Monografia Cinema Nazifascista
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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE BACHARELADO EM CINEMA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
O IMPÉRIO IDEOLÓGICO CHEGA ÀS TELAS: A discussão acerca dos cinemas nazi-fascistas e a manipulação hipnótica de valores
Paulline Röedel
ORIENTADOR: Profa. Luciene Setta
Rio de Janeiro, novembro de 2015
PAULLINE RÖEDEL
O IMPÉRIO IDEOLÓGICO CHEGA ÀS TELAS: A discussão acerca dos cinemas nazi-fascistas e a manipulação hipnótica de valores
Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado à Faculdade de Cinema da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Cinema.
Orientadora: Luciene Setta
Rio de Janeiro
2015
PAULLINE RÖEDEL
O IMPÉRIO IDEOLÓGICO CHEGA ÀS TELAS: A discussão acerca dos cinemas nazi-fascistas e a manipulação hipnótica de valores
Trabalho apresentado como requisito para a Conclusão do Curso de Bacharelado em Cinema da Universidade Estácio de Sá.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________
Profa. Luciene Setta (orientadora)
Universidade Estácio de Sá
______________________________________
Prof. Fabio Regaleira
Universidade Estácio de Sá
______________________________________
Profa. Silvia Oroz
Universidade Estácio de Sá
Rio de Janeiro, ____ de____________ de 20__
DEDICATÓRIA
Agradeço a compreensão e
paciência de todos os mestres que
cruzaram meu caminho durante a jornada
desta graduação, mas desejo agradecer
sobretudo a minha mãe, que esteve por
perto e me auxiliando em todos os
momentos.
AGRADECIMENTOS
Começo por agradecer o primeiro a ajudar neste caminho, a professora
orientara Luciene Setta, pela atenção e paciência em enxergar o melhor do trabalho,
aos demais professores que estiveram à disposição nestes quatro anos, em especial
ao Fabio Regaleira e Silvia Oroz que compõem a banca.
Aos professores entrevistados deixo meu mais sincero agradecimento, James
Stirling, Roberta Linhares e Sara Zarucki já que a pesquisa não seria a mesma sem
sua contribuição e dedicação e por fim, presto minha homenagem aos
coordenadores de curso Gisele Barreto e Paulo Ribeiro pela atenção e
disponibilidade sempre.
Epígrafe
“Eu sempre achei mais fácil
convencer uma grande massa do que
uma só pessoa.”
Benito Mussolini
RESUMO
A massificação provem de uma estratégia de comunicação antiga e
fundamentada que pode ser evidenciada desde os primórdios da história humana. O
governo pela dominação e os Estados autoritaristas dão vazão ao conceito do
estado tentacular de Foucalt, ou seja, a sociedade da vigilância. A estratificação
social se inicia pela ampla disseminação destes ideais fundamentais ao domínio de
determinado grupamento politico, partindo para como o próprio Hitler cita, uma
repetição incessante de suas crenças buscando a fixação por esgotamento sobre a
população, nesta fase encontra-se uma ferramenta de comunicação em massa
extremamente eficiente que pode camuflar-se sobre o égide de entretenimento: o
cinema. Logo a discussão acerca dos cinemas nazi-fascista que apresentam o
expoente mais nítido de dominação politica na sétima arte (mas que destaque-se,
não são os únicos) se faz necessário como forma de conhecer os artifícios da
imposição e principalmente, manipulação ideológica e ainda, destacar momentos
chave e relacionados a este mesmo tipo de ação manifestado durante a pós-
modernidade na era digital. O advento da comunicação e a transformação da
sociedade em aldeia global foi indiscutivelmente um grande avanço social e
tecnológico, porem com a interação instantânea e o diverso fluxo de informação a
disseminação de ideologias autoritárias também foi facilitado e adquiriu novas
facetas, logo em um ambiente atual de crise econômica, distribuindo desemprego e
situações alarmantes inclusive nos países centrais, a exclusão e o radicalismo
mostram-se novamente como opções válidas diante do desespero de algumas
populações, haja visto o aumento significativo da participação dos partidos de
extrema-direita no cenário politico internacional (destaque para França e Alemanha)
e inclusive em território nacional. Desta maneira, se faz necessária a extensa
investigação e questionamento de tais preceitos, através de uma revisão e avaliação
histórica além da aplicação de fato, nas mídias digitais.
Palavras-chave: regime autoritário; cinema nazi-fascita; manipulação
ideológica; meios de comunicação em massa; mídias digitais.
ABSTRACT
The massification point comes thru an old and based communication strategy
that can be seen since the beginning of time and human history. The act of governing
using force and domination and the far-right State show the depth of the concept of
the “Octopus State”, or better saying the vigilance society. The social division begins
with the mass adoption of these ideals which are fundamental to the domination and
success of this special political group, using as the own Hitler himself thought, the
same repetition of believes over and over again until the population accepts it and
thinks it’s alright. In this phase, a very useful communication tool is applied, under the
entertainment disguise: the cinema. Soon, the discussion about the nazi-fascist
cinema presents the most exposed way of the political manipulation and above all,
domination in the seventh art (but these are not the only ones thou) where it makes
so urgent an investigation, research discovering the undercover methods of
ideological manipulation and besides, digging key moments related to this same kind
of behavior during the digital era in modern age. The gift of mass communication and
the society transformation into a global center were definitely a great social and
technological advance, although the one touch contact and the mass information
waves, helped the dissemination of the far-right ideas which gained new faces, soon
in a world endorsing a financial crisis, maintaining high levels of unemployment and
deep concerns including the developed countries, the exclusion and radicalism are
seen as options faced the despair growing in some populations, these can be seen
thru the increasing participation of the far-right parties in the European scene (as
Germany and France) and includes Brazil too. For all those motives said above, it’s
necessary a long investigation and reaction to these ideals, using a historical
analysis without forget the use of the digital media itself.
Key words: far-right system; ideological manipulation; nazi-fascist cinema ;mass
communication; new media
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
2 CAPÍTULO 1: A dominação ideológica histórica (os 4 pontos de
segurança: o medo, a sexualidade, a apropiração psicológica e a guerra) ....... 15
2.1 A manipulação nos primórdios do cinema.........................................................15
2.2 A punição pela sexualidade e a remoção do desejo............................................17
2.3 O brilho político de Hollywood..............................................................................22
2.4 A corrida armamentista nas telas.........................................................................24
3 CAPÍTULO 2: A consciencia de um organismo vivo e o desfacelamento do
cinema nazi-fascista ............................................................................................... 26
2.1 O trabalho de Kracauer e a sensibilidade cognitiva da vanguarda....................26
2.2 O cinema nazi-fascista.........................................................................................31
2.3 Obras primas e a importancia na guerra ideológica.............................................39
2.4 Heranças e a preservação de arquivo..................................................................44
4 CAPÍTULO 3: A paradoxal relação da satirização do domínio e a confluência
de informações das mídias digitais........................................................................47
3.1 Constituição da aldeia global, multiplicidade e a perda da aura da geração
Youtube......................................................................................................................47
3.2 A consolidação das novas midias e a incitação da intolerancia virtual, os reflexos
da narrativa nazi-fascista...........................................................................................52
3.3 Facilidade da disseminação ideológica e a criação de falsos profetas do
anonimato...................................................................................................................55
3.4 A prospecção de novos apoiadores e o combate virtual......................................60
4 CONCLUSÃO ................................................................................................... 62
5 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 64
ANEXO A .......................................................................................................... 65
ANEXO B .......................................................................................................... 66
11
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa de monografia se dedica a abordar a temática
relacionada aos cinemas nazifascistas de cunho altamente politico e de dominação
ideológica, desde os primórdios desta manifestação narrativa partindo do
nascimento da sétima arte como forma de exemplificar e compreender a fundo as
motivações seguidas por tal tipo de inserção doutrinadora (neste aspecto não
destacam-se somente as ideologias de ultradireita nacionalistas mas também
propostas ideológicas supostamente “livres” e de alçada capitalista) a partir de uma
construção de análise histórica detalhada, seguindo-se do cinema presente na
República de Weimar e todo seu contexto pré e pós-guerra, analisando suas
características mais intrínsecas e obscuras a fim de se determinar seu poderio e
origem não só como forma de corrente filosófica mas também de aspectos e
apurações técnicas como as abordagens adotadas pela sua consequente fotografia,
roteirização e montagem com o propósito de tornar o cinema uma poderosa arma
ideológica de massa. Neste parâmetro se fazem presentes o conceito do
inconsciente coletivo ainda que não fortemente colocado de forma analítica e
também a suposta presença de um organismo vivo dentro das artes, como feito a
partir do expressionismo alemão e sua concretização de vanguarda.
Este roteiro de pesquisa possui o objetivo de admitir as características e
consequências sociais e históricas da adoção desse tipo de funcionalidade politica,
utilizando-se do cinema para expor suas virtudes psicológicas mais profundas e com
isto, possibilitar a realização de uma analise e pesquisa que contemple não somente
uma visão histórica distanciada ou extensiva analise de dados sem a total
compreensão psicológica do período, mas sim a premissa de uma analise que
contemple a ótica viva e orgânica do cinema, entendo sua totalidade com uma breve
analogia de um organismo realmente vivo com sentimentos e antecipações que se
refletiram em sua forma de narrativa, com uma espécie de pressentimento baseado
no grande arquivo do inconsciente coletivo capaz de aguçar sua percepção para a
mudança do cenário político-social na Europa da década de 30. Da mesma forma
que décadas depois a grande rede mundial de computadores traria a tona o maior
banco de dados e interconexão já vistos, perpetuando a ideia de McLuhan da aldeia
global, onde o intenso fluxo de mídia e informações carregam consigo uma grande
12
carga histórico-cultural de memória e pode da mesma forma reascender antigas
discussões e preceitos, entretanto em um mundo pós-moderno em constantes crises
cíclicas da economia, o reavivamento das propostas ultranacionalistas retornam ao
campo das discussões populares. Entender novos pontos de vista, ou pelo menos
conhecê-los, constitui uma parte muito importante do nervo curioso do pesquisador,
já que a adoção e ampliação de diferentes diretrizes metodológicas constrói a
possibilidade de outros caminhos científicos e o melhor entendimento da cultura e
sentimento do outro.
A questão-chave abordada nesta monografia é fundamentalmente como os
conceitos de ultradireita se manifestaram no cinema e refletem de maneira direta
nas novas mídias?
Diversos teóricos tocaram neste cerne para discutir o papel do cinema
nazifascista tanto da ótica histórica como filosófica, dentre todos se destaca o não
tão reconhecido nacionalmente Siegfried Kracauer, advindo da Escola de Frankfurt,
assim como Benjamin e Adhorno adepto da Teoria Crítica, trabalhando o viés social
da obra de arte e o sentimento envolto na depressão do momento pré-guerra na
Alemanha de Weimar, onde “... ao expor a alma alemã, o cinema pós-guerra parecia
insistir em acentuar seu caráter enigmático. Macabro, sinistro, mórbido eram os
adjetivos preferidos para qualificá-los.” (KRACAUER, 1947)
Ainda neste mesmo parâmetro, o objetivo primordial da pesquisa foi
constituir-se não somente das próprias conclusões nem muni-la de citações outrora
empregados com frequência neste tema, mas sim formar sua base de construção e
apoio visceral em experiência e depoimentos relatados por estudiosos da área
somados ao ensinamento angariado através da extensiva revisão bibliográfica
consultados na abordagem previamente selecionada para o desenvolvimento do
trabalho acadêmico. No entanto, vários outros segmentos e abordagens foram
relatados na concepção do estudo dos cinemas nazifascistas, partindo de uma
aproximação da vertente crítica e analise psicológica como Kracauer e por
pressuposto a vertente escolhida, ou como outros autores que seguem uma linha
história de forma descritiva e narrativa dos fatos dentro do cinema ou a extensa
exploração a partir das teorias de comunicação de massa e a correlação com a
Teoria Hipodérmica por exemplo.
Neste caminho, algumas hipóteses e premissas foram levantadas seguindo a
vastidão da analise em que se inicia uma pesquisa de ordem cronológica e fomento
13
histórico destacando seus acontecimentos na ordem de acontecimento e com isto,
se exaltando sua importância e contribuição para o quadro que se formaria na
Europa na década de 30, preparando o cenário com tecnologias e estratégias já
acertadas de doutrinação em massa e a catalisação dos sentimentos aflorados da
população diante do cenário de total desconstrução econômica, para isto, a breve
citação da motivação e criação do próprio cinema traçam o primeiro capitulo deste
enredo, seguindo-se pelas politicas de censura, o corte violento dos impulsos e
desejos carnais humanos para a supressão da identidade e a preparação da cena
completa para a imposição dos partidos de ultradireita, após sua conceituação e
paradigmas desmistificados, o ponto de partida passa a ser a confluência destas
ideologias na era digital da informação e a disseminação instantânea de informação
de maneira a compreender como fenômenos ideológicos como os observados
anteriormente podem se manifestar em meio ao intenso fluxo de comunicação
alimentado pela internet.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de sintetizar a história
cinematográfica na virada do século e o surgimento da arte propriamente dita a partir
da invenção dos irmãos Lumiere e a adoção da narrativa como forma de expressão
e impressão de cunho ideológico ao espectador, utilizando-se do teorema de 4
pontos de segurança para a completa massificação, começando pelo medo e a
degradação do status quo através dos boatos e relatos inventados que usufruem
dos estereótipos para adquirir certa credibilidade, a punição e abafamento da
sexualidade, ante forma de punição e a perda de virtude, banalizando a liberdade de
escolha e a livre manifestação de impulsos naturais, transformando-se em pecado
ou impureza associado a dominação imposta pela censura, após a supressão do
sentimento e manifestação do Ego a apropriação pelo sistema torna-se muito mais
fácil e consolidado dentro do ideário social, que aceitando as imposições e
depredações impostas, tornam-se um receptáculo livre e repleto de revolta para a
aglutinação de novas ideologias e com o ganho e ampla adesão da massa ao
sistema, a guerra torna-se então, o ultimo passo vital para o sucesso da liderança
totalitária.
No Capítulo 2, seguindo a ordem cronológica é adentrado o espaço europeu
e as manifestações artísticas advindas do trauma da guerra anterior e o nascimento
do cenário propicio à origem dos partidos nacionalistas e a ditadura da intolerância,
desta forma são apresentados e discutidos os conceitos e apropriações do cinema
14
nazifascista e a magnitude da sua atuação, a partir das artimanhas narrativas e
mercadológicas do Estado. Uma explicação acerca dos atributos técnicos como
estilo, enredo, fotografia e estúdios também é colocada em discussão assim como
suas principais obras remanescentes e a herança deixada pelo mesmo.
No Capítulo 3, a abordagem passa a analisar a relação entre as ideologias e
ferramentas do cinema totalitário com a internet na era das mídias digitais e a
disseminação de ideias constante. Tida como território amplo e incomensurável a lei,
a rede tornou-se um portal fundamental para a circulação de informações a nível
global e constitui uma cadeia de vital importância para todos os aspectos da
sociedade, desta forma, cabe também observar como um sistema de dominação em
massa de tal maneira que foi o cinema se manifesta e proclama nos tempos atuais,
a fim de descobrir qual o limite da liberdade de expressão e manifestação
interpessoal a favor dos sistema totalizantes.
Portanto, o presente trabalho visa traçar uma linha histórica dos
acontecimentos de maior destaque a partir do surgimento do cinema e a sua
configuração em arte e método de comunicação sob o égide sentimental e descrição
comparável a um organismo vivo diretamente ligado ao inconsciente coletivo e não
somente através da ótica distanciada do puro estudo histórico, antever reações que
mudariam o curso da história e a maneira como o mesmo foi concebido é a mais
vital analise proposta por este trabalho, o reconhecimento da narrativa e o sucesso
da dominação ideológica presente na mídia e cada vez mais forte nos dias atuais é
somente mais uma das intrigantes consequências esquematizadas pela propaganda
dos governos totalitários europeus, logo se faz necessário um profundo
desmantelamento de seu modus operandi para evitar e impedir que um cenário
como o visto antes possa vir a se repetir.
15
2. CAPÍTULO 1: A dominação ideológica histórica (os 4 pontos de
segurança: o medo, a sexualidade, a apropiração psicológica e a guerra).
2.1 A manipulação nos primórdios do cinema.
Com as transformações tecnológicas do fim do século XIX, alimentadas
principalmente pelo fomento da Revolução Industrial, a sociedade permanecia em
uma constante transformação filosofia atrelada ao surgimento de novos aparatos
modernos, neste quadro também apresenta a entrada dos Estados Unidos no
cenário econômico mundial com maior representatividade e transformações
moldadas a partir da Revolução Francesa que culminaram na adoção de medidas
propiciaram a expansão da industrialização inglesa e a incessante busca por
dominação territorial caracterizaria um novo tipo de imperialismo, vital a manutenção
da hegemonia dos países centrais, de modo que a concentração de renda moldasse
as ações politicas e se voltasse suas atenções para um novo tipo de capitalismo,
cada vez mais feroz e agressivo, lugar onde a livre-concorrência dava inicio ao
monopólio, segundo as palavras de Woodrow Wilson “uma grande nação industrial é
controlada pelo seu sistema de crédito. Nosso sistema é concentrado. O
crescimento da nação, portanto, e de todas as nossas atividades estão nas mãos de
uns poucos homens.” (HUBERMAN,L. 1962). Desta forma, é inegável perceber que
a concentração do poder e assim da doutrinação é uma faceta amparada pela
economia da era moderna, a industrialização além de trazer consigo a oportunidade
de um desenvolvimento urbano como nunca visto, também contribuiu para a
concentração de terras e capital, dando origem aos grupos oligárquicos da politica.
Dentro deste contexto, o desenrolar econômico andou lado a lado com o
desenvolvimento técnico-cientifico que possibilitasse um maior sucesso da indústria
e de novas ferramentas e oportunidades, a partir daí o interesse crescente da
população largamente urbana pelos mistérios da natureza e o aspecto obscuro da
sua materialidade dão suporte aos fantasmagorismos e artefatos de diversão da
virada do século que buscavam reproduzir a ilusão de movimento.
Outro aspecto a se destacar é a obsessão de certa forma, que a população
adquiriu pelo movimento, seja pela rapidez alimentada pelas fábricas ou o ritmo de
vida frenético nas metrópoles recém-criadas na Europa, o fato é que cada vez mais
16
como busca por entretenimento ou diversão, os truques de ilusão de ótima são os
primeiros chamarizes a uma semente do cinema. Em um breve contraponto com a
Alegoria da Caverna de Platão, a diversão da vez se baseava em observar o
movimento através das conhecidas Lanternas Magicas em atrações que faziam
parte do circo e também dos brinquedos óticos como o traumatrópio (1825), o
fenaquistiscópio (1832) e o zootrópio (1833), mas essa mesma interação e rápida
transformação constante, conduzem ao fato de que não houve um único descobridor
do cinema e nem que os aparatos para a reprodução repetida da imagem surgiram
em um só lugar.
As primeiras exibições se devem a Thomas Edison em 1893 através do seu
quinetoscópio enquanto em 28 de dezembro de 1895 é dado o nascimento do
cinema propriamente dito, pela exibição dos irmãos Lumiere em seu cinematógrafo
do filmete do trem chegando a cidade, é oportuno que uma plateia desavisada com
a novidade e muito menos com sua veracidade se assustasse e inclusive alguns
mais dissuadidos, levantassem de seus lugares com medo de que realmente o trem
adentrasse no café. “ Os primeiros filmes tinham herdado a característica de serem
atrações autônomas....” (MASCARELLO, 2010) pequenos filmetes de caráter
experimental que ainda não contemplavam narrativa e muito menos movimentos de
câmera, a maioria ainda se concentrava em registros de paisagens ou até retratos
familiares a serem exibidos em vaudevilles como um cinema de atrações, porém
com o seu sucesso, houve um aumento na demanda de produção e por isso, uma
reorganização da produção a nível industrial.
Empresas como a Edison, Vitagraph e a American Mutoscope and Biograph
passaram a idealizar e produzir em ritmo mais constante e acelerados diversos
filmetes originando a indústria cinematográfica, entretanto neste inicio do cinema, já
se pode observar que o potencial politico dessa nova área (que nem arte era
considerada ainda) pelo Estado onde é memorável a produção de um filmete
experimental de 1898 chamado Battle of Manila Bay (J. Stuart Blackton e Albert
Smith, Vitagraph) que retratava a guerra de um barquinho de papel na agua em
referencia ao atual contexto externo em meio a guerra americana com a Espanha
pelo domínio das Filipinas e Cuba, neste primeiro exemplo, em um estado germinal
do cinema, é necessário grifar como a indução politica se fazia presente em uma
atração tida no período como algo voltado para as classes mais baixas de
trabalhadores, construindo uma base importante as decisões do governo apoiadas
17
no proletariado. Da mesma forma, outros exemplos de reconstituições inerentes a
fatos importantes da alçada politica também foram produzidos como em Viste sous-
marine du “Maine” (Meliés, Starfilm) de 1898 onde foi reconstituído o navio norte-
americano Maine, afundado perto de Havana e também em Attack on a China
mission (Williamson, 1900) que usando locações ao ar livre, reproduz um episodio
da guerra dos boxers entre chineses e ingleses.
Com a procura alavancando a produção de rolos cada vez mais elaborados
era inevitável que a busca pela narrativa se consolidasse.
As estruturas de narrativas mais integradas no cinema de transição são
fruto de uma tentativa organizada da indústria de atrair o público de classe
média e conquistar mais respeitabilidade para o cinema, mas isso não
significou a eliminação do público de classe baixa, que continuou a assistir
aos filmes nos cinemas mais baratos. (MASCARELLO, 2010)
No entanto, a popularização dos longas-metragens se dará somente após a
primeira guerra, já que as praticas de vão se desenvolvendo em reposta a demanda
dos exibidores, mesmo tendo a hegemonia do mercado pelas empresas europeias,
a indústria francesa era a maior do mundo e seus filmes eram os mais vistos. “De
60% a 70% dos filmes importados exibidos na Europa e EUA eram franceses (...) A
Companhia Gaumont e a Pathé controlavam o mercado norte-americano: dos 1200
lançamentos feitos, apenas 400 tinham sido produzidos nos EUA.” (PERSON, 1996)
Com a chegada da primeira década do século XX, a produção audiovisual
adquire outro formato ganhando estilo e a narrativa, filmes mais longos podiam ser
feitos apesar de o publico ainda não ter abraçado totalmente as histórias contadas
ou espaço-tempo demonstrado na tela, seja pela falta de costume ou deficiência
técnica, a movimentação de câmera e montagem amis elaborada, dentro da
decupagem clássica, se consagram como meios definitivos para a elevação do
cinema ao âmbito de sétima arte.
2.2 A punição pela sexualidade e a remoção do desejo.
Desde o rechaçamento da teoria de Édipo apresentada por Freud e pela sua
exaltação da importancia da sexualidade e seu esclarecimento na saude psicologica
do ser humano, o assunto sempre foi tratado a grosso modo como tabu e pouco
18
discutido abertamente em um sociedade que aceitaria o sufrágio universal somente
no século XX, a aceitação de que seu sufocamento poderia causar graves
transtornos transpunham a suposição da histeria associada a simples loucura das
mulheres e sim a observar seu trato na submissividade como forma de expor sua
insatiafação e descontentamento com a posição social ocupada e liberdade de
esocolhas com seu parceiro. Os conflitos retratados por em sua obra “Tres ensaios
da sexualidade” relatam 3 principios basicos que fazem uma reflexão acerca da
importancia do dominição sobre a decisão das atitudes sexuais e o quanto tais
decisões afetam o poder sobre si mesmo e a relação com os demais no cotidiano do
individuo.
Os principais aspectos destas descobertas são:
1. A função sexual existe desde o princípio de vida, logo após o nascimento
e não só a partir da puberdade como afirmavam as ideias dominantes.
2. O período da sexualidade é longo e complexo até chegar a sexualidade
adulta, onde as funções de reprodução e de obtenção de prazer podem
estar associadas, tanto no homem como na mulher. Esta afirmação
contrariava as ideias predominantes de que o sexo estava associado,
exclusivamente a reprodução.
3. A libido, nas palavras de Freud, é a "energia dos instintos sexuais e só
deles". (BOCK, A. M.; FURTADO, O. ; TEIXEIRA, M. L.)
Desta forma a pura manipulação e violação do poder vital de decisão
sobre o prórpio corpo e a tomada de consciencia são ferramentas fundametais para
a garantia do poder a partir do monento que a sua expressão para a ser
descaradamente voltada aos interesses inerentes do Estado, ou seja, com a
desvirtualização do conceito do Super-Homem de Nietzche, Hitler em sua obra de
maior destaque, Mein Kampf e biblia para seu governo ditatorial, relata a importancia
da reprodução entre a dita espécie “superior” ariana e o dever para com o Estado
que os alemães puros teriam então em repopular o terrorio de dar origem ao seu
super-homem, segundo sua deturpada visão, individuos de caracteristicas nordicas
(fisicamente) que correpondessem a seriedade e virtude germânicas, logo a
reprodução e a sexualidade passaram a ser encargos do governo e não uma
liberdade indivudal e livre de escolha, as medidas de punição relacionadas a
interação entre judeus e não-judeus incluia castração e outras medidas de
esterelização como maneira de garantir o sucesso de seu infame projeto, da mesma
19
forma que atraiu varios jovens para sua Juventude Hitlerista a fim de garantir a
imposição e dominação desde a infancia dos “arianos” possibilitando a permanencia
do Reich de mil anos. Tal nivel de manipulação conduz a consideração de que o
acesso ao id, a parte mais primitiva e também natural do insconciente do ser
humano, a manisestação mais pura de seus desejos seguindo a psicanálise, é um
dos meios eficazes para o caminho da doutrinação total, tanto que a supressão dos
desejos carnais e sexuais foi parte da estratégia de desumanização da população
judia vitima dos campos de trabalho ou concentração, a extrema fome e condições
precárias de vida e higiene levaram os corpos de seus sobriviventes a uma situção
limitrofe que pelo caminho natural retirou todas as suas possibilidades de realização
cognitiva e sentimental, suprimindo a sua sexualidade mesmo nos jovens, entretanto
a retomada da vida livre e a recuperação fisica levou a conclusão dos mesmos de
enxergar nesta via inconsciente uma forma de reconquistar o poder sobre o proprio
corpo, o sobrevivente de Auschwitz Aleksander Laks relata sobre este ponto:
Apesar da proibição de entrar nas casas, ocupamos um quarto na casa de
um açougueiro. (…) Vivendo nesta casa, em melhores condições, e com a
comida que conseguiamos obter nas fazendas, fomos melhorando nosso
estado de saúde. Começamos a ganhar forças e até a recuperar a nossa
virilidade. Essa foi uma grande preocupação que tínhamos, porque corria a
noticia de que os alemães estavam colocando um medicamento na comida
para deixar os homens estéreis e impotentes. Quando recuperamos a
potencia sexual, vimos que voltamos a ser pessoas normais.(LAKS, 2010)
O relato retrata o quão forte o regime nazista se assegurava acerca da
reprodução, destaque para o médico Joseph Mengele responsável pelo mesmo
campo a que sobreviveu Aleksander em realizar testes desumanos para
providenciar a gravidez múltipla ou evidenciar fenótipos considerados arianos nas
crianças judias. Apesar de seus registros nunca terem sido encontrados e após sua
fuga do julgamento do Tribunal de Nurembrg seu paradeiro seria desconhecido até
morrer afogado no litoral brasileiro. Seja como for, a impressão exaltada pelo cinema
e pelos discursos inflamados de Hitler delatavam uma censura inerente ao mesmo
tempo que difundiam a proliferação da raça ariana a qualquer custo, como uma
reprodução criminosa em massa para satisfazer seus interesses e criar a população
sobre seu mando e vontades. Não tão obstante, a imposição da censura e a
20
qualificação de sua manifestação sob as produções audiovisuais do inicio do século
XX nos EUA como reconhecidos anteriormente se tratavam basicamente de filmetes
feitos a base de poucos recursos para a população operária, como divertimento de
massa e baixo calão, o erotismo foi um prato cheio a ser explorado em um território
inovador e de amplas possibilidades como sucesso de bilheteria, a pouca ou
nenhuma fiscalização e regulamentação das obras acabou por alimentar essa
espécie de cinema clandestino que daria origem a indústria do cinema adulto
décadas depois, mas o fundamental a se destacar é a incessante exposição
pornográfica da produção rudimentar da virada do século que demonstra muito bem
o quanto a sexualidade é importante quando abordada nas telas e como seu
conteúdo passa a gerar incomodo as alas mais conservadoras do governo, já que
neste momento da história ainda nem sequer existiam regulamentações e legislação
voltada especificamente a este tipo de indústria, tão grande era a novidade que nem
instrumentos da lei que protegessem os direitos autorais haviam sido criados ainda,
obrigando Thomas Edison por exemplo, a registrar quadro por quadro de seus filmes
como fotografias únicas para proteger seus direitos de reprodução, curiosamente foi
a partir desse método ostensivo de proteção que muito de seus primeiros filmes
foram recuperados e remontados.
A temática discutida durante o período arcaico do cinema especialmente na
Europa variava entre pequenos esquetes de glorificação e estimulo a boa conduta e
caráter ou pequenas cenas pornográficas de fácil aceitação e entendimento do
publico, “estas películas de alto nível moral competiam com as pornográficas que
sem sua narrativa, reservavam sem surpresas suas excitantes promessas.”
(KRACAUER, 1947). De maneira global esse tipo de película atingia todos os
cinemas que ainda não haviam tomado a gênese de arte com exceção do francês
que pela sua alta produção já havia alçado publico de outras classes sociais e criado
uma vertente de produção com um objetivo mais artístico e experimentalista como
as obras de Meliés. Portanto, nesse período do cinema arcaico até o mudo, onde
começariam as grandes produções faraônicas de Griffith, Porter e as comédias de
Buster Keaton e Charles Chaplin que passaram a ser acompanhadas com voz e
musica ao vivo nas salas a regulamentação acerca do que se exibir ainda era muito
leve e pouco controladora praticamente tudo era permitido e não foi a toa o
surgimento de tantas musas durante esse momento no cinema americano
principalmente.
21
Sem restrições era inevitável que a sedução desse lugar a pura pornografia
na busca da elevação do status social do cinema e não bastaria somente salas
melhores e mais estruturadas para fazer desta arte recém-nascida alcançar o nível
de consagração das anteriores, deste modo surgiram ícones dentro dos filmes na
figura de atrizes ousadas e muito afinadas com a moda, sem demora estas figuras
comerciais tornam-se ícone dentre o publico feminino e a consequente venda de
artigos relacionados como cosméticos e vestuário, demonstrando ainda em fase
inicial a aplicação do marketing e a busca de venda além de associação de status
social as figuras criadas pelos estúdios americanos, especialmente através não só
da bilheteria mas também da venda desses subprodutos que estariam relacionadas
ao famigerado star system. Com a ousadia exibida nas telas de musas como Theda
Bara, que em Cleópatra (1917) usava um figuro transparente e quase semi-nu atraia
a atenção de tanto mulheres como homens por motivações diversas, seja pela pura
curiosidade ou entretenimento, o surgimento das vamps e depois se tornariam
femme fatales no filme noir, ressaltavam o domínio da mulher sobre o próprio e
decisão sob a sua sexualidade e liberdade, além de desmitificar a alcunha de
dependência masculina, entretanto este apoio a novas diretrizes sociais e a visão
mais distanciada da mulher submissa, traça uma linha histórica simultânea ao
primeiro momento de guerra onde esposas e donas de casa se viram sozinhas e
assumindo papeis masculinos na ausência dos soldados, acontecimento que se
repetiria de maneira ainda maior durante a segunda guerra, dando origem a
movimentos feministas e a defesa da entrada da mulher no mercado de trabalho, de
qualquer forma, a venda da imagem mais libertária e sexualizada também é
calculada de maneira a fomentar e apoiar o momento econômico passado no
período entre guerras, assim como alimentar a indústria através da venda da
imagem de beleza destes ícones do cinema e por fim, antecipariam uma tendência
fundamental do imperialismo americano, o American Way Of Life.
Porém o uso frenético e acelerado do capital culminou nas condições
essenciais para o surgimento do segundo conflito e diante desse cenário de total
desesperança e despreparo econômico, em 1930 como maneira de recuperar os
bons costumes e garantir maior credibilidade a indústria cinematográfica, note-se a
coincidência de pontos entre a maior censura que visava estabelecer a restrição de
temas como prostituição, alcoolismo, roubo, prostituição em um período de
deflagrada crise econômica em que ações como essa são mais comuns e
22
justificadas. Para alimentar o desejo do sistema americano o advogado Will Hays,
criou sua lista de censura sobre itens que não deveriam aparecer e muito menos
ditos, usando da criatividade dos diretores para insinuar situações de duplo sentido,
o código durou oficialmente cerca de 30 anos e correspondeu durante seu período
mais rígido aos anseios do governo regulamentador e na sua égide controladora
sobre os bons costumes garantindo a imagem imaculada dos americanos sobre as
outras nações, demonstrando um exercício da dominação sistemática através do
controle restritivo de imagens e ideias, seguindo a proposição do Estado tentacular
de Foucalt na dominação pela vigilância.
2.3 O brilho político de Hollywood.
A consolidação do cinema norte-americano pressupõe o sucesso de suas
politicas públicas e de amplo investimento em propaganda e comunicação mas
prinicipalmente vai muito além de seu aparato técnico garantindo produções de alta
qualidade com distribuição em massa, a entrada das produções que trazem nas
entrelinhas a venda do ideário tipicamente americano e do American Way of Life
foram o motivo por trás da falência de muitos cinema latino-americanos assim como
outros mercados ao redor do mundo, entre eles o asiático e o africano, não tendo
forças para competir com a grande demanda exportada e o domínio exercido pelos
mesmos através de apoio legislativo. A insurgencia de Hollywood e seus magníficos
estúdios representou o epítome da dominação ideológica e politica da forma mais
bem executada possível, para tanto basta observar que mesmo diante do conflito e
em meio a Segunda Guerra, a produção fílmica não cessou mas sim trouxe
clássicos que abordavam de forma estratégica o assunto vigente, como Casablanca
(1942) por exemplo e outros que se aproveitando da privação de demanda interna e
acabaram por ser bombardeados de produções que seguiam o gênero conhecido
como noir, tanto esta premissa é verdadeira que foi o critico e cineasta francês Nino
Frank que atribiu a nomeclatura a esse tipo de filme. Outro ponto a se citar nas
produções, é a intensa exploração e reflexo da divisão de gêneros tal qual convinha
ser aceita pela sociedade em geral, segundo as motivações por trás do conflito, “a
representação de um dos elementos centrais da cultura da desconfiança do pós-
guerra: a intensa rivalidade entre masculino e feminino.” (MASCARELLO, 2010).
23
A vitória na primeira guerra serviria como preposto para acentuar as
caracteristicas e articulações dominadoras do sistema capitalista e seu principal
detentor em escala mundial. Passando por um periodo conhecido como “grande
ilusão”, o alimento propulsor da crise se basearia nas suposições vendidas por uma
propaganda que iludiu meio mundo, o breve momento de prosperidade e
reconstrução se refletiu nas economias europeias destroçadas pelo primeiro conflito
mas principalmente nas falsas esperanças trabsmitidas aos proprios cidadãos, o
mesmo instante de revolução e renascimento tomaria forma filmica através da
inserção de novas tecnologias e parametros técnicos que entre a maior se destaca o
surgimento do som, que de primeiro momento foi rechaçado e rejeitado pelo publico
ainda pela falta de costume e pouca experiência mesmo da equipe técnica em
dominá-lo, mas se tornaria inseparável da imagem a partir de então.
O advento do som possiblitou a criação de uma nova gama de gêneros e
produções antes restritas pela falta do aparato, o sucesso mais nítido é a variedade
de musicais que apareceram seguindo a década de 30 e eram os grandes
propulsores do faturamento dos estúdios, mesmo curioso, eram estes filmes
esperançosos e altamente ricos, sustentando uma ostentação fora da realidade em
um meio de crise que alimentou a esperança e encorajou a reconstrução social
pelas telas, vale lembrar que mesmo em plena recessão, os cinemas ainda eram
parte da forma de entretenimento da população que buscava alguma forma de
abstração da trágica realidade, neste aspecto o cinema foi o meio perfeito para
cumprir esta função, poucos movimentos artísticos conseguem com tanta facilidade
e sutileza realizar tal suspenção da realidade como faz o cinema. Alguns estudiosos
apontam não só pelo caráter realista e a reprodução do movimento como pontos que
atraiam naturalmente o ponto de vista do espectador, mas também as amplas
possiblidades apresentadas pelo aperfeiçoamento da montagem e inclusive a
arquitetura básica das salas e sua tradicional poltorna localizada a frente do projetor,
algo que pode sustentar a teoria da captação dos sentidos e o aprisionamento da
atenção. Os musicais com toda sua interface majestosa e arte exacerbada, figurinos
e cenários ricamente construídos, transmitiam um momento oposto ao vivido pela
maioria dos espectadores, mas ainda assim conseguiam transpor a clássica
mensagem de reconquista e realizar como o antigo teatro grego já propunha, a
catarse final da plateia. Nenhum recurso, no entanto, seja técnico ou sensitivo,
passou desatento aos olhos do sistema e especialmente das armas manipulatórias
24
da propaganda e basta observar as breves correlações entre o instante econômico e
as produções artisticas de alta veiculação para notar que em períodos de profunda
crise economica ou social, as produções adotam um tom mais cômico e passam a
ter menor grau de questionamento e incissividade, como feito no caso brasileiro da
pornochanchada, genero distrativo que permeou toda a dominação militar.
A primeira metade do século XX foi marcada pela ascensão e consolidação
dos regimes que utilizaram os meios de comunicação de massas como
instrumentos de propaganda política e de controle da opinião pública. A
referência básica da propaganda é a sedução, elemento de ordem
emocional de grande eficácia na conquista de adesões políticas. Em
qualquer regime, a propaganda é estratégica para o exercício do poder,
mas adquire uma força muito maior naqueles em que o Estado, graças à
censura ou monopólio dos meios de comunicação, exerce rigoroso controle
sobre o conteúdo das mensagens, procurando bloquear toda atividade
espontânea ou contrária à ideologia oficial. O poder político, nesses casos,
conjuga o monopólio da força física e da força simbólica; tenta suprimir, dos
imaginários sociais, toda representação do passado, presente e futuro
coletivos que seja distinta daquela que atesta a sua legitimidade e cauciona
o controle sobre o conjunto da vida coletiva. (PEREIRA, 2003)
2.4 A corrida armamentista nas telas
Após a crise de 29, o cenário mundial adquiriu uma nova configuração e
conduziu a outra maneira de agir e pensar, as propostas antes rígidas e radicais
demais tomaram força como maneira de restaurar o estado anterior de prosperidade
e com a iminência de um conflito armado, a necessidade de uma melhor articulação
por parte dos órgãos de propaganda e estratégia de mercado se fez mais urgente,
se iniciava a era do dirigismo econômico, ou seja, o alto intervencionismo do Estado
na economia e o controladorismo iminente. “O fenômeno ocorreu em quase todos os
países. No plano politico levou ao reforço do autoritarismo (...) a forma mais radical
de intervencionismo estatal foi o nazismo, mas o modelo clássico de
regulamentação (...) foi o New Deal.” (AQUINO, 2002). Somado aos fatos anteriores,
como a imposição do medo, a manipulação da sexualidade e a apropriação
psicológica e interação ideológica, estes constituem os antecedentes que
prepararam a última tomada total da inconsciência suplantando a guerra e seu
25
amplo apoio pela sociedade coagida. A disseminação dessa possibilidade pelos
meios de comunicação de massa e a violência disfarçada colocada no cinema,
constroem o plano de ação da propaganda politica e o instante ideal para a ação de
governos mais radicais.
Logo no caminho tortuoso da ascensão ao poder, os setores de propaganda
e articulação politica conceberam uma impactante ação mercadológica como
maneira de acessar e entreter a população, assim como já na Roma antiga era
exercido pela estratégia do pão e circo, pelo qual escondendo suas atrocidades e
atitudes injustificadas de intolerância, os governos do pós-guerra, aliaram-se aos
recém-desenvolvidos meios de comunicação de massa para disseminar seus ideais
de forma implícita e convenientemente, associando tal doutrinação a elementos
descaracterizadores e grandes marchas de desarticulação questionadora, partindo
então do entretenimento para a cegueira em massa. Essa abordagem diferenciada
dos sentimentos e virtudes humanas nos enredos se fez necessária para o
espelhamento do espectador naquelas situações e fazem uma ligação inesperada
com o sentimento abrasivo causado pelo reboliço do desfacelamento da economia.
A politica da distração e doutrinação é antiga, mas exemplos nítidos de sua
utilização são observados até os dias de hoje, mesmo em regimes ditos
democráticos, a ação incisiva do Estado e o alto intervencionismo na liberdade de
expressão e obras independentes são claros pontos em comum com essa proposta
totalitária. Neste ínterim, ainda se tratando do período compreendido entre as
décadas de 30 e 40, a temática cinematográfica passa abordar cada vez com mais
frequência a guerra como plano de fundo, seja para produções romanceadas e
defensoras ideológicas da ocupação americana, ou mesmo outros tipos de drama e
ação que se muniram do momento histórico para produzir chamarizes de público,
outro ponto interessante que inclusive é demonstrado em diversas obras de ficção,
são os cinejornais transmitidos previamente às sessões durante o período entre
guerras, meio pelo qual as principais vitórias eram anunciadas e havia a glorificação
de seu exército, entretanto mesmo com a suposta predefinição jornalística a maioria
se tratava de artigos manipulatórios e enveredados para a satisfação do regime
imposto. Muito além do campo de batalha propriamente dito, a guerra se fez
vitalmente pelo consumo e apoio ideológico da sociedade, o sucesso do vasto
segmento de suporte ao conflito se conecta a premissa de Foucalt do governo pela
vigilância, onde através dos entraves tecnológicos antes tido como libertários, o
26
sistema passa a observar e deliberadamente influenciar seus cidadãos de modo a
obedecer seus interesses políticos e participar da glorificação pela denúncia, ou
seja, para assumir o real papel de cidadão modelo, o protótipo da vigilância não se
garante somente a partir dos olhos ferinos do Estado mas conta também com a
incitação coletiva da denuncia a desobediência dos demais, assim a bonificação em
seguir os desmandos políticos integra parte da doutrinação sistemática e transforma
a atuação do Estado tentacular em várias camadas da estratificação social, partindo
das participações pequenas individuais até a ação generalizada do governo. Mesmo
que em ficção, George Orwell supõe essa situação em uma sociedade futurista em
1984, onde depois de retirados seus acesso e características mais humanizadas,
passam a responder unicamente pelos interesses do estado doutrinador maior e a
servir pela sua guerra na dominação de outros países e a criação de uma população
superior as dominadas, nesta trama a desobediência é fatalmente punida e o
sucesso da implementação do sistema se baseia na vigorosa ampla atuação do
poder e também adesão popular. No entanto, não é necessário procurar por
exemplos somente na ficção de situações como as imaginadas pelo autor, muito
antes de 1984 o governo pelo medo e a satisfação na denuncia foram armas vitais
do sistema nazista na ocupação de territórios vizinhos e até a massiva repreensão
aos judeus se muniu de forças através da denuncia da população, as investidas
agressivas da SS e Gestapo caracterizaram a faceta mais indiscriminada e
desumana do governo alemão do Reich que pode ser pressentido de certa maneira
pelas manifestações culturais anteriores como pressupõe Siegfried Kracauer.
3. CAPÍTULO 2: A consciência de um organismo vivo e o desfacelamento do
cinema nazi-fascista.
2.1 O trabalho de Kracauer e a sensibilidade cognitiva da vanguarda.
Parte do sucesso e grande adaptação e recepção do público às obras nazistas
se devem aos antecedentes históricos que anteviram a ascensão desse sistema, a
população alemã de certa forma, tinha como parte do hábito o entretenimento pelo
cinema e a vanguarda teve papel fundamental ao criar espaço para a adesão e
procura do público por suas obras além da estruturação que o mesmo exigia com
vários espaços dedicados a arte cinematográfica, a produção cultural de uma forma
27
genérica correspondia aos anseios de todas as camadas sociais, com o cinema
mais critico e artistico para as elites e as obras mais acessíveis e dramáticas para
as classes mais baixas, mas de qualquer forma é importante ressaltar o quanto a
estrutura prévia do espaço e doutrinação da sociedade foram fatores necessários
para a suplantação da ética totalitária. Como contextualização histórica, o período
que compreende o pós-guerra, a crise econômica de 29 até a ascensão de Hitler
ficou conhecido com a República de Weimar, governo de características
democratas porém com pouca influencia sobre o desesepero da população,
situação tal que se refletia indiretamente no cinema de vanguarda, ou seja, pelos
olhos vitrificados do experissonismo alemão. Advindo das artes plásticas, o
movimento expressionista como a propria nomeclatura explicita, trata a
exacerbação e exploração angustiantes dos sentimentos de maneira dramática,
uma forte motivação para tal surgimento deste sentimento foi a dislaceração
causada pelo trauma da Primeira Guerra, ainda que pouco situado, o primeiro
grande conflito trouxe perdas humanas e materiais imensas principalmente para os
paises europeus em baixa, o desgaste angariado através da estratégia da guerra de
trincheiras levou ao trauma e desolução geral da população, tanto agresivo foram as
batalhas que muitos filmes de terror de baixo orçamento da década de 30 e 40
produzidos pela Universal enquanto ainda um estúdio B de Hollyowwod,
abordavam a mutilação e desfiguração sofrida pelos soldados em campo, que com
imagens fortes basearam a criação do medo e das figuras monstruosas geralmente
encarnadas por Conrad Veidt. Essa degradação humana e total desesperança
também conduziu diretamente a uma ligação intriseca das artes com o sentimento
permeado na Alemanha do pós-guerra, logo a partir da década de 20 e o
surgimento das variadas vanguardas, a visão angustiante acerca do
desenvolvimento industrial e a desesperança mortificada pelo impacto do conflito
conduziram a uma arte forte, sentimenal e depressiva na sua forma de construir,
suas figuras pálidas, disformes e que beiram a loucura nada mais representam dos
que os fantasmas que perseguiam a imaginação da sociedade em meio a uma crise
sem precedentes, que propiciou a corroboração dos ideais nacionalistas.
O expressionismo alemão trouxe uma lufada de novas interpretações e uso da
técnica atraindo estantaneamente o publico mais intelectualizado, sua obra de maior
destaque e estreia foi O gabinete do Dr. Caligari (1920) que usando tanto de uma
estética quanto abordagem inovadoras, conseguiu marcar a história do cinema com
28
o enredo sobre um doente doutor que a partir da hipnose conseguia dominar outros
individuos e realizar suas atitudes maléficas, neste ponto já é possivel perceber a
semelhança com a realidade que se daria anos mais tarde, pela figura hipnótica do
Fuhrer e os discursos pragmáticos de Hitler, seu poder de indusão e carisma foram
argumentos imprescindíveis para seu apogeu e a utilização de um contexto tão
próprio e inovador diante a temática da época fazem refletir sobre o clima
decadentista que se arrastava desde o século anterior pelas obras de Baudelaire e
as novas vertentes filosóficas de Nietzche, esta dramaturgia do ego somada aos
aparatos e estudos tecnológicos proporcionam a formação do expressionismo como
arte contestadora e de cunho altamente critico. Apesar da improvável ligação, a
herança deixada pelo expressionismo praticamente dizimado pela Segunda Guerra
e o governo de Hitler, são a influencia fundamental para o posterior
desenvolvimento da indústria cinematografica americana como um dos grandes
polos produtores dos filmes de terror e suspense, como citado anteriormente não
somente a guerra e seus soldados feridos fizeram parte de sua construção estilistica
mas principalmente que depois da perseguição politica, a maior parte destes
autores e atores que compunham o cenário da vanguarda alemã se refugiaram na
recente indústria americana e foram abraçados pelos estúdios, até pela motivação
religiosa já que a maioria dos donos dos grandes estúdios americanos eram
também judeus que haviam emigrado da Alemanha, assim grandes mestres como
Fritz Lang entre outros atores também puderem continuar sua carreira com a
segurança e liberdade artisitica que mereciam. Ainda acerca das produções do
periodo, outro aspecto a ser frisado se tratando de Fritz Lang, é a obra prima
Metropolis (1927) de narrativa incrivelmente futurista para a época e dotada de
restritos recursos de efeitos especiais e montagem, reconstitui uma realidade muito
similar ao que cita Marinetti no modernismo e a revolta contra a dominação das
máquinas em uma perpectiva totalmente industrial, desta forma a revolta e a
retomada pelos poderes proletários é uma defesa sintética do pavor que tomaria
conta da Europa anos depois pela febre vermelha do comunismo soviético, desta
maneira mais do que sintetizar a ação libetária e o poder coletivo da força de
trabalho, Lang consegue concluir com primazia a breve analogia com a luta de
classes e também da manipulação politica através do aprimoramento tecnológico,
como mostrado em sua cena icônica da construção do androide, entretanto seria
um outro momento que seria capaz de antever e resumir em poucos frames uma
29
das maiores tragédias da história moderna, hoje exaustivamente analisada e
teorizada, que seria a cena das fornalhas em que milhares de trabalhadores em
protesto são queimados vivos dentro das grandes fronalhas sem qualquer remorço
por parte da classe dominante, este instante se repetiria dentro de algumas décadas
com as fornalhas dos campos de concentração nazistas perpetuando uma previsão
amedrontadora do futuro. Uma curiosidade se baseia no fato de que o roteiro de
Metropolis foi escrito em parceria de Lang com sua esposa na época, que após a
tomada nazista e o exilio do mesmo, permaneceria na Alemanha e tomaria um alto
cargo de comando do governo hitlerista, dando lugar a realidade antes apropriada
pela ficção.
O expressionismo alemão e a produção fílmica alemã em geral, se dão a partir
da criação da Deulig uma empresa cinematográfica com a função de produzir
documentários de guerra como forma de propaganda, neste contexto e no seu
desenrolar que levaria a criação da UFA, a intervenção direta do Estado e sua
intenção primordial de produzir propaganda (lembrando que a própria palavra tem
origem da língua germânica) mas com a alta demanda esta foi incapaz de suprir
todo o mercado e em 1917 o governo alemão com apoio privado funda a UFA
(Universum Film Aktiengesellschaft) responsável então por centralizar a cadeia de
produção alemã, sendo a energia motriz da produção, distribuição e exibição de
filmes no país em um exemplo clássico de integração vertical da produção nos
moldes norte-americanos. Desta forma, os alemães acreditavam que para o
domínio do mercado externo deveriam acentuar a produção de obras
intelectualizadas e artísticas, fator que também motivou a produção de obras
expressionistas, mas o sucesso absoluto de Gabinete do Dr. Caligari foi um reflexo
do emprego da estética revolucionária brincando com o jogo de luz e sombra e as
distorções típicas conseguidas a partir do domínio dos ângulos de câmera e
detalhada construção dos cenários, exaltada pela interpretação exagerada e
caricata dos atores em cena buscando ressaltar os conflitos emocionais de seus
perturbados personagens. “Baseado na experiência de Mayer com psiquiatras e no
testemunho (...) a respeito do assassinato de uma moça (...) em Hamburgo, o
roteiro pretendia ser uma critica do absurdo e da violência de qualquer autoridade
social (MASCARELLO, 2003)”.
Apesar da indiscutível apuração técnica e roteiros fora do convencional
explorando o âmago da questão do psicológico e as descobertas ainda em profusão
30
no campo da psicanálise, os filmes do movimento expressionista representam uma
mobilização de tal maneira que alguns teóricos buscam desvendar o conceito
ideológico por trás de sua concepção, um deles também de nacionalidade alemã e
pertencente à mesma corrente crítica de Adhorno e Benjamin propõe uma visão
mais amplificada e desmitificada do assunto, Siegfried Kracauer assume
primeiramente a obra fílmica não somente como um recurso midiático e de origem
material, mas sim pela sua capacidade de levar ao questionamento e induzir a
certas perturbações sociais como algo a ser encarado como organismo vivo,
assumindo adjetivações próximas as dadas aos seus expectores, reiterando que a
mesma também possui cernes de discussão e indagação que inclusive fazem parte
do mesmo momento histórico da população. Assumir a postura de viabilizar o
dispositivo audiovisual como figura orgânica dotada de percepção é também
assumir que a mesma faz parte e é fruto do inconsciente coletivo de seus criadores
e espectadores ao expor na tela suas inseguranças, medos e postulações,
demonstrando assim, uma forma de supervisionar o futuro através das expectativas
transmitidas pelo retrato mais fiel do inconsciente humano: a arte. “Em De Caligari a
Hitler, Kracauer sugere que os loucos e tiranos tão populares nas telas alemãs após
a Primeira Guerra eram protótipos da loucura e da tirania que tomaram a Alemanha
nos anos 30, jogando o país e o mundo em sua guerra desastrosa.”
(MASCARELLO, 2003).
A analise precedida por Kracauer se beneficia de uma coleção de filmes
selecionados que buscam determinar esses sintomas sociais principalmente
relacionados à dominação e manipulação ideológica, mesmo Caligari sendo o
exemplo sucinto desta teoria, através da indução e controle de Cesare, outros
dentro desta gama se utilização dos medos e o pressentimento da dominação para
construir em tela, um retrato fidelizado do futuro, seguindo preceitos estabelecidos
em padrões subjetivos mas definitivamente reconhecidos pela população alemã, a
habilidade de unificar o puramente artístico por um lado exibido no cinema e somar
ao reconhecimento das atrocidades tirânicas cometidas posteriormente advêm de
uma sutil combinação segundo estudos psicológicos de uma formação semântica
da própria língua nativa germânica, onde a construção aglutinativa de palavras que
adquirem um novo significado é uma característica única e segundo estudos
relacionados é um grande propulsor ao costume da livre associação e analogia
entre acontecimentos correlatos, esse fator também explica a grande quantidade de
31
pensadores de renome de origem alemã, como Nietzche, Freud e muitos outros. Em
sua obra mais reconhecida, Kracauer destaca toda a comparação e justificava de
sua teoria ao relacionar e imputar valor orgânico a obra fílmica alemã da década de
20, suas motivações adquirem forma segundo a capacidade analítica de seus
cidadãos:
Os filmes de uma nação refletem a mentalidade desta de uma maneira
mais direta do que qualquer outro meio artístico (...) Primeiro os filmes
nunca são produto de um individuo (...) segundo porque os filmes são
destinados às multidões anônimas (...) Ao gravar o mundo visível, não
importa se a realidade vigente com um universo imaginário, os filmes
proporcionam a chave de processos mentais ocultos (...) Assim por trás da
história explicita da Alemanha (...) existe uma história secreta envolvendo
dispositivos internos do povo alemão. A revelação desses dispositivos
através do cinema alemão pode ajudar a compreender a ascensão e
ascendência de Hitler. (KRACAUER, 1947)
2.2 O cinema nazifascista.
A sustentação e ascensão dos movimentos nazifascistas são provenientes de
um momento histórico muito expressivo na historia mundial, diversos fatores
culminaram por resultar no cenário ideal para o sucesso de tais ideologias. Apesar
de certa forma calculista, este anteparo ocorreu através de anos a fio em uma
preparação em reposta ao fiasco do desempenho na Primeira Grande Guerra,
alguns outros pontos revanchistas, no entanto, trataram por selar esse destino
trágico e aumentar ainda mais o sentimento de revolta e desesperança da
população. Um destes fatores primordiais começando pelas irreparáveis perdas
humanas também se aliou a perdas materiais e territoriais estabelecidas pela
Tríplice Entente na assinatura do Tratado de Versalhes, uma resposta mais do que
contundente de repreensão principalmente a Alemanha, que teve todos os seus
flancos desarticulados seguindo as cláusulas estabelecidas: primeiro por cláusulas
de segurança (visando desarmar o país), seguido de cláusulas territoriais, cláusulas
econômico-financeiras e cláusulas diversas que incluíam a proibição de gases
venenosos e atrocidades diversas que retomam ao clima revanchista e irônico pelo
qual a articulação alemã desobedeceria as seguintes proibições em pleno regime
nazista. Após então semear o futuro de um novo conflito mundial, o Tratado de
32
Versalhes foi seguido pela criação da Liga das Nações, nome pomposo para
destacar e glorificar as ações de paz por parte dos países vencedores e uma
tentativa fracassada de recolher os fragmentos europeus e juntá-los numa possível
harmonia, suas investidas iniciais se resultaram em esforços que por um breve
momento fez crível a reorganização da paz, porém a prosperidade baseada no
apoio franco-inglês logo viria a se dissipar seguindo a queda da bolsa nova-iorquina.
A queda também do liberalismo econômico do centro europeu e o surgimento de
novos polos de influencia, como o Japão conduziram a elite burguesa a optar pela
manutenção de sua hegemonia e proteção através do apoio dos governos fascistas
colocando-os no poder respectivamente em 1922 pela figura do Il Dulce, Benito
Mussolini e 1933 pelo Fuhrer Adolf Hitler, “a ideologia fascista manifesta-se(...) no
irracionalismo, no antiparlamentarismo e no nacionalismo agressivo.”
(MASCARELLO, 2003). É sobretudo incontestável que ambos os regimes
totalitários foram reações diretas ao socialismo em plena efervescência na Rússia
com a tomada pelo poder do czar pelos bolcheviques e se muniu através do medo
da chamada febre vermelha retroalimentada pelo pavor que corria nos países
capitalistas da suposta ampliação dos efeitos da Revolução Russa se alastrando
por toda a Europa.
Como forma de garantia ao poder, a propaganda foi uma arma fundamental
ao nazi-fascismo, tanto que a Itália pioneira em reconhecer o governo fascista de
Mussolini em 22,o primeiro a subir no contexto europeu, já se utiliza de artimanhas
propagandísticas em pleno inicio da década de 20, mesmo que de forma
desordenada e já entende o potencial catalisador e dominante dos meios de
comunicação disponíveis. As ferramentas dos camisas negras além da associação
inerente da população se deteve a partir do rádio e do cinema como maneira de
recrutamento, logo utilizando a sua serventia os efeitos da comunicação, criam em
1933 o Subsecretariado para Imprensa e Propaganda como saída para regular e
organizar os produtos de propaganda ideológica em uma prévia do que se exerceria
no Ministério de Cultura Popular, Miniculpop de 1937 que passou a regular todas as
atividades culturais italianas. Entretanto, o cinema sempre exerceu um fascínio
especial sobre o líder Mussolini: mesmo que ainda afetados pelos entrecursos do
pós-guerra, não haviam se estruturado completamente e vencido a concorrência
americana nas salas de exibição, sendo somente em 29 que as primeiras obras de
apoio ao fascismo surgem dentro do país. A incumbência e necessidade pelo
33
cinema educativo foram denotados como fortes aliados ao regime suplantando a
estruturação dos: “L’Unione Cinematografica Educativa, a Luce foi instituída em
1924; a Federação Fascista das Indústrias de Espetáculos, em 1925, e a Lei de
Ajuda da Produção Cinematográfica em 1931”, essa retomada por assim dizer da
produção nacional, resultou de esforços efetivos e direcionados a comunicação pelo
partido fascista e demonstram o quanto a constante e anestesiante propagação de
ideias se fez um dos pilares de sustentação do Estado maior, inclusive parte dessa
dominação demandou um ultimo esforço na construção da Cinecittà, uma indústria
aos moldes hollywoodianos americanos com fundação em 1937 visando o domínio
do mercado doméstico e a retirada dos filmes americanos dos cinemas. Porém sem
exercer tanta censura a demanda criativa, o sistema italiano ao contrario do que
faria o alemão não controlava diretamente a produção cinematográfica de maneira
tão agressiva, sua preferencia e estimulo continuava a perpetuar cinemas que
beneficiassem sua ideologia e induzissem ao apoio inquestionável, no entanto sua
forma de difundir conteúdo se deu por modelos muito mais amenos se comparados
ao nazismo. O maior epitome da propaganda fascista surge a partir dos cinejornais,
pequenas peças audiovisuais que contavam com órgão de produção específico, o
Istituto Nazionale Luce e mantinha o formato já conhecido dos mesmos cinejornais
americanos, os cinejornalis procuravam enfatizar noticias de exaltação do controle
governamental supridos por imagens românticas dos discursos e vida pessoal de
Mussolini, mas também pincelar imagens familiares e um culto exagerado ao
esporte, uma narração breve e de tom militar acompanhava a exibição, da mesma
forma que os americanos a usavam na prévia da projeção de seus filmes. O
Instituto Luce porém produzia paralelamente de forma mais bem elaborada
documentários que seguem a receita clássica acerca do acompanhamento das
atividades do partido, não deixando de aprimorar toda sua parte técnica mesmo que
dentro das formulas pré-estabelecidas e controladas pelo governo. A permanência
do cinema documental e politico na Itália não resultou na morte do cinema ficcional
e sim o contrário, antes sem qualquer tipo de apoio financeiro governamental, as
produções italianas pouco podiam competir com as bem executadas produções
americanas que abarrotavam os cinemas mas a visão do cinema como a arma
ideológica mais importante do regime por Mussolini fez da construção do enorme
complexo da Cinecittá um meio de equiparar as produções à Hollywood e fundar um
subsídio a produtores a partir do Ente Nazionale Italiano Cinematografico (Enic).
34
Mesmo sem o teor tão politizado e nítido do parceiro alemão, o cinema de ficção
não deixou de exaltar e reforçar a ascensão fascista ao criar o movimento
conhecido como produções de “telefone branco” (telefono bianco) que se traduziam
em megaproduções feitas dentro de estúdio na Cinecittá com conhecidas estrelas,
cenários suntuosos e figurinos caros sempre carregando como elemento de cena o
telefone branco, um símbolo de riqueza e status social na época, reforçando o
elitismo e o caráter de estratificação social pelo qual passava o país. Seria somente
a partir da década de 30 que filmes explicitamente manipuladores ideológicos
seriam produzidos em muito alimentados pelo medo da tomada socialista, a
resposta midiática levou a moldes explorados posteriormente como a
documentação de discursos apoteóticos e a tomada do poder pelos camisas
negras. Uma característica interessante e única associada ao cinema fascista seria
a livre associação concebida pela comparação dos feitos heroicos na Roma Antiga
pelos gladiadores como figuras simbólicas nacionais e a conquista dos fascistas
também glorificados como supostos heróis por salvar população da doutrinação
socialista, o uso da associação a grandes figuras ou momentos históricos de
formação de identidade nacional são táticas amplamente aplicadas em situações
criticas que necessitam da adesão popular como feito, por exemplo, pelo período
indianista da literatura brasileira se apropriando da imagem do indígena como o
herói original e puro e posteriormente pelos nazistas na figura do super-homem
desvirtuado de Nietzche.
Na validação de uma contra resposta ao suposto perigo da dominação e
alastramento do socialismo pelo território europeu, os ideais nacionalistas do partido
nazista se favoreceram do cinema ao vê-lo como importante instrumento de
mobilização social, sua derradeira justaposição de conceitos em expor os judeus
como etnia inferior e a justificativa para sua extinção seria somente mais uma faceta
da história de frustações e desequilíbrios psicológicos de seu líder emocionalmente
instável, megalomaníaco e egocêntrico. Sua trama repleta de atrocidades e uma
inexplicável repressão sexual tomará forma mais explicita no onipresente controle de
natalidade exercido pelos próprios órgãos do partido propositalmente visando
garantir a hegemonia do homem ariano superior e fabricação por assim dizer, em
massa, para a reposição da população de um estado bélico e que se encontrava
com diversas perdas no front, a base doentia e a sociopatia de Hitler é narrada a
partir dos abusos constantes sofridos por sua sobrinha ao ir morar junto dele e ser
35
fatalmente torturada e sexualmente abusada pelo tio com traços de sadismo e
manutenção de uma espécie de cativeiro para a mesma como forma de garantir sua
dominação e controle sobre a vitima, apesar de absurda a concepção de tais atos, a
noticia sobre o Fuhrer era pública e bem aceita pelo partido, tanto que após a morte
da sobrinha, uma caçada foi encomendada pelos recursos que o poder lhe concedia
e todos seus benefícios, em uma busca frenética por outra mulher tão parecida
fisicamente com a anterior para que a mesma assumisse seu lugar dentro do
pesadelo transviado no interior da casa de Hitler e após algum tempo uma sósia
idêntica foi providenciada e assumiu os mesmos abusos imputados anteriormente1.
Essa breve narrativa preocupante demonstra as características de líder de
preferencias atípicas e um interesse pela submissão em todos os parâmetros de sua
vida, este típico cinismo tanto retratado no cinema de propaganda da época acaba
por ser o grande enfoque nos estudos da Alemanha nazista e seus detalhes
sórdidos, já que sendo aparando pelo ideal dito por Goebbels chefe de propaganda
do partido de “um mentira dita mil vezes se torna verdade”, a manipulação da própria
verdade e a incapacidade de discernimento por parte de uma população saturada e
bombardeada constantemente por propaganda totalitária conduzem a uma
romantização da doutrinação que busca o enaltecimento de seus líderes e criam
ditames que hoje se constituem em cânones para a propaganda moderna, onde
mesmo em um cenário aterrador, se faz necessário frisar o avanço cientifico sem
precedentes feitos com a ciência nazista e seus estudos em vários campos de
conhecimento como o raio X e posteriormente a radioterapia que seria
desenvolvimento através dos experimentos de Mengele na esterilização de mulheres
judias pela exposição agressiva a radioatividade e os efeitos da mesma no corpo
humano assim como a própria comunicação e consequente propaganda que
receberam conclusões assertivas a respeito da manipulação e monopólio do
mercado que são aplicadas regularmente pelo marketing. O pioneirismo dentro do
regime do suposto reich de mil anos se vale da propaganda para se consolidar em
um esforço sem antecedentes do entendimento da importância do investimento
pesado em propaganda e sua ampliação através dos meios de comunicação de
massa, o culto ao líder e a nação feito de forma mais competente possível se deu
pela criação de um órgão com uma nomenclatura que resume o espírito do período,
1 Informação fornecida pelo professor James Stirling em entrevista concedida no dia 23 de agosto de
2015, via internet.
36
o Ministério do Esclarecimento Popular e Propaganda, ou seja, o maior órgão censor
e regulador das diretrizes governamentais em busca da viabilização dos conceitos
do partido e a total crença da importância do controle restrito dos meios de
comunicação de massa com destaque para o cinema, outras artimanhas também
faziam parte do levantamento popular e o incentivo artificial ao sentimento
nacionalista como a criação de feriados e também a influencia sob as transmissões
de rádio. A propaganda dentro deste contexto se daria pelos mínimos detalhes e
pela suplantação das crenças anteriores como a politica do medo se baseava até no
vestuário dos soldados e colaboradores do governo, sempre de cores escuras e
empunhando caveiras na farda assumindo que boa parte do poder de
convencimento nazista está na articulação psicológica, ansiando por incutir o medo
e não apenas vender o medo, demonstrando a necessidade de mobilizar a
população e seu apelo público, já que se torna mais simples angariar o suporte
popular através do ódio do que pelo amor, baseando-se no apontamento de inimigos
e a imposição da denuncia, desta mesma forma, a propaganda serve como
ferramenta inclusive para justificar os erros do governo e na eficiência de manipular
descaradamente a verdade.
Mesmo sendo uma ditadura de extremo teor violento, um lado a se ressaltar
dentro da politica ultranacionalista foi a sua eficiência em sanar a crise econômica
de maneira a ampliar seu apoio entre as camadas urbanas e auxiliar na justificativa
da tomada de decisões mais polêmicas e a priori, injustificadas, como a criação dos
guetos para o alocamento da população judia e depois sua remoção para os
campos, visto que o ideal previsto pelo Plano Reinhard se baseia não só na
eliminação dos judeus mas também no uso de sua força como mão de obra escrava
para a construção de ferrovias e outras obras que careciam dos trabalhadores por
hora desviados para o front de guerra, mas não apenas as atrocidades cometidas
contra a população judia foram exploradas ou melhor, “esclarecidas” pelos filmetes
de propaganda e doutrinação, mas também um fator importante e seminal para a
sobrevivência do partido, seu ferrenho controle a natalidade. Os planos de aumento
e sobrevivência da raça ariana dependiam vitalmente do sucesso da implementação
de atividades que seriam em outro contexto considerados contra a religião católica
de base histórica na Alemanha, mas dentro da realidade paralela criada dentro dos
limites germânicos e a suspensão da verdade, o cadastramento de mulheres arianas
solteiras para visitas periódicas de soldados-modelo da SS durante seu período fértil
37
com a vil intenção puramente de reprodução, demonstram um lado sombrio e
manipulatório sadista da politica de repovoamento consolidado pelo Estado. A
suplantação de ideais fundamentais como o intercurso após o casamento e o
respeito pela virgindade seriam afundados diante dos desejos faraônicos por uma
superpopulação e da demanda que a guerra também contribuiu em baixas, algumas
das medidas atualmente consideradas e concebidas como desumanas, eram os
orfanatos públicos das crianças frutos desses relacionamentos entre desconhecidos
para sua doutrinação desde o nascimento e futuro encaminhamento para a
Juventude Hitlerista, dando inicio a um plano de manipulação ideológica sem
qualquer influencia da vontade interior ou das escolhas individuais, estas crianças no
pós-guerra se tornaram órfãs sem destino e ainda pior, sem passado, sem o
conhecimento de qualquer pista sobre os pais; Este controle assíduo da natalidade
também foi feito em outro momento durante a ditadura brasileira porém sem
comparação da dimensão do programa nazista, pois na época militar o Brasil ainda
contava com baixos índices demográficos em certas regiões do país e por este
motivo o governo recriminava o uso da pílula recém-descoberta, mas de forma
infinitiva, a questão da sexualidade permeia este universo e corresponde
diretamente aos interesses do nacionalismo, já que num estado totalitarista a
população é o recurso belicista e justifica seu investimento na propaganda constante
em virtude da homogeneização da população e dos valores de consumo.
O cinema propriamente dito dentro do regime nazista nasce já no período
entre guerras assumindo a dianteira depois do seu impacto em plena Primeira
Guerra e os resultados positivos obtidos pelo seu investimento, a UFA responsável
pela organização da produção alemã partiu de uma iniciativa de rivalizar com a
produção de conteúdo feita pela Tríplice Entente (em especial os americanos) na
guerra ideológica. Um de seus principais acionistas Alfred Hugenberg se tornaria
apoiador de Hitler durante a República de Weimar sendo um fio condutor
fundamental ao aumento da popularidade do Fuhrer ao retratá-lo em seus
cinejornais, em exemplo semelhante ao da Itália fascista, divulgando os discursos e
conceitos difundidos pelo chanceler e garantindo seu cargo de ministro da economia
no governo posterior e deixando a Goebbels o domínio sobre o Ministério de
Propaganda, “desde o início de sua carreira política, Adolf Hitler já reconhecia o
enorme potencial oferecido pelas imagens , em especial pelo cinema , na veiculação
de ideologias e na conquista das massas. (WAGNER,) Tanto que em sua obra no
38
exilio, Mein Kampf, Hitler deixa claro suas alusões ao papel do cinema e dos meios
de comunicação para a consolidação e disseminação dos preceitos políticos, para
tanto o mesmo chegou até a usar o cinema como cabo eleitoral através de
pequenos filmetes documentais antes mesmo da sua escalada ao poder, entretanto
com a criação do Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda
(Reichsministerium für Volksauflärung und Propaganda) em 13 de março de 1933, o
fenômeno da politização e nazificação de todas as atividades culturais alemães
tomou forma sendo inclusive o primeiro setor a ganhar departamento responsável
próprio, denominado Reichsfilmkammer (Câmara do Cinema do Reich) foi fundada
no mesmo ano e antes mesmo de todos os outros departamentos da
Reichskulturkammer (Câmara de Cultura do Reich). A adoção desta medida garantiu
o domínio da produção cinematográfica pelo governo que assumiria a dianteira
perdendo somente para os Estados Unidos em produção audiovisual, contabilizando
foram mais de 1.350 longas-metragens feitos durante a dominação de ultradireita,
de forma mais contundente do que a demonstrada pelo fascismo que mais se
baseava na propaganda politica direta pelos cinejornais, a Alemanha nazista exercia
a alcunha de maior controle e censor ideológico que os vizinhos ibéricos, sua
produção era definitivamente mais ativa politicamente e se constituía a partir de
muito conteúdo documental enquanto os filmes escapistas ficcionais ainda existiam
mas em menor volume, do contrário ocorrido no cinema de “telefone branco”
fascista. Vale destacar também os períodos pelos quais nesses 12 anos de regime
nazista, o cinema passou destacando as temáticas mais abordadas e também
somadas a qualidade técnica aprimorada pela experiência a nível industrial, o
primeiro momento da tomada de poder e consolidação da ditadura, se caracteriza
por uma produção mais voltada a exaltação dos feitos e discursos de Hitler e a
divulgação do partido, posteriormente a caricaturização e estereotipação dos
socialistas e dos judeus seria o tema recorrente para a banalização dessa população
e visando o afastamento de uma suposta tomada socialista, em outro momento a
dedicação total ao partido e a importância da adesão dos jovens será abordado em
dramas categóricos justificando a existência e incentivo a Juventude Hitlerista, a
partir de 1933 uma certa onda artística influencia por Leni Riefenstahl aborda de
forma documental a figura pragmática do líder em um discurso na capital Berlim na
obra mais famosa de todo o período, O Triunfo da Vontade (1935), um outro tipo de
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fotografia e recursos técnicos empregados resultaria numa vertente poética e culto
ao físico perfeito dos arianos em Olympia (1938).
Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o cinema
nazista produziu quatro tipos de filmes de propaganda de guerra: 1) os
cinejornais semanais, intitulados Die Deutsche Wochenschau; 2) os
documentários de campanhas militares: Feldzug in Polen (“Campanha da
Polônia”, 1939), Feuertaufe (“Batismo de Fogo”, 1940) e Sieg im Westen
(“Vitória no Ocidente”, 1941); 3) os filmes ficcionais (musicais, romances,
dramas, aventuras) de guerra: Wunshkonzert (“Concerto a Pedidos”, 1940)
Stukas (1941), Die grobe Liebe (“O Grande Amor”, 1942); e 4) os filmes
históricos: Bismarck (1940), Die Entlabung (“A Demissão”, 1942) e Der
grobe König (“O Grande Rei”, 1942).
Com o fim do conflito se aproximando e a derrota inevitável, a última saída
explorada pelo regime foi através da suposição e glorificação da realidade em
superproduções que delineassem o futuro segundo a vitória do Reich, promovendo
mais uma vez a suspensão da realidade em detrimento do ponto de vista favorável a
ser explorado, a manipulação da verdade permaneceria até o fim, de forma que a
direção e mensagem de Hitler fosse se não realmente, ao menos virtualmente
registrada pelas câmeras de cinema.
2.3 Obras primas e a importancia na guerra ideológica.
Buscando uma interpretação cronológica das fases ocorridas dentro do
cinema de guerra manipulatório e da propaganda militar, tanto fascismo como
nazismo assumem formas distintas ao procurar retratar segundo seus interesses a
população tomada de maneira enérgica através de linguagens diversas, sendo
registros documentais ou o mockumentary, um tipo de filmagem encenada seguindo
a fórmula do documentário original, um tipo muito usado pela Alemanha ao encenar
discursos e desfiles militares totalmente planejados e por fim, o uso mais dominante
da ficção obedecendo ainda, de certa forma, as ideologias partidárias e os
interesses do Estado local, aparentemente envoltos por uma roupagem de produção
ingênua e enredos cotidianos, esses registros fílmicos também contavam com a mão
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dos regimes aliando-se a venda de valores complementar ao exposto pelos
documentários e cinejornais. A ampliação e centralização de investimento e órgãos
de aporte a cultura e fomento ao audiovisual, foram bases aliadas para o
desenvolvimento de uma linguagem única e o lançamento de uma montagem muito
bem executada para o período, não se relacionando a montagem intelectual
soviética no entanto, mas possuindo tanto quanto ou até mais dispositivos
tecnológicos empregados, além de estrutura física importante que no caso da Itália,
os remanescentes da Cinecittá seriam fundamentais ao surgimento do neorrealismo
italiano, algo que renova e destaca as suposições implementadas por Kracauer de
observar o aparato cinematográfico como figura orgânica dotada de vontades e
sensibilidade, já que a trajetória percorrida pelos cinemas do período de guerra se
constituem como o fundamento para vários outros movimentos de viés mais artístico
e temática completamente diferente, mas a sua ligação é inegável pelo fato de que o
cenário e o próprio espectador já haviam incorporado a importância das salas de
exibição.
Outro ponto a ser destacado dentro da filmografia fascista são as películas já
coloridas empregadas para poucos filmes ficcionais e mais aplicadas para registros
documentais que surgiram como pioneiras ante inclusive à indústria hollywoodiana,
sua preservação havia trazido algumas poucas obras já conhecidas a público, com
maior ênfase no cinema italiano, porém a descoberta há alguns anos atrás de um
bunker na Alemanha após obras de revitalização urbana repleto de películas
imaculadamente preservadas e com um conteúdo desconhecido, trouxe uma nova
visão do registro feito acerca dos fronts de guerra na África, o Africa Korps e até
dentro das lideranças estratégicas do partido em Berlim, esse material já colorido
originalmente pelo tipo de película, tinham dois aspectos esclarecedores: o primeiro
era sua função, que se baseava a principio em demonstrar para os comandantes e
generais a distancia dos fronts o que estava acontecendo e assim poder transmitir a
situação com maior fidelidade pelo advento das cores, auxiliando nas estratégias e
criação de equipamentos específicos e o caráter expansionista e esbanjador do
regime ressaltado pelo fato de que sem suas reservas naturais de minério, em
grande parte liquidadas pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha dispendia de um
gasto imenso na importação das matérias primas necessárias para a fabricação de
tal película sensível e com a capacidade de captar as cores, buscando minérios em
áreas ocupadas e de maneira clandestina. A dimensão dos esforços de guerra se
41
refletiram inegavelmente no cinema, tanto pela sua busca interminável pelo apoio
popular quanto pelo investimento na tecnologia a ser aplicada no campo visando
novos dispositivos de comunicação e o seu aprimoramento.
Ainda que relacionados, as definições distintas do cinema
fascista e o nazista começam já na sua abordagem em fase inicial, o cinema fascista
por um lado, permaneceu desestruturado até 1929, com Sole de Alessandro Blasetti,
concebido como o primeiro filme verdadeiramente fascista, após esse período com a
fundação da Luce, os “cinejornalis” constituíram a principal forma de propaganda do
regime, ainda que não assumindo uma linguagem tão doutrinada quanto no
nazismo, suas entrelinhas eram carregadas de apoio ao Dulce e eram previamente
aprovados pessoalmente por Mussolini, o “L.U.C.E. (L’Unione Cinematografica
Educativa), com sua ultramoderna instalação no sudeste de Roma, produziu e
distribuiu os documentários e noticiários do regime.”(WAGNER,) Em relação aos
documentários, de maior produção e bem elaborados se comprados ao cinejornais,
se destaca Noi, relatando a Marcha sobre Roma e as viagens de Mussolini a Milão e
Turim e considerado uns dos primeiros a ser elaborados pela Luce, no entanto,
algumas outras produções não influenciavam diretamente o apoio ao regime e
tratavam mais de um registro histórico da transformação urbana das cidades como
fez Dell’acquitrino alla giornata di Littoria sobre a modificação dos pântanos de
Pontino, por um lado, outros partiram para a glorificação dos atos de expansão
territorial e mostraram uma interpretação favorável do imperialismo fascista na
guerra da Etiópia, como em Il cammino degli eroi (O Caminho dos Heróis), mas
seria somente a partir da criação do imenso complexo da Cinecittá que obras mais
elaboradas e escapistas seriam feitas a partir das conhecidas películas de “telefono
bianco”, paralelamente o Estado passou a acirrar a campanha ideológica em filmes
de propaganda politica direta, como os exemplares Camicia nera de 1933 e Vecchia
guardia de 1934, entretanto esse tipo de abordagem não agradou ao publico , o que
refletiu na criação obras chamadas epopeias fascistas que fizerem a comparação
direta dos seus feitos com a Roma antiga, em grandes épicos, esse subgênero foi o
maior expoente da indústria ibérica, contando com obras como Scipione l’ Africano
(1937), de Carmine Gallone, Ettore Fieramosca (1938), Squadrone bianco (1936) e
Bengasi (1942), ambos de Augusto Genina, este tipo de filme de puro apoio bélico,
procurava ressaltar os aspectos heroicos de cada personagem do conflito, como os
aviadores, marinha e colaboradores vindos do Clero em suporte ao fascismo, uma
42
breve interligação entre o franquismo espanhol apareceria nas telas correlacionados
a melodramas que narravam as conquistas da Guerra Civil Espanhola, como
retratado em L’assedio del’Alcazar de 1940 que contou com a participação de vários
atores espanhóis em uma regime de coprodução Itália-Espanha. Os últimos anos
finais no poder de Mussolini foram dominados pelo apoio de cineastas que
produziam filmes que não agradavam mais a população como antes, talvez até
alimentados pelo fracasso governamental ou o fim iminente da Segunda Guerra,
alguns artistas apoiaram Mussolini mesmo após sua deposição, mas a indústria
italiana cinematográfica não seria mais a mesma depois da devastação ocasionada
pelo embate.
No contexto nazista, a indústria alemã já enfrentava uma
situação muito mais bem estruturada se comparada à Itália pelo estimulo levado por
produções de vanguarda, intelectualizadas e até mesmo produções mais vulgares,
voltadas ao entretenimento das classes mais baixas, o cinema já era parte da cultura
do povo alemão, algo que foi incorporado imediatamente pelo partido nacionalista,
antes mesmo de Hitler chegar a ter amplos poderes seu apoio já vinha através
também dos cinejornais e pela construção da UFA. Em 1927 diversos filmetes de
propaganda eleitoral foram feitos em favorecimento de sua campanha politica, como:
Parteitag der NSDAP in Nürnberg (“O Congresso
do NSDAP em Nuremberg”, 1927), Hitlers Braune Soldaten Kommen (“Os
Soldados Marrons de Hitler Chegam”, 1930), Hitlerjugend in den Bergen (“A
Juventude Hitlerista nas Montanhas”, 1932), Triumphfahrt Hitlers durch
Deutschland (“Viagem Triunfal de Hitler pela Alemanha”, 1932), Hitler über
Deutschland (“Hitler sobre a Alemanha”, 1932) e Deutschland erwacht!
(“Desperta, Alemanha!”, 1932). (WAGNER,)
Com a tomada do poder por Hitler e a criação do Ministério de Propaganda e
Esclarecimento Popular e o fundo especifico para o cinema, as primeiras produções
propriamente nazistas focavam na adesão da juventude e a importância do seu
apoio por campanhas de fraternidade e colaboracionismo, posteriormente teria inicio
a fase de exaltação ao líder que perdurou por todo o Reich, o filme inaugural
relacionado ao enobrecimento de Hitler foi dirigido por Leni Riefenstahl, Der Sieg
des Glaubens de 1933 e apesar de sua controvérsia, caiu no gosto de Hitler e abriu
as portas para aquela que seria a obra mais conhecida de todos os regimes
43
totalitários, O Triunfo da Vontade de 1935. Esse pseudodocumentário que mescla
imagens reais com as milimétricamente encenadas em Nuremberg, parte do registro
magistral da cineasta em fantasiar a realidade de forma a mascarar os limites entre a
verdade e o irreal, não existe forma de discutir quais partes são reais ou encenadas,
mas seja pela figura categórica do Fuhrer ou do poder incutido por Leni em seu
retrato do poder e dimensão da esfera nazista, o filme se tornou uma forte arma
ideológica que permanece até os dias de hoje discutida pela sua eficiência e
capacidade de manipulação. Nenhum outro filme posterior abordou de forma tão
clara a figura do ditador nem pela sua abordagem mais artística conforme o pedido
do mesmo, a saída encontrada foi relacioná-lo a figuras históricas de grande
importância como compositores e artistas plásticos, feito em películas como
Friedemann Bach de 1941 e Andreas Schülter em 1942. A mesma genialidade em
retratar a propaganda ideológica mas com uma abordagem e captura artísticas sem
comparações foi repetida em Olympia de 1938 no momento conveniente das
Olimpíadas realizadas em Berlim, no auge da doutrina nazista e sob as lentes
novamente de Leni, os corpos vistos como esculturas de culto a perfeição e as
aptidões físicas especificamente da população ariana exultaram em um resultado
fotograficamente exuberante mas principalmente no fortalecimento da crença acerca
as qualidades do super-homem de Hitler, os “poderes” cedidos aos arianos desde a
cultura nórdica nas runas como destacado em Mein Kampf e a justificativa para a
expansão territorial necessária para o desenvolvimento do raça ariana, além de uma
forma documental, os filmes da cineasta abordavam a temática de dominação sob
uma ótica estética única, combinando elementos artísticos e temáticos fundamentais
ao convencimento da população e levitando o carisma de seu líder, a forma
assumida para a montagem e dispositivos técnicos conduz a uma manipulação
muito perigosa da verdade que tende a enaltecer as conquistas nazistas e recrutar
novos membros. De qualquer forma, o retrato trazido por Leni foi mapeado
ostensivamente como maneira de estudo a comunicação de massa e sua
consequente eficácia, além de contribuir com a linguagem cinematográfica e da
propaganda em escala global.
Aliado aos filmes de exaltação racial, surgiram aqueles também em que se
inferiorizava os povos que constituíam a oposição ao regime, ou seja, judeus e
socialistas, a ferramenta antissemita de analogia entre o povo judeus e todas as
pragas mais comuns como ratos e vermes, foi um dos argumentos aplicados pela
44
doutrinação ideológica como maneira de inferiorizar e justificar o ódio a esse grupo
social em uma interpretação didática expandida para toda a população, a
desvirtuação e reinterpretação errônea de supostos fatos históricos foi uma temática
abordada a partir de 1940 para produzir as primeiras obras carregadas de
antissemitismo, a venda da ideia do beneficio com as guerras napoleônicas e a
criação do personagem de um nobre do século XVIII que abusava de mulheres e
levou a morte de uma jovem ariana faziam parte da gama de enredos usados para
disseminar a estereotipação e raiva contra o povo judeu. Um exemplo de filme
clássico do assunto, seria Der Ewige Jude, traduzido como O Judeu Eterno de 1940,
feito por Fritz Hippler, uma espécie de documentário educacional sobre os malefícios
da população semita comparando-os de maneira didáticas a ratos oportunistas
dentre a crise alemã, outra obra importante para o período foi Der Führer Schenckt
de Juden eine Stadt (O Führer doa uma cidade aos judeus de 1944), um
documentário já ludibriado pela decadência do Reich em que é narrada e mostrada
a vida dos judeus como prolifera e farta dentro dos campos de concentração, a
tentativa incessante do Estado de maquiar sua real ação e as medidas tomadas
contra a população foi levada até o final de sua queda e é a tentativa principal desse
enredo. Mas não somente os judeus foram alvos das criticas e perseguições
nazistas e sim outras etnias como poloneses e tchecos também eram tachados de
alcoólatras e comparados aos bárbaros e inclusive a oposição dos Aliados,
compostas por americanos e ingleses eram abordados e moldados na imagem de
covardes e omissos como em Die Rotschilds (1940) e Titanic (1942) criticando o
capitalismo irracional que diziam ser exercido por esses países. Ao fim e já
consolidada a posição de derrota do sistema nazista, Goebbels investe pesado em
uma superprodução colorida chamada Kolberg (1945) que narra a resistência da
cidade as invasões napoleônicas e o espirito determinado da população alemã, o
filme voltado a reconstituição da moral e otimismo popular não obteve o resultado
esperado e serviria somente como argumento das lideranças nazistas em não
aceitar sua rendição. O contato e preservação posterior dessas obras se tornou uma
qualidade muito característica da cultura europeia.
2.4 Heranças e a preservação de arquivo.
45
Tão fundamental quanto a discussão sobre o conteúdo abordado nas obras
nazifascistas se faz também a preocupação acerca de sua importância histórica e
herança cultural assim como sua consequente preservação e valorização da
memoria de arquivo. O respeito pela própria historia conduz ao habito do registro e
as adversidades ocorridas em solo europeu fomentaram a iniciativa de arquivar seus
acontecimentos, exemplo nítido disto foi a facilidade com que os Aliados reuniram
provas contra os executores nazistas de suas atrocidades pela quantidade de
registro e documentação encontrado que descrevia nos mínimos detalhes todo o
plano de ação que englobava o transporte e massacre dos judeus nos campos de
trabalho e extermínio em grande parte do território polonês, a organização alemã
que por ora foi seu maior artificio, durante a ocupação e divisão do território para o
Tribunal de Nuremberg, iniciativa estrangeira para o julgamento dos crimes de
guerra, acabou sendo o maior acusador das provas irrefutáveis dos abusos sofridos
pelos enviados aos campos, as vitimas apesar da maioria esmagadora se
concentrar na população semita, também incluíam homossexuais, deficientes físicos
e mentais e outros que compunham a oposição como russos e ingleses. No
momento posterior a tomada e derrocada de Hitler o povo (conhecido como volk)
alemão negava a existência dos campos e insistia em não acreditar nas atrocidades
cometidas pelo regime que tanto apoiaram e acabaram por conduzir a tal situação, o
desconhecimento das mortes e os meios utilizados pelo controle radical do Reich na
execução do Plano Reinhard era a maior argumentação colocada pela população
alemã que preferia não acreditar nas noticias trazidas pelos vitoriosos, ainda como
forma de convencimento das próprias autoridades distantes desse cenário, a
Inglaterra até como forma também de propaganda politica encomendou um
documentário de um jovem cineasta de destaque em inicio de carreira para relatar e
filmar os campos como maneira de garantir sua veracidade e narrar o estado pelo
qual foram submetidos os judeus, esse jovem aspirante era na verdade Alfred
Hitchcock que concebeu um apanhado de imagens tão impactantes e bem
montadas que o filma acabou sendo proibido e arquivado no país de origem pelo
seu teor forte e realista, essa obra a pouco tempo atrás passou a ter trechos
disponibilizados na Internet mas ainda pouco se sabe dessa primeira impressão do
diretor mas foi definitivamente através desta oportunidade que Hitchcock encontrou
destaque para sua carreira e renome dentro do gênero de suspense, sua visão
deturpada da realidade e a distorção psicológica de seus protagonistas em muito
46
simbolizam a experiência obtida pelo mesmo ao conhecer os campos e os horrores
cotidianos sofridos naqueles lugares, seu aprofundamento na distorção e
incapacidade de discernimento do ser humano, levaram a enredos perturbados
repletos de elementos aterrorizantes e uma ótica voyerista aflorada, como feito
também pelos nazistas ao se deleitar com o sofrimento alheio, vale destacar que
Hitchcock consagrado no gênero de thriller conseguiu sua posição não somente
pelas reviravoltas de roteiro, os mcguffins, domínio da fotografia e direção impecável
de atores mas também pela profunda prospecção e investigação dos aspectos mais
sombrios da mente humana, o relacionamento de Édipo entre mãe e filho abordados
em Psicose ou até mesmo a insistência na superioridade entre certos indivíduos
argumentada pelo personagem principal de Festim Diabólico com o consequente
assassinato sádico de outro colega como forma de justificar e comprovar seu
argumento, denotam uma concepção inovadora dos medos humanos e tornam
explícitos certos aspectos suprimidos no subconsciente como coloca Freud, pelo
convívio social.
A discussão sobre certos filmetes e documentários do período nazifascista
somente tornaram-se possíveis pela cultura de preservação que manteve esse
material histórico devidamente arquivado e estudado, essa preocupação com os
fragmentos originais de um período de anestesia social se tornam um passo
importante para a herança audiovisual pelo fato de que nessa época da exibição em
massa dos produtos do Estado totalitário, o corte final era feito pelo exibidor que
adequava o conteúdo ao seu gosto pessoal, mesmo com a edição marcada pelo
diretor original as peças de celuloide sofriam grandes influencias do mercado e
praticamente cada sala exibia sua versão da obra, essa característica que vem do
cinema mudo prejudicou a preservação de peças originais como Metropolis de Fritz
Lang que sempre foi exibida com a montagem feita a partir de diversos fragmentos
encontrados em cinematecas e museus ao redor do mundo sem se aproximar no
entanto, da intenção original do diretor, logo um documentário investigativo argentino
procurou supervisionar a descoberta recém-executada no mesmo país de uma
suposta cópia intocada de Metropolis com duas horas de duração e que incluía
cenas inéditas, a comprovação da descoberta provocou comoção mundo afora e
destaca a necessidade das condições apropriadas de preservação de material
fílmico e seu impacto nas gerações futuras, os filmes coloridos realizados sob altos
custos durante a guerra são uma memoria irrefutável da magnitude que o cinema
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atingiu não somente dentro dos regimes totalitários mas principalmente a nível
global e a consagração conseguida através de seu poder de influenciar massas e
alto convencimento popular, a suspensão da realidade proposta por esse aparato
bidimensional rompe a quarta parede ao se aproximar de forma perigosa do
espectador mas é de fato, uma aplicação empírica de todos os estudos que abarcam
as teorias relacionadas a comunicação e construíram uma base formal sólida para a
consolidação do marketing e as estratégias mercadológicas de venda aplicada nos
meios de comunicação de massa até os dias de hoje.
4. CAPÍTULO 3: A paradoxal relação da satirização do domínio e a confluência
de informações das mídias digitais.
3.1 Constituição da aldeia global, multiplicidade e a perda da aura da geração
Youtube.
O advento tecnológico que propiciou e definiu a era digital a nível global,
trouxe consigo uma ferramenta fundamental que se caracterizou o pós-modernismo,
a internet. Os conceitos de Marshall McLuhan de aldeia global definem e
apresentam fielmente as transformações pelas quais tanto população quanto
economia e politica sofreriam com a rápida disseminação e alto fluxo de
informações, o fenômeno de globalização por uns definido como a partir do próprio
mercantilismo e o fomento a troca financeira e ao imperialismo enquanto outros dão
seu marco inicial com a revolução tecnológica ocorrida principalmente na segunda
metade do século XX, se formula como um conceito de múltipla interação e troca de
culturas conduzindo ao fenômeno de aculturação, ou seja, pela mistura e encontro
de vínculos culturais, as pequenas sociedades dotadas de manifestações próprias
passaram a ser massacradas e dominadas pela cultura de massa e de interesse
financeiro, as particularidades e costumes locais deram lugar a uma cultura
homogeneizada que não possui nenhuma afinidade com os trejeitos locais ou até
mesmo relação com raiz de determinado grupo social, esses resquícios únicos de
aprendizado e diferenciação passam a ser sorrateiramente substituídos por valores
48
de mercado e que correspondam as necessidades movimentadas pelo aspecto das
transnacionais, uma evolução das multinacionais que com esse fenômeno deixam
de ter um local ou sede original e ultrapassam as fronteiras físicas integrando
simultaneamente vários países ao redor do globo. O fim da polarização e o conflito
de blocos hegemônicos catapultou o fim da Guerra Fria mas consequentemente deu
inicio a uma disputa muito mais acirrada do que a anterior, porém ocorrida atrás das
cortinas, uma disputa de caráter capitalista financiado pela disputa de polos de
domínio e mercados encarcerados aos produtos de maior efetividade e poder de
decisão através de medidas como os monopólios e oligarquias gerais de apoio
politico ou inclusive por praticas que incluem o dumping por sua vez ilegal ou pela
bifurcação das holdings, seja como for o surgimento da globalização demonstra de
maneira empírica como a propaganda trata de homogeneizar a população e o
aparato fascista militarista retoma o cenário mundial pela imposição de valores por
determinado grupo social não restando escolha ao consumidor ou local de influência
estrategicamente invadido, analisando por uma vertente repleta de analogias, a
ideologia totalitária, seja ela do fascismo, nazismo ou qualquer outro grupo
extremista, faz menção a ferocidade capitalista pela inserção dos conceitos de
consumo, sendo a propaganda o grande herdeiro dos instrumentos práticos de
dominação. A contextualização histórica se faz presente pelo panorama propicio
para a rápida adesão as mídias sociais e a assimilação global da internet, o
surgimento do vídeo e sua praticidade de produção de conteúdo se comparada a
película suplanta antigos problemas de viabilidade e abre novos caminhos inclusive
a textura visual e abordagem técnica, traduzindo os anseios de uma sociedade fruto
das modificações tecnológicas e o rápido avanço cientifico, as preocupações
trazidas pela antecipação do imediatismo digital são demonstrados em obras como
Videodrome (1983) que inaugura um gênero, ainda que de certa maneira observado
como undergroud, de validar a ligação estreita em seres humanos e tecnologias em
especial a manipulação hipnótica exercida por seus meios de massa, a
correspondência instantânea leva em consideração o padrão insatisfeito que as
novas gerações carregam pela fome de informações constante, já que o trafego de
comunicação e troca é tão intenso que sua disseminação imediata conduz ao terno
estado cíclico da insatisfação, justificando o sucesso do mergulho virtual concedido
pela internet e o afastamento da vida real e deturpação do bem-estar, criando uma
nova sociedade refém da tecnologia e amparada por seus recursos, além de
49
viciados digitais que necessitam inclusive de reabilitação para retomar uma vida em
convívio social. Esse estado de bombardeamento psicológico também evidencia o
isolamento social perceptível nas gerações X e Y, criando a relação de
interpendência e expectativa antes esperada para se tornar um laço afetivo de
interação humana substituídos pelos entrepostos tecnológicos que dividem espaço
com os relacionamentos interpessoais, o crédito também cedido a esse tipo de
intercessão abre espaço para uma crença consolidada sobre os valores
fundamentais e de respeito ao diferente como os casos de ampliação da
discriminação e retalhamento as culturas opostas sempre amparados pelo interesse
financeiro do momento, a exemplo da xenofobia aliada das redes sociais para
propagar seu ideário intolerante tornou-se um alvo de maior destaque com o fatídico
11 de Setembro e a subsequente invasão deliberada dos países árabes produtores
e detentores do petróleo mundial, como as Guerras do Iraque e Afeganistão, o
embarreiramento sugestionado pelo estado para a falta de questionamento ou apoio
popular funcionam de maneira efetiva ao impedir a participação de grupos
opositores utilizando da ferramenta massificante amparada pelos meios de
comunicação.
Como forma também de disseminação de ideais em massa, o cinema seria
diretamente impactado pela transformação insurgente das modificações
instantâneas, o surgimento da internet e principalmente a chegada o vídeo, este
amplo cenário de intensa transformação tecnológica, acabou por incluir novas
características e opções de linguagens aos novos aspirantes e diretores que com o
aparto digital, puderam de certa maneira, democratizar a indústria, se anteriormente
somente grandes produtores e artistas de renome tinham acesso a bons
equipamentos para a produção de um longa, com o surgimento de câmeras com alta
qualidade de captação e outros aparelhos fundamentais para a construção fílmica a
um preço mais acessível, a revolução digital impactou diretamente o volume
produtivo das ações fílmicas pela facilidade no processo de criação e aumento na
concorrência inclusive com filmes maiores pela qualidade dos processos dos
vidomakers em regime homemade, em um cenário mais distante a priorização e
detenção dos grandes estúdios pela exibição nas salas de cinema, praticamente
inviabilizando o escoamento de menores produções experimentais que
permaneciam geralmente em exposições de arte ou cinemas de pequena
movimentação para a exibição desses produtos, porém com a democratização
50
trazida pelos equipamentos digitais e o portal de divulgação que se tornou a internet,
toda e qualquer produção audiovisual encontrou uma forma de ser sugestionada e
amparada por outros espectadores, este grande exibidor dentro da rede tomou
forma através do site Youtube. De inicio desacreditado, a ferramenta se tornou um
dos maiores domínios da internet mesmo tendo chegado há poucos anos atrás no
Brasil, o volume de produção de conteúdo é incontável e o bombardeamento de
novos rostos anônimos que do dia para a noite explodem em virais é
impressionante, vale destacar neste sentido, além da viabilização da produção e a
oportunidade dada pelo mesmo aos cineastas em inicio de carreira e até estudantes,
o caráter da propagação de ideologias e massificação promovida pela rápida
disseminação de padrões e estereótipos trazidos pincipalmente pela figura dos
vloggers que passaram a usar uma linguagem basicamente de jump cut (antes visto
mais comumente na Nouvelle Vague) para dar mais agilidade aos seus vídeos e
dessa forma muito diferenciada dos produtos vistos em TV ou cinema, a exibir suas
opiniões sem censura já que essa possibilidade é muito mais explorada no âmbito
virtual pela falta de entraves ou aparelhos que regulem a opinião ou interesses
alheios e desse forma ao se espelhar no anonimato e vestir a figura de uma pessoa
comum que dá seu depoimento em frente a câmera, passaram a respaldar uma
legião de seguidores que glorificam esses “ídolos” da internet e passam novamente
a adquirir e ser dominado por estas mesmas opiniões. Uma faceta perturbadora do
mundo virtual se dá na sua maior caraterística e por um lado dádiva, a rápida
disseminação e fluxo de informações instantâneas, já que pela sua rapidez um
mesmo conteúdo como um vídeo aleatório, por exemplo, começa a ser
compartilhado e comentado nas redes sociais em um fenômeno em cadeia que
constitui os virais, esses subprodutos tem vida curta mas enquanto permanecem em
seu pico demonstram o poder manipulatório da rede, através de uma febre
promovida pela massificação de opiniões e homogeneização de sentidos, pelo efeito
corrente, esse viral passa a ser propagado por mais e mais grupos sociais até
chegar ao seu esgotamento, onde por não ter realmente um conteúdo capaz de criar
novas fagulhas de interesse como o anterior, retorna ao mesmo anonimato de que
surgiu, logo da mesma forma que os virais passaram a integrar o movimento digital,
o poder de profusão dos mesmo passou a ser manipulado por certos fatores em
comum por experimentadores digitais que passaram dessa forma, a viver em função
dos mesmo e criar os virais propositalmente como porta para o sucesso, não é
51
incomum depois de uma overdose de determinada viralização, observar seu criador
criar novos canais e tentar reproduzir a mesma façanha para permanecer no topo,
apesar de arriscado algumas tentativas tem sucesso e demonstram como a internet
e a revolução digital dentro do espectro audiovisual modificaram a compreensão do
publico e principalmente a maneira de sua abordagem, entretanto esse impacto em
massa da informação transforma a internet em uma chave para a criação e
propagação de conteúdo ideológico, sendo seu perigo reservado não somente na
liberalidade ou aparente falta de censura e maior democratização, mas sim no
aspecto quantitativo, a imensa quantidade de pessoas atingidas por um mesmo
conteúdo se comparado ao período pré-digital.2
As modificações angariadas no dispositivo fílmico após as mediações
tecnológicas demonstram uma relação mais afinada entre arte e mídia trazendo
ainda novas sensibilidades e assim novos problemas de representação, com isto a
forma de se compreender o mundo se mostra atrelada aos conceitos estéticos
adotados dentro da hibridização do espaço em uma rede de conexões trazida pelas
múltiplas imagens, com isto, o período de pós-modernismo no âmbito
cinematográfico consolida a desintegração de qualquer unidade ou homogeneidade
discursiva alimentando as narrativas fragmentadas e o uso não-linear da imagem,
com isto um dos primeiros adventos percebidos nesse cenário se manifesta através
da linha do neobarroco salientando a estética da saturação e do excesso, tendo a
máxima concentração de informação num mínimo espaço-tempo, mas com uma
sociedade que emerge de conexões eletrônicas e anseia por uma demanda enorme
de informação a cada minuto, uma saturação de informação e exagero seria a saída
para a continuidade do interesse do espectador pela sétima arte, onde acostumado
a esses fluxo constante da globalização, terminaram por demandar o mesmo
enquanto publico de uma obra fílmica, por outro lado, o cinema anseia por refletir
diretamente as agonias sociais e sua demonstração não poderia ser diferente ao
englobar os afluxos característicos da modernidade e o compartilhamento
incessante de informação. Sendo assim, as novas produções advindas da revolução
digital exigem de certa forma uma nova postura de compreensão do receptor, ao
dissolver as fronteiras e apresentar a possibilidade da execução de planos híbridos,
representando desafios estéticos e por fim, dando espaço a manipulação da
2 Informação fornecida pela professora Roberta Linhares em entrevista concedida no dia 29 de agosto
de 2015, via internet.
52
linguagem e sua representação, essa metamorfose estética e linguística dá vazão
ao fim da referencia e uma nova abertura ao domínio sob o olhar do espectador, em
que partindo de uma metalinguagem, opta por expor a realidade desarticulada do
mundo moderno, pela síntese temporal de um conjunto de formas em mutação,
assim como as ideologias transitórias que circundam o universo das informações
instantâneas. O suporte também recebe modificações ao inteirar os dispositivos
imateriais, ou seja, a própria mídia digital, deste movimento a nostalgia cede aporte
ao novo na substituição de tecnologias, sendo imprescindível para fornecer novas
propostas criativas e dar origem ao paradigma digital, no consonante entre
democratização e ampliação da produção concedida pelas mídias digitais, um marco
histórico importante foi o “expanded cinema” que posteriormente seria uma base
estética aos vlogs e se constituem como uma prévia do conteúdo abordado
diretamente na internet, assim como a experimentação, traçando uma linha de
contextualização do cinema sinestésico que engloba os simulacros digitais de forma
em que a tecnologia de ponta visa reproduzir a realidade e propor o encapsulamento
do convívio, estas artimanhas tecnológicas representam a sede de manipulação e
principalmente domínio dos sentidos de maneira a consolidar todo e qualquer apoio
pela dominação dos preceitos e sentidos individuais, a representação da realidade
ou melhor sua busca, acaba por borrar as barreiras anteriores entre real e ficção, um
aspecto limítrofe cuidadoso da sociedade moderna sob a ótica das ferramentas
sistemática de manipulação.
3.2 A consolidação das novas midias e a incitação da intolerancia virtual, os reflexos
da narrativa nazi-fascista
A realidade passa enquanto amparada pelos dispositivos eletrônicos, a ser
moldada conforma a bagagem cultural de seu observador, de forma que as
modificações concedidas pelo capitalismo financeiro na ultima metade do século XX
e seus desdobramentos nas cíclicas crises atuais do sistema, resultam em uma
propagação de ideologias discriminatórias, distorcidamente amparada por fatores
econômicos e históricos, como a xenofobia crescente nos países europeus,
decorrente do êxodo entre países e a busca por parte das nações africanas e
orientais especialmente vindas do Oriente Médio pelas oportunidades oferecidas em
53
um país melhor estruturado e em alguns casos pela liberdade de expressão
apresentada em um ambiente sem a dominação intensiva do radicalismo religioso,
neste ínterim com o desemprego crescente e a má gestão dos recursos e serviços
públicos, a revolta popular toma forma de maneira similar ao visto anteriormente no
período nazifascista, com população e ideologias desestruturadas pelo desespero
da fome e falta de emprego, essas sociedades se mostram terrenos férteis para a
tomada de ideologias totalitárias e intolerantes como maneira de apontar culpados e
desviar o inconformismo para outros “culpados”, essa prática é crescente em
território europeu como demonstrado por seus parlamentos e articulações politicas
em que grupos de ideologia afinada a ultradireita neonazista já representam cerca
de 3% das cadeiras, apesar de aparentemente pouco, o poder trazido pelo apoio
destas ideologias e a demonstração de apoio a discriminação, priorizam o
retrocesso sociocultural de nações em amplo desamparo econômico, figurando os
causadores de seu estado em novas figuras sob o égide dos imigrantes, se por um
lado a globalização trouxe uma conexão e homogeneização de costumes pela
interatividade e contato de culturas distintas, a mesma também evidencia a rapidez
da propagação da intolerância e as ideologias contrarias ao contato das culturas
estrangeiras, a aversão ao respeito pelo “diferente” se manifesta na rede pela falsa
sensação de impunidade e controle da mesma, dando suporte, por exemplo, ao
bulliying virtual e às praticas de discriminação explicitas, a eclosão de movimentos
intolerantes tem uma marca no massacre do jornal francês Charlie Hebdo que
questiona os limites jornalísticos da liberdade de expressão e o respeito religioso,
entretanto os limites da liberdade e o respeito são profusos neste período em que
virtualmente o território parece livre a todos e principalmente sobre uma visão
estereotipada e discriminatória, um único individuo consegue angariar apoiadores
rapidamente e em qualquer local do mundo, facilitando o processo e a aparente
impunidade, essa facilidade que não existia no período entre guerras e era um forte
entrave a propagação de ideais por parte do Estado mas hoje essa desvirtuação do
propósito original da rede, se mostra como um dos maiores suportes a manipulação
e empoderamento de lideres ideológicos.
A expansão da consciência humana e das interações sociais ocasionaram um
fenômeno que apropria o erudito pelo massivo, denominado hibridismo, essa faceta
da multiplicidade remete ao conceito de Benjamin da perda aura da obra de arte,
onde ao mesclar origens e propostas universais a aura primitiva da obra dotada de
54
capacidade criadora passa a ser desviada ao incluir outras origens e abordagens em
si além de sua reprodução em massa acabar por desvirtuar seu impacto original e
sentido inspirador, pois a massificação e a ampliação de seu sentido passa a
corromper a proposta da apreciação individual e tomada de consciência única, logo
a reprodução em massa finaliza a mensagem e proposta criadora da obra para
substituir nas obras digitais a peculiaridade da participação e adesão do espectador
como montador e intérprete final, enquanto a interatividade é a chave para a
comunicação nas obras modernas, essa interação constante e sugestão participativa
do receptor é um ideal explorado pelas mídias digitais especialmente pela internet
em que o conteúdo passou a ser voltado pela construção de seu próprio publico,
essa ferramenta criativa foi determinante para o sucesso da rede em que a
personalização e participação encontrou um aporte na necessidade de apoio e
encontro psicológico do individuo em meio a uma realidade homogênea que não
constrói vínculos ou relacionamentos solidificados pela fluidez dos sentidos e
dinâmica de fluxo das informações constantes, logo se utilizando de aparatos
sensoriais como o giro, looping, a vertigem e o deslocamento, a realidade virtual
munida das sensações características da modernidade passou a figurar os
interesses e obter a identificação imediata de seus expectadores, isso explica de
certa forma, o sucesso e ascensão do anonimato por determinadas figuras que
simbolizam a vitória do cotidiano, comum sobre a fama e até explica como os sites e
a internet de forma geral, constituem uma parte complementar à própria narrativa
fílmica sendo amplamente exploradas como recurso pelas produtoras, a interação
passou a ser fundamental para a disseminação de qualquer conteúdo. Ainda dentro
do âmbito da metamorfose do olhar, o alongamento das modalidades perceptivas e
o consequente rompimento da quarta parede constituem elementos fundadores para
a hibridação dos suportes e linguagem construindo o corpo do cinema como
dispositivo e salientando o aspecto relacional (interatividade) surgido na era digital.
A rápida disseminação dos meios e fluxos de informações por fim, são
ferramentas e suportes fundamentais a propaganda politica e a propaganda de
maneira geral, a suplantação de ideais e identificação momentânea do público são
ditames utilizados desde a propaganda totalitária nazista e posteriormente adaptada
aos interesses capitalista de submeter à visão mercadológica, assim as descobertas
e resoluções funcionais da propaganda extremista forma aplicadas de maneira
semelhante pela indústria por sua alta efetividade e adaptação ao consumidor e da
55
mesma forma que consegue homogeneizar a população, o sistema capitalista se
espelha no fascismo através da imposição dos valores de consumo, submetendo
condições a determinados grupos sociais e se tornando assim, o grande herdeiro
dos instrumentos de manipulação, a exemplo claro disto, assim como os filmetes
ficcionais de alta produção eram exibidos seguindo uma imposição subliminar de
valores como comparar os feitos fascistas a glória dos gladiadores ou a coragem
alemã pelo desbravamento do seu território, a propaganda subliminar no Brasil teve
um caso famoso com marca Nescafé durante a ditadura militar, em um comercial
mostrando um casal alegre consumindo o produto da marca, uma música ludibriante
de fundo repetindo hipnoticamente a marca Nescafé era repetida incessantemente
atingindo níveis do subconsciente pela repetição, por essa faceta manipulatória após
esse comercial, criou-se a lei contra propagando subliminar no país visando
restringir esse tipo de ação de consumo direta.
3.3 Facilidade da disseminação ideológica e a criação de falsos profetas do
anonimato.
Uma das potencialidades mais performáticas que distingue os regimes
totalitários se concentra na importância do carisma de seu líder, chamados de Il
Dulce e Fuhrer, tanto Mussolini quanto Hitler desfrutaram do prestigio e admiração
do povo para consolidar seu poder e capacidade de manipulação massiva, a
propaganda mais do que necessária formou a ferramenta atroz que alimentou a
ferocidade de tais sistemas e salientou a necessidade de uma figura forte e de
capacidade inigualável no ganho de seguidores e apoiadores na sociedade.
Enquanto Hitler utilizou seu discurso baseado em distorções ideológicas e falsos
fundamentos científicos, a força de seu argumento se concentra basicamente no
crédito cedido a ele por sua articulação propagandística ao retratá-lo como herói do
povo que suplantou os agouros da prisão e exilio injustos, visando uma melhora de
vida do povo alemão e a conquista de um espaço que fosse condizente com a
posição supostamente superior ocupada pelo povo germânico, suas referencias iam
desde os druidas indianos para contar a confabulosa epopeia da origem divina dos
primeiros arianos e sua ascendência até a formação real da sua população
europeia, seguindo deste principio consegue com sucesso subverter os significados
56
de tradicionais símbolos hindus como a suástica e mesclar seus interesses atrelados
a interpretação subjetiva das runas nórdicas, esse símbolo estaria presente inclusive
no uniforme da SS e a subjetividade imposta a interpretação de seus objetivos já
demonstra uma personalidade megalomaníaca e egocêntrica centrada em seu
universo particular, somada ainda a retorica do super-homem de Nietszche, a
propaganda ideológica nazista optou por deturpar valores já pré-assimilados e
aceitos pela população e usá-los em prol de seu interesse no apoio a tomada de
poder do partido, logo um das maiores contradições e prova irrefutável do carisma e
efetividade da figura de liderança do Fuhrer seria a adoção e principalmente
aceitação da concepção do ideal ariano enquanto seu próprio comandante e símbolo
maior da vitória sobre o povo semita, era fisicamente oposto ao ideal propagado por
sua obra e segundo apontado pelo partido, Adolf Hitler era de baixa estatura, de
feições grosseiras, cabelos escuros e constituição física contraria ao idealismo do
homem ariano padrão, sendo descrito como alto, forte e de traços finos com cabelos
e olhos claros, demonstrando a enorme disparidade entre as suposições de um
golpe de propaganda muito bem executado e a realidade demonstrada pelo mesmo.
Aliados de todos os grandes meios de comunicação de massa, a associação direta
entre o negativo e os semitas e a gloria com a população original, foram jogadas
bem executadas e amparadas para o sucesso definitivo do nazismo no poder, a
promessa de longevidade e resposta clara aos clamores maiores do anseio popular
serviram para saciar, mesmo que momentaneamente, as reinvindicações dos
setores mais impactados da sociedade, a imposição da figura do líder é uma
articulação necessária para a figuração de uma manipulação sistemática e
identificação imediata proposta pela base politica, todo sistema mesmo que não
doutrinador aparentemente, se baseia na liderança como maneira de assegurar o
sucesso e dar maior assertividade a suas propostas, exemplos disto ocorreram no
país a principio com Getúlio Vargas, dando inicio a politica do populismo, incitando a
reivindicação popular e apoio incondicional ao seu modo de governar, onde pelas
medidas de criação das leis e regulamentação da CLT foi alçado ao pedestal de pai
dos pobres e trabalhadores, originando uma condição de peleguismo, ou seja, troca
de interesses entre líder e povo contribuindo para sua imagem paternal
cuidadosamente construída, seu regime espelhado no cenário internacional durante
o Estado Novo de uma ditadura aos moldes mais conservadores foi completamente
esquecida ou justificada pelo massivo suporte popular causado pelo carisma reunido
57
por Getúlio durante os anos de apoio aos sindicatos que consolidou seu retorno na
década de 50, outro exemplo de como o carisma e a venda da imagem certa pode
atrair os interesses voltado as vontades do Estado foi o uso por parte do governo
norte-americano do poder de manipulação e conquista do cantor Elvis Presley para
reunir jovens dispostos a servir no exercito durante a guerra após o mesmo ser
recrutado para fazer parte do poderio militar, a estratégia funcionou apesar de Elvis
nunca ter entrado em um combate efetivo mas a jogada de marketing sobre a figura
jovial serviu como forma de espelhamento para vários jovens que passaram a servir
o exercito depois do episódio, a grande preocupação do líder é a sua carência
dentre a população. Esse reflexo é sentido atualmente pela alimentação deste afluxo
de identificação pelas mídias digitais, a figura dos grandes lideres hoje se consolida
pelo estimulo virtual e sua relação imediata com o espectador, a mediação
tecnológica impulsiona a técnica de escritura múltipla que se caracteriza pela ampla
compreensão de valores e a escolha interativa do receptor no produto audiovisual,
mesmo com a necessidade que a imagem eletrônica possui por um mediador, sua
potencialidade e complexidade aumentam de forma exponencial se comparada aos
produtos arcaicos do período nazifascista, desta maneira a concepção de lideres na
rede se constrói pela figura mundana e caseira dos vloggers no caso do produto
midiático e inclusive pela incitação de valores em alta como pressuposto para a
conquista de uma legião de seguidores que passa a imitar e compartilhar das
mesmas opiniões de seu ídolo virtual, a rápida identificação do espectador com as
figuras que emergem do aparato digital se dão através da intensidade da troca de
informações e principalmente pela substituição da imagem antes inatingível imposta
pelo star system para ídolos mais palpáveis e atingíveis com defeitos mundanos e
que assim passam a ser admirados por este mesmo motivo, a irrealidade e o mundo
paralelo criado pelas estrelas hollywoodianas de vida idílica passa a cada dia ser
mais substituída pelos ídolos do real e da produção de contracultura se comparados
ao convencional, ou seja, das formas de produção caseiras e independentes.
Os resultados somatizados a partir do valor do culto ao líder também se
beneficiam de outros ditames dentro da propaganda e do marketing consequente
que auxiliam na construção e aceitação do sistema imposto, a manipulação
ideológica no campo digital se dá atualmente com base nos resultados das ações
publicitárias na internet e a agilidade na disseminação de compartilhamentos em
escala muito maior se comparada ao tradicional boca a boca, a personalização das
58
campanhas que acompanham os interesses individuais da população que se utiliza
dos meios midiáticos e a persuasão que conduz a crença de informações sem
qualquer investigação prévia, suscitam o bombardeado e profusão de novas ideias
que optam por rodear o imaginário do consumidor e não deixa-lo fazer suas próprias
escolhas sem julgamento pré-concebido incitado pelas campanhas. Os casos de
marketing virtual que disseminam os valores de obras fílmicas e auxiliam em seu
lançamento ao incumbir uma falsa verdade é uma técnica usada pelas produtoras
especialmente em produtos de terror voltados para o publico adolescente que acaba
sendo o maior consumidor do universo virtual e consequentemente o que se adentra
e conhece melhor este aspecto e com isto demonstra a vulnerabilidade a que os
internautas estão sujeitos ao sustentar a crença de que o produto audiovisual é
dotado de uma verdade intrínseca, já que ver nem sempre é crer dentro da internet,
um filme que se beneficiou na época do marketing boca a boca e da rápida atenção
dada às lendas urbanas que reúnem medos coletivos e a lembrança associada a
fatos reais, foi o filme A Bruxa de Blair (1999) novamente um pseudodocumentário
que relata a busca pela tal bruxa por três jovens estudantes, segundo a ação
publicitária a obra se tratava de filmagens reais encontradas na floresta e depois
remontadas, parte do planejamento foi incluir no enredo atores desconhecidos sem
creditá-los e espalhar a lenda dentre grupos jovens, de qualquer forma o impacto do
filme foi marcante dentro do cinema tanto pelo seu feito orçamentário quanto em
logística de produção mas demonstra a maleabilidade a que o real está sujeito
quando alçado dentro dos interesses capitalistas, esse mesmo artificio foi
novamente usado em dois casos diferentes mas com uma grande ajuda das redes
sociais para sua divulgação das produções, a primeira em Desaparecidos (2007) foi
uma proposta nacional de um conceito americanizado de terror após um grupo de
jovens se perder em uma floresta em Ilha Bela durante uma festa porém sendo uma
coprodução Brasil/Canadá o maior destaque foi reservado aos efeitos especiais e a
uma inteligente jogada de marketing para conquistar a plateia em que já reside um
certo preconceito com produções nacionais ainda mais desse gênero, logo a ação
se baseou na criação de perfis falsos no Facebook dos personagens do filme como
se realmente fossem pessoas reais e em poucas horas a produção do filme reuniu
milhares de amigos para esses “simulacros” dando maior veracidade as suas
paginas e depois criou outra pagina de divulgação de uma suposta festa que seria a
divulgação de uma marca de bebida e apenas alguns sortudos seriam sorteados
59
para participar, obviamente os escolhidos foram os mesmos perfis dos personagens
que após a viagem pararam de movimentar suas redes sociais, logo em uma
sociedade que vangloria o selfie, a morte virtual representou um reboliço na rede em
busca dos jovens que teriam desaparecidos, o aspecto mais interessante deste
apelo comercial que beirou o experimento social foi a comoção por jovens que
ninguém nunca havia visto e a crença inquestionável na verdade fornecida por um
meio volátil como a internet, a abordagem funcionou e mesmo não rendendo forte
bilheteria, a propaganda bem alinhada e disseminada como maneira de demonstrar
um uso inteligente e barato das redes sociais como divulgação eficiente, ganhou
destaque. Depois da obra nacional, novamente as produtoras, nesse caso
americanas, se utilizariam dos virais para criar uma nova realidade sobre as lendas
urbanas e o ocultismo, mesmo este tema atraindo naturalmente a atenção do
publico por ressaltar o inexplicável e o sobrenatural, a produção de pequenos vídeos
que retratavam a brincadeira Charlie Charlie que buscava trazer a tona um demônio
mexicano com um contexto bem executado pelo planejamento de merchandising,
inundou a internet com experiências que em muito lembravam as tradicionais
brincadeira do copo ou o tabuleiro ouija, uma das maiores consolidações do viral foi
através da adesão de vloggers e figuras da internet já com certo numero de
seguidores que creditavam a experiência e relatavam o distúrbio por essa entidade,
o pânico geral se espalhou pelas redes e vários também buscaram reproduzir o
jogo, após alguns dias de rebuliço a produtora emitiu uma nota no Twitter admitindo
se tratar de apenas um artifício de marketing para a divulgação do filme A Forca
(2015) e ressaltar mais uma vez a confiança e crença inquestionável da população
sobre os meios digitais e o perigo apresentado pelo seu poder de indução e
manipulação.
O alcance da fama e a preocupação com o reconhecimento são também
alguns dos motivos pelos quais o surgimento da internet e o compartilhamento foi
tão bem sucedido, em um retrospecto histórico e artístico em plenos anos 60, época
da efervescia jovem e as novas reinvindicações politicas trazidas pela criação da
pílula, a luta pelos direitos civis da população negra e uma maior liberalidade das
drogas, a pop art pelas mãos de Andy Warhol visava expor a multiplicidade pela
repetição que a modernidade havia trazido para os meios de comunicação, sua
distorção de símbolos já reconhecidos e admirados como Marilyn Monroe e até a
lata da sopa de tomate Campbell buscava levar ao questionamento e reivindicar o
60
bombardeamento dos meios de comunicação de massa pelos padrões da sociedade
de consumo, seus filmes de horas a fio retratando ações cotidianas foram influentes
no encontro de cinema e videoarte para a comunhão do fluxus, ou seja, arte e mídia
interconectadas, estabelecido a necessidade de mediação para sua arte eletrônica.
Sendo também um investigador social, Warhol estabeleceu um ditame para a
sociedade midiática e a sua cultura de culto as celebridades que se traduziu na
frase: “No futuro todos serão famosos durante quinze minutos”, profetizando a
situação da massificação das artes e manifestações culturais do futuro,
demonstrando o maior interesse na sociedade moderna e as atribuições adquiridas
pelo meio digital facilitando a criação de novas figuras capazes de fomentar a
formação de opinião e influenciar nas crenças individuais com maior agilidade se
comparadas ao período sem a presença da internet, o aparente desaparecimento
dos suportes e a reapropriação da mídia levam a crer num futuro rondado de bytes e
informação imaterial em uma aproximação com outros tipos de linguagem
audiovisual, reservando ao cinema um futuro incerto mas garantido a permanência
das influencias e opiniões por parte da sentenciação e domínio sistemático.
3.4 A prospecção de novos apoiadores e o combate virtual
A adaptação como parte do mecanismo de sobrevivência e evolução do
marketing, assim como feito pelos organismos orgânicos se utiliza da ferramenta
pela vigilância virtual com enfoque nos hábitos de consumo, essa tomada irrestrita
de dados pessoais é ainda mais comum do que parece, o registro de compras de
determinado consumidor é usado para validar o logaritmo que reconhece possíveis
interesses de compra atrelados ao ato anterior, o reconhecimento também de
gênero e faixa etária segundo registrado em outras contas também é um fator para
discernir as possibilidades de compra e oferecer algo mais personalizado para o
receptor, além disso a vigilância é um característica cada vez mais presente na
sociedade integrada as mídias digitais tanto pela necessidade de compartilhamento
da rotina com conhecidos quanto pelo status fornecido e alimentado pelas redes
sociais, da mesma forma a vigilância pelo sistema dominante se baseia na captação
dos mesmos hábitos de consumo e rotina assim como os dispositivos de segurança
que permeiam os grandes centros urbanos incessantemente, a realidade
multicultural e integracionista remete ao ambiente suscitado por George Orwell em
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1984 pelo controle incisivo do Estado e o auxilio das mediações eletrônicas neste
controle, as garras do sistema passam a se estender sobre sua população que
segue acostumada com a situação, o mesmo ocorre atualmente pelo controle
invisível exercido pela rede e dispositivos moveis, a integração total de todo e
qualquer aparato reaviva o argumento do Estado tentacular de Foucalt, referência na
construção da obra 1984 que já demonstrava a preocupação com o futuro depende
do entreposto eletrônico, além das habilidades práticas compostas pelos aparelhos
multitarefa, a conexão integral ilimitada já constrói vínculos sólidos na vivencia da
sociedade que se vê entrelaçada com o advento digital, a restrição do uso de tais
aparatos ou até a falha de um desses sistemas já é capaz de desnortear relações e
mercado interconectados pela internet, mais do que um facilitador, a tecnologia
passou a conceber integralmente o espaço-tempo dentro dos grupos sociais
urbanos. A relativização da verdade e a interconexão dos meios passaram a
evidenciar a busca pela totalidade nas artes dando origem a hipermídia, fenômeno
que passa a romper limites e barreiras entre uma área e outra e a englobar multi
interpretações, a apropriação da mídia anterior pela nova mídia como salientado no
hibridismo, cria quimeras tecnológicas que naturalmente absorvem conceitos
anteriores e os reapropriam segundo abordagens alternativas pelos novos
interesses e possiblidades narrativas amparados pelo desenvolvimento tecnológico,
em um movimento cíclico de “continuidade e ruptura”, este estado de hipermídia se
constrói pela gama de possibilidade apresentadas na flexibilidade do material digital,
permitindo sua maior manipulação e onipotência do espectador, com papel decisivo
na interpretação das obras, logo a adaptação do aparato tecnológico e a
interdependência em relações humanas, remete ao conceito da inteligência artificial
como aporte para a quebra das relações humanas e sentimentais, o tema abordado
em Ela (2013) retrata exatamente a criação de um novo sistema operacional dotado
de personalidade própria e capaz de interagir de maneira orgânica com seu
detentor, assim o futuro incerto narrado pelo protagonista apaixonado pelo seu
sistema operacional passa a refletir as oportunidades deixadas de lado quando a
ótica tecnológica passa a dominar os interesses sociais, mesmo como ferramenta
eficiente para a propaganda e venda imediata de conceitos e produtos, a mediação
eletrônica acaba por fragmentar uma porção fundamental da intercessão e
aprendizado humano pelas relações que exerce em sociedade, assim como o
fracasso sentimental do personagem é exposto no filme e a facilidade pela qual se
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expressar através da mídia eletrônica como uma espécie de barreira aos desatinos
da convivência em grupo, a participação dos simulacros de forma cada vez mais
ativa na realidade contemporânea demarca a opção de viver e saborear uma
realidade criada e que segue certos limites de dificuldade impostos pelo seu criador
em detrimento de aprender a sobreviver a uma realidade palpável das interações
pelo medo do fracasso e rejeição, logo são nestas brechas que a dominação do
sistema e a vigilância se inteiram para impor sua ideologia pretendida e passam a
mediar toda e qualquer inter-relação humana, de forma mais abrangente é
indiscutível que a tecnologia reconfigura a experiência cinematográfica de maneira
que o olhar do espectador deve se adaptar a novas experimentações e
interpretações do próprio significado de “cinema”.
4. CONCLUSÃO
Seguindo uma analise histórica que justifica os motivos da aceitação e
adesão aos sistemas nazifascista pela desesperança geral da situação político-
econômica, se faz possível a narração história e a percepção apurada dos
sentimentos da população através da ótica cinematográfica que permanece ligada
as ferramentas de dominação dos sistemas políticos e já em seu nascimento
contribui para o relato e disseminação de ideais que compreenderam a
suplementação dos quatro pontos de fortificação da identidade social individual e
através do primeiro impacto pôde evidenciar a luta bélica e o afastamento da
sexualidade do ideário popular além de construir o cenário propicio a aceitação da
crise de 29 e o apoio na consolidação dos Aliados, desta forma usando a analise
empírica dos fatos narrados sobre a ótica de mestres como Freud e Kracauer, o
cinema alemão do pós guerra passa a ser observado como um chamariz para as
atrocidades que viriam a seguir pelo Estado nazista e a intolerância propagada por
Hitler na distorção dos argumentos de Nietzche, o surgimento dos outros sistemas
totalitários pela Europa como Mussolini principalmente, mas também Salazar e
Franco, demonstram a vulnerabilidade social aos governos de ultradireita e as
ferramentas de desenvolvimento da propaganda que foram o artificio de maior
eficiência para a consolidação dos partidos pelo culto ao líder e a narração fílmica
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dos feitos nazifascista na comparação direta com a glorificação histórica, seja pelos
gladiadores ou pelos druidas na formação do povo ariano, de qualquer maneira,
além da prova irrefutável da ação corrosiva da propaganda sobre a ideologia
popular, os arquivos remanescentes desse período servem também para denotar a
atenção ao registro e o cuidado sobretudo com a preservação de um momento
histórico único que rendeu heranças até os dias atuais, tanto que a manifestação da
intolerância pelas mídias digitais se dá de forma efusiva e ágil demonstrando que as
ideologias passadas não foram esquecidas mas sim reconfiguradas aos dispositivos
eletrônicos, vale dessa maneira estudar e entender os princípios da dominação pela
propaganda e a influencia direta da internet nas relações interpessoais como a
ultima alternativa para se impedir que a intolerância e o radicalismo em meio a um
mundo de progressivas crises financeiras não se torne novamente um terreno fértil a
proliferação do ódio e discriminação.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. História das Sociedades: Das
Sociedades Modernas às Sociedades Atuais, 41 ed. Rio de Janeiro: Editora Record,
1999. 643 p.
BOCK, Ana Mercês; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias: Uma Introdução ao estudo de Psicologia, 13 ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 1999. 361p.
KRACAUER, Siegfried. De caligari a Hitler: Una historia psicológica del cine
alemá. 1 ed. Barcelona: Paidos Espanha, 1985. 339p.
LAKS, Aleksander Henrik; SENDER, Tova. O Sobrevivente: Memórias de um
brasileiro que escapou de Auschwitz, 10 ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
172p.
LINHARES, Roberta. Análise histórica acerca do periodo nazifascita e as
implicações da imposição ideológica. Rio de Janeiro, 29 ago. 2015. Entrevista
concedida via internet. (Professora licenciada em história pela UNISUAM, filosofia e
sociologia pela Gama Filho, pós-graduada em gestão da filosofia e mestrado em
educação)
MASCARELLO, Fernando (org), História do cinema mundial, 6 ed. Campinas:
Papirus, 2006. 432p.
PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no fascismo,
nazismo, salazarismo e franquismo. História: Questões & Debates, Curitiba, ano 20,
n. 38, p. 102, jan./jun. 2003.
STIRLING, James. As implicações do cinema nazi-fascista e a decorrência na
internet. Rio de Janeiro, 23 ago. 2015. Entrevista concedida via internet. (Professor
licenciado em história pela UERJ desde 1987, pós-graduado em Brasil República)
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ANEXOS
ANEXO A – Comparativo entre cenas de Metropolis (1920) e os campos de
concentração nazistas.
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ANEXO B – Cenas retiradas dos filmes de propaganda nazifascista.
O Triunfo da vontade e Olympia de Leni Riefenstahl
Camicia Nera de 1933 e Squadrone bianco de 1936