Metodologia para o uso da Bíblia na Catequese

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ESCOLA CATEQUÉTICA METODOLOGIA PARA O USO DA BÍBLIA NA CATEQUESE Pe Francisco Carvalho 1. O PRINCÍPIO METODOLÓGICO CATEQUÉTICO 1.1 A INTER-AÇÃO ENTRE FÉ E VIDA O método da catequese é fundamentalmente o caminho do seguimento de Jesus: "Na catequese realiza-se uma inter- ação (= um relacionamento mútuo e eficaz) entre a experiência de vida e a formulação da fé, ou seja, entre a vivência atual e o dado da Sagrada Tradição da Igreja. De um lado, a experiência da vida levanta perguntas; do outro, a formulação da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com Ele; de outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo". Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente e generosa promovendo atividades evangélico-transformadoras. Essa interação se estabelece também nas celebrações: o mistério de Cristo anunciado na catequese é o mesmo que é celebrado na liturgia para ser vivido, pois "pelos sacramentos, a liturgia leva a fé e a celebração da fé a se inserirem nas situações da vida". Por esse método, a vida cristã é discernida à luz da fé e desenvolve-se uma co- naturalidade entre culto e vida. É necessário que o catequista compreenda e viva aquilo que transmite com os catequizandos enriquecendo-se pela experiência da comunidade cristã a que pertence. É de primordial importância frisar que devemos levar a vida para dentro da Catequese e da Celebração, pois a vida é feita de tudo o que somos e realizamos e da mesma forma devemos levar o mistério celebrado para a vida a fim de iluminá-la à luz da Palavra de Deus.

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ESCOLA CATEQUÉTICA

METODOLOGIA PARA O USO DA BÍBLIA NA CATEQUESE

Pe Francisco Carvalho

1. O PRINCÍPIO METODOLÓGICO CATEQUÉTICO

1.1 A INTER-AÇÃO ENTRE FÉ E VIDA

O método da catequese é fundamentalmente o caminho do seguimento de Jesus: "Na catequese realiza-se uma inter-ação (= um relacionamento mútuo e eficaz) entre a experiência de vida e a formulação da fé, ou seja, entre a vivência atual e o dado da Sagrada Tradição da Igreja. De um lado, a experiência da vida levanta perguntas; do outro, a formulação da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com Ele; de outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo". Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente e generosa promovendo atividades evangélico-transformadoras.

Essa interação se estabelece também nas celebrações: o mistério de Cristo anunciado na catequese é o mesmo que é celebrado na liturgia para ser vivido, pois "pelos sacramentos, a liturgia leva a fé e a celebração da fé a se inserirem nas situações da vida". Por esse método, a vida cristã é discernida à luz da fé e desenvolve-se uma co-naturalidade entre culto e vida.

É necessário que o catequista compreenda e viva aquilo que transmite com os catequizandos enriquecendo-se pela experiência da comunidade cristã a que pertence. É de primordial importância frisar que devemos levar a vida para dentro da Catequese e da Celebração, pois a vida é feita de tudo o que somos e realizamos e da mesma forma devemos levar o mistério celebrado para a vida a fim de iluminá-la à luz da Palavra de Deus.

O método de inter-ação entre fé e vida apresenta três aspectos:

1º. A Comunhão: Ela é capaz de preencher o vazio do outro. Na comunhão se realiza a unidade, a amizade, a "inter-relação" entre os grupos, raças, sexo e cultura, resultando a "fraternidade".

2º. O Diálogo: É a troca de experiências que implica num forte compromisso e séria disponibilidade no DAR e no RECEBER.

3º. O Amor: O método de "inter-ação" exige muito amor; o acolher o outro, o gastar o tempo e a vida com o outro. A Comunhão e o Diálogo não terão sentido, nem valor, se neles não estiverem o amor e o acolhimento ao outro.

A Sagrada Escritura interpela a vida, questiona-a e a ilumina. 1.2 CATEQUESE E CELEBRAÇÃO

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A Catequese não pode despresar a importância e o sentido dos Sacramentos celebrados na vida da Igreja fazendo meros encontros de preparação dos catequizandos para um “evento” importante. Eles celebram a ação de Deus que redime e salva o homem da opressão causada pelo pecado. Nos Sacramentos, como na Catequese, há uma "inter-ação" da Revelação Divina e da situação de vida da sociedade, logo, LITURGIA, CONVERSÃO E TESTEMUNHO não podem estar separados. Em nossa contínua conversão, a participação dos sacramentos leva o homem para um maior compromentimento na construção do Reino de Deus. A Fé não tem sentido se não está unida a ela um aperfeiçoamento do cristão e consequentemente da sociedade tornando-a mais justa e mais fraterna. Isto só não acontece quando há desconhecimento a respeito da origem e do fim do homem e das suas responsabílidades, com referência a Deus, à natureza e à sociedade.

2.3 O MÉTODO VER-ILUMINAR-AGIR-CELEBRAR-REVER

É um método prático na ação catequética. Ele desperta o nosso senso crítico e leva-nos a contínua conversão e a assumir compromissos na transformação da sociedade.

Na catequese, esse método: Parte das necessidades dos catequizandos; Com a Palavra de Deus ilumina a realidade; Permite vincular a teoria à prática; Envolve as pessoas, exigindo a participação; Desenvolve a capacidade de compromisso; Ajuda a diminuir os gastos, o tempo e evita a improvisação; Ativa a criatividade e a corresponsabilidade.

1.4 LINGUAGEM, MEIOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA CATEQUESE

No método ver-iluminar-agir-rever, são importantes a linguagem adequada e os meios didáticos. É necessário saber adaptar-se aos ouvintes, usando uma linguagem compreensível, levando em conta idade, cultura e circunstâncias. Às vezes a transmissão da mensagem bíblica fica prejudicada pelo uso de uma linguagem inadequada. A catequese faz uso da linguagem bíblica, histórico-tradicional (Credo, liturgia), doutrinal, artística e outras. É preciso, porém, estimular novas expressões do Evangelho com linguagens renovadas e comunicativas como a linguagem sensorial e midiática (rádio, TV, internet) e outras.

1.5 MÉTODO DO TRABALHO EM GRUPO

É importante trabalhar em grupo para favorecer o desenvolvimento dos valores individuais e coletivos dentro de um determinado campo social e catequético. A técnica de oficinas, aplicada à catequese, ajuda a realizar uma reflexão participativa e a promover o encontro da teoria com a prática na evangelização. É uma técnica que desenvolve um tema mediante a construção coletiva, confrontando-o com a Palavra de Deus e com a vivência comunitária. Visa à caminhada catequética e à solução de problemas; é o lugar para fazer pensar, redescobrir, reinventar novas formas de ver e de rever a prática, de conviver e agir segundo o Evangelho.

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1.6 A MEMORIZAÇÃO NA CATEQUESE

A "memorização" tem um sentido mais rico do que o tradicional de "aprender de cor" a doutrina cristã. Saber "de cor" ou "decorar" significa saber "de coração". Portanto, o que se memoriza deve antes passar pelo coração, pela experiência, pelo sentimento de quem aprende, e isso se faz, antes de tudo, pela vivência e celebração: o repetir ritualmente gestos, sinais, palavras... vai repercutir na vida, ajudando a guardar no coração e não apenas na cabeça. Como recurso didático, é necessária a memorização das palavras de Jesus, das passagens bíblicas importantes, dos dez mandamentos, das fórmulas da profissão de fé, dos textos litúrgicos e orações mais importantes e das noções principais da doutrina. Portanto, não deve ser descuidada e, menos ainda, abandonada. Os textos interiorizados devem ser memorizados e compreendidos pouco a pouco na sua profundidade, a fim de se tornarem fonte de vida cristã pessoal e comunitária. Portanto, deve ser evitada a assimilação insuficiente, reduzida ao saber fórmulas que se repetem sem nenhum aprofundamento.

1.7 RECURSOS AUDIOVISUAIS NA CATEQUESE

Muitas vezes é difícil prender a atenção dos catequizandos com uma simples palestra. Um cartaz, ou mesmo um simples desenho no quadro podem prender a atenção e esclarecer melhor do que 10 minutos de palestra, sem qualquer ilustração. Se para organizarmos um encontro com os catequizandos, usamos da mesma pedagogia de Jesus, devemos, também como ele, utilizar meios para melhor comunicar a mensagem.

Qualquer catequista, em qualquer local, por menos adequado que seja, poderá utilizar os recursos para ilustrar o encontro e fazer com que a mensagem seja melhor compreendida e interiorizada pelos catequizandos, sejam crianças, jovens ou adultos. É preciso, porém, não esquecer que o valor do encontro não está somente na maneira de apresentar a mensagem: é necessário, antes de tudo, o testemunho de vida do catequista, pois sua pessoa é o principal instrumento e a sua vida é o primeiro "visual" a ser apresentado. Lembrar, também, que o material didático utilizado não substitui a Palavra de Deus, mas deverá servir para ajudar na transmissão da mensagem e, portanto, deverá estar ligado à IDEIA CENTRAL e ao OBJETIVO do encontro.

PARA REFLETIR

1. Qual a importância do método VER-ILUMINAR-AGIR-REVER na catequese?2. Quais as maneiras de fazer este método acontecer antes, durante e depois dos

encontros encontros de catequese?