Metodo em Marx

52
Araré de Carvalho Júnior

description

Marx diz, que se a aparência correspondesse imediatamente a essência do fenômeno não haveria necessidade da existência da ciência. A ciência se faz necessária por que aparência e essência não coincide imediatamente. A aparência sinaliza e revela, mas por outro lado mistifica, esconde, oculta, e ela necessita ser superada.

Transcript of Metodo em Marx

Page 1: Metodo em Marx

Araré de Carvalho Júnior

Page 2: Metodo em Marx

A discussão do método nas ciências humanae sociais é complicadíssima e em Marxespecialmente isso se torna mais complexono marxismo.

O referencial teórico marxista implica numadeterminada posição política em relaçãoaquilo que tá posto.

Page 3: Metodo em Marx

Outro problema é achar que o fim dosocialismo real era também o fim da teoriamarxista.

Mesmo no âmbito do pensamentoprogressista avançou equivocadamente. Seatribuiu a Marx um problema que transcendeo fim do socialismo.

Há uma crítica pós-moderna que atribui osproblemas que temos hoje a construção darazão moderna.

Page 4: Metodo em Marx

O Marx é um pensador na modernidade.

Esse pensamento pós-moderno não faz umadistinção entre as diferentes visões damodernidade. Tem viés que faz uso da razãoinstrumental (positivismo) e também teve umperfil revolucionário. Tratam Conte e Marxcomo se fossem a mesma coisa.

O marxismo hoje em dia é uma teoria avessaa ambiência cultural contemporânea.

Page 5: Metodo em Marx

O debate pós-moderno tem reduzido odebate a disputa epistemológico.

Marx tem preocupações epistemológicos.Mas a preocupação central de Marx é decaráter Ontológico.

O epstemologismo reduz o homem aoconhecer. De maneira a reduzir a linguagem,a ciência a jogos de linguagem e a conceitosintersubjetivos. Porque o real deixa de serreferencia para elaboração de enunciadoscientíficos e teóricos.

Page 6: Metodo em Marx

Não queremos diminuir a importância daepistemologia, mas em Marx a epistemologiaestá subsumida a ontologia.

A ontologia é um ramo da filosofia queestuda a teoria do ser. O que os seres são.

Entre aquilo que os seres são está também acapacidade de conhecer, que é o ramo daepstemologia.

Page 7: Metodo em Marx

Como se dá a relação sujeito-objeto naapropriação do conhecimento. Naapropriação ideal do movimento do real.

Atualmente estamos muitos inseridos dentrode um debate epistemológico.

O que os seres são sob determinado contexto histórico. O esforço investigativo de Marx não foi de debater o de como conhecer, mas o de conhecer determinado objeto.

Page 8: Metodo em Marx

Mas há em Marx pequenos apontamentosmetodológicos na Miséria da filosofia e aintrodução de 1857.

Marx não quer criar uma nova ciência dalógica, mas entender a lógica da sociedade(burguesa).

Page 9: Metodo em Marx

Na universidade Marx se filia juventudehegeliana.

As circunstancias políticas mudam.Nomeação de Schelling principal inimigo deHegel.

Marx vai trabalhar na gazeta Renana, se tornaeditor chefe.

E vai ‘cobrir’ um acontecimento no sul daAlemanha.

Page 10: Metodo em Marx

Jovem Marx

Page 11: Metodo em Marx

Havia um direito consuetudinário, naquelaregião, que concedia aos pobres da região odireito de adentrar nas propriedades ruraisque produziam lenha e catar os restos quenão eram aproveitados.

Marx na condição de jornalista é chamado anoticiar o acontecimento.

Ele escreve um artigo no qual ele se coloca dolado dos catadores de lenha.

Page 12: Metodo em Marx

Marx na época Jornalista da Gazeta Renana

Page 13: Metodo em Marx

Gazeta Renana - 1839

Page 14: Metodo em Marx

No entanto Marx percebe que seu referencialteórico (até então hegeliano) diverge da suaopinião. Hegel defendia a propriedadeprivada.

Marx se vê numa encruzilhada, se coloca afavor dos catadores por questão de princípiomas do ponto de vista teórico não temclareza a respeito do que tinha escrito.

Page 15: Metodo em Marx

Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 -Berlim, 14 de novembro de 1831)

Page 16: Metodo em Marx

Marx tem um objeto de estudo a partir dessadiacronia: Que tipo de sociedade é essa emque a propriedade vem primeiro que aspessoas?

A gênese do objeto marxista

A primeira hipótese que ele tem é que issotem a ver com a política.

Page 17: Metodo em Marx

E portanto o primeiro movimento de entenderesse objeto vai ser no sentido de entenderquais as determinações de ordem política queatuam nesse problema.

Marx nesse processo inicial tá preocupa emconhecer um determinado objeto, umadeterminada de ser. O que é essa ordemsocial e o que somos nela?

Page 18: Metodo em Marx

Toda carreira do Marx a partir daí vai ser prase enriquecer como sujeito investigador praentender esse objeto. (nesse objeto jáaparece a questão ontológica).

Marx cria seu arsenal categorial tentandoentender aquele objeto que ele se pôs: Asociedade burguesa.

Page 19: Metodo em Marx

Ele vai pra sua lua de mel, achando que oproblema está na política, na relação Estado esociedade civil (em partes ainda, influenciadopela crítica da filosofia do direito de Hegel).

A partir da influência de Feuerbach chega aseguinte conclusão: “Em Hegel Estado eSociedade Civil estão invertidos. O que épredicado aparece como sujeito e o que ésujeito aparece como predicado”.

Page 20: Metodo em Marx

Jenny von Westphalen (de 1843 a 1881)

Page 21: Metodo em Marx

Assim como Feuerbach fez na essência docristianismo, quando diz que não foi deusque criou os homens, mas sim os homensque criaram deus e se alienaram a ele edeixando de ser sujeito e se coloca comopredicado.

Marx faz a mesma coisa ao entender arelação entre sociedade civil e Estado.Discussão que vem desde Maquiavel.

Page 22: Metodo em Marx

Ludwig Feuerbach (Landshut, 28 de julho de 1804- Rechenberg, Nuremberg, 13 de setembro de1872)

Page 23: Metodo em Marx

Hegel tinha a mesma apreensão da sociedadecivil que a de Hobbes. Entende a sociedadecomo um todo caótico formado por “lobos” eque cabe ao Estado organizar essas paixões.

Marx tem uma grande e primeira sacada.Sociedade civil e Estado constituí uma mesmaunidade.

O Estado é a expressão jurídica de umadeterminada sociedade civil.

Page 24: Metodo em Marx

Eu não vou entender o que é o Estado e o queé a política se eu não entender o que é essasociedade civil. A sociedade civil burguesa.

Fecha a Gazeta Renana e se põe numprocesso de auto exílio.

Lá encontra outros refugiados alemães efranceses que militam no movimentosocialista.

Page 25: Metodo em Marx

Funda a revista, Anais franco-alemães.

Recebe pela primeira vez um texto que tratade uma crítica a economia política, esse textocai como um raio para Marx.

Esse esboço era de Friedrich Engels. Ele vaiperceber que ele não pode entender o Estadosem entender a sociedade civil.

Page 26: Metodo em Marx

Anais Franco-Alemães -1844

Page 27: Metodo em Marx

Friedrich Engels (Barmen, 28 de novembro de 1820 — Londres, 5 de agosto de 1895)

Page 28: Metodo em Marx

Os primeiros resultados desses estudosiniciais de economia política vai estarpresente nos Manuscritos, onde ele trata daAlienação do Trabalho.

Já resultado da sua aproximação do debateda economia política.

Depois de ler Smith e Ricardo, Marx escreve AMiséria da Filosofia, e desenvolve a categoriada totalidade.

Page 29: Metodo em Marx

“De início pode ser adiantado que sedeterminado fato é um todo composto departes, leis e relações conectadas entre si eem movimento, resulta queadesarticulação e a fragmentação dessetodo opera uma amputação do mesmo eelimina a possibilidade de conhecê-lo comotal. O conhecimento de uma região do todonão é ainda conhecimento do todo, porqueo conhecimento de partes isolados doconjunto não é conhecimento nem daspartes e nem do conjunto”.

Page 30: Metodo em Marx

O próprio Marx dá inúmeros exemplos da justezadessa assertiva, que revela uma questão de método,e é esse o procedimento que ele emprega, em OCapital, na construção do próprio conceito decapital. (5) Em O Capital, com efeito, o conceitode capital (entre outros) construído no “Livro I” sóserve para elucidar toda a análise teóricaintermediária e que, num crescendo, vai atingir suaconcretude máxima no “Livro III”, quando aqueleconceito inicial deve dar lugar ao conceito de capitalfinalmente entendido no âmbito das determinaçõesmais concretas - de modo que “(...) os dois primeirostomos não ultrapassam a análise do ‘capital emgeral’, enquanto o terceiro supera esse limite,fazendo a passagem para a análise da ‘pluralidadede capitais’ e de suas inter-relações, ou seja, docapital que existe ‘na realidade’” (Rodolsky, 2001,p.69).

Page 31: Metodo em Marx

Por exemplo: a mercadoria e, dentro dela,trabalho, valor, mais-valia etc., são oselementos simples decisivos, na ausência dosquais, todavia, sem viagem de retorno, jamaiso analista lograria caracterizar o todo(população, sociedade etc.) como uma sínteseverdadeiramente dialética.

Page 32: Metodo em Marx

O capital, de Marx, começa (...) com a análise damercadoria. Mas, como a mercadoria é uma célulada sociedade capitalista, como é o início abstratocujo desenvolvimento reproduz a estrutura internada sociedade capitalista, tal início da interpretaçãoé o resultado de uma investigação, o resultado daapropriação científica da matéria. Para a sociedadecapitalista a mercadoria é a realidade absoluta,visto que ela é a unidade de todas asdeterminações, o embrião de todas as contradições(...). Todas as determinações ulteriores constituemmais ricas definições ou concretizações deste“absoluto” da sociedade capitalista (...). Nainvestigação o início é arbitrário... (idem, o. 31-32).

Page 33: Metodo em Marx

Método da economia política. O ponto departida é o concreto. A realidade empírica doreal. A aparência fenômica do real.

Sua materialidade imediata do real.

A femenologia coloca a dúvida se existediferença entre a aparência e a essência.

Page 34: Metodo em Marx

Marx diz, que se a aparência correspondesseimediatamente a essência do fenômeno nãohaveria necessidade da existência da ciência.

A ciência se faz necessária por que aparênciae essência não coincide imediatamente.

A aparência sinaliza e revela, mas por outrolado mistifica, esconde, oculta, e elanecessita ser superada.

Page 35: Metodo em Marx

Para superar é preciso Negá-la e negar não éo cancelamento da aparência. Mas é cancela-la temporariamente.

A aparência é um dos momentos do real, masnão é toda verdade.

É necessário, por meio de abstrações,identificar o que há pra além da expressãofenomênica imediata (aparência).

Page 36: Metodo em Marx

Para Marx cabe a abstração ir além do dadoinicial, que por carecer de determinaçõesencontra-se demasiadamente abstrato.

Ex. da Cadeira, o concreto imediato. Acadeira é objeto que você se senta, masminha cadeira é mais confortável que a devocês. Cadeira também representa umhierarquia social. A cadeira do vendedor, dogerente do diretor e do dono são diferentes.

Page 37: Metodo em Marx

Se eu tomo que cadeira é um objeto no qualse senta, me parece que por essa definiçãoque todas as cadeiras são iguais.

Isso quer dizer que esse conceito estádemasiadamente abstrato.

Se eu olho pra cadeira e só vejo um objetocomo se senta o problema está em mim enão na cadeira. Me falta enriquecimentoteórico como sujeito.

Page 38: Metodo em Marx

As cadeiras são feitas em linhas de produção,isso representa o avanço das forçasprodutivas e certa relação de produção.

Ao olhar pra cadeira dependendo de comoestou enriquecido eu posso ver menos oumais coisas.

Me enriqueci de mediações para conseguirfazer uma abstração recheada de mediações.

Page 39: Metodo em Marx

Por isso o marxismo não tem conhecimento apriori, por isso que é objeto que determinaminhas categorias.

Eu não vou entender cadeira se eu nãoconhecer relações sociais de produção, eunão vou entender cadeira se não entenderhierarquia.

Page 40: Metodo em Marx

A essência supõe processualidade. Ser é vir aser.

Pela própria especificidade do gênerohumano.

Abstração é uma faculdade fundamental etambém indeterminada.

“isso aí tá muito abstrato, está poucosaturado de determinações”.

Page 41: Metodo em Marx

Mas toda e qualquer elaboração terá um certograu de abstração, maior ou menor.

Devemos ir de abstrações maisindeterminadas para abstrações maisconcretas.

E no caminho de volta entendemos asdeterminações que compõem o objeto.

Page 42: Metodo em Marx

O processo investigativo requer da relaçãosujeito-objeto enriquecimento constante dosujeito. Que passa pela apropriação doconhecimento, dos fundamentos e de umaformação teórica razoável.

Investigar é buscar determinações do objeto.O conhecimento sobre tal assunto tanto serámaior quanto mais for saturado dedeterminações.

Page 43: Metodo em Marx

O verdadeiro é o todo. É o reconhecimentoque a sociedade é um complexo decomplexos é um todo articulado.

Que tem uma lógica que é possível de serapreendida racionalmente. E mais, que podeser intencionalmente transformada peloshomens.

Page 44: Metodo em Marx

Se eu digo que aparência e essência são asmesma coisa, eu to tomando o existentecomo aquilo que tá posto, sem possibilidadenenhuma de superação.

Ao final tem se a impressão que foi o pensamento que construiu a complexão. A complexão já estava na realidade, o pensamento a reproduziu materialmente.

Page 45: Metodo em Marx

Conhecimento é tão mais verdadeiro quantomais estiver mediado de saturações edeterminações.

Estamos num momento que temos quedefender políticas e direitos sociais. Não souadepto do quanto pior melhor. Temos quegarantir patamares de civilidade. Nãoconsidero que isso seja emancipaçãohumana. Mas acredito que seja condiçõespara que um dia haja essa emancipação.

Page 46: Metodo em Marx

A própria natureza do real é constanteprocessualidade. Impõe limites aoconhecimento dela. A única coisa ortodoxaem Marx é a Dialética.

Há de se combinar gênese e odesenvolvimento.

Page 47: Metodo em Marx

Karl Marx

Page 48: Metodo em Marx

Há do ponto de vista do pensamentomarxiano a ideia que a classe revolucionáriada sua época é a que tem o ponto de vistamais objetivo na análise dos fenômenossociais.

Mas isso não é garantia de uma boa pesquisa.Colocar-se do ponto de vista do proletariadonão garante uma boa pesquisa se não houverum enriquecimento do pesquisador.

Page 49: Metodo em Marx

O que e verdade? É a adequação da teoria a realidade.

A prática social é o critério de verdade. Feita a elaboração, tenho que testá-lo.

O que Engels chamava da “prova do pudim”.

Page 50: Metodo em Marx

Marx é um pensador do séc. XIX. Marx éabsolutamente necessário por um lado, pravocê entender o contemporâneo. Mas nãoconseguimos entender esse contemporâneosó por Marx, ele é insuficiente.

Se trata de enriquecer as temáticas não comfundamentalismo.

Page 51: Metodo em Marx

Uma boa tradição marxista é aquela que seapoie numa eterna revisão, não revisionismo,mas com principio dialético e dialógico.

A ciência se faz com dúvida, a política comconvicção.

Page 52: Metodo em Marx

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883)