Monografia contrabaixo acustico
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ANDERSON F. GODINHO
CLENICE REIS DA SILVA
DAIANA RODRIGUES CERQUEIRA
MARCOS ANTONIO C. DA SILVA
RAPHAEL DATOVO
RODRIGO FRANCO
SILMARA A. OLIVEIRA
Design Digital – NA4
DESIGN E ARTESANATO: INSTRUMENTOS MUSICAIS
CONTRABAIXO ACÚSTICO
São Paulo
2007/2
ANDERSON F. GODINHO
CLENICE REIS DA SILVA
DAIANA RODRIGUES CERQUEIRA
MARCOS ANTONIO C. DA SILVA
RAPHAEL DATOVO
RODRIGO FRANCO
SILMARA A. OLIVEIRA
Design Digital – NA4
DESIGN E ARTESANATO: INSTRUMENTOS MUSICAIS
CONTRABAIXO ACÚSTICO
Trabalho interdisciplinar apresentado como exigência parcial para a aprovação do quarto período do curso de graduação Design Digital da Universidade Anhembi Morumbi.
Orientadores: Professor Rui Alão Professor Álvaro Gregório
São Paulo
2007/2
SUMÁRIO
Introdução ..............................................................................................................
1. Artesanato e Design ..........................................................................................
1.1 Artesanato ................................................................................................
1.2 A importância da Cultura para o Desenvolvimento Artesanal ..................
1.3 Design ......................................................................................................
1.4 Relações entre Design e Artesanato ........................................................
2. O Artesanato Aplicado na Produção de Instrumentos Musicais
2.1 – Luthieria ....................................................................................................
2.2 – Contrabaixo Acústico ................................................................................
2.3 – Luthier: Walter Rogério Gabriel (WGabriel) ..............................................
3. A Aplicação da Ergonomia na Construção do Contrabaixo Acústico Artesanal
3.1 – Ergonomia do Design ...............................................................................
3.2 – Ergonomia no Contrabaixo Acústico ........................................................
4. Conceito de Criação ..........................................................................................
Considerações Finais ..............................................................................................
Referências .............................................................................................................
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Resumo
A ergonomia é uma ciência que procura adequar da melhor maneira os objetos às
pessoas. O artesanato nãotradicional é um fazer manual e criativo, cujo objetivo
principal é a comercialização. Incluise neste tipo de artesanato a luthieria, que é a
construção artesanal de instrumentos musicais, inclusive do contrabaixo acústico,
objeto desta pesquisa. Com base nisso, realizamos um levantamento bibliográfico para
estabelecer as possíveis relações primeiramente entre artesanato e design, para num
segundo momento discutirmos questões referentes à ergonomia dos objetos
desenvolvidos pelos artesãos. Posteriormente pesquisamos sobre o trabalho do luthier
para entendermos como é o seu processo de criação e produção, especialmente do
contrabaixo acústico, conversando com um profissional com experiência neste tipo de
instrumento. Pudemos perceber que a ergonomia é muito importante na construção do
contrabaixo acústico, bem como para a construção de qualquer instrumento musical,
devendo ser observada pelo artesão ou pelo designer que poderá fazer as intervenções
necessárias.
Palavraschave: Ergonomia, artesanato, cultura, design, luthieria, contrabaixo acústico.
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Introdução
Pretendemos com este estudo avaliar questões referentes à ergonomia aplicada
na construção artesanal do contrabaixo acústico.
Para tanto, buscamos conceituar e estabelecer relações entre design e
artesanato, ressaltando a importância da cultura para o fazer artesanal no capítulo 1.
Tratamos de luthieria e das características do contrabaixo acústico, além de
apresentarmos o luthier Walter Gabriel e um pouco de seu trabalho no capítulo 2. A
questão da ergonomia será abordada no capítulo 3, onde além de relacionarmos a
ergonomia ao design, buscamos essa relação e aplicabilidade na produção artesanal
do contrabaixo acústico. Por fim, procuramos demonstrar a questão da ergonomia
aplicada no contrabaixo acústico artesanal, por meio de um site documental, conforme
capítulo 4.
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1. Artesanato e Design
1.1 – Artesanato
Artesanato é todo o trabalho manual em que pelo menos 80% da peça é obtida
pela transformação da matériaprima pelo próprio artesão. “Este processo vai desde a
obtenção da matériaprima, domínio de técnicas de produção e do processo de trabalho
até a comercialização do produto ao consumidor” (FRANÇA, 2005, p.10).
O artesanato possui características domésticas e, no geral, é valorizado pelo
cunho pessoal de que se revestem seus produtos, elaborados à mão ou com auxílio
de rudimentares instrumentos de trabalho.
É comum tratar artesanato como arte popular. Porém, o artesanato diferencia
se da arte popular pelo seu caráter comercial em que os objetos são produzidos de
maneira repetitiva com pequenas diferenças, enquanto a arte popular é exclusiva e
original. Para Barroso (2001) o artista tem profundo compromisso com a originalidade
enquanto para o artesão esta questão mera casualidade.
Outra característica presente no artesanato é o seu valor utilitário, enquanto o
produto da arte popular é muito mais contemplativo, fruto da expressão do artista.
Artesanato é, portanto, um modo de produção em que o artesão produz
artefatos únicos ou em pequenas séries visando sua comercialização. O artesanato se
aproxima muito mais da necessidade do que da arte pela arte.
Os primeiros artesãos surgiram no período neolítico e a partir do século XI o
artesanato ficou restrito a espaços conhecidos por oficinas onde os aprendizes viviam
com os mestres artesãos e em troca de seu trabalho barato recebiam comida e
aprendizado. Nessa época surgiram as primeiras Corporações de Ofício 1 . Com o fim
das corporações depois da revolução francesa, as máquinas passaram a fazer parte da
rotina de trabalho do homem e acreditouse neste momento que o trabalho artesão
estaria condenado ao fim. No entanto a produção artesanal sempre se fez presente
independentemente da industrialização.
1 Associações que reuniam trabalhadores de acordo com seus interesses comuns de trabalho e defesa mútua.
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De acordo com Dormer (1995), no final do século XX há uma mudança no fazer
artesanal, especialmente nos artefatos de cerâmica, tecelagem e marcenaria, onde o
ofício deixou de ser executado pelas classes trabalhadoras ou pelos artesãos
tradicionais e se tornou uma atividade criativa, realizada também pela classe média,
haja vista o elevado número de ateliês espalhados pelos grandes centros urbanos.
1.2– A Importância da Cultura para o Desenvolvimento Artesanal
É impossível falar em artesanato sem falar em cultura, já que o artesanato
reflete o seu meio cultural. Em conformidade com Aranha (1989), o homem possui a
capacidade de transformar a natureza por meio de seu trabalho. O trabalho é a ação
transformadora dirigida por finalidades conscientes, a partir da qual o homem responde
aos desafios da natureza.
A ação humana transformadora não é solitária, mas social. As necessidades do
homem são satisfeitas a partir de condutas sociais consideradas adequadas em um
determinado momento e lugar.
De acordo com Santos (1994), cultura é uma construção histórica e não algo
natural decorrente de leis físicas ou biológicas. Para ele:
[...] Cultura não é algo parado, estático... o fato de que as transições de uma cultura possam ser identificáveis não quer dizer que não se transformem, que não tenham sua dinâmica (SANTOS, 1994, p. 46).
Portanto, cultura é a transformação que o homem exerce sobre a natureza,
mediante o trabalho, os instrumentos e as idéias utilizados nessa transformação e o ser
humano se faz mediado por essa cultura, uma vez que o mundo cultural é um sistema
de significados já estabelecidos por outros, e, ao nascer, o homem encontra um mundo
de valores a serem aprendidos e apreendidos, como a língua, o jeito de falar, a maneira
de comer, correr, etc.
As culturas humanas tendem à ritualização e à repetição, amparadas na
tradição e no aprendizado, ao mesmo tempo em que representam a possibilidade de
mudança e adaptação.
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Nesse contexto, a noção de trabalho é fundamental para o entendimento de
cultura, pois além de um ato de transformação é um ato de liberdade, no sentido de que
o homem transformando a natureza pode superar obstáculos.
Seguindo este raciocínio, e entendendo cultura como um conjunto de idéias,
crenças, valores e artefatos produzidos pelo homem, fica evidente a importância da
cultura para a produção artesanal, pois, o artesanato está diretamente ligado à cultura e
mais que isso, inserido nela.
Os artefatos produzidos pelo homem podem ter utilidade prática ou uma função
simbólica, transmitindo informações sobre a sociedade a qual o indivíduo pertence.
Estas características simbólicas estão presentes principalmente no chamado
artesanato tradicional, que traz em sua produção uma carga muito forte de identidade
com suas origens. Este tipo de artesanato é conhecido também por artesanato étnico e
além das características que o identificam culturalmente, a tradição está presente
também no próprio fazer do artesão, onde as técnicas são transmitidas de geração em
geração.
Por outro lado, há o artesanato nãotradicional, também chamado de
contemporâneo, que se difere por ter um caráter mais comercial, ainda que o modo de
fazer siga basicamente os mesmos padrões do artesanato tradicional. Nesse caso, os
artefatos produzidos não se confundem com a história das pessoas e a motivação
principal do artesão é a comercialização.
1.3 – Design
“Etimologicamente a palavra design tem origem latina (designare), significando designar e também desenhar (CARDOSO, 2004, p. 28). Esta dualidade contida em
suas origens faz do design objeto de várias definições e centro de muita discussão. De
acordo com Cardoso (2004), muitas definições sobre o assunto concordam que o
design ”atribui forma material a conceitos intelectuais”. Por esse motivo, o campo de
atuação do design é universal, uma vez que sua teoria de projeto é aplicável a qualquer
área do conhecimento, não se prendendo a apenas uma ciência, mas transitando por
várias, dependendo do seu objeto de estudo.
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Segundo Barroso (2001), o design é uma atividade criativa que tem por objetivo
determinar as múltiplas qualidades de um objeto, processo, serviço ou sistema em todo
seu ciclo de vida. Deste modo o design é o fator central na humanização da tecnologia
e fator crucial nos processos de intercâmbio cultural e econômico.
O que basicamente diferencia design e artesanato é que o primeiro projeta um
objeto para a produção industrializada e seriada, sem necessariamente executálo,
considerando os possíveis problemas e intervenções necessárias, e o segundo cria o
objeto e executa de forma manual, participando de cada etapa do processo produtivo.
É difícil precisar em que época os meios mecânicos foram introduzidos nos
processos produtivos já que ocorreram em momentos distintos em diversas regiões. No
entanto, mais fácil que precisar quando houve a separação entre projeto e execução é
saber quando o termo designer foi usado pela primeira vez na história: na Inglaterra do
século XIX, durante a Revolução Industrial.
Segundo Cardoso (2004) os primeiros designers surgiram dentro das fábricas,
evoluindo em suas funções como operários. Com o crescimento da industrialização e o
desenvolvimento da tecnologia, as fábricas tomaram o lugar das pequenas oficinas,
ainda numerosas, mas que representavam a minoria do volume do que era produzido.
Assim, a indústria barateou os preços dos artefatos graças à divisão do trabalho
realizado por operários sem qualificação, o que além de lucro garantia o controle sobre
a mãodeobra. Não havia necessidade de empregar grandes artesãos, um designer
podia projetar o que a mãodeobra barata podia produzir em grande escala.
No final do século XIX, o design passa a projetar a cultura material e visual
desencadeada pela entrada da mulher no mercado de trabalho e ao redesenho das
casas que se tornavam cada vez mais luxuosas e cheias de aparelhos
eletrodomésticos.
O design do período entreguerras foi marcado pelas influências artísticas do
Futurismo, Cubismo, Construtivismo e NeoPlasticismo, especialmente no que se refere
ao design gráfico, e pela criação da Bauhaus, escola de design alemã que se tornou
referência no ensino agregando propostas e idéias inovadoras.
Porém o legado da Bauhaus para o design, segundo Cardoso (2004), foi o de
cristalizar um estilo específico chamado alto modernismo, ou seja, a idéia de que a
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forma ideal de qualquer objeto deve ser determinada pela sua função, determinada por
convenções esteticamente rígidas. Diz ainda que:
[...] contrariando as raízes no movimento de artes e ofícios e a sua prática de produção manual e artesanal, a experiência da Bauhaus acabou contribuindo para a consolidação de uma atitude de antagonismo dos designers com relação à arte e ao artesanato. Apesar de ser uma escola cheia de artistas e artesãos acabaram prevalecendo aquelas opiniões que buscavam legitimar o design ao afastálo da criatividade individual e aproximálo de uma pretensa objetividade técnica e científica. (CARDOSO, 2004, p.120121).
Com o crescimento do consumo no século XX, especialmente no período pós
guerra (a partir de 1950), é que o design se afirma como atividade para agregar valor a
um determinado produto.
No Brasil, as primeiras escolas de design surgiram na década de 60,
primeiramente com a criação do curso de desenho industrial da Escola Superior de
Desenho Industrial e posteriormente do curso de comunicação visual e design.
Somente nos anos 80 houve incentivo da indústria ao design como forma de
agregar valor ao produto, e esta é a consciência que se tem atualmente do design: de
união de valores técnicos, comerciais, sentimentais e históricos, de beleza,
funcionalidade e simplicidade.
Consoante Leal (2005), o design brasileiro é reconhecido mundialmente pela
sua criatividade e valorização de nossa cultura, características presentes também em
nossos produtos artesanais, que atualmente são bastante exportados para países de
todo o mundo.
1.4 – Relações entre Design e Artesanato
O artesanato talvez seja uma semente do design devido a sua inventividade e
qualidade reprodutiva.
Em conformidade com França (2005), a valorização do artesanato em todo o
mundo trouxe à tona a discussão de como o design poderia intervir para promover o
resgate do artesanato, abrindo novos mercados, sem desvinculálo de sua cultura.
10
O papel do design nesse sentido é o de redescobrir o fazer artesanal,
orientando, identificando diferenciais, planejando decisões e práticas que de fato
possam contribuir para a produção e comercialização dos produtos artesanais nos
mercados nacionais e internacionais.
Além desse caráter mercadológico, a contribuição do design para o artesanato
pode ser a de melhorar o produto, no sentido de buscar novos desenhos ou mesmo
falhas no processo de fabricação. Assim, a função do designer junto ao artesão é o de
aperfeiçoar seus artefatos em todos os seus aspectos funcionais.
A produção manual a que nos referimos neste contexto é uma produção
especializada, feita pelo artesão nãotradicional. O tipo de artefato resultante desta
produção é um objeto desenvolvido sob encomenda e sob medida para um público
específico e exigente.
A personalização de produtos é algo muito atrativo e atualmente em alta,
especialmente nas classes sociais mais elevadas onde a customização e a
exclusividade são bem aceitas e almejadas.
Esta atividade artesanal proporciona uma alternativa estética e técnica aos
produtos, dificilmente alcançadas por produtos similares, porém industrializados.
Eis aí uma questão importante: na busca da personalização e da riqueza de
detalhes, muitos artesãos passaram a não ter a preocupação com sua função prática,
apenas estética, ou ainda com questões relativas à ergonomia do produto cabendo ao
designer investigar e propor soluções.
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2. O Artesanato Aplicado na Produção de Instrumentos Musicais
2.1 – Luthieria
Luthieria se refere à arte da construção e da manutenção de instrumentos
musicais. A origem do termo luthieria é bastante discutível, mas a teoria de que sua
origem seja francesa é bastante aceitável. Há quem diga ainda, que o termo vem do
inglês lutemaker (fabricante de alaúde). Segundo Lima (online), a origem da luthieria
encontrase na primeira versão dos instrumentos de corda, chamada de luth nos países
da Europa Ocidental. “O artesão que construía o luth (ou liute) passou a chamarse, na Itália, de liutaio. O liutaio pode ser chamado de violin maker (na Inglaterra), de luthier (na França) ou Geigenbauer (na Alemanha)”.
Conta a história que no fim da Renascença e início do Período Barroco, os
grandes compositores e instrumentistas exigiam dos luthier a produção de instrumentos
cada vez melhores e mais capazes de executar as composições que se tornavam cada
vez mais complexas e difíceis.
Neste período aparecem, em toda Europa, vários centros que concentravam a
construção artesanal de instrumentos de cordas. Cada centro desenvolveu
características próprias de métodos, medidas, estilos e ideal de sonoridade. Surgem
então as principais escolas de luthieria, na Itália (Cremona, Veneza, Brescia, Nápoles,
entre outros), na Alemanha, nos PaísesBaixos (Bélgica, Holanda) e na França. A mais
importante escola é sem dúvida a italiana, que deixou nomes como Stradivari, Guarneri,
Guadagnini, Amati, Montagnana, entre outros.
Porém, independentemente de suas origens é certo afirmar que a profissão de
luthier requer muito conhecimento, técnica e sensibilidade, pois a produção de um
instrumento musical engloba uma série de detalhes, como a preocupação com a
madeira utilizada e a adaptação do material à umidade da região, fatores fundamentais
para o sucesso da fabricação. Por esse motivo, o luthier tem que conhecer
profundamente o tipo de material com que trabalha e escolher a madeira correta para
cada parte do instrumento.
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2.2 – Contrabaixo Acústico
Historicamente existem poucos registros da
evolução dos instrumentos, principalmente dos
instrumentos de arcos. Isto se deve ao fato de que
muitos luthiers não tinham interesse em divulgar como
fabricavam os instrumentos e guardavam essas
informações como segredos.
Os registros mais antigos de que se tem
conhecimento são do século XIII, na segunda metade da
Idade Média. Os primeiros exemplares conhecidos que
apontam o nascimento do moderno contrabaixo
encontramse vinculados à família das violas. E eles são
divididos em dois grupos: as de braço e as de perna.
Naquela época, usavase o nome Gige para denominar tanto a rabeca,
instrumento de origem árabe com formato parecido com o alaúde, quanto o guitar
fiddle, espécie de violão com formato parecido com o do violino. Na Alemanha, a Gige
referiase também aos instrumentos tocados com arco e eram classificados de acordo
com sua sonoridade em grandes ou pequenos.
Os registros históricos mostram que as músicas tocadas na época não exigiam
um número grande de notas musicais e isso passou a mudar a partir do século XV.
Muitos compositores da época reclamavam dos timbres muito agudos dos
baixos, e para solucionar este problema, os construtores de instrumentos realizaram
alterações em suas escalas, a fim de conseguir atingir notas mais graves, sem, no
entanto causar grandes mudanças na estrutura destes instrumentos.
Assim, surge o violone, que pode ser considerado o parente mais próximo do
contrabaixo de orquestra. O violone era também conhecido por viola contrabaixo. Este
instrumento passou então a ser utilizado para a obtenção das notas mais graves.
Somente no século XVIII o contrabaixo adquire sua forma estrutural existente até hoje e
se separa definitivamente da viola.
Figura 1
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O formato do contrabaixo acústico tem como padrão o formato semelhante aos
violões, violinos, etc. No corpo (bojo), tem a parte de baixo que é a maior, onde ficam os
sons de freqüência baixa (mais grave), no meio, onde tem as curvas, ficam as
freqüências médias, e na parte de cima as freqüências mais agudas.
O contrabaixo é um instrumento raramente utilizado para uma interpretação de
solo, cabendo a ele a tarefa de dar suporte e reforço ao baixo da harmonia na região
grave e complementar a harmonia.
A principal característica do contrabaixo é sua voz forte, possante, grave e
profunda. Quanto à música e afinação, de acordo com Vasconcelos (2005):
[...] Sua música é geralmente escrita na clave de FÁ, sendo a altura da nota emitida uma oitava abaixo da altura em que está escrita. É por esse motivo um instrumento transpositor. As canoas do contrabaixo são afinadas em quartas justas, e, quando não dedilhadas, produzem sons MI1, LÁ1, RÉ0 e SOL0, que nas partes para este instrumento estão escritas uma oitava acima (VASCONCELOS, 2005, p.87).
As notas mais agudas do contrabaixo, assim como em todos os instrumentos
de arco, são variáveis e dependem sempre do músico. A técnica do contrabaixo é muito
parecida com a do violoncelo, no entanto, o arco do contrabaixo é mais curto e mais
pesado e isso deve ser considerado para a composição da música.
O contrabaixo acústico não possui muita variedade de timbres por se tratar de
um instrumento com sonoridade surda nas cordas mais graves e uma sonoridade mais
incisiva nas cordas mais agudas.
Existem quatro tamanhos de contrabaixo acústico: 4/4, 3/4, 2/4 e 1/4, conforme
demonstra a tabela abaixo. No entanto, as medidas aqui apresentadas não são
padronizadas e podem variar de acordo com cada desenvolvedor.
REFERÊNCIA DE MEDIDAS COMUNS DOS CONTRABAIXOS ACÚSTICOS
(em centímetros) 4/4 3/4 1/2 1/4
A Altura Total 189,99 181,86 166,88 155,96
B Altura do Corpo 116,08 111,00 102,11 95,00
C Comprimento do braço 109,98 104,90 96,52 89,92
14
D Largura do Corpo (parte de cima) 54,10 51,56 47,50 43,94
E Largura do Corpo (parte de baixo) 68,07 65,02 59,94 55,63
F Inicio do Braço até a extremidade da Cabeça 78,49 74,93 69,09 64,01
G Largura da Cabeça 4,57 4,32 4,06 3,81
De acordo com o luthier WGabriel, todo instrumento tem suas medidas e tudo é
feito proporcionalmente para este instrumento. A diferença em relação aos tamanhos é
a sonoridade, sendo que quanto maior o baixo, mais grave o som.
Vale ressaltar que o tamanho mais utilizado é o 3/4, reconhecido como um
contrabaixo de tamanho regular.
Uma variação na maneira de tocar o contrabaixo está no que se chama
“pizzicato”, onde o instrumento é tocado sem o arco, apenas com o uso dos dedos,
apresentando assim, uma sonoridade mais demorada e muito harmônica.
O desenvolvimento da música popular no final do séc. XIX, principalmente no
que diz respeito ao jazz, inicia a introdução do contrabaixo com uma inovação: o
instrumento tocado com os dedos e não com os arcos, a fim de que tivesse uma
marcação mais acentuada.
O jazz se populariza e durante toda a primeira metade do séc. XX, o baixo é
visto como um imenso instrumento oco de madeira usado para bases de intermináveis
solos de sax.
O domínio do grande contrabaixo acústico como única opção para a emissão
de sons graves perdurou até o ano de 1951, ano em que foi inventado o primeiro baixo
elétrico da história.
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2.3 – Luthier: Walter Rogério Gabriel (WGabriel)
Walter Rogério Gabriel é paulistano e
trabalha como luthier profissional desde 1990.
Porém, seu aprendizado vem de muito antes,
aprendeu o ofício com seu pai que foi um
grande construtor de violinos.
De acordo com o próprio luthier, foi a
necessidade que o impulsionou para a
realização de seu trabalho de maneira
profissional e hoje, trabalha com dedicação e
amor pelo que faz. A observação sempre foi
sua grande aliada e o luthier está sempre em
busca de novidades para se manter no
mercado. Procura sempre se atualizar e experimentar novas idéias, sem, no entanto
fugir das tradições.
Seu ateliê, localizado em Pinheiros, São Paulo, um verdadeiro reduto de
músicos, é sempre repleto de encomendas de instrumentos variados, fruto de uma
carreira vitoriosa e do reconhecimento entre músicos de vários gêneros e
nacionalidades. Hoje, renomados contrabaixistas brasileiros, solos ou que
acompanham artistas famosos, utilizam os baixos construídos por W. Gabriel, entre
eles, Arthur Maia, Ricardo Gasparini (Ira), Thiago do Espirito Santo (Yamandu Costa),
Ximba (Solo), Ney Conceição (João Bosco), Sylvio Mazzuca Júnior (Maria Rita) e
também músicos internacionais, como Roger Waters do Pink Floyd.
Segundo WGabriel, combinação e escolha de madeiras adequadas, segundo
WGabriel, é o grande diferencial do instrumento feito por um artesão. A escolha das
madeiras obedece a um critério: madeiras para o tampo dos instrumentos devem ser
mais moles, porém resistentes, pois esta característica contribui para maior vibração.
A madeira mais utilizada para o tampo é o pinho europeu. Para o fundo são
escolhidas madeiras mais duras porque nesta região a vibração deve ser menor. Se
esta ordem for alterada, a qualidade do som do instrumento fica completamente
Figura 2
16
comprometida. Segundo WGabriel, os músicos profissionais geralmente não entram em
estúdio com instrumentos industrializados, e sim com instrumentos feitos por luthiers,
pois há grandes diferenças na maneira de tocar, na afinação, no volume, e no timbre,
além do conforto proporcionado por um instrumento feito sob medida, aspectos
extremamente observados e cuidados pelos artesãos que primam pela perfeição.
Para a produção de um contrabaixo acústico, são necessários pelo menos
seis meses, por se tratar de um trabalho artesanal e a produção de outros
instrumentos concomitantemente.
Na explicação do luthier, todo
instrumento tem o formato de uma
concha (arredondado), e o seu desenho
influencia na acústica, no som, na
vibração e na qualidade.
O contrabaixo acústico, por ser
grande, tem um som mais grave, pois
vibra muito mais, tem muito mais
madeira para vibrar e a sonoridade é
mais grave. Este é o objetivo dele, sua
função. O contrabaixo pertence à família
dos instrumentos de arcos e na mesma
família estão também o violino, a viola, o
violoncelo, sendo o violino o que
apresenta som mais agudo, a viola
apresenta som mais grave, seguida pelo violoncelo e o mais grave de todos que é o
contrabaixo. A diferença entre eles consiste basicamente no tamanho. Quanto menor,
menos madeira para vibrar e conseqüentemente mais agudo o som fica e, ao
contrário, quanto maior o instrumento, mais madeira para vibrar e o resultado é um
som mais grave.
Figura 3
17
3. A Aplicação da Ergonomia na Construção do Contrabaixo Acústico Artesanal
3.1 – Ergonomia no Design
O termo ergonomia é derivado de duas palavras gregas: "ergon", significando
trabalho e "nomoi", significando leis naturais. A ergonomia é uma ciência
multidisciplinar, que foca as necessidades humanas no design de produto, processos
de trabalho e sistema tecnológicos, tornandoas mais confortáveis e eficientes em seu
uso. Para isso, são considerados comportamentos humanos físicos e psicológicos,
como peso, altura, sentidos da visão, audição, temperaturas e outras. Devido a isso, a
ergonomia é também conhecida como a engenharia dos fatores humanos.
A ergonomia é uma ciência que busca “sempre a melhor adequação ou
adaptação possível do objeto aos seres vivos em geral [...] mais particularmente, nas
atividades e tarefas humanas” (GOMES FILHO, 2003, p.17). Por estar muito ligada à
indústria e ao design, a primeira vista parece ser uma criação do mundo moderno, mas
veremos que sua origem vem de muito antes disso.
Iniciouse quando o homem primitivo criou seus primeiros objetos artesanais
“para garantir sua sobrevivência (design de objetos rudimentares, como armas,
utensílios, moradias, ferramentas, vestimentas, veículos, etc.) fazendo uso apenas de
sua intuição criativa e do bom senso” (GOMES FILHO, 2003, p.17). Nesse período,
onde os objetos eram fabricados artesanalmente, suas características físicas atendiam
somente a sua utilização, iniciandose desta maneira os princípios da ergonomia
citados acima, quando mesmo de maneira rústica, esses eram pensados para facilitar
seu manuseio.
Com o inicio da industrialização em meados do século XVIII, surgiu o Desenho
Industrial, onde entre outros objetivos, estava a criação de objetos funcionais em que “a
simplicidade das formas e da maneira como funcionam se torna a fórmula: a eficiência
máxima deve ser atingida com o mínimo de presença” (PAZ, online). Desta maneira
vemos que o design sempre buscou na forma do objeto o menor esforço possível para
sua utilização, de maneira que este quase se torne uma extensão do corpo do usuário,
e só com a utilização de estudos ergonômicos para chegar a este objetivo.
18
No período da Segunda Guerra Mundial, houve a necessidade de que os
objetos respondessem o mais rápido e eficientemente possível, então, grupos de
profissionais de diversas áreas organizaramse para adaptarem melhor estes objetos à
utilização do ser humano, em conformidade com Gomes Filho (2003):
Esses aparelhos excediam ou não se adaptavam às características humanas, ou seja, essas equipes se organizavam para, entre outros fatores, adequarem operacionalmente equipamentos, ambientes e tarefas aos aspectos neuropsicológicos da percepção sensorial, aos limites da memória, atenção e processamento de informações, á capacidade fisiológica de esforço, adaptação ao frio ou ao calor e de resistência às mudanças de pressão, temperatura e biorritmo (GOMES FILHO, 2003, p. 68).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial os estudos dessa nova tecnologia foram
difundidos e aplicados em praticamente todos os ramos da indústria.
3.2 – Ergonomia no Contrabaixo Acústico
O design do contrabaixo acústico tem sua evolução ergonômica muito ligada ao
desenvolvimento de outros instrumentos mais antigos da sua família como o violino,
onde:
[...] Sua concepção e fabricação tem sido de responsabilidade de mestres artesões talentosos que utilizavam, criativa e intuitivamente, os métodos e processos do próprio design e os princípios e procedimentos ergonômicos de adaptação do objeto ao homem (GOMES FILHO, 2003, p.102).
A ergonomia é questão muito observada e presente no trabalho de artesãos de
instrumentos musicais. De acordo com o luthier WGabriel, considerando que o
contrabaixo é uma ferramenta de trabalho para o músico, o trabalho do artesão é tentar
através do design, construir um instrumento bem acabado, com qualidade sonora e
confortável, sem no entanto alterar sua mecânica.
Ainda segundo WGabriel, o luthier trabalha respeitando a anatomia particular de
cada músico, experimentando sua maneira de “abraçar” o instrumento, observando as
medidas de sua mão, buscando sempre o conforto.
19
A dimensão física do trabalho do músico é facilmente observável e se revela
por meio das posturas assumidas quando da execução do instrumento, do esforço
muscular exigido incluindo a sustentação estática dos instrumentos, as torções de
tronco, os ângulos das articulações, a posição de punhos e cotovelos.
Na construção artesanal de um instrumento, o músico pode sempre opinar
quantos aos seus gostos particulares e preferências e, na medida do possível o luthier
tenta fazer as alterações. Isso porque existem questões de ordem técnica que não
podem ser escolhidas pelo músico e quem avalia é o artesão.
O tamanho da mão do músico é fundamental para a questão do conforto e por
esse motivo ela é sempre medida. As medidas do braço, o acabamento da madeira e a
regulagem das cordas são fatores importantes, considerando a força aplicada nas
cordas e a mão que faz os acordes. Vale dizer que contrabaixos feitos para mulheres
têm sempre o braço mais fino.
Observamos aqui algumas relações entre os processos de fabricação industrial
e artesanal desse instrumento. O design do projeto industrial segue a racionalidade. A
ergonomia é focada no resultado acústico e na usabilidade deste por parte do usuário.
Porém, esta ergonomia é pensada em um público genérico diferenciandose de um
projeto artesanal que não necessariamente precisa seguir está racionalidade.
Em alguns aspectos o artesanato pode até se assemelhar à arte, quando gera
símbolos e significados, despertando sentidos, criando valor de unicidade ao objeto.
Desta maneira queremos dizer que no projeto artesanal, o artesão tem a liberdade de
adaptar o instrumento ergonomicamente às características do usuário, isso é claro
dependendo do interese deste.
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4. Conceito de Criação
O site documental consistirá em uma peça interativa na qual contaremos a
história, curiosidades e o desenvolvimento artesanal do contrabaixo acústico,
relacionando a questão da ergonomia à atividade do designer.
Para atingirmos estes objetivos, utilizaremos a pesquisa teórica e o depoimento
do luthier WGabriel.
O site será construído em tabless, o que demonstra nossa preocupação com a
acessibilidade.
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Considerações Finais
A luthieria é um trabalho artesanal importante para o meio artístico porque busca
personalizar os instrumentos musicais, adequandoos às particularidades de cada
músico.
O contrabaixo acústico é um instrumento grande, se considerarmos o tamanho
mais utilizado que é o 3/4, e por esse motivo alguns aspectos referentes à ergonomia
podem ser avaliados, como por exemplo, a medida da mão em relação ao braço do
instrumento.
Percebemos que o artesão, quando da construção de um contrabaixo, observa
tais aspectos, no sentido de fazer pequenas, porém eficientes alterações buscando um
melhor conforto ao músico e que, portanto, a questão da ergonomia é fundamental para
a realização de seu trabalho.
O trabalho do designer neste sentido deve ser o de observar estas questões
relacionadas à ergonomia, auxiliando o trabalho do artesão.
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Referências
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1989.
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Imagens:
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http://www.meloteca.com/imagens/instrumentarium/contrabaixo.jpg Acesso em: 08 set.
2007.
Figura 2: Luthier Walter Gabriel. Imagem feita pelo grupo.
Figura 3: Luthier Walter Gabriel em seu ateliê com contrabaixo acústico de sua
fabricação. Imagem feita pelo grupo.