Mauritania 2004

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"Aquele que não viaja desconhece o valor dos homens" Provérbio Mouro O pior inimigo: o frio. Fui a África, ao deserto, e uma das piores recordações é o frio! O frio que nos atacou na ida para baixo, logo no Alentejo, o frio com que chegámos a Marrakesh (onde faziam 3 graus), o frio no Sahara Ocidental à chegada a Laayoune. O regresso também foi gelado. Frio e chuva na fronteira Mauritana, frio e chuva no Anti-Atlas, frio na costa, em Agadir e Esssaouira. Frio e chuva a chegar a Tanger. E, claro, o frio com que cheguei ontem a casa. Este Portugal não aquece nada num mês? Não é Abril, Primavera? Cheguei ontem à meia noite. Deixei o Zé na ponte Vasco da Gama na esperança de que a corrente dele aguentasse até Carcavelos. Fiz as festas ao cão e atraquei-me às fotos. Não quero que isto acabe já! Quero ver aquelas terras e aquelas gentes outra vez! Hoje acordei cedo e foi a mesma coisa. Estou lixado, estou agarrado. As fotos não fazem justiça. Não consegui trazer a enésima parte do que vi; é sempre assim, mas frustra sempre. A KTM chegou a casa a fazer uma ruideira esquisita que se farta. Coitadinha, devia ter tido os mimos do costume aos 5.000 kms e já vai quase com 9.000. Muito bem se portou ela! Levou com temperaturas acima dos 40 , arranques repetidos em primeira às 8000 rpms na areia dos oueds e das dunas. Passou horas num andamento em que eu tinha de optar entre primeira ou segunda a gritar e segunda ou terceira a bater. A areia sugava literalmente a moto, que só conseguia flutuar acima dos 90 à hora. Em certas pistas, nem o ritmo da comitiva carro/motas nem a minha habilidade o permitiam. De maneira que parecia rebocar uma enorme charrua que não deixava a moto desenvolver. Brutal! Em toda a viagem, só parou uma vez. Por erro humano, como se diz. Já no regresso, na noite que passámos na fronteira Mauritana, ao tirar a vareta para verificar o nível do óleo, deixei as mangueiras da gasolina tortas e vincadas. No dia seguinte, a uns 10 kms do Barbas, a pobrezinha calou-se. O Zé, a quem melguei infinitamente sobre a desadequação da Transalp para estas vidas, rebocou-me muito satisfeito até ao Barbas, onde resolvi o problema. Podia tê-lo feito no local da avaria, mas achei que a Transalp merecia esse desagravo J.

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"Aquele que não viaja desconhece o valor dos homens" Provérbio Mouro

O pior inimigo: o frio. Fui a África, ao deserto, e uma das piores recordações é o frio! O frio que nos atacou na ida para baixo, logo no Alentejo, o frio com que chegámos a Marrakesh (onde faziam 3 graus), o frio no Sahara Ocidental à chegada a Laayoune. O regresso também foi gelado. Frio e chuva na fronteira Mauritana, frio e chuva no Anti-Atlas, frio na costa, em Agadir e Esssaouira. Frio e chuva a chegar a Tanger. E, claro, o frio com que cheguei ontem a casa. Este Portugal não aquece nada num mês? Não é Abril, Primavera? Cheguei ontem à meia noite. Deixei o Zé na ponte Vasco da Gama na esperança de que a corrente dele aguentasse até Carcavelos. Fiz as festas ao cão e atraquei-me às fotos. Não quero que isto acabe já! Quero ver aquelas terras e aquelas gentes outra vez! Hoje acordei cedo e foi a mesma coisa. Estou lixado, estou agarrado. As fotos não fazem justiça. Não consegui trazer a enésima parte do que vi; é sempre assim, mas frustra sempre. A KTM chegou a casa a fazer uma ruideira esquisita que se farta. Coitadinha, devia ter tido os mimos do costume aos 5.000 kms e já vai quase com 9.000. Muito bem se portou ela! Levou com temperaturas acima dos 40 , arranques repetidos em primeira às 8000 rpms na areia dos oueds e das dunas. Passou horas num andamento em que eu tinha de optar entre primeira ou segunda a gritar e segunda ou terceira a bater. A areia sugava literalmente a moto, que só conseguia flutuar acima dos 90 à hora. Em certas pistas, nem o ritmo da comitiva carro/motas nem a minha habilidade o permitiam. De maneira que parecia rebocar uma enorme charrua que não deixava a moto desenvolver. Brutal! Em toda a viagem, só parou uma vez. Por erro humano, como se diz. Já no regresso, na noite que passámos na fronteira Mauritana, ao tirar a vareta para verificar o nível do óleo, deixei as mangueiras da gasolina tortas e vincadas. No dia seguinte, a uns 10 kms do Barbas, a pobrezinha calou-se. O Zé, a quem melguei infinitamente sobre a desadequação da Transalp para estas vidas, rebocou-me muito satisfeito até ao Barbas, onde resolvi o problema. Podia tê-lo feito no local da avaria, mas achei que a Transalp merecia esse desagravo ☺.

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Para dizer a verdade fiquei muito surpreendido com a fiabilidade da 640. Esperava muitos problemas e levei uns bons 10 kilos de peças, ferramentas e materiais de bricolage, que não chegaram a ser precisos. Ah! A Katie teve ainda outro probleminha. Em Agadir, no regresso, o canhão de ignição quis desistir, com a areia toda que tinha comido. Irritado, fiz força demais e parti a chave. A de substituição conseguiu voltar a funcionar depois de levar umas pancadinhas. A areia estraga tudo. Tudo, tudo mesmo. Estraga os kits de transmissão, os interruptores, as fechaduras, os rolamentos, os retentores. Estraga os fechos eclairs, as fivelas, os capacetes, risca as lentes e viseiras, mete-se nas botas, dentro da tenda, na comida, nos ouvidos, no nariz, entre os dentes. Mete-se nos olhos, claro. Estraga as máquinas fotográficas, os telemóveis e o resto da tralha toda, toda, toda. Incrível. Acho que chegámos a ter areia no cérebro e a pensar pior por causa disso! A areia não tem perninhas e não anda sozinha. Quem a mete em todo lado é o vento. Parece que se chama Harmattan e os meses em que sopra mais são Março e Abril, tinha de ser. Acho que não apanhámos um único dia sem vento. Soprava umas 6 a 8 horas por dia e depois calava-se "Até Já!". Quando estamos cansados e e com a moral em baixo, fica-se com a sensação de que o gajo trabalha propositadamente contra nós. Começa a soprar quando começamos a comer. Se está muito calor sopra pelas costas e a moto não arrefece. Se temos pouca gasolina sopra de frente e a moto gasta mais 3 litros aos 100. Como no dia do capotanço do carro. Quando começámos a trabalhar para resolver a situação, começou a assobiar com força. Quanto mais trabalhávamos mais soprava. Culminou com um verdadeiro vendaval a acompanhar a refeição que comemos em pé encostados ao carro já direito. Uma sandes de atum com areia e vento a pensar que as férias acabavam ali no El Hammâmi sem chegar a ver o Maqteïr. Cabrão do vento! Quando a moral está alta, pode o gajo soprar à vontade que já estamos habituados. Faz parte. Encontrámos dois franceses com DR 600 Djebel do tempo da Maria Cachucha. O equipamento também era engraçado. Blusão da Citroen para um e forro polar da Millet para o outro. Calças de ganga para os dois. Um tinha um capacete GPA daqueles sem fivela a que tinha que se abrir os queixos para pôr e tirar. Tecnologia de ponta em 1983. O outro tinha um daqueles capacetes de hipismo. Ah! Usavam botas, a sério, mesmo para moto, e boas. Catalogámos os tipos como verdadeiros overlanders, aderentes à filosofia Insh'Alah. Tem piada que todos os motards que encontrámos eram Insh'Alahs. O suiço com a R100GS que encontrámos na fronteira de Guergarat também tinha botas boas. Rebentou um pneu no deserto. Um amigo, noutra R100, deixou-o para ir buscar o pneu. Esse tal amigo, atascou e queimou a embraiagem a tentar sair. Abandonou a moto, caminhou 40 kms no deserto com o GPS na mão. Foi buscar uma pickup e o pneu para o primeiro atascado e estava agora em Nouahdibou à espera da

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embraiagem. Os alforges do suiço eram jerricans de plástico de 30 litros cortados em cima, agarrados à GS. O francês que encontrámos com a namorada em Dakhla, a caminho de Madagascar também tinha botas de cross. Levava uma TT600 com um caixote artesanal gigante atrás. Mesmo assim a namorada tinha de levar o saco cama a tiracolo! O capacete da namorada era um AGV de 1970 e acho que ainda tinha a viseira de origem. Ela não tinha botas, tinha sapatos de ténis. Acho que o francês não a estimava muito. O franco português e o franco algeriano que encontrámos no Alberge da Zaida em Ouadâne estavam num Toyota BJ45 mas também eram motards. Uma vez tinham feito Dehli-Paris num mês em Bullet 500 (a réplica da Royal Enfield de 1950 que ainda se fabrica na India). Esqueci-me de lhes perguntar das botas... Em contrapartida aos serões Nomads aflorava-se invariavelmente o tema "a moto ideal para isto é..." e grandes discussões filosóficas se levantavam entre mono e multicilíndricas, motor de arranque ou não, curso de suspensão e protecção aerodinâmica versus autonomia barra conforto e sabe-se lá mais o quê. Inch'Alah acho que quer dizer "Queira Deus" ou mais à portuguesa "Se Deus quiser" e os árabes acrescentam essa expressão a todas as menções de futuro. Os verdadeiros overlanders simplificam o equipamento, esperam Inch'Alah que não haja problemas e divertem-se a resolver os que aparecerem. Nós exageramos no equipamento, vamos preocupados com o que não conseguimos prever e quando temos problemas achamos que está tudo lixado. A meu ver, a filosofia overlander pura e dura tem outras vantagens. Torna o viajante muito mais igual aos povos que visita. Nós estávamos simplesmente extravagantes. A sério, éramos muitos e vistosos. Motos enormes, novas e reluzentes (pelos padrões Mauritanos, um Renault 12 de 1972 todo, mas mesmo todo amassado é um taxi perfeitamente capaz). Autocolantes e patrocínios. Fardamentas sofisticadas, coloridas, prateadas até. Éramos tão ricos que precisávamos de um carro a abarrotar para transportar as nossas coisas! Tínhamos GPS's, telemóveis, telefones satélite, computadores, PDA's e máquinas fotográficas digitais! A mim roubaram-me os GPS's na pista da praia, antes de Nouamghar. Foi num acampamento de pescadores senegaleses, onde pedimos para nos cozinharem jantar. Ajudámos a puxar os barcos para cima e enquanto esperávamos fizemos umas fotografias, mostrámos as motos, enfim, sem o querer demos uma excelente demonstração do nosso enorme (por comparação, claro!) poder económico. Os senegaleses saem para o mar às sete da manhã. Voltam doze horas depois. Vivem numa tenda com menos de um metro de pé direito que é

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simultaneamente quarto, sala e cozinha. Perdoem-me se parece condescendência paternalista mas acho que o homem que me roubou nem deve ser bem um ladrão. Teve aquele instinto Robin Hood, roubar os ricos... enfim. Encontrámos ainda outros motards. Os locais. Vinham até nós e diziam "Je suis motard aussi..." com grandes sorrisos na boca. Tinham, ou tinham tido, todo o tipo de motos. O polícia na fronteira mauritana, no regresso, andava de BMW. O mouro, negro retinto que conversou comigo enquanto reparávamos um furo em Chinguetti, tinha tido XT's, agora tinha uma 400 de estrada que não lhe servia para ali. Em Ouadâne encontrámos um gajo que parecia o Giovani Sala mauritano. A sério que tinha uma semelhança fisionómica! Andava todo empenado, coxo, por culpa das motos. Já tinha tido scooters, DT's e XT's. Agora tinha uma KTM que dizia igual à minha. Afirmava, e os amigos corroboravam, que quando o Dakar ali passa, incorpora a comitiva e faz um dia a acelerar entre os melhores. Dizia com imensa piada que era apenas uma questão de moto. Se os outros passavam a fundo num determinado sítio, ele também passaria. Percebem-se assim as lesões. Tinha um ar calmo e contente, nada condizente com a perspectiva de alucinado escafiado com que se fica ao ler isto. O conceito da nossa "expedição" era mesmo um bocado contraditório. Por um lado discutíamos todos os dias qual era a tal moto ideal para andar ali. Concluíamos invariavelmente que não eram as nossas. Alguns de nós acham que uma monocilíndrica levezinha, velhinha, com a electrónica mínima indispensável e com boa acessibilidade mecânica é que seria "a ferramenta", á maneira dos overlanders Inch'Alah´s. Por outro, tínhamos como objectivo levar as maxi-trail a atravessar o Erg do Maqteïr, uma extensão 200 km de dunas em fora de pista, tudo isto em três semanas já com ida e regresso. E foi por isso que tivémos de nos sobrepreparar e incorporar carros. Está claro que para atravessar o Maqteïr, e por razões muito simples de autonomia de combustíveis, água e víveres, nem com as tais motos levezinhas o poderíamos fazer sem apoio de carro... mas as maxi-trails não iam certamente facilitar a coisa. Estou para aqui a falar de maxi-trails, mas estou convencido que a minha não incorpora essa categoria. Fiz batota e levei uma KTM 640 Adventure. É pesada (comparada com uma XR ou com uma XT) mas tem uma ciclística de sonho e um motorzinho dócil. Dá para viajar em estrada a 120 -130. A tal acessibilidade mecânica não é famosa, mas a moto provou ser fiável. De modo que acho que ela é a moto ideal para ali. Se a carregar com bagagem, acho que ainda a consigo pilotar (embora muito no limite) nas pistas mais difíceis que apanhámos desta vez. As outras duas que se deitaram ao Maqteïr eram a Africa Twin do Luís Lourenço e a Transalp do Zé Santos. A Transalp tem um motor fantástico, redondo, equilibrado como um relógio, potente qb, com binário e baixas e tudo. O peso

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(sem bagagem) ainda é contido. Vai a todo o lado embora não tenha protecção de carter e a despeito dos fúteis plásticos. A Africa Twin, já é um bicho diferente. Mesmo sem bagagem, só a fibra do Luís para a fazer andar onde andou. Aquilo é uma maxi-trail a sério, caraças! Curiosamente, para as motos, o pior terreno que encontrámos não foram as dunas do El Hammami ou do Maqteïr. As pistas de oued como a que saía de Chinguetti pelo oued exigiram tudo o que nós e as motos tínhamos para dar. Areia muito fina. A direito, a KTM arrancava em 1.ª quase ao red-line se eu ajudasse com os pés. A Transalp quase não arrancava, ia cavando um buraco com a roda de trás e o Zé ou o Nuno César iam fazendo força, muita força. A AT, por vezes, requeria que o Luís a deitasse, tapasse o buraco da roda de trás, a levantasse e arrancasse ao lado até conseguir descobrir um meio metro de areia um pouco mais dura de onde tentar um arranque a sério. Isto acontecia de 200 em 200 metros ou assim. Grande Luís! Nas dunas, tínhamos que tentar ler o terreno para perceber se havia precipícios ou para tentar antecipar a localização das bolsas de areia mole. Era difícil. De vez em quando lá caíamos numa dessas zonas. Como há sempre um declive dávamos gás a fundo e tentávamos embicar à descida sem chegar a parar, que "parar é morrer!". Já os precipícios, por vezes eram invisíveis! Tirávamos gás à última e tentávamos não ficar atascados mesmo no topo. A areia é tão macia do lado das descidas que a moto atasca de frente numa pendente de alguns 40%! Para descer também há que acelerar e bem! Enfim, aquilo é uma ciência que eu não domino. Gostava muito de tentar aprender mais sobre a pilotagem em areia a sério. Gostava de saber os truques dos aviões do Dakar. Uma coisa é certa, a relação peso/potência, ali, é fulcral. Quanto à leitura do terreno, a experiência deve ser primordial. Nas motos acho que vamos mais altos e temos melhor visibilidade mas o Quim no carro, e mesmo já com o pára-brisas partido, lia as dunas muito melhor que eu. Os consumos foram... uma surpresa e não muito agradável. A KTM em estrada, aqui no rame-rame diário gasta-me 5,5 aos 100. Em viagem para baixo, mesmo com um pouco de vento cruzado, fez isso. Quando entrámos em pista passámos a fazer média ponderada das três motos. Nas dunas do Maqtëir e pistas de areia o consumo ponderado das três motos subiu para 10 aos 100. No dia da famosa pista que saía de Chinguetti pelo oued a média das três motos foi de 13 (treze!) litros aos 100!!! No regresso montei as malas na moto. Em estrada a 120 o consumo chegou a subir aos 8 litros aos 100. Na GS as malas agravam-me cerca de 1 litro aos 100. Na laranjinha são mais dois litros e meio! Não haveria mesmo forma de atravessar ergs compridos, fora de pista, sem apoio auto. Essa é uma conclusão desta viagem. No entanto, carros e motos têm ritmos diferentes. Houve dias, como o que nos levou aos gueltas de Amazmaz

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em que nos arrastámos atrás da pickup. Andávamos cinco minutos... parávamos um minuto e meio. A pickup, carregada como ia, não podia andar mais. Pura e simplesmente não tinha curso de suspensão e as pistas passavam de arenosas a pedregosas num instante. É penoso andar ao ritmo dos carros. De modo que houve um dia em que decidimos separar-nos. Tínhamos que regressar por uma pista que já tínhamos feito e a seguir iríamos percorrer um track do Pedro Geraldes para Akjoujt. A evolução das motos foi completamente diferente. Deu-me muito gozo andar uma hora seguida de moto sem parar e acho que foi dos dias em que gostei mais da vertente condução, apesar das dificuldades da pista e do muito calor. No entanto, os kilómetros foram demasiados e não chegámos ao destino. Nem nós nem a pickup, mas estávamos separados. Por conseguinte, quando nas motos finalmente arreámos e decidimos não prosseguir, não tínhamos água nem comida nem material para acampar. Ou seja: § o carro de apoio é indispensável para as travessias fora de pista. § como não há meio de comunicação, temos sempre de andar à vista para

não haver desencontros que podem resultar em atrasos grandes ou em falta de assistência mútua.

§ carros e motas têm efectivamente andamentos muito desiguais em certas pistas.

Um formato intermédio que poderia ter resultado melhor seria juntarmo-nos com o carro para atravessar os ergs, e fora daí andarmos autónomos com a nossa bagagem, marcando pontos de reencontro com os carros em cidades pré-determinadas. Mas um telefone satélite por grupo seria quase indispensável. Isto, a insistir no formato carros+motos. O objectivo de uma viagem pode ser pura e simplesmente decansar. Pode ser ir a um país, querendo com isto dizer ter lá entrado, passado a fronteira. Pode ser algo específico como escalar uma montanha, atingir um Polo, descobrir uma nascente... motivado por razões geográficas, científicas ou desportivas e aí torna-se uma expedição. No nosso caso havia um objectivo concreto, atravessar o Maqteïr entre Tourine e El Beyyed, mas não havia a tal motivação concreta para o realizarmos. Só o gozo que nos proporcionaria. Isto parece propenso a uma confusão de conceitos? Interpretado por treze pessoas, é uma enorme confusão. Penso que os vários intervenientes tinham mesmo concepções diferentes dos objectivos da viagem. Toda a gente sabia para onde íamos: ao Maqteïr. Mas todos tínhamos imaginado de forma diferente como iríamos. As pessoas são todas diferentes e analisam de forma diferente as condições que têm para prosseguir. Os grupos eram heterogéneos e acho que houve imensa actividade "emocional". Pela minha parte fui incapaz de ter a tolerância suficiente para encaixar essas diferenças. Por essa razão, no futuro penso que não voltarei a

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integrar um grupo destes. É muita gente e é muito tempo. Também não gosto muito de fazer coisas sob uma bandeira, nem que seja a dos desorganizados Nomads ☺, portanto, estou a pensar em ainda menos organização. Uma coisa a que não se chame "expedição" mas simplesmente viagem. O que chamo menos organização não quer dizer menos preparação... depende do tempo disponível. Viagens com o tempo contado precisam de preparação cuidada e de muita sorte para concretizarem os objectivos. Isto se tiverem objectivos concretos. E desta vez acho que podemos dizer que sorte só daquela portuguesa "podia ter sido pior...". Também... saímos 13 a dia 13. Sem medo, no Bojador ainda almoçámos no Café Titanic. Estávamos a pedir chuva. E tivémo-la! No deserto do Sahara! Em barda! Três dias enfiados! As pessoas que fomos encontrando foram uma parte muito gratificante da viagem. Acabámos por não comunicar muito, até porque temos uma barreira linguística importante. Ao contrário de nós, a maior parte dos mauritanos fala bom francês. Mas os contactos fugazes que se fazem naquelas condições têm um grande sabor de autenticidade. Não conseguimos ficar a saber como vivem aquelas pessoas, mas conseguimos intuir, suspeitar... e quando as nossas intuições se comprovam, dá um gozo reforçado. Foi espectacular uma meia hora de conversa que tivemos com a Isabel, a portuguesa que descobrimos por acaso no albergue da Zaida em Ouadâne. Anda na estrada há cerca de três meses, gostou da Zaida e abancou-se para aprender o Hassaniya (a variante do árabe que fala a maior parte dos Mauritanos). Parece perfeitamente integrada em Ouadâne, onde toda a gente a conhece e toda a gente a cumprimenta com o complicado ritual Mauritano: são sete ou mais frases encadeadas, tipo pergunta resposta que se proferem sem olhar o interlocutor directamente. Vagamente:

- Salam Aleikoum! - Aleikoum Salam. - Eiec Labés? - Al hamdoulilah. - Mash Allah! - …. - ….

E por aí a fora. Parece que quanto mais velhos mais perguntas respostas vão acrescentando. É divertido de ver, garanto-vos. A Isabel deu-nos a sua visão de algumas características que imputava aos Mauritanos. São simples, alegres, delicados, maliciosos, brincalhões... conservam aquela delicadeza árabe que nos dedicam os Marroquinos, mas adoram uma chalaça, um trocadilho, uma brincadeira. Não têm televisão, logo, são pessoas

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simples. A religião rege parte importante do seu modo de viver. Mas são indubitavelmente humanos e sensíveis. As mulheres trabalham e muitas são auto-suficientes. São islâmicos, logo a poligamia faz parte. O divórcio é admitido e muito frequente, e ao invés de estigmatizar as mulheres, aumenta-lhe a cotação! As mulheres com mais divórcios são mais desejadas. As relações são entabuladas sem o objectivo de durarem para sempre. Quanto à poligamia, parece que após o primeiro casamento as mulheres podem impôr exclusividade! A mim parece-me que eles flirtam e se divertem à grande a despeito das limitações impostas pela religião. São racialmente muito variados, do tipo árabe/berbere (mais numeroso) ao negro, há de tudo. E as mulheres têm rostos francamente bonitos. No total, são só cerca de três milhões de mauritanos. E o território tem duas vezes a área da França! O que põe a Mauritânia em sétimo no top dos países menos populados do mundo, logo atrás da Austrália. A propósito... o primeiro do top é a Gronelândia e o segundo é... o Sahara Ocidental (se considerado como autónomo de Marrocos). Continuando nas estatísticas, e estou a citar o Big Brother (o CIA World Fact Book): a esperança média de vida de um mauritano são 52 anos. A de um tuga são 76 anos. Para enquadrar ainda melhor os dois países, o nosso e o deles... a de um marroquino são 70. Ainda segundo a CIA, 50% da população vive abaixo do limiar da pobreza. Em Marrocos "apenas" 19%. A definição de limiar de pobreza não é simples, mas esta medida, aliada à esperança média de vida dão uma boa noção da diferença entre estes dois países, mesmo para leigos em geografia como eu. Não vimos crianças com fome ou aspecto subnutrido, mas uma francesa que conhecemos em Chinguetti, guia na Mauritânia há 11 anos, era promotora de uma associação contra a pobreza infantil. Explicou-nos que há efectivamente pobreza e que atinge muito os adolescentes, sem grandes saídas para subsistir. Parece que o país está em transição da antiga sociedade nómada, pastoril, para algo difícil de definir. Oitocentas mil pessoas vivem na capital, Nouakchott! Não consigo imaginar o que fazem. Li algures que são nómadas empurrados para lá pelas grandes secas dos anos 90. É curioso pensar que todos viviam em tendinhas arrumadas há poucos anos e agora habitam aquela espécie de bairro de lata gigante. Dessa parte, do bairro de lata, vimos pouco. Chegámos já de noite. Mas no dia seguinte, em direcção à praia também vimos hoteis, dos bons, e vivendas de embaixadas em bairros que pareciam agradáveis. Nada de sotifisticado, mas mesmo assim um contraste. Em Akjoujt o Quim chamou-me a atenção para a tenda nómada montada do outro lado da rua frente ao hotel espeluncoso onde recuperávamos da noite em

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jejum. O vento levantava a habitual areia mais a poeira que se forma nas cidades, havia lixo espalhado por toda a parte. Uma mulher no chão da tenda protegia a boca com o véu cada vez que passava um automóvel e a poeira se adensava. Uma noção de desconforto, de desadequação era evidente. Nómadas na cidade. Contradição. No dia em que nos separámos no carro acabámos, já noite dentro, por pedir água num acampamento nómada. Havia um poço mesmo ao lado da pista. O acampamento estava uns 30 metros para dentro. Uma fogueira ardia protegida do vento por um entrançado de arbustos - devia ser a cozinha. Lembro-me pelo menos de um homem, uma mãe com um bébé de colo, uma avó?, outra mulher que nos ofereceu chá, ...? Era o serão, estavam todos na sala, a uns 10 metros da cozinha: um tapete grande no chão onde também nos abancámos. Um pouco mais ao lado, a tenda, ou seja, o quarto. Tudo parecia calmo, limpo, arrumado, em ordem. Depois dos nossos agradecimentos pela água e pela hospitalidade, mostraram-nos a mão da avó. Estava infectada, provavelmente tinha um corpo estranho. Fiz-lhe o curativo possível, perante uma plateia super atenta e divertida com a mímica com que nos entendemos. Deixámos-lhes o betadine e a bacitracina, pode ser que aquilo se componha. Foi um momento engraçado, os três extravagantes viajantes a bancarem o Schweitzer, emocionalmente rôtos no fim de um dia com muitos quilómetros e muito calor, sem almoço e com pouca água. Acho que nos pôs a pensar que outro tipo de viagens, ainda mais gratificantes, se podem fazer por ali. Os muçulmanos têm o dever da hospitalidade. E pelos vistos praticam-no. Deve haver uma razão prática para estes preceitos e neste caso pode derivar do modo de vida nómada. Acolhe agora e serás acolhido depois. Como gosto de complicar as coisas, penso com alguma ironia que preferia que a hospitalidade deles não tivesse fundamento religioso. Reflectindo melhor, seria mais autêntica? Claro que não. Tudo o que é bom é preceituado por uma religião ou outra e não deixa de ser bom por causa disso. Acho que esta minha complicação mental é da mesma ordem da que me leva a ficar chateado por se vender Coca-Cola em todo o lugar da Mauritânia com mais de 5 habitantes. Tenho aquele fútil desejo turístico de visitar locais não turísticos ☺. Nada a fazer... Nouakchott foi um delírio! A nossa chegada à hora de ponta do fim de tarde! Os taxis colectivos tipo Ford Transit com mais de 40 pessoas dentro, as buzinadelas, os calhambeques, a boa disposição de toda a gente, a confusão do trânsito... e tivemos lá uma ocasião apoteótica: o nosso jantar de luxo, lagostas e gambas e mousse de chocolate, regados a Sagres, tudo no dia seguinte a termos pernoitado sem água nem jantar à beira da pista para Akjoujt. Contrastes, contrastes, contrastes...

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Por onde fomos passando comia-se invariavelmente cuzcuz, normalmente com carne de camelo (poucochinha) guisada com vegetais que não sei de onde provêm. Em alternativa ao cuzcuz só o esparguete! O pão é excelente em todo o lado! Comprámos alternadamente os redondos e outros, óptimos, tipo baguete. Ainda um último número. A percentagem de terra arável em Marrocos: 20.12%. O mesmo para a Mauritânia: 0,48%!!! De facto as únicas áreas cultivadas que vimos foram os oasis. Aí fazem pequenas hortas e cultivam os palmeirais de tâmaras. Os produtos frescos são raríssimos e passámos em muitas localidades que não têm um centímetro quadrado de cultivo. Cenouras, tomates, cebolas e laranjas passaram a ser um luxo para nós! As crianças são outra das atracções da Mauritânia. São em regra delicadas e percebe-se que gostam de praticar connosco o francês que andam a aprender na escola. "Je m'apelle Said, et toi?" e eu com o meu tosco franciú a deseducá-los! O célebre "Messieur, messieur, donnez-moi cadeaux, bombom, BIC, argent..." faz parte do repertório. É um sinal de que já lá passaram as caravanas de turistas broncos que indiscriminadamente oferecem bugigangas, muitas vezes sem sequer parar o carro. Percebe-se aliás, tal como em Marrocos, que as crianças de mão estendida não são uma visão agradável para a maior parte dos adultos. Normalmente aparece alguém a pô-las na linha. Se lhes dermos dois dedos de conversa os tipos desarmam o "donnez moi" e tornam-se simpáticos. Tenho pena de não ter levado uns quantos mapa mundi para dar aos putos e explicar-lhes de onde vínhamos. Os portugueses são muito poucos por ali e invariavelmente o primeiro palpite deles era que seríamos espanhóis ou italianos. De qualquer forma diverti-me a desenhar mapas na areia enquanto assassinava a língua do Victor Hugo a explicar-lhes que tínhamos atravessado um "petit mére" num "bateau avec les motos". E também gostava de ter levado umas polaroids para poder deixar umas fotos. Teriam de ser usadas muito judiciosamente sob pena de iniciarmos verdadeiros motins " messieur, messieur, a moi, a moi!!!..." Agora uma informação bombástica: o Figo, o nosso embaixador cultural, é um desconhecido na Mauritânia! O Zidane tod'a gente sabe quem é. O Roberto Carlos também tinha adeptos, agora o Figo, Fígu, Figou, Figô... nah, não houve uma alma a quem fôsse familiar! "Para a próxima..." foi uma frase que se ouviu muita vez entre o grupo das 4 semanas. Discutiam-se as preferências de cada um relativamente aos formatos possíveis. Por muita realização que esta viagem nos tenha proporcionado, todos temos uma concepção ideal arquitectada na cabeça e essa concepção não bate com esta viagem. Acho que isto também é normal. É a ânsia de fazer melhor.

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Que esta viagem nos tenha indubitavelmente realizado, nos tenha motivado a fazer outras, nos tenha aberto os olhos para o verdadeiro deserto ao extasiar-nos no El Hammâmi e no Maqteïr, é o mais importante. Depois disto, vejo as minhas viagens anteriores a outra dimensão. O primeiro dia em que atacámos o tal El Hammâmi na véspera do capotanço da Toyota ficará para sempre na minha memória. Perceber a imensidão, a regularidade suave daquele espaço, os camelos que flutuavam na paisagem... acho que todos, deslumbrados, dissemos "irreal" ou "surreal" ou qualquer coisa do género, porque pura e simplesmente não sabíamos que mais dizer. O mesmo para a planície imensa, lisa como um espelho, que nos apresentou ao Maqteïr. Passámos muitos outros pontos de paisagem deslumbrante. A duna onde almoçámos sob um céu de tempestade no dia do ataque ao Maqtëir e o shott adjacente mesclado de areia branca, branca, branca. O oásis de Mhaireth. Os gueltas. O desfiladeiro de Tifoujar, essa espécie de rio/estrada de areia bordejado de dunas e pedras que subia a montanha - dava para ir galgando a areia de um lado e do outro - como o Poço da Morte dos Pequeninos! O Luís aí quis fazer a trialeira dos camelos. Não nos viu arrancar e fez um caminho paralelo a que não se pode chamar uma pista. Como achou que a dificuldade era pouca ainda se mandou a uma descida impossível para se juntar à tal pista principal que corria entre as dunas! O caminho pedregoso que daí arrancava tinha outra panorâmica maravilhosa. Tal como a envolvente de El-Beyyed. E como a primeira zona dunar que nos venceu, o Amatlîch, na direcção de Akjoujt! Ou ainda o Zarghe, o monte pedregoso a que se chegava por um campo de dunas e erva camelo de proporções gigantes. A paisagem é monumental na Mauritânia. E no entanto surpreendeu-me menos que em Marrocos, onde tudo parece enorme e vasto, mas é por comparação mais pequeno. Em Marrocos andamos 20 km's e a paisagem que parecia infinita transmuta-se noutra que também parece enorme. Na Mauritânia esses contrastes surgem menos amiúde, talvez porque a vastidão do território seja efectivamente de uma escala superlativa. Mas atenção! Não estou a comparar qualitativamente as virtudes das paisagens destes dois países. Seria como eleger um filho preferido. Quatro semanas são muito tempo. Ou muito pouco. Muito tempo para estar com as mesmas pessoas. Muito tempo porque depois só há mais para o ano... Mas muito pouco porque nos faltou tanto que ver, tanto que conversar, tanto para aprender, tanta gente para conhecer. Investir todas as férias de um ano é difícil! Mas mais difícil teria sido não ir. Outro assunto recorrente nas nossas conversas ao luar: o que fazer na vida para ter mais tempo deste. Totolotos, negócios próprios, licenças sem vencimento, mudanças de vida. Aceitam-se sugestões.

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Uma semana depois ainda me custa estar entre quatro paredes. Ainda me sobra um bocadinho da imensa calma com que me sentia dias após o regresso. Mas vinha efervescente de ideias sobre a viagem. Não podia, não conseguia discuti-las com os aliens que não foram - daí pôr-me a escrever isto. Por outro lado vinha estranhamente alheado, em paz com a vida quotidiana. Lentamente, a coisa inverte-se, e a vidinha retoma o seu curso. Mas gostava de guardar uns jerrycans de calma para usar mais tarde. Ah e é bom rever e reler os amigos, a família. Foi só um mês, mas já me faziam falta. Agora que acabo este escrito faz exactamente uma semana que regressámos. O ano tem cinquenta e duas, menos as quatro de férias mais a que já passou faltam-me 47 semanas... acho que vou fazer traços na parede! A tal minha concepção ideal de próxima vez é qualquer coisa na vertente overlander Insh'Alah. Duas ou três motos. Dois ou três motards. Pouco alarido e menos debate significam mais tempo para resolver os tais imponderáveis que salgam a vida. Daremos menos nas vistas, teremos mais tempo por contacto. Tempo para conhecer melhor as pessoas de lá e os seus sítios. Menos GPS's ☺.Mais conversa fiada lá com aquele pessoal. Implica ainda mais tempo (o que parece mesmo impossível) ou menos distância. Humm... e sem carros não há ergs... pois..., é difícil decidir. Como em tudo na vida, não deve haver uma única resposta, nem sequer no plano ideal. Ou seja, não vale a pena estar aqui com concepções teóricas de viagem ideal e para a próxima logo se vê!

Insh'Alah!

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Anexos: MENSAGENS DA LISTA nomads_expedicao do período de preparação da viagem. ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Carlos Azevedo [mailto:[email protected]] Sent: 12 December, 2003 15:58 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Novas - longo

Boas, Estive agora a falar com o Quim e a afinar agulhas em relação à expedição, chegámos à seguinte conclusão que gostariamos de colocar a todos os intervenientes. 1º O numero maximo de contentores será 2. O espaço disponivel neles ditará o numero máximo de participantes sendo que está já + ou - definido que o espaço para os jipes do Casimiro e Quim fica desde já reservado. Depois se discutirá mais sobre este assunto. NOTA: tem-se verificado que os interessados tem subido de numero constantemente, ora quanto mais, maior a possibilidade de problemas e mais probabilidades de não conseguirmos os nossos objectivos ou seja chegar a Bissau em 3 semanas! É necessário colocar algum tipo de limite ao numero de participantes. 2º outra situação tem a ver com a experiencia individual de "deserto" e em condições de isolamento total prolongado. Achamos que o minimo """"exigido""""" seria pelo menos uma viagem de moto em Marrocos ou alguma experiencia semelhante. Parece que muitos estão a menospresar as dificuldades que nos esperam e TODOS tem de ter consciencia que nesta viagem não haverá lugar para atalhos, desistencias e stress's provocados por isolamentos e cansaço. Todos os que vão têm de ter a consciencia que se não pertenderem continuar a viagem terão de se desenrrascar sozinhos em paises complicados como a Mauritânea, Senegal, Gambia e Guiné pois é imperativo que cheguêmos a Bissau na data prevista. Tb aqui falarêmos melhor em futuras reuniões.

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3º O Quim tinha colocado a ideia na ultima reunião de realizarmos todos a viagem pelo interior da Mauritanea e depois os que voltarem por terra fazer a etapa junto à costa. Essa situação foi reavaliada e neste momento o trajecto sugerido de ida será o pela costa. Esta é a primeira vez que a grande maioria dos Nomad's fazem uma viagem de moto mais a sul do que Marrocos. Por sua vez Marrocos em relação aos seus vizinhos a Sul é um pais muito desenvolvido. Sendo a primeira experiencia por essas paragens é mais sensato fazer o percurso mais simples, ficar a conhecer costumes, métodos e ganhar experiencia, para na proxima viagem passar para trajectos mais complexos, afinal como já disseram eles não fogem. Numa proxima viagem (para o ano por ex.) com uma maior avontade nesses paises, com contactos consistentes em Bissau, sabendo como tudo funciona poderêmos aumentar a complexidade do percurso e fazer por exemplo Lisboa-Tombouctou -Bissau. Prós e contras da escolha do percurso para sul: Indo pela costa atravessarêmos 5 paises em Africa um dos quais a Gambia, famosa pela exuberância das suas florestas tropicais unicas nesta latitude em Africa. Indo pelo interior "apenas" atravessarêmos 3 paises sendo a passagem pelo Senegal uma etapa de apenas 200km. Indo pela costa vamos obrigatóriamente passar por locais emblemáticos e diversificados em termos de paisagem, como Dakar, Lago Roza, foz do Rio Niger, Banjul, St Louis, etc... indo pelo interior o grande atractivo é o Deserto do interior da Mauritanea e o seu isolamento total. Fazer o percurso interior em 3 semanas é justo em termos de tempo, não havendo muita margem de folga para possiveis problemas ou atrazos. Da mesma forma e mesmo que tudo corra bem não sobra tempo nenhum para disfrutar da Guiné. Todo o percurso terá de ser uma luta contra o calendário, gerando stress e possiveis problemas. Pela costa terêmos tempo para fazer todo o percurso com calma, terêmos margem para resolver alguns problemas e ainda desfrutar de alguns dias na Guiné para explorar. A logistica necessária para as duas etapas seguidas de mais de 600km de autonomia indo pelo interior é muito complicada. Tendo em conta que cada 4 motos terão de ir acompanhadas de um carro para transportar agua, gazolina e bagagens (uma média de 6 pessoas p/carro=4 motos mais 2 ocupantes/25 lit agua e 30 lit combustivel por cabeça) daria algo parecido a 400 lit de liquidos mais bagagem por carro! para cada etapa que ronda os 5,6 dias! Indo 16 motos por explo seriam necessários 4 jipes e 3 ou 4 contentores para o regresso. Indo pela costa terêmos apenas uma etapa de 500km de isolamento, realizável em 3 dias, onde as quantidades necessárias serão considerávelmente menores e os carros poderão ir mais carregados. Aqueles que quizerem voltar por terra poderão faze-lo com calma no regresso sem prazos para cumprir. Em termos de gastos será mais económico ir pela costa do que pelo interior,

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menos kms, menos dias e mais devagar. Indo pela costa estarêmos sempre a poucas centenas de km de uma capital, onde a assistencia médica e mecanica pode ser mais facil de encontrar. Alguns dos locais emblemáticos pela rota da costa acima referidos irão concertesa "soar" melhor a futuros apoios ou patrocinios do que nomes desconhecidos do interior da Mauritanea. E pronto, numa proxima reunião falarêmos melhor sobre estes assuntos, isto serve apenas para irem pensando. Um abraço Carlos Azevedo PS: estou a tratar do logo, vou ver se o consigo enviar ainda hoje ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Nuno César [mailto:[email protected]] Sent: 26 December, 2003 18:02 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Carnets, Garantias, Vistos e Afins... Mauritânia?

Olá, Assisti com bastante atenção há discussão relativa a estes problemas borucráticos que criam grandes dificuldades práticas e financeiras a quem quer ir na Expedição até Bissau. Após algumas conversas com outros membros e alguma reflexão natalicia, concluí que será melhor (pelo menos para mim) avançar com uma expedição só até à Mauritânia. Não estou, de forma alguma, disposto a cumprir os requisitos pedidos pelas autoridades Senegalesas. O risco é real e até ridiculo. Só um exemplo: Se me roubam a moto no Senegal, (que vale p'rái 600 contos) vão-se 5700 contos!!! Ora como não vou comprar uma moto nova para a viagem, resta-me ver novamente a reportagem da "Rota dos Livros" hoje pelas 24H em reposição na SIC NOTICIAS...fo&/%&/%$%#//(= No entanto, fica aqui a minha intensão de acompanhar o pessoal até à fronteira do Senegal, até porque kero investigar melhor in loco como é que as coisas realmente são, para poder preparar uma viagem futura se as condições locais o permitirem... Penso que ir à Mauritânia justifica largamente a viagem e permite-me ganhar + experiencia e, principalmente, ter um contacto + profundo com o grande SAHARA. Pode ser que haja + pessoas que não "conseguem" ir até Bissau e queiram ir nesta modalidade e assim até pode ser que tenha companhia para o regresso a casa. Se não, no problem, venho na mesma.

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Votos de um BOM NATAL para todos e um FELIZ ANO NOVO. Bom TT, Nuno César

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-----Original Message----- From: Carlos J. Martins Sent: 27 December, 2003 18:18 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Re: Carnets, Garantias, Vistos e Afins... Mauritânia?

N. César escreveu: > No entanto, fica aqui a minha intensão de acompanhar o pessoal até >à fronteira do Senegal, até porque kero investigar melhor in loco >como é que as coisas realmente são, para poder preparar uma viagem >futura se as condições locais o permitirem... Nuno, Compreendo a tua posição. Continuo a achar que o melhor era comprares uma KTM Adventure 950S, mas OK, com a R1200 GS aí a rebentar entendo perfeitamente que prefiras esperar :-))) Agora falando sério... a tua ideia é ir "em aberto", ou seja, chegado à fronteira com o Senegal logo vias (nomeadamente se seria possível fazer uma importação temporária sem carnet) ou vais determinado a não entrar no Senegal? Compreendo perfeitamente que ninguém queira fazer o carnet. A despesa é elevada mas o risco... esse então é absurdo. Para uma volta ao mundo ou uma transcontinental, até poderia aceitar a despesa e o risco...mas eu não o faria para uma viagem de um mês. De qualquer modo, aproveito também para esclarecer as minhas preferências/limitações em termos de formato da expedição: - a ideia de viajar pela costa (conforme a última proposta do Presidente) é a que menos me agradaria. Porque é maioritariamente de alcatrão. E porque não resolve a história dos carnets a quem tem moto com mais de 5 anos. Não acho que seja uma viagem de somenos e seria um projecto muito interessante para realizar convosco! Mas poderei fazê-la sozinho em qq altura que tenha disponibilidade de tempo. Aliás, hei-de fazê-la! - para mim, realizar esta viagem dentro do "universo Nomads" teria como vantagem permitir-me um percurso que dificilmente concretizaria sozinho. De modo que agradava-me mais o formato inicialmente discutido de ir pelo interior da Mauritânea e regressar por

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avião/contentor ou por terra, pela costa, caso o tempo chegasse. - por outro lado, compreendo perfeitamente que quem necessite de carnet não queira fazê-lo e entendo que ir "a ver se dá para passar" com bilhete de avião e contentor reservado seja complicado (ou impossível). - a minha principal limitação é tempo. Dificilmente poderei ultrapassar as 3 semanas. - em resumo, qualquer trajecto maioritariamente em off-road, da latitude de Tan Tan para baixo, para mim é válido. Se puder fazê-lo todo, óptimo. Se tiver de atalhar para regressar dentro das 3 semanas, também me serve. Como é que podemos continuar a discutir isto? Votos de Boas Festas e de um 2004 "sempre a verdascar" Carlos Martins Alenquer ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: camsimoes [mailto:[email protected]] Sent: 29 December, 2003 09:41 To: [email protected] Subject: Mauritânia?.... (grandito) HOHOHO... Bem depois deste periodo natalicio acho que está na hora de começar a levantar algumas ondas de novo pelo que cá vai... Pois eu, embora a minha mota não tenha mais do que os tais 5 anos, também não deixava alguns milhares de contos na mão de terceiros por causa de uma mota de 1000 cts, pelo que também seria por um primeiro passeio de mota menos avantajado apenas até à Mauritânia pelas razões já apontadas das limitações impostas pelos carnets, assim como para o ganho de experiência mais sólida de todos em passeios mais arrojados destes. Também estou de acordo com o Carlos Martins quanto à sua preferência por ir por dentro e pelas mesmas razões (para costa já temos a da Caparica). Claro que isto não implica irmos por dentro de qualquer maneira, mais também não implica ter de ir de helicopetro atrás a prever qualquer eventualidade... Já agora, e embora com algum atraso, deixei-me discordar completamento da metodologia arranjada para filtrar os interessados, ou seja, só passa quem já participou num destes passeios mais arrojados.

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Se existirem limitações do número de participantes, seja pela limitação dos contentores, seja pelo numero de carros que não consegue levar a carga de todos, seja por qualquer outra razão, estaria muito mais de acordo com um sorteio entre os interessados para saber quem iria e quem ficava de fora. Já tendo participado a ideia não me agrada, quanto mais se eu por acaso não tivesse participado em nenhum. Ter terceiros a pôr em causa a minha capacidade decisória e maturidade não me deixando participar por não saber onde me estaria a meter pela apregoada "falta de experiência", não me é nada convincente, como me parece demasiado paternalista. Somos todos maiores e estaremos vacinados convenientemente na altura devida. Estamos bem informados da dificuldade fisica e psicológica que a coisa acarreta, pelo que cada um individualmente terá que decidir se pode ou deve participar, ou não. Se fizer uma avaliação errada aprende e, como dizia o arquitecto, irá ter de aguentar. OK, já sei o que estão a pensar, se isso acontecer vai pôr em causa todo o grupo, vai estragar o passeio aos outros, etc, etc, etc. Mas será que por causa disso vamos criar a lista negra de não participantes? Não vai isso contra a filosofia de entreajuda que existe no Nomads - apareçam todos que ninguém fica para trás? Ou essa filosofia só é válida em território nacional. Se sim isso preocupa-me... mas não parece! Numa viagem destas todos sabem e têm de ir preparados para algumas contrariadades, inclusivé alterações ao estipulado inicialmente se for essa a situação. Existem sempre alguns riscos e incertezas associadas que teremos que estar mentalizados para. Não me interpretem mal, isto não significa ir à maluca, significa que não estar a tomar decisões baseadas em previsões altamente subjectivas. Já agora, e se calhar deveria ter começado por aqui dado que isto condiciona qualquer bitate que possa estar a mandar, e já que estou com a mão na massa, gostaria de saber, e falando à Luis Rocha, qual é a estrutura da organizacional deste passeio? Piramidal? Maiorias? Rebaldacional? É que a pertinência da pergunta pode parecer disparatada, mas tendo em conta que foi criado este grupo para, paralelamente ao Nomads irmos discutindo como abordar o problema do passeio ao quintal do vizinho, e dado que algumas questões nos foram dadas como factos consumados, nomeadamente a questão da filtragem dos participantes, enquanto outras foram colocadas à consideração, começo a ficar baralhado... Claro que não queremos nem podemos obrigar os organizadores a ir para sitios ou de maneiras que não lhes agrade, mas isto trás outra questão: quem são os organizadores? Luis Rocha? Quim? A Presidência? O Nomads? Todos? Algum subconjunto destes?

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Nenhum destes? Se existe uma organização personificada em alguma pessoa ou grupo de pessoas é essêncial saber quais são as limitações ou exigências deste/s, para termos um ponto de partida. É que estes condicionamentos são essenciais e limitativos para as questões e ideias que cada um poderá levantar ou colocar. B&A, Alexandre ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: sábado, 10 de Janeiro de 2004 10:35 To: [email protected] Cc: Nomad's Trail Moto Club Portugal Subject: [nomads_expedicao] Afinal para onde vamos? Afinal para onde vamos? Após todo o período de reflexão, análise de situações burocráticas e condições logísticas é premente tomar uma decisão, tendo em conta que a viagem se deve realizar em Março/Abril. Inicialmente, a ideia de ir de mota para um país a sul de Marrocos, surgiu da vontade de um grupo restrito de motociclistas, que tinham em comum o facto de serem possuídores de motas BMW e em que eu me incluía. Falei com o Carlos Azevedo a saber da sua vontade de nos acompanhar - também tinha uma BMW - que ficou entusiasmado com a ideia. Logo na altura, pus a possibilidade de alargar o convite a outros elementos Nomads - essa seria até uma condição da minha participação. Entretanto, o tal grupo das BMW desinteressou-se do projeto, manifestando os dois nomads do grupo intenção de avançar com a ideia no âmbito dos Nomads. Primeiramente pensou-se no Senegal, depois na Guiné, pela possibilidade de patrocínio materializado no transporte dos veículos em contentor. Pôs-se as hipóteses de se: ir por terra e voltar, pessoas em avião veículos em contentor; ir por avião/contentor e voltar por terra; ir e voltar por avião/contentor; ir e voltar por terra. De entre estas possibilidades foi afastada a hipótese de se ir por avião/contentor devido à incerteza do desalfandegamento das viaturas. Começou-se a perfilar a divisão entre os que queriam ir por terra e retornar por avião/contentor e os que queriam ir e voltar por terra e, entretanto, em virtude do conhecimento das alterações burocráticas ocorridas para entrada de veículos estrangeiros no Senegal (limitações à passagem da fronteira de veículos com mais de cinco anos), penso que se ficou num impasse quanto ao destino a seguir. Dá-me ideia que a intenção de voltar por avião/contentor está abalada em virtude das contingências da passagem da fronteira do Senegal, pois não

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havendo a certeza de passagem podia ficar comprometido o embarque de pessoas e viaturas. Resta, penso eu, a hipótese de ir e voltar por terra. Com esta hipótese em aberto, ainda teríamos duas opções, ir para além da Mauritânia ou ficar pela Mauritânia. Estas opções, a meu ver, são condicionadas pelo período temporal que queiramos ou possamos dispor: entre quatro ou três semanas (*). Passar da Mauritânia para sul implica: tentar entrar no Senegal - se não se conseguisse, do mal o menos, aproveitávamos para vaguear pela Mauritânia - ou, visitar o Mali, onde podêmos entrar diretamente a partir da Mauritânia e onde parece não haver as limitações do Senegal. Eu, que posso dispor de 4 semanas, estou mais interessado em avançar para além da Mauritânia. Se houver gente interessada nesta opção, eu avanço. Se não, também estou aberto a outras hipóteses se... me permitir fazer algo que ainda não tenha feito. (8)Em qualquer das situações, quero deixar bem claro que o meu intuito é fazer todo-o-terreno, privilegiando o fora-de-estrada pelas zonas mais remotas numa comunhão com o ambiente natural. Além disto pretendo realizar a viagem de forma económica, fazendo uso de autosuficiência em termos de dormida e alimentação - não descurando aquelas tascas onde se come bem e, os pequenos hotéis ou pensões com um mínimo de condições nomeadamente nas aglomerações urbanas. Depois de se ir à Mauritânia fica-se com a sensação de que ir a Marrocos é uma brincadeira - mas não o é para aqueles que nunca lá foram. Ir à Mauriânia ou mais para sul, numa pespectiva de todo-o-terreno, nomeadamente nas condições em que nos propomos ir - de forma informal sem o aconchego duma organização profissional - é um grande desafio para o físico e o espírito. Não serão só os intermináveis quilómetros por aqueles espaços infinitos, onde irão aparecendo obstáculos a vencer e a transpor, mas também e, essencialmente, os grandes bancos de areia: areia para dar e vender, ao desbarato, tal a sua abundância; areia dura e plana onde poderemos dar asas às nossas montadas e... aterrar sem esperar! Há também a areia mole onde nos afundamos em desespero de saír, as dunas a transpor onde a mota sufoca de tanto ardor, e... se a mota desiste, não querendo mais trabalhar, ali, onde a Assistência em Viagem não chega, onde o tempo é tão curto para uns e para os outros que ao trabalho têm que voltar. Está-se tão longe de tudo, não há nada, só, só areia... Para uns será o máximo! para outros poderá ser o mínimo infernal. E depois, há tantos quilómetros para chegar... e, outros tantos! para voltar... É duro. É entusiasmante sonhar com aventuras no aconchego do sofá. Mas a aventura implica riscos que, quando tudo corre bem, nos farão sentir orgulhosos de realizar, mas que, quando correm mal, nos farão arrepender de começar. Se, achares que te podes arrepender... não vás. Estas conjecturas não são para desmoralizar ninguém, são apenas... para que se conte com o pior para se poder usufruir do melhor.

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As pesoas devem ter noção das condições necessárias à realização dum empreendimento desta natureza, que passam pela consciência das suas capacidades, tanto físicas como psicológicas e, experiência. Se se atravessar a Mauritânia pelo interior, como é meu desejo quiçá minha condição, é fortemente desaconselhável a ida de alguém, em mota, que não se sinta com um mínimo de à-vontade em circular em areia, particularmente com motas de grande cilindrada. Está claro que na Mauritânia, o apregoado! espírito de entreajuda nomad continuará a existir, mas... não se fazem milagres!! Deve-se também ter noção das exigências financeiras necessárias. Numa viagem deste tipo deve-se levar sempre um suporte financeiro superior ao que pensamos gastar devido a eventuais despesas extraordinárias que possam advir de, por exemplo, uma avaria no veículo que tenha que ser reparada localmente, ou outras, imprevistas e, nesta coisa de finanças, cada tem que contar consigo próprio: a meu ver, levar, no mínimo 1500 a 2000 euros para contar despender não menos de 1250 euros - a poupar. Ter em conta que na Mauritânia não é comumente aceite cartões de crédito e, que o facto de se dispor dum carro para transporte de bagagem e material implica contribuir para as despesas da viatura. Não há no Nomad's costume de se fazer seleções de membros para passeios mas neste poderá ter que haver, devido às grandes distâncias a percorrer - 700 ou mesmo chegar aos 1000 Km de autonomia -, por pista ou mesmo completamente fora dela dependendo do percurso elegido, que terão, provavelmente, de ter apoio por 'enlatados' que só poderão prestar apoio logístico a um número limitado de motas, a meu ver 3, no máximo 4. Há outra questão que me parece pertinente. Os passeios Nomad's são eventos informais sem organização hierárquica definida nem responsabilidade determinada: vamos todos iguais entre iguais. Claro que quando se delineia um passeio ele não apareceu do nada, há sempre alguém ou alguns que tomaram a iniciativa de o dar a conhecer, de o propor ou de formular um convite. Quando se parte, não podemos circular todos lada a lado, terá que haver alguém que lhe calhe ir à frente, e a quem cabe esta posição é naturalmente a quem conhece melhor ou delineou o percurso, sem que esta posição o identifique como lider, cabendo-lhe apenas o dever de assumir o seu compromisso de guiar o grupo, na medida em que não haja outro que o possa fazer. Na grande expedição que se avizinha, concerteza que informalidade será a mesma, não haverá líderes nem responsáveis, cada um será responsável por si próprio e irá, assumindo o seu próprio risco; vamos juntos mas independentes; em grupo mas iguais, mas, claro que o facto de se ir em grupo pressuporá também uma responsabilidade coletiva de entreajuda e entresegurança mútua de acordo com as possibilidades de cada um e as necessidades reais não prédeterminadas de cada outro. No caso presente, há mais quem tenha esse dever de assumir um compromisso: é quem levando carro compromete-se a dar apoio logístico a alguns elementos que vão de mota e que sem esse apoio não conseguirão realizar o resto da viagem.

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E esta situação preocupa-me particularmente, na medida em que, provavelmente, terei que levar a pickup, por não haver caros suficientes para dar apoio, embora prefira ir de mota, porque pode originar desacordos pontuais em que os apoiados se vejam na obrigação de me seguir contrariados. Para evitar que isto aconteça deverá definir-se muito bem o que se vai fazer, por onde se vai fazer, de que forma se vai fazer, até quando se vai fazer. Para mim, todas as opções não previamente acordadas, devem ser resolvidas por maioria, mas as decisões acordadas e aceites só devem ser alteradas por unanimidade - quanto menos acordarmos mais flexilibilidade teremos, quanto mais definirmos mais garantias teremos. Eu, pela minha parte, tomo o compromisso de respeitar na integra aquilo que aceitar cumprir mas... fora disto, reservar-me-ei o direito de não seguir outras vontades que não estejam de acordo com o meu espírito de viagem que foi anunciado acima no parágrafo (8), porque este 'espirito de viagem', fará parte das minhas condições minimas de participação. O tempo urge. É necessário definir-se com alguma brevidade quem vai e para onde vamos porque é aconselhável marcar uma consulta do viajante no Instituto de Medicina Tropical, e esta consulta deve ser marcada com pelo menos um mês de antecedência - onde serão fornecidas indicações e conselhos médicos sobre as condições de salubridade das regiões para onde vamos, os cuidados sanitários e anti-infecciosos, as eventuais vacinas e tratamento antipalúdico. Estar vacinado contra a febre amarela é condição obrigatória de entrada nos países a sul de Marrocos. Além disto, é necessário tratar de vistos e aconselhável levar Carta de Condução Internacional. Está na hora de definir posições claras. As minhas estão lançadas. Quais são as vossas? (*): Ainda poderíamos pôr a hipótese, se se quisesse só dispor de duas semanas, de se fazer o Sara Ocidental (Marrocos). Uf! já acabei. QUIM ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Luis Lourenço [mailto:[email protected]] Sent: 12 January, 2004 01:10 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] Afinal para onde vamos?

Quim, É inquestionável a oportunidade deste teu memo, por ser evidente que temos pouquíssimo tempo para definir tudo... 'Está na hora de definir posições claras. As minhas estão lançadas. Quais são as vossas?'

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A minha posição, dadas as actuais condicionantes que o teu memo deixou claras, é por uma viagem de 3 semanas à Mauritânia, e concordo plenamente com a tua filosofia de viagem. Tenho a noção de que, para mim, que fui apenas duas vezes a Marrocos (e uma delas de jipe) e o máximo isolamento que conheci foi o percurso Erfoud-Zagora, esta viagem é um salto no desconhecido, e só não o será completamente pelas tuas descrições (e algumas outras) de viagens equivalentes. Isto leva-me a pensar inclusivamente que na tua viagem à Mauritânia de Setembro (ou Outubro) de 2002 referiste que fazer o mesmo percurso de Africa Twin seria praticamente impossível. Depreendo, como é óbvio, que o percurso a efectuar é agora compatível com motos deste tipo, embora, como também me parece óbvio pelos teus avisos, iremos encontrar muitas dificuldades. Por mim, e ponderei com rigor, estou decidio a ir e estou a preparar-me tanto quanto posso. Quanto à decisão de cada um em participar, é na minha opinião uma questão individual mas que carece da opinião avisada de quem tem experiência acumulada, como tu, das dificuldades deste tipo de viagem. O Ribalentejo 300, sendo uma óptima oportunidade de testar a endurance dos candidatos, é na minha opinião um tipo de percurso muito desajustado das condições que teremos na viagem. Um Comporta 300, num fim-de-semana com acampamento, deveria obrigatoriamente fazer parte dos preparativos, mesmo com carácter de autoavaliação. Depois de uma prova de fogo desse tipo, cada candidato estaria em condições de avaliar se a sua decisão, que repito deveria ser individual, poderia trazer complicações sérias ao colectivo. Resta-me sublinhar a urgência na definição dos participantes, motos e jipes, das datas e do percurso definitivo. Tem andado tudo muito calado... Já agora como nota a um teu memo anterior, eu pessoalmente concordo com a lista dedicada à Expedição. Na medida em que esperava (e agora volto a esperar...) um número considerável de mensagens relativas a este assunto, com conteúdos que interessarão exclusivamente aos participantes. A lista Nomad's está já muitas vezes com um nível de ruído elevado e poderia ser uma enorme confusão e existir alguma dificuldade na triagem... Na lista da expedição não há off-topics... Agora que a informação genérica deveria ser disponibiizada a todos, isso claro que sim, seja pela divulgação das mensagens de maior interesse nos dois canais (por exemplo a tua última), ou pela publicação mais ou menos sistemática de actualizões no site. Pronto, as minhas também estão lançadas. Luís Lourenço ______________________________________________________________________ From: Nuno César [mailto:[email protected]] Sent: 12 January, 2004 11:24 To: [email protected] Subject: Re: [nomads_expedicao] Afinal para onde vamos? P'rá Mauritânia...

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Olá, Sábias palavras... Tal como eu tinha referido na minha mensagem pós-natalicia, ir à Mauritânia é pretexto + que suficiente para eu avançar p'rá viagem. É, aliás, a minha principal motivacão mas também é a fonte das minhas principais dúvidas... Como é que o grupo vai comportar-se em condições extremas?... Seremos capazes que transpor as dificuldades que nos esperam?... Quem leva a/as viaturas de apoio?... Como se dividem as despesas? Acho que as minhas interrogações são legitimas e ainda não tiveram resposta: 1º Ainda não vi ninguém do grupo que vai avançar por dunas verdadeiras (não as da Comporta!!!) com as suas motos... sabem se são capazes?... eu sei que já tentei umas vezes e nem sempre me dei bem!... em Marrocos dei uma cambalhota valente à saída duma duna, é que era a pique do lado de lá!... entre outras pripécias que não vale a pena agora enumerar. 2º A minha participação num percurso fora de estrada mais aventureiro na Mauritânia depende de 2 factores incontornáveis:

· Saber quem vai?

· Saber quem vai dar apoio?

Apesar de sermos um grupo aberto, a participação numa viagem destas implica que os participantes estejam bem preparados e sejam viajantes experientes. Sem desprestigio por ninguém mas a participação dum elemento que não tenha medido bem as dificuldades e não seja capaz de as transpor vai hipotecar toda a viagem, não só a sua mas a de todos. Eu tenho por hábito tentar auto avaliar-me o melhor que posso mas nem sempre é fácil, aliás, é muito dificil... Neste momento não sei se serei capaz de transpor as dificuldades duma pista Atar-Tidjika-Kiffa. Se calhar falta-me preparação fisica. Mas tenho a certeza duma coisa, onde forem os outros forem com motos equivalente à minha eu também consigo ir e é isso que me dá confiança. E sem confiança em mim e nos outros não vou... E não passa só pela confiança em mim e nos outros motards, passa também e principalmente pela confiança na assistênçia. Afinal, eu vou "pôr a minha vida" nas mãos de quem? Todos devem fazer essa pergunta porque é isso mesmo que se vai passar. Todos vão querer andar com as motos vazias e a "sobrevivência" vai numa Pick-Up qualquer!!! Ora, a responsabilidade do condutor dessa pick-up é enorme e dificil de assumir. Mas a pick-up também pode ter problemas portanto, quem for têm de ter em mente que qualquer cenário é possivel e têm de estar preparados para isso.

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3º Despesas: Apesar duma pick-up ser imprescindivel para a realização desta aventura, a viagem dessa pick-up vai aumentar de sobre-maneira as despesas de quem vai de moto. Como se vai dividir essas despesas? Há para mim um ponto essencial, a viagem não pode ficar "quase de borla" para quem leva o carro e ficar astronómicamente caro para o resto do pessoal. É que eu já ouvi falar em esquemas tipo:

· Pick-Up para dar assistência a 4 motos, divididir as despesas totais por 5 (condutor + 4 motards)

Parece-me bastante injusto um esquema destes. Acho que, após se saber quem vai realmente levar carro, tem de haver uma reunião de trabalho (não + um jantar!!!) e acertar esses pontos por unanimidade. 4º Por fim, o percurso. Aqui confio totalmente no Quim. Sei que ele é a pessoa melhor preparada para o definir, mesmo que não conheça a zona para onde vamos (como é o caso de Tidjika). Para onde ele for, eu vou. Mas... e se o Quim não for? Pode-se dar o caso de o Quim, por qualquer razão mesmo que alheia à sua vontade, não poder ir nesta viagem. Nesse caso, quem vai? É uma pergunta muito pertinente... A minha resposta fica já aqui:

· Eu vou mas não por um percurso tão exigente. Com um grupo menos experiente ou mesmo sem possibilidade de ter uma pick-up a acompanhar-nos, eu continuo a ter interesse em ir à Mauritânia mas noutros moldes. Com um percurso tipo: Nouabidou - Atar, a linha do comboio. Seria preciso levar alguma gasolina extra p'rálem da carga mas é fazivel. Depois visitar Chingueti e, possivelmente, a região de Zouérat e mais para norte mas sem nunca abusar por caminhos desconhecidos. De seguida, Atar-Nouakcchott, estrada. Visitar a capital. Apontar para norte pela praia e fazer o famoso "itinerário à maré baixa". Depois, o parque natural "Banc D'Argan" e regresso a Nouabidou. Para este percurso teriamos, novamente, de levar gasolina extra. Este percurso é só um exemplo do que se podia fazer com menos organização e risco.

Espero ter ajudado e não complicado mas há coisas que têm de ser ditas antes ou corre-se o risco de "depois ser tarde". Mas, mais que tudo, o que eu espero é ir, o que deve ser também a vossa vontade... Fico à espera das vossas ideias e contribuições. Bom TT, Nuno César ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Carlos J. Martins Sent: 12 January, 2004 12:29 To: '[email protected]' Subject: RE: [nomads_expedicao] Afinal para onde vamos?

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O que se segue é a minha posição, por partes. Vou tentar não passar o resto do texto a dizer "na minha opinião", ou "por mim" ou "eu acho que". Mas acrescentem isso a tudo o que lerem: Como vamos? Por mim, por razões já explicadas vamos maioritariamente por todo-o-terreno. O que não quer dizer que tenhamos de tentar uma espécie de Ponta-a-Ponta em que o objectivo era ligar um ponto a outro sem pôr o pé (ou o pneu) em alcatrão. Não tenho objecção de consciência a fazer ligações por asfalto (como será por exemplo imprescindível até ao Sul de Marrocos) desde que a maior parte do tempo da dita expedição o passe fora de estrada. Em autonomia - o que significa em acampamento sempre que possível. Possível é sempre que as condições de segurança o não desaconselhem. (A 2 Km's de Tânger, não concerteza.) A alimentação: refeições de tagines a 5 Euros, (onde as houvesse) para mim estariam bem. Mas desde que não me lixem duas horas de luz diurna. Portanto o ideal será o mais autónomo possível desde que não aumente exageradamente a carga a transportar. Se não tivesse apoio por carro, teria necessariamente de andar às compras (de água e alimentação) de 2 em 2, ou de 3 em 3 dias. Com apoio por carro? Aí já tenho alguma opinião política. Em estrada, carros e motos têm ritmos diferentes e nunca me senti muito bem a viajar de moto com um carro atrás. Em todo-o-terreno não tenho experiência dessa situação. Prefiro andar acompanhado só de motos, mas compreendo as vantagens de andar ligeiro. Também compreendo que é impossível tentar determinadas travessias de moto (qualquer moto - qto mais as nossas) sem apoio auto. Portanto - tanto me faz. O percurso é que passa a estar determinado pela ausência ou presença de apoio auto. Onde vamos? Eu conheço muito pouco de Algeciras para baixo. Portanto, a minha opinião é pouco importante. Agrada-me mais um objectivo ambicioso (no sentido de distante, remoto ou difícil) para poder tirar partido da vossa companhia. A questão é que, se fôr fácil, posso fazer sozinho ou arranjo com mais facilidade alguém que me acompanhe. O que me parece, é que quem tem mais experiência desses destinos tem maiores condicionantes ao percurso que eu. Não vão querer repetir trajectos que já conhecem, o que me parece muito bem. Portanto submeter-me-ei às preferências de percurso dos mais experientes. Já vi que temos todos o mesmo gosto pelas paisagens deslumbrantes e pelos espaços preservados. Mauritânia parece-me garantida. O Mali seria óptimo. O Senegal parece limitar quem tem moto com mais de 5 anos. Ai é? então bardam$%erda para o Senegal. O prejuízo é deles. Vamos noutra altura. Quanto aos conflitos e afins: não me parece lá muito boa ideia ir a Bagdad hoje em dia. A Argélia também parece desaconselhada. Já o Mali não compreendo muito bem porque não. Acho que é de manter o olho na coisa, mas seguro, seguro é que morreremos todos um dia (daqui a muito tempo, toc-toc). Se formos "só" à Mauritânia acho que é óptimo.

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Quanto ao grau de dificuldade do percurso, aí acho que terá de haver grande sensatez na escolha. As nossas motos não prestam. Posto isto, estou disposto a descobrir os limites da minha (e os meus próprios). Agrada-me a ideia de um percurso esgotante, de longo, belo, difícil e remoto. Mas terei que considerar que, se atingir esses limites antes dos outros, estarei a limitá-los a todos e não só a mim próprio. E isso não quero. É por aí que eu acho que vamos atingir a tal limitação aos participantes. Idealmente, o percurso deverá ser escolhido de modo que o mais "vulnerável" dos participantes não atinja o limite além do qual não pode mais (mecânica, física ou emocionalmente). Ora dependendo do conjunto de participantes, o percurso permitido por tal condição pode não ser admissível para os mais experientes dos participantes. Se eu quiser que a minha irmã, que acabou de tirar a carta de moto e tem 30 kms de experiência também vá, então o tal percurso que ande a rondar os limites dela terá de ser exclusivamente de alcatrão, e isso não me serve a mim. Quem vai? Uma maneira de definirmos onde vamos e quem vai poderá ser outra. Os mais experientes diriam onde lhes dará gozo ir e propõem duas ou três alternativas, tentando definir, o mais objectivamente possível o grau de dificuldade inerente. Terão de ser os outros interessados em participar a definir se acham que conseguem alinhar ou não. Se o Quim disser, "já conheço tudo menos a travessia do grande cordão dunar de El-Lah-Atasca", eu retiro, sem qq mágoa, a minha intenção de participar (com a GS). Acompanhá-lo-ei noutra altura qq, a outro destino qq ou talvez até procure outro veículo qq para o acompanhar ainda nesta travessia. Mas não vou fingir que vou conseguir atravessar 100 km's de dunas quando sei que não consigo subir nem uma. Já sei que aqui reside a principal dificuldade. As capacidades de auto-avaliação de cada um não serão o ponto forte da pessoa humana. A maioria de nós tende a sobre ou subavaliar-se, raramente tendo uma visão objectiva sobre as suas capacidades. A falta de experiência agrava as coisas. Quem nunca fez pode conjecturar "eu sei que sou capaz" ou "nunca o conseguirei". Quem já fez parecido, tem pelo menos um referencial de comparação. "Nunca fiz isto mas já fiz aquilo e por comparação o grau de dificuldade parece assimilhar-se". Quem já fez, sabe e pronto. Acho que o pré-requisito lançado à discussão pelo Carlos Azevedo, (ter experiência prévia de off-road em Marrocos) não será o mais justo. Se eu não cumprisse esse pré-requisito tê-lo-ia questionado. Ou teria de arranjar 5 diazinhos para ir cumprir o tal requisito rapidamente e estar novamente em condições de ir (e sei de um interessado em participar que já anda a tratar disso). Gostaria de sublinhar que o Carlos não impôs esse requisito mas se limitou a propô-lo. Ninguém lhe respondeu aceitando-o ou refutando-o (eu faço aqui um mea culpa, não respondi egoisticamente - cumpria o requisito e não me dei ao trabalho de o refutar - se alguém o tem questionado construtivamente, teria apoiado esse alguém). A ideia do Luís Lourenço, uma sequência de eventos de dificuldade crescente com um evento final correspondendo à dificuldade que se espera para a etapa mais dura deveriam ser cumpridos por todos os interessados em participar. Se tivermos dificuldade em emular essa etapa, penso que ir de Alcácer à Comporta pelo corta-fogo que acompanha a estrada, com duas sacas de cimento na moto, pode ser uma

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hipótese. Outros ensaios deveriam ser obrigatoriamente cumpridos como a navegação, e a mecânica. Primeiros-socorros também deveríamos ter umas luzes. O domínio da língua árabe se calhar já seria exagero, mas se acharem que devemos saber, eu vou aprender :-) Não conseguiremos nunca emular três semanas a conviver uns com os outros, ou o cansaço acumulado, ou o medo dos terroristas ou outras condições. Mas pelo menos as experiências de "pilotar" e "navegar" teriam aumentado. Como pode continuar a haver entre nós pessoas que cumpram esses eventos mas que no seu decorrer evidenciem comportamentos anti-sociais e afins :-) poderíamos ainda proceder a uma votação secreta para aceitar ou rejeitar participantes. Com isto tudo, já tínhamos matéria para um programa de televisão tipo BigBrother com os filhos-da-mãe a portarem-se todos muito bem até ao dia da votação para poderem ir e infernizar a vida de toda a gente assim que já estivessem de Gibraltar para lá :-) Enfim, já estou a delirar. Se além da qualidade houver limitações quanto à quantidade de participantes, aceito a situação de sorteio entre os menos experientes (entre os quais me incluo), ou ordenação dos candidadatos por voto secreto, ou outra qq. Quanto à organização "crática" da coisa: O modo proposto pelo Quim parece-me óptimo. Definição de uma "constituição", decisões pontuais por maioria, revisões à constituição por unanimidade. Concordo com o Luís Lourenço: discutir tudo isto na lista Nomad's parece-me mau por várias razões. Mas acho que se deve dar acesso à lista Expedição a qualquer Nomad que a queira subscrever. Deveria fazer-se um mail à lista Nomad, dando conhecimento da lista expedição e convidando os Nomads a increverem-se nela. No fundo é só uma arrumação diferente mas que pode ajudar a filtrar os bitates. Concordo também que se deve manter o site actualizado com as decisões e evoluções mais importantes. Quanto tempo vamos: Só posso ir três semanas. Se forem mais tempo, eu acompanho enquanto puder e depois regresso. Terei de considerar todas as etapas quando terei de empreender o regresso, nomeadamente se houver o tal apoio auto. Se o percurso fôr de tal ordem que não me seja possível em ponto algum empreender o regresso sozinho, também aceito. Vou pelo menos levar-vos ao barco! Fim do testamento, Carlos Martins Alenquer ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 13 January, 2004 23:54

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To: [email protected] Cc: Nomad's Trail Moto Club Portugal Subject: [Nomad's] Tive um sonho...

...primeiro seguimos uns trilhos marcados na areia, depois ficou visivel uma pista que embora não seguisse no sentido pretendido não nos deixava outra alternativa em virtude de, para sudeste, barrava-nos a progressão uma arriba contínua onde não se vislumbrava passagem. Ao fim de alguns poucos quilómetros a circular para sudoeste, olhando à nossa esquerda, tentando vislumbrar passagem, deparámos com bastantes traços de passagem de viaturas que seguiam ao encontro da falésia. Virámos 90º e avançámos decididos por aquela profusão de trilhos que tudo indicava ter sido local de passagem de algum Paris-Dakar. A falésia, que naquele local já era mais comedida em altura e inclinação, ficava cada vez mais perto... mais perto. Subimos... como por encanto os traços desapareceram à entrada dum areal imenso!... Parámos. À nossa frente estendia-se um mar de areia infinito! Plano. Surpreendentemente plano! Imensamente plano!! Só de divisava céu e areia que se encontravam num horizonte longínquo... Tinhamos à nossa frente o desafio que tinhamos acordado vencer: o Maqteïr. Arrancámos. Olhei para o GPS, onde tinha marcado o ponto que balizava o fim desta incógnita travessia, e apontei o carro: faltavam-nos uns 250 Km de navegação pura! As viaturas rolavam por vezes lado a lado, ao comtemplá-las, tive um sonho... sonhei que um dia olharia para o lado e veria um linha de motas que alegremento devoravam quilómetros naquela perdida imensidão!! Está na hora de acertar o percurso. O destino, esse, pelas opiniões expostos está decidido - Mauritânia! Tenho duas sugestões, que começam à entrada da fronteira Marrocos/Mauritânia, após o posto de Guergarat, perto de Nouadhibou - única entrada por norte na Mauritânia - e, terminam no mesmo sítio - única saída (oficial) da Mauritânia, por norte. Uma, a que chamarei Tidjikja, passa por se fazer a pista que segue ao longo da linha de caminho de ferro até à pequena localidade de Choum e fletir para sul para chegar à cidade de Atar. A partir daqui apanha-se a pista para a povoação de Tidjikja. E, dependendo do tempo e vontades, seguíamos para sul ou para sudoeste - únicas hipóteses tendo em conta o tempo de que disporêmos - para visitarmos a capital do país, Nouakchott. Já a apontar para o regresso, faríamos uma de praia... com areia - para variar! - atravessaríamos o Parque Nacional do Banco de Argin - dirigido por um português que deve ainda estar incomodado com os veementes protestos que uns expedicionários portugueses fizeram, o ano passado, no posto de entrada, a propósito do preço excessivo a pagar pela travessia do Parque! - e, chegaríamos, que Alá esteja connosco, à fronteira, outra vez. Outra, a que chamarei Maqteïr, passa por percorrer a tal pista Aolongodalinhadecaminhodeferro - é mesmo longa, vão-se fartar de a ver, nesta versão contem com uns 600 e tal Km - não só até Choum mas continuando até à cidade mineira de Zouérat - a propósito, já circularam alguma vez por Inglaterra? Éra útil, para terem alguma prática de circulação à esquerda: é

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que, entre as imediações de Fdérik e Zouérat, circula-se assim! Inglesices. Adiante, que ainda temos que atravessar o Maqteïr. A partir de Zouérat e, após conseguirmos despistar um guia chatérrimo, avançamos pelo areal de El Hammâmi e, aqui, começa a enorme zona de areia que teremos que atravessar - que é da pista!? perguntarão: não há. Está na altura de porem em prática os vossos conhecimentos de navegação! - e, nas imediações do que resta dum aglomerado populacional, Tourine, entramos, agora sim, naquele 'mar de areia infinito' onde tive um sonho! O Maqteïr!!! Avançamos decididos por uma zona de areia relativamente dura e monotonamente plana - que liberdade!! Não há cêrcas nem cancelas, trilhos, vegetação, caminhos que nos enganem, pedras em se tropece, radares que nos controlem. Pode-se circular de olhos fechados! Não há nada para ver... muito para sentir! Já terminou? Não. É só uma depressão que faz a transição para o resto que há-de vir. E o que vem é um pouco diferente, é areia na mesma mas em largas ondulações com espaçados e sucessivos cordões de dunas a vencer. E, após as batalhas das dunas, descemos para outra depressão, para o poço de El Beyyed para uma pausa nos combates. A partir daqui a guerra muda de cenário, agora é a pedra o nosso inimigo, sim que a Mauritânia não é só areia, também tem pedra, mesmo muita pedra. Seguiremos para Atar, diretamente, ou por Ouâdane - antigo entreposto comercial português - e Chinguetti. A partir daqui, conforme o tempo e ânimo que nos restar, escolheremos o caminho para tornar à fronteira que nos viu entrar. A primeira, permite-nos conhecer o sul da Mauritânia; é toda percorrida em pistas e estrada. De todo o itinerário não conheço de Atar e Nouakchott para sul, nomeadamente, a pista entre Atar e Tidjikja, a que, eventualmente, poderá ser mais problemática pelo facto de ser desconhecida. Mas tenho informações que não será excessivamente dificil e, está até marcada no mapa da Michelin 1/4 000 000. De Tidjikja para sul entramos em zonas mais povoadas portanto menos problemáticas devido ao isolamento. A segunda, pelo texto introdutório se infere que é a minha preferida, embora à partida se podesse crer o contrário pela minha curiosidade para conhecer o desconhecido, na medida em que, este percurso já foi praticamente quase todo por mim realizado, durante as minhas deambulações por este desértico país. Na verdade não percorri exatamente o mesmo itinerário que proponho - o que fiz, partiu também de Zouérat, passou em Tourine, mas foi mais longo, mais para leste, foi até El Gallâouîya e a partir daqui seguiu direito a El Beyyed, onde também vos proponho chegar - mas, a região atravessada é a mesma e, pela análise de mapas, nomeadamente, topográficos russos 1/500 000, parece ter as mesmas características. Parece, é o que eu digo: será sempre uma incógnita versus um desafio (já estão a ver porque é que também me seduz esta opção). Tem outra característica invulgar: a travessia de El Hammâmi e do Maqteïr é realizado fora de pista, não vão existir quaisquer referências no terreno que nos orientem, exceto as duas depressões que se atravessarão na nossa progressão! É navegação pura! Sem GPS é problemático realizar este intento. Neste momento quer estiver para ir estará provavelmente a pensar: «será que eu consigo conduzir a minha mota nestes areais?». Quando o fiz também pus a mesma interrogação em relação aos carros - para vos ser franco, com as viaturas carregadas ao máximo e, com alguns 'chassos' à mistura, estava quase convicto de que não conseguiríamos - mas, até foi relativamente

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fácil, exceto na parte final na descida do planalto do Maqteïr, onde tivemos que enfrentar um enorme cordão de dunas incontornável! Em areia, o mais dificil é ter de circular pelos sulcos feitos pelos carros ou subir dunas - a descer os santos dão uma ajuda. Quanto a sulcos nem vestígios, a areia é lisa, é só pôr de pé e acelerar, exceto na zona de El Hammâmi que tem tufos de vegetação. Quanto a dunas, existem, mas, pelo menos naquilo que fiz, contornáveis quando não as podemos logo galgar. Quanto a gozo... é inexcedível!!! Além disso, vai haver um teste, onde poderão verificar as vossas capacidades, quando passarem, após alguns quilómetros depois de Choum uma zona tramada de areia ondulada e relativamente mole, tendencialmente a subir. Aqui, não terão a escapatória de circular pela linha do comboio, porque não está por perto e dificilmente conseguirão rolar pela pista que tem sulcos profundos, para os carros não foi fácil, foi aqui que, pela primeira vez desde que o tenho, o Mitsubishi aqueceu, de tal maneira que tive que parar: se passarem esta prova, julgo, ficam aprovados para o resto. Mas atencão, ao circular-se por zonas desérticas extremamente isoladas, correm-se grandes riscos, especialmente, na dificuldade em obter assistência médica rápida e, assistência técnica e de resgate, de veículos, particularmente carros devido à sua envergadura! Além de requerer uma boa forma física, requer um bom equilíbrio psíquico... é um estado de espírito! Às vezes... o sonho comanda a vida. Saudações nómadas! Quim ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Luis Lourenço [mailto:[email protected]] Sent: 14 January, 2004 10:26 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] Mauritania 2004 - Percurso, datas e participantes

PERCURSO Quim, O teu sonho é contagiante... E se o sonho comanda a vida, que comande também o 'pointer' do GPS, se a tua preferência é o Maqteïr, é também a minha, que nada conheço na Mauritânia. Mas como vamos passar (ox Alá!!) do sonho à realidade, esclarece-me qual é a tua ideia do teste de Choum: caso alguém reprove no teste, volta para trás? Fazemos alguma alternativa?... Eu continuo na minha, o teste devia ser feito por cá. Concerteza que arranjas um percurso de teste, não é? Comporta? Leiria? Por mim, se chumbar, não vou, muito me vai custar mas não quero estragar a viagem a ninguém nem voltar para trás a meio.

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DATAS Para mim começa a ser crítico definirem-se as datas da Expedição, de forma a poder planear o meu trabalho. Serão previsivelmente três semanas? Quais? 6 a 27 de Março? PARTICIPANTES Qual o número de carros e motas?... quantas motas podem ir? Bom seria que houvesse uma relação motas/carros <= 3. Já imaginaram, e bem pode acontecer, que algum carro à última hora não possa ir...? Na base de dados estão com inscrição definitiva Arménio Teles - GS Carlos Azevedo - GS Carlos Martins - GS José Santos - Transalp Luís Rocha - KLE Luís Lourenço - AT Nuno César - AT Quim - ?? Na base de dados da lista geral estão ainda Alexandre Simões - AT Isabela Pinela - NX4 João Martins - F650 Maurício Rodrigues - Tiger Miguel Casimiro - ?? Que eu tenha conhecimento, há interesse ainda da parte de Luís Morais - Mazda João Rodrigues - ?? Assim estariam 7 motos confirmadas, penso que pelo menos o Alexandre e o Casimiro também estão confirmados, não é? Casimiro, sempre vais de L200 com o João Rodrigues? Ou levas a Varadero? Um abraço, Luís Lourenço ______________________________________________________________________

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-----Original Message----- From: Pedro Geraldes [mailto:[email protected]] Sent: 15 January, 2004 18:10 To: [email protected] Subject: Re: [nomads_expedicao] Apresentacao

Só para ajudar os vossos cálculos gastos de combustível, e uma vez que o Quim não se lembra: Os preços de gasóleo em Dezembro de 2002 (e não devem ter mudado muito!) era: Portugal e Espanha mais ou menos o mesmo que agora Ceuta - sensivelmente 50% do preço...na altura 42 ou 43 cêntimos. Eu atestei aqui e como levava jerricans para duplicar a autonomia cheguei ao quase Sahara Ocidental sem voltar a atestar. Marrocos - Era mais barato que espanha, mas pouco...talvez à volta dos 65 cêntimos Sahara Ocidental - Aqui sim vale a pena atestar...devido aos incentivos fiscais à imigração esta zona tem preços de combustível muito baratos...na altura 3 dirhams, o que equivalia a uns 30 cêntimos Mauritânia - Só ligeiramente mais barato que Marrocos e por volta dos 50 cêntimos nas cidades principais: Nouahdibou, Nouakchot e Atar. Atenção que em locais menos "principais" o preço sobe à vontade do negociador. Em Chôum tive de pagar cerca de 70 cêntimos o litro de gasóleo! Em Zouerat o preço é o mesmo que nas outras cidades. Já agora o meu carro (Nissan terrano I) fez médias em fora de estrada que correspondem a cerca do dobro do normal (25% tracção traseira, 60% tracção às 4 e 15% redutoras), ou seja cerca de 22 litros aos 100. Eu estimo que tenha chegado aos 30 nalgumas passagens de 30 a 40 Kms de dunas e areia mais mole! Espero que vos seja útil Boas pistas Pedro Luis Geraldes PS: Já agora. Eu até conheço o tal Português que dirige o Banco d'Arguin, de seu nome António Araújo. Eu na altura paguei (sem preço especial) 1200 Ouguyias por pessoa (cerca de 5 €), que não achei nada escandaloso! Não sei se terá aumentado entretanto! A quem interessar eles alugavam uns barcos de pesca tradicional à vela em Iouik (no centro do Banco d'Arguin) com 1 Guia e um pescador Imraguen para levar o barco e passar um dia a visitar o parque por mar. O barco leva cerca de 8 a 10 pessoas e custava cerca de 75 € que revertem totalmente para os pescadores da área. Para além disso tb alugavam umas tendas fantásticas (a 2 m do mar) por cerca de 5 ou 6 € por noite que dão para 5 pessoas (Note-se que era proibido acampar dentro do Parque, sem ser em locais próprios dentro das povoações de pescadores...isto era uma medida para que se possam manter actividades tradicionais de pesca e de forma a que o nível de vida dos habitantes locais não permaneça na miséria e que os turistas que passam deixem ficar algum contributo no local!) Eu pessoalmente prefiro dar dinheiro aos Imraguen que a um dono de Hotel nas povoações principais . ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 16 January, 2004 11:11

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To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] Mauritania 2004 - Percurso, datas e participantes

> PERCURSO > O teste, que chamas de Choum, foi o que eu referi e que fica entre Choum e Zouérat. Como já também referi só deve ir com mota quem se sinta com alguma à-vontade a conduzir em areia, nomeadamente se forem motas de grande cilindrada e pesadas; na verdade não é a cilindrada que pode trazer problemas, pelo contrário, em princípio mais cilindrada mais potência/binário que é até um aspeto importante favorável em areia, mas sim o peso. O peso dos veículos é que é o fator mais prejudicial na condução em areia pois leva a que as rodas dum veículo se enterrem provocando um aumento enorme de resistência à progressão e, o problema é que quanto mais cilindrada mais peso! Acresce que, em areia mole, devido à inconsistência do terreno e à instabilidade natural dos motociclos - só têm 2 rodas - praticamente só se consegue conduzir de pé, que é a posicão de condução em se tem maior controle deste tipo de veículos, isto implica que as pessoas tenham que ter facilidade em circular, prolongadamente, nesta posição, o que só é possível se tiver alguma prática e à-vontade e, alguma também resistência física. E andar com à-vontade e facilidade é grandemente facilitado em mota leves! Eu, que possuo uma das motas trail mais pesadas (BMW R100GS) e uma das mais leves (Suzuki DR350) sem bem a diferença: é a diferença entre chegar ao fim dum dia arrasado ou fresquinho como uma alface acabada de colher!! - Há dois anos fiz a Mauritânia com a Suzuki: todo o percurso foi para mim uma agradável brincadeira, evolucionar pelas dunas era como andar num carrocel, e andei por sítios bem complicados. Claro que em tudo à senões, quando tenho que fazer longas tiradas em estrada, aí a diferença vira-se ao contràrio: entre começar a ficar com o rabo dorido (banco estreito), incomodado, farto, ou, a sensação confortável e aprazível de devorar quilómetros num Rolls Royce descapotável de 2 rodas! Por isto, fico surpreendido, quando nota Nomads, que embora gostem de circular em estrada e que têm também e particularmente grande apetência pelo fora-de-estada, entusiasmarem-se, cada vez mais, por motas, cada vez com mais cilidrada/peso! No meio costuma estar a virtude, uma mota de média cilindrada é o melhor compromisso para aquilo que costumamos fazer. Disto se conclui que quem for com motas mais leves terá a vida muito facilitada e, é imprescindível as motas circularem o mais leves possíveis, logo sem bagagem! Por muitos testes que cá se façam, e devem fazer-se o mais possível, o teste definitivo é na Mauritânia! No início, teremos o teste da pista até Choum, ao longo da linda de Caminho de ferro, só na parte final antes de Choum se apanhará uma zona arenosa com passagens algo moles que trarão alguma dificuldade mas, para quem tiver dificuldade, terá a escapatória de circular pela linha. Já irá dar para se começarem a fazer auto-avaliações. Após Choum apanhamos uma zona rolante em pista consistente e, também antes de Fdérik, localidade já perto de Zouérat, vamos entrar noutra zona arenosa relativamente mole e ondulada, portanto com subidas e descidas, relativamente suaves, que provavelmente se terá que fazer fora de pista devido aos sulcos profundos, e em que não haverá a escapatória da linha por esta estar, naquele sítio, um bocado desviada. Chamo-lhe um teste final, porque se as pessoas conseguirem passar esta prova presumo estejam em condições de atravessar o Maqteïr!

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E se se chegar à conclusão que as pessoas em geral não são ou serão capazes? Se for uma incapacidade quase generalizada, não tenho dúvidas que a solução será dar meia volta direito a Atar e depois logo se verá, terá então que se discutir o que se irá fazer. E se houver alguns para quem seja doloroso continuar e houver um número significativo - pelo menos um número a quem um carro possa dar asistência - que quer e tem condições para continuar? Penso que estes poderão continuar o percurso previsto e, eventualmente e desejável, reencontrarmo-nos todos algures na região de Adrar (região em volta de Atar), por exemplo em Ouadâne - os que tinham desistido, temporáriamente do percurso acordado, aproveitariam para dar uma uma volta por esta região, juntando-nos todos, numa povoação a combinar e que poderia ser a referida.

Saudações nómadas! Quim

Pós escrito: Não tenho tempo, por agora, para responder a todas as questões, vou estar fora o fim-de-semana, responderei depois ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Luis Lourenço [mailto:[email protected]] Sent: domingo, 18 de Janeiro de 2004 0:24 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] RE: [Nomad's] Tive um sonho... Tidjikja vs. Maqteïr

Hipótese (não sei se apenas académica):

E se não houver suporte auto, ou for insuficiente, vamos em autonomia? E nesse caso para onde?

Luís Lourenço ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 20 January, 2004 15:42 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] RE: [Nomad's] Tive um sonho... Tidjikja vs. Maqteïr

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> E nesse caso para onde? > Até se pode ir para a Mauritânia. Acho é que com 3 semanas não dava para ir muito longe. Provavelmente daria para fazer o triângulo Nouadhibou/Atar/Nouakchott. Como, se as motas não têm autonomia, nem, a meu ver, condições carregadas, para percorrer as duas únicas pistas que permitem o acesso a Atar ou Nouakchott, neste momento (1)? Utilizando o comboio como alternativa à pista Nouadhibou/Choum ou/e pagando o transporte num carro das bagagens e carburante. Só que, eventualmente, poderá consumir-se tempo precioso à espera de transporte, numa viagem que, só para chegar e voltar de Nouadhibou andará em 10 dias. Se tivessemos 4 semanas então poderíamos fazer a Mauritânia, sem necessitar de ir com 'enlatados', com algum à-vontade e talvez fazer mesmo a pista de Tidjikja pagando a uma viatura propositadamente para levar a logística - embora não devesse ser barato. Nesta solução até também alinhava - na outra não: não ia fazer tantos quilómetros para passar em sítios em que já passei mais duma vez e quiçá não passar de Nouadhibou para sul se por acaso as coisas se complicassem para arranjar transporte em tempo útil; agora para quem nunca foi à Mauritânia só o facto de chegar a Nouadhibou e voltar será um feito. Para mim, uma alternativa à Mauritânia em autonomia será Marrocos. (1): Será por poucos anos: está em construção a estrada Nouadhibou/Nouakchott. ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: LUIS LOURENCO [mailto:[email protected]] Sent: 20 January, 2004 19:52 To: 'Nomads_Expedicao (E-mail) Subject: RE: [nomads_expedicao] RE: [Nomad's] Tive um sonho... Tidjikja vs. Maqteïr

Quim, Estava a ver que ninguém respondia... o que significava não ter companhia para uma viagem em autonomia. Bom, então já estamos dois para uma alternativa a considerar caso não exista apoio auto. Para mim é viável a viagem em 4 semanas (afinal era o que tinha previsto para o caso de irmos a Bissau). O que eu gostaria de colocar à consideração dos interessados é o seguinte: considerando que não há formalmente confirmação da ida de enlatados, considerávamos como primeira alternativa o seguinte esquema: 1 - Mauritânia com enlatados 3 semanas Datas: 13 de Março a 3 de Abril (22 dias) - é só uma hipótese mas alguém tem de avançar com datas definitivas

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Percurso: Mauritânia... Quim, especifica sff Interessados: - Luís Lourenço - moto - (prioridade 1) E como alternativas de recurso: 2 - Mauritânia em autonomia 4 semanas Datas: 13 de Março a 10 de Abril (29 dias) - é só uma hipótese mas alguém tem de avançar com datas definitivas Percurso: Mauritânia... Quim, especifica sff Interessados: - Luís Lourenço (p 2) 3 - Marrocos em autonomia 3 semanas Datas: 13 de Março a 3 de Abril (22 dias) - é só uma hipótese mas alguém tem de avançar com datas definitivas Percurso: Marrocos... Quim, especifica sff Interessados: - Luís Lourenço (p 3) Quem quiser acrescentar mais hipóteses, faça o favor. Acho sinceramente urgente que se comece a definir quem, quando, como e por onde se vai. Se acharem que este memo não faz sentido, digam, no bad feelings... Mas não fiquem calados. Já agora, alguém sabe se é possível entrar na Mauritânia com um veículo em nome de terceiros? É exigido um documento equivalente ao de Marrocos? Um abraço, Luís Lourenço ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Nuno César [mailto:[email protected]] Sent: 20 January, 2004 20:48 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Autonomia na Mauritânia

Olá novamente, Preocupa-me bastante a questão da autonomia das motos. Pelo que sei, só o Carlos Azevedo(45L?) e o Carlos Martins(32L?) é que terão (hipotéticamente???) autonomia para realizar todos os trajectos, mas não se livram do peso extra da gasolina, está lá, está é dentro do deposito. Será que não arranjamos um meio de levar a gasolina extra nas nossas motos?

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Já me lembrei de tudo, desde uns alforges em couro, com 2 jerricans de 10L, encostados às laterais do depósito das motos, passando por pequenas garrafas em plastico resistênte presas em vários pontos da moto para não desiquilibar muito, sei lá, já nem sei... Vamos a contas realistas: Gasolina: Uma AT leva 23 litros. Se fizer uma média de 8L/100Km na pista do comboio (por exemplo), a autonomia não chega bem aos 300Km. Falta + 200Km. Preciso levar + 20 litros de gasolina para fazer a pista. Se levar um jerrican de 10L. preso à grade trazeira, preciso de arranjar local para + 10L. Ora, eu tenho aki no trabalho umas embalagens de 2L bastante resistentes. Se prender 1 ao depósito, 2 aos alforges e + 2 aos ferros da AT, já tenho os 20 litros extra. Água: Tenho de levar, pelo menos, 6 a 7L. para sobreviver 2 a 3 dias. Digo sobreviver, porque precisava de mais em condições normais. Se levar 3 garrafas de 1,5L + a mochila com os 2 sacos cheios (total 4 litros), tenho + de 8 Litros de água. Pesos: Em líquidos extra: + - 30 Kilos. Em carga: + uns 30/35 kilos (ferramenta, roupa, tenda, saco cama, próprio equipamento, etc...) Vamos colocar + 60 a 70 Kilos extra em cima das motos, o que vai colocar o peso rolante muito perto dos 300Kilos para uma AT. Será que depois disto tudo consigo guiar a moto? É uma pergunta pertinente... Mas estou disposto a experimentar por aí, num trilho qualquer, só para tirar as teimas! Isto de fazer a Mauritânia em autonomia vai ser uma "carga" de "trabalhos"...!?!?!?!? Bom TT, Nuno César ______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Alexandre [mailto:[email protected]] Sent: terça-feira, 20 de Janeiro de 2004 22:06 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Mauritânia

Olá,

Acho posso confirmar a minha presença no passeio de 3 semanas à Mauritânia, pelo menos a confiar na chefia lá do trabalho... Mais do que 3 semanas para mim será impossivel... e estas já foram arrancadas a ferros!

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Quanto a datas dará mais jeito o mais tarde possivel, ou seja o mais chegado a Abril, pelo que preferia uma data mais para o fim de Março - o 20 de Março referido pelo Nuno Cesar soa-me melhor - mas outra não será impeditiva

Tenho GRANDE urgência em definir a data de partida.

Para os percursos mais puxados será arriscado irmos com a gasolina à conta. Temos assim:

8 L/100Km

600Km => 50 litros de gasolina = 1 deposito + 30 litros (20 litros no limite)

20 litros de àgua para 4 dias, a contar com 5 litros por dia, e já é o limite do conforto

Carga: 30-40 litros (roupa, material de campismo, comida, ferramenta e algum material de substituição) no minimo e muito optimizado

Temos para carregar:

40-50 litros de liquidos (água + gasolina) (20 litros de gasolina vão no deposito)

30-40 litros de material

o que me parece demasiado para um moto sem depositos de combustivel que garantam esta autonomia e para andar no meio da areia.

Dado que isto poderá condicionar algumas coisas proponho que todos, durante esta semana definamos os seguintes pontos (penso que por ordem de importância):

- A DEFINIR (antes de estabelecermos o percurso a fazer):

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1. CARROS que vão de certeza

2. DATA de partida

- Depois disto:

3. Duração do passeio

4. Percurso a efectuar

As minhas preferências/limitações são:

2 - 20 de Março

3 - 3 semanas

CERTEZAS DE CARROS??????

B&A,

Alex

______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Luis Lourenço [mailto:[email protected]] Sent: 21 January, 2004 01:25 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] Mauritânia

Alexandre e Nuno: As vossas preocupações relativamente à autonomia são pertinentes mas parece-me que a ideia do Quim é efectuar o percurso em que as motas não têm autonomia com apoio local (isto, claro está, na opção sem apoio auto de Lisboa). Só que nesta opção para a Mauritânia teriam de se prever 4 semanas o que não é viável para o Alexandre. Tentando resumir as vossas posições no quadro que iniciei: - Vou mudar a data de partida para 20 de Março, se alguém não puder avise para tentarmos chegar a um consenso. - Depreendo que a opção Marrocos em autonomia 3 semanas também vos é aceitável (caso contrário retirem o vosso nome) - Tirei os percursos pelo mapa do Carlos Martins. Na hipótese 1, a alternativa pelo percurso a) ou b) logo se decidiria. Quim, se houver alguma incorrecção avisa, e já agora podias-nos dar uma ideia qual seria o percurso alternativo para Marrocos?

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1 - Mauritânia com enlatados 3 semanas Datas: 20 de Março a 10 de Abril (22 dias) - Percurso: a) Nouadhibou - Choum - Zouerat - Maqteir - Atar - Akjoujt - Nouakchott - Nouadhibou b) Nouadhibou - Choum - Atar - Tidjikja - Aleg - Nouakchott - Nouadhibou Interessados: 1 - Quim 2 - Luís Lourenço - moto - (prioridade 1) 3 - Alexandre - moto 4 - Nuno César - moto - P1 Alternativas de recurso: 2 - Mauritânia em autonomia 4 semanas Datas: 20 de Março a 17 de Abril (29 dias) Percurso: Nouadhibou - Choum - Atar - Tidjikja - Aleg - Nouakchott - Nouadhibou Interessados: 1 - Quim 2 - Luís Lourenço P2 3 - Nuno César - P2 3 - Marrocos em autonomia 3 semanas Datas: 20 de Março a 10 de Abril (22 dias) Percurso: Marrocos... Quim, especifica sff Interessados: 1 - Quim 2 - Luís Lourenço P3 3 - Nuno César - P3 4 - Alexandre - P2 ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 21 January, 2004 11:36 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Proposta de formação de equipas

Como das opções em aberto para a expedição 2004 dos Nomads, a questão da ida e apoio logístico dos carros é primordial. Como há grande indefinição quanto à incorporação de viaturas 4x4. Como deve haver, entre quem apoia e quem é apoiado, uma relação de confiança mútua. Como é ao possuidor do carro que compete definir de que modo e a quantas motas poderá dar apoio. Tendo em conta que é urgente definir-se posições.

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Proponho: Que quem tenha possibilidades de levar carro convide, tendo em conta os lugares que tem disponivel, quem demonstre vontade e disponibilidade confirmada e inequivoca de participar, indicando tempo máximo de viagem, destinos que aceita ir, condições de transporte, garantias de resgate da mota em caso de impossibilidade desta de se locomover pelos seus próprios meios e, condições e forma de comparticipação nas despesas do carro. Após aceitação do convite pelos convidados estes em conjunto com o convindante formarão uma equipa, pasando a tratar entre si os assuntos respeitantes à equipa que constituiram. Assim, é importante que rapidamente se manifestem públicamente os convidantes e os candidatos a convidados, para que os convidantes possam escolher quem está disponivel e para que se saiba quem disponibiliza carro. Nota: Os convidantes poderão convidar em privado mas deverão manifestar públicamente a equipa constituinte logo após sua constituição, porque embora, segundo esta proposta, o grupo se constitua por equipas de relacionamento próprio, as equipas formarão um grupo que constituirá as equipas e, num grupo, todos os seus elementos deverão ter conhecimento prévio de quem o integra. Saudações nómadas! Quim ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Carlos J. Martins Sent: 21 January, 2004 12:11 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] RE: [Nomad's] Tive um sonho... Tidjikja vs. Maqteïr

Luís L, Obrigado por sistematizares a coisa. Antes de responder aì vão mais uns considerandos :o) - qto mais tarde melhor, mas aquilo aquece que se farta por cada semana mais tarde. Antes de 13 de Março acho impossível, mas mais tarde que 20 deve ser má ideia. - 21 ou 28 dias. Eu poderei de certeza os 21 mas não tenho a certeza de poder 28 - só à revelia, o q começa a parecer uma boa hipótese :-). Mas também acho que não deverão os restantes condicionar a aventura à disponibilidade dos menos disponíveis...

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- carro ou não carro. Em autonomia podemos esquecer o itinerário do Maqteïr. O de Tidjikja em três semanas também. O de Tidjikja em quatro, ??? não sei. O Quim conhece-nos, conhece as nossas motas e conhece pelo menos Nouahdibou - Choum - Atar. Ele poderá estimar melhor que ninguém se seríamos capazes de fazer Lisboa - Nouahdibou - Choum - Atar - Tidjikja - Aleg - Nouakchott - Nouâmgar - Nouahdibou - Lisboa em quatro semanas em autonomia. Parece-me que, muito razoavelmente, ele acha que não :-) Quim, sem ser Nouhadibou-Choum-Atar-Akjoujt-Nouakchott-Nouâmgar-Nouahdibou (que já conheces), não haveria mais nada que pudéssemos fazer na Mauritânia em três semanas em autonomia? E se fôr em quatro semanas, o que preferirias fazer? Tidjikja com com apoio auto local? As minhas perguntas são só para esgotar todas as hipóteses. Marrocos não será uma viagem desperdiçada (eu conheço tão pouco, que tenho a certeza de que 3 semanas dariam para grandes realizações), mas para quem apontava à Guiné vai custar um bocadinho não chegar este ano à Mauritânia :-) ______________________________________________________________________ -----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 29 January, 2004 11:01 To: [email protected] Subject: RE: [nomads_expedicao] URGENTE Definir!!!! e CASIMIRO ONDE ANDAS?????

Fiz uma proposta de constituição de equipas que consistia basicamente num encontro de interesses e vontades entre convidante (quem leva carro) e convidados (quem necessita de apoio) que pressupunha a iniciativa do convidante, em público ou em privado, no convite aos potenciais interessados, ou implicitamente, na manifestação de interesse em ser convidado pela parte dos necessitados de apoio; que excluía a centralização do processo de formação de equipas, tendo que, portanto, a formação destas depender da iniciativa de cada um, nomeadamente, do possuídor do carro.

Como não houve manifestações de repúdio a esta iniciativa pressupõe-se que foi aceite.

Assim, é suposto todos os potenciais candidatos à expedição, que ainda não estejam integrados em equipa, tomarem iniciativas de contacto e discussão de condições para sua eventual integração.

Saudações nómadas!

Quim

______________________________________________________________________

-----Original Message----- From: Luis Lourenço [mailto:[email protected]]

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Sent: 30 January, 2004 01:42 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Autonomia Expedição

Não me lembro quem mas alguém perguntou qual a autonomia máxima durante a Expedição. Estive a fazer umas projecções com o Quim e o Luís Rocha e podemos adiantar os seguintes dados: Quilometragem máxima em autonomia (já com coeficiente para possíveis desvios): 1000 km Nº de dias máximo em autonomia: 6 Outros dados: Nº de dias para a Expedição de 3 semanas: 21 no mínimo, com probabilidade de se estender aos 23. Nº de dias para a Expedição de 4 semanas: 27 no mínimo, com probabilidade de se estender aos 29. GPS O seu uso é altamente recomendado, para não dizer obrigatório. Entretanto fomos adiantando algumas decisões relativamente a quem for com o Quim: Água a transportar por pessoa: - um jerrican de 25 litros no carro + 1 saco de duche pequeno... (um luxo!) - cada mota deve prever o transporte adicional de 5 litros (camelback e outro recipiente) Combustível: - 3 jerricans de 20 litros por mota - 4 jerricans de 20 litros para o carro Bagagem por pessoa - Caixa plástica de 25 litros para comida - Saco, alforges, ou malas com restante bagagem até 85 litros Tendas (a definir) Material mecânico (a definir) 1ab, Luís Lourenço ______________________________________________________________________

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-----Original Message----- From: Quim [mailto:[email protected]] Sent: 10 March, 2004 10:46 To: [email protected] Subject: [nomads_expedicao] Recomendações soltas

Já estamos muito perto da partida do que será, podem ter a certeza, uma grande aventura. Tenho estado muito atarefado nestes últimos dias. Queria só dar algumas dicas sobre coisas que poderão ser úteis e importantes. É importante levar como equipamento pesoal: óculos escuros para proteção solar dos olhos (1); assim como protetor solar para a pele, nomeadamente na cara; pomada para humedecer os lábios que poderá ser vaselina (1a), para evitar a gretação da pele labial devido à secura do ar; não se esqueçam de levar fato de banho, não só porque havemos de percorrer bastantes quilómetros por praia mas também porque poderá ser uma maneira de tomar banho sem ferir suscetibilidades, quando não haja condições de algum isolamento; aconselho, para tomar banho, que disponham de sacos de duche térmicos e utilizem para por os pés uma grade plástica, muito útil na areia, e levem chinelos, que também são úteis, principalmente para os motociclistas, para descansar os pés, mas atenção, quando andarem de chinelos vejam bem por onde andam, pois os escorpiões não gostam que os pisem!; a propósito, quando se deitarem, se deixarem as botas do lado de fora da tenda, quando se levantarem, antes de as calçarem, verifiquem sempre o seu interior, não vá terem lá dentro um habitante inesperado! e espero que não se lembrem de fazer essa verificação com as mãos!; dormir com almofada proporciona grande conforto, se não a poderem levar levem pelo menos uma fronha, põem o blusão no seu interior e eis uma almofada de recurso; e, há ainda um pequeno luxo que proporciona um conforto e agradabilidade extraordinário, ao fim do dia após uma etapa longa e cansativa nada melhor e mais repousante que uma cadeira onde se possa estender as pernas e cavaquear à noite antes de ir dormir!, existem cadeiras retráteis que não ocupam muito espaço; é importante ter um lenço de pescoço que possa cobrir a boca e nariz, para fazer face ao pó e areia que andará pelo ar e que por aquelas paragens não vai faltar; eu quando ando de mota utilizo tampões nos ouvidos para proteção contra o ruído, mesmo quando não é muito intenso, sendo constante e prolongado torna-se prejudicial e irritante, os melhores que conheço são os da empresa de artigos de montagem e ferramenta Würth, são simples e eficazes; um dos artigos que me acompanha sempre em qualquer viagem é um saco-lençol, é útil para dormir quando está calor, para enfiar num saco-cama normal evitando que este se suje e, para utilizar para proteger o corpo em hotéis e pensões cuja cama não ofereça confiança; para iluminação, uma lanterna de cabeça é muito prático; alguns sacos do lixo para proteger roupa do pó e chuva. A respeito de comida, para mim os alimentos quanto mais naturais e menos elaborados melhor, evitem alimentos sensíveis ao calor, que se derretam com facilidade ou que se estraguem facilmente: os meus pequenos almoços são à base de muesli (flocos de cereais e frutos sêcos) e para as outra refeições levo conservas de peixe e de leguminosas (2)(2a), queijo sêco, enchidos com

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pouca gordura (3)(4), compota ou mel e como substituto da manteiga o azeite - não se estraga, já está derretido por natureza e é um excelente alimento -; levo também umas embalagens de pão integral de longa duração para o caso do pão tradicional faltar; e, uma pequena garrafa de whisky (5)(6). Na passagem por Marrocos podem aproveitar para se abastecerem de azeitonas - deliciosas -, laranjas, tâmaras (6a) e, uns pequenos bolos à base de amêndoa excelentes e que aguentam bastante tempo sem se estragarem; é conveniente prover algo que se possa oferecer, no caso de se ser convidado por alguém, para beber ou comer algo em sua casa, por exemplo, bom-bons, rebuçados, doces, etc., mesmo por um favor, não se deve oferecer dinheiro, e, evitem fotografar dentro duma habitação, é ferir a intimidade das pessoas! Não queria deixar de falar no papel em rolo de cozinha, um artigo muito útil e prático para muitas situações, nomeadamente, de limpeza; da utilidade das vulgares garrafas de plástico, além de vasilha reutilizável, podem servir de copo, de marmita para comer e funil e; do sabão azul e branco, para lavagens tanto do corpo como de roupa além de poder ser utilizado como desinfetante da pele como recurso. No caso de haver necessidade de poupar água o banho pode ser substituído por uma passagem pelo corpo de uma pequena toalha humedecida e com um pouco de sabão - o mais importante são os pés, os sovacos, o pescoço, a cara e as partes intimas (7), e, por exemplo, se após uma refeição bocejarmos a boca com um gole de água, devemos engolí-la em vez de a deitarmos para o chão: aproveitamos nutrientes e água que seria desperdiçada. Não tirem fotografias a pessoas sem autorização destas e não fotografem mesquitas ou instalações militares e policiais, nem fotografem na fronteira. Tenham um extremo cuidado na circulação dentro das povoações: há frequentemente crianças a atravessar as ruas imtempestivamente a correr e, a polícia, em Marrocos, é muito rigorosa com a velocidade - nas autoestradas e nas imediações das localidades é relativamente frequente utilizarem radares - e, se acham que o trânsito em Portugal é complicado, que nas cidades Marroquinas é caótico, ainda não viram tudo, nas grandes cidades Mauritanas é o 'salve-se quem puder'!. (1): Eu, possuo um capacete integral - Schuberth - que além de ser muito arejado tem como particularidade ter uma mini-viseira adicional escura, muito útil quando se apanha com sol de frente! (1a): A vaselina tem outras aplicações, como seja, a lubrificação dos fechos de correr de malas, tenda e roupa. (2): Uma boa marca de conservas de peixe é a Ramirez, o atum assado à algarvia é uma especialidade; e as saladinhas de atum também são um bom alimento e desenjoativas pois têm legumes à mistura, as melhores que conheço são as espanholas, nomeadamente da marca Isabel, a salada de atum californiana é outra especialidade. (2a): Uma lata de bacalhau em azeite com alho com uma lata de grão cozido e uma cebola compõem uma ótima refeição tradicional portuguesa, sem corantes nem conservantes. (3): Nunca os condicionem em sacos de plástico - excepto o pão para não secar -, o papel é o mais conveniente pois além de ser respirável absorve a gordura que se liberta com o calor. (4): À ida, em Espanha, estou a pensar parar-se em Aracena, cidade situada

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numa região - Jabugo - de bons enchidos e presunto - o melhor de espanha e talvez do mundo - onde se poderá comprar pordutos de chacutaria e ótimo queijo de cabra. (5): Não bebo Coca-Cola, mas em situações de calor intenso, reconheço que saboreá-la, fresca, com um pouco whisky misturado, é um prazer divino! (6): Mas atenção. Não se esqueçam de que, na Mauritânia, é expressamente proíbido o consumo de bebidas alcoólicas! A religião a isso obriga. (6a): A primeira vez que tentei atravessar o deserto do Sara, pela Argélia, em 1981, dé-mos boleia a um francês recem-licenciado que estava à entrada da pista sariana a pedir boleia para passar para o outro lado do Sara e que a única coisa que levava para comer era tâmaras, e água. Bem, na verdade, quando a gente fazia a monumental feijoada, bem refogada, com montes de chouriço e reforçada com ovos escalfados!, ele não se fazia rogado, devia era pensar: estes portugueses são uns alarves! (7): Os árabes não limpam o rabo com papel: têm o higiénico costume de o lavar e, sempre com a mão esquerda, é por isso que tentam comer sempre com a mão direita. Também não andam em casa calçados, mesmo para entrarem numa mesquita (igreja islâmica) descalçam-se, outro higiénico costume; por isso se forem convidados a entrar numa habitação local devem descalçar-se e, se acharem que não têm os pés em condições higiénicas para o fazer, devem pedir um pouco de água para os lavar. Espero que estas recomendações vos possam ser úteis. Saudações nómadas! Quim

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Auberge Vasque Chez Zaida BP 1368 Nouakchott e-mail: [email protected] Ouadane Enviar a foto da Mereyenne ao cuidado da Zaida.