Monografia Jogos e Brincadeiras na Educação
Transcript of Monografia Jogos e Brincadeiras na Educação
Universidade Federal do Estado do Rio de JaneiroCentro de Ciências HumanasLICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Fabiana Salles Ferreira
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
Bom Jesus do Itabapoana2010
1
Fabiana Salles Ferreira
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro de Ciências Humanas da UNIRIO,
como requisito para obtenção do grau de Pedagogo, orientado pelo (a) professor (a)
Maria de Fátima Ferreira de Brito
Bom Jesus do Itabapoana2010
2
Fabiana Salles Ferreira
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
Avaliado por:
__________________________________Orientador(a)
__________________________________Segundo(a) leitor(a)
Data da apresentação ___ / ____ / _____
Bom Jesus do Itabapoana2010
3
DEDICATÓRIA
Aos meus pais pelo carinho que tiveram comigo sempre, ao meu esposo pela compreensão e companheirismo à minha filha pelo orgulho de tê-la sendo ela um verdadeiro presente em minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora pela paciência e dedicaçãoAos professores do curso pelo esmero com que trabalhamAos tutores pela disponibilidade e boa vontade de auxiliar-meAos colegas de curso que na trajetória deste curso tanto me ajudaramÀ família que me apoiou e incentivouAos amigos que partilharam comigo de lutas e agora compartilham de uma grande conquista
5
EPÍGRAFE
"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."(Carlos Drummond de Andrade)
6
RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade investigar alguns assuntos relevantes que dizem respeito à utilização de jogos e brincadeiras na educação e como estes refletem no desenvolvimento educacional. A educação infantil é tida como etapa importante no desenvolvimento das crianças constituindo-se a base de iniciação na esfera educacional, por isso destaca-se os cuidados que se deve ter e os métodos e técnicas adotados sob forma de brincadeiras para que se alcance os resultados esperados, porém a ludicidade não é importante somente nesta etapa da vida da criança, pois a vida do homem necessita de momentos de lazer e diversão, seja ele criança ou adulto. Foram feitas investigações acerca das contribuições e benefícios que jogos e brincadeiras podem trazer para o ensino em sala de aula e ainda a postura que os educadores devem ter frente a perspectiva da utilização do lúdico na promoção de interação e na tecitura de novos saberes. O objetivo desse trabalho é o de demonstrar que o lúdico representa um instrumento importante no desenvolvimento educacional dos alunos e embora alguns acreditem, não se trata de perda de tempo, pelo contrário, através da brincadeira a criança desenvolve habilidades e expressa sentimentos naturalmente e de forma espontânea, sem qualquer tipo de coação ou pressão. A pesquisa bibliográfica foi o método utilizado para alcançar os resultados e conclusões obtidas. Conclui-se que a ludicidade na escola é importantíssima e os jogos e brincadeiras devem estar presentes no cotidiano escolar apoiados e estimulados por profissionais de educação que reconheçam a relevância de sua utilização.
Palavras-chave:Jogos; brincadeiras; desenvolvimento.
7
SUMARIO
INTRODUÇÃO 09
1. CAPÍTULO I 12
1.1 Características da Educação Infantil 121.2 Quanto à Proposta Pedagógica das Instituições de Educação
Infantil1.3 Quanto à Gestão das Instituições de Educação Infantil1.4 Quanto à Infra-estrutura das Instituições de Educação Infantil
141617
2. CAPÍTULO II2.1 Conceito de Lúdico2.2 As Contribuições do Lúdico na Aprendizagem 2.3 O Jogo Educativo
19192021
3. CAPÍTULO III23
3.1 O Lúdico na Formação do Educador23
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 27
REFERÊNCIAS 29
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo discutir a importância do brincar
nas escolas de educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. As atividades
lúdicas ajudam a construir o conhecimento. Estas podem ser entendidas como situações em
que as crianças são oportunizadas a expressar diferentes sentimentos, aceitar a existência do
outro e visam melhorar a socialização entre elas, fazendo com que vivenciem situações de
colaboração, trabalho em equipe e respeito.
Visa ainda apresentar um breve esclarecimento sobre a importância dos jogos e
brincadeiras na educação e das contribuições que o lúdico pode trazer para o desenvolvimento
da criança vislumbrando os aspectos sociais, cognitivos, motores dentre outros.
Verdade é que o brincar faz parte não só do Universo infantil da criança, mas do
adulto também. Quem não tem saudades, ao observar crianças brincando livremente, vendo a
alegria, a espontaneidade com que executam a atividade lúdica? Nessas brincadeiras vê-se que
o jogo é sério e prazeroso ao mesmo tempo.
A ludicidade é um assunto que tem conquistado espaço no panorama nacional, por ser
o brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico que possibilite a
produção do conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento.
Através dos jogos e brincadeiras, a criança tem a oportunidade de desenvolver
competências que farão parte da construção dos mais variados conhecimentos. Diante dessa
realidade, detectamos a necessidade de resgatar, registrar e revitalizar os jogos, brincadeiras e
brinquedos, considerando-os como parte integrante do processo de ensino aprendizagem.
O lúdico e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações objetivas
distintas. O jogo e a brincadeira são por si só, uma situação de aprendizagem. As regras e
imaginação favorecem a criança comportamento além dos habituais. Nos jogos ou
brincadeiras a criança age como se fosse maior que a realidade, e isto, inegavelmente,
contribui de forma intensa e especial para seu desenvolvimento.
Independentemente da época, cultura e classe social, os jogos e brinquedos fazem
parte da vida da criança, pois elas vivem em um mundo de fantasia, de encantamento, de
alegria, de sonhos onde a realidade e o faz-de-conta se confundem apesar de a história de
antigas civilizações mostrarem o contrário, fazendo o brincar se transformar em pecado.
Os jogos e brincadeiras mudaram muito desde o começo do século até os dias atuais,
em todos os países em qualquer cultura, em todos os contextos sociais, mas o prazer de
brincar - este não mudou.9
Relembrando que brincar é um direito fundamental de todas as crianças no mundo,
cada criança deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para
satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. A escola deve oferecer oportunidades
para a construção do conhecimento através da descoberta e da invenção, elementos estes
indispensáveis para a participação ativa da criança no seu meio.
A escolha deste tema está vinculada à atividade profissional na área de Educação
Infantil e nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental no que diz respeito a sua atuação levando
em conta o lúdico como forma de mediação para a construção e efetivação de novos
conhecimentos e ainda na formação de sujeitos capazes de intervir na realidade de maneira
critica e criativa.
Sabe-se que associar a educação da criança ao jogo não é algo novo apesar de ainda
encontrar muita resistência por parte dos profissionais da educação em adotá-los como
instrumentos pedagógicos capazes de auxiliar na aquisição de habilidades e potencialidades
que resultarão na internalização de conceitos e na tecitura de novos saberes.
A viabilidade deste tema se dá em virtude da necessidade de reconhecimento por parte
do profissional de educação de que tais recursos precisam ser utilizados por serem
indispensáveis na busca por uma educação mais significativa e atraente, de maneira que ao
utilizar esses métodos mobilizará os alunos na busca pela resolução de problemas de uma
forma prazerosa, despertando neles o desejo de transpor os obstáculos e vencer os desafios,
efetivando assim uma aprendizagem mais rica e dinâmica ao mesmo tempo em que eficaz e
significativa.
Nestes tempos de mudanças educacionais, nós educadores temos que ser
multifuncionais, ou seja, não apenas educadores, mas filósofos, sociólogos, psicólogos,
psicopedagogos, recreacionistas e muito mais para que possamos desenvolver as habilidades e
a confiança necessária em nossos educandos. Para que tenham sucesso no processo de
aprendizagem e na vida. Tudo isso marcados pela ansiedade, medo, resistência e ao mesmo
tempo esperança.
Para isso é preciso sensibilizar a todos profissionais que atuam como educadores de
que os jogos e brincadeiras são de fato poderosos e ricos instrumentos metodológicos de
ensino e aprendizagem e fortes aliados na busca por novos conhecimentos de maneira que se
constituem em eficientes ferramentas no desenvolvimento da criança. Para isso é necessário
que seja desmistificado o papel do brincar, reconhecendo que este não é apenas um
passatempo, mas objeto de grande relevância no desenvolvimento global das crianças,
10
abrangendo aspetos como identidade, socialização, maturação e diversos outros, às vezes até
ocultos aos nossos olhos como os de caráter psicológico.
Em virtude disso apresento uma pesquisa bibliográfica com a finalidade de
desenvolver um trabalho de pesquisa com comentários, os quais tenham como objetivo,
viabilizar outras fontes de estudo, para enriquecimento deste tema.
A fundamentação teórica terá como base os seguintes autores: CAILLOIS (1986);
FREINET, (1998); KISHIMOTO, (1994); CAMPOS (2003) como também revistas e sites
contendo informações sobre o tema proposto.
11
CAPÍTULO 1
Características da Educação Infantil
A educação infantil é também denominada educação pré-escolar ou educação pré-
primária e consiste na educação de crianças antes da sua entrada no ensino obrigatório. É
ministrada normalmente no período compreendido entre os zero e os seis anos de idade de
uma criança. Nesta modalidade de educação, as crianças são estimuladas - através de
atividades lúdicas e jogos- a exercitar as suas capacidades motoras, a fazer descobertas e a
iniciar o processo de alfabetização
A educação infantil ou pré-escolar é ministrada em estabelecimentos educativos de
vários tipos como berçários, creches, pré-escolas, jardins de infância ou jardins-escola.
As instituições de Educação Infantil destinam-se às crianças, brasileiras e estrangeiras,
sem distinção de gênero, cor, etnia, proveniência social, credo político ou religioso, com ou
sem necessidades especiais. Cabe às gestoras e aos gestores das instituições de Educação
Infantil permitirem a matrícula ao longo de todo o ano letivo, sempre que houver vaga
disponível. Entretanto, matricular ou não uma criança de 0 até 6 anos na instituição de
Educação Infantil é um ato de livre vontade das mães e dos pais e/ou responsáveis pelas
crianças.
A modalidade de Educação Infantil “tem como finalidade promover o
desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29 da LDB). A
Política Nacional de Educação Infantil parte dessa finalidade para estabelecer como uma de
suas diretrizes a indissociabilidade entre o cuidado e a educação no atendimento às crianças
da Educação Infantil (BRASIL, 2005a).
Os educadores e demais profissionais que cotidianamente atuam nessas instituições
devem, deste modo, valorizar igualmente atividades de banho, troca de fraldas, alimentação,
sono, descanso, brincadeiras, desenho, música, jogos coletivos, leitura de histórias entre
outras tantas propostas realizadas com as crianças.
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) foi
promulgada, contribuindo de forma decisiva para a instalação de uma concepção de Educação
Infantil no país vinculada e articulada ao sistema educacional como um todo. Imprime-se uma
outra dimensão à Educação Infantil, reconhecida como primeira etapa da Educação Básica
recebe então uma função específica no sistema educacional: a de servir como alicerçar a 12
iniciação de uma formação necessária a todas as pessoas para que possam exercer sua
cidadania. Por sua vez, a definição da finalidade da Educação Infantil como sendo o
“desenvolvimento integral da criança até 6 anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” torna-
se evidente a necessidade de investir na criança em sua totalidade para então promover,
através de um ambiente motivador e estimulante, práticas que favoreçam seu
desenvolvimento global implicando ainda em compartilhamento da responsabilidade familiar,
comunitária e do poder público.
Na Educação Infantil a avaliação é definida a partir dessa concepção de
desenvolvimento integrado, e assim deve ser processual acontecendo de forma sistemática e
contínua. Seu acompanhamento e registro são os instrumentos utilizados e têm objetivos de
diagnóstico e não de promoção ou retenção, exigindo a redefinição das estratégias
metodológicas utilizadas com as crianças de 0 até 6 anos de idade.
As crianças desta faixa etária iniciam o desenvolvimento dos aspectos básicos de
responsabilidade e de independência, desse modo, a criança vai sendo preparada para o
próximo estágio da infância, os anos iniciais de escola. As crianças dessa idade são altamente
ativas, em geral, explorando o mundo à sua volta em todo o tempo. Elas passam também a
internalizar conceitos de certo e errado e a aprender que na sociedade existem regras e que
essas devem ser cumpridas e que existem coisas que eles podem ou não fazer.
Nesta faixa etária, a criança já compreende melhor o mundo à sua volta - tornando-se
gradativamente menos egocêntrica – tendo melhor compreensão que suas ações poderão
afetar as pessoas que estão à sua volta. Passam também a compreender que não só ela, mas
outras pessoas também têm sentimentos. De maneira gradual, as crianças vão aprendendo
sobre a existência de padrões de comportamentos - atos que podem ou devem ser feitos, e atos
que não devem ser cometidos. Os principais modelos da criança, - os pais- nesta faixa etária,
geralmente determinam se uma dada ação da criança foi boa ou má e normalmente agem de
maneira a recompensar a criança pelas suas boas ações ou castigá-la pelas suas más ações.
A partir dos 3 anos de idade, a criança também passa a aprender padrões de
comportamento de um processo chamado identificação. A criança, também a partir dos 3 anos
de idade passa a ver diferenças entre pessoas do sexo masculino e feminino, tanto nos
aspectos físicos e psicológicos, como também os estereótipos dados a ambos os sexos pela
sociedade (exemplos: menino brinca com bola, menina brinca com boneca).
A auto-imagem formada durante a infância poderá ter influência no comportamento e
na formação desta pessoa na adolescência e na vida adulta. As crianças passam a desenvolver 13
a auto-imagem após os 3 anos de idade, à medida de que as crianças identificam-se com seus
pais, parentes, e posteriormente, pessoas próximas. Esta auto-imagem pode ser positiva ou
negativa, dependendo das atitudes e das emoções das pessoas com a qual a criança identifica-
se. Aquelas que desenvolvem auto-imagens positivas geralmente possuem boas impressões de
seus pais e uma ativa vida social; já as que desenvolvem auto-imagens negativas podem ser
fruto de abuso infantil cometidos por parentes ou outros adultos, bem como problemas socio-
psicológicos (vítima de agressão na escola, bullying, por exemplo) e o testemunho de outros
traumas (perda de um parente ou amigo, por exemplo. A comparação que uma criança faz em
relação a outras crianças também poderá alterar esta auto-imagem.
Torna-se, por tudo isso, de extrema importância a intervenção eficiente por parte do
educador que atua nesta área, constituindo-se de um facilitador na formação da criança
podendo contribuir de maneira positiva na promoção de meios para que essa criança, através
de suas experiências vivencias no ambiente escolar possa se valer de atitudes que venham
contribuir para um futuro de sucesso.
Portanto, destaca-se que um educador na educação infantil deve ser: mestre, artista,
motivador, psicólogo, idealista, criativo.
Quanto à Proposta Pedagógica das Instituições de Educação Infantil
É fundamental considerar que todos esses aspectos estão intrinsecamente relacionados
no processo educacional.
As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil contemplam princípios
éticos, políticos e estéticos.
Os quais estão abaixo relacionados:
Princípios Éticos no que se refere à formação da criança para o exercício progressivo da
autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum. Políticos no
que se refere à formação da criança para o exercício progressivo dos direitos e dos deveres da
cidadania, da criticidade e do respeito à ordem democrática. e Estéticos no que se refere à
formação da criança para o exercício progressivo da sensibilidade, da criatividade, da
ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais.
As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil promovem as práticas
de cuidado e educação na perspectiva da integração dos aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e
indivisível.14
Organizam as atividades das crianças ora estruturadas, ora espontâneas e livres. Promovem
também a interação entre as diversas áreas de conhecimento e os aspectos da vida cidadã,
contribuindo para a constituição de conhecimentos e valores. Prevêem ainda a intervenção das
professoras e dos professores visando a atender e as características e necessidades das
crianças.
As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil consideram que o
trabalho ali desenvolvido é complementar à ação da família, e a interação entre as duas
instâncias é essencial para um trabalho de qualidade.
Antes de a criança começar a frequentar a instituição de Educação Infantil, são
previstos espaços e tempos para que todos os que convivem ou virão a conviver com a
criança, iniciem um conhecimento mútuo. Sendo o período de acolhimento inicial
(“adaptação”) demanda dos profissionais da escola uma atenção especial com as famílias e/ou
responsáveis pelas crianças, possibilitando, até mesmo, a presença de um representante destas
nas dependências da instituição. Todos os educadores e gestores são atenciosos com os
familiares ou responsáveis, estando disponíveis cotidianamente para ouvir o que eles têm a
dizer. As informações sobre as atividades e o desenvolvimento da criança são disponibilizadas
periodicamente para os pais e/ou responsáveis. Os pais e/ou responsáveis opinam sobre o
desenvolvimento da proposta pedagógica e a gestão da instituição.
As propostas pedagógicas explicitam o reconhecimento da importância da identidade
pessoal dos alunos, suas famílias, professores e outros profissionais e a identidade de cada
unidade educacional nos vários contextos em que se situem.
Os educadores desenvolvem atitudes mútuas e em relação às crianças e aos seus
familiares de respeito à diversidade e orientam contra todos os tipos de discriminação. Existe
também a intenção de respeitar e valorizar a diversidade de histórias, costumes, cultura local e
regional é explicitada nas propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil. Nas
instituições de Educação Infantil o idioma falado é o português, assegurada às comunidades
indígenas a educação bilíngüe, e às comunidades fronteiriças, a interculturalidade.
As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil consideram a inclusão
como direito das crianças com necessidades educacionais especiais, contemplando:
Estratégias, orientações e materiais específicos para o trabalho com as crianças que
apresentam qualquer tipo de deficiência e o mesmo é feito a respeito das crianças que se
encontram com idade cronológica para permanência na Educação Infantil que apresentam
atraso de desenvolvimento decorrente de déficit de atenção e hiperatividade, problemas de
comportamento, emocionais, psicomotores, cognitivos, dislexia e correlatos, entre outros. É 15
também estabelecida a formação continuada dos profissionais de Educação Infantil para
atender as crianças com necessidades educacionais especiais e são adaptados espaços e
equipamentos para receber as crianças com necessidades educacionais especiais de acordo
com a Lei da Acessibilidade. E oferecido o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais
(Libras) para as crianças com deficiência auditiva.
As propostas pedagógicas são desenvolvidas com autonomia pelas instituições de
Educação Infantil a partir das orientações legais.
A escolha das concepções, das metodologias e das estratégias pedagógicas é
explicitada nas propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil e respeitam o
estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer CEB
22/98). As Professoras, professores, profissionais de apoio, especialistas, gestoras e gestores
adotam posturas condizentes com os princípios expressos nas propostas pedagógicas das
instituições de Educação Infantil. A elaboração, a implementação, o acompanhamento e a
avaliação das propostas pedagógicas seguem os princípios de participação, compromisso,
contextualização, historicidade, unidade (na diversidade), intencionalidade, consistência,
coerência, provisoriedade (dinamismo) e organização.
Quanto à Gestão das Instituições de Educação Infantil
Tendo como função garantir o bem-estar, assegurar o crescimento e promover o
desenvolvimento e a aprendizagem das crianças da Educação Infantil sob sua
responsabilidade, as professoras e os professores de Educação Infantil: asseguram que bebês e
crianças sejam atendidos em suas necessidades de saúde: nutrição, higiene, descanso e
movimentação, proteção, dedicando atenção especial a elas durante o período de acolhimento
inicial (“adaptação”) e em momentos peculiares de sua vida quando necessário encaminham a
seus superiores, e estes aos serviços específicos, os casos de crianças vítimas de violência ou
maus-tratos e possibilitam que bebês e crianças possam exercer a autonomia permitida por seu
estágio de desenvolvimento. Auxiliam ainda bebês e crianças nas atividades que não podem
realizar sozinhos alternando brincadeiras de livre escolha das crianças com aquelas propostas
por elas ou eles, bem como intercalam momentos mais agitados com outros mais calmos,
atividades ao ar livre com as desenvolvidas em salas e as desenvolvidas individualmente com
as realizadas em grupos. Estes profissionais ainda organizam atividades nas quais bebês e
crianças desenvolvam a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão em suas
múltiplas linguagens (linguagem dos gestos, do corpo, plástica, verbal, musical, escrita, 16
6
virtual) e possibilitam que bebês e crianças expressem com tranquilidade sentimentos e
pensamentos. Eles também realizam atividades nas quais bebês e crianças sejam desafiados a
ampliar seus conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura. Organizam
situações nas quais seja possível que bebês e crianças diversifiquem atividades, escolhas e
companheiros de interação criando condições favoráveis à construção do autoconceito e da
identidade pela criança em um ambiente que expresse e valorize a diversidade estética e
cultural própria da população brasileira intervindo para assegurar que bebês e crianças possam
movimentar-se em espaços amplos diariamente e para que estes tenham opções de atividades
e brincadeiras que correspondam aos interesses e às necessidades apropriados às diferentes
faixas etárias e que não esperem por longos períodos durante o tempo em que estiverem
acordados. São responsáveis por garantir oportunidades iguais a meninos e meninas, sem
discriminação de etnia, opção religiosa ou das crianças com necessidades educacionais
especiais. Valorizam atitudes de cooperação, tolerância recíproca e respeito à diversidade e
orientam contra discriminação de gênero, etnia, opção religiosa ou às crianças com
necessidades educacionais especiais, permitindo às crianças aprender a viver em coletividade,
compartilhando e competindo saudavelmente. A equipe de profissionais da instituição de
Educação Infantil, composta por gestoras, gestores, professoras e professores, pode ser
acrescida de outros profissionais: De apoio (cozinha, limpeza, secretaria), desde que tenham a
formação necessária para o exercício de suas funções; Especialistas para assessorias ou para
auxiliar a formação continuada de professoras e professores de Educação Infantil;
O conhecimento de seus direitos e deveres e sobre a temporalidade da infância, o
compromisso com a ética profissional e a dedicação constante ao seu aperfeiçoamento pessoal
e profissional são características a serem consideradas na seleção e na avaliação das
professoras e dos professores de Educação Infantil.
Quanto à Infra-estrutura das Instituições de Educação Infantil
Os Espaços, materiais e equipamentos das Instituições de Educação Infantil destinam-
se prioritariamente às crianças: são construídos e organizados para atender às necessidades de
saúde, alimentação, proteção, descanso, interação, conforto, higiene e aconchego das crianças
matriculadas; e adequam-se ao uso por crianças com necessidades especiais, conforme a Lei
de Acessibilidade (Lei nº 10.098, de 19/12/2000), propiciam ainda as interações entre as
crianças e entre elas e os adultos e instigam, provocam, desafiam a curiosidade, a imaginação
e a aprendizagem das crianças;17
8
Professoras e professores das instituições de Educação Infantil responsabilizam-se pelo uso
adequado dos equipamentos e dos materiais pelas crianças e pela conservação destes e as
paredes são usadas para expor as produções das próprias crianças ou quadros, fotos, desenhos
relacionados às atividades realizadas visando a ampliar o universo de suas experiências e
conhecimentos. As cores e as tonalidades de paredes e mobílias são escolhidas para tornar o
ambiente interno e externo das instituições de Educação Infantil mais bonito, instigante e
aconchegante. Sendo que o mobiliário, os materiais e os equipamentos são organizados para
tornar os diferentes espaços da instituição de Educação Infantil mais aconchegantes e
confortáveis. Os materiais didático-pedagógicos, bem como os equipamentos e os brinquedos,
são escolhidos com o intuito de não trazer problemas de saúde às crianças. Os espaços,
materiais e equipamentos presentes na instituição de Educação Infantil destinam-se, também,
às necessidades das famílias e/ou responsáveis pelas crianças matriculadas e dos profissionais
que nela trabalham, estes são construídos e organizados para atender às necessidades de
saúde, segurança, descanso, interação, estudo, conforto, aconchego de profissionais e
familiares e/ou responsáveis pelas crianças e adequam-se ao uso por adultos com
necessidades especiais. São previstos espaços para o acolhimento das famílias e/ou
responsáveis, tais como local para amamentação, para entrevistas e conversas mais reservadas
e para reuniões coletivas na instituição de Educação Infantil e prevista ainda a instalação de
um quadro de avisos ou similar em local de fácil visualização na entrada e nas salas da
instituição de Educação Infantil.
18
CAPÍTULO 2
Conceito de Lúdico
Vários pesquisadores denominam o século XXI como o século da ludicidade. Vivemos
em tempos em que diversão, lazer, entretenimento apresentam-se como condições muito
almejadas pela sociedade. E pela dimensão lúdica tornar-se alvo de tantas atenções, torna-se
fundamental resgatarmos a sua essência, nos debruçar em estudos e pesquisas no sentido de
evocarmos seu real significado.
Viver ludicamente representa uma forma de intervenção no mundo, significa que não
estamos apenas inseridos no mundo, mas, sobretudo, que atuamos nele.
Negrine (2000) afirma que a capacidade lúdica está diretamente relacionada a sua pré-
história de vida. Acredita ser, antes de qualquer coisa, um estado de espírito e um saber que
progressivamente vai se instalando na conduta do ser devido ao seu modo de vida.
O lúdico refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e
espontaneidade de ação. Caillois (1986) confirma esta ideia explicitando seu entendimento
sobre o jogo na perspectiva lúdica:
“Sobre todo, infaliblemente trae consigo uma atmosfera de solaz o de diversión. Descansa y divierte. Evoca uma actividad sin apremios, pero también sin consecuencias para la vida real. Se opone a la seriedad de ésta y de esse modo se ve tachada de frívola. Por outra parte, se opone al trabajo como el tiempo perdido al tiempo bien empleado. Em efecto, el juego no produce nada: ni bienes ni obras”. (p. 07)
Caillois (1986) afirma que o caráter gratuito presente na atividade lúdica é a
característica que mais a deixa desacreditada diante da sociedade moderna. Entretanto,
ressalta é através dessa característica que o sujeito permite-se se entregar à atividade
despreocupadamente.
O autor destaca o clima de diversão estabelecido pelo jogo e enfatiza seu caráter
libertador, pois as atividades lúdicas transportam a criança para um mundo imaginário onde
esta expressa sentimentos e traça sua trajetória de aprendizado. Porém afirma que o jogo não
se trata de um tempo perdido, mas de um tempo bem aproveitado, no qual, ao contrário do
que alguns pensam, produz frutos - o que ele chama de obras -, portanto é um tempo de
brincadeira, mas ao mesmo tempo um momento de produção, pois essas atividades
contemplam raciocínio, obediência às regras e outros fatores que desenvolvem habilidades.
19
Sendo assim, a ludicidade por Callois é vista como um meio para se construir saberes de
forma prazerosa, num ambiente que induz a descobertas de uma forma espontânea. O jogo é
visto como uma oportunidade de construção de saberes de forma natural, sob uma perspectiva
lúdica onde há aquisição de conhecimentos e internalização de conceitos em situações
motivadoras e interessantes, sem qualquer apreensão ou cobrança.
Freinet (1998) denomina de "Práticas Lúdicas Fundamentais" não o exercício
específico de alguma atividade, pois ele acredita que qualquer atividade pode ser corrompida
na sua essência, dependendo do uso que se faz dela. Logo, para Freinet a dimensão lúdica é:
“(...) um estado de bem-estar que é a exacerbação de nossa necessidade de viver, de subir e de perdurar ao longo do tempo. Atinge a zona superior do nosso ser e só pode ser comparada à impressão que temos por uns instantes de participar de uma ordem superior cuja potência sobre-humana nos ilumina”. (FREINET, 1998 p.304)
As Contribuições do Lúdico na Aprendizagem
Infere-se com Kishimoto (2003) que embora alguns autores ressaltem o aparecimento
dos jogos educativos no século XVI, na escola maternal francesa, os primeiros estudos em
torno do mesmo, situam-se na Roma e Grécia antigas. Entre os romanos, jogos eram
destinados ao preparo físico, formar soldados para a guerra.
A relevância do jogo vem de longa data. Filósofos como Platão, Aristóteles e,
posteriormente, Quintiliano, Montaigne, Rousseau, destacam o papel do jogo na educação.
Entretanto, é com Froebel, o criador do Jardim-de-infância, que o jogo passa a fazer parte do
centro do currículo de educação infantil. Pela primeira vez a criança brinca na escola,
manipula brinquedos para aprender conceitos e desenvolver habilidades. Jogos, música, arte e
atividades externas integram o programa diário composto pelos dons e ocupações
froebelianas.
Essas orientações de Froebel dominou a educação infantil por 50 anos, até o advento
da era progressista. Kishimoto modifica estes programas Froebilianos e coloca a experiência
direta com os elementos do ambiente e os interesses da criança como novos eixos, afirmando
que:
Se as crianças são vistas como seres sociais a aprendizagem infantil far-se-á de modo espontâneo, por meio do jogo, nas situações do cotidiano, isto é, tarefas simples como preparar alimentos, lanche, representações de peças familiares, brincar de faz-de-conta, adivinhações, etc. (KISHIMOTO, 2003a, p. 23).
Portanto, para Kishimoto, o jogo é concebido como atividade livre, como forma de
apreensão dos problemas cotidianos. Nessa dinâmica de ludicidade a criança interage com o 20
mundo à sua volta descobrindo-o e descobrindo-se de maneira espontânea e a partir destas
experiências passa a construir sua identidade e personalidade.
A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano é um espaço que
merece muita atenção dos pais e educadores, pois se constitui em um espaço para expressão
mais genuína do ser, é o espaço e o direito de toda a criança para o exercício da relação
afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos.
O lúdico permite o estudo da relação da criança com o mundo externo, integrando
estudos específicos sobre a importância do lúdico na formação da personalidade. Quando a
criança se envolve na atividade lúdica e dela participa, ela forma conceitos, seleciona ideias,
estabelece relações lógicas, integra percepções e o que é mais importante, vai se socializando.
O Jogo Educativo
Kishimoto (2003b, p. 20) sugere critérios para uma escolha adequada de brinquedos de
uso escolar para a garantia da essência do jogo. São eles:
1º - o valor experimental – permitir a exploração e a manipulação;
2º - o valor da estruturação – dar suporte à construção da personalidade infantil;
3º - o valor da relação – colocar a criança em contato com seus pares e adultos, com objetos
e com o ambiente em geral para propiciar o estabelecimento de relações sociais
4º- o valor lúdico –avaliar se os objetos possuem as qualidades que estimulem o
aparecimento da ação lúdica.
O educador precisa estar atento para auxiliar a criança, agindo como mediador e
ensiná-la a utilizar o brinquedo e também a estimulando a participar das brincadeiras, para
que estas descubram o prazer de brincar e ao mesmo tempo aprender.
O suporte material é fator de grande relevância, pois é necessário que se preocupe em
preparar ambientes adequados onde se deve incluir: locais apropriados, dotados de estantes
para comportar uma variedade de brinquedos, dispostos de modo acessível às crianças e
espaços para seu uso. O professor deverá oferecer informações sobre diferentes formas de
utilização dos brinquedos, contribuindo para ampliação do referencial infantil.
Com Piaget, Vygotski e Bruner e outros, os jogos continuam a merecer atenção na
parte psicológica e do desenvolvimento infantil ao promover a descontração da criança, a
aquisição de regras, a imaginação e a apropriação do conhecimento, integrando ainda,
aspectos morais, sociais e cognitivos. Existem ainda autores que se destinam a avaliar as
21
representações sociais acerca da concepção de jogo, dentro de uma perspectiva
interdisciplinar.
Atualmente, no campo da educação infantil, numa perspectiva evolutiva, os filósofos e
psicólogos, ressalta Kishimoto, têm dado atenção especial ao papel do jogo na constituição
das representações mentais e seus efeitos no desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos. Para
uns, o jogo representa a possibilidade de eliminar o excesso de energia da criança, outros
firmam que o jogo prepara a criança para a vida futura. Ou ainda, representa um instinto
herdado do passado, ou mesmo, para o equilíbrio emocional da criança. De acordo com
Friedman:
“As ciências do cérebro e a medicina descobrem o impacto do estresse na vida do homem e os efeitos do bem-estar no desenvolvimento do bebê. Essas descobertas mudam o rumo de nossas concepções. Se há impacto na vida – não só das crianças mas também do adulto –, riso, o humor, a metacomunicação, o ócio começam a fazer parte da mais-valia dos tempos atuais” (FRIEDMAN, 2006, p.31)
Friedman explicita a importância que as atividades lúdicas exercem na vida das
crianças e também dos adultos, sendo reconhecida inclusive cientificamente. Diante disso,
não há como negar os benefícios alcançados por meio de momentos de diversão e liberdade
propostos pelos jogos e brincadeiras, pois estes transportam os que deles se apropriam e
participam para um mundo além do real. Através do envolvimento com o mundo imaginário
as pessoas brincam, trocam, socializam, cooperam e competem, se emocionam, gritam,
choram, riem, perdem a paciência, ficam ansiosos, aliviados, erram, acertam, enfim, se
esquecem dos problemas e gozam de momentos felizes e prazerosos, sendo estes instantes não
só necessários, mas excelentes fontes de renovação e rejuvenescimento que enriquecem a vida
de todos que deles tomam parte.
22
CAPÍTULO 3
O Lúdico na Formação do Educador
“Os jogos e brinquedos, embora sendo um elemento sempre presente na humanidade desde seu início,também não tinham a conotação que tem hoje eram vistos como fúteis e tinham como objeto a distração,o recreio” (Santa Marli Pires dos org.p.19.2004)
Nesse sentido, o profissional de educação que se encontra voltado para as práticas de
aperfeiçoamento e que se preocupa em se reciclar constantemente vê nos jogos e brincadeiras
uma alternativa viável para enriquecer sua prática pedagógica reconhecendo que tais práticas
fazem parte do universo infantil, visto que elas vivem num mundo da fantasia, de alegria, de
encantamentos e fantasias, onde o mundo real e o imaginário se confundem e compreende que
o jogo constitui-se como parte essencial na construção do raciocínio e da descoberta de si
mesmo.
A brincadeira não é somente importante na vida da criança, mas também na vida do
adulto, pois ela além de distrair e entreter tem outras finalidades. Quando brincamos
desenvolvemos funções cognitivas e físicas como a linguagem,a motricidade, a memória, a
percepção, a afetividade e ainda a interação com o outro. Nesse envolvimento com a
brincadeira são desenvolvidas também a relação interpessoal, a comunicação e a capacidade
de resolver problemas e também habilidades de transformação e intervenção em âmbito
social.
O educador que tem como foco uma prática que favoreça a aprendizagem significativa
e efetiva compreende que educar não pode se limitar a simples transmissão de conhecimentos,
mas utiliza-se de recursos como práticas lúdicas que promovam o resgate de suas raízes mais
profundas e a busca por suas razões de ser e existir. O professor deverá ser o primeiro a
experimentar e vivenciar o lúdico. De acordo com Friedman:
“Como não se trata de atividade ligada à produção, torna-se algo fútil, sem propósito e, por conta disso perpetuam-se no inconsciente coletivo máximas construídas ao longo da história, como “homem não brinca”, “brincar não é sério, sério é educação”, brincar e educar são opostos”. (FRIEDMAN, 2006, p.31)
Infelizmente é assim que muitos julgam as atividades lúdicas. O profissional de
educação que pretende contribuir para uma educação de qualidade precisa olhar para a
dimensão lúdica como representação de uma forma de oposição ao pensamento constituído,
valorizando a função libertadora do riso, do divertimento que a brincadeira exerce sob aqueles
23
que delas participam, reconhecendo ainda seus aspectos relevantes para o sucesso de sua
prática pedagógica em seu cotidiano em sala de aula.
É preciso romper com a falsa ideia de que o jogo é simples passatempo, mas ter em
mente que cada atividade lúdica valores e objetivos distintos que deverão ser discutidos,
analisados e colocados em prática no sentido de oferecer ao aluno variadas ferramentas para
que este possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seu potencial
de anseio, e visão de mundo.
“A ludicidade poderia ser a ponte facilitadora da aprendizagem se o professor pudesse pensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, relacionando a utilização do lúdico como fator motivante de qualquer tipo de aula”.
(CAMPOS,1986, p.111)
Nessa perspectiva a formação do educador no que diz respeito ao lúdico pressupõe que
por estes sejam valorizados o cultivo da sensibilidade, a criatividade e a busca da afetividade,
a fim de proporcionar aos seus alunos vivências lúdicas e experiências corporais utilizando a
ação, o pensamento e a linguagem, tendo no jogo sua fonte dinamizadora.
Vista por esse ângulo, a formação do educador, seria rica em qualidade se em sua
sustentação estivessem presentes os três pilares da educação: a formação teórica, a formação
pedagógica e como inovação a formação lúdica, que trará a este conhecer-se como pessoa,
tendo o reconhecimento de suas possibilidades e limitações, e o levará ao rompimento com
suas resistências tendo uma visão clara a respeito do significado e a importância do jogo,
brinquedo ou brincadeira em suas práticas pedagógicas como ferramenta poderosa na
construção de habilidades e potencialidades para sua vida e a vida das crianças. Esse
reconhecimento traria a consciência de um trabalho pedagógico mais envolvente, mais perto
da criança, uma verdadeira parceria.
É urgente que os educadores tenham a consciência de que o jogo constitui-se para a
criança a preparação para a vida adulta, pois ela aprende brincando. Porém este deverá definir
os objetivos a serem alcançados.
Na maioria das vezes o jogo é visto como não-sério, não-racional, dissociado do
processo educativo, decorrente de um pensamento racional e simplificador que considera os
jogos como mera atividade de divertimento. Porém eles podem ser utilizados pra introduzir,
amadurecer conteúdos e preparar o aluno para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser
tomados como facilitadores, sendo colaboradores no sentido de colaborar para trabalhar
24
bloqueios que os alunos apresentem em relação a algum conteúdo e não como instrumentos
recreativos na aprendizagem. Neste sentido, Carvalho afirma que:
"Desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos se mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade portanto, real valor e atenção as atividades vivenciadas naquele instante." (CARVALHO 1992, p.14)
Sabe-se que as crianças pensam de maneira diferente dos adultos e é necessário que se
entenda que o objetivo do educador não é ensiná-las a jogar, mas acompanhar a maneira como
as crianças jogam e resolvem os problemas propostos pelo jogo, principalmente quando se
tratar de conteúdos abstratos. É preciso ser observadores atentos, oferecendo questões
interessantes e servirmos como auxiliares a fim de ajudá-las a construir regras e a pensar de
modo que elas entendam.
Por meio dessas atividades o indivíduo expressa valores, atitudes e sentimentos os
quais deverão ser valorizados no processo educativo, viabilizando uma educação voltada para
as questões sociais e culturais não se limitando aos conteúdos do currículo escolar. Nessa
perspectiva o professor terá que incorporar uma postura mediadora que estimule e motive,
acompanhando sempre os avanços conseguidos por cada educando.
É fundamental que o educador exerça uma postura humana e democrática, opondo-se a
limitação das aulas convencionais, vazias de sentido, sendo, portanto essencial a busca pelo
reconhecimento de que cada indivíduo tem seu saber, e maneiras diferentes de lidar com sua
imaginação. Que cada um tem sua história, sua referência, seu domínio, sua expressão.
Caberá ao professor acolher as diferenças que constituem a vida social.
Os educadores possuem saberes e estes carregam marcas das experiências já
vivenciadas ao longo de sua vida. Os conhecimentos de ordem profissional, curricular,
disciplinar e experimental adquiridos por este profissional ao longo de suas vivências irão
servir de referencial para que este possa se orientar profissionalmente.
Ronca (1980) declara ser do professor a responsabilidade de organizar o brincar e,
para isto, diz ser necessário que este conheça suas particularidades, seus elementos estruturais,
as premissas necessárias para seu surgimento e desenvolvimento. (p.48)
O profissional de educação sofre influência direta em sua prática pedagógica visto que,
suas vivências e experiências durante toda a vida são elementos que refletem sua metodologia
25
e seu modo de pensar e agir, portanto caminha entre as memórias que se cristalizam e se
refugiam num movimento de articulação entre os momentos vividos na infância e a ação
educativa.
É de suma importância que os alunos que se encontram em formação se aproximem
desses fazeres, ora na simulação de aulas lúdicas, ora realizando oficinas com as crianças nas
escolas por meio de estágios ou, simplesmente se reconhecendo como crianças que um dia
foram, relembrando seus jogos e brincadeiras, de maneira a ressignificar a relação jogo-
educação e dar a ela o devido valor.
26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho dedicou-se a análise da importância dos jogos e brincadeiras na
educação. Através da análise dos referenciais para a educação é possível ressaltar a
preocupação que a educação tem de proporcionar às crianças um desenvolvimento integral e
dinâmico e observar que os jogos e brincadeiras ocupam um lugar de destaque no programa
da Educação Infantil.
É importante salientar que tais atividades não devem ser realizadas e tidas como
relevantes somente com as crianças, uma vez que, jovens e adultos também possuem, lá no
fundo, alma de criança e podem seguramente desenvolver habilidades e potencialidades
através de jogos e brincadeiras. O adulto de hoje tem resgatado a necessidade de experimentar
e vivenciar o lúdico, já que ao longo dos anos, com seu amadurecimento esses momentos de
lazer lhe foram tirados sob falsas ideias que a diversão seria perda de tempo.
A utilização de atividades lúdicas como jogos e brincadeiras com finalidade educativa
justifica-se por seu caráter prazeroso e motivador de construção de saberes de forma
espontânea, de maneira que configuram-se como instrumentos de otimização de espaços de
interação e demais benefícios que tais ações podem gerar.
Vale destacar a relevância que tais práticas promovem, pois por meio de sua utilização
podemos colher bons frutos, os quais são extremamente valiosos para uma educação de
qualidade, uma educação que prepara para a vida. Além do enriquecimento da práxis
educativa os jogos e brincadeiras com objetivos delimitados servem para fins de diagnóstico
no sentido de determinar estratégias e métodos a serem aplicados de uma forma natural, sem
qualquer tipo de pressão sobre o aluno, de maneira que este nem percebe que está sendo
analisado. Enganam-se os que pensam ser as atividades lúdicas apenas mero passatempo e
motivo para que o professor relaxe em sala de aula, pois o profissional que reconhece os
atributos das mesmas as tem como excelentes auxiliares e delas não abrem mão, e com muita
responsabilidade participam conjuntamente com seus alunos como guias e estimuladores e
aproveitam esses momentos para também além de interagir buscarem a tecitura de saberes,
numa troca entre professor e aluno, posso afirmar que ricos e valiosos aprendizados nascem
em tais oportunidades. O brincar tem a magia de fazer da criança um adulto e traz o adulto de
volta à infância, pois brincando o individuo transporta-se para outro mundo, para além do
mundo real, e assim é estimulado e se emociona, revela sentimentos, medita, sonha e nesse
exercício estabelece uma linguagem com o outro e por meio dela aprende a ouvir, a decifrar
códigos, a respeitar regras e a exercita a compreensão.27
Portanto, é indispensável ressaltar o reconhecimento de que a utilização de tais
práticas lúdicas são extremamente importantes no cotidiano escolar, pois o profissional de
educação que reconhece seus benefícios e lança mão de tais instrumentos em sua prática
pedagógica percebe que está não só promovendo aulas e momentos de prazer e entusiasmo a
seus alunos, mas também momentos felizes os quais marcarão suas vidas além de
ensinamentos e significados preciosos incutidos nestas atividades que refletem a acima de
tudo a alma do brincante.
Enfim, o ato de brincar excede a ideia de uma atividade que se esgota no significado
de tempo perdido sem benefícios para a criança, visto que brincando, ela se diverte e não
somente isso, mas recria e interpreta o mundo em que vive, interage e relaciona-se com o
mundo, e isso a faz aprender de maneira lúdica e aprazível. Quando o professor relembra e
pratica as brincadeiras e jogos dos quais participou na infância ele se recorda da tranquilidade
e da alegria desse tempo e isso o fazer desejar o mesmo para suas crianças.
28
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº9394, de 20 de dezembro de 1996.CAILLOIS, Roger. Los juegos y los hombres: la máscara y el vertigo. México: Fondo de Cultura económica, 1986. CAMPOS, D. M. S. – Psicologia da Aprendizagem, 19º ed. Petrópolis: Vozes, 1986 CARVALHO, A.M.C. et al. (Org.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. Vol. 1 e 2. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. FREINET, Célestin. A educação do trabalho. 1ª ed. São Paulo-SP: Martins Fontes, 1998.FRIEDMAN, Adriana. Ludicidade e história. Rio de Janeiro-RJ: Revista Nós da Escola, 2006.KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003). NEGRINE, Airton. O lúdico no contexto da vida humana: da primeira infância à terceira idade. In: Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 1ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2000.RONCA, A. Carlos & ESCOBAR, Virgínia. Técnicas Pedagógicas: Domesticação ou Desafio à Participação? Petrópolis, Vozes, 1980. Disponível em http://www.artigonal.com/educacao-artigos/a-importancia-dos-jogos-nas-series-iniciais-385913.html. (Acesso em 05/12/2010)
29