METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA

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  • 7/25/2019 METAFICO HISTORIOGRFICA

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    METAFICO HISTORIOGRFICA:"O PASSATEMPO DO TEMPO PASSADO" Hutcheon, Linda, 1947-

    Potica do ps-modemismo: histria, teoria, fico/ Linda Hutcheon traduo !icardo "m#$ - !io de %aneiro: &ma'o(d$, 1991$)19*7+

    Pode faar da autora, do seu enoimento do .ue chamamos de ps-modern)ismo/ade+$ "ontetuai#ar o prprio

    iro e depois che'ar no cap0tuo sore metafico$"omear com a histria da iteratura ps-moderna$-2iscutir o prprio t0tuo- 3o'ar a per'unta o .ue o passatempo)%565+ do tempo passado )ir no ori'ina+8odas essas .uestes - su3etiidade, intertetuaidade, referncia,ideoo'ia - esto por tr;s das reaes proemati#adas entre a histria e afico no ps-modernismo< )P$1=>+

    - 5?%(8&@&2A2( e Beutraidade) Bo confiem em nin'um com mais de C>+

    Bo scuo D&D, peo menos antes do adento da Ehistria cient0ficaE de !anFe, a iteratura e ahistria eram consideradas como ramos da mesma ;rore do saer$

    -!eaismo e historicismo$ As ideias de 8aine$ "andido$reao Gpossiiidade de escreer factuamente sore a reaidade oser;e )&$ hite197=,IJ+$ (ntretanto, essa mesma separao entre o iter;rio e o histrico .ue ho3e se contestana teoria e na arte ps-modernas, e as recentes eituras cr0ticas da histria e da fico tm seconcentrado mais na.uio .ue as duas formas de escrita tm em comum do .ue em suasdiferenas$e 7> )ater'ate fime+ Oica eidente o impacto dessa noa mistura entre fico e fato sore ahistria popuar, se no sore a acadmica

    5 !omance no- ficciona uma tentatia de unificao asouti#ao, uma tentatia domodernismo \ caro .ue a metafico historio'r;fica se en.uadra paradoamenteWnas duas definies: ea estaeece a ordem totai#ante, s para contest;-W&a, com sua proisoriedade, sua intertetuaidade e, muitas e#es, sua fra'1mentao radicais$

    Parte IA #ist$ria % triir&c&sio&aI' E(a participa a &at!re)a a ci*&cia+ aarte eda fiosofia$"ouis #ottschalk

    -1JJ ]

    5s romances ps-modernos eantam, em reao G interao da historio'rafia com a fico,diersas .uestes espec0ficas .ue merecem um estudo mais detahado: .uestes .ue 'iram emtomo da nature#a da identidade e da su3etiidade: a .uesto da referncia e da representao anature#a intertertetua do passado e as impicaes ideo'icas do ato de escreer sorea histria$(mora eas se3am aordadas posteriormente, em cap0tuos distintos, a esta atura umree panorama ir; mostrar em .ue ponto essas .uestes se en.uadram na potica do ps-modernismo$, J+, e eatamente essa traduo .ue constituiosesso para a fico ps-moderna$ Assim sendo, tanto na historio'ranacomo nos romances as conenes da narratia no so restries,mas condies .ue permitem a possiiidade de atriuio de sentido CW.(P.160)

    (, oiamente,

    a .uesto .ue com isso se reaciona a de saer como se desenoemessas fontes documentais: ser; .ue podem ser narradas com o3etiidadee neutraidade 5u ser; .ue a interpretao comea ineitaemente aomesmo tempo .ue a narratii#aoA .uesto epistemo'ica referente maneira como conhecemos o passado se reMne G .uesto onto'ica referenteaostatus dos est0'ios desse passado$ Bem preciso di#er .ue a coocaops-moderna dessas .uestes oferece poucas respostas, mas essaproisoriedade no resuta numa espcie de reatiismo ou de presentismohistrico$ (a re3eita a pro3eo de crenas e padres atuais sore opassado e afirma, em termos i'orosos, a especificidade e a particuaridadedo acontecimento passado indiidua$ Bo entanto, tamm percee.ue estamos epistemoo'icamente imitados em nossa capacidade de conheceresse passado, pois somos ao mesmo tempo espectadores e atoresno processo histrico$ A metafico historio'r;fica su'ere uma distinoentre EacontecimentosE e EfatosE .ue compartihada por muitos historiadores$)1=1+

    Bo pretendo su'erir .ue este se3a um insight noo e radica$ (m191>, "ar ?ecFer disse .ue Eos fatos da histria no eistem para nenhumhistoriador, at .ue ee os crieE )1=I+ &nsi'ht dos historiedores em er as fontes, documentos eest0'ios historicos no como proa mais como si'no a ser associado e )re+si'nificado$

    Oato Acontecimento: essa mesma diferena entre acontecimentos ).ue no tm sentidoem si mesmos+ e fatos ).ue receem um sentido+ .ue o ps-modernismo

    enfati#a osessiamente$

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    *A I,TERTE-T.A/IDADE+ A PAR0DIAE OS DISC.RSOS DA HIST0RIA 1p'2345& a pus affaire G interprter es interprtations .uTG interprter es choses,

    et pus de ires sur es ires .ueSUl"

    autre su3et: nous ne faison .uenous entre'oser$ MOlltaigne

    - O ps tentou romper o formalismo e experimentalismo solipicista e se abrir,como diria Said para o mundo. as no mais com a inocncia do #ealismo ete$e de se render a metafic%o &istorio'r(fica.

    ( uma espcie de pardia seriamente irZnica .ue muitas e#es permite essa dupicidadecontraditria: os intertetos da histria assumem umstatusparaeo na reeaorao pardica dopassado tetua do EmundoE e da iteratura$A incorporao tetua desses passados intertetuais como eementoestrutura constitutio da fico ps-modernista funciona como

    uma marcao forma da historicidade - tanto iter;ria como EmundanaE$

    -he Post!Moern #ura )AAura doPs-oderno - 19*J+, "hares BeNman comea por definir a arte ps-modernacomo um Ecoment;rio sore a histria esttica de .ua.uer 'neropor ea adotadoE )44+$ Portanto, seria uma arte .ue considera a histriaem termos meramente estticos )J7+$ (ntretanto, ao propor uma ersoamericana do ps-modernismo, ee aandona essa definio intertetuametaficciona e considera a iteratura americana como uma Eiteraturaseminfuncias ;sicasE, Euma iteratura cu3os pais no so conhecidosE, .uesofre da Ean'Mstia da n$o!in%lu&ncia" )*7+$Beste cap0tuo eu 'ostaria deconcentrar minha discusso asicamente sore a fico americana, com o

    o3etio de responder Gs afirmaes de BeNman por meio do eame dosromances de autores como 8oni orrison, ($ L$ 2octoroN, %5 ?arth, &shmae!eed, omas PKnchon, sendo .ue todos anam sore .uais.uerdecaraes desse tipo o .ue considero como uma dMida ra#o;e$

    Assim, .uando esse passado o per0odo iter;rio conhecido por modernismo,conforme erificamos em cap0tuos anteriores, o .ue inseridoe depois suertido a noo da ora de arte como um o3eto fechado,auto-sufciente e autZnomo .ue otm sua unidade a partir das inter-reaesformais de suas partes$

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    5 .uestionamento ao autor autoria, antes nos (A a fa;cia incarnaciona, 4=+, e a intertetuaidade decarada da metafico historio'raficafunciona como um dos sinais tetuais dessa compreenso ps-moderna$

    Assim como a ar.uitetura e a pintura ps-modernas, a metafico historio'r;0ca decarada e resoutamente histrica - emora admita .ue ose3a de uma forma irZnica e proem;tica .ue reconhece .ue a histriano o re'istro transparente de nenhuma EerdadeE indiscut0e$ (me#disso, ta fico confirma as ises de historiadores como 2ominicF La"apra,.ue afirmam .ue Eo passado che'a na forma de tetos e de est0'iostetuai#ados - memrias, reatos, escritos puicados, ar.uios, monumentos,etc$E )19*Ja, 1I*+ e .ue esses tetos intera'em de formas compeas$

    &sso no ne'a, de forma a'uma, o aor da redao da histriaapenas redefine as condies de aor$ "onforme imos, utimamente )1=*+

    Portanto, a metafico historio'r;fica representa um desafio Gs formas conencionais)correatas+ de redao da fico e da histria, com seu reconhecimento em reao G ineit;etetuaidade dessas formas$ "5BQ8!85 2(BA!!A8&@&2A2( (&B8(!8(D8AL&2A2( )A!"AQ 25 PQ+

    &B8(!8(D8AL&2A2( ) ABB, 2AB8(, "(!@AB8(Q+ 5&B8(!2&Q"!Q5) ?&56!AO&A, 8(5!&A, PQ&"ABAL&Q(, Q5"&5L56&A+

    ( no ps-modemismo

    americano, o diferente em a ser def&nido em tem5Q particuari#antescomo os de nacionaidade, etnicismo, seo, raa e escoha seua$ A pardiaintertetua dos c;ssicos canZnicos americanos e europeus umadas formas de se apropriar da cutura dominante ranca, mascuina, casse-mdia, heterosseua e eurocntrica, e reformu;-&a - com mudanassi'nificatias$ (a no re3eita essa cutura, pois no pode fa#-&o$ 5 psmodernismoindica(DPL&"A! A 2&O(!(BSA 25 PQ-52(!B&Q5 O!AB"(Q L565"(B8!&"5 ( 5A(!&"AB5Parodismo americano como forma de suerso ao cVnone socia e iter;ria onde a s;tira po0tica e apardia se reMnem para atacar as ideoo'ias eurocntricas rancas de dominao$-Bata do futuro e christimas "aro de 2icFens e outros eempos de pardias eintertetos) diretos e potenciais peos eitores+

    Parte IIIQForecFK sae .ue a ora de 2oraF antecipa o ps-moderno )incusiesua prpria pr;tica+ tanto na intertetuaidade pardica como na misturade formas art0sticas popuares e eeadas$ Ba metafico historio'r;fica,no so apenas a iteratura )sria ou popuar+ e a histria .ue formam osdiscursos do ps-modernismo$ 8udo - desde os .uadrinhos e os contosde fadas at os amana.ues e os 3ornais - fornece intertetos cuturamenteimportantes para a metafico historio'r;fica$< )p$17C+

    - Portanto, a metafico historio'r;fica parece disposta a recorrer a.uais.uer pr;ticas de si'nificado .ue possa 3u'ar como atuantes numa sociedade$(a .uer desafiar esses discursos e mesmo assim utii#;-&os, e ataproeitar dees tudo o .ue ae a pena$

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    EA documentao, os sistemas de osesso, as in'ua'ens docomrcio, do sistema e'a, da cutura popuar, da puicidade: centenasde sistemas competem entre si, resistindo G assimiao a .ua.uer paradi'maconsa'radoE )au'h 19*4, C9+$5Q8!A! (D(PL5 2A 5?!A 2( P&"H5B

    essa seriedade ;sica .ue os cr0ticos fre.entemente no conse'uem ener'ar .uando acusamo psmodernismo de ser irZnico - e, portanto, superficia$ A suposio parece ser a de .ue, dea'uma forma, a autenticidade da eperincia e da epresso incompat0e com a dupaenunciao e/ou o humor$ (ssa iso parece ser compartihada no apenas por cr0ticos maristas6ameson 19*4a, (a'eton 19*J+, mas tamm por a'umas cr0ticas feministas$ (, apesar disso,foram as autoras feministas, 3untamente com os ne'ros, .ue utii#aram essa intertetuaidadeirZnica com esses fortes o3etios ] tanto ideo'ica como esteticamente )como se, na erdade,os dois pudessem ser separados de modo to f;ci+$ )p$17J+$

    - @;rios eempos de p;rodias de autores americanos, J pa'0nas+ ) esses caractereces umaoserao de oras americanas indu#ido a uma teoria, ou uma teoria apicada a romances

    americanos por escoha aeatria+$5 ps-modernismoprocura nitidamente comater o .ue acaou sendo considerado como opotencia do modernismo para o isoacionismo .ue separaa a arte e omundo, a iteratura e a histria$ Porm, muitas e#es ee o fa# utii#andocontra si mesmas as prprias tcnicas do esteticismo modernista$ antmsecuidadosamente a autonomia da arte: a auto-reieiidade meta1ccionache'a a enfati#;-&a$"ontudo, por meio da intertetuaidade aparentementeintroertida, outra dimenso acrescentada pea utii#ao das irZnicasinerses da pardia: a reao cr0tica da arte com o EmundoE do discurso- e, por intermdio deste, com a sociedade e a po0tica$ 8anto a histria

    como a iteratura proporcionam os intertetos nos romances a.ui eaminados,mas no se co'ita nenhuma hierar.uia, imp0cita ou no$ Amas fa#emparte dos sistemas de si'nificao de nossa cutura, e a0 est; seusentido e seu aor$

    -1*I-