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MÁSCARAS AFRICANAS, COLONIALISMO E ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES INTER-CULTURAIS EM MOVIMENTO Sueli Maria Strapasson Graduada em História pela UFPR e professora da rede estadual de ensino do Estado do Paraná ”...mais do que ensinar a ver de uma certa forma. É desejar que se veja de muitas formas.” Luis Carlos de Menezes RESUMO Este artigo faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE cuja estrutura operacional está representada, para fins didáticos, no Plano Integrado de Formação Continuada , que incorpora os princípios político-pedagógicos da Secretaria Estadual de Educação e integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Ele foi desenvolvido na disciplina de História durante o ano de 2009, sob orientação da Professora Doutora Dulce Osinski, da Universidade Federal do Paraná, e tem como principal objetivo abordar a temática africana através de uma das suas múltiplas manifestações artísticas: as máscaras. Busca ir além daquelas encontradas nos manuais didáticos, empregando conjuntamente a tematização do conteúdo clássico da história dos povos africanos (colonialismo europeu na África no século XIX) com outra área do conhecimento: a Arte. Almeja-se que os educandos possam se motivar e perceber as construções ideológicas e culturais que ocorreram em torno dos povos do continente africano, que contribuíram para uma introjeção de valores negativos em relação à cultura negra africana. Busca-se também que sejam levados a uma reflexão sobre a questão dos estereótipos que cercam a África e que desenvolvam novos olhares que contribuam para se tornarem cidadãos mais solidários e que saibam conviver com as diversidades. Palavras-chave: África, colonialismo europeu, estereótipos,máscaras africanas ABSTRACT This article is part of the Program of Educational Development – PDE whose operating structure is represented for teaching purposes, the Comprehensive Plan of Continuing Education, which incorporates the principles educational policy of the State Department of Education and set policy on recovery of teachers who work the Public School of the State of Paraná. It was developed in the course of history during 2009, under the guidance of Prof. Dr. Dulce 1

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MÁSCARAS AFRICANAS, COLONIALISMO E ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES INTER-CULTURAIS EM MOVIMENTO

Sueli Maria StrapassonGraduada em História pela UFPR e professora da rede estadual de ensino do Estado do Paraná

”...mais do que ensinar a ver de uma certa forma. É

desejar que se veja de muitas formas.”

Luis Carlos de Menezes

RESUMO

Este artigo faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE cuja estrutura operacional está representada, para fins didáticos, no Plano Integrado de Formação Continuada , que incorpora os princípios político-pedagógicos da Secretaria Estadual de Educação e integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Ele foi desenvolvido na disciplina de História durante o ano de 2009, sob orientação da Professora Doutora Dulce Osinski, da Universidade Federal do Paraná, e tem como principal objetivo abordar a temática africana através de uma das suas múltiplas manifestações artísticas: as máscaras. Busca ir além daquelas encontradas nos manuais didáticos, empregando conjuntamente a tematização do conteúdo clássico da história dos povos africanos (colonialismo europeu na África no século XIX) com outra área do conhecimento: a Arte. Almeja-se que os educandos possam se motivar e perceber as construções ideológicas e culturais que ocorreram em torno dos povos do continente africano, que contribuíram para uma introjeção de valores negativos em relação à cultura negra africana. Busca-se também que sejam levados a uma reflexão sobre a questão dos estereótipos que cercam a África e que desenvolvam novos olhares que contribuam para se tornarem cidadãos mais solidários e que saibam conviver com as diversidades.

Palavras-chave: África, colonialismo europeu, estereótipos,máscaras africanas

ABSTRACT

This article is part of the Program of Educational Development – PDE whose operating structure is represented for teaching purposes, the Comprehensive Plan of Continuing Education, which incorporates the principles educational policy of the State Department of Education and set policy on recovery of teachers who work the Public School of the State of Paraná. It was developed in the course of history during 2009, under the guidance of Prof. Dr. Dulce

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Osinski, Federal University of Paraná and the main objective is to address the African-themed by one of its many art forms: masks. Search go beyond those found in schoolbooks, using jointly thematization of classical content of the history of African peoples (European colonialism in Africa in the nineteenth century) with another field of knowledge: the art. Aims that the students can be motivated and understand the cultural and ideological constructions that have occurred around people of Africa have contributed to an internalization of negative values in relation to black African culture. Search also is drawn to a reflection on the issue of stereotypes surrounding Africa and to develop new approaches that help citizens to become more supportive and know that living with diversity.

Keywords: África, European colonialism, stereotypes, African masks

Introdução:A instituição escolar que conhecemos hoje começou a se configurar em

final século XVI e no decorrer de todo o século XVII, passando a ser

denominada pelos historiadores da educação como “Escola Moderna”. Suas

características, inicialmente, foram a separação dos alunos em classes

seriadas, de acordo com a faixa etária e a elaboração de conteúdos

programáticos de acordo com cada série. Os níveis de estudos passaram a ter

um encadeamento e o período para o estudo e efetivação dos programas para

cada série também passou a ser preestabelecido. Posteriormente, outros

elementos foram incorporados na prática escolar, como o registro das aulas, o

controle de freqüência dos alunos e a elaboração de textos específicos para

cada disciplina, surgindo mais tarde os livros didáticos. Com o passar do

tempo, o rigor disciplinar foi aumentado com a criação de normas

comportamentais, que tiveram, e têm ainda hoje, a função de organizar,

disciplinar e controlar o ambiente escolar.

Não é intenção deste artigo discutir a instituição escolar, mas salientar

que o modelo escolar que adotamos hoje em nossas escolas é encontrado em

muitos países em que pesem as algumas diferenças pontuais que ele possa

apresentar. Por vezes incorpora mudanças sem grandes traumas e por outras

reage a elas com vigor. De acordo com Michel Foucault (1979, p. 179), as

sociedades são constituídas por relações de poder que as permeiam e que

dão a elas características que as individualizam, passando a formar o que

denominou seu corpo social. O poder delas emanado conduz seus integrantes

a inúmeras sujeições que existem e funcionam no seu corpo social, e estas

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sujeições produzem discursos e regras que as organizam, tais como:

condenações, classificações, controle corporal e comportamental, que obrigam

os que delas participam a viver de determinada maneira. A escola, para ele, é

uma das instituições das sociedades onde estes poderes também se

materializam, onde os saberes se impõem, mas onde também se encontra

espaço, como em outras instâncias sociais, para a contradição e a

discordância.

No cotidiano das aulas nós, professores de História, frequentemente

percebemos que os saberes, os gostos, os princípios e a cultura de

determinadas sociedades causam em nossos educandos estranhamentos e

geram conflitos. As conseqüências mais alarmantes destes estranhamentos

são o preconceito e o estereótipo que se revelam pelos gestos, pelos toques,

pelas palavras e olhares. Aceitamos que grande parte dos conceitos e valores

que levamos para a vida adulta – o que é considerado belo, feio, bom, ruim,

mal e feio, entre outros – começam a se constituir desde a mais tenra idade no

âmbito familiar e escolar. Vem daí a necessidade de que o educador esteja

atento para que as manifestações no cotidiano escolar sejam objeto de sua

intervenção, e faça com que os educandos passem a reconhecer que o

respeito às diferenças culturais é um passo significativo para a promoção da

igualdade. Sem este reconhecimento, as diferenças certamente se

transformarão em desigualdades entre os povos, que passarão a se considerar

superiores uns em relação aos outros.

Percebemos que esta situação é recorrente entre os educandos quando

se trata da temática África. A associação que eles fazem com o continente

africano, com raras exceções, está vinculada ao exótico e ao primitivo. Vem daí

a opção de aproveitar este olhar distorcido e depreciativo sobre a África e

elaborar através do PDE um projeto de pesquisa.

O historiador inglês Peter Burke amplia esta análise, contribuindo ainda

mais para a compreensão sobre o conceito do olhar:

(...) o conceito do “olhar” (gaze) [é] um termo novo, [foi] tomado emprestado do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), para o que teria sido descrito anteriormente como “ponto de vista”. Seja quando pensamos sobre as intenções dos artistas ou sobre as maneiras pelas quais diferentes grupos de espectadores olhavam para os trabalhos

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desses artistas, é interessante refletir em termos do olhar ocidental, por exemplo, o olhar científico, o olhar colonial, o olhar do turista, ou olhar masculino. O olhar frequentemente expressa atitudes sobre as quais o espectador pode não estar consciente, sejam elas de medos, ódios ou desejos projetados no outro. (BURKE, 2004, p.156)

Entendemos que dos sentidos humanos, o olhar é o que mais se

destaca nos juízos de valor que fazemos. E é a partir dele que se fundamenta o

estereótipo que ao reproduzir algo que pode não ser totalmente falso mas

certamente é exagerado em relação à realidade, pode tornar-se grosseiro e até

mesmo violento.

Novamente, é muito pertinente a contribuição de Peter Burke:

Talvez seja por essa razão que os estereótipos muitas vezes tomam a forma de inversão da auto-imagem do espectador. Os estereótipos mais grosseiros estão baseados na simples pressuposição de que “nós” somos humanos ou civilizados, ao passo que “eles” [os outros] são pouco diferentes de animais como cães e porcos, aos quais eles são frequentemente comparados, (...) . Dessa forma, os outros são transformados no “Outro”. Eles são transformados em exóticos e distanciados do eu. e podem mesmo ser transformados em monstros. (BURKE, 2004, p.157)

O objetivo deste trabalho foi construir uma produção didático-pedagógica

que viesse a desenvolver um trabalho sobre a África com uma abordagem

diferenciada: além dos saberes formais e científicos e da linguagem acadêmica

dos livros didáticos - o marco histórico é o século XIX, quando se instalou

efetivamente o colonialismo europeu no continente africano, fazer uma

associação com outras áreas do conhecimento. No caso a nossa opção foi pela

Arte.

A introdução de associações temáticas, que raramente ocorrem nos

livros didáticos ou que têm uma abordagem bastante superficial, é a nossa

motivação para levar ao educando um conhecimento mais amplo das Ciências

Humanas, o da História em especial, (História) a fim de torná-lo um cidadão

capaz de reconhecer as diferentes formas de dominação. Está ocorrendo

nessa área uma mudança na forma de abordar os acontecimentos sociais,

partindo-se de um olhar diferenciado, mais peculiar, com a finalidade de que o

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educando venha a perceber-se como um ser integrante da história que ele

aprende, o que vai auxiliá-lo na compreensão dos temas abordados.

Este artigo é, também, o relato da implementação do projeto na escola

em que atuo. Almejo, com ele, contribuir para aumentar as possibilidades de os

educandos lançarem um novo olhar sobre os povos africanos, respeitando e

entendendo suas diversidades e compreendendo a natureza de seus

problemas. Ampliando, enfim, sua compreensão sobre o mundo africano. Ele é

fruto, também, de reflexões acerca da abordagem acima explicitada e tem por

objetivo analisar as dimensões do ensino de conteúdos de História a partir do

diálogo com outras fontes e áreas de conhecimento. Então, procurará refletir

sobre os resultados práticos do uso da interdisciplinaridade como um recurso

válido na rotina das salas de aula, tornando o processo de ensino e

aprendizagem mais dinâmico e prazeroso a partir do uso de outros recursos e

linguagens.

Das fichas de matrículas dos alunos com os quais trabalhamos tiramos

informações que nos permitem considerar que a maioria pertence ao que

muitos economistas denominam de classe média baixa, não se encontrando

neste grupo nenhum aluno em situação de risco social. Este trabalho ocorreu

no segundo bimestre de 2009, em uma das três oitavas séries do Colégio

Estadual Amâncio Moro, situado no bairro Jardim Social, em Curitiba, capital do

Estado do Paraná. Parte do material selecionado para aplicação em sala de

aula faz parte da produção didático-pedagógica de nossa autoria, tendo sido

incluídos outros textos, seguidos de atividades elaboradas com a finalidade de

atender ao objetivo maior de um educador: contribuir, através da sua prática

pedagógica, para a construção de uma sociedade que respeite a pluralidade e

a diversidade. A consciência histórica dos educandos é um pré-requisito

necessário, na nossa opinião, para o desenvolvimento de qualquer trabalho

pedagógico, pois media os valores morais, que orientam o comportamento e a

ação dos mesmos, e promove a reflexão sobre os diversos tipos de preconceito

presentes na sociedade brasileira em relação à cultura negra africana.

Para introduzir o assunto, trouxemos para os nossos alunos algumas

considerações sobre o colonialismo europeu no continente africano e em

seguida apresentamos uma explanação sobre a cultura das máscaras na

sociedade humana, suas linguagens e sobre a arte africana frente aos novos

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tempos. Ressaltamos também a necessidade de se compreender o significado

das máscaras para os diversos povos africanos, abordando a seleção de

materiais para a sua confecção, suas diversas funções e representações, as

quais divergem substancialmente da concepção adotada pelos povos

ocidentais.

Por último, se acentuou a importância de utilizar novas abordagens e

realizar atividades diferenciadas voltadas para a cultura negra e afro-brasileira

na escola, assim contribuindo com subsídios para a promoção da Lei Federal

10.639/03, que delibera sobre a necessidade de se ampliar o debate em nível

nacional sobre as questões referentes à cultura africana e à situação do negro

e do afrodescendente na sociedade brasileira.

Esperamos que esta proposta possa colaborar de alguma maneira como

encaminhamento de trabalho para outros colegas, devendo ser adequada de

acordo com a realidade da sala de aula em que atuam.

África: História e arte na sala de aulaA educação tem passado por mudanças intensas desde os últimos anos

do século XX, seja por conta dos avanços tecnológicos, seja pela busca de

metodologias que venham atender as novas concepções educacionais que se

apresentam, que procuram desenvolver nos educandos autonomia e afirmação

de sua identidade pessoal.

Não seria exagero afirmar que é preocupação corrente por parte das

escolas e dos educadores em busca de novas abordagens com a intenção de

despertar o interesse e a participação dos nossos alunos para uma

aprendizagem mais efetiva.

Então, a fim de investigar as idéias históricas que os educandos já

possuem sobre a África pensamos, a principio, em fazer uma sondagem oral a

partir das seguintes perguntas: Como vocês vêem a África? Quais as palavras

que vem na sua mente quando citamos a África? Suas falas seriam então

anotadas no quadro e em seguida, a partir das expressões registradas,

construiríamos com os educandos a percepção de que temos, na maioria das

vezes, uma visão negativa da África, carregada de conceitos como racismo,

preconceito, etnocentrismo, eurocentrismo, xenofobismo e estereótipos.

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Esta metodologia foi descartada porque a consulta oral aos alunos

poderia levar a uma contaminação: os educandos poderiam pegar “carona” nas

colocações dos colegas e a amostragem ficaria comprometida, numa

percepção geral, do olhar que eles tivessem sobre a África e sobre a cultura

africana.

Optei, então, por investigar os conhecimentos prévios que dos

estudantes já possuíam sobre a África por meio de breves narrativas históricas

produzidas por eles e, a partir daí, dar encaminhamento à intervenção

pedagógica, basicamente estruturada em leituras de textos, pesquisas, debates

e trabalhos em grupo com apresentações para os colegas da classe.

Dando prosseguimento ao trabalho, solicitei aos alunos que

escrevessem, individualmente, identificando-se apenas com as iniciais de seus

nomes, um breve texto, uma narrativa histórica, respondendo as seguintes

perguntas: “Como você vê / percebe a África? / A África faz você lembrar de

quê?”

A opção pelo registro escrito tem também o objetivo de utilizá-lo para

uma análise de metacognição histórica - momento em que se investiga o

aprendizado dos estudantes -, metodologia esta que ocorreu durante todo o

período da implementação. É o momento em que o estudante poderá

compreender se aprendeu e como aprendeu sobre a temática África e suas

inter-relações: máscaras africanas, colonialismo e estereótipos.

Este foi o procedimento adotado, e diante do material produzido seguiu-

se a categorização dos mesmos. Assim, foi possível perceber a evidência de

inúmeros elementos que corroboram o comprometimento do conhecimento do

aluno com a realidade mais ampla em relação à temática africana, e a

necessidade de conectá-los em contextos que busquem dar conta da

complexidade da realidade em que vivemos.

Quando abordamos conteúdos que trazem para a sala de aula a história

da África e do Brasil africano é para cumprir alguns dos mais significativos

objetivos como educadores: levar à reflexão sobre a discriminação racial,

valorizar a diversidade étnica, gerar debate, estimular valores e

comportamentos de respeito, solidariedade e tolerância. Apresenta-se aí

também a oportunidade de levantar a bandeira de combate ao racismo e às

discriminações que atingem em particular a população afrodescendente.

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Discutir esse tema junto de nossos alunos é o primeiro passo no

caminho da reconstrução histórica de uma parte do nosso passado, que ainda

precisa ser compreendida. É nosso desejo contribuir com esta caminhada.

O levantamento realizado revelou que os estudantes lançaram mão de

uma série de olhares e percepções negativas em relação ao continente

africano. Foi predominante vincular a África a características como miséria,

pobreza, sujeira e fome, lugar onde ocorre intensa luta pela sobrevivência,

violência, guerra; lugar sofrido e triste, um “país” de nível baixo, pouco

desenvolvido e de baixa renda, com grande desigualdade social e doenças,

principalmente a AIDS. Alguns alunos mencionaram as riquezas existentes no

subsolo do continente e outras riquezas naturais tais como matas, florestas e

animais selvagens, salientando a possibilidade de exploração turística. Apenas

um registro considerou a África como um lugar com grande diversidade

cultural.

Considero muito interessantes os registros do aluno J.K.S. que escreveu

que os africanos são “[...] pessoas que precisam de ajuda e que eles não tem

meios talvez de sair desta situação.” e da aluna M.P. que considera o “[...]

continente africano isolado e esquecido e imagino que não seja o melhor lugar

para se morar”.

Nestas manifestações encontramos posicionamentos que iremos

discutir nos textos selecionados para serem trabalhados em sala de aula.

Já o estudante A.P.G. escreveu que “A próxima Copa do Mundo vai

acontecer na África” e M.A.P que “O Papa [em visita recente a alguns países

africanos] não apóia muito a África, impedindo a distribuição de

preservativos.”, demonstrando vinculação de suas idéias com o que apareceu

na mídia recentemente, principalmente a televisiva.

Solicitei aos estudantes que trouxessem para a aula seguinte imagens

sobre a África, que deveriam ser garimpadas em jornais, revistas, livros

didáticos, paradidáticos, Internet, etc. Esta atividade teve por finalidade

complementar a percepção deles sobre as imagens apresentadas e sobre os

comentários que as mesmas suscitariam. A intenção foi de provocar o porquê

deste olhar sobre a África e sobre a cultura africana.

De acordo com o neurologista inglês Oliver Sacks:

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“O ato de ver e olhar não se limita a olhar para fora, não se limita a olhar o visível, mas também o invisível. De certa forma é o que chamamos de imaginação. O que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura”. (2003, p.31)

Foi interessante perceber, levantando as percepções dos alunos sobre a

África, que grande parte delas deriva do que eles vêem na mídia (revistas,

televisão, principalmente, e jornais), onde a maioria das imagens e informações

transmitidas, salvo raríssimas exceções, é negativa. A partir delas fizemos

análises sobre as suas intencionalidades e discutimos sobre os motivos das

imagens positivas serem em número reduzido, e de a maioria delas se

relacionarem com pobreza, guerras, doenças, etc.

Esta atividade veio corroborar exemplarmente os registros elaborados

por eles na aula anterior, evidenciando a real necessidade, para além da

obrigatoriedade legal, da inclusão do ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica. A relevância dos

estudos de temas relacionados à cultura africana não se restringe à população

negra, muito pelo contrário, mas a todos nós brasileiros, pois este

conhecimento colaborará para que nos tornemos cidadãos mais participativos e

reconheçamos que fazemos parte de uma sociedade que se apresenta

multicultural e pluriétnica. Contribuirá, também, para uma construção de uma

nação mais democrática.

Para criar um maior envolvimento com o tema, achei o momento oportuno

para apresentar a pesquisa realizada no primeiro ano do PDE e, após esta

breve exposição, fotografamos a turma toda na frente do colégio.

Nas aulas que se seguiram trabalhei alguns conceitos como império,

etnias, sistemas culturais, identidade, cultura e superação da idéia de raça.

Estes dois últimos conceitos foram os que despertaram maior interesse por

parte dos alunos, por isso, recorri às considerações da professora de História

da África da Universidade de São Paulo (USP), Marina de Mello e Souza que

entendo serem muito relevantes e apropriadas para o entendimento dos

mesmos.

Para ela, o termo cultura deve ser entendido

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[...] como o conjunto de maneiras de pensar, de sentir, de agir e de fazer de um determinado grupo de pessoas. Dessa forma, hoje em dia os estudiosos dos homens e de suas sociedades aceitam que na base da vida social está a capacidade de simbolizar dos homens, isto é, atribuir significados a palavras, gestos, comportamentos, símbolos gráficos, desenhos, sons e muitas outras coisas [máscaras] que são partilhados pelos membros do grupo. É a capacidade de simbolizar, de atribuir significados, que permite que os homens transmitam idéias e sentimentos e que vivam em grupo, conforme as regras nele estabelecidas. São os sentidos compartilhados que formam uma determinada cultura, própria de um grupo, que fala a mesma língua, acredita nas mesmas coisas (pelo menos no que é essencial), entende os gestos dos outros e certos sons ou símbolos gráficos, sabe como se comportar em determinadas situações. A cultura é, assim, um código básico de simbolização que permite a comunicação e o entendimento entre aqueles que pertencem a ela. (SOUZA, 2008, p. 87)

Sobre superação da idéia de raça, a autora argumenta:

As variedades de aparência entre os homens fizeram que, a partir do século XVIII, e mesmo antes, eles fossem classificados a partir de determinadas características físicas, como o formato de olhos, a cor da pele e o tipo de cabelo, e de lugar de origem, como Ásia, Europa e África. Se antes estas diferenças eram atribuídas a determinações biológicas que faziam que os diferentes tipos humanos fossem considerados mais ou menos desenvolvidos, hoje em dia, com o conhecimento produzido pela genética (que estuda os elementos mais fundamentais na formação dos organismos vivos), está provado que raças humanas não existem sob o ponto de vista biológico. Todos os homens são extremamente parecidos em termos genéticos, sendo as diferenças de aparência resultado das adaptações ao meio ambiente pelas quais as populações passaram. As mutações, isto é, alterações nas combinações entre os genes (que não são comuns mas acontecem) e a seleção natural, segundo a qual os mais adaptados a determinado ambiente estão mais aptos a nele sobreviver, foram, ao longo do tempo, estabelecendo as diferenças entre o gênero humano, que é um só: Homo sapiens sapiens. (SOUZA, 2008, p. 122)

A fundamentação que apresenta sobre a cor da pele é bastante relevante:

A cor da pele, por exemplo, que é uma das variáveis a partir da qual se definia uma raça, é resultado da adaptação das populações aos diferentes níveis de radiação ultravioleta existente nos diferentes continentes. Ela é determinada pelo tipo e pela quantidade de um pigmento chamado melanina, e sua variação é controlada por quatro ou seis genes, num

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universo de 35 mil que compõem os organismos humanos. Também as outras características de aparência física, como a textura de cabelo e o formato do nariz e dos olhos, que eram usadas na definição de tipos raciais, dependem de um número muito pequeno de genes. Assim a genética, ao mostrar que a discussão racial envolve 0,0005% do genoma humano, provou que a noção de raça não está fundada em evidências biológicas e sim em distinções culturais, que serviram para o estabelecimento de relações de opressão, pois as insignificantes diferenças genéticas desmentem a idéia de que há raças superiores e inferiores. (SOUZA, 2008, p. 122)

E conclui, com muita propriedade, seus argumentos quando vincula

pseudos-conceitos científicos com preconceito:

A idéia de raça, que remete à aparência física e à região de origem, está na base do preconceito (ideia, opinião ou sentimento em relação a algo já preconcebido como desfavorável ou negativo) e estereótipos (rótulos usados para qualificar, superficial e genericamente, grupos étnicos, raciais, religiosos, nacionais e até grupos de pessoas de mesmo sexo ou profissão) que pode tanto se referir a uma marca, como a cor, quanto à origem, como o continente africano. No Brasil, o preconceito de marca, isto é, com relação à cor da pessoa, é o mais evidente, ao passo que nos Estados Unidos o preconceito de origem é o que predomina, uma vez que os descendentes de negros que têm aparência de brancos são considerados negros. (SOUZA, 2008 P. 122).

A contribuição deste texto foi bastante significativa, pois ao fim de sua

leitura os alunos, que em várias ocasiões se mostram desinteressados, se

revelaram dispostos a participar, colaborando para um debate que foi muito

produtivo e deixando no final do encontro um clima estimulante para o

andamento dos trabalhos. A superação das expectativas trouxe motivação para

todos.

Considerei, que já se tinha “preparado o terreno” para avançarmos o

trabalho e passei, então, a fazer considerações pontuais sobre o colonialismo

europeu no continente africano. Expus que a presença estrangeira no

continente africano provocou, a longo prazo, grandes mudanças nas

sociedades que com ela se envolveu. Expliquei que o comércio de escravos,

que tinham como destino os postos de trabalho nas colônias do Novo Mundo,

era seu principal interesse. Disse ainda que nos séculos XVI ao XIX foi intenso

o tráfico de escravos, isto é, do comércio de pessoas, onde se deram as

relações entre povos africanos e os europeus, principalmente, e que os

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europeus chegaram para ficar e, apesar de terem demorado para conseguir

penetrar no continente, acabaram por, dividi-lo entre si, no século XIX.

Nos meus apontamentos encontrei uma frase, muito pertinente para o

desenvolvimento desta ação pedagógica, da filósofa e artista Márcia Tiburi

(2008) “Aprender a pensar é descobrir o olhar”. O projeto em questão era

exatamente isto: trazer para os alunos uma forma diferenciada de trabalhar

conteúdos, procurando apresentá-los não apenas como saberes abstratos e

distantes, mas como uma experiência concreta vivida em determinada época

por sujeitos históricos reais como eles também o são.

Assim, trouxe para os alunos os argumentos de Cecil Rhodes, inglês

fundador da Rodésia (atual Zimbábue), sobre seu olhar para o continente

africano, em 1898:

Não vamos deixar a África para os pigmeus, quando uma raça superior se está multiplicando... Esses indígenas estão destinados a serem dominados por nós... O indígena deve ser tratado como uma criança, e o direito eleitoral lhe é proibido pelas mesmas razões do álcool. (BOAHEN, 1984)

Rhodes, em um de seus testamentos, intitulado: "Last Will and

Testament", escreveu ainda:

Considerei a existência de Deus e decidi que há uma boa chance de que ele exista. Se ele realmente existir, deve estar trabalhando em um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para ajudá-lo em sua execução. Como descobrir o plano? Primeiramente, procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca... Devotarei o restante de minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês. (BOAHEN, 1984)

Como contraponto, apresentamos as considerações de Machemba, rei

dos yaos de Tanganica (atual Tanzânia) a um comandante alemão, em 1890:

Escutei tuas palavras, mas não vi qualquer motivo para obedecer-te, antes preferiria morrer. Se o que queres é a amizade, estou pronto a oferecer-te, hoje e sempre; mas quanto a ser teu súdito, isso nunca! Se o que queres é guerra, estou pronto para ela, mas ser teu súdito, nunca! Não cairei aos teus pés, porque és uma criatura de Deus, assim como eu. Sou sultão aqui na minha terra. Tu és sultão lá na tua. (BOAHEN, 1984)

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Estas frases causaram forte impacto nos alunos. Não foram poucos os

que deixaram escapar expressões de indignação, outros se mostraram

dispostos a registrá-la por escrito, como fez a aluna K.R.R:Os europeus viam a expansão imperialista como uma maneira de tomar outros territórios para benefício próprio. Não importava se isso causaria efeito em pessoas que moravam nessas terras. Já os africanos sofriam com a colonização, eram vistos como “animais”, e os colonizadores os queriam fora dessas terras, ou seriam escravizados ou mortos.

Outra fala selecionada para o trabalho com os alunos foi a de Carl

Peters, alemão, conquistador de Tanganica (atual Tanzânia), em 1870, “O

objetivo da colonização é enriquecer sem escrúpulos e com decisão nosso

próprio povo, à custa de outros povos mais fracos.” (BOAHEN, 1984)

Do chefe Lat Dior, em carta ao governo francês em 1883, apresentamos

seu posicionamento frente à intenção francesa de construir uma ferrovia em

solo senegalês:

Enquanto eu viver, estejam certos, me oporei com todas as forças à construção dessa ferrovia. Por isso, toda vez que receber uma carta a respeito da ferrovia, a resposta será sempre não. Mesmo quando eu estiver dormindo, meu cavalo Malaw dará a mesma resposta. (BOAHEN, 1984)

O aluno W.S.P. fez o seguinte comentário sobre as falas acima:Como se fosse um prêmio que eles [europeus] tinham que conquistar, algo que eles precisavam, que tinha que ser deles a qualquer custo, os africanos reagiram como qualquer povo reagiria, eles (africanos) tinham o “dever” de proteger o que era deles por direito, afinal quem governava e ocupava aquelas terras eram os africanos.

Para complementar esta atividade, apresentei o posicionamento

Wodogo, rei dos mossi do Alto Volta, para um capitão francês, em 1895:

Sei que os brancos querem matar-me para se apoderarem de meu país, mas tu afirmas que eles querem ajudar-me a organizá-lo. Acho meu país bom assim como está. Não preciso dos brancos. Sei do que preciso e sei o que quero.” Wodogo, rei dos mossi do Alto Volta, para o capitão francês em 1895. (BOAHEN, 1984)

Os alunos M.V.P. e D.C.O. elaboram em conjunto o seguinte

comentário, demonstrando compreensão do tema discutido:

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Bom, eles viam de uma forma boa para eles [europeus], pois seria como “viver à custa dos outros”. Pegando os recursos dos africanos e fazendo os mesmos de escravos. Já os africanos sabiam o que estava ocorrendo e achavam ruim, pois não queriam ser “passados para trás” tentando proteger sua nação a qualquer custo.Os europeus viam a África e as pessoas de lá como objetos, que poderiam ser dominados por eles, a hora que eles quisessem, mas não era assim, porque o que os africanos queriam, era só proteger a sua terra e o seu povo.

A aluna M.T.L. incluiu na sua argumentação tanto o olhar europeu para o

continente africano como também o do africano em relação aos europeus:[Os europeus] viam os africanos como se eles fossem fracos, animais que não sabem o que fazem e a África apenas um pedaço de terra [que precisa de] alguém responsável por ela. [Os africanos argumentaram] que a África estava sendo bem cuidada e que não precisavam dos brancos para nada. Certo eles.

Assim encerramos estas atividades, considerando que os resultados

foram muitos satisfatórios. Os alunos se mostraram estimulados e envolvidos

durante o processo de aprendizagem e na essência de suas colocações, pode-

se perceber claramente que entenderam a intolerância por parte dos europeus

em relação aos africanos e suas intenções de mantê-los como súditos.

Registraram também o poder bélico dos europeus e que, mesmo assim,

ocorreu intensa resistência à colonização européia por parte dos africanos.

Dando prosseguimento aos trabalhos optei por uma atividade em

equipe. Esta estratégia é importante para uma maior integração dos mesmos e

dá oportunidade para se expressarem oralmente, o que auxilia na desinibição e

no preparo para enfrentar o público, dificuldade muito comum na faixa etária

que esses alunos se encontram..

Para iniciá-la foi realizada a leitura de duas citações do professor

Dagoberto Fonseca:A África mantém-se como um continente desconhecido para a maioria da população brasileira, seja ela docente ou discente. As escolas de ensino infantil, fundamental, médio e universitário, no geral, não abordam o passado e o presente africano. Muito embora este passado esteja tão presente no cotidiano nacional, seja através das palavras faladas, da cultura, das religiões, das instituições, da economia etc. O desconhecimento e o silêncio sobre o passado dos diversos países africanos nos cursos superiores das diferentes áreas do conhecimento são imensos, esses desconhecimentos e

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silêncio têm sido uma opção arbitrária e política dos nossos educadores, docentes e lideranças políticas e econômicas (...)As contribuições das diversas nações africanas, ao longo da história, para o desenvolvimento cultural, econômico, político, científico e tecnológico da humanidade é vasta e complexa, muito embora esse conhecimento seja prejudicado pela perspectiva preconceituosa do ocidente europeu-norte-americano e sob sua influência cultural nutre em relação ao continente. A cultura do Norte da África tem sido extremamente importante para toda a humanidade até os dias de hoje, particularmente pelos conhecimentos que ainda revela. (FONSECA, 2004).

Esta atividade buscou fazer com que os alunos viessem entender o

colonialismo europeu no continente africano a partir da África de hoje. O

conhecimento da história desses países é importante por diversos motivos.

Dentre eles destaca-se a crescente relevância do continente africano no mundo

contemporâneo.

Os alunos formaram 5 grupos com seis componentes. Cada grupo

pesquisou um dos países africanos selecionados e deveria atender os

aspectos sociais, políticos, econômico, religioso e cultural. Foram estes os

países selecionados: Quênia, que passa por um sangrento conflito desde a

reeleição de Mwai Kibaki, em 27 de dezembro de 2007; Sudão (antiga Núbia),

governado atualmente com “mãos-de-ferro” por Omar al-Bashir; Uganda, sob

liderança de Idi Amim Dada, cuja população civil sofreu uma das mais terríveis

ditaduras da história recente; Congo (Zaire) sob o governo ditatorial de Mobutu

Sesse Seko; e República Centro-Africana Bangui , governada rigidamente por

Jean Bedel Bokassa.

O enfoque principal desta atividade foi conhecer como os colonizadores

europeus alteraram os valores culturais dessas sociedades e conhecer a

história recente desses países africanos. As apresentações ocorreram dentro

do esperado e a questão preparada para o fechamento desta atividade foi:”A

partir do que foi estudado até então, que razões podem explicar a precária

situação econômico-social de diversos países da África?”

Destaco, como respostas, os seguintes registros:

O aluno J.P.S. estendeu a todo o continente africano um mesmo

problema “[...] por ser um lugar com escassez de água..”

A aluna M.H.Z., considerou as potencialidades do subsolo africano e

seu vasto território:

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A África tem bastante ouro, o que poderia deixar o país rico e com uma melhor economia, mas existem vários fatores para que isso não aconteça, como a exportação dos minérios, talvez se ficasse no continente africano teria mais empregos e melhor economia. Tem terras férteis para plantação.

Opinião semelhante demonstrou L.C.V, para quem “(...) ninguém vê o

“lado bom” da África, por exemplo o ouro e diamantes, pois não tem só o “lado

pobre” da África, mas tem muitas coisas boas e interessantes. (...)”.

São visões estereotipadas, que qualificam superficial e genericamente

os africanos, dando a eles uma imagem depreciativa como as encontradas nos

registros dos alunos R.C. “Acho que é um país fraco, sem muita renda, sem

empregos. Lá pessoas são tudo negras. Por quê? É porque a pobreza se

concentra lá. (...) Um país pobre é ruim, todos são discriminados.”.

A aluna B.M.B. concorda:

[...] muitos negros africanos foram pegos para a escravidão, não estudaram e consequentemente hoje em dia não tem conhecimento para poder trabalhar. Mas a África possui muitas riquezas, que o negro africano por falta de conhecimento não sabe desfrutar.

Assim também se expressam as alunas A.K.D. e J.C.G.,

respectivamente, enfocando as guerras :

[...] Porque eles “guerreiam” entre si. Como falta bastante coisa na África eles pegam de outras pessoas. Os mais “perigosos” pegam dos mais pobres, quando eles não dão o que eles querem eles chegam a ponto de matar o outro, às vezes chegam a torturar as pessoas até conseguirem o que querem. Vejo muito em filmes.

[...] As guerras são umas das principais causas dessas questões. Apesar de pessoas se aproveitarem da falta de sabedoria dos povos africanos e ganhar lucro em cima disso. A forma de educação. Quando tem notícia da África na TV, quase sempre é de guerra e existem vários africanos que vivem na rua, que pegavam as crianças para fazerem de soldados. Há vários analfabetos, há guerras!.

O que mais me chamou a atenção, apesar de todo trabalho realizado até

então, foi o aparecimento explícito, nas apresentações e na atividade final, de

posições permeadas de senso comum, de estereótipos e visões

preconceituosas em relação à África e aos africanos. Estes posicionamentos

são compreensíveis se consideramos a faixa etária e os anos de estudo dos

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alunos, mas demonstra que nós educadores temos um imenso trabalho a

realizar, a fim de modificar posturas e quebrar essas imagens simplificadas que

a maioria deles têm.

Na aula seguinte apresentei aos alunos fragmentos do texto “Um futuro

para a África” do escritor angolano José Eduardo Agualusa:

[...] A infelicidade da África começou com a escravatura. Milhões de africanos, sobretudo homens jovens, foram raptados e levados para o outro lado do mar.(...).A colonização européia, organizada em torno do tráfico negreiro, aprofundou divisões antigas, criou outras, abalou estruturas tradicionais, massacrou, destruiu, arrasou. Quando a vasta máquina de extermínio, a escravatura, deixou de funcionar e os povos de África se libertaram finalmente da opressão colonial, o que restava era um continente ao qual haviam roubado a população, a dignidade e a própria memória.Exige-se hoje aos africanos que esqueçam tudo isto. Julgo, pelo contrário, que é importante lembrar. Porém, ao invés de chorar sobre o leite derramado, devemos procurar utilizar a nosso favor alguns dos frutos da política européia relativa à África. Acontece que de árvores ruins podem nascer frutos saudáveis e saborosos. A escravatura, por exemplo, deu origem a florescentes sociedades crioulas no Novo Mundo. É preciso que estas sociedades, e a comunidade negra dos Estados Unidos da América, com crescente poder político e econômico, reencontrem a África. (AGUALUSA, 2000).

Comentei com os alunos que nele encontramos duas idéias principais: a

de que o continente africano precisa ser reconstruído; e que, para essa tarefa,

podem contribuir as populações de origem africana, que vivem em diversos

lugares do mundo. A seleção deste texto se deu por sua relação com o Brasil.

Alguns alunos comentaram que nunca pensaram na possibilidade concreta de

que negros em outros continentes pudessem vir a se organizar e criar

condições reais através de mobilizações diversas e ajudar sociedades

africanas necessitadas.

Para dar encaminhamento às atividades planejadas, os alunos deveriam

entregar por escrito alguns exemplos que mostrassem a sociedade brasileira

como tributária dos povos africanos e suas reflexões sobre a proposta do autor,

chegando a um posicionamento sobre sua pertinência. Deveriam elaborar,

também uma estratégia para a valorização da herança africana no Brasil e

como contribuir para a aproximação entre brasileiros e africanos. As propostas

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dos alunos foram apresentadas, para discussão, para os demais alunos da

classe. Os exemplos trazidos pelos alunos foram: na religião, nos pratos de

influência africana, na música, nos instrumentos musicais, nas plantas

medicinais, no idioma e no vestuário. A apenas um aluno mencionou a

miscigenação.

Das respostas, relativas à questão que solicitava a elaboração de uma

estratégia para a valorização da herança africana no Brasil, destaco a do aluno

B.V.C:

Para valorizar as heranças africanas deve-se primeiramente preserva-las. A tradição negra está bastante aprofundada nos laços culturais do Brasil e as festas temáticas do país já é uma forma de enaltecer essa herança. Mas pode-se aprofundar ainda mais essa valorização, aplicando no ensino das escolas, a história da cultura negra. Com isso, todos teriam consciência da tamanha importância que a tradição africana nos deixou.

Também muito interessante foi a reflexão da aluna A.M.M:

Muitas pessoas não sabem da importância dos africanos no Brasil. Há tanta cultura africana no Brasil e as pessoas não sabem, como quando as pessoas pensam a capoeira lembram da Bahia e não dos escravos africanos. Acho que deveria haver palestras e nas escolas deveriam ensinas mais coisas sobre os africanos no Brasil, não só sobre os escravos africanos no Brasil. Também deveria ter um dia de feriado com cinema de graça e com filmes africanos.

Quanto a uma estratégia para a aproximação entre brasileiros e

africanos, apresento as idéias do aluno M.A.P.:

Minha estratégia seria “Dias dos Africanos”, assim africanos que vivem no Brasil poderiam mostrar o que trouxeram de lá, como eles vivem lá, quais são seus costumes e também deveria ter mais africano e negro nas escolas e universidades. Isso, acredito, que ajudaria acabar com preconceito em relação aos africanos.

e do aluno J.B.D.:

Uma ótima maneira de aproximar as duas nacionalidades seria o intercâmbio de pessoas de um país para o outro a fim de proporcionar o conhecimento das tradições regionais e da cultura local, sem mencionar o incentivo ao turismo, que indiretamente injetaria dinheiro na economia dos dois países.

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Mesmo levando em consideração as confusões e distorções conceituais,

as colocações são pertinentes à faixa etária em que eles se encontram, o que

nos leva a considerar que os programas contra a discriminação e de

valorização do negro e afrodescendentes vigentes são muito importantes para

atingir os objetivos a que se propuseram. São os primeiros passos de um

caminho longo e árduo mas, evidentemente, necessário.

Diante do exposto, concordamos com os comentários do professor Yes

André:Todo ensino tende a ser uma abertura e convida a conhecer mais, É universalista e, por essa razão, transcende a função de conferir identidade. Contribui para situar cada um de nós relativamente aos demais. No entanto, essa abertura tropeça rapidamente com a seguinte dificuldade: como continuar sendo o mesmo e praticar a tolerância com as demais civilizações? Com efeito, o descobrimento da pluralidade de culturas jamais é um exercício inofensivo. O risco é converter-se em um entre os demais, ou, pior ainda, dissolver-se na cultura alheia (...). Por essa razão, essa abertura se fundamenta em um paradoxo: os povos desejam conhecer os demais desde que se representam a si mesmos como centro do mundo (...) Outro problema é a globalização: a humanidade, considerada um corpo único, entra em uma civilização planetária única que representa, ao mesmo tempo, um progresso colossal para todos e uma tarefa enorme de sobrevivência e adaptação do patrimônio cultural a esse novo marco esses novos marcos informais colocam o problema da existência e da sobrevivência de culturas e de identidades sociais. É necessário então, para inserir-se no mundo, abandonar o que compõe a razão de ser de um povo? (ANDRÉ, 1998)

Na garimpagem efetuada para selecionar material para trabalhar em

sala de aula, foi providencial comemorei ter encontrado o artigo do escritor

nigeriano Uzodinma Iweala, que tem por título “Parem de salvar a África”,

publicado no Washington Post em julho de 2007, questionando criticamente as

ajudas humanitárias para a África. Aparentemente no sentido contrário ao que se consideraria politicamente

correto, ele faz uma análise séria e pertinente, questionando a participação

nesses movimentos de figuras ilustres do cinema como Angelina Jolie e

cantores como Bono Vox. Essas pessoas, ao seu ver, ajudam a consolidar a

idéias de que a África precisa ser salva pelo Ocidente. Não contribuindo para a

disseminação da idéia de que o continente africano quer que o mundo

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reconheça que por meio de parcerias com diversas instituições da comunidade

global os africanos são capazes de um crescimento sem precedentes, fazendo

assim se sentirem sujeitos da sua história e não apêndices, dignos de

comiseração e da benevolência ocidental.

Acreditamos que facilmente despertaria o interesse dos educandos pois

faz referência a personalidades conhecidas mundialmente, que representam

um padrão de beleza e vida glamurosa. Esta atividade possui conteúdo mais

recente de todos os selecionados e permite instigar os educandos ao debate e

possui melhores condições de contextualizar o tema África, pois descreve

situações históricas que estão rotineiramente veiculadas nos meios de

comunicação

Acreditando, então, que o texto atrairia substancialmente o interesse dos

alunos, foi com muita alegria que percebi minhas expectativas confirmadas.

Alguns trechos suscitaram reações de espanto como este sobre a imagem da

África para os ocidentais:Esta é a nova imagem do Ocidente: uma geração sensual e politicamente ativa, cuja forma predileta de espalhar as idéias é por páginas duplas em revistas de celebridades com celebridades na frente, africanos tristonhos ao fundo. Ignore que as estrelas enviadas para trazer alívios aos nativos são, por vontade própria, tão magros quanto aqueles que eles querem ajudar. (IWEALA, 2007)

De modo bastante contundente, o autor discorreu, sobre as campanhas humanitárias:

Tais campanhas, apesar de bem intencionadas, promovem o estereótipo da África como um buraco negro de doença e morte. Noticias frequentemente focam nos líderes corruptos do continente, guerras, conflitos “tribais”, trabalho infantil e mulheres desfiguradas por abuso e mutilação genital. Essas descrições passam por baixo de manchetes do tipo “Pode Bono salvar a África?” ou “Irá Angelina Jolie salvar a África?” A relação entre o Ocidente e África não é mais baseada em crenças abertamente racistas, mas tais artigos são remanescentes dos relatórios do auge do colonialismo europeu, quando missionários eram enviados para a África para nos introduzir a educação, “Jesus Cristo” e civilização.(IWEALA, 2007)

Os filmes ocidentais sobre as guerras no continente africano, também

não escaparam de seu olhar crítico e contundente:Toda vez que um diretor de Hollywood filma um filme sobre a África estrelado por um ocidental, eu balanço minha cabeça –

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por que africanos, por mais reais que possamos ser, somos usados como figurantes na fantasia do Ocidente por si próprio? (IWEALA, 2007).

Após a leitura, foi lançada a seguinte questão para fomentar um debate:

“Que imagem eles (os alunos) pensavam o mundo ter da África?”

Em reposta, o aluno J.P.S. fez este comentário:A imagem de um continente pobre, acabado, que precisa da “ajuda” dos outros países. Que passa por muitos conflitos e não consegue se erguer sozinho, de pessoas carentes que precisam de ajuda.

A aluna M.P.S. apresentou uma reflexão mais ampla:

Um buraco negro de morte e doença. Pobreza, que a África é uma “COITADINHA”, mas na verdade não é. Tem o lado bom da África, só mostram sempre o lado ruim da África, e nunca o lado bom, tipo cultura. O mundo acredita que a África é um mundo de escuridão, um mundo de pobreza, fome, miséria, dor, sofrimento. Um lugar cheio de desgraça (sem valor algum). Escravos (eu também achava isso, mas hoje minha visão mudou sobre a África).

O “lado bom da África” mencionado pela aluna foi trabalhado trabalhar

de maneira sistemática, evidenciando principalmente a diversidade cultural dos

povos africanos, mesmo considerando que este não era o foco do projeto.

A essa altura do processo já foi possível perceber, com grande

satisfação, que os alunos estavam compreendendo a complexidade da questão

africana e passando a reelaborar suas intervenções a partir de diferentes

perspectivas.

As outras questões apresentadas aos alunos foram estas: “Qual a

imagem que você faz da cultura e da arte africanas? Considerando a larga

porcentagem da população brasileira que é descendente de africanos, você

acha que é uma cultura de fato reconhecida no Brasil?” As respostas de uma

maneira geral consideraram que a cultura africana é interessante mas que não

é devidamente reconhecida e valorizada. O aluno O.F.S. fez este comentário

bastante reflexivo:Talvez sim e talvez não, alguns brancos ainda são levados pelo preconceito e dizem “sou descendente de italiano” para não dizer que é parente de negros, outros negros dizem e tem orgulho de serem descendentes de africanos, então a sociedade fica meio em cima do muro e talvez não é muito bem assumida a cultura da África aqui no Brasil. E a minha imagem da cultura e a arte da África é: quando eu não tinha

21

conhecimento algum sobre a África, eu imaginava um continente extremamente pobre e só hoje sabendo bem mais sobre a África vejo que não é só isso, a África também é cultura e beleza e uma ótima opção para turismo.

A ultima consulta junto aos alunos, a partir deste texto, foi a seguinte:

“Você concorda com as ideias do autor de que os americanos (representando o

Ocidente) criaram a imagem de um continente à mercê da fome e da guerra,

que precisaria da ajuda deles, seja por meio do colonialismo, seja por ajuda

“humanitária”, para se sustentar?”

Para o aluno M.V.F., a situação é ambígua:

Sim e não, porque os europeus e os americanos acham que são o centro do mundo, que todos “precisam” da ajuda deles, principalmente o continente africano. Mas não é bem assim, porque eles falam mais do que fazem, deveriam fazer algo para colaborar realmente, mas não acho que é o que eles estão fazendo.

Já para as alunas E.L. e V.F., respectivamente, a questão está bem

definida:

Sim, pois os americanos sempre foram de se achar o melhor país do mundo, e com tanto dinheiro eles querem “salvar” a África e depois dominar, porque eles não iriam gastar dinheiro à toa para depois não ter nada em troca, pois, fala sério, eles são bem egoístas.

Sim, porque eles (os europeus e americanos) acabam tirando certo proveito do que aconteceu na África, geralmente por serem mais famosos são mais reconhecidos do que os soldados africanos por ajudarem a África. Muitas vezes eles fazem parecer que a África é mais pobre do que já é, atualmente.

Tendo em vista as respostas apresentadas, é possível afirmar que os

discursos elaborados pelos alunos são construídos principalmente a partir das

imagens da sociedade em que eles vivem. São, então, em grande parte,

leituras de um tempo presente e, por isso, apresentam um contexto muitas

vezes confuso, demonstrando dificuldade de delimitar um determinado período

histórico, sofrendo, também, interferências importantes por parte da mídia.

Ressalto, novamente, que devemos considerar a faixa etária e o período

escolar que eles se encontram.

22

Neste momento da implementação fui inquirida pela aluna V.R.P. com o

seguinte questionamento: Professora, onde é que entram máscaras africanas nesta história? Quando a senhora apresentou seu projeto falou do colonialismo europeu na África, dos estereótipos em relação aos povos africanos e em máscara africana. Até agora não vimos isso!

A clareza e objetividade da argumentação chegaram a me surpreender

positivamente, pois é exatamente isso que desejamos que nossos alunos

façam.

Assim, passamos para a última etapa da nossa ação docente, o estudo

sobre as máscaras africanas a fim de entender o entrelaçamento entre os

acontecimentos históricos e as manifestações culturais como parte de um

mesmo processo histórico.

Nas aulas que se seguiram expus que a confecção e uso das máscaras

pelos seres humanos são evidências encontradas em todos os lugares do

mundo e que a diversidade encontrada – formas, traços, cores, e funções -

mostram com clareza a complexidade dos grupos humanos e suas

peculiaridades. Elas são representações da riqueza simbólica encerrada nos

ritos, mitos, tradições, manifestações e celebrações festivas que, após

superarem e passarem a prova do tempo, sobreviveram até nossos dias somo

símbolos universais.

O desenvolvimento da sociabilidade, o intercâmbio de informações, a

colaboração e a designação de atividades específicas a cada membro do grupo

desembocaram na necessidade que tem o homem de manifestar suas idéias

utilizando muitos e diversos meios. Um deles é a arte: a expressão artística vai

além do estabelecido pelas normas, rompendo com os moldes habituais

através de elementos que se sobrepõem a elas. É neste contexto que se

encontra o costume do uso de de máscaras, um recurso imaginativo para a

expressão dos sentimentos do ser humano que, através do pensamento

simbólico e da linguagem, descreve não somente o que vê, libertando-se para

imaginar, inventar, descrever o real e o irreal.

Considerei que é praticamente consenso que, para se atingir a

compreensão estética de uma obra de arte, seu significado, suas

representações, é desejável conhecer sua razão de ser, qual o objetivo que o

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artista propôs atingir e a utilização dos que se serviram dela. Sem esta

compreensão ela fica mutilada, empobrecida. Diante dessa situação, surgem

os artistas, que abrem espaço para que ampliemos nossos sentidos e nos

aproximemos das emoções humanas.

Realcei que as conseqüências das chagas deixadas pelo colonialismo

europeu na África podem ser percebidas até os dias de hoje, nas levas de

africanos que tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo. As raízes

desses movimentos migratórios, que assistimos pela televisão, estão no

colonialismo.

Assim, a desvalorização das sociedades africanas pelos europeus,

praticada desde o período de colonização, alcançou também o campo da arte.

O reconhecimento dos valores artísticos das obras africanas pelos artistas

europeus se deu no máximo, através da imitação, sempre sob a ótica do olhar

europeu o qual parecia buscar na arte africana o fantástico ou a função

decorativa, e não uma obra de arte a ser apreciada.

A partir daí, muitas culturas africanas passam a ser categorizadas como

“exóticas” pelos colonizadores que se sentiam, assim, licenciados para

promover um saque cultural neste continente sem constrangimento algum.

Realcei que o resgate dessa herança é complicadíssimo, porque alguns danos

mostram-se irreparáveis, pois muitos artefatos africanos têm seu lugar de

origem e função desconhecidos, o que dificulta a sua análise. A arte africana é

funcional, e não pode ser entendida senão com base no estudo da comunidade

que a produziu e de suas crenças religiosas.

Hoje, forçosamente, os especialistas em arte africana se vêem

obrigados a estudá-la nos museus da Europa, onde foi introduzida na maioria

dos casos por viajantes, missionários e pelos administradores coloniais que

muito lucraram com este comércio. Para esses estudiosos, são considerados

inimigos da arte africana grande número de influentes negociantes,

colecionadores, marchands de arte e museus europeus, que fizeram sair

clandestinamente do continente africano máscaras, estatuetas e outros objetos.

São tidos como usurpadores, não só do objeto, mas também da história

africana. Compromete-se, assim, sua origem.

Ponderei que, diferentemente da arte ocidental, a arte africana, seja ela

expressa na forma de uma estátua ou de uma máscara, não é, em seu

24

contexto, usualmente exposta em vitrines, nem mesmo em conjunto ou em

separado, como são apresentados esses objetos nos museus do Ocidente.

Apesar do fato de hoje muitos objetos africanos tradicionais estarem envolvidos

com o mercado turístico, impulsionado pela curiosidade e pelo exotismo e que

esta demanda, muitos artesãos passaram a expor suas produções aos moldes

europeus.

Observei, também que a expressão “arte africana" foi um reducionismo

inventado pelos europeus, e está cristalizada tanto na sociedade européia

como na brasileira. Ela envolve toda a produção material dos africanos,

desconsiderando-se quando e como foi produzida, se antes ou durante o

período de colonização, ou se no século XX. Assim, diferentemente da

européia, a arte africana não pode ser enquadrada num determinado

movimento artístico, conforme se estuda na disciplina de Educação Artística no

Ensino Fundamental e Arte no Ensino Médio. Portanto, as análises que o

Ocidente faz sobre as artes plásticas não se aplicam à produção material

africana. Ela tem uma conexão com o Sagrado, está ligada às forças da

Natureza e do Universo e concentra significados, desde o material de que é

constituída, até sua função principal, a de culto.

A melhor maneira encontrada pelos colonialistas para viabilizar seu

projeto de conquista foi o aniquilamento dos deuses africanos, atingindo assim

o mais importante elemento de constituição das sociedades tradicionais

africanas: a religião. Iniciaram a dominação com a destruição, principalmente,

das suas máscaras e estatuetas, pois eram tidas por eles como um elo entre o

mundo material (humano) e o espiritual (divino). Ressaltei, aos alunos, que esta

destruição foi seletiva, pois algumas eram “salvas” e, como verdadeiros troféus,

levadas para serem expostas nos museus da Europa.

As máscaras são protagonistas constantes na arte africana, possuindo

função concreta e, num sentido amplo, podem desencadear sentimentos e

sensações muito diversos, pois são enigmáticas e chegam a causar

inquietação em certas circunstâncias. Podem representar situações trágicas ou

cômicas, assustar ou apresentar formas delicadas e singelas.

Enfim, as máscaras compõem um extraordinário acessório de formas e

funções múltiplas, cujas origens remetem a tempos imemoriais. Podem ter

formas simples ou complexas e são nomeadas de antropomorfas se tiverem

25

formas humanas, zoomorfas, se tiverem formas de animais, e de híbridas, se

apresentarem uma composição das duas formas. Podem ser confeccionadas a

partir de folhas, cascas, ramos vegetais, tecido, pele, couro, marfim, bronze,

terracota, madeira, conchas, ouro, prata ou outros metais, esculpidas em pedra

ou cozidas em cerâmica, moldadas em papel ou qualquer outro material.

Independente do material utilizado, não se pode deixar de considerar que as

máscaras são artefatos representativos que espelham as sociedades que as

elaboram.

Dando continuidade à exposição do tema, considerei que, dentre as

matérias primas utilizadas na elaboração das máscaras africanas, a madeira é

a preferida. A mais comum é a madeira preta, de ébano, chamada de mpingo,

que pela dureza, durabilidade e cor é considerada perfeita para esculpir.

Contei a eles que existe a crença por parte de muitos artífices africanos

de que as árvores possuem uma alma, um espírito. A madeira seria, então,

interpretada como um receptáculo espiritual. Parte dessa essência passaria

para a máscara, conferindo ao seu portador alguma espécie de poder. Diante

do exposto é interessante registrar o comentário do aluno J.P.S.: “Seriam então

os africanos os povos mais ecológicos do mundo?” Considerei que as

generalizações são perigosas, mas que sem dúvida, a cultura africana está

intimamente relacionada à natureza.

Na seqüência, ressaltei que a escolha do material para a execução das

máscaras não é aleatória, nem sempre recaindo sobre materiais existentes em

abundância no meio ambiente. Ele deverá ter um valor simbólico: máscaras ou

estátuas só podiam ser esculpidas em madeira de determinadas árvores,

adornos de determinadas fibras e sementes, ou dentes e peles de

determinados animais. Chamei a atenção para o fato de que não se pode

esquecer que as formas dos objetos, a posição, o tamanho, as cores utilizadas

variam de uma sociedade para outra.

Muitas máscaras africanas ainda hoje são ser associadas a ritos

agrários - para que não falte a caça, para que a terra seja fértil ou que produza

abundantes colheitas - ao benefício da cura de doentes da comunidade, a

rituais de casamentos ou nascimentos, à iniciação de jovens, a danças de

fecundidade e a cerimônias fúnebres.

26

Podemos dizer que cada máscara tem a sua própria história e

originalidade. Normalmente, em muitas regiões da África, a decisão para a

confecção de uma máscara parte de uma comissão que, dentro de um ritual

com conotação sagrada, decide quem a fará e que tipo de madeira será

utilizado. A máscara nova que irá surgir será uma expressão das habilidades

do artista, expondo, traduzindo ou evidenciando a tradição daquele grupo e a

ligação que ele tem com o mundo espiritual.

O escolhido, segundo essas tradições, entra na floresta e é guiado

espiritualmente para a árvore tida como perfeita. É feito nela um corte e, a

partir dele, homem e árvore passam a ser uma coisa só. A máscara passa a

ser elaborada ainda na madeira viva, a partir de um esboço básico. Ela pode

ser acabada posteriormente numa oficina ou num lugar secreto na floresta,

mas não deve ser vista por mais ninguém até que todo o processo tenha sido

concluído e venha a ser habitada pelo espírito para a qual foi destinada: um

antepassado ou um animal. Portanto, a máscara tem vida. Após representar

seu papel nestas ocasiões, ela é cuidadosamente guardada até que em nova

ocasião seja usada. Caso ela não seja utilizada perde seu poder, porque o

espírito poderá sair se for chamado para um outro trabalho útil. Assim, pode-se

dizer que um africano nativo, visitando um museu europeu, diria que as

máscaras ali expostas estão sem função e que teriam perdido seu poder,

porque estão desligadas do mundo espiritual e que os espíritos que nela

habitavam tinham retornado a ele.

A aluna C.M.Z. fez este comentário: “Para mim, máscara era para ser

usada em festas de fantasia, no carnaval, ou para esconder o rosto como os

bandidos fazem. Nunca pensei numa máscara dessa maneira.”

Então, escrevi na lousa uma citação do antropólogo R. Laraia,, pois a

considerei bastante pertinente para o momento: [...] o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma determinada cultura. (LARAIA, 2001, p. 67-68)

Dando prosseguimento, considerei que o uso das máscaras africanas é

muito diferente do das máscaras confeccionadas para o carnaval. As africanas

são elaboradas para situações muito especiais, como que já tinha mencionado

27

para eles. Excluindo aquelas circunstâncias, elas perdem em significado e

valor.

Para que eles tivessem uma idéia do poder de representatividade que as

máscaras têm para maioria dos povos africanos, lancei mão da informação do

pesquisador João Albanese (1998, p.2) que relatou que na República

Democrática do Congo, uma máscara foi esculpida e utilizada nos funerais de

um velho. Ela foi confeccionada com uma barba comprida, é símbolo de

sabedoria para muitos povos, e que o homem que a usou durante as danças

fúnebres passou, dessa maneira, a exteriorizar a presença do falecido, fazendo

com que seus familiares se sentissem mais confortados.

A partir das informações do historiador Carlos Eugênio M. Moura (2009,

p.4) relatei que, em outros rituais fúnebres, a máscara capta a força vital que

escapa da pessoa que morreu. O objetivo é controlar esta energia e evitar

danos à comunidade, e quem que carrega a máscara passa a distribuir essa

força vital em benefício de toda a coletividade através da dança. Nesse

momento, a máscara protege quem a carrega e a pessoa se converte em

outro ser. Para este ritual, o portador da máscara deve se vestir de forma a não

ser reconhecido. Ao contrário dos europeus, para quem o coração simboliza a

vida, a máscara faz parte da vestimenta e cobre a parte mais importante do

corpo, a cabeça, onde se encontra, para os africanos, a força vital.

Outra situação relatada, que também revela os profundos laços de

muitos povos africanos com o mundo natural, é quando um participante de um

determinado ritual sustenta na cabeça, cobrindo-a completamente, uma grande

máscara com feições de animais. Elas podem representar leões, leopardos,

hienas, pássaros, babuínos e muitos outros. Esses animais passam a significar

o caos em que o universo se encontrava antes de sua formação. O indivíduo

que porta essas máscaras aterroriza com as suas danças as pessoas da aldeia

e com isto consegue afastar os espíritos maléficos, tornando puro o ambiente.

Os alunos demonstraram grande interesse nestas informações.

Observei ainda que, em outros lugares da África, as máscaras só podem

ser produzidas com autorização do chefe religioso e por um escultor iniciado

em magia, que antes se submete a um rito de purificação, com reza aos

espíritos ancestrais e às forças divinas. Tal prática faz com que a força divina

se transfira para a máscara durante o processo de manufatura. Mas que nem

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todas as madeiras podem ser utilizadas em razão das qualidades negativas

atribuídas a determinadas árvores, nas quais podem habitar espíritos malignos,

o que comprometeria a eficácia da máscara. Essas crenças chegaram ao Brasil

através dos escravos, e serviram para garantir sua adaptação à nova terra.

Ressaltei também que para alguns grupos étnicos africanos o material

mais utilizado é a madeira verde. Antes de começar o entalhe, o artesão realiza

uma série de rituais no bosque, onde normalmente desenvolve seu trabalho.

Longe da aldeia e usando ele próprio uma máscara no rosto para não

contaminar o ambiente e tem como instrumento apenas uma faca afiada, a

máscara passa a ser criada com total liberdade, dispensando esboço, e o

artesão concentrando-se apenas na função que deve desempenhar.

Ressaltei a importância de que eles entendessem que as máscaras

africanas não traduzem a emoção do indivíduo que a usa, mas primam pelas

funções ritualísticas que desempenham e por uma intensa expressividade

estética.

Considerei ainda que demorou-se muito para valorizar essas peças,

vistas apenas como curiosidade de um povo exótico e infiel. Somente no final

do século XIX alguns pesquisadores mudaram de atitude e passaram a tratar a

produção artística africana de fato como arte, ainda que pela concepção

européia.

A reação dos europeus, ao se depararem com o imenso universo de

tradições africanas, foi permeada de desdém. Relacionaram as religiões

praticadas com magia e superstição, infantilizando-as como próprias de mentes

não evoluídas, de povos em estado primitivo, de sociedades paradas no tempo.

Pensamento bem diferente nos revela a antropóloga Aracy Lopes da

Silva:todos os povos, apesar de suas diferenças nos modos de pensar, agir, viver, fazem uma única humanidade. Todo o homem, toda a humanidade se define como portadora e produtora de linguagem e cultura. (SILVA, 1995, p.317)

A partir dos anos iniciais do século XX pode-se dizer que a arte africana

chamada até então de “primitiva” no sentido depreciativo, passa a influenciar e

a ter o papel estimulante, como uma fragrância que trazia o frescor, energia e

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revitalidade à arte européia, Começa, só então, a ser reconhecida por seus

valores artísticos.

Esse “equívoco” na valoração do africano por parte da sociedade

européia, alcançou também o campo da arte. O reconhecimento dos valores

artísticos das obras africanas pelos artistas europeus se deu no máximo,

através da imitação, sempre sob a ótica do olhar europeu o qual pareceu

buscar na arte africana o fantástico ou algo com uma função decorativa, e não

uma obra de arte que deve ser apreciada como um trabalho artístico.

De acordo com a historiadora Dilma de Melo e Silva: No século XIX, a Europa é inundada com objetos de origem africana: as expedições científica e etnográficas dirigem-se ao continente africano e trazem consigo centenas e milhares de objetos que formam os acervos dos Museus da Europa: joalheria, esculturas, máscaras, suportes, placas, portas, frontões, etc. Em 1897, uma expedição punitiva da Marinha Inglesa vai ao Benin, destrói a comunidade e carrega como despojo de guerra toda a produção plástica encontrada. Num único carregamento é levado mais de duas mil peças, provocando uma ruptura na produção local, que fica despojada de suas matrizes.” (SILVA, 1997, p. 45)

O contato do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) com a arte

africana, especialmente as máscaras, se deu em 1905, quando percebeu de

imediato sua importância, não as considerando apenas peças esculpidas, mas

dotadas de certa magia. Deve-se muito a Picasso essa mudança de

mentalidade, pois após a sua apropriação as máscaras passaram a ser vistas

pela comunidade européia como detentoras de valor estético.

Dos muitos artistas europeus que se sentiram atraídos pela arte

africana, Pablo Picasso foi o que mais se aproximou de sua essência. Porém,

pintores franceses como Braque, Cézanne, Calder e o italiano Amedeo

Modigliani também se revelaram apreciadores.

Mas esse deslumbramento não foi unânime. Alguns críticos

argumentaram que grande parte da arte africana, incluindo aí as máscaras,

era destinada à exaltação do soberano, com a intenção deliberada de enaltecer

o seu prestígio. Para contrapor este argumento, lembrei aos alunos que o

soberano, chefe ou rei, estava vinculado a uma essência divina na cultura

africana e, assim as máscaras passam a ser obras religiosas, com inúmeras

implicações de ordem moral e social. Através delas podemos perceber o nível

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de coesão e as hierarquias sociais, o suporte que é dado pelas leis tradicionais

e quais os instrumentos de repressão postos em prática aos comportamentos

que são reconhecidos pela comunidade como reprováveis. São, portanto,

fontes de pesquisa muito importantes para os estudiosos.

Finalizei a minha exposição sobre as máscaras argumentando que se no

passado seu uso era prática generalizada na maioria dos povos do continente

africano, houve um enorme declínio nas últimas décadas. No entanto, a

manufatura e o emprego desses objetos continuam sendo fundamentais na

identidade de vários grupos étnicos africanos, existindo pessoas que trabalham

pela preservação deste hábito milenar. De fato não importa se o artista africano

criador estava a serviço de um soberano. Vários artistas europeus,

classificados como gênios, estiveram a serviço dos mecenas (burgueses e

clérigos) na época do Renascimento, como Leonardo da Vinci e Miguel

Ângelo. Se a autonomia deles era limitada pelos interesses de seus

protetores/financiadores, isto não influenciou o valor artístico de suas obras,

que é reconhecidamente imenso.

Para dar forma e cor ao que expusemos sobre as máscaras africanas,

nas aulas que se seguiram os alunos foram recebidos no laboratório de

informática do colégio. Escrevi na lousa vários endereços de vários sites -

todos eles constam nas referências – e assim os alunos passaram a observar

inúmeras imagens sob a minha orientação. Esta atividade final veio corroborar

as informações recebidas nas aulas expositivas sobre as máscaras africanas,

sendo muito apreciada pelos alunos. A aluna C.B.B., trouxe, por iniciativa

própria, quatro máscaras africanas da Nigéria, elaboradas a partir da madeira

de ébano. Elas foram compradas numa feira livre por seu pai quando visitou

aquele país na década de 70. Foi um momento extremamente enriquecedor.

A nossa opção por um diálogo com as produções artísticas se deve por

compartilhar com as idéias da professora Antonia Terra:A introdução de estudos que buscam desvendar as múltiplas relações dialógicas incorporadas às obras humanas amplia a oportunidade dos alunos conhecerem contextos históricos complexos, que se expandem em ressonâncias no tempo e que se materializam em obras e acontecimentos. Possibilitam, ainda,escaparem de explicações causais e simplistas, indo de encontro à construção de olhares substanciosos, recheados de referências culturais, contextos e histórias. Implica, por outro lado, investir em estudos que abandonam uma

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concepção de tempo linear [...]. Dentro dessa perspectiva do ensino de História, orienta-se, nesse sentido, para um novo tipo de estudo na utilização [outros] documentos como recurso didático. [...] a necessidade da recuperação dos diálogos mantidos entre os sujeitos históricos que falam e dialogam, mesmo em tempos distantes, incluindo, com igualdade de situação, o sujeito contemporâneo – o aluno, a classe e o professor, com seus universos culturais e seus espaços resguardados para a construção de novos enunciados. (TERRA, 2005)

Conforme explica Rosa Iavelberg (2003, p.87) “as poéticas visuais

devem ser colocadas como uma situação de aprendizagem por meio da

resolução de problemas e da descoberta ao mesmo tempo.”.

Isso significa promover uma leitura criativa, dando informações sobre as

imagens sem se antecipar às colocações da garotada – esse é o momento de

pensar e agir introduzir, sempre que possível à questão da intencionalidade

nas produções artísticas.

Considerações finais:“A máscara, enquanto símbolo ilustra a marca humana de um

pensamento, de uma atividade social que se exprime em costumes e hábitos coletivos.”

Sofia Adriana Maciel

Foi com o olhar para educandos concretos e com muitos sentimentos

conflituosos que se deu a implementação deste projeto. E com a consciência

profissional do papel da escola que tem o dever de contribuir na formação de

pessoas reflexivas e responsáveis pelas suas ações que entendemos as

superações dos problemas educacionais que as escolas vivenciam, desde

políticas públicas, currículo, violência, preconceito, evasão, etc. Está

ocorrendo, é impossível negar, uma efetiva mudança da prática docente da

sala de aula. É preciso que lancemos mãos de novas abordagens, novas

metodologias e novas atividades nas quais os educandos utilizem diversas

linguagens que os levem à busca de possíveis respostas para os problemas

sociais em que estamos inseridos.

Defendemos a permanente capacitação dos profissionais da educação,

estejam eles em sala de aula ou não. Na condição de um deles acreditamos

que um educador bem formado tem consciência de seu poder de

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transformação e que também ela somente ocorrerá de maneira efetiva com

políticas públicas sérias e antenadas com o “chão da escola”.

Para que isso ocorra devemos, então, evoluir no conhecimento dos

conteúdos a serem ensinados, buscando um relacionamento mais democrático

e menos conflituoso com os nossos educandos. Temos de estar atentos,

também, para posturas discriminatórias em sala de aula e no espaço escolar,

atuando com a devida responsabilidade que nos cabe, e que se estende numa

atuação enquanto categoria profissional. Só assim entendemos que se poderá

dar um salto para a valorização dos conteúdos administrados em sala de aula

em detrimento de sua memorização. Acreditamos que, para isto acontecer, é

necessária a efetiva união de todos os profissionais de educação para um

trabalho de melhor qualidade

Concordamos que os textos ou atividades selecionadas mostram mais

as permanências do que as mudanças na África. Isso se explica pelo fato de

aquelas terem sido mais numerosas do que estas, devido à intensa força que

o colonialismo empreendeu nas sociedades africanas. Não é nossa pretensão

indicar conclusões basilares acerca de como deve ser trabalhada

interdisciplinarmente a temática africana em sala de aula.

Entretanto, parece interessante ressaltar que, em primeiro lugar,

procurou-se analisar aqui a história do colonialismo europeu no continente

africano de uma forma integrada com uma das produções artísticas mais

representativas dos povos negros africanos: as máscaras. Em segundo lugar, é

pertinente salientar que, nas culturas dessas sociedades, existia uma dinâmica

própria, diferenciada da dos europeus, que não a souberam compreender, e

que também não viam justificativas significativas para dispender sua atenção

nesse sentido, já que o interesse primordial era a dominação e a conseqüente

exploração da mão-de-obra e as riquezas de seus territórios.

A fim de dar prosseguimento à temática, o professor que se sentir

estimulado poderá sugerir outras pesquisas, outras interdisplinaridades, o que

só contribuirá para ampliar a discussão sobre a temática africana.

Esperamos que este artigo possa ter divulgado uma experiência

particular e bem sucedida em sala de aula. Do mesmo modo, acreditamos ter

contribuído para promover uma interação interdisplinar.

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Verificamos, ao fim da experiência, que muitos alunos que haviam se

mostrado desinteressados inicialmente, passaram a se envolver com a

temática. É inquestionável que nossos estudantes são intensamente

assediados pelo universo midiático e que a apatia que caracteriza o ensino

tradicional é um dos fatores que faz os alunos se mostrarem desinteressados.

Então, trazer novas abordagens e recursos para o ambiente escolar é uma

alternativa para modificar esta situação.

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Nesta pesquisa se empreendeu todos os esforços para identificar e localizar os autores de textos e imagens, de forma a acautelar os respectivos direitos autorais. Caso, por inadvertência se verifique situações desprovidas de autorização em que seja possível comprovar titularidades desses mesmos direitos, nos comprometemos acionar todos os mecanismos com vista à sua regularização.Caso ocorram imprecisões ou omissões nos dados editados, solicitamos a interpelação dos respectivos interessados com vista à sua imediata retificação ou atualização. Ressaltamos que este artigo não se destina a uma utilização comercial.

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