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INEZ MARIA DANTAS AMOR GARRIDO MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS NO TURISMO: Cadeias, Clusters e Redes Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração da Escola de Administração, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique de Almeida Salvador 2001

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INEZ MARIA DANTAS AMOR GARRIDO

MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS NO TURISMO:

Cadeias, Clusters e Redes

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Administração da Escola de

Administração, da Universidade Federal da Bahia, como

requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Administração

Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique de Almeida

Salvador

2001

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.

G241 Garrido, Inez Maria Dantas Amor.

Modelos multiorganizacionais no turismo : cadeias, clusters e redes / Inez Maria

Dantas Amor Garrido.—Salvador : I.M.D.A.. Garrido, 2001.

124 f.: il.

Orientador: Paulo Henrique de Almeida.

Dissertação apresentada à Universidade Federal da Bahia, Núcleo de Pós-

graduação em Administração para obtenção do título de Mestre em Administração.

1.Turismo – Organização. 2. Redes – Organização. 3. Desenvolvimento sustentável.

I.Almeida, Paulo Henrique de, orientador. II. Título.

338.4791

CDD 20.ed.

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INEZ MARIA DANTAS AMOR GARRIDO

MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS NO TURISMO:

Cadeias, Clusters e Redes

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Administração

Salvador, outubro, 2001.

Banca Examinadora:

Paulo Henrique de Almeida____________________________________ Universidade Federal da Bahia

Sylvio Bandeira de Mello e Silva ________________________________ Universidade Federal da Bahia

Elisabeth Loiola_____________________________________________ Universidade Federal da Bahia

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A

Alexandre, pelo seu amor, compreensão, cumplicidade e apoio aos meus interesses

acadêmicos.

David e Alexandra, queridos filhos, um estímulo permanente a me tornar mais

humana e mais coerente, todos os dias.

Minha mãe, meus irmãos Anna e Emanuel, cunhados, cunhadas e todos os

sobrinhos, por me apoiarem e entenderem a minha dedicação aos estudos,

esquecendo, por vezes, a família.

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AGRADECIMENTOS

A Paulo Renato Dantas Gaudenzi, Secretário da Cultura e Turismo do Estado da

Bahia, com quem tenho o privilégio de trabalhar por mais de duas décadas, um

mestre nos assuntos do turismo e um ser humano ímpar, que acredita na

importância de qualificar profissionalmente sua equipe de trabalho.

A Érico Pina Mendonça Júnior, Superintendente de Turismo da Secretaria da Cultura

e Turismo da Bahia, exemplo de gestor e especialista conectado com a moderna

Administração do Turismo, mas, acima de tudo, um amigo e líder de equipe como

poucos, contribuindo e confiando no crescimento profissional de cada um.

A Paulo Henrique de Almeida, orientador e mestre nos assuntos desta dissertação e

na condução de um trabalho acadêmico. Grata também pelo apoio e cuidado

durante todo o período, pelas indispensáveis indicações bibliográficas e pelo suporte

no delineamento da construção teórica.

Aos examinadores Elisabeth Loiola e Sylvio Bandeira de Mello e Silva, pelas

importantes contribuições e sugestões para a versão final deste trabalho. Sem

dúvida, uma lição de cuidado acadêmico.

A todos os meus colegas da Sudetur – Superintendência de Desenvolvimento do

Turismo da Bahia, Socorro, Teresa, Reinaldo, Symona, Dalva, Domira, Graça,

Arthur, Ana Lúcia, Mariana, Délio, Wolf, Alcione, Marcelo, Rosana, Margareth,

Maísa, Alzira, Danília, Roque e Ronaldo, equipe nota dez, integrada no trabalho,

mas também um laboratório rico em relações humanas, pelo apoio e carinho

recebidos durante esses duros tempos de mestrado. Juntam-se aos veteranos, a

jovem equipe dos estagiários, que têm participado desse prazeroso convívio diário.

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A Jorge Antonio Santos Silva, que muito me ajudou nas indicações bibliográficas, a

Nidalvo Quinto, pela sua experiência no turismo e nos projetos de clusters, a Tânia

Feitosa, na revisão deste texto, a Maria Helena Mendes e a Vera Lins, pelo

indispensável apoio com as regras bibliográficas.

Ao NPGA – Núcleo de Pós-Graduação em Administração da Escola de

Administração da Universidade Federal da Bahia, seus coordenadores, professores

e funcionários, pelo apoio e interesse nesta jornada do Mestrado Profissional.

Aos colegas da Turma 2 do Mestrado Profissional, pela convivência agradável

durante as aulas e pelas trocas de informações também bastante enriquecedoras.

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“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”.

Albert Einstein

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RESUMO Esta dissertação buscou examinar alguns modelos de integração entre empresas, transportando-os para a realidade do turismo. Primeiramente, foi analisado o conceito de cadeia produtiva, que tem como essência o modelo de cadeia de valores amplamente discutido e apresentado por Michael Porter e que, atualmente, vem sendo aplicado, com freqüência, ao setor de turismo. Em seguida, foi discutido o modelo de clusters, hoje aplicado em muitos segmentos produtivos, sobretudo no setor industrial. Por último, investigou-se o modelo de redes interorganizacionais, que ultrapassam os limites geográficos propostos no modelo anterior, incorporando a macro-espacialização, através da conexão translocal. Também foram abordados alguns aspectos sobre a caracterização do turismo, seus principais conceitos, o turismo como atividade de serviços e seu processo de evolução, situando esta atividade a partir da Segunda Guerra Mundial e particularizando a trajetória do desenvolvimento do turismo no Estado da Bahia. As evidências resultantes deste trabalho de investigação sobre os modelos multiorganizacionais que melhor se aplicam ao turismo sugerem que o mais indicado é a associação entre o modelo de cluster, que melhor pode representar a dinâmica das regiões de destino turístico, e o modelo de rede, fundamental para estabelecer as conexões entre essas regiões de destino turístico e os mercados emissores. Palavras-chave: modelos multiorganizacionais; cadeia produtiva; cluster; redes interorganizacionais; sistema turístico, desenvolvimento sustentável.

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ABSTRACT

The current dissertation addresses cross-company integration models, and their application to the world of tourism. Initially, it focused on the productive chain concept, which resembles that of the value chain largely discussed and presented by M. Porter, and which has recently been applied to the tourism sector. Then, it moves toward the model of clusters, today frequently applied to many productive segments, especially in the industrial sector. Finally, it approaches the model of interorganizational networks, which surpass those geographic borders suggested in the previous model by incorporating the macro spacialization through the translocal connection. Some aspects of the characterization of tourism, its principal concepts, tourism as a service activity, and its evolutionary process have also been addressed, situating this activity from the Second World War on, and particularizing the tourism development trend in the State of Bahia. Evidences resulting from this investigation about the multiorganzational models that best suit the tourism sector suggest that the best match is provided by the association of the cluster model, which represents the dynamics of tourist destinations with the network model, which is fundamental for the establishment of connections between those tourist destinations and tourist origin markets. Key words: multiorganzational models; productive chain: cluster; interorganizational networks; tourist system; sustainable development.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................ 10 LISTA DE QUADROS......................................................................................... 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................. 12 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13

Aspectos Metodológicos.........................................................................................14

Definindo o Tema, Problema, Objetivos e Hipóteses.............................................16

1. MARCO CONCEITUAL DO TURISMO...............................................................20

1.1. Turismo é Serviço.............................................................................................20

1.2. Evolução do Turismo........................................................................................24

1.3. Elementos e Características do Turismo..........................................................29

1.4. O Futuro do Turismo.........................................................................................37

1.5. O Turismo na Bahia..........................................................................................40

2. OS MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS.......................................................44

2.1. Desenvolvimento Regional: nova ótica.............................................................44

2.2. Aglomerados de Empresas e Desenvolvimento Regional................................46

3. PRIMEIRO MODELO – CONCEITUANDO E ENTENDENDO A CADEIA PRODUTIVA ............................................................................................................55

3.1. Caracterização Geral ........................................................................................55

3.2. A Cadeia Produtiva no Turismo.........................................................................60

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4. SEGUNDO MODELO – A CONFIGURAÇÃO EM CLUSTERS...................... 67

4.1. Caracterização Geral.................................................................................... 67

4.2. O Modelo de Cluster no Turismo................................................................. .73

4.3. As Iniciativas de Clustering no Turismo ...................................................... .77

4.3.1. O Cluster de Turismo da Costa Rica ......................................................... 77

4.3.2. O Cluster de Turismo de Bonito - MS......................................................... 80

4.3.3. O Projeto Iniciativa pelo Nordeste............................................................... 82

4.3.4. Cresce Minas: um Projeto Brasileiro .......................................................... 86

4.3.5. O Clustering do Turismo na Bahia.............................................................. 89

4.4. O Modelo de Cluster e sua Adequação ao Turismo...................................... 96

5. TERCEIRO MODELO – CONHECENDO AS REDES

INTERORGANIZACIONAIS.................................................................................. 98

5.1. Caracterização Geral...................................................................................... 98

5.2. As Redes Interorganizacionais no Turismo ................................................. 107

5.2.1. Alguns Exemplos de Redes Interorganizacionais no Turismo................... 112

5.3. O Modelo de Redes Interorganizacionais e sua Adequação ao Turismo...... 115

6.CONCLUSÕES.................................................................................................. 117

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 120

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Sistema Turístico .............................................................................. 30

Figura 2 – Fluxo do Gasto do Turista na Economia – Efeito Multiplicador......... 34

Figura 3 – Representação da Cadeia Produtiva do Turismo.............................. 62

Figura 4 – Representação da Cadeia Têxtil e Vestuário..................................... 63

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Evolução do Fluxo e Receita do Turismo no Mundo........................ 28

Quadro 2 – Componentes de Cooperação Dentro do Cluster............................. 73

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIEST – Association Internacionale d’Experts Scientifiques du Tourisme

IATA – International Air Transport Association

UIOOPT – União Internacional dos Organismos Oficiais de Promoção Turística

UIOOT – União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo

OMT – Organização Mundial de Turismo

IUOTO – International Union of Oficial Travel Organizations

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BAHIATURSA – Empresa de Turismo da Bahia S.A.

EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PRODETUR/BA – Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia

PRODETUR/NE – Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste

CNI – Confederação Nacional da Indústria

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

IEL- Instituto Euvaldo Lodi

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura

FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

SEPLANTEC – Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da

Bahia

SCT – Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia

UNIDO – United Nations Industrial Development Organization

ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

CONTUR – Conselho Municipal de Turismo de Bonito – MS

GDS – Global Distribution System (Sistema Global de Distribuição)

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INTRODUÇÃO

Entender o turismo como um setor plural, naturalmente constituído por um

conjunto de atividades heterogêneas, interdependentes e, na sua maioria,

complementares, tem despertado o interesse e a dedicação de especialistas. Por isso,

têm surgido ultimamente diversas tentativas de interpretação ou criação de modelos

representativos dessa dinâmica setorial. A noção da necessidade cada vez maior de

integração entre os diversos stakeholders do turismo e a evolução dos modelos de

gestão integrada emergentes na “Nova Administração” têm contribuído positivamente

para a convergência e abertura de caminhos que buscam a coletivização de iniciativas.

Essa perspectiva do estabelecimento de elos diretos e indiretos entre os diversos

negócios e instituições envolvidos no turismo é fundamental para definir o caminho e o

ritmo de inovação, visando ao fortalecimento da competitividade do produto.

A teoria do turismo tem também evoluído em direção à busca de modelos e

conceitos que explicam as interfaces dos diversos segmentos empresariais e

institucionais envolvidos, a exemplo do modelo de Sistema Turístico proposto por Neil

Leiper e aqui apresentado, de forma adaptada, no item 1.3 deste trabalho. O grande

desafio do setor de turismo tem sido o de encontrar meios de articular os interesses dos

segmentos empresariais, dos poderes públicos locais, regionais e nacionais, das

comunidades envolvidas e que participam da produção e entrega do produto turístico,

além da sua conciliação com outras atividades produtivas, sobretudo nas regiões de

destinos turísticos.

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A opção pelo uso de uma das principais funções da Administração – o

Planejamento – para estabelecer um curso deliberado e gradual para o

desenvolvimento do turismo conta, atualmente, com o reconhecimento e a adesão de

especialistas, dirigentes empresariais e autoridades do setor público, cujos avanços têm

sido constatados sobretudo nesta última década, com as indicações e declarações de

princípios e práticas lastreados nos conceitos de desenvolvimento sustentável.

Essas tendências que vêm se confirmando ultimamente parecem prevalecer

para a próxima década, indicando a necessidade de se consolidar a via do

desenvolvimento sustentável do turismo. Acrescente-se ainda a necessidade de

abertura de canais de entendimento com entidades de gestão e pesquisa ambiental,

cultural e tecnológica, de forma a permitir o uso planejado e responsável do patrimônio

sócio-ambiental, que, em conjunto com o equilíbrio econômico, completam a essência

da sustentabilidade.

Aspectos Metodológicos

Este trabalho foi iniciado a partir de interesse pessoal de estudar e entender,

um pouco mais, a dinâmica da integração entre empresas e setores, com foco especial

na atividade turística. É claro que foi preciso um longo período de divagação e

peregrinação pelos meandros das teorias econômicas e organizacionais, até porque

não conseguimos encontrar muitos estudos que tratassem deste assunto,

especificamente para a atividade turística. O turismo, devido a sua crescente

importância para a economia mundial, tem sido objeto de especulações e tentativas

para “confiná-lo” em modelos importados de outros setores econômicos, notadamente a

indústria. Dessa prática surgem bons resultados, mas também grandes distorções, ou

representações parciais da realidade.

Outra motivação para a busca de um tema que pudesse trazer alguma

contribuição aos estudos sobre o turismo foi a necessidade de apresentar dissertação

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para conclusão do Mestrado Profissional em Administração, Universidade Federal da

Bahia. Esta última nos empurrou para a definição de um recorte mais específico, porque

a tentação inicial sempre nos leva a percorrer caminhos mais abrangentes e, de certa

forma, dispersos.

O projeto inicial apresentava um escopo centralizado no estudo do modelo de

“cadeia produtiva” no turismo, com intenção de realizar um estudo de caso em uma

localidade específica do Estado da Bahia – a Praia do Forte. Entretanto, na discussão

com o orientador sobre essa intenção, algumas sugestões foram feitas, novas idéias

surgiram e nos instigaram a desafios maiores, inclusive a uma mudança significativa da

abordagem a adotar. O que naquele momento decisivo se apresentava como uma

revolução nos nossos pensamentos e crenças, aos poucos foi tomando forma e, hoje,

graças ao estímulo recebido, reconhecemos que as mudanças sugeridas estavam

muito mais conectadas com a realidade atual, do que a idéia inicial.

Assim mudou-se o escopo, passando a vigorar o intento de realizar uma análise

comparativa de três dos modelos multiorganizacionais mais utilizados para o exame de

diversos setores produtivos, buscando identificar qual dentre eles, ou, se a combinação

de mais de um deles poderia ser mais representativa do setor de turismo. A partir deste

objetivo, frente à realidade atual do setor, identificou-se que os modelos de cadeia

produtiva, clusters e redes organizacionais, deveriam ser o centro dos nossos estudos.

Os passos iniciais para a pesquisa bibliográfica se deram no âmbito do

ambiente de trabalho, a área de planejamento em turismo e no âmbito das disciplinas

do curso de Mestrado Profissional em Administração. Este último nos mostrou um leque

muito amplo de possibilidades, ao trazer um grande número de abordagens e teorias,

que foram estudadas e estão consignadas neste trabalho dissertativo.

Pode-se afirmar que este estudo tem um caráter exploratório-descritivo e que a

pesquisa bibliográfica foi a tônica que acompanhou o seu desenrolar, iniciando com as

leituras de livros, artigos, periódicos, relatórios técnicos e documentos institucionais,

que contribuíram para a delimitação do objeto de estudo. Essa pesquisa acompanhou a

construção de todos os capítulos, em busca de sustentação dos argumentos aqui

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apresentados, até a sua fase final, quando da apresentação das conclusões e

indicações de questões para futuras investigações. O suporte teórico aos argumentos

aqui apresentados se constitui, certamente, na característica de maior relevância deste

trabalho, que será de grande utilidade ao nosso desempenho profissional, doravante.

Definindo o Tema, Problema, Objetivos e Hipóteses

Passado o período de reformulações e redefinições, assim como dos ajustes

necessários a reorientação do tema, reconfigurou-se nova questão de pesquisa, que

tem sido norteadora de toda a investigação documental e teórica e que pode ser

resumida na seguinte pergunta básica:

Qual o modelo multiorganizacional que pode melhor representar o setor de turismo, propiciando uma gestão integrada e sustentável que envolva os diversos componentes do produto turístico ?

Para responder a esta pergunta, concebeu-se como pontos de partida um fato e

uma hipótese:

O Fato: o turismo é uma atividade fragmentada, transdisciplinar e complexa,

exigindo uma ação coordenada e interconectada para montagem do produto

turístico;

A Hipótese: dentre os modelos de cadeia produtiva, clusters e redes

organizacionais, que estão entre os mais utilizados atualmente, considera-se

a combinação entre cluster – para configurar a região de destino turístico – e

rede – para estabelecer a intercomunicação entre as regiões emissoras e os

destinos – como o arranjo multiorganizacional mais adequado à realidade

atual do turismo.

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A teoria do turismo, enriquecida com a contribuição de pesquisadores e

profissionais oriundos de diversos campos da ciência e do conhecimento, tem evoluído

muito nas últimas décadas, focalizando, com maior freqüência, os elementos

formadores da dinâmica turística, seus reflexos sócio-econômicos e ambientais, bem

como questões relativas ao planejamento físico e operacional desta atividade.

Entretanto, poucas iniciativas têm sido registradas no campo dos estudos

organizacionais deste setor, e o que, em princípio, pode parecer um obstáculo ao

desenrolar dos trabalhos, apresenta-se, em seguida, como um forte motivador para o

cumprimento do objetivo acadêmico de trazer à tona novas abordagens e questões

para aprofundamento posterior.

A produção acadêmica em países com tradição na atividade do turismo, a

exemplo da Alemanha, da Inglaterra, da França, da Suíça, da Espanha, dos Estados

Unidos, dentre outros, apesar de ter sido iniciada no final do século XIX e nos primeiros

anos do século XX, teve sua produção cientifica intensificada a partir da Segunda

Guerra Mundial (REJOWSKI, 1996, p.17).

No âmbito supra-nacional, é importante destacar a atuação da Association

Internationale d’Experts Scientifiques du Tourisme – AIEST1, que em 1951 iniciou seu

papel de “catalisadora e precursora” de diversos estudos e pesquisas em turismo

(REJOWSKI, 1996, p.16). Ressalte-se ainda, nesse campo, a atuação da Organização

Mundial do Turismo – OMT, que tem buscado realizar e difundir novos estudos, mas

esses ainda muito centrados na análise de segmentos específicos e de indicadores de

performance da atividade.

Esses estudos e pesquisas têm servido de base para novas iniciativas em

outros paises emergentes como o México, o Brasil, a Austrália, a Nova Zelândia, dentre

outros. No Brasil, as iniciativas mais difundidas sobre os estudos acadêmicos em

turismo começaram na década de 70, embora tenham sido intensificadas somente

nesta última década, com a criação de centros de pesquisa em turismo em

universidades e faculdades de diversos estados brasileiros (REJOWSKI, 1996, p. 64). 1A tradução da denominação de AIEST é Associação Internacional de Especialistas Científicos de Turismo

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Como já referido anteriormente, este trabalho pretende examinar alguns

modelos de integração entre empresas, transportando-os para a realidade do turismo.

Primeiramente, será analisado o conceito de cadeia produtiva, que tem como essência

o modelo de cadeia de valores amplamente discutido e apresentado por Porter (1991) e

que, ultimamente, vem sendo aplicado, com freqüência, ao setor de turismo. Em

seguida, será estudado o modelo de cluster, hoje utilizado no estudo de muitos

segmentos produtivos, sobretudo, no setor industrial. Por último, passa-se a analisar o

formato de redes interorganizacionais, que ultrapassam os limites geográficos

propostos no modelo anterior, incorporando a macroespacialização, através da conexão

translocal.

O capítulo a seguir trata da abordagem conceitual do turismo, buscando

apresentar os referenciais que estruturam o marco teórico desta atividade, além de

alguns aspectos de evolução histórica, em geral, e no Estado da Bahia. Inclui ainda

alguns indicadores e tendências, de acordo com a literatura disponível.

O capítulo 2 introduz a questão dos modelos multiorganizacionais, focalizando

aspectos do desenvolvimento regional, suas principais correntes e finalizando com a

apresentação dos mais importantes conceitos de aglomerados de empresas

identificados a partir dos estudos de Marshall.

O capítulo 3 trata da caracterização geral do modelo de cadeia produtiva,

apresentando, em seguida, comentários sobre a iniciativas já efetuadas com vistas a

aplicação desse modelo no turismo. A título ilustrativo, é apresentado um comparativo

entre a cadeia produtiva do turismo e a cadeia produtiva industrial no setor têxtil,

comentando sua adequação ao setor de turismo.

O capítulo 4 caracteriza o modelo de clusters, na concepção de autores como

Michael Porter, Humphrey & Schmitz e Altemburg & Meyer-Stamer, cujos estudos se

concentram sobretudo no setor industrial. A aplicação de clusters em turismo é

apresentada e relacionada com as peculiaridades desse setor, seguida pela descrição,

em síntese, das iniciativas de sua aplicação no Brasil e na Bahia.

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O capítulo 5 apresenta o modelo de redes organizacionais (networking) nos

seus aspectos gerais, buscando ainda particularizar para o setor de turismo, sobretudo

na conexão entre produtores e distribuidores das regiões de destino e das regiões

emissoras, respectivamente.

As conclusões apresentam uma síntese dos principais aspectos levantados

sobre cada um dos modelos interorganizacionais, concluindo com indicação da

confirmação da hipótese proposta e com a indicação dos modelos mais adequados

para aplicação no turismo.

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1. MARCO CONCEITUAL DO TURISMO

1.1. Turismo é Serviço

Peter Hill (1977, p.315-338) afirma que o serviço é “uma transformação da

condição de um indivíduo ou de um bem pertencente a um agente econômico qualquer,

resultando da atividade de um outro agente econômico, sob pedido ou com o

consentimento do primeiro agente”. O foco conceitual de Hill reflete a preocupação de

identificar os agentes principais - prestador e beneficiário ou cliente, sejam indivíduos

ou organizações, interagindo em um determinado contexto e tendo como resultado a

produção ou modificação de uma situação. Essa “transformação” pode ocorrer sob a

forma de objetos ou sistemas materiais, informações ou condições físicas e intelectuais

de indivíduos, e é estabelecida em relações diretas ou indiretas.

O conceito básico de serviço, segundo Albrecht (2000, p.50-51), é “todo

trabalho feito por uma pessoa em benefício de outra”. Na sua proposta de traduzir uma

visão mais atual, o autor associa serviço à definição de qualidade concebida nas

últimas décadas e entendida como “[...] a medida em que uma coisa ou experiência

satisfaz uma necessidade, soluciona um problema ou agrega valor em benefício de

uma pessoa”. Como resultado, Albrecht afirma que “[...] serviço é todo trabalho que

agrega valor ao que uma pessoa faz em benefício de outra”. E acrescenta que qualquer

produto ou serviço oferece, de alguma forma, valor para o cliente.

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Na visão de Kotler (2000, p. 448), serviço é “[...] um ato ou desempenho

essencialmente intangível que uma parte pode oferecer a outra e que não resulte na

posse de um bem”. O autor chama atenção para quatro características principais dos

serviços: a) intangibilidade – não podem ser vistos ou testados antes da compra; b)

inseparabilidade – os serviços são, primeiro, vendidos e depois produzidos e

consumidos, ao mesmo tempo; c) variabilidade – a qualidade depende de quem, onde,

quando e como os serviços são executados, e d) perecibilidade – não possibilidade de

estocagem para venda ou uso futuro.

Kotler também se refere a questões como qualidade e diferenciação dos

serviços e afirma que as empresas desse setor podem se diferenciar através da

agregação de qualidade aos serviços prestados, de tal maneira que as expectativas dos

clientes sejam identificadas e convertidas em percepção positiva.

Nessas três definições, constata-se a tríade – agente / realidade modificada /

beneficiário – através da qual podem ser agregadas vantagens competitivas, que levam

à diferenciação do agente e da realidade modificada, cujo foco está centrado no

interesse do cliente. Em turismo, fica evidente essa natureza do serviço, que se

apresenta como a própria essência do produto, pois, mesmo incorporando todas as

possibilidades e avanços tecnológicos, não se dispensa a relação interpessoal, direta

ou indireta, entre clientes e fornecedores.

Assim, pode-se afirmar que o turismo é uma atividade sócio-econômica de

serviços, definida como “o movimento de pessoas, por tempo determinado, para

destinações fora do seu local de residência, e as atividades realizadas durante o tempo

de permanência nas localidades visitadas” (31º CONGRÉS de L’AIEST, 1981 ver

TURISMO:VISÃO E AÇÃO, 2000, p.25).

A ampliação desse conceito de turismo será discutida um pouco mais adiante,

neste mesmo capítulo, mas aqui interessa esclarecer que, conforme sua definição

básica citada acima, “[...] as atividades realizadas durante o tempo de permanência nas

localidades visitadas” são caracterizadas como serviços de turismo. Também

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acrescentam-se os serviços recebidos pelo cliente durante o processo de aquisição do

produto turístico, ainda na sua localidade de origem.

Por isso, entende-se que o turismo depende, fundamentalmente, da qualidade

do serviço oferecido ao cliente. O incremento na qualidade da experiência do visitante

significa agregar valor ao produto turístico, que por sua vez contribui para o aumento da

vantagem competitiva e de sua diferenciação no mercado global. Nos serviços, em

geral, mas sobretudo no turismo, uma das formas mais efetivas para se agregar valor é

a capacitação profissional para a “descomoditização” do serviço, ou seja, para chegar a

um relacionamento mais rico e duradouro com o cliente.

Albrecht (2000, p. 54) chama atenção para um desafio maior, que é “fazer de

forma diferente” e acrescenta:

O pacote de valor para o cliente é um conjunto de bens e experiências que

constituem uma oferta única, em torno do qual é possível gerar certo grau de

necessidade para o cliente. É uma proposta oferecida ao cliente que ninguém

mais lhe oferece. (ALBRECHT, 2000, p. 51)

A idéia de pacote de valor pode ser diretamente relacionada com o conceito de

pacote turístico, que significa a combinação dos serviços de viagem, hospedagem,

alimentação, passeios e entretenimento, geralmente organizados por operadores

turísticos e comercializados por agentes de viagem, a um preço único e diferenciado. O

pacote turístico era concebido como um produto padronizado, genérico e voltado para

atender grandes quantidades de clientes. Hoje procura-se, cada vez mais, agregar valor

à experiência do turista, através da produção de pacotes “descomoditizados”, isto é,

moldados para atender às necessidades e expectativas do cliente.

Dois outros aspectos importantes precisam ser assinalados em relação ao

turismo: o primeiro se refere ao fato de que, apesar de estar inserido,

predominantemente, no setor de serviços, possui na sua composição diversos

agregados dos setores primário e secundário, daí porque a mensuração do seus

impactos econômicos se constitui em tarefa complexa.

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23

O segundo aspecto importante é a dificuldade de estabelecer uma separação

conceitual em relação a outras atividades correlatas. Tomando como exemplo as

atividades de lazer e de recreação, pode-se afirmar que seus conceitos e campos de

atuação se misturam com o turismo, ficando, muitas vezes, difícil estabelecer qual

dentre elas se constitui no fato gerador capaz de dar sustentabilidade àquele conjunto

de serviços e atividades.

De acordo com Cooper et al. (1996, p. 5), lazer é a combinação entre tempo e

atitude mental, no qual o ser humano é capaz de dedicar períodos em que outras

obrigações são minimizadas. Pode ser também entendido como o tempo disponível

para um indivíduo, excetuando-se o trabalho, o sono e outras necessidades básicas. A

associação entre lazer e turismo se dá quando se procura concentrar o período de lazer

em um determinado espaço de tempo (férias, por exemplo), para distanciar-se do seu

local de residência e, com isso, exercitar o chamado turismo de lazer.

Já a recreação, segundo o autor, pode ser entendida como um conjunto variado

de atividades realizadas durante o tempo de lazer e, a depender da distância com que

essas atividades de recreação são realizadas em relação ao local de moradia, pode-se

classificá-las como atividades turísticas ou não. Para melhor explicar esta última relação

entre turismo e atividades recreativas, pode-se acrescentar que sua incorporação ao

turismo se dá quando as mesmas estão inseridas no tempo e programação das

viagens. As excursões, que na teoria de turismo significam viagens realizadas para fora

do local de residência e que duram menos de 24 horas, são o exemplo mais

representativo de atividades recreativas assemelhadas ao turismo, também conhecidas

como “turismo de 1 dia”.

A evolução experimentada nos últimos anos pelo setor de serviços e,

especificamente, no turismo, tem contribuído para o aumento da complexidade desse

setor, exigindo o estabelecimento de modelos administrativos e operacionais capazes

de articular os diversos atores envolvidos. Ressalte-se ainda as singularidades

inerentes aos serviços que, muitas vezes, não podem ser moldados em modelos

aplicados a outros setores produtivos como a indústria.

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O sub-item a seguir abordará, inicialmente, alguns aspectos da história recente

do turismo, para, em seguida, explicar alguns conceitos e modelos teóricos que

explicam a atividade.

1.2. Evolução do Turismo

O turismo, ao ser analisado como fenômeno que envolve viagens, vai encontrar

as suas origens em tempos remotos da civilização do homem. Entretanto, para este

trabalho que pretende tratar de algumas questões relacionadas a modelos

organizacionais interfirmas, decidimos tomar como referência a evolução da atividade

turística a partir da Segunda Guerra Mundial.

Vários fatores contribuíram para a expansão do turismo como atividade

econômica a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Destacam-se : a) redução da

jornada de trabalho e introdução de férias remuneradas; b) elevação do nível

educacional, com a abordagem de conhecimentos que passaram a despertar o

interesse por conhecer outros lugares no mundo; c) melhoria nos sistemas de

transportes, incluindo a evolução da aviação comercial e dos acessos rodoviários e

ferroviários; d) dispersão do desenvolvimento econômico, crescendo em paralelo o

volume de viagens de negócios; e) aumento da renda per capita disponível para

viagens, dentre outros.

Até o início da década de 50, observava-se que cada atividade de suporte ao

turismo era prestada de forma isolada e muito pouco era feito para integrar os diversos

serviços. Foi durante a década de 50 que se passou a dar maior ênfase à integração

dos diversos prestadores de serviços e, nessa mesma época, também constatou-se

que o movimento de viagens em todo o mundo passou a influenciar o surgimento de

atividades complementares e/ou de apoio aos tradicionais setores de hotelaria,

alimentação e transportes, a exemplo de fornecedores especializados em

equipamentos e utilidades, além do crescimento da produção e do comércio de

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souvenirs e outros produtos típicos dos principais centros receptores de turistas. Além

disso, ocorreu um aumento significativo do número de agências de viagens/operadoras.

Em 1945, as companhias aéreas fundaram a Associação Internacional das

Transportadoras Aéreas, a IATA (International Air Transport Association) e, em 1949,

iniciou-se a venda de pacotes turísticos com transporte aéreo. Durante a década de 50,

as viagens internacionais de férias se multiplicaram, dando início ao desenvolvimento

do chamado “turismo de massa”. Nas décadas de 60 e 70, segundo Oliveira (2000,

p.25), os agentes de viagens passaram a utilizar novas técnicas de administração e

marketing, fazendo uso da informática e dos meios de comunicação disponíveis na

época, em suas rotinas operacionais. Isto também proporcionou maior estreitamento

das relações entre os diversos prestadores de serviços integrantes dos pacotes

turísticos (hotéis, receptivos, companhias aéreas, etc.), criando ambiente propício à

multiplicação dos negócios, inclusive à longa distância.

Em paralelo ao movimento organizativo observado pelo lado da oferta de bens

e serviços destinados ao turismo, que por sua vez já estimulava novos fluxos de

viagens, começaram a surgir demandas por novos interesses de viagens, a exemplo de

diferentes formas de esportes e lazer, intercâmbio cultural, visita a sítios históricos

revitalizados e a parques naturais, além da fuga dos rigores do inverno nórdico para

regiões litorâneas ao sul. Pode-se dizer, então, que esses novos motivadores de

demanda desencadearam o processo de segmentação do turismo, reconhecido

atualmente como um dos principais mecanismos de expansão e especialização do

setor.

A evolução da atividade turística e sua repercussão na geração de renda local e

no ingresso de divisas para diversos países, notadamente do continente europeu, que

se encontrava em período de recuperação pós-guerra, já sinalizava, àquela época, para

a importância que o turismo seria capaz de assumir na economia mundial. O assunto,

então, começava a ocupar lugar de destaque na Agenda Internacional.

Em 1963, as Nações Unidas organizaram uma conferência sobre viagens e

turismo, em Roma, na qual foram recomendadas definições para “visitante”, “turista” e

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“excursionista”, cuja utilização se daria essencialmente para fins de contagem

estatística. Como “visitante” ficou definido ser qualquer pessoa em visita a um país ou

região diferente do seu local de residência, por qualquer motivo exceto para exercer

atividade remunerada no local visitado. A definição de “turista” foi estabelecida com a

particularidade de ser um visitante temporário que permanece mais de vinte e quatro

horas, ou seja, realiza um pernoite no local visitado e pode ser classificado com os

seguintes motivos: a) lazer (recreação, férias, saúde, estudos, religião e esportes), e b)

negócios, missões, encontros, congressos e conferências, além de visita a parentes e

amigos. Por último, a definição de “excursionista”, que foi concebido como o visitante

que permanece menos de vinte e quatro horas no local visitado, incluindo o viajante de

cruzeiros marítimos. (MATHIESON e WALL, 1992, p. 11).

Outro marco importante da estruturação do turismo, ocorrido logo após a

Segunda Guerra Mundial, no âmbito internacional, foi a transformação da União

Internacional dos Organismos Oficiais de Promoção Turística – UIOOPT, uma

organização não-governamental que já existia desde 1925, em Haia, em União

Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo – UIOOT2, com sede em Genebra.

No ano de 1967, foi constatada a necessidade de se criar uma organização

intergovernamental de turismo que tratasse de todos os assuntos deste setor, para

cooperar e fazer parte do sistema das Nações Unidas, como executor do Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. A UIOOT foi transformada em

Organização Mundial do Turismo – OMT, realizando sua primeira Assembléia Geral em

1975 e, a convite do Governo Espanhol, instalou sua Secretaria Geral em Madri.

A OMT é um organismo supra-nacional de turismo, que tem como objetivo

fundamental, segundo o Artigo 3º de seu Estatuto:

Promoção e desenvolvimento do turismo, com vistas a contribuir para o

desenvolvimento econômico, a compreensão internacional, a paz, a

prosperidade e o respeito universal, a observância dos direitos humanos e das

liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou

religião.

2 Tradução da denominação original: International Union of Official Travel Organizations – IUOTO.

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Dentre as principais funções da OMT, destacam-se: a) transferência de

conhecimento e tecnologia para promoção do desenvolvimento sustentável do turismo;

b) elaboração das estatísticas internacionais e avaliações econômicas do turismo; c)

desenvolvimento de Recursos Humanos. Além dessas, cabe lembrar o papel da OMT

como instância superior de convergência das questões relacionadas ao turismo, que,

ao mesmo tempo, atua na mediação de novas discussões e na identificação de novas

alternativas e cenários sustentáveis para as diferentes regiões turísticas do planeta.

Os dados de fluxo e receita consolidados pela OMT nos últimos cinqüenta anos

(1950 a 2000) comprovam a importância do turismo na economia mundial. Comparando

os resultados das cinco últimas décadas, contidos no quadro 1 a seguir, pode-se avaliar

a expansão do turismo como um fenômeno mundial capaz de interconectar regiões e

países desenvolvidos e em processo de desenvolvimento. Dentre os aspectos

relevantes pode-se afirmar que o turismo contribui, sob diversas formas, para

redistribuição de renda, intercâmbio cultural, promoção social e entendimento entre

povos e nações.

Entretanto, vale assinalar também a existência de correntes do pensamento

que atribuem ao turismo uma série de efeitos indesejáveis, que são opostos aos efeitos

positivos referidos acima: concentração de renda, descaracterização de culturas frágeis,

discriminação social e conflitos entre turistas e anfitriões. Tais impactos negativos

podem, efetivamente, ser observados em destinos nos quais o turismo ocorre de forma

espontânea e sem uma preocupação com o planejamento e a profissionalização dessa

atividade.

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Quadro 1 EVOLUÇÃO DO FLUXO E RECEITA DO TURISMO NO MUNDO Chegadas Internacionais 1950 – 2000*

FLUXO TURÍSTICO RECEITA TURÍSTICA ANO

TOTAL DE TURISTAS

Em mil

VARIAÇÃO S/

PERÍODO ANTERIOR (%)

RECEITA TOTAL Em US$ milhões

VARIAÇÃO S/

PERÍODO ANTERIOR (%)

1950 25.282 - 2,100 -

1960 69.296 174,1 6,867 227,0

1970 159.690 130,4 17,900 160,7

1980 284.841 78,4 102,372 471,9

1990 454.800 59,7 255,000 149,1

2000* 698.300 53,5 476,000 86,7

Fonte: OMT, 2001.

Nota: * Dados Preliminares

Os resultados apresentados no quadro anterior demonstram uma evolução

crescente nos últimos cinqüenta anos, embora, em termos relativos, esse crescimento

tenha sofrido uma desaceleração, que pode ser considerada compatível com a

magnitude dos volumes globais observados nos últimos anos.

Segundo declarações do Secretário Geral da OMT, Francesco Frangialli, (2001,

p. 1) “o turismo, na virada do século, está crescendo mais rápido do que nossas

previsões mais otimistas”3. Nesse mesmo período, as receitas cresceram 4,5%. Pelas

previsões da OMT, estima-se que em 2010 o turismo terá atingido 1 bilhão de chegadas

internacionais, representando um incremento de 44% e, em 2020, esse volume atingirá

3 Esta e as demais citações de textos em idiomas estrangeiros são traduções de nossa autoria e responsabilidade.

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1,6 bilhão, correspondendo a 60% de acréscimo. O documento da OMT, intitulado

Turismo:Panorama 2020, revela que as viagens internacionais de longa distância

alcançarão um crescimento médio anual mais acelerado (5,2%) do que as viagens intra-

regionais (3,8%), nos próximos vinte anos. A média geral de crescimento anual,

esperada até 2020, deverá aproximar-se dos 4%.

Entretanto, é importante salientar que a OMT, apesar de reconhecer em seus

relatórios e documentos a importância do turismo interno, não tem trabalhado com a

mensuração desse movimento. Autores como Vellas & Bécherel (1995, p. 3).indicam

que o turismo interno hoje representa mais de 80% de todo o movimento turístico

mundial.

Para o Brasil, as estimativas de observadores internacionais, como as

consultorias contratadas pelo BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento, revelam

que o país deverá contar, em 2003, com um total de 53 milhões de viagens internas,

significando 38,7% a mais do que o correu em 1998. Esses dados divulgados pela

Embratur e OMT para o Brasil, em 1998, permitem constatar a proporção de 87 e 13 %,

respectivamente, pois fala-se de cerca de 38 milhões de viagens internas, contra uma

chegada de 4,8 milhões de turistas estrangeiros.

Se forem analisados os dados da Bahia no ano 2000, segundo registros da

BAHIATURSA, verifica-se que dos 4,2 milhões de turistas, 297 mil eram estrangeiros,

correspondendo, esses últimos, a 7% do fluxo global no ano passado.

1.3. Elementos e Características do Turismo

A definição de turismo, apresentada anteriormente, aborda três aspectos

importantes do fenômeno – o deslocamento de pessoas, a temporalidade e as

necessidades do indivíduo fora de seu local habitual – concentrando-se, sobretudo, no

local em que ocorrerá o “consumo” desse produto. Complementando esse conceito

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básico, pode-se acrescentar que este setor econômico engloba, além das atividades

realizadas no destino turístico, aquelas exercidas pelos diversos fornecedores de

produtos e serviços turísticos que se situam nos chamados núcleos emissores.

Há, portanto, a necessidade de se incorporar sempre a perspectiva do ambiente

emissor e receptor, conforme pode ser representado na figura 1, a seguir:

− −

− ÃO E BEBIDAS

− − −

− ISMO

HOSPEDAGEM ALIMENTAÇANIMAÇÃO ATRAÇÕES TURÍSTICAS COMÉRCIO E SERVIÇOS TURÍSTICOS RECEPTIVOS OUTROS SERVIÇOS DE APOIO AO TUR

CANAIS DE TRANSPORTES

E COMUNICAÇÕES

SERVIÇOS DE RESERVAS OPERADORES TURÍSTICOS AGENTES DE VIAGENS MARKETING E PROMOÇÃO

RETORNO DE TURISTAS

AMBIENTES: físico, tecnológico, social, cultural, econômico, político

REGIÃO DE TRÂNSITO

PARTIDA DE TURISTAS REGIÃO DE DESTINO TURÍSTICO (RECEPTORA)

REGIÃO GERADORA DE TURISMO(EMISSORA)

Figura 1 - SISTEMA TURÍSTICO

Fonte: Adaptação de ( LEIPER apud COOPER et al. 1996, p. 3).

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O modelo de Leiper, também adotado por Cooper et al.(1996, p. 3), foi

apresentado em 1979 e atualizado em 1990, considerando três elementos básicos:

O turista, como principal ator do sistema

O espaço geográfico – regiões geradora, receptora e de trânsito

Os negócios e instituições envolvidos na concretização do produto turístico,

que o autor denomina de “indústria do turismo”

Dependendo da amplitude do espaço geográfico estudado - macro-regiões

continentais, países, regiões intra-nacionais, estados, zonas turísticas, municípios,

localidades - as denominadas regiões emissoras e receptoras de turismo podem ser as

mesmas, embora os fenômenos emissivos e receptivos sejam registrados sob óticas

distintas. Isto é, o movimento emissor pode ser comparado ao processo de importação

de produtos, e o movimento receptivo equivale ao processo de exportação.

Segundo Mathieson e Wall (1992, p. 38), o turismo apresenta quatro

particularidades que o distinguem das demais atividades que envolvem transações

internacionais:

a) é um “bem invisível” de exportação, porque gera um expressivo fluxo de ingresso de

divisas, mas não existe um produto a ser embarcado de um local para outro; é,

geralmente, consumido no local onde é produzido;

b) os destinos turísticos requerem bens e serviços auxiliares, criando-se oportunidades

para a geração de negócios diretos, indiretos e induzidos;

c) é um produto fragmentado e, ao mesmo tempo, capaz de integrar-se ou afetar

diretamente outros setores da economia, e ;

d) é uma atividade altamente instável, sujeita a fortes variações sazonais, a influências

externas imprevisíveis, a natureza heterogênea das motivações e expectativas dos

turistas.

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Duas dimensões importantes podem ser estabelecidas no contexto do turismo:

a primeira se refere à denominada “indústria do turismo”, caracterizada por Leiper como

o conjunto de empresas prestadoras dos serviços de hospedagem, alimentação,

transporte, agenciamento, entretenimento e outros fornecedores que compõem o

produto turístico (ver COOPER et al., 1996, p. 3). Nessa dimensão são estabelecidas as

relações setoriais diretas de produção, destinadas a atender às necessidades de seus

consumidores, os turistas.

A segunda dimensão, denominada “economia do turismo”, assume um espectro

mais amplo porque essa “indústria” passa a ser posicionada no contexto da economia

mundial, relacionando-se direta e indiretamente com outros setores produtivos, na

condição de indutor ou supridor de demandas, gerando agregados à renda e ao produto

nacional. O turismo, nesta segunda acepção, significa a movimentação de riquezas

entre setores e regiões, da ordem de 11 % do Produto Interno Bruto Mundial e gera

mais de 260 milhões de empregos, que equivalem a cerca de 10% da força de trabalho

mundial (LAGE & MILONE, 2000, p. 117).

Com base no gasto do turista pode-se avaliar o impacto gerado pelo turismo na

economia de um país ou região, utilizando-se metodologias que quantificam seus

impactos diretos e indiretos. Dentre elas, o efeito multiplicador de gasto turístico é uma

técnica que se refere ao número de vezes que esse gasto circula na economia local.

A matriz do efeito multiplicador elaborada por Inskeep (1991, p. 388), a partir de

informações oriundas de OMT – Organização Mundial de Turismo, representa os três

primeiros “rounds” geralmente realizados pelo gasto turístico. Pela estrutura do gasto

turístico direto (primeiro round) verificam-se os serviços ou produtos comprados

diretamente pelo turista; em segundo round encontram-se os gastos efetuados pelas

empresas turísticas e, finalmente, o terceiro round refere-se aos beneficiários finais, ou

seja, aos diversos prestadores de serviços que se integram na atividade turística.

No Brasil, outro estudo dessa natureza, a matriz de produtos encomendada

pela Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo, ao IBGE - Instituto Brasileiro de

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Geografia e Estatística, revelou que “[...] o turismo tem impacto direto sobre 52 itens da

economia de um município” (CARVALHO, 1998, p. 27).

Em comum, tanto a matriz apresentada por Inskeep (1991, op.cit. p. 388 )

quanto a apresentada pela Embratur/IBGE apontam para 52 beneficiários finais na

economia de um destino turístico.

A figura 2, a seguir, apresenta a matriz elaborada por Inskeep:

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FLUXO DO GASTO DO TURISTA NA ECONOMIA - EFEITO MULTIPLICADOR

Turistas gastam com: Empresas Turísticas gastam com: Beneficiários finais

Evasão por importações

Açougueiros Arquitetos Arrumadeiras Artesanatos(lojistas e artesãos) Auxiliares Administrativos Bancários Bilheteiros Carpinteiros Carros de aluguel Cinemas Clínicas Concessionários de serviços públicos Confeiteiros Contadores Cozinheiros Dentistas Despachantes Diaristas Editores e gráficas Eletricistas e encanadores Engenheiros Estabelecimentos atacadistas Fábricas de automóveis Fazendeiros Governo Hortaliceiros Instituições de caridade Instituições de ensino Jardineiros Lavanderias Lojas Lojas de Departamentos Lojas de móveis Lojas de presentes Lojas de roupas Médicos Meios de Transporte Oficinas mecânicas Organizações culturais Padeiros Pescadores Pintores Porteiros Postos de gasolina Publicitários Químicos Resorts Restaurantes Seguradoras Serviços de praia Táxis Trabalhadores da Indústria

Salários e remunerações Gorjetas e cortesias Impostos Comissões Atrações e direitos autorais Gastos administrativos e gerais Serviços profissionais Compra de alimentos e bebidas Compra de materiais e suprimentos Manutenção Propaganda, publicidade e promoções Energia, água e gás Transporte Licenças Prêmios de Seguros Aluguéis e Arrendamentos Juros e amortizações de empréstimos Outras taxas Remuneração e reposição do capital

Acomodação Alimentação Bebida Entretenimento Vestuário Presentes e souvenirs Fotografias Cuidados pessoais, remédios e cosméticos Transporte interno Passeios e opcionais Diversos serviços e utilidades

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Retornando ao modelo de Leiper, referenciado anteriormente, considera-se o

turista como o principal ator do processo turístico, condicionando os demais elementos

aos seus interesses e expectativas. Por isso, é importante destacar que esses turistas

se caracterizam em grupos heterogêneos, em termos de personalidades, origens e

experiências. Existem várias maneiras de classificá-los, das quais as mais utilizadas

são:

Pela natureza da viagem:

o doméstica e internacional

Pelo motivo da viagem:

o lazer e recreação – incluindo férias, turismo cultural e esportivo e visita a

parentes e amigos

o assuntos profissionais – incluindo negócios, encontros, congressos,

missões e turismo de incentivo

o outros – incluindo estudos, saúde, religião, etc.

Pelo segmento de turismo:

o ecoturismo, náutico, sol e praia, rural, cultural, esportivo, dentre outros

Pelo tipo de acomodação:

o fluxo hoteleiro e extra-hoteleiro

Todas as categorias acima se constituem em importantes indicativos, não

somente para fins estatísticos, como também são ferramentas auxiliares ao marketing e

ao planejamento dos negócios diretos e indiretos do turismo. O conhecimento e a

categorização do movimento turístico fornece também subsídios aos estudos e

pesquisas em turismo, um campo de investigação cada vez mais amplo e

especializado.

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A acumulação desses conhecimentos sobre a atividade turística e suas

repercussões tem feito surgir um conjunto de referenciais teóricos, sendo uma parte

importada de outras ciências e outra sistematizada dos conhecimentos empíricos do

próprio setor. Por isso, surge a necessidade de recorrer a diversas áreas das ciências e

do conhecimento (geografia, economia, psicologia, sociologia, antropologia,

biologia,dentre outros) para, de forma transdisciplinar4, entender e organizar o que se

constitui, no presente, a atividade econômica que mais gera receitas por exportações

no Planeta, segundo declara a OMT5.

A título de ilustração, vale a pena mencionar a contribuição aos estudos da

localização do turismo e sua importância econômica, resgatada por Mello e Silva (1996,

p. 123-127), com base na Teoria das Localidades Centrais, do geógrafo alemão Walter

Christaller (1933), que propõe a análise do lugar ocupado por qualquer tipo e atividade

econômica. Mello e Silva (1996, op.cit. p. 26) ressalta que apenas o turismo se

relaciona com a periferia das áreas densamente povoadas, pois evita os lugares

centrais e as aglomerações industriais, sendo, portanto, “uma atividade que tem forças

para combater a concentração” e “um meio para se atingir o desenvolvimento

econômico em regiões periféricas”.

Ao justificar a sub-divisão da Geografia do Turismo, segundo a localização, Mello

e Silva confirma a sua preferência pela perspectiva espacial, em vez de setorial. “Os

fatores locacionais são: atrações do clima e paisagem, possibilidades para a prática de

esportes, fontes com qualidades terapêuticas, tesouros artísticos e antiguidades,

perspectivas históricas e culturais, especialidades econômicas e peculiaridades”

(CHRISTALLER, apud MELLO E SILVA, 1996 p. 124).

4 Transdisciplinaridade diz respeito ao que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina (NICOLESCU, 2000, p.15). 5 A OMT - Organização Mundial de Turismo compara as receitas por exportações no mundo, em 1998, e afirma que o turismo foi responsável por pouco mais de US$ 550 bilhões, seguido pela industria automobilística com US$ 547 bilhões e produtos químicos com US$ 520 bilhões. Dados apresentados durante a Conferencia Preparatória para el Aňo Internacional Del Ecoturismo, 2002, Cuiabá, 22-24 ago. 2001, apresentado por Carlos Gutierrez, representante regional para as Américas.

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1.4. O Futuro do Turismo

O turismo, por ser uma atividade que atua diretamente sobre o ambiente natural

e cultural das localidades receptoras, produz uma série de impactos, não somente

positivos, mas também negativos. Durante muito tempo, os estudos sobre turismo

ocupavam-se em relatar apenas os aspectos positivos da atividade, mas, com o passar

do tempo e o seu crescimento acelerado nos últimos 50 anos, começaram a se

observar conseqüências negativas, tanto nos aspectos sócio-culturais quanto

ambientais e econômicos.

Observam-se dois aspectos peculiares relacionados aos impactos negativos

decorrentes do turismo: a) esses impactos são, geralmente, resultantes de um processo

de mudança que se observa ao longo do tempo, e raramente, resultam de eventos

pontuais ou de uma causa específica. São cumulativos e, muitas vezes, difíceis de

serem atribuídos diretamente ao turismo, e; b) a ocorrência desses impactos, tanto em

intensidade, quanto em causas específicas, está diretamente relacionada às

características sócio-ambientais locais, sendo mais difícil uma previsão. Às vezes, o

mesmo tipo de atividade turística provoca conseqüências diferentes, de acordo com as

condições locais (RUSCHMANN, 1997, p. 34).

Acredita-se que o desenvolvimento do turismo em bases planejadas, contando

com os devidos mecanismos de controle e monitoramento, poderá alcançar a redução

dos seus impactos negativos. Em março de 1990, durante a conferência Globo’90, em

Vancouver – Canadá, o Comitê de Ação Estratégica para o Turismo estabeleceu alguns

princípios e conceitos sobre o turismo e o desenvolvimento sustentável. Os três

princípios do desenvolvimento sustentável são:

A sustentabilidade ecológica, que assegura que o desenvolvimento

seja compatível com a manutenção dos processos ecológicos vitais,

garantindo a diversidade dos recursos biológicos;

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A sustentabilidade sócio-cultural, que garante que o desenvolvimento

aumenta o controle das pessoas sobre suas vidas, compatibilizando a

cultura e os valores das comunidades, mantendo e fortalecendo a

identidade local; e

A sustentabilidade econômica, que assegura que o desenvolvimento é

economicamente eficiente e os recursos são geridos adequadamente.

Para estabelecimento do conceito sobre desenvolvimento sustentável do

turismo, o comitê da Globo’90 tomou como base os princípios emitidos pela Comissão

Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Our Common Future (1987),

contido no Bruntland Report, evoluindo para o seguinte texto:

O Desenvolvimento Sustentável do Turismo é concebido como o principal meio

de gestão de todos os recursos de tal maneira que podemos atender às

necessidades econômicas, sociais e estéticas, mantendo ao mesmo tempo a

integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica

e os sistemas de suporte da vida. (GLOBE’90 apud INSKEEP,1991, p.459-467)

Devido às características de fragmentação e multisetorialidade inerentes ao

turismo, observa-se como de vital importância para o seu desenvolvimento de forma

sustentável a ação proativa do poder público, na definição de políticas gerais,

mecanismos regulatórios, controle ambiental, além da provisão da infra-estrutura

básica, que atende primeiramente às populações residentes e também a outras

atividades produtivas. Na opinião de Cooper et al. (1996, p. 145), em regra geral,

quanto maior é a importância do turismo para a economia de um país ou região, maior

será o envolvimento do setor público. Ruschmann (1997, p. 155) também registra que é

“histórica” a vinculação do êxito do turismo com a ação de liderança exercida pelo

Estado.

Segundo Mendonça et al. (2000, p. 47), os desafios e tendências que se

apresentam para o futuro da atividade turística apontam para mudanças profundas,

tanto no perfil do consumidor, nas características do produto, como também no

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mercado em nível mundial. Pelos prognósticos efetuados por Cooper et al. (1996, p.

265-271), destacam-se:

O “novo” consumidor de turismo está melhor informado, podendo discernir

sobre seus interesses, procurando qualidade e participação. Tem

aumentado muito o grupo de idade mais avançada. Está deixando de

preferir as férias passivas sob o sol e buscando experiências que o

enriqueçam culturalmente e satisfaçam sua curiosidade.

O “novo” turista é caracterizado como mais experiente e mais sofisticado,

demandando mais serviços. Isto significa que as tradicionais férias anuais

da família, no resort de praia, serão gradualmente substituídas por viagens

inovativas, com programações personalizadas. Assim, o pacote turístico

padrão perderá espaço para o plano individual de viagens.

Em todo o mundo, cresce a tendência pelos transportes turísticos de

superfície (trens ultra-rápidos e automóveis mais confortáveis), com auto-

estradas mais seguras, além de catamarans, reduzindo o tempo das

jornadas por via marítima.

A oferta turística terá que ser mais profissionalizada, em aspectos de

instalações e de qualificação da mão-de-obra. A qualidade dos serviços

prestados será uma vantagem competitiva para as empresas que investirem

no capital humano, pois isto é o que deverá "fazer a diferença”.

O avanço tecnológico promoverá o estreitamento de relações entre as

empresas de turismo e seus consumidores, criando base de dados e

mecanismos de marketing de relacionamento.

O desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis, e ambientalmente

adequado, substituirá gradualmente o turismo massivo e agressivo ao meio

ambiente.

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Essas perspectivas e tendências apontam ainda para um aumento da

complexidade da atividade turística, o que impõe a necessidade de se buscar novos

modelos organizacionais, tanto para atender às novas demandas dessa atividade,

como também para auxiliar nos processos de planejamento e monitoramento impostos

pelos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável do turismo.

1.5. O Turismo na Bahia

Na Bahia, as primeiras iniciativas em favor do desenvolvimento do turismo

foram tomadas pela Prefeitura Municipal de Salvador, nos primeiros anos da década de

50, com a criação da taxa municipal de turismo (1951), do Conselho de Turismo de

Salvador e de uma Diretoria Municipal de Turismo que, posteriormente, passou a ser

Superintendência de Turismo de Salvador - SUTURSA, desenvolvendo, nessa mesma

época, um plano municipal de turismo (GAUDENZI, 2001, p. 78).

Posteriormente, já em meados da década de 60, o Governo do Estado criou um

departamento de turismo com a missão de elaborar um plano de fomento ao turismo e

administrar as estâncias hidrominerais do Estado. Dois anos mais tarde, em 1968, é

criada a Bahiatursa – Hotéis de Turismo da Bahia S.A., com o objetivo de construir e

administrar os hotéis pertencentes ao Estado (Cipó, Itaparica, Juazeiro e Barreiras). Em

1971, os assuntos relativos ao turismo passam a integrar a Secretaria da Indústria e

Comércio, “numa demonstração clara da importância econômica conferida à atividade

turística” por parte do Governo do Estado da Bahia, segundo Gaudenzi (2001, op. cit. p.

79).

Em 1973, a Bahiatursa passa a denominar-se Empresa de Turismo da Bahia

S.A., assumindo a implementação da política estadual de turismo, que envolvia ações

de interiorização do turismo, capacitação de mão-de-obra, promoção do produto Bahia

nos mercados emissores nacionais e internacionais, atendimento empresarial de apoio

a novos empreendimentos turísticos, além da construção, através de sua subsidiária

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EMTUR, de meios de hospedagem em localidades estratégicas para o desenvolvimento

de novos destinos turísticos, a exemplo de Lençóis, Valença, Jacobina, Cachoeira,

Prado, Camamu, dentre outros. Em meados da década de 80, a Bahia já recebia 2,1

milhões de turistas, distribuídos nos diversos destinos, dos quais Salvador representava

cerca de 65% do fluxo global, segundo dados registrados pela Bahiatursa.

Segundo Gaudenzi (2001, op. cit. p. 79-109), ao longo dessa trajetória de

desenvolvimento da atividade turística, a Bahia definiu quatro grandes estratégias: na

primeira, denominada Plano de Turismo do Recôncavo (1970), foram traçadas as

bases para o desenvolvimento do turismo em Salvador e no seu entorno; na segunda,

denominada Caminhos da Bahia (1979), adotou-se como estratégia a

descentralização do espaço turístico do Estado, reforçando e criando novos destinos e

produtos, através da ação de construção de meios de hospedagem, promoção turística

e capacitação de recursos humanos.

A terceira estratégia, denominada Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia – PRODETUR /BA, o Estado distancia-se mais da atividade empresarial do

turismo, passando a assumir o papel de indutor desta atividade, provendo a infra-

estrutura pública necessária, liderando as ações de marketing e atuando na

capacitação dos recursos humanos para o turismo. Em 1991, o Governo da Bahia,

através da BAHIATURSA, contratou consultorias especializadas, que, após amplo

levantamento de todos os atrativos existentes no Estado, identificaram e mapearam as

melhores localizações para implantação de Centros Turísticos Integrados.

Considerando a grande dimensão territorial do Estado e sua enorme vocação para o

turismo, foram criadas, então, sete zonas prioritárias, dando-lhes a denominação

característica da sua identidade física e temática. São elas: Costa dos Coqueiros, Baía

de Todos os Santos - incluindo Salvador, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa do

Descobrimento, Costa das Baleias e Chapada Diamantina (MENDONÇA et al., 2000, p.

57).

O estabelecimento das zonas turísticas deveu-se à constatação da qualidade

dos atrativos turísticos, a existência de um produto turístico já conhecido e colocado à

venda pelos operadores turísticos, além de recursos naturais preservados, com áreas

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disponíveis para implantação de complexos turísticos e a capacidade de implantação

de infra-estrutura receptiva, sem prejuízos aos recursos naturais e ao meio ambiente.

Em pesquisa realizada com operadores turísticos nos principais mercados emissores

nacionais e internacionais, identificou-se que os produtos com maior demanda potencial

seriam aqueles que possuíssem algumas características próprias, tais como: países

exóticos, culturas diferenciadas, ambientes ecologicamente preservados e locais de

praia e sol. (BAHIATURSA, 1992, p. 36-74)

A preferência da maioria dos operadores pesquisados era de que estes itens

estivessem concentrados em um mesmo local, ou seja, destinos turísticos integrados, o

que justificaria então a concepção desses centros pelo governo. Deveriam também

estar localizados à curta distância de aeroportos com capacidade de operação com

jatos, conforme exigências para o incremento do fluxo de turistas, sobretudo

internacionais. Identificou-se, ainda, a necessidade da implantação de um programa

arrojado de promoção mercadológica dos produtos desenvolvidos, aliado à procura por

acordos com companhias aéreas e operadores de vôos charter, visando a inclusão da

Bahia em suas rotas, além da obtenção de tarifas aéreas mais atrativas.

O documento final do PRODETUR-BA foi concluído em Dezembro de 1992,

contendo as bases da estratégia para o desenvolvimento do turismo no Estado.

Concluída esta fase preliminar, iniciaram-se as gestões na identificação de recursos

financeiros para sua implementação. Apresentou-se também Carta-Consulta ao Banco

Interamericano de Desenvolvimento – BID, na qual o Governo do Estado, juntamente

com os outros oito estados do Nordeste, pleiteavam um financiamento de longo prazo

para investimentos em infra-estrutura pública em localidades pré-selecionadas.

O PRODETUR/BA foi concebido para 20 anos, prevendo-se uma ação

integrada entre órgãos dos poderes públicos em nível federal, estadual e municipal,

além da iniciativa privada. O Programa conta com investimentos oriundos não só dos

organismos financeiros oficiais do PRODETUR - NE, que são o BID e o Banco do

Nordeste, como também de outros, a exemplo do BNDES, EMBRATUR e,

principalmente, do Tesouro do Estado da Bahia.

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O estudo de caso sobre o desenvolvimento do turismo no Estado da Bahia,

realizado por Mello e Silva (1996, p. 129-140), tomou como base os princípios da

geografia econômica sobre “centralidade e periferização”. Segundo o autor, a Bahia é

um exemplo típico da expansão do turismo no sentido centro – periferia, capaz de

promover o crescimento local/regional em áreas desprovidas de outras alternativas

econômicas.

A quarta estratégia, que começa a se delinear no ano de 2000 e convive em

paralelo com a terceira, é denominada Cluster do Entretenimento da Bahia – A Bahia no século XXI, e é uma iniciativa liderada pelo Governo do Estado, que propõe a

integração dos setores empresariais do turismo, da cultura, do lazer e dos esportes,

para, em conjunto com o Governo, alcançar novos patamares competitivos para o

produto Bahia.

Acredita-se que esta quarta estratégia dependerá muito mais da iniciativa

privada do que, propriamente, de uma decisão de governo, pois a criação de clusters,

normalmente, é lastreada em decisões empresariais. Entretanto, o governo já vinha

adotando algumas iniciativas dentro do PRODETUR / BA, no sentido de criar um

ambiente favorável à estruturação integrada do setor empresarial da cultura e do

turismo, aproximando esses dois segmentos com a criação, em 1995, da Secretaria da

Cultura e Turismo. Esses dois setores se apresentam em franca expansão no Estado,

devido, principalmente, às características culturais da Bahia.

O turismo, nos moldes vivenciados pelo Estado da Bahia, pode também ser

tomado como exemplo de estratégia de desenvolvimento, adotada por destinos

turísticos, nessas três últimas décadas. As correntes de desenvolvimento regional,

apresentadas no capítulo 2, a seguir, explicam as diferentes tendências e modelos

adotados ultimamente nos diversos setores de atividade, tanto nos países

desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento.

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2. OS MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS

2.1. Desenvolvimento Regional: nova ótica

O desenvolvimento regional pode ser apresentado em duas correntes

principais, de acordo com suas origens e processos de instalação. A primeira está

relacionada ao planejamento centralizado de um Estado Nacional, também entendido

como desenvolvimento “de cima para baixo”. A história econômica associa essa

corrente aos grandes projetos estruturantes (a exemplo dos complexos industriais), que

foram concebidos a partir de uma política voltada para a produção nacional. Nessa

linha de pensamento, Almeida (2001, p. 15) cita Perroux, que define desenvolvimento

econômico da seguinte forma:

[...] a mudança estrutural provocada no espaço econômico pela expansão destes

núcleos de indústrias dinâmicas Os pólos de crescimento industrial iniciariam o

processo que seria, em seguida, difundido ao resto da economia por efeitos

multiplicadores e aglomeração sobre o investimento, a renda e o emprego,

incluindo a multiplicação de pequenas empresas.

A segunda corrente, também conhecida como desenvolvimento endógeno, ou

ainda desenvolvimento local, propõe um movimento “de baixo para cima” e, mesmo nos

dias atuais, é caracterizada como forma alternativa de desenvolvimento. É estabelecida

a partir do sistema produtivo local, aproveitando as suas potencialidades sócio-

econômicas intrínsecas. A esta, se vinculam vários conceitos que serão apresentados

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no decorrer deste trabalho. Bacelar (2000) argumenta que o desenvolvimento local é

resultante da capacidade dos atores locais se estruturarem e se mobilizarem, tendo

como base não somente suas potencialidades, mas também sua matriz cultural. Nas

palavras de Amaral Filho (1999, p. 1.282), “desenvolvimento endógeno” pode ser

entendido como:

[...]um processo de crescimento econômico implicando uma contínua ampliação

da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem como da

capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do

excedente econômico gerado na economia local, e/ou a atração de excedentes

provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação

do emprego, do produto e da renda local ou da região mais ou menos definido

dentro de um modelo específico de desenvolvimento regional.

A partir do final da década de 80, tem-se acrescentado ao desenvolvimento

regional a noção de sustentabilidade, considerando–se, além dos fatores sócio-

econômicos, a preocupação sócio-ambiental. Buarque (1996, p.8) assim conceitua

desenvolvimento sustentável, tomando como referência o Relatório Bruntland, da

Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Our Common Future

(1987):

[...] processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade,

compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência

econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social,

partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre

gerações.

Loiola (2001, p. 6) chama atenção para o novo contexto das relações entre

economia, sociedade e meio ambiente, no qual a eficiência econômica, a qualidade de

vida e a equidade social começam a experimentar iniciativas mais equilibradas, embora

ainda esteja muito claro que resultados mais efetivos somente serão viabilizados no

longo prazo. Além disso, permanecem algumas situações de conflito de interesses

entre diferentes atores sociais e entre objetivos de curto e longo prazo.

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Outro aspecto importante em relação ao desenvolvimento regional diz respeito

à relação entre espaço geográfico e concentração de empresas. O item 2.2, a seguir,

procura apresentar algumas características e conceitos já consagrados na literatura.

2.2. Aglomerados de Empresas e Desenvolvimento Regional

Embora vários estudiosos da teoria econômica e da geografia tenham tratado

das diversas formas de aglomerados de empresas, considera-se como marco inicial os

estudos de Alfred Marshall, em Principles of Economics (1890), no qual ele incluiu um

capítulo inteiro sobre as externalidades das localizações industriais especializadas

(PORTER, 1999, p. 218).

Nos estudos sobre ganhos de produtividade que resultariam no aumento da

escala de produção, o autor denominou de “economias internas e externas”. Por

“economias internas” Marshall entendia que eram aquelas ocorridas no interior de uma

firma, seja em função do aumento da escala de produção ou da melhoria da

organização ou administração. Em contraponto, as “economias externas” seriam

advindas do crescimento geral do setor, importando menos o tamanho das firmas e

mais a localização delas, ou seja, a concentração de muitas empresas de um mesmo

setor, fossem pequenas e / ou grandes. Dentre os fatores determinantes para a

aglomeração estavam a presença de condições naturais como a disponibilidade de

matéria prima, energia e facilidades de transportes, além da existência de demanda na

região. Os benefícios oriundos da concentração poderiam ser identificados através dos

avanços na especialização e divisão do trabalho, ganhos técnicos e organizacionais

resultantes da tecnologia da informação, do compartilhamento de máquinas

especializadas de alto valor de investimento, além da criação de um mercado

consistente de mão-de-obra especializada ao alcance das firmas (IGLIORI, 2001, p. 27-

29).

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Em 1991, Krugman traz de volta na sua obra Geography and Trade os três

fatores de externalidades marshallianas: a) concentração do mercado de trabalho; b)

oferta de insumos intermediários, e c) externalidades tecnológicas, como

preponderantes para explicar o fenômeno da localização industrial. Krugman

acrescenta a esses fatores o papel dos antecedentes históricos no desenvolvimento

regional (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.284).

Nessa mesma época, os economistas das correntes evolucionista e

institucionalista (Becattini, Pyke, Sengenberger, Schmitz, dentre outros) também

recuperam a visão de Marshall sobre externalidades dinâmicas, dando maior ênfase ao

papel dos agentes locais no processo econômico. Em comum, fica evidente a

importância do local, seja através de seus atores ou de seus antecedentes históricos,

no modelo de desenvolvimento regional. Entretanto, os evolucionistas e

institucionalistas adotaram uma abordagem mais abrangente do que a visão

marshalliana, a exemplo de Hirschman (1958), considerado “holístico, sistêmico e

evolutivo” pelo fato de levar em consideração a estreita relação entre os elementos do

sistema econômico e o contexto social e político (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.284).

Na opinião de Amaral Filho (1999, p. 1.286), através deste conceito de

desenvolvimento endógeno, estruturado a partir das potencialidades sócio-econômicas

locais, ou seja, “de baixo para cima”, atinge-se “coerência interna, aderência ao local e

sintonia com o movimento mundial dos fatores”.

Concordando com Loiola (2001, p. 5), é possível afirmar que existe uma relação

muito estreita e recíproca entre o desenvolvimento local e as condições de

competitividade do setor empresarial. Se, por um lado, as empresas mais competitivas

emergem ou são atraídas para locais que apresentam melhor padrão de vida, por outro

lado, essas mesmas empresas alavancam o desenvolvimento dessas regiões,

fortalecendo o capital social6 local.

6 Capital Social significa “o conjunto de características da organização social, que englobam as redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação. A existência de capital social torna possível a tomada de decisões e ações colaborativas que resultem em beneficio para a comunidade” (PUTMAN, 1993, apud SOUZA FILHO, 2001).

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Outra relação de fortalecimento do desenvolvimento local e/ou regional se dá

quando este se associa ao planejamento centralizado. Políticas centrais de

investimento em infra-estrutura são importantes para economias regionais ou locais,

pois criam condições para a implantação do capital privado, embora essas últimas, por

si só, não sejam suficientes para gerar a dinamização da economia regional. As ações

e estratégias de desenvolvimento integrado, que se apresentam no modelos de “pólos

de crescimento”, dos “distritos industriais”, dos “milieux innovateurs” (ambientes

inovadores ou entornos inovadores)” e no modelo de “cluster” têm se apresentado

como importantes e alavancadoras do desenvolvimento regional (AMARAL FILHO,

1999, p. 1.289).

Esses conceitos, apresentados a seguir, representam importantes contribuições

aos estudos econômicos e organizacionais, tendo despertado a atenção de muitos

pesquisadores e estudiosos. Parte da teoria produzida será aqui comentada, com o

intuito de introduzir e embasar a apresentação dos modelos multiorganizacionais,

sobretudo o modelo de clusters. Cabe ressaltar que existem diversos aspectos muito

semelhantes entre esses conceitos, podendo-se destacar o “espaço geográfico

delimitado” como aquele que aparece em condição de fator de base a todos.

Pólos de Crescimento

Este conceito surgiu a partir da teoria de desenvolvimento regional de Perroux

(1955), geralmente constituído por “firmas ou setores motrizes” e muito associado ao

planejamento centralizado. Foi complementado com as idéias de “concatenação para

frente e para trás” (forward and backward linkages) de Hirschman (1958) e os “efeitos

cumulativos de causação circular progressivo” de Myrdal (1957) (ver ALMEIDA, 2001, p.

14; e, AMARAL FILHO, 1999, p. 1.289).

Almeida (2001, p. 15) argumenta que a versão de “pólos”, presente nos anos 70

e 80, era baseada em grandes “pacotes” de investimentos em indústrias pesadas, dos

quais se poderia esperar os “efeitos multiplicadores” referidos por Perroux. Chama

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atenção para a “vulgarização” do conceito, atualmente, quando é aplicado para

indústrias leves de bens finais, “dispersas” e com pouco “poder de impulsão”.

Ressalta-se ainda a utilização tardia da terminologia de “pólos” adotada pelo

Governo Federal e pelo Banco do Nordeste, nos finais dos anos 90 e começo deste

século, para estabelecer áreas de desenvolvimento nos Estados do Nordeste Brasileiro,

nos setores de turismo e grãos, a exemplo dos Pólos de Desenvolvimento do Turismo,

integrantes do PRODETUR/NE. O que se tem observado, nesse último caso, é uma

tentativa de definir áreas capazes de serem alavancadas por “setores motrizes”, como o

turismo. Contudo, esses “pólos tardios”, embora tentem expressar, na sua filosofia de

implantação, os princípios de desenvolvimento local, ainda guardam uma contradição

no seu processo de criação, porque adotam uma perspectiva centralizada de

desenvolvimento.

A definição de “pólos de turismo”, adotada pelo Banco do Nordeste e pelo Banco

Interamericano de Desenvolvimento – BID, no âmbito do PRODETUR/NE, é a seguinte:

“um grupo de municípios contíguos que têm recursos turísticos complementares e que

concordam em desenvolver suas capacidades de gerenciamento dos fluxos turísticos”

(PRODETUR/NE II, 2001, p. 2). Um segundo conceito de “pólo” também foi

apresentado nesse mesmo documento: “Um conjunto de municípios não contíguos que

trabalham como um circuito de atrativos complementares que formam um roteiro

visitado durante um período durante três o[u] mais dias”.

Ao analisar esses conceitos, é possível observar que o fator espaço geográfico

assume um papel preponderante em relação à atividade econômica. Esta última, pode-

se dizer, tematiza o referido pólo, mas o local –“conjunto de municípios contíguos” ou

“conjunto de municípios não contíguos”- parece se sobrepor à “atividade motriz”,

referida por Perroux (1955) no seu conceito de pólo. A transposição da concepção

tradicional de “pólos” para os dias atuais parece apresentar outra fragilidade, sobretudo

quando se compara aos novos paradigmas de “desenvolvimento regional endógeno”,

como denominam alguns autores ou “desenvolvimento local”, para outros.

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Distritos Industriais

Os distritos industriais surgiram entre as décadas de 50 e 60 na Europa,

contendo as principais características das concentrações de empresas registradas por

Marshall (1920) e apresentadas anteriormente neste trabalho. Segundo Pike, Becattini

e Sengenberger (1990) há sempre controvérsia quando se define distrito industrial.

Para eles, “é um sistema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas

que são envolvidas em vários estágios, e em várias vias, na produção de um produto

homogêneo”, (ver AMARAL FILHO, 1999, p. 1.290 e IGLIORI, 2001, p. 88-90).

Na concepção de Humphrey & Schmitz (1995, p. 8), um distrito industrial emerge

quando se desenvolve entre firmas, mais do que uma divisão de trabalho especializado.

Surgem formas, implícitas e explícitas, de colaboração entre agentes econômicos

locais, aumentando a produção local e, algumas vezes, a capacidade de inovação.

Amaral Filho (1999, op.cit., p. 1290) refere-se a outras características

apresentadas por Pike, Becattini e Sengenberger, as quais indicam que os distritos

industriais são concebidos como um conjunto econômico e social, estruturado em redes

de produção flexíveis, formados na sua maioria por empresas de pequeno e médio

porte, que estabelecem relações horizontais, combinando capacidade de inovação e

adaptação para satisfazer à demanda. Forma-se uma “interdependência orgânica entre

as empresas, de tal maneira, que são capazes de alcançar economias de escala,

podendo competir com grandes corporações”. Devido ao grau de integração alcançado

entre as empresas e delas com o ambiente social e cultural local, esses distritos

industriais beneficiam-se de externalidades formais e informais. Diversos exemplos são

encontrados no norte e nordeste da Itália, a chamada Terceira Itália e no sul da

Alemanha, em Baden-Wűrttemberg.

Milieux Innovateurs

Esse conceito, segundo Lawson (1997), foi desenvolvido inicialmente por Aydalot

(1986), que também participou de grande parte das pesquisas realizadas pelo GREMI

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(Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs). A principal unidade de

análise era o espaço geográfico, e esse grupo buscava identificar que aspectos locais

influenciavam na formação de redes de relacionamento e geração de inovações.

Os “ambientes inovadores” podem ser entendidos como regiões detentoras de

sistemas produtivos locais, conectados a um conjunto de relações sociais, que

estabelece regras e aumenta a confiança entre os agentes que atuam nesse espaço,

significando tanto as relações formais como as informais. Este conceito incorpora a

noção de aprendizagem coletiva , cujos ambientes estão sujeitos a “processos

contínuos de ajustamento e transformação” (IGLIORI, 2001, p.68-73). A diferença mais

marcante entre esse conceito e o de “distritos industriais” está na ênfase dada pelos

autores do “milieux innovateurs” ao aspecto da tecnologia e das inovações. Também a

dinâmica de aprendizagem formada através de redes de inovação indica a capacidade

dos atores em adaptar-se às evoluções do ambiente externo, absorvendo novos

conhecimentos e novas tecnologias (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.290).

Clusters

O conceito de clusters começa a ser delineado no final da década de 70, nos

estudos de Michael Porter sobre competitividade, talvez o conjunto mais completo de

reflexões sobre o assunto. Para Porter (1999b, p.211), cluster: “[...]é um agrupamento

geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas

numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares”.

Posteriormente, outros autores e instituições, que passaram a adotar o modelo

de clusters, assim o definiram:

→ Humphrey e Schmitz (1995, p.8): “uma concentração geográfica e setorial de

empresas. Tal concentração será beneficiada por economias externas – o

surgimento de fornecedores para matérias primas e componentes, maquinário

novo e de segunda-mão, peças de reposição, concentração de trabalhadores

com habilidades setoriais específicas, podendo também atrair agentes de vendas

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para mercados distantes e serviços especializados de caráter técnico, financeiro

e contábil”. Em 1997, Schmitz acrescenta à sua definição de cluster: “[...] tais

clusters abrem caminhos para ganhos de eficiência, os quais , dificilmente,

empresas individuais conseguiriam. Esses ganhos estão compreendidos no

conceito de eficiência coletiva, definido como a vantagem competitiva derivada

das economias externas locais e da ação conjunta”.

→ Rosenfeld (1996): “uma aglomeração de empresas (cluster) é uma concentração

sobre um território geográfico delimitado de empresas interdependentes, ligadas

entre elas por meios ativos de transações comerciais, de diálogo e de

comunicações que se beneficiam das mesmas oportunidades e enfrentam os

mesmos problemas” (ver AMARAL FILHO, 1999, p. 1.292).

→ Os operadores do Projeto Chihuahua Siglo XXI – México (1998): “ É um grupo

econômico constituído por empresas instaladas em uma determinada região,

lideres em seus ramos, apoiado por outras que fornecem produtos e serviços,

ambas, sustentadas por organizações que oferecem profissionais qualificados,

tecnologias de ponta, recursos financeiros, ambiente propício para os negócios e

infra-estrutura física” (ver LOPES NETO, 1998, p. 14).

→ Sanjaya Lall (1998) - representante do Banco Mundial: “O cluster é uma rede de

funções conectadas; são atividades que se inter-relacionam numa cadeia

industrial de valor; é uma aglomeração geográfica de diferentes atividades” (ver

LOPES NETO, 1998, p. 16).

→ Grupo C&S (1998) - Banco Mundial: “Clusters compreendem um sistema de

relações de mercado e de fora do mercado entre firmas concentradas

geograficamente e instituições envolvidas em atividades econômicas inter-

relacionadas. Clusters nascem, não são pré-fabricados, mas o setor público e

instituições coletivas geralmente desempenham um papel-chave na sua criação

e no apoio para o fortalecimento dos mesmos” (ver LOPES NETO, 1998, p. 17).

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O Grupo Executivo do Projeto Iniciativa pelo Nordeste: “um agrupamento de

empresas líderes que comercializam produtos e/ou serviços competitivos em

mercados estratégicos e que são abastecidas por uma rede de fornecedores de

insumos e serviços. Empresas e fornecedores, por sua vez, são apoiados por

instituições que oferecem recursos humanos capacitados, recursos financeiros,

tecnologia e infra-estrutura física” (INICIATIVA PELO NORDESTE, 1997, p. 5).

Altemburg e Meyer-Stamer (1999): em seus estudos sobre experiências com

clusters na América Latina, assim os definiram: “[...] é uma aglomeração

razoavelmente extensa de firmas, em uma área espacialmente delimitada, com

perfil de especialização distinto e na qual o comércio interfirmas é substancial”.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, no Projeto Cresce

Minas: “[...] um conjunto de empresas e entidades que interagem, gerando e

capturando sinergias, com potencial de atingir crescimento competitivo contínuo

superior ao de uma simples aglomeração econômica. Nele, as empresas estão

geograficamente próximas e pertencem à cadeia de valor de um setor industrial.

Essa integração das empresas gera, entre outros benefícios, redução de custos

operacionais, e dos riscos apresentados, aumento da qualidade dos produtos e

serviços, acesso à mão-de-obra mais qualificada, atração de capital, criação de

empreendedores e melhor qualidade de vida” (FIEMG, 2000, p. 16).

A Monitor Group, consultoria contratada pelo Governo da Bahia para

estabelecimento do Cluster do Entretenimento da Bahia: “Cluster é um conjunto

de empresas e entidades paralelas que estão direta e indiretamente relacionadas

à cadeia produtiva de uma indústria em uma região e envolve organizações do

setor público, privado e institucional” (MONITOR GROUP, 2001, P.33).

Igliori: após estudos sobre clusters industriais e suas origens no campo teórico, o

autor emitiu a seguinte definição: “[...] o cluster é caracterizado pela

concentração espacial e setorial de empresas, em que o desempenho dessas,

pelo menos parcialmente, é explicado pela interdependência existente entre

firmas” (IGLIORI, 2001, p. 111).

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54

A tradução literal para o termo cluster é “agrupamento”, “cacho” , “ramalhete”,

etc., comunicando a idéia de conjunto interligado e próximo. A utilização desse termo

para definir um modelo de integração multiorganizacional sugere uma unidade de

propósito, em um espaço restrito, adicionado por um resultado final único. Analisando

as definições apresentadas acima, além de outras disponíveis na literatura sobre o

tema, pode-se verificar que, apesar de pequenas variações conceituais, estão

presentes essas premissas básicas, quais sejam, a concentração geográfica de um

setor produtivo, que compartilha os mesmos propósitos e almeja o alcance de

resultados coletivos.

Os próximos três capítulos apresentam os principais aspectos dos modelos

multiorganizacionais, objeto de estudo deste trabalho, abordando-se, primeiramente,

cadeia produtiva e sua aplicação no turismo, seguido de clusters e, por último, as redes

interorganizacionais, mantendo-se a mesma ótica de correlação com o turismo.

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3. PRIMEIRO MODELO – CONCEITUANDO E ENTENDENDO CADEIA PRODUTIVA

No capítulo anterior foram apresentados aspectos do desenvolvimento regional e

suas interfaces com os diversos tipos de aglomerados de empresas. A partir deste

capítulo passa-se a considerar como foco de estudo as relações organizacionais

estabelecidas interfirmas e os resultados decorrentes, dentre os quais destacam-se os

ganhos de produtividade e competitividade das empresas, o fortalecimento de setores

produtivos e o aumento da cooperação.

Este capítulo pretende primeiramente conceituar e entender o modelo de cadeia

produtiva e depois analisar se o mesmo se aplica ao setor de turismo.

3.1. Caracterização Geral

Nas palavras de Porter (1991, p. 33-44) a cadeia de valores pode ser entendida

como “[...] um sistema de atividades interdependentes,[...] uma reunião de atividades

que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar, e sustentar seu

produto”. Ela ocorre tanto no âmbito da empresa como no âmbito de um setor,

representada por um conjunto de empresas. A idéia de cadeia de valor (value chain)

proposta por Porter7 (1991, p. 31) pretende ser “uma forma sistemática para exame de

7 Apesar da existência de outras correntes da teoria sobre cadeia de valor, nas quais seus autores propõem enfoques diferenciados, para efeito deste trabalho fizemos a opção por adotar o modelo concebido por Michael Porter.

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todas as atividades executadas por uma empresa e a forma como elas interagem e

criam, em maior ou menor grau, as vantagens competitivas”. Ao ampliar este conceito

para fora da empresa, o autor também descreve o sistema de valores, que corresponde

à integração da cadeia de valores de uma empresa em uma corrente maior de

atividades que criam valores a caminho do comprador.

O resultado final para a diferenciação é obtido através do desempenho desta

empresa e de seu produto na cadeia de valores do comprador. Finalmente, a

sustentação de uma vantagem competitiva depende não somente da cadeia de valores

da empresa, mas também do papel que esta empresa representa no sistema de valores

geral. Porter (op.cit., p. 52) ainda acrescenta que “a ampliação ou estreitamento de

mercados geográficos também pode afetar a vantagem competitiva”. Através de

coalizões, que são alianças com outras empresas, sem haver fusão total, pode-se

compartilhar cadeia de valores, ampliando a integração e a produção dessas vantagens

competitivas, que são sempre diferenciadas se comparadas com as dos seus

concorrentes.

Porter (1991, p.1-23) argumenta que a vantagem competitiva de uma empresa

surge a partir do valor que esta consegue criar para seus compradores e que ultrapassa

seus custos de produção. Sendo “valor” a quantia em moeda que os compradores

estão dispostos a pagar por um produto ou serviço, o autor considera como “valor

superior” a oferta de preços quando mais baixa do que a concorrência, para similares,

ou o fornecimento de benefícios superiores, pelos quais os consumidores julgam-se

dispostos a pagar mais. As vantagens competitivas básicas são de dois tipos: “liderança

por custo” e “diferenciação”.

Segundo o autor, as inter-relações entre empresas se constituem no principal

meio para criação de valor. Chama atenção ainda para o fato de que isto se aplica para

empresas de qualquer porte, setor ou âmbito de atuação, e apresenta as cinco forças

competitivas: a) a entrada de novos concorrentes; b) a ameaça de substitutos; c) o

poder de negociação dos compradores; d) o poder de negociação dos fornecedores, e

e) a rivalidade entre os concorrentes existentes. Com base nesse modelo, a

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rentabilidade de uma empresa depende dessas cinco forças, que indicam os níveis de

preços, custos e investimentos necessários.

Outro aspecto relevante na teoria da competitividade é a necessidade que toda

empresa tem de se posicionar dentro do seu ramo de atividade. O desejável é que se

tenha como meta o posicionamento competitivo sempre acima da média das empresas

correlatas, cujas vantagens obtidas a partir desse patamar são consideradas

sustentáveis, a longo prazo. Porter, (1991, p. 44), argumenta que uma cadeia de

valores não é um coleção de atividades independentes, mas se constitui em um

conjunto de elos “encadeados”. Esses elos são estabelecidos com objetivos definidos e,

geralmente, refletem razões de otimização e coordenação.

A importância em estabelecer e administrar esses elos requer a utilização de

tecnologia da informação, que se torna vital para obtenção de vantagens competitivas.

A reciprocidade entre empresas que estabelecem elos resulta em ganhos de

competitividade para ambas, refletindo também no fortalecimento do setor e no

resultado final do produto ou serviço prestado.

Outro especialista em estratégia, Adrian Slywotzky (2001, p. 23-41) contra-

argumenta que as cadeias de valor já não são mais tão estáveis quanto antes e propõe

quatro padrões básicos de transformação, quais sejam: a) desintegração – são cadeias

que se rompem por diversas razões, a exemplo do aumento das terceirizações ou

mudanças nas condições do mercado e vem atingindo quase todos os setores de

atividade; b) pressão sobre a cadeia de valor – o aumento da força de alguns elos pode

causar alterações no padrão geral da cadeia; para superação sugere-se que as

empresas melhorem seus rendimentos e estimulem a entrada de novos participantes; c)

força para o elo mais fraco – com freqüência ocorrem elos mais fracos em uma cadeia e

as medidas que se têm tomado são para os parceiros mais fortes assumirem o controle

ou formarem associações estratégicas de reforço, e d) reintegração – mudanças

tecnológicas e financeiras, dentre outras, conduzem a rearranjos de cadeias, que são

cada vez mais freqüentes e dinâmicos.; nesse caso, o autor recomenda o

estabelecimento de contratos de parcerias, em lugar de aquisições, além da

reintegração dos elos mais importantes da cadeia.

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Slywotzky (2001, op.cit., p. 41) adverte para “novas regras do jogo” da geração

de valor, enumerando-as: a) a importância do cliente; b) a coerência da empresa ao

definir seu alcance, incluindo a oferta de produtos e as atividades que integram a

cadeia de valor; c) um bom mecanismo para captar valor; d) um fator de diferenciação

poderoso e o controle estratégico que garanta aos investidores a continuidade do fluxo

de receitas, e e) uma organização pensada para apoiar e enfatizar o projeto do

negócio.

Observa-se em Porter (1991) uma maior preocupação com a estruturação do

modelo de cadeia de valor, para o qual desenvolveu, de forma detalhada, um conjunto

de argumentos básicos, que tem estreita correlação com a lógica de linha de montagem

do padrão industrial. A cadeia de valor, tanto interna quanto externa, reproduz a

seqüência da linha de produção, na qual o produto é transformado, em etapas, a

caminho do comprador. Pode-se dizer que a cadeia produtiva, sendo um modelo de

análise teórico, conservou alguns traços do denominado modelo fordista de produção

em massa, que buscava a redução dos custos e do tempo de produção, além da

melhoria da produtividade e da qualidade dos produtos (WOOD Jr., 1992, p. 9).

Dentre os aspectos mais relevantes deste modelo de cadeia produtiva,

destacam-se: a) a possibilidade de analisar detalhadamente a estrutura produtiva

interna das organizações, identificando suas forças competitivas individuais; b) a

capacidade de expandir este mesmo conceito para as relações entre empresas com

interesses comerciais interligados dentro de um processo produtivo, com o fim de

introduzir novos procedimentos que busquem aumentar as vantagens competitivas das

empresas e setores.

Argumentando a favor deste conceito, em entrevista recente, Norberto

Odebrecht (2001) declarou: “Precisamos valorizar o conceito de cadeias produtivas e

implantar mecanismos eficazes de cooperação, coordenação e integração no âmbito de

cada cadeia produtiva e entre elas”. Em outro trecho da mesma entrevista, o líder

empresarial, eleito pela ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos como o

“Gestor de Pessoas do Século XX”, focaliza seu argumento na afirmação de que “[...] o

ideal é a prática da cooperação, tipicamente um jogo do tipo ganha-ganha”. Pode-se

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compreender por esses argumentos que a idéia subjacente, nesse caso, é a

valorização de modelos organizacionais interfirmas que busquem a cooperação, que,

em última análise, traduz o pensamento de Schmitz (1995), por ele denominado de

“eficiência coletiva ativa” que implica a ação deliberada de cooperação.

Em contraponto, Almeida (2001, p. 16) chama atenção para “limitações” desse

modelo, a exemplo da sua pouca adaptabilidade ao setor de serviços e da manutenção

do sentido dentro da cadeia, por ele denominado “linear, unidirecional e seqüencial”,

que não reflete a “complexidade das atuais relações entre empresas e setores”. E

acrescenta suas dúvidas quanto ao uso adequado do conceito de cadeia,

principalmente porque, diante do panorama atual, “o valor se desloca para os serviços”

e as relações intra e/ou entre empresas são cada vez mais complexas.

Almeida (2001, op.cit.) ainda reforça seu argumento ao citar Norman e Ramirez

(1993 e 1994) com a proposição de substituição da cadeia de valor pelo que

denominam “constelação de valor” que, segundo eles, pode representar melhor o atual

sistema de “co-produção de valor”, no qual fornecedores, parceiros e clientes trabalham

em cooperação. Pode-se inferir, então, que os moldes fordistas de produção deixam de

ser referenciais para modelos de organização na era pós-fordista, cujos fatores tendem

a novas configurações no mercado globalizado.

Já a visão de Slywotzky, percebe-se, está muito mais direcionada para avaliar o

comportamento das organizações nesse modelo, levando em conta os fatores críticos e

o contexto atual de mercado. Ao comentar sobre instabilidades e padrões de

transformação, o autor ressalta as fragilidades da cadeia de valor e a condiciona ao

contexto de um “novo” mercado com regras adicionais, como mencionado

anteriormente. Portanto, este autor também aponta algumas vulnerabilidades que, no

seu entendimento, estão relacionadas à capacidade desse modelo continuar

representando a realidade das relações empresariais neste novo milênio.

Tais argumentos reforçam este estudo, que tem como ponto focal de interesse

a análise da aplicação do modelo de cadeias produtivas ao setor de turismo. O item a

seguir procura apresentar os estudos já desenvolvidos sobre cadeias produtivas no

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turismo, agregando ainda, para fins comparativos, um exemplo de cadeia no setor

industrial.

3.2. A Cadeia Produtiva no Turismo

A aplicação do conceito de cadeia de valor ou cadeia produtiva para o setor de

serviços precisa levar em consideração as principais características do setor, referidas

por Kotler (2000, op.cit.) e apresentadas no capítulo 1 deste trabalho, quais sejam:

intangilbilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade. Todas elas dificultam a

padronização de processos, bastante presente na cadeia produtiva, cujo modelo foi

inicialmente desenhado para atender a sistemas de produção industrial.

No turismo, essas características se fazem integralmente presentes,

acrescentando-se ainda outras que atribuem maior complexidade a este setor, quais

sejam: a) heterogeneidade – representada pela soma de um conjunto de produtos e

serviços bastante diversificados e de difícil padronização, pois estão vinculados aos

locais de destino turístico; b) fragmentação – sabendo-se que cada produto ou serviço,

geralmente, fica a cargo de um fornecedor. Em um pacote turístico, o transporte é

produzido e entregue pelas transportadoras, a hospedagem é prestada pelos hotéis e

correlatos, os passeios são organizados e realizados pelas agências de receptivo e os

souvenirs são comercializados pelas lojas de produtos típicos, dentre outros; c)

dispersão espacial – cada fornecedor presta seu serviço ou vende seu produto em seu

próprio espaço; d) interdependência – os diversos componentes precisam estar

interconectados de forma precisa e, na maioria das vezes, o sucesso e a qualidade

deste produto depende da boa performance de cada uma das partes. A instantaneidade

como característica também atribuída na teoria de turismo significa que este produto é

consumido no local e no momento em que é produzido, não havendo tempo ou chance

para reprocessamento ou controle de qualidade a priori. Esta última se assemelha à

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característica de inseparabilidade referida por Kotler para o setor de serviços em geral,

já referida no capítulo 1 deste trabalho.

Por outro lado, o fato do turismo ter sido inicialmente denominado “a indústria

do lazer” ou “indústria sem chaminés”, tem levado os seus estudiosos a equipará-lo ao

setor industrial e enquadrá-lo em conceitos consagrados nesse setor, talvez na ânsia

de atribuir status a esta atividade que vem se configurando como aquela de maior

importância econômica no mundo, mas que somente nas últimas décadas, mais

precisamente após a Segunda Guerra Mundial, tem conquistado a credibilidade nos

meios econômicos. A adoção do modelo de cadeia produtiva para o turismo, verificada

principalmente a partir da segunda metade da década de noventa, surgiu também da

crescente “onda” de aplicação deste modelo para os mais diversos setores produtivos.

Embora se possa reconhecer alguns pontos favoráveis do modelo de cadeia

produtiva para o turismo, é também importante estabelecer algumas análises

comparativas com outros setores enquadrados neste mesmo modelo. Enquanto no

turismo o encadeamento de atividades se observa em determinados segmentos, a

exemplo da hotelaria, o que se verifica no conjunto geral é muito mais um agrupamento

convergente e concêntrico como se pode ver representado no diagrama proposto pelo

estudo sobre o Eixo Costeiro do Nordeste e as Necessidades e Prioridades de C&T e

de Recursos Humanos para a Competitividade e o Desenvolvimento Regional,

realizado pelo CNI/SENAI/IEL. Este estudo adota a perspectiva do turismo associado

ao conceito de “indústria”, como referido anteriormente, fazendo a transposição plena

do modelo de cadeia produtiva industrial para o turismo e a sua representação gráfica

põe em evidência a fragilidade desse modelo no turismo.

Pode-se argumentar que o modelo de cadeia produtiva mantém o enfoque na

produção de bens, controlando o processo de todos os elos que, nesse caso, são

quase que totalmente previsíveis e resultam em produtos com características similares.

No turismo mantém-se o enfoque na demanda e no consumo, e a referida

“heterogeneidade” de componentes e produtos traz alguns obstáculos ao

estabelecimento desse modelo, nos moldes convencionais. Entretanto, como referido

anteriormente, verifica-se em alguns sub-setores do turismo que existem características

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assemelhadas à indústria, como, por exemplo, a hotelaria, cuja utilização desse modelo

pode ser apropriada.

A figura 3, a seguir, apresenta o diagrama originalmente proposto pelo estudo

da CNI/SENAI/IEL:

FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO DA “CADEIA PRODUTIVA” DO TURISMO

TURISTA

HOTELARIA

INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E BEBIDAS

GASTRONOMIA

EVENTOS E CONFERÊNCIAS (mostras comerciais, congressos, feiras, festivais e exposições)

ATRAÇÕES CULTURAIS (museus, galerias de arte, patrimônio histórico, artesanatos)

ENTRETENIMENTO E LAZER

Tra(aéhid Tra(locaeremposofic

AGENCIAMENTO DE VIAGENS E OPERAÇÕES TURÍSTICAS

COMÉRCIO (deofiinfgu

SEGURADORAS

FONTE: CNI/SENAI/IEL, 1998.

Comparando-se o diagrama da cadeia produt

proposto pelo mesmo estudo para a cadeia da indústria

na figura 4, a seguir, pode-se observar algumas questõe

INFRA-ESTRUTURA ESPECIALIZADA (parques, jardins, reservas florestais, praias e outros sítios naturais) (parques temáticos)

INFRA-ESTRUTURA E SERVIÇOS PÚBLICOS (saneamento, energia, segurança, telecomunicações, serviços de saúde)

LOCOMOÇÃO

nsporte Externo reo, rodoviário e roviário)

nsporte Interno adoras, de veículos,

otáxis, táxis, barcações, coletivos, tos de gasolina, inas mecânicas, etc.)

MARKETING E SERVIÇOS

TURÍSTICOS partamentos turísticos ciais, centros de ormação, marketing, ias turísticos, revistas)

iva do turismo com o modelo

têxtil e vestuário, representado

s básicas.

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Figura 4 - REPRESENTAÇÃO DE CADEIA TÊXTIL E VESTUÁRIO

PRODUTOS QUÍMICOS

AGRICULTURA

PECUÁRIA FIBRAS NATURAIS

BENEFICIAMENTO

FIAÇÃO (anel, rotor, jato-de-ar, fricção)

FIBRAS ARTIFICIAIS (viscose, acetato)

FIBRAS SINTÉTICAS (poliamida, poliéster,acrílico)

TECELAGEM (lançadeira, jato-de-ar, pinça, jato-de-água, projétil, cala ondulante)

MALHARIA (circular, retilínea)

COMPONENTES CONFECÇÃO (vestuário, outros)

ACABAMENTO

MÁQUINAS TÊXTEIS

MÁQUINAS ferramentas

CO M É RC I O

MÁQUINAS AGRÍCOLAS (algodão, lã, linho, rami, seda, juta)

Fonte: CNI/SENAI/IEL,1998.

A partir da observação das relações entre empresas no setor de turismo, pode-

se constatar que as mesmas ocorrem de forma menos padronizada,

estruturando-se em arranjos organizados para atender a demandas específicas

ou para a formação de produtos ou pacotes turísticos. Essas relações assumem,

em grande parte, a configuração de acordos de cooperação, diferindo assim do

formato de cadeia produtiva. Na cadeia têxtil verifica-se, ao contrário, uma

seqüência de atividades interconectadas, com relações definidas e padronizadas

que se operacionalizam numa rotina constante, tendo como referência mais

marcante o processo operacional.

Enquanto no turismo algumas empresas integrantes desta “cadeia” atuam de

forma concomitante e articulada em função do produto final ou do serviço a ser

aa

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posto à disposição do turista, observa-se na cadeia têxtil uma maior tendência a

procedimentos seqüenciais regulares e relações interorganizações pré-

estabelecidas e mais bem definidas. Verifica-se, nesta última, a característica

mais marcante do modelo que é a sua disposição em forma de linha de

montagem, “linear, unidirecional e seqüencial” como referida por Almeida (2001,

p. 16).

As tendências mundiais do turismo apontam, cada vez mais, para uma demanda

por produtos personalizados e com alto grau de flexibilidade, segundo estudos

de cenários apresentados pela OMT. Isto impõe uma necessidade de integração

dos diversos co-produtores do turismo na busca de uma sincronia entre os

diversos “elos”, embora nem sempre se possa estabelecer o arranjo em cadeia.

Já o setor industrial têxtil, que também tem avançado no sentido da alta

especialização tecnológica, consegue melhor estabelecer seus arranjos em

disposição seqüencial, garantindo qualidade e competitividade ao produto final.

Mesmo ampliando o conceito de cadeia de valor para sistema de valor, proposto

por Porter (1991, p. 31), e admitindo que cadeias produtivas em turismo estariam

“embebidas”8 no ambiente delimitado como espaço turístico, gerando e se

beneficiando, ao mesmo tempo, das externalidades inerentes ao setor, pode-se

admitir que existem outros modelos organizacionais inter-firmas que melhor

representam a dinâmica turística. Em contraponto, essa noção de “cadeia

embebida” pode acrescentar elementos inovadores a setores industriais como o

têxtil e de confecções.

Em outro estudo sobre aplicação do conceito de cadeia produtiva no turismo,

Souza (199-?, p. 2) propõe conceituação de Cadeia Turística como “um conjunto de

empresas e dos elementos materiais e imateriais que realizam atividades ligadas ao

turismo, com procedimentos, idéias, doutrinas e princípios coesos e afins, para

conquista dos seus mercados estratégicos respectivos, utilizando-se de produtos

8 O termo “embebido” é uma tradução do inglês embedded, que também significa “embutido” e que, no contexto em que está sendo empregado, também pode significar “inserido de forma integrada”.

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competitivos”. Nesse mesmo estudo, Souza argumenta que “o agrupamento de

empresas que compõem a cadeia turística [...] é apoiado por uma rede de provedores

de insumos e serviços”. Ao enumerar os principais componentes da Cadeia Turística, a

autora distingue-os em três categorias:

a) empresas líderes – meios de hospedagem, agências de viagem, operadoras

turísticas, empresas de alimentação, empresas de entretenimento, comércio de

artesanatos e produtos típicos, centros comerciais e galerias de arte;

b) provedores de serviços – transportadoras, informações turísticas, locadoras e

veículos, atendimento a veículos, centros de convenções, auditórios, parques de

exposição, fornecedores de alimentação, construção civil, artesãos, sistemas de

comunicação, serviços de energia elétrica;

c) infra-estrutura de apoio – escolas de turismo, serviços de elaboração de projetos,

assistência técnica, infra-estrutura básica ( estradas, aeroportos, terminais

rodoviários e hidroviários, saneamento básico, administração de resíduos sólidos,

telecomunicações), sistema de segurança, seguros, representações diplomáticas,

casas de câmbio e bancos, equipamentos de saúde, serviços de recuperação do

patrimônio histórico, serviços de proteção do meio ambiente.

Pode-se perceber, nesse estudo de Souza (199-?, op.cit.), a dificuldade

enfrentada pela autora ao tentar construir o modelo de cadeia produtiva para o setor de

turismo, expressa sobretudo na estrutura híbrida concebida. Se, por um lado, o trabalho

procura tipificar o modelo construído como cadeia turística, pelas características

evidenciadas e descritas pode-se observar que o modelo se aproxima muito mais do

conceito de clusters, que atualmente vem sendo adotado em turismo e que será

apresentado no capítulo a seguir.

Por fim, conclui-se que o modelo de cadeia produtiva é parcialmente

representativo para o setor de turismo, ficando circunscrito a alguns sub-setores e/ou

arranjos de integração horizontal de empresas, em segmentos específicos. Assim, dado

o conjunto de limitantes para generalização, pode-se afirmar que o turismo reúne

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condições mais apropriadas para enquadramento em outras formas e modelos

multiorganizacionais, conforme será discutido e apresentado nos capítulos a seguir.

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4. SEGUNDO MODELO – A CONFIGURAÇÃO EM CLUSTERS

4.1. Caracterização Geral

Os clusters, em geral, surgem de um processo endógeno, espontâneo e são, de

alguma maneira, estimulados por antecedentes culturais e históricos locais; isto é, a

existência de tradição local em ações integradas e movimentos aglutinadores se

constitui em diferencial facilitador para a ocorrência dos mesmos. Sobre esse ponto,

Almeida (2001, p. 16) chama atenção para o fato de que mesmo seus mais fortes

defensores reconhecem que há dificuldades em criar clusters, a partir de iniciativas

externas. Contudo, apesar de não dependerem de uma ação estatal externa e

planejada para sua criação, é consenso que o papel do Estado no apoio e

fortalecimento das bases locais se torna fundamental para o sucesso desse modelo

multiorganizacional.

De acordo com Porter (1999b, p.212), para identificação dos elementos que vão

constituir um cluster é necessário tomar como ponto de referência uma grande empresa

ou uma concentração de empresas semelhantes, para, a partir daí, analisar a cadeia

vertical de empresas e instituições a montante e a jusante. Em seguida, realiza-se uma

análise horizontal, na qual se busca mapear fornecedores comuns de produtos e

serviços complementares. Busca-se também elos com instituições de treinamento e

oferta de tecnologia, além de identificar agências do governo que desempenhem papel

significativo para o setor estudado.

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No tocante ao apoio aos aglomerados de empresas, Humphrey e Schmitz (1995,

p. 1-2) propõem que as políticas voltadas para o apoio aos clusters, sobretudo de

micro, pequenas e médias empresas, devem ter como foco o cliente, os interesses

coletivos das firmas e os efeitos cumulativos decorrentes das duas condições

anteriores. Esta perspectiva compõe o conceito denominado pelos autores como “Triple C – customer-oriented, collective and cumulative” que significa orientado para o cliente,

em ação coletiva e que produza efeito cumulativo. Em síntese, este conceito representa

o seguinte pensamento:

Orientado para Consumidores/clientes – refere-se a políticas dirigidas para atender

às necessidades da demanda, conduzindo as firmas para resolver seus problemas

de competitividade; são consideradas ações bem sucedidas aquelas que

estabelecem os meios pelos quais as micro, pequenas e médias empresas

possam aprender sobre e com as necessidades de seus consumidores/clientes,

além de prestar a assistência técnica que os capacitem a esta tarefa;

Atender Interesses Coletivos das Firmas – a escolha pelo atendimento ao

interesse de grupos de empresas apresenta duas vantagens importantes: i)

custos de transações mais baixos do que a assistência a empresas individuais, e

ii) contribui para a criação de relacionamentos entre empresas, os quais podem

aumentar sua eficiência através da cooperação e da maximização do potencial do

grupo para o desenvolvimento de mútua aprendizagem;

Melhorias Cumulativas na Competitividade – o atendimento às duas condições

anteriores estabelece a capacidade cumulativa de elevar o padrão e se tornar

menos dependente de suportes externos; os autores acreditam que a

competitividade não é uma condição estática, mas um processo de permanecer

competitivo através de aperfeiçoamentos.

Segundo Humphrey e Schmitz (1995, p. 2), os objetivos de políticas de apoio a

clusters de micro, pequenas e médias empresas, ao seguirem essas premissas, podem

desenvolver a capacidade de grupos de empresas desencadearem processos de

melhorias derivadas de relacionamentos com o mercado. Ao atingir esses objetivos, os

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grupos de empresas integradas deixam de depender de suporte externo, cujos recursos

passarão a ser dirigidos para atender outros desafios.

Os autores também chamam atenção para o conceito de eficiência coletiva e o

definem como “as vantagens competitivas derivadas de economias externas locais e da

ação conjunta”. O conceito de economias externas tem origem na teoria de Marshall, já

referida anteriormente neste trabalho. Humphrey e Schmitz (1995, p. 7) chamam

atenção para o fato de que essas economias externas não se constituem apenas em

ação deliberada das firmas. Uma parte do resultado produzido ocorre de forma

incidental, isto é, de forma não intencional. Portanto, o conceito de eficiência coletiva

traz, ao mesmo tempo, os efeitos incidentais e deliberados que um agrupamento de

empresas pode atingir.

Outro ponto abordado por Humphrey e Schmitz (1995, p. 8) é a visão equivocada

de que a busca da eficiência coletiva em clusters elimina a competição. Ao contrário,

observam-se rivalidades até mesmo muito fortes dentro do cluster, embora esse fato

não impeça a existência de ações conjuntas para resolver problemas coletivos. O

cluster considerado pleno é também uma combinação de “competição e cooperação”,

que resulta em melhorias organizacionais e de produtos.

Sobre este ponto, Porter (1999b, p. 217-218) traz ao debate a opinião de que a

estruturação de um grupo de empresas e instituições como um aglomerado (cluster)

promove oportunidades de cooperação em matérias de interesse comum, sem contudo

ameaçar a competição ou restringir a rivalidade entre empresas correlatas. Para o

autor, “a concorrência convive com a cooperação porque elas ocorrem em dimensões

diferentes e participantes distintos” (PORTER, 1999a , p. 102).

Existem aspectos levantados por Altemburg e Meyer-Stamer (1999, p. 1694 -

1707) que são considerados de difícil mensuração, a exemplo da confiança, inserção

no ambiente social (social embeddedness) e a existência de um ambiente criativo , que

se apresentam como condições importantes e auxiliares na formação e sustentabilidade

dos clusters. Em seu estudo sobre a formação de clusters na América Latina, os

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70

autores adotaram uma classificação em tipos genéricos de clusters que foram

reproduzidos a seguir.

a) Clusters de Subsistência de Micro e Pequenas Empresas – considerados os mais

freqüentes, geralmente produzem bens de baixa qualidade para mercados locais,

em atividades com poucas barreiras à entrada; as firmas apresentam inúmeros

aspectos similares ao setor informal, com baixos índices de especialização,

produtividade e de salários, demonstrando a falta de mão de obra capacitada; estão

embebidos (inseridos) em um ambiente social desvinculado do setor formal de

negócios; exemplos desses clusters foram identificados no México, Peru e Costa

Rica, geralmente originados para produzir bens resultantes do processo de imitação,

cuja aprendizagem das técnicas e habilidades ocorre de maneira informal; envolvem

formações sub-empresariais de natureza familiar, se beneficiam de poucos

incentivos e apresentam, geralmente, um ciclo de vida curto; segundo constatação

dos autores, são os clusters que geram maior quantidade de emprego;

b) Clusters mais Avançados e Diferenciados de Produção em Massa – a maioria surgiu

no período de substituição das importações e muitos deles produzem para o

mercado interno; são clusters que envolvem empresas bastante heterogêneas, em

tamanhos e modelos, contendo desde firmas pequenas e simplificadas até

organizações complexas do padrão fordista; pertencem, geralmente, a setores

industriais de produtos de massa – têxtil, calçados, móveis, etc. – apresentando

baixo índice de inovação e pouco esforço em Pesquisa & Desenvolvimento;

algumas firmas estão integradas em cadeias de commodities globais, bastante

dependentes e sensíveis a mudanças do mercado externo; a cooperação e

especialização interfirmas ainda ocorrem de forma tímida, verificando-se alto grau

de integração vertical; utilizam-se da redução de custos e preços para conquistar

mercados, ignorando a diferenciação como estratégia de competitividade; na

América Latina, os autores identificaram exemplos desses clusters no Brasil – têxtil

no Vale do Itajaí, calçados de couro do Vale dos Sinos- além de outros no México;

c) Clusters de Corporações Internacionais – caracterizados como tecnologicamente

mais complexos, a exemplo da indústria de eletrônicos e automobilística, esses

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clusters são geralmente dominados por grandes filiais de indústrias transnacionais e

atendem a mercados domésticos e internacionais; estabelecem poucos links com as

pequenas empresas locais e apresentam elevadas barreiras à entrada; desfrutam

de baixos índices de inserção/envolvimento (low degree of embeddedness) com o

ambiente social e com a comunidade empresarial das regiões hospedeiras; são

oriundos de outras regiões, cuja escolha locacional ocorre por motivos de

proximidade do mercado consumidor, da disponibilidade de mão de obra barata, de

incentivos fiscais, de infra-estrutura disponível, dentre outras vantagens

convencionais; diversos exemplos são referidos no Brasil, México e Costa Rica.

Pela análise realizada por Altemburg e Meyer-Stamer (1999, p. 1708-1710)

pode-se constatar diferenças importantes entre os diversos tipos de clusters

desenvolvidos na América Latina e seus similares nos países desenvolvidos. Os

autores concluíram seus estudos apontando três deficiências principais, comuns aos

três tipos identificados:

a) Heterogeneidade nos níveis de desenvolvimento e falta de pequenas e médias

empresas competitivas – diferentemente do países industrializados, a maioria das

pequenas e médias empresas da América Latina não é competitiva, dificultando a

cooperação interfirmas dentro do cluster. Alguns clusters diferenciados de produção

em massa, sobretudo aqueles mais simplificados em termos de utilização

tecnológica, prometem oportunidades de transferência de know-how, a partir de

firmas mais modernas, principalmente nas áreas de logística, gestão de pessoas e

custos. Os autores acreditam que as instituições públicas de apoio às micro,

pequenas e médias empresas podem atuar como catalisadoras, adotando o

processo “learning by interacting” entre as empresas integradas em clusters;

b) Falta de capacidade de inovação – mais uma vez os clusters da América Latina

diferem dos países desenvolvidos porque são, predominantemente, voltados para

produção de bens de consumo padronizados com destino às exportações sem

contar com inovações substanciais. As recomendações são para promoção de

políticas que promovam inovação, sobretudo para as firmas locais;

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c) Baixo grau de especialização e cooperação interfirmas – os autores observam que

os clusters Latino Americanos normalmente englobam apenas alguns estágios da

cadeia de valor, poucos serviços complementares e não dispõem do capital social

necessário para propiciar acordos cooperativos. Para superar este ponto, é

recomendada a integração em redes de agentes e incentivos para cooperação,

como forma de superar comportamentos oportunistas, desconfiança e preferência

por integração vertical. Propõem ainda que a convergência para cooperação e

integração deva ser tentada em questões que não envolvam as competências

essenciais das firmas, pois estas, em ambientes com baixo padrão de confiança

tendem a permanecer em segredo.

A pesquisa realizada por Altemburg e Meyer-Stamer (1999), focalizando os

clusters industriais na América Latina e sua comparação com a mesma realidade em

países industrializados, evidencia as diferenças e fragilidades que esse modelo

multiorganizacional ainda conserva nos países em desenvolvimento. As lições

aprendidas com as regiões mais avançadas podem auxiliar a aceleração do

aperfeiçoamento desse modelo, não somente de clusters industriais em localidades

mais carentes, como também de clusters em outros setores nos quais se inicia a sua

aplicação.

Fairbanks (1997, p. 12), em sua proposta sobre a implantação de cluster no

Nordeste do Brasil, sugere alguns componentes de competitividade que, se adotados

no contexto do cluster, podem contribuir para o aumento da cooperação interna. O

quadro a seguir apresenta esses componentes:

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73

Quadro 2 COMPONENTES DE COOPERAÇÃO DENTRO DO CLUSTER

COMPONENTE DESCRIÇÃO

Design de Produto Compartilhamento de idéias e know-how tecnológico no

desenvolvimento de produtos

Reputação Melhorando a reputação dos participantes do cluster através de

associação com outros participantes e/ou certificação

Processo Tecnológico Compartilhamento de idéias e know-how no desenvolvimento do

processo tecnológico

Acesso Cooperação que resulta em aumento da confiabilidade ou obtenção

de acesso preferencial para distribuição de produtos e serviços

Informação ao Mercado Informações compartilhadas sobre dados do mercado-demografia,

necessidades dos compradores, e tendências do mercado

Logística Cooperação na movimentação de bens ou informações entre os

participantes do cluster

Educação e Treinamento Aumentando habilidades e conhecimentos dos recursos humanos,

que ajuda a atender às necessidades do cluster Fonte: FAIRBANKS, 1997.

4.2. O Modelo de Cluster no Turismo

Poucos autores se referem a clusters fora do setor industrial. Dentre os referidos

neste trabalho, apenas Porter (1999a, p. 105) menciona a formação e aplicação desse

modelo para o setor de turismo. Outra referência importante na obra de Porter (1986, p.

187), fora do setor industrial, se encontra nas suas teorias sobre formulação de

estratégias competitivas nas chamadas “indústrias”9 fragmentadas. O autor relaciona

áreas como: “[...] prestação de serviços, varejo, distribuição, fabricação de madeira e

metal, produtos agrícolas e negócios ‘criativos’[...]”, deixando evidente, desde o começo

9 O termo “industriy” de origem anglo-saxônica, significa setor de atividade, segmento, ramo e não apenas indústria, como se traduz freqüentemente para o português.

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de seus estudos sobre competitividade, uma concepção mais aberta e abrangente.

Posteriormente, quando definiu e caracterizou a ocorrência dos clusters, Porter (1999b,

p. 216) assim se expressou:

Os aglomerados10 ocorrem em muitos tipos de setores, em campos maiores ou

menores e mesmo em alguns negócios locais, como restaurantes, revendedores

de carros e antiquários. Estão presentes em economias grandes e pequenas, em

áreas rurais e urbanas e em vários níveis geográficos (por exemplo, países,

estados, regiões metropolitanas e cidades). Encontram-se em economias

avançadas e em desenvolvimento, embora os existentes em economias

avançadas tendam a ser muito mais desenvolvidos.

Outras referências são feitas pelo autor, tanto na mesma fonte citada acima,

quando apresenta exemplos de clusters de turismo nos EUA e em Portugal, como em

outras obras de sua autoria, a exemplo de A Vantagem Competitiva das Nações, em

que o capítulo 6 é inteiramente dedicado ao setor de serviços (PORTER, 1999b, p. 242-

244; 1989, p. 283-321).

Como o foco do interesse deste trabalho está direcionado para aplicação deste

modelo no setor de turismo, passa-se a comentar alguns aspectos que foram avaliados

como relevantes para recomendação do modelo de cluster em turismo.

Setor formado por um conjunto heterogêneo de micro, pequenas,médias e

grandes empresas, que precisam atuar em cooperação para atingir o objetivo

maior, que é o aperfeiçoamento do produto turístico;

A região de destino turístico pode ser, freqüentemente, vista como um cluster

de entretenimento (turismo, cultura, lazer e esportes), a exemplo da proposta

que está sendo formulada para a Bahia;

O padrão de crescimento do turismo mundial e o surgimento de novos

produtos turísticos em todo o mundo impõem a necessidade de

10 Nesta tradução do livro On Competition, de Michael Porter, o termo clusters foi traduzido para aglomerados. Cabe observar que tem-se optado, com mais freqüência, por manter o termo original em inglês, até porque a literatura sobre o assunto já o incorporou de forma natural.

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75

acompanhamento das vantagens competitivas, que poderão ser estruturadas

e monitoradas a partir do modelo de cluster em destinos turísticos;

A conjugação do binômio cooperação e competição, tão relevante em

turismo, pode ser favorecida no cluster de turismo;

As economias externas involuntárias, típicas dos modelos de aglomerados

econômicos, podem se constituir no diferencial competitivo de determinado

destino /produto turístico;

A aplicação do modelo do triplo “C”, proposto por Humphrey e Schmitz, pode

ser adaptada à realidade do turismo;

Diante da constatação de que o turismo impacta 52 atividades e ocupações

profissionais, pode-se adotar o modelo de cluster para promover o

ajustamento e a cooperação entre estas.

No turismo, pode-se considerar o cluster como um dos modelos

multiorganizacionais mais apropriados para estruturação das regiões de destino, em

face da natureza transdisciplinar experimentada pelo setor, aliada à necessidade de

promover a concatenação e o estabelecimento de parcerias entre diversos sub-

segmentos que formam o produto turístico, sejam empresas de pequeno, médio ou

grande portes. Em setores como o turismo, também se torna fundamental uma

compreensão mais ampla e dinâmica da competição, que levem em consideração as

questões de custo e diferenciação, de eficiência estática, melhoria contínua e inovação,

e que reconheça que os mercados são globais, tanto para fatores como para produtos.

Em seu artigo Clusters e Competitividade, Porter comenta que o cluster propicia

a acumulação de informações e estas se tornam acessíveis para todos os seus

membros, que passam a estabelecer fluxos de informações e estreitar laços de

confiança. Essa mesma situação reforça a visão de que o todo é sempre maior que a

soma das partes e, em setores típicos como o de turismo, pode-se adicionar ganhos de

produtividade e de qualidade no produto turístico, resultantes da relação sinérgica que o

cluster proporciona. Nesse mesmo sentido, Porter acrescenta:

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[...]a satisfação do turista depende não apenas do apelo da atração primária do

local, mas também da qualidade e eficiência de empresas correlatas - hotéis,

restaurantes, centros comerciais e meios de transportes. Como os membros de

um cluster são mutuamente dependentes, o bom desempenho de um pode

aumentar o sucesso dos demais. (PORTER, 1999a, p. 105)

Existem várias formas de complementação e a mais direta é justamente aquela

que se verifica no turismo, pois os produtos e serviços se integram para atender às

necessidades dos clientes. Outra forma seria a coordenação de atividades entre

empresas para otimizar sua atividade coletiva, que também pode se verificar no

turismo, sobretudo na cooperação entre pequenas empresas. Porter ressalta ainda,

neste artigo, a ocorrência de complementações na área de marketing, pois um cluster,

geralmente, “melhora a reputação de uma região em determinado setor”, atraindo

compradores para as empresas ali sediadas (PORTER, 1999a, p. 105).

Outro aspecto relevante é a convergência de propósitos entre o modelo de

cluster e os princípios do desenvolvimento sustentável do turismo. O alcance da

sustentabilidade será obtido através do equilíbrio dos fatores econômicos, sócio-

culturais e ambientais, com vistas a garantir para gerações futuras a mesma qualidade

da experiência das gerações atuais. Na mesma direção, o modelo de cluster focaliza os

fatores de sustentabilidade econômica, sócio-cultural e ambiental, propondo

cooperação, inovação, aprendizagem e integração social, tendo como resultado

pretendido o aumento da competitividade que, por sua vez, possibilita a

sustentabilidade do turismo.

Do ponto de vista dos negócios, observa-se que os clusters criam um ambiente

favorável à formação de novas empresas, principalmente porque as lacunas em

produtos e serviços se tornam mais facilmente perceptíveis, convidando novos

empreendedores a suprirem essas lacunas, ou, até mesmo, a descobrirem novos

nichos de mercado, baseados na evolução crescente a que se submetem determinados

segmentos empresariais estratégicos, a exemplo do turismo.

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77

4.3. Algumas Iniciativas de Clustering no Turismo

Dois estudos de caso sobre clusters turísticos são apresentados neste trabalho,

com o intuito de aproximar a teoria com a sua aplicação, na prática. Ambos foram

escolhidos dentro do segmento do turismo de natureza, sendo um exemplo

internacional – o cluster turístico da Costa Rica – e um exemplo nacional – o cluster

turístico de Bonito, no Mato Grosso do Sul. Esses exemplos foram tomados a partir de

estudos de caso publicados, e aqui buscou-se reproduzir as impressões dos seus

autores, à época dos respectivos estudos.

Em seguida, serão também descritos três projetos brasileiros, que trazem no

contexto das políticas públicas as tentativas de estabelecimento de clusters no setor de

turismo. São eles: O Projeto Iniciativa pelo Nordeste, o Projeto Cresce Minas e o

Projeto do Cluster do Entretenimento do Estado da Bahia.

Um ponto em comum entre os estudos de caso e os projetos apresentados é que

todos tiveram suas iniciativas desenvolvidas a partir da segunda metade da década de

90 e, no momento, contam com, no máximo, seis anos de existência. Pode-se

considerar um período muito curto para avaliar o grau de consolidação de iniciativas

dessa natureza.

4.3.1. O Cluster de Turismo da Costa Rica

O turismo pode ser considerado a atividade econômica mais importante da Costa

Rica. Segura e Inman (1998), autores deste estudo de caso, afirmam que “lo que es

bueno para el turismo es bueno para Costa Rica”. Ao analisar a aplicação do modelo de

cluster no turismo costarriquenho, os autores afirmam que este se encontra “en medio

de su adolescencia”. Consideram que o mesmo já passou pelo processo de aprender a

linguagem dos mercados globalizados e tem concentrado muita “energia criativa” em

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construir cenários que são mundialmente valorizados em matéria de turismo, tais como

a natureza protegida, a democracia, a estabilidade e a paz.

Em 1996, durante a realização do VIII Congresso Nacional de Turismo da Costa

Rica, foi apresentado um diagnóstico do estágio de desenvolvimento do cluster de

turismo, com o objetivo de oferecer subsídios aos membros da comunidade turística

local, para planejar o futuro, de forma a atingir a competitividade e o desenvolvimento

sustentável. A avaliação feita em 1998 por Segura e Inman indica que, durante esses

dois anos, foram observados sinais de amadurecimento desse cluster : um segundo

aeroporto internacional, uma campanha promocional agraciada com vários prêmios e

novos investimentos por marcas internacionais do ramo da hospedagem.

Também existem aspectos que ainda não encontraram uma solução integrada, a

exemplo da baixa qualidade de manutenção das rodovias de acesso interno, do

aumento dos indicadores de delinqüência e da rede de parques nacionais com

problemas de sustentabilidade financeira. É evidente que esses problemas são muito

mais dependentes das estruturas governamentais do país, mas o grau de maturidade

de um cluster também pode ser medido pelo nível de coesão observado entre os seus

integrantes, ou seja, a capacidade de enfrentar e resolver, juntos, os problemas atuais

de interesse comum, além de prevenir os problemas futuros.

Outro ponto observado no cluster da Costa Rica, avaliado por Segura e Inman

(1998, p.3), como evidência da imaturidade ainda presente, é a falta de “una visión

estratégica de largo plazo”. Apesar disso, parece claro para as empresas

costarriquenhas quem são seus competidores:

No produto “praia”, seus principais competidores são a Republica

Dominicana, Cuba, Ilhas do Caribe, Cancun e Havaí;

− No ecoturismo são considerados competidores potenciais muito importantes

alguns países da América Central, dentre os quais o Panamá e Belize.

Atualmente, este produto compete com países da África, alguns países da

América do Sul (Equador, com Galapagos, Brasil com a Amazônia e Peru),

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com o Alaska e com alguns destinos dos Estados Unidos (Gran Canyon,

Yellowstone, dentre outros);

De uma maneira geral, o México e o próprio Estados Unidos são

competidores importantes no mercado de turistas norte-americanos.

Outro aspecto importante foi identificado durante a pesquisa com os empresários

para este estudo de caso: existe entendimento no cluster de turismo da Costa Rica de

que suas principais vantagens competitivas são:

A diversidade de atrativos concentrada geograficamente em seus 50.000 km2

de território faz com que, praticamente, todos os produtos estejam sempre

muito próximos entre si, facilitando a visitação;

O país oferece infra-estrutura viária suficiente para que todos os atrativos

sejam fáceis de se alcançar. Os acessos, mesmo que não tenham boa

qualidade de manutenção, estão disponíveis na maior parte do país;

A estabilidade política do país é considerada sólida, nacional e

internacionalmente;

O nível de educação do seu povo é considerado alto, sobretudo quando se

compara com os demais países de região. Este fator favorece a preferência

por empresas e por turistas;

Existem várias empresas locais especializadas em nichos específicos

(terceira idade, saúde, estudantes e outros);

A localização do país, que se encontra próximo e com fácil acesso para seus

principais mercados emissores (América do Norte, Europa e América do Sul);

O país tem demonstrado capacidade inovadora para desenvolver o turismo

em harmonia com a natureza, o que o torna reconhecido como um dos

principais destinos turísticos naturais do mundo. Grande parte desse sucesso

se deve ao sistema de parques nacionais, implantado e promovido com êxito.

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Segura e Inman (1998, p. 9) concluem este estudo com algumas constatações

importantes. Para os empresários de turismo da Costa Rica, é importante: o trabalho

em conjunto, sob uma ética e estratégia coletiva coerente; definir para o longo prazo o

que é uma genuína hospitalidade ‘tica’ e a proteção do meio ambiente natural

continuará sendo o mais importante ativo turístico do país. Dentre as contradições que

esses valores e a realidade local se vêem envolvidos estão o dilema entre turismo de

“sol e praia” e o ecoturismo e o modelo de turismo de mega resorts e golfe que está

sendo desenvolvido em Guanacaste. Os autores finalizam essa discussão propondo a

adoção de um mecanismo de Certificação da Sustentabilidade Turística, embasado nos

valores que expressam a verdadeira identidade do país no mercado de turismo.

4.3.2. O Cluster de Turismo de Bonito - MS

O estudo de caso sobre o turismo em Bonito, no Mato Grosso do Sul, realizado

por Barbosa e Zamboni (2000) traz algumas informações importantes para exemplificar

a aplicação do modelo de cluster nesse setor. Os autores descrevem o cluster de

turismo de Bonito através de uma representação gráfica composta por cinco “anéis”. No

epicentro, os atrativos; o segundo anel é representado pelo trade turístico (hotéis,

agências de turismo, guias, bares e restaurantes, meios de transportes, comércio

turístico); o terceiro é composto pelos atores sociais (poder público, associações de

classe e colegiados); o quarto anel é formado pelas entidades de apoio supra-locais

(órgãos públicos estaduais, federais, paraestatais e ONGs) e o quinto é composto pela

base local onde ocorre o turismo, ou seja, o meio urbano, o meio rural e as estruturas

de acesso.

O turismo começou a se desenvolver naquele município em meados da década

de 80, pela iniciativa individual de alguns proprietários de fazendas que possuíam

atrativos naturais e passaram a cobrar uma taxa de ingresso por visitante, depois de

construírem trilhas e escadas de acesso aos rios, disciplinando a visitação. Nessa

mesma época, a prefeitura municipal desapropriou o Balneário Municipal e realizou

obras de infra-estrutura para propiciar lazer, sobretudo para a população local. Em ação

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81

conjunta, empresários e prefeitura abriram vias cercadas – corredores – de acesso aos

atrativos, com o intuito de separar os animais do tráfego gerado pela visitação aos

mesmos.

Acontecimentos como a Eco-92, no Rio de Janeiro, a exibição, em 1993, pela

televisão, de um documentário sobre a Gruta do Lago Azul e de outros programas

sobre os atrativos naturais daquela região fizeram com que ocorresse um aumento

muito expressivo no número de visitantes em busca de um turismo de natureza.

Outras ações, como a realização de curso para formação de guias, em1993, a lei

municipal que tornou obrigatório o acompanhamento de guias nos passeios turísticos

locais, a criação do Conselho Municipal de Turismo - CONTUR e do Fundo Municipal

de Turismo, em 1995, também contribuíram para o ordenamento local do turismo.

Entretanto, o passo considerado mais importante para a formação de estrutura

integrada para a gestão do turismo de Bonito foi a criação do “voucher único”, nesse

mesmo ano, por instrução normativa do CONTUR.

O “voucher único” é emitido e controlado pela Secretaria de Turismo e Meio

Ambiente de Bonito e comercializado, com exclusividade, pelas agências de turismo,

que, semanalmente, repassam as parcelas de arrecadação dos ingressos aos

proprietários dos atrativos, aos guias e à Prefeitura, utilizando-se também esse controle

para se calcular o recolhimento do Imposto sobre Serviços – ISS. O controle da

capacidade de suporte, que determina a quantidade máxima de ingressos a serem

vendidos, é realizado pela prefeitura municipal, através de uma central informatizada,

para a qual as agências de turismo efetuam as consultas de disponibilidade, antes da

venda.

Segundo Barbosa e Zamboni (2000, p. 27-28), a instituição do “voucher único”

tem sido uma das medidas essenciais à eficiência coletiva do trade de Bonito, porque

produz os seguintes efeitos positivos diretos ao desenvolvimento sustentável do

ecoturismo: a) viabiliza o controle da capacidade de suporte dos atrativos; b)

sistematiza o acompanhamento dos guias como forma de reduzir os impactos

ambientais da visitação; c) assegura reserva de mercado para as agências de turismo

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na venda de ingressos, e d) estabelece parâmetros para repartição do resultado da

venda de ingressos.

Apesar do curto tempo de existência do turismo em Bonito, da existência de

fragilidades no nível empresarial, na qualidade dos equipamentos e serviços turísticos e

na gestão pública local, os autores consideram que existe a configuração de um

“potencial cluster” de turismo naquele município, que conta os diversos fatores de

competitividade capazes de promover a sua consolidação, no médio prazo. Dentre

esses fatores, merecem destaque o patrimônio natural com grau de utilização

responsável, a estrutura operacional implantada do “voucher único” e o grande número

de instituições de apoio ao desenvolvimento do turismo local.

4.3.3. O Projeto Iniciativa pelo Nordeste

Dentre os projetos de formação de clusters no setor de turismo, oriundos de

políticas públicas, considera-se a primeira tentativa desenvolvida no Brasil o projeto

denominado Iniciativa pelo Nordeste, idealizado a partir da realização de um seminário

internacional realizado em outubro de 1996, em Salvador, com a participação do vice-

presidente do Brasil, ministros de Estado, vice-presidente do Banco Mundial,

governadores do Nordeste, empresários e parlamentares, o qual originou um

documento denominado “Novo Nordeste. Novo Século”, contendo bases para uma

estratégia de desenvolvimento regional.

O projeto Iniciativa pelo Nordeste foi elaborado com o objetivo de “contribuir para

o desenvolvimento competitivo da região nordestina, inclusive pela atração de

investimentos privados”, contando com a parceria do Governo Federal, através

Ministério do Planejamento e Orçamento, Ministério de Ciência e Tecnologia, BNDES e

Banco do Nordeste, dos Governos Estaduais, através de suas Secretarias de

Planejamento, da Comissão de Políticas para o Nordeste do Senado Federal, do Banco

Mundial – BIRD, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, do Instituto

Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA, da Organização das Nações

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83

Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO e de empresas privadas (INICIATIVA

PELO NORDESTE, 1997, p. 4).

O referido Documento menciona a iniciativa de ação compartilhada entre o poder

público e setor privado, adotando o modelo de cluster. Apresenta no seu capítulo 3 a

fundamentação teórica do modelo adotado e se refere a um levantamento preliminar,

que identificou “14 atividades com características promissoras para o desenvolvimento

competitivo”, das quais foram destacadas para uma ação inicial as de grãos, fruticultura

e turismo. Essa escolha é justificada pelo documento, em virtude “[...] do estágio de

elevado potencial de competitividade internacional e por consultarem o interesse

simultâneo do maior número de estados do Nordeste”.

Uma das primeiras providências foi a realização de concorrência internacional

para contratação de consultoria especializada para análise dos clusters dos três setores

destacados acima. O arranjo institucional estabelecido foi:

i) Comitê Deliberativo - formado por representantes de todas as entidades

participantes do projeto e representantes do setor privado, com a função de

estabelecer as diretrizes gerais e acompanhar as atividades do Grupo

Executivo;

ii) Grupo Executivo - formado por técnicos especializados, com sede no IPEA,

em Brasília e no BNDES, escritório regional de Recife, com a função de

operacionalizar a implantação do projeto, subordinado diretamente ao

Conselho Deliberativo;

iii) Câmaras Regionais Setoriais - compostas pelos representantes dos diversos

segmentos inseridos no projeto, as quais acompanhariam os trabalhos da

consultoria e definiriam as ações a serem implementadas pelos diversos

segmentos, e

iv) Em cada Estado, equipes de coordenação estadual e câmaras setoriais

estaduais foram desenhadas para liderar o desenvolvimento dos clusters

locais.

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84

Lopes Neto (1998, p. 118) relata que duas empresas internacionais – a Monitor e

a ICF Kaiser - participaram da concorrência para escolha da empresa de consultoria a

ser responsável pela implantação do projeto, tendo sido vencedora a ICF Kaiser, cujos

trabalhos foram iniciados no começo de 1998. A abordagem adotada combinaria uma

análise sobre a situação da economia do Nordeste e dos setores selecionados para

formação de clusters, com o objetivo de prestar assistência durante o processo de

transição do modelo de desenvolvimento econômico baseado e dependente do setor

público para o modelo de cluster, que se baseia, fundamentalmente, no setor privado.

Após essa fase, previu-se uma averiguação da posição de competitividade de

cada cluster proposto em relação aos mercados globais e da identificação dos

problemas e necessidades em relação a infra-estrutura, políticas públicas, gargalos

logísticos, fatores empresariais e necessidades de capacitação. A etapa seguinte seria

a divulgação dos resultados desses estudos, junto aos interessados, efetuando a

transferência de tecnologias, através de contatos com os grupos de trabalho e as

câmaras setoriais, prevendo-se ainda treinamentos. Uma ação de suporte em

comunicação e divulgação faria parte do projeto, visando disseminar a cultura e as

práticas de organização em clusters.

No caso específico do cluster de turismo previu-se analisar a estrutura e situação

competitiva do turismo no Nordeste, seus segmentos-chave, cadeia de valores e traçar

um perfil comparativo com outras experiências bem-sucedidas no mundo. Outro

aspecto a ser evidenciado era a definição dos pontos frágeis do produto turístico

Nordeste, em termos de infra-estrutura de transporte, saneamento, energia,

telecomunicações, instalações públicas e turísticas, necessidades de capacitação para

aprimoramento dos serviços, além de aspectos regulatórios, de segurança para o

turismo e de comunicação e marketing do produto.

Passado pouco mais de três anos do início desse projeto, verificou-se, através

de depoimentos de seus participantes, que algumas etapas foram cumpridas, mas

outras não prosseguiram como estava previsto. Foi observada também uma

desarticulação da estrutura instalada e, principalmente, uma desmotivação por parte do

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setor privado para implementar o modelo proposto. Dentre as possíveis causas que

motivaram a descontinuação do Projeto Iniciativa pelo Nordeste, foram destacadas:

a) a falta de tradição em organização de cooperação interfirmas, observando-se o

hábito de iniciativas individuais pelas empresas;

b) o pouco tempo para maturação de uma mudança de comportamento empresarial,

de certa forma radical, principalmente porque a iniciativa era oriunda de motivação

externa, ou seja, um projeto público a ser absorvido pelo setor privado;

c) não houve, desde o início do projeto, um trabalho de integração entre as forças

empresariais privadas, permanecendo o mesmo ambiente de baixa confiança e

competição predatória;

d) não houve, também, no mesmo período, uma ação de integração e fortalecimento

da confiança e da parceria entre o empresariado e o setor público, cuja prática

desenvolvida, principalmente, por este último, tem sido historicamente fundada em

bases de autoritarismo ou clientelismo;

e) naquele período, o Nordeste enfrentava dificuldades para superação das

fragilidades do produto turístico, sobretudo pela necessidade de altos investimentos

em infra-estrutura básica, além da carência de investimentos privados em

requalificação da oferta técnica turística, atribuída pelos empresários à crise de

rentabilidade instalada em quase todo o setor;

f) verificou-se, durante o processo, que a ICF Kaiser desconhecia a realidade sócio-

econômica-cultural do Nordeste, e que a empresa brasileira consorciada não

detinha experiência com projetos de clusters. Com isso, supõe-se que o processo de

liderança e estimulação para efetivação da mudança de paradigma ficou

prejudicado;

g) por todos os motivos acima, a força motriz deste projeto continuou centrada nas

estruturas públicas estaduais e federais, enquanto seu conceito pregava a

passagem para uma liderança empresarial. Mais uma vez, observou-se a

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implantação de um modelo de desenvolvimento exógeno, com “aparência” de

desenvolvimento regional endógeno.

É importante salientar que essas hipóteses levantadas não se constituem em

questões testadas empiricamente; são, apenas, frutos de opiniões colhidas e

observações pela convivência permanente com o tema. Aqui fica a sugestão para um

estudo futuro de investigação sobre o assunto.

Romão (1998, p.19), nas suas considerações sobre o projeto Iniciativa pelo

Nordeste e a proposta de criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, assim

opinou:

Para que as duas estratégias aqui esboçadas – ambas consonantes com o

documento de Salvador – produzam efeitos multiplicadores crescentes sobre o

espaço regional, há que configurá-las num projeto mais global de

desenvolvimento do Nordeste. Implementadas isoladamente, ou com frágeis elos

de interconexão, podem levar muito tempo para produzir seus efeitos positivos,

para não falar de perda de eficácia, recursos financeiros, e energia humana.

4.3.4. Cresce Minas: um Projeto Brasileiro

O Cresce Minas – Um Projeto Brasileiro, liderado pela Federação das Indústrias

do Estado de Minas Gerais, iniciou, em 1999, contando com o apoio de lideres

empresariais, políticos e acadêmicos do Estado, adotou como objetivo o

desenvolvimento econômico regional sustentável, baseado em metas e no modelo de

clusters, capazes de promover as oportunidades identificadas no âmbito das 37

microrregiões do Estado de Minas Gerais, 26 setores e 47 clusters potenciais. Para dar

suporte técnico à implantação deste projeto, foi contratada a McKinsey & Company,

consultoria internacional especializada nessa área, para atuar em conjunto com o

Comitê de Liderança do Projeto, o Conselho Consultivo, o Comitê Operacional e a

Equipe de Coordenação, formando assim o arranjo institucional montado para iniciar

sua implementação (FIEMG, 2000).

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Ainda compondo essa estrutura, existem os “times” específicos por cluster ou

frente de trabalho e o apoio permanente das entidades públicas e privadas. Outra

iniciativa que está sendo planejada é a criação de uma entidade sem fins lucrativos que

atuará na implantação, apoio, manutenção e integração dos clusters, buscando

soluções para pontos de gargalos, atração de investimentos e financiamentos, além da

divulgação e realização de acordos de cooperação com outras agências de

desenvolvimento. Assim, o Documento FIEMG (2000, p. 95-97), do projeto Cresce

Minas, aborda a criação de um “Instituto do Cluster” e de “Agências do Cluster”, que

formarão uma rede de relacionamentos e reforços para a montagem e manutenção do

projeto.

O passo inicial foi a elaboração de um diagnóstico da economia mineira, que

subsidiou a definição de diretrizes e ações para fortalecimento das regiões e setores,

beneficiando-se das forças aglutinadoras que um cluster é capaz de produzir. Prevê-se

também que a ação integrada entre diversos clusters setoriais possa reforçar o modelo

proposto, uma vez que os mesmos representam, aproximadamente, 40% da economia

de mercado de Minas Gerais.

Os clusters potenciais foram agrupados em oito grandes blocos de atividade

econômica: produção vegetal, proteína animal, indústria leve, indústria pesada,

construção, indústria tecnológica, serviços e atividades tradicionais. O turismo ficou

agrupado no setor de serviços, juntamente com serviços automotivos e atacado. Em

turismo, identificou-se oportunidades para formação de clusters em Araxá, Belo

Horizonte, cidades históricas, Circuito das Águas e Poços de Caldas.

As principais vantagens competitivas vinculadas ao turismo, detectadas nessas

áreas, foram: as características naturais e culturais de cada região, a infra-estrutura

turística já instalada e de boa qualidade, sobretudo em Belo Horizonte, a oportunidade

para fortalecimento de outros segmentos de turismo, a exemplo do turismo de negócios

e convenções, do ecoturismo, além da integração das cidades históricas com Belo

Horizonte e com o Circuito das Águas em um único corredor turístico.

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Os principais desafios a serem vencidos nessas mesmas áreas foram: pouca

cooperação/articulação na cadeia de valor, baixa capacitação administrativa/gerencial,

pouca oferta de treinamento ou cursos defasados, cadeia de valor incompleta,

apresentando vários gargalos, e oferta de produtos e serviços muito reduzida. Para

superação desses desafios foram identificados três grandes linhas de ação:

a) promover a articulação e a cooperação entre os elos da cadeia de valor, visando a

criação de sinergias, exemplo da integração entre o turismo de negócios, o

calendário de eventos e as atividades de lazer e de turismo histórico;

b) capacitar a mão de obra gerencial e administrativa, principalmente na hotelaria, cuja

necessidade maior se concentra na área gerencial, que também assumiria o papel

de multiplicadores.

c) completar a cadeia de valor, a exemplo da implantação de um grande centro de

convenções que amplie e alavanque o turismo de negócios na região de Belo

Horizonte, um sistema de transportes que interligue as cidades históricas e essas

com a capital, além da melhoria e implantação de serviços de hospedagem e

alimentação, nessas localidades.

A implementação do projeto foi iniciada por 5 projetos piloto que demonstraram

maior capacidade de alavancagem econômica imediata, dentre as quais não estavam

incluídos os cluster de turismo. Até o momento, não foi possível identificar se alguma

iniciativa em direção aos clusters de turismo já foi iniciada. Contudo, pode-se afirmar,

mesmo ainda que em condição prematura, que o presente projeto reúne boas

condições para ser bem sucedido, principalmente porque atende aos seguintes

aspectos, que são relevantes para o sucesso da implantação de um modelo de cluster:

a) parte de uma intenção de entidade representativa e associativa do setor privado,

que entende o novo papel desse setor, face à mudança do paradigma de

desenvolvimento;

b) o desenho institucional desse projeto parece indicar que o mesmo não se esgota em

si, mas está interessado nos resultados e desdobramentos decorrentes dele. Parte

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da responsabilidade dos principais interessados no sucesso da implantação do

modelo e não no interesse de uma instituição externa;

c) o projeto prevê a implantação de clusters localizados em regiões específicas, de

acordo com vocações e condições locais, em lugar de um cluster estadual único por

setor. A delimitação sub-regional parece aprofundar mais a análise das questões e

dificuldades enfrentadas, contribuindo para o alcance da cooperação, fortalecimento

da confiança e busca da eficiência coletiva, referida por Humphrey e Schmitz (1995,

p. 7).

4.3.5. O Clustering do Turismo na Bahia

Dentre as iniciativas de estabelecimento de cooperação entre os diversos

stakeholders do turismo na Bahia, o cluster é a mais recente, e pode-se dizer que

também foi iniciada sob a condução do setor público. Este mesmo setor, que durante as

décadas de 70 e 80 iniciou empreendendo diretamente os principais meios para o

fomento e desenvolvimento desta atividade em diversas regiões do Estado, a exemplo

da construção e operação de meios de hospedagem e outros equipamentos turísticos,

posteriormente tratou de iniciar o processo de transferência dos mesmos à iniciativa

privada.

No começo dos anos 90, as iniciativas estavam centradas na definição dos

espaços turísticos, na instalação do processo de infra-estruturação desses espaços, na

difusão das oportunidades de desenvolvimento de negócios do turismo e na promoção

dos destinos, através do PRODETUR/BA. A segunda metade dessa última década se

iniciou com o entendimento de que o setor público deverá continuar exercendo o papel

de apoio institucional ao desenvolvimento do turismo, realizando também o

chamamento à iniciativa privada e entidades representativas da sociedade civil, para

liderança, compartilhamento e ação integrada neste setor.

A noção de que o processo de clustering advém do setor produtivo, reforçado por

raízes históricas de uma sociedade proativa, parece estar presente no contexto do

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desenho dessa iniciativa de estimulação que se deflagra na Bahia. A perspectiva de

mudança de paradigmas indica uma trajetória de média e longa duração, até que se

alcance o intento de se consolidar este cluster turístico.

A primeira iniciativa de formação de cluster de turismo na Bahia estava vinculada

ao Projeto Iniciativa pelo Nordeste, iniciado em 1997, como apresentado no item 4.3.3

deste trabalho. Concretamente, foi criado o Comitê Estadual, vinculado à Secretaria do

Planejamento, Ciência e Tecnologia – Seplantec, contando com a participação da

Secretaria da Cultura e Turismo, e foram constituídas Câmaras Regionais de Turismo

na Costa do Descobrimento, na Costa do Cacau, em Salvador, na Costa dos Coqueiros

e na Chapada Diamantina. As informações obtidas sobre o andamento atual deste

projeto, tanto no Nordeste, como um todo, como na Bahia, indicam que o mesmo sofreu

descontinuação. No caso da Bahia, mesmo com a estrutura instalada do Comitê

Estadual e das Câmaras Regionais, o projeto não chegou a alcançar autonomia em

relação à iniciativa regional como um todo, devido, principalmente, ao curto espaço de

tempo para sua consolidação e à interrupção no suporte prestado pela empresa de

consultoria.

Como resultado positivo dessa experiência na Bahia, parece ter ficado o

entendimento de que a estrutura de cluster se mostra bastante apropriada para o

turismo, conforme expressam as lideranças do setor público envolvidas com o setor.

Partindo dessa premissa, o Governo do Estado decidiu iniciar processo estadual de

recondução do modelo de cluster, reprogramando as bases do mesmo, através do

projeto Cluster de Entretenimento do Estado da Bahia, apresentado a seguir.

Criando o Cluster do Entretenimento do Estado da Bahia

A segunda iniciativa de formação de cluster envolvendo o setor de turismo na

Bahia aconteceu no final do ano 2000, partindo de mais uma iniciativa do Governo do

Estado, através da Secretaria da Cultura e Turismo e da Fundação Luís Eduardo

Magalhães, que contrataram a consultoria especializada da Monitor Group para a

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criação do “Cluster de Entretenimento do Estado da Bahia”. Este projeto inclui os

setores de turismo, cultura, lazer, esportes, música, gastronomia e vários outros

relacionados a esse negócio. Essa amplificação do escopo é justificada pela equipe do

projeto em razão das características do produto Bahia e dos propósitos de fortalecer

seu diferencial competitivo, que se encontra fortemente atrelado aos aspectos culturais

locais. (MONITOR GROUP, 2001, p.3-5).

Consta no Sumário Executivo do relatório de conclusão da primeira fase deste

Projeto, que o Estado tem se colocado na posição “[...] de estimular e apoiar o aumento

da competitividade do setor de entretenimento, tendo como meta elevar a Bahia à

condição de principal destino de entretenimento do Brasil nos próximos cinco anos”.

Existe o entendimento por parte do Governo de que o protagonista desse processo é o

setor privado, responsável pela produção e comercialização do produto turístico,

cabendo ao setor público colaborar para a geração de “ambientes favoráveis” a este

segmento.

Este relatório revela, ainda, que a análise do “diamante” do Cluster do

Entretenimento da Bahia, realizado em março de 2001, constatou que o mesmo

apresenta os seguintes resultados em relação aos fatores determinantes de vantagem

competitiva: a) estratégia, estrutura, rivalidade – avaliado como fraco nos aspectos de

cultura empresarial, integração e atração de investimentos privados; b) fatores de

demanda - considerado médio em relação ao conhecimento dos clientes, mantém

baixos padrões de exigência nos produtos e serviços, mas apresenta uma demanda

crescente; c) fatores básicos e avançados de produção – avaliados como fortes e

positivos os fatores básicos de recursos naturais, localização e “baianidade” e os

fatores avançados de acervo cultural. Ainda considerados como médios ou fracos os

fatores avançados relativos à mão-de-obra qualificada, padrão de serviços e lacunas na

infra-estrutura básica; d) nos setores correlatos e de apoio (o próprio cluster) – foram

considerados como fracos, apresentando falta de associativismo, concorrência

predatória, baixa integração entre os destinos turísticos dentro do Estado, e pouca

divulgação da agenda cultural para o turista. Neste tópico, ressaltou-se como fator

positivo importante o modelo de organização do carnaval de Salvador. Seguindo a

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análise atualmente proposta por Porter, foi também avaliado o papel do Governo para o

“diamante competitivo” do Cluster da Bahia, tendo sido considerado positivo nos seus

aspectos de flexibilidade e priorização da cultura e do turismo, embora ainda

permaneçam negativas as questões de mentalidade paternalista, pouco diálogo com a

iniciativa privada, e poucas parcerias federais.

Partindo dessa premissa, este projeto foi concebido e está merecendo a

mobilização de recursos humanos e financeiros do Estado, pois, historicamente, tem-se

constatado que a alavancagem do turismo na Bahia ainda se encontra ancorada nas

iniciativas do setor público. Foi desenhado em quatro fases, apresentadas a seguir, das

quais a primeira já foi concluída, estando em andamento a segunda fase:

Fase I – Diagnóstico do Cluster

Identificação dos Principais elementos do cluster

Entendimento dos modelos mentais dos membros do cluster

Identificação dos líderes do cluster

Avaliação da competitividade do cluster - (Benchmarking)

Identificação dos segmentos de clientes

Sugestão para as linhas de ação estratégica

Fase II – Direcionamento da Estratégia do Cluster

Seleção dos segmentos

Seleção da estratégia piloto para fortalecer o cluster

Criação de princípios da transição para um cluster mais competitivo

Estratégia para captação de mercado

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Estratégia para atração de investidores →

Criação do Conselho de Entretenimento

Fase III – Fortalecimento do Cluster

Lançamento dos projetos piloto

Desenvolvimento dos novos sistemas de venda ou marketing

Fortalecimento do capital humano

Construção de novas redes de cooperação dentro do cluster

Fase IV – Desenvolvimento Institucional

Fortalecimento e reestruturação de instituições-chave de apoio ao cluster

Treinamento contínuo dos membros do cluster

Planejamento de longo prazo para a continuação do desenvolvimento do cluster

Os grandes desafios para o Cluster de Entretenimento da Bahia, identificados na

primeira fase do projeto, também se constituem nos principais pontos em que os

agentes envolvidos deverão atuar, para promover a “mudança de mentalidade”

necessária ao sucesso desse modelo de integração interorganizacional. Esses

“desafios” passam a ser convertidos em propósitos do projeto, quais sejam:

a) maior integração entre cultura e turismo, como forma de diferenciação e

crescimento auto-sutentado;

b) melhor aproveitamento da interiorização do turismo, para além de Salvador e

Porto Seguro;

c) maior sinergia entre os setores público e privado, assim como dentro do próprio

setor privado;

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d) qualificação dos produtos e serviços, de modo que o empresariado venha obter

resultados mais expressivos, mediante atração de segmentos turísticos com

volume de gasto mais elevado.

Dentre os estudos realizados pela Monitor Group em clusters localizados em

países em desenvolvimento, foram identificadas sete oportunidades de aumento da

competitividade, presentes em quase todos os casos. Para a Bahia, podem ser

consideradas todas elas:

a. evitar a super-dependência de fatores básicos

b. aumentar o entendimento sobre o cliente

c. melhorar o entendimento sobre a posição relativa

d. melhorar a cooperação entre empresas

e. integrar o cluster verticalmente

f. evitar o defensivismo

g. evitar o paternalismo

A Monitor Group, juntamente com a equipe estadual envolvida neste projeto,

definiram que o “Mapa do Cluster do Turismo da Bahia” é formado por entidades e

empresas que afetam diretamente a experiência do visitante. Foram divididas em duas

categorias-chave - “empresa âncora” e “indústria de apoio” – e agrupadas nas diversas

fases da experiência do turista:

1. Planejamento da Viagem

Âncora – Agências de Viagem, Operadores Turísticos →

→ Apoio – SCT/Bahiatursa, Meios de Comunicação, Aeroporto

2. Seleção do Destino

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Âncora –Agência de Viagem, Operadores Turísticos, Hotéis, Companhias Aéreas →

Apoio – SCT/Bahiatursa, Setor de Transporte, Meios de Comunicação

3. Durante a Viagem

Âncora –Operadores Turísticos, Hotéis, Companhias Aéreas

Apoio – SCT/Bahiatursa, Restaurantes, Compras, Transporte, Comunicação,

Entretenimento

4. Depois da Viagem

Âncora –Agências de Viagem, Operadores, Hotéis, Companhias Aéreas

Apoio – SCT/Bahiatursa

Como referido anteriormente, e de acordo com o relatório síntese da Monitor

Group (2001, p. 31), este projeto se encontra na execução da sua segunda fase, tendo

como principais atividades a seleção de segmentos para os projetos-piloto e a criação

do Conselho de Entretenimento da Bahia.

Da análise destes projetos pode-se concluir, ainda que de forma preliminar, que

os mesmos estão sendo conduzidos de forma semelhante ao que tem ocorrido em

outras regiões do mundo, nas quais as iniciativas de adoção do modelo de cluster, se

dá sob a ação de liderança por parte de instituições públicas. Alguns aspectos

peculiares aos antecedentes históricos do desenvolvimento do turismo na Bahia

chamam atenção e se constituem em alerta para se evitar a manutenção da

dependência do turismo em relação à liderança pelo setor público.

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4.4. O Modelo de Cluster e sua Adequação ao Turismo

Para concluir sobre a adequação do modelo de cluster no setor do turismo,

recorremos aos fundamentos teóricos encontrados ao longo deste trabalho de

investigação, destacando, pelos aspectos da teoria do turismo, as contribuições de

Leiper, Inskeep, Mathieson e Wall, que entendem este setor como heterogêneo,

fragmentado, interdependente e ancorado no ambiente sócio-econômico-espacial. Para

dar sentido aos argumentos relativos ao modelo de cluster , merecem destaque as

contribuições de Porter, Humphrey e Schmitz, nas quais se pode constatar que o

mesmo encontra ambiente propício em setores econômicos formados por pequenas,

médias e grandes empresas, que se concentram em determinado espaço geográfico,

exercem atividades semelhantes e complementares para produção de um determinado

produto, necessitam atuar de forma orientada para o cliente, em ação sinérgica,

preservando o binômio cooperação e competição, que são fundamentais ao aumento e

manutenção da competitividade.

Dentre as desvantagens para a aplicação do modelo de cluster em turismo pode-

se indicar a tendência que se cria no local de destino para a superdependência

econômica ancorada em um único padrão de atividade. Em outras palavras, o destino

turístico tende a depender unicamente do turismo, como atividade que movimenta a

economia local. Em alguns casos, esta dependência se concentra em apenas um

segmento de turismo – sol e praia, rural, eventos, dentre outros.

Para evitar que se estabeleça esta dependência mono-produtiva, a teoria do

turismo recomenda que os destinos turísticos busquem a diversificação econômica, se

possível, em mais de um setor de atividade e, caso não seja possível estabelecer

outras atividades econômicas viáveis, que se procure promover a diversificação dentro

do próprio turismo, por meio do incremento de mais de um segmento e/ou nicho de

mercado (MATHIESON e WALL, 1992, p.87-88).

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Pode-se ainda ampliar o espectro de alcance dos clusters turísticos, associando-

os a outros setores afins, com o mesmo intuito de promover a diversificação econômica,

o fortalecimento e a competitividade dos clusters deste setor.

A referência mais recente sobre a utilização de modelo de cluster no turismo foi

apresentada por Petrocchi (2001, p.37-64), no seu último trabalho denominado “Gestão

de Pólos Turísticos”. Concordando com o autor no que se refere à importância e

adequação desse modelo no turismo, parece apenas ser equivocada essa tradução na

qual Petrocchi convenciona que o conceito de cluster será traduzido para o termo

“pólo”. Sabe-se, através da literatura pertinente aos aglomerados econômicos, que se

tratam de conceitos de modelos distintos e que representam filosofias praticamente

opostas, como foi mencionado no capítulo 2 desse trabalho.

Por fim, construindo a ponte entre o setor de turismo e o modelo de cluster, finaliza-

se este capítulo com a percepção de que os clusters turísticos podem se constituir em

uma alternativa favorável de desenvolvimento local sustentável.

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5. TERCEIRO MODELO – CONHECENDO AS REDES INTERORGANIZACIONAIS

5.1. Caracterização Geral

Pode parecer óbvio, mas a multiplicidade de significados atribuídos ao termo

“rede” indica a necessidade de melhor caracterizá-lo, trazendo seu conceito mais

amplo, para posterior aplicação ao campo social e organizacional. Importante

contribuição ao estudo das redes é apresentada por Castells (2000, p. 498), quando

assim inicia sua definição sobre rede: “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó

é o ponto no qual uma curva se entrecorta”. E continua com a seguinte concepção:

Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando

novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que

compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou

objetivos de desempenho). (CASTELLS, 2000, p. 498)

Derivado do latim rete, significa “entrelaçamento do fios, cordas, cordéis,

arames, com aberturas regulares fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido”.

Ao citar este significado, contido no Dicionário Aurélio, Loiola e Moura (1997, p. 54)

complementam e interpretam a sua correlação com o campo das organizações,

comparando “os fios” com “as linhas ou as relações entre atores e organizações”, sendo

estes últimos representados pelas “malhas ou os ’nós’”.

As autoras chamam atenção para duas características “regularidade e

interligação”, que se encontram presentes nos tecidos e que podem corresponder a

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“igualdade e complementaridade” nos arranjos sociais e organizacionais, como elas

assim definem:

Cada nó do tecido é estratégico, é fundamental para o todo, mas eles só formam

o tecido quando ligados entre si pelas linhas. Não há, portanto, diferença entre

os ‘nós’, nem entre as linhas. Além disso, como encarnam em si as idéias de

origem e de destino, os ‘nós’ limitam e, ao mesmo tempo, são pontos a partir dos

quais a rede se expande. A transformação da rede dá-se apenas pela expansão.

Por isso, não há também diferenças entre linhas e ‘nós’. Só há diferenças de

função entre eles – ligação e sustentação, respectivamente – para formar o

tecido. (LOIOLA E MOURA, 1997, P. 54)

No setor de informática, como também lembra Oliveira (2001, p.4), o conceito

de redes representa a “interligação de computadores”, isto é, “um conjunto de

computadores autônomos e interconectados”, a exemplo da Internet – a rede mundial

w.w.w., a World Wide Web –– que se configura como altamente descentralizada, a

partir dos provedores nas diversas partes do mundo. As autoras chamam atenção para

outras formas de organização em redes destinadas a prestar determinados serviços, a

exemplo da rede bancária, redes de comunicação, de transportes, etc. (LOIOLA e

MOURA, 1997, p. 55; OLIVEIRA, 2001, p. 4-5).

Outros significados têm sido atribuídos ao conceito de rede nas ciências sociais

e nas teorias organizacionais. O conceito de rede social apresentado por Weber (1997)

e citado por Lopes e Moraes (2000, p. 4-6) é “[...] a situação na qual duas ou mais

pessoas estão engajadas em conduzir uma ação onde cada um considera o

comportamento do outro de uma maneira significativa, sendo orientado nestes termos”.

Com base na análise do pensamento de Weber, tentando uma releitura mais objetiva,

Lopes e Moraes concluem que as redes “[...] nada mais são do que um conjunto de

relacionamentos sociais que se reproduzem e apresentam padrões persistentes ao

longo do tempo”.

Castells (2000 p. 498) argumenta que uma estrutura social com base em redes

se constitui em um “sistema aberto”, potencialmente dinâmico e preparado para

absorver inovações, sem que isto interfira no seu equilíbrio. É de opinião que as redes

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são modelos apropriados para a economia capitalista, que se baseia na inovação, na

globalização e na “concentração descentralizada”. O autor considera que as redes

enfatizam a flexibilidade e a adaptabilidade no trabalho e nas empresas, sendo

ambiente propício para uma cultura de “desconstrução e reconstrução” permanentes.

São também capazes de acolher políticas de “processamento instantâneo” de novos

valores e adequadas a um tecido social interessado em vencer as barreiras do espaço

e do tempo.

Nas palavras de Castells (2000, p.497) “redes constituem a nova morfologia

social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma

substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência,

poder e cultura”. O autor completa seu pensamento dizendo que o formato de rede é

uma fonte poderosa de “reorganização do poder”.

No campo dos movimentos sociais, outro enfoque sobre redes é adotado por

Loiola e Moura (1997, p. 56-57), sobretudo, no qual “redes sociais” correspondem:

[...] as articulações entre organizações, grupos e indivíduos vinculados a

ações/movimentos reivindicatórios (ONGs, associações, sindicatos, etc.) visando

a mobilização de recursos, ao intercâmbio de dados e experiências e à

formulação de projetos e políticas.

As autoras ainda se referem ao conceito de redes no âmbito do Estado, as

chamadas redes institucionais, redes sócio-governamentais, redes secundárias formais

ou ainda redes de inserção, que significam meios de integração entre instituições

governamentais ou ainda dessas com outras organizações privadas, tendo como

finalidade o atendimento a problemas sociais e/ou articulações para implementação de

políticas públicas (LOIOLA e MOURA, 1997, p. 56).

Nas organizações, a abordagem de redes (networks) traz uma série

peculiaridades. Por exemplo, Lopes e Moraes (2000, p. 8) baseiam-se no argumento de

Coleman (1990) e propõem que o fato gerador de uma rede (social ou organizacional) é

a relação de interdependência entre os atores que a compõem. E, complementarmente,

adotam a definição de rede, elaborada por Hatch (1997), que considera;

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Rede é uma forma organizacional onde a comunicação vertical e o controle dos

relacionamentos são, no todo ou na parte, substituídos por relações laterais, nas

quais os laços formais que mantinham unidas diferentes unidades de uma

mesma organização são trocados por parcerias entre diversas organizações.

(LOPES e MORAES, 2000, p. 9).

Outra definição apresentada por Lopes e Moraes (2000, p. 9) é a de autoria de

Miles e Snow (1992), que entendem as redes organizacionais como “agrupamentos de

firmas ou unidades especialistas coordenadas por mecanismos de mercado ao invés de

cadeias de comando”. Esse conceito situa as redes como formas de organização

interfirmas, aptas a exercer maior grau de flexibilidade e inovação, e,

conseqüentemente, capazes de se adaptar melhor aos cenários atuais de instabilidade

e incerteza.

Como se observa, o campo dos estudos teóricos sobre redes, apesar de

recente, tem despertado o merecido interesse em busca da sua compreensão e

diferenciação, em relação a outros modelos multiorganizacionais. Autores como

Humphrey e Schmitz (1995, p. 8-9), ao estudarem as pequenas e médias empresas, a

pedido da UNIDO11, trouxeram à tona o conceito de eficiência coletiva, já referido no

capítulo anterior deste trabalho, e o situam no contexto dos clusters e das redes. Na

opinião dos autores, pode-se observar a existência de clusters, que não apresentam

aspectos de eficiência coletiva, mas nos casos de redes de pequenas e médias

empresas, mesmo sem a ocorrência dos agrupamentos geográficos, a eficiência

coletiva é alcançada através dos relacionamentos a acordos de cooperação. Neste

último caso, há uma tendência à redução das economias externas, porém os ganhos

com as parcerias são relevantes.

A evolução dos processos econômicos e das formas de organização produtivas

tem proporcionado o surgimento de diferentes modelos de articulação

interorganizacionais, que muitas vezes são moldados a partir de experiências

localizadas e, posteriormente, se disseminam, de forma generalizada, pelos diferentes

11 UNIDO – United Nations Industrial Development Organization, Small and Medium Enterprises Branch é a divisão de apoio a pequenas e médias empresas da ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial.

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102

territórios e setores produtivos. A generalização pode, por vezes, camuflar a diversidade

de alcances de cada um deles, restringindo o seu aproveitamento pleno. Esta

referência significa, especificamente, a tendência de se comparar como formas

semelhantes os modelos de clusters e redes. Este fato já foi levantado por Almeida

(2001, p. 17), que considera uma redução limitadora, para o conceito de redes, o seu

aprisionamento aos limites propostos pelos agrupamentos de base geográfica, os

clusters.

Outra referência relevante, trazida por Almeida (2001, p. 17), é o risco do

confinamento estabelecido por alguns modelos (clusters, distritos industriais, pólos,

etc.), em contraponto à expansão, cada vez mais presente, do processo de

globalização. Segundo suas palavras, na globalização, “o ‘lugar de mercado’ (market

place), dá lugar ao ‘espaço de mercado’ (market space)”. Almeida reforça seu

argumento ao citar Adam Smith, que defendia a idéia de que “o mercado se

‘desterritorializa’ “.

As redes de relacionamentos entre empresas, instituições e clusters regionais,

referidas por Igliori (2001, p. 59-59), a partir dos estudos de Freeman (1994) e Maillat

(1996), enfatizam a importância que elas assumem como fontes permanentes de

inovação, conhecimento e aprendizado. Nesses estudos, estão também referenciadas

as redes produtivas e comerciais, essas últimas também citadas por Nadvi e Schmitz

(1999) como fator de grande importância para a conexão de clusters produtivos, às

redes de comércio internacionais.

Segundo Amato Neto (2000, p. 47-50), na formação de redes interfirmas são

identificadas três variáveis determinantes: “a diferenciação, a interdependência

interfirmas e a flexibilidade”. A “diferenciação” é traduzida pela capacidade que a rede

possui de estender os benefícios de inovação por todos os seus participantes, a custos

muito mais acessíveis do que ocorre em empresas isoladas. A “interdependência

interfirmas” pode ser entendida como a pré-condição na qual empresas apresentam

entre si relações de interesse econômico, técnico ou operacional, que se constituem no

motivador para estabelecimento de relacionamentos em rede. A “flexibilidade” é a

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103

característica que já se encontra em cada uma das firmas, ao se disporem participar em

redes.

Pode-se dizer que as variáveis identificadas por Amato Neto (2000, op. cit.)

possuem pontos de convergência com o pensamento de Castells, já referido neste

capítulo. Por exemplo, a flexibilidade, para ambos, é uma condição intrínseca às

empresas e instituições participantes de redes.

Para classificação das redes, foram encontradas algumas propostas

semelhantes e outras diferenciadas. Tanto Amato Neto (2000, p. 49-50), que cita

Santos et al (1994), quanto Casarotto Filho e Pires (1998, p. 33-35) adotam os

seguintes tipos de redes de cooperação interempresariais:

a) redes verticais de cooperação ou redes topdown: caracterizam-se pelo conjunto de

empresas que representam os diferentes elos de uma cadeia produtiva (produtores,

fornecedores, distribuidores e prestadores de serviços), geralmente dependentes de

uma empresa-mãe, cujos fornecedores contam com pouca flexibilidade; também

conhecida como modelo japonês, seu exemplo mais típico é a indústria

automobilística;

b) redes horizontais de cooperação ou redes flexíveis: são estabelecidas relações de

cooperação entre empresas de um mesmo setor, sejam em atividades

complementares ou, até mesmo, entre empresas concorrentes, quando estas

encontram dificuldades para resolverem, individualmente, problemas de suprimento,

distribuição, ou para se integrarem em processos participativos que atendam a

interesses comuns; podem ser relacionadas a uma mesma localização geográfica

(quando em clusters) ou a segmentos empresariais específicos; também

denominadas redes flexíveis, a forma de união mais comum é o consórcio; neste

tipo específico, enquadram-se alguns modelos de desenvolvimento regional,

atualmente bastante celebrados por apresentarem maior sustentabilidade;

antecedentes históricos e culturais são relevantes para formação dessas redes e o

exemplo mais típico é o da região da Terceira Itália, congregando diversas redes de

pequenas e médias empresas.

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104

Outros padrões de classificação também são adotados, dentre os quais destaca-

se o apresentado por Miles e Snow (1992, apud LOPES e MORAES, 2000, p. 10) que

dividem as redes em três tipos mais comuns:

a) rede interna - trata de transações estabelecidas entre unidades que pertencem a um

único comando, e que buscam aumentar a vantagem competitiva por meio do

compartilhamento de ativos;

b) rede estável – conta com uma organização-mãe que mantém o controle sobre sua

competência essencial (core competence) e delega um conjunto de outras

atividades complementares para firmas com quem mantém laços externos e

permanentes;

c) rede dinâmica – é aquela em que uma organização líder assume a função de

gerenciar contratos de cooperação com outras firmas que atuam em etapas

específicas do processo produtivo. Nessas últimas, verificam-se maiores

instabilidades por causa da maior facilidade de troca de parceiros, o que, em muitos

casos, dificulta o alcance de maturidade nas relações da rede.

Os três tipos de redes caracterizados por Miles e Snow (1992) parecem estar

enquadrados no padrão de redes verticais (topdown), referido pelos autores anteriores.

Outro padrão de classificação, apresentado por Amato Neto (2000, p. 48-49), distingue

três tipos, quais sejam:

a) redes sociais: caracterizam-se pela informalidade nas relações entre firmas,

dispensando os contratos formais; são sub-divididas em simétricas e assimétricas,

sendo a primeira entendida como as redes de compartilhamento de conhecimento e

troca de informações; exemplos mais característicos são os distritos de alta

tecnologia; as redes sociais assimétricas contam com a presença de um agente

central que coordena contratos de fornecimento de produtos e/ou serviços entre os

participantes da rede. Amato Neto cita como exemplo a rede italiana da Benetton;

b) redes burocráticas: pressupõem um contrato formal que regula sua própria

organização, como também o fornecimento de produtos ou serviços; também são

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sub-divididas em simétricas e assimétricas, sendo simétricas as do tipo consórcios,

associações comerciais, federações, dentre outras. Já as redes burocráticas

assimétricas se referem às redes de agências, acordos de licenciamento e as

franquias;

c) redes proprietárias: têm como característica a formalização de acordos de

propriedade, regulação de P&D (pesquisa e desenvolvimento), inovação

tecnológica, dentre outras. São também simétricas e assimétricas e o caso mais

representativo das redes proprietárias simétricas é o das joint ventures; as

assimétricas, dessa mesma categoria, são representadas pelas relações entre

investidor e empresas parceiras, denominadas capital ventures, encontradas nos

setores de tecnologia de ponta.

Castells (2000, p.209-210) adota a classificação das redes elaborada por Dieter

Ernst, que as sub-dividiu em cinco tipos diferentes:

a) redes de fornecedores: incluem sub-contratação e acordos entre uma “empresa

focal” e seus fornecedores de insumos intermediários para produção;

b) redes de produtores: representam todos os acordos de co-produção, que

possibilitam a associação de produtores concorrentes unirem suas capacidades de

produção (recursos de capital e humanos), para ampliação da oferta de produtos e

expansão da cobertura geográfica;

c) redes de clientes: definidas como o estabelecimento de vínculos e acordos entre os

produtores e seus distribuidores, canais de comercialização revendedores com valor

agregado e usuários finais, tanto nos mercados de exportação como nos mercados

internos;

d) coalizões-padrão: iniciadas pelos potenciais definidores de padrões globais, com o

propósito explícito de vincular o maior número possível de firmas a seus produtos

patenteados ou normas de interface;

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106

e) redes de cooperação tecnológica: criadas para facilitar a aquisição de tecnologia

para projetos e produção de produtos, propiciam o desenvolvimento conjunto de

processos e produtos e o compartilhamento de conhecimentos científicos genéricos

e de P&D.

Castells (2000, op.cit.) chama atenção para o fato de que a formação de redes

não decreta o fim das empresas multinacionais. Na sua opinião, e de outros autores

como Dieter Ernst, as redes se formam ao redor das grandes multinacionais ou com

base em alianças com e entre essas empresas. Na sua opinião, as redes de

cooperação entre pequenas e médias empresas existem, mas desempenham um papel

secundário nos principais setores da economia global.

Com base nos diversos conceitos sobre redes, analisados e referenciados neste

trabalho, chega-se ao entendimento de que a rede interorganizacional é um tipo de

agrupamento de empresas conectadas, geralmente com o objetivo de fortalecer e

complementar umas às outras, tanto nos processos produtivos, como nos sistemas de

distribuição. São também consideradas como formas de alianças estratégicas entre

organizações e tanto podem unir empresas de uma mesma localização geográfica

(redes locais), como conectá-las globalmente em longas distâncias (redes dispersas).

Para Castells, a sociedade em rede experimenta um capitalismo global,

diferenciado dos seus momentos históricos anteriores. Nas suas palavras, “o capital

funciona globalmente como uma unidade de tempo real; e é percebido, investido e

acumulado principalmente na esfera da circulação, isto é, como capital financeiro”. O

autor argumenta que não existe uma classe capitalista global, mas há uma rede

eletrônica integrada, por onde circula esse capital global formado por fluxos financeiros

que são investidos por todo o planeta e em todos os setores produtivos, gerando

acumulação de capital. A decisão de investimento depende do grau de informações

disponíveis na rede, sobre esses setores, e leva em conta a produtividade, a

competitividade e o planejamento de longo prazo, relativo a cada setor (CASTELLS,

2000, p.497-500).

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Pode-se dizer ainda que as redes favorecem tanto o processo de concentração

como o de descentralização dos fluxos financeiros na economia global. Existem

também redes que se configuram como enclaves, dificultando o acesso a novas

interconexões. Neste caso, considera-se que ocorrem desvios quanto ao uso do

modelo, que pretende ser, fundamentalmente, aberto e tem a conectividade e a

coerência como atributos essenciais (CASTELLS, 2000, p. 191).

Em relação ao emprego e às relações sociais, enquanto o capital passa a ser

global, o trabalho continua sendo local. A mão-de-obra atua de forma descentralizada e

diversificada por toda a rede, não existindo identidade coletiva para o fator trabalho.

Castells afirma que, na sociedade em rede, as relações de trabalho tendem a se

distanciar cada vez mais da identidade coletiva, em direção a uma infinita variedade de

relações individuais. Nas relações sociais, a informação assume o papel de ingrediente

principal, cujas mensagens fluem através das redes, alimentando a estrutura social.

Ainda segundo Castells (2000, p. 502-505), “as redes convergem para uma

metarrede de capital que integra os interesses dos capitalistas em âmbito global e por

setores e esferas de atividades: não sem conflito, mas sob a mesma lógica

abrangente”. Acrescenta que as bases da sociedade, espaço e tempo estão sendo

transformadas e organizadas em torno do “espaço de fluxos e do tempo intemporal”. E

afirma também que “sob perspectiva histórica mais ampla, a sociedade em rede

representa uma transformação qualitativa da experiência humana”.

5.2. As Redes Interorganizacionais no Turismo

No turismo, em virtude da multivariedade de segmentos afins e de tamanho de

empresas, há um ambiente bastante favorável à formação de redes

interorganizacionais (networks). Acrescente-se ainda a importância de se estabelecer

modelos compatíveis com as necessidades de circulação rápida de informações, que

de forma flexível atendam às variadas demandas dos turistas, dispensando, tanto

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108

quanto possível, a verticalização das firmas e valorizando a integração de negócios

independentes, mas que atuem de forma cooperada e sinérgica.

A abordagem de redes de cooperação interorganizacional no turismo é

considerada por alguns especialistas como Tremblay (1998, p. 848) como “um novo

paradigma organizacional”, capaz de abrir novas perspectivas e implantar uma

dinâmica inteiramente nova no setor. Assim como nas redes já desenvolvidas em outros

setores, no turismo a adoção desse modelo pode estabelecer sistemas de troca de

informações, construção de padrões de comunicação e confiança, cooperação,

planejamento conjunto e integração operacional, contribuindo para a redução de riscos

para os empreendimentos, além do aumento da produtividade e da competitividade no

mercado global.

Tremblay (1998, op. cit. p.849) chama atenção para a importância das redes

interorganizacionais no setor de turismo, tanto para integração dos diversos

prestadores de serviços nos destinos turísticos, como para formação de alianças

estratégicas de empresas conectando, em rede, os diversos serviços, desde os pontos

de promoção e vendas nos mercados emissores até as regiões de destino.

O autor ainda se refere à possibilidade de integração nessa rede, tanto do setor

público, para melhoria e sincronização dos serviços públicos necessários ao turismo,

como das comunidades receptoras, o que pode proporcionar maior entendimento e

integração dessas com a dinâmica da atividade turística. Devido à preservação das

condições de independência e autonomia das diversas firmas e negócios que, na

maioria das vezes, operam em redes de cooperação, pode-se prever que uma

organização tem a possibilidade de estar conectada em mais de uma rede, para fins

específicos.

Ainda com base nos estudos de Tremblay (1998, op. cit. p.851-854), três tipos

específicos de redes são encontrados, com freqüência, em turismo. O primeiro tipo é

representado pelas redes horizontais de um determinado tipo de serviço, que se juntam

em consórcios ou alianças, para alcançar diversos mercados, a exemplo de sistemas

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hoteleiros com o Best Western e de acordos entre companhias aéreas como o Star

Alliance, do qual participa a Varig e diversas outras empresas.

O segundo tipo diz respeito ao estabelecimento de redes verticais, laterais ou

diagonais de serviços complementares para formação do produto turístico de

determinados destinos – hotéis, companhias aéreas, operadores, agências de viagens

e receptivos, companhias de crédito e seguros, dentre outros – com o intuito de

estabelecer controle de qualidade do produto ofertado, intercâmbio de práticas de

inovação, racionalização de custos operacionais e de marketing, além da abertura de

canais de comunicação com os clientes.

O terceiro tipo descrito por Tremblay trata de redes locais de cooperação que

se formam para compartilhar atrações e infra-estrutura necessária ao turismo, com o

objetivo do gerenciamento cooperativo dos recursos locais para minimização de

impactos negativos. Outras redes locais se formam também para estabelecer sistemas

de informações turísticas e de marketing cooperativo, envolvendo os setores público e

privado (TREMBLAY, 1998, p.853).

Tanto as redes verticais como horizontais ou diagonais podem ser

estabelecidas a partir da necessidade de promover e/ou comercializar produtos

turísticos, seja no âmbito local, como em esferas nacional e internacional. A

participação das empresas ou clusters locais em redes internacionalizadas de

comercialização de produtos turísticos pode garantir a sustentabilidade econômica e

mercadológica de determinados destinos, contribuindo ainda para a evolução qualitativa

desses produtos, estimulada por demandas diversificadas e mais exigentes.

Na opinião de Tremblay (1998, p. 849), as conexões estabelecidas pelas redes

formam uma complexa teia de comunicação e fluxo de informações, envolvendo

variados graus de formalidade e estruturas de coordenação flexíveis bastante

adequadas a “ambientes voláteis”, como o setor de turismo. Duas situações tradicionais

ocorrem na formação das redes: a) a primeira trata de conectar organizações de um

mesmo espaço geográfico que desejam compartilhar ações coletivas e ativos de

interesse comum. Este tipo de rede, também denominada rede local, geralmente,

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110

corresponde ao destino turístico e guarda uma semelhança conceitual muito estreita

com o modelo de cluster; b) a segunda situação trata da formação de alianças

estratégicas, formais e informais, envolvendo firmas e entidades espacialmente

dispersas, através de canais privilegiados de comunicação. No turismo, observa-se este

tipo de rede entre organizações das regiões emissoras e receptoras, formando alianças

cooperativas horizontais e verticais.

Nos casos de conexões em redes internacionais para movimentação de fluxos

de turismo, o apoio do Estado é particularmente importante, sobretudo nos estágios

iniciais. No que se refere à natureza dos ingressos de divisas nas balanças comerciais

dos países, o turismo receptivo pode ser equiparado às atividades exportadoras e o

turismo emissivo, às importações. Essas redes se estabelecem de acordo com os

interesses de demandas e nichos de mercado específicos, levando em conta as

condições de distribuição da oferta de produtos e destinos turísticos.

Diferentemente dos movimentos de aquisições e fusões que ocorrem no mundo

empresarial e envolvem significativas transferências de capitais, as redes conservam a

situação de propriedade das firmas e facilitam tanto a entrada como a saída das

alianças e acordos pactuados. Autores como Tremblay consideram que, devido aos

altos esforços de aprendizagem e confiança, as redes conseguem reduzir os riscos

quanto a comportamentos oportunistas, freqüentemente presentes em setores como o

turismo.

Outro estudo importante sobre redes no setor de turismo é o Projeto “The

Emerging Paradigm of Sustainable Tourism – A Network Perspective (EMPOST-NET),

financiado no âmbito da Comunidade Européia, realizado entre dezembro de 1997 e

maio de 2000, cuja equipe, liderada por Zanaida Fadeeva e Minna Halme (2000), foi

coordenada pelo Instituto Internacional de Economia Industrial e Ambiental da

Universidade de Lund – Suécia.

Este projeto estudou nove redes no setor de turismo, em cinco paises europeus

– Espanha (2), Finlândia (2), Irlanda (2), Grécia (1) e Suécia (2) – tendo como ponto

comum a aliança entre setor público, setor privado, ONGs, academia e comunidades,

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111

para o alcance de um objetivo comum – o desenvolvimento sustentável do turismo. Os

resultados do estudo mostram algumas indicações importantes sobre a aplicação do

modelo de redes interorganizacionais no turismo:

Os agentes turísticos e a comunidade, em geral, têm uma compreensão

fragmentada do conceito de desenvolvimento sustentável. Por outro lado, o

entendimento geral sobre turismo sustentável prevê o desenvolvimento de

produtos que respeitam mais o meio ambiente, oferecem vantagens

competitivas no mercado e asseguram sua viabilidade econômica no longo

prazo.

Além do Turismo Sustentável, os atores dessas redes possuem motivos

complementares para sua formação, como a melhoria do desempenho

econômico da região em que se situam ou o aumento da vantagem

competitiva de suas empresas.

Enquanto a colaboração dos empresários do turismo é necessária para

promover uma consciência ambientalmente sustentável, o apoio das

instituições públicas é imprescindível para coordenar determinadas ações de

forma efetiva.

Dentre os fatores de êxito das redes em turismo, enumera-se o

estabelecimento de uma “visão comum” entre os participantes; a composição

dos membros da rede deve depender desse objetivo comum; a rede deve

assegurar competição diferenciada nas áreas de turismo sustentável, isto é,

deve haver um número equilibrado de participantes nas redes; deve-se evitar

excesso de liderança centralizada, mas é preciso algum tipo de coordenação.

Esses lideres devem permitir as alterações naturais da rede, incluindo a

formação de sub-redes; a confiança entre os membros da rede é, ao mesmo

tempo, uma condição necessária e um resultado desejável; confiança inicial,

credibilidade e reciprocidade são condições que afetam a dinâmica das

redes.

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112

As recomendações apresentadas pelo Projeto EMPOST-NET, foram divididas

em dois grupos: a) para estabelecer redes – reconhecimento por todos os

atores da interdependência mútua e dos temas de interesse comum, além

dos objetivos que motivaram a criação da mesma, e; b) para manter as redes

– distribuir responsabilidades e compartilhar conhecimentos, formalismo e

flexibilidade conjugados de maneira equilibrada, comunicar as realizações da

rede e cuidar da reciprocidade entre seus membros.

5.2.1. Alguns Exemplos de Redes Interorganizacionais no Turismo

Alguns dos exemplos mais representativos na área de hospedagem é o Club

Méd, uma rede hoteleira internacional, que também se articula com operadores locais e

internacionais para inserção no mercado. Mesmo outros empreendimentos hoteleiros

independentes, como o Praia do Forte Eco-Resort, atuam inseridos em redes locais e

internacionais de comercialização, o que lhes garante atingir nichos de mercado do seu

interesse, com a manutenção de altos índices de ocupação e aceitação no mercado.

Pode-se citar, ainda, o produto turístico Costa do Sauípe – Bahia, desenhado

para competir no mercado internacional e que, por se tratar de produto novo e

diferenciado no Brasil, ainda enfrenta os desafios de se aperfeiçoar cada vez mais, para

se inserir em redes nesse mercado globalizado e altamente competitivo. As diversas

cadeias hoteleiras internacionais, lá instaladas, buscam se conectar com seus parceiros

internacionais – operadores de charters, operadores turísticos, etc. – e também

participam de redes locais de integração com outros serviços complementares.

A título de ilustração, serão apresentados, a seguir, dois exemplos de redes em

turismo, sendo o primeiro referente a uma rede local estabelecida no município turístico

de Calviá – Espanha, e o segundo trata de uma rede dispersa, internacionalmente

conhecida como um GDS – Global Distribution System, da área de comercialização de

produtos turísticos, que também se constitui sob o formato empresarial de sistema

internacional de multireservas – o Sistema AMADEUS.

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113

Município de Calviá – Agenda 21 para o desenvolvimento local sustentável

Dentre as nove redes de turismo de países europeus, estudadas pelo projeto

EMPOST-NET, a de Calviá, município turístico situado na ilha de Maiorca, Espanha, se

mostra bastante peculiar, porque pretende conciliar as características de um destino de

turismo de massa, “sol e praia”, que recebe anualmente um terço do total dos visitantes

das ilhas Baleares, com os objetivos municipais de definir uma nova política de longo

prazo para reorganizar o desenvolvimento local e do turismo, sob os princípios da

sustentabilidade.

Essa iniciativa começou em 1995, com a implantação da Agenda 21 Local, por

parte da Prefeitura Municipal, que nomeou um Comitê Diretor para coordenar e apoiar

as ações do Fórum Cidadão, formado por cerca de 160 membros de associações

hoteleiras, sindicatos, associações de moradores, grupos ambientalistas, etc. Realizou-

se um estudo sobre áreas temáticas específicas, por técnicos da prefeitura e

especialistas externos; foram criadas Comissões Temáticas para discutir esses estudos

e estabelecer as estratégias e ações necessárias à implantação da Agenda 21. Os

principais resultados foram: definição de 15 ações imediatas, 40 providências e 10

linhas estratégias de ação, dentro de um cenário desejado.

Os aspectos mais importantes a serem assinalados nesta rede são o amplo

apoio voluntário de todos os atores locais e também o apoio institucional de financeiro

do Governo Municipal e do Ministério de Comércio e Turismo Espanhol, organizados

através do Comitê Diretor e do Fórum Cidadão (FADEEVA e HALME, 2000, p.3-4).

AMADEUS – Global Distribution System, uma rede global de distribuição

O AMADEUS é um sistema global de distribuição e provedor de tecnologia da

informação, que lidera no marketing, vendas e distribuição de produtos relativos ao

setor de viagens e turismo. Disponibiliza uma rede e um banco de dados considerado

um dos maiores da Europa, estando conectado a mais de 56.000 agências de viagens

e 8.500 lojas de companhias aéreas, em cerca de 200 mercados em todo o mundo.

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114

Através da rede AMADEUS, agências de viagens e companhias aéreas podem

efetuar suas reservas com cerca de 500 empresas aéreas, que representam mais de

95% da oferta de assentos em vôos regulares. O sistema também oferece acesso a,

aproximadamente, 56.000 hotéis e 46 locadoras de automóveis, que atuam em 24.000

localidades, além de oferecer outros produtos, tais como reservas de sistemas ferry-

boat, trens, cruzeiros marítimos, seguros de viagens e pacotes turísticos. Conta

também com um poderoso canal de e-commerce, através das páginas da Internet, tanto

através de seu próprio portal, como em coligação com outros parceiros comerciais

(AMADEUS, 2001).

Esse sistema foi fundado em 1987 e estava totalmente implantado em 1992,

tendo sede central em Madri, e o Centro de Processamento de Dados localizado em

Erding, nas proximidades de Munique, Alemanha. Conta com uma central de

desenvolvimento de produtos na França, próximo a Nice, além de 70 bases de suporte,

treinamento e serviços, espalhados por todo o mundo. A empresa como um todo possui

cerca de 4.000 empregados, distribuídos em todo o mundo, oriundos de cerca de 25

diferentes nacionalidades. A empresa se orgulha de possuir um time multicultural

(AMADEUS, 2001).

Sua capacidade de atendimento tem crescido a cada ano, tendo realizado 1

milhão de reservas em vôos, em 1989. Dez anos depois, já realizava 371,7 milhões de

reservas e, no ano 2000, atingiu 393,9 milhões. Também possui os certificados ISO

9001 e 9002, tendo sido o primeiro sistema da sua categoria a receber esta certificação.

Seus principais concorrentes, em escala mundial, são os GDS SABRE e GALILEU,

embora existam outros similares que atuam em âmbito mais restrito.

Vale assinalar a importância de um sistema de reservas e distribuição que

utiliza uma base tecnológica tão avançada e em permanente evolução para a expansão

do turismo, mundialmente. Parece-nos que os três fatores essenciais para o sucesso

dessa rede de serviços de viagens e turismo são a diversidade de oferta de produtos

interconectados em um único sistema, a alta especialização da base tecnológica, a

serviço dessa rede, e a capacidade de cobertura geográfica em todo o mundo.

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115

Um sistema de distribuição global, como o estabelecido pelo AMADEUS, pode

simbolizar a importância do modelo de redes interorganizacionais de base tecnológica,

para o desenvolvimento do turismo sem fronteiras.

5.3.– O modelo de Redes Interorganizacionais e sua Adequação ao Turismo

Este capítulo buscou analisar primeiramente o modelo de redes

interorganizacionais em seus aspectos mais amplos e, depois, investigou a sua

aplicação específica no setor de turismo. Mesmo com uma disponibilidade limitada de

fontes bibliográficas que enfocam o modelo de redes no setor de turismo, pode-se

constatar, através de estudos como o EMPOST-NET (FADEEVA e HALME, 2000), que

as redes com interesse em turismo trazem como conteúdo subjacente a questão do

desenvolvimento local e sustentável.

Outro fator fortemente presente no modelo de redes (networks) é a base

tecnológica que pode conectar, em tempo real, todos os participantes, facilitando,

assim, a integração dos diversos atores do turismo. Alie-se ao componente tecnológico

o desenvolvimento de uma visão comum entre os membros da rede, fazendo com que

sejam potencializadas as perspectivas de aprimoramento do produto turístico, que é,

por natureza, fragmentado, instantâneo, interdependente, espacialmente disperso e

heterogêneo, como visto nos capítulos anteriores.

Dentre os aspectos desfavoráveis que este modelo pode trazer para o turismo,

vale assinalar, em alguns casos, o baixo nível de exigências para que firmas de

qualidade duvidosa tenham acesso às redes de prestação de serviços turísticos. Com

poucas barreiras à entrada, o setor de turismo tem experimentado um elevado índice de

mortalidade das empresas e empreendimentos, o que compromete, por vezes, a

continuidade e a manutenção do padrão de qualidade dos produtos turísticos.

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Para superar essas dificuldades e valorizar os atributos favoráveis do modelo

de redes no setor de turismo, considera-se necessário atuar em amplo programa de

educação e capacitação empresarial e profissional, o que também contribuirá para o

desenvolvimento sustentável da atividade turística.

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6. CONCLUSÕES

A análise dos modelos multiorganizacionais – cadeia produtivas, clusters e

redes interorganizacionais, incluindo suas peculiaridades e principais condições de

operacionalização – foi o foco principal deste trabalho. Considerou-se necessário

também abordar questões relacionadas aos aspectos do desenvolvimento regional –

como uma das estruturas de base para esses modelos. Posteriormente, cada um dos

modelos estudados foi particularizado, em termos de sua aplicação no setor de turismo.

O turismo, devido às suas características inerentes ao setor de serviços,

majoritariamente, ainda encontra dificuldades para estabelecer bases mais sólidas em

modelos de organização, que foram desenvolvidos, quase que exclusivamente, para o

setor industrial. Compreende-se tal situação, porque somente nas últimas décadas é

que se percebeu o efetivo impacto e alcance positivo que este setor pode atingir, desde

que desenvolvido segundo os princípios do desenvolvimento sustentável.

O aprofundamento dos estudos empíricos e teóricos sobre o turismo se mostra

de grande importância para que se possa compreender essa atividade como sendo não

apenas a co-existência de uma série de sub-setores que formam o denominado

“produto turístico”, mas, principalmente, como o resultado de uma ação cooperada de

todas essas partes, formando uma amálgama que se traduz em um resultado muito

mais representativo do que a simples soma das partes.

A investigação teórica realizada até aqui permite a abertura de novas frentes de

interesse para aprofundamentos futuros. Em cada um dos modelos estudados –

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cadeias produtivas, clusters e redes – existem questões de pesquisas que nos parecem

relevantes para um melhor entendimento do fenômeno turismo. O interesse pelo

conhecimento e pelo uso de novos modelos multiorganizacionais surge do

reconhecimento da crescente complexidade que o processo produtivo hoje impõe aos

diversos setores e, sobretudo, a atividades tão complexas quanto o turismo.

As cadeias produtivas, com suas características semelhantes a uma linha de

montagem típica do setor industrial, conseguem representar apenas parcialmente a

realidade de alguns sub-setores do turismo, a exemplo da hotelaria. Mesmo

considerando que essas cadeias são embebidas no macro ambiente do setor,

produzindo e reproduzindo relações complementares, conclui-se que, dentre os três

modelos estudados, este é o que mais se distancia da realidade do turismo.

Um dos pontos fortes apresentados pelo modelo de cluster é a sua flexibilidade

e adaptabilidade a, praticamente, todos os setores produtivos. Além disso, aplica-se de

forma igualmente ajustada, tanto em países ou regiões desenvolvidos, quanto em

economias frágeis ou deprimidas. Nessas últimas, o cluster pode exercer importante

papel na alavancagem do setor e, conseqüentemente, da região na qual se instala. As

externalidades inerentes ao modelo de cluster se mostram bastante importantes para o

desenvolvimento regional, porque alcançam não apenas as empresas dos locais em

que se instalam, mas a sociedade como um todo.

No turismo, um setor formado por micro, pequenas, médias e grandes

empresas, além de um grande número de ocupações autônomas, a organização em

clusters, principalmente nas regiões de destinos turísticos, pode proporcionar ganhos

de produtividade, melhoria de qualidade e conseqüente aumento da competitividade.

Soma-se, a isso, a coerência com os princípios do desenvolvimento sustentável que

preconiza a integração das comunidades locais ao processo de desenvolvimento sócio-

econômico.

Entretanto, este modelo também apresenta fragilidades porque se mostra

insuficiente para representar o sistema turístico total, que precisa estabelecer conexões

extra-locais com o denominado market space. Neste caso, a utilização do modelo de

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cluster em turismo parece guardar a estreita sintonia com a necessidade de integração

e cooperação inerentes às regiões de destino turístico.

As redes interorganizacionais podem exercer importante papel na gestão do

turismo, tanto no estabelecimento de redes locais, quanto nas interconexões desses

destinos com os principais agentes promotores e distribuidores do produto turístico nas

regiões emissoras de fluxos de visitantes. Se é verdadeiro afirmar que o processo de

globalização dos mercados de produtos turísticos se constitui em ambiente cada vez

mais propício à criação de redes interorganizacionais, é também factível dizer que

essas mesmas redes podem reforçar o surgimento e a sustentabilidade de iniciativas de

desenvolvimento regional endógeno, que se conectarão com o movimento global da

sócio-economia.

As evidências resultantes deste trabalho de investigação sobre os modelos

multiorganizacionais que melhor se aplicam ao turismo respaldam as conclusões aqui

apresentadas. Dos três modelos estudados, considerou-se que a cadeia produtiva

pode ser adequada para representação de alguns sub-setores do turismo, que contêm

maior grau de padronização e maior necessidade de controle do processo operacional.

Confirmando nossa hipótese inicial, a associação entre o modelo de cluster –

que melhor pode representar a dinâmica das regiões de destino turístico – e o modelo

de rede – para estabelecer as conexões entre essas regiões de destino turístico e os

mercados globalizados parece ser a melhor configuração para um setor fragmentado,

interdependente e instantâneo como o turismo. Em síntese, clusters e produtos

turísticos se conectam no market space através das redes interorganizacionais.

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