Monografia Cleiton Matemática 2007
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS VII CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIA COM
HABILITAÇÃO EM MATEMÁTICA
A GEOMETRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA EDUCANDÁRIO SENHORA SANTANA EM
CANSANÇÃO/BA.
CLEITON DE OLIVEIRA MENDES
Senhor do Bonfim, 2007
CLEITON DE OLIVEIRA MENDES
A GEOMETRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL NA ESCOLA EDUCANDÁRIO SENHORA SANTANA EM
CANSANÇÃO/BA.
PROFA. MIRIAN BRITO DE SANTANA orientadora
Monografia apresentada ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB/CAMPUS VII, como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Licenciatura em Ciência com Habilitação em Matemática.
SENHOR DO BONFIM, 2007
Dedico especialmente este trabalho
aos meus queridos pais, Roque e Amenaide,
aos meus estimados irmãos, Maria, Jaqueline e Rômulo,
a minha esposa amada Joziane,
e, a minha adorável filha Lara Laissy.
A vocês o meu maior carinho.
AGRADECIMENTOS
A Deus por me conceder o prazer de viver
com saúde, alcançando meus objetivos diante das
adversidades existentes.
A toda minha família, em especial aos meus pais, Roque e Amenaide,
sempre presente em minha vida, me apoiando em tudo que faço e ensinando-me
que a melhor virtude de um homem é a honestidade.
A minha orientadora Mirian Brito, pelo incentivo, paciência e humildade.
A minha professora primária Dacilda Rios de Oliveira (in memória) por
ensinar-me os primeiros passos na Matemática;
Ao professor Francisco de Assis Alves dos Santos por me contagiar com seu
amor pela Matemática;
Aos meus amigos Rogério Santana, Jocelma Silva e Joelma Silva pela grande
contribuição neste trabalho;
À UNEB por proporcionar com o ensino que oferece
o crescimento da nossa região;
A todas as pessoas, que direta ou indiretamente,
contribuíram para a realização deste sonho.
A GeometriaA GeometriaA GeometriaA Geometria
faz com que possamos adquirir o hábito de faz com que possamos adquirir o hábito de faz com que possamos adquirir o hábito de faz com que possamos adquirir o hábito de raciocinar, raciocinar, raciocinar, raciocinar,
e esse hábitoe esse hábitoe esse hábitoe esse hábito pode ser empregado, então, pode ser empregado, então, pode ser empregado, então, pode ser empregado, então,
na pesquisa da verdade e ajudarna pesquisa da verdade e ajudarna pesquisa da verdade e ajudarna pesquisa da verdade e ajudar----nos nos nos nos
na vida.na vida.na vida.na vida.
Jacques Bernoulli
(1654-1705)
RESUMO
A Educação desempenha um papel muito importante em nossa sociedade e o
ensino da Matemática tem proporcionado grande contribuição neste processo.
Dessa maneira, acreditamos também que a Geometria, como um dos campos da
Matemática, vem contribuindo significativamente para o desenvolvimento social,
cultural e econômico de nossa sociedade. Neste sentido, realizamos uma pesquisa
qualitativa, buscando analisar a importância atribuída para os conteúdos de
Geometria no ensino de Matemática, no terceiro e quarto ciclos das séries finais do
Ensino Fundamental, da Escola Educandário Senhora Santana, no município de
Cansanção/BA. Para tanto, buscamos dados necessários em fontes bibliográficas,
sobre os aspectos históricos da Geometria, o ensino da Matemática, a contribuição
da psicologia para a educação e a importância da Geometria no ensino da
Matemática, que nos garantissem a veracidade daquilo que julgamos essencial – a
presença da Geometria na vida do homem. Diante destes argumentos teóricos,
aplicamos um questionário contendo perguntas objetivas e semi-objetivas, e
colhemos os planos de aula relativos ao primeiro semestre deste ano, dos oito
professores pertencentes a estes séries nesta Escola. Como resultado da pesquisa,
podemos destacar que, o ensino de Geometria na Escola pesquisada, bem como em
muitas outras, não atender as reais necessidades ou as propostas do MEC na
quantidade de conteúdos destinados as séries em questão, e que o atual livro
didático adotado não corresponde as recomendações do MEC. Entretanto,
constatamos uma preocupação por maioria dos docentes pesquisados, com a sua
formação, e ainda, em incluir conteúdos geométricos em suas aulas de Matemática
nas séries finais do Ensino de Matemática, embora de modo isolado e tímido.
Palavras-chave: Geometria, Ensino de Matemática, Ensino Fundamental, Guias do
Livro Didático, Psicologia da Educação
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS ................................................ 07
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09
CAPÍTULO I: A GEOMETRIA NA HISTÓRIA DO HOMEM ............................. 11
1.1 A Geometria no Período Pré-Histórico .............................................. 11
1.2 A Geometria na Mesopotâmia .......................................................... 13
1.3 O Egito Antigo.................................................................................... 16
1.4 A Influência Grega ............................................................................. 20
1.5 Euclides e Os Elementos .................................................................. 22
1.6 As Geometrias Não-Euclidianas ....................................................... 23
CAPÍTULO 2: O ENSINO DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE
ESCOLAR ...........................................................................................................27
2.1 O Ensino da Matemática ......................................................................27
CAPÍTULO 3: A PSICOLOGIA E O ÂMBITO ESCOLAR ...................................35
3.1 A Psicologia .........................................................................................35
3.2 As Principais Correntes Teóricas da Psicologia do
Século XX .................................................................................................36
3.3 A Psicologia do Desenvolvimento Humano – Piaget ...........................37
3.4 A Teoria Interacionista – Vigotski ........................................................39
3.5 A Teoria da Aprendizagem – David Ausubel .......................................41
3.6 Bruner e a Contribuição para o Ensino ................................................42
CAPÍTULO: 4. OS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA NO PNLD .......................45
4.1 Aspectos Metodológicos Dos Livros Didáticos No PNLD ................... 50
4.2 A Geometria no Ensino da Matemática para O PNLD ........................51
CAPÍTULO: 5. A PESQUISA NO EDUCANDÁRIO SENHORA SANTANA ......54
5.1 Descrevendo a Pesquisa .....................................................................57
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 66
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 68
APÊNDICE ........................................................................................................ 71
LISTAS DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS
1. FIGURAS
Figura 1: Escrita egípcia – hieróglifa ..............................................................12
Figura 2: Escrita mesopotâmica cuneiforme ..................................................13 Figura
3: Tábula de Plimpton 322 ...................................................................15
Figura 4: Pirâmide de Gizé .............................................................................17
Figura 5: Papiro de Rhind (1650 a.C.) ............................................................19
Figura 6: Papiro de Moscou (1890 a.C.) ........................................................19
Figura 7: Mapa da Região de Senhor do Bonfim/BA .....................................56
2. GRÁFICOS
Gráfico 1: Valores Percentuais Referentes a Reprovação do Livro Didático no Parecer Avaliativo do MEC no Período de 1999 a 2008 ................................48
Gráfico 2: Nível de escolaridade dos docentes de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental da Escola Educandário Senhora Santana (%) ........59
Gráfico 3: Quantitativo de docentes que atuaram na escolha dos livros didático de Matemática (%) ............................................................................60
Gráfico 4: Quantitativo de professores de Matemática que tiveram acesso ao Guia de Livros Didáticos PNLD na Escola Educandário Senhora Santana (%) ...................................................................................................61
Gráfico 5: Conteúdos de Geometria trabalhos pelos professores de Matemática nas séries finais da Escola Educandário Senhora Santana (%) ..................................................................................................................62
3. TABELAS
Tabela 1: Valores Referentes a Aprovação ou Reprovação do Livro Didático no Parecer Avaliativo do MEC no Período de 1999 a 2008 ...........................................47
Tabela 2: Valores Percentuais Referentes ao Conteúdo Matemático Desejável no Livro Didático de Acordo Com o Parecer Avaliativo do MEC para 2008 ..................49
INTRODUÇÃO
A educação exerce grande contribuição para formação do ser humano, haja vista que
através dela, o homem consegue desenvolver habilidades essenciais para atuar ativa e
cooperativamente na construção de uma sociedade melhor. No livro Introdução aos PCN 5.ª a
8.ª séries (BRASIL, 1998, p. 6) enfatiza-se que:
O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada pela competição e pela excelência, em que progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho. Tal demanda impõe uma revisão dos currículos, que orientam o trabalho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas em educação do nosso país.
Deste modo, percebe-se que a escola tem um papel muito importante nesse processo.
Nesta perspectiva, procuramos desenvolver uma pesquisa qualitativa, buscando uma análise
acerca da importância que os conteúdos geométricos apresentam no ensino de Matemática,
nas séries finais do Ensino Fundamental, na Escola Educandário Senhora Santana, no
município de Cansanção/BA.
Essa preocupação com a Geometria ocorre por algumas razões. Dentre elas, podemos
destacar que a consideramos como um dos campos da Matemática mais presentes em nossas
vidas. Pois de acordo com Rosa Neto (2002), a Geometria é uma das culturas humanas mais
utilizadas em nosso cotidiano, visto que estamos cercados de situações que envolvem retas,
plano, figura, etc. Outra preocupação decorre de nossa experiência enquanto docente da rede
pública há mais de 10 anos. Esta vivência nos remete ao confrontamento sobre onde estamos
e o que podemos fazer para melhor a situação do ensino que nos é tão próximo.
Ao desenvolvermos nosso trabalho, procuramos dividi-lo capítulos. No primeiro,
enfatizamos os aspectos históricos da Geometria, resgatando suas influências e contribuições
para as civilizações antigas, tais como a egípcia, babilônica, grega e outras. No segundo
capítulo, verificamos como o ensino da Matemática passou a ser universalizado no mundo e
também no Brasil, e quais as suas mudanças e influências nos setores sociais, culturais e
econômicos. Já no terceiro capítulo, desenvolvemos uma análise sobre a influência que as
teorias da psicologia proporcionaram à educação, enfatizando as suas contribuições para o
processo ensino-aprendizagem. No quarto capítulo, analisamos as propostas educacionais
brasileiras com o Plano Decenal de Educação, através dos Guias do Livro Didático, onde
procuramos evidenciar como a Geometria deve se fazer presente no ensino da Matemática. O
último capítulo trás os procedimentos adotados para a realização da pesquisa, os resultados
encontrados e uma análise crítica destes resultados. Por fim, acrescemos neste trabalho as
referências utilizadas para sustentar teoricamente o que discutimos durante todo o texto, as
considerações que achamos pertinentes com os resultados obtidos e, o questionário aplicado
como apêndice.
CAPÍTULO 1. A GEOMETRIA NA HISTÓRIA DO HOMEM
1. 1 A GEOMETRIA NO PERÍODO PRÉ-HISTÓRICO
A história sobre o conhecimento geométrico, é possivelmente tão antigo quanto à
origem do homem em nosso planeta, pois o ser humano desde a sua infância até a sua fase
adulta, de certa forma, já passa a utilizar alguns conceitos geométricos, quando ele observa e
utiliza o espaço em que vive. (SCHMITZ, 1994).
O nosso período pré-histórico é caracterizado pelos vestígios deixados pelos nossos
ancestrais, como ruínas de edificações, utensílios de barro, rabiscos feitos em cavernas,
esqueletos, etc. No entanto, não há documento que expresse as vivências de nossos ancestrais
nesse período longínquo. (SCHIDT, 2002).
Os historiadores ocidentais classificaram a Idade da Pedra em três períodos. O
primeiro é o Paleolítico (c. 5000 000–10 000 a.C.) onde os hominídeos evoluíram e se
transformaram em Homo sapiens, vivendo da caça/pesca e morando em cavernas. No segundo
período denominado de Mesolítico (c.10000–7000 a.C.), houve algumas mudanças climáticas,
gerando-se desertos e reduzindo-se a caça e pesca, com isso, o homem passou a procurar os
lugares próximos dos vales e rios perenes à procura de alimentos. Já o último período, o
Neolítico (c.7000–3000 a.C.), a Idade da Pedra começou a declinar dando lugar às Idades do
Bronze e do Ferro. O homem também passou a utilizar a escrita, a desenvolver novas técnicas
para agricultura e a domesticar animais. (EVES, 2004; SOUZA, 1991).
A respeito dessas mudanças neste último período, Boyer (1974, p. 18) afirma que “o
quarto milênio antes da nossa era foi um período de notável progresso cultural, trazendo o uso
da escrita, da roda, e dos metais”. As primeira civilizações que passaram a utilizar a escrita,
de acordo com os registros históricos, foram a mesopotâmica e a egípcia. (EVES, 2004).
Na Mesopotâmia, região situada entre os rios Tigre e Eufrates, os povos sumérios,
passaram a fazer suas representações em placas de barros, utilizando a escrita cuneiforme –
escrita feita em barro com instrumento afiado na ponta ou cunha. Estima-se que no mesmo
período, os povos egípcios passaram a utilizar dois tipos de escritas nas paredes das pirâmides
e em folhas de papiros, um tipo de ancestral do nosso papel, denominadas demótica (simples)
e hieróglifa (mais complexa, usando símbolos e figuras). (BOYER, 1974).
As figuras (1 e 2) a seguir mostram estas escritas feitas por egípcios e mesopotâmicos.
FIGURA 1: Escrita egípcia – hieróglifa
FIGURA 2: Escrita mesopotâmica cuneiforme
Fonte: www.cyberantes.com.br
É importante ressaltar que há alguns indícios afirmando que as civilizações indiana e
chinesa apresentavam alguns avanços nessa época, embora de acordo com Eves (2004), não
haja qualquer registro confiável, até o momento, que garanta tal existência. Os registros
encontrados, desses povos demonstram claramente as suas contribuições para o
conhecimento matemático e demais áreas do conhecimento humano. Por isso, é interessante
viajar no tempo e conhecer um pouco mais, sobre essas civilizações antigas.
1.2 A GEOMETRIA NA MESOPOTÂMIA
A região situada entre os rios Tigre e Eufrates denominada de Mesopotâmia, é hoje
conhecida como o Iraque. Atribui-se a essa região, o surgimento das primeiras civilizações
como cidades e o uso da escrita. Durante muito tempo, a Mesopotâmia foi o centro do mundo
antigo, onde sempre esteve exposta a infiltrações de estrangeiros. Sua história é marcada pela
sucessão de guerras, invasões, massacres e dominações de povos diferentes. Dentre esses
povos, destacam-se os sumérios, acádios, amoritas, cassitas, assírios e caldeus (SCHIMIDT,
2002; SOUZA, 1991).
Fonte: www.cyberartes.com.br/edicoes/78/aprenda08.gif
Com a criação da escrita cuneiforme, os povos mesopotâmicos passaram a adquirir
maior conhecimento e, com isso, criaram leis, registros de impostos, histórias, lições de
escola, cartas pessoais etc. Esses fatores contribuiram para o surgimento de alguns impérios
na antiguidade, sendo o mais famoso o reinado de Hamurabi (c. 1730–1685 a.C.). Nele, o
imperador fortificou a capital Babilônia, criando muralhas, grandes obras públicas e o Código
de Leis mais antigo que a história registra, cuja idéia principal era “olho por olho, dente por
dente”. (SCHIMIDT, 2002; SOUZA, 1991).
As maiores informações sobre essa civilização, estão em suas escritas nas tábulas de
argila, onde os arqueólogos vem trabalhando sistematicamente desde meados do século XIX,
com a descoberta de mais de meio milhão de tabulas. Dentre elas, apenas 400 são
consideradas como estritamente matemática, contendo listas de problemas referentes a esta
área do conhecimento. (BOYER, 1974).
O conhecimento geométrico encontrados nestas tábulas de argila, chama a atenção por
seu grau de conhecimento da Geometria plana (área) e espacial (volume), pois dentre os
numerosos exemplos concretos do período (c. 2000 a.C.–1600 a.C.) eles já demonstravam
bastante familiaridade com as regras gerais para os cálculos de áreas de figuras geométricas
planas, tais como: retângulo, triângulo retângulo e isósceles, trapézio retangular, círculo com
π equivalente a três unidades de medida. Demonstravam também familiaridade com o volume
de alguns sólidos, a exemplo do paralelepípedo retangular, prisma reto de base trapezoidal e
cilindro reto. (EVES, 2004).
Dentre as tábulas de matemática descobertas pelos arqueológicos, destaca-se
Pimpton 322, escrita no reinado de Hamurabi. Esta tábula apresenta exemplos de triângulo
retângulo, sendo assim comparada com a tripla pitagórica. De acordo com Milles (1994) e
Eves (2004), todas as triplas na Tábula Plimpton 322, podem ser facilmente convertida numa
tripla pitagórica de números inteiros. Abaixo temos uma imagem desta tábula.
FIGURA 3: Tábula de Plimpton 322
É importante ressaltar que esses documentos babilônicos são mais resistentes ao tempo
do que os de outras civilizações e, segundo Boyer (1974), talvez por isso, dispõe-se hoje, de
muito mais informações sobre a matemática da Mesopotâmia do que a do Egito e de outras
civilizações que supostamente deixaram suas contribuições para essa área.
Diante dessas informações, percebemos que os povos mesopotâmicos deram grande
contribuição para o desenvolvimento da matemática, assim como às demais áreas do
conhecimento humano. A respeito do conhecimento matemático, deixado por essa civilização
neste período, Eves (2004, p. 63) afirma que é possível “concluir, em suma, que os babilônios
eram infatigáveis construtores de tábulas, calculistas extremamente hábeis e certamente mais
fortes em álgebra do que em geometria”. E ainda, que merece destaque “a profundidade e a
diversidade dos problemas considerados por eles”.
Fonte: www.math.edu.pl/images/anegdoty/plimpton.jpg
1.3 O EGITO ANTIGO
A civilização egípcia se originou as margens do rio Nilo, localizada no nordeste da
África. A sua formação vem de povos que habitavam próximo ao mediterrâneo, que depois se
misturaram com líbios, semitas e elementos negróides. Devido ao clima seco, ao deserto à sua
volta e a escassez de chuva na região, toda população se concentrava às margens do rio Nilo,
em busca de terras férteis, pois durante as cheias, o rio Nilo transbordava, deixando nas suas
margens um solo rico e cultivável. (SOUZA 1991; SCHIMIDT, 2002).
No aspecto político, o antigo Egito, não sofreu tanto com as invasões de estrangeiros
como os mesopotâmicos, pois o clima quente e os desertos serviam de escudo. Por isso,
manteve-se em isolamento, protegido naturalmente de invasões estrangeiras, sendo governado
pacificamente por uma sucessão de dinastia. (EVES 2004; SOUZA 1991).
Com o surgimento dos impérios, os faraós passaram a cobrar impostos sobre as terras
cultivadas às margens dos rios, o que gerou a necessidade de medi-las. A partir daí, os faraós
mandavam pessoas “especializadas” a fim de medir as terras e cobrar os impostos
proporcionais a utilização. Esses “especialistas” eram chamados de estiradores de cordas ou
agrimensores, pois mediam as terras usando cordas com nós. Heródoto (484–425 a.C.)
historiador grego, afirma que se o rio arrastasse uma parte da propriedade de um agricultor,
este por sua vez, poderia reivindicar ao faraó uma nova demarcação de suas terras e, com isso,
só pagaria o imposto da terra que restasse. A partir daí, afirma o historiador, a Geometria veio
a ser conhecida pela primeira vez no Egito e dali passou à Grécia. (EVES, 2004; SOUZA,
1991). No entanto, há outra versão para o surgimento da Geometria citada por Aristóteles
(384–322 a.C). Segundo Boyer (1974), Aristóteles acreditava que a classe sacerdotal do
Egito, daquela época, criou a Geometria quando em seus rituais religiosos estudavam os
conhecimentos geométricos pelo puro prazer.
Para termos uma idéia melhor sobre conhecimento matemático desta civilização
antiga, basta lembrar que durante o Império Antigo (c. 3200 a.C.–2300 a.C.) os faraós da
quarta dinastia, Quéops, Quérfen e Miquerinos, construíram as grandes pirâmides de Gizé.
Pirâmides estas, que atualmente são consideradas como uma das sete maravilhas do mundo
antigo. (SOUZA, 1991). A figura abaixo mostra as referidas pirâmides.
FIGURA 4: Pirâmide de Gizé
De acordo com Souza (1991) e Eves (2004), nestas pirâmides estão dois milhões de
blocos de pedra pesando em média 2,5 toneladas cada um, ajustados entre si. Estes blocos
ainda segundo estes autores, teriam vindos do outro lado do Nilo. Nas pirâmides, os tetos de
certas câmaras eram construídos em blocos de 54 toneladas; o erro relativo da base quadrada é
de 1/14000 e o erro relativo dos ângulos dos vértices da base não excede 1/27000. Outro fato
que importante é que ela foi construída por cem mil trabalhadores em um período de 30 anos.
Além desses monumentos históricos, há dois papiros, entre vários que resistiram ao
tempo, que tratam de temas de matemática, que merecem destaques, são eles: o Papiro de
Rhind ou Ahmes e o Papiro de Moscou ou Golonishev. Segundo Boyer (1974) e Eves (2004).
Fonte: www.rosaleonor.blogspot.com
O primeiro, é o mais extenso rolo de papiro com 0,3 m de altura e 5 m comprimento, está em
Britsh Murium. Ele foi escrito pelo escriba Ahmes por volta de 1650 a.C. e comprado em
1858 por Henry Rhind, proprietário de um antiquário escocês. Neste Papiro há métodos de
multiplicação e divisão, uso de frações, soluções de problemas de área de círculo e muitos
problemas de matemática. Enquanto que o segundo, pouco menor que o primeiro, foi escrito
por volta de 1890 a.C. na décima dinastia por um escriba desconhecido. Neste último Papiro
está a fórmula correta do volume de um tronco de pirâmide de base quadrada. Esta preciosa
informação, ainda de acordo com os autores citados, é única, pois, não há outro registro no
oriente antigo além deste encontrado no Papiro de Moscou. Essa fórmula é considerada por
alguns historiadores como a maior pirâmide do Egito. Observemos a seguir as figuras que
mostram esses dois papiros.
FIGURA 5: Papiro de Rhind (1650 a.C.)
FIGURA 6: Papiro de Moscou (1890 a.C.)
Fonte: www.ime.usp.br/.../imagens/ht_prhind.jpg
As informações sobre o conhecimento matemático dos povos egípcios na antiguidade
são impressionantes, embora não haja registro de generalização sintetizada dos conteúdos de
matemáticas, pois seus exemplos escritos em papiro são citados como textos de matemática
que envolvem problemas práticos da vida cotidiana desses povos há milênios antes de Cristo.
Nesse período, os egípcios ainda não dominavam a demonstração rigorosa e sistematizada da
matemática. E, isso só veio acontecer mais tarde numa cidade do Egito fundada por gregos e
por pessoas que falam grego, denominada de Alexandria. (MILLES, 1999; BOYER, 1974;
EVES, 2004).
1.4 A INFLUÊNCIA GREGA
A Grécia é um país situado na Europa Oriental, entre os mares Jônio, Egeu e
Mediterrâneo, onde apresenta várias montanhas e ilhas à sua volta. Segundo Milles (1999), os
primeiros vestígios dessa civilização denominada egéia ou pré-helênica, remonta do terceiro
Fonte: www.ime.usp.br/.../imagens/ht_moscou.gif
milênio a.C. e foram encontrados na ilha de Creta. Quanto à origem de seu povo, Souza
(1991) afirma que os gregos julgavam-se descendentes de Heleno, filho do Deucalião e Pirra,
que povoaram o mundo após o dilúvio. No entanto, o próprio autor considera que eles
pertenciam aos grupos nórdicos e alpinos que chegaram à Grécia por volta de 2000 a.C. e se
misturaram com povos do mediterrâneo, como aqueus, eólios, jônios e dórios.
Devido a sua localização geográfica, os povos gregos entraram em contato com outros
povos vizinhos, tais como egípcios, babilônios e fenícios, onde absorveram conhecimentos
sobre a escrita e a matemática e em pouco tempo despontava como uma grande civilização.
Para Eves (2004) a revolução agrícola vinda do Egito e do Oriente Médio chegou à Grécia por
volta de 2000 a.C. e dentro de 300 anos ela já se apresentava como uma civilização avançada,
dominando a escrita e leitura. Segundo Boyer (1974, p.19), “os gregos não hesitavam nada em
absorver elementos de outras culturas, de outra maneira não teriam aprendido tão depressa
como passar à frente de seus predecessores, mas tudo o que tocavam davam mais vida”.
De acordo com Eves (2004), essa hegemonia grega teve maior apogeu no período
1700 a 1200 a.C,, pois durante 1200 à 1150 a.C. essa civilização foi destruída pela invasões
dos dórios-povos bárbaros da Ásia – que provocaram grande retrocesso para a cultura grega.
Só por volta de aproximadamente 800–336 a.C., período chamado Helênico, é que eles
surgem novamente, apresentando um processo intelectual e científico surpreendente. Neste
período, afirma Eves (2004, p. 91), a “Grécia Helênica era um mosaico de cidade–Estado e de
pequenas fazendas dispersas”. Ainda sobre esse período, acrescenta Boyer (1974, p. 19),
“colônias gregas podiam ser encontradas ao longo das margens do Mar Negro e Mediterrâneo
e foi nessas regiões afastada que um novo impulso se manifestou na matemática”. Os gregos
travaram lutas internas e externas, provocando assim várias turbulência em determinados anos
e ao mesmo tempo, promovendo os fundamentos básicos para a sociedade ocidental, tais
como no campo filosófico, artístico, matemático e outros. Eves (2004) considera que o
Período Helênico grego (c. 800–336 a.C.) testemunhou realizações intelectuais
extraordinárias, pois nos grandes centros comerciais da Grécia, principalmente em Atenas, os
filósofos lançaram novas idéias para seus discípulos baseadas na racionalidade, dentre eles
merecem destaques: Sócrates (c. 469-399 a.C.), Platão (c. 427-347 a.C.) e Aristóteles (c. 384-
322 a.C.). As histórias reais passaram a ser escritas, destacando-se Heródoto (c.484-424 a.C.)
e Tucídides (c.460-400 a.C.). A matemática passara também ao emprego do raciocínio
dedutivo, destacando-se Tales de Mileto (c. 640-564 a.C.) e Pitágoras (c. 586-500 a.C.) dentre
outros.
1.5 EUCLIDES E OS ELEMENTOS
As informações sobre a vida de Euclides são poucas. Supõe-se que ele estudara na
Academia platônica em Atenas, onde adquiriu grande conhecimentos matemáticos e por volta
do ano 300 a.C., à convite de Ptolomeu I, viajou para a cidade de Alexandria no Egito, onde
lecionou na Universidade de Alexandria e provavelmente fundou a Escola de Matemática de
Alexandria. (EVES, 2004).
Euclides empreendeu inúmeros estudos na área de matemática naquela época, através
de várias obras. Muitas se perderam no tempo, restando apenas cinco. Entre elas, destaca
Boyer (1974), estão Os Elementos, Os Dados, Divisão de Figuras, Os Fenômenos e Óptica.
Os Elementos é a obra mais famosa de Euclides, pois segundo Eves (2004, p. 167):
“não há outro trabalho, exceto a Bíblia, tão largamente usado ou estudado e, provavelmente
nenhum exerceu influência maior no pensamento científico”. A primeira publicação impressa
destra obra foi feita em 1482 na cidade de Veneza com a tradução de Campanus. A partir daí,
já foram impressas mais de mil edições, destaca Milles (1999). De acordo com Eves (2004) a
obra Os Elementos, refere-se a uma genial compilação de todo conhecimento geométrico,
destacando também alguns aspectos aritméticos e algébricos elementar, que superou tudo o
que existia até aquele momento e serviu de base para os estudos que datam de mais de dois
mil anos. A respeito desta obra, Boyer (1974), relata que ela é composta de 465 proposições,
contendo treze livros ou capítulos, dos quais os seis primeiros são sobre a Geometria plana e
elementar, os três seguintes sobre o Teorema dos números, o Livro X sobre os
incomensuráveis e os três últimos falam principalmente sobre a Geometria no espaço.
Segundo Milles (1999), Euclides utilizou um modelo lógico protagonizado por Aristóteles,
usando com distinção axiomas e postulados.
Muitos destes postulados utilizados por Euclides, em sua obra Os Elementos, foi
durante muito tempo aceito. No entanto, o quinto postulado do Livro I, o Postulado das
Paralelas, comumente conhecido, gerou muitas controvérsias e por isso, vários matemáticos
posteriores a Euclides tentaram demonstrar que não era possível tal proposição. Com isso, ela
serviu de base para as novas geometrias. (Milles, 1999).
1.6 AS GEOMETRIAS NÃO-EUCLIDIANAS
A Geometria apresentada por Euclides em sua obra Os Elementos (c. 300 a.C.) foi
considerada como a única Geometria possível e inquestionável por mais de dois milênios após
a sua publicação. (COUTINHO, 2001). Nesta obra, Euclides conseguiu reunir todo
conhecimento matemático elementar até então existente. Nela havia 465 proposições, cuja
teoria baseava-se em cinco axiomas e cinco postulados. De acordo com Milles (1999),
Euclides distinguia os axiomas dos postulados, adotando assim, o modelo estabelecido por
Aristóteles (384–322 a.C), onde axiomas são noções comuns ou verdades válidas para
qualquer ciência, enquanto postulados são coisas a ser requerida sem demonstração, ou seja,
são princípios implícitos ou explícitos, porém não demonstrados.
O quinto postulado, destaca Eves (2004), despertou grande curiosidade de muitos
geômetras por mais de 2000 anos, onde várias tentativas foram feitas na perspectiva de prová-
lo a partir dos nove axiomas e postulados anteriores. Dentre as várias tentativas, faz-se
necessário destacar a de Girolamo Saccheri (1667–1733). Para Eves (2004), Saccheri foi
quem passou a utilizar pela primeira vez uma investigação científica acerca do quinto
postulado de Euclides. Ainda para Eves (2004, p. 540), se Saccheri não estivesse “tão ávido
de exibir uma contradição e, em vez disso, tivesse admitido sua incapacidade de alcançá-lo”
provavelmente “os méritos da descoberta da geometria não-euclidiana caberiam a ele”.
Segundo Boyer (1974), outras publicações referentes ao Postulados da Paralelas, foram
registrados na história. E dentre elas, merecem destaque Die Theorie der Parallelli e Elements
de Geomètrie do suíço Johann Heinrich Labert (1728–1777) – similar a de Saccheri – e do
francês Andrien-Marie Legendre (1752–1833). Essas publicações deram muita contribuição
para a divulgação do quinto postula de Euclides. No entanto, segundo Boyer (1974),
percebeu-se que o Postulado das Paralelas era independente dos demais e, por isso, não
poderia ser demonstrado em função dos outros.
De acordo com Eves (2004), a história considera que os primeiros a suspeitarem desse
fato, foram o alemão Carl Friedrich Gauss (1777–1855), o russo Nicolai Ivanovitch
Lobachevsky (1793–1856) e o húngaro Janos Bolyai (1802–1860). No entanto, o próprio
autor ressalta que, embora Gauss houvesse dito que era possível existir outra Geometria
diferente da euclidiana, nada consta publicado a esse respeito.
Segundo Boyer (1974) e Eves (2004), o russo Lobachevsky estudara na Universidade
de Kazan, onde passou a ser professor e posteriormente administrador. Durante 1826 e 1829,
percebeu que o quinto postulado de Euclides não poderia ser provado com base nos outros
quatro, e em 1829 publicara o artigo On the Principles of Geometry, o qual marca
oficialmente o nascimento da Geometria não-euclidiana. Para Eves (2004, p. 543):
Essa memória mereceu muita pouca atenção na Rússia e, por ter sido escrita em russo, praticamente nenhuma em outros lugares. Lobachevsy deu continuidade a seus esforços iniciais com outras exposições. Por exemplo, na expectativa de alcançar um grupo mais amplo de leitores, ele publicou, em 1840, um pequeno livro escrito em alemão intitulado Geometrische Untersuchungen Zur Theorie der Parallellinien (Investigações Geométricas sobre a Teoria das Paralelas), e mais tarde, em 1855, um ano antes de sua morte e algum tempo depois de ficar cego, uma abordagem final, mais condensada, em francês, com o título de Pangéométrie (Pangeometria).
Com relação ao húngaro Janos Bolyai, de acordo com Eves (2004), ele sempre foi
influenciado pelo seu pai para demonstrar o Postulado das Paralelas. No entanto, em 1829,
aproximadamente, ele escreve para seu pai e afirma que não é possível demonstrar o quinto
postulado de Euclides. Com isso, resolve criar a “Ciência Absoluta do Espaço”, onde partiu
da hipótese que por fora de uma reta, podem ser traçadas infinitas retas num plano e, em
seguida enviou para seu pai, que só publicou no ano de 1832, em um apêndice de seu livro.
Segundo Boyer (1974), embora a data de publicação de Bolyai seja depois da obra de
Lobachevsk, considera-se que não haja plágio, pois naquela época as informações eram
tardias.
Após às descobertas de Lobachevsky e Bolyai, a Geometria não-euclidiana ficou de
certa forma esquecida durante algumas décadas até que Georg Friedrich Bernhard Riemann
(1826–1866) passou a tratá-la de maneira geral, cujo objetivo não deveria ser tratado apenas
de pontos, ou de retas, ou de espaço de maneira ordinária, mas como uma coleção de n-uplas.
(BOYER, 1974). Além disso, Riemann deu grande contribuição para o conceito de
integralidade para o século XX, a qual chamamos atualmente de Integral de Reiman. (EVES,
2004).
Na segunda década do século XX, houve uma grande revolução nos métodos
topológicos da álgebra que se estendeu na análise e consequentemente na formulação da
geometria de n dimensão. Segundo Boyer, destaque maior existe nas obras de Nicolas
Bourbaki, na netade do século XX. Trata-se de um grupo de matemáticos que usam este nome
como pseudônimo. De acordo com Eves (2004), desde 1939 essas obras matemáticas vem
aparecendo na França cujo objetivo reflete nas tendências que a matemática deveria assumir
para o século XX. A composição do grupo, é variável, tendo chegado até 20 matemáticos. A
única norma é que não há norma, exceto o jubilamento dos membros com mais de cinqüenta
anos. Estima-se que alguns nomes não oficiais sejam C. Chevalley, J. Dieudonné e A. Weil,
comenta Eves (2004).
Diante de tantas informações sobre as mudanças da Geometria no seu processo
histórico, vale ressaltar que:
A criação das geometrias não-euclidianas, puncionando uma crença tradicional e rompendo com o hábito do pensamento secular, desferiu um golpe duro no ponto de vista da verdade absoluta em matemática. Nas palavras de Georg Cantor: ´A essência da matemática está em sua liberdade´. (EVES, 2004, p. 545).
Com o registro destes aspectos históricos da Geometria é possível observar a
importância dos seus fundamentos para com a civilização de um modo geral. Assim, diante de
tão valiosa contribuição deixada por estes povos, esperava-se que o sistema de ensino
atribuísse semelhante valorização a sua integração nos currículos escolares. Entretanto, da
utilização da Geometria para a composição dos conteúdos escolares muito ainda se tem por
fazer.
CAPÍTULO 2: O ENSINO DE MATEMÁTICA NO AMBIENTE
ESCOLAR
2.1 O ENSINO DA MATEMÁTICA
Estudiosos consideram o ensino da Matemática tão antigo quanto o ensino da língua
vernácula. No entanto, o ensino da Matemática só passou a ser inserido na escola a partir da
Revolução Industrial ocorrida no século XVIII. Antes a matemática somente era acessível aos
filósofos ou a grupos restritos. Com o surgimento das indústrias, as atividades ligadas ao setor
primário e aos produtos manufaturados começaram a reduzir, dando lugar às novas atividades,
tais como: operação de máquinas, relações de sistemas bancários, gerenciamento de empresas,
etc. Contudo, essas atividades exigiam “mão de obra qualificada”, onde a maioria das pessoas
deveria ter um conhecimento técnico suficiente para se adaptar à nova realidade. Por isso, os
governantes, pressionados pelos industriais, resolveram investir na universalização da
educação. (FALZETTA, 2002; SCHIMIDT, 2002).
Diante da necessidade apresentada na nova conjuntura social e econômica, a
Matemática inseriu-se no contexto escolar, onde os currículos e os livros didáticos são
baseados no raciocínio dedutivo do grego Euclides. No entanto, como a linguagem
matemática utilizada nos livros era complexa, dificultava a compreensão de estudantes do
ensino básico. Apesar dessas dificuldades, a Matemática consegue se desenvolver e ganha
uma importância maior nas escolas até o início do século XX. (FALZETTA, 2002)
Após a Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria1, o ensino da Matemática
passa por reformulação no seu currículo. A corrida espacial, protagonizada pelos Estados
Unidos da América (EUA) e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (ex-URSS)
e os congressos internacionais promovidos na Europa e nos Estados Unidos contribuíram para
essas mudanças no ensino da Matemática. No início da década de 50, os franceses Jean
Dieudonné, Gustavo Choquet e outros, juntaram-se a filósofos suíços, visando novas
perspectivas para o ensino da Matemática. Com isso, vários países europeus, como Bélgica,
Iugoslávia e Inglaterra também passaram a aderir ao movimento dessas mudanças. E em
1959, a Organização Européia de Cooperação Econômica, promove o Colóquio de
Royaumont na França, cuja proposta era a reformulação dos currículos em vigor. Nesse
Colóquio Choquet apresentou uma proposta para o ensino primário e o secundário da
Matemática. (PIRES, 2000).
Com as propostas apresentadas no Rayaumont na França e na convenção de
Dubrovinik na Iugoslávia, em 1960, deu-se início ou marco ao movimento da Matemática
Moderna. Esta reforma baseava-se na teoria dos conjuntos, dando-se ênfase aos aspectos
algébricos e aritméticos respeitando as estruturas lineares, e conseqüente negação dos
aspectos geométricos. Esse movimento ganha maior projeção na década de 60 na Europa com
Dieudonné, pelo grupo Bourbaki e Choquet na França, por Flether na Grã-Bretanha, por
Madame Krygowska na Polônia. Na América do Norte, passou a ser influenciada por Dienes
no Canadá e por vários grupos de pesquisa nos Estados Unidos, destacando-se o School
Mathematcs Study – SMSG, National Council of Teachers of Mathematics – NCTM e outros
apoiados às universidades de Illinios, Miryland e Boston Callege. (PIRES, 2000).
No Brasil, esse movimento ganha adepto especialmente em dois estados, São Paulo e
Bahia. No estado de São Paulo foi criado o Grupo de Estudo de Educação Matemática –
1 A Guerra Fria foi uma designação dada para o período compreendido entre 1945 a 1989, onde EUA e a ex-URSS, protagonizaram a disputa de mercado entre o “capitalismo” e o “socialismo”, criando assim, um clima de Guerra que nunca aconteceu.
GEEM, liderado por Oswaldo Sangiorgi, que apresentou para o ensino primário, vários
manuais escolares, dando ênfase aos axiomas e as estruturas algébricas. No estado da Bahia,
esse movimento passou a ser contemplado por um grupo de professores, que liderado por
Omar Catunda, apresentaram alguns livros para o ensino primário e secundário. (SANTANA,
2000).
Após uma década do movimento da Matemática Moderna, as críticas começaram a
aparecer, gerando assim, uma decadência na proposta. Com isso, surge o Movimento de
Educação Matemática, onde há a participação de professores de vários países e de grupos de
pesquisa, inclusive os próprios defensores da Matemática Moderna. Nesse novo movimento,
as críticas se sobrepõem aos aspectos dos conteúdos valorizados pelo movimento da
Matemática Moderna, visto que a nova proposta aponta como foco principal centralização os
métodos de ensino, o uso de novas tecnologias (como a calculadoras e outras), a relação da
Matemática com a vida, valorizando também os aspectos sociais, lingüísticos e psicológicos
do indivíduo em seu meio. (FALZETTA, 2002).
Para o matemático holandês Freudenthal (1979, apud Pires, 2000, p. 15), o erro
principal da Matemática Moderna estava na sua falsa perspectiva.
Até agora considerava-se, tradicionalmente, que o ensino da Matemática, em qualquer nível, era determinado pelos conhecimentos adquiridos na etapa seguinte, e que se tratava de um processo gradual e seletivo, devendo culminar em nobres investigações matemáticas. Ora, a idéia inovadora proposta pelos defensores da Matemática Moderna, consistia em efetuar certo “encurtamento”: os conceitos mais adiantados deviam ser na escola infantil – mesmo por professores que não possuía a menor idéia do seu significado nem das suas verdadeiras aplicações no plano matemático. Assim, certos sistemas colocados a serviço das abstrações matemáticas, desligados do seu sentido e do seu contexto matemáticos, considerados temas de estudo, concretizados de maneiras inadequadas, eram ensinadas a crianças de qualquer idade.
Para Pires (2000), os dois movimentos apresentam características distintas. O
movimento da Matemática Moderna, apresentou um compromisso com os avanços técnicos, à
luz da ciência e da tecnologia, buscando como meta de ensino a abstração e aplicações
práticas diretas. Enquanto a Educação Matemática em contraposição ao primeiro movimento,
está centrada numa perspectiva mais ampla, cujo objetivo é valorizar os métodos adequados
para cada etapa do processo de ensino/aprendizagem, utilizando a resolução de problemas
matemáticos que tenham relação com as demais disciplinas e se possível esteja
contextualizado com a vida cotidiana do discente. Além disso, ressalta-se também a
importância de valores sociais, culturais e psicológicos do ser humano.
Na década de 80, muitos países passaram a mudar o seu currículo de ensino. No
entanto, essas reformas não foram uniformes, pois cada um seguia as tendências apresentadas
nos congressos internacionais, adaptando-se às necessidades do país e às condições
econômicas disponíveis. (PIRES, 2000).
Em uma publicação da revista Nova Escola, o escritor Ricardo Falzetta (2002, p.18-
19), afirma que:
Há pelo menos duas décadas, educadores de todo mundo, organizados no movimento chamado Movimento de Educação Matemática, criam estratégias, propõem currículos com enfoques diferentes para os conteúdos, pedem a reintegração da geometria ao programa e, sobretudo, a adoção de uma abordagem ligada ao cotidiano e vinculada às demais áreas do conhecimento.
No Brasil as reformas educacionais estavam ligadas às propostas das Secretarias
Estaduais e Municipais de Educação, que por sua vez, apresentavam características comuns,
pois elas se baseavam nas tendências mundiais, mas seguindo como referência os diversos
encontros nacionais e regionais, promovidos por grupos de pesquisa em Educação
Matemática.
Essas reformas aconteciam através de reflexões feitas nos Guias Curriculares
anteriores a 1971, pois, detectavam-se os problemas do ensino da Matemática, visando assim,
apresentar alguma proposta nova na perspectiva de melhorar o papel deste ensino no
currículo. (PIRES, 2000).
A partir dessa análise, alguns estados apresentaram propostas para o ensino da
Matemática. Dentre eles, podemos destacar os estados de São Paulo, Pernambuco e Bahia. No
ano 1985, o Estado de São Paulo apresentou para rede pública estadual, propostas curriculares
para o ensino de 1.º e 2.º graus, denominado atualmente de Ensino Fundamental. Sobre elas,
Pires (2000, p. 50-51) destaca:
Nessa proposta foi conferida à Matemática uma dupla função no currículo, defendendo-se que “ela é necessária em atividades práticas que envolvem aspectos quantitativos da realidade, como as que lidam com grandezas, contagem, medidas, técnicas de cálculos” e que “ela desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade de abstrair, generalizar, transcender o que é imediatamente sensível”. Uma das preocupações explicitadas, era a de apresentar o conteúdo, em diferentes níveis de abordagem, em que se procura respeitar a integração dos temas serem apresentados, bem como seu desenvolvimento “em espiral”, conforme preconizava Jerome Bruner.
No estado de Pernambuco, foi apresentado em 1992, o documento Subsídios para a
Organização da Prática Pedagógica nas Escolas – Matemática, onde se fazia críticas aos
modelos curriculares dessa disciplina apresentado ao longo dos últimos anos. Com isso,
falava-se que os conteúdos de Matemática estavam inseridos de forma fragmentada,
desarticulada e fora do cotidiano dos discentes. Por isso, apresentaram uma proposta onde
protagonizava que aprendizagem da Matemática deveria ocorrer do particular para o geral, do
simples para o complexo, cujos conteúdos deveriam ser classificados em número, geometria e
grandeza, seguindo, a exemplo de São Paulo, a espiralidade como base. Enquanto que na
Bahia, a proposta visava chamar a atenção dos educadores, para reverem o papel da
Matemática na escola, uma vez que o seu papel discriminatório e exclusivo era preocupante.
Com isso, procuraram dinamizar o papel da Educação Matemática, dando-lhe ingredientes
novos, como ênfase aos aspectos pedagógicos sociointeracionista, construtismo e
interdisciplinar, embora seguindo a lista de conteúdos tradicionais. (PIRES, 2000).
Antes deste período, no final da década de 1980, após a promulgação da Constituição
de 1988, emerge a necessidade de proposta para um Plano Decenal de Educação, visando uma
nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – LBD. No entanto, esta proposta só
foi instituída em 20 de dezembro de 1996, com a Lei n.º 9.394, que passou a determinar os
novos rumos da educação brasileira. No ano de 1998, à luz da nova LDB, surge os Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN, os quais foram elaborados pela coordenação da Secretaria da
Educação do Ensino Fundamental do Ministério da Educação e do Desporto – MEC. Os PCN
contaram, quando da sua elaboração, com a participação de docentes de várias instituições de
ensino, especialista em educação e de outras áreas, instituições governamentais e não-
governamentais. (PIRES, 2000; BRASIL, 1998).
As propostas apresentadas nos PCN estão centradas numa perspectiva educacional de
um ensino de qualidade que atenda às necessidades básicas da nova conjuntura social, política
e econômica na qual estamos vivenciando nos últimos anos. Por isso, o Ministério da
Educação e do Desporto propôs em acordo com a união, os estados e os municípios, para que
as três esferas criassem uma base curricular nacional, onde todas as disciplinas nela contida,
deviam estar em consonância em todo território nacional. (BRASIL, 1998).
Para garantir tal referência na base curricular, o MEC lançou programas visando dá
sustentação ao ensino público e/ou privado. Um deles é a proposta para o Programa Nacional
do Livro Didático – PNLD, o qual determina como e quais conteúdos devem ser inseridos em
cada disciplina nos diferentes níveis da educação básica. Para a escolha dos livros, a
instituição de ensino ou a Secretaria Municipal ou Estadual, em parceria com os docentes,
podem escolher através do Guia do Livro Didático os livros aprovados pela PNLD que mais
se adapta à realidade de sua escola ou região.
Além disso, nos PCN, estão diversos temas que tratam de questões sociais, tais como
os Temas Transversais: Meio Ambiente, Saúde, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação
Sexual, Trabalho e Consumo, pois estes são considerados mundialmente como temas sociais
urgentes e essenciais para uma vida harmoniosa em nossa sociedade.
No que se referem às propostas apresentadas nos PCN da área de Matemática, elas
indicam que os conhecimentos matemáticos devem ser desenvolvidos com o intuito de
proporcionar ao discente a sua participação no mundo do trabalho em perfeita interação com
as relação socioculturais. Por isso, deve-se levar em conta o conhecimento adquirido pelos
discentes em seu meio cultural e, com isso incentivá-los a aplicar seus conhecimentos de
maneira a desenvolver com segurança, habilidades: de calcular, quantificar, localizar objetos
no espaço, fazer leitura de gráficos e mapas, fazer previsões e resolver problemas. Além
disso, os PCN ressaltam também que o ensino de Matemática deve apresentar “tópicos” que
resgatem o aspecto histórico do conhecimento matemático e que os recursos de novas
tecnologias de comunicações sejam inseridos nas escolas. (BRASIL, 1998).
No campo geométrico, os PCN, destacam que para a sua proposta deve-se “enfatizar a
exploração do espaço e das representações e as articulações entre a geometria plana e
espacial” (BRASIL, 1998, p. 60). No entanto, percebe-se que não há uma efetiva preocupação
com temas referentes a Geometria, e por isso, muitas vezes esses temas não são abordados de
maneira adequada.
Para Santana (2000), a Geometria deveria ser incluída na LDB 9.394/96 como
disciplina curricular e não ser apresentada em Matemática apenas como “tópicos”
geométricos, pois seus conteúdos requerem uma atenção especial. Desta forma, percebe-se
que assuntos de suma importância estão sendo esquecidos e/ou omissos.
De acordo com Pires (2000), os PCN, referentes à área de Matemática apresentam
duas faces de uma mesma moeda, onde de um lado mostra uma Matemática essencial para
desenvolver o raciocínio lógico e despertar o senso crítico do cidadão, dando-lhe a
oportunidade de avançar junto com a necessidade da sociedade a sua volta. De outro lado,
percebe-se através de dados estatísticos e pelo censo comum, uma matemática utilizada por
muitas pessoas, porém articulação do conhecimento escolar.
Diante do exposto, nota-se que o desenvolvimento do ensino da Matemática vem
sofrendo algumas mudanças nos seus métodos de ensino ao longo do seu processo histórico,
principalmente no século XX, com os movimentos da Matemática Moderna e o da Educação
Matemática. Esta última sendo influenciada por diversas áreas, como por exemplo, a
Psicologia. Portanto, é essencial que, enquanto educador, estejamos atentos às novas
descobertas que contribuem para a prática docente.
CAPÍTULO 3: A PSICOLOGIA E O ÂMBITO ESCOLAR
3.1 A PSICOLOGIA
A Psicologia de acordo com Izidoro (2003, p. 1): “é uma ciência que estuda os
comportamentos e processos mentais, partindo da sua descrição para a explicitação desses
comportamentos de modo a poder prever e controlar as respostas comportamentais”. Para
Bock et al (1994), a Psicologia apresenta-se como uma área do conhecimento humano que
visa estudar o homem, desde o seu nascimento até sua vida adulta. Para tanto, são analisados
vários aspectos. Dentre eles, destacam-se o físico-motor, o intelectual, o afetivo-emocional e
o social.
Com relação à importância de estudar o desenvolvimento humano, Bock et al (1994,
p. 81), destacam que isto significa “conhecer as características comuns de uma faixa etária,
permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para observação e
interpretação dos comportamentos”. Portanto, faz-se necessário, enquanto educador, que
compreendamos seus fundamentos teóricos e suas contribuições acerca do processo ensino-
aprendizagem, pois é através de estudo e análise desses comportamentos, que podemos
desenvolver uma prática docente mais adequada à realidade do educando.
O surgimento da Psicologia para Bock et al (1994), está ligado ao campo filosófico,
pois desde a Grécia Antiga, filósofos como Sócrates (469-339 a.C.), Platão (427-347 a.C.) e
Aristóteles (384-322 a.C.) especulavam sobre a origem do homem e da sua relação com o
mundo e consigo mesmo. Mas, somente em meados do século XIX da nossa era, é que ela se
desvincula da Filosofia, para então emergir como ciência autônoma. A partir daí, são
elaborados vários estudo e pesquisas em diversas regiões do planeta. Com isso, surgem várias
correntes teóricas buscando entender os fenômenos psicológicos do ser humano. Para Bock et
al (1994), a Psicologia emerge de fato na Alemanha, no entanto, é nos Estados Unidos da
América, que ela entra em ascensão, pois o grande avanço econômico daquele país, no século
XIX, contribuiu significativamente para o surgimento das três primeiras escolas: o
Funcionalismo de William James (1842-1910), o Estruturalismo de Edward Titchner (1867-
1927) e o Associacionismo de Edward L. Thorndike (1874-1949).
Para a escola Funcionalista, interessava a inter-relação do corpo e mente, sendo a
consciência considerada como um fenômeno pessoal, integral e processual. Com isso,
buscava-se, naquela época, uma explicação prática para responder questões do tipo: “o que
fazem os homens” e “por que às fazem”. Sendo assim, W. James evidência a consciência para
buscar a compreensão de seu funcionamento ao passo que o homem a usa para se adaptar ao
meio. Já o Estruturalismo, visava compreender os elementos que formariam a estrutura da
consciência, como as imagens, os pensamentos e os sentimentos. Deste modo, Titchner
enfatiza os aspectos estruturais do sistema nervoso central, enquanto o Associacionismo de
Thorndik preocupa-se em analisar o processo de aprendizagem humana. Nesta concepção,
acredita-se que a aprendizagem ocorre através das associações das idéias, isto é, de uma idéia
simples pode se chegar a outra mais complexa..
3.2 AS PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA DO SÉCULO XX
De acordo com Bock et al (1994), o Funcionalismo, o Estruturalismo e o
Associacionismo, influenciaram no surgimento de novas tendências teóricas do século XX,
sendo que as concepções a esse respeito, oscilam muito entre autores. Dentre as várias
concepções, são destacadas para o campo educacional as teorias do Desenvolvimento
Humano de Jean Piaget e Vigotski, da Aprendizagem de David Ausubel e a teoria do Ensino
de Jerome Bruner.
3.3 A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO – PIAGET
De acordo com La Taille et al (1992), a teoria desenvolvida pelo psicólogo e biólogo
suíço Jean Piaget (1896-1980) postula que o desenvolvimento humano, depende das
interações dos fatores inatos e das experiências vividas pelo indivíduo durante sua vida. Nesta
concepção, os autores destacam que, Piaget procura enfatizar o aspecto intelectual, e para
isso, considera que o desenvolvimento humano está dividido em quatro períodos: sensório-
motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais.
Assim, o período sensório-motor, refere-se ao recém-nascido e o lactante (0 a 2 anos
de idade), onde a criança é caracterizada inicialmente pela herança genética dos aparelhos
reflexos que traz. A sucção, por exemplo, que ela faz quando mama no peito da mãe. A partir
de alguns dias, ela começa a melhorar seus movimentos e com isso, vão surgindo outros
movimentos mais complexos como os movimentos das mãos para agarrar determinados
objetos. Chegando à fase final deste período, a criança já dispõe de movimentos mais
coordenados e consegue deslocar sozinha, à procura de objetos mais distantes.
No segundo período, o pré-operatório (2 a 7 anos de idade), a criança passa a adquirir
melhor desenvolvimento da linguagem, permitindo assim, a formação de conceitos
simbólicos. Nesta fase, ela tende a desenvolver seu pensamento, inicialmente, através de
jogos, brincadeiras e símbolos – parte lúdica – onde a brincadeira se mistura com fantasias.
Posteriormente, a criança passa a utilizar esses símbolos como referências para explicar o
mundo real, isto é, através de determinados jogos, ela passa a entender melhor as regras de
conduta, como os conceitos morais, sem que seja necessário impor diretamente. Já na fase
final deste período, a criança consegue compreender melhor a existências das coisas reais e,
com isso, passa a utilizar conceitos como o porquê disso ou daquilo. Segundo Bock et al
(1994), é importante ressaltar neste período que a criança já adquiriu a maturação
neurofisiológica completa, isto é, a maturidade para determinado padrão de comportamento,
permitindo com isso, o desenvolvimento de novas habilidades, como a coordenação motora
mais lapidada. Desta maneira, consegue realizar algumas operações simples como somar e
subtrair, embora não consiga perceber a inversão nas operações. Além disso, ela passa a usar
corretamente o lápis, fazendo movimentos bem mais coordenados para a escrita.
O terceiro período, o das operações concretas (7 a 12 anos de idade), enfatiza que a
criança já está preparada para iniciar o seu processo de aprendizagem sistemática. É neste
período, que ocorre as grandes conquistas intelectuais. As ações físicas, agora passam a
ocorrer com mais segurança, pois a criança já consegue praticar atividades que exige maior
rigor físico que as anteriores; as operações aritméticas passam a ser compreendidas mais
facilmente, porque já consegue perceber que as operações de adição e subtração,
multiplicação e divisão são operações inversas; a linguagem passa a ser mais sociabilizada.
De maneira geral, nota-se que nesta fase, a criança passa a adquirir uma compreensão melhor
do mundo em que vive.
No quarto e último período, o das operações formais (12 anos em diante), a criança
passa do pensamento concreto para o pensamento formal e abstrato, ou seja, ela já consegue
realizar diversas operações matemáticas, sem a necessidade de utilizar como referência, os
elementos concretos. Percebe-se também neste período, melhor adaptação a novos temas,
como liberdade, justiça, causas sociais e outras, pois ela começa a entrar na adolescência e
com isso, as relações sociais vão aumentando. Por conseguinte, percebe-se uma ampliação na
capacidade de criticar, discutir, propor inovações, admitir suposições e hipóteses.
Nesse contexto, percebe-se que os estudos e as pesquisas desenvolvidas por Piaget,
são de suma importância para a educação, visto que, praticamente, todas as fases acima
mencionadas são vivenciadas no âmbito escolar.
3.4 A TEORIA INTERACIONISTA – VIGOTSKI
Lev Semonvich Vigotski (1896-1930), constrói a sua teoria, enfatizando o aspecto
social. De acordo com La Taille et al (1992, p. 24):
Falar da perspectiva de Vygotsky é falar da dimensão social do desenvolvimento humano. Interessado fundamentalmente no que chamamos de funções psicológicas superiores, e tendo produzido seus trabalhos dentro das concepções materialistas predominantes na União Soviética pós-revolução 1917, Vygotsky tem como um dos seus pressupostos básicos a idéia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social.
Nesse contexto, Vigotski considera que o homem é um ser ativo capaz de agir diante
das situações vivencias no seu quotidiano. No entanto, para que isso ocorra, é necessário que
ele seja influenciado pelas relações sociais desde sua infância, onde a comunicação com o
adulto é essencial para o seu desenvolvimento. Neste sentido, Vigotski considera que o
desenvolvimento infantil, de acordo com Bock et al (1994), deve ser analisado sob três
aspectos essenciais: o instrumental, o cultural e o histórico. O primeiro, faz referência à inter-
relação das funções psicológicas complexas, onde os estímulos recebidos, inicialmente pela
criança, devem ser transformados e usados futuramente como instrumentos do nosso
comportamento, como por exemplo, a linguagem. No segundo aspecto, o cultural, ele credita
que a forma estruturada da sociedade pode determinar as ações gerais do indivíduo, desde que
elas sejam infiltradas como instrumentos mentais e físicos na criança. Um desses instrumentos
citados por Vigotski é a linguagem, que este considera como instrumento básico em nossa
sociedade e, por isso, a enfatiza em todo processo. No último aspecto, o histórico, Vigotski
admite que haja uma junção entre os elementos culturais e históricos, onde os instrumentos
estão inseridos, pois para dominar o seu ambiente natural, o homem se utiliza de
comportamentos que foram desenvolvidos por seus ancestrais durante o processo histórico.
Os instrumentos culturais então, segundo Bock et al (1994, p. 92),
[...] expandiram os poderes do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira que, se não tivéssemos desenvolvido a linguagem escrita e aritmética, por exemplo, não possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos.
Ainda de acordo com os autores, Vigotski considera que o homem, enquanto sujeito
de conhecimento, não tem acesso direto aos objetos, mas que é através do acesso mediado
pelos sistemas simbólicos que ele consegue desenvolver seu conhecimento.
No campo educacional, Vigotski destaca que a interação social desenvolvida no
âmbito escolar, tem uma diferenciação da vida cotidiana, pois o relacionamento
professor/aluno assume um caráter de desenvolvimento intelectual e cultural maior. Neste
aspecto, espera-se que o docente seja um orientador incentivador no processo ensino-
aprendizagem. (BOCK ET AL, 1994).
Dessa forma, Vigotski procura denominar esta relação professor/aluno como Zona de
Desenvolvimento Proximal/Nível de Desenvolvimento Real e Potencial. Em outras palavras,
pode-se dizer que o conhecimento trazido pela criança em seu universo familiar, escolar, ou
do seu mundo particular é chamado de Desenvolvimento Real, enquanto a capacidade que a
criança tem em aprender determinados conteúdos sob orientação docente é chamada de
Desenvolvimento Proximal. A distância entre esses dois extremos é denominada por Vigotski
de Zona de Desenvolvimento Proximal.
3.5 A TEORIA DA APRENDIZAGEM – DAVID AUSUBEL
A teoria desenvolvida por David Ausubel, considera que o processo de aprendizagem
é originado através da inter-relação do sujeito com o mundo. Segundo Baraldi (1999, p. 38):
A aprendizagem significativa é o conceito mais importante na teoria de David Ausubel, cuja idéia central é a de que o mais importante é aquilo que o aprendiz já sabe. Para ele, a aprendizagem significativa ocorre quando o indivíduo estabelece significados entre novas idéias e as suas já existente.
Ao abordar essa teoria, Ausubel preocupa-se em analisar os processos de
compreensão, transformação, armazenamento e a utilização das novas informações no campo
cognitivo. A cognição, de acordo com Bock et al (1994, p. 102), “é o processo através do qual
o mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo, estabelece
relações de significação, isto é, atribui significado à realidade em que se encontra”.
Ao postular sua teoria, Ausubel considera a existência de duas formas de
aprendizagem: a mecânica e a significativa. A primeira refere-se a uma aprendizagem de
retenção, ou seja, a pessoa aprende sem nenhuma conexão com os conhecimentos anteriores.
Aprende, por exemplo, com um texto poético pela simples repetição das palavras, isto é,
decorando. Na aprendizagem significativa, no entanto, as estruturas ou referências adquiridas
anteriormente servem como ponto de partida para a compreensão de novas idéias (pontos de
ancoragens). Quando por exemplo, passeamos com uma criança pelas ruas de uma cidade e,
mostramos a ela casas residenciais e comerciais, escolas, hospitais, bancos e outros, estamos
criando um referencial que, possivelmente servirá de ponto de partida para novos
conhecimentos, tais como organização social e econômica, entre outros. (BOCK ET AL,
1994).
3.6 BRUNER E A CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO
As concepções apresentadas acerca da aprendizagem, como a teoria de Ausubel,
contribuíram para o surgimento de correntes teóricas ligadas ao ensino. Elas buscam discutir
através de estudos e análises, as condições necessárias para que o processo de
ensino/aprendizagem seja mais interessante e proveitoso. Dentre várias, é importante destacar
a teoria do ensino desenvolvida por Jerome Bruner. Segundo Zacharias (2007), na teoria de
Bruner:
[...] o aprendizado é um processo ativo, no qual aprendizes constroem novas idéias, ou conceitos, baseados em seus conhecimentos passados e atuais. O aprendiz seleciona e transforma a informação, constrói hipóteses e toma decisões, contando, para isto, com uma estrutura cognitiva.
Ainda para a autora (2007), Bruner postula que o processo de aprendizagem dar-se-á
mais proveitosamente, quando o docente tem um bom domínio do assunto e desenvolve
atividades, incentivando o discente à investigação, pois para ele, é através da pesquisa, da
experimentação, da dúvida, das perguntas, dos erros e acertos que o aprendiz consegue maior
compreensão sobre os temas abordados. Sendo assim, defende que a aprendizagem depende
da cognição e que esta ocorre mediante processo ativo, gerado da associação e construção das
idéias.
De acordo com Bock et al (1994), Bruner defende que toda disciplina deve seguir uma
seqüência lógica dos conteúdos de tal maneira que, parta do conceito geral para o particular.
Desta maneira, propõe um currículo em forma de espiral. Diante dessa perspectiva, Zacharias
(2007), ressalta que para Bruner uma criança pode aprender qualquer assunto
independentemente da fase em que ela se encontra, mas para isso, é necessário que o docente
use uma metodologia adequada à sua fase de desenvolvimento.
Nesta perspectiva, entendemos assim como Bock et al (1994), que essas teorias podem
auxiliar o docente em suas tarefas de planejamento, organização e prática do ensino. Todavia,
acreditamos que ao mesmo tempo, é essencial para o educador conhecer a realidade do
educando, pois analisar as características sociais, econômicas e culturais do discente é tão
importante quanto o conhecimento teórico.
Diante do exposto, podemos observar que essas tendências teóricas apontam sugestões
pertinentes ao processo de ensino-aprendizagem. Portanto, cabe ao docente analisar a situação
real do seu educando e a partir daí, buscar alternativas metodológicas semelhantes às
mencionadas, que possam atender às suas necessidade dentro da sala de aula.
CAPÍTULO 4: OS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA NO PNLD
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve a necessidade da criação
de um Plano Decenal de Educação que atendesse aos interesses sociais e econômicos de nosso
país diante da nova conjuntura mundial. Deste modo, em 20 de dezembro de 1996, aprovou-se
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei n.º 9394/96, a qual passou a
determinar os novos rumos da educação brasileira. A explicitação do Plano Decenal fica
evidente no Artigo 87, da Lei 9394/96, quando institui a “Década da Educação”. Com isso, de
acordo com a atual LDB:
A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.
Nesta LDB, ficou estabelecido como dever da União, em parceria com os Estados,
Distrito Federal e Municípios, nortear as diretrizes visando currículos e conteúdos mínimos
que atendam a formação básica comum em todo território brasileiro.
Procurando atender as exigências da LDB, o Ministério da Educação, Cultura e
Desporto – MEC, apresenta os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, com propósito de
orientar docentes e instituições de ensino a melhorar o ensino público e privado do nosso país.
Na Introdução aos PCN de 5.ª a 8.ª séries (BRASIL, 1998, p. 6), os PCN enfatizam que:
[...] foram elaborados procurando, de um lado respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, do outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras.
Visando garantir as propostas estabelecidas na LDB e nos PCN, o Ministério da
Educação, Cultura e Desporto, desenvolve nova proposta para o Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD, o qual estabelece as normas gerais que devem ser seguidas pela editoras a
fim de contemplar os conteúdos a serem inseridos nas bases curriculares comuns da Educação
Básica do Brasil.
Para isso, o MEC passou a distribuir a partir de 1998, o Guia de Livros Didáticos para
toda escola pública do país. Nestes Guias estão as obras que atenderam às exigências do
PNLD, com suas respectivas resenhas feitas pelos pareceristas seguindo critérios
estabelecidos pelo MEC. A escolha dos livros didáticos pode ser feita mediante análise do
Guia de Livros Didáticos e/ou através das obras apresentadas pelas editoras nas escolas. Para
que isso ocorra, porém, o PNLD salienta que a escolha deve ser feita preferencialmente por
áreas específicas, onde professores, coordenadores, diretores e/ou Secretarias
Estaduais/Municipais de Educação observem quais obras estejam mais adequadas à realidade
de sua região.
Os livros didáticos escolhidos pelas escolas podem ser usados durante três anos
consecutivos, sendo que para o ano seguinte, uma nova escolha deve ser realizada perante
consulta ao Guia fornecidos pelo MEC.
Depois da LDB 9394/96, já aconteceram quatro escolhas de livros didáticos para as
séries finais do Ensino Fundamental em 1999, 2002, 2005 e 2008. No presente ano, as escolas
públicas brasileiras tiveram como data limite para escolha de livros para os próximos anos, o
dia 13 de julho. Contudo, se uma escola deixou de realizar tal escolha, o MEC envia as obras
mais solicitadas na região. (BRASIL, 2007).
Em relação à escolha dos livros didáticos de Matemática para o terceiro e quarto ciclos
do Ensino Fundamental, antiga 5.ª a 8.ª séries, é importante ressaltar alguns dados gerais
sobre as coleções aprovadas ou reprovadas pelo PNLD, conforme tabela abaixo.
TABELA 1: Valores Referentes a Aprovação ou Reprovação do Livro Didático no
Parecer Avaliativo do MEC no Período de 1999 a 2008
NÚMEROS DE OBRAS INSCRITAS NO PNLD POR ANO
SITUAÇÃO
1999
2002
2005
2008
AVALIADOS
72
68
116
112
APROVADOS
38
52
92
64
NÃO APROVADOS
34
16
24
48
Fonte: Guia de Livros Didáticos 2008 – PNLD
Nota-se nesta tabela, um grande número de obras reprovadas pelo PNLD referentes a
primeira e a última das avaliações realizadas – 1999 e 2008 – e uma maior aceitação das
obras nos anos de 2002 e 2005.
No gráfico seguinte, podemos verificar melhor os percentuais de rejeição das obras
apresentadas em relação ao número total por ano.
GRÁFICO 1: Valores Percentuais Referentes a Reprovação do Livro Didático no
Parecer Avaliativo do MEC no Período de 1999 a 2008
05
101520253035404550
1999 2002 2005 2008
47,2%
23,7%20,6%
42,8%
Fonte: Guia de Livros Didáticos 2008 – PNLD
De acordo com o Guia de Livros Didáticos 2008 (BRASIL, 2007), a queda ocorrida de
1999 a 2005 foi revertida de 2005 para 2008. Essa mudança ocorreu em virtude de uma
preocupação maior na qualidade das obras, pois o PNLD vem procurando melhoria na
estrutura dos conteúdos e nas metodologias adotadas. Nesta perspectiva, o PNLD 2008,
destaca que a classificação dos conteúdos deve estar em consonância com as propostas
curriculares vigentes. Por isso, o programa contempla os conteúdos de Matemática visando
um equilíbrio entre os cinco campos: Números e Operações, Álgebra, Geometria, Grandezas e
Medidas e Tratamento da Informação. Para tanto, o PNLD passou a determinar os tópicos
matemáticos mais adequados para cada série do 3.º e 4.º ciclos do Ensino Fundamental. No
entanto, o próprio Guia destaca que nem sempre há unanimidade na escolha dos tópicos, por
parte dos parecetistas, pois as Grandezas – comprimento, área, volume e a medida de ângulo –
foram incluídos no campo das Grandezas e Medidas e não no campo da Geométrica.
Diante desta perspectiva, o PNLD de 2008 (BRASIL, 2007) procurou traçar um perfil
dos campos matemáticos de forma quantitativa, onde este segue as tendências apresentadas
nas edições anteriores do Guia e que também estiveram em razoável sintonia com as proposta
dos currículos vigentes e discutidos pelo movimento de Educação Matemática.
TABELA 2: Valores Percentuais Referentes ao Conteúdo Matemático Desejável no
Livro Didático de Acordo Com o Parecer Avaliativo do MEC para 2008
PERFIL DESEJÁVEL DE SELEÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DOS CONTEÚDOS (%)
SÉRIES
5ª
6ª
7ª
8ª
Números e Operações
40%
30%
20%
15%
Álgebra
10 %
20%
30%
30%
Geometria
20 %
20%
25%
30%
Grandezas e Medidas
20%
20%
15%
15%
Tratamento da Informação
10%
10%
10%
10%
Fonte: Guia de Livros Didáticos 2008 – PNLD
De acordo com a tabela, o PNLD enfatiza que os Números e Operações devem ser
reduzidos gradativamente, enquanto os campos referentes a Álgebra e a Geometria devem
aumentar paulatinamente nas séries seguintes. Já os dados referentes ao Tratamento de
Informação devem permanecer estáveis em todas as séries.
Se analisarmos detalhadamente perceberemos que os conteúdos referentes as
Grandezas (comprimento, áreas, volume e medida de ângulos) estão inclusos em Geometria.
Isto significa que teremos uma percentual maior que 25% de conteúdos geométricos no 3.º
ciclo (5.ª e 6.ª séries) e uma percentual superior a 30% para o 4.º ciclo (7.ª e 8.ª séries). De
maneira geral, seguindo esta vertente, nota-se que o campo Geométrico deve ocupar mais de
25% da totalidade dos conteúdos das séries finais do Ensino Fundamental. Isto significa que a
Geometria é apresentada, nesta proposta, como um dos campos mais importantes da
Matemática, pois deve assumir praticamente um dos maiores percentuais durante as séries
finais do Ensino Fundamental.
4.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS DOS LIVROS DIDÁTICOS NO PNDL
Além desse perfil apresentado anteriormente, para os conteúdos de Matemática de 5.ª
a 8.ª séries, o PNLD destaca também no Guia de Livros Didáticos de 2005 (BRASIL, 2004)
que as obras, nele selecionadas, seguem várias tendências metodológicas e, por isso, cabe ao
docente e ao demais responsáveis pela escolha, encontrar a que mais se identifica com as
propostas metodológicas de seu projeto escolar e/ou a realidade de seus alunos.
Diante dessa perspectiva, o MEC enfatiza que nesse período escolar o educando tende
a apresentar maior cristalização e ampliação dos conhecimentos adquiridos nas séries iniciais
do Ensino Fundamental – 1.º e 2.º ciclos. Este desenvolvimento faz com que o discente
adquira uma maturação mais consistente de situações-problemas mais complexas. De acordo
com o próprio Guia de Livros Didático de 2005 (BRASIL, 2004, p. 199), “é nesse período
que começa, para o aluno, a explicitação da estruturação da Matemática”. Portanto, verifica-se
a existência de uma correlação entre a perspectiva apresentada pelo MEC e as fases das
operações concretas e formais apresentadas na teoria de Jean Piaget.
Ao passo que essas relações vão se desenvolvendo, o PNLD destaca que as
metodologias aplicadas nas obras devem, também, proporcionar ao educando alternativas que
facilitem o processo de ensino-aprendizagem, onde devem se levar em conta os
conhecimentos prévios dos discentes – pontos de ancoragem. Com isso, o MEC estabelece
que as obras devem criar estratégias que mobilizem várias competências cognitivas para com
o educando, tais como: saber observar, compreender, argumentar logicamente, organizar,
analisar, sistematizar, comunicar, planejar, etc. É importante ressaltar também, que o PNLD
exige que as obras devem contribuir para o desenvolvimento social, político e econômico do
educando, onde os valores éticos e morais devem ser promovidos possibilitando um convívio
social mais harmonioso.
4.2 A GEOMETRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA O PNLD
Na Introdução aos PCN de Matemática de 5.ª a 8.ª séries (BRASIL, 1998), considera-
se que a Matemática é uma área do conhecimento humano que está sempre presente em
nossas vidas e, que esta foi desenvolvida para satisfazer determinadas necessidades de
diferentes grupos sociais, em tempos históricos diferentes e, por isso, deve ser levado em
conta a sua importância dentro da nova conjuntura social, política e econômica do mundo
contemporâneo.
Para o PNLD de 2008 o campo geométrico, tem finalidade de despertar no educando a
capacidade de saber reconhecer os objetos no espaço de tal maneira que ele seja capaz de se
orientar no ambiente onde vive. Por isso, o programa propõe que os temas, devem incentivar a
curiosidade visual do educando. Essa proposta torna-se mais evidente quando, no Guia de
Livros Didáticos de 2008 (BRASIL, 2007, p. 44) é enfatizado que a “capacidade de visualizar
é fundamental na geometria, tanto no sentido de captar e interpretar as informações visuais,
como no de expressar as imagens mentais por meio de representações, gráficas ou não”. Para
o Programa, a visualização desperta no discente uma importância tanto no sentido de captar e
interpretar as informações visuais, quanto no desenvolvimento do conhecimento cognitivo de
expressar as imagens através de representações gráficas ou através da abstração. Para Rosa
Neto (2002, p. 136),
De toda a cultura humana, talvez as duas áreas mais utilizadas no cotidiano sejam a linguagem e a geometria. Não passamos um dia sem elas e, desse modo, estamos muito acostumados com relações geométricas como paralelismo, perpendicularidade, concordância, simetrias, retângulos [...].
Nesse contexto, o PNLD espera que as atividades referentes a Geometria devem ser
centrada numa perspectiva que estimule os desenhos onde são utilizados instrumentos e/ou
construções de objetos geométricos, tais como: maquetes, recortes, planificações, dobraduras,
etc. Deste modo, acreditamos assim como o Programa, que o discente seja capaz de observar
os objetos do mundo físico que o cerca e ao mesmo tempo será capaz de compreender novos
conceitos referentes às propriedades e classificações pertinentes aos conhecimentos
matemáticos.
No entanto, o Guia de Livros Didáticos de 2008 (BRASIL, 2007, p. 45) enfatiza que:
Na maioria das obras ainda persiste uma atenção exagerada às classificações e à nomenclatura. Essa limitação se revela, de forma clara, no estudo dos ângulos formados por uma transversal, em que se despende tempo excessivo em atribuir inutilmente nomes aos vários tipos de ângulos.
Nota-se também, que em uma das edições anteriores, os pareceristas dos Guias de
Livros Didáticos já faziam críticas a esse respeito. No Guia de Livros Didáticos de 2002
(BRASIL, 2001, p. 149) afirmam que:
O tratamento da Geometria tem sido estereotipado, privilegiando nomenclatura e a apresentação de formas canônicas. As sistematizações são inadequadas, pois partem dos conceitos de ponto, reta e plano, sem se preocupar com a exploração de conceitos e de propriedades geométricas.
Diante das análises feitas acerca dos aspectos históricos da Geometria, do ensino da
Matemática nos Sistemas de Ensino nacional e mundial, das tendências psicológicas
contemporâneas e das propostas apresentas no Plano Decenal de Educação para o país,
especificamente, para o ensino da Matemática nas séries finais do Ensino Fundamental, onde
os conteúdos e os processos de ensino-aprendizagem de Matemática ficam estabelecidos no
PNLD, resolvemos desenvolver nosso trabalho monográfico a fim de verificar, através de
estudo de pesquisa e dados, como uma escola pública municipal de nossa região está
acompanhando as novas propostas estabelecidas para o ensino da Matemática no terceiro e
quarto ciclos do Ensino Fundamental diante da proposta apresentada para o Plano Nacional de
Educação. Para isso, procuramos analisar no município de Cansanção/BA, cuja localização
geográfica encontra-se no nordeste do estado, a Escola Educandário Senhora Santana.
CAPÍTULO 5: A PESQUISA NO EDUCANDÁRIO SENHORA
SANTANA
A Geometria é uma das áreas do conhecimento humano, mais utilizadas em nosso
cotidiano. Conforme gráficos e discussões apresentados nos Guias de Livros Didáticos PNLD
(BRASIL, 1998, 2001, 2004 e 2007), a Geometria é um dos campos da Matemática que
apresenta os maiores percentuais de conteúdos para o terceiro e quarto ciclos do Ensino
Fundamental. Entretanto, a realidade encontrada nas escolas é bastante diferente desta
apresentada pelos Guias. Esta divergência nos fez refletir acerca do que acontece no interior
das escolas e/ou no planejamento dos professores, e nos impulsiona a realizar esta pesquisa.
Neste sentido, procuramos, numa abordagem qualitativa dentro de um estudo de caso, analisar
a importância que é dada para os conteúdos de Geometria nas séries finais do Ensino
Fundamental na Escola Educandário Senhora Santana.
Para Baraldi (1999, p. 17), a pesquisa educacional representa “uma ocasião
privilegiada que reúne pensamento e ação na elaboração dos conhecimentos sobre os aspectos
da realidade. Essa pesquisa pode ser abordada de forma analítica (empírica ou quantitativa) ou
de forma qualitativa”. Assim, de acordo com Bogdan e Biklen (apud LUDKE, 1986, p.13), “a
pesquisa qualitativa ou naturalista envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato
direto do pesquisador com a situação, enfatiza mais o processo do que o produto e se
preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.
Já o estudo de caso, em conformidade com Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 110),
[...] busca retratar a realidade de forma profunda e mais completa possível, enfatizando a interpretação ou a análise do objeto, no contexto em que ele se encontra, mas não permite a manipulação das variáveis e não favorece a generalização. Por isso, o estudo de caso tende a seguir uma abordagem qualitativa.
Ao enfocarmos uma abordagem qualitativa, concordamos com Fiorentini e Lorenzato
(2006, p. 110) que isto “não significa abandonar algumas quantificações necessárias”, porque
de certo modo estas “podem ajudar a quantificar melhor uma análise”.
Para a realização da pesquisa, escolhemos no município de Cansanção, onde resido e
trabalho, uma escola pública de Ensino Fundamental municipalizada.
O município de Cansanção, conforme mapa abaixo, localiza-se na região nordeste do
estado da Bahia e tem uma área total de 1.317 km², densidade demográfica de 24,2 hab/km² e
altitude 400 m. A sede do município dista de Salvador, capital do estado, aproximadamente
350 km e esta ainda, a 110 km do município de Senhor do Bonfim, onde se localiza o Campus
VII da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, ao qual pertenço na qualidade de estudante
de graduação em Licenciatura em Ciências com Habilitação em Matemática. O município
possui uma população estimada em 32 mil habitantes, sendo que aproximadamente 10 mil
habitantes estão presentes na zona urbana. (BAHIA, 2007).
FIGURA 7: Mapa da Região de Senhor do Bonfim/BA
Fonte: http://www.derba.ba.gov.br/db_map_senhordobonfim.htm
Conforme dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de Cansanção/BA
– SEMEC), a cidade conta neste ano, com 97 escolas municipais, 3 escolas estaduais e 2
escolas particulares. Das 97 escolas municipais, distribuídas na sede e distritos, apenas 9
funcionam com o Ensino Fundamental (1.ª à 8.ª séries). Destas nove escolas pertencentes ao
município escolhemos a maior delas em questões de matrícula, para nossos estudos – a Escola
Educandário Senhora Santana.
A Escola Educandário Senhora Santana, é uma instituição pública situada na Avenida
Monte Santo, n.º 109, no centro da cidade. Esta unidade escolar dispõe de uma estrutura física
considerável, pois apresenta uma área de aproximadamente 5 mil metros quadrados, onde
podemos encontrar vinte e uma salas de aula bem arejadas, sala de TV e vídeo, biblioteca,
quatorze banheiros, almoxarifado, guarita, sala exclusiva para planejamento de aulas, quadra
poliesportiva, sala para secretaria e outra para diretoria. Além disso, dispõe ainda de uma área
interna espaçosa com plantas ao redor. O funcionamento da Escola ocorre durante os três
períodos, sendo que neste ano, o turno matutino ocupa 21 salas de aula, o turno vespertino 14
e o período noturno, apenas 4 salas. O corpo administrativo é representado por uma diretora,
um vice-diretor, uma secretária, 10 auxiliares de secretaria, 15 faxineiras, 8 merendeiras, 6
vigilantes e 38 docentes, sendo que destes oito trabalham com matemática nas séries finais do
Ensino Fundamental. O número de alunos matriculados no corrente ano é de 1.092, sendo que
destes, 691 estão matriculados nas séries finais do Ensino Fundamental, ou seja, nas 5.ª a 8.ª
séries. De acordo com a direção, a Escola apresenta um Projeto Político Pedagógico em
formação. Quanto aos recursos didáticos pedagógicos, a Escola dispõe de TV, DVD, retro-
projetor, mimeógrafo, livros didáticos, biblioteca com acervo razoável e quadro de giz em
todas as salas.
Tomamos então, como objeto de estudos os professores da Escola Educandário
Senhora Santana que trabalham com o ensino de Matemática no terceiro e quarto ciclos do
Ensino Fundamental. Para tanto, utilizamos além de fonte bibliográfica, questionários com
perguntas objetivas e semi-objetivas e os respectivos planos de aulas destes professores.
5.1 DESCREVENDO A PESQUISA
A pesquisa foi realizada no mês de agosto do presente ano e contou com a participação
de todos os oito professores de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental da Escola
Educandário Senhora Santana. Deste modo, aplicamos um questionário contendo sete
questões, sendo cinco objetivas e duas semi-objetivas, o qual foi respondido integralmente por
todos os professores. Além do questionário, pudemos contar também com o plano de aula
relativo ao primeiro semestre destes professores, o que corresponde a I e II unidades do atual
ano letivo.
Na explicitação e análise dos questionários e planas de aulas, manteremos os nomes
dos entrevistados no anonimato, pois o pesquisador, segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p.
199), “ao relatar os resultados de sua pesquisa, precisa também preservar a integridade física e
a imagem dos informantes”.
No questionário, levantamos questões que levam em consideração algumas variáveis
que consideramos de importantes para o nosso tema. Dentre elas, destacam-se o nível de
escolaridade dos docentes; a quantidade de tempo que lecionam e especificamente a
quantidade de tempo que lecionam conteúdos de Matemática de 5.ª a 8.ª séries; a participação
ou não, na escolha dos livros didáticos da Escola; o acesso ou não, ao Guia de Livros
Didáticos oferecido pelo MEC; a inclusão ou não, de tópicos de Geometria em seus
planejamentos de aula e a respectivo justificativa para tal opção; e finalmente, se estes
professores observam ou não, a utilidade dos conhecimentos da Geometria em nossas vidas.
Os resultados desses dados estão descritos nos parágrafos seguintes, acompanhados
em muitos deles de informações gráficas para uma melhor visualização e/ou compreensão.
Com relação ao nível de escolaridade, dos docentes de Matemática das séries finais do
Ensino Fundamental, constatamos que cinco professores têm nível superior incompleto, sendo
quatro graduandos de Licenciatura em Matemática e um de Letras Vernáculas. Constatamos
também que dois professores têm somente o nível médio. E finalmente, constatamos que
apenas um professor tem o ensino superior completo de Licenciatura em Matemática. Esses
dados estão representados em percentuais no gráfico de coluna a seguir.
GRÁFICO 2: Nível de escolaridade dos docentes de Matemática das séries finais do
Ensino Fundamental da Escola Educandário Senhora Santana (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
médio superiorincompleto
superior
12,5%
25%
62,5%
Nota-se que a maioria dos docentes de Matemática, desta Escola, estão preocupados
em atender às exigências da LDB Lei n.º 9.394/96, quando em seu Artigo 87, Parágrafo 4.º,
enfatiza sobre a necessidade da formação do docente.
Quanto a análise da variável referente ao tempo de ensino de cada professor, observa-
se que o professor com menos experiência no ensino de Matemática tem 6 anos de docência,
enquanto que o mais experiente possui 14 anos de regência. Ao mesmo tempo verificamos
que no ensino da Matemática, especificamente, há uma redução, pois o que apresenta mais
tempo de sala de aula tem 12 anos e o que tem menos tempo possui apenas 2 anos de
regência.
Em outra variável, a da participação do professor na escolha do livro didático,
constata-se que dentre os 8 profissionais: um nunca participou desta escolha, dois
participaram nos anos de 2002 e 2005, um participou da escolha nos anos de 1999, 2002 e
2005, um participou de todas e, a maioria – cinco – participaram apenas da escolha do livro
didático que será odotado para o ano de 2008. No gráfico a seguir, podemos verificar o
percentual de participação dos docentes nesta escolha.
GRÁFICO 3: Quantitativo de docentes que atuaram na escolha dos livros didático de
Matemática (%)
Neste gráfico, nota-se que a maioria dos professores entrevistados, não tiveram a
oportunidade de propor o livro didático nos três primeiros anos da escolha. Isto demonstra que
a maioria dos docentes utiliza os livros escolhidos por outros membros da escola ou mesmo
da região. Isto por sua vez, não garante que estes profissionais responsáveis pelo atual livro
didático da escola, tenham vínculos com a mesma área de Matemática.
Quanto à variável referente ao acesso ao Guia de Livros Didáticos por parte dos
educadores, observa-se que dois professores nunca tiveram acesso ao Guia; um teve acesso
nos anos de 1999, 2002 e 2005; cinco professores tiveram acesso apenas este ano. O gráfico
seguinte explicita melhor estas informações.
GRÁFICO 4: Quantitativo de professores de Matemática que tiveram acesso ao Guia de
Livros Didáticos PNLD na Escola Educandário Senhora Santana (%)
0102030405060708090
100
1999 2002 2005 2008
25%
37,5% 37,5%
87,5%
0
10
20
30
40
50
60
70
1999 2002 2005 2008
12,5% 12,5% 12,5%
62,5%
Sendo assim, percebe-se que a maioria dos docentes só tiveram acesso ao Guia de
Livros Didáticos PNLD neste ano. Desta maneira, observa-se que eles não tiveram a
oportunidade de ler as resenhas críticas feitas pelos pareceristas dos Guias acerca das obras
didáticas que utilizam na Escola. De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria de
Educação do Município, os Guias deste ano estavam ““presos ou retidos” no Correio e
somente foram entregues faltando dois dia para a escolha, após muitas reclamações.
Com relação a variável pertinente à escolha de tópicos de Geometria para os seus
planos de aula, registra-se que apenas um professor não incorpora conteúdos de Geometria em
suas aulas. Como justificativa este professor alega que estes conteúdos encontram-se no final
dos livros didáticos. Os demais professores (sete) afirmam que incluem tópicos de Geometria
em seus planejamentos. E os principais conteúdos mencionados foram: axiomas e postulados
– ponto, retas e plano, figuras geométricas planas e espaciais, medida de áreas, perímetro e
volume e ângulos. Abaixo registramos graficamente os tópicos destacados por estes
professores na questão semi-objetiva.
GRÁFICO 5: Conteúdos de Geometria trabalhados pelos professores de Matemática
nas séries finais da Escola Educandário Senhora Santana (%)
Percebe-se com estes resultados que os professores da Escola Educandário Senhora
Santana incluem em seus planejamentos alguns conteúdos de Geometria. Estes conteúdos são
integrantes, de acordo com o Guia de Livro Didático PNLD 2008 (BRASIL, 2007), do campo
de Medidas e Grandezas. Observando o gráfico e analisando os questionários, pudemos
perceber que eles incluem área, perímetro, volume e medida de ângulos como Geometria.
Desta forma, percebe-se que eles não distinguem Geometria de Grandezas e Medidas. O que é
natural, pois nem mesmo os pareceristas são unânimes nesta questão. Esse tema pode gerar
muita discussão, pois analisando o aspecto histórico da Geometria – seu berço – notamos que
seus primeiros passos ocorreram em torno das medidas. Poderíamos ainda buscar na sua
etimologia (BOYER, 1974), que a palavra grega Geometria provêm da junção de geo – terra
e metron – medida, uma justificativa mais que plausível para concordar com estes professores
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10
20
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60
70
80
90
axiomas epostulados
figurasplanas
sólidos ângulos
25%
87,5%
37,5%
25%
e com parte dos pareceristas do MEC. Além disso, podemos perceber através do gráfico que o
tópico mais enfatizado é o de figuras geométricas planas.
Na última análise, questionou-se se o docente reconhece a utilização do conhecimento
geométrico em nossas vidas. Nesta variável encontramos unanimidade nas respostas. Todos
os professores enfatizaram que a Geometria está presente em nosso cotidiano. Além disso,
estes professores acrescentaram algumas situações onde facilmente podemos observar a
aplicação dos conteúdos geométricos, como por exemplo, na construção de casas, ruas,
avenidas, praças, na confecção de tecidos, no estacionamento de veículos, na construção de
poços, nas atividades agrícolas, na construção de móveis, na engenharia elétrica, na
construção de aviões, navios e nas demais atividades que fosse necessária a observação e a
utilização do espaço. Nota-se, deste modo, que todos estão conscientes da importância da
Geometria em nossas vidas. Entretanto, ressaltamos que há uma falta de reflexão maior para
com a Geometria. Embora a importância da Geometria seja frisada por todos os professores, a
inclusão de parte dos conteúdos necessários nas séries finais do Ensino Fundamental, mostra
o quanto nossas Escolas carecem de maior entendimento dos prejuízos causados por esta
exclusão, ou pela pouca atenção da comunidade escolar.
Diante dessa situação, podemos apontar alguns prováveis fatores que contribuem para
esse quadro. O primeiro nos remete ao desconhecimento, por parte dos docentes, das
discussões e críticas apresentadas nos Guias de Livros Didáticos PNLD (BRASIL, 1998,
2001, 2004 e 2007). O segundo possível fator, seria a escolha de um livro didático que não
trata adequadamente os conteúdos geométricos deixando de atribuindo-lhes a ênfase
necessária ao desenvolvimento dos alunos. Outro importante fator que se apóia em muitos
estudiosos da psicologia, é a importância metodológica que uma obra não apropriada pode
acarretar para os alunos, na medida em que não estabelece ligação com o contexto destes e
que não aumenta progressivamente o nível de desenvolvimento do aluno. Como resultado
podemos entender que não eleva também o nível de abstração que se espera para aumentar a
profundidade dos conteúdos geométricos nas séries seguinte. É notório que estes fatores não
justificam plenamente a exclusão ou a pouca ênfase da Geometria nas séries finais do Ensino
Fundamental, porém contribui muito e negativamente para que professores os reduzam de
seus planejamentos ou os tornem conteúdos mecânicos e desprovidos dos aspectos históricos,
que como vimos, são necessários e urgentes no processo de escolarização.
Ainda em relação a estes fatores, notamos esta deficiência quando verificamos no
Guia de Livros Didáticos 2005 (BRASIL, 2004), algumas informações pertinentes às obras
escolhidas pela Escola Educandário Senhora Santana para os anos de 2005, 2006 e 2007.
Neste Guia, os críticos enfatizam que o livro didático utilizado atualmente pela Escola possui:
Muitos dos conteúdos de cada um dos campos temáticos estão centrado em blocos, com a atenção de se esgotar o assunto numa mesma série. [...]. A abordagem das grandezas comprimentos, área e volume estão concentrada no livro da 5.ª série e num capítulo do livro da 8.ª série. [...] A ordenação linear dos conteúdos não favorece as articulações entre os diferentes campos da matemática. (BRASIL, 2004, p. 12).
É possível perceber, que a não observação no Guia de Livros Didáticos 2005
(BRASIL 2004), por parte dos docentes, pode ter contribuído para a escolha de uma obra que
não deu devida atenção aos diversos campos da Matemática.
Quanto a escolha dos livros didáticos deste ano, feita pelos professores da Escola, vale
destacar que de acordo com os dados observado, a maioria dos docentes teve acesso às
informações contidas no Guia de Livros Didáticos 2008 e que, os mesmos puderam analisar
melhor cada obra e selecionar a mais adequada à realidade de sua Escola e a que atendesse às
sugestões oferecidas pelo MEC. Para a nova escolha de livros didáticos, feita pela Escola, os
pareceristas do Guia do Livro Didático PNLD 2008, destacam:
Os conteúdos dos vários campos são distribuídos de forma bem equilibrada em cada livro e na coleção, e verifica-se uma boa articulação entre esses campos. A obra também se destaca pela diversidade de representações matemáticas empregadas – linguagem materna, simbolismo matemáticos, gráficos, tabelas, diagramas, entre outros. (BRASIL, 2007, p. 62).
Ainda de acordo com os críticos, no que se refere aos campos de Geometria e
Grandezas e Medidas, destacam:
O estudo de geometria é bastante abrangente, e alguns tópicos relevantes, como a representação plana de figuras espaciais, são bem discutidos. [...] Os conteúdos de grandezas e medidas permeiam as atividades ao longo da coleção que, além disso, tem vários capítulos especificamente dedicados a esse campo. Em especial, os conceitos de perímetro e área de figuras planas são bem trabalhados. (BRASIL, 2007, p. 63).
Portanto, esperamos que o tratamento referente à inclusão de temas de Geometria no
ensino da Matemática, nesta Escola, tenha uma atenção maior e que estejam em consonância
com as propostas oferecidas pelo MEC, pois percebemos que os docentes deram um grande
passo quando puderam analisar melhor a obra que irão trabalhar nos três anos seguintes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a realização deste trabalho, verificamos quanto o Trabalho de Conclusão de
Curso é importante para o discente de vida acadêmica, pois este proporciona ao graduando
uma reflexão maior acerca dos estudos e pesquisas científicas. Além disso, amplia seu
horizonte de conhecimento, oferecendo-lhe subsídios essenciais para suas atividades futuras.
Ao desenvolvermos o nosso trabalho monográfico, procuramos evidenciar numa
abordagem qualitativa, a importância dos conteúdos geométricos no ensino da Matemática,
através de um estudo de caso numa escola pública do município de Cansanção/BA., onde
enfocamos o terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental.
Inicialmente, procuramos resgatar o aspecto histórico da Geometria e a sua influência
no ensino da Matemática. Posteriormente, abordamos as principais tendências teóricas
contemporânea da Psicologia e a sua contribuição para o processo ensino-aprendizagem. A
partir daí, analisamos as propostas apresentadas pelo Plano Decenal de Educação para a
educação brasileira.
A pesquisa foi realizada através de fonte bibliográfica, questionário aplicado com sete
perguntas objetivas e semi-objetivas e análise do plano de aulas de oito professores da Escola
Educandário Senhora Santana.
Como resultado da pesquisa, podemos observar que, assim como frisado por muitos
autores, o ensino de Geometria na Escola pesquisada está longe de atender as reais
necessidades ou as propostas do MEC para a educação brasileira, pelo menos, no que se refere
a quantidade de conteúdos destinados as séries em questão. Observamos que o atual livro
didático adotado pela Escola, não corresponde as expectativas de qualidade sugeridas pelo
MEC. No entanto, observamos também que há uma preocupação na maioria dos docentes
pesquisados, para com o grau de escolaridade. Outra importante constatação está no empenho
da maioria dos professores em incluir conteúdos geométricos em suas aulas de Matemática
nas séries finais do Ensino de Matemática, embora de modo isolado e tímido.
Entendemos deste modo, que muito ainda há por se fazer para que a Geometria seja
tratada com o caráter de abrangência necessários no ensino de Matemática. Com relação a
estes fatores citados, entendemos que a nossa pesquisa poderá trazer, de certo modo, alguma
reflexão no grupo de professores pesquisados. E como sugestão, ou encaminhamento de
resultados desta pesquisa, entendemos que pode haver nesta Escola uma maior interação
destes professores para que se ajudem mutuamente, através de grupo de estudos por exemplo,
num processo de acessão a um nível mais elevado de aprendizagem dos docentes, e por
extensão, transmissão destes conhecimentos, aos alunos das séries finais do Ensino
Fundamental.
6. REFERÊNCIAS
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APÊNDICE
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPTO. DE EDUCAÇÃO – SENHOR DO BONFIM/BA
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS: HABILITAÇÃO EM MATEMÁTICA MONOGRAFIA: A GEOMETRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL
NA ESCOLA EDUCANDÁRIO SENHORA SANTANA EM CANSANÇÃO/BA. AUTOR: CLEITON DE OLIVEIRA MENDES ....
ORIENTADORA: MIRIAN BRITO DE SANTANA
QUESTIONÁRIO
1.º) Qual é o seu nível de escolaridade?
a) ( ) Médio completo. b) ( ) Superior incompleto. c) ( ) Superior completo. Graduação em ______________________________ d) ( ) Pós-graduação. Qual? E em que? ______________________________ __________________________________________________________
2.º) Há quanto tempo leciona? ______ ano(s). 3.º) Há quanto tempo leciona Matemática? ______ ano(s). 4.º) Você participou/a da escolha do livro didático de Matemática em sua Escola? Quantas vezes?
a) ( ) Sim: ( ) 1999 ( ) 2002 ( ) 2005 ( ) Apenas este ano. b) ( ) Nunca participei.
5.º) Se participou da escolha do livro, sempre teve acesso ao Guia de Livros Didáticos PNLD enviado pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC.
a) ( ) Sim: ( ) 1999 ( ) 2002 ( ) 2005 ( ) Apenas este ano. b) ( ) Nunca acessei.
6.º) Em seu planejamento escolar, você inclui tópicos de Geometria?
a) ( ) Sim. Quais conteúdos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) ( ) Não. Por quê?
7.º) Você vê a utilização dos conhecimentos geométricos em nossas vidas?
a) ( ) Sim. b) ( ) Não. Comente:
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________