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Brasília-DF, 2011.

Introdução à Linguística

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Introdução

à

Linguística

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Elaboração:

Marcelo Whately Paiva

Produção:Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração

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Sumário

Apresentação................................................................................................................... .......................... 04

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ..................................................................................... 05

Organização da Disciplina ........................................................................................................................ 06

Introdução ................................................................................................................................................. 07

Unidade I – A Importância do Estudo da Linguística ............................................................................. 09

Capítulo 1 – Conceito de Linguística ......................................................................................... .. 09

Capítulo 2 – Aquisição da Linguagem .......................................................................................... 26

Unidade II – Divisões da Linguística ....................................................................................................... 35

Capítulo 3 – Principais Linhas de Estudo ..................................................................................... 35

Capítulo 4 – Preconceito Linguístico ........................................................................................... 44

Para (não) Finalizar .................................................................................................................................. 53

Referências ................................................................................................................................................ 54

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Introdução

à

Linguística

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Caro aluno,

Bem-vindo ao estudo da disciplina Introdução à Linguística.

Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e odesenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos.

Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, aorganização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade.

A carga horária desta disciplina é de 40 (quarenta) horas, cabendo a você administrar o tempo conforme a suadisponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data-limite para a conclusão do curso, incluindo a apresentação ao seu tutordas atividades avaliativas indicadas.

Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente.

Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas docurso; serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina. Lembre-se de que, apesar dedistantes, podemos estar muito próximos.

A Coordenação

Apresentação

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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Apresentação: Mensagem da Coordenação.

Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e da carga horária das unidades.

Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido por você na disciplina, indicando a importância desta para

sua formação acadêmica.

Ícones utilizados no material didático

Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática eseus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina.

Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina para estimulá-lo a pensar a respeito do

assunto proposto. Registre sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificarseus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre asquestões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho.

Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos dedicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico.

Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textose enriquecê-los com sua contribuição pessoal.

Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões.

Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer oprocesso de aprendizagem.

Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão.

Referências: Bibliografia consultada na elaboração da disciplina.

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Introdução

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Linguística

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Organização da Disciplina

Ementa:

Introdução ao conceito de Linguística. História da Linguística. Aquisição da linguagem. Divisões da Linguística. PreconceitoLinguístico. As gramáticas: tradicional, estrutural, gerativa.

Objetivos:

• Introduzir o conceito da linguística de forma prática na dinâmica da comunicação e em atividades relacionadasà vida acadêmica e profissional.

• Relacionar conceitos linguísticos a diversas áreas do conhecimento científico.

• Demonstrar a importância dos mecanismos da linguagem no conhecimento histórico e social de um povo.

Unidade I – A Importância do Estudo da LinguísticaCarga horária: 20 horas

Conteúdo CapítuloConceito de Linguística 1Aquisição da Linguagem 2

Unidade II – Divisões da Linguística

Carga horária: 20 horas

Conteúdo CapítuloPrincipais Linhas de Estudo 3Preconceito Linguístico 4

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Introdução

O estudo da Linguística é fascinante e amplo. Ele segue diversas linhas de pensamento e envolve aspectos fonéticos,gramáticais, psicológicos, sociológicos, geográficos, neurolinguísticos. Nossa disciplina abordará todas as principaiscorrentes que surgiram no estudo linguístico. Desejamos que você conheça a amplitude de pensamentos possíveis nestaárea de atuação.

Nossa disciplina capacitará você a ter um conhecimento dos principais pesquisadores no mundo e no Brasil. Entendemosque todo este estudo só será eficiente se puder ser traduzido para uma atividade acadêmica e profissional prática. Émuito comum encontrarmos cursos com elevada carga de conteúdo teórico. O participante do curso estuda diversosautores e linhas de pensamento, mas não vê a utilidade do que aprendeu em sua vida profissional. Não é o nosso objetivo.Queremos que você aprenda os fundamentos essenciais que sejam importantes para a sua formação com enfoque narealidade de que você tanto necessita.

Não organizamos as aulas com tendências ideológicas predominantes. Assim, abordamos diversas linhas de opiniões semmenosprezar as outras. Você estudará normas consagradas e, também, o preconceito linguístico. Elas serão analisadasem seu aspecto técnico. Não desejamos ser mais um curso a transmitir ideologias partidárias. Nosso objetivo é apresentaras ideias essenciais ao seu desenvolvimento acedêmico e profissional.

Marcelo Paiva

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

A Importância do Estudo da Linguística

Unidade I

Capítulo 1 – Conceito de Linguística

A linguística tem um papel de educar para a democracia, educarpara a cidadania. [...] A democracia é um sistema político em queexiste um respeito à diferença, um respeito à diversidade. Ora, alinguística, ao mostrar que a língua é heterogênea, que a língua édiversa, que a língua é plural, é, de certa forma, uma maneira deeducar para a tolerância e isso é educar para a democracia.

José Luiz Fiorin

O tempo altera todas as coisas; não existe razão para que a línguaescape a essa lei universal.

Ferdinand de Saussure

Linguística é a ciência que estuda a linguagem humana com base em critérios científicos. Assim, é a pesquisa fundamentadaem análise de dados que podem ser comprovados. O linguista observa a língua como um todo e suas partes e procuradescrever a fonética, a sintaxe, a semântica e inúmeras variações gramaticais, principalmente na expressão oral. Desdehá algum tempo, a Linguística avança cada vez mais em sua relação a aspectos sociais e políticos na construção eexpressão verbal.

Pode-se diferenciar o gramático atual do linguista da seguinte forma: o gramático estuda a língua padrão e suas variações.Decora, analisa e interpreta regras e sentido dos vocábulos e tenta explicar o porquê de as normas serem desta ou daquelaforma. O gramático procura diferenciar com clareza o certo do errado dentro das regras já estabelecidas. Algumas vezesconcorda e outras discorda do que está padronizado.

O linguista atua de forma mais analítica em relação à língua. Sua preocupação está em descrever as característicassonoras, estruturais, históricas, sociais de uma língua e encontrar as causas e consequências desta expressão. Daí,muitas vezes, a relação da Linguística com a Sociologia, Psicologia, Geografia e tantas outras ciências. O conceito decerto e errado no estudo da língua é muito relativo para quem estuda linguística.

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Introdução

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Linguística

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Definições

Estudo das línguas, nas suas relações e nos seus princípios, leis fonéticas e semânticas, morfologia,raízes, etc.; estudo histórico e comparativo das línguas.

Elizabeth Mazini e Cibele Marques dos Santos

A Linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma.

Ferdinand de Saussure

A linguística é completamente diferente da gramática tradicional, normativa, que estabelece regrasde correção para o uso da linguagem verbal, oral ou escrita. Ela estuda a estrutura (como se forma,sua origem, sua decomposição) e a função (qual papel como elemento comum a uma coletividade delinguagem humana).

Eni Pulcinelli

Linguística é o estudo científico da linguagem. Como ciência, a Linguistica dedica-se a descrever e aexplicar os fenômenos da língua, e não a formular instruções sobre determinados usos.

http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/21/display/0,5912,IGP-21-98-856-,00.html

Linguística é a ciência que estuda a linguagem. O termo foi empregado pela primeira vez em meados doséculo XIX, para distinguir as novas diretrizes para o estudo da linguagem, em contraposição ao enfoquefilológico mais tradicional. A filologia ocupa-se, principalmente, da evolução histórica das línguas, talcomo se manifestam nos textos escritos e no contexto literário e cultural associado. A linguística tendea dar prioridade à língua falada e à maneira como ela se manifesta em determinada época.

http://www.brasilescola.com/portugues/linguistica.htm

Se você quer entender o que é linguistica e o que é o seu objeto, você precisa pensar um pouco nafábula dos três cegos apalpando o elefante. Cada um apalpava um pedaço do elefante e definia o

elefante por aquele pedaço. Então, o que pegava a perna do elefante, dizia: “o elefante é assim umcilindro muito duro, rígido, é um animal com formato de cilindro e que é estático, parece que esseanimal não se mexe e é um animal que ocupa posição vertical no espaço”. O outro, que mexia lá natromba, naturalmente discordava, não só quanto à disposição no espaço, quanto à rigidez no tato,tanto quanto à falta de mobilidade.

Ataliba Castilho

Prefiro abdicar do título de cientista para poder pensar a linguagem livremente.

Kanavillil Rajagopalan

Origem

O estudo dos aspectos relativos à comunicação certamente sempre foram, de forma organizada ou não, preocupaçãodo ser humano. O emprego de regras para o estudo padronizado da língua, segundo documentos indicam, tem origem naGrécia e na Índia. Desde então, encontramos vestígios de análises em relação à linguagem oral e escrita.

 O termo “Linguística” passou a ser empregado apenas em meados do século XIX com Ferdinand de Saussure, consideradoo pai da Linguística moderna, que analisava a língua “não como um organismo que se desenvolve por si, mas como umproduto do espírito coletivo dos grupos linguísticos”.

Até então os estudos se limitavam a explicar, comparar e conservar as formas conhecidas de linguagem. É vasta aprodução de gramáticas, glossários e estudos das formas de linguagem em diversas regiões do mundo. Tratava-se deuma visão histórica da língua com importância fundamental para a sociedade. Por exemplo, a descoberta e análise daprimeira gramática na Índia destinada a preservar as antigas escrituras sagradas.

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Na Grécia antiga, as questões propostas em torno da naturalidade e arbitrariedade da linguagem – ou seja,o que existe nela “por natureza” ou “por convenção” – deram origem a duas escolas opostas: os analogistassustentavam a regularidade básica da linguagem, devida à convenção, e os anomalistas consideravam que alinguagem era irregular, por refletir a própria irregularidade da natureza. As pesquisas sobre essas questões,que os gramáticos romanos se encarregariam, mais tarde, de continuar e transmitir, impulsionaram o progressoda gramática no Ocidente.

A concepção da linguagem como um espelho em que se refletia a verdadeira imagem da realidade levou asgramáticas especulativas medievais a destacarem o aspecto semântico – relativo ao significado – da língua. Apartir do século XV, a tradição gramatical greco-romana, que até então imperara, perdeu importância à medidaque avançava o estudo das línguas vernáculas e exóticas.

A gramática geral de Port-Royal, redigida por estudiosos franceses no século XVII, preparou a abordagemhistórica da língua que caracterizou os estudos linguísticos do século XVIII e abriu caminho ao comparativismodo século seguinte. Gramática comparada e linguística histórica. A descoberta, no final do século XVIII, dasafinidades “genealógicas” entre o sânscrito, o grego e o latim, atribuída comumente ao orientalista inglêsSir William Jones, deu lugar a um exaustivo estudo comparado dessas e de outras línguas. Tais pesquisasapresentaram os primeiros resultados positivos quando, em 1816, o linguísta alemão Franz Bopp publicou suaobra Uber das Conjugations system der Sanskritsprache.

Sobre o Sistema das Conjugações em SânscritoPor meio da comparação metódica das conjugações do sânscrito, persa, grego, latim e alemão, Bopp concluiuque as afinidades fonéticas e morfológicas demonstravam a existência de um tronco hipotético ou línguacomum anterior, o indo-europeu.

Foram assim estabelecidos os alicerces da gramática comparada, que não tardaria a adquirir caráter científicograças ao trabalho de dois linguístas: Rasmus Rask, na Dinamarca, e Jacob Grimm, na Alemanha.

Ao primeiro se deve a elaboração de uma gramática geral e comparativa das línguas do mundo e o estabelecimentode uma série de correspondências fonéticas entre as palavras de significado igual ou semelhante. Grimm

acrescentou a esses estudos uma perspectiva histórica, ao pesquisar as numerosas correspondências fonéticasentre as consoantes do latim, do grego, do sânscrito e do ramo germânico do indo-europeu. O resultado de suapesquisa, conhecido como “lei de Grimm” ou “primeira mutação consonântica do germânico”, representou umprogresso notável nos estudos linguísticos.

A classificação das línguas, a evolução histórica de seus aspectos fonológicos, morfológicos e léxicos, os estudossobre distribuição geográfica dos idiomas indo-europeus e a reconstrução da língua comum de que provinhamdefiniram o contorno geral dos estudos linguísticos que dominaram a segunda metade do século XIX. Na décadade 1870, o movimento dos neogramáticos, cujos principais representantes foram os alemães August Leskiene Hermann Paul, marcou um dos períodos mais significativos da linguística histórica por conferir à disciplina

um caráter mais científico e preciso.Com base nas teorias evolucionistas de Charles Darwin e na compreensão da língua como um organismo vivo, quenasce, desenvolve-se e morre, os neogramáticos atribuíram a evolução histórica das línguas a determinadas leis

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Introdução

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Linguística

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

fonéticas, regulares e imutáveis, a partir das quais seria possível reconstruir as formas originais de que haviamsurgido. Apesar das evidentes limitações desse enfoque fonético, o método e as técnicas dos neogramáticosmuito influenciaram os linguistas posteriores.

Nas correntes linguísticas, surgidas durante a primeira metade do século XX, foram também importantes asteorias desenvolvidas um século antes pelo alemão Wilhelm Von Humboldt, para quem a língua, organismo vivo emanifestação do espírito humano, era uma atividade e não um ato. Com sua concepção estruturalista da língua comoum conjunto orgânico composto por uma forma externa (os sons), estruturada e dotada de sentido por uma formainterna, peculiar a cada língua, Humboldt foi o precursor do estruturalismo linguístico de Ferdinand de Saussure.

Século XX

Com o progresso do método comparativista, os estudos linguísticos do século XX adotaram uma nova orientaçãoe uma nova atitude com relação ao enfoque e ao objeto de estudo da linguística. Ao invés de se concentrar nadescrição histórica da língua, como queriam os gramáticos comparativistas, a linguística daria maior ênfaseao estudo da linguagem em si mesma e a seu caráter sociocultural.

Durante a primeira metade do século XX, as novas orientações linguística estiveram representadasfundamentalmente pelo estruturalismo, cujos expoentes foram Ferdinand de Saussure, na Europa, e LeonardBloomfield, nos Estados Unidos.

Estruturalismo Europeu

Considera-se em geral o suíço Ferdinand de Saussure o fundador do estruturalismo linguístico na Europa,embora suas teorias não tenham sido assim definidas explicitamente. As principais ideias de Saussure,reunidas por seus discípulos Charles Bally e Albert Séchehaye e publicadas postumamente sob o título Coursde linguistique générale (1916; Curso de linguística geral), tiveram forte influência nos estudos linguísticosda primeira metade do século XX.

O estruturalismo, conforme exposto na obra de Saussure, baseia-se na convicção de que a linguagem é umsistema abstrato de relações diferenciais entre todas as suas partes. Esse sistema se apresenta subjacenteaos fatos linguísticos concretos e constitui o principal objeto de estudo do linguista.

Para fundamentar suas afirmações, Saussure estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a naturezada linguagem, que se podem resumir nos seguintes pontos:

1. a diferenciação entre langue (língua), sistema de signos presente na consciência de todos os membrosde uma determinada comunidade linguística, e parole (discurso), realização concreta e individual dalíngua num determinado momento e lugar por cada um dos membros da comunidade;

2. a consideração do signo linguístico, elemento essencial na comunidade humana, como a combinação deum significante (ou expressão) e um significado (conteúdo), cuja relação arbitrária se define em termossintagmáticos (entre os elementos que se combinam na sequência do discurso) ou paradigmáticos (entreos elementos capazes de aparecer no mesmo contexto); e

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3. a distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a descrição do estado estrutural da língua emum dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da evolução histórica da língua, que leva em contaos diferentes estágios sincrônicos.

Saussure considerou prioritário o estudo sincrônico, que permite revelar a estrutura essencial da linguagem: “Alíngua é um sistema em que todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica.”

Os linguístas encontraram nas ideias renovadoras de Saussure o ponto de partida para desenvolver novosmétodos e teorias. Foi o caso da chamada escola de Praga, surgida em 1926 e formada, entre outros, peloslinguístas de origem russa Nikolai Trubetskoi, Serguei Karcevski e Roman Jakobson. No I Congresso Internacionalde Linguístas, realizado em Haia, em 1928, os integrantes da escola de Praga assinalaram a importância da

fonologia no sistema da língua.

Sobre a base das distinções realizadas por Saussure entre língua e discurso, sincronia e diacronia, os linguístasda escola de Praga proclamaram a necessidade de se fazer distinção entre fonologia e fonética, dois termosusados até então para definir a ciência dos sons. Segundo eles, a fonologia estuda as funções linguísticas dossons, os fonemas, enquanto a fonética se preocupa com a produção e as características dos sons da fala.

À escola de Praga deveu-se também a definição de fonema como a unidade mínima do significante que está noplano da língua, assim como o conceito de traços pertinentes, distintivos ou funcionais dos fonemas.

Os linguistas escandinavos Viggo Brøndal e Louis Hjelmslev, criadores da teoria da linguagem conhecida como

glossemática, foram os principais representantes do Círculo Linguístico de Copenhague, fundado em 1931,e que também se inspirou nos conceitos de língua, discurso, sincronia e estrutura, de Saussure. Coube aHjelmslev criar uma das mais conhecidas e precisas definições da linguística estrutural: “conjunto de pesquisasbaseadas na hipótese de que é cientificamente legítimo descrever uma língua como, essencialmente, umaunidade autônoma de dependências internas ou, numa só palavra, uma estrutura”.

Estruturalismo Americano

O surgimento do estruturalismo nos Estados Unidos foi condicionado pela análise descritiva das centenasde línguas ameríndias no final do século XIX. A necessidade de buscar princípios metodológicos apropriadospara a análise dessas línguas, em grande parte desconhecidas e ágrafas (não escritas), resultou num enfoqueantropológico e etnológico desses estudos.

Os pesquisadores pretendiam reconstruir as civilizações primitivas, cujas estruturas linguísticas consideravamindissociáveis do contexto social e cultural em que se haviam originado. Nesse sentido destacaram-se ostrabalhos de Franz Boas e de seu discípulo Edward Sapir, que ressaltou, como fizera Saussure, o caráterda linguagem como modelo geral e preparou o caminho da linguística estrutural americana, cujo principalrepresentante seria Leonard Bloomfield.

Em 1933, a publicação de um livro de Bloomfield, Language, marcou o início de uma nova era na linguística

e influiu nos trabalhos da escola distribucionalista (também denominada neobloomfieldiana) surgida depoisdele. Para obter o máximo rigor científico no estudo da linguagem, Bloomfield adotou um enfoque behavioristaem sua análise linguística e definiu a linguagem em termos de respostas a estímulos. O autor excluiu de suasconsiderações, quase completamente, alusões à significação ou à semântica.

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Introdução

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

O estruturalismo de Bloomfield era eminentemente analítico e descritivo e centrava-se no estudo da morfologiae da sintaxe: ao partir da frase como unidade máxima analisável, empregava métodos de redução que permitiamdecompô-la em seus elementos constituintes imediatos, até chegar ao morfema, unidade mínima indivisível.Esse método de análise foi o principal objeto de pesquisa dos neobloomfieldianos ou distribucionalistas, osmais importantes dos quais foram Bernard Bloch, George L. Trager, Robert Anderson Hall e, especialmente,Zellig S. Harris, autor de um livro fundamental no estruturalismo americano, Methods in Structural Linguistics.

Gramática Gerativo-Transformacional

A publicação de Syntactic Structures, do americano Noam Chomsky, deu nova orientação aos estudoslinguísticos modernos. Chomsky reagia contra as hipóteses teóricas do distribucionalismo e expunha o quedeveria ser, em sua opinião, o objetivo da linguística: a formulação de uma gramática que, por meio de umnúmero finito de regras, fosse capaz de gerar todas as frases de um idioma, do mesmo modo que um falantepode formar um número infinito de frases em sua língua, mesmo quando nunca as tenha ouvido ou pronunciado.

Tais regras, afirmou Chomsky, não são leis da natureza. Foram “construídas pela mente durante a aquisiçãodo conhecimento” e podem ser consideradas “princípios universais da linguagem”. A tese representou umanegação frontal do behaviorismo.

Cabia ao linguísta a tarefa de construir essa gramática, a partir do que Chomsky denominou “competência”

(o conhecimento que o falante possui de sua língua e que lhe permite gerar e compreender mensagens) e nãodo “desempenho” (o emprego concreto que o falante faz de sua língua). A regras gramaticais que permitissemgerar orações inteligíveis num idioma seria denominada gramática gerativa.

Em suas formulações sobre essa gramática, Chomsky distinguiu três componentes:

1. o sintático, com função geradora;

2. o fonológico, a imagem acústica da estrutura elaborada pelo componente sintático; e

3. o semântico, que interpreta essa imagem.

Em oposição à gramática estruturalista dos distribucionalistas, que se baseava na análise dos constituintesimediatos, Chomsky analisou as estruturas das orações em dois níveis, o profundo e o superficial, para indicaras transformações produzidas ao se passar de um nível para outro e as regras que regem as transformações.Esses conceitos explicam a razão do termo gramática gerativo-transformacional e fundamentaram grandeparte dos estudos linguísticos realizados depois de Chomsky.

Segundo a teoria gerativo-transformacional, todas as línguas possuem uma estrutura superficial ou aparente,que representa a forma em que aparece a oração, e outra estrutura profunda ou latente, que encerra o conteúdosemântico da oração e forma o corpus gramatical básico que o falante de uma língua possui. Por meio de umaquantidade limitada de regras de transformação, o falante pode criar um número infinito de orações superficiais.

O componente fonológico, ou seja, a imagem acústica das estruturas elaboradas pelo componente sintático, édado por uma série de segmentos – denominados morfofonemas por alguns linguistas – com traços distintivosque indicam como devem ser representadas, na estrutura superficial, as orações geradas pela sintaxe.

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

De maneira semelhante, o componente semântico fornece o significado às orações da estrutura superficialpela substituição ou inserção léxica de palavras e morfemas (unidades significativas) durante o processo detransformação da estrutura profunda na superficial.

Essa consideração do componente semântico, que respondia à diferenciação entre sintaxe e semântica dasprimeiras formulações da gramática gerativa, foi um dos pontos mais conflituosos para teorias gerativasposteriores, que consideravam inexistente essa diferenciação.

Psicolinguística e Sociolinguística

A teoria gerativa de Chomsky abriu caminho para uma renovação radical da linguística e para sua aplicação adiversas disciplinas do saber humano, como a psicologia ou a sociologia. Um dos principais campos de aplicaçãoda gramática gerativo-transformacional, sobretudo no que diz respeito à dicotomia competência-desempenho,foi à psicolinguística, termo surgido na década de 1940 e definido como o estudo de fatos da linguagemconsiderados sob seus aspectos psicológicos, fundamentalmente no que se refere à aquisição da linguagem,à percepção da fala e aos distúrbios patológicos, como por exemplo a afasia (perda da fala).

O caráter e a função social da linguagem, suas repercussões no comportamento do indivíduo e oscondicionamentos sociais (diferenças de classe, sexo, educação, idade e ocupação) que determinam as variaçõeslinguísticas dentro de uma língua representam os objetivos principais da sociolinguística.

Em oposição às teorias sociolinguísticas, segundo as quais a língua é ao mesmo tempo causa e efeito dasconcepções sobre a realidade e o mundo de uma comunidade de falantes (hipótese do americano Benjamin LeeWhorf) ou resultado de estruturas sociais determinadas (teoria do georgiano Nikolai Y. Marr), as pesquisasdo americano William Labov tentaram explicar as variações linguísticas de uma determinada língua por meiode uma redefinição do conceito chomskiano de competência. Labov entendia a competência como o conjuntode regras de conteúdo sociológico – diferentes níveis e registros de língua – que, uma vez conhecidas pelofalante, podem ser empregadas de acordo com o contexto social ou a situação.

Outras Teorias

Embora a influência do trabalho de Chomsky tenha levado praticamente todas as escolas linguísticas a definiremsuas posições com relação às teorias do linguista americano, continuaram a surgir enfoques radicalmenteopostos. A gramática estratificacional, desenvolvida pelo americano Sidney Lamb, reelaborou elementos doestruturalismo de Bloomfield ao definir a estrutura linguística como uma teia de relações, mais do que como umsistema de regras; as unidades linguísticas seriam apenas pontos, ou posições, nessa teia. O distribucionalismoe a escola de Praga inspiraram também tendências como a análise tagmêmica (que considera que a posiçãodos elementos define a gramática de uma língua) ou a chamada gramática de casos.

A linguística representa hoje um campo aberto e em contínua renovação, cujos estudos, a partir de perspectivas

diferentes, contribuem para a construção de modelos cada vez mais amplos que considerem os elementosconstituintes do fenômeno linguístico.

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Introdução

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Linguística

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

A Situação Atual da Linguística

O linguista Eduardo Guimarães afirma que a linguística vive hoje dividida em quatro áreas:

a) um cognitivismo naturalista que o pensamento chomskyano reintroduziu e que localiza a linguística no interior

da biologia (enquanto ciência psicológica), ou seja, das ciências naturais;b) posições derivadas do estruturalismo, como os estudos enunciativos, para os quais o funcionamento da

língua se dá porque a língua está marcada por formas próprias para o seu funcionamento, no acontecimentoenunciativo, posições então que mantêm a questão da autonomia do linguístico proposta por Saussure;

c) posições que procuram estabelecer diálogos entre as diversas disciplinas das ciências humanas que levam apensar o linguístico como definido por uma correlação com o que está fora do linguístico: o antropológico, osocial, o psicológico, etc;

d) posições como a da análise do discurso que põem em cena a questão de que não se pode reduzir o linguístico

nem ao social (antropológico) nem ao psicológico, pois a linguagem é, ao lado de integralmente linguística –num certo sentido saussuriano – também integralmente histórica.

A Linguística no Brasil

Paulino Vandresen explica que a linguística foi implantada no currículo de Letras por uma resolução do Conselho Federalde Educação, em dezembro de 1961. Na época, existiam 83 cursos de Letras, seguidores da tradição filológica portuguesaque norteava o ensino de línguas numa perspectiva histórica e normativa. A nova disciplina dava ênfase à descriçãocientífica das línguas, numa perspectiva sincrônica.

A medida suscitou polêmica e sérios problemas para os diretores dos cursos de Letras: não havia professores preparadospara ministrar linguística nos 83 cursos. Havia dois doutores e meia dúzia de pós-graduados no exterior, na área deensino de línguas estrangeiras.

No início deste novo século (40 anos depois) a linguística brasileira apresenta-se como uma área consolidada, com quasemil doutores e mais de 3.000 mestres atuando em mais de 60 cursos de pós-graduação (dos quais 45 ministram cursosde doutorado) e mais de 500 cursos de graduação em letras.

Entre os marcos que permitiram esse rápido progresso da linguística no Brasil estão seguramente: as atividades de algunspioneiros; organização de cursos intensivos de preparação de professores de linguística, a implantação dos cursos depós-graduação e a fundação de associações científicas e periódicos especializados.

Os Pioneiros

Os cursos de Letras foram organizados a partir dos anos 30, inseridos nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letrasdedicadas ao estudo das humanidades e à preparação de professores. Até 1963, o currículo constava de Filologia, LínguaPortuguesa (numa perspectiva histórica e normativa), Literatura Brasileira e Portuguesa e blocos de línguas clássicas,germânicas (Inglês e Alemão) ou neolatinas (Francês, Espanhol e Italiano). Alguns conteúdos linguísticos (particularmentede linguística histórica) eram ministrados, nas disciplinas de língua portuguesa e filologia.

Joaquim Mattoso Camara Junior, aluno de Roman Jakobson nos EUA, foi o grande pioneiro da linguística descritiva no

Brasil. Ministrou o primeiro curso de linguística do Brasil, na Universidade do Distrito Federal (1938 e 1939) e depois naUniversidade do Brasil, a partir de 1948.

A contribuição de Camara Jr. é particularmente importante na divulgação das teorias linguísticas nas revistas da época,como a Revista Brasileira de Filologia e o Boletim de Filologia, todos do Rio de Janeiro. Como resultado de seus

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cursos surgiu, em 1942, o primeiro manual de linguística do Brasil: Princípios de Linguística Geral, que teve seguidasreedições. Suas primeiras pesquisas sobre a fonologia do português, fortemente influenciadas pela Escola de Praga,deram origem ao livro: Para o estudo da fonêmica portuguesa, publicado em 1953. Além disso, traduziu e publicou o livroA Linguagem, de Edward Sapir, em 1954, e uma coletânea de seus artigos, sob o título Linguística como ciência, em1961. Em 1963, publicou uma coletânea de artigos de Roman Jakobson sob o título Fonema e Fonologia.

Colocando-nos no cenário dos anos 60, podemos perceber a importância dos livros e traduções de Câmara Jr. paraviabilizar o ensino da linguística nos cursos de Letras, a partir de 1963.

A outra experiência de ensino de linguística, como disciplina eletiva antes da Resolução do CFE, ocorreu na UFPR. Oprofessor Aryon Dall’Igna Rodrigues ministrou dois anos de Linguística (1960 e 1961) com o apoio do catedrático deLíngua Portuguesa, professor Mansur Guerios, que o havia encorajado a fazer o doutorado em linguística em Hamburgo,na Alemanha.

É importante mencionar também a atuaçao de linguistas estrangeiros do SIL (Summer Institute of Linguistics) quecomeçaram a atuar na pesquisa de línguas indígenas a partir de 1956, em convênio com a Divisão de Antropologia do

Museu Nacional. Na área da linguística indigenista, a ABA (Associação Brasileira de Antropologia) estimulou a pesquisae deu espaço para sessões de linguística em seus congressos, a partir de 1959.

Na linguística aplicada ao ensino de línguas, merece menção o trabalho de Valmir Chagas, Didática especial de línguasmodernas, publicado em 1957, com análise de métodos de ensino com base linguística.

Seu trabalho pioneiro em linguística aplicada na UFPE foi continuado por Francisco Gomes de Matos, que posteriormenteteria ação destacada no Centro de Linguística Aplicada do Yágizi. Centros particulares de ensino de línguas, como CulturaInglesa, Instituto Brasil/Estados Unidos, Instituto de Idiomas Yágizi e Aliança Francesa contavam com professoresestrangeiros ou nacionais com algum treinamento linguístico.

Os Cursos Intensivos de Linguística

Já no verão de 1963/64, em face da polêmica implantação obrigatória da linguística nos cursos de Letras, foi organizado oprimeiro curso intensivo de preparação de professores de linguística, na UnB (Universidade de Brasília) sob a coordenaçãodo professor Aryon Rodrigues e apoio financeiro do MEC. Além do professor Rodrigues, participaram do referido treinamentoalguns linguistas vinculados ao SIL. Com o mesmo corpo docente iniciou-se, no mesmo ano de 1964, o primeiro cursode Mestrado em Linguística do Brasil.

No contexto do assessoramento norte-americano na reformulação da estrutura universitária brasileira e latino-americana,foi criado o PILEI (Programa Interamericano de Linguística e Ensino de Idiomas). Em 1963, o PILEI organizou o Simpósio

de Cartagena, que reuniu os mais destacados linguistas latino-americanos e mais de 20 linguistas americanos, naquelacidade da Colômbia.

A delegação brasileira foi constituída por Câmara Junior (UFRJ), Aryon Rodrigues (UnB) e Francisco Gomes de Matos(Universidade Federal do Pernambuco). O simpósio fez um diagnóstico da situação da linguística e ensino de línguas nocontinente, com propostas para ações que viriam a dinamizar o seu desenvolvimento, entre eles a criação de associaçõescientíficas, realização de eventos científicos e institutos linguísticos, com cursos intensivos, criação de centros depesquisa, com edição de revistas, entre muitas outras sugestões.

O primeiro Instituto Linguístico Latino Americano foi realizado em Montevidéu, com apoio do PILEI, com forte presençabrasileira, de dezembro de 1965 a fevereiro de 1966. No verão de 1967/68, realizou-se o primeiro Instituto Brasileiro de

Linguística na PUC/RS, com apoio da Ford Foundation e do Centro de Linguística Aplicada – Yázigi. Nos anos seguintes,multiplicaram-se oportunidades de treinamento em linguística teórica e aplicada em seminários e institutos linguísticosoferecidos pelo CLA – Yázigi, PILEI e universidades brasileiras com grande e entusiasmada participação de professoresde linguística, língua portuguesa e línguas estrangeiras. Graças ao clima e às esperanças criadas por esses eventos, a

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

linguística entrou na moda. Exercia um verdadeiro fascínio sobre professores e estudantes, que viam na linguística umcaminho seguro para a melhoria do ensino de línguas.

Em termos de teorias linguísticas, nos primeiros anos, predominou o estruturalismo, seguindo modelos americanos comoBloomfield, Sapir e Pike, ou europeus como a Escola de Praga, Martinet, Pottier etc. Tivemos até um modelo teórico

próprio, batizado como “linguística construtural”, proposto por Eurico Back e Geraldo Mattos, de Curitiba, divulgado narevista Construtura, e que teve como resultado de suas pesquisas uma Gramática Construtural da Língua Portuguesa (2volumes), publicada em 1972 pela editora FTD, de São Paulo. A proposta construtural surgiu no momento da implantaçãodos cursos de pós-graduação, e não resistiu à concorrência do modelo gerativista que dominou a década de 70, graçasaos novos doutores que retornavam do exterior.

Deve-se salientar que na década de 60 e 70 houve a formação de muitos linguistas no exterior, particularmente nos EUAe França, além de titulações no país pelo sistema anterior de doutorado sem cursos e livre docência.

Implantação dos Cursos de Pós-Graduação

No final da década de 60, mas principalmente no início dos anos 70, houve a implantação de inúmeros cursos de pós-graduação em linguística, com base nos pareceres 977/65 e 77/69 do CFE. Novamente se repetia, em parte, a históriade 1962. Dessa vez, porém, a criação dos cursos não era obrigatória.

É fácil imaginar a dificuldade de encontrar professores com doutorado ou mesmo com mestrado, em uma disciplinaimplantada há menos de uma década. A contratação de professores estrangeiros e a participação de um mesmo professorem mais de um curso minimizaram o problema. O sistema de avaliação da CAPES, que norteava um grande programa deformação de recursos humanos no exterior, um programa da Ford Foundation coordenado pelo Professor Aryon Rodriguespermitiram aumentar sensivelmente o número de doutores e a qualidade acadêmica dos cursos.

Com o fortalecimento de alguns cursos de doutorado em universidades brasileiras a linguística foi marchando celeremente

para sua consolidação.

Definições de alguns termos da linguística

Fonética – estudo das descrições e classificações das características físicas, articulatórias e perceptivas da produçãoe percepção dos sons da fala. Pode ser dividida ainda em três áreas de atuação: articulatória; acústica e auditiva ouperceptiva.

Fonologia – (phonos = som, logos = estudo) estudo dos sistemas sonoros das línguas. Possui um enfoque diferente emrelação à fonética, pois analisa a forma como os sons se organizam dentro de uma língua e os classifica em fonemas.

Pode-se diferenciar assim: a fonética estuda as características físicas da produção do som e, assim, o classifica. Afonologia estuda o som inserido no uso prático da língua.

Gramática – (do grego γρα  μματική) conjunto de normas de uso consagradas em determinada fase da evolução de umalíngua e aceitas pela maior parte da população. A gramática, teoricamente, é a expressão considerada “correta”. A Linguísticaquestiona o “certo” e o “errado” gramaticais, pois quase sempre são consequências de imposições políticas e sociais.

Linguagem – sistema de signos (sonoros, gráficos, gestuais, etc) que serve de base para a comunicação de ideias ousentimentos. Cada povo ou grupo exerce essa capacidade por meio de um determinado código linguístico, ou seja, utilizandoum sistema de signos vocais distintos e significativos, a que se dá o nome de língua ou idioma.

Morfologia – o termo pode apresentar-se em diversas áreas da ciência. Em Linguística, descreve o estudo da estruturada palavra. A análise pode ser realizada com base no morfema, na formação ou na classificação da palavra.

Sintaxe – estuda as regras, as condições e os princípios subjacentes à organização estrutural dos constituintes dasfrases, ou seja, o estudo da ordem dos constituintes das frases.

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Semântica – estudo do significado dos vocábulos em uma determinada língua ou contexto.

Lexicologia – estudo da origem, forma e significado dos vocábulos que constituem uma língua ou o conjunto de termosempregados em um determinado contexto.

Lexicografia – conjunto de termos de uma determinada língua ou área específica. A lexicografia é responsável pelosdicionários.

Diacronia – análise de um fenômeno linguístico em diferentes momentos históricos da língua a que pertence. Ao estudara palavra “ter”, por exemplo, considera a sua etimologia, sua evolução fonética e os diversos significados e aplicações quevem tendo, de sua origem até a atualidade: tenere > têer > teer > ter. Também conhecida como Linguística Histórica.

Sincronia – análise de um fenômeno linguístico em um determinado momento histórico. Também conhecida comoLinguística Descritiva.

Terminologia – estudo científico das noções e dos termos em uso nas línguas de especialidade.

Estilística – estudo dos recursos expressivos de uma língua e sua capacidade de provocar sugestões e efeitos de estilo.A estilística é muito empregada em poesias e na literatura.

Sociolinguística – estudo das relações entre a língua e os comportamentos sociais. As mudanças por que passam associedades e que se refletem na evolução da língua.

Psicolinguística – estudo da capacidade da mente humana de produzir e compreender a língua.

Ferdinand de Saussure (Genebra, 1857-1913)

É considerado o pai da Linguística Moderna. Seus estudos propiciaram o desenvolvimento da linguística como ciência epromoveram o estruturalismo. Estudou diversas línguas e, com vinte e um anos de idade, publicou um dissertação sobreo primitivo sistema das vogais nas línguas indo-europeias. Defendeu sua tese sobre o uso do caso genitivo em sânscritoe tornou-se professor de Gótico, Alemão, Sânscrito, Filologia e Linguística.

Defendeu a ideia de que a linguística é um ramo da ciência específico e abordou temas fundamentais para o estudo atualdas línguas. Em seus estudos, separa Língua e Fala. A língua, para ele, é um sistema de valores que se opõem uns aosoutros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de um determinado contexto. A fala é umato individual e sofre influência de fatores externos, muitos desses não linguísticos. Assim, defende a ideia de que alinguística estuda a língua e não a fala.

Sincronia/Diacronia

A sincronia é a observação do sistema linguístico em um determinado momento. É o estudo descritivo do funcionamentoda língua. Diacronia, por sua vez, é análise do sistema linguístico em momentos diferentes. É chamada de linguísticahistórica, pois observa momentos diferentes em seu estudo. Para Saussure, os fatos diacrônicos “não têm relação algumacom os sistemas, apesar de os condicionarem”. Em outras palavras, o funcionamento sincrônico da língua pode conviverharmoniosamente com seus condicionamentos diacrônicos. Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em históriaexterna (estudo das relações existentes entre os fatores socioculturais e a evolução linguística) e história interna (tratada evolução estrutural – fonológica e morfossintática – da língua).

Ferdinand de Saussure elege a observação sincrônica como essencial para a linguística cmo ciência, pois o falantenão tem consciência dos fatores históricos que determinaram modificações na língua. Castelar de Carvalho afirmaque para “o indivíduo que usa a língua como veículo de comunicação e interação social, essa sucessão não existe. Aúnica e verdadeira realidade tangível que se lhe apresenta de forma imediata é a do estado sincrônico da língua. Além

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

disso, como a relação entre o significante e o significado é arbitrária, estará continuamente sendo afetada pelo tempo,daí a necessidade de o estudo da língua ser prioritariamente sincrônico. Sirva de exemplo o substantivo romaria, quesignificava originalmente “peregrinação a Roma para ver o Papa”. Hoje, no entanto, é usado unicamente para designar“peregrinação religiosa em geral”.

Saussure deixa bem claro que sua preferência pelo estudo sincrônico não significa exclusividade. Ele próprio afirma que“a cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela éuma instituição atual e um produto do passado”.

Castelar Carvalho reafirma que “a língua, portanto, será sempre sincronia e diacronia em qualquer momento de suaexistência. O ponto de vista da ciência linguística é que poderá ser ou sincrônico ou diacrônico, dependendo do fim que sepretende atingir. E há determinados casos, por exemplo, em que a descrição sincrônica pode perfeitamente ser conjugadacom a explicação diacrônica, enriquecendo-se, desse modo, a análise feita pelo linguista. Por exemplo, podemos descrevero verbo pôr como pertencente à segunda conjugação, apelando para as formas sincrônicas atuais pões, põe, puseste,etc., além dos adjetivos poente e poedeira, nos quais o -e- medial aí existente (ou remanescente) funciona estruturalmentecomo vogal temática. Ao mesmo tempo, podemos enriquecer a descrição sincrônica, complementando-a com a explicação

diacrônica: o atual verbo pôr já foi representado pelo infinitivo arcaico poer, que, por sua vez, se vincula ao latim vulgarponere, com a seguinte cadeia evolutiva: poněre > ponēre > poner > põer > poer > pôr.

Encarados sob essa perspectiva, os pontos de vista sincrônico e diacrônico não são excludentes, ao contrário, sãocomplementares. Seja como for, vale registrar que Saussure, deixando de se preocupar com o processo pelo qual aslínguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, deu, coerentemente, primazia ao estudo sincrônico,ponto de partida para a Linguística Geral e o chamado método estruturalista de análise da língua.

Semiologia e linguística

A Semiologia (ou Semiótica) se diferencia da Linguística por sua maior abrangência. A Semiologia estuda não apenas alinguagem humana e verbal, mas também toda linguagem produzida por animais. A Linguística se preocupa apenas como estudo linguístico humano.

O signo linguístico

Saussure afirma que “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de um objeto ouda realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sociocultural que nos cercadesde o berço. Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das ideias), algo como olado espiritual da palavra, sua contraparte inteligível, em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua partesensível. Por outro lado, a imagem acústica “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica

desse som”. Melhor dizendo, a imagem acústica é o significante. Com isso, temos que o signo linguístico é “uma entidadepsíquica de duas faces”, semelhante a uma moeda.

Mais tarde, Jakobson e a Escola Fonológica de Praga irão estabelecer definitivamente a distinção entre som materiale imagem acústica. Ao primeiro chamaram de fone, objeto de estudo da Fonética. À imagem acústica denominaram defonema, conceito amplamente aceito e consagrado pela Fonologia.

Os dois elementos – significante e significado – constituem o signo, “estão intimamente unidos e um reclama o outro”.São interdependentes e inseparáveis, pois sem significante não há significado e sem significado não existe significante.Exemplificando, diríamos que quando um falante de português recebe a impressão psíquica que lhe é transmitida pelaimagem acústica ou significante / kaza /, graças à qual se manifesta fonicamente o signo casa, essa imagem acústica,de imediato, evoca-lhe psiquicamente a ideia de abrigo, de lugar para viver, estudar, fazer suas refeições, descansar,etc. Figurativamente, diríamos que o falante associa o significante / kaza / ao significado domus (tomando-se o termolatino como ponto de referência para o conceito).

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Sintagma/Paradigma

O sintagma relaciona-se ao caráter linear do signo linguístico, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementosao mesmo tempo. Castelar de Carvalho afirma que a língua é formada de elementos que se sucedem um após outrolinearmente, isto é, “na cadeia da fala”. À relação entre esses elementos Saussure chama de sintagma: o sintagma se

compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler , contra todos, a vida humana, Deus é bom, se fizer bomtempo, sairemos, etc.

Colocado na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor em virtude do contraste que estabelece com aquele queo precede ou lhe sucede, “ou a ambos”, visto que um termo não pode aparecer ao mesmo tempo que outro, em virtudedo seu caráter linear. Em “Hoje fez calor”, por exemplo, não podemos pronunciar a sílaba  je antes da sílaba ho, nemho ao mesmo tempo que je; lor antes de ca, ou ca simultaneamente com lor  é impossível. É essa cadeia fônica que fazcom que se estabeleçam relações sintagmáticas entre os elementos que a compõem. Como a relação sintagmática seestabelece em função da presença dos termos precedente e subsequente no discurso, Saussure a chama também derelação in præsentia.

Por outro lado, fora do discurso, isto é, fora do plano sintagmático, se, em “Hoje fez calor”, dizemos hoje pensando opô-loa outro advérbio, ontem, por exemplo, ou fez em oposição a faz, e calor a frio, estabelecemos uma relação paradigmáticaassociativa ou in absentia, porque os termos ontem, faz e frio não estão presentes no discurso. São elementos que seencontram na nossa memória de falante “numa série mnemônica virtual”, conforme esclarece Saussure.

O paradigma é assim uma espécie de “banco de reservas” da língua, um conjunto de unidades suscetíveis de aparecernum mesmo contexto. Desse modo, as unidades do paradigma se opõem, pois uma exclui a outra: se uma está presente,as outras estão ausentes. É a chamada oposição distintiva, que estabelece a diferença entre signos como  gado e gato

ou entre formas verbais como estudava e estudara, formados respectivamente a partir da oposição sonoridade / nãosonoridade e pretérito imperfeito / mais que perfeito. A noção de paradigma suscita, pois, a ideia de relação entre unidadesalternativas. É uma espécie de reserva virtual da língua.

Define-se o sintagma como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”. Trata-se, portanto,de relações (relação = dependência, função) nas quais o que existe, em essência, é a reciprocidade, a coexistência ou asolidariedade entre os elementos presentes na cadeia da fala. Essas relações sintagmáticas ou de reciprocidade existem,a nosso ver, em todos os planos da língua: fônico, mórfico e sintático, ao contrário do que deixa entrever a definição dopróprio Saussure, que nos induz a conceber o sintagma apenas nos planos mórfico e sintático. Sendo assim, o sintagma,em sentido lato, é toda e qualquer combinação de unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da redede relações da língua. Por exemplo, no plano fônico, a relação entre uma vogal e uma semivogal para formar o ditongo(ai /ay/); no nível mórfico, a própria palavra, com seus constituintes imediatos, é um sintagma lexical (am + a + va + s);sintaticamente, a relação sujeito + predicado caracteriza o sintagma oracional (Pedro / estudou a lição.).

A visão saussuriana da língua como um sistema de valores está intimamente associada à sua célebre frase: “na línguasó existem diferenças”, ou seja , ela funciona sincronicamente e com base em relações opositivas (paradigmáticas) nosistema e contrastivas (sintagmáticas) no discurso. Tendo como ponto de partida as ideias motrizes contidas no Curso de linguística geral , formaram-se várias escolas estruturalistas (fonológica de Praga, estilística de Genebra, funcionalistade Paris, glossemática de Copenhague), que deram consequência e continuidade ao pensamento infelizmente inacabadodo genial fundador da Linguística moderna.

Avran Noam Chomsky (Filadélfia, 1928)

Chomsky é professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. É o grande responsável pela criaçãoda gramática gerativa transformacional e da relação entre matemática e linguagem. A revista Superinteressante, emsua edição 188, sintetizou toda a importância da pesquisa de Chomsky.

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Introdução

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Linguística

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

“Quando o naturalista inglês Charles Darwin observou os seres vivos e entre eles percebeu nexos e continuidades,combinando as ideias de evolução e de seleção natural, o mundo nunca mais foi o mesmo, porque nossa compreensão acercada vida mudou. Do linguista e pensador americano Avram Noam Chomsky se pode dizer o mesmo. Autor de mais de 70livros traduzidos para mais de dez línguas, Chomsky também revolucionou sua área científica, a exemplo de Darwin.”

Chomsky mudou o objeto de estudo da linguística. Como tinha acontecido um século antes no domínio da natureza bruta,também na ciência da linguagem pouca gente tinha ousado alguma teoria unificadora. Chomsky o fez.

Linguística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Quando Chomskyapareceu no cenário intelectual, esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para falar a verdade,dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. Osegundo salto foi o estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913).

Na visão clássica, estudava-se uma língua só por meio dos textos escritos. Os linguistas rastreavam registros escritos,desde as línguas antigas (latim, grego, aramaico) até alcançar o presente. Esse tipo de abordagem exigia estudiososque dominassem várias línguas, fazendo descrições de cada caso. Havia pouca capacidade de generalização, ou seja,

de transpor o conhecimento acumulado sobre uma língua para outra língua. Era uma abordagem enciclopédica, queconsiderava os registros escritos como o ponto alto de um idioma.

No começo do século 20, era essa visão normativa, com separação clara do que era certo e o que era errado, quedominava o estudo da língua. Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e sim estabelecere perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão éo de Ruy Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado, foram tidos como um exemplo deportuguês culto. Essa visão também influenciava o ensino. Na escola, estudava-se a origem da língua (seus pais ou avósprovavelmente tiveram aulas de latim) e as mudanças que ocorreram na língua-mãe, até chegar à língua moderna culta.Parecia impossível ensinar o idioma de outro modo.

Saussure inovou, comparando o aprendizado de uma língua a um jogo de xadrez. Numa partida em curso, qualquerpessoa pode tomar o lugar de um dos jogadores, porque as regras do jogo são poucas e bem conhecidas. Por isso, nãoimporta muito saber como o cavalo foi parar ali, ou como a torre foi perdida. O que vale é saber que, dada a situação daspeças e conhecidas as regras, a partida pode seguir, agora manejada por alguém que chegou depois do início. Assim é oaprendizado da língua, disse ele: ninguém tem que obrigatoriamente saber a história da língua para falá-la e escrevê-laaqui e agora.

Foi um golpe certeiro. O estruturalismo, como ficou conhecida essa modalidade de estudo da língua, foi tão bem recebidoque se expandiu para outras áreas (a antropologia, por exemplo). Para os adeptos dessa visão, estudar uma língua érealçar as estruturas que a compõem e descrevê-las, sem ligar para a história que a trouxe do mundo primitivo até o

presente. Estava aberto o caminho para uma abordagem científica da linguagem, porque não se tratava mais de caçaro certo e o errado, mas de tomar a língua como um objeto. Com isso, caía por terra a suposta superioridade de umalíngua sobre outra.

Tal mudança tinha motivações concretas. Uma delas era o contato cada vez mais frequente com línguas não oriundasnem do latim nem do grego. Com sua postura etnocêntrica e escritocêntrica, um linguista clássico, defrontado com umalíngua indígena puramente oral, sem registro escrito, nada podia fazer. O idioma morreria com o último falante nativo.(Anos depois, Chomsky disse que com a perda de uma língua se perde uma pista, talvez irrecuperável, para a soluçãodo mistério da linguagem humana.) Mas, se ele quisesse conhecer o modo de ser daquela cultura, seria preciso outraatitude: gravar as falas dos índios, anotá-las e depois descrevê-las no maior detalhe possível.

O estruturalismo permitia essa revolucionária abordagem: não há aquela visão normativa, de certo e errado, nemnecessidade de recorrer à história para entender o presente. A ênfase recai sobre a base empírica, sobre os dados delinguagem verificáveis. Pela primeira vez, a língua ganha estatuto científico, com autonomia em relação à moral, àcultura, aos bons costumes.

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Como se faz um linguista

A formação acadêmica de Chomsky é curiosa. Filho de professor de hebraico, ele dispunha de um conhecimento familiar damatéria, manejando o inglês e o hebraico com intimidade. Avram Noam nasceu em 7 de dezembro de 1928, em Filadélfia,Pensilvânia. Seu pai era William (originalmente, Zev) Chomsky, judeu russo que emigrou para a América em 1913, para

não ser obrigado a servir no Exército. Sua mãe se chamava Elsie Simonofsky. Os dois tinham profundas relações com atradição judaica, e William logo se tornou especialista na gramática do hebraico.

Noam passou por experiência escolar marcante. Dos 2 aos 12 anos, frequentou um colégio inspirado nas ideias de JohnDewey (1859-1952), filósofo americano que pregava um ensino livre de avaliações formais, a favor da criatividade, comdesafios à inteligência e nenhuma caretice. Nesse clima, Noam escreve seu primeiro artigo, para o jornal da escola, sobrea queda de Barcelona, foco de resistência dos anarquistas, durante a Guerra Civil espanhola. Tinha 10 anos.

Tão positiva foi essa experiência de aprendizado libertário, que a passagem para uma escola tradicional, na adolescência,foi um choque. Lá ele aprenderia os horrores da avaliação emburrecedora e da doutrinação ideológica, que ele passou acombater de corpo e alma. Anos depois, em carta a seu biógrafo, ele comentava a consciência que começou a desenvolver

ao descobrir-se torcedor do time de futebol da escola. Por que eu estou torcendo por esse time? Eu não conheço essagente, e eles não me conhecem. Então, por que eu torço? Bem, é o tipo da coisa que você é treinado para fazer. É umacoisa incutida em você. É uma coisa que leva ao ufanismo e à subordinação mental. Mas seu pensamento libertário oisolava. No dia em que seu país bombardeava Hiroshima e Nagasaki, Chomsky estava em férias numa colônia da escola.Ele disse que se sentiu horrorizado, enquanto seus colegas comemoravam.

Bom leitor desde a infância, Chomsky teve uma formação particular. Aos 13 começou a frequentar Nova York, onde tinhaparentes, entre eles um tio, dono de banca de revistas, que funcionava como centro cultural informal. Era um sujeito deformação fraca, mas inteligente. Levado por parentes, frequentou círculos anarquistas, tudo imerso no mundo cultural dosimigrantes judeus recém-vindos da Europa, gente com ótima formação cultural, embora ali trabalhassem em ofícios manuais.

Isso explica, em parte, por que Chomsky nunca foi marxista, muito menos leninista: ele sabia que havia brutalidadetambém do lado soviético. Desenvolveu ainda um senso agudo de leitor: para ele, pensadores marxistas como o húngaroGeorg Lukács (1885-1971) não lhe soavam profundos, mas confusos. E a clareza e a simplicidade lhe parecem marcasessenciais das grandes ideias. Daí sua admiração por Dwight MacDonald, pelo ficcionista inglês George Orwell (1903-1950), e por Bertrand Russell (1872-1970). Aliás, um dos raros elementos decorativos presentes na sala de Chomskyno Massachusetts Institute of Technology (MIT), o prestigiado instituto americano onde ele hoje leciona, é um pôsterde Russell, admirado como filósofo, aliado das classes populares e crítico do papel da elite na reprodução ideológica deseu poder.

Por essa altura, ele passou a apoiar o sionismo, o movimento religioso e político, originado no século 19, que pregava o

restabelecimento, na Palestina, de um Estado judaico. Mas é preciso ver que na época, antes da fundação do Estado deIsrael, em 1948, ser sionista era ser de esquerda. Os sionistas de então acreditavam que o novo país seria uma sociedadesolidária, com matizes socialistas que se configuraram nos kibutzim, colônias de produção coletiva e cooperação entre ospalestinos e os judeus. Alguns anos mais tarde, quando começou a namorar sua futura esposa, Carol Schatz, enfrentouuma escolha difícil: seguir a carreira acadêmica ou migrar para Israel? Mas a maior aproximação com Israel foram algumassemanas passadas em um kibutz, em 1953.

Anos depois, sua posição sobre Israel foi tomada como antissionista. Mas foi a palavra que mudou de sentido. A partirda ocupação de territórios palestinos e árabes por Israel, ser sionista passou a significar apoio à política expansionistae antiárabe do Estado de Israel.

Na universidade, caminhou entre a filosofia e a linguística, sem nunca perder de vista o debate e a prática da esquerdalibertária não comunista. Aprendeu árabe. Em 1947, quando estava decidindo sua especialidade, encontrou Zellig Harris,linguista e pensador judeu americano que foi para ele um parâmetro moral, político e científico. Harris, também sionista,era estruturalista, e Chomsky aprendeu muito com ele. O suficiente para superá-lo.

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Descobertas renovadas

Sua entrada para o MIT ocorreu em 1955. Universidade tecnológica com pouca tradição em humanidades e, por issomesmo, livre da burocracia e da ciumeira tradicionais nas ciências humanas, o instituto não se importou com o fato deChomsky ter uma formação híbrida de matemática, psicologia, filosofia e linguística. Ele vai trabalhar numa atividade de

que discordava, o desenvolvimento de uma máquina de tradução, para decodificar comunicações cifradas, na Guerra Fria.A pesquisa tinha patrocínio de nada menos que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica americanas, mais a Nasa, aagência espacial. Para um esquerdista, era uma saia justa ideológica, que ele desvestiu com elegância: ao publicar o hojeclássico Aspectos da Teoria da Sintaxe, em 1957, o primeiro produzido no MIT, ele cita seus financiadores e declara queé permitida a reprodução daquele trabalho para qualquer finalidade do governo dos Estados Unidos.

A relação de Chomsky com governos nunca foi tranquila. Ele rejeita sistematicamente convites oficiais, mesmo vindos degovernos de esquerda. Ao Brasil, ele veio em 2009, quando o Fórum Social Mundial o convidou mas aí eram organizaçõesnão governamentais.

No MIT, Chomsky desenvolveu uma crítica ao estruturalismo. Essa corrente concebia a linguagem como algo que seaprendia por imitação. Era uma teoria behaviorista, baseada na crença de que, em última instância, o ser humano nãotem nada de inato, tudo é aprendido por adestramento. O maior formulador dessa teoria foi o psicólogo americano B.F.Skinner (1904-1990), famoso pela descrição de mecanismos de controle das ações humanas por estímulo e resposta.

Chomsky tem coceiras na alma quando ouve falar de adestramento, dada sua crença na criatividade humana. Em suaconcepção, a linguagem é uma capacidade humana natural, inscrita no DNA. É a tese que defende em vários artigos elivros hoje clássicos, como Linguística Cartesiana, em que toma o mote do racionalista francês René Descartes (1595-1650) sobre tal questão. Dizia Descartes: se uma criança for criada entre lobos, ela não desenvolverá a linguagem. Mas,se voltar ao convívio humano, tudo volta ao que deveria ser, e ela aprende a falar. Já um macaco, mesmo que seja criadoapenas entre humanos, jamais desenvolverá a linguagem, que nele não é inata.

Pode parecer pouco, mas essa posição é revolucionária, ainda que recupere pensadores racionalistas e iluministas. Aocriticar Skinner, Chomsky estava não apenas discutindo linguística, mas atacando a convergência entre o ponto devista científico e o desejo de domínio das classes dominantes sobre as pessoas. Mais ainda, Chomsky estava mudandoradicalmente a localização do objeto de estudo da linguística: enquanto para os estruturalistas a língua era algo externo aohomem, para ele o foco era a capacidade inata da linguagem, porque ali, dentro de todos e de cada um, está um tesouro,que é preciso estudar. (Essa capacidade que faz você, leitor, entender esta frase que está lendo agora, frase que nuncatinha lido antes mas que faz sentido, esta capacidade é o objeto da linguística chomskyana.)

Chomsky também diverge do empirismo dos estruturalistas. Para eles, a tarefa do linguista consiste em descrever aslínguas tal como se apresentam, na fala das pessoas ou nos textos. Para Chomsky, esse caminho positivista é um becosem saída, ou melhor, um caminho sem fim: cada época, cada região e mesmo cada indivíduo sempre modificam umpouco a língua, de maneira que o trabalho seria uma catalogação infinita. Começou a falar alto a parte matemática desua formação.

Chomsky postulou que se pode descrever algebricamente as línguas ou melhor, a língua humana , a partir de esquemasabstratos e não de dados colhidos em cada situação. Saiu da visão indutiva e passou à dedução: em vez de procurar asparticularidades de cada língua, ele cogitou que, sendo manifestações de uma condição inata, as línguas devem guardarcaracterísticas universais, marcas de sua origem comum no cérebro humano.

Para descrever o processo cerebral que dava origem às frases, Chomsky postulou a tese de que a linguagem humana

ocorre em dois níveis: uma estrutura profunda, na qual o raciocínio ocorreria sem o uso de palavras (mais propriamente,essa estrutura corresponderia ao que hoje concebemos como um software), e uma estrutura superficial, que são asfrases que dizemos, pensamos e escrevemos. Entre os dois níveis haveria um conjunto de transformações, que o linguistadeveria descrever.

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Um exemplo clássico. Tome duas frases: João comprou o caderno e O caderno foi comprado por João. Para umestruturalista, que só trabalha com a língua manifestada, observável diretamente, elas são muito diferentes. Já paraChomsky as duas frases seriam, apesar das diferenças óbvias, muito próximas, porque dizem a mesma coisa, descrevema mesma ação, mudando a ênfase a primeira começa a frase pelo agente da ação, enquanto a segunda inicia com o objeto(as formas ativa e passiva). Ou seja: na estrutura profunda, as duas frases seriam uma só. As transformações entre um

estágio e outro é que seriam objeto do linguista.

Vêm daí as nomenclaturas originais de sua teoria: ele queria descrever uma gramática (no sentido de conjunto de regrasde funcionamento da língua) que fosse gerativa (capaz de gerar, no sentido matemático, todas as frases possíveis apartir de um conjunto limitado de regras e elementos) e transformacional (que descrevesse as regras de transformaçãoentre as duas estruturas).

No século XIX, estudos comparativos levaram à hipótese de uma origem comum entre as línguas europeias eas asiáticas. Elas pertenceriam a uma mesma família linguística, denominada indo-europeu. Para os cientistasda linguagem, no entanto, a protolíngua dessa família não é a língua que deu origem a todas as outras. Chegou-seao indo-europeu através da comparação de manuscritos antigos em línguas orientais, como o Sânscrito, como que já se conhecia das línguas germânicas e latinas. Quando surgiram as primeiras formas de escrita, naAntiguidade, já havia uma grande diversidade linguística no mundo. Como não há registro da forma em quese falava naquele período, as hipóteses sobre uma língua original são consideradas pelo meio científico umamera especulação.

(www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling08.htm)

http://www.letramagna.com/gabrieldavillaothero.pdf

http://www.filologia.org.br/revista/38/03.html

http://www.filologia.org.br/revista/38/03.html

http://br.geocities.com/jacqueslacan19011981/textos2/oticalacanianalinguistica.htm

http://www.webartigos.com/articles/10408/1/variantes-linguisticas-no-contexto-da-internet/pagina1.html

http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling08.htm

http://br.monografias.com/trabalhos903/historia-e-linguistica/historia-e-linguistica2.shtml

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Capítulo 2 – Aquisição da Linguagem

Para determinar se o homem é o único a utilizar a linguagem,devemos primeiro esclarecer o que entendemos por linguagem.Se definirmos a linguagem como a capacidade de comunicação,podemos dizer então que existem vários animais que se comunicam.No entanto, a linguagem humana é extremamente flexível e criativa,apoiada em regras gramáticas. Será que esse sistema também existeem outros animais?

A Palavra

De todas as artes a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil é semdúvida a arte da palavra. De todas as mais se entretece e se compõe.São as outras como ancilas e ministras: ela soberana e universal.

A estátua fala, mas fala como uma interjeição, que apenas expressaum sentimento vago, indefinido, momentâneo. A pintura fala, masfala como uma frase breve em que elipse houvera suprimido boaparte dos elementos essenciais. O edifício fala, mas fala comuma inscrição abreviada, que desperta a memória do passadosem particularizar os aconteciemento a que alude. A música fala,mas fala apenas à sensibilidade, sem que o entendimento a possaclaramente descernir.

Só a palavra, nas artes que é matéria-prima, fala ao mesmo tempo

à fantasia e à razão, ao sentimento e às paixões. Só ela, Pigmaliãoprodigioso, esculpe estátuas que vão saindo vivas e animadas dapedra ou do madeiro, onde as delineia e arredonda o seu buril. Só apalavra, mais inventiva do que Zêuxis, sabe desenhar e coloria figurae latinos e os Calícrates, traça, dispões, exorna e arremessa aosares monumentos mais nobres e ideais que o Partenão de Atenas.

Só a palavra, mais comovedora e persuasiva do que o pletro dosOrfeus, encandeia à sua lira mágica estas feras humanas oudesumanas, que se chamam homens, arrebatados e enfurecidosnas mais truculentas alucinações.

Latino Coelho 

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A preocupação da linguística é o estudo da língua como um todo e em suas partes. Este curso não tem a preocupaçãoapenas de demonstrar as teorias acerca da linguística. Assim, optamos por incluir um capítulo sobre a aquisição dalinguagem. É um estudo maravilhoso e apresenta uma das maiores façanhas do indivíduo em toda a sua vida. Explicaresse processo é uma das preocupações da Linguística. Francine Ferreira Vaz e Renato Raposo argumentaram sobre oassunto de forma muito didática. A seguir, apresentaremos suas principais ideias.

A Aquisição da Linguagem

Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estaremcompletamente formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período proporcional àquelede outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam a falar, portanto,nasceriam falando.

O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtexcerebral, onde se localizam as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância nãose completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante toda a infância. As sinapsesaumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que osadultos. A atividade metabólica atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando atéos quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda nabarriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. As sinapses tambémdiminuem a partir dos dois anos até a adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessaforma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio,primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distânciae de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002)

Balbuciando

É comum dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas fases: pré-linguística e linguística. No estágio pré-linguístico, a capacidade linguística da criança desenvolve-se sem qualquer produção linguística identificável. Sem levarem conta as mudanças biológicas que facilitam o desenvolvimento linguístico e ocorrem nos primeiros meses de vidada criança, é o balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem.

Esse período é tipicamente descrito como pré-linguístico porque os sons produzidos não são associados a nenhumsignificado linguístico. O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usadosem alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar. Osignificado dessa observação não é claro. Alguns, como Allport (1924 in STILLINGS, 1989), afirmam que os balbuciossinalizam o começo da habilidade de comunicação linguística da criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertóriono qual a criança irá identificar os fonemas da sua língua.

Por outro lado, McNeil (1970 in STILINGS, 1989) ressalta que a ordem que os sons aparecem durante o período de balbucioé, geralmente, contrária àquela que eles aparecem nas primeiras palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores evogais anteriores, como [k], [g] e [i], aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas tarde no seu desenvolvimento fonológico.

Primeiras PalavrasSegundo Stillings (1987), o primeiro estágio verdadeiramente linguístico da criança parece ser o estágio de uma palavra.Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as crianças produzem suas primeiras palavras.

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma palavra, que é pronunciada de maneira um pouco diferente da dosadultos. Muitos fatores contribuem para essa pronúncia não usual: alguns sons parecem estar fora da escala auditivadas crianças, por dependerem da maturação de alguns nervos. Sons que são difíceis para a criança detectar, tornam-sedifíceis para elas aprenderem.

Além disso, alguns sons parecem ter uma articulação difícil para as crianças. Por exemplo, é comum ver crianças quepossuem desenvolvimento linguístico adiantado mas não conseguem pronunciar o [r]. Algumas vezes, sons fáceis podemse tornar difíceis na presença de outros sons. Por exemplo, crianças no estágio de uma palavra frequentemente omitemo som das consoantes finais.

Crianças, nessa fase, além de pronunciar as palavras de maneira diferente também querem dizer coisas diferentes comelas. Muitos pesquisadores perceberam que as crianças parecem expressar significados complexos com suas expressõescurtas. É como se suas sentenças de uma palavra representassem um pensamento completo. Esse uso da linguagemindica que o desenvolvimento conceitual da criança tende a ultrapassar seu desenvolvimento linguístico nos primeirosestágios da aquisição. Nós devemos traçar essa conclusão com cuidado, no entanto, já que julgamentos sobre o que ascrianças querem dizer nos seus primeiros estágios de desenvolvimento são difíceis de fazer.

Acessando essa e outras propriedades do sistema semântico da criança, nós temos que considerar a questão da naturezado significado. Em particular, é importante esclarecer que tipo de conhecimento a criança deve dominar durante o processode aquisição de linguagem. A distinção de Frege (STILLINGS, 1989) entre sentido e referência é relevante; nós podemosexplorar como as crianças formam e organizam conceitos e como elas aprendem a referenciá-los. Clark (1973 in STILLINGS,1989) e Anglin (1977 in STILLINGS, 1989) mostraram que as primeiras referências das crianças partem sistematicamenteem duas direções particularmente opostas daquelas da comunidade falante dos adultos. Em alguns casos, as crianças usamas palavras para referenciar inapropriadamente um vasto número de objetos. Por exemplo, carro poder ser usado parareferenciar um objeto grande que se move ou qualquer objeto que serve para fazer transporte. Em outros casos, criançasusam as palavras de uma maneira extremamente restrita, criando um drástico limite para um conjunto de referenciais

permitidos. Por exemplo, uma criança usa a palavra cachorro para designar apenas o cachorro da família.Essa superextensão e subextensão são bem frequentes nos primeiros diálogos das crianças, mas decrescem quando seuléxico se torna similar ao dos adultos. A explicação de Clark (1973 in STILLINGS, 1989) para a aquisição semânticaenvolve, crucialmente, a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra mediante a união de váriascaracterísticas semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo.

De fato, essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados em que as característicassemânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Se uma criança, erradamente, associa muitas oupoucas características a um termo, o conceito resultante estará excessivamente generalizado ou excessivamente restrito,respectivamente, a superextensão e subextensão. Apesar dos detalhes da explicação serem controversos, a ideia de

que as crianças constroem conceitos por meio de algum tipo de conceitual primitivo é mais aceitável. Como no caso daaquisição fonológica, existem evidências de que as crianças adquirem uma representação abstrata durante o aprendizadoda sua língua, mesmo nos primeiros estágios de aquisição.

Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança simplesmente adquiresons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelasde um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Como esses sistemas abstratos foramdeduzidos, principalmente, por meio das experiências das crianças na comunidade linguística, as diferenças entre agramática da criança e a do adulto são compreensíveis.

O Surgimento da SintaxeA partir do estágio de duas palavras é possível examinar o desenvolvimento sintático, mesmo que seja de maneirarudimentar. Uma hipótese popular sobre os padrões das expressões de duas palavras (BRAINE, 1963 in STILLINGS,1987) diz que as crianças organizam seu vocabulário em duas classes lexicais chamadas de pivô e aberta. Assim, nesse

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estágio a fala da criança seria composta de duas palavras da classe aberta ou uma palavra da classe aberta e uma daclasse pivô, já que no estágio de uma palavra elas utilizam palavras da classe aberta. Essa subdivisão dependerá da falade cada criança, desse modo toda palavra usada sozinha pertencerá à classe aberta.

O ponto é que justaposição de palavras não implica relação semântica entre ela. Essas relações semânticas tendem a

aparecer com o tempo, quando as combinações de palavras aumentarem. A primeira relação a aparecer é a de modificador-modificado (mais biscoito) e a de agente-ação (cachorro come). Essa relação semântica (algumas vezes chamada derelação temática) aparentemente começa no estágio de duas palavras. Alguns pesquisadores como Bloom (1970 inSTILLINGS, 1989) e Bowerman (1973 in STILLINGS, 1989), propuseram que a relação temática é a primeira relaçãoestrutural importante que a criança usa para construir expressões com mais de uma palavra, sugerindo que a gramáticada criança seria mais bem descrita através das funções das palavras. Em vez de sintagma nominal e verbal, falaríamosem agente e ação. Outra sugestão dada por Berwick e Weinberg (1983 in STILLINGS, 1989), é que a primeira gramáticadas crianças está baseada na suposição de que toda relação sintática está correlacionada com uma relação temática.Desse modo, nos primeiros estágios de desenvolvimento, toda sequência nome-verbo seria interpretada como agente-açãoe similarmente para outras sequências sintáticas.

O sistema linguístico da criança nessa fase também é diferente da do adulto. Além das diferenças de pronúncia esignificado, elas também possuem uma gramática diferente da deles. Obviamente produzem sentenças mais breves; alémda maioria delas serem sentenças inovadoras, não sendo apenas imitações da dos adultos.

Além do Estágio de Duas Palavras

Embora os estágios de uma e duas palavras não tenham um início e um final determinado, existem característicasconfiáveis para identificá-los. A partir desse ponto, no entanto, isso não será mais possível.

À medida que o MLU (média de palavras por expressão) aumenta, a complexidade da gramática que gerencia essaspalavras torna-se mais complexas, no entanto, continua sendo deficiente em relação à dos adultos (crianças de dois etrês anos). O discurso das crianças dessa idade é descrito como discurso telegráfico, omitindo pequenas palavras comodeterminantes e preposições. Além disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, porexemplo, é comum as crianças dizerem eu trazi, generalizando a regra dos verbos regulares.

O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Umaexplicação para essa regressão é que no início elas simplesmente imitam a formação do verbo, mais tarde, no entanto,após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porém, com o passar do tempoacabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.

Próximas Fases de Desenvolvimento

Após o estágio de duas palavras as crianças expandem seu vocabulário, aprendem as regras de construção (negativa,passiva, etc.) presentes na língua, aprendendo seu sistema fonológico e morfológico, aperfeiçoando sua pronúncia, e,geralmente, alcançando a convenção adulta de maneira bem rápida (entre os seis e sete anos), mesmo que demoremmais a aprender estruturas mais complexas, como a voz passiva.

O Ponto Crítico

Todos nós sabemos que é muito mais fácil aprender uma segunda língua na infância. A maioria dos adultos nunca chegaa dominar uma língua estrangeira, sobretudo sua fonologia, o que gera o inevitável sotaque. Segundo Pinker (2002),“existem diferenças individuais, que dependem do esforço, qualidade de ensino e simples talento, mas, ainda assim emesmo nas melhores circunstâncias, parece haver uma barreira intransponível para qualquer adulto.”

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Dados mais sistemáticos nos são fornecidos pela psicóloga Elissa Newport e seus colegas (PINKER, 2002). Eles testaramestudantes e professores da Universidade de Illinois nascidos na Coreia e na China que já viviam há pelo menos dez anosnos Estados Unidos. Aqueles que tinham migrado entre os 3 e 7 anos, alcançaram o desempenho dos americanos nativos.A partir desse ponto, quanto mais velho, pior era a assimilação da nova língua.

Quanto à língua materna, são raros os casos de pessoas que chegam a puberdade sem tê-la adquirido. Até os deficientesauditivos tem mais facilidade de aprender a língua de sinais antes da fase adulta. No caso de crianças selvagens encontradasna floresta ou em lares de pais psicóticos, elas podem aprender a se comunicar de forma clara ou não, dependendo daidade em que foram encontradas.

Resumindo, a aquisição de linguagem é certa até os seis anos, fica comprometida depois dessa idade até a puberdadee é rara depois disso. Uma explicação plausível seria as alterações maturativas que ocorrem no cérebro, tais como odeclínio da atividade metabólica e do número de neurônios durante o início da vida escolar, e a estagnação no nível maisbaixo do número de sinapses e da atividade metabólica por volta da puberdade.

Pinker (2002, p. 374-5) cria uma metáfora interessante para tentar explicar essa perda de funcionalidade cerebral:

Imagine que o que os genes controlam não é uma fábrica mandando peças para o mundo, mas aoficina de uma companhia teatral de poucos recursos para a qual vários cenários, adereços e materiaisretornam periodicamente a fim de serem desmanchados e remontados para a próxima produção. Aqualquer hora, diferentes engenhocas podem ser produzidas na oficina, dependendo da necessidadedo momento. A ilustração biológica mais óbvia é a metamorfose.

(...) Mesmo nos humanos, o reflexo de sucção desaparece, os dentes nascem duas vezes e uma coleçãode característica sexuais secundárias emergem dentro de um cronograma maturacional. Agora,complete a mudança de ponto de vista. Pense na metamorfose e nas mudanças maturacionais nãocomo exceção mas como regra. Os genes, moldados pela seleção natural, controlam corpos ao longode toda a vida; seus propósitos perduram enquanto forem úteis, nem antes nem depois. A razão paratermos braços aos sessenta anos não é o fato de eles estarem ali desde o nascimento, mas porquebraços são tão úteis para um sexagenário quanto o são para um bebê.

Segundo ele, nós não devemos perguntar “Por que a capacidade de aprender desaparece?”, mas sim “Quando acapacidade de aprender é necessária?”. Logo, ela deve aparecer o mais cedo possível, para podermos usufruí-la o maiortempo possível, no entanto, ela é extremamente útil apenas uma vez, depois passa a ser supérflua. “Assim, a aquisiçãolinguística deve ser como as outras funções biológicas. A inépcia linguística de turistas e estudantes talvez seja o preçoa pagar pela genialidade linguística que demonstramos quando bebês, assim como a decrepitude da idade é o preço pelovigor da juventude.” (PINKER, 2002, p. 378)

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Confronto Sobre a Compreensão e Atuação da Linguagem

José Jailson

O confronto sobre a atuação da linguagem em todo o planeta proporciona estudos para compreender a dimensãode língua/fala no processo de aquisição da linguagem, e com isso, dúvidas percutem o universo dos linguísticospara entender os fenômenos da língua dentro do aspecto social.

A valorização da língua faz com que algumas pessoas não compreendam o uso das variações, contudo, implicamdiante dos fenômenos linguísticos o que se considera “certo ou errado” diante da fala.

O objetivo deste artigo é justamente perceber o confronto dos grandes estudiosos da língua para então

valorizar com amplitude todas as variações que constituem a linguagem, contudo, entendendo como seprocessa os mecanismos linguísticos sem utilização das classes morfológicas, cujas regras são determinadasgramaticalmente. Desse modo, explicita Bakhtin quando relata a relação entre linguagem e sociedade, colocandosob o signo da dialética as estruturas sociais, sendo, portanto, a relevância principal do objetivo.

Fundamentação Teórica

A língua sendo foco de estudos desperta a atenção de grandes pesquisadores com a finalidade de entender adimensão linguística mediante o convívio com várias pessoas sob o contexto social/sociedade enquanto falantesde um mesmo idioma, verificando o aspecto localidade (regiões diversificadas) sob a ótica dos dialetos diversos.

Bakhtin (2002) valoriza a fala e afirma sua natureza social, e não individual, que está ligada às condiçõesda comunicação perante as estruturas sociais. Argumentos dessa natureza conflitam-se com a de Saussurequando o mesmo então não considera a língua um fato social, mas um objeto ideal rejeitando as manifestaçõesorais e individuais.

Na verdade, com esse confronto, a língua domina e não é dominada, isso porque, a falta de argumentos paraenfrentar os falantes é o que se torna subjetivo aos contrastes das fala/língua.

Bakhtin (2002) afirma que, o que torna a língua significante e coerente no quadro sincrônico é excluído e inútilno quadro diacrônico, isso por que, diante do quadro sincrônico é impossível descrever uma língua e todas assuas manifestações calcadas em um único momento. Labov (1983) afirma que a língua não é apenas um meio

de informação, mas uma maneira de inserir um individuo num grupo social.São inenarráveis as afirmativas e as ideias sobre a linguagem, uma vez que, o que mais se questiona é ainteração e integração do individuo na sociedade ou grupo social.

Indiscutivelmente, a língua faz parte desse turbilhão conflituoso sobre a atuação da linguagem nos diversoscampos sociais que, por sua vez, são integrados no processo de interação nos grupos sociais. Nessa perspectiva,a difusão linguística constitui conflitos, até porque Saussure determina a fala como um fenômeno socialtratando a língua de maneira individual.

A batalha é incansável no que diz respeito ao que é “certo ou errado” em relação à linguagem através do social/

particular de cada indivíduo, pois Labov (1983) assegura que há alterações das variedades linguísticas no que tangeos limites de uma determinada variedade geográfica, haja vista diversos fatores como a idade, a posição social,grau de escolaridade, profissão, que favorecem para que haja as variedades linguísticas empregadas pelo falante,seja de ordem lexical, morfológica ou fonológica. Enfim, todos esses fatores influenciam diante da linguagem.

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Introdução

à

Linguística

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A Importância do Estudo da Linguística Unidade I

Links:

http://www.marxists.org/reference/subject/philosophy/works/us/chomsky.htm“Language and Mind - Linguistic Contributions to the Study of Mind(Future)” texto de Noam Chomsky (1968). A página é em inglês e

possível links para páginas de outros pesquisadores, como Vygotsky,Locke, Saussure, Jakobson, Descartes.

http://www.mit.edu/~pinker/

http:/ /www.nce.ufrj .br/GINAPE/publ icacoes/trabalhos/RenatoMaterial/aquisicao.htm

http://www.scielo.br/pdf/prc/v16n2/a13v16n2.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Aquisi%C3%A7%C3%A3o_da_

linguagemhttp://paginas.terra.com.br/educacao/gentefina/linguagem.htm

http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling17.htm

Metodologia

A partir de estudos relevantes sobre a atuação da linguagem em meio aos conflitos sociais, uma análise se feznecessária para entender e discernir a atuação da língua dentro dos grupos sociais.

Comparações foram realizadas através dos estudiosos supracitados permitindo uma compreensão ampla dosfenômenos linguísticos e da relação entre língua e fala mediante o idioma, discutindo sobre os mecanismosque regem o processo de aquisição da linguagem.

Conclusão

Vendo que a linguagem é de fato alvo de estudos por inúmeros pesquisadores, e assim compreender suadimensão linguística em meio aos fatores que percutem sua trajetória (a idade, a posição social, grau deescolaridade, profissão) uma análise sobre os fundamentos da língua baseada nas concepções de Saussure,Labov e Bakhtin se faz oportuna para entender os fragmentos compostos como interferência da língua comocaráter individual ou social.

Desse modo, perceber a linguagem como algo que é particular e que sofre variações devido aos contextosdiversos na sociedade parece complexo por entrar em contradição entre esses pesquisadores supracitados.

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Capítulo 3 – Principais Linhas de Estudo

Estudos linguísticos revelam aspectos impressionantes do indivíduoe da sociedade. Cada linha de pesquisa se mostra mais interessantee essencial para a compreensão de quem somos.

Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na

formação da personalidade porque, através da assimilação dosconteúdos da estória, as crianças aprendem que é possível vencerobstáculos e saírem-se vitoriosas, especialmente quando o heróivence no final. Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, acriança se identifica com as personagens e “vive” o drama que ali éapresentado de uma forma geralmente simples, porém impactante.Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como ainevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem eo mal, a inveja, etc. são tratados nos contos de fadas de modoa oferecer desfechos otimistas. Desta forma, oferece à criançauma referência para elaborar os terríveis elementos ansiógenosque habitam seu imaginário, como seus medos, desejos, amores eódios, etc., que na sua imatura e concreta perspectiva apresentam-se amedrontadores e insolúveis. Esse aprendizado é captado pelacriança de uma forma intuitiva (por estarem os elementos semprecarregados de simbolismo) tornando-se muito mais abrangente doque seria possível se fosse feito pela compreensão meramenteintelectual. Acredita-se que o efeito integrador que os contos defadas têm sobre a personalidade seja o fator responsável pelo fatode terem resistido à passagem do tempo e terem se universalizado.

Mariuza Pregnolato

Divisões Linguísticas

Unidade II

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Introdução

à

Linguística

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Divisões Linguísticas Unidade II

A linguística desenvolveu diversas linhas de investigação, cujos estudos e progressos contribuíram para a formaçãode verdadeiras disciplinas dentro da linguística, em que a interdisciplinaridade é uma constante na sua metodologia deanálise. As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são:

Linguística geral: estudo dos princípios gerais e translinguísticos subjacentes ao uso e funcionamento das línguas

naturais, independentemente da sua especificidade e diversidade.Fonética: estudo da realidade acústica, do funcionamento articulatório e anatômico e da interpretação perceptiva dossons de uma determinada língua natural.

Fonologia: estudo do sistema sonoro de uma língua, das regras subjacentes à combinação desses sons e do modo comoesses sons exprimem distinções de significado.

Prosódia: estudo da dimensão suprassegmental da língua e do impacto, do ponto de vista comunicativo, que essadimensão exerce na língua, ou seja, a prosódia dedica-se à análise das variações sofridas pela frequência fundamental(também entoação), pela intensidade e pela duração de certos segmentos linguísticos.

Morfologia: estudo da formação e da estrutura interna das palavras na língua.

Sintaxe: estudo das regras subjacentes à organização das palavras numa frase gramaticalmente bem formada.

Semântica: estudo do significado da produção e interpretação de palavras e frases.

Pragmática: estudo do uso da língua em contexto por oposição ao estudo do sistema da língua.

Análise do discurso: estudo do uso e funcionamento dos vários tipos de organização discursiva (como o discursonarrativo, descritivo, argumentativo, explicativo, dialogal, entre outras possibilidades tipológicas).

Linguística histórica (ou diacrônica): estudo da origem e evolução de uma dada língua ao longo de um certo períodotemporal.

Linguística aplicada: aplicação ao ensino/aprendizagem das línguas maternas e estrangeiras, dos princípios teóricos emetodológicos resultantes da investigação das diversas áreas da linguística.

Sociolinguística: estudo das características e dos fatores de ordem social que influenciam e determinam uma línguaou variedade linguística.

Psicolinguística: estudo da relação entre processos mentais (percepção, memória, atenção) e a aquisição edesenvolvimento da linguagem verbal. Disciplina em relação com as outras disciplinas – as Patologias da Fala e a

Psicologia do Desenvolvimento.

Dialetologia: estudo das características e do funcionamento subjacente à diversidade geográfica das línguas, refletidaem dialetos e sotaques.

Neurolinguística: estudo da relação entre o cérebro e a linguagem e dos mecanismos subjacentes à aquisição e utilizaçãoda capacidade da linguagem pelo homem.

Linguística computacional (também designada por engenharia da linguagem): interseção entre as novastecnologias de processamento computacional das línguas e os conhecimentos fornecidos pela linguística teórica. Incluio processamento da linguagem natural (PLN) e o processamento computacional da fala, com destaque para a síntese da

fala e reconhecimento de voz.

Terapia da fala: diagnóstico, análise e tratamento das perturbações da fala e do processamento cognitivo dalinguagem.

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Lexicologia: estudo do vocabulário no que respeita à sua frequência, distribuição, conteúdo, formação e história.

Lexicografia: ramo da lexicologia que se dedica à realização de dicionários monolingues e bilingues.

Como já vimos, a linguística como ciência surgiu no início do século XIX com o método histórico-comparativista. Até oséculo XIX, os estudos sobre a linguagem encontravam-se associados à filosofia e à gramática normativa, que possuíamobjetos de estudo, finalidades e métodos diferentes dos que viriam a ser desenvolvidos pela linguística moderna. Em1816, Franz Bopp publicava o primeiro estudo sobre morfologia comparada indo-europeia: “Sobre o sistema flexional dalíngua sânscrita, comparado com os do grego, do latim, do persa e das línguas germânicas”. Seguiram-se os estudos deoutros indo-europeistas, os dinamarqueses Rasmus Rask e Karl Verner, e o alemão Jacob Grimm, que desenvolveramtrabalhos sobre as tendências evolutivas do ramo das línguas germânicas no quadro geral das línguas indo-europeias.As descobertas de Charles Darwin sobre a evolução das espécies vieram reforçar os estudos evolucionistas sobre aslínguas indo-europeias e garantir um estatuto científico às novas metodologias linguísticas.

Nos anos 70 do século XIX, um grupo de acadêmicos da Universidade de Leipzig desenvolveu a Teoria Neogramática,baseada no princípio de que as tendências gerais descobertas para as línguas germânicas não eram mais que leis

linguísticas, à semelhança das leis científicas proclamadas por Darwin. Os neo-gramáticos, de onde constam os nomesde Hermann Osthoff, Karl Brugmann, A. Leskien e Hermann Paul, lançaram as bases que viriam a tornar a linguísticauma ciência, assente nos seguintes princípios:

1. há uma regularidade na mudança fonológica – toda a mudança dos sons da língua obedece a leis que nãoadmitem qualquer excepção;

2. a diversidade sincrônica das línguas é o ponto de partida para estudar a diacronia dessas mesmas línguas;

3. a analogia é um dos motivos psicológicos que estão na base da mudança linguística, o que explicaria sempreos casos que escapassem às regularidades fonológicas.

A teoria neogramática elegeu a linguística histórica como objeto de estudo, tendo-se dedicado em especial à fonologia,à morfologia e à sintaxe diacrônicas.

Em 1916, é publicada, a título póstumo, uma obra que viria a ser considerada como a base dos estudos em linguísticacontemporânea: o Cours de Linguistique Général , de Ferdinand de Saussure. Esta obra, que reunia as aulas ministradaspor Saussure e compiladas pelos seus alunos C. Bally e A. Sechehaye, viria a definir com rigor o método e o objeto deestudo da linguística, assinalando o seu carácter descritivo e não normativo, destacando-se da filologia ou da gramáticacomparativista oitocentista. A nova linguística saussuriana nasce entre a semiologia, estudo dos signos da língua, e o pensamento estrutural , estudo da língua como estrutura e sistema, lançando assim as bases de uma nova ciência dalinguagem.

Nos anos 30 do século XX, o Círculo Linguístico de Praga lança as bases do chamado “estruturalismo europeu”, que viriaa ser continuado pelas escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do Funcionalismo de A. Martinet. Paralelamente,desenvolve-se no mundo anglo-saxônico o “estruturalismo americano”, que conheceu desenvolvimentos mais profundosno Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett (1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo a encontrar a sua maisampla expressão no Generativismo de N. Chomsky (1957, 1965) e seus seguidores.

Nos anos 60 do século XX, William Labov dá início a uma revolução no campo da linguística, com estudos sobre otecido social americano e a sua influência nos falares da região. Labov, com a sua obra Sociolinguistic Patterns, veiodemonstrar que a mudança linguística é visível na sincronia, quando se avalia a diversidade e a dinâmica social. O boom

da sociolinguística viria a ter grande impacto na linguística em geral e sobretudo na linguística aplicada às línguasestrangeiras.

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Introdução

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Linguística

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Divisões Linguísticas Unidade II

A pragmática e a análise do discurso viriam a nascer por esta altura, com os estudos de Émile Benveniste sobre aenunciação e a subjetividade na linguagem. Também no mundo anglo-saxónico, os trabalhos dos filósofos da linguagemJohn Austin e John Searle sobre os atos ilocutórios e os estudos de H. Paul Grice sobre o funcionamento da conversaçãolançaram os princípios de uma nova concepção e metodologia em linguística, instituindo uma linguística assente nouso/ funcionamento da língua em alternativa a uma linguística do sistema, que viria a ser continuada até hoje pelos

desenvolvimentos em torno do generativismo de Noam Chomsky.

O advento das novas tecnologias e da sociedade de informação fizeram com que a linguística fosse aplicada a novas áreascientíficas, tendo assim surgido novas linhas de investigação como a linguística computacional, a engenharia da linguagem,o processamento das línguas naturais, o processamento computacional da fala, a tradução automática, etc.

A interdisciplinaridade dominante nos novos paradigmas da ciência e o desenvolvimento do paradigma cognitivista aplicadoàs ciências cognitivas, conduziram a linguística para as áreas das ciências da saúde e da psicologia, tendo dado origemà terapia da fala, à psicolinguística e à neurolinguística. (http://www.infopedia.pt/$linguistica)

Estruturalismo

Corrente teórica da linguística baseada nos princípios do Cours de Linguistique Générale (1916) de Ferdinand deSaussure, que se desenvolveu na Europa e nos Estados Unidos da América a partir dos anos 30 do século XX. Saussureé considerado o fundador do estruturalismo, embora tivesse preferido a designação de sistema em vez da de estruturapara definir a língua como um todo cujas partes se relacionam entre si e concorrem para a sua organização global. Asrelações entre as partes do sistema ou estrutura foram descritas por Saussure em termos de relações sintagmáticas (noplano do sintagma, num eixo horizontal) e paradigmáticas (no plano da semântica, num eixo vertical).

É com as teorias defendidas pelo Círculo Linguístico de Praga (1929) e ventiladas no Congresso Internacional de Haia

(1930) que surge o termo estrutura, inicialmente aplicado à fonologia por Troubetzkoy, mas rapidamente alargado aosoutros domínios da linguística e até mesmo à antropologia dita estrutural com Claude Levi-Strauss (1958).

Apesar de o princípio subjacente ao estruturalismo ser o mesmo na Europa e nos Estados Unidos – a concepção da línguacomo uma estrutura definida pela relação entre os seus elementos, a verdade é que surgiram orientações diversas emambos os continentes, o que nos permite falar de um estruturalismo europeu e de um estruturalismo americano.

O estruturalismo europeu encontrou os primeiros desenvolvimentos nas obras do discípulo de Saussure, C. Bally (1932) edos linguistas saídos do Círculo Linguístico de Praga, N. S. Troubetskoy (1939) e R. Jakobson (1963). Mas o estruturalismoeuropeu é sobretudo identificado com as escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do  Funcionalismo de A.Martinet. Em traços muito gerais, a glossemática desenvolveu-se no Círculo Linguístico de Copenhagem e consistia na

concepção da língua como forma e não substância, distinguindo assim dois planos na língua: o da expressão, constituídopela parte fónica da língua, e o do conteúdo, representado pelo conceito. Já o funcionalismo ou estruturalismo funcional,desenvolvido por Martinet, considera a língua como uma dupla articulação (entre a fonologia e a morfologia) e estuda-ado ponto de vista sincrônico e diacrônico, sempre com um objetivo descritivista.

O estruturalismo americano, por seu turno, nasceu dos estudos das línguas ameríndias de F. Boas (1940) e de E. Sapir(1921, 1949), tendo conhecido desenvolvimentos mais profundos no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett(1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo a encontrar a sua mais ampla expressão no Generativismo de N. Chomsky(1957, 1965) e seus seguidores, embora essa escola tenha nascido da constestação de muitos trabalhos anteriores.Também muito sumariamente, o distribucionalismo consistiu num método de análise, fundamentalmente aplicado àfonologia e à morfologia, em que se localizavam unidades em função dos contextos em que elas ocorriam e em funçãodas suas capacidades combinatórias. O generativismo apresenta um modelo formal, de base lógico-matemática, para adescrição da língua como estrutura e para a descrição da competência e da performance do conhecimento linguísticohumano. (http://www.infopedia.pt/$estruturalismo-(linguistica).

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Ge(ne)rativismo

Proposta teórica de descrição linguística de regras formais e de princípios e parâmetros universais apresentada por NoamChomsky com o objetivo de produzir todas as frases gramaticais de uma língua.

O programa generativista partiu do pressuposto de que a linguagem humana é um sistema de conhecimento interiorizadoe procurou descrever o modo como esse conhecimento se desenvolve e se processa na mente dos falantes de umalíngua. A fase da aquisição da linguagem pela criança é pois um momento que suscitou grande interesse para o programagenerativista, uma vez que permite observar a evolução do desenvolvimento da linguagem. O programa inicial generativistaassentava no princípio de que cada falante possuía uma gramática interiorizada composta por um dicionário mental dasformas da língua e por um sistema de regras que permitiam combinar essas formas à semelhança do processamentocomputacional.

Syntactic Structures (Chomsky, 1957) é a obra inaugural do programa generativista, cujo objetivo principal era construirum modelo de gramática que descrevesse o conhecimento interiorizado do falante e que engendrasse novas frases apartir das regras descritas. Nesse modelo juntavam-se regras sintagmáticas e regras ditas transformacionais, as quais

permitiam transformar frases declarativas em frases de outros tipos (por exemplo negativas, interrogativas, enfáticas).

Em 1965, com Aspects of the Theory of Syntax , Chomsky desenvolve o modelo da TEORIA STANDARD, que representauma evolução em relação à concepção anterior. Nesse modelo, há dois tipos de regras gramaticais: regras de reescritacategorial e regras transformacionais. As regras de reescrita derivam da estrutura profunda das frases. Sobre aestrutura profunda, em que estaria a componente semântica, aplicam-se regras transformacionais que se refletem naestrutura de superfície, manifestada pela componente fonológica e sintática. A teoria standard desenvolveu um sistemade representação formal das gramáticas de uma língua constituído por um conjunto de símbolos (ex: SN = SintagmaNominal; N = Nome; SP = Sintagma Preposicional; P = Preposição, etc.) combinados com regras de reescrita: (exemploda regra de reescrita da frase em português: F (frase) SN (Sintagma Nominal) + SV (Sintagma Verbal).

A dicotomia competência  (conhecimento mental de uma língua particular, gramática interiorizada) vs  performance (realização concreta em situações reais da gramática interiorizada), na linha da dicotomia saussuriana langue/ parole,foi outra das questões abordadas pelo modelo de Aspects of the Theory of Syntax  (Chomsky, 1965), a par do ideal dedescrição da Gramática Universal  (soma dos princípios linguísticos geneticamente determinados, específicos da espéciehumana e que caracteriza os conhecimentos linguísticos do falante adulto).

As principais críticas ao modelo generativista, apesar da sua permanente atualização e esforço de síntese, prendem-seao fato de que se trata de um modelo centrado na análise e descrição do sistema idealizado da língua, ou seja centradona competência, ignorando os aspectos da performance, com tudo o que isso implica: questões de variação linguística,implicações pragmáticas, etc. Outra das críticas tem a ver com o fato de a gramática generativista eleger como objeto de

estudo a componente sintático-semântica da língua, não constituindo assim um modelo satisfatório de análise fonética,fonológica ou pragmática.

No entanto é de ressaltar o importante contributo do generativismo para o estudo das questões sobre a aquisição dalinguagem, enquadrado dentro de um paradigma cognitivista emergente, e o desenvolvimento de um método de investigaçãoe de uma metalinguagem científica radicalmente inovadores em relação às propostas anteriores (http://www.infopedia.pt/$generativismo).

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Introdução

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Linguística

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Divisões Linguísticas Unidade II

O Que se Faz com a Linguagem Verbal?

Celestina Magnanti

Aristóteles, na antiguidade clássica, dizia que os sons emitidos pela voz são os símbolos dos estados da alma.A análise clássica da linguagem lhe atribuía, como função, externalizar o pensamento. Temos aqui o que osestudiosos chamam de a teoria do pensamento – linguagem: a linguagem verbal tem a função de exteriorizaro pensamento. A linguagem é vista como tradução: manifestação sensível e externa da representação interna.Portanto temos, aqui, a função expressiva.

A crítica a esse modelo é que, se concebemos a linguagem como tal, somos levados a afirmações – correntes –de que as pessoas que não conseguem se expressar não pensam. Considera-se que, ao falar, o homem apenas

expressa as ideias que não são geradas, mas eternas por residirem em nossa razão e em nossa inteligênciaantes da própria existência física do ser humano.

Essa concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais sobre linguagem. A linguagem, assim como oconhecimento, são inatos. A relação professor/aluno é unilateral: pergunta/resposta. O discurso do professor épré-elaborado. Todas as falas são programadas. O próprio currículo escolar, seus objetivos, sua nomenclatura,fazem claramente referência à necessidade de desenvolver “a expressão”. Isso se comprova tomando comoexemplo uma ideia norteadora integrante do projeto político-pedagógico do curso de Pedagogia de umaUniversidade, ao traçar o perfil do profissional (pedagogo) que quer formar e ao elencar os objetivos do curso:“Habilidade de expressão oral – a expressão oral é indiscutivelmente, um dos conhecimentos mais importantes

para a atividade profissional do professor”. Confunde-se habilidade com conhecimento. Aqui não se estánegando que essa habilidade seja importante. O que se quer mostrar é que pensar a linguagem dessa forma éuma atitude reducionista.

Em 1934, o psicólogo austríaco Karl Buhler propôs um modelo de forma triádica, apontando três fatoresbásicos para a linguagem: o destinador (mensagens de caráter expressivo), o destinatário (mensagens decaráter apelativo) e o contexto ( mensagens de caráter comunicativo). A partir desses fatores básicos, formuloutrês funções para a linguagem verbal: função expressiva ou sintomática, centrada no destinador; função desinal, centrada no destinatário; função de descrição ou representação, centrada no contexto. K. R. Popperacrescentou, a essas três, a função de discussão argumentada.

A teoria matemática da informação (inspiradora das teorias da informação e da comunicação) formulada porWeaver e Schannon trouxe um impulso decisivo à questão ao propor um modelo para a comunicação. Essasteorias veiculam uma concepção de linguagem como comunicação.

Schannon também exprimiu matematicamente a quantidade de informação transmitida por uma mensagem.Para ele, a medida de originalidade da mensagem é: a quantidade da informação é função de sua probabilidade.Quanto mais imprevisível for a mensagem, maior será a informação. A teoria da informação é aplicada hojenas telecomunicações, na informática e na linguística.

Partindo do modelo das três funções de Schannon e Weaver, o linguista russo Roman Jakobson ampliou paraseis as funções da linguagem. Embora controvertido, é um modelo de largo uso nos estudos das ciências dacomunicação e informação, sendo abordado, também, em alguns livros didáticos, o que se justifica pela grandeutilidade na análise e produção de textos.

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Introdução

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Divisões Linguísticas Unidade II

As funções dialogam, não há mensagem solitária na sua marca.

Podemos afirmar que esses modelos veiculam uma concepção de linguagem que vê língua como código (conjuntode signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor uma certa mensagem. A concepçãocomunicativa da linguagem (ligada ao movimento estruturalista) é vista com ressalvas por reduzir a comunicaçãohumana a uma forma vazia e ritualizada. Auroux afirma que o principal defeito desse modelo “é o de pressuporque a linguagem humana possui a estrutura de um código e que há sempre mensagens preestabelecidas acodificar de modo perfeitamente definido a priori” (1998, p. 41).

Outra crítica a esse modelo encontramos em Furlanetto:

função comunicativa corresponde a um arcabouço pobre, considerando a complexidade dasrelações humanas. Com efeito, os termos ‘falante-emissor’, ‘ouvinte-receptor’ pressupõemum papel ativo para o primeiro e passivo para o segundo (recepção/compreensão). Emboratal esquema corresponda a um aspecto real, é falho quando se pretende que representeo todo da comunicação. (1995, p. 2-3)

Consideramos, ainda, que a linguagem, na concepção comunicativa, é centrada na informatividade da mensagem,na funcionalidade e não no ato de linguagem. A preocupação é mostrar como “funciona a comunicação” e nãoa de estabelecer interações, de “ouvir” e “dar voz” ao outro.

Essas teorias influenciaram, na década de 70 e 80, o ensino da língua. Até o nome da disciplina Língua Portuguesa

foi substituído por “Comunicação e Expressão”. Os livros didáticos de 1 o e 2o  graus eram estruturados eancorados nessa concepção (o que não quer dizer que hoje sejam diferentes). Basta ver e analisar, por exemploo livro “ Do texto ao texto”, de Ulisses Infante (1998, p 213-291), que em oito capítulos trata das funçõesda linguagem, segundo Jakobson. Explicita a importância desse estudo por sua relação com o ato de produzirtextos, por fornecer subsídios para analisar e incrementar as práticas da leitura e da redação.

Em alguns livros didáticos de 5a série do ensino fundamental, na parte destinada à “compreensão e interpretação”de textos, as questões são formuladas no sentido de identificar o emissor, o receptor, qual o código, a mensagem,qual o canal ou o meio utilizado para a transmissão dessa mensagem, se houve ruído, etc... A preocupaçãofundamental nesse tipo de ensino é a transmissão de conhecimentos.

Para superar as limitações e o reducionismo das concepções anteriores, quando o russo L. Vygotsky propõe alinguagem como ferramenta psicológica estruturante (função cognitiva – mediadora entre relações e categoriasmentais abstratas e o mundo) e de ação social, seu conterrâneo Bakhtin lança as bases de uma nova concepçãode linguagem: ela é uma forma de inter-ação, porque mais que possibilitar transmissão de informações emensagens de um emissor a um receptor, a linguagem atua como um lugar de interação de interlocução humana.Através dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria realizar a não ser falando; com ela, o falanteage sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não pré-existiam à fala.

Agora a linguagem é vista como instrumento de interação social e formadora de conhecimento. Essa concepçãosupera a concepção da linguagem como sistema preestabelecido, estático, centrado no código, uma vez

que Bakhtin afirma que a verdadeira substância da língua “não é constituída por um sistema abstrato deformas linguísticas (...) mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação e dasenunciações” (1986, p. 109).

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A enunciação deve ser compreendida como uma réplica do diálogo social, é a unidade base da língua; trata-sedo discurso interior e exterior. Ela é de natureza social, portanto, ideológica, não existindo fora do contextosocial. É o produto da interação de indivíduos socialmente organizados.

Nessa concepção, segundo Bakhtin, a linguagem verbal exerce uma função fundamental pelo fato de que“toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada, tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelofato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte”(1986, p. 113)

As afirmações acima abrem espaço para mais uma formulação da concepção de linguagem inter-ação: odialogismo, conceito chave na teoria de Bakhtin (1986), transcende ao sentido restrito (a comunicação verbaldireta e em voz alta entre uma e outra pessoa). Dialogismo é toda comunicação verbal, qualquer que sejaa forma. Do ponto de vista discursivo, não há enunciado desprovido de dimensão dialógica, pois qualquerenunciado sobre um objeto se relaciona com enunciados anteriores produzidos sobre este objeto. Por isso,todo discurso é fundamentalmente diálogo. Isso significa que os significados e sentidos são produzidos nasrelações dialógicas, na mesma medida em que sujeitos e objetos no mundo se constituem como sujeitos eobjetos do e no mesmo discurso.

Assim podemos avaliar a importância da relação entre sujeitos (dimensão constitutiva da linguagem), porque apalavra está, fundamentalmente, alienada ao outro – aquilo que procuro na palavra é a resposta do outro queme irá constituir como sujeito – a minha pergunta fundamental ao outro diz respeito a onde, como e quando

começarei a existir na sua resposta. Aparecem, aqui, duas funções da palavra intimamente ligadas: a mediaçãopara o outro e a revelação do sujeito. Benveniste (1976) explica com propriedade essa relação: a consciênciade si mesmo só é possível se experimentada por contraste. Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguémque será a minha alocução em tu (o outro).

A influência da concepção interacional de linguagem no ensino da língua é lenta, uma vez que os professoresque atuam hoje nas escolas públicas e privadas tiveram sua formação acadêmica embasada em linhastradicionais e ou estruturalistas. Trabalhar a linguagem como processo de interação exige redefinição de papéis:o professor não pode ser visto como o agente exclusivo da informação e formação dos alunos, antes atuarácomo mediador. Seu papel é polemizar, discutir, ouvir as diversas vozes, desafiar. No processo de interação,as falas são imprevistas, elas constituem a essência do processo de ensino. Trabalhar nessa perspectiva é

ver as interações verbais e sociais como espaço de construção de conhecimento.

Endereços eletrônicos:

http://www.filologia.org.br/soletras/11/11.htmh t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? p i d = S 0 1 0 2 -

44501999000100010&script=sci_arttexthttp://pinceladaslinguisticas.blogspot.com/2007_08_01_archive.htmlhttp://recantodasletras.uol.com.br/tutoriais/763320

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Divisões Linguísticas Unidade II

Capítulo 4 – Preconceito Linguístico

Você percebe preconceito linguístico a sua volta? Leia este capítulocom atenção para responder à questão.

As crianças aprendem a andar, a falar em suas casas, com seuspais, avós, irmãos etc. Isso significa que elas adquiriram sualíngua materna, sua “gramática da língua falada”, o que se opõea gramática normativa de origem portuguesa utilizada nas escolaspara o ensino do que é “certo” e “errado”. Assim quando a criançaobserva que o ensino de seus familiares está “errado”, acaba seconfundindo e após passar em média onze anos estudando sentem-seincapazes de usar os recursos de seu próprio idioma. Dessa forma,o português “culto” se torna língua de poucos privilegiados.

Luciana Morais da Silva

O preconceito linguístico – como todo preconceito – é algo que deve ser evitado. Todos sabem disso. Na expressão orale escrita, ele está presente muito mais do que podemos imaginar. É o que tentaremos mostrar neste capítulo.

Como você percebeu durante o curso, a língua é dinâmica e está sempre em movimento. A Linguística é justamente oamplo estudo da língua em toda a sua diversidade. Não existe o conceito de certo e errado para o linguista. Ele é umobservador da manifestação linguística.

Pode-se entender o uso mais adequado de uma língua para questões técnicas, por exemplo. Médicos fazem uso de umalinguagem técnica e estudam com base em nomenclaturas próprias. Jamais se espera que um médico use tais termos comseus pacientes, pois estes não seriam capazes de entender. No entanto, ao ministrar um palestra para outros médicos, nadaimpede o uso de vocábulos mais precisos em seu sentido. Tal situação também ocorre entre membros do poder judiciário.Nenhum problema no uso de linguagem técnica entre os próprios membros, que aprenderam a usar, por exemplo, expressõeslatinas como síntese de uma ideia. O problema ocorre quando um tribunal ou um advogado passa a usar nomenclaturatécnica com quem não se preparou para isso. Os casos citados são específicos e se limitam a poucas áreas técnicas.

O que não pode ocorrer é o conceito de certo e errado em uma sociedade – como a do Brasil – em que milhões depessoas vivem em uma diversidade imensa. Apresentaremos, a seguir, uma análise do que é o preconceito linguístico ede como ele é prejudicial e discriminatório. O curso não pretende ser panfletário, mas apenas apresentar o assunto sobvários enfoques. Iniciaremos como uma definição do tema da página eletrônica wikipédia e, depois, de escritores que

desenvolveram o assunto.O sociólogo Nildo Viana foi quem primeiro apresentou uma visão marxista deste fenômeno, relacionando-o com aeducação escolar e a dominação de classe, bem como questionando pesquisadores deste tema. Para Viana, a linguagemé um fenômeno social e está ligada ao processo de dominação, tal como o sistema escolar, que é a fonte da “dominação

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linguística”. A ligação indissolúvel entre linguagem, escrita e educação com os processos de dominação, segundo oautor, é a fonte do preconceito linguístico, pois a língua escrita veiculada pela escola se torna a língua padrão e esta setorna norma geral que todos devem seguir, mas o seu modelo se encontra entre os setores privilegiados e dominantes dasociedade. Assim, ele conclui que a escola é a base do preconceito linguístico, e esta reproduz as desigualdades sociais.

Na Inglaterra, por sua vez, a linguista Deborah Cameron, autora do livro Verbal Hygiene, inicia sua obra citando umamanchete um jornal dominical, que diz numa tradução livre “Tradições Inglesas do Passado estão sob ameça”. A reportagemnão remete a nenhum grande costume inglês, mas sim a cidadãos ingleses comumente chamados de anoraks, que saemàs ruas para panfletar que a língua inglesa está sendo descaracterizada, arruinada pela mídia em geral. Como isso setorna relevante para um livro chamado Higiene Verbal ?

O que ficaria claro, a partir desse ponto, é que existe um número significativo de pessoas que se importam sobre questõeslinguísticas; essas pessoas não apenas falam seu próprio idioma, mas são apaixonadas por ele. A autora se propõe entãoa ouvir o que essas pessoas têm a dizer, e compreender o porquê delas agirem de tal modo.

A autora comenta uma situação na qual ela estava com um grupo dessas pessoas presentes no Conway Hall (um centro de

estudos culturais, independente) e, quando ela disse que era uma linguista, todos ficaram animados, e disseram: “Uau, comoos linguistas combatem esses abusos da linguagem?”. A autora, meio sem jeito, acabou evitou a discussão. Ela acreditaque eles não entenderiam que a linguística é uma ciência descritiva, e não prescritiva, além de acreditar que essa seria umaresposta um tanto rude. Em 5 de julho de 1993, num programa de rádio da BBC, Michael Dummet, um professor eméritode lógica, apontava para o trágico estado da língua inglesa e apontava como culpadas desse fato as ideias ridículas doslinguistas. Linguistas, diz ele, proclamam que a Língua não importa, e pode ser usada e abusada à vontade.

Entre outros casos considerados “trágico-cômicos” pela Linguística, a autora cita um memorando do jornal The Times,onde o editor diz para os jornalistas que não usem a palavra “consensus”, pois era uma palavra horrível/odiosa. Porfim, a autora reitera sua proposta de tentar compreender (compreender não significa concordar, ela deixa isso claro) oposicionamento assumido por essas pessoas frente a questões linguísticas.

Nos Estados Unidos da América, apesar da não existência de uma academia reguladora dos assuntos da linguagem, nãofaltam pessoas que tomam para si essa função, sendo elas conhecidas como language mavens. Essas pessoas chegamaté mesmo a constituir grupos de defesa de um chamado inglês real , verdadeiro, ou numa posição mais globalista comoacontece no caso do Esperanto. Elas mandam cartas para jornais dizendo/apontando para um declínio do bom inglês.Seus alvos vão além dos jornais, chegando a atacar anunciantes de panfletos, banners etc.

Variação Linguística e Preconceito

Da mesma forma que a humanidade evolui e se modifica com o passar do tempo, a língua acompanha essa evolução evaria de acordo com os diversos contatos entre os seres pertencentes à comunidade universal. Assim, é consideradaum objeto histórico, sujeita a transformações, que se modifica no tempo e se diversifica no espaço. Existem quatromodalidades que explicam as variantes linguísticas:

1. variação histórica (palavras e expressões que caíram em desuso com o passar do tempo);

2. variação geográfica (diferenças de vocabulário, pronúncia de sons e construções sintáticas em regiões falantesdo mesmo idioma);

3. variação social (a capacidade linguística do falante provém do meio em que vive, sua classe social, faixa etária,

sexo e grau de escolaridade);4. variação estilística (cada indivíduo possui uma forma e estilo de falar próprio, adequando-o de acordo com a

situação em que se encontra).

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Entretanto, mesmo que as variantes acima descritas expliquem as variações linguísticas, o falante que não domina alíngua denominada “padrão” por sua comunidade linguística sofre preconceitos e é “excluído” da “roda dos privilegiados”,aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade e, por isso, consideram-se “melhores” que os demais. Esse tipo depreconceito é denominado preconceito linguístico.

De acordo com Marcos Bagno, “preconceito linguístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido aoseu modo de falar”. Como já dito, esse preconceito é exercido por aqueles que tiveram acesso à educação de qualidade,à “norma padrão de prestígio”, ocupam as classes sociais dominantes e, sob o pretexto de defender a língua portuguesa,acreditam que o falar daqueles sem instrução formal e com pouca escolarização é “feio”, e carimbam o diferente sob orótulo do ”erro”. Infelizmente, “preconceito linguístico” é somente uma denominação “bonita” para um profundo preconceito“social”: não é a maneira de falar que sofre preconceito, mas a identidade social e individual do falante.

Há muitos preconceitos no mundo todo: preconceito racial, preconceito contra os pobres, contra as mulheres..., enfim,uma infinidade de “absurdos” cometidos por parte dos “ignorantes”. Mas, dentro do chamado “preconceito linguístico”,posso citar alguns considerados “destaque”, devido à constante frequência de suas ocorrências.

“A norma padrão constitui o português correto; tudo o que foge a ela representa erro”. Dentro do ambiente escolar,muitos professores costumam repetir essa frase. Porém, é necessário que eles compreendam que não existe portuguêscerto ou errado, mas modalidades de prestígio ou desprestígio que correspondem ao meio e ao falante. O apagamentode uma modalidade em favor de outra é despersonalizador, pois o indivíduo, ao ingressar na escola, possui um repertóriocultural já formado pelo seu meio e, se lhe for dito que tudo o que conhecia (no caso, sua linguagem) é “errado”, perderásua identidade verdadeira e poderá adquirir o preconceito. Por isso, é desejável que o aluno não abandone sua modalidadeem seu meio. Mas, a prática da norma culta deve ser ensinada para a promoção social do mesmo.

As instituições de ensino deveriam tratar a questão do ensino da norma culta e das variantes linguísticas de maneiracom que os alunos conseguissem compreender a norma e suas variantes. Deveriam promover aos alunos uma reflexãosobre a língua materna, distinguindo o que é adequado ou inadequado em determinadas situações de uso. Dessa forma,a classe socioeconomicamente desprivilegiada teria a oportunidade de ascensão social e de acesso aos instrumentosculturais, obtendo prestígio.

Mas, ao contrário do que é realmente adequado ao ensino da língua, as escolas estão mantendo as classes menosfavorecidas em um baixo patamar, sem lhes promover o conhecimento da língua materna e a reflexão sobre as variaçõeslinguísticas existentes, privando-as de uma oportunidade de ascensão social.

É importante que os professores promovam os instrumentos necessários para que os alunos possam ser capazes decompreender as linguagens formal e informal e adequá-la às diversas situações que lhes acontecerem. Há também anecessidade de fazê-los refletir sobre o que é “certo e errado”, levando em consideração as diversas variações históricas,

estilísticas, geográficas e sociais que a linguagem possui.“O bom português é aquele praticado em determinada região”, “O caboclo fala errado”, “Nenhum brasileiro fala oportuguês corretamente”. Indivíduos não conhecedores das variantes linguísticas “adoram” fazer afirmações como essas.Mas é preciso que coloquem em suas mentes que a língua varia de acordo com a região em que é falada (devido à suacultura, costumes e classe social) e que essa variação afeta a norma criando, então, uma modalidade de linguagem paracada situação específica de ocorrência verbal. Não existe então “certo e errado” no ato linguístico, mas sim variantesdecorrentes de alguns fatores como região, classe social etc.

“O bom português é o das épocas de ouro da literatura”. Primeiro, há um português culto falado e um escrito. Mas alíngua escrita é mais conservadora que a falada; segundo, a norma ancora a língua no contemporâneo; terceiro, a língua

é um fenômeno social, e sua existência prende-se aos grupos que a instituíram.

Bagno afirma que “A mídia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito linguístico. Infelizmente, elaé hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, alguns educadores e

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até os responsáveis pelas políticas oficiais de ensino já assumiram posturas muito mais democráticas e avançadas emrelação ao que se entende por língua e por ensino de língua, a mídia reproduz um discurso extremamente conservador,antiquado e preconceituoso sobre a linguagem”.

Programas de rádio e televisão,sites da internet, colunas de jornal e outros meios de multimídia estão cheios de “absurdos”

teóricos e “distorções”, pois são feitos por pessoas sem formação científica sobre o assunto. Divulgam “bobagens”sobre a língua e discriminam os estudiosos da linguagem. Isso atrapalha a desmistificação do “certo e errado” e acabapropagando o preconceito.

Em suma, para se acabar com o preconceito, seja ele racial, social ou qualquer outro, é necessário que haja umademocratização da sociedade, que dê oportunidades “iguais” a todos, reconhecendo e respeitando suas diferenças. E mais:a palavra “preconceito” significa um “pré” conceito daquilo que ainda não se conhece a fundo. A partir do momento emque se estuda determinado assunto, que se aprende sobre ele, o que se deve adquirir é “respeito”, e não “discriminação”.

Variação Linguistica

Partimos do pensamento primário e norteador de que o fenômeno “variação linguística” esteve presente emtodo o momento da formação e estruturação de nossa língua, ao retornarmos à língua-mãe, o latim, percebemosque desde então, até os dias atuais, tivemos mudanças renovadoras da língua.

A linguística atual revela que uma língua não é homogênia e deve ser entendida justamente pelo que caracterizao homem – a diversidade, a possibilidade de mudanças.

É preciso compreender que tais mudanças, como se pensava no início, não se encerram somente no tempo,mas também se manifestam no espaço, nas camadas sociais e nas representações estilísticas.

De acordo com Celso Ferreira da Cunha (1992), ao traçarmos a linearidade histórica de nossa “língua brasileira”,notamos que essa provém da língua portuguesa, que por sua vez provém do latim, que se entronca na grandefamília das línguas indo-europeias.

De início era o simples falar de um povo de cultura rústica, que vivia no centro da Península Itálica, mas a

língua latina veio, com o tempo, a desempenhar extraordinário papel na história da civilização ocidental.

Os romanos, em contato com outras terras, outras gentes e outras civilizações, ensinavam, mas tambémaprendiam. E aprenderam muito com outros povos. Desde o século III a.C., pois, sob a benéfica influência grega,o latim escrito com intenções artísticas foi sendo progressivamente apurado até atingir, no século I a.C., a altaperfeição da prosa de Cícero e César, ou da poesia de Horácio e Virgílio. Em consequência, acentuou-se como tempo a separação entre essa língua literária, praticada por uma pequena elite, e o latim corrente, a línguausada no colóquio diário pelos mais variados grupos sociais da Itália e das províncias.

Tal diferença era sentida pelos romanos, que opunham ao conservador latim literário, ou clássico, o inovadorlatim vulgar, língua falada por todas as camadas da população e em todos os períodos da latinidade.

Foi esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionários romanos levaram para as regiõesconquistadas e, sob o influxo de múltiplos fatores, diversificou-se com o tempo. Por volta do século V, osfalares regionais já estariam mais próximos dos idiomas românicos do que do próprio latim.

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Após a fase de transição, surgem, então, durante o século XIII, os primeiros documentos que chegaram aténós integralmente redigidos em galego-português.

Com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, os portugueses ampliaram enormemente o império desua língua. No Brasil, a língua portuguesa apresenta uma relevante diferenciação com o português de Portugal;há, evidentemente, diferenças sintáticas, semânticas e fonéticas.

Diferenças sintáticas – colocação diferente dos pronomes oblíquos; uso da preposição em com verbos demovimento: chegar na, ir na...; emprego de ter em lugar de haver.

Diferenças semânticas – azular, em Portugal significa tornar azul; no Brasil, fugir. Cangaço, em Portugalsignifica resíduo de uvas; no Brasil, quadrilha.Moço, em Portugal,criado; no Brasil, apenas jovem.

Diferenças fonéticas – na fonologia, as diferenças são mais profundas, assinalando-se não só na emissão dasvogais, como na das consoantes: minimo, mintira, (m); fonti, poti (t); quêxo, bêjo (ai) e o acréscimo de e, apósr e l,em Portugal (sole).

Além dos fatores sociais, geográficos e históricos, outros mais serviram para distanciar o nosso portuguêsdo português de Portugal.

Em primeiro lugar, a língua portuguesa encontrou rival no tupi, o qual, tornado língua geral, a ultrapassou,até o século XVIII, segundo Teodoro Sampaio (1954). Os padres preocupados com a catequese, falavam,

escreviam a sua gramática e organizavam dicionários em tupi. Os bandeirantes também contribuíram batizandoos acidentes geográficos e algumas localidades com vocábulos dessa procedência. O português sobressaiu, etornou-se idioma nacional, o que não impediu que restassem vestígios do tupi em nosso falar. Assim, temosde providência indígena muitos nomes de lugares, utensílios, alimentos, flora e fauna, como: Manhumirim,pororoca, Iracema, tatu, abacaxi, etc.

Outro elemento que entrou em contato com o português do Brasil foi o africano. A necessidade de braços quetrabalhassem a terra, trouxe o negro, que agregou ao nosso falar seu vocabulário e influiu na pronúncia. Deprovidência africana temos: macumba, cachaça, moleque, quindim, jiló, cochilo, tanga, etc.

Os colonizadores portugueses trouxeram para o Brasil a cultura e a Língua Portuguesa, essa foi sendoenriquecida com vocábulos e locuções novas; adquirimos outra pronúncia. Além de recebermos influênciadas línguas indígenas e africanas, também estão presentes em nossa língua alguns vocábulos do oriente e deoutras línguas europeias.

De providência árabe temos: álcool, algarismo, café, oxalá, alfaiate, etc. De origem francesa temos: abajur,champanhe, manchete, omelete,chique,garage, etc. De origem inglesa temos: clube, xampu, estresse, futebol,gol, short, etc.

Após analisarmos o desenvolvimento linear de nosso português, estamos certos de que a evolução da línguavem desde sempre, e tudo indica que vai continuar. E mais ainda, a evolução perpassa pela diversidade que éa transitoriedade da língua.

Ocorreu com o latim, que se estruturou em duas vertentes durante seu processo evolutivo: o latim clássico,falado por uma minoria de grandes escritores e o latim vulgar, que pela extensa população usuária se difundiurapidamente. E o mesmo com a Língua Portuguesa, em que se distanciaram os falares do Brasil com o de Portugal.

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E hoje, no Brasil, é irreal o nivelamento da língua devido a muitos fatores como: social, histórico, geográfico ecultural. Portanto, necessitamos aceitar as variações e estudar o que as provoca para entendermos o processoevolutivo linguístico.

Ao constatarmos a renovação da língua, muita vezes, mesmo sabendo que é fato incontestável seu dinamismo,ainda assim percebemos dificuldades de coexistência dos múltiplos falares; recentemente passamos a assumirque o preconceito linguístico é real e se manifesta toda vez que temos o embate e a identificação das diferençaslinguísticas por diferentes grupos.

O latim se modificou para se adequar à extensão do território dominado pelos romanos. E o português que

chegou a nossas terras não permaneceu o mesmo por diversas influências, como já citamos.Dentro da unidade territorial brasileira se revelam muitos falares que se justificam e condicionam para seadequar à realidade sociocultural de nosso país. Foi de evolução para evolução que chegamos até o exatomomento de nosso falar; caso contrário, estaríamos falando latim.

Em uma linguagem sistemática e coerente podem ocorrer formas diferentes de se efetuar a língua, uma vezque variam no espaço – variação diatópica –, no tempo – variação diacrônica – e no indivíduo.

Ao encontrarmos pessoas de regiões diferentes do Brasil, não raro nos deparamos com expressões linguísticasdiferentes. Na fala de interioranos de São Paulo, por exemplo, o r é retroflexo, como em porta, celular; já na

região Nordeste temos o uso das vogais o e e abertas, como em Rónaldo, sémente.Segundo Camacho (1988) existem múltiplos fatores originando as variações, as quais recebem diferentesdenominações. Eis alguns exemplos:

• Dialetos – variações faladas por comunidades geograficamente definidas. Idioma é um termo intermediáriona distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao sistema comunicativo estudado quando suacondição a iguala à linguagem.

• Socioletos – variações faladas por comunidades socialmente definidas. É a linguagem padrãoestandardizada em função da comunicação pública e da educação.

• Idioletos – é uma variação particular, isto é, o vocabulário especializado e/ou a gramática de certasatividades ou profissões.

• Etnoletos – variação para um grupo étnico.

• Ecoletos – um idioleto adotado por uma casa.

É inegável as diferenças que existem dentro de uma mesma comunidade de fala. A partir de um ponto qualquervão se assinalando diferenças à medida que se avança no espaço geográfico. Da mesma forma se constatamdiferenças dentro de uma mesma área geográfica, resultantes das diferenças sociológicas tais como educação

do indivíduo, sua profissão, grupos com os quais convive, enfim, sua identidade. Tudo isso pode interferir eoperar como modelador à fala de alguém.

(http://www.monografias.brasilescola.com/educacao/variacao-linguistica-uma-realidade-nossa-lingua.htm)

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Linguística

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Divisões Linguísticas Unidade II

As relações entre os usos linguísticos ou entre as várias línguas são determinadas por seu caráter público eprivado de duas formas diferentes: o domínio do público, regulamentado pela lei, pela regra, tanto pode imporcertos usos e línguas, quanto estabelecer a variedade possível desses usos e línguas; o domínio do privado,como domínio das variações e preferências individuais, tanto pode contrapor-se aos usos e línguas impostos nodomínio do público, quanto pode manifestar suas preferências em relação às variedades publicamente aceitas.

A intolerância e a consequente necessidade de tolerância surgem assim: 1 – quando a lei regulamenta certosusos e línguas e proíbe os demais, como por exemplo aconteceu quando Pombal proibiu o uso das línguas geraisno Brasil, o governo brasileiro discriminou o emprego de línguas estrangeiras, na época da Segunda Guerra, IrtonMarx, em A República dos Pampas, proibiu os usos errados, ou as leis Aldo Rebelo (no Brasil) ou Toubon (naFrança) não aceitaram os usos de termos estrangeiros; 2 – ou, ao contrário, quando as preferências individuaisdo privado discriminam usos e línguas, e impedem que seus usuários tenham acesso a certos empregos, cargosou posições, como por exemplo, quando os meios de comunicação não dão emprego aos usuários do r caipiraou aos que têm uma entoação que marca uma determinada identidade sexual.

A intolerância linguística ocorre nas fronteiras, nos limites da lei pública e dos direitos e preferências individuais,no domínio do privado. A regulamentação linguística, no domínio do público, explica-se pelo papel que as línguasassumem na construção de impérios, nações, estados, e na constituição de identidades nacional, regional, etc.Nos livros didáticos de História do Brasil, por exemplo, não há uma única referência ao fato de que no períodocolonial falavam-se principalmente línguas gerais no país e não o português.

Ao regulamentar as relações entre os usos linguísticos de uma mesma língua, a lei determina um uso comomais correto, mais certo, mais bonito, mais patriótico, mais virtuoso, enfim, e hierarquiza os demais, que serãoditos possíveis, toleráveis ou proibidos. Esse uso mais virtuoso é o da norma explícita de uma dada língua, emgeral chamada norma culta. A norma explícita define-se por ser regulamentada por academias, gramáticas edicionários; ter um aparelho de referência constituído por usuários de autoridade e prestígio; ser difundida eimposta na escola, na imprensa e na administração pública.

É essa norma que Irton Marx considera a única possível para a República dos Pampas, não reconhecendo assimos direitos linguísticos da sociedade, ou é a que determina, no país, a seleção de candidatos a emprego, tendoem vista a preferência da sociedade pelo uso dito mais culto da língua.

 Os usos e línguas impostos ou preferidos mantêm relações diversas com os proibidos ou não preferidos. São elasde 4 tipos (LANDOWSKI, 1997): de assimilação, ou seja, em que se procura transformar os usos linguísticosou a língua do outro, assimilando-os aos nossos, já que nosso modo de falar é melhor do que o do outro; deexclusão, em que os usos linguísticos e a língua do outro são recusados, não admitidos, pois são piores doque os nossos e ameaçam os nossos usos e língua; de agregação, em que os usos linguísticos ou a língua dooutro coexistem com os nossos, mantendo-se diferentes deles; de segregação, em que os usos linguísticos ea língua do outro devem ser conservados, desde que separados dos nossos, para não contaminá-los.

Os diferentes tipos de relação ocorrem tanto nas relações linguísticas internas a uma dada sociedade, entrevariantes de uma língua, e tendo por referência a variante culta ou padrão, quanto entre línguas diferentes, tendopor referência a língua nacional. Assim, por exemplo, no Brasil, as variantes utilizadas por falantes incultos,de classe socioeconômica pouco favorecida ou da zona rural são excluídas da escola, da administração, dosmeios de comunicação; variantes regionais desprestigiadas, como a caipira ou a nordestina, são segregadas,isto é, admitidas no espaço delas, mas não devem ser misturadas com os usos prestigiados, por exemplo, do

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rádio ou da televisão; ou, mais frequentemente, as variantes de menos prestígio são assimiladas às de maisprestígio (ensina-se, por exemplo, na escola, o uso mais culto da língua ou o de regiões em que se fala melhor ).

No que diz respeito às línguas estrangeiras, da mesma forma que entre variantes de uma língua, as relações sãosempre assimétricas (entre usos e línguas de mais ou de menos prestígio) e dependem da posição econômica,cultural ou política que estabelecem relações de dominação entre os grupos e suas línguas. Dessa forma, alíngua nacional pode encontrar-se na posição dominante (mais prestígio, mais força) ou de dominada (menosprestígio, menos força) em relação a outras línguas. Vejamos alguns exemplos em que a língua nacional ocupa aposição de dominante. Na Espanha, durante a ditadura de Franco, o basco, o galego e o catalão foram excluídosem favor da manutenção do espanhol (castelhano); no Brasil, houve também exclusão quando Pombal proibiuo uso de línguas indígenas ou das línguas gerais no país, ou, na segunda grande guerra, quando se proibiuo ensino do alemão ou do japonês, na escola; em relação aos imigrantes, o discurso no Brasil foi, em certosmomentos, de exclusão e, mais frequentemente, de assimilação; quanto às línguas indígenas, em certo momentoforam excluídas e hoje são segregadas (aceita-se que os índios falem outras línguas, mas nas reservas).

As relações linguísticas geram, muitas vezes, conflitos, pois o outro, o dominado, cujos usos linguísticos sequer excluir, assimilar, agregar ou segregar, pode não querer que isso aconteça. Na Espanha, houve e há aindaconflitos linguísticos, embora se tenha passado de uma política de exclusão, sempre mais conflituosa, a umade agregação (ou de segregação?). Com os imigrantes no Brasil, em muitos casos não houve conflitos, poisimigrantes que se procurava assimilar desejavam ser assimilados, isto é, não queriam, por exemplo, que osfilhos falassem a língua estrangeira dos pais, mas usassem o português.

Quando não há conformidade entre os discursos do dominante e do dominado, os conflitos se manifestam dediferentes formas: lutas, preconceitos, intolerância, de um lado, formas de resistência, de outro. MargaridaMaria Taddoni Petter tem mostrado, em diferentes estudos, que nas comunidades de candomblé e tambor-de-mina, por exemplo, é possível encontrar línguas negro-africanas, em situação ritual, como um dos elementosestruturadores. Essas comunidades são ilhas da África no Brasil e se constituem em formas de resistênciacultural e linguística.

(http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/node/7)

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Alguém ainda lembra dos seus tempos de escola, quando aquele colega que sempre que precisava ler algumapalavra com dois erres (rr) como, por exemplo, carroça, acabava pronunciando um belo caroça e toda a turmacaía na gargalhada? Ou ainda aquele que veio lá do interior e era conhecido como caipira? Lembram? Pois jánaquele tempo, vocês, inocentes crianças, estavam cometendo preconceito linguístico. Preconceito linguísticoé o deboche, a sátira, ou a não tolerância em relação ao modo de falar das pessoas.

No Brasil falamos português, isso todos sabemos. Mas por algum motivo, convencionou-se que o portuguêsfalado deve ser o mesmo que o português escrito. Isso quer dizer que, ao longo dos anos, a gramática normativae a língua foram tratadas como uma coisa só.

Ainda não ficou claro? Eu explico melhor: o português que a gente aprende na escola é chamado portuguêspadrão, cujas regras de composição são definidas pela gramática. Tudo certo até aí?Pois bem, o fato é quea língua falada é muito mais viva e flexível do que as regras escritas naquele livrão grosso. Portanto, línguafalada e língua escrita são coisas totalmente diferentes.

Contudo, no momento em que vemos uma luta imensa para abolir os mais diversos tipos de preconceito, aqueledo tipo linguístico continua desconhecido fora dos círculos acadêmicos, e o que é pior, estimulado pelos meiosde comunicação em massa, como rádio e TV.

(www.lendo.org/preconceito-linguistico/.)

www.marcosbagno.com.br

http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/p00003.htm

http://www.novomilenio.inf.br/idioma/20030100.htm

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502003000200017

http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3095

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Para (não) Finalizar

Caro participante,

Chegamos ao fim desta disciplina de INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA. Em seu sentido básico, existe uma diferençaentre “fim” e “final”. Fim é aquilo que ocorre outras vezes. Final é uma vez só. Dizemos, assim, “todo fim de semana eutrabalho” e “no final desta semana, viajarei”. Espero sinceramente que seja o final desta disciplina, mas não o fim doestudo linguístico.

Nosso objetivo foi apresentar o assunto a você. Inúmeros são os caminhos que você pode trilhar neste estudo. Comovocê percebeu, a Linguística se relaciona com diversas áreas da Linguagem, Comunicação, Psicologia, Sociologia etantas outras.

Quando aprendi na Faculdade o assunto, não tinha a menor ideia de sua importância. Em minha pós-graduação e mestrado,percebi um pouco mais da praticidade que o tema envolve. No entanto, é na prática diária de escrever, lecionar e mecomunicar que observo a dimensão do estudo linguístico e de sua dinâmica. Espero que você também veja a utilidadeque ela pode despertar em sua vida.

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Introdução

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Linguística

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Referências

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%ADstica

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