Metodologia de Estudo Para Trompete

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PAULO CESAR BAPTISTA METODOLOGIA DE ESTUDO PARA TROMPETE Dissertação apresentada junto ao Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Musicologia. Orientador: Prof. Dr. Sergio Cascapera São Paulo 2010

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Transcript of Metodologia de Estudo Para Trompete

  • PAULO CESAR BAPTISTA

    METODOLOGIA DE ESTUDO PARA TROMPETE

    Dissertao apresentada junto ao Departamento de Msica da Escola de Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em Musicologia. Orientador: Prof. Dr. Sergio Cascapera

    So Paulo 2010

  • DEDICATRIA

    Para minha esposa, Raquel,

    e meu filho, Pedro.

    Meus maiores incentivadores

    e a quem dedico este trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus pais e irmos, pelo apoio ao longo destes anos.

    Ao meu querido professor e amigo, Edgar Batista dos Santos (in memorian), pela minha formao como Trompetista.

    Ao Prof. Dr. Sergio Cascapera, pelas riqussimas orientaes e dedicao em acompanhar este processo de pesquisa.

    Prof. Ms. Lucimar de Santana, pela reviso e formatao.

    E a tantos outros profissionais, colegas e amigos que, mesmo indiretamente, constam nas entrelinhas.

  • RESUMO

    Devido longa tradio da arte de tocar trompete e da evoluo que ocorreu com o

    instrumento ao longo dos sculos, o trompete passou a ser utilizado como instrumento

    de referncia na famlia dos metais, bem como a ocupar posio de solista em recitais e

    concertos. Tcnicas para seu aprendizado foram criadas e aperfeioadas com mais

    rapidez e passou a ser utilizado em outros estilos musicais, particularmente no Jazz. O

    caminho que indicamos para a formao tcnica e musical de um trompetista o

    mesmo, independentemente do estilo em que pretenda atuar. Um trompetista sem

    formao tcnica e sem cultura musical consegue tocar, mas no consegue se expressar.

    Palavras-chave: msica, tcnica, trompete, metodologia, erudito, popular, formao e

    evoluo.

    ABSTRACT

    Owing to the long tradition of the trumpet playing art and the instruments evolution

    over the centuries, trumpet has become a reference in the brass family and it has

    occupied a soloist position in recitals and concerts. Learning techniques have been

    more rapidly created and perfected, and its use has been extended to other musical

    styles, especially Jazz. The path we recommend to a trumpeter for acquiring their

    musical and technical qualification is the same, regardless of their style of choice. A

    trumpeter with no technical qualification and musical culture may be able to play, but

    they will not be able to express themselves.

    Key words: music, technique, trumpet, methodology, classical, pop, qualification,

    evolution.

  • SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 06

    PARTE 1 FORMAO TRADICIONAL ....................................................................... 07

    Captulo 1 Elementos Bsicos da Tcnica Trompetstica ................................................ 07 1.1 Respirao .......................................................................................................................... 07 1.2 Lngua ................................................................................................................................. 08 1.3 Lbios ................................................................................................................................. 10 1.4 Aquecimento ....................................................................................................................... 11 1.5 Flexibilidade ....................................................................................................................... 13 1.6 O som e seu desenvolvimento ............................................................................................ 15 1.7 Vibrato ................................................................................................................................ 17 1.8 Trinado ............................................................................................................................... 19 1.9 Procedimentos de estudos e mtodos ................................................................................. 19 1.10 Curso Tcnico para Trompetista....................................................................................... 22 1.11 Curso de Graduao para Trompetista ............................................................................. 26 Captulo 2 Como estudar o Mtodo para Trompetista de Joseph Jean Baptiste

    Laurent Arban ................................................................................................ 30 2.1 Passos ................................................................................................................................. 31 2.2 Parte Meldica .................................................................................................................... 32 Captulo 3 Desenvolvimento Cultural acerca do Trompete ............................................ 34 PARTE 2 METODOLOGIA NICA ESTILOS DISTINTOS ................................... 37 Captulo 1 Erudito ............................................................................................................... 37 1.1 Prioridades Musicais .......................................................................................................... 37 1.2 Influncias No Musicais ................................................................................................... 43

    Captulo 2 Popular .............................................................................................................. 43 2.1 Pedais .................................................................................................................................. 44 2.2 Notas Agudas ...................................................................................................................... 45 2.3 Calistenia ............................................................................................................................ 48 2.4 Estudos Especficos para Trompetista em Msica Popular ............................................. 49 2.5 Tcnicas Avanadas em Msica Contempornea ........................................................... 51 PARTE 3 EVOLUO DO TROMPETE ....................................................................... 53 Captulo 1 Conceitos ............................................................................................................ 53 Captulo 2 Estilos ................................................................................................................. 54 Captulo 3 Interpretao ..................................................................................................... 57 CONCLUSO ......................................................................................................................... 59 ANEXOS ................................................................................................................................. 60 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................. 66

  • 6

    INTRODUO

    Devido longa tradio da arte de tocar trompete e da evoluo que ocorreu

    com o instrumento ao longo dos sculos, esse instrumento passou a ser utilizado como

    referncia na famlia dos metais, bem como a ocupar posio de solista em recitais e

    concertos. Tcnicas para seu aprendizado foram criadas e aperfeioadas com mais

    rapidez, especialmente a partir de Joseph Jean-Baptiste Laurent Arban1, e passou a ser

    utilizado em outros estilos musicais, particularmente no Jazz.

    A partir do sculo XX, o trompete tornou-se fundamental no s como

    instrumento solista, mas tambm como lder nas diversas formaes instrumentais em

    que atua. A exigncia quanto a sua execuo aumentou na mesma proporo de sua

    popularidade.

    O caminho que indicamos para a formao tcnica e musical de um trompetista

    o mesmo, independentemente do estilo em que pretenda atuar. Um trompetista sem

    formao tcnica e sem cultura musical consegue tocar, mas no consegue se expressar.

    Com este estudo pretendemos apresentar metodologias de estudo para uma

    slida formao tcnica; explicar diversos conceitos, necessrios para a cultura musical

    do trompetista e para sua evoluo como msico. Alm de mostrar a importncia da

    formao, proposta ao longo desta dissertao, para que o trompetista esteja capacitado

    a desenvolver toda sua musicalidade.

    1Sobre o qual haver captulo especfico.

  • 7

    PARTE 1 FORMAO TRADICIONAL

    Captulo 1 Elementos Bsicos da Tcnica Trompetstica

    1.1 Respirao

    A melhor maneira de desenvolver plena habilidade para tocar trompete

    adquirir conhecimento sobre todas as etapas envolvidas no processo. H cincia

    envolvida na arte de tocar. Respirar a primeira etapa e, talvez, a mais importante.

    O Dicionrio Houaiss2 define respirao como: movimento duplo dos

    pulmes, de inspirao e expirao.

    Para tocar esse instrumento utiliza-se toda a capacidade pulmonar e controlar o

    oxignio armazenado possibilita ao organismo atuar de maneira relaxada, e apenas

    tensionar os msculos envolvidos para esse controle, alm de poupar os lbios, pois

    fluxo de ar vigoroso e contnuo impede a presso exagerada do bocal sobre eles.

    O processo respiratrio composto pela inalao e pela exalao. Inalao o

    momento em que o oxignio aspirado, o que provoca a expanso dos pulmes na

    cavidade torcica. O diafragma contrai-se para baixo e aumenta a cavidade; as costelas,

    por sua vez, expandem-se lateralmente; o trax elevado, em movimento semelhante ao

    de um balo ao ser enchido.

    Exalao o momento em que o ar armazenado expelido pelos pulmes.

    Para isso utilizam-se msculos abdominais ligados ao diafragma bem como os

    intercostais, que controlam o movimento das costelas. O movimento respiratrio

    composto por essas duas etapas.

    Acreditamos que a respirao, na execuo do trompete, no deva ser

    interrompida entre inspirao e expirao. Caso isso ocorra, os msculos sero

    tensionados pelo simples aprisionamento do ar e, como consequncia, pode-se obter

    exagerada ou insuficiente liberao de fluxo de ar.

    H entre os instrumentistas de sopro, trs formas de respirao conhecidas e

    ensinadas. Respirao clavicular ou torcica superior, respirao intercostal e a

    respirao abdominal. 2Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa.

  • 8

    x Respirao clavicular ou torcica: menos recomendada, pois utiliza parcialmente os pulmes, alm de provocar tenso nos ombros. Seus

    praticantes normalmente elevam os ombros ao execut-la.

    x Respirao intercostal: provoca expanso lateral das costelas e aumento da caixa torcica. Se observarmos, por trs, o trompetista que pratica

    essa respirao, tem-se imagem semelhante da abertura de um fole de

    acordeon.

    x Respirao abdominal: a mais desejada, pois utiliza mais rea dos pulmes. Ao inspirar, o diafragma movimenta-se para baixo, o que

    aumenta a rea pulmonar; consequentemente haver mais espao para o

    oxignio entrar. Vale lembrar que nesse movimento, os msculos do

    abdmen devero estar relaxados. Por outro lado, ao expirar, a

    musculatura abdominal entra em cena, comprime o diafragma e os

    pulmes. Desse modo, o diafragma impulsionado para cima e provoca

    a sada do ar.

    Apesar de existirem esses trs exemplos de respirao, praticados pelos

    instrumentistas de sopro, acreditamos que o correto seria respirar plenamente, sem

    dividi-la em partes.

    A ideal respirao completa, conhecida como Yogue, utiliza toda a capacidade

    pulmonar. Estudadas as caractersticas principais de cada exemplo, acreditamos que

    essa respirao compreenda todos os aspectos benficos dos outros trs exemplos3. O

    ato de respirar, talvez, seja a mais importante tarefa para um instrumentista de sopro.

    1.2 Lngua

    Acreditamos que o uso da lngua continua a ser um mistrio para a maioria dos

    alunos de trompete e tambm para muitos profissionais e candidatos a professor desse

    instrumento. Tal mistrio deve-se crnica falta de acesso a bons livros que expliquem

    seu uso e tambm ao desinteresse desses profissionais em buscar a informao.

    3Para mais esclarecimentos, consultar o livro: RAMACHRACA, Yogue. Cincia Hindu-Yogue da Respirao. Manual da Filosofia Oriental sobre a respirao e seu desenvolvimento fsico, mental, psquico e espiritual. So Paulo: Ed. Pensamento-Cultrix Ltda.

  • 9

    Esse msculo responsvel pela articulao, seja de letras, slabas, palavras,

    seja do som; bem como pelo controle do fluxo de ar enviado em direo ao instrumento,

    alm de moldar esse fluxo atravs do uso de vogais. GORDON (1987) aborda esse tema

    com muita propriedade e clareza.4

    A lngua, cujo movimento dever ser sempre vertical e no horizontal, no a

    responsvel pelo incio do som ou pelo ataque. O responsvel pela vibrao labial e,

    consequentemente, pela produo do som o ar. O papel da lngua de controle e

    direcionamento desse ar. Ela jamais dever ultrapassar a linha dos dentes, muito menos

    tocar os lbios.

    Na prtica do trompetista o uso da lngua relaciona-se ao uso das vogais A, E, I

    responsveis por alterar a abertura da cavidade bucal e tambm pelo controle do fluxo

    de ar, uma vez que a cada vogal pronunciada, a lngua ser posicionada de forma

    distinta, a fim de atender as necessidades musicais: A para os graves, E para os mdios

    e I para os agudos. Esse posicionamento permanece o mesmo, quer a vogal seja, ou no,

    acompanhada das consoantes T e D.

    A ponta da lngua dever ficar atrs dos dentes inferiores mantendo entre si um

    leve contato. Ao pronunciar a vogal A, como num bocejo, nossa lngua dever ficar

    completamente relaxada, no fundo da cavidade bucal, o que permite total liberdade para

    a passagem do ar. Ao pronunciar a vogal E, a ponta da lngua permanece onde est,

    porm o dorso ergue-se em forma de arco, o que diminui a cavidade bucal. Para a

    vogal I, esse movimento intensifica-se, tanto para a formao do arco, quanto para a

    diminuio da cavidade.

    medida que o dorso da lngua se levanta e diminui a cavidade bucal,

    necessrio aumentar a velocidade do ar para manter a vibrao labial. A receita a

    seguinte:

    x Vogal A. Cavidade bucal totalmente aberta, fluxo de ar mais lento. x Vogal E. Cavidade bucal levemente fechada, fluxo de ar mais rpido. x Vogal I. Cavidade bucal muito fechada, fluxo de ar extremamente rpido.

    Vale lembrar que, em quaisquer dessas posies, a garganta dever continuar

    relaxada, pois ela apenas um meio por onde o ar passar. O controle desse fluxo

    4 GORDON, Claude. Brass Playing is no harder than deep breathing. Copyright 1987 by Carl Fischer, Inc., New York 62 Cooper Square, New York, NY 1003 pp. 21-26.

  • 10

    dever ser feito pela lngua, atravs do uso das vogais. O posicionamento da lngua

    descrito anteriormente poder ser experimentado atravs do ato de assobiar. A ao da

    lngua ser semelhante. Alis, o instrumentista deve exercitar diariamente, at adquirir o

    hbito de us-la adequadamente, sem precisar pensar sobre isso.

    tambm a lngua que divide com o ar a responsabilidade pela maioria dos

    problemas de ataque. Se mal posicionada, impede o fluxo de ar ou atrasa a chegada

    dele nos lbios, bem como provoca estalo, quando em contato com os lbios, no

    incio do som. Posicionamento semelhante ter no ato de cuspir.

    1.3 Lbios

    Esses tm a funo de vibrar. A recomendao deix-los trabalhar

    corretamente e no tentar faz-los trabalhar corretamente. Ao contrrio do que se

    ensina erroneamente, lbios no tocam; cabe ao musicista deix-los livres para vibrar o

    som desejado.

    Semelhantes palheta do obo, os lbios vibram como palhetas duplas, e essa

    vibrao ativa a coluna de ar que se encontra dentro do instrumento, produzindo som.

    H vrias maneiras de obter tenso nos lbios. A mais natural (entretanto

    menos desejada) d-se por meio de presso demasiada do bocal sobre os lbios. Natural,

    por ser a mais utilizada pelos estudantes de trompete em incio de aprendizado. Menos

    desejada, pois quem utiliza essa tcnica conhece apenas o caminho da presso e no o

    equilbrio presso-relaxamento.

    Pressionar os lbios excessivamente no permite desenvolvimento muscular

    para a correta embocadura. H desgaste excessivo da musculatura pela falta de

    oxigenao. Devido presso, o oxignio no chega s clulas, e isso diminui a

    autonomia muscular. Entre professores que desconhecem a tcnica de execuo do

    trompete, ainda persiste o hbito de encorajar os alunos a usar presso excessiva para

    tocar trompete.

    Os trompetistas que tocam dessa maneira desenvolvem, com o tempo, marcas

    nos lbios parecidas com calos, alm de comprometer o desenvolvimento da

    flexibilidade muscular e de terem dificuldades na execuo de notas graves e sons de

    intensidade moderada e de pouca intensidade.

  • 11

    Outra forma de conseguir tenso labial esticar os lbios como num sorriso.

    To ruim quanto a anterior, essa prtica estica a j delgada mucosa labial e diminui a

    capacidade de vibrao. Isso compromete o timbre, pois menos vibrao significa

    menos harmnicos, compromete os msculos da face, por no desenvolv-los. O ato de

    esticar e relaxar os lbios executa a funo que deveria ser realizada pelos msculos

    atravs da contrao e do relaxamento, por isso desestabiliza a embocadura.

    O uso labial dessa maneira tambm impede o desenvolvimento da flexibilidade

    muscular e de sua resistncia, fatores importantes para o desenvolvimento do

    trompetista.

    A tcnica, desenvolvida a partir do incio do sculo XX e especialmente

    aplicada por Louis Maggio5, procura equilibrar as foras musculares. Os lbios ficam

    paralelos, enrugados nos cantos: o lbio de cima sobre o debaixo. Esse posicionamento

    provoca rugas de expresso ao redor dos lbios. J os msculos agem em sentidos

    opostos. Os msculos que fazem sorrir esticam os lbios para fora. Os msculos ao

    redor dos lbios fazem o oposto e tentam enrug-los, alm dos msculos do queixo que

    os puxam para baixo. Nenhum desses grupos musculares dever levar vantagem sobre o

    outro. O desenvolvimento saudvel da embocadura est baseado no equilbrio. Essa

    tcnica preserva o centro dos lbios, permite plena vibrao e poupa a fina mucosa. 6

    1.4 Aquecimento

    Aquecimento ou estimulao muscular so termos empregados para esse

    assunto. Usa-se comumente a palavra aquecimento para explicar um dos mais

    saudveis hbitos que o trompetista deve desenvolver desde o incio. Na realidade, ao

    realizar essa atividade, ele estimula todas as aes envolvidas na prtica instrumental.

    Por meio do aquecimento, possvel estimular todos os msculos: faciais,

    abdominais, intercostais; tambm lbios, dedos, lngua e, principalmente, o crebro

    responsvel por pensar e organizar todas essas aes. O hbito dirio de aquecimento

    propicia uma srie de benefcios tcnicos e psicolgicos.

    5 MAGGIO, Louis - System for Brass by Carlton MacBeth. Distribuio por Maggio Music Press. Impresso por North Hollywood CA 91609 USA. 1975. 6 Para mais esclarecimentos, consultar: FARKAS, Philip. The Art of Brass Playing. Bloomington, Ind. Wind Music, 1966.

  • 12

    O primeiro deles ajudar o trompetista a estabelecer confortvel sensao do

    bocal sobre os lbios. Alguns minutos de vibrao labial com o bocal sero suficientes.

    Essa rotina localiza pequenos problemas e possibilita corrigi-los.

    Outra dvida comum o tempo utilizado para essa prtica. H divergncias

    quanto a isso, no entanto deve-se levar em considerao o nvel de desenvolvimento do

    msico. Lembremo-nos de que uma preparao para um dia de trabalho e no o

    trabalho em si.

    O tempo utilizado para o aquecimento dever ser o necessrio para estar apto a

    tocar com segurana. Poder variar de cinco minutos a uma hora. Depender das

    necessidades e tambm do tempo disponvel. Vibrao labial com bocal, estudo com

    notas longas no registro mdio e grave do instrumento7, escalas maiores e menores,

    estudo de pedais8 estudos de flexibilidade9.

    Este trabalho possibilita tambm a reorganizao da embocadura que um

    sistema de msculos bem treinados e sob controle. Os msculos que formam a

    embocadura so os do queixo, dos cantos da boca e os do centro dos lbios. Esses

    msculos devero trabalhar em sentidos opostos, para criar tenso necessria para a

    vibrao labial, ou seja: os do queixo para baixo; os dos cantos da boca para fora; e os

    do centro dos lbios para dentro10.

    Aps extenuante jornada de trabalho, os msculos e o crebro estaro exaustos,

    portanto a atitude correta ser descansar no dia seguinte. Um reincio consciente, que

    restabelea a correta ao dos lbios e msculos, ser suficiente para reativar a

    embocadura.

    fato que o exerccio dirio da profisso nem sempre possibilita o

    aquecimento. Muitas vezes, sequer h tempo para montar o instrumento; noutras

    vezes no h lugar apropriado para faz-lo. Mais um bom motivo para cultivar esse

    hbito saudvel.

    7A tessitura do trompete afinado em Sib. inicia-se pelo FA#2, sendo sua nota mais grave, alcanando 3 oitavas ou mais. 8 Entenda-se como nota pedal aquela localizada abaixo da tessitura natural do instrumento. Para o trompete em Sib., qualquer nota que se encontra abaixo do FA#2 9 Estudos executados sem a troca de vlvulas entre as notas 10CASCAPERA, Srgio. O Trompete: Fundamentos Bsicos, Intermedirios e Avanados. So Paulo. USP/ECA. 1992- p.71. Dissertao de Mestrado.

  • 13

    A preparao diria, do corpo e da mente, para a posterior execuo, deixa-nos

    previamente capacitados a tocar sem mais problemas.

    Muitos exemplos de aquecimento podem ser citados, no entanto o mais

    importante o seu propsito. Reconhecidos autores e trompetistas (assim como o bom

    senso) dizem que devemos comear o dia de trabalho com exerccios leves, para

    estimular os sentidos. Deve-se praticar no registro mdio e no grave, usar dinmica

    moderada, exercitar a concentrao e descansar entre os exerccios, durante

    aquecimento. Vale lembrar que, com o desenvolvimento fsico e o intelectual, o trompetista estar apto a estabelecer a prpria rotina.

    A seguir, algumas opes de mtodos e estudos para o bom aquecimento:

    x Arban (Complete Method for Trumpet or Cornet, pp. 111-118, 132-138, 148-149, 155, 173-176, 229, 236-269).

    x H. B. Clarke (Technical Studies for the Cornet) x Max Schloosberg (Daily Drills and Technical Studies for Trumpet

    Introductory Exercises, p. 1.)

    x Charles Colin (Lip Flexibility on the Cornet or Trumpet) x Louis Maggio (System for Brass) Recuo.

    A prtica de notas pedais (nota 8), seja para aquecimento, seja para

    desenvolvimento tcnico, ainda gera discusso. Mesmo assim, acreditamos que faz-la,

    ou no, dever ser deciso pessoal.

    1.5 Flexibilidade

    Pode-se entender por flexibilidade, o ato de mover-se livremente e com

    habilidade, atravs da tessitura normal do instrumento, em qualquer velocidade, por

    meio de qualquer modelo de articulao ou ligadura. Para que isso acontea,

    necessrio o desenvolvimento gradual de trs pontos bsicos: lbios, lngua e msculos.

    x Lbios usados para vibrao, alterada a cada mudana de nota, por isso os lbios devero estar aptos a realizar essas alteraes.

    Sobre isso, h estudos que indicam as sete posies do trompete, que

    praticados em andamento inicialmente lento capacitaro os lbios para a flexibilidade.

  • 14

    1 Nenhuma vlvula acionada

    2 Segunda vlvula acionada

    3 Primeira vlvula acionada

    4 Primeira e segunda vlvulas acionadas

    5 Segunda e terceira vlvulas acionadas

    6 Primeira e terceira vlvulas acionadas

    7 As trs vlvulas so acionadas

    Para o desenvolvimento de flexibilidade sugerimos trs autores:

    x J. B. Arban (Complete Conservatory Method for Trumpet, pp. 39-56) x Walter M. Smith (Lip Flexibility on the Cornet o r Trumpet)

    x Charles Colin (Advanced Lip Flexibilities) Recuo. Acreditamos que a prtica desses estudos dever comear pela registro mdio

    do instrumento que se localiza dentro da pauta, pois a regio mais confortvel para se

    tocar.

    x Lngua tem papel importante, pois a responsvel pelo controle e pela conduo do ar, atravs do uso de vogais, explicadas anteriormente. O

    mesmo modelo de estudo dever ser utilizado para seu

    desenvolvimento. A rotina desses estudos tornar o uso das vogais um

    hbito, bem como o uso correto desse msculo, muito importante para o

    desenvolvimento da flexibilidade.

    x Msculos - daro sustentao ao trabalho executado pelos lbios e pela lngua. So os responsveis por tenso-relaxamento dos lbios, binmio

    que sintetiza um conceito importante para a sade do trompetista e

    difcil de ser conquistado.

    O desenvolvimento muscular exigido para o trompetista segue treinamento

    semelhante ao de um atleta. Inicialmente o estudante dever se exercitar por curtos

    perodos, para que os msculos faciais adquiram fora e resistncia. medida que esse

    condicionamento melhora, dever aumentar o tempo de estudo, lembrando-se de fazer

    pequenas pausas entre os perodos de trabalho, a fim de evitar fadiga ou leso.

  • 15

    Aps adquirir bom condicionamento fsico, estar capacitado a estabelecer

    longas rotinas de estudo que envolvam: aquecimento, estudos tcnicos, estudos

    meldicos e repertrio. Em seguida, sugere-se o relaxamento da musculatura,

    utilizando-se, por exemplo, um estudo com notas pedais.

    O aquecimento dever ser usado com o objetivo de estimular a musculatura e

    evitar o inchao labial. Os estudos tcnicos como escalas maiores e menores, arpejos,

    estudos de intervalos, estudos de flexibilidade, sero praticados com o objetivo de

    desenvolver o condicionamento em relao tenso e ao relaxamento dos msculos e

    dos lbios. Os estudos meldicos tero como objetivo dar controle e fluidez tcnica

    adquirida, alm de capacitar o estudante para a prtica de repertrio.

    A partir desse momento, o trompetista trabalhar com as questes musicais

    estabelecidas nesse repertrio. Aps, e to somente aps, esse longo trabalho fsico e

    tcnico, previamente escolhido e desenvolvido, o trompetista estar apto a desenvolver-

    se musicalmente.

    Para adquirir boa flexibilidade h necessidade da prtica diria de estudos

    especficos, para evoluir lenta e gradualmente. Desse modo, enfatiza-se a qualidade e a

    leveza das passagens musicais, bem como a agilidade. Em conseqncia, a embocadura

    se ajustar rpida e seguramente com mnimo esforo.

    1.6 O som e seu desenvolvimento

    O som do trompetista ser seu principal meio de expresso, ao longo de sua

    vida musical, e seu desenvolvimento dever ser conquistado diariamente. Tal

    desenvolvimento influenciado por vrios fatores, os quais sero descritos a seguir.

    x Fatores fsicos - necessrios para a produo e o desenvolvimento do som: Vibrao labial responsvel por ativar a coluna de ar que se forma dentro do

    instrumento Fluxo de ar necessrio para gerar a vibrao labial Msculos abdominais e intercostais

    responsveis pelo envio do fluxo de ar que sai dos pulmes, com mais ou menos velocidade, e que do estabilidade para a manuteno do som.

    Msculos da face responsveis por manter os lbios sob controle, bem como manter o bocal estvel sobre os lbios. Funcionam como plataforma de sustentao para o bocal e como proteo para preservar os lbios de presses excessivas.

  • 16

    x Fatores mecnicos - necessrios a produo e desenvolvimento do som: Bocal do trompete faz a conexo entre o corpo do instrumentista e o instrumento.

    Atravs dele todo o fluxo de ar expelido pelo trompetista e trabalhado pelos demais elementos atacar o trompete.

    Usaremos os bocais da empresa Vincent Bach Co. como exemplo, pois so

    utilizados por msicos profissionais que trabalham com os mais variados estilos e

    tambm por estudantes, alm de servirem como referncia para outros fabricantes.

    Abaixo informaes retiradas do catlogo da empresa Vincent Bach Co. (Anexo 1)

    Os Bocais Vincent Bach possuem a numerao que se inicia pelo n 1 e

    termina no n 20. Essa numerao representa o dimetro do bocal que ter contato com

    os lbios. E h variaes de profundidade representadas por letras que vo de A at E. A

    primeira representa a taa mais profunda; e a ltima, a taa mais rasa. H tambm

    verses que utilizam apenas nmeros como o bocal Vincent Bach n 1 tambm chamado

    entre os trompetistas de n 1 puro, por exemplo.

    Recomendamos o bocal Vincent Bach 7C por ser de tamanho mdio e

    possibilitar ao trompetista desenvolver boa sonoridade, flexibilidade e extenso. ,

    talvez, o mais usado por estudantes em estgio inicial e tambm pelos de nvel mdio.

    Vincent Bach 10 / C bocal de tamanho pequeno, que possibilita ao

    trompetista a produo de som mais brilhante. utilizado por trompetistas que

    trabalham com msica popular e jazz, com frequente necessidade de tocar notas agudas,

    acima da pauta. Bocais pequenos, como esse, exigem boa formao e habilidade do

    trompetista para manter a alta qualidade do som. Bocais considerados pequenos so

    indicados para trabalhos especficos e so usados por profissionais.

    Vincent Bach 1 / C bocal de tamanho grande, que possibilita ao trompetista a

    produo de som largo, porm menos brilhante que os exemplos anteriores. utilizado

    por trompetistas que trabalham em Orquestras Sinfnicas e como solistas de msica

    erudita. Bocais grandes exigem embocadura desenvolvida, bem como boa capacidade

    respiratria, pois haver mais consumo de ar. Bocais considerados grandes so

    indicados para trabalhos especficos e so usados por profissionais.

    Esses trs exemplos tm o objetivo de exemplificar algumas possibilidades de

    som, somente com a troca de bocal. So exemplos de tamanhos distintos, empregadas

    de acordo com o nvel do trompetista, atuao profissional e necessidade musical.

  • 17

    Essas variaes produzem efeito semelhante ao dos bocais. Tubos com

    dimetro pequeno produzem sons mais brilhantes; tubos mdios produzem sons

    equilibrados; e tubos com dimetros maiores produzem sons mais escuros. O resultado

    dessas variaes, associadas ao metal escolhido para a fabricao do instrumento,

    produzir instrumentos com timbres distintos.

    1.7 Vibrato

    Para obter um bom vibrato h a necessidade de fluxo de ar constante, alm de

    som centralizado. Frequentemente, o vibrato usado como forma de compensar

    inadequado desenvolvimento sonoro e afinao imprecisa.

    Acreditamos que o estudante dever inicialmente tocar sem vibrato, tendo

    como principal objetivo obter o controle do fluxo de ar e a afinao precisa das notas.

    Esse controle dar estabilidade para desenvolver um dos mais ricos ornamentos do som.

    De acordo com seu desenvolvimento tcnico e principalmente musical, dever exercit-

    lo em estudos direcionados para a prtica solista, bem como em passagens lentas e

    ligadas.

    Um bom vibrato, equilibrado e usado adequadamente, deveria integrar-se ao

    estilo musical; quando chama a ateno, porque provavelmente passou dos limites do

    bom gosto musical. O trompete instrumento que naturalmente se destaca na famlia

    dos metais11, portanto todo cuidado necessrio.

    Muitos trompetistas utilizam o vibrato incessantemente tornando-o parte de seu

    som. Essa prtica no aconselhada, pois o uso excessivo desse ornamento torna-o sem

    efeito; ele dever ser usado de acordo com o estilo em execuo e, em alguns casos,

    torna-se desnecessrio.

    Daremos trs exemplos de como se produz vibrato, referindo-se aos aspectos

    fsicos. Esse conhecimento ser importante para aprender a control-lo e tambm para

    poder escolher o mais adequado em cada situao.

    11 A famlia dos metais composta pelos naipes de trompete, trompa, trombone e tuba.

    Instrumento possuem variaes de dimetro interno do tubo, tamanho da campana, e de material com o qual fabricado, por exemplo, prata ou ouro.

  • 18

    1.7.1 Vibrato de mo provavelmente o mtodo mais utilizado de vibrar, pois possui algumas vantagens em relao aos outros, alm de produzir resultados muito

    satisfatrios. O vibrato produzido pelo movimento realizado pela mo direita, que

    dever posicionar-se no instrumento como se segurasse uma bola de tnis, com o

    polegar sob o tubo principal, entre a primeira e a segunda vlvula, e as pontas dos dedos

    repousadas sobre as vlvulas. Os dedos devero permanecer em contato com o

    instrumento, enquanto durar o movimento. O vibrato, ento, ser produzido pelo

    movimento suave, regular e cadenciado da mo direita, para frente e para trs. Para

    desenvolver esse mtodo devemos comear com movimentos lentos e acelerar

    gradativamente. Presso demasiada do instrumento e do bocal sobre os lbios poder

    provocar alteraes de afinao.

    Uma das principais vantagens em utilizar o vibrato de mo, especialmente para

    jovens trompetistas, poder examin-lo visualmente; isso facilita o entendimento, a

    aplicao e o controle. Outra vantagem que o movimento imposto pela mo coluna

    de ar, que se encontra dentro do instrumento, permite que o corpo reduza possveis

    obstculos no fluxo de ar, pois esse mtodo no utiliza alteraes do maxilar e dos

    msculos abdominais.

    1.7.2 Vibrato de maxilar movimento muito utilizado, esse vibrato provoca

    oscilaes no fluxo de ar. Deve ser igualmente suave e cadenciado, sem provocar

    alteraes na embocadura. Esse mtodo requer ateno do trompetista, pois poder ser

    incorporado de tal forma que se torne hbito tocar todas as notas com vibrato e perder o

    efeito sonoro pretendido.

    1.7.3 Vibrato de lngua ao executar movimento suave e ritmado, a lngua

    controla o fluxo de ar, altera levemente a afinao para cima e para baixo. Para executar

    esse mtodo, utilizamos as vogais A e I. A pronncia das vogais AIAIAIAIA, de forma

    cadenciada, executada pela lngua, propiciar o vibrato. Vale lembrar que, se mal

    executado, interromper o fluxo de ar e consequentemente o som. A lngua jamais

    dever se posicionar entre os dentes.

    Recomendamos aos apreciadores desse ornamento sobre o som um ponto de

    partida para desenvolv-lo: ouam grandes intrpretes. Msicos sofisticados utilizam-no

    em funo de cada estilo. Isso requer audio constante, prtica e amadurecimento

    musical.

  • 19

    1.8 Trinado

    O trinado ornamento formado pela repetio alternada de duas notas

    conjuntas, formando tom ou semitom. A repetio, alternada e rpida, entre a nota

    principal e uma nota superior, produz esse ornamento. No trompete, executado pelo

    uso alternado das vlvulas, no entanto em alguns casos h a possibilidade de realiz-lo

    sem a alternncia delas. Neste caso, o trompetista usar a tcnica da flexibilidade. Por

    meio das vogais, os sons se alternaro sem o uso das vlvulas. O uso das vogais A e I

    ser necessrio para o correto posicionamento da lngua. O trinado sem vlvulas poder

    ser executado no registro agudo do instrumento, ou seja, a partir da nota FA3, tendo

    como referncia o trompete em Sib.

    O trinado, realizado com alternncia das vlvulas, necessita de fluxo de ar

    constante, apoiado pela musculatura abdominal, troca de dedos geis e ritmada e

    principalmente lbios flexveis, pois a mudana de vibrao entre os sons ser muito

    rpida.

    O trinado, sem as vlvulas, tambm necessita de fluxo de ar constante e

    apoiado pela musculatura abdominal; a diferena est em que os lbios estaro

    tensionados, na proporo exata e, principalmente, pela rpida movimentao da lngua

    alternando as vogais. Os lbios no devem movimentar-se para os lados, como num

    sorriso, esticando os cantos da boca.

    1.9 Procedimentos de estudo e mtodos

    Neste item, indicaremos procedimentos de estudo com o objetivo de organizar

    a rotina do trompetista que pretenda profissionalizar-se, bem como uma srie de

    mtodos que podero ser utilizados para a formao e o desenvolvimento do

    trompetista.

    Primeiro, acreditamos haver a necessidade de um programa que possa capacitar

    o estudante de forma equilibrada. Segundo, esse programa dever ser aplicado por um

    professor, com aulas regulares, que possibilitem ao estudante evoluir, tcnica e

    musicalmente. Terceiro, a necessidade da prtica diria dos estudos, que por anos levar

    ao nvel de excelncia profissional.

    Para iniciar os procedimentos que acreditamos serem adequados, comearemos

    pelo lugar e pelo horrio de estudo. Para a prtica diria, ser necessrio um lugar

  • 20

    silencioso, uma sala iluminada, arejada, limpa, acusticamente equilibrada, nem seca a

    ponto de eliminar os harmnicos, nem ressonante demais a ponto de alterar o som e dar-

    lhe referncia incorreta de timbre e de volume. Deve-se estudar diariamente, no mesmo

    horrio ou no mesmo perodo do dia e, principalmente, em momentos nos quais o

    estudante sinta-se bem, fsica e mentalmente.

    O tempo de estudo outro ponto importante a ser destacado. Para o iniciante,

    30 minutos dirios sero suficientes e, medida que se desenvolve e adquire resistncia

    muscular, poder aument-lo gradativamente. Os iniciados e avanados devero

    aumentar a carga de trabalho de acordo com as orientaes do professor.

    Vale lembrar que, em todas as situaes previstas anteriormente, o descanso

    entre as sesses de estudo to importante quanto a prtica. Os msculos precisam de

    descanso para se restabelecer, especialmente os da face e ao redor dos lbios. A

    evoluo e a consequente conquista ocorrero pela rotina e no pelo excesso de

    trabalho. Reitere-se a importncia do aquecimento ou da estimulao muscular.

    Aps o aquecimento, deve-se iniciar o que foi planejado para aquele perodo de

    estudos. Partimos do princpio de que haver planejamento. Entendemos que, para uma

    sesso completa, haver a necessidade de praticar estudos: tcnicos, meldicos e de

    repertrio (especfico para o instrumento).

    Estudos tcnicos podero incluir exerccios de notas longas, flexibilidade,

    escalas, ampliao de registro (grave-agudo), exerccios para desenvolver a digitao.

    Uma rotina de estudos que contenha um exerccio de cada tpico sugerido ser

    suficiente para manter o trompetista tecnicamente.

    Estudos meldicos privilegiam a interpretao. O foco principal desses estudos

    fazer o estudante pratic-la, sem pensar nas questes tcnicas. H uma srie de

    indicaes de andamento, carter e dinmica, e o estudante dever, com a prtica,

    interpretar essas sugestes de maneira fluente. Esses estudos devero capacitar o

    estudante para que desenvolva plenamente sua musicalidade.

    Estudo de repertrio especfico para o instrumento dever ser a ltima etapa da

    sesso diria. Repertrio traz desenvolvimento tcnico e interpretativo, cultura musical

    e avalia o poder de concentrao. Quando houver um concurso ou recital, o estudo das

    peas do repertrio dever ocupar mais espao na prtica diria.

  • 21

    O estudante utiliza boa parte de seu tempo de estudo para corrigir problemas

    tcnicos e no para desenvolver questes musicais. Sugerimos que, ao estudar, observe

    atentamente as informaes escritas como andamento, tonalidade e dinmica.

    A seguir algumas sugestes de mtodos que podero ser utilizados por todos os

    estudantes, iniciantes ou avanados.

    x EDWARDS, A HOVEY. Method for Trumpet. First & Second Book, Belwin Mills Publishing Corporation. Melville, N.Y. 11746 1942.

    x GETCHELL, Robert W. First & Second Book of Practical Studies. Belwin Mills Publishing Corporation. Miami, Flrida 33014, 1948.

    x HERING, S. Thirty-two Etudes. Carl Fischer, 1943 x HERING, S. Forty Progressive Etudes. Carl Fischer, 1945. x REGER, Wayne M. The Talking Trumpet. New York, Charles Colin.

    1975.

    x ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Method. New York, Carl Fischer, 1936

    x CLARKE, Herbert L. Technical Studies. New York, Carl Fischer, 1934. x SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet.

    New York, J. F. Hill & Co., 1937.

    x COLIN, Charles. Advanced Lip Flexibilities. New York, Charles Colin, 1972.

    x GOLDMAN, E. F. Practical Studies for the Trumpet. New York, 1920. Carl Fischer Inc.

    x CHARLIER, Theo. 36 Etudes Transcendantes pour Trompette. Paris, A. Leduc. 1948.

    x BITSCH, Marcel. Vingt tudes pour Trompette. Paris, 1954. Alphonse Leduc.

    x SABARICH, Raymond. Dix Etudes Concertates et dInterprtation. Paris, 1968. Editions Selmer.

    x TOMASI, H. Six Etudes pour Trompette. Paris, 1955. Alphonse Leduc

  • 22

    1.10 Curso Tcnico para trompete

    Este captulo tem o objetivo de oferecer aos professores de trompete dois

    cursos completos de formao tcnica e musical. O primeiro deles o curso tcnico,

    destinado aos iniciantes deste instrumento.

    Ao longo de doze semestres, o professor ter a responsabilidade de orientar o

    aluno desde seu primeiro contato com o instrumento, mostrando-lhe a forma correta de

    segur-lo e o processo de formao da embocadura. Apresentar os mtodos mais

    utilizados nas escolas tcnicas do Estado de So Paulo para esse nvel de formao e

    ter a possibilidade de desenvolver repertrio que lhe possibilite adquirir conhecimento

    musical e estilstico capacitando-o profissionalizao.

    O curso tcnico est direcionado a alunos de escolas como a EMESP (Escola

    de Msica do Estado de So Paulo); Escola Municipal de Msica, em So Paulo; e

    CDMCC (Conservatrio Dramtico e Musical Dr. Carlos de Campos) em Tatu. So

    escolas formadoras de tcnicos da rea musical.

    1 e 2 Semestres 1 EDWARD & HOVEY. Method for Cornet or Trumpet Vol. I 2 HERING, Sigmund. Trumpet Course Vol. I 3 GETCHELL, Robert W. Studies for Cornet and Trumpet Vol I 3 e 4 Semestres 1 EDWARD & HOVEY. Method for Cornet or Trumpet Vol. I 2 GETCHELL, Robert W. Studies for Cornet and Trumpet Vol I 3 HERING, Sigmund. Trumpet Course Vol. I 4 HERING, Sigmund. Forty Progressive Studies 5 REGER, Wayne M. The Talking Trumpet (or Cornet) 5 e 6 Semestres 1 EDWARD & HOVEY. Method for Cornet or Trumpet Vol. II 2 GETCHELL, Robert W. Studies for Cornet and Trumpet Vol I 3 HERING, Sigmund. Trumpet Course Vol. II 4 HERING, Sigmund. Forty Progressive Studies 5 REGER, Wayne M. The Talking Trumpet (or Cornet)

  • 23

    7 e 8 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Method for Trumpet 2 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 3 CONCONE, G. Lyrical Studies 4 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet 5 VOISIN, Roger. Eleven Studies for Trumpet

    9 e 10 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Method for Trumpet 2 BRANDT, Vassily. Etudes for Trumpet (Orchestra Etudes and Last Etudes) 3 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 4 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet 5 VOISIN, Roger. Eleven Studies for Trumpet

    11 e 12 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Method for Trumpet Fourteen Characteristics Studies 2 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 3 CAFFARELLI, Reginaldo. 100 Studi Melodici per Il Transporto nella Tromba e Congeneri Corso Completo 4 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet

  • 24

    Repertrio para Trompete Solo

    1 e 2 Semestres HERING, Sigmund. Easy Pieces for the Young Trumpeter 1 - BARTOK, Bela Follow the Leader 2 - BEETHOVEN, Ludwig Van Variations on a Swiss Air 3 - ELVEY - A Song of Thanksgivin 4 - GRIEG, Edvard Sailors Song 5 - HAYDN, F.J. - Song by Haydn 6 - KABALEVSKY, Dmitri - Little Dance 7 - SATIE, Erik Gymnopedie 8 - SPILMAN - Flow Gently, Sweet Afton 9 - WARD - Amrica, the Beautiful 3 e 4 Semestres BORST and BOGARD, R. - Trumpet Music for Beginners 1 - BACH, J. S. Aria 2 - BACH, J. S. Gavotte in G Minor 3 - BEETHOVEN, Ludwig Van Adieu to the Piano 4 - BEETHOVEN, Ludwig Van German Dance 5 - GRIEG, Edvard Watchmans Song 6 - KABALEVSKY, Dmitri Waltz 7 - MOZART, W. A. Menuetto and Trio 8 - MOZART, W. A. Adagio 9 - RAVEL, Maurice - Pavane 10 - RIMSKY-KORSAKOFF, N. The Young Prince and The Young Princess 5 e 6 Semestres 1 ANDERSON, Leroy A Trumpeters Lullaby 2 BERNSTEIN, L. Rondo for Lifey 3 GAUDRON, Ren Andante et Allegro Moderato 4 JEANJEAN, Paul Capriccioso 5 GRUNDMAN, Clare Conversation for Cornet 6 ZEHM, Friedrich Sonata Brevis

  • 25

    7 e 8 Semestres 1 BESANON, A. Spot 2 LACERDA, Osvaldo Pequena Suite 3 LOEILLET, J. B. Sonate en Sib 4 MAHLE Sonatina 5 ROPARTZ, J. Guy Andante and Allegro 9 e 10 Semestres 1 BOZZA, E. Badinage 2 EBEN, P. Fantasia Vespertina 3 CORIOLIS, E. La Fte Saint Cassien 4 JOLIVET, Andr Air de Bravoure 5 MASSIAS, Gerard Choral et Menuet Obstin 11 e 12 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent Fantasia Brilhante 2 BARAT, J. E. Andante et Scherzo 3 CLARKE, Herbert L. The Maid of the Mist 4 HAYDN, J. Concerto in Eb 5 LACERDA, Osvaldo Sonata 6 LACERDA, Osvaldo Rondino

  • 26

    1.11 Curso de Graduao para Trompete

    O curso de graduao tem como objetivo dar continuidade ao curso tcnico,

    conduzindo o trompetista a sua formao plena na rea musical.

    Este curso de graduao oferecer ao professor todas as possibilidades tcnicas

    e artsticas que devero ser desenvolvidas ao longo de oito semestres. Atravs deste

    material, o aluno dever adquirir sofisticao tcnica e conceitual, domnio de estilos

    musicais e poder escolher em que rea do mercado musical pretender atuar. Pretende-

    se formar um trompetista consciente musicalmente e pronto para o mercado de trabalho.

    O Curso de Graduao que desenvolvemos poder ser utilizado em todas as

    Universidades e Faculdades brasileiras.

    1 e 2 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent . Complete Conservatory Method for Trumpet 2 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 3 IRONS, Earl D. Twenty Seven Groups of Exercise 4 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet 5 VOISIN, Roger. Eleven Studies for Trumpet

    3 e 4 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Method for Trumpet 2 BRANDT, Vassily. Etudes for Trumpet (Orchestral Etudes) 3 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 4 COLIN, Charles. Advanced Lip Flexibilities 5 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet

    5 e 6 Semestres 1 ARBAN, Joseph J. B. Laurent. Complete Conservatory Methody for Trumpet Fourteen Characteristics Studies 2 CLARKE, Herbert L. Technical Studies for Trumpet 3 GOLDMAN, Edward F. Practical Studies for the Trumpet 4 LONGINOTTI, Paolo. Studies in Classical and Modern Style for Trumpet Solo 5 - LAURENT, Ren. tude Pratiques 1 Cahier

    7 e 8 Semestres 1 BITSCH, Marcel. Vingt tudes 2 CHARLIER, Tho. 36 Etudes Transcendantes pour Trompette 3 - CHAVANNE, A. 25 Etudes Caracteristiques pour Trompette 4 HARBISON, Pet. Technical Studies for the Modern Trumpet 5 TOMASI, Henri. Six tudes pour Trompette

  • 27

    ESTUDOS ESPECFICOS

    CALISTENIA

    1 CARUSO, Carmine

    2 MAGGIO, Louis. System for Brass

    TRANSPOSIO

    1 BORDOGNI, M. Vingt-Quatre Vocalises Adaptes a la Trompete

    2 CAFFARELLI, Reginaldo. 100 Studi Melodici per Il Transporto nella Tromba e

    Congeneri Corso Completo

    3 SACHSE, Ernest. 100 Studies

    FLEXIBILIDADE

    1 SCHLOSSBERG, Max. Daily Drills and Technical Studies for Trumpet Lip Drills

    2 SMITH, Walter. Lip Flexibility on the Trumpet

    EXTENSO FREQUENCIAL

    1 SMITH, Walter. Top Tones for the Trumpeter

    2 ZORN, Jay D. Exploring the Trumpets Upper Register

  • 28

    REPERTRIO PARA TROMPETE SOLO

    1 ARBAN, J. B. Carnival of Venice 2 ARATUNIAN, A. Concerto 3 ALBINONI, T. Concerto in Bb (Piccolo) 4 BARAT, J. E. Andante et Scherzo 5 BERNSTEIN, L. Rondo for Lifey 6 BOZZA, E. Caprice 7 BOZZA, E. Rustiques 8 BRANDT, V. Concertpiece n1 9 CLARKE, H. L. Maid of the Mist 10 CLARKE, H. L. The Debutante 11 ENESCO, G. Legend 12 GOEDICK, A. Concert Study 13 HANDEL, G. F. Suite in D Major (Tpt. Piccolo) 14 HAYDN, J. Concerto 15 HUMMEL, J. Concerto 16 HINDEMITH, P. Sonate 17 HONEGGER, A. Intrada 18 JACCHINI, G. Sonata (Tpt. Piccolo) 19 JOLIVET, A. Air the Bravoure 20 LACERDA, O. Sonata 21 LACERDA, O. Rondino 22 MARTINU, B. Sonatine 23 KETTING, O. Intrada 24 NERUDA, J. Concerto (Tpt. in Eb) 25 PEETERS, F. Sonate 26 PURCELL, H. Sonata 27 ROPARTZ, G. Andante et Allegro 28 STEVENS, H. Sonata 30 TARTINI, G. Concerto 31 TURRIN, J. Caprice 32 TURRIN, J. Psalm for Two Portraits 33 TOMASI, H. Triptyque 34 TOMASI, H. Concerto 35 TORELLI, G. Concerto in D Major (Tpt. Piccolo)

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    LITERATURA PEDAGGICA

    1 BAINES, Anthony. Brass Instruments Their History and Development. London:

    Faber and Faber. 1976.

    2 DALE, Delbert A. Trumpet Technique. London Oxford University Press, 1965.

    3 FARKAS, Philip. The Art of Brass Playing. Bloomington, Ind. Wind Music, 1966.

    4. JOHNSON, Keith. The Art of Trumpet Playing. The Iowa State University Press/

    Ames. 1981.

    5. RAMACHARACA, Yogue. Cincia HinduYogue da Respirao. So Paulo:

    Editora Pensamento, 1976.

  • 30

    Captulo 2 Como Estudar o Mtodo para Trompete de Joseph Jean Baptiste Laurent Arban

    Joseph Jean Baptiste Laurent Arban nasceu em Lyon, Frana, em 28 de

    fevereiro de 1825 e morreu em nove de abril de 1889, em Paris. Estudou com Franois

    Dauvern, no Conservatrio de Paris, de 1841 a 1845. Pedagogo, foi tambm o primeiro

    virtuoso que se tornou clebre utilizando o cornet12 com vlvulas. Influenciado por

    Niccol Paganini (violinista e compositor), Arban desenvolveu extrema habilidade

    tcnica com esse instrumento.

    Foi professor de cornet do Conservatrio de Paris no perodo de 1869-1874 e

    1880-1889. Publicou seu grande Mthode complte pour cornet pistons et de saxhorn,

    em 1864 em Paris. Este mtodo, frequentemente chamado de Bblia dos Trompetistas,

    ainda o mais utilizado para o aprendizado de trompete. Passados 145 anos da primeira

    edio, continua atual e necessrio para a formao tcnica e musical dos trompetistas.

    Nas primeiras pginas, h textos explicativos sobre as sesses do mtodo.

    Arbans oferece explicaes sobre tessitura, digitao, articulao, staccato, ligaduras,

    respirao, expressa sua opinio sobre posicionamento do bocal sobre os lbios e mostra

    exemplos de como as clulas rtmicas devero ser tocadas.

    Sugerimos aqui um roteiro para estudar Arbans, pois apesar desses 145 anos

    ainda h desconhecimento por parte de estudantes e professores na utilizao desse

    mtodo. Indicamos esse mtodo para alunos de nvel mdio e avanado, pois seus

    estudos iniciais possuem notas, como o Sol 4, por exemplo, que no pertencem

    tessitura da maioria dos alunos iniciantes.

    12 Instrumento criado na Frana por volta de 1825, possui o mesmo comprimento do trompete: 1,475m(cornet em Sib), porm com uma mudana de perfil nos tubos. No trompete 2/3 dos tubos so cilndricos e 1/3 cnico. No cornet so 2/3 cnicos e 1/3 cilndrico. Este novo perfil altera seu timbre

  • 31

    2.1 Passos

    A seo Primeiros Estudos ajudar o estudante a centralizar o som. Permitir a ele se familiarizar com a digitao, desenvolver sua tessitura13 e sua preciso no ataque.

    Logo a seguir, na seo Sincopas, haver novas propostas rtmicas,alm das j conhecidas. Isso ajudar o estudante a desenvolver a leitura rtmica e a disciplinar a execuo.

    A seo Ligaduras destina-se ao desenvolvimento das passagens ligadas e tambm da flexibilidade. Os primeiros exerccios a serem estudados devero ser aqueles com intervalos pequenos, 2s e 3s, entre as notas e que sejam realizados utilizando-se as combinaes de vlvulas. Com a evoluo do estudante, os intervalos devero ser ampliados e as ligaduras devero ser realizadas utilizando-se as sete posies do trompete(pgs. 13,14), sem fazer uso das combinaes de vlvulas. Para isso haver a necessidade da utilizao das vogais, (A, E, I), para a execuo destas passagens. Estes estudos faro com que o estudante desenvolva seu legato e sua flexibilidade, habilidades necessrias para o desenvolvimento de uma linha meldica lrica, leve e gil.

    As Escalas maiores, menores ou cromticas devero ser praticadas diariamente. Nessa seo h variaes de escala bem como de articulao e dinmica para execut-las. A prtica diria trar equilbrio e uniformidade a todas as notas executadas, produz sensvel evoluo da articulao, executada pela lngua, e ajusta a conexo entre o uso da lngua e dos dedos, para a digitao.

    Quanto aos Ornamentos (apogiaturas, trinados, grupettos e mordentes), Arbans prope uma srie de estudos para o desenvolvimento e execuo de ornamentos. Esses exerccios daro ritmo aos dedos para realizar execuo limpa e definem claramente a forma de execut-los, pois Arbans oferece exemplos de como so escritos e como devero ser executados.

    Para o estudo dos Intervalos Sugerimos esta seo para os alunos avanados, pois h um longo caminho a percorrer at aqui. O estudo precoce destes exerccios causar mais problemas que solues. Exige-se boa percepo auditiva do estudante para afinar os intervalos, grande resistncia, pois os exerccios so longos e cansativos, controle da lngua e das vogais e capacidade respiratria bem desenvolvida.

    Na ltima parte do estudo dirio, o aluno dever praticar o Staccato (simples, duplo e triplo). Estudar staccato exige da lngua rotina extenuante de movimentos e deve ser praticado diariamente para desenvolver resistncia muscular, porm em perodos curtos e no final da seo de estudos. No staccato simples usaremos apenas a ao da lngua para articular o som. No staccato duplo usaremos a lngua e a garganta, utilizando as letras T e K; e, no staccato triplo, duas articulaes da lngua e uma da garganta: o T T K. 13 Extenso pessoal do trompetista que poder ter uma, duas, trs, ou mais oitavas.

  • 32

    Ao longo de cada seo, haver muitas variaes de ritmo e tambm o uso de diversas combinaes de articulao. O objetivo principal proporcionar ao estudante desenvolvimento tcnico e reflexo apurado para interpretar todos os estilos musicais.

    2.2 Parte Meldica

    O mtodo de Arban distingue partes meldicas:

    Melodias Clssicas e Folclricas a arte do fraseado. Aps estudar o mtodo Arbans, o trompetista adquirir bons hbitos de execuo e integrar esses hbitos execuo das peas musicais. So melodias que desenvolvem fluncia de interpretao. Esse o principal objetivo dessas melodias.

    Duetos para dois trompetes como em seus estudos anteriores, Arbans inicia essa seo com peas musicais simples e, gradativamente, aumenta o grau de dificuldade. No entanto todas as peas necessitam de perfeita sincronia entre os trompetistas para serem corretamente executadas. Mesmo para a execuo do dueto mais simples, h necessidade de os estudantes terem praticado todos os estudos que o antecederam, principalmente os bsicos.

    14 Estudos Caractersticos antes das doze fantasias finais, Arbans escreveu esses estudos, em forma de peas musicais, que so snteses da tcnica e dos estilos desenvolvidos ao longo do mtodo. Nessa seo encontraremos msica escrita com o rigor de um estudo tcnico sofisticado.

    12 Fantasias e suas Variaes para encerrar, Arbans coloca essa srie de Fantasias para trompete em Sib, e apenas uma para trompete em A. Seu nome Fantasia e Variaes sobre Acteon. So peas que desafiaro a capacidade tcnica e musical de qualquer trompetista. Entre elas est a clebre Carnaval de Veneza.

    A seguir apresenta-se a sequncia de estudos que auxiliar o estudante em sua rotina com Arbans. Essa sequncia poder ser alterada, de acordo com o nvel e tambm com os objetivos do estudante, no entanto a sequncia lgica para o desenvolvimento equilibrado.

    A. Primeiros Estudos B. Estudo de Staccato simples C. Ligaduras D. Escalas Maiores, Menores e Cromticas E. Arpejos Maiores e Menores F. Estudo de Semicolcheias com e sem ligaduras G. Estudo de Ornamentos (apogiaturas, trinados, grupettos e mordentes) H. Intervalos I. Estudo de Staccato Duplo e Triplo J. Estudos Caractersticos K. Fantasias

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    O principal objetivo deste captulo trazer esclarecimentos para professores e alunos, sobre os benefcios alcanados ao estudar o mtodo e conhecer as sees e respectivas aplicaes. Propusemos algumas alteraes na sequncia do mtodo tais como: estudar staccato duplo antes do triplo, por exemplo. Dessa forma acredita-se que o desenvolvimento da articulao dar-se- de maneira mais rpida e equilibrada. Outra alterao foi a incluso da seo de intervalos, normalmente evitada devido ao grau de dificuldade. A escrita musical composta por escalas e intervalos, portanto seu desenvolvimento se faz necessrio.

    Para melhor planejamento e tambm para melhor aprendizado desses estudos, recomendamos a orientao de um professor. Acreditamos que, para estudar a segunda parte da sequncia (a partir da letra H), haver necessidade de longo perodo de trabalho concentrado na primeira parte. Os primeiros estudos de Arbans daro a base necessria para a evoluo estvel.

    Dedicamos este pargrafo para um alerta aos iniciantes no estudo do trompete. Para o correto aprendizado e desenvolvimento constante e para a formao plena, necessrio o acompanhamento sistemtico de um professor. Arbans, antes de cada grande seo, dedica espao para textos explicativos sobre como estudar a sequncia de exerccios, como executar determinada clula rtmica. Isso desenvolve estilo e padro de execuo. Esses e outros exemplos, que certamente o estudante encontrar ao longo de Arbans e de outros autores, s sero devidamente assimilados sob a superviso de profissional habilitado e pedagogicamente bem formado e informado. O conhecimento e tambm a percepo desse professor podero conduzir o aluno de maneira segura e eficiente, sem deixar lacunas que possam trazer, no futuro, problemas profissionais.

    Um mtodo, mesmo sendo Arbans, apenas um meio pelo qual buscamos desenvolvimento tcnico e musical. Ele no produzir um trompetista, mas possivelmente viabilizar seu desenvolvimento.

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    Captulo 3 Desenvolvimento Cultural acerca do Trompete

    Este captulo tem o objetivo de situar o trompetista sobre o surgimento e o desenvolvimento de seu instrumento at a evoluo mais importante: o desenvolvimento do sistema de vlvulas a pisto, explicado ao longo deste captulo. Procura tambm contextualizar a importncia histrica, citando as funes musicais e sociais ao longo dos sculos e, dessa forma, permitir que todos, profissionais ou no, tenham relao mais prxima com o instrumento do que meramente consider-lo apenas instrumento de sopro.

    Acreditamos que o trompetista deva ter formao tcnica, musical e tambm cultural sobre o instrumento escolhido. Esse conhecimento certamente auxiliar em suas escolhas como msico profissional.

    Os primeiros trompetes, feitos em metal, foram encontrados na tumba de Tutan Khamun, fara egpcio que viveu entre 1333 e 1323 a.C., quando esta foi descoberta pelo arquelogo ingls Howard Carter, em 1922. Os trompetes eram feitos de prata e cobre ou bronze. O trompete de prata media 58,2 cm, e o de cobre ou bronze 49,4 cm.

    Esses instrumentos eram construdos usando-se fina folha de metal e, devido fragilidade, utilizava-se um centro de madeira para dar suporte e preservar a forma com perfil cnico. No incio, eram utilizados para fins militares e religiosos. Atravs de seu som incisivo e potente, as tropas eram comandadas e encorajadas; da mesma forma, rituais religiosos eram anunciados.

    A partir da queda do Imprio Romano (359 d. C.) at o sculo XI, o trompete perdeu seu lugar de destaque na sociedade. H poucos registros de seu uso e possvel desenvolvimento. Muitos dos rituais herdados do Imprio Romano desapareceram, levando consigo a necessidade do uso desse instrumento. A rea militar tambm passou por mudanas. Enquanto a ttica militar, utilizada pelo exrcito romano, incorporava o trompete como elemento essencial; aps a queda do Imprio, essa funo perdeu importncia.

    Por volta de 1100, o trompete reapareceu, principalmente depois da 1 Cruzada (1096-1099), e o principal motivo pelo seu reaparecimento foi a utilizao para fins militares14. Contudo somente retomou lugar de destaque no momento em que foi includo nos grupos instrumentais profissionais (sc. XIV).

    No sculo XV ocorreu outra evoluo tecnolgica. Os fabricantes descobriram uma forma de curvar o tubo, deixando o instrumento mais estvel e com melhor portabilidade. Inicialmente foram fabricados em forma de S. Outra evoluo foi o

    14John WALLACE, John Brass Instruments, Cambridge University Press, 1997. pp.38-40.

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    aumento de grupos de trompetistas, mantidos por nobres, com cerca de 10 a 12 componentes para tocar nas cerimnias.

    Claudio Monteverdi foi o primeiro compositor a utilizar os trompetes na orquestra, na pera LOrfeo. (1607) Ele utilizou cinco membros, ou seja, um naipe. Foram chamados de: Clarino, Quinta, Alto, Vulgano e Basso. Cada qual atuava em tessitura especfica:

    x Clarino atuava do C 5 ao A 5, excepcionalmente C 6; x Quinta atuava do C 4 ao C 5; x Alto atuava do G 3 ao E 4; x Vulgano atuava do G 3 ao G 5;

    x Basso atuava sobre o C 315.O sculo XVII e a primeira metade do sculo XVIII constituem a Idade de

    Ouro para o trompete natural16que, por um lado, continuou a ocupar lugar importante na msica militar e, por outro, sofreu evoluo quanto tcnica de execuo ao ser introduzido na msica de concerto.

    No entanto, entre 1750 e 1815, o trompete atravessou longo perodo de crise. No foi utilizado pelos principais compositores daquele perodo, por exemplo, Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert. Ele foi utilizado de forma rtmica com a percusso, apenas para dar sustentao harmonia utilizada, ou seja, tnica-dominante-tnica. Haydn, como exceo, escreveu um concerto para trompete (Keyed Trumpet) e orquestra em Mi bemol, somente em 1796, depois de o instrumento ter passado por mais uma evoluo tcnica.

    O Keyed Trumpet17foi mais um experimento evolutivo para o instrumento e chamou a ateno de alguns compositores,tais como Haydn e Johann Nepomuk Hummel. Em 1796, Anton Weidinger, trompetista do teatro e da corte de Viena, comissionou algumas obras musicais para solistas. Destas, as principais so: concerto em Mi bemol maior para trompete e orquestra, composto por Haydn em 1796, embora tenha sido executado pela primeira vez em 28 de maro de 1800 pelo prprio Weindinger; e o concerto em Mi para trompete e orquestra, composto por Hummel em dezembro de 1803, apresentado ao pblico em 1804, em comemorao ao Ano Novo, presumivelmente executado com o novo instrumento.

    Para esses compositores o uso de um trompete com chaves era um experimento nico, pois at aquele momento todas as composies eram executadas exclusivamente pelo trompete natural. A seguir surgiu o sistema que iria revolucionar o trompete, bem como a concepo dos compositores sobre sua utilizao. 15WALLACE, John. Brass Instruments, Cambridge: University Press, 1997, p 85. 16Instrumento que produzia somente a srie harmnica de sua nota fundamental. 17Trompete construdo com 4 a 6 chaves, capaz de realizar cromatismos.

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    Em 1815, Heinrich Stlzel e Friedrich Blhmel, msicos e construtores de instrumentos, patentearam o sistema de vlvulas a pisto, permitindo ao instrumento reproduzir a escala cromtica em toda a sua extenso18. E, em 1832, Josef Riedl, construtor de instrumentos, patenteou o sistema de vlvulas a rotor.

    Essas evolues transformaram o trompete num instrumento de referncia na seo dos metais e tambm lhe deram autonomia para ser solista. Os compositores passaram a escrever para esse instrumento com plena liberdade meldica e rtmica.

    A metodologia para seu aprendizado mudaria, pois a partir dessa evoluo a mo direita e a esquerda iriam trabalhar intensa e coordenadamente.

    Iniciava-se uma nova era de ouro para o trompete que, ao longo do sculo XIX, retomou o lugar de protagonista no meio erudito e, com o nascimento do Jazz, no final do mesmo sculo, passou a dominar tambm o meio popular. Devido extenso, grande capacidade de projetar o som e seu timbre penetrante, passou a ser utilizado intensamente por compositores eruditos e populares.

    Por todas essas qualidades tornou-se um dos principais instrumentos solistas do sculo XX.

    18Para mais esclarecimentos sobre esse assunto, consultar BAINES, Anthony, Brass Instruments, their History and Development, p. 207 e ss.

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    PARTE 2 METODOLOGIA NICA ESTILOS DISTINTOS

    Captulo 1 Erudito Este captulo pretende esclarecer um equvoco encontrado nas escolas de

    formao musical: a aplicao de metodologias distintas a alunos em incio de formao, quando devem escolher estudar trompete erudito ou trompete popular.

    Todos os tpicos deste captulo so pertinentes a qualquer estilo musical. Afinao, por exemplo, no uma questo de gosto pessoal. Ritmo e tempo tambm no variam de acordo com o carter. Variaes de timbre e fraseado pertencem a qualquer discurso musical. No entanto, para ter controle sobre esses tpicos, necessrio que o trompetista tenha domnio do instrumento. Para adquirir tal domnio h uma srie de exerccios, que devero ser acompanhados por um professor, e praticados por anos. O resultado disso dever ser aplicado e desenvolvido na prtica de repertrio especfico para trompete.

    A prtica diria, bem como do estudo de repertrio, dar ao msico o controle necessrio sobre o instrumento, permitindo-lhe liberdade de escolha sobre o estilo pretendido.

    Formao tcnica e conceitual e seu uso artstico so situaes distintas. Porm o processo para conquist-los o mesmo.

    1.1 Prioridades Musicais

    1.1.1 Afinao um dos aspectos mais exigidos e criticados do desempenho instrumental. Todos os trompetistas, que esperam ter bom desempenho ao longo de suas carreiras, deveriam devotar constante ateno para esse aspecto. Acreditamos que o desenvolvimento da afinao passa, inicialmente, pela conscientizao das habilidades necessrias para ouvir e reproduzir. Sem uma acurada conscincia de tais necessidades no seria possvel tocar com afinao segura. No incio de seu aprendizado, o estudante deveria ser orientado a observar e desenvolver essas habilidades, a fim de estabelecer parmetros para distinguir entre estar ou no afinado. Afinao correta no adquirida facilmente. um processo de desenvolvimento dirio.

    A ateno dever ser constante, independente do nvel de desenvolvimento do instrumentista. Quando isso no for respeitado, a afinao ser instvel. O som perder timbre, volume e projeo. Uma nota executada fora de seu centro de ressonncia compromete o timbre, que soar de forma instvel. Perder volume, pois a maior parte dos harmnicos concentra-se no centro de ressonncia da nota. Com o timbre alterado por rudos, e o volume comprometido pela diminuio de harmnicos, a projeo tambm sofrer perda razovel.

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    Podemos visualizar cada nota como um alvo usado para a prtica do Arco e Flecha. Esse alvo composto por um centro, representado por uma circunferncia totalmente preenchida com tinta que tem ao redor uma srie de espirais. O arqueiro sempre perseguir a circunferncia central, pois lhe dar a maior pontuao. medida que a flecha se afastar do centro e atingir as espirais, a pontuao diminuir. Cada nota possui sua circunferncia principal que ser seu centro de ressonncia e dever ser perseguida por todos os trompetistas. As espirais devero ser evitadas, pois comprometero o som.

    Parte das dificuldades em desenvolver boa entonao19 resultante da estreita relao com o desenvolvimento das habilidades tcnicas necessrias para um bom desempenho, por exemplo: controle do fluxo de ar, controle da lngua, que necessitam de longo tempo para serem desenvolvidas.

    O conceito de som do trompetista tem ligao direta com o desempenho fsico. Pulmes saudveis, musculatura abdominal fortalecida, lngua tonificada e condicionada para o uso das vogais, lbios bem posicionados, musculatura ao redor dos lbios preparada para suportar a presso que o bocal exercer sobre ela. Todos esses fatores contribuiro para a qualidade do som e, consequentemente, para afinao precisa.

    H significante correlao entre o som centralizado de um trompetista e sua afinao. Poderemos fazer ajustes de afinao, se todos os elementos envolvidos no ato de tocar, por exemplo: concentrao, raciocnio condicionado e controle dos movimentos musculares, funcionarem de forma eficiente e relaxada.

    Sugerimos, a todos os estudantes, como uma das possibilidades para solucionar problemas de afinao, o trabalho dirio em perodos curtos de tempo, com uso de afinador eletrnico e estudos para desenvolver percepo auditiva. Esse trabalho, aliado ao constante aprimoramento tcnico, dever produzir resultados satisfatrios tais como: afinao pessoal precisa e ouvido hbil para corrigir rapidamente possveis variaes de afinao em grupo, mantendo o trompetista consciente dos problemas, sem induzi-lo ansiedade e frustrao.

    1.1.2 Ritmo e Tempo - Instrumentistas de metais tendem a atrasar nas passagens rpidas e acelerar nas passagens lentas. As dificuldades em manter o tempo correto so vivenciadas por todos os msicos em algum momento de sua formao. Um dos problemas seria tentar estabelecer o tempo e outras indicaes expressivas sem ter o completo domnio tcnico sobre a obra musical.

    Keith Johnson20 tambm sustenta que problemas com o ritmo podem ser solucionados utilizando-se o ato de cantar, nas obras musicaisem que isso for possvel.

    19 maneira de emitir um som vocal, dando inflexo ou modulao fala ou ao canto- Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa.20Regents Professor of Trumpet and Coordinator of Brass at The University of North Texas

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    Msica instrumental est intimamente ligada msica vocal e isso seria uma ferramenta til para os instrumentistas. As linhas meldicas de Mozart, por exemplo, eram influenciadas pelas limitaes da voz humana.

    Uma vez estabelecido o andamento para a obra musical a ser executada, o estudante dever concentrar-se na manuteno dele. Inicialmente lhe exigido tocar corretamente, isso significa tocar as notas certas. Alguns no conseguem tocar no andamento proposto, porque ainda esto preocupados com o ritmo. A capacidade de cantar corretamente o trecho musical, certamente, ir auxili-lo na execuo do instrumento. Acreditamos que a concentrao do aluno, dirigida para a interpretao da msica e no para as questes tcnicas necessrias para sua execuo, melhorar seu desempenho e tambm seu ritmo.

    1.1.3 Cor - Esta a caracterstica mais abstrata e subjetiva do som, no entanto esse tpico ocupa boa parte da ateno dos trompetistas. Descrever o som atravs de adjetivos como escuro, suave, brilhante, significa descrever um timbre, definido pelo dicionrio Grove de Msica21 como termo que descreve a qualidade ou o colorido de um som, e associ-lo a sensaes auditivas pessoais.

    Os termos utilizados anteriormente para descrever o som referem-se distribuio e ao equilbrio dos harmnicos presentes em uma nota. Isso, em ltima instncia, o que define o som do trompete.

    A percepo de diferentes sensaes provocadas pelo som depende da capacidade auditiva. Cada espectador possui um nvel de percepo diferente. Muitos tem dificuldade em ouvir com clareza timbres como os do trompete piccolo22,da tuba ou os registros extremos como o do violino ou contrabaixo. Normalmente no registro mdio, algumas reas da audio so mais desenvolvidas que outras. Essas virtudes e fraquezas auditivas compem a percepo das qualidades da cor ou timbre.

    importante aprender a manipular o som, pois atravs dele o trompetista expressar todas as emoes contidas numa obra musical. Desenvolver essa capacidade exigir habilidade em ouvir todos os sons contidos na memria e, ento, passar a reproduzi-los no instrumento.

    Um trompetista no precisa saber como esses timbres so criados. O sistema, formado por mente e corpo, produzir as variaes se obtiver as informaes corretas ou estimulaes corretas. Por conceder mente humana a possibilidade de ativar seus arquivos sonoros, esse refinado sistema produzir o resultado esperado. O som produzido atravs do instrumento uma reflexo das influncias sonoras adquiridas ao longo do tempo.

    21 Dicionrio Grove de Msica: edio concisa. Editado por Stanley Sadie, editor assistente Alison Latham; traduo Eduardo Francisco Alves, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. 22 O trompete piccolo construdo para soar uma oitava acima do trompete em Si bemol, portanto escreve-se uma oitava abaixo para soar uma acima.

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    A audio de bons cantores e instrumentistas prover o estudante com uma srie de variaes sonoras que servir de matria prima para o desenvolvimento do prprio conceito sobre o som. Inicialmente, tais variaes no sero colocadas em prtica de forma consciente, mas sero resultantes do arquivo sonoro adquirido e escolhido ao longo de anos.

    Os trompetistas tm vantagens sobre outros instrumentistas, pois podem trocar de instrumento para a mudana de timbre. H trompetes afinados em Si bemol, D, R, Mi bemol, Fa e Sol e o trompete piccolo afinado em La e Si bemol. Todos possuem caractersticas sonoras distintas. A escolha do instrumento adequado para a reproduo de um timbre especfico caber ao msico e ser feita satisfatoriamente de acordo com o conhecimento tcnico. O som desejado dever estar claramente estabelecido na mente do trompetista; caso contrrio, o resultado da troca de instrumento no ser satisfatrio.

    A singularidade garante identidade sonora distinta e oferece aos ouvintes uma infinita variedade de sons. Apesar das fontes e influncias, cada trompetista desenvolve seu timbre, de acordo com caractersticas musicais pessoais, e haver um longo caminho a percorrer para alcanar o objetivo esperado.

    1.1.4 Intensidade - A intensidade, em msica, est diretamente relacionada com o som. um aspecto da expresso musical desenvolvido atravs dele. comum o uso das expresses: variaes de intensidade e variaes de dinmica, para exemplificar o mesmo fenmeno musical.

    Por esse raciocnio, indicamos dinmicas convencionadas pelo Dicionrio Grove de Msica. Vale lembrar que dinmica, neste caso, poder ser entendida como aspecto da expresso musical resultante de variao na intensidade sonora.

    pp(pianssimo,comvolumesonoromuitoreduzido)p(piano,compoucovolumesonoro)mp(mezzopiano,comvolumemoderado)mf(mezzoforte,moderadamenteintenso)f(forte,"comintensidadesonora)ff(fortssimo,commuitaintensidadesonora)

    Alm dessas indicaes, h compositores que se utilizam de ps (piano sbito) Sfz (sforzando) e fs (forte sbito), para efeitos ainda mais enfticos.

    Outra abordagem sobre o significado de intensidade em msica a emocional. Intensidade importante caracterstica artstica dos grandes msicos. Sem ela, a msica se tornar emocionalmente burocrtica para o ouvinte. O desenvolvimento dessa importante caracterstica musical dever ser estimulado pelo professor, ao longo de toda a formao do estudante.

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    Para que se torne fluente e natural, h necessidade de longos perodos de experimentaes e consequentes exageros, acompanhados pelo professor, para que o aluno perceba seus limites e saiba utiliz-los de maneira apropriada.

    Essa qualidade exige do instrumentista interpretao pessoal, que vai alm das indicaes da partitura feitas pelo compositor. Exige personalidade e controle emocional que devero ser habilmente utilizados pelo intrprete ao longo da apresentao.

    Aprender como alcanar e regular a intensidade uma considervel realizao e, por isso, deveria fazer parte da metodologia de trabalho de todos os professores de trompete. Devemos estar dispostos a praticar, experimentar e cometer erros ocasionais na esperana de nos expressar com convico.

    1.1.5 Fraseado - A frase pode ser pensada como sentena musical. Ela expressa um pensamento musical, que poder ser completo ou parcial. Pode expressar raiva, alegria, tristeza, senso de humor ou qualquer outra expresso emocional especfica ou abstrata. Frasear exige alternncia constante de tenso e relaxamento; possui incio, meio e fim; e pontos altos e baixos. Essa a estrutura com a qual as criaes musicais so construdas, e apesar de estruturadas utilizam subjetividade e merecem ateno.

    Algumas frases so completas e devem ser tocadas de maneira a sugerir definitivamente uma concluso. Outras so incompletas ou inconclusivas, ou talvez existam parcialmente em uma voz e sero concludas por outra. Vrias partes de uma frase, executada por diferentes pessoas, devero ter o mesmo padro estilstico. A durao das notas, articulao, vibrato, nvel de volume e intensidade devero estar em absoluta harmonia. A amplitude da frase deve ser cuidadosamente explorada. necessrio descobrir os pontos de tenso e momentos de relaxamento inerentes em todas as frases.

    Frasear para um msico semelhante linha de texto para um ator. Ritmo, respirao, volume e inflexo so veculos utilizados para dar clareza e sentido. Necessidades musicais e tcnicas podero ser compreendidas de maneira mais eficaz se forem objeto de estudo antes de serem interpretadas com o instrumento.

    1.1.6 Balano - ser inicialmente entendido como o equilbrio entre as vozes musicais. Sejam elas tocadas por instrumentos do mesmo naipe ou por instrumentos distintos.

    Esse equilbrio dever ter diferentes critrios para ser alcanado. Na prtica de conjunto, o professor deve estar atento a esses critrios e lembr-los aos alunos sempre que necessrio, at tornar-se um hbito. Existe o balano entre dois ou mais msicos do mesmo naipe, existe o balano entre uma seo inteira de metais ou num grupo de msica de cmera e tambm h o balano entre os grandes naipes de uma orquestra.

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    Os fatores determinantes para o bom equilbrio entre as vozes de um naipe e entre os naipes so a liderana e o desenvolvimento musical de seus lderes, ou seja, as primeiras estantes.

    Suas interpretaes podero ser lricas e delicadas como as de um solista ou ser poderosamente sonoras e vibrantes como as de um lder23 de um grande grupo de metais.

    Para desenvolver essas habilidades e influenciar seu naipe ou um grande grupo, h necessidade de praticar sob orientao de um professor habilitado, alm de conhecimento musical para se adequar aos diferentes estilos musicais, bem como disciplina para reproduzir aquilo que o maestro deseja naquele momento. Ser necessrio conquistar essa disciplina, adquirida atravs da prtica bem orientada, pois a responsabilidade pelo equilbrio entre as vozes do naipe e o equilbrio entre os naipes ser dos lderes.

    A liderana entre os pares no dever ser conquistada atravs do ato de tocar mais forte ou mais agudo. A liderana vir pela qualidade na interpretao, pela articulao correta e adequada ao estilo proposto e, principalmente, pelo respeito e reconhecimento conquistados com o tempo. Esse conceito de liderana tambm dever ser trabalhado pelo professor, durante os anos de estudo, pois exige amadurecimento intelectual do estudante para que entenda de fato quais as qualidades importantes para ser lder de naipe.

    Alm da influncia dos lderes sobre seus naipes, devemos lembrar que todos os envolvidos na execuo de uma pea musical tm sua parcela de responsabilidade na busca por um equilbrio adequado. Independentemente de sua posio no naipe, o msico dever ouvir o som do lder, do grupo e tambm observar as orientaes do maestro.

    Para que um naipe tenha balano, tenha equilbrio, dever observar e respeitar algumas regras de conduta musical bastante simples e bsicas:

    1. Tocar afinado 2. Ouvir o som do chefe de naipe, pois ele ser a referncia de volume e

    interpretao. 3. Iniciar o som e cort-lo de forma precisa, com seu lder de naipe. 4. No usar vibrato se a 1 estante no o fizer.

    Os resultados musicais mais expressivos ocorrem, quando todos os envolvidos esto cientes de suas obrigaes.

    23Lder, chefe de naipe, primeira estante, primeiro trompete so expresses usadas para qualificar o msico responsvel pelo naipe. Responsvel por: equilbrio, timbre e execuo; bem como perante o maestro

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    1.2 Influncias No Musicais

    Um msico sensvel influenciado no somente pela msica que ouve, mas por tudo que o cerca. Essa matria prima est disposio de todos, no entanto poucos so os que se apropriam dela.

    Ao estimular um estudante de msica a pensar e refletir, o professor pode torn-lo mais questionador e faz-lo chegar s concluses com autonomia. Isso dever refin-lo como msico. Considerado esse desenvolvimento, vislumbra-se a possibilidade da evoluo musical ao estudar outras reas do conhecimento.

    Entender uma obra musical requer tambm conhecimento sobre o contexto em que foi composta. O conhecimento das preceptivas interpretativas, que dizem respeito a um determinado perodo, dever conduzir o intrprete a uma execuo fundamentada.

    Desenvolvimento musical no depende somente de habilidades tcnicas, mas inclui valores estticos e artsticos que possam motivar o desenvolvimento delas. Ser um trompetista habilidoso insuficiente; precisa tambm ser culto. Alcanar alto nvel de musicalidade requer, alm de longos e concentrados perodos de prtica, o desenvolvimento intelectual.

    Estabelecer os estudos, dia aps dia, ano aps ano; passar por escalas, notas longas, arpejos, flexibilidade e conviver com frustraes, ansiedades, desapontamentos (inevitveis na busca pela excelncia), deveria integrar a vida do trompetista. Entretanto essa rotina poder ter sentido menos tcnico e mais artstico, se embasada por referncias no musicais, adquiridas para dar sustentao e perspectiva ao objetivo proposto, por exemplo, a interpretao de um concerto para trompete e orquestra.

    O estudante deve conhecer o concerto pelo olhar histrico, entender como a sociedade se comportava na poca em que o concerto foi composto, saber onde o concerto foi interpretado inicialmente, conhecer a vida do compositor; enfim, adquirir informaes que possam ambientar o msico e dar-lhe perspectiva, mesmo que aproximada, histrica e social daquela obra musical e, principalmente, conhecer as preceptivas musicais, ou seja, os tratados de interpretao da poca.

    Todo esse conhecimento dever alterar substancialmente a relao entre o msico e a obra executada. Com isso, a plateia tambm ser beneficiada, pois ter diante de si interpretao esteticamente amparada em conhecimento tcnico e histrico.

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    Captulo 2 Popular

    2.1 Pedais

    A prtica diria de estudos no registro pedal (como j definido anteriormente) foi considerada por muitos trompetistas como forma de adquirir habilidade tcnica que permitiria ao trompetista tocar os graves, como os de um trombone; e os agudos, como os de uma flauta. Isso no verdade.

    Os mtodos para trompete mais utilizados como J. B. Arban, Max Schlossberg e Herbert L. Clarke no mencionam esses estudos. Sabemos que Clarke usava os pedais em suas apresentaes e tambm em suas aulas, mas por algum motivo nada diz sobre essa utilizao. Uma possvel explicao para a necessidade de ampliao do registro do instrumentista (especificamente na regio aguda do instrumento) deve-se ao surgimento de orquestras de dana e big-bands de jazz no comeo do sculo XX24.

    Essas novas formaes instrumentais e esse novo estilo de msica trouxeram tambm novos compositores e arranjadores, que ampliaram a utilizao do trompete dando-lhe a funo de solista e lder.

    Os estudos no registro pedal esto diretamente ligados a ampliao da tessitura do trompetista, no entanto h outros benefcios a citar.

    Estudar notas pedais permite ao instrumentista melhorar a percepo auditiva. Tocar nas extremidades do registro do instrumento uma tarefa difcil, tocar afinado ainda mais difcil. Esses estudos desenvolvem alto grau de preciso na afinao dos intervalos e no controle dos lbios, pois as notas dessa regio no soam claras e definidas. Quem definir o alvo ser o ouvido, e caber aos lbios estabelecer e manter a vibrao correta para a emisso daquela nota especfica.

    A qualidade do som, no registro pedal, no ser importante, mas inicialmente o som poder ser desagradvel. Esse som jamais ter a qualidade alcanada no registro normal do instrumento, e tornar-se- menos desagradvel na medida em que o trompetista evolui.

    Acreditamos que o benefcio mais importante, produzido atravs da prtica desses estudos, a evoluo das respostas fsicas do trompetista.

    Para se obter bons resultados, os estudos devero ser praticados com nvel de volume alto, som pleno, relaxado, centrado e, principalmente, afinado. A embocadura dever ser a mesma utilizada para os outros registros do instrumento.

    24Some Thoughts on Trumpet Pedal Tones. Mario F. Oneglia. September, 1972.

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    Um dos grandes problemas enfrentados pelos trompetistas o uso excessivo de fora muscular para a produo do som. A prtica de notas pedais oferece a oportunidade de enfatizar o relaxamento em vez da tenso; o fluxo de ar em vez do estresse muscular25.

    O estudo consciente e supervisionado de notas pedais mostrar que o trompetista depender mais de seu fluxo de ar e menos da rigidez dos msculos de sua embocadura.

    A prtica do registro pedal poder ser inserida na rotina, sem causar prejuzo s necessidades regulares de cada trompetista. Poder ser usado como aquecimento ou relaxamento, ao final de uma longa seo de trabalhos tcnicos.

    Outro fator importante a ser considerado o tempo utilizado para esse estudo. Alguns trompetistas praticam por aproximadamente 10 minutos, uma ou duas vezes ao dia. Outros o praticam por uma hora ou mais; nesse caso, acreditamos ser um tempo demasiadamente exagerado por vrios motivos.

    Esses exerccios so trabalhos de calistenia (a ser tratada posteriormente), sua prtica por longo perodo tornar-se- montona e repetitiva, o que provoca diminuio da concentrao.

    O tempo de estudo, os estudos especficos, o cuidado na manuteno da embocadura para sua prtica, a concentrao para manter os intervalos afinados, devero passar por anlise e acompanhamento criterioso de um professor. Esse professor dever estar habilitado para proceder com esse trabalho sob pena de causar muitos danos ao estudante sob seus cuidados, caso no tenha conhecimento para isso.

    Orientamos os professores a desenvolver o bom hbito de ler e entender os textos dos autores, praticar seus exerccios antes de aplic-los.

    2.2 Notas Agudas

    No existe rea que exera mais fascinao e seja responsvel por mais problemas para os trompetistas que o registro agudo. H muitos mtodos produzidos exclusivamente para tratar desse tpico, h professores que se especializaram em solucionar problemas com notas agudas, h no mercado um nmero cada vez maior de equipamentos desenhados para facilitar a expanso dos limites pessoais e h tambm trompetistas famosos que, com suas habilidades extraordinrias, transformaram o registro agudo num prmio a ser conquistado.

    As implicaes resultantes dessa obsesso criaram um mistrio a ser desvendado sobre como alcanar determinadas notas.

    25JOHNSON, Keith. The Art of Trumpet Playing. Denton, Texas. Gore Publishing, second edition, 1994, pp.88-89.

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    H intensa procura por instrumentos e bocais, construdos para facilitar a expanso da tessitura, exerccios fsicos extenuantes foram criados para garantir fora musculatura ao redor dos lbios, longos estudos para desen