Motores Fora de Borda

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1 EMBARCAÇÕES COM MOTORES FORA DE BORDA Conselhos e Cuidados Práticos 1. Introdução. Tem-se vindo a verificar nos últimos anos uma tendência crescente da indústria náutica apresentar nas suas gamas de embarcações, motorizações baseadas nos motores Fora de Borda. Todos os anos vamos assistindo á apresentação de um maior n.º de modelos e cada vez maiores, onde a motorização proposta de base são motores Fora de Borda, ou por vezes como alternativa aos Interiores (Inboard). Não é já surpresa quando embarcações de 32”(cerca de 10 mts) são apresentados com motorizações Fora de Borda. Evidentemente a utilização dos motores Fora de Borda está limitada ao tamanho das embarcações e necessidade de potência respectiva. Acima de determinada arqueação/dimensão não existem ainda hoje alternativas disponíveis comercialmente aos motores interiores por questões de potência/peso/dimensão. Com o n.º crescente de embarcações com motorização Fora de Borda achamos importante referir alguns “Conselhos e Cuidados Práticos” que pensamos úteis, aos Compradores / Utilizadores de embarcações baseadas neste tipo de motorização, no sentido de poderem usufruir das mesmas, na plenitude das suas potencialidades (capacidades/características), com o melhor desempenho e menor custo global (aquisição + consumo + manutenção). Acreditamos que a Náutica de Recreio, como a própria classificação tão bem exprime, deve permitir momentos de lazer, prazer e descontracção. 2. Pontos a ponderarem na escolha de um tipo de embarcação (casco). Primeiro, deve-se definir o perfil de utilização para a embarcação que se pretende adquirir. É importante, antes de mais, ter clara consciência do tipo de actividade para a qual pretendemos usar a embarcação. Pesca Desportiva / Passeio / Desportos Náuticos (mergulho, ski náutico, etc.). Após esta primeira clarificação devemos ponderar os períodos desejados de permanência a bordo da embarcação (Day Boat, Weekend Boat, Holiday Boat), a lotação pretendida (dependente da dimensão do agregado familiar e convidados que se pretende ter a bordo) e tipos de percursos a efectuar (afastamentos à costa e entre portos de abrigo).

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EMBARCAÇÕES COM MOTORES FORA DE BORDA Conselhos e Cuidados Práticos

1. Introdução. Tem-se vindo a verificar nos últimos anos uma tendência crescente da indústria náutica apresentar nas suas gamas de embarcações, motorizações baseadas nos motores Fora de Borda. Todos os anos vamos assistindo á apresentação de um maior n.º de modelos e cada vez maiores, onde a motorização proposta de base são motores Fora de Borda, ou por vezes como alternativa aos Interiores (Inboard). Não é já surpresa quando embarcações de 32”(cerca de 10 mts) são apresentados com motorizações Fora de Borda. Evidentemente a utilização dos motores Fora de Borda está limitada ao tamanho das embarcações e necessidade de potência respectiva. Acima de determinada arqueação/dimensão não existem ainda hoje alternativas disponíveis comercialmente aos motores interiores por questões de potência/peso/dimensão. Com o n.º crescente de embarcações com motorização Fora de Borda achamos importante referir alguns “Conselhos e Cuidados Práticos” que pensamos úteis, aos Compradores / Utilizadores de embarcações baseadas neste tipo de motorização, no sentido de poderem usufruir das mesmas, na plenitude das suas potencialidades (capacidades/características), com o melhor desempenho e menor custo global (aquisição + consumo + manutenção). Acreditamos que a Náutica de Recreio, como a própria classificação tão bem exprime, deve permitir momentos de lazer, prazer e descontracção.

2. Pontos a ponderarem na escolha de um tipo de embarcação

(casco).

Primeiro, deve-se definir o perfil de utilização para a embarcação que se pretende adquirir. É importante, antes de mais, ter clara consciência do tipo de actividade para a qual pretendemos usar a embarcação. Pesca Desportiva / Passeio / Desportos Náuticos (mergulho, ski náutico, etc.). Após esta primeira clarificação devemos ponderar os períodos desejados de permanência a bordo da embarcação (Day Boat, Weekend Boat, Holiday Boat), a lotação pretendida (dependente da dimensão do agregado familiar e convidados que se pretende ter a bordo) e tipos de percursos a efectuar (afastamentos à costa e entre portos de abrigo).

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Aconselhamos vivamente que estes tipos de decisões sejam ponderados, debatidos e motivo de consenso no âmbito do núcleo mais próximo do comprador.

3. Pontos a serem ponderados na escolha da motorização.

Após seleccionada o tipo de embarcação, deve-se ter especial cuidado na escolha da motorização respectiva. O conselho do vendedor é fundamental pois ele deve ter a experiência, conhecimento e formação aprofundada nas embarcações que comercializa e na Náutica de Recreio em geral. No entanto é um direito do comprador pôr TODAS as questões que julgue importantes e pertinentes e pedir TODAS as informações necessárias para uma tomada de decisão consciente. O ónus da decisão é dele e as consequências da mesma são principalmente vividas e suportadas por ele . Assim devem-se ter em conta os seguintes aspectos de âmbito geral em relação ao fabricante dos motores:

• Notoriedade e idoneidade do fabricante/ marca dos motores e sua experiência/conhecimento na tecnologia utilizada.

• Presença, estabilidade e garantia de permanência futura no mercado.

• Cumprimento das normas ambientais e de poluição, exigidas no espaço comunitário e posicionamento actual em relação aos objectivos futuros.

• Prazos e condições de garantia praticadas nos motores. • Prazos de entregas de peças e consumíveis de substituição à

rede de Serviços Técnicos Autorizados. • Investimento na formação e competências dos Serviços

Técnicos Autorizados. • Apoio de retaguarda por parte do fabricante aos Serviços

Técnicos Autorizados em situações que pela sua complexidade/dificuldade obriguem ao envolvimento das áreas de engenharia/projecto do próprio fabricante.

• Formação aos serviços Pré-Venda dos Agentes Autorizados para um correcto aconselhamento ao cliente e configuração do conjunto casco/motor atendendo ao perfil de utilização.

Em relação propriamente ao motor a escolher deve ter-se o seguinte em consideração:

• Potencia do motor tendo em atenção um correcto equilíbrio do sistema casco/motor com vista á embarcação atingir os objectivos definidos no perfil de utilização. Gostaria de chamar a especial atenção para este ponto pois normalmente para o mesmo casco pode-se utilizar uma gama alargada de potências de motor. Os fabricantes dos cascos certificam a embarcação (Certificado de Conformidade Europeia) para

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uma potência e peso máximo de motor e só alguns, os com maior capacidade organizativa e dimensão, fornecem informação nos catálogos e informação técnica de apoio à venda (Hand Books do Vendedor) sobre a potência mínima e a recomendada. Mesmo assim é preciso ter muito cuidado pois o fabricante não conhece os casos em particular e a definição do tipo de utilização e do peso total do conjunto (casco + motor + tripulantes + bagagem + palamenta + aprestos marítimos + combustível), são fundamentais para a escolha da potência do motor. Uma embarcação sub motorizada tem um comportamento desagradável, um consumo exponencialmente maior e poderá não conseguir atingir os objectivos pretendidos. Não sai a planar rapidamente ou mesmo não plana (maior área de superfície molhada-maior consumo), navega com a popa muito enterrada e proa muito levantada (dificuldade na condução/manobra), tem de andar a regimes de rotação muito elevadas quando consegue planar (consumos elevadíssimos), pode não conseguir tirar da água um praticante de ski, pode ter dificuldade em puxar uma bóia, etc. Numa embarcação a motor, no arranque deve-se dar a rotação necessária para a embarcação tirar o mais rápido possível a maior parte do casco da água e entrar a planar. Logo que esta fase esteja alcançada baixar a rotação do motor gradualmente para níveis que permita que a mesma continue a planar a uma velocidade de cruzeiro aceitável para as condições do mar e utilização pretendida. Em termos genéricos num motor fora de bordo em que a rotação máxima seja de 5.500 a 6.000 rotações, na fase de cruzeiro para uma velocidade/consumo aceitável a embarcação deverá andar a regimes entre as 4.000 e 5.000 rpm. Quanto menor for a rotação (desde que a embarcação se mantenha a planar) bastante menor será o consumo e melhor a navegabilidade da embarcação.

• Factor importante na definição do modelo do motor é a altura da coluna (ex: modelo L, XL, XXL). Normalmente o fabricante aconselha para a embarcação em causa o tamanho da coluna que se deve utilizar. Nas embarcações que prevêem a possibilidade de utilizar um ou dois motores é preciso ter mais atenção pois por vezes o tamanho da coluna na instalação de um só motor é diferente (maior), da instalação com dois motores (ex: um XL; dois L). Tal deve-se ao V do casco. A altura da coluna é importante pois o meio propulsor (hélice) para um correcto funcionamento deve estar, abaixo do ponto mais baixo do casco e portanto como as embarcações tem alturas do painel de popa diferentes os fabricantes de

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motores também têm para a mesma potência modelos com diferentes alturas de coluna.

• O passo e diâmetro do hélice são dos factores preponderantes no bom desempenho da embarcação. Com um mesmo casco e mesmo motor por vezes tem-se de alterar o passo do hélice para que o conjunto consiga o equilíbrio necessário. Numa embarcação que normalmente transporta 3 pessoas e pouca carga, se transportar 6 pessoas e peso mais considerável, poderá ter de se baixar o passo do hélice. Por exemplo se puxar ski poderá ter de alterar o passo do hélice. Normalmente passos de hélice mais baixos implicam mais força/arranque e passos mais altos mais velocidade de ponta. O adequar do passo de hélice tem também muito a ver com a rotação que o motor atinge nos regimes altos. Há fabricantes que definem previamente um passo de hélice por cada modelo de motor e outros que permitem ao cliente poder trocar e acertar aquando da entrega da embarcação na água e respectivos testes de mar iniciais. É recomendável que fique expressamente previsto no contrato de aquisição a entrega da embarcação na água e teste de mar, bem como clarificado se a possível troca de hélice tem custos para o cliente ou não.

• Deve estar também previamente definida a possibilidade de instalação de uma cunha negativa no painel de popa. Tal pode vir a ser necessário se a distribuição de pesos a bordo assim o obrigar. Por esta via proteger-se-á o sistema hidráulico do Trim do motor bem como em alguns casos melhorar as condições de navegação.

• Decidir previamente da necessidade da instalação de uma

direcção hidráulica em função do peso do motor.

4. Cuidados a ter na montagem de motores Fora de Borda.

• Centragem e regulação da altura do motor em relação ao casco. Já noutro ponto foi referida a questão do tamanho da coluna mas na altura da instalação é possível afinar a fixação, de maneira que a placa de cavitação esteja correctamente alinhada em relação ao fundo do casco. Os manuais dos fabricantes dos motores têm informação detalhada sobre esta questão.

• Isolar correctamente os parafusos de fixação do motor ao painel de popa, com selante marítimo tipo sikaflex.

• Instalar cabos de comando de qualidade, com a dimensão correcta para a embarcação em causa pois demasiado

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compridos ou no limite do comprimento, irão concerteza, no futuro, originar problemas com o engate/desengate na caixa de comandos.

• Com o sistema de direcção ter os mesmos cuidados e no caso de se optar por uma direcção hidráulica purgar convenientemente o sistema.

• Na instalação eléctrica usar cabos com o diâmetro correcto e não fazer emendas nos mesmos, além de proteger a(s) bateria(s) com, no mínimo, um corta corrente. É fundamental para a segurança no mar que pelo menos uma bateria possa ser protegida para garantir que, no caso de se ter estado com os motores desligados e com sistemas que consomem energia ligados (rádio/cd, frigorífico, GPS/Chartplotter, sondas, VHF, etc.), no momento de voltar a por a embarcação em movimento, haja a energia mínima necessária para o motor pegar. Após pegar, o alternador do motor carregará de novo as baterias.

• Intercalar um pré-filtro de gasolina entre o tanque de combustível e o motor de maneira a salvaguardar possíveis passagens de combustível contaminado com água.

• Colocar o óleo aconselhado pelo fabricante e verificar níveis incluindo o da caixa de engrenagens.

5. Procedimentos básicos na utilização de motores Fora de Borda.

• Ligar os corta corrente da(s) bateria(s). • Antes de por o motor a trabalhar ligar o exaustor (se existir)

para esgotar possíveis vapores de combustível na zona do tanque.

• Depois de baixar o motor (manualmente ou via Tilt/Trim eléctrico) e antes de dar á chave ou ao start, dar uns apertos na pêra de combustível para ferrar o sistema, abrir o ar (se o motor não for de injecção) e só depois ligar sem aceleração. Assim protege a bateria e o motor de arranque.

• Depois do motor estar ligado deixá-lo trabalhar uns minutos antes de iniciar a navegação, para que o motor atinja a temperatura ideal de trabalho, pois assim garantirá uma longevidade muito superior ao seu motor.

• Verificar se o esguicho de água, mais conhecido como “mija, mija”, está a funcionar, pois é um avisador que o circuito de água de arrefecimento do motor se está a efectuar.

• Verificar o nível de combustível e quando reabastecer verificar o bom funcionamento da bóia de combustível. No caso dos motores a 2 tempos, fazer a mistura na percentagem aconselhada pelo fabricante ou verificar no caso dos motores auto-lube se o depósito tem óleo suficiente. Antes de inicializar a navegação deve garantir que tem combustível a bordo que lhe permita efectuar todo o

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percurso previsto e ainda ter uma margem para possíveis alterações. Como padrão de segurança deve, ao chegar de novo ao porto/marina, ter no mínimo 25 a 30% do combustível a bordo (reserva). Assim garantirá que qualquer contingência estará salvaguardada.

• Ao iniciar a navegação, coloque o sistema de homem ao mar. • Durante a navegação adequar a aceleração ás condições do

mar e a um regime de rotação que não esforce o motor e que permita uma economia de combustível. Por vezes, por umas centenas de rotações a mais, os ganhos de velocidade são mínimos e o consumo exponencialmente superior. No entanto deve, durante pequenos períodos, utilizar o regime máximo do motor para que este se solte e possa, quando necessário, atingir a sua melhor performance.

• Use o sistema de trim para posicionar correctamente a embarcação em relação ao mar e assim ter uma navegação mais confortável e económica.

• Se quiser desligar os motores no mar, para fundear ou ficar a pairar, antes de o fazer, deve deixar, durante um período curto, o motor ao relantim. Só desligar o motor depois de ter a certeza que a embarcação ficou correctamente fundeada.

• Se o período de paragem for prolongado deve proteger a bateria que arranca o motor, desligando o corta corrente.

• Antes de tirar o ferro e depois de todos os ocupantes terem saído da água e estarem a bordo, deve ligar o motor para, com a sua ajuda, permitir ao tripulante recolher o cabo / corrente. Além disso, no caso de ter guincho eléctrico, não o esforçará em demasia. Ao mesmo tempo, garante que no momento que a embarcação se solta, tem o motor a funcionar para poder manobrar e controlar a mesma, iniciando o seu novo percurso em segurança.

• Ao navegar, no caso de, um cabo ou uma arte de pesca ficar presa ao hélice, depois de a libertar deve verificar se a hélice ao acelerar “patina” (possível desvulcanização da hélice). Se tal se verificar deve tentar navegar ao relantim ou a uma rotação muito baixa até ao porto mais próximo, pois poderá ainda garantir uma deslocação mínima e manobrar a embarcação. Deve contactar as autoridades marítimas para ponderar um possível reboque.

• Ao atracar ou ao tirar a embarcação da água deve prover a lavagem do circuito de arrefecimento do motor com água doce. Hoje em dia, nos motores mais recentes, é possível fazê-lo sem ter de ligar o motor. No motor há um adaptador rápido para ligar a mangueira e deve-se deixar durante uns momentos a água doce a circular. Este procedimento feito com alguma regularidade permitirá menores custos de manutenção no futuro e aumentar a longevidade do seu motor.

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6. Manutenção e Prevenção.

• Se a sua embarcação no fim da época vai para seco, deve prever a preparação da mesma para hibernação, bem como do motor. Aconselha-se uma lavagem completa do casco, incluindo interiores, cabines, salão e de todos os aprestos marítimos e materiais a bordo, retirar todos os alimentos e bebidas a bordo para serem consumidos dentro dos prazos de validade e não se deteriorarem, guardar em lugar seco os materiais como fumígenos e farmácia.

• Em relação aos sistemas eléctricos e motores os bornes dos cabos das baterias devem ser desligadas das mesmas, o circuito de arrefecimento dos motores lavados abundantemente com água doce e pontos como as ligações da direcção ao motor, sistema de tilt/trim protegidos com massa de lubrificação.

• Antes do inicio da nova época a embarcação deve ser preparada para navegar sendo fundamental ter em atenção as recomendações e conselhos do fabricante. Aconselhamos vivamente a serem cumpridos os planos de manutenção e revisão do fabricante. Mesmo que não tenham sido atingidas o n.º de horas de motor previstas para revisão, deve-se substituir os óleos, filtros e valvulinas, verificados os zincos e substituídos em caso de necessidade, verificado o bom estado das velas e regularmente substituído o impeller do circuito de arrefecimento. Muitas vezes dá-se pouca importância a este elemento, mas normalmente o custo não é elevado e é fundamental para o não sobreaquecimento do motor.

• Para as embarcações que estão na água o ano todo é fundamental, antes do início do período de maior utilização, efectuar os mesmos procedimentos, acrescidos de uma pintura do casco / águas vivas com antifoulling que irá permitir uma menor resistência á agua e um menor consumo.

Os motores Fora de Borda são extremamente fiáveis, robustos e com custos de manutenção baixos e se tivermos alguns cuidados, permitem-nos usufruir longos anos o mar e todos os seus encantos.