Modelagem de Risco

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REAd – Edição 40 Vol. 10 No. 4, jul-ago 2004 MODELAGEM DO RISCO DE CRÉDITO: UM ESTUDO DO SEGMENTO DE PESSOAS FÍSICAS EM UM BANCO DE VAREJO Antônio Alves Amorim Neto 1 Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil E-mail: [email protected] ; [email protected] Charles Ulisses De Montreuil Carmona 1 Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil Tel.: (81) 3271-8368 / 3274-7176 R.168 / Fax: 3271-8870 E-mail: [email protected] 1 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Programa de Pós -graduação em Administração - PROPAD CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil Resumo: Nas últimas décadas diversos modelos estatísticos de probabilidade foram desenvolvidos pelas instituições financeiras. Estes modelos, no entanto, na maioria das vezes são específicos para análise do crédito de empresas. O segmento de pessoas físicas ao contrário do segmento de pessoas jurídicas é bastante homogêneo sob a ótica financeira, em outras palavras, este segmento possui poucos índices financeiros para serem analisados. As principais diferenças entre os clientes bancários do segmento de pessoas físicas estão relacionadas ao seu comportamento. A funcionalidade dos modelos estatísticos multivariados aplicados ao gerenciamento do crédito para pessoas físicas no Brasil ainda é uma incógnita. O propósito deste artigo, portanto, consiste em preencher uma lacuna existente no meio acadêmico brasileiro no que se refere aos modelos de gerenciamento e concessão do crédito para pessoas físicas. Os resultados encontrados nesta pesquisa trazem indícios que os modelos multivariados podem ser utilizados como ferramentas eficazes no gerenciamento do crédito bancário para o segmento de pessoas físicas no Brasil. Palavras-chaves: Risco de crédito, credit scoring , eficiência bancária.

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  • REAd Edio 40 Vol. 10 No. 4, jul-ago 2004

    MODELAGEM DO RISCO DE CRDITO: UM ESTUDO DO SEGMENTO DE

    PESSOAS FSICAS EM UM BANCO DE VAREJO

    Antnio Alves Amorim Neto 1

    Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitria CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil

    E-mail: [email protected] ; [email protected]

    Charles Ulisses De Montreuil Carmona 1 Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitria

    CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil Tel.: (81) 3271-8368 / 3274-7176 R.168 / Fax: 3271-8870

    E-mail: [email protected] 1 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Programa de Ps-graduao em Administrao - PROPAD CEP: 50670-901 Recife/PE Brasil Resumo:

    Nas ltimas dcadas diversos modelos estatsticos de probabilidade foram desenvolvidos

    pelas instituies financeiras. Estes modelos, no entanto, na maioria das vezes so especficos

    para anlise do crdito de empresas. O segmento de pessoas fsicas ao contrrio do segmento

    de pessoas jurdicas bastante homogneo sob a tica financeira, em outras palavras, este

    segmento possui poucos ndices financeiros para serem analisados. As principais diferenas

    entre os clientes bancrios do segmento de pessoas fsicas esto relacionadas ao seu

    comportamento. A funcionalidade dos modelos estatsticos multivariados aplicados ao

    gerenciamento do crdito para pessoas fsicas no Brasil ainda uma incgnita. O propsito

    deste artigo, portanto, consiste em preencher uma lacuna existente no meio acadmico

    brasileiro no que se refere aos modelos de gerenciamento e concesso do crdito para pessoas

    fsicas. Os resultados encontrados nesta pesquisa trazem indcios que os modelos

    multivariados podem ser utilizados como ferramentas eficazes no gerenciamento do crdito

    bancrio para o segmento de pessoas fsicas no Brasil.

    Palavras-chaves: Risco de crdito, credit scoring, eficincia bancria.

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    MODELAGEM DO RISCO DE CRDITO: UM ESTUDO DO SEGMENTO DE

    PESSOAS FSICAS EM UM BANCO DE VAREJO

    1 .Introduo

    As mudanas testemunhadas na economia brasileira aps a introduo do Plano Real

    em julho de 1994, alaram a questo de administrao de risco de crdito a uma posio de

    destaque nas instituies financeiras locais. Antes disso, a alta inflao havia inibido o

    crescimento do mercado de emprstimos no pas. Ao invs de emprestar a clientes do setor

    privado (a um risco de crdito maior), os grandes bancos comerciais preferiam financiar a

    dvida interna do pas (a um risco de crdito menor), com maior liquidez, mas ainda assim

    cobrando taxas de juros substanciais (PRADO, BASTOS e DUARTE JR., 2000).

    A expanso das operaes de crdito, no Brasil aps o Plano Real foi abrangente em

    vrios segmentos da economia, entretanto, as operaes de crdito para pessoas fsicas foram

    as que mais cresceram nos ltimos anos. As informaes consolidadas divulgadas pelo Banco

    Central do Brasil para cada modalidade de credito do sistema financeiro nacional mostram

    que j no incio do ano 2001 o saldo total das operaes concedidas a pessoas fsicas

    representava um volume superior a 50% do saldo total das operaes concedidas a pessoas

    jurdicas.

    O presente trabalho justifica-se por tratar de um tema de fundamental importncia para

    as empresas que trabalham com crdito para pessoas fsicas: A utilizao de tcnicas

    estatsticas multivariadas no desenvolvimento de modelos para previso de inadimplncia no

    segmento de pessoas fsicas em um banco comercial brasileiro.

    2. Referencial terico

    2.1 Sistemas de pontuao de crdito (credit scoring )

    Credit scoring pode ser definido como o processo de atribuio de pontos s variveis

    de deciso mediante tcnicas estatsticas. Trata-se de processo que define a probabilidade de

    que um cliente com certas caractersticas, pertena ou no a um grupo possuidor de outras

    determinadas caractersticas consideradas desejveis, hiptese em que se aprova um limite de

    crdito, esta tcnica, portanto, estabelece uma regra de discriminao de um determinado

    cliente solicitante de crdito (VICENTE, 2001, p.49).

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    Os sistemas de pontuao de crdito definem a probabilidade de um cliente vir a ser

    bom pagador ou mau pagador com base em suas caractersticas: Existem vrios fatores

    que esto associados possibilidade de inadimplncia. Um modelo de escoragem de crdito

    combina os fatores mais importantes associados possibilidade de inadimplncia, determina o

    inter-relacionamento entre eles e atribui nmeros para gerar o escore final. A prtica tem por

    objetivo produzir um modelo de escoragem de crdito no qual quanto maior for o escore,

    menor ser o risco de perda com devedores duvidosos (GHERARDI e GHIELMETTI,

    2000).

    Os sistemas de pontuao de crdito so encontrados em praticamente todos os tipos

    de anlises de crdito, desde crdito ao consumidor at emprstimos comerciais. A idia

    essencialmente a mesma: A pr-identificao de certos fatores-chave que determinam a

    probabilidade de inadimplncia, e sua combinao ou ponderao para produzir uma

    pontuao quantitativa (SAUNDERS, 2000, p. 13).

    Os modelos tradicionais de credit scoring atribuem pesos estatisticamente

    predeterminados a alguns dos atributos dos solicitantes, para gerar um escore de crdito. Se

    esse escore favorvel, quando comparado a um valor de corte, ento a solicitao aprovada

    (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1998, p.182).

    A figura abaixo, apresentada por Sousa e Chaia (2000) ilustra o processo de concesso

    de crdito atravs do uso de modelos de credit scoring:

    Figura 2.1 Processo de concesso de crdito atravs do uso de modelos de

    credit scoring

    Fonte: SOUSA E CHAIA, 2000, p.21.

    O credit scoring representa um processo cientfico, porm, no inibe a possibilidade

    de se recusar um bom pagador ou se aceitar um mau pagador. Isto ocorre porque nenhum

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    sistema de gesto de crdito consegue o total de informaes relevantes na classificao do

    devedor, e, mesmo que conseguisse, o seu custo tornaria a anlise economicamente invivel

    (SOUSA E CHAIA, 2000, p.21).

    Os modelos de credit scoring se dividem em duas categorias: modelos de aprovao

    de crdito e modelos de escoragem comportamental, tambm conhecidos como behavioural

    scoring (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1998, p.180).

    O behavioural scoring uma ferramenta para previso de eventos associados ao risco

    de crdito, como a inadimplncia e pagamentos em dia, entre outras caractersticas. Para tanto

    leva em considerao aspectos comportamentais e de atividades de clientes da instituio

    (VICENTE, 2001, p.47).

    A principal diferena entre as duas categorias que nos modelos de escoragem

    comportamental, a instituio financeira analisa o comportamento do cliente em operaes

    anteriores, enquanto que nos modelos de aprovao de crdito a instituio financeira no

    conhece o cliente: A informao adicional no behavioural scoring o histrico de compras e

    pagamentos do cliente (THOMAS, 2000).

    No behavioural scoring so utilizadas variveis tais como nmero de atrasos no ltimo

    ano, volume da transao, utilizao mdia da linha. Desta maneira cada operao recebe uma

    classificao, que representa seu risco de crdito relacionado ao comportamento do tomador.

    Enquanto os modelos de aprovao de crdito preocupam-se apenas com a concesso

    e o volume de crdito, os modelos de escoragem comportamental podem ser utilizados para

    gesto de limites de crdito rotativo, autorizaes de compra acima do limite em caso de

    cartes de crdito, ofertas de crdito, cobrana preventiva, entre outras estratgias

    (VICENTE, 2001, p.48).

    2.2 Histrico

    David Durand em 1941 foi o primeiro a reconhecer que a tcnica de anlise

    discriminante, inventadas por Fisher em 1936, poderia ser usada para separar bons e maus

    emprstimos (THOMAS, 2000, p. 6). Em Risk Elements in Consumer Installment Financing,

    1941 (National Bureau of Economic Research, N.Y.), Durand apresentou um modelo que

    atribua pesos para cada uma das variveis usando anlise discriminante (KANG e SHIN,

    2000, p.2198).

    A popularizao dos sistemas de credit scoring, no entanto, s ocorreu nos anos 60:

    A chegada dos cartes de crdito na dcada de 60 fez com que os bancos intensificassem o

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    uso de credit scoring. O nmero de pessoas que solicitavam carto de crdito a cada dia

    tornou economicamente impossvel ter mo-de-obra suficiente para decises de emprstimos

    que no fossem automatizadas (THOMAS, 2000).

    No meio acadmico os estudos comearam na dcada de 60. O modelo de Altman

    (1968) considerado um marco terico no estudo do risco de crdito:

    Os estudos acadmicos sobre o risco, no entanto, remontam ao final

    da dcada de 60, num dos trabalhos pioneiros sobre risco de crdito,

    Altman (1968) argumentava que o desenvolvimento de um novo

    modelo preditivo era necessrio em funo do crescimento das

    falncias e mudanas financeiras nas organizaes, agravado pelo

    drstico aumento do tamanho mdio de empresas falidas. Apresentou

    ento, o clssico modelo de anlise discriminante de sete variveis

    ZETA, continuao dos trabalhos j apresentados em 1968 com cinco

    variveis(BRUNI, FUENTES e FAM, 1997, p.1)

    O avano na computao permitiu o uso de outras tcnicas na construo de sistemas

    de credit scoring. Nos anos 80 foram introduzidas as tcnicas de regresso logstica e

    regresso linear, as duas principais tcnicas utilizadas atualmente para a construo dos

    modelos. Mais recentemente tcnicas de inteligncia artificial como sistemas especialistas e

    redes neurais artificiais foram implantadas com sucesso (THOMAS, 2000, p.7).

    2.3 Vantagens dos modelos de credit scoring

    Sobre as vantagens relativas ao uso dos modelos de credit scoring, CAOUETTE,

    ALTMAN e NARAYANAN (1998) dizem:

    Os modelos de credit scoring oferecem muitas vantagens. So

    objetivos e consistentes, que so caractersticas desejveis para

    qualquer instituio, e especialmente para aquelas que no possuem

    uma forte cultura de crdito. Se desenvolvidos apropriadamente, eles

    podem eliminar prticas discriminatrias nos emprstimos. Eles tendem

    a ser relativamente inexpressivos, bastante simples e de fcil

    interpretao. A instalao de tais modelos relativamente fcil. As

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    metodologias usadas para construir esses modelos so comuns e bem

    entendidas, assim como as abordagens usadas para avalia-los. Os

    regulamentadores aprovam modelos bem projetados e baseados em

    estatsticas. Uma instituio capaz de proporcionar melhor servio ao

    consumidor pela sua habilidade de aprovar ou negar um pedido de

    emprstimo rapidamente. Esse um fator importante no mundo de

    mudanas rpidas como o atual.

    Por outro lado Silva (2000) conclui: A agilidade que o banco ou a empresa que

    concede crdito ganha altamente valiosa, pois ao invs do analista ficar examinando e

    concluindo sobre cada um dos ndices, podero dedicar seus tempos a outros assuntos

    relevantes e que no possam ser sistematizados.

    Parkinson e Ochs (1998, p.26-27) elaboraram um resumo com as principais vantagens

    do uso de sistemas de credit scoring:

    Revises de crdito consistente: Os dados histricos de outros devedores so um bom

    indicador de consistncia para reviso de crdito.

    Informaes Organizadas: A sistematizao e organizao das informaes contribuem para a

    melhoria do processo.

    Eficincia no trato de dados fornecidos por terceiros: O processo de Credit Scoring torna as

    informaes de banco de dados fornecido por terceiros, anteriormente classificadas como

    dados acessrios, parte integrante do sistema.

    Diminuio da metodologia subjetiva: O uso de um sistema quantitativo parametrizado que

    minimiza o subjetivismo.

    Compreenso do processo: O modelo construdo sintetiza o processo de concesso de crdito

    da empresa, fornecendo maiores subsdios para entend-lo.

    Maior eficincia do processo: A anlise de crdito centrada em um nmero menor de

    fatores, reduzindo o tempo do processo e melhorando a eficincia.

    2.4 Limitaes e desvantagens dos modelos de credit scoring

    Apesar das vantagens em relao a outros modelos citadas acima, os modelos de

    pontuao de crdito possuem tambm diversas desvantagens.

    Entre as principais limitaes dos modelos de credit scoring, Silva (2000) destaca o

    aspecto temporal da amostra:

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    O tempo (a poca) uma das principais limitaes apresentadas

    pelos modelos desenvolvidos a partir do uso de anlise discriminante.

    Com o decorrer do tempo, tanto as variveis quanto seus pesos

    relativos sofrem alteraes. As variveis que, segundo a anlise

    discriminante, so as que melhor classificam sob determinada

    conjuntura econmica, podem no ser em outra situao.

    Caouette, Altman e Narayanan (1998) tambm destacam o aspecto temporal: Um

    modelo de credit scoring pode degradar-se pelo tempo se a populao que ele aplicado

    diverge da populao original que foi usada para construir o modelo.

    O aspecto geogrfico outra grande limitao para os sistemas de credit scoring: Os

    aspectos da regio geogrfica limitam o uso de um modelo nico, sendo que o

    desenvolvimento de diversos modelos poder exigir que disponha de amostras muito grandes

    (SILVA, 2000, p.308).

    Parkinson e Ochs (1998, p.26-27) destacaram as seguintes desvantagens do uso de

    sistemas de credit scoring:

    Custo de desenvolvimento: o desenvolvimento de um sistema de credit scoring traz no

    apenas os custos do sistema, mas altos custos de manuteno com suporte tcnico e recursos

    humanos.

    Modelos com excesso de confiana: Os modelos de Credit Scoring podem adquirir Status

    de Perfeitos, no permitindo crtica de seus resultados.

    Problemas de Valores no preenchidos: A falta de dados no caractersticos de

    determinados clientes, ou mesmo a falta de informao pode causar problemas na sua

    utilizao, assim como resultados no esperados.

    Interpretao equivocada dos escores: O uso inadequado do sistema devido falta de

    conhecimento pode ocasionar problemas para a instituio.

    3. Mtodos estatsticos aplicados em modelos de credit scoring

    As trs principais tcnicas para elaborao de sistemas de credit scoring so a anlise

    discriminante, a regresso logstica e, mais recentemente modelos baseados em redes neurais.

    A tcnica de anlise discriminante foi a primeira tcnica estatstica utilizada na criao

    de modelos de escoragem de crdito: A aplicao de modelos matemticos e estatsticos para

    a deciso de concesso de crdito ganhou reconhecimento quando David Duran, da National

    Bureau of Economic Research (Agncia Nacional de Pesquisa Econmica), em Nova Iorque,

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    publicou o seu estudo em 1941 intitulado Risk Elements in Consumer Installment

    Financing (Elementos de Risco no Financiamento a Prazo do Consumidor). Ele foi o

    primeiro a usar a anlise discriminante para medir o risco de crdito. Subseqentemente,

    foram feitas vrias tentativas para investigar os sistemas de crdito estatsticos, mas a

    indstria de crdito no considerou seriamente os modelos de pontuao de crdito at

    meados de pontuao de crdito at meados da dcada de sessenta (COLE e MISHLER,

    1998).

    A partir da dcada de 80 foi introduzida a tcnica de regresso logstica, e mais

    recentemente foram implantados mtodos de anlise de crdito baseados em redes neurais

    (THOMAS, 2000).

    Os modelos mais utilizados atualmente continuam sendo os modelos de anlise

    discriminante e os modelos de regresso logstica: A evoluo das tcnicas preditivas de

    insolvncia possibilitou a utilizao de modelos estatsticos mais sofisticados como a Anlise

    Discriminante Mltipla (ADM) ou a Anlise de Regresso Logstica (Logit), presentes em

    boa parte dos modelos acadmicos elaborados (BRUNI, MURRAY e FAM, 1998).

    CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN (1998, p.182) diz que em geral utiliza-se

    tcnicas estatsticas multivariadas tais como anlise discriminante e anlise de regresso.

    3.1 Anlise discriminante

    Os primeiros estudos acadmicos sobre riscos de insolvncia se baseavam em anlises

    de quocientes, ndices contbeis, e deduziam que empresas em processos de insolvncia

    apresentavam quocientes bastante diferenciados das solventes. Nestes estudos, uma das

    principais questes levantadas consistia em se determinar quais ndices seriam os mais

    importantes na predio e qual a ponderao ideal desses ndices. Surgiu, ento, a anlise

    discriminante multivariada como capaz de solucionar este questionamento (BRUNI,

    MURRAY e FAM, 1998).

    KASSAI e KASSAI (1998, p.6) dizem: A anlise discriminante, tambm chamada de

    anlise do fator discriminante ou anlise discriminante cannica, uma tcnica estatstica

    desenvolvida a partir dos clculos de regresso linear e, ao contrrio desta, permite resolver

    problemas que contenham no apenas variveis numricas, mas tambm variveis de natureza

    qualitativa, como o exemplo de empresas solventes e insolventes.

    A anlise discriminante permite descobrir as ligaes que existem entre um carter

    qualitativo a ser explicado e um conjunto de caracteres quantitativos explicativos. Tambm

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    permite prever, por meio de um modelo, os valores da varivel que derivam dos valores

    tomados pelas variveis explicativas (GIMENES e URIBE-OPAZO, 2001, p.67).

    O objetivo fundamental da anlise discriminante a alocao de todos os elementos da

    amostra em grupos bem definidos, evitando todas as formas de superposio. Os dados de

    cada elemento, de cada um dos grupos, so coletados e, em seguida procura-se derivar uma

    funo, que nada mais que uma combinao linear, para melhor discriminar os grupos entre

    si. O resultado almejado a obteno de um conjunto nico de coeficientes para cada uma das

    variveis independentes e que classifique, com a mxima preciso, cada elemento observado

    nos grupos previamente definidos (GUIMARES 2001, p.33).

    A funo discriminante linear tem a forma:

    Yx = 0 + 1X1 + 2X2 + 3X3 + . + ? nXn

    Onde:

    Yx = Varivel Dependente, reflete o valor do escore;

    0 = Intercepto;

    1, 2, 3, , n = Pesos atribudos a cada varivel;

    X1 , X2 , X3, , Xn = Variveis discriminantes;

    A classificao de cada cliente efetuada a partir da funo discriminante estimada, e

    atravs do clculo do valor dessa funo para cada cliente (escore). De acordo com o critrio

    de classificao de Fisher para dois grupos, o cliente dever ser classificado como bom

    pagador se estiver mais prximo do centride deste grupo do que do centride do grupo dos

    maus pagadores, isto , se a distncia entre o seu escore discriminante e o centride do grupo

    1 for menor que a distncia entre o seu escore e o centride do grupo 2, e no grupo dos maus

    pagadores no caso contrrio (COSTA, 1992, p.62).

    Sejam X1 e X2 as variveis observadas para cada indivduo de cada grupo. No grfico

    abaixo esto representadas as observaes efetuadas:

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    Grfico 3.1 Espao discriminante

    Fonte: GUIMARES, 2000, p.33.

    3.2 Regresso logstica

    Os modelos de risco de crdito que utilizam a regresso logstica comearam a ser

    usados na dcada de 80. Desde OHLSON (1980) a anlise LOGIT usada freqentemente

    para a avaliao de riscos de inadimplncia, baseada em caractersticas financeiras (por

    exemplo, ndices das empresas).

    A anlise de regresso logstica uma tcnica de probabilidade condicional que

    usada para estudar a relao entre uma srie de caractersticas de um indivduo e a

    probabilidade de que o indivduo pertena a um entre dois grupos estabelecidos anteriormente

    (GIMENES e URIBE-OPAZO, 2001).

    A tcnica de regresso logstica (LOGIT) aplicada em situaes nas quais se deseja

    predizer a presena ou ausncia de uma caracterstica, ou resultado, baseado em valores de

    um conjunto de variveis independentes. No caso da mensurao do risco de crdito, a

    regresso logstica utilizada para a avaliao da probabilidade de insolvncia (ou

    inadimplncia) de determinado grupo de clientes, relativos a situaes de emprstimo ou

    financiamento (VICENTE, 2001, p.82).

    Os modelos elaborados com base na anlise LOGIT usam um conjunto de variveis

    contbeis para prever a probabilidade de inadimplncia do tomador de emprstimo,

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    assumindo que a probabilidade de inadimplncia distribuda logisticamente, ou seja,

    estatisticamente assume uma forma funcional logstica, e , por definio, forada a cair entre

    0 e 1 (BRUNI, MURRAY e FAMA, 1998).

    O modelo LOGIT cria para cada empresa um escore Z:

    Z = a + Xi

    Onde Xi o valor da i-sima varivel.

    Estudos comparativos entre modelos que utilizam tcnicas de regresso logstica e os

    modelos de anlise discriminante mostrou que a capacidade de previso desses modelos

    similar, portanto, no existe uma tcnica estatstica predominante.

    GIMENES e URIBE-OPAZO (2001, p.74) concluem a comparao entre as tcnicas

    de anlise discriminante e LOGIT com o seguinte comentrio: Na realidade, no h uma

    metodologia nica para a construo de modelos de previso de insolvncia: muito menos

    existe um consenso terico sobre qual das metodologias a melhor.

    importante destacar que na anlise LOGIT no existem restries normalidade

    multivariada na distribuio das variveis independentes, nem a igualdade de matrizes de

    covarincia dos dois grupos, como ocorre na anlise discriminante, onde se pressupe a

    existncia dessas condies (GIMENES e URIBE-OPAZO, 2001, p.70).

    4. Metodologia

    4.1 Composio da amostra

    A amostra desta pesquisa est formada por dois grupos de indivduos selecionados

    aleatoriamente entre os tomadores de emprstimo pessoa fsica de um banco comercial:

    1. Grupo A = 172 clientes sem atraso no pagamento de suas operaes,

    classificados como risco nvel A;

    2. Grupo H = 172 clientes inadimplentes.

    Nessa pesquisa os clientes inadimplentes so caracterizados como indivduos com

    atraso no pagamento de suas operaes superior a 180 dias e inferior a 360 dias, classificados

    de acordo com a resoluo 2.682/99 do Banco Central do Brasil como risco nvel H.

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    4.2 Mtodo de seleo

    Para selecionar os indivduos da amostra utilizamos mtodos de aleatoriedade

    baseados em nmeros gerados por computador (aplicativo Microsoft Excel). Os dados

    utilizados referem-se a operaes de crdito concedidas a pessoas fsicas pelas agncias

    sediadas na cidade de Recife (PE) de um banco comercial brasileiro. Estas informaes esto

    disponveis em seu sistema de informaes interno atravs do aplicativo especfico para esse

    fim. Os dados coletados foram impressos e arquivados para futuras eventuais consultas.

    4.3 Parmetros da amostra

    A classificao consiste em dados referentes situao/classificao das operaes no

    ms de julho do ano de 2001, e obedece aos seguintes parmetros:

    A. Indivduos com responsabilidade cujo valor seja superior a R$ 200,00 Foram

    relacionados apenas indivduos cujo valor mnimo do somatrio de suas operaes seja de

    duzentos reais, pois operaes cujo limite seja inferior a 200 reais muitas vezes so deferidas

    sem a necessidade da atualizao de dados cadastrais, o que impossibilita a coleta de dados.

    Ser assumido o pressuposto de que as operaes com valores inferiores a duzentos reais

    representam um percentual insignificante no montante da carteira de crdito;

    B. Clientes que possuam operaes a pelo menos 12 meses Ser assumido o

    pressuposto que clientes com operaes com prazo menor que 12 meses em julho/2001

    podem estar classificados indevidamente no grupo de bons pagadores devido ao curto

    perodo de tempo analisado;

    C. Clientes que permaneceram 12 meses no mesmo status Em julho/2002 foram

    eliminados da amostra clientes inadimplentes que pagaram suas dvidas, assim como, clientes

    adimplentes que se tornaram inadimplentes.

    Para desenvolver os modelos de escoragem do crdito utilizamos duas tcnicas

    estatsticas distintas, Anlise Discriminante e Regresso Logstica, sendo que para cada

    tcnica foram desenvolvidos dois modelos: Um modelo classificatrio para a concesso do

    crdito, e um modelo classificatrio para o gerenciamento do crdito. Estes modelos foram

    comparados e avaliados.

  • Antnio Amorim Neto & Charles Ulisses De Montreuil Carmona

    REAd Edio 40 Vol. 10 No. 4, jul-ago 2004

    13

    4.4 Avaliao dos modelos

    Se o modelo de previso for exato, a exatido da previso ser melhor que 80 ou 90%

    sobre o horizonte de previso (CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1998, p.214).

    Assumindo que consideramos um modelo funcional quando este apresenta uma taxa de

    sucesso (nmero de acertos por casos totais) superior a 80%, podemos expressar a seguinte

    hiptese:

    H 0 : m1 80%

    H 1 : m1 < 80%

    Onde: m1 = Mdia de acertos do modelo.

    Logo, se H0 no for rejeitada, pode-se considerar o modelo de risco de crdito

    desenvolvido vlido para o objetivo proposto.

    4.5 Principais limitaes da metodologia

    Abaixo enumeramos as principais limitaes metodolgicas desta pesquisa:

    Tamanho da amostra. De uma forma geral quanto maior a amostra, maior ser a credibilidade

    do modelo. No entanto, devido a limitaes tcnicas e temporais, a amostra limitou-se a 344

    indivduos;

    Ausncia da amostra de validao. Antes de desenvolver a frmula de escoragem de crdito,

    o ideal dividir a amostra total em: amostra de desenvolvimento e amostra de validao. A

    frmula de escoragem de crdito desenvolvida atravs da amostra de desenvolvimento e

    testada atravs da amostra de validao, ou seja, a comparao do comportamento previsto

    com o comportamento real, usando as amostras de desenvolvimento e validao. O teste de

    validao mostra se o sistema de escoragem de crdito est funcionando, independentemente

    da amostra na qual foi desenvolvido. No caso dessa pesquisa, e, em muitos outros trabalhos a

    limitao quantitativa da amostra total impede a diviso em dois grupos;

    Ausncia de indivduos com classificaes de crdito intermedirias. Neste trabalho no

    estamos analisando a deteriorao do crdito, ou seja, incorporando as classes intermedirias

    entre a classe de risco A e H. A amostra presente nessa pesquisa limita-se a utilizar

    clientes sem atrasos, e, clientes com atraso superior a 180 dias;

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    Perodo de anlise. Em geral, anlise de perodo temporal maior traz uma maior compreenso

    dos modelos. A partir dessas informaes seria possvel arbitrar o perodo de anlise ideal. A

    limitao tcnica, no entanto, fez com que fosse utilizado o perodo referente 1ano;

    Ausncia da taxa de recuperao de crdito. Um percentual reduzido dos crditos

    inadimplentes renegociado. Especialistas calculam que entre 1,5% e 3% das operaes em

    prejuzo (atraso superior a 1 ano) so recuperadas. Nos modelos presentes nessa pesquisa a

    taxa de recuperao de crdito no utilizada, pois, faltavam dados abertos sobre a

    recuperao de crdito, assim como o perfil dos clientes destas operaes;

    Limitao institucional e geogrfica. A amostra est limitada a um nico banco e uma nica

    cidade. A segmentao do mercado bancrio faz com que os bancos atuem em segmentos

    diferentes, o que pode ocasionar um vis da amostra. A cidade de escolhida, assim, como

    outras capitais, possui caractersticas econmicas peculiares que tambm pode trazer vieses a

    amostra;

    Nmero limitado de informaes. Um cadastro com maior nmero de informaes de

    variveis poderia aumentar a capacidade preditiva dos modelos. Informaes tais como

    nmero de filhos, hbitos de consumo, propriedade de bens, endividamento com outras

    instituies, podem aumentar sensivelmente a qualidade dos modelos;

    Abstrao de princpios ticos e legais. No foram analisados princpios ticos e legais nessa

    pesquisa. Em todo o mundo existem legislaes que protegem o consumidor. Nos Estados

    Unidos a Lei Equal Credit Oportunity de 1975 especfica em relao discriminao do

    consumidor. O estado civil e o sexo do consumidor, por exemplo, no podem ser motivo de

    recusa de crdito (MISHLER e COLE, 1998, p.191). No Brasil, o cdigo do consumidor rege

    essas relaes.

    5. Resultados

    5.1 Modelos de concesso de crdito

    5.1.1 Anlise discriminante

    A opo STEPWISE para anlise discriminante do software SPSS 10.0 foi utilizada

    para gerar o seguinte modelo:

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    15

    Tabela 5.1.1.a Modelo 1: Anlise discriminante

    VARIVEIS Coeficientes

    ESCOLAR Grau de escolaridade 1= Nvel Fundamental 2= Nvel Mdio 3 = Nvel Superior

    0,942

    LRESID Local onde reside 1 = Recife (capital) 2 = Interior de Pernambuco 3 = Fora do Estado

    -0,532

    NATOCUP Natureza da ocupao principal 1 = Empresa Privada 2 = Economia mista 3 = Funcionrio Pblico

    0,282

    IDADE Idade Valor Absoluto em Anos 0,039 (Constante) -3,332

    O quadro 5.1.1.b mostra as mdias dos escores e os parmetros de classificao (Ponto

    de corte dos escores) dos dois grupos:

    Quadro 5.1.1.b - Anlise discriminante: mdias e parmetros de classificao do modelo 1

    Escore Grupo A (Adimplentes)

    Grupo H (Inadimplentes)

    Mdia 0,572. -0,572. Parmetro de classificao Escore > 0 Escore < 0

    O modelo de concesso de crdito desenvolvido com a tcnica de anlise

    discriminante conseguiu alocar corretamente 73,3% dos indivduos da amostra:

    Quadro 5.1.1.c Anlise discriminante (modelo 1): percentual de acertos

    Classificao do Modelo

    Classificao Original Grupo A

    (Adimplentes) Grupo H

    (Inadimplentes)

    Grupo A (Adimplentes) 71,5% 28,5% Grupo H (Inadimplentes) 25% 75%

    5.1.2 Regresso logstica

    O modelo obtido utilizando regresso logstica foi bastante similar ao obtido com a

    utlizao da anlise discriminante (quadro 5.1.2.a):

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    Tabela 5.1.2.a Modelo 1: Regresso logstica

    VARIVEIS Coeficientes

    ESCOLAR Grau de escolaridade 1= Nvel Fundamental 2= Nvel Mdio 3 = Nvel Superior

    -1,014

    LRESID Local onde reside 1 = Recife (capital) 2 = Interior de Pernambuco 3 = Fora do Estado

    0,623

    NATOCUP Natureza da ocupao principal 1 = Empresa Privada 2 = Economia mista 3 = Funcionrio Pblico

    -0,314

    IDADE Idade Valor Absoluto em Anos -0,042 (Constante) 3,526

    As regras de deciso para classificao diferem em relao tcnica estatstica

    utilizada para gerar o modelo de credit scoring. O quadro 5.1.2.b mostra as mdias dos

    escores e os parmetros de classificao (ponto de corte) dos dois grupos:

    Quadro 5.1.2b Regresso logstica: mdias e parmetros de classificao do modelo 1

    Escore Grupo A (Adimplentes)

    Grupo H (Inadimplentes)

    Mdia 0,375. 0,625. Parmetro de classificao Escore < 0,50 Escore > 0,50

    O percentual de acertos do modelo baseado em regresso logstica, assim como

    aconteceu no modelo gerado atravs da aplicao de anlise discriminante, mostra que o

    modelo mais eficiente na classificao de clientes inadimplentes. O quadro 5.1.2.c apresenta

    o percentual de acerto do grupo A (clientes adimplentes) e grupo H (clientes

    inadimplentes):

    Quadro 5.1.2.c Regresso logstica (modelo 1): percentual de acertos

    Classificao do Modelo

    Classificao Original Grupo A

    (Adimplentes) Grupo H

    (Inadimplentes) Grupo A (Adimplentes) 70,9% 29,1% Grupo H (Inadimplentes) 26,2% 73,8%

    A taxa geral de acertos do modelo de concesso de crdito desenvolvido com a tcnica

    de regresso logstica (72,4%) foi bem prxima a taxa encontrada no modelo desenvolvido

    com a aplicao de anlise discriminante (73,3%).

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    5.2 Modelos de escoragem comportamental

    5.2.1 Anlise discriminante

    O software e os parmetros utilizados para gerar o modelo de escoragem

    comportamental foram os mesmos utilizados para gerar o modelo de concesso de crdito. O

    modelo de escoragem comportamental, no entanto, agrega um nmero maior de variveis. A

    tabela 5.2.1.a apresenta o modelo final de escoragem comportamental (behavioural scoring)

    gerado atravs da aplicao de anlise discriminante:

    Tabela 5.2.1.a Modelo 2: Anlise discriminante

    VARIVEIS Formato/Valores Coeficientes

    ESCOLAR Grau de escolaridade 1= Nvel Fundamental 2= Nvel Mdio 3 = Nvel Superior

    0,665

    LRESID Local onde reside 1 = Recife (capital) 2 = Interior de Pernambuco 3 = Fora do Estado

    -0,425

    NATOCUP Natureza da ocupao principal 1 = Empresa Privada 2 = Economia mista 3 = Funcionrio Pblico

    0,226

    IDADE Idade Valor Absoluto em Anos 0,030 RESTBX J possuiu restrio de crdito 0 = No

    1 = Sim -0,816

    PVEICULO Possui financiamento de veculos

    0 = No 1 = Sim

    2,008

    PCARTAO Possui carto de crdito do banco.

    0 = No 1 = Sim

    1,193

    (Constante) -2,213

    Os parmetros de classificao da anlise discriminante aplicada a escoragem

    comportamental so os mesmos aplicados ao modelo de concesso de crdito. As mdias dos

    escores dos dois grupos, no entanto, tornaram-se mais distantes do ponto de corte, o que

    indica uma melhoria de eficincia em relao ao modelo de concesso de crdito:

    Quadro 5.2.1.b - Anlise discriminante: mdias e parmetros de classificao do modelo 2.

    Escore Grupo A (Adimplentes)

    Grupo H (Inadimplentes)

    Mdia 0,771. -0,771. Parmetro de classificao Escore > 0 Escore < 0

    O quadro 5.2.1.c apresenta o percentual de classificaes corretas e incorretas

    efetuadas pelo modelo para cada um dos grupos (grupo A e grupo H):

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    Quadro 5.2.1.c Anlise discriminante (modelo 2): percentual de acertos

    Classificao do Modelo

    Classificao Original Grupo A

    (Adimplentes) Grupo H

    (Inadimplentes) Grupo A (Adimplentes) 76,7% 23,3%

    Grupo H (Inadimplentes) 14% 86%

    Assim como no modelo 1 (concesso de crdito) verificou-se que o modelo 2

    (escoragem comportamental) desenvolvido com a tcnica de anlise discriminante possui

    maior capacidade de predio para o grupo dos clientes inadimplentes (86%) do que no grupo

    dos adimplentes (76,7%).

    O modelo 2 desenvolvido com a tcnica de anlise discriminante conseguiu alocar

    corretamente 81,4% dos indivduos da amostra, o que demonstra um ganho considervel de

    eficincia em relao ao modelo 1 (73,3%).

    5.2.2 Regresso Logstica

    O mesmo software (SPSS 10.0) e parmetros foram usados para gerar o modelo 2 de

    regresso logstica. O modelo de escoragem comportamental obtido com a utilizao da

    regresso logstica est ilustrado na tabela 5.2.2.a:

    Tabela 5.2.2.a Modelo 2: Regresso logstica

    VARIVEIS Formato/Valores Coeficientes

    ESCOLAR Grau de escolaridade 1= Nvel Fundamental 2= Nvel Mdio 3 = Nvel Superior

    -0,991

    LRESID Local onde reside 1 = Recife (capital) 2 = Interior de Pernambuco 3 = Fora do Estado

    0,686

    NATOCUP Natureza da ocupao principal 1 = Empresa Privada 2 = Economia mista 3 = Funcionrio Pblico

    -0,332

    IDADE Idade Valor Absoluto em Anos -0,039 RESTBX J possuiu restrio de crdito 0 = No

    1 = Sim 1,405

    PVEICULO Possui financiamento de veculos pelo banco

    0 = No 1 = Sim

    -8,049

    PCARTAO Possui carto de crdito do banco. 0 = No 1 = Sim

    -1,667

    (Constante) 3,213

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    O ponto de corte da regresso logstica para o modelo 2 o mesmo do modelo 1.

    Ainda em relao ao modelo 1, os escores se tornaram mais distantes do ponto de corte (0,50)

    indicando maior preciso do modelo 2:

    Quadro 5.2.2.a Regresso logstica: mdias e parmetros de classificao do modelo 2

    Escore Grupo A (Adimplentes)

    Grupo H (Inadimplentes)

    Mdia 0,297. 0,703. Parmetro de classificao Escore < 0,50 Escore > 0,50

    O quadro 5.2.2.b apresenta o percentual de classificaes corretas e incorretas para os

    dois grupos:

    Quadro 5.2.2.b Regresso logstica (modelo 2): percentual de acertos

    Classificao do Modelo

    Classificao Original Grupo A

    (Adimplentes) Grupo H

    (Inadimplentes)

    Grupo A (Adimplentes) 78,5% 21,5% Grupo H (Inadimplentes) 15,1% 84,9%

    O modelo 2 desenvolvido com a tcnica de regresso logstica, assim como os outros

    modelos desenvolvidos, tambm mostrou classificar melhor os clientes inadimplentes (84,9%)

    do que os clientes adimplentes (78,5%). A capacidade de predio desse modelo (81,7%)

    ligeiramente superior ao modelo desenvolvido com a tcnica de anlise discriminante

    (81,4%).

    6. Anlises e concluses

    A anlise dos modelos confirma a similaridade da eficincia das tcnicas de anlise

    discriminante e regresso logstica. A diferena da taxa de sucesso nos dois modelos foi

    mnima: No modelo 1 a tcnica de anlise discriminante conseguiu uma taxa de sucesso

    superior (73,3%) a taxa obtida atravs da aplicao da regresso logstica (72,4%), enquanto

    que no modelo 2, a tcnica de regresso logstica obteve taxa de sucesso (81,7%) superior ao

    da aplicao da tcnica de analise discriminante.

    Outro ponto que diz respeito similaridade dos modelos refere-se as variveis obtidas.

    Os dois modelos possuem as mesmas variveis, e, respeitando-se as regras de deciso de cada

  • Modelagem do risco de crdito: Um estudo do segmento de pessoas fsicas em um banco de varejo

    REAd Edio 40 Vol. 10 No. 4, jul-ago 2004 20

    modelo, estas variveis possuem pesos (coeficientes) bem parecidos. O resultado que o

    percentual de indivduos que recebeu a mesma classificao dos modelos desenvolvidos com

    a aplicao da anlise discriminante e regresso logstica de 98,5% no modelo 1, e 98% no

    modelo 2, ou seja, apenas 5 indivduos receberam classificaes diferentes no modelo de

    concesso de crdito, enquanto que no modelo de escoragem comportamental o quantitativo

    foi de 7 indivduos.

    As semelhanas acima citadas conjuntamente com a ausncia de uma tcnica

    estatstica com taxa de sucesso predominante nos dois modelos corroboram com a idia,

    presente em outros estudos comparativos, de que no existe uma tcnica estatstica

    predominante no desenvolvimento de modelos de credit scoring.

    De acordo com a metodologia dessa pesquisa um modelo considerado funcional

    quando apresenta uma taxa de sucesso superior a 80%, alm disso, para ser aplicvel na

    realidade um modelo tem que estar de acordo com a legislao sobre proviso de crdito.

    Os estudos sobre finanas corporativas incorporam uma multiplicidade de ndices,

    estratgias e variveis. Os estudos sobre finanas pessoais, no entanto, limitam-se a poucos

    ndices financeiros, assim, o comportamento humano quem determina a heterogeneidade

    desse segmento. Mensurar o comportamento humano e suas variveis, porm, uma tarefa

    rdua. comum ver indivduos de origem, formao e renda semelhante seguirem caminhos

    divergentes em suas finanas pessoais.

    Os modelos desenvolvidos para fins de concesso de crdito desenvolvidos com as

    tcnicas de anlise discriminante e regresso logstica tiveram taxas de sucesso de 73,3% e

    72,4% respectivamente. Os modelos de concesso de crdito apresentam geralmente baixas de

    sucesso devido ao nmero limitado de variveis. Nos modelos desenvolvidos nessa pesquisa,

    variveis importantes como renda familiar, restries do cnjuge, e quantidade de instituies

    que o cliente opera ficaram ausentes, apesar disso as taxas de sucesso mdia dos modelos de

    concesso de crdito ficaram prximas de 73% de acerto. A hiptese de funcionalidade dos

    modelos de concesso de crdito foi rejeitada, no entanto, esse modelo gerou importantes

    informaes que podem melhor subsidiar as decises de um analista de crdito.

    Os modelos de escoragem comportamental envolvem um maior nmero de variveis,

    e, conseqentemente apresentam maiores taxas de sucesso. Os modelos de behavioural

    scoring desenvolvidos nessa pesquisa tiveram, alm da limitao das variveis, a limitao

    temporal, j que normalmente o perodo analisado duas vezes maior que o aqui utilizado.

    Apesar disso o modelo gerado atravs da anlise discriminante obteve uma taxa de sucesso de

  • Antnio Amorim Neto & Charles Ulisses De Montreuil Carmona

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    21

    81,4%, enquanto que o modelo gerado atravs de regresso logstica obteve um taxa de

    sucesso de 81,7%.

    De acordo com esses valores a hiptese de funcionalidade dos modelos no foi

    rejeitada, ou seja, os modelos foram considerados funcionais para o objetivo proposto. Esses

    valores indicam, ainda, que com um cadastro mais completo, informaes mais coerentes, e

    um perodo de anlise maior, provavelmente seria possvel obter uma taxa de sucesso maior.

    A natureza ad hoc impede, no entanto, a generalizao e inferncia dos resultados

    obtidos neste trabalho para outras realidades. Apesar de ser improvvel, possvel que em

    uma outra regio geogrfica, por exemplo, as amostras dos dois grupos (adimplentes e

    inadimplentes) sejam to homogneas que torne impossvel desenvolver modelos de credit

    scoring funcionais.

    7. Referncias Bibliogrficas

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