Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

129
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG-CASA MEIO AMBIENTE E SAÚDE: REFLEXÕES NA ZONA NORTE DA CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS - ELEMENTOS PARA ESTABELECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. CÁSSIA ROZÁRIA DA SILVA SOUZA Manaus 2009

Transcript of Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Page 1: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG-CASA

MEIO AMBIENTE E SAÚDE: REFLEXÕES NA ZONA NORTE DA

CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS - ELEMENTOS PARA

ESTABELECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.

CÁSSIA ROZÁRIA DA SILVA SOUZA

Manaus

2009

Page 2: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG-CASA

MEIO AMBIENTE E SAÚDE: REFLEXÕES NA ZONA NORTE DA

CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS - ELEMENTOS PARA

ESTABELECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.

Cássia Rozária da Silva Souza

Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth da Conceição Santos

Manaus

2009

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade

na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências do Ambiente, área de concentração

Política e Gestão Ambiental.

Page 3: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Ficha Catalográfica

(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

S729m

Souza, Cássia Rozária da Silva

Meio ambiente e saúde: reflexões na zona norte da cidade de

Manaus-Amazonas - elementos para estabelecimento de políticas

públicas / Cássia Rozária da Silva Souza. - Manaus: UFAM, 2009.

129 f.; il. color.

Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente) ––

Universidade Federal do Amazonas, 2009.

Orientadora: Profª. Dra. Elizabeth da Conceição Santos

1. Expansão urbana 2. Notificação 3. Educação ambiental 4.

Saúde pública I. Santos, Elizabeth da Conceição II. Universidade

Federal do Amazonas III. Título

CDU 614(811.3)(043.3)

Page 4: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

CÁSSIA ROZÁRIA DA SILVA SOUZA

MEIO AMBIENTE E SAÚDE: REFLEXÕES NA ZONA NORTE DA

CIDADE DE MANAUS-AMAZONAS - ELEMENTOS PARA

ESTABELECIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS.

DISSERTAÇÃO APROVADA EM:_____/____/______

BANCA EXAMINADORA

ORIENTADOR

MEMBRO

MEMBRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade

na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências do Ambiente, área de concentração

Política e Gestão Ambiental.

Page 5: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Dedico.

- A minha mãe, Ednelza da Silva Souza.

- Ao amor de uma vida.

Page 6: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

AGRADECIMENTOS

A construção deste trabalho, contou com a ajuda de pessoas que viveram

comigo partes diferentes desta trajetória, gostaria de agradecer principalmente:

� A Deus Pai-Todo Poderoso e a Nossa Senhora.

� A minha orientadora, Profa. Dra. Elizabeth da Conceição Santos, pela

dedicação e paciência durante o desenvolvimento do trabalho. Minha

admiração por suas conquistas e meu respeito por seu conhecimento.

� Ao meu melhor exemplo de vida e que sempre me inspirou: Ednelza da Silva

Souza, saudades mãe.

� A Enfa. Lêda Cristina R. França, por sua força, apoio, perseverança e por

acreditar mais do que eu: obrigada.

� A Enfa. Socorro Gonçalves, responsável pela Central de Material Esterilizado

da Fundação Hospital Adriano Jorge, que acompanhou e vibrou por cada

passo para a construção deste trabalho.

� A Enfa. Socorro de Nazaré Andrade Maruoka, da Secretaria Estadual de

Saúde, pelos seus ensinamentos e análise crítica.

� A Enfa. Marianina Cerbina Grisi Pessoa Costa, pela amizade, confiança e fé.

� Aos meus colegas de profissão, tanto enfermeiros como docentes, pelo

incentivo demonstrado.

� Aos colegas do Curso de Mestrado, em especial Rildo Pinheiro, Itamar, Rita

de Cássia e Verônica, pelo companheirismo e ajuda.

� Aos colegas do IPAAM pela partilha de suas experiências.

Page 7: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

“O homem nasce bom, a sociedade o corrompe”

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Page 8: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

RESUMO

A expansão urbana vem causando desequilíbrio econômico e social, considerando a vulnerabilidade ambiental como fator relevante na configuração da distribuição espacial das situações de pobreza, privação social e surgimento de doenças. Registros epidemiológicos apóiam a idéia que a identificação de determinadas doenças estão relacionadas à exposição a riscos ambientais, por exemplo, doenças de veiculação hídrica com a identificação de áreas com baixas condições de saneamento. Dados oficiais apontam que 40% das mortes que ocorrem no mundo são causadas por poluição e outros fatores ambientais. A falta de condições sanitárias contribui para a morte de 4 milhões de pessoas por ano, atingindo principalmente as crianças em países em desenvolvimento. Para enfrentar essa situação, a Política de Atenção Básica de Saúde trabalha com a promoção de estratégias e ações preventivas, envolvendo a comunidade, buscando melhorar a sua qualidade de vida. Nesta pesquisa foram levantados aspectos que relacionam infraestrutura de serviços básicos, condições de saúde e expansão urbana na Zona Norte de Manaus. Também foi realizada uma pesquisa documental através de registros de doenças nos órgãos e sites oficiais. A Zona Norte de Manaus cresceu sobremaneira nas últimas décadas possuindo índices de notificação de doenças, como a malária, decorrente da expansão e alterações do habitat do vetor da doença. São realizadas atividades educacionais para a promoção da saúde com ações inseridas dentro da comunidade, com envolvimento direto do Sistema de Saúde desenvolvido no Distrito Sanitário da Zona Norte. Como proposta, ações conjuntas das Políticas de Saúde, Meio Ambiente e Vigilância Sanitária devem trabalhar alternativas para minimizar os impactos sofridos no meio ambiente, sabendo que a expansão é contínua e histórica, mas que pode ser planejada a garantir menor risco de doenças para o ser humano.

Palavras-chave: expansão urbana; notificação; educação ambiental; atenção básica à saúde.

Page 9: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

ABSTRACT

Urban expansion has been causing environmental vulnerability as a major factor in the poverty, social deprivation and diseases development spatial distribution design. Epidemiologic-based studies support the idea that the identification of specific diseases are related to the environmental risks’ exposure, for instance, water spread diseases are to do with low sanitation condition areas. Official data shows that 40% of the death rate in the world is caused by pollution and other environmental issues. The lack of basic sanitation condition contributes to the death of 4 million people a year, affecting mainly the children in the developing countries. To deal with this situation, the Basic Attention Health Policy works with preventive strategy and action promoting, involving the community, trying to improve quality of life. In this research, basic infrastructure services, health conditions and urban expansion-related aspects in the Northern area of Manaus were raised. In addition to that, documentary research was also carried out through diseases’ institutional registers and websites. Manaus Northern area has greatly grown over the last decades and it has high diseases’ notification rates, such as malaria, due to the alteration and expansion of the disease’s vector habitat. Are realizes educations activities to promote health with actions under community, involvement direct in the Northern Area Sanitary District. To make an offer Health Policy, Environment and Sanitary Surveillance joint actions might work on alternatives to reduce the environmental impacts, bearing in mind that this expansion is continuous and historical, therefore, it can be planned to guarantee minor risks of diseases to the human beings.

Key-Words: urban expansion; notification; environmental education; health basic attention.

Page 10: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Localização do município de Manaus – Amazonas ....................................... 41

FIGURA 2 – Divisão da cidade de Manaus por zonas e bairros ........................................ 46

FIGURA 3 – Macroestruturação urbana de Manaus .......................................................... 51

FIGURA 4 – Palafitas sobre o igarapé do Quarenta - zona sul ........................................ 62

FIGURA 5 – Conjunto habitacional nas proximidades de um igarapé na zona norte ....... 63

FIGURA 6 – Área de lazer próximo a mata - zona norte ................................................... 64

FIGURA 7 – Palafitas construídas em um bairro da zona sul de Manaus ........................ 65

FIGURA 8 – Ocupação em área sem infraestrutura ......................................................... 68

FIGURA 9 – Casas construídas a margem do hip-hap .................................................... 69

FIGURA 10 – Divisão dos bairros da zona norte de Manaus ........................................... 71

FIGURA 11 – Destino do esgoto doméstico ..................................................................... 78

FIGURA 12 – Destino do lixo doméstico – terreno da própria residência ....................... 80

FIGURA 13 – Unidades de saúde da zona norte de Manaus ........................................... 82

FIGURA 14 – Bairro Cidade Nova – zona norte de Manaus ............................................ 83

FIGURA 15 – Monte das Oliveiras e limite com o Nova Cidade ...................................... 84

FIGURA 16 – Distrito de Saúde Norte – DISA NORTE ................................................... 85

FIGURA 17 - Localização da Base Operacional da malária no Nova Cidade .................. 87

FIGURA 18 – Sistema de tubulação de drenagem a céu aberto ..................................... 90

FIGURA 19 – Habitações construídas próximas a encostas ........................................... 92

FIGURA 20 – Expansão urbana da zona norte de Manaus ............................................. 94

Page 11: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Bairros da zona norte de Manaus ................................................................ 70

TABELA 2 – Distribuição da população de Manaus por distrito de saúde – 2006 ........... 72

TABELA 3 – Casos de malária no ano de 2006 na zona norte de Manaus ..................... 98

TABELA 4 – Casos de malária no ano de 2007 na zona norte de Manaus .................... 100

Page 12: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Crescimento populacional de Manaus de 1970 a 2006 ............................. 68

QUADRO 2 – Instalação sanitária no município de Manaus em 1991 e 2000 ................. 79

QUADRO 3 – Destino do lixo no município de Manaus em 1991 e 2000 ........................ 80

Page 13: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

LISTA DE SIGLAS

CIBS – Comissões Intergestores Bipartites

DISA NORTE – Distrito de Saúde Norte

DOU – Diário Oficial da União

EAS – Estabelecimentos Assistenciais de Saúde

FVS – Fundação de Vigilância e Saúde do Estado do Amazonas

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBS – Indicadores Básicos para a Saúde

ICV – Índice de Condições de Vida

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDH-M – Indice de Desenvolvimento Humano Municipal

IMPLURB – Instituto Municipal de Planejamento Urbano

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LACEN – Laboratório Central

OMS – Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

PIB – Produto Interno Bruto

PIM – Pólo Industrial de Manaus

PGRSS – Planos de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde

PNAB – Política Nacional de Atenção Básica

PPI-VS – Programação Pactuada Integrada de Vigilância em Saúde

RIPSA – Rede Interagencial de Informações para a Saúde

SAS – Secretaria de Atenção à Saúde

SEADE – Sistemas de Análise de Dados do Estado de São Paulo

SEMMA – Secretaria Municipal do Meio Ambiente

SEMSA – Secretaria Municipal de Saúde

SIAB – Sistema de Informações da Atenção Básica

Page 14: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SIOPS – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde

SISÁGUA - Sistema de Informação da Qualidade da Água para Consumo Humano

SIS PPI – Sistema de Programação Pactuada e Integrada

SISSOLO - Sistema de Informação da Qualidade do Solo

SUS – Sistema Único de Saúde

SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde

UBS – Unidade Básica de Saúde

UDH – Unidade de Desenvolvimento Humano

UDH-M – Unidade de Desenvolvimento Humano Manaus

VAS – Vigilância Ambiental em Saúde

VIGIÁGUA – Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano

VIGISUS – Vigilância em Saúde no SUS

Page 15: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 17

1. URBANIZAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................... 21

1.1 SAÚDE E MEIO AMBIENTE...................................................................................... 25

2 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE ............................................................................ 29

2.1 VIGILÂNCIA EM SAÚDE .......................................................................................... 30

2.2 VIGILÂNCIA AMBIENTAL E SAÚDE (VAS) ............................................................. 30

2.3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN) ............ 31

2.4 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA DE SAÚDE .................................... 32

2.5 INDICADORES BÁSICOS PARA A SAÚDE (IBS) ................................................... 33

2.6 SAÚDE AMBIENTAL ................................................................................................ 34

2.7 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................ 36

3. O CONTEXTO DA PESQUISA: O MUNICÍPIO DE MANAUS ................................... 41

3.1 PLANO DIRETOR URBANO E AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE MANAUS ............ 47

3.2 PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE DE MANAUS ........................................................ 53

3.2.1 Prioridades, metas e estratégias do Plano Municipal de Saúde ...................... 54

Page 16: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

4. EXPANSÃO URBANA E IMPACTOS AMBIENTAIS EM MANAUS .......................... 61

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOESPACIAL DE MANAUS ............................................ 64

4.2 PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS E IMPACTOS AMBIENTAIS ............................. 67

4.3 ZONA NORTE DE MANAUS .................................................................................... 70

4.4 PANORAMA DA SAÚDE NA CIDADE DE MANAUS ................................................ 72

5. A PESQUISA: MEIO AMBIENTE E SAÚDE NA ZONA NORTE DE MANAUS......... 75

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA......................................................................... 75

5.2 ESTUDO RETROSPECTIVO .................................................................................... 76

5.3 TRATAMENTO ESTATÍSTICO .................................................................................. 77

5.4 A OCUPAÇÃO DA ZONA NORTE DE MANAUS ...................................................... 77

5.4.1 Distribuição do sistema de esgoto sanitário ..................................................... 77

5.4.2 Organização do sistema de saúde na zona norte de Manaus .......................... 81

5.4.3 A questão ambiental e sua relação com a saúde na zona norte de Manaus . 88

5.4.4 Evolução dos problemas ambientais e os impactos na saúde ........................ 92

5.4.5 Programas educacionais desenvolvidos pelas unidades de saúde da zona

norte de Manaus ................................................................................................... 95

5.4.6 Intervenção antrópica e sua relação com a ocorrência de doenças ............... 97

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................... 104

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 108

OBRAS CONSULTADAS ............................................................................................... 114

GLOSSÁRIO ................................................................................................................... 116

Page 17: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

APÊNDICE ...................................................................................................................... 127

Page 18: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

INTRODUÇÃO

O crescimento demográfico, sem o devido planejamento, acaba gerando

práticas ambientais predatórias, como o desmatamento. Erostein (2000) afirma que

não é o avanço da urbanização, sua escala e velocidade que constituem problemas

em si, mas o modo como estes ocorrem, relacionados à forma de ocupar o solo, o

grau de mobilidade da população, a qualidade dos espaços físicos, etc.

Nos anos 90, alguns trabalhos sobre o impacto humano no ambiente e as

conseqüências à saúde humana foram realizados por grupos de pesquisadores

ingleses, norte-americanos e canadenses. Relações como crescimento populacional

e perfil de mortalidade, desigualdade social e qualidade de vida, aumento do buraco

de ozônio e crescimento da radiação ultravioleta, urbanização e poluição do ar,

poluição da água e conseqüências à saúde, etc. (MEYER, 1996; MCMICHAEL,

1993; SOUTHWICH, 1996).

Hogan (2000) relata que não se trata apenas de identificar os elementos

ambientais na etiologia de determinada doença, mas colocar em questão todo o

nosso modo de vida e questionar se o padrão de vida desenvolvido será somente

atingido com o nosso auto-envenenamento.

A Saúde Ambiental, moldada nos modelos epidemiológicos tradicionais,

avança alinhando fatores de riscos ambientais a doenças e agravos da saúde de

17

Page 19: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

populações expostas a determinados agentes físico-químicos e em situações

definidas como não ocupacionais (TAMBELLINI & CÂMARA, 1998).

Por meio de registros epidemiológicos, seria possível em tese, identificar

a exposição a riscos ambientais específicos. Assim, por exemplo, registros de

leptospirose poderiam servir para a identificação de grupos populacionais expostos a

enchentes; a ocorrência diferencial de doenças respiratórias serviria para

identificação de grupos expostos a poluição do ar; e outras doenças de veiculação

hídrica permitiriam a identificação de áreas com baixas condições de saneamento,

etc.

Segundo Pimentel (1998), cerca de 40% das mortes que ocorrem no

mundo são causadas por poluição e outros fatores ambientais; a poluição do ar afeta

a saúde de 4 a 5 milhões de pessoas; a esquistossomose causa a morte estimada

de 1 milhão de pessoas; e a falta de condições sanitárias contribui para a morte de

4 milhões de pessoas por ano, atingindo principalmente as crianças em países em

desenvolvimento. Buscando a participação popular, a Carta de Ottawa define a

promoção da saúde como o processo de capacitação da comunidade para atuar na

melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no

controle deste processo (BUSS, 2000; OMS, 1998).

As modificações ambientais, tanto no nível macro, como no nível micro,

afetam de forma geral a distribuição das doenças infecciosas. Os vínculos entre

desenvolvimento econômico, condições ambientais e de saúde são muito estreitos,

pois as condições para a transmissão de várias doenças são propiciadas pela forma

com que são realizadas as intervenções humanas no ambiente. Assim, em

intervenções mais bruscas, como a expansão da fronteira agrícola com o

desmatamento rápido, pode ocorrer o deslocamento de vetores ou de agentes

18

Page 20: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

etiológicos, atingindo, num primeiro momento, tanto as populações diretamente

envolvidas com o empreendimento, como as comunidades localizadas próximas da

área. Num segundo momento, estas doenças podem atingir as periferias das

grandes cidades ou populações inteiras, como no caso da febre amarela urbana

(PIGNATTI, 2003).

A pesquisa procurou analisar as políticas de saúde voltadas as ações

relacionadas aos agravos no meio ambiente, demonstrar a relação dos casos de

doenças com áreas com freqüente e constante ocupação, os aspectos intra-urbanos

e as relações com as condições de vida e de saúde de diversas áreas no contexto

social relacionados com a expansão urbana da zona norte da cidade de Manaus,

sendo a zona que mais se expandiu nos últimos anos.

Esta pesquisa aborda a urbanização e os impactos ambientais,

relacionando os dois aspectos e os problemas sociais envolvidos no processo da

expansão urbana.

Os dados para o desenho da organização do sistema de saúde da Zona

Norte de Manaus foram levantados nas instituições pesquisadas e nos sites oficiais.

Os registros de casos notificados foram coletados na Secretaria Municipal

de Saúde, na sede do Distrito de Saúde Norte e na Fundação de Vigilância e Saúde

do Estado do Amazonas. O Distrito de Saúde Norte (DISA NORTE) apresenta

alguns Programas Educacionais que são desenvolvidos nas comunidades do próprio

Distrito.

Para registro fotográfico realizaram-se visitações em áreas da expansão

urbana com conjuntos habitacionais já consolidados e em áreas onde o processo de

construção estava em andamento, caracterizando a estrutura física do local no

momento da pesquisa.

19

Page 21: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Essas informações podem servir para a elaboração e sugestão de

alternativas de ações, não só políticas, como educacionais para ajudar a minimizar

os impactos tanto à saúde como para o meio ambiente.

20

Page 22: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

1. A URBANIZAÇÃO E IMPACTOS AMBIENTAIS

A expansão urbana não tem sido homogênea como o que acontece

principalmente nas regiões metropolitanas, acirrando os desequilíbrios econômicos e

sociais, tanto entre cidades quanto dentro das cidades. Também não são

homogêneas as taxas de crescimento das cidades, sendo detectadas maiores taxas

naquelas de porte médio. Entre 1991 a 2006, cidades com 100 a 500 mil habitantes

tiveram crescimento de 41%, comparado ao crescimento médio geral de 27% entre

as cidades (IBGE, 2006). A vulnerabilidade ambiental é um fator relevante na

configuração da distribuição espacial das situações de pobreza, privação social e

surgimento de doenças.

Havia previsões que a medicina erradicaria as doenças infecciosas, que

com o passar do tempo, confirmaram que estavam erradas (EVANS, 1985).

Doenças como a malária, a tuberculose e a hepatite ainda são as maiores

causadoras de morte em muitas partes do mundo. Novas doenças continuam a

surgir com taxas sem precedentes, enquanto outras reaparecem em regiões onde

elas estavam em declínio ou não mais ocorriam. As mudanças recentes e distintas

no ambiente, o crescimento econômico, a crise social e o advento da AIDS estão

contribuindo para a emergência de novas doenças e o reaparecimento de outras

antigas (EPSTEIN, 1995 apud PIGNATTI, 2003).

A tecnologia e os avanços na área de saúde contribuíram para a

contenção e redução das doenças infecciosas e imuno previníveis. Entretanto, a

forma da organização socioambiental que as doenças encontraram como espaço

para ora emergirem, ora ganharem novas faces. Entre as grandes endemias

urbanas, estão a hanseníase, a leishmaniose e a dengue. Esta, embora os

21

Page 23: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

conhecimentos sobre os vírus, os vetores e as manifestações clínicas sejam

conhecidos e haja todo um Programa Nacional de Controle da Dengue, as

condições de produção e reprodução da doença estão vinculadas à circulação do

vírus em humanos e nos vetores que encontraram no ambiente urbano as condições

ideais para desencadear surtos da doença. A produção de materiais descartáveis, a

negligência com o lixo e o aumento de recipientes que acumulam água nos

domicílios humanos, além da densidade populacional, não estão sendo encarados

como fatores de enfrentamento da questão (PIGNATTI, 2003).

Segundo recente consenso da Organização Pan-Americana de Saúde

(OPAS), foi em 1968, o primeiro registro correlacionando a mortalidade urbana e

condições de saúde. Somente em 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS)

despertou para a crise na saúde urbana, compreendendo essa crise como um

desafio, resultando em um encontro de pesquisadores da área em Kobe, Japão, em

1996. Ainda nesta década iniciaram-se os movimentos das cidades saudáveis que

configuraram uma rede entre 2000 e 2006. Neste mesmo período, foi fundada a

Sociedade Internacional de Saúde Urbana, que muito tem contribuído para o

dinamismo da área, inclusive com a publicação periódica do Journal of Urban Health

da Academia de Medicina de Nova Iorque.

No Brasil, ambos os processos (crescimento populacional e urbanização

desigual) ocorreram principalmente devido à “periferização”, após a década de 1970,

com impacto direto e indireto nas condições de moradia e saúde da população

(BRITO, 2005 apud CAIAFFA, 2008).

Para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, a proteção do

ambiente tem de ser entendida como parte integrante do processo de

desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente. É a diferença entre

22

Page 24: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

crescimento e desenvolvimento, ou seja, enquanto crescimento não conduz

automaticamente à igualdade nem à justiça social, pois não leva em consideração

nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas, que

se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população, o desenvolvimento, por

sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas, mas tem o objetivo de distribuí-

las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em consideração,

portanto, a qualidade ambiental do planeta (AMBIENTE BRASIL, 2008).

Para Faria (1992), os serviços públicos – em áreas tais como as de

educação, saúde, saneamento, etc. – parecem terem sido capazes de proporcionar,

mesmo durante um período de profunda crise financeira do setor público, uma

espécie de rede de proteção aos grupos de renda mais baixa, atenuando os efeitos

da grave crise econômica que se verificava a nível nacional. Aparentemente, o

processo de democratização estaria entre os principais fatores explicativos para

essa dinâmica inesperada, ao lado dos chamados “efeitos de longo prazo” e da

redução da “pressão demográfica”.

Em 1998, a Organização Mundial de Saúde propõe um modelo de

Vigilância Ambiental onde o desenho analítico é uma matriz de causa-efeito, sendo

os fatores hierarquizados em força motriz, pressões, situação, exposição e efeito e

propostas de ações para a minimização do impacto na saúde humana

estabelecidas. A força motriz considera os fatores que influenciam os vários

processos que podem afetar a saúde humana, como por exemplo, o crescimento da

população, o desenvolvimento econômico e tecnológico, a pobreza, a

industrialização e a urbanização em escala ampla e macro; as pressões seriam

aquelas geradas pelas diferentes atividades econômicas, como a indústria, a

agricultura, o transporte e a energia; a situação refere-se ao aumento na freqüência

23

Page 25: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

e magnitude do risco natural gerado pelos processos anteriores, como a qualidade

da água, do ar e do solo por causa da poluição; a exposição estabelece um vínculo

direto entre os riscos ambientais e os efeitos reais de novos riscos para a saúde; e

os efeitos são medidos quando alguém se submete a uma exposição como

intoxicação, envenenamento, morbidade e mortalidade. Em 2000, o Ministério da

Saúde incorpora os determinantes ambientais e cria o Sistema de Vigilância

Ambiental em Saúde como um conjunto de ações que proporcionam conhecimento e

a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do

meio ambiente que interferem na saúde humana. A finalidade deste Sistema seria

de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos e

das doenças ou agravos relacionados à variável ambiental (BRASIL, 2002).

Diversos estudos evidenciam que crescer em bairros com alta

concentração de pobreza tem efeitos negativos relevantes em termos de avanço

educacional, emprego, gravidez na adolescência e atividade criminal (DURLAUF,

2001; BRIGGS, 2001; CARDIA 2000). Embora os mecanismos que explicam a

relação entre pior desempenho educacional e residência em locais de elevada

concentração de pobres, por exemplo, não sejam bem conhecidos, é evidente que o

pior desempenho educacional nessas áreas contribui para perpetuar e reproduzir a

pobreza a longo prazo. Por outro lado, na medida em que a rede de relações sociais

de um indivíduo ou família contribui para seu acesso a empregos e a serviços

públicos, o isolamento social presente nas áreas segregadas tende a contribuir

significativamente para a redução das oportunidades das famílias residentes nesses

locais.

24

Page 26: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

1.1 SAÚDE E MEIO AMBIENTE

As questões ambientais devem ser relacionadas com a área de saúde

coletiva e compor o eixo da reforma sanitária, observando os determinantes e

condicionantes do processo saúde-doença. A saúde deve estar inserida no processo

de tomada de decisões de outras políticas, como a de trabalho, emprego, transporte,

educação, economia, desenvolvimento, saneamento, abastecimento de água, etc.,

corroborando para a proteção do meio ambiente (COHEN, 2004).

A relação saúde e ambiente, considerando a sustentabilidade,

compreendem a implantação de uma política que se estenda a segmentos diversos

interessados na promoção da saúde humana e na preservação do planeta. Como

política pública não há como não integrar o meio ambiente, trabalho e emprego,

cidades e educação, entre outras áreas. Essas articulações devem construir

agendas comuns buscando qualidade ambiental e de vida, com tecnologia e ciência.

Compreender a qualidade de um espaço, construído sob a influência da

saúde, possibilitando torná-lo saudável, envolvendo o elemento físico, seu entorno e

suas inter-relações, compõem, a “habitação”, espaço este construído de diferentes

formas dependendo de outros fatores, principalmente o econômico.

A habitação é formada por diferentes dimensões: cultural, econômica,

ecológica, sociológica e de saúde. A dimensão cultural envolve hábitos de usos de

seus moradores e suas funções, ideologias, implementos e ações. A dimensão

econômica é caracterizada pela qualidade de sua estrutura, sua microlocalização e a

disponibilidade e acesso a equipamentos básicos urbanos. A dimensão ecológica

compõe um sistema aberto que interage com o meio ambiente onde está localizada.

A dimensão sociológica inclui o uso que os seus habitantes fazem de habitação,

25

Page 27: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

incluindo os estilos de vida e as condutas de risco. A dimensão da saúde destaca o

enfoque sociológico como fator determinante da saúde de seus moradores e do

meio. Essas múltiplas visões de habitação devem trabalhar uniformes para a

construção de uma agenda de saúde (OMS, 1998).

A habitação está relacionada com o território geográfico e social do local;

com os materiais usados para sua construção; a segurança e a qualidade dos

elementos combinados; o processo construtivo; a composição espacial; a qualidade

dos acabamentos; o contexto do entorno e a educação em saúde ambiental. Ainda

envolvendo a necessidade de ter equipamentos urbanos básicos como saneamento,

espaços físicos limpos, com estrutura e redes de apoio possibilitando hábitos

psicossociais seguros (isentos de violência física, verbal e emocional) e saudáveis

(COHEN, 1993).

Sob o ponto de vista da saúde, a construção de um novo espaço de

práticas voltadas à promoção da saúde e a defesa do meio ambiente deve ser

construído com base: nas referências teórico-conceituais da saúde coletiva; na

reforma sanitária brasileira e nas diretrizes centrais do SUS. Não se pode deixar de

criar vínculo com grupos acadêmicos, de pesquisa, de profissionais de saúde e do

ambiente para reconstruir e problematizar a união entre saúde e ambiente.

Iniciativas e articulações da sociedade têm buscado aproximar as

preocupações da questão ambiental com a questão da saúde, como é o caso de

mobilizações da sociedade ante a poluição das águas e a exposição humana

decorrente da contaminação química ambiental e pelo surgimento de um novo

conceito de justiça ambiental. Como nova concepção de desenvolvimento, a

incorporação de temas como degradação ambiental, poluição das águas, ar, solo,

radiações ionizantes e não ionizantes, desastres naturais, acidentes com produtos

26

Page 28: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

perigosos, substâncias químicas e seus efeitos à saúde da população pode ativar e

acelerar mudanças no modo de vida e no convívio das pessoas (NETTO,

DRUMOND & VASCONCELOS, 2007).

A implementação de políticas públicas, como as ações para o

saneamento básico, o uso adequado do solo, a preservação das nascentes e de

áreas de preservação ambiental, visam assegurar os direitos fundamentais de

acesso a esses serviços. Dados oficiais da Política Nacional de Saneamento Básico

(2000) apontam que 45 milhões de brasileiros não têm acesso à rede de água e 82

milhões de brasileiros não são atendidos por redes coletoras de esgoto. A média de

perdas nos serviços de abastecimento de água é de 42% quanto aos resíduos

sólidos, 64% dos municípios dispõem seus resíduos sólidos em lixões; há carência

de política e de programas para o manejo de águas pluviais (GONÇALVES, 2007).

Para a prestação adequada dos serviços, devem ser considerados alguns

aspectos como princípios gerais da Política Nacional de Saneamento Básico:

sustentabilidade, intersetorialidade; cooperação interinstitucional; gestão pública dos

serviços; participação e controle social; direito à informação; direito à educação

sanitária e ambiental e respeito às diversidades locais e regionais.

A promoção da salubridade ambiental deve ser buscada por políticas

integradas, visando também a potencializar os investimentos realizados. As ações

de saneamento ambiental, ou seja, de gestão de resíduos sólidos, de abastecimento

de água, de esgotamento sanitário, de drenagem e controle de enchentes, de

controle de vetores de doenças transmissíveis e de educação sanitária e ambiental,

devem ser integradas e interligadas entre si e com as demais políticas públicas, em

especial com as de saúde, meio ambiente, recursos hídricos, desenvolvimento

urbano e rural, habitação e desenvolvimento regional (GONÇALVES, 2007).

27

Page 29: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% das doenças que

ocorrem nos países em desenvolvimento são ocasionadas pela contaminação da

água. A cada ano 15 milhões de crianças entre 0 a 5 anos morrem direta ou

indiretamente pela falta ou pela deficiência dos sistemas públicos de abastecimento

de água e esgotos. Somente 30% da população mundial tem garantia de água

tratada, sendo os 70% restantes dependentes de poços e de outras fontes de

abastecimento passíveis de contaminação. O processo de expansão urbana, nas

últimas décadas, aliou a especulação de venda de terras, o esvaziamento das áreas

centrais e a precariedade nos novos loteamentos. Desta forma, devido a dificuldade

de acesso a terra urbana qualificada em áreas centrais, milhares de famílias viram-

se obrigadas a ocuparem regiões ambientalmente frágeis - como as margens de

rios, vales e colinas (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2000).

28

Page 30: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

2. POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE

O direito à saúde está previsto na Constituição Federal de 1988 (Brasil,

1999) nos artigos 196, 197, 198, 199 e 200, regulamentado pela Lei n.º 8.080, de 19

de setembro de 1990, e também pela Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990. De

acordo com estes instrumentos normativos, a saúde é um direito fundamental,

cabendo ao Estado a responsabilidade de prover as condições materiais

necessárias ao seu exercício, através da formulação de políticas públicas de

dimensão individual e coletiva, com intervenção direta nos fatores determinantes e

condicionantes da saúde que inclui alimentação, moradia, saneamento básico, meio

ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços

essenciais, reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1946.

O Sistema Único de Saúde por meio da lei 8.080 de 1990 (Brasil, 1990)

dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a

organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras

providências.

O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e

instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e

indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, que constitui o SUS, por meio

de ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e

hierarquizada tendo as seguintes diretrizes: I descentralização; II atendimento

integral e III participação da comunidade.

Os objetivos do SUS devem assegurar uma assistência de qualidade e

resolutividade na execução das ações de vigilância a saúde, vigilância ambiental

entre outros.

[Digite uma citação do documento

ou o resumo de uma questão

interessante. Você pode posicionar a

caixa de texto em qualquer lugar do

documento. Use a guia Ferramentas

de Caixa de Texto para alterar a

formatação da caixa de texto da

citação.]

29

Page 31: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

2.1 Vigilância em Saúde

A Vigilância em Saúde abrange as seguintes atividades: a vigilância das

doenças transmissíveis, a vigilância das doenças e agravos não-transmissíveis e

dos seus fatores de risco, a vigilância ambiental em saúde e a vigilância da situação

de saúde. A adoção do conceito de vigilância em saúde procura simbolizar uma

abordagem nova, mais ampla do que a tradicional prática de vigilância

epidemiológica (BRASIL, 2009).

Essa nova concepção vem procurando envolver os diferentes campos da

atenção a saúde e destaca a educação em temas ambientais como um forte alicerce

para aplicação das mais diversas ações e estratégias de mobilização. A notificação

de doenças não representa em si uma maneira eficiente de combater as doenças e

reduzir os fatores que as causam, necessitando de intervenções não apenas no

tratamento, mais principalmente na prevenção de fatores causais e promoção de

ações educativas no combate a redução dos casos, a minimizar os impactos no

meio ambiente e na participação ativa da comunidade.

2.2 Vigilância Ambiental em Saúde (VAS)

Conjunto de ações e serviços que objetiva o conhecimento, a detecção ou

a prevenção de qualquer mudança em fatores determinantes e condicionantes do

meio ambiente, que possam interferir na saúde humana, no sentido de recomendar

e adotar medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos relacionados às

doenças e aos outros agravos à saúde. As prioridades que estão sendo pactuadas

com as secretarias de saúde dos estados e secretarias municipais de saúde das

capitais, por meio da Programação Pactuada Integrada de Vigilância em Saúde

30

Page 32: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

(PPI-VS) e pelo VigiSUS, são a vigilância em saúde relacionada à qualidade da

água para consumo humano, a vigilância em saúde relacionada à qualidade do ar e

a vigilância em saúde relacionada a áreas de solos contaminados. Outras áreas

compreendem a vigilância em saúde relacionada a substâncias químicas, desastres

e radiações não ionizantes.

Os aspectos que envolvem a expansão urbana, acompanhada dos

avanços da modernidade, trazem uma carga de poluição e degradação em igual

velocidade. Pelo aumento do consumo exagerado, e pelo desperdício de materiais e

de alimentos, assim como do igual desperdício de água, matéria prima e emissão de

poluentes com impactos sem precedentes e de difícil reparo a natureza. O

monitoramento dos níveis de contaminação nas diversas áreas servem para

mensurar e controlar os agentes agressores do ambiente, e, a rever o papel de cada

segmento na participação nesse problema, tanto como gerador como reparador dos

danos ambientais, com propostas para minimizar ou cessar tais danos mensuráveis.

2.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

O sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) tem por

objetivo o registro e o processamento dos dados sobre agravos de notificação em

todo território nacional, fornecendo informações para análise do perfil da morbidade

e contribuindo, dessa forma, para a tomada de decisões nos níveis municipal,

estadual e federal. Esse sistema possibilita uma análise global e integrada de todos

os agravos definidos para desencadear as medidas de controle. O SINAN é o

principal instrumento de coleta de dados das doenças de notificação compulsória e

outros agravos. Instituído em 1996, tem por objetivo dotar municípios e estados de

31

Page 33: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

uma infra-estrutura tecnológica básica para a transferência de dados dentro de

sistema de informação em saúde. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)

trabalha para a promoção e a disseminação do uso da metodologia epidemiológica

em todos os níveis do SUS. Objetiva o estabelecimento de sistemas de informação e

análises que permitam o monitoramento do quadro sanitário do país, subsidiando a

formulação, implementação e avaliação das ações de prevenção e de controle de

doenças e agravos, bem como a definição de prioridades e a organização dos

serviços e ações de saúde.

2.4 Política Nacional de Atenção Básica de Saúde

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no

âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a

prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção

da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias

democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a

populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade

sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas

populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que

devem resolver os problemas de saúde de maior freqüência e relevância em seu

território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-

se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do

cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da

humanização, da equidade e da participação social (BRASIL, 2002a).

32

Page 34: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na

complexidade, na integralidade e na inserção sócio-cultural e busca a promoção de

sua saúde, a prevenção e tratamento de doenças e a redução de danos ou de

sofrimentos que possam comprometer suas possibilidades de viver de modo

saudável.

A Atenção Básica tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para

sua organização de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde.

Visando a operacionalização da Atenção Básica, definem-se como áreas

estratégicas para atuação em todo o território nacional a eliminação da hanseníase,

o controle da tuberculose, o controle da hipertensão arterial, o controle do diabetes

mellitus, a eliminação da desnutrição infantil, a saúde da criança, a saúde da mulher,

a saúde do idoso, a saúde bucal e a promoção da saúde (BRASIL, 2006).

2.5 Indicadores Básicos para a Saúde (IBS)

O IBS é um produto final do trabalho de diversos órgãos especializados

do Ministério da Saúde, em conjunto com a Fundação do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),

Coordenação-Geral de Estatística e Atuária do Ministério da Previdência e

Assistência Social e a Fundação Sistemas de Análise de Dados do Estado de São

Paulo (SEADE), integrantes da Rede Interagencial de Informações para a Saúde

(RIPSA). Essa rede é responsável pela atualização anual dos dados, que estão

disponíveis na página do DATASUS. Os indicadores estão agrupados em seis

categorias: demográficos, socioeconômicos, mortalidade, morbidade e fatores de

33

Page 35: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

risco, recursos e cobertura e são apresentados por estado, capital e região

metropolitana.

2.6 Saúde Ambiental

O campo da saúde ambiental compreende a área da Saúde Pública e

afeta o conhecimento científico, à formulação de políticas públicas e às

correspondentes intervenções (ações) relacionadas à interação entre a saúde

humana e os fatores do meio ambiente natural e antrópico que a determinam,

condicionam e influenciam, com vistas a melhorar a qualidade de vida do ser

humano, sob o ponto de vista da sustentabilidade (BUSS, 2000).

A humanidade está num estágio onde a urbanização passa a se

expressar mais firmemente nas necessidades humanas, por não poderem se

desprender dos recursos científicos e tecnológicos, tornando-se um consumidor nato

de bens e serviços (DANSERAU apud GERHARD, 1975).

Campo de práticas intersetoriais e transdisciplinares voltadas aos reflexos

na saúde humana das relações eco-geo-sociais do homem com o ambiente, com

vistas ao bem-estar, à qualidade de vida e à sustentabilidade, que orienta políticas

públicas formuladas utilizando o conhecimento disponível e com participação e

controle social, conceito este construído coletivamente no I Seminário da Política

Nacional de Saúde Ambiental realizado em Brasília em 2005.

Para tornar viáveis os objetivos e as ações da Saúde Ambiental, são

lançadas políticas que permitem direcionar metas e estratégias para a área. A

Política Municipal de Meio Ambiente do Código Ambiental do Município de Manaus

34

Page 36: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

(Lei n.º 605, de 24 de julho de 2001), possui entre seus objetivos que alicerçam a

saúde ambiental:

- compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a proteção da

qualidade do meio ambiente e o equilíbrio ecológico;

- articular e integrar as ações e atividades ambientais desenvolvidas pelos

diferentes órgãos e entidades do município, com aquelas dos órgãos federais e

estaduais, quando necessário;

- adotar todas as medidas necessárias no sentido de garantir o

cumprimento das diretrizes ambientais estabelecidas no Plano Diretor da Cidade,

instrumento básico da política de pleno desenvolvimento das funções sociais, de

expansão urbana e de garantia do bem-estar dos habitantes;

- garantir a participação popular, a prestação de informações relativas ao

meio ambiente e o envolvimento da comunidade;

- melhorar continuamente a qualidade do meio ambiente e prevenir a

poluição em todas as suas formas;

- estabelecer normas que visam coibir a ocupação humana de áreas

verdes ou de proteção ambiental, exceto quando sustentado por plano de manejo.

A saúde ambiental envolve atividades educacionais constantes, voltadas

a Educação Ambiental, por possuírem traços comuns e necessitam que a

participação da sociedade seja atuante, nada mais óbvio do que entrelaçar esses

segmentos.

Os gestores de educação e de saúde possuem papel relevante para

mudanças em alguns cenários de degradação, pois alcançam diferentes segmentos

35

Page 37: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

sociais e econômicos, podendo ajudar na mudança de comportamento dos

envolvidos nas ações educacionais.

A aplicação das ações da saúde ambiental na educação tende a envolver

a participação tanto dos alunos, dos docentes, técnicos administrativos e da

comunidade, em atividades que reforcem a prevenção de danos e agravos ao meio

ambiente, promoção da saúde do ser humano, conservação das fontes naturais de

energia, preservação dos diferentes habitats, produção sustentável e iniciativas de

convivência, devendo ser destacadas nos meios escolares e na comunidade.

2.7 Educação Ambiental

Sua origem vem do ambientalismo, tendo nascido na II Grande Guerra

Mundial, vindo a se fortalecer na década de 60, aliando-se a movimentos sociais:

advindos do descontentamento estudantil, principalmente na França, Espanha e

Alemanha; movimentos contra a guerra do Vietnã; grupos pacifistas contra as armas

nucleares; o movimento feminista na reivindicação de seus direitos e o movimento

hippie. Em 1966, Aldous Huxley em seu livro Admirável Mundo Novo faz uma

advertência sobre os riscos de uma sociedade longe dos processos sociais e

alienada pelo cientificismo clássico. Em 1968, outro livro, de autoria de Rachel

Carson A Primavera Silenciosa, denuncia uma série de desequilíbrios provocados

pelo homem ao interferir na natureza. Havendo ainda o alerta de Ehrlich quanto o

crescimento exponencial da população mundial, levando a uma inviabilidade da vida

no planeta em um curto período de tempo (GUEVARA, 1994; SAITO, 2002;

VICTOR, 1996).

36

Page 38: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em

Estocolmo, a questão ambiental apresentou grande repercussão. A partir de 1977, o

meio ambiente na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental da

Organização das Nações Unidas (Tbilisi) foi conceituada com um perfil nitidamente

socioambiental ao abarcar, além dos elementos naturais, os que são criados pelo

homem e os sociais constituídos por um conjunto de valores culturais, morais e

individuais sem deixar de lado as relações interpessoais na esfera do trabalho e das

atividades de lazer. Este enfoque é visto pela lei no 9.795 de 27 de abril de 1999, que

estabelece, a Política Nacional de Educação Ambiental no seu art. 4º, inciso II

quando acrescenta a sustentabilidade. Durante a Jornada Internacional de

Educação Ambiental realizada no Fórum Global na Rio92, foi elaborado o Tratado

de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global

(CASCINO, 2003; GUIMARÃES, 2003; VELASCO, 2002).

O Seminário de Educação Ambiental para a América Latina que ocorreu

em 1979 no Peru destacou que é preciso desenvolver para preservar e chama a

atenção para a interdisciplinaridade. Na década de 1980 institui-se a Política

Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio Ambiente, com a Lei

6.938, de 31 de agosto de 1981 (BRASIL, 1988).

No Brasil em 1987, teve como destaque na imprensa internacional, as

queimadas e devastações da floresta amazônica, obrigando o governo a tomar

medidas rigorosas contra a destruição das matas.

A Educação Ambiental tem entre seus desafios:

- buscar por uma sociedade democrática e justa a todas as classes

sociais;

37

Page 39: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

- diminuir ou eliminar qualquer tipo de intimidação das ações e práticas

educacionais;

- promover a participação espontânea e modificadora como constante

ação;

- incentivar o aprendizado e conhecimento contínuo e permanente.

A Educação Ambiental (CARVALHO, 2006; CASCINO, 2003) possui

como característica favorável trabalhar com interdisciplinaridade e a

transdisciplinaridade, podendo envolver os diferentes segmentos curriculares para

ações de educação ambiental, formal e informalmente. A formação de agentes com

formação educacional com visão ambiental propicia um leque de oportunidades na

discussão de fatores sociais, econômicos, promoção de saúde, prevenção de

doenças, entre outros, com fortalecimento na conservação e preservação do meio

ambiente.

Entre os princípios básicos da Educação Ambiental no art. 79 do Código

Ambiental do Município (Manaus, 2001), destacam-se:

- a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a

interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o

enfoque da sustentabilidade;

- o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da

inter, multi e transdisciplinaridade;

- a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

- a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

38

Page 40: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

- a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais,

nacionais e globais;

- o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e

cultural, entre outros.

Como objetivos fundamentais da Educação Ambiental no art. 80 do

mesmo Código Ambiental, temos:

- o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente

em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,

psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;

- o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e

responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a

defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

- o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

- o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e

solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade;

- o melhoramento contínuo no tangente à limpeza pública e privada e

conservação do município;

- a conscientização individual e coletiva para prevenção da poluição em

todos os aspectos sociais, morais e físicos.

A Educação Ambiental oportuniza uma mobilização social em diversas

áreas e permite que agendas de estratégias de programas educacionais possam ser

desenvolvidas conjuntamente onde o exercício da cidadania possa ser praticado

para o benefício de todos.

39

Page 41: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Os setores da indústria, empresa, agropecuária e agricultura podem

receber programas com focos específicos, o que possibilitaria minimizar os danos ao

ambiente, utilizando-se de tecnologia, principalmente para a informação e para o uso

de estratégias multisetoriais e transdisciplinares.

O fortalecimento da comunidade para executar ações educativas, permite

que estes sejam contínuos e permanentes, favorecendo o desenvolvimento

integrado de Programas de Educação.

40

Page 42: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

3. O CONTEXTO DA PESQUISA: O MUNICÍPIO DE MANAUS

Manaus está localizada em um ponto estratégico entre a confluência de

dois grandes rios navegáveis, utilizados como barreira contra possíveis invasões

espanholas ou holandesas (CARNEIRO FILHO, 1997). Por necessitar de força

militar, foi criada em 1669, a Fortaleza de São José do Rio Negro, servindo também

para abordar tribos indígenas para conseguir mão-de-obra escrava (BATES, 1979),

culminando com o surgimento de um povoado denominado Lugar da Barra, vindo a

ser chamado de São José da Barra do Rio Negro e, posteriormente, em homenagem

à maior tribo indígena da região, de Manaus (Figura 1).

Figura 1: Localização do município de Manaus-Amazonas. Fonte: SUSAM, 2007.

Em 1786 contava-se 300 habitantes, com boa parte das casas em

péssimas condições. Bates (1979, p. 49) descreve:

Construíram-se casas confortáveis, e a cidade cresceu, no decurso de trinta ou quarenta anos, até se tornar, depois de Santarém, a principal povoação das margens do Amazonas. À época de minha visita ela estava em decadência, devido à crescente desconfiança, ou esperteza, dos indígenas, que em outros tempos tinham constituído a única e numerosa

18

41

Page 43: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

classe trabalhadora, mas que, ao tomarem conhecimento de que a lei os protegia no que dizia respeito à servidão forçada, começaram a se retirar da cidade rapidamente. Quando foi criada a nova Província do Amazonas, em 1852, Barra foi escolhida para sua capital, recebendo então o apropriado nome de Manaus.

Com a esperança de melhoria de vida, muitos nordestinos que fugiam da

seca, foram para os seringais ou foram trabalhar na construção da estrada Madeira-

Mamoré (1877). O Amazonas possuía em 1872 cerca de 57.610 habitantes,

concentrando mais de 51% em Manaus.

Já se notava uma disparidade em relação à população da província que

neste período apresentou um índice de 360% ao ir de 41.300 em 1856 para 148.000

em 1890 (CARNEIRO FILHO, 1997). Tal fato pode ser explicado pelo grande fluxo

populacional registrado em 1889, quando foram criadas as colônias de João Alfredo

e Oliveira Machado para absorver uma parte dos imigrantes nordestinos. Estima-se

que até a virada do século XX, atingiu o montante de 300.000 a 400.000 imigrantes

na região.

O governo municipal de Manaus apresentou, em 1872, um Código de

Posturas voltado para a saúde e o meio ambiente, proibindo escavações nos leitos e

margens dos igarapés e o lançamento de lixo, restos de materiais de construção,

materiais que viessem a apodrecer, e o lançamento de dejetos humanos somente

após às 21 horas no Rio Negro. Era obrigado a se manter limpas as vasilhas de

transporte e venda de água, vacinação antivariólica para os maiores de três anos.

Era ainda limitada a circulação de carroças e animais de tração no sentido de

organizar o uso dos espaços públicos e proibia o porte de armas, não era liberada a

embriaguez pública ou a circulação de pessoas seminuas ou a tomarem banho sem

roupa (VELLOSO et al., 2002).

42

Page 44: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Em 1889, com a Proclamação da República, a Província passou a Estado

do Amazonas e na última década do século XIX, o aquecimento da economia levou

a grandes transformações urbanas e incrementou a vinda de imigrantes, incluindo

europeus.

O aumento populacional da cidade entre 1960 e 1970 foi de 45%

enquanto que de 1970 a 1980 foi de 94%. Em 2006 a população de Manaus era de

1.610.366 com previsão para abril de 2009 para 1.738.641 habitantes (87% urbana;

13% rural; 52,07% mulheres e 47,93% homens).

A densidade demográfica é 149,9 habitantes por km², com perspectiva de

vida na cidade superior a 73 anos (Manaus, 2006). O Índice de Desenvolvimento

Humano de Manaus (IDH-M) é de 0,774, o IDH-M Renda de 0,702 e o IDH-M

Educação 0,909 (IBGE, 2006). A renda per capita é de R$ 20.965,82 (dados

de 2000 expressos em R$ de 1 de agosto de 2000).

O centro de Manaus é uma cidade contemporânea, cosmopolita, dotada

com infraestrutura urbana: largas avenidas, viadutos e passagens de nível;

aeroporto e porto internacionais; e eficientes serviços públicos (energia elétrica,

saneamento básico, segurança, etc.) planejados para atender uma cidade com

proporções menores, situada inicialmente na zona sul e zona oeste, e, com a

expansão da mesma, principalmente das zonas leste e norte, está longe de suprir as

necessidades da população.

O relevo é caracterizado por planícies1, baixos planaltos2 e terras firmes3,

1 Superfície extensa, plana ou pouco acidentada, apresentando fraco declive. Nas planícies os processos de acumulação ou deposição de materiais superam o de desgaste ou de erosão. 2 É a classificação dada a uma forma de relevo constituída por uma superfície elevada, com cume mais ou menos nivelado, geralmente devido à erosão eólica ou pelas águas. São como topos retos, superfícies topográficas, que podem ser regulares ou não. 3 É a região de interior da floresta amazônica, longe de rio caudalosos, de solo mais pobre.

43

Page 45: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

com uma altitude média inferior a 100 metros. As planícies são constituídas por

sedimentos recentes da Era Antropozóica4, tornam-se bastante visíveis nas

proximidades dos rios. Alguns desses sedimentos continuam a ser trazidos pelas

correntezas, o que significa que a Planície Amazônica ainda está em formação.

Manaus possui uma área territorial de 11.159,5 km², tendo 377 km² como

área urbana, 100 km² de área de expansão urbana, e situa-se entre as coordenadas

2°57' e 3°10' latitude Sul e 59°53' e 60°07' longitude Oeste. Tem como limites: ao

norte o município de Presidente Figueiredo; ao sul os municípios do Careiro e

Iranduba; ao leste os municípios de Rio Preto da Eva e Amatari e a oeste o

município de Novo Ayrão.

O clima é equatorial úmido, com temperatura média anual de 26,7ºC,

variando entre 23,3ºC e 31,4ºC. A umidade relativa do ar oscila na casa de 80% e a

média de precipitação anual é de 2.286 mm. A região possui duas estações

distintas: a Chuvosa (inverno), de dezembro a maio, período em que a temperatura

mostra-se mais amena, com chuvas freqüentes; e a Seca (verão ou menos

chuvosa), de junho a novembro, época de sol intenso e temperatura elevada, em

torno de 38ºC, chegando a atingir quase 40ºC no mês de setembro. Costumam

ocorrer, durante todo o ano, fortes pancadas de chuva de pouca duração. Com uma

flora diversificada, abriga vários tipos de plantas, além da vitória-régia, uma espécie

aquática ornamental. Existem plantas bem próximas umas das outras, o que torna a

vegetação úmida e impenetrável. Há espécies com folhas permanentes,

encarregadas de deixar a floresta com um verde intenso o ano todo.

4 Refere-se aos terrenos de aluvião que se sobrepuseram às formações geológicas anteriores. Foi nesta Era que apareceram as faunas que precederam as atuais, e que na sua maioria ainda existem. Tem especial interesse os mamíferos e os moluscos. O nome de Antropozóica deve-se ao aparecimento do Homem nesta Era.

44

Page 46: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Quanto à hidrografia, os rios que passam por Manaus são o Negro e o

Solimões, e, ao se encontrarem, formam o grande Rio Amazonas:

- O Rio Negro nasce no leste da Colômbia, e é o maior afluente do

Amazonas e o maior rio de água negra do mundo.

- O Rio Solimões nasce no Peru e entra no Brasil pelo município

de Tabatinga.

- O Rio Amazonas é o maior rio da Terra, tanto em volume d'água quanto

em comprimento (6.992,06 km de extensão). Tem sua origem na nascente do Rio

Apurímac (alto da parte ocidental da Cordilheira dos Andes) no sul do Peru.

Apesar de estar situada na Amazônia Legal, Manaus possui poucas áreas

verdes. A arborização da cidade vem sendo “construída” nos últimos anos, existindo

hoje na cidade:

- Parque do Mindú: localizado na Zona Centro-Sul de Manaus, no

bairro Parque 10. O Parque do Mindú é hoje um dos maiores e mais visitados

parques municipais do Amazonas. Foi criado em 1989, através de um manifesto

popular iniciado pelos moradores do bairro Parque 10 de Novembro.

- Área verde da Colina do Aleixo: criado na década de 1980. A área verde

do Colina do Aleixo localiza-se na Zona Leste da cidade e é uma das maiores áreas

verde urbana. Não é aberta à visitas devido invasões constantes de sem-terra.

- Parque Sumaúma: é um Parque Estadual localizado na Zona Norte de

Manaus, no bairro Cidade Nova, é o menor Parque Estadual do Amazonas e aberto

a visitações todos os dias, exceto aos domingos.

45

Page 47: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

A re-divisão geográfica do Município de Manaus foi instituída no Decreto

n. 2924, de 07 de agosto de 1995 e redimensionada pela Lei 283, de 12 de abril de

1996. Teve como base os estudos técnicos realizados pelo Instituto Municipal de

Planejamento e Informática (IMPLAN), tendo Manaus sido dividida em 6 Zonas

Administrativas com 56 Bairros (Figura 2). A cidade possui hoje em torno de 420

áreas residenciais, entre conjuntos, condomínios, ocupações ilegais e loteamentos.

Figura 2: Divisão da cidade de Manaus por zonas e bairros. Fonte: Prefeitura Municipal de Manaus-Am, 2009.

Enfatizando e trabalhando para o crescimento ordenado da cidade, foi

aprovada a revisão do Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus

(Manaus, 2002), tratando de diferentes aspectos, necessários para o planejamento e

gestão de uma cidade, com aplicação de diretrizes legais a serem seguidas. A

descrição de alguns pontos estará sendo abordada para melhor entendimento de

sua evolução e utilização para o benefício da cidade.

46

Page 48: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

3.1 Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus.

O primeiro Plano Diretor de Manaus foi aprovado em 1968, através da Lei

nº 1.033, estabelecendo o zoneamento, a infra-estrutura viária, o loteamento e a

regulamentação das edificações. Para regulamentar o uso do solo urbano, somente

sete anos depois foi publicado o Plano de Desenvolvimento Integrado da Cidade de

Manaus (PDI), que passou a definir as políticas de desenvolvimento urbano no

município de Manaus através de lei complementar de loteamento e zoneamento que

dividiu a cidade em áreas urbanas e de expansão urbana, em zonas segundo as

funções nelas predominantes.

O Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus (Lei n° 671,

D.O.M. de 05 de nov. de 2002) em seu título I, tem a descrição dos princípios que

devem reger o desenvolvimento do município, em seu art. 1°aborda que o

desenvolvimento urbano e ambiental de Manaus tem como premissa o cumprimento

das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, nos termos da Lei Orgânica

do Município, de forma a garantir em três de seus incisos: a promoção da

qualidade de vida e do ambiente; o aprimoramento da atuação do Poder

Executivo sobre os espaços da cidade, mediante a utilização de instrumentos

de controle do uso e ocupação do solo e a inclusão social através da

ampliação do acesso a terra e da utilização de mecanismos de redistribuição

da renda urbana.

No art. 2º estão propostas sete estratégias para o desenvolvimento do

município, complementando-se com as demais diretrizes do Plano, propondo:

I Valorização de Manaus como metrópole regional; II Qualificação ambiental do

território; III Promoção da economia; IV Mobilidade em Manaus; V Uso e

ocupação do solo urbano; VI Construção da cidade e VII - Gestão democrática.

47

Page 49: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Fazendo referência à ocupação da terra, em seu capítulo V, trata do uso e

ocupação do solo urbano, especificando no art. 24 a Estratégia de Uso e Ocupação

do Solo Urbano, que tem como objetivo geral ordenar e regulamentar o uso e a

ocupação do solo para garantir a qualidade de vida da população, incluindo a

reconfiguração da paisagem urbana e a valorização das paisagens não urbanas.

Devendo ser empregado a todas as áreas do município, proporcionando uma

ocupação igualitária, com benefícios para todos os segmentos sociais.

Ainda no cap. V o parágrafo único apresenta como objetivos específicos

da Estratégia de Uso e Ocupação do Solo Urbano:

I - Controlar a expansão urbana horizontal da cidade, visando à preservação dos

ambientes naturais do Município e à otimização dos serviços e equipamentos

urbanos de Manaus;

II - Instituir, consolidar e revitalizar centros urbanos dinâmicos;

III - Ordenar a localização de usos e atividades na cidade;

IV - Incentivar a adoção de padrões urbanísticos e arquitetônicos condizentes com

as características climáticas e culturais de Manaus, visando à melhoria das

condições ambientais das edificações e à criação de uma nova identidade

urbanística para a cidade.

Esses objetivos reforçam a atenção em tentar manter o crescimento da

cidade, historicamente natural para qualquer grande metrópole, ordenado e sem

maiores prejuízos ou danos ao meio ambiente.

O art. 26 trata da Estratégia de Construção da Cidade, tem como objetivo

geral compartilhar os benefícios sociais gerados na cidade e potencializar atividades

econômicas urbanas para a implementação de uma política habitacional que

48

Page 50: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

democratize o acesso a terra e à moradia. Em seu parágrafo único, são objetivos

específicos da Estratégia de Construção da Cidade:

Promover intervenções estruturadoras no espaço da cidade que crie novas oportunidades empresariais e permita ao Poder Executivo recuperar e redistribuir a renda urbana decorrente da valorização do solo; ampliar a oferta de habitação social e o acesso à terra urbana, fomentando a produção de novas moradias para as populações de média e baixa renda adequadas à qualificação ambiental da cidade; prevenir e/ou corrigir os efeitos gerados por situações e práticas que degradam o ambiente urbano e comprometem a qualidade de vida da população, principalmente invasões e ocupações nas margens dos cursos d água.

Imagina-se então que amparado por tantas diretrizes, seria o suficiente

para se construir um espaço urbano adequado para diferentes tipos de ocupação,

habitacionais ou não, onde o meio ambiente não sofreria com intervenções

antrópicas negativas. Ainda nesse campo, a competência no município em fiscalizar

e acompanhar essas estratégias devem ser atuantes e contínuas. Considerando a

desigualdade social e os interesses econômicos, essa observância não pode ser

tendenciosa ou omissa, procurando alcançar a todos os interessados em prol de um

resultado positivo para a cidade.

O Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus de 2002

ainda reforça no art. 28 que a implantação de infraestrutura urbana e social

deverá ser priorizada em áreas e núcleos urbanos mais carentes para garantir

melhores condições de vida à população, com ênfase no aperfeiçoamento do

sistema de atendimento à saúde e na ampliação da rede municipal de ensino

público. Isso reforça indiretamente as ações políticas, tanto da saúde, como da

educação. Historicamente, uma população carente, torna-se carente também nos

mais diversos serviços: transporte coletivo, fornecimento de água, iluminação

pública e acesso à saúde. Este último, em especial, acaba por agravar essa

49

Page 51: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

situação. As pessoas doentes que continuam com a exposição a riscos, tendem

sempre a permanecer doentes, o que aumenta a possibilidade dessas pessoas de

apresentarem complicações crônicas, passando da necessidade de atendimento

primário a atendimento terciário, onerando os custos com a saúde.

Dentre as diretrizes propostas no art. 30, está a que deve ampliar a

oferta de habitação social e o acesso à terra urbana, assim como as diretrizes

para prevenir e corrigir os efeitos gerados por situações e práticas que

degradam o ambiente urbano e comprometem a qualidade de vida da

população, o Poder Executivo deverá implementar uma política habitacional de

interesse social. É preciso promover a melhoria das condições de habitabilidade

nas áreas consolidadas por moradias populares, na perspectiva de garantir novas

oportunidades para a população de baixa renda e promover o reassentamento

dessa população, sujeita a situações de risco, mantendo as populações

reassentadas, preferencialmente, no mesmo local ou nas proximidades, garantindo

maior segurança e melhor condição de acesso ao trabalho, ao lazer, à saúde e à

educação. Este último nem sempre é possível, e até inviável se analisado o local de

origem, porém uma infraestrutura deve ser criada e colocada ao acesso dessas

pessoas, garantindo melhores condições de vida e oportunidade para a progressão

econômica e social.

Como programa da política habitacional de interesse social, o art. 31

destaca para melhoria das condições de habitação em áreas consolidadas, a

implantação de programa de Educação Ambiental junto às comunidades,

articulando os diversos agentes representativos da sociedade; promoção de

ações articuladas com órgãos e entidades governamentais e não-

governamentais voltados à construção de moradias populares e, que possa

50

Page 52: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

atender às demandas das populações de média e baixa renda,

preferencialmente àquelas que ocupam áreas de invasões e igarapés. O que

diminuiria sensivelmente o quadro atual e a exposição a agravos a saúde, pois são

as mais expostas e que menos possuem condições para tratamento e orientação

quanto à prevenção.

Destaca-se que no art. 38 constituem-se pressupostos para a

Macroestruturação do Município (Figura 3), a inibição da expansão da malha

urbana nas direções norte e leste, mediante a indução do adensamento na área

urbana consolidada, visando melhor aproveitamento da infra-estrutura

instalada. Porém os altos custos de aquisição da casa própria ou terreno na área

urbana inibem qualquer assalariado a pensar ou sonhar em adquirir uma moradia,

dificultando a condução e concretude para a ocupação em uma área urbana.

Figura 3: Macroestruturação Urbana de Manaus. Fonte: Prefeitura de Manaus, 2009.

Observando os instrumentos de regulação, em especial das normas de

uso e ocupação do solo no art. 63, este, será regulamentado por lei municipal

Área Urbana Área de Transição

51

Page 53: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

específica que definirá as normas relativas ao uso e atividades e a intensidade de

ocupação, que visam a qualidade de vida da população; o controle da densificação e

a minimização dos impactos ambientais. Essa regulamentação oportuniza ao

governo municipal, juntamente com outros órgãos, atuar efetiva e objetivamente em

estudos e ações que viabilizem a prática correta da ocupação do solo urbano.

O município também é responsável pelo gerenciamento dos resíduos

sólidos produzidos pela cidade, na seção IV em seu art. 117, tem como estratégia

intervir para a proteção à saúde humana e do meio ambiente, especificando

medidas que incentivem a conservação e recuperação de recursos naturais e

oferecer condições para a destinação final adequada dos resíduos sólidos. O aterro

sanitário do município deve estar dentro de normas sanitárias e ambientais para

atender as prerrogativas dos ministérios da saúde e meio ambiente e órgãos afins.

Na seção VIII que trata dos instrumentos complementares referente ao

Plano de Saneamento e Drenagem, o art. 126, tem como objetivos:

Controlar, proteger e direcionar a presença e o uso da água em todas as suas formas - rios, igarapés, lagos, lençóis superficiais e profundos; e disciplinar, definir técnicas e competências para o lançamento e destino final dos efluentes domésticos, não domésticos e industriais.

O tratamento dos resíduos nas estações de esgoto contribuiria não só

para diminuir a poluição das águas, mais também no reaproveitamento de água,

gerando economia e redução no consumo natural.

Os impactos ambientais produzidos pelo desmatamento da floresta,

queimadas, poluição dos leitos de igarapés, destino de resíduos tóxicos ou de

esgotos para as margens dos rios ou em terrenos baldios6, chegam a causar danos

6 Terreno inútil; estéril; inculto.

52

Page 54: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

tão sérios que dificilmente serão revertidos ao longo de muitos anos, isso se vier a

ser implantado um programa de recuperação dessas áreas e igarapés. A

contribuição do setor público, por ação direta, e setor privado, por ações indiretas

como incentivo a educação, cultura e preservação do meio ambiente e promoção da

saúde, podem ser desenvolvidos com igual importância para minimizar e reverter

danos ambientais.

O Plano Diretor Urbano e Ambiental de Manaus possui uma abrangência

extensiva ao meio ambiente, sem causar danos ou prejudicar na qualidade de vida

com a ocupação do solo.

O planejamento e ações voltadas à saúde foi aprovado na 12ª Assembléia

Geral Ordinária (Resolução nº 55 de 21 de dez. de 2006) o Plano Municipal de

Saúde de Manaus com propostas do Plano Plurianual 2006-2009 (FERREIRA, 2006)

trabalhando as prioridades, metas e estratégias para a saúde, fazendo essa relação

junto aos gestores, prestadores de serviços (públicos ou privados), população e

meio ambiente, culminando em ações distintas, porém com o mesmo foco.

3.2 Plano Municipal de Saúde de Manaus.

Plano Municipal de Saúde de Manaus de 2006, configura-se como um

instrumento de auxílio ao gestor no processo de tomada de decisão, tendo suas

prioridades, metas e estratégias sido estabelecidas em consonância com as

propostas do Plano Plurianual (PPA) 2006-2009, e de acordo com o Plano Nacional

de Saúde – Pacto pela Saúde no Brasil e Regulamentação dos Pactos pela Saúde.

O Plano foi elaborado, participativamente, por profissionais da saúde e por

representação do Conselho Municipal de Saúde.

O PPA foi divididos em três partes:

53

Page 55: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

1ª Parte: Características demográficas e sociais, a análise situacional da saúde no

município de Manaus e a produção de serviços de saúde;

2ª Parte: Apresenta as prioridades, metas e estratégias estabelecidas pela Gestão;

3ª Parte: Composta pelo demonstrativo do Plano Plurianual PPA – 2006⁄2009 onde

são apresentados os recursos orçamentários, com as metas físicas e financeiras.

Para entendimento do que se baseia a 2ª parte do Plano Municipal de

Saúde, destacou-se as prioridades, metas, e estratégias que mais estão

correlacionadas ao interesse da pesquisa, abrangendo diversos objetivos em prol da

saúde.

3.2.1 Prioridades, Metas e Estratégias do Plano Municipal de Saúde.

Como resultado do PPA 2006-2009 estão apresentadas algumas

prioridades com suas respectivas metas e estratégias, relacionadas com área de

expansão urbana e seu envolvimento com a saúde, trabalhando em conjunto focos

distintos e que contribuem para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

Gestão em Saúde

- Parcerias interinstitucionais para a promoção da saúde da população.

Meta 1 – Estabelecer com outras instituições, parcerias para a promoção à saúde,

visando fortalecer a intersetorialidade das ações (educação, saneamento

básico, meio ambiente e outras áreas afins) para a melhoria das

condições de vida da população.

Estratégia 1: Divulgação das ações e serviços junto a instituições parceiras.

Estratégia 2:Participação em eventos para a troca de conhecimentos e experiências.

54

Page 56: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Estratégia 3: Estabelecimento de pacto de ações intersetoriais entre os níveis

governamentais, não-governamentais e filantrópicos.

O envolvimento de órgãos, instituições e setores que podem contribuir

para o fortalecimento dos cuidados e proteção à saúde, destacando a promoção da

atenção básica, possibilita a participação direta e efetiva dos administradores para

que realizem atividades em cooperação mútua para colocar em prática ações que

envolvam tanto os parceiros como a comunidade para a prevenção de doenças

através da mudança de comportamento e de convivência.

As experiências em programas aplicados em outros campos podem servir

de base para gestão em saúde e direcionar tentativas para unir as metas e planos

das diferentes instituições, propiciando maior participação dos parceiros e melhor

distribuição de tarefas a serem aplicadas pelos mesmos.

Vigilância em Saúde

A vigilância em saúde na busca de uma nova concepção com

abrangência de diferentes campos procurou alcançar metas que propiciassem

envolver outros parceiros e atores do processo, principalmente da comunidade,

através da educação continuada, monitoramento de ações, com cobrança de todos

quanto ao cumprimento de suas obrigações e metas.

- Implementar as ações de vigilância em saúde.

Meta 1 – Descentralizar em 80% as ações de vigilância em saúde para os distritos

de saúde.

Estratégia 1: Pactuação junto aos distritos para definição das ações que serão

descentralizadas.

55

Page 57: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Estratégia 2: Reestruturação das ações de vigilância para descentralização.

Estratégia 3: Promoção da educação permanente aos profissionais na área de

vigilância em saúde.

Estratégia 4: Revisão do código sanitário de Manaus.

Estratégia 5: Realização do cadastro sanitário da cidade de Manaus.

A Secretaria de Saúde junto com as coordenações dos distritos sanitários

elaboram a cada ano, um calendário de capacitação para os profissionais, e, com

apoio da outras instituições, como a Fundação de Vigilância e Saúde do Estado,

realizam cursos através de palestras e treinamentos. Cabe aos gestores de saúde

manter um cadastro das famílias e das unidades de saúde de cada distrito, com uma

política de acompanhamento e monitoramento das notificações das doenças.

A Vigilância em Saúde contribui para o crescimento das ações e troca de

informações entre todos os níveis de assistência com envolvimento dos profissionais

e ajudando no planejamento das metas e resoluções. As campanhas em conjunto

realizadas pelos distritos devem ter uma regularidade, mantendo os dados

atualizados e permitindo aos profissionais ter acesso as informações necessárias

para elaboração de atividades. Ainda compete aos distritos sanitários envolver as

comunidades visando mantê-las participativas e sabedoras que são parte atuante no

processo de saúde-doença.

Meta 2 – Implantar as ações de controle vetorial e manejo ambiental nos Distritos de

Saúde.

Estratégia 1: Execução das ações de controle vetorial e manejo ambiental nas áreas

prioritárias.

56

Page 58: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Estratégia 2: Articulação intersetorial visando a colaboração nas ações de controle

de endemias.

Estratégia 3: Promoção da educação permanente aos profissionais para controle

vetorial e manejo ambiental.

Estratégia 4: Aplicação da legislação pertinente para o efetivo controle de endemias.

Estratégia 5: Realização de atividades para divulgação e informação, junto à

comunidade e organizações da sociedade civil.

Estratégia 6: Monitoramento e avaliação das ações de controle vetorial e manejo

ambiental.

Esse controle se dá através do planejamento e execução de atividades

que envolvam a vigilância em saúde; a revisão da legislação específica; a

capacitação de profissionais; a mobilização da comunidade e ações para redução

dos casos de doenças e danos ao meio ambiente.

A consolidação das atividades dos Distritos Sanitários em cada área e

com ações comuns é uma das estratégias que mais podem incentivar e contar com

a participação da comunidade, principalmente por possuírem as unidades básicas

de saúde da Estratégia Saúde da Família implantadas “dentro” das comunidades,

permitindo maior contato e identificando as características e necessidades de cada

área, traçando assim, estratégias direcionadas a grupos mais específicos e com

maior contato, podendo trabalhar com outros profissionais, trazendo-os para dentro

da realidade da comunidade e permitindo o contato com os serviços dos demais

níveis de assistência. Tanto a troca de experiências como as contribuições em cada

área favorecem o alcance de metas extensivas a diversos segmentos e áreas.

57

Page 59: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

- Fortalecimento das ações de vigilância ambiental.

Meta 1 – Garantir a melhoria da qualidade da água para o consumo humano nos 04

distritos de saúde de Manaus, através do VIGIÁGUA.

Estratégia 1: Reestruturação física (espaço e equipamentos) e de recursos humanos

do setor e do laboratório municipal.

Estratégia 2: Cadastramento dos sistemas de abastecimento de água (rede pública

e soluções alternativas).

Estratégia 3: Elaboração do plano de amostragem para vigilância da qualidade da

água para consumo humano.

Estratégia 4: Implantação do sistema de informação da qualidade da água para

consumo humano - SISÁGUA.

Meta 2 – Implantar em parceria com 100% dos EAS o gerenciamento dos resíduos

sólidos no município de Manaus.

Estratégia 1: Elaboração de modelo de Plano de Gerenciamento dos resíduos de

Serviços de Saúde - PGRSS para os EAS.

Estratégia 2: Acompanhamento da implantação dos Planos de Gerenciamento dos

Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS nos EAS.

Estratégia 3: Promoção da educação permanente aos profissionais na área de

vigilância em saúde para execução das atividades dos VIGIS - água,

solo, ar, PGRSS.

Meta 4* – Garantir a melhoria da qualidade do solo.

Estratégia 1: Reestruturação física (espaço e equipamentos) e de recursos humanos

do setor e do laboratório municipal.

Estratégia 2: Cadastramento das fontes geradoras de resíduos sólidos e líquidos

(indústria e serviços)

58

Page 60: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Estratégia 3: Elaboração do plano de amostragem para vigilância da qualidade do

solo.

Estratégia 4: Implantação do sistema de informação da qualidade do solo-SiSSOLO.

Estratégia 5: Realização de atividades informativas e educativas para público

diferenciado.

Meta 5* – Atender 100% da demanda espontânea das ações de vigilância ambiental

em estabelecimentos domiciliares.

Estratégia 1: Inspeção, orientação e atendimento às demandas espontâneas

referentes aos sistemas independentes de saneamento básico.

A construção dessas metas para vigilância e controle da qualidade da

água, do solo, dos resíduos sólidos e das residências permiti a aplicação de tarefas

e ações, servindo de subsídio para programas eficientes e constantes de prevenção

e conservação do meio ambiente, cuidados com a saúde e nos mais diferentes

aspectos, podendo ser desenvolvidos programas específicos para o alcance das

metas.

A grande maioria dos problemas de saúde que surgem em áreas sem

estruturação sanitária vem da contaminação da água, do solo e resíduos jogados ao

ar livre, a vigilância ambiental minimiza os agravos oriundos dessa natureza.

- Manter a qualidade da água e dos alimentos para consumo humano no

município de Manaus.

Meta 1 – Implementar em 20% as coletas/ano de água e alimentos, para atender a

demanda dos serviços de vigilância sanitária, epidemiológica, ambiental e

demandas provenientes dos distritos.

Estratégia 1: Estruturação do espaço físico do laboratório da vigilância sanitária.

* A numeração segue a ordem numérica original do Plano Municipal de Saúde de Manaus - 2006.

59

Page 61: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Estratégia 2: Aquisição de material de consumo e permanente para o laboratório.

Estratégia 3: Manutenção das coletas e análises microbiológicas e físico-químicas

de água em escolas, comunidades, residências, unidades de saúde e

estabelecimentos comerciais.

Meta 2 – Implantar em 100% as coletas de água na rede pública de abastecimento.

Estratégia 1: Realização de coletas para análises da colimetria e dos indicadores de

sentinela (cloro residual livre e turbidez).

Estratégia 2: Manutenção das coletas de água do abastecimento público.

As análises laboratoriais ajudam a certificar o controle da qualidade dos

produtos examinados, como a água e alimentos. O monitoramento e o controle

dessas amostras e análises permitem maior vigilância e, em contrapartida, obrigam

aos fornecedores e prestadores de serviços a manterem os devidos cuidados e

qualidade com os produtos consumidos ou utilizados pela população.

A Vigilância em Saúde na produção de alimentos e o fornecimento e

consumo de água pela população deve ter um plano de acompanhamento e

verificação da qualidade dos mesmos, contribuindo para manter a saúde da

população, evitando assim, o surgimento de doenças em boa parte evitáveis e de

fácil controle.

60

Page 62: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

4. EXPANSÃO URBANA E IMPACTOS AMBIENTAIS EM MANAUS.

O desmatamento das últimas décadas na cidade de Manaus é, em parte,

devido ao aumento populacional, estendendo-se principalmente nas zonas leste e

norte, a falta de planejamento para corredores florestais intra-urbanos levam a áreas

sem ou pouca cobertura verde.

Não deixando de mencionar que as indústrias do Pólo Industrial de

Manaus (PIM) também contribuem com a poluição na cidade.

Nas últimas décadas a capital cresceu vertiginosamente com loteamentos

populacionais distantes do centro histórico e com ocupações desordenadas na

periferia de Manaus. Desta forma as classes mais pobres procuraram se estabilizar

em habitações que seriam de “sua propriedade”, sem altos custos e sem pagamento

de taxas e impostos. Contudo tais ações geraram conflitos e desequilíbrios urbanos

e ambientais.

O pouco foco dado a essas ocupações, decorrentes da carência

econômica, têm como característica comum, condições mínimas de qualidade. O

crescimento desordenado desses espaços urbanos, sem segurança, higiene, rede

elétrica, escolas, enfim, infraestrutura, é compatível com a situação sócio-econômica

desses ocupantes. A baixa renda ou quase nenhuma, favorece a degradação dos

espaços ocupados (Figura 4).

61

Page 63: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 4: Palafitas sobre o igarapé do Quarenta (Zona Sul). Foto: Souza, 2008.

As margens dos igarapés não foram poupadas, até pelo fato da cidade

ser entrecortada por eles, a população menos desprovida de renda e condições

sociais, acabou se instalando nesses locais expondo-se a problemas de saúde,

como a doenças de pele, gastrointestinais e doenças respiratórias.

A ocupação de extensas áreas com pouca ou nenhuma margem de

distanciamento da mata e sem correto planejamento, podem gerar problemas

ambientais, causando degradação e favorecendo o acesso a margens de igarapés

(Figura 5).

62

Page 64: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 5: Conjunto habitacional nas proximidades de um igarapé na Zona Norte. Foto: Souza, 2008.

Quanto à baixa ou nenhuma oferta de áreas de lazer, a própria população

acaba fabricando espaços de recreação (Figura 6), para ser utilizado tanto pelos

adultos como pelas crianças. Criam-se aí condições favoráveis ao aparecimento de

vetores e agentes causadores de doenças, como ratos, baratas, moscas, etc., além

de poder ocasionar acidentes, como lesões na pele e perfurações profundas,

gerando doenças, como o tétano.

63

Page 65: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 6: Área de “lazer” próxima a mata (Zona Norte). Foto: Souza, 2008.

4.1 Caracterização socioespacial de Manaus

Dados do Censo (IBGE, 2000) e de pesquisas realizadas pela Prefeitura

Municipal de Manaus no período 2000-2004, o município apresentava até aquele

momento um déficit de aproximadamente 42 mil unidades habitacionais. Isto

equivaleria, segundo tais pesquisas, a aproximadamente 300 mil cidadãos sem

acesso à habitação formal ou em habitações precárias (Figura 7).

64

Page 66: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 7: Palafitas construídas em um bairro da zona sul de Manaus. Foto: Souza, 2008.

Urbanistas e estudiosos sobre a questão urbana em Manaus apontam a

região entre os rios Solimões e Negro, além do igarapé do Mindú, como a área

urbana na qual historicamente a Prefeitura atuou com maior rigor e com maior

planejamento de investimento por parte do poder público sendo também esta

a região onde se encontra a maioria dos bairros com melhores indicadores

sociais da cidade. Esta região tem perdido população e apresentado uma densidade

demográfica cada vez menor, apesar de ser a região da cidade com maior índice de

infraestrutura e equipamentos sociais. Exceção feita às regiões de Adrianópolis,

Cidade Nova, Vila Mariana e Flores que sofreram um impressionante acréscimo de

população. As populações de baixa renda, por não terem como arcar com o custo de

vida dessas áreas, acabam assim ocupando as regiões nas bordas do município. É

válido mencionar, entretanto, que mesmo dentro das margens delimitadas por esses

rios, há algumas regiões de exclusão social, como a favela da CEASA no

bairro Mauazinho. Por outro lado, há também alguns núcleos de alta renda

65

Page 67: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

como Flores, Parque 10, Cidade Nova e os condomínios do Tarumã, localizados fora

da área delimitada por esses rios.

Além da dualidade centro-periferia que explicita em parte a desigualdade

social na cidade, também nota-se pontos em que o contraste é visível e grupos de

perfis de renda diversificada, convivem como os bairros da Cidade Nova, Aleixo e

São José, que apresentam conjuntos habitacionais de alta renda localizados

próximos às regiões de ocupação desordenada.

Devido à crescente degradação do centro da cidade, alguns projetos de

reurbanização e revitalização têm sido realizados. Bairros situados fora do centro

expandido, como Japiim, que anos atrás abrigava uma população pobre e operária,

e nos quais há poucos anos havia falta de estrutura básica, vem sofrendo uma

grande mudança econômica. Hoje esses bairros dispõem de muitos comércios e de

investimentos para infraestrutura. Na década de 1970 (chamada de "milagre

econômico") com a chegada de milhares de migrantes, nordestinos e paulistas em

grande parte, que vieram à procura de melhores condições de vida, foram

apontados como uma das causas do problema de espacialidade social.

A população de Manaus é de 1.738.641 habitantes (conforme contagem

realizada pelo IBGE em 2009), o que a coloca na posição de oitava cidade mais

populosa brasileira, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília,

Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba. O crescimento populacional da capital é

superior à média das capitais brasileiras. A cidade cresce 10% acima da média das

capitais do país (IBGE, 2008).

Geograficamente, as regiões mais próximas do centro em Manaus são,

em geral, mais ricas e desenvolvidas, enquanto as regiões mais afastadas tendem a

66

Page 68: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

ser mais pobres e mais carentes de infraestrutura urbana e habitacional, exceto em

algumas áreas das zona norte e zona leste.

Atualmente, é o oitavo município brasileiro mais populoso, abrigando

quase metade da população do estado. Manaus também está entre os

cinco municípios com participação acima de 0,5% no PIB do país que mais crescem

economicamente, é o pólo atrativo de toda a região. Contudo, esse aumento

populacional acarretou inúmeros problemas, como déficit no sistema habitacional e

nos serviços de saúde (IBGE, 2006).

4.2 Pólo Industrial de Manaus e Impactos Ambientais

A criação da Zona Franca, teve propósito de instalar em Manaus um

centro industrial, comercial e agropecuário, no intuito de gerar riqueza e desenvolver

o Amazonas, com a criação de vários empregos e de renda formal e informal.

Entretanto não houve um planejamento prévio para manter o interiorano fixo em

suas terras e com proporcionais oportunidades de obtenção de renda, forçando-o a

migrar para a capital.

Em 1970, Manaus dobra de população, alcança a marca de 283.673

habitantes urbanos e 27.494 habitantes rurais, totalizando 311.622 habitantes

(Quadro 1). O grande fluxo migratório do interior do Estado, do nordeste,

principalmente, e de outras regiões do país, levou ao crescimento de mais de 500%

da população de Manaus, passando de 300 mil em 1970 para mais de 1 milhão e

500 mil na passagem do século XXI (PNUD, 2002).

67

Page 69: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Quadro 1 - Crescimento populacional de Manaus de 1970 a 2006.

Município Ano 1970 1980 1990 2000 2006

Manaus Urbana 283.673 611.843 1.006.585 1.396.768 1.469.016

Rural 27.949 21.540 4.916 9.067 219.508

TOTAL 311.622 633.383 1.011.501 1.405.835 1.688.524

Fonte: IBGE, Censos 1970, 1980, 1990, 2000 e 2006.

Esse crescimento se deve a vários fatores: a falta de oportunidade de

emprego no interior e em outras cidades, a projeção nacional de Manaus em

constante crescimento – não mencionando as dificuldades – econômico e social,

atraindo não só os que estão em situação menos favorecida, mais também aqueles

que pretendem investir seu capital e obter bom lucro, trabalhando nas mais

diferentes atividades (construção civil, agricultura, pecuária, indústria, etc.).

A área urbana de Manaus passa a representar 70% da população urbana

do Estado, vindo a ocupar áreas impróprias, como margens de igarapés (Figura 8).

Figura 8: Ocupação em áreas sem infraestrutura. Foto: Souza, 2008.

68

Page 70: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Com o crescimento da cidade, o governo perde o controle sobre o

planejamento urbanístico das construções, e com o aumento populacional

desenfreado, ocorrem vários problemas ambientais. A má estrutura das casas,

saneamento inexistente, a falta de outros serviços básicos, levaram a um meio de

vida com pouca ou nenhuma qualidade.

A cidade cresce em proporções significativas, principalmente nas décadas

de 1980 e 1990, com vários problemas urbanísticos: falta de planejamento

habitacional; comércio ilegal de terrenos da União e privados; falta ou inadequada

oferta de serviços de saneamento; rede elétrica e fornecimento de água e, serviços

básicos de saúde que atendessem a população que passa a compor a cidade

(Figura 9).

Figura 9: Casas construídas a margem do “hip-hap”. Foto: Souza, 2008.

69

Page 71: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

4.3 Zona Norte de Manaus

A zona norte é uma região administrativa estabelecida pela Prefeitura de

Manaus, englobando os bairros da região, forma com a zona leste a macro-zona

conhecida simplesmente como "zona de crescimento".

De acordo com os dados do IBGE/2008, a região tem uma população

superior aos 500.000 habitantes e renda média por habitante de R$ 720,25.

É a segunda maior região da cidade. Apesar de ser superada pela zona

leste, a zona norte tem sido a que mais cresce na última década em termo

populacional. Ocupa a maior área do município de Manaus, no total com mais de

6.000 km do município.

No período de 1982 até 1990, foi construído o conjunto Cidade Nova

(Tabela 1), que ampliou a expansão da cidade para a zona norte e inaugurou uma

nova fase na construção de unidades habitacionais populares em Manaus, pelo

número de moradias e por concentrar no seu entorno outros projetos habitacionais

populares.

Tabela 1 Bairros da zona norte de Manaus.

BAIRROS DA ZONA NORTE POPULAÇÃO

CIDADE NOVA 232.396

COLÔNIA SANTO ANTÔNIO 14.950

COLÔNIA TERRA NOVA 32.609

MONTE DAS OLIVEIRAS 21.749

NOVO ISRAEL 17.314

SANTA ETELVINA 19.788

TOTAL 338.806

Fonte: IBGE, Censos e Estimativas, 2006.

70

Page 72: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Esta zona possui uma área aproximada de 7.620 ha, que compreende

aglomerados implantados através de apropriação ilegal de terras, loteamentos

clandestinos e do bairro com a maior concentração da população da cidade -

Cidade Nova (Figura 10), o maior vetor de expansão urbana da zona norte com a

implantação de conjuntos populares construídos nos anos 90 e do número de

ocupações espontâneas que ocorreu no seu entorno (OLIVEIRA e COSTA, 2007).

Figura 10: Divisão dos bairros da Zona Norte de Manaus. Fonte: Prefeitura Municipal de Manaus-AM.

Tem como destaque a Cidade Nova, o maior bairro de Manaus abrigando

mais de 210 mil moradores. O Nova Cidade, bairro que surgiu em 1996, apresentou

nos últimos anos o maior crescimento populacional da história de Manaus, passando

de 832 moradores (1999) a 31.443 moradores (2007), um crescimento enorme e

histórico em Manaus (CENSO, 2006). Outros bairros também surpreenderam no

índice de crescimento populacional.

Em plena expansão, o Nova Cidade vem crescendo vertiginosamente

com a implantação de conjuntos habitacionais financiados pelo governo.

71

Page 73: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

4.4 Panorama da saúde na cidade de Manaus

A organização de serviços em espaços geográficos e demograficamente

definidos viabiliza a intersetorialidade necessária ao desenvolvimento pleno das

ações e o estabelecimento de uma relação de mútua responsabilidade entre os

recursos de saúde e a população adscrita. Estes espaços constituem os distritos

(Tabela 2), conceituados como espaços de transformação, que deverão promover a

integralidade da atenção.

A desproporcional distribuição populacional nas áreas urbana e rural do

município de Manaus indica a necessidade de um desenho territorial adequado do

sistema de saúde, de forma a ofertar serviços não somente na área urbana, mas

também em sua vasta área rural. Outro fator importante é o forte atrativo que

Manaus exerce sobre as populações dos municípios vizinhos e mesmo de alguns

estados das regiões norte e nordeste, o que influencia fortemente o aumento do

contingente populacional a ocupar as áreas mais periféricas e a formar comunidades

(invasões) sem qualquer infra-estrutura básica de serviços.

A população urbana de Manaus está distribuída em quatro Distritos

Sanitários de Saúde: norte, sul, leste e oeste, existindo ainda o distrito rural.

Tabela 2 Distribuição da população de Manaus por distrito de saúde – 2006.

DISTRITOS DE SAÚDE POPULAÇÃO PERCENTUAL

DISTRITO NORTE 338.806 20,07%

DISTRITO SUL 500.699 29,65%

DISTRITO LESTE 408.913 24,22%

DISTRITO OESTE 426.477 25,26%

ÁREA RURAL 13.629 0,80%

TOTAL 1.688.524 100

Fonte: IBGE, Censos e Estimativas.

72

Page 74: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

As unidades públicas estaduais e municipais de saúde constituem a

maioria da rede prestadora de serviços do SUS e se organizam por níveis de

hierarquia e procedimentos. De acordo com a capacidade potencial dos

estabelecimentos e distribuída pelas quatro zonas da cidade, sendo estas, muitas

das vezes, desenhadas de acordo com a nomenclatura da unidade de assistência.

Preconizados pelo Ministério da Saúde, a assistência a saúde é dividida para atuar

em diferentes níveis:

- Na Atenção Básica: Estratégia de Saúde da Família (ESF); Unidade

Básica de Saúde (UBS); Casa de Saúde da Mulher (CSM); Centro de Atenção

Integral à Criança (CAIC).

- Na Atenção Média: Pronto Atendimento (PA); Policlínica; Centro de

Atenção Integral à Melhor Idade (CAIMI); Serviço de Pronto Atendimento (SPA);

Centro de Referência em Pneumologia Sanitária (CREPS); Ambulatórios de

Especialidades.

- Na Atenção de Alta Complexidade: Centro de Oncologia; Centro

Psiquiátrico; Hemocentro; Hospital Especializado; Hospital Geral; Hospital Infantil;

Hospital Universitário; Instituto da Criança (ICAM); Fundação de Dermatologia e

Venereologia (FDTVAM); Fundação de Medicina Tropical (FMT-AM); Maternidades;

Pronto Socorro da Criança; Pronto Socorro Geral e Pronto Socorro de Referência.

A Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) presta serviços de atenção

básica que envolve as Policlínicas, os Serviços de Pronto Atendimento (SPA), os

Pronto Atendimentos (PA) e os Centros de Atenção Integral a Melhor Idade, ainda

em implantação os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). Com a

implantação do Programa Saúde da Família em 1999 em Manaus, vindo a ser

modificado pelo Ministério da Saúde, a prefeitura vem investindo nos últimos anos

73

Page 75: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

na Estratégia Saúde da Família, cujas ações estão voltadas para a assistência

primária de saúde. As unidades básicas de saúde da ESF que estão inseridas

dentro da própria comunidade, facilitando o dia-a-dia com os comunitários e a

orientação contínua dos Programas de Saúde do MS. Manaus já possui uma média

de atendimento superior a boa parte das cidades brasileiras, porém só há poucos

anos vem dando enfoque a ações de promoção da saúde e prevenção de doenças

como meta a ser priorizada. Assim, a prefeitura da cidade vem implementando um

programa fortemente embasado em ações primárias de assistência, apesar de não

ter conseguido envolver todos os profissionais, por ainda credibilizarem com maior

importância, os procedimentos e encaminhamentos a assistência curativa,

prejudicando o envolvimento dos mesmos na participação nos programas de

atenção básica e ações preventivas para a saúde.

74

Page 76: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

5. A PESQUISA: MEIO AMBIENTE E SAÚDE NA ZONA NORTE DE MANAUS

Esta pesquisa foi realizada no intuito de correlacionar os diferentes

aspectos envolvidos no processo de expansão urbana, a política existente de saúde

e o registro de casos de doenças nas áreas ocupadas. Para isso foram levantados

dados junto aos órgãos competentes, havendo registros fotográficos dos locais

visitados e o mapeamento através de imagens por satélite para embasar os

resultados alcançados.

5.1 Caracterização da Pesquisa

Caracterizada como pesquisa quantitativa, foi realizada através de um

estudo retrospectivo sobre a expansão urbana da zona norte de Manaus, no ano de

2006, e a relação das doenças registradas nessa área.

Trata-se de uma pesquisa documental, que de acordo com Tobar e

Yalour (2001, p.72) é realizada com base em documentos guardados em órgãos

públicos e privados de qualquer natureza ou com pessoas: registros, atas, anais,

regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balanços, comunicações informais,

vídeos, filmes, microfilmes, fotografias, diários, cartas pessoais, etc.

Para Gil (2009, p.45) a pesquisa documental vale-se de materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa.

75

Page 77: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

5.2 Estudo retrospectivo

O estudo retrospectivo permite fazer uma análise de trás para frente,

podendo ser de curto, médio ou longo prazo.

O estudo foi estruturado de acordo com as seguintes etapas:

1. Levantamento dos dados na Fundação de Vigilância e Saúde do Estado do

Amazonas (FVS), para verificar os registros de doenças na zona norte de

Manaus nos anos de 2006 e 2007 sobre a malária, identificando as áreas,

possibilitando acesso aos registros anuais.

2. Coleta de dados no Distrito de Saúde Norte (DISA NORTE) sobre as

notificações epidemiológicas das áreas selecionadas, e de toda a zona norte.

Os arquivos de anos anteriores estão localizados na sede do Distrito Oeste,

onde foi possível o acesso através de ofício.

3. Identificar o registrado dos casos com as áreas de ocupação na zona norte de

Manaus.

O instrumento de pesquisa foi utilizado para:

1. A realização de visitas as áreas selecionadas na zona norte de Manaus

(Cidade Nova, Nova Cidade, Conjuntos Habitacionais Cidadão V e VI),

visando observar as características dos espaços ocupados. Ainda

oportunizou o registro fotográfico dessas áreas para consolidar as

informações, permitindo melhor entendimento das descrições físicas.

76

Page 78: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

2. Esse roteiro de observação (Apêndice A) foi utilizado em fevereiro/2008 para

avaliar sua empregabilidade, sendo modificado e utilizado posteriormente em

julho/2008 e março/2009.

5.3 Tratamento Estatístico

O tratamento estatístico foi realizado através de organização em

planilhas, tabulação e interpretação das informações obtidas. Os dados foram

plotados em tabelas, quadros, gráficos, de acordo com as características das

informações.

5.4 A ocupação da zona norte de Manaus

A expansão urbana que vem ocorrendo na cidade ao longo dos anos vem

sendo acompanhada da existência de registro de determinadas doenças,

demonstrando um perfil sócio-econômico da população que ocupa essas áreas. A

intervenção tanto do poder público como da população em minimizar ou eliminar os

agentes e fatores causais dessa relação, pode ser traçado quando se identifica os

fatores causais e os problemas que podem gerar, permitindo a aplicação de

estratégias e ações, ao mesmo tempo não impedindo o crescimento urbano da

cidade.

5.4.1 Distribuição do Sistema de Esgoto Sanitário

No sistema de esgoto sanitário em Manaus com o crescimento

desordenado e a expansão urbana da cidade sem limites territoriais e urbanos, tem

como agravante, a falta de investimento: na distribuição da rede, na manutenção da

77

Page 79: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

rede já existente e na implantação de estações de tratamento de esgoto. Muitas

áreas de ocupação desordenada, não possuem esses serviços, pelas próprias

características locais, sendo assim, lançam seus dejetos a céu aberto. Esta prática

também é comum nas áreas do centro onde as moradias são próximas aos igarapés

que cortam a cidade (Figura 11). Atualmente o governo do Estado com apoio do

governo Federal com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento

(BID) vem realizando o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus

(PROSAMIM), que possui entre suas ações a minimização dos agravos com o

saneamento básico (JORNAL DO COMÉRCIO, 2006).

Figura 11: Destino do esgoto doméstico. Foto: Souza, 2008.

A cobertura da rede sanitária em Manaus em 2000 (CENSO, 2004) cobria

apenas parte das moradias e edificações, de acordo com os dados do Quadro 2.

78

Page 80: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Quadro 2 - Instalação Sanitária no município de Manaus em 1991 e 2000.

Instalação Sanitária - Município: Manaus/Am.

Proporção de Moradores por tipo de Instalação Sanitária

Instalação Sanitária 1991 2000

Rede geral de esgoto ou pluvial 2.0 32.2

Fossa séptica 47.2 36.5

Fossa rudimendar 28.4 14.4

Vala 8.3 3.6

Rio, lago, igarapé - 7.2

Outro escoadouro 7.4 1.7

Não sabe o tipo de escoadouro 0.5 -

Não tem instalação sanitária 6.3 4.4

Fonte: IBGE/Censo, 2004.

Historicamente a existência de uma rede de atividades realizadas no

entorno dos igarapés, principalmente de Manaus, já vem lançando há décadas,

resíduos, inclusive fecais, contaminando as águas, aumentando assim a veiculação

hídrica de determinadas doenças.

Já o destino do lixo de Manaus possuía em 2000, com a coleta direta ou

indireta de 90,8% (Quadro 3) de cobertura das moradias, realizado pelo serviço de

limpeza ou por caçamba. Outros destinos: queimada do lixo; lançamento de dejetos

em terrenos baldios e logradouros, rios ou lagos, favorecendo para o aumento dos

problemas ambientais na cidade, principalmente com o aumento de insetos,

roedores, poluição da água para consumo e poluição do ar, ocasionando entre

outros casos, problemas respiratórios, gastrointestinais, dermatológicos, etc.

79

Page 81: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Quadro 3 – Destino do lixo no município de Manaus em 1991 e 2000.

Destino do Lixo - Município: Manaus/AM

Proporção de Moradores por Tipo de Destino de Lixo

Coleta de Lixo 1991 2000

Coletado: 77.8 90.8

.. por serviço de limpeza 67.8 87.9

.. por caçamba de serviço de limpeza 10.0 3.0

Queimado (na propriedade) 9.7 6.0

Enterrado (na propriedade) 0.4 0.3

Jogado: 11.6 2.4

.. em terreno baldio ou logradouro 5.6 1.9

.. em rio, lago, igarapé 6.0 0.5

Outro destino 0.5 0.4

Fonte: IBGE/Censo -2004.

A população ora por descaso, ora por falta de orientação e cobrança de

seu papel social, contribui negativamente para o agravamento dessa situação,

quando não procura alternativas para diminuir os danos ambientais e que refletem

em seu dia-a-dia (Figura 12), servindo para agravar os problemas de saúde.

Figura 12: Destino do lixo doméstico - terreno da própria residência. Foto: Souza, 2008.

80

Page 82: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Há de ser concordar que houve uma maior cobertura da prestação de

serviço de coleta de lixo nos anos seguintes a 1991, porém o aumento

desproporcional da cidade fez com que não atendesse boa parte da população,

devido às condições precárias de instalação e acesso as moradias.

5.4.2 Organização do Sistema de Saúde na Zona Norte de Manaus.

Para atender a essa demanda, o governo estadual e o municipal

implantaram uma rede de serviços de saúde (Figura 13) que abrangesse os três

níveis de assistência: primária, secundária e terciária na zona distrital norte. Porém

muitas dessas unidades além de atenderem moradores dos diferentes distritos da

cidade, são também centros de referência em suas especialidades, o que leva a

procura pelo serviço por pessoas do interior e até de outros estados próximos,

comprometendo a relação da oferta dos serviços, gerando longas listas de espera

nos atendimentos básicos e especializados, bem como o serviço odontológico e a

realização de exames complementares.

81

Page 83: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 13: Unidades de saúde da zona norte de Manaus. Fonte: SUSAM, 2009.

Ainda na Zona Norte e nas cercanias da Cidade Nova, a partir de 2001 foi

iniciado a construção do Conjunto Nova Cidade (Figura 14), onde, até o final de

2006, foram entregues 9.220 habitações. A construção desses conjuntos ampliou os

domínios espaciais da cidade, ocorrendo sua interiorização, que avança sobre a

floresta pelas “terras firmes” da Zona Norte. Não foi observado em nenhum dos

trechos visitados da zona norte de Manaus, a existência de áreas verdes, bosques,

parques ou espaços de lazer que possuíssem arborização, o que contribuiria para

diminuir a sensação térmica de ondas de calor, favoreceria a convivência entre os

moradores e seria utilizado como ponto de visitação para pessoas de outras

localidades, enfim, não foi visualizado um planejamento urbanístico que oferecesse

a população espaços sociais e ambientais que pudessem ser usufruídos por todos

com preservação da fauna e da flora local.

82

Page 84: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 14: Bairro Cidade Nova - zona norte de Manaus. Foto: Souza, 2008.

O Distrito de Saúde Norte (DISA NORTE) de Manaus está localizado na

Av. Noel Nutels, n.12, no bairro da Cidade Nova (Figura 15). Possui gestão

municipal, atuando como central de coordenação para as unidades de saúde de

assistência primária e secundária da zona norte, atuando nos diferentes programas

de saúde do governo federal. Entre as coordenações instaladas no DISA NORTE

estão a Gerência de Assistência e Vigilância em Saúde Norte, Divisão de Vigilância

em Saúde Norte, Divisão Administrativa Norte, Divisão de Programação e

Desenvolvimento Norte, a Divisão da Educação Ambiental e o Laboratório de

Revisão, responsável pelos registros de malária.

83

Page 85: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 15: Monte das Oliveiras e limite com o Nova Cidade. Fonte: Google Earth, 2007.

O DISA NORTE coordena e direciona sob a gerência da Secretaria

Municipal de Saúde, programas de prevenção e controle de doenças em suas

unidades de saúde, abrangendo: 50 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da

Estratégia Saúde da Família (ESF), 4 UBS de Pronto-Atendimento (PA), 2 UBS, 4

Policlínicas, 1 Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) e 1 ODONTO SESC

(convênio) , 1 Serviço de Pronto Atendimento (SPA) e 3 Postos de Saúde Rural

(PSR).

84

Page 86: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 16: Distrito de Saúde Norte – DISA NORTE Foto: Souza, 2009. Como os casos de malária ainda expressam números significativos no

estado e na capital, destaca-se o funcionamento do Laboratório de Revisão do DISA

NORTE: o Laboratório de Revisão possui em seu quadro de servidores, funcionários

da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), porém sob gestão da

Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA). Tem a função de receber as lâminas de

malária coletadas nas unidades básicas de saúde e nas Bases Operacionais (BO)

da malária na zona norte de Manaus para realizar a revisão da leitura das lâminas.

Essa revisão faz parte da normatização do Programa da FVS para identificação dos

casos de malária e ocorre em três etapas: a UBS ou a BO coleta as amostras,

realiza a leitura das lâminas, emite e registra os resultados. Posteriormente

encaminha as lâminas coletadas, tanto as positivas quanto as negativas para o

Laboratório de Revisão no DISA NORTE, onde são realizadas as revisões das

lâminas para confirmação ou nao dos resultados vindos das UBS e das BO. Após

essa etapa, todas as lâminas seguem para o Laboratório Central (LACEN), situado

85

Page 87: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

no bairro Praça 14 de Janeiro, na zona sul da cidade. No LACEN é realizada uma

nova revisão das lâminas para verificação dos resultados. Segundo um dos

funcionários do Laboratório de Revisão, Sr. Marcos, na primeira revisão são

encontradas algumas leituras erradas quanto aos resultados positivos e, da segunda

revisão o número de resultados equivocados são mínimos.

Todo esse processo serve para minimizar os resultados que podem ser

interpretados errados, evitando o uso desnecessário da medicação para a malária e

a prática do tratamento desnecessariamente.

Existem 20 unidades de controle da malária que realizaram a leitura das

lâminas, sendo 3 delas Bases Operacionais, ou seja, foram criadas exclusivamente

para a coleta, leitura, diagnóstico e tratamento dos casos de malária. Essas

unidades possuem 4 diferentes gestores: 10 unidades da SEMSA, 6 unidades da

FVS, 3 unidades da SUSAM e 1 unidade da FUNASA. A Base Operacional instalada

no bairro do Nova Cidade (Figura 17) está desativada há mais de um ano, e seus

funcionários estão em um espaço cedido pela UBS do bairro do Monte das

Oliveiras.

86

Page 88: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 17: Localização da Base Operacional da malária no Nova Cidade.

Fonte: Google Earth, 2007.

Uma maneira da população participar e intervir junto as decisões e ações

de saúde é através dos Conselhos de Saúde, com seus representantes, podendo

serem discutidos os problemas de saúde e participar nas decisões do que pode ser

feito no setor. É constituída por representantes dos usuários do serviço de saúde,

indicados por associações de bairro ou de moradores, sindicatos de trabalhadores,

grupos de mulheres e outros. A outra metade é composta por representantes do

governo e dos prestadores de serviços de saúde, tais como os representantes de

hospitais públicos e privados e dos representantes dos trabalhadores de saúde, de

qualquer classe ou nível. Dentre outras atribuições, a responsabilidade deles é

fiscalizar e acompanhar as ações e serviços oferecidos na rede pública municipal de

saúde. Estratégias de “empoderamento” da comunidade fortalecem entre outras

iniciativas, a formação para a cidadania, a disseminação da informação, autonomia e

mobilização dos usuários.

BASE

OPERACIONAL

87

Page 89: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Cabe aos Conselhos Locais de Saúde (CLS): indicar as diretrizes para

elaboração dos planos de trabalho das Unidades Básicas de Saúde considerando as

prioridades da área de abrangência; participar na elaboração da cotação

orçamentária da unidade de saúde; fiscalizar e acompanhar as ações e serviços de

saúde, propondo mecanismos para correção das distorções tendo em vista o

atendimento das necessidades da população local; estimular, participar e fiscalizar

as ações intersetoriais (educação, meio ambiente, segurança, habitação e

saneamento básico, entre outros), apresentando propostas que interfiram nas

questões de saúde da população local; e examinar propostas e denúncias, ainda

respondem as consultas sobre assuntos pertinentes às ações de saúde.

Segundo Santos (SEMSA, 2009a), acredita-se que:

Os Conselhos Locais de Saúde representam um avanço no sentido de melhorar o atendimento à população. A nossa visão é que com a presença e participação do usuário, do gestor e do trabalhador com certeza vamos conseguir prestar um melhor serviço à população. Essa é nossa missão e responsabilidade. (p.2)

5.4.3 A questão ambiental e sua relação com a saúde na zona norte de Manaus.

Há uma tendência dos grupos de baixa renda a residirem em áreas com

más condições urbanísticas e sanitárias e em situações de risco e degradação

ambiental (como, por exemplo, terrenos próximos de cursos d’água e de lixões ou

com alta declividade). A explicação mais comum é que estas constituem as únicas

áreas acessíveis a população mais pobre, seja porque são áreas públicas e/ou de

preservação ora ocupadas, seja porque tratasse de áreas muito desvalorizadas no

mercado de terras, por serem pouco propícias à ocupação, devido as características

de risco e a falta de infra-estrutura urbana (TORRES, 1997).

88

Page 90: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Ainda Torres (2000), discute teoricamente o conceito de risco ambiental,

debatendo sobre os problemas e as dificuldades para sua operacionalização. Sabe-

se que o poder público pratica um tipo de política de estruturação e expansão das

cidades, que coloca em dúvida sua própria credibilidade, exemplo disso, é a

liberação de obras sem o devido parecer do órgão ambiental, pois sem isso,

comprometeria o cumprimento de prazos junto a representantes e financiadores.

Incorporando as propriedades do lugar, aqui entendido como a cidade e

seu entorno, e o papel do ambiente físico e social (o contexto) em moldar a saúde

das pessoas, parece plausível entender a cidade/urbano como exposição,

modulando de forma benéfica ou danosa a saúde de suas populações residentes.

Como conseqüência, a incorporação de variáveis de contexto que capturem as

características do “lugar urbano” onde os indivíduos vivem é mandatária nesta nova

visão do processo saúde-doença. Os cuidados em particular com a vida urbana

podem ser considerados como um ramo da saúde pública que estuda os fatores de

riscos das cidades, seus efeitos sobre a qualidade de vida e as relações sociais

urbanas. Não é difícil encontrar áreas em Manaus, e na zona norte que estejam

dentro dessa realidade (Figura 18).

89

Page 91: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 18: Sistema de tubulação de drenagem a céu aberto. Foto: Souza, 2008.

Nesse sentido, as áreas de risco ambiental (próximas de lixões, sujeitas a

inundações e desmoronamentos), muitas vezes, são as únicas acessíveis às

populações de baixa renda, que acabam construindo nesses locais domicílios em

condições precárias, além de enfrentarem outros problemas sanitários e nutricionais

(MARANDOLA e HOGAN, 2005).

O saneamento no processo de urbanização preventiva e corretiva seria

de fundamental importância, pois criaria barreiras que protegeriam o ambiente e o

homem de serem contaminados, cortando o ciclo de propagação de doenças

infecciosas. O urbanismo corretivo seria, hoje em dia, mais comumente usado no ato

de recriar ambientes salubres e minorar impactos ambientais. A cidade, a habitação,

espaços em constante transformação, necessitariam de um estudo estrutural (físico,

sociocultural e econômico) e evolutivo. A evolução e a estrutura da sociedade

seriam determinadas pelos meios físicos, pelo desenvolvimento tecnológico e pelo

modo de produção do período histórico considerado e cujos habitantes teriam status

90

Page 92: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

urbano. Os usos e as formas de uso do espaço urbano fariam parte de um todo

amplo e contínuo de uso e formas de uso que se complementariam entre si e só

subsistiriam se integrados no conjunto. Cada subárea do espaço passaria a ter

importância vital pelas suas virtualidades ambientais e sociais, que coexistiriam

dentro do mesmo espaço ou se transformando ou se adaptando. Poderíamos

observar como o homem se apossa do solo e se expande por ele, originando

transformações qualitativas e quantitativas no espaço habitado (COHEN, 1993).

O entendimento é de que a forma como cada componente influencia no

resultado do processo saúde-doença, não seja linear. Ou seja, cada um dos fatores

interage entre si, mas também pode ter um efeito independente no resultado do

processo. Variáveis mais próximas como as que compõem o nível “condições

urbanas de moradia e trabalho”, caracterizam o cotidiano dos moradores das áreas

urbanas e podem ser vistas como condições preexistentes que a saúde pública

procura modificar, intermediar, ou ainda, advogar, como o caminho pelo qual as

intervenções podem levar à melhoria das condições de saúde, e assim acabar

realizando obras que parecem atender as necessidades básicas, inclusive as de

saúde, não dando maiores atenções aos aspectos ambientais (Figura 19).

91

Page 93: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Figura 19: Habitações construídas próximas a encostas. Foto: Souza, 2008.

5.4.4 Evolução dos problemas ambientais e os impactos na saúde

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental de

terceira geração, cuja realização depende da implementação de políticas públicas ou

programas de ação governamental (COMPARATO, 1997). Esses programas

compõem um processo complexo que leva a ações de planejamento, escolha de

prioridades, previsão de finanças, execução de medidas legislativas e

administrativas, fiscalização e controle social.

O envolvimento da sociedade deve ser constante, desde o planejamento

até as ações de execução, participando de todas as fases e em diferentes órgãos

decisivos e deliberativos.

A Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981, dispõe sobre a Política Nacional

do Meio Ambiente, tendo conferido às questões ambientais um tratamento unificado

e global, materializado pelo delineamento de uma Política Nacional de Meio

92

Page 94: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Ambiente. Existem críticas que recaem sobre a mesma, principalmente no tocante a

ausência de uma sistemática da preservação, defesa e melhoria do ambiente no

âmbito da ordenação territorial (RODRIGUES, 2004), ela representou um marco

decisivo para o tratamento da matéria.

Os artigos dedicados à questão ambiental na Constituição Federal de

1988 demonstram não apenas o avanço no que diz respeito à inclusão do elemento

humano no conceito de direito ambiental, quanto à previsão da responsabilidade

pela sua defesa, atribuída a comunidade e ao Poder Público, impondo restrições à

fruição da propriedade privada, que deve ser extensiva a todos. Sabe-se que os

recursos naturais são imprescindíveis para o desenvolvimento da atividade

econômica e que, portanto, utilizando racionalmente, ou seja, de forma adequada,

com sustentabilidade, e que o desenvolvimento econômico é propulsor para uma

qualidade de vida, a Constituição Brasileira de 1988 inseriu a defesa do meio

ambiente como princípio da atividade econômica do Estado. Por outro lado, o

impasse entre desenvolvimento e meio ambiente, visto que “desenvolvimento é

sempre um processo de distribuição de possibilidades de acesso sobre matérias-

primas e poluição, ou seja, é um processo de repartição das possibilidades de se

apropriar dos recursos finitos, seja para a produção, seja para o despejo da

produção” (DERANI, 2002).

Vários problemas de saúde vieram acompanhando a expansão urbana

desordenada da cidade de Manaus, interferindo diretamente na oferta e procura

pelos serviços de saúde, tanto no nível primário como terciário. Exemplo disso é o

aumento de casos de doenças de veiculação hídrica, como hepatite A, diarréias,

febre tifóide, doenças parasitárias e de pele, aumentando os casos de

morbimortalidade em crianças menores de cinco anos de idade.

93

Page 95: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Com o processo de consolidação da chamada Zona Franca de Manaus, a

cidade de Manaus, passou a conviver com movimentos migratórios e ocupações

desordenadas, que levaram o homem a adentrar em áreas de densas florestas,

ocasionando a destruição das mesmas. Tal processo acabou gerando o

aparecimento de doenças endêmicas, de grande magnitude, como é o caso da

malária, cujos casos têm origem, principalmente, nas periferias das cidades, nas

áreas às margens das estradas, nas regiões em que ocorrem processos de

ocupações desordenadas, projetos militares, agropecuários e assentamentos

(ALBUQUERQUE e MUTIS, 1997).

Esse enorme contingente populacional, gerado pelos movimentos

migratórios na sua maioria, pela apropriação de terras, ocupou a cidade que estava

desprovida de serviços essenciais urbanos, formando bairros superpopulosos

(Figura 20) e comunidades em áreas com graves deficiências de infraestrutura,

expandindo a cidade, caracterizada pela desigualdade e injustiça social.

Figura 20: Expansão urbana na zona norte de Manaus. Fonte: Google Earth, 2007.

94

Page 96: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Procurando atender a segmentos sociais de média e baixa renda, o

governo vem implantando sequencialmente conjuntos habitacionais, com efeito

imediato quanto à construção e entrega dessas habitações.

5.4.5 Programas educacionais desenvolvidos pelas unidades de saúde da zona

norte de Manaus.

Em uma das comunidades, a do Rio Piorini, área de ocupação localizada

no bairro Santa Etelvina, zona norte, equipes do Distrito de Saúde local usaram o

espaço de uma igreja católica para oferecer atendimento médico e atividades

educativas. Foi realizada ainda orientação sobre saúde bucal, prevenção da malária

e dengue, doenças sexualmente transmissíveis/AIDS, nutrição e ações de controle

de glicemia e pressão arterial foram alguns dos serviços oferecidos. “A promoção da

saúde passa também pela educação e mutirões como esse tornam as ações nessa

área mais acessíveis” (SEMSA, 2009b).

A ação também disponibilizou para a comunidade as vacinas Tríplice Viral

(Sarampo, Rubéola e Caxumba), Tetra Valente (Difteria, Tétano, Coqueluche e

Hemófilos – Influenza Tipo B), HB (Hepatite B), contra Poliomielite, Febre Amarela e

DTP (Difteria, Tétano e Coqueluche).

Ainda como estratégia de ação o DISA Norte montou uma estrutura para

a realização de exame para detectar casos de malária na comunidade com o

diagnóstico imediato da doença. Trabalha-se juntamente com uma exposição do

ciclo biológico do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Para

complementar as ações, é feita a dispensação de medicamentos e distribuição de

preservativos.

95

Page 97: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Ocorrem mutirões em diferentes bairros do Distrito, como no Conjunto

Cidadão I e redondezas, comunidade Monte Pascoal e Cidade Nova. As atividades

envolvem a participação de pessoas da própria comunidade, como uma voluntária

que atua na Pastoral da Criança há 18 anos e que mora há 14 no Rio Piorini,

ressaltando: “A importância de ações executadas na comunidade é a melhor forma

de preservar o direito de cada cidadão de ter acesso aos serviços de saúde como

um todo”.

Outra atividade que merece destaque foi a realização da Oficina de

Integração da Atenção e Vigilância em Saúde com Foco no Monitoramento e

Avaliação, tendo como público alvo médicos, enfermeiros e odontólogos do Distrito

de Saúde Norte. Segundo a assistente social Nascimento (SEMSA, 2009b), técnica

responsável pelas ações de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica da

SEMSA, a oficina procurou informar aos profissionais de saúde, esclarecendo:

Nós estaremos trabalhando com indicadores que nos ajudem a avaliar os resultados das nossas ações e com indicadores de processo onde temos padrões de serviços que devem ser executados em todas as unidades de saúde. Outro objetivo da oficina é proporcionar uma maior integração entre a Atenção Básica e a Vigilância em Saúde no sentido de adotar uma postura mais vigilante sobre o estado de saúde da população. Isso significa que não vamos ficar preocupados em apenas tratar a pessoa doente, mas em acompanhar as que estão bem de saúde, para que se mantenham assim. (p.1)

Diversas unidades de saúde da rede básica do Distrito de Saúde Norte

vem desenvolvendo atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde,

com orientações não apenas voltadas a saúde, mais a todos os fatores que

envolvem o processo do adoecimento, trabalhando com a orientação educacional

dos comunitários, fazendo com que participem e se vejam envolvidos num contexto

96

Page 98: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

social e participativo para o progresso de um ambiente saudável e comum, para que

todos possam usufruir.

5.4.6 Intervenção antrópica e sua relação com a ocorrência de doenças.

Com a ocupação de áreas verdes, e a proximidade das margens de

igarapés, fatores esses que desencadeiam mudanças no comportamento de alguns

vetores típicos da região amazônica, determinadas doenças tendem a aparecerem

de forma mais expressiva entre os moradores das áreas circunvizinhas. Doenças

diarréicas, respiratórias, nutricionais, entre outras, a procura pelos serviços, bem

como a demanda que passa a necessitar do serviço, comprometem a qualidade dos

atendimentos, contribuindo para o agravamento e aumento de casos de doenças.

Cabe ainda neste momento, ressaltar que os problemas sociais, físicos e

emocionais, estão todos presentes e envolvidos no problema como um todo. Não há

saúde sem condições de lazer, sem assistência preventiva, ações de promoção de

saúde, onde não só os gestores, mais a própria comunidade esteja atuando para a

minimização das causas, como a redução do depósito de lixo a céu aberto, colocado

por eles mesmos, a drenagem de esgoto doméstico em áreas abertas e próximas,

sem nenhuma infraestrutura, a ausência de escolas, igrejas, parques e serviços

básicos e de atendimento. A malária apresenta altos índices de incidência,

principalmente nos locais onde a intervenção do homem foi realizada sem

considerar cuidados básicos de saúde e preservação do meio ambiente. A tabela 3

identifica as treze maiores áreas de ocorrência de malária no ano de 2006.

97

Page 99: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Malária

Tabela 3 Casos de malária no ano de 2006 na zona norte de Manaus.

Fonte: FVS, 2006.

Os casos de malária na Amazônia são diretamente ligados às alterações

demográficas, econômicas e sociais no ecossistema vindo a modificar o meio

ambiente em uma determinada área, quando esta passa a sofrer intervenção

antrópica, tendo seu sistema nativo alterado e interferindo no processo natural da

doença. Uma pessoa com malária acaba tendo de abrir mão de suas atividades de

rotina, como estudo, trabalho, inserção social, enfim, levando a não produzir, e

assim, não gerando ou recebendo renda, o que o torna cada vez mais pobre e sem

recursos para melhoria na qualidade de vida.

ZONA NORTE DE MANAUS - 2006 - MALÁRIA

Localidade jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total Conj. Res. Lagoa Azul_Am-010 38 24 13 16 16 12 8 18 67 72 103 74 461

Ramal do Acará_Am-010 52 15 23 27 21 7 14 23 35 61 82 59 419 Ramal Água Branca I_Am-10 km 32 36 21 29 16 21 22 27 109 35 28 33 37 414 Ramal S. Francisco I_Am-10 km-42 62 43 39 31 23 14 26 36 43 26 31 31 405 Ramal do Leão_Am-10 km-38 55 32 22 28 19 14 19 20 21 37 55 30 352 Ramal Santo Antônio_Am-10 km-47 27 44 43 26 37 13 8 15 33 34 30 24 334

Santa Etelvina 38 19 22 17 15 12 15 27 27 26 34 54 306 Ramal Água Branca II_Am-10 km 34 26 16 13 16 14 14 24 34 30 39 38 37 301

Conj. Nova Cidade I 43 21 13 8 4 12 8 7 9 5 23 39 192

Conj. João Paulo II 36 9 12 6 4 2 3 12 12 28 26 34 184 Ramal Jeruzalém_Am-10 km45 29 25 18 7 10 6 5 14 15 13 10 12 164

Novo Milênio 13 4 6 2 4 0 0 7 29 28 28 35 156

Piorini 25 19 14 15 11 6 6 6 10 4 13 13 142

Lotea. Parq. Santa Etelvina 15 16 4 6 2 5 2 9 10 10 33 20 132 Parque dos Guaranás_Am-10 km 19 11 6 6 9 2 2 5 5 11 21 33 19 130 Ramal do Breu_Am-10 km 30 16 7 7 11 7 8 8 11 19 13 7 9 123

TOTAL 522 321 284 241 210 149 178 353 406 445 579 527 4215

98

Page 100: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Dados do Ministério da Saúde mostram que 99,9% dos casos de malária

no Brasil são registrados nos 807 municípios da Amazônia (FUNASA, 2002). De

2006 para 2007, os casos de malária aumentaram 5,7% no Estado. Como um dos

principais resultados da 11ª Reunião Nacional de Pesquisa em Malária e da 1ª

Reunião Inter-Amazônica em Malária criou-se a Rede Nacional de Pesquisas em

Malária (AGENCIA BRASIL, 2008).

A Rede Nacional de Pesquisas em Malária irá possibilitar a pesquisa e

troca de informações em diferentes níveis de conhecimento e atuação com

envolvimento de várias instituições de ensino e pesquisa.

A zona norte de Manaus possuía uma divisão em 2006, de 169 áreas

distintas de identificação para o registro da malária, na tabela 3 estão colocadas

apenas as 13 localidades com maior registro de casos, que representam 61,2% do

total de casos (6.890 casos) na zona norte de Manaus em 2006. A freqüência da

malária ainda é significativa nos espaços ocupados oriundos dessa expansão

urbana.

Quando comparados os dados de 2006 com os de 2007 (Tabela 4),

verifica-se que o percentual das 13 localidades é praticamente o mesmo (61,1%) do

total dos casos para esse ano (6.544). Houve apenas uma localidade em cada ano

que não se repetiu nas tabelas, em 2006 o Ramal do Breu_Km-Am.10Km 30 e em

2007 o bairro Cidade de Deus I, todos os demais além de continuarem com alto

índice de registros, permanecem com características para o favorecimento da

expansão urbana.

99

Page 101: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Tabela 4 Casos de malária no ano de 2007 na zona norte de Manaus.

Fonte: FVS, 2007.

A falta de ações efetivas nas práticas de políticas habitacionais e de meio

ambiente desenham um cenário para o agravamento dessas ocupações, com a

ocupação contínua de novos moradores, com a possibilidade de aparecimento de

doenças causadas pela intervenção causada constantemente.

A identificação das áreas de ocorrência pode ajudar na prevenção de

casos novos e na orientação dos serviços de saúde e meio ambiente.

Para Yinger (2001) evidências indicam que os custos diretos associados à

perda de horas de trabalho devido a doenças, bem como os gastos com

medicamentos e procedimentos médicos, contribuam substancialmente para a

ZONA NORTE DE MANAUS - 2007 - MALÁRIA

Localidade jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Total

Cidade de Deus I 18 4 6 11 5 3 8 11 9 8 5 7 95

Conj. João Paulo II 21 10 23 8 3 6 2 5 42 87 145 185 537

Conj. Nova Cidade I 35 19 19 11 10 8 8 24 15 25 38 120 332

Conj. Res. Lagoa Azul_Am-10 72 26 21 16 19 11 13 27 13 46 51 57 372

Loteam. Parq. Santa Etelvina 30 8 23 4 3 5 7 13 24 14 28 50 209

Novo Milênio 27 7 16 3 8 7 13 12 135 129 144 118 619

Piorini 12 4 10 6 1 6 8 3 9 7 4 24 94 Pq. dos Guaranás_Am-10 Km 19 7 8 7 10 4 10 11 7 23 8 32 39 166 Ram. S. Francisco I_Am-10 Km-42 41 29 31 17 20 13 21 16 32 8 5 13 246 Ramal Água Branca II_Am-10 Km 34 31 7 20 16 9 18 15 13 17 12 12 3 173 Ramal Água Branca I_Am-10 Km 32 24 25 20 15 14 40 41 23 23 31 18 14 288

Ramal do Acará_Am-10 45 27 30 13 14 11 16 26 26 36 58 91 393 Ramal do Leão_Am-010 Km-38 21 9 19 3 10 5 10 11 9 5 6 5 113 Ramal Jeruzalém_Am-10 Km45 13 8 6 13 10 2 12 9 4 2 10 4 93 Ramal Santo Antônio_Am-10 Km-47 29 23 17 9 7 10 7 12 11 10 7 5 147

Santa Etelvina 34 20 32 24 18 20 11 22 50 37 50 131 449

TOTAL 460 234 300 179 155 175 203 234 442 465 613 866 4326

100

Page 102: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

redução da renda disponível para o consumo, acentuando a pobreza, a mortalidade

e a instabilidade econômica da família. Indiretamente relacionados à habitação e ao

meio ambiente, encontram-se outras doenças comuns e preocupantes:

A tuberculose é considerada ainda de alta incidência, pois está atrelada a

condições de vida. Os registros do DISA NORTE computam 261 casos novos da

doença só na zona norte, representando 59% dos casos na área de ocupansão do

entorno da Cidade Nova.

Tuberculose

A expansão urbana em áreas com nenhuma ou pouca estruturação, com

moradias precárias, com várias pessoas em uma mesma casa, com estado

nutricional deficitário, e com outras doenças recorrentes, levando ao

comprometimento do sistema imunitário, faz com que sua transmissibilidade circule

mais facilmente entre essas pessoas, e estas por sua vez, retransmitam a terceiros,

ou da própria área ou quando se relacionam com certa freqüência em outros

ambientes.

Outra doença também falicitada pelas condições sócio-econômicas e

ambientais é a hanseníase, acometendo 96 novos moradores da zona norte,

comprometendo o estado de saúde da comunidade.

Hanseníase

A transmissão favorecida pelo contato intradomiciliar é veiculada mais

facilmente devido as pessímas condições de moradia, higiene, saneamento, má

alimentação, aglomerados familiares e as altas temperaturas, o que atinge várias

101

Page 103: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

pessoas de uma mesma família ou área, pois habitam espaços reduzidos e sem

estrutura básica, e geralmente, localizados longe de serviços de saúde.

A incidência de casos de dengue também flutua com as condições

climáticas e esta associada com o aumento da temperatura, pluviosidade e umidade

do ar, condições que favorecem o aumento do número de criadouros disponíveis e

também o desenvolvimento do vetor (DEPRADINE, 2004).

Os casos de dengue na zona norte totalizaram 79 ocorrências, também

uma das maiores na cidade.

Dengue

A expansão das áreas de ocorrência de dengue no mundo e no Brasil

está associada tanto à urbanização, sem a devida estrutura de saneamento, quanto

à "globalização" da economia. Tais fatores contribuem não só para a dispersão ativa

do mosquito como também para a disseminação dos vários sorotipos da doença

(VASCONCELOS, 1993). O uso do solo nessas cidades não é homogêneo,

podendo-se identificar recortes nesta paisagem que refletem as formas de ocupação

econômico-sociais, que por sua vez determinam condições ambientais, como

moradia, adensamento populacional e saneamento ambiental, que são fatores de

risco para a ocorrência de dengue. (COSTA, 1998)

Houveram 67 novos casos de hepatites registrados na zona norte de

Manaus no ano de 2006, mesmo com a intensificação das campanhas e ações de

prevenção com os cuidados com a reprodução do vetor.

102

Page 104: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Hepatite

Atingi principalmente as crianças, mais também pode atingir jovens e

adultos. Sua transmissão é facilitada pela falta de saneamento e hábitos de higiene.

A ausência de recursos financeiros para a construção de uma moradia que atende a

condições mínimas de higiene, comodidade e bem-estar, e sendo construída em

áreas sem nenhuma infraestrutura. É característica comum em determinadas áreas

de ocupação, elevando os casos de contaminação para registro preocupantes e de

difícil combate, pois mesmo com tratamento, mais permanece o problema social e

econômico.

103

Page 105: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A expansão urbana em qualquer parte do mundo é inevitável e histórica, o

que não impede que planejamentos urbanísticos fossem pensados com

antecedência e que venham a alocar de forma humanizada os pretensos ocupantes

dessas áreas.

A Política Habitacional, de Saúde e Meio Ambiente devem entrelaçar

ações para desenhar uma sólida base a atender as necessidades de serviços

básicos (saneamento, asfalto, iluminação, fornecimento de água), a implantação de

Unidades Básicas de Saúde, Serviços de Pronto Atendimento, Centros de

Referência, Maternidades e Hospitais, evitando grandes deslocamentos e

sobrecarregando as demais zonas distritais de saúde.

Conjugar ações de saúde e meio ambiente, como a preservação de áreas

verdes, evitando a degradação da mata, a contaminação do solo e da água, não

esquecendo de atender os aspectos sócio-ambientais, como parques e bosques,

possibilitando a população o acesso a espaços saudáveis e planejados como

estratégia de saúde ambiental.

104

Page 106: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Convênios governamentais possibilitaram ao Estado implantar um

Programa Habitacional que favorecesse a determinados segmentos da sociedade,

inclusive a classe de baixo poder econômico e que morava em áreas de risco, como

margens de igarapés, encostas e em cima de lixões. Outro programa também

habitacional ofereceu aos funcionários públicos a oportunidade para obter sua casa

própria com desconto em holerite e em baixas prestações, ficando estes

impossibilitados de venderem ou repassarem suas casas a terceiros por um

determinado tempo, sendo eficaz para atender ao segmento social que estava sem

condições para o financiamento da casa própria por meio de instituições bancárias

ou empréstimos de juros altos. Porém observa-se que ao se deslocarem para esses

conjuntos, a adaptação nesse novo espaço, não foi a melhor, por serem locais

desprovidos de ambientes para o lazer, entre outros.

As áreas ocupadas intencionalmente por populares, que independente de

já possuírem outra moradia ou estarem lá por não terem renda e nem condições

sociais mínimas para residirem em outro lugar, acabam também por gerar grandes

impactos no habitat de determinadas espécies de vetores, alterando o meio

ambiente, degradando leitos e margens de igarapés, derrubando inúmeras árvores,

e, com as queimadas, prejudicando o solo. Desse ponto em diante, criasse uma

gama de novos problemas: sem infraestrutura, essas famílias passam a optar por

criarem alternativas não convencionais para atender suas necessidades básicas, ou

simplesmente adaptam-se ao local, sem se preocupar com possíveis problemas de

saúde. Exemplo disso são as construções de casebres próximas a mata, o uso do

igarapé tanto para consumo de água como para desprezar resíduos sólidos,

inclusive dejetos, sem os devidos cuidados de higiene e saúde. O lixo produzido por

105

Page 107: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

esses populares acaba tendo destino alternativo e inadequado (queimadas,

enterrado, jogado nas margens dos igarapés e rios ou dentro dele, ou ainda jogado

a céu aberto e próximo das moradias), o que acaba atraindo inúmeros vetores, como

insetos e roedores.

O problema habitacional está longe de ser resolvido, visto que a

implantação de políticas habitacionais ainda precisa ser trabalhada com diferentes

esferas da ciência, da pesquisa e, principalmente do meio ambiente. As vertentes

que surgem e que são geradas por uma expansão urbana, produzida

espontaneamente ou de ordem institucional, precisam ser analisadas mais

especificamente e estudadas com a preocupação de se compreender os impactos

ambientais e de saúde tanto imediatos como ao longo do tempo. Historicamente,

muitas ocupações “desordenadas” acabam por impor ao Gestor Administrativo a

intervenção de obras nessas áreas para a oferta e instalação de serviços básicos,

ocasionando serviços de qualidade duvidosa, ou pela pressa em atender as

necessidades ou pelas condições do espaço físico, por comprometimento do solo e

o abastecimento de água, tornando o problema recorrente e temporal (como

crateras que acabam se abrindo a cada período de chuva). O que não aconteceria

com igual freqüência quando há um prévio planejamento da ocupação espacial.

Também não cabe aqui culpabilizar o próprio ocupante, visto que alguns

não têm condições mínimas de se sustentar, outros vieram de condições piores, ou

do interior ou de outros municípios. A cobrança de inúmeros impostos e taxas, o

aluguel, o alto preço para aquisição da casa própria (Manaus possui um dos maiores

índices de majoração para imóveis do Brasil), os empréstimos bancários com juros

106

Page 108: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

exorbitantes, etc. Todos esses fatores favorecem para que essas pessoas, sem

alternativas para se instalarem em locais que pudessem oferecer bem estar,

segurança e conforto aos seus familiares, passem a morar longe e em áreas sem

condições de saneamento ou rede básica de saúde. Fatores sociais e econômicos,

entre outros, devem ser considerados quando se planeja a instalação de habitações

como um processo que deve ocorrer naturalmente nas cidades, principalmente em

metrópoles, pois a fluxo migratório acaba sendo maior, e que com o devido

planejamento, problemas ambientais e de saúde possam ser minimizados ou

erradicados.

Com a efetivação das ações das Políticas Urbana, Habitacional e

Ambiental é possível controlar o avanço da expansão urbana como processo natural

e sem agredir a natureza e o homem. A história mostra que é dessa maneira que o

crescimento urbano ocorreu em todo mundo, porém até agora, não há lucidez dos

gestores em corrigir antigos problemas, e praticar efetivamente ações para minimizar

os danos ao ambiente e consequentemente a saúde, agora, com o envolvimento da

comunidade como co-responsável por tais danos e mudanças.

Os profissionais da saúde têm grande importância com um papel

participativo, atuando na construção do processo da educação em saúde nas

próprias unidades de saúde, envolvendo-se integralmente com domínio efetivo e

cognitivo, com a realidade apresentada, vivenciando-a criticamente para atuar na

construção de uma nova realidade desejada.

107

Page 109: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, B.C.J.; MUTIS, M.C.S. A malária no Amazonas. In: IÑIGUEZ, R.L.B.; TOLEDO, L.M. Espaço & Doença: um olhar sobre o Amazonas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. AMBIENTE Brasil. Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br>. Acesso em: 22 mai. 2008. ASSISTÊNCIA e Vigilância em Saúde. Secretaria Municipal de Saúde-SEMSA. Prefeitura Municipal de Manaus. 2009b. Disponível em: <www.ppm.am.gov.br.> Acesso em: 23 de jun. de 2009. BATES, H.W. Um Naturalista do Rio Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1979. BRASIL. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios. Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde. 3 ed. Ministério da Saúde Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 480 p.(Série F. Comunicação e Educação em Saúde). _____. Portaria no648 de 28 de mar. de 2006. Regulamenta a Política Nacional de Atenção Básica. Diário Oficial da União. Brasília. DF. no 61, mar. 2006. _____. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002a. 60 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde). _____. Vigilância Ambiental em Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde, 2002b. Disponível em:<www.funasa.gov.br>. Acesso em: 23 mai. 2008. _____. Constituição da República Federativa do Brasil. 23 ed. Atual. e ampl. São Paulo: Saraiva,1999. _____. Lei n° 8.080 de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, set. 1990. Disponível em: <http://www.casacivil.gov.br>. Acesso em 18 de jun. 2008. _____. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, jul. 1988. Disponível em: <http://www.casacivil.gov.br>. Acesso em 18 de jun. 2008.

108

Page 110: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

BRIGGS, X.S. Ties That Bind, Bridge, and Constrain: social capital and segregation in American Metropolis. Trabalho apresentado no International Seminar on Segregation and the City, Cambridge, Lincoln Institute of Land Policy, jul. 2001. BUSS, P.M. Qualidade de Vida e Saúde. ABRASCO, Recife-São Paulo, v.5, n.1. 2000. CAIAFFA, W.T. Saúde Urbana: “a cidade é uma estranha senhora, que hoje sorri e amanhã te devora”. Ciência & Saúde Coletiva 13 (6): 1785-96. 2008. CARDIA, N. Urban Violence in São Paulo. Comparative Urban Studies Occasional Papers Series, 33, Washington, D.C., Woodrow Wilson International Center for Scholars, 2000. CARNEIRO FILHO, F.A. Manaus: fortaleza extrativismo-cidade, uma história dinâmica urbana. In: IÑIGUEZ, R.L.B.; TOLEDO, L.M. Espaço & Doença: um olhar sobre o Amazonas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. CARVALHO, V.S. Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2006. CASCINO, F. Educação Ambiental: princípios, história, formação de professores. 3 ed. São Paulo: SENAC, 2003. COHEN, S.C. Habitação Saudável como Caminho para a Promoção da Saúde. 2004. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2004. ______, S.C. Reabilitação de Favela: até que ponto a tecnologia empregada é apropriada? 1993. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública). Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1993. COMPARATO, F.K., Ensaio Sobre o Juízo de Constitucionalidade de Políticas Públicas. In: Revista dos Tribunais. São Paulo, v.737, mar. 1997, p.11-22. CONSELHO Municipal de Saúde. Secretaria Municipal de Saúde-SEMSA. Prefeitura Municipal de Manaus. 2009. Disponível em: <http:www.ppm.am.gov. br.>. Acesso em: 23 jun. 2009. COSTA, A.I.P.; NATAL, D. Distribuição Espacial da Dengue e Determinantes Socioeconômicos em Localidade Urbana no Sudeste do Brasil. Rev. Saúde Pública. 32(3): 232-236, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0034-89101>. Acesso em jun. 2008. DANSERAU, P., A Ecologia e a Escalada do Impacto Humano. In: GERHARD K. et al. O homem e seu Meio Ambiente. Rio de Janeiro: FGV, 1975. DEPRADINE, C.A; LOVELL, E.H. Climatological Variables. Environ Health Res. 2004, 14:429-41.

109

Page 111: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

DERANI, C. A Propriedade na Constituição de 1988 e o Conteúdo da “Função Social”. São Paulo, v.7,n.27, jul/set, p.58-69, 2002. DURLAUF, S.N. The Membership Theory of Poverty: the role of group affiliations in determing socioeconomic outcomes. In: DANZIGER, S.H. e HAVERMAN, R.H. Understanding Poverty, Nova York, Russell Sage, 2001, p. 392-416. EROSTEIN, M.D. Metrópole e Expansão Urbana: A persistência dos processos insustentáveis. Perspectiva. São Paulo: SEAD, n.1, ano 15, mai, 2000, p. 13-9. ESTUDO vai implantar programas para recuperação de igarapés de Manaus. Jornal do Comércio. Manaus, 24 mar., 2006. Caderno 4. EVANS, A.S. The eradication of communicable diseases: myth of reality? American Journal Epidemiology, n.122, p. 199-207, 1985. FARIA, V.E. A Conjuntura Social Brasileira: dilemas e perspectivas. In: Novos Estudos CEBRAP, n.33, 1992, p.103-114. FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário Aurélio. 4 ed. Curitiba: Positivo. 2004. FERREIRA, C.R.S. (Coord.) Plano Municipal de Saúde 2006-2009. Coordenação do Plano Municipal de Saúde. Secretaria Municipal de Saúde. Prefeitura de Manaus. 2006. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Inadequação Habitacional. In: Déficit Habitacional no Brasil 2000. Fundação João Pinheiro. Belo Horizonte: FJP, dez., 2000. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Relatório Anual – Informes Estatísticos. Gerência Técnica de Malária. Coordenação de Controle de Doenças Transmitidas por Vetores. Departamento de Operações. Brasília, DF, 2002. Disponível em: <http://www.funasa.gov. br.>. Acesso em 20 set 2008. FURASTÉ, P.A. Normas Técnicas para o Trabalho Científico: Explicação das normas ABNT. 15 ed. Porto Alegre: s.n., 2009. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. 22 reimpr. São Paulo: ATLAS, 2009. GONÇALVES, S. Qualidade da água e do lixo, a construção da Política Nacional de Saneamento Ambiental. In: O Plano Diretor: uma ferramenta para o desenvolvimento das políticas públicas de um município potencialmente saudável. SPERANDIO, A.M.G.; SERRANO, M.M. (orgs.). Campinas: FCM/UNICAMP, Organização Pan Americana de Saúde, 2007. GUEVARA, G.A. A Educação Ambiental num Órgão Governamental: a FEEMA. 1994. Dissertação (Mestrado em Educação). Rio de Janeiro: Faculdade de Educação. UFRJ, 1994.

110

Page 112: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

GUIMARÃES, M. A dimensão Ambiental na Educação. 5 ed. Campinas: Papirus, 2003. HOGAN, D. Redistribuição da População e Meio Ambiente: São Paulo e centro oeste. 2. Campinas: UNICAMP/NEPO, 2000. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico - 2008: Famílias e Domicílios: Resultados da Amostra: em quase 50% das famílias com cônjuge só a pessoa responsável pelo domicílio tem rendimento. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia /noticias /censofamiliashtml.shtm. Acesso em: 22 mai. 2009. _____.Departamento de População e Indicadores Sociais. Tendências demográficas: uma análise dos resultados da sinopse preliminar do censo demográfico 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. _____. Censo Demográfico - 2000: Famílias e Domicílios: Resultados da Amostra: em 2000, famílias tinham em média 3,5 pessoas. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/ noticias /censofamiliashtml.shtm. Acesso em: 22 mai. 2009. MANAUS. Secretaria de Planejamento do Estado do Amazonas. Prefeitura de Manaus. Fundação João Pinheiro. Desenvolvimento Humano em Manaus – Atlas Municipal. v.I, 2006. MANAUS. Lei n° 671, de 04 de nov. de 2002. Regulamenta o Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus. Diário Oficial do Município. Edição especial, no628, ano III, Manaus, Am., 05 nov. 2002. 126 p. _____. Lei n.º 605, de 24 de julho de 2001. Institui o Código Ambiental do Município de Manaus. Diário Oficial do Município. Manaus, Am., 24 jul. 2001. MARANDOLA JUNIOR, E.; HOGAN, D. J. Vulnerabilidade e Riscos: entre geografia e demografia. Revista Brasileira de Estudos de População. São Paulo, v.22, n.1, p.29-53, 2005. McMICHAEL, A.J. Planetary Overload. Global environmental change and health of the human species. Cambridge. University Press, 1993. MEYER, W.B. Human Impact on the Earth. Cambridge. University Press, 1996. NETTO, G.F; DRUMOND, I.; VASCONCELOS, N. Meio Ambiente e Promoção da Saúde: aspectos essenciais para a elaboração das políticas públicas. In: O Plano Diretor: uma ferramenta para o desenvolvimento das políticas públicas de um município potencialmente saudável. SPERANDIO, A.M.G.; SERRANO, M.M. (orgs.). Campinas: FCM/UNICAMP, Organização Pan Americana de Saúde, 2007. OLIVEIRA, J.A.; COSTA, D.P. A Análise da Moradia em Manaus (AM) como Estratégia de Compreender a Cidade. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, ago. 2007, v.

111

Page 113: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

XI, n.245 (30). Disponível em:<http://www.ub.es/ geocrit/sn/sn-24530.htm>. Acesso em: 14 abr. 2004. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS. Promoción de La Salud - Glosario. Genebra. 1998. Disponível em: <http:www.who.org>. Acesso em: 28 abr. 2008. OMS. OPS. La Salud en las Americas. Washington: OPS, v.I, p.368, 1998. ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE - OPAS. Glossário de Terminologia. Organização Mundial da Saúde. Genebra. 2001. Disponível em: <http:www.opas.org>. Acesso em: 28 abr. 2008. PIGNATTI, M.G. Saúde e Ambiente: as doenças emergentes no Brasil. 2003. In: Ambiente e Sociedade, v.VII, n.1, Campinas: NEPAM-UNICAMP, jan/jun, 2004. PIMENTEL, D. et al. Ecology of Increasing Disease: population growth and environmental degradation. BioScience. Washingtom, v.48, n.10, oct., 1998. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD 2002. Relatório do Desenvolvimento Humano. PNUD, Brasília. Disponível em: <http://www.pnud.org.br>. Acesso em 13 abr. 2008. RODRIGUES, A.S. A Incidência de Malária nas Ocupações Desordenadas no Município de Manaus, como Consequência de Violações aos Direitos à Habitação, Saúde e ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado. 2004. Dissertação (Mestrado em Direito Ambiental). Universidade do Estado do Amazonas. 2004.

SAITO, C.H. Política Nacional de Educação Ambiental e construção da cidadania: desafios contemporâneos. In: RUSCHEINSKY, A. & cols. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. SOUTHWICH, C.H. Global Ecology in Human Perspective. New York. Oxford University Press, 1996. TAMBELLINI, A.T. & CÂMARA, V.M. A Temática Saúde e Ambiente no Processo de Desenvolvimento do Campo da Saúde Coletiva: aspectos históricos, conceituais e metodológicos. Ciência e Saúde Coletiva. v.3, n.2, p. 47-59, 1998. TOBAR, F. e YALOUR, M.R. Como Fazer Teses em Saúde Pública: conselhos e idéias para formular projetos e redigir teses e informes de pesquisa. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001. TORRES, H. A Demografia do Risco Ambiental. In: TORRES, H.; COSTA, H. (Orgs.). População e Meio Ambiente: debates e desafios. São Paulo: Editora SENAC, 2000, p. 53-73. _____. Desigualdade Ambiental em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas. Universidade de Campinas, 1997. p. 255.

112

Page 114: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

VASCONCELOS, P.F.C. Epidemia de Febre Clássica de Dengue Causada pelo Sorotipo 2 em Araguaína. Tocantins. Brasil. Rev. Inst. Médica Tropical. São Paulo. 35:141-8. 1993. VELASCO, S.L. Querer-poder e os Desafios Socioambientais do Século XXI. In: RUSCHEINSKY, A. & cols. Educação Ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. VELLOSO, R.; LA ROVERE, A.L.N.; CRESPO, S. Projeto GEO Cidades: relatório ambiental urbano integrado: informe GEO Manaus. Rio de Janeiro: Consórcio Parceria, 2002. VICTOR, C. Ecologia: de ciência a movimento social. In: Revista Unicsul, mai., ano 1, São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul, p. 4-12. 1996. VOCABULÁRIO Básico de Meio Ambiente. FEEMA. Rio de Janeiro: FEEMA. 2 ed. 1990, 246 p. YIENGER, J. Housing Discrimination and Residential Segregation as Causes of Poverty. In: DANZIGER, S.H. e HAVERMAN, R.H., Understanding Poverty, Nova York, Russell Sage, 2001, pp. 359-391.

113

Page 115: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

OBRAS CONSULTADAS ÁGUAS do Amazonas será notificada pela justiça. Jornal Diário do Amazonas. Manaus, 22 fev., 2003, Caderno Geral, p.3. ALVES, H. P. F. Desigualdade Ambiental no Município de São Paulo: análise da exposição diferenciada de grupos sociais a situações de risco ambiental através do uso de metodologias de geoprocessamento. R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 2, p. 301-316, jul./dez. 2007. BANCO MUNDIAL, World Development Report: relatório sobre o desenvolvimento mundial 1992. Washington: Oxford University Press, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1992, 322 p. CEPAL. Panorama Social da América Latina 1999: Agenda Social. Cepal, Santiago do Chile. 2000. COHEN, S.C. et al. Habitação Saudável no Programa Saúde da Família (PSF): uma estratégia para as políticas públicas de saúde e ambiente. Ciência & Saúde Coletiva, v.9, n.3, Rio de Janeiro, jul./set. 2004. COUTO, R.C.; CASTRO, E.R. (Orgs.). Saúde, Trabalho e Meio Ambiente: políticas públicas na Amazônia. Belém: NAEA, 2002. FIELD, B. C. Environmental Economics: an introduction. New York: MacGraw-Hill, 1994, 482 p. HERCULANO, S. Riscos e Desigualdade Social: a temática da Justiça Ambiental e sua construção no Brasil. In: Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade, 1, Indaiatuba, 2002. Anais. Campinas: ANPPAS, 2002. HOLIFIELD, R. Defining Environmental Justice and Environmental Racism. Urban Geography, 22 (1), p. 78-90, 2001. KEIL, R. The Environmental Problematic in the World Cities. In: KNOX, P.L. e TAYLOR, P.J. World Cities in a World-System Nova York: Cambridge University Press. 1995. p. 249-66. LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petropólis: Vozes, 2001.

114

Page 116: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

MANAUS. Lei n° 672, de 04 de novembro de 2002. Normatiza o uso e ocupação do solo no município de Manaus. Diário Oficial do Município. Edição especial. Manaus, 05 nov. 2002. no 628 ano III. MARICATO, E. As idéias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Idéias: Planejamento urbano no Brasil. In: A Cidade do Pensamento Único: desmanchando consensos. Otília Arantes (org). 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. ______. Metrópole na Periferia do Capitalismo: ilegalidade, desigualdade e violência. São Paulo: HUCITEC. 1996. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional de Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Sustentável: estudos para implementação. Versão preliminar. Brasília, 1996. MOST, M.; SENGUPTA, R.; BURGENER, M. Spatial Scale and Population Assignment choices in Environmental Justice Analyses. The Professional Geographer, 56(4), p. 574-586, 2004. NAPTON, M.L.; DAY, F.A. Polluted Neighborhoods in Texas: who lives there. Environment and Behavior, 24, p. 508- 526, 1992. OLIVEIRA, J.A. et al. Cidade de Manaus: visões interdisciplinares. Manaus: EDUA, 2003. Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS 2000. Guias Metodológicos para Iniciativa de Vivienda Saludable. Disponível em: <www.cepis.ops-oms.org>. Acesso em 16 set. 2008. PREFEITURA DE MANAUS. Boletim Epidemiológico do DISA NORTE. Distrito de Saúde Norte. Prefeitura de Manaus. v.I, ed. I, nov. 2006. 4 p. RIBEIRO A. L. (Coord.) Indicadores do Desenvolvimento da Amazônia. Projeto Indicadores do Desenvolvimento da Amazônia – Cooperação Técnica entre a Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) e o Banco da Amazônia. 2002. SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS DO SUS (SIA/SUS). Disponível em: <http: //www.atencaoprimaria.to.gov.br/ familia_ indicadores>. Acesso em: 22 abr. 2008.

115

Page 117: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

GLOSSARIO

A inserção deste glossário visa esclarecer alguns termos relacionados ao

meio ambiente e a saúde que foram utilizados neste trabalho, com conceitos

retirados de BRASIL (2009), FEEMA (1990), FERREIRA (2004), OMS (1998) e

OPAS (2001).

Acesso aos serviços de saúde – medida da proporção da população com

cobertura de serviços de saúde adequados. Esse conceito é utilizado para detectar

iniqüidades no uso de serviços.

Agravo – segundo o documento Seleção das Doenças de Notificação Compulsória:

Critérios e Recomendações para as Três Esferas de Governo de maio 1998

CENEPI-FUNASA/MS, são outros problemas de saúde pública além das doenças

transmissíveis, é, portanto, um termo mais abrangente do que doença.

Antrópico – tudo que pode ser atribuído à atividade humana. Relativo à

humanidade, à sociedade humana, à ação do homem.

Atenção primária de saúde – assistência sanitária essencial disponibilizada a um

custo acessível ao país e à comunidade, utilizando métodos práticos, cientificamente

fundamentados e socialmente aceitáveis. Deve ser acessível a todos os membros

da comunidade e estar sujeita à intervenções de todos. Permite a participação de

outros setores além do setor saúde. A atenção primária deve incluir, no mínimo, a

116

Page 118: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

educação da comunidade com relação aos principais problemas de saúde

predominantes e aos métodos de prevenção e combate correspondentes; a

promoção do suprimento de alimentos e de uma nutrição apropriada; o

abastecimento adequado de água potável e saneamento básico; a assistência

materno-infantil, incluindo o planejamento familiar; a prevenção e luta contra

doenças endêmicas locais; a imunização contra as principais doenças infecciosas; o

tratamento apropriado das doenças e dos traumatismos comuns; e o fornecimento

de medicamentos essenciais. A atenção primária distingue-se dos serviços de saúde

básicos no sentido de ser um processo que envolve eqüidade, ação intersetorial e

participação da comunidade para garantir benefícios em saúde.

Bairro – é produto de um conjunto de relações sociais que passa pela consciência

histórica de pertencer a uma localidade. O conceito ultrapassa os limites

administrativos, à medida que o grau de relações criadas entre as pessoas que

vivenciam um mesmo cotidiano, de rua ou quarteirão, de praças ou igrejas, forma

uma unidade espacial de profunda significação.

Cidade – centro populacional permanente, altamente organizado, com funções

urbanas e políticas próprias.

Clima – conjunto de condições meteorológicas (temperatura, pressão e ventos,

umidade e chuvas).

Comunidade – grupo específico de indivíduos que vivem em uma área geográfica

determinada, compartilham uma cultura, valores e normas sociais e possuem

estrutura social baseada nas relações estabelecidas após um período de tempo.

117

Page 119: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Degradação Ambiental – termo usado para qualificar os processos resultantes dos

danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem a capacidade

produtiva dos recursos ambientais.

Desenvolvimento Urbano – processo natural ou planejado de crescimento e

diferenciação de funções de um centro urbano.

Desmatamento – destruição, corte e abate discriminado de matas e florestas, para

comercialização de madeira, utilização de terrenos para agricultura, pecuária,

urbanização, qualquer outra atividade econômica ou obra de engenharia.

Doença – manifestações orgânicas, conseqüentes a estímulos vários, que podem

ou não evoluir para sintomatologia clínica ou enfermidade.

Doença notificável – doença que, de acordo com exigências estatutárias, deve ser

notificada à autoridade de saúde pública. (Epidemiologia para os Municípios).

Ecologia – estudo do inter-relacionamento entre organismos, ou grupo de

organismos, e o ambiente onde vivem.

Efetividade – relação entre o custo e a efetividade. Entende-se por grau de

efetividade o nível de contribuição de um programa ou outra atividade na

consecução de metas e objetivos fixados a fim de reduzir as dimensões de um

problema ou melhorar uma situação insatisfatória.

Espaço – o espaço caracteriza-se por ter uma dimensão métrica. E se o espaço

tiver uma produção social, ele servirá para o estudo da Geografia. Pode-se falar que

há o espaço físico e o espaço social. Um dado espaço irá pertencer ao estudo

geográfico se houver a união dos espaços físico e social.

Estado – corresponde a um grupo de pessoas organizadas politicamente em torno

118

Page 120: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

de um poder soberano representado pelos governantes. Ou seja, o Estado é um

país politicamente organizado. Para que ele exista são necessários um território, um

povo e um governo.

Estudo Retrospectivo – expressão que designa processo no qual as observações

focalizam eventos que ocorrem após o inicio do estudo.

Estratégia – é definida como curso de ação com vistas a garantir que as ações a

serem implementadas alcancem seus objetivos.

Estudo Prospectivo – expressão que designa processo no qual as observações

localizam eventos que ocorrem no passado, até o início do estudo.

Fauna – conjunto de animais que habitam determinada região.

Flora – totalidade das espécies vegetais que compreende a vegetação de uma

determinada região, sem qualquer expressão de importância individual.

Floresta Ciliar – extensão descontínua do ecossistema florestal, ao longo das

margens dos cursos de água.

Habitat – tipo particular de ambiente, no sentido espacial, ocupado pelo organismo

ou população.

Impacto Ambiental – qualquer alteração significativa no meio ambiente, provocado

pela ação humana.

Incidência – em epidemiologia, designa a medida da freqüência de determinada

doença, pelo número de casos iniciados em determinado período.

Infecção – resultado da invasão do organismo pelo parasito.

Indicador – o indicador quantifica a situação que o programa tenha por fim

modificar, de modo a explicitar o impacto das ações sobre o público-alvo. O

119

Page 121: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

indicador é apresentado sobre a forma de uma relação ou taxa entre variáveis

associadas ao fenômeno sobre o qual se pretende atuar.

Industrialização – significa o desenvolvimento econômico que tem por base a

proteção às indústrias existentes e a criação de novas indústrias. Ademais, tratasse

de uma atividade econômica que consiste em mobilizar capital, máquinas e trabalho,

para transformar a matéria-prima em produtos acabados, em grandes quantidades.

Lugar – é um ponto ou coordenada no espaço. O lugar é algo que serve de

referência, algo com que determinados seres humanos têm afinidade e que possui

uma História. O lugar, para receber tal atribuição, deve representar algo para algum

ser humano que se identifique com ele.

Meio Ambiente – é o sistema onde interagem fatores de ordem física, biológica e

sócio-econômica. É o conjunto de condições que abriga e rege a vida em todas as

suas formas.

Meta – é o objetivo temporal, espacial e quantitativamente dimensionado.

Quantidade de determinado bem ou serviço produzido ou executado no âmbito do

programa, em prazo definido, para a consecução do objetivo pretendido.

Estabelecem quantitativamente os efeitos esperados em um tempo determinado.

Devem ser específica, viável e mensurável.

Metrópole – significa cidade mãe ou cidade principal. A cidade principal organiza ao

seu redor a chamada área suburbana que, embora administrativamente possa

pertencer a vários outros municípios, é dependente da metrópole, econômica e

funcionalmente. Possuindo uma forma espacial com conteúdos diferentes para os

países industrializados e para os de economia dependente, as metrópoles em geral

foram produto da Revolução Industrial, e foi esta atividade que lhes deu maior

120

Page 122: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

impulso, já que a localização do processo de produção no espaço urbano promoveu

também uma maior concentração da força de trabalho e de consumo, assim como

os de gestão e de serviços. Numa concepção mais sucinta e restrita, o termo refere-

se à principal cidade de uma densa rede urbana, com população geralmente

superior a 1 milhão de habitantes, altas densidades demográficas, concentrando as

mais importantes e numerosas atividades industriais, comerciais e de serviços de

uma região, a saber, concentrando capital e poder político.

Migração humana – movimentação de pessoas, de uma área geográfica a outra,

implicando mudança, prolongada ou permanente, de residência.

Morbidade – em epidemiologia, medida da freqüência de determinada doença,

independente de sua evolução, ou seja, cura, morte ou cronicidade.

Mortalidade – 1) em epidemiologia, medida da freqüência de determinado agravo à

saúde, por meio dos casos que chegam à morte. 2) – relação entre o número de

mortes (em um ano) e o número total de habitantes. Mede-se em número de mortes

para cada 1.000 habitantes. É também conhecida como taxa de mortalidade.

Mortalidade infantil – é o número de óbitos em indivíduos de até um ano de idade,

referidos a 1.000, durante um ano.

Nascido vivo – filho que após a expulsão ou extração completa do corpo materno,

independentemente do tempo de duração da gestação, manifestou algum sinal de

vida (respiração, choro, movimentos de músculos de contração voluntária, batimento

cardíaco etc.), ainda que tenha falecido em seguida.

Notificação – comunicação oficial da ocorrência de casos de determinada doença à

autoridade competente por um notificante (médicos, hospitais, laboratórios ou

qualquer pessoa que tenha conhecimento dos casos destas doenças). Destina-se a

121

Page 123: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

conhecer os casos de interesse da saúde pública na comunidade. A portaria do

Ministério da Saúde nº 608, de 22/10/79, regulamenta a notificação compulsória de

doenças. Paisagem: é a forma de determinado espaço, onde objetos se encontram

distribuídos. A paisagem é tudo aquilo que vislumbramos, é tudo aquilo que vemos,

e é através dela que é possível localizar o espaço que está sendo trabalhado. Como

mero exemplo, podemos contrapor a paisagem urbana e a rural, pois cada uma

possui características que lhes são peculiares.

Parasito – organismo associado e metabolicamente dependente de organismo de

outra espécie o qual, em decorrência disso, vem a ser adversamente afetado, em

maior ou menor grau.

Planejamento – e um elemento de gestão. Processo que leva ao estabelecimento

de um conjunto de ações e decisões visando à consecução de objetivos específicos.

Geralmente inclui desde a elaboração até a consecução de projetos que identificam

metas, objetivos e mecanismos para a tomada de decisão e a implementação de

ações. Considera também os recursos necessários, os critérios para analisar

resultados, o tempo, etc.

Poluente – designação genérica para determinante físico-químico de origem

antrópica.

Prevenção de doenças – inclui medidas de profilaxia (imunização, luta contra

vetores ou atividades antitabagistas), bem como meios de impedir a disseminação

de doenças ou reduzir suas conseqüências.

Região (conceito produzido através de várias teorias acerca do assunto da fonte

descrita abaixo) – região é uma realidade concreta, que não existe a partir de si

mesma e sim a partir do que está ao seu redor, do que lhe é externo. Como vivemos

122

Page 124: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

em um mundo globalizado, a região não sofre somente influência das localidades

em seu entorno, mas também do que ocorre no mundo, que passa por bruscas e

rápidas mudanças ao longo do tempo. Assim sendo, em dada região, pode haver

intervenções de fora para dentro e de dentro para fora, pelo mero fato dela ter se

tornado um espaço ampliado de ação com o fenômeno da globalização.

Sociedade – 1) Conjunto relativamente complexo de indivíduos de ambos os sexos

e de todas as idades, permanentemente associados e equipados de padrões

culturais comuns, próprios para garantir a continuidade do todo e a realização de

seus ideais. Nesse sentido, no mais geral, a sociedade abrange os diferentes grupos

parciais (família, sindicato, igreja etc.), que dentro dela se formam. 2) Organização

dinâmica de indivíduos autoconscientes e que compartilham objetivos comuns e são,

assim, capazes de ação conjugada. 3) Agremiação; associação. 4) Reunião de

duas ou mais pessoas que combinaram pôr em comum todos os seus bens ou parte

deles, a sua indústria simplesmente ou os seus bens e indústria conjuntamente, com

o intuito de repartirem entre si os proveitos ou perdas que possam resultar dessa

comunhão. 5) Grupo de pessoas que se encontram dentro ou fora de um

determinado espaço, mas que estão em constante interação, podendo resultar desta

interação conseqüências positivas para ambas as partes, ou o ganho de uma parte

sobre o ônus da outra. Esta interação pode se dar entre pessoas próximas, a saber,

na sociedade local ou regional, ou entre pessoas que se encontram distantes umas

das outras, isto é, no âmbito da Sociedade Internacional.

Territorialidade – são espaços de ação que alguns países possuem em espaço

alheio (num espaço que não lhes pertence).

123

Page 125: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Territorialização (Dicionário Aurélio) – é quando uma pessoa ou grupo chega a um

dado espaço e o domina. Essa dominação pode se dar por áreas de influência (de

um país sobre áreas em outro país), e ela pode ocorrer por intermédio de uma

dimensão física, política, cultural ou econômica.

Territorialização (segundo Ministério da Saúde) – territorialização é um conceito

técnico que tem sido utilizado no âmbito da gestão da saúde, consistindo na

definição de territórios vivos com suas margens de responsabilização sanitária,

quais sejam: áreas de abrangência de serviços, áreas de influência, etc .

Território (segundo Milton Santos) – território é um nome político para o espaço de

um país. Agora, a existência de uma nação nem sempre é acompanhada da posse

de um território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Desta forma, Milton

Santos confere um viés de uso social e político para o território e afirma ainda que é

o uso do território ao longo da História que o torna objeto de análise científica (e não

este visto em seu aspecto meramente físico).

Território (Segundo Ministério da Saúde) – 1) território é um espaço vivo,

geograficamente delimitado e ocupado por uma população específica,

contextualizada em razão de identidades comuns, sejam elas culturais, sociais ou

outras. 2) o município pode ser dividido em diversos territórios para a implementação

das áreas de abrangências das equipes de unidades básicas e Saúde da Família. O

território pode estar contido num único município ou se referir a um conjunto de

municípios que guardam identidades comuns e constituem, entre si, modos de

integração social e de serviços numa perspectiva solidária.

Urbano – concernente à cidade, pertencente à cidade, citadino. Isto é, o que se

encontra dentro de uma cidade.

124

Page 126: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Urbanismo – tendência populacional à aglomeração em espaço limitado, para

propiciar o funcionamento institucional do Estado.

Urbanização – concentração de população em cidades e a conseqüente mudança

sociocultural dessas populações, ou ainda, aumento da população urbana em

detrimento da rural.

Vetor – denominação geral dada a espécie cujos organismos podem albergar o

parasito e assim propiciar-lhe a transmissão para acesso ao hospedeiro.

125

Page 127: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

APÊNDICE

Page 128: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

Apêndice A – Roteiro de Observação aplicado para identificação das áreas

ocupadas.

O roteiro para observação é composto por cinco itens para direcionamento quanto à

expansão urbana.

1. Caracterização da infraestrutura das áreas visitas na Zona Norte de Manaus.

2. Identificação da existência ou não de serviços básicos:

( ) Sistema de saneamento.

( ) Presença de depósitos de lixo.

( ) Áreas destinadas a coleta de lixo.

( ) Existência de rede de fornecimento de água.

( ) Ruas pavimentadas e com asfaltamento.

( ) Presença de escoadouro, com destino da drenagem pluvial.

( ) Presença de canalização dos tubos de drenagem dos esgotos.

3. Observação quanto a proximidade de casas ou qualquer outra obra com

áreas verdes, encostas e barrancos.

4. Verificação da rede de serviços de saúde existente na área ou região.

127

Page 129: Meio Ambiente e Saúde: Reflexões na Zona Norte da Cidade de ...

5. Observação dos espaços ocupados por Conjuntos Habitacionais.

128