Memorial Do Convento Caracteristicas

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    O Memorial do

    Convento,de Jos Saramago(1982)

    Apontamentos

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    apontamentos

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    Linguagem e estilo

    Cada frase, ou discurso, ou o perodo, cria-sedentro de mim mais como uma fala do quecomo uma escrita. A possibilidade daespontaneidade, a possibilidade do discurso emlinha reta, enfim, a direito, muito maior do quese eu me colocasse na posio de quemescreve. No fundo, ao escrever estou colocadona posio de quem fala.

    Jos Saramago, in Conversas, Mrio Ventura, Publ. Dom Quixote, 1986

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    Linguagem e estilo

    Uma das caractersticas mais notrias de JosSaramago a utilizao peculiar da pontuao.

    Principal marca: nas passagens do discursodireto:

    eliminao do travesso e dos dois pontos;

    a substituio do ponto de interrogao e de outros sinais de

    pontuao pela vrgula; sendo o incio de cada fala apenas assinalado pela

    maiscula.

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    LER EM VOZ ALTA

    "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pr

    alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morro da candeia que

    estava comendo a luz e ento, sendo tanta a claridade, pde Sete-Sis dizer, Por que foi que

    perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha me o quis saber e queria que eu o

    soubesse, Como sabes, se com ela no pudeste falar, Sei que sei, no sei como sei, no faas

    perguntas a que no posso responder, faze como fizeste, vieste e no perguntaste porqu, E agora, Se

    no tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho l famlia, Mulher, Pais e uma irm,

    Fica, enquanto no fores, ser sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque

    preciso, No razo que me convena, Se no quiseres ficar, vai-te embora, no te posso obrigar, Notenho foras que me levem daqui, deitaste-me um encanto, No deitei tal, no disse uma palavra, no te

    toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que no o fars e j o fizeste,

    No sabes de que ests a falar, no te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo."

    [pg. 56]

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    ao - estrutura

    A obra est dividida em 25 captulos, apesar deestes no estarem numerados ou titulados, que

    correspondem ao mesmo nmero desequncias narrativas na estrutura interna.

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    Narrador (quanto participao)

    Geralmente, HETERODIEGTICO (surge naterceira pessoa e no participa na ao)

    PORM, por vezes, assume o ponto de vista dealgumas personagens (assumindo a primeirapessoa do singular e at do plural)HOMODIEGTICO

    Isso acontece porque o narrador assume opensamento de algumas personagens

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    NARRADOR (focalizao)

    Geralmente, o narrador assume umafocalizao omnisciente

    Tem uma perspetiva transcendente emrelao s personagens e move-se

    vontade no tempo, saltando facilmenteentre passado, presente e futuro.

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    Focalizao omnisciente "Mas tambm no faltam lazeres, por isso, quando a comicho

    aperta, Baltasar pousa a cabea no regao de Blimunda e elacata-lhe os bichos, que no de espantar terem-nos osapaixonados e os construtores de aeronaves, se tal palavra jse diz nestas pocas, como se vai dizendo armistcio em vez depazes. " [pg. 91]

    "Mas em Lisboa dir o guarda-livros a el-rei, Saiba vossamajestade que na inaugurao do convento de Mafra segastaram, nmeros redondos, duzentos mil cruzados, e el-reirespondeu, Pe na conta, disse-o porque ainda estamos noprincpio da obra, um dia vir em que quereremos saber, Afinal,

    quanto ter custado aquilo, e ningum dar satisfao dosdinheiros gastos, nem facturas, nem recibos, nem boletins deregisto de importao, sem falar de mortes e sacrifcios, queesses so baratos. " [pg. 138]

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    Focalizao interna

    Outras vezes, o narrador assumemomentaneamente a perspetiva das personagens

    que vivem a ao, conferindo mais vivacidade everosimilhana narrativa.

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    EXEMPLO "Grita o povinho furiosos improprios aos condenados, guincham as

    mulheres debruadas dos peitoris, alanzoam os frades, a procisso umaserpente enorme que no cabe direita no Rossio e por isso se vai curvandoe recurvando como se determinasse chegar a toda a parte ou oferecer oespetculo edificante a toda a cidade, aquele que ali vai Simeo deOliveira e Sousa, sem mester nem benefcio, mas que do Santo Ofciodeclarava ser qualificador, e sendo secular dizia missa, confessava epregava, e ao mesmo, tempo que isto fazia proclamava ser herege e judeu,

    raro se viu confuso assim, (...) por toda a vida, e esta sou eu, SebastianaMaria de Jesus, um quarto de crist-nova, que tenho vises e revelaes,mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouo vozes do cu,mas explicaram-me que era demonaco, que sei que posso ser santa comoos santos o so, ou ainda melhor, pois no alcano diferena entre mim eeles, mas repreenderam-me de que isso presuno insuportvel eorgulho monstruoso, desafio a Deus, aqui vou blasfema, hertica,

    temerria, amordaada para que no me ouam as temeridades, asheresias e as blasfmias, condenada a ser aoitada em pblico e a oitoanos de degredo no reino de Angola (...)

    [pgs. 52-53]

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    PERSONAGENS

    D. JOO V

    D. Joo V representa o poder real absolutista quecondena uma nao a servir a sua religiosidadefantica e a sua vaidade.

    Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. Joo

    V assume apenas o papel gerativo de um filho e deum convento, numa dimenso procriadora, da qual aintimidade e o amor se encontram ausentes.

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    PERSONAGENS D. JOO V

    Amante dos prazeres humanos, a figura real construda atravs do olhar crtico do narrador,de forma multifacetada:

    o devoto fanticoque submete um pas inteiro aocumprimento de uma promessa pessoal (a construo doconvento, de modo a garantir a sucesso) e que assiste aosautos de f;

    o marido que no evidencia qualquer sentimento

    amoroso pela rainha, apresentando nesta relao umafaceta quase animalesca, enfatizado pela utilizao devocbulos que remetem para esta ideia (como a formaverbal" emprenhou" e o adjetivo "cobridor");

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    o megalmanoque desvia as riquezas

    nacionais para manter uma corte dominado peloluxo, pela corrupo e pelo excesso;

    o rei vaidosoque se equipara o Deus nas suas

    relaes com as religiosas; o curioso que seinteressa pelas invenes do padre Bartolomeu deGusmo;

    PERSONAGENS D. JOO V

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    o estetaque convida Domenico Scarlattia

    permanecer em Portugal;

    o homem que teme a morte e que antecipa asua imortalidade, atravs da sagrao do

    convento no dia do seu quadragsimo primeiroaniversrio.

    PERSONAGENS D. JOO V

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    PERSONAGENS

    D. MARIA ANA JOSEFA

    A rainha representa a mulher que s atravsdo sonho se liberta da sua condioaristocrtica para assumir a sua feminilidade.

    D. Maria Ana caracterizada como uma mulher passiva,

    insatisfeita, que vive um casamento baseado na aparncia, nasexualidade reprimidae num falso cdigo tico, moral ereligioso.

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    PERSONAGENS D. MARIA ANA JOSEFA

    A transgresso onrica a nica expresso da rainha quesucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosaatrao incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado,

    conduzem-na a uma busca constante de redeno atravs daorao e da confisso. - COMPLEXO DE CULPA. A rainha vive num ambiente repressivo, cujas proibies regem a

    sua existncia e para a qual no h fuga possvel, a no ser atravsdo sonho, onde pode explorar a sua sensualidade.

    Consciente da virilidade e da infidelidade do marido (abundam os

    filhos bastardos), D. Maria Ana assume uma atitude depassividade e de infelicidade perante a vida.

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    PERSONAGENS

    BALTASAR SETE-SIS

    Baltasar Mateus um dos membros do casalprotagonistada narrativa. Representa a crtica do narrador

    desumanidade da guerra, uma vez que

    participa na Guerra da Sucesso (1704-1712) e,depois de perder a mo esquerda, excludo doexrcito.

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    PERSONAGENSBALTASAR SETE-SIS

    Construdo enquanto arqutipo da condiohumana, Baltasar Sete-Sis um homem

    pragmtico e simples, que assume o papel dedemiurgona construo da passarola (aorealizar o sonho de Bartolomeu de Gusmo).

    Participa na construo do conventoepartilha, atravs do silncio, a vida de BlimundaSete-Luas. Sucumbe s mos da Inquisio.

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    PERSONAGENS

    BLIMUNDA SETE-LUAS

    Blimunda o segundo membro do casal protagonista da

    narrativa. Mulher sensual e inteligente, Blimunda vivesem subterfgios, sem regras que a condicionem eescravizem.

    Dotada de poderes invulgares, como a me, escolhe

    Baltasar para partilhar a sua vida, numa existncia deamor pleno, de liberdade, sem compromissos e semculpa.

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    PERSONAGENSBLIMUNDA SETE-LUAS

    Blimunda representa o transcendentee a inquietaoconstante do ser humanoem relao morte, ao

    amor, ao pecado e existncia de Deus. O seu dom particular (ecoviso)transfigura estapersonagem, aproximando-a da espiritualidade damsica de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu deGusmo.

    Ao visualizar a essncia dos que a rodeiam, Blimundatransgride os cdigos existentes e perceciona ahipocrisia e a mentira.

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    PERSONAGENS

    FREI BARTOLOMEU LOURENO DE GUSMO

    O padre Bartolomeu Loureno de Gusmorepresenta as novas ideiasque causavamestranheza na inculta sociedade portuguesa.

    Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmo tornou-se um alvoapetecido do chacota da corte e da

    Inquisio, apesar da proteo real. Homem curioso e grande orador sacro(a sua

    fama aproxima-o do padre Antnio Vieira).

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    PERSONAGENS BARTOLOMEU DE GUSMO

    Bartolomeu de Gusmo evidenciou, ao longo da obra, umaprofunda crise de f, a que as leituras diversificadas e a postura"antidogmtica" no sero alheios, numa busca incessante do

    saber. A sua personagem risvel - era conhecido por "Voador" - torna-o

    elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente comBaltasar e Blimunda.

    A tradecorporiza o sonho e o empenho tornados realidade, apar da desgraa, tambm ela, partilhada (loucura e morte, em

    Toledo, de Bartolomeu de Gusmo, morte de Baltasar Sete-Sis noauto de f e solido de Blimunda).

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    PERSONAGENS

    DOMENICO SCARLATTI

    Scarlatti representa a arteque, aliada ao sonho,

    permite a curade Blimunda e possibilitaa concluso e o voo da passarola.

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    O POVO

    PERSONAGENS

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    PERSONAGENS O POVO

    O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento o povotrabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a

    narrativa, numa construo de figuras que, embora corporizadaspor Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e annimaqueconstruiu, de facto, o convento.

    A crtica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidoaque foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o

    sonho de um rei megalmanoao qual se atribui a edificao doConvento de Mafra.

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    PERSONAGENS O POVO

    A necessidade de individualizar personagensque representam a fora motriz que erigiu opalcio-convento, sob um regime opressivo, a verdadeira elegia de Saramago para todosaqueles que, embora ficcionais, traduzem aessncia de ser portugus:

    GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFOROE CAPACIDADE DE SOFRIMENTO

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    Espao

    So dois os espaos fsicos nos quais sedesenrola a ao: Lisboa e Mafra.

    Lisboa, enquanto macroespao, integra outrosespaos:

    TERREIRO DO PAO, ROSSIO E SO SEBASTIO DA PEDREIRA

    O espao fsico

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    Espao fsico

    Terreiro do Pao

    Local onde Baltasar trabalha num aougue, aps a sua chegada aLisboa. onde decorre a procisso do Corpo de Deus. RossioEste espao aparece no incio da obra como o local onde decorrem o

    auto de f e a procisso da Quaresma ou dos penitentes. S. Sebastio da Pedreira

    Trata-se de um espao relacionado com a passarolado padreBartolomeu de Gusmo, ligada, assim, ao carter mtico damquina voadora. No poca, S. Sebastio da Pedreira era umespao rural, onde existiam vrias quintas que integravampalacetes.

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    Espao fsico Mafra

    Mafra o segundo macroespao. At construo do convento, a

    vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo, prximoda igreja de Sto. Andr.

    A Velafoi o local escolhido para a construo do convento, que deulugar vila nova, volta do edifcio. Nas imediaes da obra, surgea "Ilha da Madeira", onde comearam por se alojar dez mil

    trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil.

    Alm de Mafra, so ainda referidos espaos como Pro Pinheiro,a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras.

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    O espao social

    O espao socialo espao social construdo, na obra, atravs do relato de

    determinados momentos(ou episdios) e do percursode personagensque tipificam um determinado gruposocial, caracterizando-o.

    Ao nvel da construo do espao social, destacam-seos seguintes momentos:

    PROCISSO DA QUARESMA autos de f A TOURADA PROCISSO DO CORPO DE DEUS O TRABALHO NO CONVENTO

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    O espao social Procisso da Quaresma

    Procisso da Quaresma

    excessos praticados durante o Entrudo(satisfao dos

    prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas- aspessoas comiam e bebiam demasiado, davam "umbigadaspelas esquinas", atiravam gua cara umas das outras,batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas.

    penitncia fsica e mortificaoda almaaps osdesregramentos durante o Entrudo ( tempo de "mortificar aalma para que o corpo finja arrepender-se)

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    O espao social Procisso da Quaresma

    descrio da procisso(os penitentes cabea, atrs dos frades,o bispo, as imagens nos andares, as confrarias e as irmandades)

    manifestaes de f que tocavam a histeria(as pessoas

    arrastam-se pelo cho, arranham-se, puxam os cabelos,esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz sinais da cruz e um aclitobalana o incensrio; os penitentes recorrem autoflagelao

    o narrador afirma que, apesar da tentativa de purificao atravs doincenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, catica e as suas

    gentes eram dominadas pela hipocrisiade uma alma que,ironicamente, este define como "perfumada.

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    O espao social autos de f

    autos de f (Rossio) Neste relato, so de salientar osseguintes aspetos:

    o Rossio est novamente cheio de assistncia; apopulao est duplamente em festa, porque domingo e porque vai assistir a um auto-def (passaramdois anos aps o ltimo evento deste tipo)

    o narrador revela a sua dificuldade em perceber se opovo gosta mais de autos de f ou de touradas,evidenciando com esta afirmao a sua ironia crticaperante um povo que revela um gosto sanguinrio eprocura nas emoes fortes uma forma depreencher o vazio da sua existncia

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    O espao social autos de f

    a assistncia feminina, janela, exibe as suas toilettes,preocupa-se com pormenores fteis relativos suaaparncia(a segurana dos sinaizinhos no rosto, aborbulha encoberta), e aproveita a ocasio para se entregarajogos de seduocom os pretendentes que se passeiam

    em baixo

    a proximidade da morte dos condenados constitui omotivo do ambiente de festa; esta constatao suscita,mais uma vez, a crtica do narrador - na realidade, o facto deas pessoas saberem que alguns dos sentenciados iriam, embreve, arder nas fogueiras no as inibia de se refrescarem

    com gua, limonada e talhadas de melancia e de seconsolarem com tremoos, pinhes, tmaras e queijadas;

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    O espao social autos de f

    sai a procisso - frente os dominicanos; depois, os inquisidores

    distino entre os vrios sentenciados (atravs do gorro esambenito), assim como o crucifixo de costas voltadas, para as

    mulheres que iro arder na fogueira;

    meno dos nomes de alguns dos condenados (inclusivamente,ode Sebastiana Maria de Jesus, me de Blimunda)

    incio da relao entre Baltasar e Blimunda

    punio dos condenados pelo Santo Ofcio - o povo dana emfrente das fogueiras

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    O espao socialTourada

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    O espao social Tourada

    Tourada (Terreiro do Pao) o espetculo comea e o narrador enfatiza a forma como os touros so

    torturados, exibindo o sangue, as feridas, as "tripas ao pblico que, emexaltao, se liberta de inibies("os homens em delrio apalpam asmulheres delirantes, e elas esfregam-se por eles sem disfarce

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    O espao social Tourada

    dois toiros saem do curro e investem contra bonecos de

    barro colocados na praa; de um saem coelhos queacabam por ser mortos pelos capinhas, de outro,pombas que acabam por ser apanhadas pela multido

    A ironia do narrador ainda traduzida pela

    constatao de que, em Lisboa, as pessoas noestranham o cheiro a carne queimada,acrescentando ainda numa perspetiva crtica, que amorte dos judeus positiva, pois os seus bens sodeixados Coroa.

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    O espao socialProcisso do Corpo de Deus

    descrio dos "preparos da festa feita pelonarrador, que assume o olhar do povo(as colunas, as

    figuras, os medalhes, as ruas toldadas, os mastrosenfeitados com seda e ouro, as janelas ornamentadascom cortinas e sanefas de damasco e franjas de ouro),que se sente maravilhado com a riqueza da decorao(uma reflexo do narrador leva-o a concluir que no se

    verificam muitos roubos durante a cerimnia, pois opovo teme os pretos que se encontram armados porta das lojas e os quadrilheiros, que procederiam priso dos infratores)

    preparao da procisso:

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    O espao socialProcisso do Corpo de Deus

    referncia do narrador s damasque aparecems janelas, exibindo penteados, rivalizando

    com as vizinhas e gritando motes

    noite, passam pessoas que tocam edanam, improvisa-se uma tourada

    de madrugada, renem-se aqueles que iroformar as alas da procisso, devidamentefardados

    preparao da procisso:

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    O espao socialProcisso do Corpo de Deus

    o evento comea logo de manh cedo.DESCRIO DO APARATO: frente, as bandeiras dos ofcios da Casa dos Vinte e

    Quatro, em primeiro lugar a dos carpinteiros em honra aS. Jos; atrs, a imagem de S. Jorge, os tambores, ostrombeteiros, as irmandades, o estandarte doSantssimo Sacramento, as comunidades (de S.Francisco, capuchinhos, carmelitas, dominicanos, entreoutros) e o rei, atrs, segurando uma vara dourada,Cristo crucificado e cantores de hinos sacros

    realizao da procisso:

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    O espao socialProcisso do Corpo de Deus

    crtica do narrador s crenas e

    interditos religiosos;

    viso oficial da procisso como forma de

    purificao das almas, que tentamlibertar-se dos pecados cometidos

    CRTICA DO NARRADOR:

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    O espao socialProcisso do Corpo de Deus

    Censura ao luxo da igreja e luxria do

    Rei

    histeria coletivadas pessoas que se

    batem a si prprias e aos outros comomanifestao da sua condio depecadores

    CRTICA DO NARRADOR:

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    EM SNTESE

    As procisses e os autos de f caracterizam Lisboa como um espaocatico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjuraum mal momentneo que motiva a exaltao absurdaque envolve oshabitantes.

    A desmistificao dos dogmase a crtica irnicado narrador aoclerosubjazem ao iderio marxistaque condena a religio enquanto "pio

    do povo",isto , condena-se a viso redutora do mundo apresentadapela Igreja, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentose conduz os fiis a atitudes estereotipadas.

    A violncia das touradas ou dos autos de f apraz ao povoque,obscuro e ignorante, se divertesensualmente com as imagens de morte,esquecendo a misriaem que vive.

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    O TRABALHO NO CONVENTO

    Mafra simboliza o espao da servidodesumanaa que D. Joo V sujeitou todos osseus sbditos para alimentar a sua vaidade.

    Vivendo em condies deplorveis, os cercadequarenta mil portuguesesforamobrigados, fora de armas, o abandonar assuas casas e a erigir o convento para cumprir apromessa do seu rei e aumentar a sua glria.

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    Espao psicolgico

    o espao psicolgico constitudo pelo conjuntode elementos que traduz a interioridadedaspersonagens. Nesta obra, o espao psicolgico

    constitudo fundamentalmente atravs de doisprocessos: os sonhos das personagens, quefuncionam como forma de caracterizao dasmesmas ou que, num processo que lhesconfere densidade humana, traduzem relaes

    com as suas vivncias; e os seuspensamentos.

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    TEMPO

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    TEMPO O tempo diegtico (tempo da histria)

    Trata-se do tempo em que decorre a ao.

    O tempo da histria constitudo por algumas datas

    fundamentais. A ao inicia-se em 1711. D. Joo V ainda no fizeravinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara hmais de dois anos da ustria.

    O fluir do tempo, mais do que atravs da recorrncia a

    marcos cronolgicos especficos, sugerido pelastransformaes sofridas pelas personagens e poralguns espaos e objetos ao longo da obra.

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    O tempo histrico

    Logo no incio do romance, podemosinferir que a ao tem incio no ano de

    1711, atravs da seguinte referncia donarrador:

    "(. ..) S. Francisco andava pelo mundo,precisamente h quinhentos anos, emmil duzentos e onze (. . .)"

    TEMPO O tempo diegtico (tempo da histria)

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    Referncias cronolgicas As referncias cronolgicas mais importantes so as seguintes:

    Em 1716, tem lugar a bno da primeira pedrado Convento deMafra

    em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboapara trabalharna passarola do padre Bartolomeu de Gusmo

    em 1719, celebra-se o casamentode D. Jos com Mariana Vitriae de Maria Brbara com o prncipe D. Fernando (VI de Espanha)

    em 1730, mais propriamente no dia 22 de outubro, o dia doquadragsimo primeiro aniversrio do rei, realiza-se a sagraodo Convento de Mafra

    a ao termina em 1739, no momento em que Blimunda vBaltasar a ser queimado em Lisboa, num auto de f.

    TEMPO O tempo diegtico (tempo da histria)

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    Muitas vezes, a passagem do tempo anunciada por situaes precisas"ParaD. Maria Ana que lhe vem chegando o tempo. A barriga no aguenta crescer mais

    por muito que apele estique (.. .)" ou por referncias temporaisque se integramem marcaes referenciaispor exemplo:

    "() tendo partido daqui h vinte meses ()" p . 72

    "Meses inteiros se passaram desde ento, o ano j outro" p. 77

    "Entretanto, nasceu o infante D. Pedro (...)" p. 88

    "Bartolomeu Loureno foi quinta de S. Sebastio da Pedreira, trs anos inteiroshaviam passado desde que partira (. .) p. 117

    "(...) certo que h seis anos que vivem como marido e mulher ()" p. 130

    "(...) se no ficou dito j, sempre so seis anos de casos acontecidos () " p. 134

    "() e j vo onze anos passados (...)" p. 162 "(...) passaram catorze anos () p. 214

    "Desde que na vila de Mafra, j l vo oito anos, foi lanada a primeira pedra dabaslica ()" p. 231

    TEMPO O tempo diegtico (tempo da histria)

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    TEMPO O tempo do discurso

    O tempo do discurso revelado atravsda forma como o narrador relata osacontecimentos. Este pode apresent-los de forma linear, optar porretroceder no tempo em relao aomomento da narrativa em que se

    encontra ou anteciparsituaes.

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    TEMPO O tempo do discurso

    As analepses (recuos no tempo) As analepses explicam, geralmente,

    acontecimentos anteriores, contribuindo

    para a coeso da narrativa.

    de assinalar, anteriormente ao ano do incioda ao (1711 ), a analepse que explica, emparte, a construo do convento comoconsequncia do desejo expresso, em1624, pelos franciscanos, de possurem umconvento em Mafra.

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    TEMPO O tempo do discurso

    . a crtica social- ocaso das prolepses quedo a conhecer as

    mortes do sobrinho deBaltasar e do infante D.Pedro, de modo aestabelecer o contrasteentre os dois funerais,ou a morte de lvaroDiogo, que viria a cair

    de uma parede, durantea construo doconvento, assim como ainformao sobre osbastardos que o reiiria gerar, filhos dasfreiras que seduzia

    . a viso globalizante de temposdistintos por parte do narrador(otempo da histria e, num tempo futuro, odo momento da escrita) - cabem aqui asreferncias aos cravos(outrora, naspontas das varas dos capeles; muitomais tarde, smbolos da revoluo do 25de Abril), a associao entre ospossveis voos da passarola e o facto

    de os homens terem ido Lua, nosculo XX, a aluso ao tipo dediverses que se vivia no sculo XVII eao cinema, entre outras

    As prolepses (aes futuras)

    A antecipao de alguns acontecimentos serve osseguintes objetivos: