo esportivo de maneira
inteligente, criativa e competente.
A escolha do tema deste trabalho nasceu de um interesse nutrido pelo jornalismo
esportivo, área que me motivou a ingressar no curso de comunicação e que atuo há três
anos.
O presente trabalho contextualiza a atuação das mulheres no jornalismo esportivo
em Palmas dando destaque a visão feminina da profissão e fazendo um contraponto com
opiniões de homens profissionais da área abordando a diferença de papéis de gênero no
jornalismo esportivo. Para tanto o trabalho está dividido em quatro unidades.
O debate sobre diversos aspectos da desigualdade de gênero, incluindo uma breve
análise histórica, contextualizando essa desigualdade na realidade das mulheres
brasileiras, é abordado no primeiro capítulo.
No segundo capítulo, o texto trata do conceito do jornalismo e a participação
feminina no jornalismo, ainda abordando particularidades relacionadas a gênero e
desigualdade.
13
O terceiro capítulo enfatiza o esporte e o jornalismo dando destaque à relação
histórica de homens e mulheres no esporte, tanto na prática da atividade quanto na
cobertura jornalística desta prática, destaca ainda o início do jornalismo esportivo no
Brasil e a chegada das mulheres a essa editoria.
O quarto capítulo traz a análise da realidade das mulheres que atuam no
jornalismo esportivo em Palmas, estabelecendo um parâmetro entre as opiniões das
mulheres que atuam na área, editores de veículos de comunicação e especialistas que
avaliam a entrada e a permanência das mulheres no jornalismo esportivo.
14
2 OS PAPÉIS DE GÊNERO NA SOCIEDADE
Para abordar a participação das mulheres no jornalismo esportivo em Palmas é
preciso compreender as relações de gênero que estão presentes nesse campo de atuação
profissional, com o intuito de perceber como tais relações repercutem desde a entrada
das mulheres nesta área profissional até sua permanência na mesma.
Mais que um conceito gramatical, o debate a respeito do conceito de gênero passa
por questões históricas e abre espaço para a discussão do tema em diversos aspectos
como educação, trabalho, economia e relações sociais.
Muito além da definição antropológica oferecida pelo dicionário Aurélio da língua
portuguesa, que descreve gênero como “a forma como se manifesta, social e
culturalmente, a identidade sexual dos indivíduos”, o conceito de gênero é portador de
inúmeras complexidades incapazes de serem abordadas plenamente pela gramática. Para
Scott (1989, p.2) “a relação com a gramática é ao mesmo tempo explícita e cheia de
possibilidades inexploradas”.
A relação explícita se deve ao uso de regras de designação tanto do feminino,
quanto do masculino. Entretanto, o sexo indefinido, ou neutro, ainda é uma categoria
inexplorada. Scott explica que o termo “gênero”, em seu uso mais recente,
aparentemente ganhou visibilidade com as feministas americanas, que o conceituavam
de uma forma mais abrangente abordando também os aspectos relacionais, e não apenas
os biológicos. Segundo a autora:
Deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens quanto das
mulheres, e que não deveríamos trabalhar unicamente sobre o sexo oprimido,
do mesmo jeito que um historiador das classes não pode fixar seu olhar
unicamente sobre os camponeses. Nosso objetivo é entender a importância
dos sexos dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é
descobrir a amplitude dos papéis sexuais e do simbolismo sexual nas várias
sociedades e épocas, achar qual o seu sentido e como funcionavam para
manter a ordem social e para mudá-la (SCOTT, 1989, p.3 apud DAVIS,
1975, p.90)
Diante da reflexão proposta pela autora percebe-se a necessidade da realização de
pesquisas sobre mulheres, destacando as mudanças e os impactos que teriam nas mais
diversas disciplinas e na história em si. Para Scott (1989):
O gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os
sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como
15
aquelas que encontram um denominador comum para várias formas de
subordinação no fato de que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma
força muscular superior. O gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as
“construções sociais” – a criação inteiramente social das idéias sobre os
papéis próprios aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às
origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das
mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta
sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1989, p.7)
O termo gênero, em sua utilização nesta pesquisa se refere aos papeis
diferenciados que homens e mulheres exercem em diferentes âmbitos da sociedade. Para
Scott é preciso aprofundar a análise e estar atento à subjetividade e ao imprevisível, que
são agentes de transformação das relações sociais e que definem a prioridade de uma
sociedade.
Quando o questionamento acerca do gênero é levantado, é possível abrir
possibilidades para novas reflexões. Ávila (2009) faz uma análise da obra de Michelle
Perrot, Minha história das mulheres (2007) que em um estudo de mais de três décadas,
destaca o papel das mulheres como agentes da sua história modificando o antigo posto
“inerte” na sociedade dominada pelos homens.
Segundo Ávila (2009) o discurso inicial de Michelle Perrot aborda, em um
primeiro momento, o silêncio das mulheres e a sua permanência na vida privada, pouco
aventurando-se aos espaços públicos onde são representadas através da descrição feita
pelos homens e “o silêncio mais profundo é o silêncio do relato, pois se faz dominado
pelo exclusivismo político, econômico e social masculino”(ÁVILA, 2009, p 250).
Ainda em seu estudo sobre a obra de Perrot, Ávila (2009, p. 250) destaca a análise
do corpo feminino e as peculiaridades a ele relacionadas ao longo dos séculos, como a
valorização da virgindade, a prostituição, puberdade, maternidade e menopausa. A
aparência também é objeto de estudo, uma vez que a sociedade muda as suas
preferências de acordo com a época, mas os cabelos são frequentemente descritos como
objeto de desejo.
Historicamente as mulheres travam batalhas, umas silenciosas, outras nem tanto,
numa tentativa de fazer com que o seu papel na sociedade, no mercado de trabalho e nas
mais diversas relações sociais seja reconhecido como fundamental para as sociedades.
As lutas das mulheres são constantes. Conciliar as diversas tarefas do dia-a-dia na
busca de uma melhor perspectiva é um objetivo que enfrenta barreiras que ainda
16
existem no século 21. Levando em consideração a análise de gênero partindo do
conceito de patriarcado, da relação de dominação do homem como chefe de família e
das relações sociais de gênero, é possível observar, que o enaltecimento do homem
como figura central da família é um dos aspectos da desigualdade de gênero na
sociedade.
Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) mostra
que, de 1993 para 2006 houve um aumento na proporção de famílias chefiadas por
mulheres, passando de 19,7% para 28,8% 1. No entanto, o próprio IPEA atenta para a
importância desse dado, destacando:
Um dado que, por um lado, aponta para contextos de precarização da vida e
do trabalho feminino e, por outro, revela também sobre processos de (des)
empoderamento das mulheres. Trata-se, portanto, de um importante indicador
da desigualdade de gênero. (IPEA, 2008, p.3)
Para Mendes (2008, p.43) o aumento de mulheres nas chefias domiciliares indica,
em geral, o aumento da precariedade de vida e de trabalho, atentando, inclusive, para o
aspecto econômico, outro ponto da desigualdade entre homens e mulheres. Mesmo que
a mulher assuma a chefia de uma família esse posto não dá a ela uma melhor condição
de sujeito uma vez que onera a sua jornada de trabalho.
Não implica negar a presença de elementos relativos à autonomia e poder
feminino, pois, mesmo sob condições desiguais, tanto no que se refere às
relações de gênero e condições de pobreza, essas mulheres não estão alheias
à sua condição de sujeitos, que têm vontades, percepções e reivindicações e
que constitui, dentro dos limites de restrições, suas escolhas, decisões e
mudanças que são efetivadas através das práticas e estratégias cotidianas na
esfera doméstica. (MENDES, 2008, p. 43)
O estudo do IPEA indica que o aumento de mulheres na chefia familiar é mais
intenso na zona urbana. O aumento ocorre também na zona rural, mas enquanto nas
cidades as mulheres assumiram 31,3% dos lares, na zona rural foram apenas 14,6%,
menos da metade. Em pontos percentuais, o grau de crescimento foi de 9,6 na zona
urbana e 3,2 na zona rural2.
Outro ponto impactante do estudo, em se tratando de aspectos familiares, mostra
que, em treze anos, o número de famílias formadas por casais com filhos, chefiadas por
1 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/destaque/Pesquisa_Retrato_das_Desigualdades.pdf
2 Disponível em: http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/destaque/Pesquisa_Retrato_das_Desigualdades.pdf
17
mulheres cresceu 10 vezes – 3,4% (ou 247.795 em número absoluto) em 1993 para
14,2% (ou 2.235.233 em número absoluto) em 2006.
Tais dados, tais mudanças apontam para um questionamento do lugar
simbólico do homem como o provedor exclusivo. Supondo-se um padrão de
família tradicional formado por mãe, pai e filhos, sem considerar os novos
arranjos familiares contemporâneos, esse dado nos leva a pensar num
horizonte cultural mais igualitário entre homens e mulheres dentro das
famílias, seguidas de um maior empoderamento para as mulheres. (IPEA,
2008, p.4)
Em termos numéricos, a educação das mulheres não é uma preocupação, uma vez
que elas apresentam, praticamente em todos os indicadores educacionais, melhores
condições do que o grupo masculino. No entanto, ainda há uma preocupação no que diz
respeito à inserção e ocupação do mercado de trabalho, bem como aos papéis sociais de
homens e mulheres nesse contexto.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é um dos aspectos mais
presentes na sociedade brasileira. Mesmo com a ocupação crescente das mulheres no
mercado de trabalho, a inserção delas não é similar à inserção do homem. De acordo
com dados do IPEA (2008, p.8) 46% da população feminina estava ocupada ou à
procura de emprego em 1996, e o número subiu para 52,6 % em 2006. Embora ainda
seja inferior à porcentagem dos homens que, em 2006 era de 72,9%, ocupados ou à
procura de emprego, esse aumento é reflexo de mudança em diversos aspectos da
sociedade.
Para o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, apontam-
se: o aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, novas
oportunidades oferecidas pelo mercado e, finalmente, mudanças nos padrões
culturais, que alteraram os valores relativos aos papéis de homens e mulheres
na sociedade. Cabe lembrar, entretanto, que os dados levantados não
consideram um trabalho realizado predominantemente pelas mulheres e de
fundamental importância para a reprodução da vida e do bem-estar na
sociedade: são os afazeres domésticos, que não são contabilizados do ponto
de vista econômico quando não realizados de forma remunerada. (IPEA,
2008, p.8)
A conquista do espaço no mercado de trabalho ainda não se reflete em igualdade
na ocupação, uma vez que “enquanto as mulheres estão mais representadas no trabalho
doméstico e na produção para próprio consumo e trabalho não remunerado, os homens
ocupam mais postos com carteira de trabalho assinada e de empregador”, ainda que as
mulheres ocupadas sejam mais escolarizadas que os homens ocupados. (Ipea, 2008,
p.9).
18
A política é mais uma das esferas da sociedade onde as mulheres têm dificuldade
de transitar, mesmo demonstrando grande interesse há muitos anos, com relatos, por
exemplo, de tentativas femininas em ingressar efetivamente em cargos políticos já no
século XIX.
Na política, a baiana Izabel Dilon, apresentou-se como candidata a deputada
na última década do século XIX, sem conseguir ter a sua candidatura
reconhecida e registrada. As mulheres brasileiras conquistariam o direito de
votar apenas em 1932, durante o governo provisório de Getúlio Vargas.
(MOREIRA IN MELO, GOBBI E BARBOSA, 2003, p.136)
Mesmo com o direito de votar as mulheres ainda não conquistaram com plenitude
o direito de serem votadas. Por mais que muitos países tenham passado a eleger
mulheres para altos cargos de chefias de governo, ainda é possível notar um número
bem menor de mulheres em detrimento dos homens nos espaços de decisão política.
Comparado a outros países da América do Sul, por exemplo, o Brasil, caminha
para aumentar a representação das mulheres na política. Apesar da eleição da primeira
mulher para governar o Brasil em 2010, Dilma Rousseff foi eleita 26 anos depois que
Isabel Perón assumiu o governo da Argentina, após a morte do então presidente Juan
Domingo Perón.
No Brasil, mesmo depois de alguns partidos terem adotado cotas para mulheres,
ainda é visível a diferença entre o número de governantes do sexo masculino e do sexo
feminino.
Mulheres brasileiras continuam sub-representadas em todas as áreas da política e
da vida pública. De acordo com dados compilados pela União Inter-Parlamentar (apud
Miranda, 2012), o percentual de mulheres no parlamento brasileiro é baixo, na Câmara
dos Deputados o percentual é de 8,6% enquanto no Senado é de 16%. O Brasil ocupa a
110ª posição no ranking mundial das mulheres no Parlamento.
Dos 81 senadores da República, apenas 8 são mulheres3. No Congresso, dos 513
deputados só há 42 mulheres4. Das 27 Unidades da Federação, apenas duas (Maranhão e
Rio Grande do Norte) são governadas por mulheres5.
No entanto, a participação da mulher na política, especialmente brasileira, vai
além das urnas e dos cargos no Governo. Mesmo sem dados objetivos, é possível
3 http://www.senado.gov.br/senadores/
4 http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa
5 http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-2010/eleicoes-2010/estatisticas
19
observar o crescente interesse da mulher na participação política. O crescimento da
atuação das mulheres parte da maior consciência das suas necessidades individuais e
coletivas, e reivindicação dos direitos.
2. 1 Gênero e jornalismo
O crescimento da ocupação feminina no mercado de trabalho evidencia a busca
pela independência financeira e por destaque das mulheres. Elas estão ascendendo em
profissões que antigamente eram consideradas como sendo tipicamente masculinas
como é o caso dos cursos de engenharia, odontologia, medicina, entre outras. No
jornalismo também é possível notar a presença cada vez mais acentuada das mulheres.
O jornalismo é uma profissão que as mulheres têm se destacado após superar os
vários obstáculos da profissão. Lia Habib (2005) reuniu depoimentos de 29 jornalistas
de diversos veículos que ocupam variados cargos no livro “Jornalista: Profissão
Mulher”. Nos relatos, a trajetória e histórias de jornalistas brasileiras que se tornaram
referência na profissão, como Fátima Bernardes, que durante quase quinze anos
apresentou o Jornal Nacional, da Rede Globo.
Em seu depoimento, Fátima destaca o início da carreira e as características da
personalidade que influenciam a atuação como jornalista.
Sou uma pessoa que tive a felicidade, aos 16 anos, de escolher a carreira
certa. Sou apaixonada pelo que faço, em todos os sentidos, me dedico muito.
Faço o que gosto e com prazer. Nós somos muito exigentes com nós mesmas
e acabamos sendo com os outros também. Acrescentamos com a nossa
maneira de ver o mundo, com a nossa experiência de mãe, nós somamos.
Nunca houve nada que eu quisesse fazer que eu não tenha feito. Já fiz polícia,
presídio, violência, esporte, política. (BERNARDES In HABIB, 2005, p.83)
Traquina (2005, p.19) destaca a beleza do dia-a-dia e a batalha do profissional de
jornalismo afirmando que “poeticamente podia-se dizer que o jornalismo é a vida, tal
qual como é contada nas notícias de nascimentos e de mortes [...] a vida em todas as
suas dimensões, como uma enciclopédia”. Na publicação o autor apresenta que “ser
jornalista também implica a crença numa constelação de valores a começar pela
liberdade” e propõe uma análise da objetividade além da dicotomia objetividade x
subjetividade.
20
A busca pela verdade, pela liberdade, fez com que, ao longo dos anos, cada vez
mais pessoas se interessassem pela profissão de jornalista. O mercado da comunicação é
amplo e engloba inúmeras possibilidades, dando espaço para a inserção de homens e
mulheres.
Nas últimas décadas nota-se um crescimento da entrada das mulheres no mercado
do jornalismo, que está diretamente ligado ao número de mulheres que ingressam e se
graduam nas universidades do país.
Mesmo com a entrada em massa das mulheres nesse mercado nota-se que a
entrada não se dá de maneira homogênea em todas as áreas do jornalismo. Em editorias
como cultura, variedades e estado, as mulheres estão em maior número enquanto em
áreas como economia e política as mulheres ainda são minoria assim como são minoria
também nos cargos de decisão, como chefia de edição.
O aumento do número de mulheres no jornalismo e o aumento do interesse das
mulheres pelo esporte em suas mais diversas modalidades, também se reflete no
crescimento da quantidade de mulheres que atuam na cobertura esportiva. No entanto, o
mercado jornalístico ainda evidencia discriminações vivenciadas pelas mulheres,
especialmente na editoria de esportes.
Melo (2011, p.12) afirma que embora as mulheres estejam presentes nos mais
diversos segmentos profissionais, provando sua capacidade de atuação, ainda sofrem
com a desigualdade dentro do mercado.
Em sua pesquisa sobre o mercado de trabalho jornalístico no Tocantins, Melo
(2011, p.34) destaca que, mesmo menor que os percentuais brasileiros, a diferença de
remuneração entre gêneros também existe.
No caso das tocantinenses, o percentual recebido por elas ficou em torno de
8,83% (oito ponto oitenta e três por cento) menor que o dos homens no ano
de 2006. Sendo que em 2009, esta diferença cai para 6,98% (seis por noventa
e oito por cento), ou seja, em 2009 as mulheres tocantinenses receberam em
média 93% (noventa e três por cento) do valor que os homens ganharam de
remuneração no mesmo ano. Comparando com a média de variação de
remuneração de gênero nacional, de 17% (dezessete por cento) segundo os
dados da RAIS/MTE – 2009, as tocantinenses estão em condições um pouco
mais favoráveis, mas, também continuam recebendo menos que os homens
que exercem as mesmas funções. (MELO, 2011, p. 34)
No jornalismo, a inserção das mulheres no mercado se deu a partir do que Rocha
(2005, p.1) chama de profissionalização do jornalismo, ocorrida a partir do final da
21
década de 30. A criação de associações e sindicatos, novos cursos, exigência do diploma
e aumento de salários contribuíram para o processo, além, é claro, das mudanças
tecnológicas que vieram a seguir.
Rocha (2005, p.2) destaca que “nos jornais, na década de 30, segundo dados
oficiais do Sindicato de São Paulo, trabalhavam mulheres que escreviam crônicas, mas a
pioneira na reportagem foi Margarida Izar”. A autora destaca ainda que a revolução
sexual promovida pela revista Cláudia, do grupo Abril, na década de 60, permitiu que
mulheres escrevessem para mulheres, abordando assuntos do interesse feminino.
Passando do ponto de vista do produtor para o ponto de vista do consumidor,
Buitoni (1993, p.11) analisa a imprensa feminina enquanto produto, consumido por
mulheres. A imprensa feminina foi um grande passo para que acontecesse o que a
autora chama de segmentação de mercado. Antes do advento da imprensa feminina não
havia a imprensa ‘masculina’, até mesmo porque poucos eram os letrados, em sua
maioria homens. A autora questiona o lugar do jornalismo na imprensa feminina quando
expõe sua variedade de conteúdos:
Linguagem culta, linguagem literária, linguagem coloquial, receitas de tricô,
textos quase publicitários, endereços, consultas de especialistas, linguagem
séria, linguagem tatibitate, miscelânea, colcha de retalhos, colagem [...]
perguntas, respostas, comida, emoção, sexo, fantasias, utilidades domésticas:
a imprensa feminina é continente para tudo que se relaciona com mulher e/ou
família. Isso seria jornalismo? (BUITONI, 1993, p.10)
Para Buitoni (1993, p.14) “muitas pessoas costumam contrapor imprensa em geral
e imprensa feminina, quase sempre valorizando a primeira”. A autora aborda a
alienação relacionada às publicações recheadas do que muitos chamam de futilidades,
embora a imprensa feminina tenha avançado ao longo do tempo. A autora destaca as
subdivisões da imprensa especializada: de público especializado e de assunto
especializado, e afirma que nenhuma dessas definições abrange a imprensa feminina ao
passo que “mulheres não constituem um público especializado; além disso, não dá pra
falar em especialização de assunto, porque a gama possível de matérias é muito grande”
(BUITONI, 1993, p. 15).
No entanto, a invasão feminina no jornalismo não se limitou à coluna social ou ao
“papo de mulher” das revistas especializadas. A conquista do espaço se deu também
numa editoria predominantemente machista – a de esportes.
22
Na cobertura esportiva, área de domínio masculino, a primeira mulher
repórter de campo de futebol do Brasil foi Neuza Pinheiro Coelho, filha, irmã
e mulher de jornalistas. Participou da greve de 1961, foi eleita a presidente da
Comissão de Greve. Trabalhou nos Diários Associados com mais quatro
mulheres: Cristina Pinheiro, que escrevia sociais; Gracita de Miranda,
responsável por pautas na área de saúde e de associação de mulheres;
Margarida Izar e Helle Alves, que trabalhavam no caderno chamado Geral.
(ROCHA, 2005, p.3;4)
Rocha (2005 apud SANTANNA & NARDELLI, 2002, p.5) destaca ainda que,
mesmo dentro do mercado midiático, a inserção das mulheres ainda é desigual, em se
tratando dos veículos, tendendo a ser menor em áreas mais tradicionais com rádio e
jornal impresso, reafirmando que a ocupação dos cargos de chefia ainda é pequena e
que o mercado nem sempre reflete a realidade do ingresso e egresso das universidades.
23
3 A BUSCA PELO PROTAGONISMO NO JORNALISMO ESPORTIVO
A definição de esporte vai muito além da prática de atividade física, ou de uma
brincadeira de criança. O esporte enquanto conceito é uma atividade organizada e regida
pelas mais diversas leis. Barbanti (2010) afirma:
Esporte é uma atividade competitiva institucionalizada que envolve esforço
físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativamente complexas, por
indivíduos, cuja participação é motivada por uma combinação de fatores
intrínsecos e extrínsecos. (BARBANTI, 2010, p.9)
O autor afirma ainda que esporte refere-se a tipos específicos de atividades,
depende das condições sob as quais as atividades acontecem, além de depender da
orientação subjetiva dos participantes envolvidos nas atividades.
Rodrigues & Montagner (2003) afirmam que em determinados níveis de prática o
esporte se torna espetáculo. O espetáculo ao qual os autores se referem não tratam do
esporte educacional nem do participativo, mas do de alto rendimento que é reproduzido
pelas mais diversas mídias.
O Esporte-Espetáculo, ou seja, a mercadorização do esporte tem influenciado
nas outras manifestações esportivas presentes na sociedade. O Esporte-
Espetáculo é um fenômeno inserido em uma sociedade de consumo e
comunicação de massa organizada de tal maneira a difundir sons, imagens e
informações, configurando-se meio de reproduzir a sociedade de consumo.
(RODRIGUES & MONTAGNER, 2003, p. 3)
Esse espetáculo, desde o Egito ou Grécia antiga, sempre foi marcado por
restrições ao sexo feminino. Considerando o andar, correr, pular e nadar, como
características naturais ao comportamento humano, talvez fosse possível imaginar que o
esporte tenha sido uma esfera da sociedade onde homens e mulheres pudessem transitar,
mas durante séculos, a prática e as competições esportivas eram destinadas ao sexo
masculino, que exibia a forma física, enquanto ao sexo feminino cabia o papel dos
cuidados domésticos, da procriação e da dança. (apud BRAVO, 2007, p.14).
Em sua análise sobre a obra, Gênero, mulheres e esporte, de Fabiano Devide,
Jaeger (2006, p.200) afirma que o esporte em si é um ambiente onde a questão do
gênero pode ser amplamente discutida, e o descreve como “um espaço de opressão
24
feminina; questionamento da superioridade masculina; território que pode transformar
as relações de gênero; e um espaço de lutas e contestações”.
No esporte, em suas diferentes modalidades, as mulheres são vitimas de
preconceito em relação aos seus pares masculinos. Ainda que as mulheres tenham
conquistado espaço no esporte, inclusive em algumas modalidades tradicionalmente
“ditas” como masculinas - caso das artes marciais e do futebol - o sexismo nesse campo
ainda se faz presente.
Não é preciso estudar afundo para notar, a exemplo das duas modalidades
supracitadas, a discrepância existente entre homens e mulheres no que se tange à
prática, ao incentivo e, inclusive, à cobertura jornalística.
Para exemplificar, vamos falar sobre o esporte sensação do momento, o Mixed
Marcial Arts (MMA) que é uma prática que mistura diversas artes marciais em um só
combate. Mundo afora, no Brasil e, inclusive no Tocantins, as mulheres também são
adeptas dessa prática, mas são poucos (quando existem), os eventos que abrem a
participação feminina.
No maior evento da modalidade, o Ultimate Fight Championship (UFC) a
participação feminina se limita à platéia e às ring girls, mulheres bonitas e seminuas que
entram no octógono (espécie de ringue apropriado para essa prática) segurando um
número que anuncia o próximo round 6.
No MMA e, em especial no UFC, a presença das mulheres se limita ao papel de
“bonecas” promovendo a exibição do corpo sem a real chance de contribuir para a
inserção feminina na modalidade.
Nesse esporte, e em outros, a justificativa para a desigualdade está fortemente
atrelada às diferenças biológicas entre homens e mulheres, como afirmam Neto, Wenetz
e Stigger (2010):
Em nossa cultura, aos sujeitos são atribuídos determinados adjetivos que
acabam por classificá-los, em termos de gênero, como masculinos ou
femininos. Agressividade, virilidade, força, coragem são adjetivos
diretamente associados à masculinidade, enquanto que delicadeza, intuição,
sensibilidade, à feminilidade. Esta classificação é tomada como “natural” e
estendem-se também, às expressões corporais dos sujeitos e para as práticas
de esportes. (NETO, WENETZ E STIGGER, 2010, p.1)
6 Período em que acontece a luta, cujo tempo e quantidade varia de acordo com a competição.
25
Paixão nacional, o futebol também não é democrático em se tratando da inserção
igualitária entre os gêneros. Elas já estão nas arquibancadas, mas lutam para conquistar
seu espaço dentro de campo. “País do futebol”, o Brasil é um dos países que menos
valoriza a prática esportiva competitiva entre as mulheres, ficando atrás, e muito, de
países pouco tradicionais no futebol masculino, como os Estados Unidos.
A falta de incentivos à prática do futebol por parte das mulheres começa cedo,
como observa Freitas (2004):
Tanto na historiografia do futebol, quanto na prática discursiva de
professores, durante os treinos e na copa de futebol feminino, havia um
discurso que se opunha à realização do futebol pelas mulheres. De uma forma
geral, na literatura esportiva sobre o futebol existe uma ausência de registro
histórico do futebol feminino no país. As anotações da presença feminina
nesse esporte, por autores clássicos, são quase que inexistentes. (FREITAS,
2004, p.1)
Com a falta de incentivo, campeonatos municipais, estaduais e nacionais com
baixa competitividade, e às vezes até mal organizados, cada vez mais talentos
brasileiros buscam o sucesso nos campos da Europa e Estados Unidos.
Um grande exemplo da desigualdade de gênero no futebol brasileiro é vivenciado
pela maior estrela da modalidade, Marta, que já foi considerada a maior jogadora do
Brasil, ficou anos fora do país e foi eleita por cinco temporadas consecutivas a melhor
jogadora de futebol do mundo pela entidade máxima do futebol, a Federação
Internacional de Futebol (FIFA). Em 2009 e 2011 teve uma passagem pelo Brasil onde
atuou no Santos Futebol Clube, e em janeiro de 2012, a hegemonia no título de melhor
do mundo foi quebrada pela japonesa Homare Sawa.
Cabe à FIFA o julgamento de quem merece o título, e esta pesquisa não visa
discordar de tal decisão, mas seria possível atrelar a “perda” do posto à passagem pelo
Brasil já que o país não oferece condições para que as mulheres desenvolvam o seu
potencial. Quando não há competições de qualidade, sem visibilidade sequer nacional,
quanto mais Mundial, fica difícil competir de igual para igual com quem atua em um
futebol mais forte.
No Tocantins, a jogadora Rayza Souza, ganhou destaque em nível estadual,
passou por clubes nacionais e, em 2012, realizou uma ótima temporada na Irlanda do
Norte, onde conquistou títulos com o Loughgall F.C. e alcançou metas pessoais
marcando gols e sendo considerada a melhor atleta da equipe no ano. Para a temporada
26
de 2013, já tem contrato com um clube da primeira divisão do futebol inglês, e, dada a
sua qualidade técnica e as condições do futebol feminino no Tocantins e no Brasil, deve
permanecer fora do país por muito tempo.
As desigualdades de gênero no campo do jornalismo esportivo estão atreladas ao
contexto histórico das desigualdades no esporte e essa diferença se baseia, em princípio,
nas questões biológicas, que ainda são argumentos para tentar colocar o homem em
posição de superioridade em relação à mulher, uma vez que as características da
feminilidade e da masculinidade são, indiscutivelmente, diferentes.
No que se refere ao esporte especificamente, o sexo tem sido um território
onde busca-se a fixidez e as demarcações identitárias e, por muito tempo, foi
usado para impedir a participação feminina em diferentes modalidades
esportivizadas. [...] Por um lado, sugeria-se às mulheres práticas corporais
que requeriam flexibilidade, agilidade, leveza e suavidade nos seus gestos;
requisitos necessários para manter a sua feminilidade e fortalecer o seu corpo
para a maternidade. Por outro lado, indicava-se aos homens as práticas
corporais que solicitavam força, velocidade, resistência e potencialização
muscular; aspectos desejados para destacar a sua masculinidade referendada
na agressividade e na coragem demonstradas na prática esportiva. (JAEGER,
2006, p.3)
Para falar da desigualdade de gênero no jornalismo esportivo, é preciso analisar,
ainda o modo como a imprensa atua na cobertura esportiva de atletas mulheres.
Se é por meio da mídia que atualmente, são filtrados e decodificados diversos
processos de mediação social - da política às transações comerciais, passando
por encontros amorosos e programas educacionais, as identidades de gênero e
sexuais também aí aparecem e são ilustradas, amiúde por meio de
estereótipos os quais reforçam preconceitos, estigmas e, muitas vezes,
chegam a efetivar discriminações contra aqueles (as) que não se enquadram
nos esquemas pré-moldados. (SOUZA E KNIJNIK, 2007, p 37)
Considerado a relação entre a mídia e o esporte como interdependentes, os autores
destacam o papel da mídia na construção de ídolos, mas criticam a ausência de mulheres
neste “hall da fama” do esporte, e ressaltam que “apesar das atletas estarem sendo bem-
sucedidas nos esportes, suas conquistas têm sido constantemente ignoradas pela mídia”
(SOUZA e KNIJNIK, 2007, p.38 apud TOOHEY, 1997). Além disso, reforçam que a
falta de exposição na mídia consequentemente faz com que a participação feminina no
esporte não seja considerada importante, avaliando que o atleta masculino tem mais
visibilidade do que as atletas mulheres.
27
3. 1 Mulheres e o jornalismo esportivo
Mesmo no mercado considerado democrático, as mulheres ainda enfrentam
tratamentos desiguais nas mais diversas etapas da carreira. Ao longo das lutas para
diminuir a desigualdade de gênero nas mais diversas atuações profissionais, nota-se que
no jornalismo não foi diferente.
Clóvis Rossi (1998, p.19) afirma que a “especialização é um caminho tortuoso
pelo qual o jornalista pode optar”. No entanto o autor destaca também que mediante o
que chama de “obstáculos da profissão” o jornalista pode aderir ao conformismo ou
optar pela busca pelo conhecimento. Assim:
Em primeiro lugar, a imprensa brasileira ainda não venceu a regra não escrita
de que o jornalista é um especialista em generalidade. Ou em outras palavras,
um sujeito que sabe pouco de muitas coisas. Essa teoria empurra o jornalista
num dia para uma entrevista sobre urbanismo, no dia seguinte para uma
entrevista com, digamos o ministro das Relações Exteriores da Arábia
Saudita, um dia depois para um trabalho sobre transporte de massa – e assim
por diante. (ROSSI, 1998, p. 70).
O início do jornalismo esportivo no Brasil se deu de forma lenta, acompanhando o
interesse por esportes, sobretudo o futebol. Coelho (2003) afirma que o início do futebol
em solo brasileiro não obteve sucesso imediato. Com a pouca aceitação não era possível
imaginar que o novo esporte se tornaria, anos depois, “símbolo nacional”. O jornalismo
esportivo também demorou a cair nas graças da população, mas segundo o autor, os
palpiteiros estavam enganados.
De todo jeito, a partir da segunda metade dos anos 60, com cadernos
esportivos mais presentes e de maior volume, o Brasil entrou na lista dos
países com imprensa esportiva de larga extensão. [...]. Em 1925 o futebol, já
era uma paixão nacional. O Brasil havia sido bicampeão sul-americano em
1919 e, em 1922, faltavam apenas cinco anos para o início da primeira Copa
do Mundo, mas o profissionalismo [no futebol] só chegaria ao país oito anos
mais tarde (COELHO, 2003, p. 10)
Para o autor, o jornalista esportivo é, antes de tudo, um apaixonado por esportes e
essa paixão deve refletir no seu trabalho, embora de forma imparcial. Mauro Cezar
Pereira (198? apud COELHO, 2003, p. 39) afirma que “ninguém entende mais do
assunto do que um garoto de 12 anos” destacando a relação entre a paixão pelo esporte
com a dedicação à busca do conhecimento a respeito do tema. Por isso Coelho (2003)
28
afirma que é na infância que muitos pensam em ser profissionais da bola, ou jornalistas
esportivos.
Silva (2009, p.16, apud Leandro, 2005, p.40) atribui ao jornalismo esportivo como
a editoria responsável por identificar e transmitir fatos do esporte relevantes a sociedade
e destaca a sua importância perante os consumidores de notícia, afirmando que o
jornalismo esportivo “habita em um ambiente próprio, caracterizado pela condição de
sistema construído para divulgação de notícias sobre eventos e personagens relacionados às
diversas modalidades esportivas”.
Mesmo sendo uma obra de referência sobre o jornalismo esportivo no Brasil,
Coelho (2003) pouco aborda a atuação das mulheres no jornalismo esportivo que,
segundo ele, “era quase impossível ver mulheres no esporte até o início dos anos 70”.
Embora a situação tenha mudado, não vemos hoje nas redações um número de mulheres
igual ao de homens, mas o crescimento, segundo Coelho (2003), reflete o interesse da
população e é interessante observar que nas redações se verificam os mesmos níveis
salariais para homens e mulheres mesmo que não haja as mesmas oportunidades. Sobre
o preconceito nas redações, afirma:
Nos velhos tempos, o veterano repórter Oldemário Touguinhó, do Jornal do
Brasil, telefonava para a redação durante as grandes coberturas e procurava o
editor. Quando este indicava uma mulher para recolher o material que vez ou
outra tinha de ser passado por telefone, Oldemário simplesmente se recusava
a entregar seus relatos. [...] no passado, especialmente entre repórteres, houve
grandes profissionais mulheres [...] Regiane Ritter, que trabalhou na
cobertura de três Copas do Mundo [...] quando ela começou, certamente
havia mais preconceito do que hoje, tempo em que o espaço existe para ser
conquistado (COELHO, p. 35).
A invasão das mulheres nas editorias de esporte, especialmente nos cadernos
especializados aconteceu, mas de forma tímida e com preconceito dentro do ambiente
de trabalho. Coelho (2003) destaca que as jornalistas eram enviadas para realizar
coberturas de esportes como vôlei ou natação, mas futebol e corridas não faziam parte
das suas pautas.
No entanto, especialmente a partir dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, as
mulheres começaram a ter uma participação um pouco mais ativa, conforme descreve
Anelise Righi (2006):
Com a imagem na televisão a mistura ‘sexo e esporte’ encontrou um campo
de atuação. As mulheres participavam dos programas esportivos
apresentando propagandas ou lendo scripts. Mas, algumas jornalistas
conseguem conquistar um lugar nas redações e atuar em diferentes funções.
29
A equipe de cobertura dos Jogos Olímpicos de Seul tinha Myriam De Lamare
como produtora. Na década de 90, algumas jornalistas começam a ter
destaque no cenário esportivo. Mylena Ciribelli apresenta boletins esportivos
sobre os Jogos Olímpicos de Seul e de Fórmula 1, ainda em 1988, pela TV
Manchete. Em 1991, começa a trabalhar no Globo Esporte e no Esporte
Espetacular, programas esportivos da Rede Globo. Outros exemplos de
apresentadoras e repórteres esportivas na televisão que atuam neste período
são Débora Vilhalba, Glenda Kozlowski, Débora Menezes, entre outras.
(RIGHI, 2006, p.31)
Para Bahia (2012) as mulheres já ganharam força no jornalismo esportivo, mas
isso ainda não se deu da maneira como as repórteres desejam.
Tornou-se moda, mas, não se democratizou plenamente. O preconceito da
mulher na redação, ainda existe; não como antes. Este nicho de mercado de
trabalho, caso dispa-se dos ranços machistas, poderá abrir um novo espaço
para as repórteres que estão chegando. (BAHIA, 2012 p. 1)
Relacionado por Bahia (2012, p.3) à consciência tomada pelos homens da
liberação feminina, o preconceito é uma forma masculina de “exprimir seus receios e
intimidar as companheiras” desviando o debate para o plano sexual.
Muito embora já esteja inserida em editorias consideradas “masculinas”, a mulher
ainda não conquistou o seu espaço por completo nos diferentes espaços das redações.
Numa breve análise, é possível observar que coberturas policiais e esportivas, por
exemplo, ainda são editorias mais ocupadas pelos homens, especialmente em se
tratando de jornalismo online, rádio e jornal impresso, onde a imagem não está atrelada
ao papel da jornalista.
3.2 Imagem e Conteúdo
A imagem da mulher no jornalismo é um ponto cada vez mais explorado,
especialmente em se tratando de televisão, quando a profissional está em constante
evidência. A cada ano que passa, os telejornais e, mais ainda os programas esportivos,
investem na imagem feminina, aparentemente com intenção de atrair a atenção do
público, formado, em sua maioria, por homens.
Em se tratando de apresentadoras, os telejornais brasileiros adotaram um padrão
de imagem, e, ao mudar de canal, é possível observar belas mulheres com cabelos lisos
e curtos, em sua maioria. Uma recente prova do “padrão” instituído pelas emissoras no
30
que diz à composição da bancada de um telejornal, foi a mudança na aparência da
apresentadora do Jornal Nacional (JN), da Rede Globo, Patrícia Poeta.
No comando do programa semanal Fantástico, da mesma emissora, exibido aos
domingos, a jornalista usava cabelos quase na altura da cintura. Depois de sair do
programa dominical para compor a bancada do telejornal diário, a jornalista passou a
usar cabelos mais curtos, pouco abaixo dos ombros. Um tanto quanto grandes, para o
padrão da bancada do JN, mas um indício claro da padronização da imagem da mulher
na apresentação do telejornal. Ávila (2009) descreve:
Ainda tratando do corpo, a aparência física e os cabelos recebem um espaço
de destaque. A aparência física e a valorização das partes do corpo mudam
conforme a sociedade e a época. Por longo tempo, as formas arredondadas
foram sinônimo de beleza. No século XX, as pernas são postas à vista,
valoriza-se doentiamente a magreza. Pintados, descritos e representados
como símbolo sexual e erótico, os cabelos femininos são objeto de desejo.
(ÁVILA, 2009, p. 250)
Também não é difícil perceber o “uso” da beleza feminina em programas e
reportagens esportivas. No entanto, no jornalismo esportivo não é observável um
padrão, mas a exploração das “várias belezas” da mulher brasileira. Mesmo sem ter um
tamanho específico de cabelo, o padrão existe no sentido da exploração da imagem.
Na televisão brasileira, sejam em canais abertos ou pagos, é difícil encontrar
programas esportivos em que haja apenas a presença de homens, seja no comando ou na
reportagem.
A Redetv!, por exemplo, possui em sua grade um programa dominical composto
apenas por mulheres, intitulado “Belas na Rede”, onde a valorização da imagem
feminina está presente até no nome da atração numa associação evidente entre beleza e
feminilidade.
Não queremos com isso criticar a presença da beleza no dia a dia da televisão
brasileira, mas com a valorização do corpo e da beleza feminina tão presente no
jornalismo, especialmente no esportivo, fica ainda mais difícil para que as mulheres,
que são testadas diariamente, possam provar a sua competência e transmitir o conteúdo
por trás da imagem.
31
4 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizadas três metodologias que
permitiram o alcance do resultado final. O início do trabalho foi desenvolvido através da
pesquisa bibliográfica que, segundo Oliveira (2002, p.119), tem por finalidade
“conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre
determinado assunto ou fenômeno.”
Souza, Fialho e Otani (2007, p.40), destacam como pesquisa bibliográfica um
processo constituído “da obtenção de dado através de fontes secundárias, utiliza como
fontes de coleta de dados materiais publicados como: livros, periódicos científicos,
revistas, jornais, teses, dissertações, materiais cartográficos e meios audiovisuais, etc.”
Realizar a pesquisa bibliográfica permitiu compreender e conceituar os diversos
assuntos abordados nesse trabalho como gênero, mulheres e comunicação, jornalismo
esportivo, esporte e episódios que marcaram a luta das mulheres pela igualdade de
gênero.
Para tratar das relações de gênero na sociedade, buscou-se fundamentação teórica
em estudos de autoras como Joan Scott (1989), que trata da utilização do termo gênero
como uma maneira de indicar construções sociais e Ávila (2009) que trata da mudança
da posição social das mulheres ao longo dos anos.
Além disso, foram analisados dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 2008), que permitiram compreender qual é a realidade brasileira nos mais
diversos contextos, em relação às desigualdades de gênero.
Para compreender o contexto da atuação feminina no jornalismo de Palmas, foi
utilizado o estudo de Melo (2011) que analisou a presença das mulheres no jornalismo
da capital tocantinense.
Ao abordar as relações de gênero no campo do jornalismo, Traquina (2005) e
Rossi (1998) permitiram conceituar e caracterizar o jornalismo, enquanto Buitoni
(1993) e Rocha (2005) colaboraram para o entendimento de como a imprensa feminina
surgiu se transformou ao longo dos anos.
Antes de compreender as características do jornalismo esportivo, foi preciso
entender o esporte que, conforme Jaeger (2006), é um ambiente onde a questão de
32
gênero pode ser amplamente discutida. Para entender como desigualdade de gênero no
esporte vai muito além dos problemas que mulheres enfrentam para ingressas em
modalidades masculinizadas, e é também afetada pela falta de cobertura e ampla
divulgação da mídia, utilizou-se o estudo de Souza e Kinjnik (2007).
Coelho (2003) contribuiu para o entendimento de diversos aspectos do jornalismo
esportivo, como o surgimento da mídia especializada, o início da mulher na editoria de
esportes e como as publicações esportivas caíram no gosto popular.
Com a compreensão das características de cada assunto e a interrelação entre eles,
o segundo passo foi a realização de entrevista semi-estruturada com diferentes atores
que pertencem ao metier do jornalismo esportivo para dar embasamento empírico ao
estudo.
As entrevistas foram divididas em três segmentos. O primeiro segmento destacou
as mulheres que atuam no jornalismo esportivo por entender que elas são os sujeitos
legítimos para abordar as vivências do papel de gênero nessa área profissional. As
perguntas permitiram compreender como se deu o ingresso das entrevistadas no
jornalismo esportivo, as características do mercado local e a opinião a respeito do uso
da imagem feminina no jornalismo esportivo, considerando que as três entrevistadas
atuam em televisão.
O segundo segmento destacou o sujeito do espaço de poder, ou seja, o editor de
veículo de comunicação, por entender que o mesmo possui uma visão mais ampla da
profissão e porque participa do ambiente nos quais os papéis de gênero estão presentes.
Neste segmento, os dois entrevistados, que ocupam cargos de chefia, avaliaram a
participação da mulher no jornalismo esportivo, enfatizando o crescimento e mídias
com mais presença feminina.
O terceiro segmento destacou a academia, o sujeito que se especializa no tema e
assim possui uma visão mais teórica sobre o assunto, avaliando sob esse ponto de vista
a participação feminina nas editorias de esporte.
Com questões pré-definidas, a entrevista ganhou particularidades na medida em
que os entrevistados respondiam de forma em que abriam espaço para novos
questionamentos. Manzini apud Triviños destaca:
A entrevista semi-estruturada tem como característica questionamentos
básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da
pesquisa. Os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses surgidas a
33
partir das respostas dos informantes. O foco principal seria colocado pelo
investigador-entrevistador. Complementa o autor, afirmando que a entrevista
semi-estruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais,
mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de
manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta
de informações (MANZINI apud TRIVIÑOS, 2005, p. 2).
O terceiro passo para a execução deste trabalho foi a análise qualitativa dos dados
coletados, confrontando as opiniões e as vivências, baseado na literatura revisada. Gibbs
afirma que:
Os dados qualitativos são essencialmente significativos, mas, mais do que
isso, mostram grande diversidade. Eles não incluem contagens e medidas ,
mas sim praticamente qualquer forma de comunicação humana – escrita,
auditiva ou visual; por comportamento, simbolismos ou artefatos culturais.
(GIBBS, 2009, p.17)
Baseado nestas três etapas foi possível entender o contexto histórico em que
foram travadas determinadas batalhas de gênero e como isso se desenrolou ao longo dos
anos. Além disso, o processo possibilitou compreender as relações de gênero do
jornalismo esportivo e analisar, baseado em entrevistas, a realidade da capital
tocantinense no que se refere a atuação das mulheres no jornalismo esportivo.
34
5 ATUAÇÃO FEMININA NO JORNALISMO ESPORTIVO EM PALMAS
A histórica luta das mulheres por um lugar no mercado de trabalho e pela
igualdade de gênero nos mais diversos espaços da sociedade também é recorrente na
mais nova capital do país. Criada em maio de 1989, sete meses após a instituição do
Estado do Tocantins, pela Constituição de 1988, Palmas acompanha a passos lentos a
realidade nacional, onde as mulheres estão cada vez mais inseridas nas editorias de
esportes dos veículos de comunicação.
Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram entrevistadas as jornalistas
Thalita Tavares, apresentadora do Globo Esporte Tocantins, Alcione Luz, repórter da
TVE, que atua na cobertura esportiva e foi apresentadora do extinto programa esportivo
Esporte Mais durante três anos na antiga Redesat, e Renata Ramos, também jornalista
da TVE, que participa da cobertura esportiva e que atuou como repórter e apresentadora
do Esporte Mais.
As entrevistas foram realizadas com o intuito de compreender a trajetória das
mulheres no jornalismo esportivo em Palmas dando ênfase a três aspectos: entrada na
área do jornalismo esportivo, permanência na editoria e dificuldades ao longo da
profissionalização.
Além disso, dois profissionais de mercado e um profissional da academia foram
entrevistados para avaliar, a partir do seu lugar de fala, a entrada e a permanência das
mulheres no jornalismo esportivo. O editor-chefe da TV Anhanguera Tocantins,
Rogério Silva, o editor do jornal Lance!, de São Paulo, Alessandro Abate, e o professor
doutor José Carlos Marques, especialista em jornalismo esportivo da UNESP.
A entrevista com o editor-chefe da TV Anhanguera Tocantins, Rogério Silva,
profissional do mercado que ocupa cargo de destaque, foi motivada porque o veículo de
comunicação em que exerce ocupação de chefia é, atualmente, o único veículo na
capital tocantinense que possui um programa dedicado exclusivamente ao esporte local.
A escolha dos demais entrevistados, tanto Alessandro Abate, profissional de
mercado, quanto o professor doutor José Carlos Marques, especialista da academia, se
deu pela sua relevância para a comunicação nacional, uma vez que participaram do
35
Intercom Norte7 realizado na Universidade Federal do Tocantins em Palmas em maio de
2012, cujo tema Esporte na Idade Mídia, debateu o papel e a perspectiva do jornalista
brasileiro em realização aos grandes eventos esportivos que serão realizados no país nos
próximos anos.
Partindo do ponto de vista das jornalistas que atuam na editoria de esportes da
capital tocantinense, é possível perceber alguns aspectos convergentes. Com relação à
entrada na área do jornalismo esportivo, enquanto Renata Ramos demonstrou interesse
pelo esporte no ato da escolha do curso superior que iria ingressar, as demais
entrevistadas foram unânimes em afirmar que a entrada na editoria foi acidental,
ocasionada por uma distribuição de tarefas da edição do jornal ou em decorrência da
maleabilidade da função de estagiária, ressaltando ainda a ausência de jornalistas
especializados no esporte na capital tocantinense.
Sempre quis trabalhar com esporte, mas não queria fazer cursos como
educação física, por exemplo, então resolvi fazer jornalismo, porque poderia
trabalhar com esporte e se não desse certo poderia atuar em outra área como
Assessoria de Comunicação. (RAMOS, 2012)
A presença feminina nas editorias de esporte, em Palmas, ainda acontece de forma
discreta e o ingresso das mulheres se dá, em sua maioria, pela necessidade de um
repórter na editoria, muitas vezes em detrimento da escolha da jornalista, conforme
afirma Alcione Luz (2012).
Eu estava fazendo estágio num jornal local [...] na editoria de Estado, aí
houve um remanejamento dentro da própria empresa e eu fiquei com o
esporte. Eu comecei assim no esporte porque no estágio você não escolhe a
editoria. Eu trabalhei um ano e surgiu uma oportunidade num jornal diário e
trabalhei uns quatro ou cinco anos, como repórter de esporte. O jornal fechou
e eu fui pra outro jornal e peguei a editoria de esportes. Isso no jornal
impresso. Do jornal impresso fui pra televisão e fiquei três anos como
repórter e apresentadora do programa de esportes. (LUZ, 2012)
O relato da jornalista Alcione Luz remete a uma característica da editoria de
esporte, muito comum no início do jornalismo esportivo nacional, ainda recorrente em
alguns veículos, e que reflete uma das grandes contradições da editoria – ser
considerada menos importante. A editoria de esportes ganhou destaque ao longo dos
anos, mas, para grande parte dos veículos não é mais importante que política, por
exemplo, e acaba sendo o trabalho do repórter menos experiente, ou do “estagiário”
7 XI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte
36
ainda sem formação completa. Por outro lado, é, ao mesmo tempo, uma editoria
especializada, considerada fora de alcance para as mulheres, especialmente no rádio e
jornal impresso.
Já a jornalista Thalita Tavares (2012) ingressou na editoria de esportes por
identificar uma deficiência do veículo onde tinha interesse em trabalhar, e propôs a
diretoria uma opção à antiga realidade do programa de esportes, onde o editor-chefe
desempenhava múltiplas funções. Na ocasião, o ingresso na editoria de esportes surgiu
de uma necessidade do mercado em Palmas, e não do interesse da jornalista.
O jornalismo esportivo surgiu de uma oportunidade aqui no Tocantins. [...]
Cheguei aqui na TV e vi a necessidade de um repórter esportivo porque na
época não tinha, eu lembro que o editor fazia tudo, mais ou menos o que eu
acabei fazendo também depois. Eu vi que ele editava, apresentava e vi que
estavam precisando de um repórter. Comecei a insistir e assim, eu sempre
gostei muito de esporte mesmo, mas nunca pensei em me especializar nessa
área. Mas eu vi que tinha vaga, convenci o chefe realmente que precisava de
um jornalista esportivo, aí entrei no esporte, como repórter e depois de um
ano eu virei editora. (TAVARES, 2012)
Na TV Anhanguera Tocantins, é possível observar, de acordo com Tavares (2012)
que havia um editor “faz-tudo”, função que a entrevistada assumiu posteriormente.
Durante essa pesquisa, o Globo Esporte Tocantins contava com um repórter fixo – que
eventualmente atuava em outras coberturas da grade – e outros repórteres que cobriam
esporte em caráter de escala, em geral homens. Outro exemplo que tomo, é o Jornal do
Tocantins, único jornal impresso de publicação diária do Estado.
À exceção de coberturas especiais, escalas e férias, o editor, Reinaldo Cisterna, é
o único jornalista da editoria que aborda assuntos locais e conta com auxílio de agências
de notícias para “preencher” o restante do espaço com assuntos nacionais.
A falta de investimento na cobertura do esporte é uma realidade nos veículos de
comunicação de Palmas e essa pouca abertura para o jornalismo esportivo também é
fator que influencia para que o crescimento do número de mulheres em tais editorias
seja inviabilizado.
A falta de incentivo ao esporte em Palmas também acaba comprometendo uma
cobertura jornalística da área de forma mais diversificada e dinâmica. O único programa
esportivo televisivo com notícias locais sobre o esporte é o Globo Esporte Tocantins,
apresentado pela entrevistada Thalita Tavares, com duração média aproximada de 7
37
minutos, o que resulta em 100% de ocupação feminina à frente dos programas de
esportes durante a realização desta pesquisa.
5.1 Perspectiva do mercado
A extinção do programa Esporte Mais, em abril de 2012, foi um grande retrocesso
no jornalismo esportivo do Tocantins. Com duração de 45 minutos, o programa contava
com a apresentação de Alcione Luz e reportagem de Renata Ramos, que depois assumiu
a bancada, e ocasionalmente incluía a participação de outras repórteres do canal. Era,
sem dúvida, o programa que dava mais cobertura ao esporte do Estado, devido à sua
duração e projeto editorial, com cobertura de diversas modalidades e dos campeonatos
locais. Além disso, era empregador de profissionais da área, entre eles mulheres.
Comecei a trabalhar com esporte quando ainda cursava a universidade, meu
primeiro passo na carreira esportiva foi como estagiaria no programa Esporte
Mais, exibido pela Redesat, canal 13, de segunda a sexta-feira 12h45 às
13h30. Depois de formada continuei trabalhando no mesmo Programa
durante três anos. Comecei como repórter. Depois fui acumulando funções
como, apresentadora e editora de texto. Com a saída do programa do ar em
abril desde ano (2012), acabei deixando de trabalhar somente com esporte.
(RAMOS, 2012)
Para Luz a entrada e a rápida passagem das mulheres na editoria de esportes no
estado é um problema que, em geral não, é apenas vivenciado pelas mulheres que atuam
nessa área, mas pelos homens também, e isso é resultado da falta de reconhecimento e
incentivo ao esporte no Estado.
Eu saí do esporte não porque eu não gostasse da editoria, porque assim, mas
sabe a dificuldade do Tocantins, não ter um clube, um time de futebol
referência, não tem um atleta de grande nível. Mais de um, porque a gente
tem o Eliésio [Miranda] que é referência em maratona, a gente tem o Felipe
Fraga que hoje disputa circuito internacional lá na Europa, de kart, mas
assim, não dava muita valorização ao seu trabalho. Você não cobria uma
série B de campeonato, porque não tem um time numa segunda divisão do
campeonato brasileiro. Copa do Brasil você cobria um, dois jogos já não
tinha mais trabalho porque o time do estado era eliminado. E acabou não me
despertando muito o interesse profissionalmente, porque eu não via assim,
um destaque maior, o seu trabalho mais valorizado. (LUZ, 2012).
Embora não tenha sido uma escolha inicial de todas, as entrevistadas, especialistas
na área, garantem que, especialmente com o tempo, criaram uma identificação com a
38
editoria. Luz afirma que foi “colocada na editoria de esportes, mas que sempre teve uma
paixão muito grande por esportes” destacando o voleibol, esporte que praticava, e o
futebol, modalidade que acompanhava.
Mesmo não sendo mais repórter exclusivamente de esportes, assim como Luz,
Ramos faz parte do quadro de jornalismo da TVE e ainda atua ocasionalmente em
coberturas esportivas. “Continuo trabalhando na Redesat, agora TVE Tocantins. Sou
repórter do Telejornalismo. Ainda faço algumas reportagens esportivas, mas não com
tanta freqüência” (RAMOS, 2012). A jornalista destaca ainda o seu interesse por
esportes, que existe independente das coberturas realizadas.
Mesmo assim gosto de estar bem informado sobre o esporte, tocantinense e
também brasileiro. Por isso, sempre estou acompanhando como andam as
competições e as participações dos atletas do estado em competições
nacionais e internacionais através de vários sites esportivos. (RAMOS, 2012)
O freqüente consumo de informações e estudo, aliados à simpatia por esportes,
também são caracterizados por Luz como ferramentas importantes para o jornalista
ingressar e permanecer na editoria de esportes.
No vôlei e no futebol eu encontrei facilidade porque eu já gostava, eu já
assistia jogos de futebol, aí eu fui colocada na editoria, me identifiquei, mas
assim, pra você ficar na editoria de esportes, ou você tem que gostar ou você
tem que estudar. Porque assim se você não for estudar a respeito, não for ler
regras das diferentes modalidades, você não se acerta na editoria. E não dura
muito tempo porque você não vai ser um profissional de excelência nem de
qualidade. Porque se você não entende do esporte, como que você vai cobrir?
Como que você vai pro campo de futebol se você não sabe o que é
impedimento, se houver esse lance como é que você vai colocar no seu texto.
Você não sabe o que é uma saída de bola, uma lateral, não tem como se você
não conhece as próprias posições dentro do campo. (LUZ, 2012)
O “gosto” pelo esporte é uma motivação para ingresso e permanência na editoria
esportiva, e, no caso das entrevistadas ele aconteceu em ocasiões e épocas diferentes das
carreiras. O interesse pelo esporte, mesmo não estando exclusivamente na editoria
esportiva, é ferramenta para alcançar o conhecimento, que segundo todos os
entrevistados, seja de mercado ou academia, concordaram ser o item fundamental para a
mulher no jornalismo esportivo, o que reitero considerar ser necessário a qualquer área
de atuação.
Alinhada ao pensamento de Luz, Tavares afirma que é preciso estar em constante
busca pelo conhecimento. Para a jornalista, o amadorismo do esporte local opera como
uma das grandes dificuldades para que as mulheres ingressem na área da cobertura
39
esportiva na capital tocantinense. Além da falta de realização de competições de grande
repercussão nas diversas modalidades, não existe grande investimentos dos meios de
comunicação nessa área o que faz com que o improviso seja recorrente na cobertura.
A dificuldade hoje, acho que é mais a busca constante pelo conhecimento.
Como as coisas acontecem muito rápido então se você ta ligada, se você ta
antenada, se você gosta daquilo que você faz acho que não tem assim, muita
dificuldade. A dificuldade você encontra no dia a dia, que nem aqui, no nosso
caso, no Tocantins, assim, tem uma pauta boa, porque a gente não tem assim
um esporte profissional, é tudo muito amador ainda. Então você tem que se
empenhar mais pra poder ajudar a crescer. Então acho que a dificuldade
maior é essa, mas do contrário acho que depende de cada um mesmo, da
força de vontade de cada um e acreditar em si mesmo, só isso. (TAVARES,
2012)
5.2 Particularidades femininas, preconceito e imagem
Luz destaca que, no início da carreira, foi vítima de manifestações
preconceituosas, vindas dos próprios colegas de trabalho, que questionavam a sua
competência para atuar no jornalismo esportivo pelo fato de ser mulher.
“Eu não senti [preconceito] quanto aos jogadores ou a delegação esportiva,
aos atletas, a diretoria. Eu senti com os próprios colegas de trabalho, mais
nesse ambiente. Foi minúsculo, mas foi uma coisa que me incomodou. Eu
chegava num campo, por exemplo, e tinha gente que me perguntava se eu
sabia o que era impedimento. Você assiste futebol? Assisto. Mas você sabe
de onde que é o Manchester United, de que país que é? Eu falei, sei sim.
Então eu era diariamente testada pelos colegas de trabalho e por gente na rua,
pela equipe do esporte quando eu ia cobrir não, mas vinha essas perguntas
que de certa forma eu via como preconceito, mas mais na brincadeira, uma
piada, um teste pra ver se realmente você estava fazendo aquilo que você
sabia. (LUZ, 2012)
Lidar com a desconfiança dos próprios colegas de trabalho foi mais uma das
dificuldades enfrentadas por Luz durante a sua carreira. No entanto, a jornalista destaca
que os recorrentes questionamentos acerca do esporte se tornaram uma espécie de
incentivo na busca do conhecimento. Mesmo assim, sofrer esse tipo de pressão “dentro
de casa”, pode ser um grande empecilho para que as mulheres tenham condições de
ascender e permanecer em determinada editoria, não só na de esportes. Há cinco anos na
editoria de esportes, Tavares afirma que “teve muita sorte porque muita gente fala
nisso”, mas que não sofreu nenhum tipo de preconceito por ser mulher e atuar na
editoria de esportes.
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“Quando eu comecei aqui eu ia pra tudo quanto é campo de futebol, no
interior, nossa assim, cada lugar que eu nem imaginava conhecer, então eu fiz
muito futebol, no começo. Mas nunca, nunca mesmo, a tratativa foi diferente,
sempre me receberam com muito carinho, com muito respeito,
particularmente eu não tive esse tipo de problema não.” (TAVARES, 2012).
Assim como Tavares, Ramos afirma não ter enfrentado manifestações
preconceituosas, mesmo estando inserida numa editoria historicamente masculina e
machista, afirmando que a sua postura foi determinante nesse aspecto.
Sempre tentei ser bem profissional no meu trabalho. Isso fez com que meus
companheiros de emissora me respeitassem. Claro que simpatia é legal, mas
não podemos deixar as pessoas confundirem. Afinal somos mulheres e
sempre vão existir piadinhas do tipo. “Nossa como essa repórter é gata”!
Temos que ter jogo de cintura nessa hora. (RAMOS, 2012)
O modo como os homens tratam as mulheres pode se dar de forma diferenciada
partindo do princípio das escolhas feitas por elas. Como já visto neste estudo, essa
tratativa diferenciada retoma a dois pontos importantes: a presença do mito da costela
de Adão, onde a mulher é frágil e precisa de proteção e ao temor masculino de que as
mulheres assumam funções antes exclusivas do sexo masculino. Tais sensações geram
reações que, muitas vezes, são exacerbadas pelos homens e se manifestam em forma de
preconceito.
O preconceito, vindo de qualquer pessoa, e de qualquer forma que se manifeste,
sem dúvida, é um obstáculo na vida de qualquer profissional, no exercício de qualquer
função. Pode funcionar como barreira, mas também pode funcionar como combustível
na busca por superação.
No jornalismo esportivo da capital tocantinense, é possível identificar a presença
feminina nas reportagens e apresentação de televisão, em detrimento de rádio e jornal
impresso. O uso da imagem é inevitável em se tratando de jornalismo de televisão, mas
Luz (2012) afirma que a imagem feminina é vista de forma diferente nos dias de hoje.
“Eu não acho que fica naquela imagem só de exploração feminina. Ah vai lá
você é mulher porque você consegue mais informação, porque você é mulher
o jogador vai te dar uma cantadinha, o diretor o presidente do time, ou o
técnico vai te passar informação. Acho que já é visto diferente hoje. Eu acho
que a imagem da mulher conta pela sensibilidade que ela tem de chegar no
jogador, chega com jeitinho, acho que explora isso, esse lado feminino,
delicado de chegar, pra tentar conseguir a informação, e não pela própria
beleza. As mulheres hoje elas estão mais profissionais, as mulheres hoje
estão lendo, estão assistindo jogos, estão assistindo reportagens, elas já tem
conhecimento quando elas chegam no campo. Já chegam com o respaldo por
trás, com toda a estrutura, com todo o embasamento, pra poder chegar. As
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mulheres que hoje trabalham com esporte já estão trabalhando com mais
profissionalismo, já conhecem bem e entendem da modalidade”. (LUZ, 2012)
Com essa análise, Luz permite que se faça uma reflexão sobre a diferenciação
entre homens e mulheres na cobertura esportiva de maneira que é possível perceber que
o uso das características femininas na realização do trabalho vai além da apresentação
da imagem da jornalista. Embora não seja possível generalizar, a sensibilidade e a busca
por detalhes, características femininas, são, para a jornalista, diferencial da mulher no
cumprimento de sua função.
No entanto, isso não significa que a “delicadeza” na abordagem seja a única
característica da mulher na cobertura esportiva. A freqüente busca por conhecimento
também permitiu às jornalistas o crescimento e consolidação na editoria de esportes.
Seguindo essa “máxima” a respeito da busca pelo conhecimento, Ramos reafirma
a importância de deixar que sobressaia a competência em detrimento da imagem.
O que deve ser levado em conta é o profissionalismo. Independente do sexo.
A mulher tem as mesmas condições de exercer um bom trabalho dentro ou
fora de um campo de futebol, nas piscinas, no tatame ou até mesmo em um
ringue de boxe, basta que ela estude e entenda as regras de cada modalidade
esportiva. Assim saberá debater e explicar qualquer esporte. Mas é claro que
a mulher tem um charme a mais, claro que aparência conta, só não pode
deixar que seja apenas isso. (RAMOS, 2012)
Para Tavares, o jornalista esportivo tem uma responsabilidade com a imagem, que
vai além da beleza, mas atinge a importância da transmissão de uma imagem saudável
que, segunda ela, deve ser uma das características de quem atua na cobertura esportiva.
“Antigamente era um meio, mais dominado pelos homens, acho que assim,
estética é importante, mas acho que, por exemplo, quando eu comecei aqui
no esporte, eu sempre gostei muito de esporte, só que eu era meio sedentária,
só que teve uma época que eu comecei a dar uma engordada, agora imagina
uma apresentadora de esporte, meio fora de forma, falando pra você em casa
entrar em forma, não dá, né? Então tem que dar uma cuidada também por
causa disso”. (TAVARES, 2012)
Neste caso, a jornalista entende que um corpo bonito, dentro dos padrões de
beleza, é sinônimo de corpo saudável, subentendendo que todos os telespectadores
fariam essa associação. No entanto é importante dar destaque à saúde, e não apenas ao
fato de estar dentro de um padrão de beleza criado pela mídia. Confiar na interpretação
42
óbvia dos telespectadores pode ser um risco e é preciso entender que o jornalista, como
formador de opinião, deve estar atento a tais sutilezas.
Luz destaca que houve um crescimento da presença feminina na cobertura
esportiva em nível estadual em decorrência do interesse das mulheres e da busca por
conhecimento.
Hoje se você pegar no Tocantins, por exemplo, já tem mais pessoas cobrindo.
Tem mulheres no interior e na capital tendo oportunidade nessa área, por ter
quebrado esse tabu de que é uma profissão totalmente masculina, já não é
mais, as mulheres estão interessadas e as mulheres têm presença de vídeo,
chegam bem aos entrevistados, elas tem mais essa facilidade, então eu acho
que o mercado ta aberto, tem vaga sim pras mulheres, elas tem oportunidade
e estão se preparando. Tanto é que das faculdades já sai uma turma boa que
quer trabalhar justamente com esporte. (LUZ, 2012)
Ao destacar a “sensibilidade” e a “presença de vídeo” Luz dá indícios de que,
inevitavelmente as características femininas são instrumentos que favorecem as
mulheres quanto ao ingresso no jornalismo esportivo, mais especificamente na
televisão.
5.3 A presença feminina na editoria de esportes
Muito embora ainda seja uma área com forte presença masculina, o interesse pelo
esporte e principalmente a eminente realização de grandes eventos esportivos no Brasil
têm mudado essa realidade. No Tocantins ainda não há um número significativo de
mulheres realizando cobertura esportiva, mas o crescimento já acontece de forma
discreta, de uns anos pra cá, embora ainda esbarre no problema de o mercado de
comunicação esportiva ser tão pequeno no Estado.
Dados da Associação de Cronistas Esportivos do Tocantins (Aceto) mostram essa
diferença em nível estadual. Em todo o Tocantins, 55 homens e apenas três mulheres
(duas em Palmas e uma em Araguaína) são filiadas à entidade. Mesmo sendo uma
entidade de classe, sem filiação obrigatória, os dados da Aceto são reflexo da realidade
tocantinense.
Tavares (2012) atribui o crescimento do número de mulheres na cobertura
esportiva ao crescente interesse feminino das mulheres pelas mais diversas
43
modalidades, mas também ao formato do esporte na televisão, definido por era como
uma “nova linguagem”.
“Hoje em dia não, a mulherada entende mesmo, eu acho que a televisão
ajudou bastante pra isso, com esse formato novo, todos os programas estão
tentando passar [...] com essa linguagem bem diferente do que era usado
habitualmente mudou muito então a mulherada começou a se interessar por
futebol. E hoje em dia tem muitas mulheres que entendem de futebol, de artes
marciais, tudo segmentado mesmo, então acho que hoje mudou muito, e elas
gostam e entendem também”. (TAVARES, 2012)
Enquanto Luz e Tavares destacam a falta de profissionalização do esporte estadual
como fator determinante na compreensão do pouco número de mulheres na cobertura
esportiva, Ramos atribui esse número à falta de interesse por parte das mulheres.
Aqui no Tocantins o numero de profissionais que trabalham nessa área ainda
é pouco. Mas no Brasil este número vem crescendo. O importante é a pessoa
fazer o que gosta. Espaço com certeza tem. No meu ponto de vista não tem
dificuldades. Falta na verdade interesse. Muitos programas e sites esportivos
estão abertos a procura de profissionais. (RAMOS, 2012)
Ao destacar a falta de interesse das profissionais como fator para o pouco número
de mulheres nas editorias de esporte, Ramos contraria o que foi possível observar ao
longo da pesquisa – o mercado do jornalismo esportivo na capital ainda não passou por
uma consolidação que permitisse a contratações de muitos profissionais, e os que
atuam, em sua maioria são homens.
Para entender um pouco mais a presença das mulheres no jornalismo esportivo
sob a ótica do mercado de trabalho, foi entrevistado Alessandro Abate, editor do Lance!,
grupo de comunicação de grande destaque na comunicação esportiva nacional com
atuação na internet, com variadas ferramentas, e no jornal impresso.
Segundo Abate, o crescimento da participação feminina na cobertura esportiva se
deve a um maior interesse das mulheres pelo esporte.
O interesse pelas mulheres no jornalismo esportivo é cada vez maior, agora
elas estão em fase de capacitação para um melhor desempenho na área, se
aprofundando. As mulheres têm se interessado mais por esportes, e de uma
maneira mais aprofundada. Com isso, elas são altamente capacitadas a entrar
na área por terem qualidades diferentes do homem, como a maneira de
conduzir uma entrevista e quebrar o clima ruim com algum atleta. (ABATE,
2012)
44
Ressaltando características femininas, a opinião de Abate vai ao encontro do
relato de Luz, determinando um ponto positivo para as mulheres no que se refere à
diferença para os homens na cobertura esportiva.
No entanto, mesmo de forma sutil, é possível observar que o editor atribui às
mulheres certa parcela de culpa pelo preconceito sofrido no ambiente de trabalho, ao
afirmar que “isso ocorre pelo ambiente machista dos atletas, muitas vezes apresentam
pouca instrução, e pela própria postura de algumas mulheres dentro do jornalismo
esportivo”, sem especificar ao que se refere como a “postura de algumas mulheres”
dentro da editoria de esportes.
Abate destaca a televisão como mídia onde há maior presença feminina na
cobertura esportiva e explica:
Elas ainda têm mais espaço na televisão, por uma questão estética e porque
podem ser preparadas pelos editores, auxiliadas no conteúdo. Em impressos
de mais fôlego, como revistas, elas também se destacam por escreverem com
mais detalhes. (ABATE, 2012)
A opinião do editor reforça a ideia de que as mulheres estão despreparadas para a
cobertura esportiva e que a atuação na televisão se dá pela “facilidade” de atuar numa
mídia que oferece preparação, auxílio e suporte às mulheres, por parte dos editores, em
sua maioria homens. Com isso, observa-se, segundo Abate, que, devido ao despreparo e
pela possibilidade de receber ajuda masculina no ambiente de trabalho, as mulheres
estão mais presentes na televisão, em detrimento de outros veículos que “exigiriam
mais” da capacidade da profissional.
Ao falar da mulher atuando mais na televisão pela “ajuda” que recebe, Abate
critica e diminui a mulher a posto de agente executor e excluindo o seu papel de
pensadora. O profissional afirma ainda que as mulheres escrevem com riqueza de
detalhes, e por isso, as redações de revista, onde, em geral as reportagens são mais
complexas e muitas vezes atemporais, também seriam locais ocupados pelas jornalistas
esportivas.
A observação do profissional, no entanto, permite afirmar que veículos mais
imediatistas e que exigem acompanhamento diário dos fatos como online e jornal
impresso diário ainda não são ocupados pelas jornalistas esportivas.
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Abate destaca ainda que a dificuldade em ter reconhecimento da capacidade
profissional esbarra justamente na exploração da imagem, ao afirmar que a questão da
imagem “ainda é colocada de forma errada. A mulher é vista como um bibelô que tem
de enfeitar a matéria, seu conteúdo e capacidade são colocados em segundo plano”
(ABATE, 2012).
Essa afirmação reforça a ideia do uso excessivo da imagem em detrimento do
conhecimento da jornalista, o que contribui para reforçar na sociedade o pensamento de
que beleza pode ser mais importante do que competência nesta área de atuação.
O jornalista afirma que é possível haver um crescimento ainda maior da atuação
das mulheres na cobertura esportiva, mas esse crescimento e consolidação na carreira
esbarram em diversos aspectos.
A mulher tem uma certa defasagem de conteúdo em relação aos homens, pelo
menos a maioria deles. Antes de cursos técnicos, elas precisam se preparar
em questão de repertório, e a melhor forma disso ser feito é lendo muito e
acompanhando o que está sendo oferecido pelo mercado. Em um segundo
passo, a capacitação para as mídias e linguagem adequada para cada uma
delas e um cuidado muito grande com a postura séria e a imagem que ela
quer construir de si mesma. (ABATE, 2012)
Quando afirma “certa defasagem de conteúdo em relação aos homens”, Abate não
só generaliza, mas abertamente expõe um olhar sexista ao colocar a mulher em posição
inferior à do homem no jornalismo esportivo em um momento que as mulheres têm
ganhado cada vez mais espaço na cobertura jornalística. Além disso, o jornalista
comenta a necessidade de ter o que chama de “postura séria” o que aqui consideramos
uma observação a ser feita para qualquer profissão, em qualquer área, e que vai além da
atuação das mulheres no jornalismo esportivo. Abate destaca o conhecimento como
ferramenta primordial para as mulheres que desejam ingressar e permanecer na editoria
de esportes.
O professor José Carlos Marques, docente da Universidade Estadual de São
Paulo, destacou a participação das mulheres no jornalismo esportivo como algo
“positivo e benéfico para o jornalismo esportivo, ainda que as mulheres ocupem papel
secundário nas tarefas relacionadas a essa editoria” (MARQUES, 2012).
46
Para o professor, o crescimento do número de mulheres que atuam no jornalismo
esportivo está diretamente ligado ao número de mulheres que ingressam nos cursos de
jornalismo e também à emancipação feminina.
Por um lado, ao número de mulheres que ingressam nos cursos de
Comunicação Social em todo o país. Não disponho de dados, mas posso falar
pela minha experiência pessoal: as mulheres têm composto cerca de 2/3 dos
alunos das turmas para as quais dou aula. Por outro lado, ao fato de o esporte
ter deixado de ser um assunto menor, destinado apenas aos homens. O
processo de emancipação da mulher na sociedade brasileira fatalmente a
levaria a ingressar também em redutos muito masculinizados, como o do
jornalismo esportivo. (MARQUES,2012)
Com essa análise, Marques destaca não somente o crescimento do interesse das
mulheres pelo jornalismo e pelo esporte, mas também o crescimento das conquistas
femininas ao longo dos anos. O jornalismo esportivo ainda é um campo masculinizado,
mas as mulheres estão quebrando mais essa barreira da sociedade brasileira na busca
por espaço e reconhecimento no mercado de trabalho.
O crescimento do jornalismo esportivo e o aumento do número de mulheres que
atuam nesta área é referência deste estudo, e é mais uma das áreas nas quais as mulheres
conquistam seu espaço, mas que não estão isentas de vivenciar discriminação pelo
simples fato de serem mulheres.
Marques destaca que reconhece a existência do preconceito. “O mundo do
jornalismo esportivo, no Brasil e no exterior, é muito machista e pouco aberto ao
diferente” (2012). Muitas vezes, talvez os homens subestimem o conhecimento das
mulheres, mas com o crescimento da participação feminina na editoria de esportes, o
preconceito também pode ser interpretado como forma de defesa de um homem que
teme perder espaço e cargos para mulheres que estão cada vez mais conscientes e com
alto nível de conhecimento, especialmente na era da informação.
Ciente do uso da imagem da mulher no jornalismo, Marques reforça que a
participação feminina é mais recorrente no jornalismo de televisão, e discorre:
Por questões estéticas, as mulheres predominam na televisão. Há algumas
tentativas isoladas no rádio (como é o caso da Rádio CBN de São Paulo, que
conta com repórteres mulheres) e uma presença ainda tímida nos jornais. Às
mulheres ainda fica destinado o trabalho de preencher a tela com sua beleza
ou o de ler mensagens num computador. As mulheres não ocupam o posto de
locutores de rádio e TV, nem o de comentaristas de transmissões.
(MARQUES, 2012)
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A análise feita pelo professor remete à declaração de Abate sobre o uso da
imagem feminina no jornalismo de televisão, mas diferente da opinião do editor,
Marques demonstra como o mercado, mesmo que de forma tímida, absorve as mulheres
em outras mídias, como o rádio.
No entanto, considerando que a atuação da mulher no jornalismo esportivo em
Palmas se dá com maior ocorrência na televisão, incluindo as entrevistadas desta
pesquisa, e que os três especialistas concordam que as mulheres estão presentes em
maior número no jornalismo esportivo de televisão, não há como negar que este seja o
veículo onde o espaço destinado às mulheres seja maior, por razões estéticas ou não.
Marques, entretanto, destaca uma das formas de iniciar uma mudança no mercado.
As mulheres devem conquistar seu espaço demonstrando competência e
qualidade na profissão, o que advém a partir de muita leitura e de muito
estudo. Por outro lado, seria desejável que as mulheres recusassem o papel de
mero atributo estético nas transmissões televisivas. (MARQUES, 2012)
O editor-chefe da TV Anhanguera Tocantins, Rogério Silva, avalia o crescimento
da presença feminina nas editorias de esporte como reflexo de diversos fatores como o
investimento dos veículos na cobertura em quantidade e qualidade.
A presença da mulher no jornalismo esportivo passou a ser mais evidente na
medida em que os veículos ampliaram seu leque de cobertura, deixando de se
registrar ao dia a dia do futebol profissional. Na televisão, a presença é mais
expressiva porque segue uma tendência iniciada nos anos 80 quando as
mulheres passaram a ser maioria nas escolas de Jornalismo. Por outro lado, a
cobertura abandonou o tecnicismo das coberturas futebolísticas para dar lugar
a assuntos de comportamento envolvendo a vida dos atletas e do público.
(SILVA, 2012)
O pensamento de Silva (2012) difere de Luz (2012) quando fala sobre cobertura,
uma vez que a repórter destacou a dificuldade em trabalhar na cobertura esportiva do
Tocantins, especialmente no que se refere à falta de profissionalização do esporte no
Estado. No entanto, é possível identificar no que Silva aborda como cobertura
diferenciada, envolvendo assuntos diversos, uma peculiaridade do jornalismo esportivo
tocantinense, sempre destacando personagens sob diversos olhares, ocupando o espaço
deixado pelas dificuldades do esporte profissional.
Silva (2012) atribui o aumento do número de mulheres no jornalismo ao processo
natural, que decorre do aumento de mulheres nas faculdades de comunicação. No
entanto, quanto à atuação ainda discreta no jornalismo esportivo, Silva concorda com
48
Abate, destacando que, embora haja esse crescimento, é possível observar que ele não
se dá de forma homogênea, e que as mulheres conquistaram espaço na academia, mas
ainda buscam oportunidades no mercado.
Se na academia a mulher passou a ser maioria, no mercado, tempos depois, o
fenômeno não poderia ser diferente. Pelo contrário, nos veículos tradicionais,
em especial rádio e televisão, começa a ser sentida a presença de
profissionais do sexo masculino. Principalmente, televisão e internet. Nas
redações de jornal e rádio a predominância ainda é dos homens. Mas ainda
existem áreas a serem conquistadas, como por exemplo, a transmissão de
jogos. (SILVA, 2012)
O espaço nas editorias de esporte já é uma realidade discreta na vivência da
mulher jornalista, não só no Tocantins, mas em todo o país. No entanto, a presença
feminina na televisão em detrimento de outros veículos, dificulta separar imagem de
conteúdo, relação freqüente no imaginário popular.
Sob o olhar do editor-chefe da TV Anhanguera, o preconceito com as mulheres
pode existir “em um ou outro veículo interiorano ou mais conservador [...] mas em
geral, a relação homem-mulher nas redações está bem madura”.
Silva afirma que o esforço da repórter deve ser permanente na busca por
especialização, ferramenta fundamental para a manutenção da jornalista no mercado.
Como em qualquer área do jornalismo, é fundamental ter empenho e
dedicação. Manter-se informada dos acontecimentos e dos assuntos da área
que estiver interessada e não ter medo de correr atrás do seu desejo. Ainda há
muito espaço nas empresas para gente com vontade de fazer. (SILVA, 2012)
Retomando a evolução das mulheres no que se refere à conquista de espaço no
esporte – prática, divulgação e cobertura, Bahia (2012) reitera as características deste
processo e o combustível para essa revolução, que muitas vezes acontece de forma
silenciosa.
Assim como na prática dos esportes a participação feminina era modesta e só
há pouco tempo passou a ser aceita e ter aumento contínuo, também nas
coberturas jornalísticas dos eventos esportivos a presença feminina, que era
quase nenhuma, começou a despontar. Inicialmente as repórteres cobriam
modalidades amadoras e hoje, consolidando sua conquista de espaços,
cobrem com competência, inclusive futebol. Movidas por este desafio, as
repórteres vêm tentando alterar o conceito pré-estabelecido de que a
reportagem esportiva é atividade masculina. (BAHIA, 2012 p.10)
49
Com as análises é possível observar que a busca pelo conhecimento como aspecto
fundamental para a cobertura esportiva por parte das mulheres é o ponto convergente
entre os entrevistados dessa pesquisa. Adquirir informações dia após dia e realizar
pesquisas são ferramentas que facilitam o trabalho e consolidam a mulher enquanto
jornalista, no entanto é preciso reiterar que isso não deve ocorrer apenas nas editorias de
esporte, mas no exercício de qualquer função, jornalística ou não.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisar a trajetória das mulheres na editoria de esportes em Palmas esbarra em
diversos obstáculos, como a falta de profissionais que atuam exclusivamente na área.
Ao longo da pesquisa foi possível notar que a falta de incentivo ao esporte e à cobertura
esportiva são fatores que interferem na pouca inserção das mulheres no mercado de
trabalho do jornalismo esportivo.
O objetivo inicial deste trabalho era analisar a trajetórias das jornalistas que atuam
nas editorias de esportes na capital tocantinense. Ao longo da pesquisa acrescentamos o
ponto de vista de homens que estão envolvidos, seja no mercado de trabalho ou na
academia, com a área de jornalismo esportivo para acrescentar, ao ponto de vista das
mulheres, uma visão de um ator que participa do mesmo espaço de ação profissional da
mulher.
50
Com a pesquisa foi possível observar que ainda hoje as mulheres enfrentam
dificuldades para ingressar e permanecer em atividades historicamente masculinas.
Além disso, um aspecto recorrente da atuação feminina no jornalismo esportivo
brasileiro também se reflete no Tocantins – a presença das mulheres na televisão em
detrimento de outros veículos, que, infelizmente reforça o uso da imagem e beleza
feminina em detrimento do conteúdo.
Mesmo sem encontrar dados específicos, nota-se na comunicação brasileira a
atuação crescente das mulheres no jornalismo esportivo de televisão e a pouca
ocorrência de repórteres mulheres no jornalismo impresso e de rádio.
Por outro lado, embora no Tocantins a atuação ainda seja discreta, com a análise
bibliográfica feita ao longo da pesquisa, é possível compreender mais o que já vemos
nas ruas: as mulheres vêm quebrando barreiras e ganhando espaço nas mais diversas
“áreas masculinas” e isso ocorre com força no jornalismo esportivo.
O jornalismo esportivo passa por um crescimento, e os noticiários de esporte
ganham espaço e força em todo o país. Esse fenômeno tende a se fortalecer com a
realização de grandes eventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e
as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.
Tais fatores tendem a contribuir para o aumento da cobertura esportiva bem como
para o ingresso das mulheres em tal cobertura.
A inserção do Tocantins nesta perspectiva pode mudar a realidade da atuação das
mulheres na editoria de esportes, mas isso passa por investimento na formação de
profissionais, na formação de atletas e na infraestrutura esportiva do Estado, em especial
da capital, Palmas.
O presente trabalho buscou analisar a trajetória das mulheres nas editorias de
esporte em Palmas, mas dada a dificuldade em encontrar dados históricos, bem como a
negativa de repórteres que se disseram “não especialistas” na área em ceder entrevistas
não foi possível desvendar em profundidade a trajetória das mulheres no jornalismo
esportivo em Palmas.
O resultado final foi um olhar sobre a vivência de três repórteres com relativa
força de atuação na área de esporte, estabelecendo uma relação sobre a realidade de
Palmas com a história das mulheres na luta por igualdade de gênero em diversos
aspectos sociais, atentando ainda para a questão da imagem no jornalismo de televisão.
51
Contudo, pudemos observar que devido às características do mercado de trabalho
em Palmas, as mulheres ainda não conquistaram o seu espaço no jornalismo esportivo,
que tem pouca atividade na capital, mas assim como em diversas partes do país, a
televisão é o veículo onde elas mais atuam.
Longe dos grandes centros esportivos do país, a capital tocantinense precisa
passar por um forte investimento na área esportiva em diversos aspectos. O que se vê
hoje, são atletas com potencial nas mais variadas modalidades, migrando para outros
lugares do país, não só na região sul e sudeste, mas também em outras capitais da região
norte, onde o esporte é mais valorizado.
O futebol, que em determinados momentos da pesquisa se tornou referência deste
estudo por ser “a paixão nacional” e “esporte especializado que não permitia a cobertura
feminina”, não se consolidou no Estado e esse problema é justificado pela pouca idade
do Tocantins, e falta de identificação da torcida, o que, na minha opinião, é uma grande
desculpa para a falta de investimento e profissionalismo no esporte.
Na sociedade capitalista, com cultura de consumo, é inevitável que todo
investimento que se faça, seja feito com expectativa de retorno. Talvez esse seja um dos
motivos pelos quais os veículos de comunicação presentes na capital não invistam tanto
na cobertura do esporte local, uma vez que, se o público não tem um ídolo, um clube do
coração em nível local, não se interessará tanto pelo consumo das informações, e não
dará audiência.
Por outro lado, como vimos neste estudo, a mídia é responsável também pela
“produção” de ídolos, e se não houver investimento na cobertura esportiva, na
divulgação dos patrocinadores esportivos locais, o esporte estará fadado ao fracasso. Por
mais complicado que pareça, o que é necessário para a evolução do jornalismo esportivo
local é encontrar um consenso entre esporte e mídia.
É importante ressaltar ainda, que, com as ferramentas corretas para o crescimento
do jornalismo esportivo, é possível que a participação feminina no jornalismo esportivo
em Palmas cresça nos próximos anos e que esta pesquisa, realizada sob o olhar das
conquistas femininas, abre espaços para debates que vão desde a academia, com o
incentivo a disciplinas nas faculdades de comunicação voltadas para o jornalismo
esportivo, bem como ao fomento do esporte e cobertura esportiva local.
52
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56
APÊNDICES
57
APÊNDICE A – ENTREVISTA ALCIONE LUZ
Pesquisador: Como foi a sua trajetória até chegar à editoria de esportes, você tinha
interesse em atuar na área ou foi uma coisa que acabou acontecendo?
Entrevistado: Eu estava fazendo estágio num jornal local, no jornal do Salomão, daí
surgiu uma vaga, que eu tava na editoria de Estado, aí houve um remanejamento dentro
da própria empresa, aí falou ah, você vai ficar com o esporte. Eu comecei assim no
esporte, ah, agora você vai fazer um teste no esporte, porque no estágio, você não
escolhe a editoria, você ainda não é especialista, eu comecei assim no esporte. Aí eu
trabalhei um ano e pouco, aí surgiu uma oportunidade num jornal diário, aí eu fui pra lá,
eu trabalhei uns quatro.. cinco anos, como repórter de esporte. Aí o jornal fechou eu fui
pra um outro jornal e peguei a editoria de esportes. Isso no jornal impresso. Aí do jornal
impresso eu fui pra televisão. Aí eu fiquei três anos como repórter e apresentadora do
programa de esportes.
Pesquisador: E hoje?
Entrevistado: Aí eu saí do esporte. Mas assim, eu saí do esporte não porque eu não
gostasse da editoria, porque assim, mas sabe a dificuldade, do Tocantins, não ter um
clube, um time de futebol referência, não ter um atleta de grande nível, assim, mais de
um né, porque a gente tem o Eliésio [MIRANDA] que é referência em maratona, a
gente tem o Felipe Fraga que hoje disputa circuito internacional lá na Europa, de kart,
mas assim, não dava muita valorização ao seu trabalho. Você não cobria uma série B de
campeonato, porque não tem um time numa segunda divisão do campeonato brasileiro.
Copa do Brasil você cobria um, dois jogos já era eliminado. E acabou me despertando
muito o interesse profissionalmente, porque eu não via assim, um destaque maior, o seu
trabalho mais valorizado. Cobrir aí a última divisão de um campeonato nacional, por
exemplo né?
Pesquisador: Resumindo, você começou no esporte porque foi parar lá, mas
acabou gostando.
Entrevistado: Sim, eu fui colocada na editoria de esportes, mas assim, eu sempre tive
uma paixão muito grande por esportes, mas em duas modalidades que era o vôlei, que
eu praticava, e o futebol, que eu sempre assisti futebol. Aí eu encontrei mais facilidades,
você ia me perguntar das dificuldades, nesses eu encontrei facilidade porque eu já
gostava, eu já assistia jogos de futebol, aí eu fui colocada na editoria, me identifiquei,
mas assim, pra você ficar na editoria de esportes, ou você tem que gostar ou você tem
que estudar. Porque assim se você não for estudar a respeito, não for ler regras das
diferentes modalidades, você não se acerta na editoria. E não dura muito tempo porque
você não vai ser um profissional de excelência nem de qualidade. Porque se você não
entende do esporte, como que você vai cobrir? Como que você vai pro campo de futebol
se você não sabe o que é impedimento, se houver esse lance como é que você vai
colocar no seu texto. Você não sabe o que é uma saída de bola, uma lateral, não tem
como se você não conhece as próprias posições dentro do campo.
Pesquisador: Como que você avalia o uso da imagem e do corpo especificamente
no jornalismo de televisão?
Entrevistado: Eu não acho que fica naquela imagem só de exploração feminina. Ah vai
lá você é mulher porque você consegue mais informação, porque você é mulher o
jogador vai te dar uma cantadinha, o diretor o presidente do time, ou o técnico vai te
58
passar informação. Acho que já é visto diferente hoje. Quando eu comecei, achei que
tinha mais isso, porque quando eu comecei, se eu não me engano tinha duas repórteres
mulheres cobrindo esporte aqui no Tocantins. Hoje você já tem mais de uma, mais de
cinco pessoas cobrindo, especificamente o esporte, se você pegar o retrospecto aqui.
Mas eu acho que não, eu acho que a imagem da mulher conta pela sensibilidade que ela
tem de chegar no jogador, não tem aquela coisa ah lançando a pergunta, chega com
jeitinho, acho que explora isso, esse lado feminino, delicado de chegar, pra tentar
conseguir a informação, e não pela própria beleza. As mulheres hoje elas estão mais
profissionais, as mulheres hoje estão lendo, estão assistindo jogos, estão assistindo
reportagens, elas já tem conhecimento quando elas chegam no campo. Já chegam com o
respaldo por trás, com toda a estrutura, com todo o embasamento, pra poder chegar. Não
chegam mais sem saber o que é aquilo no campo. Então as mulheres que hoje trabalham
com esporte já estão trabalhando com mais profissionalismo, já conhecem bem e
entendem da modalidade.
Pesquisador: Já sofreu algum tipo de preconceito quando você iniciou a sua
carreira no jornalismo esportivo?
Entrevistado: Eu não senti quanto a jogadores né ou a própria equipe de esportes, a
delegação esportiva, os atletas, a diretoria. Eu senti com os próprios colegas de trabalho,
mais nesse ambiente. Foi minúsculo, mas foi uma coisa que me incomodou. Foi
pequena mas me incomodou bastante. Eu chegava num campo por exemplo e tinha
gente que me perguntava se eu sabia o que era impedimento. Você assiste futebol?
Assisto. Mas você sabe de onde que é o Manchester United, de que país que é e que
clube ele é. Eu falei, sei sim. Então eu era diariamente testada pelos colegas de trabalho
e por gente na rua, pela equipe do esporte quando e ia cobrir não, mas vinha essas
perguntas que de certa forma eu via como preconceito, mas mais na brincadeira, uma
piada, um teste pra ver se realmente você estava fazendo aquilo que você sabia.
Pesquisador: Como que você vê hoje a presença das mulheres no jornalismo
esportivo?
Entrevistado: Ah eu acho que avançou bastante, por exemplo, eu comecei em 2000, nós
éramos duas que cobria especificamente diariamente esporte. Hoje se você pegar no
Tocantins por exemplo já tem mais de cinco pessoas cobrindo. Tem mulheres no
interior na capital tendo oportunidade e evoluiu bastante, por ter quebrado esse tabu de
que é uma profissão totalmente masculina, já não é mais, as mulheres estão interessadas
e as mulheres assim, tem presença de vídeo, chegam bem aos entrevistados, elas tem
mais essa facilidade, então eu acho que o mercado ta aberto, tem vaga sim pras
mulheres, elas tem oportunidade e estão se preparando. Tanto é que das faculdades já
sai uma turma boa que quer trabalhar justamente com esporte.
Pesquisador: Na sua opinião quais são as dificuldades das mulheres pra ingressar e
se manter nas editorias de esporte?
Entrevistado: Pra ingressar eu acho que a dificuldade é a falta de conhecimento. Porque
você ta numa editoria de repente, ai de repente você é puxada praquela editoria. Eu já
encontrei colegas meus por exemplo que elas não entendem aí chegam e falam me ajuda
pelo amor de Deus quem é esse time, quem é que fez o gol, entendeu? Eu acho que é
essa a principal dificuldade de você não conhecer da área. Porque. ah você entende de
política, é mais fácil, você entende um pouquinho, você vê na televisão. A mulher por
exemplo no futebol, a mulher não costuma acompanhar, a dificuldade então é essa. Pra
se manter eu acho que é romper esse tabu de que a mulher dá conta do serviço, de que
59
ela é capaz de pegar uma editoria, de conseguir entender o campeonato, de acompanhar
o dia a dia dos clubes a troca no mercado da bola aí de jogadores, quem contrata quem,
identificar a posição, essa é a dificuldade pra se manter nesse trabalho. Você falar que
você entende, é capaz de fazer e provar no dia a dia que você é capaz.
Pesquisador: Atualmente você ta trabalhando em qual veiculo e quais editorias
você costuma cobrir?
Entrevistado: Hoje eu trabalho na editoria de jornalismo da Redesat, eu sou repórter de
rua e hoje eu cubro de tudo. Desde o palácio até o campo de futebol. Lógico que eu
continuo fazendo esporte. Porque lá a gente não tem um programa específico mais então
você vai a rua e cobre de tudo. E assim, por eu ter acompanhado especificamente o
esporte, eu sou priorizada pras reportagens de esporte. Então assim, a empresa confia no
meu trabalho. Se vier uma equipe nacional qualquer ou uma competição de destaque,
eles preferem mandar a mim, que já tenho conhecimento, do que gente que nunca foi
num campo de futebol, não tem conhecimento. Então assim, hoje eu cubro de tudo e
continuo gostando do esporte, se eu tivesse a oportunidade de assim, chegarem em mim,
se montarem um programa de esporte, você vai fazer? Faço com o maior prazer. Assim
eu saí pela dificuldade, mas eu sonho em ver o esporte do Tocantins melhorando né?
60
APÊNDICE B – ENTREVISTA ALESSANDO ABATE
Pesquisador: Como você avalia o crescimento da participação feminina no
jornalismo esportivo?
Entrevistado: O interesse pelas mulheres no jornalismo esportivo é cada vez maior,
agora elas estão em fase de capacitação para um melhor desempenho na área, se
aprofundando. Ainda falta mais cultura e linguagem a um grande número de mulheres,
mas estão em um bom caminho.
Pesquisador: A que você atribui esse crescimento?
Entrevistado: As mulheres têm se interessado mais por esportes, e de uma maneira mais
aprofundada. Com isso, elas são altamente capacitadas a entrar na área por terem
qualidades diferentes do homem, como a maneira de conduzir uma entrevista e quebrar
o clima ruim com algum atleta.
Pesquisador: Ainda há preconceito?
Entrevistado: Muito, isso ocorre pelo ambiente machista dos atletas, muitas vezes
apresentam pouca instrução, e pela própria postura de algumas mulheres dentro do
jornalismo esportivo.
Pesquisador: Em quais mídias, na sua opinião, elas mais se destacam?
Entrevistado: Elas ainda têm mais espaço na televisão, por uma questão estética e
porque podem ser preparadas pelos editores, auxiliadas no conteúdo. Em impressos de
mais fôlego, como revistas, elas também se destacam por escreverem com mais
detalhes.
Pesquisador: Na sua opinião, como é trabalhada a questão da imagem da mulher
no jornalismo esportivo?
Entrevistado: Ainda é colocada de forma errada. A mulher é vista como um bibelô que
tem de enfeitar a matéria, seu conteúdo e capacidade são colocados em segundo plano.
Pesquisador: O que você acha que deve e que não deve ser feito desde a graduação
para que mais mulheres se interessem e tenham espaço no mercado do jornalismo
esportivo?
Entrevistado: A mulher tem uma certa defasagem de conteúdo em relação aos homens,
pelo menos a maioria deles. Antes de cursos técnicos, elas precisam se preparar em
questão de repertório, e a melhor forma disso ser feito é lendo muito e acompanhando o
que está sendo oferecido pelo mercado. Em um segundo passo, a capacitação para as
mídias e linguagem adequada para cada uma delas e um cuidado muito grande com a
postura séria e a imagem que ela quer construir de si mesma.
61
APÊNDICE C – ENTREVISTA JOSÉ CARLOS MARQUES
Pesquisador: Como você avalia o crescimento da participação feminina no
jornalismo esportivo?
Avalio como algo positivo e benéfico para o jornalismo esportivo, ainda que as
mulheres ocupem papel secundário nas tarefas relacionadas a essa editoria.
Pesquisador: A que você atribui esse crescimento?
Por um lado, ao número de mulheres que ingressam nos cursos de Comunicação Social
em todo o país. Não disponho de dados, mas posso falar pela mimha experiência
pessoal: as mulheres têm composto cerca de 2/3 dos alunos das turmas para as quais dou
aula. Por outro lado, ao fato de o esporte ter deixado de ser um assunto menor,
destinado apenas aos homens. O processo de emancipação da mulher na sociedade
brasileira fatalmente a levaria a ingressar também em redutos muito masculinizados,
como o do jornalismo esportivo.
Pesquisador: Ainda há preconceito?
Sim, ainda há muito preconceito. O mundo do jornalismo esportivo, no Brasil e no
exterior, é muito machista e pouco aberto ao diferente.
Pesquisador: Em quais mídias, na sua opinião, elas mais se destacam?
Por questões estéticas, as mulheres predominam na televisão. Há algumas tentativas
isoladas no rádio (como é o caso da Rádio CBN de São Paulo, que conta com repórteres
mulheres) e uma presença ainda tímida nos jornais.
Pesquisador: Na sua opinião, como é trabalhada a questão da imagem da mulher
no jornalismo esportivo?
Às mulheres ainda fica destinado o trabalho de preencher a tela com sua beleza ou o de
ler mensagens num computador. As mulheres não ocupam o posto de locutores de rádio
e TV, nem o de comentaristas de transmissões.
Pesquisador: O que deve e o que não deve ser feito para que cresçam as
oportunidades e a participação feminina no jornalismo esportivo?
As mulheres devem conquistar seu espaço demonstrando competência e qualidade na
profissão, o que advém a partir de muita leitura e de muito estudo. Por outro lado, seria
desejável que as mulheres recusassem o papel de mero atributo estético nas
transmissões televisivas.
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APÊNDICE D – ENTREVISTA RENATA RAMOS
Pesquisador: Como foi a sua trajetória até chegar à editoria de esportes, você tinha
interesse em atuar na área ou foi uma coisa que acabou acontecendo? Entrevistado: Comecei a trabalhar com esporte quando ainda cursava a universidade,
meu primeiro passo na carreira esportiva foi como estagiaria no programa Esporte Mais,
exibido pela Redesat, canal 13, de segunda a sexta-feira 12:45 às 13:30h. Sempre quis
trabalhar com esporte, mas não queria fazer cursos como educação física, por exemplo,
então resolvi fazer jornalismo, porque poderia trabalhar com esporte e se não desse
certo poderia atuar em outra área como Assessoria de Comunicação. Depois de formada
continuei trabalhando no mesmo Programa durante três anos. Comecei como repórter.
Depois fui acumulando funções como, apresentadora e editora de texto. Com a saída do
programa do ar em abril desde ano (2012), acabei deixando de trabalhar somente com
esporte.
Pesquisador: E hoje? Em que veículo você atua e como é a sua relação com o
esporte? Entrevistado: Hoje continuo trabalhando na Redesat, agora TVE Tocantins. Sou
repórter do Telejornalismo. Ainda faço algumas reportagens esportivas, mas não com
tanta freqüência. Mesmo assim gosto de estar bem informado sobre o esporte,
tocantinense e também brasileiro. Por isso, sempre estou acompanhando como andam as
competições e as participações dos atletas do estado em competições nacionais e
internacionais através de vários sites esportivos.
Pesquisador: Como que você avalia o uso da imagem e do corpo feminino no
jornalismo esportivo? Entrevistado: O que deve ser levado em conta é o profissionalismo. Independente do
sexo. A mulher tem as mesmas condições de exercer um bom trabalho dentro ou fora
de um campo de futebol, nas piscinas, no tatame ou até mesmo em um ringue de boxe,
basta que ela estude e entenda as regras de cada modalidade esportiva. Assim saberá
debater e explicar qualquer esporte. Mas é claro que a mulher tem um charme a mais,
claro que aparência conta, só não pode deixar que seja apenas isso.
Pesquisador: Já sofreu algum tipo de preconceito no jornalismo esportivo? Entrevistado: Não. Sempre tentei ser bem profissional no meu trabalho. Isso fez com
que meus companheiros de emissora me respeitassem. Claro que Simpatia é legal, mas
não podemos deixar as pessoas confundirem. Afinal somos mulheres e sempre vão
existir piadinhas do tipo. “Nossa como essa repórter é gata”! Temos que ter jogo de
cintura nessa hora.
Pesquisador: Como que você vê hoje a presença das mulheres no jornalismo
esportivo? Entrevistado: Aqui no Tocantins o numero de profissionais que trabalham nessa área
ainda é pouco. Mas no Brasil este número vem crescendo. O importante é a pessoa fazer
o que gosta. Espaço com certeza tem.
Pesquisador: Na sua opinião quais são as dificuldades das mulheres pra ingressar e
se manter nas editorias de esporte? Entrevistado: No meu ponto de vista não tem dificuldades. Falta na verdade interesse.
Muitos programas e sites esportivos estão abertos a procura de profissionais.
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APÊNDICE E – ENTREVISTA ROGÉRIO SILVA
Pesquisador: Como você avalia o crescimento da participação feminina no
jornalismo esportivo?
Entrevistado: A presença da mulher no jornalismo esportivo passou a ser mais evidente
na medida em que os veículos ampliaram seu leque de cobertura, deixando de se
registrar ao dia a dia do futebol profissional. Na televisão, a presença é mais expressiva
porque segue uma tendência iniciada nos anos 80 quando as mulheres passaram a ser
maioria nas escolas de Jornalismo. Por outro lado, a cobertura abandonou o tecnicismo
das coberturas futebolísticas para dar lugar a assuntos de comportamento envolvendo a
vida dos atletas e do público.
Pesquisador: A que você atribui esse crescimento?
Entrevistado: Se na academia (faculdades) a mulher passou a ser maioria, no mercado,
tempos depois, o fenômeno não poderia ser diferente. Pelo contrário, nos veículos
tradicionais, em especial rádio e televisão, começa a ser sentida a presença de
profissionais do sexo masculino.
Pesquisador: Ainda há preconceito?
Entrevistado: Talvez em um ou outro veículo interiorano ou mais conservador, sim (de
mentalidade!). Mas em geral, a relação homem-mulher nas redações está bem madura.
Pesquisador: Em quais mídias, na sua opinião, elas mais se destacam?
Entrevistado: Principalmente, televisão e internet. Nas redações de jornal e rádio a
predominância ainda é dos homens. Mas ainda existem áreas a serem conquistadas,
como por exemplo, a transmissão de jogos.
Pesquisador: Na sua opinião, como é trabalhada a questão da imagem da mulher
no jornalismo esportivo?
Entrevistado: Não sei te responder essa. Trabalhada como?
Pesquisador: O que deve e o que não deve ser feito para que cresçam as
oportunidades e a participação feminina no jornalismo esportivo?
Entrevistado: Como em qualquer área do jornalismo, é fundamental ter empenho e
dedicação. Manter-se informada dos acontecimentos e dos assuntos da área que estiver
interessada e não ter medo de correr atrás do seu desejo. Ainda há muito espaço nas
empresas para gente com vontade de fazer.
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APÊNDICE F – ENTREVISTA THALITA TAVARES
Pesquisador: Como foi a sua trajetória até chegar à editoria de esportes, você tinha
interesse em trabalhar com jornalismo esportivo?
Olha para falar a verdade não dá pra dizer assim ‘meu sonho sempre foi ser jornalista
esportiva’, mentira, foi não. Quando eu decidi pelo jornalismo, assim, porque antes eu
fiz moda, fiz um curso de comissária de vôo, aí eu quis fazer ciências da computação e é
óbvio que não deu certo, aí eu fui pro jornalismo e foi onde eu me encontrei, mas a
princípio eu não pensava no jornalismo esportivo nem em TV. Eu queria mais o
jornalismo impresso que eu era mais encantada com aquele lance do jornalismo
impresso. O jornalismo esportivo surgiu de uma oportunidade aqui no Tocantins, eu sou
de Ribeirão Preto, interior de São Paulo e quando eu trabalhava lá eu era estagiária da
EPTV, depois eu fui pra Record e fiquei pouco tempo na Record na produção e aí por
mudanças na família, minha mãe teve que mudar pra cá por causa de um concurso, meu
pai também veio depois aí eu falei ‘ah vou tentar alguma coisa lá no Tocantins, vou ver
se tem alguma coisa pra mim lá’. Aí cheguei aqui na TV e vi a necessidade de um
repórter esportivo porque na época não tinha, eu lembro que o editor ele fazia tudo, ele
apresentava, mais ou menos o que eu fiz depois também, acabei fazendo também
depois. Eu vi que ele editava, apresentava e pensei ‘meu Deus ele que apresenta e ele
que faz a reportagem? Ta precisando de um repórter aqui, vou ver se eu consigo’. Eu
lembro que foi muita insistência, eu cheguei aqui assim sem marcar entrevista nem
nada, foi no carão mesmo. Comecei a insistir e assim, eu sempre gostei muito de esporte
mesmo, mas nunca pensei em me especializar nessa área. Mas eu vi assim que tinha
vaga, convenci o chefe realmente que precisava de um jornalista esportivo, aí entrei no
esporte, como repórter e depois de um ano eu virei editora, do GE aqui e to aí até hoje.
Pesquisador: Você sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher?
Não nada, nenhum. Acho que eu tive muita sorte, porque muita gente fala nisso, não,
porque até hoje existe, principalmente quem faz mais campo, quem faz mais futebol.
Mas assim quando eu comecei aqui eu ia pra tudo quanto é campo de futebol, no
interior, nossa assim, cada lugar que eu nem imaginava conhecer, então eu fiz muito
futebol, no começo. Mas nunca, nunca mesmo, a tratativa foi diferente, sempre me
receberam com muito carinho, com muito respeito, particularmente eu não tive esse tipo
de problema não.
Pesquisador: Como você avalia o uso do corpo e da imagem no jornalismo de TV,
no caso da mulher, principalmente no esporte?
Esta falando da exposição... pois é acho que a gente não pode focar muito nisso, porque
a noticia mesmo, a noticia tem que ser aquela modalidade, aquela né? Tem que ser o
esporte mesmo, então a gente tem bastante mulher já. Antigamente era um meio mais
né, mais dominado pelos homens, acho que assim, estética é importante, mas acho que,
por exemplo, quando eu comecei aqui no esporte, eu sempre gostei muito de esporte, só
que eu era meio sedentária, só que teve uma época que eu comecei a dar uma
engordada, agora imagina uma apresentadora de esporte, meio fora de forma, falando
pra você em casa entrar em forma, não dá, né? Então tem que dar uma cuidada também
por causa disso.
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Pesquisador: Como você vê a presença das mulheres no esporte? Qual que é a sua
análise?
Hoje em dia ta muito bacana, porque há um tempo atrás, eu falo há um tempo atrás, de
alguns anos mesmo, mulher não entendia muita coisa de esporte, né? Era meio que
alienada mesmo. Hoje em dia não, a mulherada entende mesmo, eu acho que a televisão
ajudou bastante pra isso, com esse formato novo, todos os programas tão tentando
passar... eu lembro que quanto o Tadeu Schmidt começou no Fantástico, com essa
linguagem bem diferente do que era usado habitualmente mudou muito então a
mulherada começou a se interessar por futebol. E hoje em dia tem muitas mulheres que
entendem de futebol, de artes marciais, tudo segmentado mesmo, então acho que hoje
mudou muito, e elas gostam e entendem também.
Pesquisador: Na sua opinião quis são as dificuldades da mulher pra se ingressar e
se manter na editoria de esportes?
A dificuldade hoje acho que é mais assim a busca constante pelo conhecimento. Então
como as coisas acontecem muito rápido então se você ta ligada, se você ta antenada, se
você gosta daquilo que você faz, porque tem que gostar mesmo, né? Então acho que não
tem assim, muita dificuldade. A dificuldade você encontra no dia a dia, que nem aqui,
no nosso caso, no Tocantins, assim, uma pauta boa, porque a gente não tem assim um
esporte profissional, é tudo muito amador ainda. Então você tem que se empenhar mais
pra poder ajudar a crescer. Então acho que a dificuldade maior é essa, mas do contrário
acho que depende de cada um mesmo, da força de vontade de cada um e acreditar em si
mesmo, só isso.