Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES … · Para uma leitura sobre o Convento...
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Centro de Pastoral Vergueiro (CPV)
Endereço: Rua Vergueiro, 7290,
Vila Firmiano Pinto, SP.
Classificação: Centro Cultural
Identificação numérica: 072-06.001
O Centro de Pastoral Vergueiro (CPV) foi fundado oficialmente em 15 de
novembro de 1973 por frades dominicanos e estudantes universitários e funcionou até
1989 na rua Vergueiro, endereço da Comunidade Cristo Operário, da Ordem dos
Dominicanos, localizada na zona sul da cidade de São Paulo.
O CPV inicialmente era um centro de pastoral vinculado (mas não subordinado)
à Regional Episcopal do Ipiranga, atuando junto à educação popular e às atividades
eclesiais locais1. Alguns anos depois, a entidade passou a desempenhar também a
função de salvaguarda de documentos produzidos pelos (e para os) movimentos
populares e sindicais da época. O mote principal dessa atividade era articular a
documentação preservada com a comunicação popular, entendida como um processo
de comunicação de caráter mobilizador coletivo que emerge a partir da ação dos
grupos populares2. Por essa proposta, durante a ditadura civil-militar (1964-1985) o
1 O CPV, apesar de não responder oficialmente à hierarquia da Igreja, era parte dessa estrutura através da Ordem dos Dominicanos e das ligações com a Arquidiocese de São Paulo em função da ideologia de seu trabalho. SALLES, Paula Ribeiro. Documentação e Comunicação Popular: a experiência do CPV - Centro de Pastoral Vergueiro (São Paulo/SP, 1973-1989). Dissertação (Mestrado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013, p.59. 2 A comunicação popular tem sua origem nos movimentos populares dos anos de 1970 e 1980 no Brasil e na América e foi também denominada de alternativa, participativa, horizontal, comunitária e dialógica, dependendo do lugar social e do tipo de prática em questão. Porém, o sentido político é o mesmo, ou seja, o fato de tratar-se de uma forma de expressão de segmentos excluídos da população, mas em processo de mobilização visando atingir seus interesses e suprir necessidades de sobrevivência e de participação política. Para mais informações ver: PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular, Alternativa e Comunitária. Apresentação de Trabalho. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Brasília. Universidade de Brasília, 6 a 9 de setembro de 2006. Disponível em: http://goo.gl/TBYZf4. Acesso em 04/09/2015.
Memorial da Resistência de São Paulo
PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA
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CPV, a partir da atuação de religiosos e jovens estudantes, se configurou como uma
importante instância de formação da classe trabalhadora, criando “um departamento
educacional para alfabetização de adultos, organização de biblioteca, cursos,
palestras, formação de grupos de teatro e grupos de documentação e pesquisa” 3.
Vale destacar, no entanto que ainda que o Centro de Pastoral Vergueiro tenha
sido constituído como uma entidade leiga, a participação dos dominicanos foi bastante
presente no funcionamento da entidade durante todo o período ditatorial. Os
dominicanos ofereciam ao Centro tanto um apoio estrutural, a partir da cessão de
terreno, como o suporte financeiro para o funcionamento cotidiano da entidade: “A
Sociedade Impulsionadora da Instrução repassava uma contribuição mensal ao CPV
que, apesar de representar uma pequena porcentagem nas suas receitas, foi uma
colaboração assegurada durante muitos anos”4.
A Ordem dos Dominicanos esteve bastante engajada no combate à ditadura
civil-militar no país, principalmente por sua proximidade com os ideais da Teologia da
Libertação5. A Ordem, junto com a ala progressista da Igreja, se transformou em um
setor de contestação e denúncia das inúmeras violações de direitos humanos
cometidas por agentes do Estado e passou a ter um importante papel aglutinador na
luta contra a ditadura e pela igualdade social6.
A Teologia da Libertação está relacionada com o Concílio Vaticano II,
convocado pelo Papa João XXIII e ocorrido entre 1962 e 1965. Esse Concílio foi
dedicado à atualização da doutrina da Igreja Católica face à sociedade
contemporânea, buscando uma renovação de seus preceitos religiosos. A divulgação
da Carta Encíclica (documento pontifício/circular papal) trazia como exigência “a
Verdade como fundamento, a Justiça como norma, o Amor como motor e a Liberdade
como clima”7. A partir das proposições do Concílio Vaticano II, o processo de
conscientização e mobilização social ganhou novas dimensões ao alinhar os ideais de
3 SALLES, Paula Ribeiro. op. cit, p.30. 4 A Sociedade Impulsionadora da Instrução é a entidade civil que cuida dos bens e das finanças da Ordem dos Dominicanos, cuja sede era, na época, na cidade do Rio de Janeiro. SALLES, Paula Ribeiro, idem. 5 Para uma leitura sobre a Teologia da Libertação ver o artigo de Leonardo Boff, um de seus teólogos. BOFF, Leonardo. Quarenta anos da Teologia da Libertação. Blog do autor. Disponível em: https://leonardoboff.wordpress.com/2011/08/09/quarenta-anos-da-teologia-da-libertacao/. Disponível em 17/09/2015. 6 Os dominicanos chegam ao Brasil no final do século XIX e fundam, em 1938, o Convento Santo Alberto Magno em Perdizes (mais conhecido como o Convento dos Dominicanos), que após o golpe civil-militar de 1964 passou a ser um importante espaço de aglutinação de estudantes e intelectuais. Para uma leitura sobre o Convento conferir o documento produzido pelo Memorial da Resistência de São Paulo. Programa Lugares da Memória. Convento Santo Alberto Magno – Convento dos Dominicanos. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível na página da instituição. 7 SOUZA, Admar Mendes de. Estado e Igreja católica. O movimento social do cristianismo de libertação sob a vigilância do Deops/SP (1954-1974). Tese (Doutorado em História). FFLCH. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009, p.158.
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renovação e interação da Igreja com o mundo moderno e seus problemas. A abertura
promovida pelo Concílio Vaticano II possibilitou a contínua mudança no modo de
pensar e agir de alguns setores religiosos católicos e, neste contexto, diversos grupos
e movimentos católicos de base passaram a reivindicar, com o apoio dos religiosos
progressistas, melhores condições de vida para todos os homens, a libertação de toda
forma de opressão e a salvaguarda dos valores e direitos humanos. Também como
resultado das Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano de Medellín
(1968) e Puebla (1979), a Igreja católica progressista, apoiada na Teologia da
Libertação, adotou a “opção preferencial pelos pobres” e, no Brasil, passou a ter um
importante papel aglutinador na luta contra a ditadura e pela igualdade social. É neste
período que se desenvolvem também as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) com
o objetivo de constituir núcleos pastorais nos bairros para que as pessoas pudessem
estabelecer laços comunitários entre si e, a partir dos próprios ideais cristãos,
reivindicarem melhorias em suas comunidades relativas à moradia, saúde, transporte,
custo de vida8.
Em resposta à mobilização popular alcançada pelos trabalhos da Igreja
progressista no país, a ditadura civil-militar brasileira se utilizou do argumento de que
esses religiosos estariam alinhados a um projeto comunista de subversão do país,
acusando-a, inclusive, de trair os preceitos da religião católica, e passou a perseguir
os religiosos e outros segmentos que atuavam dentro dessa ala. Assim alguns dos
religiosos que ingressaram em organizações de combate à ditadura acabaram
identificados como opositores do regime e, perseguidos, foram presos e torturados,
sendo um dos casos mais conhecidos o dos padres dominicanos presos pelo
Deops/SP em 19699.
Esse quadro de grande mobilização popular alcançado na década de 1970 se
alterou um pouco ao longo dos anos 1980, quando houve um relativo enfraquecimento
da atuação da Igreja progressista no país; associado a isso, observa-se na Igreja
Católica um “retrocesso na perspectiva [...] dos trabalhos pastorais não vinculados
diretamente à hierarquia da Igreja e sim com os movimentos populares”10. Com essa
restrição sobre a compreensão do trabalho pastoral, as relações do CPV com a Igreja
8 Existem muitas pesquisas relevantes sobre a atuação da Igreja Católica durante a ditadura civil-militar no Brasil e o papel que ela desempenhou na luta contra os militares e a favor dos direitos humanos. Destacamos aqui apenas algumas leituras, como o trabalho de José Cardonha. A Igreja Católica nos "Anos de Chumbo": resistência e deslegitimação do Estado Autoritário Brasileiro 1968-1974. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011; e o Relatório da CNV, volume II, Textos Temáticos, Texto 4 - Violações de direitos humanos nas igrejas cristãs. Disponível em: < http://www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_2_digital.pdf >. Acesso em 13/05/2015. 9 Este caso foi narrado por Frei Betto no livro Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, com a primeira edição em 1982. 10 SALLES, Paula Ribeiro, op. cit., p.59.
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se tornaram mais complexas e difíceis, pois as concepções e práticas do CPV
passaram a extrapolar as propostas dos projetos sociais da Igreja. Em um contexto
mais geral destacamos ainda que após-1979, com a aprovação de Lei da Anistia, o
processo de abertura política e a reformulação partidária (com o retorno do
pluripartidarismo), houve uma polarização dentro do próprio CPV. Paula Salles
destaca que no início dos anos 1980 já era possível perceber a formação de dois
grupos com tendências diversas no CPV.
De um lado, estava aquele grupo formado pela grande maioria da
equipe do CPV, que passou a apoiar sistematicamente o movimento
sindical paulistano [...] e que desenvolvia atividades em porta de
fábricas, assembleias, encontros clandestinos, encontros pré-CUT e,
depois de 1983, os encontros da CUT – Central Única de
Trabalhadores. [...] De outro lado, estava o grupo de frei Sérgio
Calixto e José Mentor, que atuava nos movimentos de loteamentos
clandestinos e defendia, por um lado, o maior apoio a esse tipo de
movimento e, por outro, um retorno ao trabalho mais pastoral11.
Assim, em 1989 concretizou-se o rompimento da entidade com a Ordem dos
Dominicanos e, após se desvincular dos religiosos, o Centro, agora totalmente
laicizado, passou a ser denominado Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
(mantendo a sigla CPV) com nova sede na Rua São Domingos, número 264, no bairro
Bela Vista.
PROJETOS DO CPV
A história do Centro de Pastoral Vergueiro se inicia oficialmente em 1973, mas
se estende até os dias atuais, pois segue sendo uma entidade destinada a reunir e
preservar importante documentação dos movimentos sociais e operários com
destaque para o período ditatorial no Brasil. A seguir, apresentamos uma periodização
resumida da atuação do CPV a partir da pesquisa desenvolvida pela historiadora
Paula Ribeiro Salles.
Salles destaca que os anos que se estenderam de 1973 até 1977 podem ser
considerados como o período de criação e estruturação dos trabalhos do CPV, com
obras de adaptação do prédio e mutirões de organização dos materiais da biblioteca e
recortes de jornais e revistas. A partir de 1975, a direção da entidade se estabilizou e
ficou centralizada na figura do frei Romeu Dale, e o CPV passou a realizar pesquisas e
trabalhos com documentação e estabelecer contato com outras organizações a partir
do seu Departamento de Documentação e Pesquisa. Essa atividade “deu uma nova
vitalidade aos trabalhos da entidade que pôde começar a contratar pessoas, comprar
11 Idem, p.56.
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equipamentos e desenvolver projetos específicos”12. Em 1976, o Centro já recolhia,
trocava, distribuía e vendia publicações populares, tornando o CPV um reconhecido
centro de documentação e comunicação popular, atuando junto aos movimentos
populares, rede de entidades e movimentos sociais e alcançando abrangência
nacional.
Também em 1975 o CPV, a partir de seu Departamento de Educação de
Adultos, expandiu os trabalhos de educação popular e alfabetização de adultos,
contando com muitos educadores, sendo a maioria estudantes universitários que se
identificavam com o trabalho militante na periferia da cidade.
Segundo José de Rezende Ribeiro, eles [o Departamento de
Educação de Adultos] tinham cerca de vinte classes de suplência e
alfabetização e alcançaram a Vila Morais, Jd. Da Saúde, Arapuá e
Parque Bristol, bairros da zona sul de São Paulo, além da Cidade
Ademar e Americanópolis. Esse trabalho de educação popular foi
durante algum tempo o trabalho mais importante do CPV, porque
envolveu um grande número de educadores, trabalhadores e
trabalhadoras, que receberam formações semanais, e representou a
consolidação de um trabalho inovador na educação de adultos ao
aproximar-se da realidade da população pobre daqueles bairros13.
Além disso, é importante destacar que as atividades eclesiais na Comunidade
Cristo Operário (missas e cursos de catequese) continuaram a ser desenvolvidas e
configuraram-se como espaços para aproximar a comunidade local. “Essas atividades
especificamente religiosas estabeleciam diálogo com as novas ideias e formas de
organização popular estabelecidos nos cursos de alfabetização e em outras atividades
do CPV”14. Paula Salles destaca que nas catequeses havia grande presença de
mulheres, organizadas em clube de mães, e isso demonstra o papel do CPV como
formador de agentes para atuar nas CEBs e paróquias da região sul da cidade15.
Outro importante projeto do CPV foi a produção de publicações próprias de
caráter diversificado. Com o Departamento de Publicações “a produção de boletins
periódicos, panfletos, dossiês e outros tipos de publicações [...] intensificaram as
formas de aproximação dos movimentos populares e sindicais”16. Também a partir do
crescimento deste projeto, ganhou força a articulação do CPV com entidades e
movimentos nacionais, o que resultou em uma ampliação na rede de troca de
experiências, materiais e encontros de formação. “Esse trabalho de divulgação e
distribuição de publicações populares fez confluir para o CPV muitas entidades que
12 Idem, p.42. 13 Idem, p.43. 14 Ibidem. 15 Idem, p.44. 16 Idem, p.47.
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participavam dos movimentos populares e sindicais, do campo e da cidade, em frentes
de lutas variadas por todo o Brasil”17.
O Departamento de Documentação e Pesquisa e o Departamento de
Publicações do CPV18 acabaram por configurarem-se como as atividades prioritárias
do Centro de Pastoral Vergueiro, que acumulou uma importante documentação sobre
os movimentos populares e operários desde 1973; hoje o CPV está focado na
promoção do acesso digital a essa documentação. Apresentamos abaixo uma planilha
produzida durante a pesquisa de mestrado de Paula Salles que quantifica a produção
de jornais e boletins do CPV entre os anos de 1975 e 1993.
Atualmente o CPV é uma entidade reconhecida por seu patrimônio documental
ganhando destaque principalmente pela forma como esse acervo foi constituído: a
partir de práticas e concepções específicas do fazer documentação, comunicação e
memória das classes populares. Como destaca Paula Salles, o CPV representa um
patrimônio histórico e social que se materializou pela ação de diversos sujeitos sociais:
os frades dominicanos, estudantes universitários, agentes de educação popular,
líderes de movimentos sociais (sindicais e populares) e de organizações de
esquerda19.
17 Ibidem. 18 Para uma leitura detalhada sobre o trabalho de cada um desses Departamentos do CPV, conferir os capítulos 2 e 3 da dissertação de mestrado de Paula Salles. SALLES, Paula Ribeiro. Documentação e Comunicação Popular: a experiência do CPV - Centro de Pastoral Vergueiro (São Paulo/SP, 1973-1989). Dissertação (Mestrado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013. 19 Idem, p.27.
Tabela 01: Jornais e Boletins periódicos encampados e produzidos pelo CPV (1975-1993)
Fonte: Produzido por Paula Ribeiro Salles. Informações retiradas do livro de Atas do CPV
(1973-2000). Acervo de periódicos do CPV.
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O COMPLEXO ARQUITETÔNICO
O Centro de Pastoral Vergueiro iniciou suas atividades na zona sul de São
Paulo junto à Comunidade Cristo Operário, que tem sua história associada às
transformações ocorridas na postura evangelizadora da Igreja Católica já a partir da
década de 1950. Mas a atuação dos dominicanos na Comunidade Cristo Operário
remonta aos finais da década de 1940, quando frei João Batista Pereira dos Santos
negocia um terreno de 3.500m², onde funcionava o Círculo Operário do Ipiranga.
Seu objetivo era fundar uma Comunidade Dominicana e implantar
um amplo projeto de evangelização junto aos operários. A existência
do Círculo Operário ali demonstra que já havia um trabalho sindical
vinculado à Igreja Católica naquela região, tradição que, de alguma
forma, continuará com a experiência levada a cabo por frei João20.
O primeiro resultado desse projeto foi a criação da Comunidade de Trabalho
Unilabor, constituída por ações culturais, educativas, de catequese religiosa, educação
política e, principalmente, na criação de uma fábrica de móveis modernistas,
funcionando em regime de autogestão na periferia de São Paulo. A Unilabor é
considerada uma experiência social liderada pelo dominicano frei João Batista e que
envolveu a atuação de operários, intelectuais e artistas. A Comunidade funcionou a
partir de agosto de 1954, mas foi dissolvida em fevereiro de 1967 por motivos
ideológicos, econômicos e políticos21. Como experiência social o objetivo da
Comunidade era “a desalienação do trabalhador, a ser obtida por meio de sua
transformação em proprietário coletivo, [...] e, por outro lado, no seu elevamento
espiritual e cultural, num processo de enriquecimento não apenas material, mas
sobretudo moral22.
Além da fábrica de móveis, o conjunto arquitetônico da Comunidade Cristo
Operário da Ordem Dominicana conta com mais cinco edificações entremeadas por
jardins que acompanham o declive do terreno, cujo desenho é atribuído ao paisagista
Burle Marx. Soma-se a esse conjunto a Capela do Cristo Operário, “expressão
material da maior igualdade social proposta pelo projeto [...]. No interior, um conjunto
de obras de arte apresenta a figura de Cristo em atitudes de benção ao trabalho”23. A
Capela, construída pelo frei João Batista no início da década de 1950, é propriedade
20 Idem, p.30-31. 21 Para mais informações sobre a Unilabor, ver: CLARO, Mauro. Dissolução da Unilabor: crise e
falência de uma autogestão operária – São Paulo, 1963-1967. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo). FAU, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. 22 CLARO, Mauro. op. cit, p.17. 23 PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Guia de bens culturais da cidade de São Paulo. Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de Cultura. São Paulo: Imprensa Oficial, 2012, p.281.
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da Sociedade Impulsionadora da Instrução da Ordem dos Dominicanos e é adornada
com murais de Alfredo Volpi, Yolanda Mohalyi e Giuliana Segre Giorgi e obras de
Geraldo Barros, Elisabeth Nobiling, Moussia Pinto Alves e Roberto Tatin24.
Devido ao valor cultural e artístico da Capela Cristo Operário e ao valor social
da experiência da Unilabor, a Comunidade Dominicana foi tombada na totalidade de
sua área nos três níveis: municipal, estadual e federal, ou seja, pelo Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de
São Paulo (CONPRESP) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) e obteve a proteção liminar pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), entre 2002 e 2004. O
processo de tombamento impediu a divisão do terreno e a saída dos dominicanos da
área, intenções da Ordem dos Dominicanos na época, como destacam os
pesquisadores Mauro Claros e Paula Salles.
24 Ibidem.
Imagem 01: Desenho do arquivo da Ordem dos Dominicanos
apresentando um esquema de divisão do lote. Durante os anos de
atuação da Comunidade Unilabor, a fábrica de móveis ocupou a
totalidade desses espaços, já o CPV ocupou apenas a edificação que faz
divisa com a Rua São Daniel. Fonte: Mauro Claro.
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Imagem 02: Vista panorâmica da Comunidade Cristo Operário. 1) Edifício onde funcionou o
CPV entre 1973-1989; 2) Casa do Capelão; 3) Capela Cristo Operário; 4) casa onde funcionou,
na época da Unilabor, o teatro e depois a administração da fábrica; 5-6) edifício das antigas
oficinas da Unilabor, hoje biblioteca da Escola Dominicana de Teologia (EDT); 7) salas de aula e
administração da EDT e da Ordem dos Dominicanos; A) sobrado alugado em 1980 pelo CPV
que abrigou os departamentos de editoração, audiovisual e livraria. Foto: Google Maps 2013.
Fonte: Paula Ribeiro Salles.
Imagem 03: Placa do Centro de Pastoral Vergueiro. Foto: Paula Ribeiro Salles. Fonte:
Paula Ribeiro Salles.
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Imagem 04:
Jardins no entorno
da Capela do
Cristo Operário.
Foto: Geraldo de
Barros. Fonte:
Mauro Claro.
Imagem 05: Capela
do Cristo Operário,
tombada como
patrimônio por seu
valor cultural e
artístico Foto: Autor
desconhecido. Fonte:
Portal do Centro de
Documentação e
Pesquisa Vergueiro.
Imagem 06: Mural
“Cristo Operário”
de Alfredo Volpi do
interior da Capela.
Foto: Ivan
Shupikov. Fonte:
Veja São Paulo.
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ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES:
O CPV, após o rompimento em 1989 com a Ordem dos Dominicanos, mudou
sua sede para o bairro Bela Vista, localizando-se na rua São Domingos, 224. Neste
endereço os pesquisadores e o público geral encontram para consulta documentos de
vários gêneros (textual, bibliográficos, iconográficos e sonoros). “Todos, frutos da ação
e pensamento dos trabalhadores e seus aliados em busca da transformação social.
Um acervo constituído de mais de 200 mil documentos”25.
O complexo arquitetônico da Comunidade Cristo Operário, onde o CPV
funcionou de 1973 até 1989, foi tombado, como mencionado, em três instâncias de
proteção patrimonial: o CONPRESP, da cidade de São Paulo; o CONDEPHAAT, que
cuida do patrimônio do Estado de São Paulo e o IPHAN, órgão federal. O argumento
dos processos de tombamento está associado ao valor cultural e artístico da Capela
Cristo Operário e ao valor social da experiência da Unilabor e do CPV.
ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA
O Memorial da Resistência possui um programa especialmente dedicado a registrar,
por meio de entrevistas, os testemunhos de ex-presos e perseguidos políticos,
familiares de mortos e desaparecidos e de outros cidadãos que
trabalharam/frequentaram o antigo Deops/SP. O Programa Coleta Regular de
Testemunhos tem a finalidade de formar um acervo, cujo objetivo principal é ampliar o
conhecimento sobre o Deops/SP e outros lugares de memória do Estado de São
Paulo, divulgando, desta forma, o tema da resistência e repressão política no período
da ditadura civil-militar.
- Produzidas pelo Programa Coleta Regular de Testemunhos do Memorial da
Resistência
BEZERRA, Paulo Sérgio. Entrevista sobre militância, resistência e repressão
durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista
concedida a Karina Alves Teixeira e Paula Salles em 23/10/2014.
REMISSIVAS: Convento Santo Alberto Magno - Convento dos Dominicanos.
25 CPV. Um pouco da nossa história. Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. Portal CPV. Disponível em: http://www.cpvsp.org.br/cpv.php. Acesso em 17/09/2015.
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REFERÊNCIAS
CLARO, Mauro. Dissolução da Unilabor: crise e falência de uma autogestão
operária – São Paulo, 1963-1967. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da
Arquitetura e do Urbanismo). FAU, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
CPV. Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. Portal CPV. Disponível em:
http://www.cpvsp.org.br/index.php. Acesso em 17/09/2015.
PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular,
Alternativa e Comunitária. Apresentação de Trabalho. XXIX Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação. Brasília. Universidade de Brasília, 6 a 9 de
setembro de 2006. Disponível em: http://goo.gl/TBYZf4. Acesso em 04/09/2015.
PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Guia de bens culturais da cidade de
São Paulo. Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de Cultura.
São Paulo: Imprensa Oficial, 2012.
SALLES, Paula Ribeiro. Documentação e Comunicação Popular: a experiência do
CPV - Centro de Pastoral Vergueiro (São Paulo/SP, 1973-1989). Dissertação
(Mestrado em História Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2013.
SOUZA, Admar Mendes de. Estado e Igreja católica. O movimento social do
cristianismo de libertação sob a vigilância do Deops/SP (1954-1974). Tese
(Doutorado em História). FFLCH. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
COMO CITAR ESTE DOCUMENTO: Programa Lugares da Memória. Centro de
Pastoral Vergueiro (CPV). Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2015.