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MÁSCARAS AFRICANAS, COLONIALISMO E ESTEREÓTIPOS: RELAÇÕES INTER-CULTURAIS EM MOVIMENTO
Sueli Maria StrapassonGraduada em História pela UFPR e professora da rede estadual de ensino do Estado do Paraná
”...mais do que ensinar a ver de uma certa forma. É
desejar que se veja de muitas formas.”
Luis Carlos de Menezes
RESUMO
Este artigo faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE cuja estrutura operacional está representada, para fins didáticos, no Plano Integrado de Formação Continuada , que incorpora os princípios político-pedagógicos da Secretaria Estadual de Educação e integra a política de valorização dos professores que atuam na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Ele foi desenvolvido na disciplina de História durante o ano de 2009, sob orientação da Professora Doutora Dulce Osinski, da Universidade Federal do Paraná, e tem como principal objetivo abordar a temática africana através de uma das suas múltiplas manifestações artísticas: as máscaras. Busca ir além daquelas encontradas nos manuais didáticos, empregando conjuntamente a tematização do conteúdo clássico da história dos povos africanos (colonialismo europeu na África no século XIX) com outra área do conhecimento: a Arte. Almeja-se que os educandos possam se motivar e perceber as construções ideológicas e culturais que ocorreram em torno dos povos do continente africano, que contribuíram para uma introjeção de valores negativos em relação à cultura negra africana. Busca-se também que sejam levados a uma reflexão sobre a questão dos estereótipos que cercam a África e que desenvolvam novos olhares que contribuam para se tornarem cidadãos mais solidários e que saibam conviver com as diversidades.
Palavras-chave: África, colonialismo europeu, estereótipos,máscaras africanas
ABSTRACT
This article is part of the Program of Educational Development – PDE whose operating structure is represented for teaching purposes, the Comprehensive Plan of Continuing Education, which incorporates the principles educational policy of the State Department of Education and set policy on recovery of teachers who work the Public School of the State of Paraná. It was developed in the course of history during 2009, under the guidance of Prof. Dr. Dulce
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Osinski, Federal University of Paraná and the main objective is to address the African-themed by one of its many art forms: masks. Search go beyond those found in schoolbooks, using jointly thematization of classical content of the history of African peoples (European colonialism in Africa in the nineteenth century) with another field of knowledge: the art. Aims that the students can be motivated and understand the cultural and ideological constructions that have occurred around people of Africa have contributed to an internalization of negative values in relation to black African culture. Search also is drawn to a reflection on the issue of stereotypes surrounding Africa and to develop new approaches that help citizens to become more supportive and know that living with diversity.
Keywords: África, European colonialism, stereotypes, African masks
Introdução:A instituição escolar que conhecemos hoje começou a se configurar em
final século XVI e no decorrer de todo o século XVII, passando a ser
denominada pelos historiadores da educação como “Escola Moderna”. Suas
características, inicialmente, foram a separação dos alunos em classes
seriadas, de acordo com a faixa etária e a elaboração de conteúdos
programáticos de acordo com cada série. Os níveis de estudos passaram a ter
um encadeamento e o período para o estudo e efetivação dos programas para
cada série também passou a ser preestabelecido. Posteriormente, outros
elementos foram incorporados na prática escolar, como o registro das aulas, o
controle de freqüência dos alunos e a elaboração de textos específicos para
cada disciplina, surgindo mais tarde os livros didáticos. Com o passar do
tempo, o rigor disciplinar foi aumentado com a criação de normas
comportamentais, que tiveram, e têm ainda hoje, a função de organizar,
disciplinar e controlar o ambiente escolar.
Não é intenção deste artigo discutir a instituição escolar, mas salientar
que o modelo escolar que adotamos hoje em nossas escolas é encontrado em
muitos países em que pesem as algumas diferenças pontuais que ele possa
apresentar. Por vezes incorpora mudanças sem grandes traumas e por outras
reage a elas com vigor. De acordo com Michel Foucault (1979, p. 179), as
sociedades são constituídas por relações de poder que as permeiam e que
dão a elas características que as individualizam, passando a formar o que
denominou seu corpo social. O poder delas emanado conduz seus integrantes
a inúmeras sujeições que existem e funcionam no seu corpo social, e estas
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sujeições produzem discursos e regras que as organizam, tais como:
condenações, classificações, controle corporal e comportamental, que obrigam
os que delas participam a viver de determinada maneira. A escola, para ele, é
uma das instituições das sociedades onde estes poderes também se
materializam, onde os saberes se impõem, mas onde também se encontra
espaço, como em outras instâncias sociais, para a contradição e a
discordância.
No cotidiano das aulas nós, professores de História, frequentemente
percebemos que os saberes, os gostos, os princípios e a cultura de
determinadas sociedades causam em nossos educandos estranhamentos e
geram conflitos. As conseqüências mais alarmantes destes estranhamentos
são o preconceito e o estereótipo que se revelam pelos gestos, pelos toques,
pelas palavras e olhares. Aceitamos que grande parte dos conceitos e valores
que levamos para a vida adulta – o que é considerado belo, feio, bom, ruim,
mal e feio, entre outros – começam a se constituir desde a mais tenra idade no
âmbito familiar e escolar. Vem daí a necessidade de que o educador esteja
atento para que as manifestações no cotidiano escolar sejam objeto de sua
intervenção, e faça com que os educandos passem a reconhecer que o
respeito às diferenças culturais é um passo significativo para a promoção da
igualdade. Sem este reconhecimento, as diferenças certamente se
transformarão em desigualdades entre os povos, que passarão a se considerar
superiores uns em relação aos outros.
Percebemos que esta situação é recorrente entre os educandos quando
se trata da temática África. A associação que eles fazem com o continente
africano, com raras exceções, está vinculada ao exótico e ao primitivo. Vem daí
a opção de aproveitar este olhar distorcido e depreciativo sobre a África e
elaborar através do PDE um projeto de pesquisa.
O historiador inglês Peter Burke amplia esta análise, contribuindo ainda
mais para a compreensão sobre o conceito do olhar:
(...) o conceito do “olhar” (gaze) [é] um termo novo, [foi] tomado emprestado do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), para o que teria sido descrito anteriormente como “ponto de vista”. Seja quando pensamos sobre as intenções dos artistas ou sobre as maneiras pelas quais diferentes grupos de espectadores olhavam para os trabalhos
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desses artistas, é interessante refletir em termos do olhar ocidental, por exemplo, o olhar científico, o olhar colonial, o olhar do turista, ou olhar masculino. O olhar frequentemente expressa atitudes sobre as quais o espectador pode não estar consciente, sejam elas de medos, ódios ou desejos projetados no outro. (BURKE, 2004, p.156)
Entendemos que dos sentidos humanos, o olhar é o que mais se
destaca nos juízos de valor que fazemos. E é a partir dele que se fundamenta o
estereótipo que ao reproduzir algo que pode não ser totalmente falso mas
certamente é exagerado em relação à realidade, pode tornar-se grosseiro e até
mesmo violento.
Novamente, é muito pertinente a contribuição de Peter Burke:
Talvez seja por essa razão que os estereótipos muitas vezes tomam a forma de inversão da auto-imagem do espectador. Os estereótipos mais grosseiros estão baseados na simples pressuposição de que “nós” somos humanos ou civilizados, ao passo que “eles” [os outros] são pouco diferentes de animais como cães e porcos, aos quais eles são frequentemente comparados, (...) . Dessa forma, os outros são transformados no “Outro”. Eles são transformados em exóticos e distanciados do eu. e podem mesmo ser transformados em monstros. (BURKE, 2004, p.157)
O objetivo deste trabalho foi construir uma produção didático-pedagógica
que viesse a desenvolver um trabalho sobre a África com uma abordagem
diferenciada: além dos saberes formais e científicos e da linguagem acadêmica
dos livros didáticos - o marco histórico é o século XIX, quando se instalou
efetivamente o colonialismo europeu no continente africano, fazer uma
associação com outras áreas do conhecimento. No caso a nossa opção foi pela
Arte.
A introdução de associações temáticas, que raramente ocorrem nos
livros didáticos ou que têm uma abordagem bastante superficial, é a nossa
motivação para levar ao educando um conhecimento mais amplo das Ciências
Humanas, o da História em especial, (História) a fim de torná-lo um cidadão
capaz de reconhecer as diferentes formas de dominação. Está ocorrendo
nessa área uma mudança na forma de abordar os acontecimentos sociais,
partindo-se de um olhar diferenciado, mais peculiar, com a finalidade de que o
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educando venha a perceber-se como um ser integrante da história que ele
aprende, o que vai auxiliá-lo na compreensão dos temas abordados.
Este artigo é, também, o relato da implementação do projeto na escola
em que atuo. Almejo, com ele, contribuir para aumentar as possibilidades de os
educandos lançarem um novo olhar sobre os povos africanos, respeitando e
entendendo suas diversidades e compreendendo a natureza de seus
problemas. Ampliando, enfim, sua compreensão sobre o mundo africano. Ele é
fruto, também, de reflexões acerca da abordagem acima explicitada e tem por
objetivo analisar as dimensões do ensino de conteúdos de História a partir do
diálogo com outras fontes e áreas de conhecimento. Então, procurará refletir
sobre os resultados práticos do uso da interdisciplinaridade como um recurso
válido na rotina das salas de aula, tornando o processo de ensino e
aprendizagem mais dinâmico e prazeroso a partir do uso de outros recursos e
linguagens.
Das fichas de matrículas dos alunos com os quais trabalhamos tiramos
informações que nos permitem considerar que a maioria pertence ao que
muitos economistas denominam de classe média baixa, não se encontrando
neste grupo nenhum aluno em situação de risco social. Este trabalho ocorreu
no segundo bimestre de 2009, em uma das três oitavas séries do Colégio
Estadual Amâncio Moro, situado no bairro Jardim Social, em Curitiba, capital do
Estado do Paraná. Parte do material selecionado para aplicação em sala de
aula faz parte da produção didático-pedagógica de nossa autoria, tendo sido
incluídos outros textos, seguidos de atividades elaboradas com a finalidade de
atender ao objetivo maior de um educador: contribuir, através da sua prática
pedagógica, para a construção de uma sociedade que respeite a pluralidade e
a diversidade. A consciência histórica dos educandos é um pré-requisito
necessário, na nossa opinião, para o desenvolvimento de qualquer trabalho
pedagógico, pois media os valores morais, que orientam o comportamento e a
ação dos mesmos, e promove a reflexão sobre os diversos tipos de preconceito
presentes na sociedade brasileira em relação à cultura negra africana.
Para introduzir o assunto, trouxemos para os nossos alunos algumas
considerações sobre o colonialismo europeu no continente africano e em
seguida apresentamos uma explanação sobre a cultura das máscaras na
sociedade humana, suas linguagens e sobre a arte africana frente aos novos
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tempos. Ressaltamos também a necessidade de se compreender o significado
das máscaras para os diversos povos africanos, abordando a seleção de
materiais para a sua confecção, suas diversas funções e representações, as
quais divergem substancialmente da concepção adotada pelos povos
ocidentais.
Por último, se acentuou a importância de utilizar novas abordagens e
realizar atividades diferenciadas voltadas para a cultura negra e afro-brasileira
na escola, assim contribuindo com subsídios para a promoção da Lei Federal
10.639/03, que delibera sobre a necessidade de se ampliar o debate em nível
nacional sobre as questões referentes à cultura africana e à situação do negro
e do afrodescendente na sociedade brasileira.
Esperamos que esta proposta possa colaborar de alguma maneira como
encaminhamento de trabalho para outros colegas, devendo ser adequada de
acordo com a realidade da sala de aula em que atuam.
África: História e arte na sala de aulaA educação tem passado por mudanças intensas desde os últimos anos
do século XX, seja por conta dos avanços tecnológicos, seja pela busca de
metodologias que venham atender as novas concepções educacionais que se
apresentam, que procuram desenvolver nos educandos autonomia e afirmação
de sua identidade pessoal.
Não seria exagero afirmar que é preocupação corrente por parte das
escolas e dos educadores em busca de novas abordagens com a intenção de
despertar o interesse e a participação dos nossos alunos para uma
aprendizagem mais efetiva.
Então, a fim de investigar as idéias históricas que os educandos já
possuem sobre a África pensamos, a principio, em fazer uma sondagem oral a
partir das seguintes perguntas: Como vocês vêem a África? Quais as palavras
que vem na sua mente quando citamos a África? Suas falas seriam então
anotadas no quadro e em seguida, a partir das expressões registradas,
construiríamos com os educandos a percepção de que temos, na maioria das
vezes, uma visão negativa da África, carregada de conceitos como racismo,
preconceito, etnocentrismo, eurocentrismo, xenofobismo e estereótipos.
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Esta metodologia foi descartada porque a consulta oral aos alunos
poderia levar a uma contaminação: os educandos poderiam pegar “carona” nas
colocações dos colegas e a amostragem ficaria comprometida, numa
percepção geral, do olhar que eles tivessem sobre a África e sobre a cultura
africana.
Optei, então, por investigar os conhecimentos prévios que dos
estudantes já possuíam sobre a África por meio de breves narrativas históricas
produzidas por eles e, a partir daí, dar encaminhamento à intervenção
pedagógica, basicamente estruturada em leituras de textos, pesquisas, debates
e trabalhos em grupo com apresentações para os colegas da classe.
Dando prosseguimento ao trabalho, solicitei aos alunos que
escrevessem, individualmente, identificando-se apenas com as iniciais de seus
nomes, um breve texto, uma narrativa histórica, respondendo as seguintes
perguntas: “Como você vê / percebe a África? / A África faz você lembrar de
quê?”
A opção pelo registro escrito tem também o objetivo de utilizá-lo para
uma análise de metacognição histórica - momento em que se investiga o
aprendizado dos estudantes -, metodologia esta que ocorreu durante todo o
período da implementação. É o momento em que o estudante poderá
compreender se aprendeu e como aprendeu sobre a temática África e suas
inter-relações: máscaras africanas, colonialismo e estereótipos.
Este foi o procedimento adotado, e diante do material produzido seguiu-
se a categorização dos mesmos. Assim, foi possível perceber a evidência de
inúmeros elementos que corroboram o comprometimento do conhecimento do
aluno com a realidade mais ampla em relação à temática africana, e a
necessidade de conectá-los em contextos que busquem dar conta da
complexidade da realidade em que vivemos.
Quando abordamos conteúdos que trazem para a sala de aula a história
da África e do Brasil africano é para cumprir alguns dos mais significativos
objetivos como educadores: levar à reflexão sobre a discriminação racial,
valorizar a diversidade étnica, gerar debate, estimular valores e
comportamentos de respeito, solidariedade e tolerância. Apresenta-se aí
também a oportunidade de levantar a bandeira de combate ao racismo e às
discriminações que atingem em particular a população afrodescendente.
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Discutir esse tema junto de nossos alunos é o primeiro passo no
caminho da reconstrução histórica de uma parte do nosso passado, que ainda
precisa ser compreendida. É nosso desejo contribuir com esta caminhada.
O levantamento realizado revelou que os estudantes lançaram mão de
uma série de olhares e percepções negativas em relação ao continente
africano. Foi predominante vincular a África a características como miséria,
pobreza, sujeira e fome, lugar onde ocorre intensa luta pela sobrevivência,
violência, guerra; lugar sofrido e triste, um “país” de nível baixo, pouco
desenvolvido e de baixa renda, com grande desigualdade social e doenças,
principalmente a AIDS. Alguns alunos mencionaram as riquezas existentes no
subsolo do continente e outras riquezas naturais tais como matas, florestas e
animais selvagens, salientando a possibilidade de exploração turística. Apenas
um registro considerou a África como um lugar com grande diversidade
cultural.
Considero muito interessantes os registros do aluno J.K.S. que escreveu
que os africanos são “[...] pessoas que precisam de ajuda e que eles não tem
meios talvez de sair desta situação.” e da aluna M.P. que considera o “[...]
continente africano isolado e esquecido e imagino que não seja o melhor lugar
para se morar”.
Nestas manifestações encontramos posicionamentos que iremos
discutir nos textos selecionados para serem trabalhados em sala de aula.
Já o estudante A.P.G. escreveu que “A próxima Copa do Mundo vai
acontecer na África” e M.A.P que “O Papa [em visita recente a alguns países
africanos] não apóia muito a África, impedindo a distribuição de
preservativos.”, demonstrando vinculação de suas idéias com o que apareceu
na mídia recentemente, principalmente a televisiva.
Solicitei aos estudantes que trouxessem para a aula seguinte imagens
sobre a África, que deveriam ser garimpadas em jornais, revistas, livros
didáticos, paradidáticos, Internet, etc. Esta atividade teve por finalidade
complementar a percepção deles sobre as imagens apresentadas e sobre os
comentários que as mesmas suscitariam. A intenção foi de provocar o porquê
deste olhar sobre a África e sobre a cultura africana.
De acordo com o neurologista inglês Oliver Sacks:
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“O ato de ver e olhar não se limita a olhar para fora, não se limita a olhar o visível, mas também o invisível. De certa forma é o que chamamos de imaginação. O que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura”. (2003, p.31)
Foi interessante perceber, levantando as percepções dos alunos sobre a
África, que grande parte delas deriva do que eles vêem na mídia (revistas,
televisão, principalmente, e jornais), onde a maioria das imagens e informações
transmitidas, salvo raríssimas exceções, é negativa. A partir delas fizemos
análises sobre as suas intencionalidades e discutimos sobre os motivos das
imagens positivas serem em número reduzido, e de a maioria delas se
relacionarem com pobreza, guerras, doenças, etc.
Esta atividade veio corroborar exemplarmente os registros elaborados
por eles na aula anterior, evidenciando a real necessidade, para além da
obrigatoriedade legal, da inclusão do ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica. A relevância dos
estudos de temas relacionados à cultura africana não se restringe à população
negra, muito pelo contrário, mas a todos nós brasileiros, pois este
conhecimento colaborará para que nos tornemos cidadãos mais participativos e
reconheçamos que fazemos parte de uma sociedade que se apresenta
multicultural e pluriétnica. Contribuirá, também, para uma construção de uma
nação mais democrática.
Para criar um maior envolvimento com o tema, achei o momento oportuno
para apresentar a pesquisa realizada no primeiro ano do PDE e, após esta
breve exposição, fotografamos a turma toda na frente do colégio.
Nas aulas que se seguiram trabalhei alguns conceitos como império,
etnias, sistemas culturais, identidade, cultura e superação da idéia de raça.
Estes dois últimos conceitos foram os que despertaram maior interesse por
parte dos alunos, por isso, recorri às considerações da professora de História
da África da Universidade de São Paulo (USP), Marina de Mello e Souza que
entendo serem muito relevantes e apropriadas para o entendimento dos
mesmos.
Para ela, o termo cultura deve ser entendido
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[...] como o conjunto de maneiras de pensar, de sentir, de agir e de fazer de um determinado grupo de pessoas. Dessa forma, hoje em dia os estudiosos dos homens e de suas sociedades aceitam que na base da vida social está a capacidade de simbolizar dos homens, isto é, atribuir significados a palavras, gestos, comportamentos, símbolos gráficos, desenhos, sons e muitas outras coisas [máscaras] que são partilhados pelos membros do grupo. É a capacidade de simbolizar, de atribuir significados, que permite que os homens transmitam idéias e sentimentos e que vivam em grupo, conforme as regras nele estabelecidas. São os sentidos compartilhados que formam uma determinada cultura, própria de um grupo, que fala a mesma língua, acredita nas mesmas coisas (pelo menos no que é essencial), entende os gestos dos outros e certos sons ou símbolos gráficos, sabe como se comportar em determinadas situações. A cultura é, assim, um código básico de simbolização que permite a comunicação e o entendimento entre aqueles que pertencem a ela. (SOUZA, 2008, p. 87)
Sobre superação da idéia de raça, a autora argumenta:
As variedades de aparência entre os homens fizeram que, a partir do século XVIII, e mesmo antes, eles fossem classificados a partir de determinadas características físicas, como o formato de olhos, a cor da pele e o tipo de cabelo, e de lugar de origem, como Ásia, Europa e África. Se antes estas diferenças eram atribuídas a determinações biológicas que faziam que os diferentes tipos humanos fossem considerados mais ou menos desenvolvidos, hoje em dia, com o conhecimento produzido pela genética (que estuda os elementos mais fundamentais na formação dos organismos vivos), está provado que raças humanas não existem sob o ponto de vista biológico. Todos os homens são extremamente parecidos em termos genéticos, sendo as diferenças de aparência resultado das adaptações ao meio ambiente pelas quais as populações passaram. As mutações, isto é, alterações nas combinações entre os genes (que não são comuns mas acontecem) e a seleção natural, segundo a qual os mais adaptados a determinado ambiente estão mais aptos a nele sobreviver, foram, ao longo do tempo, estabelecendo as diferenças entre o gênero humano, que é um só: Homo sapiens sapiens. (SOUZA, 2008, p. 122)
A fundamentação que apresenta sobre a cor da pele é bastante relevante:
A cor da pele, por exemplo, que é uma das variáveis a partir da qual se definia uma raça, é resultado da adaptação das populações aos diferentes níveis de radiação ultravioleta existente nos diferentes continentes. Ela é determinada pelo tipo e pela quantidade de um pigmento chamado melanina, e sua variação é controlada por quatro ou seis genes, num
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universo de 35 mil que compõem os organismos humanos. Também as outras características de aparência física, como a textura de cabelo e o formato do nariz e dos olhos, que eram usadas na definição de tipos raciais, dependem de um número muito pequeno de genes. Assim a genética, ao mostrar que a discussão racial envolve 0,0005% do genoma humano, provou que a noção de raça não está fundada em evidências biológicas e sim em distinções culturais, que serviram para o estabelecimento de relações de opressão, pois as insignificantes diferenças genéticas desmentem a idéia de que há raças superiores e inferiores. (SOUZA, 2008, p. 122)
E conclui, com muita propriedade, seus argumentos quando vincula
pseudos-conceitos científicos com preconceito:
A idéia de raça, que remete à aparência física e à região de origem, está na base do preconceito (ideia, opinião ou sentimento em relação a algo já preconcebido como desfavorável ou negativo) e estereótipos (rótulos usados para qualificar, superficial e genericamente, grupos étnicos, raciais, religiosos, nacionais e até grupos de pessoas de mesmo sexo ou profissão) que pode tanto se referir a uma marca, como a cor, quanto à origem, como o continente africano. No Brasil, o preconceito de marca, isto é, com relação à cor da pessoa, é o mais evidente, ao passo que nos Estados Unidos o preconceito de origem é o que predomina, uma vez que os descendentes de negros que têm aparência de brancos são considerados negros. (SOUZA, 2008 P. 122).
A contribuição deste texto foi bastante significativa, pois ao fim de sua
leitura os alunos, que em várias ocasiões se mostram desinteressados, se
revelaram dispostos a participar, colaborando para um debate que foi muito
produtivo e deixando no final do encontro um clima estimulante para o
andamento dos trabalhos. A superação das expectativas trouxe motivação para
todos.
Considerei, que já se tinha “preparado o terreno” para avançarmos o
trabalho e passei, então, a fazer considerações pontuais sobre o colonialismo
europeu no continente africano. Expus que a presença estrangeira no
continente africano provocou, a longo prazo, grandes mudanças nas
sociedades que com ela se envolveu. Expliquei que o comércio de escravos,
que tinham como destino os postos de trabalho nas colônias do Novo Mundo,
era seu principal interesse. Disse ainda que nos séculos XVI ao XIX foi intenso
o tráfico de escravos, isto é, do comércio de pessoas, onde se deram as
relações entre povos africanos e os europeus, principalmente, e que os
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europeus chegaram para ficar e, apesar de terem demorado para conseguir
penetrar no continente, acabaram por, dividi-lo entre si, no século XIX.
Nos meus apontamentos encontrei uma frase, muito pertinente para o
desenvolvimento desta ação pedagógica, da filósofa e artista Márcia Tiburi
(2008) “Aprender a pensar é descobrir o olhar”. O projeto em questão era
exatamente isto: trazer para os alunos uma forma diferenciada de trabalhar
conteúdos, procurando apresentá-los não apenas como saberes abstratos e
distantes, mas como uma experiência concreta vivida em determinada época
por sujeitos históricos reais como eles também o são.
Assim, trouxe para os alunos os argumentos de Cecil Rhodes, inglês
fundador da Rodésia (atual Zimbábue), sobre seu olhar para o continente
africano, em 1898:
Não vamos deixar a África para os pigmeus, quando uma raça superior se está multiplicando... Esses indígenas estão destinados a serem dominados por nós... O indígena deve ser tratado como uma criança, e o direito eleitoral lhe é proibido pelas mesmas razões do álcool. (BOAHEN, 1984)
Rhodes, em um de seus testamentos, intitulado: "Last Will and
Testament", escreveu ainda:
Considerei a existência de Deus e decidi que há uma boa chance de que ele exista. Se ele realmente existir, deve estar trabalhando em um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para ajudá-lo em sua execução. Como descobrir o plano? Primeiramente, procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca... Devotarei o restante de minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês. (BOAHEN, 1984)
Como contraponto, apresentamos as considerações de Machemba, rei
dos yaos de Tanganica (atual Tanzânia) a um comandante alemão, em 1890:
Escutei tuas palavras, mas não vi qualquer motivo para obedecer-te, antes preferiria morrer. Se o que queres é a amizade, estou pronto a oferecer-te, hoje e sempre; mas quanto a ser teu súdito, isso nunca! Se o que queres é guerra, estou pronto para ela, mas ser teu súdito, nunca! Não cairei aos teus pés, porque és uma criatura de Deus, assim como eu. Sou sultão aqui na minha terra. Tu és sultão lá na tua. (BOAHEN, 1984)
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Estas frases causaram forte impacto nos alunos. Não foram poucos os
que deixaram escapar expressões de indignação, outros se mostraram
dispostos a registrá-la por escrito, como fez a aluna K.R.R:Os europeus viam a expansão imperialista como uma maneira de tomar outros territórios para benefício próprio. Não importava se isso causaria efeito em pessoas que moravam nessas terras. Já os africanos sofriam com a colonização, eram vistos como “animais”, e os colonizadores os queriam fora dessas terras, ou seriam escravizados ou mortos.
Outra fala selecionada para o trabalho com os alunos foi a de Carl
Peters, alemão, conquistador de Tanganica (atual Tanzânia), em 1870, “O
objetivo da colonização é enriquecer sem escrúpulos e com decisão nosso
próprio povo, à custa de outros povos mais fracos.” (BOAHEN, 1984)
Do chefe Lat Dior, em carta ao governo francês em 1883, apresentamos
seu posicionamento frente à intenção francesa de construir uma ferrovia em
solo senegalês:
Enquanto eu viver, estejam certos, me oporei com todas as forças à construção dessa ferrovia. Por isso, toda vez que receber uma carta a respeito da ferrovia, a resposta será sempre não. Mesmo quando eu estiver dormindo, meu cavalo Malaw dará a mesma resposta. (BOAHEN, 1984)
O aluno W.S.P. fez o seguinte comentário sobre as falas acima:Como se fosse um prêmio que eles [europeus] tinham que conquistar, algo que eles precisavam, que tinha que ser deles a qualquer custo, os africanos reagiram como qualquer povo reagiria, eles (africanos) tinham o “dever” de proteger o que era deles por direito, afinal quem governava e ocupava aquelas terras eram os africanos.
Para complementar esta atividade, apresentei o posicionamento
Wodogo, rei dos mossi do Alto Volta, para um capitão francês, em 1895:
Sei que os brancos querem matar-me para se apoderarem de meu país, mas tu afirmas que eles querem ajudar-me a organizá-lo. Acho meu país bom assim como está. Não preciso dos brancos. Sei do que preciso e sei o que quero.” Wodogo, rei dos mossi do Alto Volta, para o capitão francês em 1895. (BOAHEN, 1984)
Os alunos M.V.P. e D.C.O. elaboram em conjunto o seguinte
comentário, demonstrando compreensão do tema discutido:
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Bom, eles viam de uma forma boa para eles [europeus], pois seria como “viver à custa dos outros”. Pegando os recursos dos africanos e fazendo os mesmos de escravos. Já os africanos sabiam o que estava ocorrendo e achavam ruim, pois não queriam ser “passados para trás” tentando proteger sua nação a qualquer custo.Os europeus viam a África e as pessoas de lá como objetos, que poderiam ser dominados por eles, a hora que eles quisessem, mas não era assim, porque o que os africanos queriam, era só proteger a sua terra e o seu povo.
A aluna M.T.L. incluiu na sua argumentação tanto o olhar europeu para o
continente africano como também o do africano em relação aos europeus:[Os europeus] viam os africanos como se eles fossem fracos, animais que não sabem o que fazem e a África apenas um pedaço de terra [que precisa de] alguém responsável por ela. [Os africanos argumentaram] que a África estava sendo bem cuidada e que não precisavam dos brancos para nada. Certo eles.
Assim encerramos estas atividades, considerando que os resultados
foram muitos satisfatórios. Os alunos se mostraram estimulados e envolvidos
durante o processo de aprendizagem e na essência de suas colocações, pode-
se perceber claramente que entenderam a intolerância por parte dos europeus
em relação aos africanos e suas intenções de mantê-los como súditos.
Registraram também o poder bélico dos europeus e que, mesmo assim,
ocorreu intensa resistência à colonização européia por parte dos africanos.
Dando prosseguimento aos trabalhos optei por uma atividade em
equipe. Esta estratégia é importante para uma maior integração dos mesmos e
dá oportunidade para se expressarem oralmente, o que auxilia na desinibição e
no preparo para enfrentar o público, dificuldade muito comum na faixa etária
que esses alunos se encontram..
Para iniciá-la foi realizada a leitura de duas citações do professor
Dagoberto Fonseca:A África mantém-se como um continente desconhecido para a maioria da população brasileira, seja ela docente ou discente. As escolas de ensino infantil, fundamental, médio e universitário, no geral, não abordam o passado e o presente africano. Muito embora este passado esteja tão presente no cotidiano nacional, seja através das palavras faladas, da cultura, das religiões, das instituições, da economia etc. O desconhecimento e o silêncio sobre o passado dos diversos países africanos nos cursos superiores das diferentes áreas do conhecimento são imensos, esses desconhecimentos e
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silêncio têm sido uma opção arbitrária e política dos nossos educadores, docentes e lideranças políticas e econômicas (...)As contribuições das diversas nações africanas, ao longo da história, para o desenvolvimento cultural, econômico, político, científico e tecnológico da humanidade é vasta e complexa, muito embora esse conhecimento seja prejudicado pela perspectiva preconceituosa do ocidente europeu-norte-americano e sob sua influência cultural nutre em relação ao continente. A cultura do Norte da África tem sido extremamente importante para toda a humanidade até os dias de hoje, particularmente pelos conhecimentos que ainda revela. (FONSECA, 2004).
Esta atividade buscou fazer com que os alunos viessem entender o
colonialismo europeu no continente africano a partir da África de hoje. O
conhecimento da história desses países é importante por diversos motivos.
Dentre eles destaca-se a crescente relevância do continente africano no mundo
contemporâneo.
Os alunos formaram 5 grupos com seis componentes. Cada grupo
pesquisou um dos países africanos selecionados e deveria atender os
aspectos sociais, políticos, econômico, religioso e cultural. Foram estes os
países selecionados: Quênia, que passa por um sangrento conflito desde a
reeleição de Mwai Kibaki, em 27 de dezembro de 2007; Sudão (antiga Núbia),
governado atualmente com “mãos-de-ferro” por Omar al-Bashir; Uganda, sob
liderança de Idi Amim Dada, cuja população civil sofreu uma das mais terríveis
ditaduras da história recente; Congo (Zaire) sob o governo ditatorial de Mobutu
Sesse Seko; e República Centro-Africana Bangui , governada rigidamente por
Jean Bedel Bokassa.
O enfoque principal desta atividade foi conhecer como os colonizadores
europeus alteraram os valores culturais dessas sociedades e conhecer a
história recente desses países africanos. As apresentações ocorreram dentro
do esperado e a questão preparada para o fechamento desta atividade foi:”A
partir do que foi estudado até então, que razões podem explicar a precária
situação econômico-social de diversos países da África?”
Destaco, como respostas, os seguintes registros:
O aluno J.P.S. estendeu a todo o continente africano um mesmo
problema “[...] por ser um lugar com escassez de água..”
A aluna M.H.Z., considerou as potencialidades do subsolo africano e
seu vasto território:
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A África tem bastante ouro, o que poderia deixar o país rico e com uma melhor economia, mas existem vários fatores para que isso não aconteça, como a exportação dos minérios, talvez se ficasse no continente africano teria mais empregos e melhor economia. Tem terras férteis para plantação.
Opinião semelhante demonstrou L.C.V, para quem “(...) ninguém vê o
“lado bom” da África, por exemplo o ouro e diamantes, pois não tem só o “lado
pobre” da África, mas tem muitas coisas boas e interessantes. (...)”.
São visões estereotipadas, que qualificam superficial e genericamente
os africanos, dando a eles uma imagem depreciativa como as encontradas nos
registros dos alunos R.C. “Acho que é um país fraco, sem muita renda, sem
empregos. Lá pessoas são tudo negras. Por quê? É porque a pobreza se
concentra lá. (...) Um país pobre é ruim, todos são discriminados.”.
A aluna B.M.B. concorda:
[...] muitos negros africanos foram pegos para a escravidão, não estudaram e consequentemente hoje em dia não tem conhecimento para poder trabalhar. Mas a África possui muitas riquezas, que o negro africano por falta de conhecimento não sabe desfrutar.
Assim também se expressam as alunas A.K.D. e J.C.G.,
respectivamente, enfocando as guerras :
[...] Porque eles “guerreiam” entre si. Como falta bastante coisa na África eles pegam de outras pessoas. Os mais “perigosos” pegam dos mais pobres, quando eles não dão o que eles querem eles chegam a ponto de matar o outro, às vezes chegam a torturar as pessoas até conseguirem o que querem. Vejo muito em filmes.
[...] As guerras são umas das principais causas dessas questões. Apesar de pessoas se aproveitarem da falta de sabedoria dos povos africanos e ganhar lucro em cima disso. A forma de educação. Quando tem notícia da África na TV, quase sempre é de guerra e existem vários africanos que vivem na rua, que pegavam as crianças para fazerem de soldados. Há vários analfabetos, há guerras!.
O que mais me chamou a atenção, apesar de todo trabalho realizado até
então, foi o aparecimento explícito, nas apresentações e na atividade final, de
posições permeadas de senso comum, de estereótipos e visões
preconceituosas em relação à África e aos africanos. Estes posicionamentos
são compreensíveis se consideramos a faixa etária e os anos de estudo dos
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alunos, mas demonstra que nós educadores temos um imenso trabalho a
realizar, a fim de modificar posturas e quebrar essas imagens simplificadas que
a maioria deles têm.
Na aula seguinte apresentei aos alunos fragmentos do texto “Um futuro
para a África” do escritor angolano José Eduardo Agualusa:
[...] A infelicidade da África começou com a escravatura. Milhões de africanos, sobretudo homens jovens, foram raptados e levados para o outro lado do mar.(...).A colonização européia, organizada em torno do tráfico negreiro, aprofundou divisões antigas, criou outras, abalou estruturas tradicionais, massacrou, destruiu, arrasou. Quando a vasta máquina de extermínio, a escravatura, deixou de funcionar e os povos de África se libertaram finalmente da opressão colonial, o que restava era um continente ao qual haviam roubado a população, a dignidade e a própria memória.Exige-se hoje aos africanos que esqueçam tudo isto. Julgo, pelo contrário, que é importante lembrar. Porém, ao invés de chorar sobre o leite derramado, devemos procurar utilizar a nosso favor alguns dos frutos da política européia relativa à África. Acontece que de árvores ruins podem nascer frutos saudáveis e saborosos. A escravatura, por exemplo, deu origem a florescentes sociedades crioulas no Novo Mundo. É preciso que estas sociedades, e a comunidade negra dos Estados Unidos da América, com crescente poder político e econômico, reencontrem a África. (AGUALUSA, 2000).
Comentei com os alunos que nele encontramos duas idéias principais: a
de que o continente africano precisa ser reconstruído; e que, para essa tarefa,
podem contribuir as populações de origem africana, que vivem em diversos
lugares do mundo. A seleção deste texto se deu por sua relação com o Brasil.
Alguns alunos comentaram que nunca pensaram na possibilidade concreta de
que negros em outros continentes pudessem vir a se organizar e criar
condições reais através de mobilizações diversas e ajudar sociedades
africanas necessitadas.
Para dar encaminhamento às atividades planejadas, os alunos deveriam
entregar por escrito alguns exemplos que mostrassem a sociedade brasileira
como tributária dos povos africanos e suas reflexões sobre a proposta do autor,
chegando a um posicionamento sobre sua pertinência. Deveriam elaborar,
também uma estratégia para a valorização da herança africana no Brasil e
como contribuir para a aproximação entre brasileiros e africanos. As propostas
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dos alunos foram apresentadas, para discussão, para os demais alunos da
classe. Os exemplos trazidos pelos alunos foram: na religião, nos pratos de
influência africana, na música, nos instrumentos musicais, nas plantas
medicinais, no idioma e no vestuário. A apenas um aluno mencionou a
miscigenação.
Das respostas, relativas à questão que solicitava a elaboração de uma
estratégia para a valorização da herança africana no Brasil, destaco a do aluno
B.V.C:
Para valorizar as heranças africanas deve-se primeiramente preserva-las. A tradição negra está bastante aprofundada nos laços culturais do Brasil e as festas temáticas do país já é uma forma de enaltecer essa herança. Mas pode-se aprofundar ainda mais essa valorização, aplicando no ensino das escolas, a história da cultura negra. Com isso, todos teriam consciência da tamanha importância que a tradição africana nos deixou.
Também muito interessante foi a reflexão da aluna A.M.M:
Muitas pessoas não sabem da importância dos africanos no Brasil. Há tanta cultura africana no Brasil e as pessoas não sabem, como quando as pessoas pensam a capoeira lembram da Bahia e não dos escravos africanos. Acho que deveria haver palestras e nas escolas deveriam ensinas mais coisas sobre os africanos no Brasil, não só sobre os escravos africanos no Brasil. Também deveria ter um dia de feriado com cinema de graça e com filmes africanos.
Quanto a uma estratégia para a aproximação entre brasileiros e
africanos, apresento as idéias do aluno M.A.P.:
Minha estratégia seria “Dias dos Africanos”, assim africanos que vivem no Brasil poderiam mostrar o que trouxeram de lá, como eles vivem lá, quais são seus costumes e também deveria ter mais africano e negro nas escolas e universidades. Isso, acredito, que ajudaria acabar com preconceito em relação aos africanos.
e do aluno J.B.D.:
Uma ótima maneira de aproximar as duas nacionalidades seria o intercâmbio de pessoas de um país para o outro a fim de proporcionar o conhecimento das tradições regionais e da cultura local, sem mencionar o incentivo ao turismo, que indiretamente injetaria dinheiro na economia dos dois países.
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Mesmo levando em consideração as confusões e distorções conceituais,
as colocações são pertinentes à faixa etária em que eles se encontram, o que
nos leva a considerar que os programas contra a discriminação e de
valorização do negro e afrodescendentes vigentes são muito importantes para
atingir os objetivos a que se propuseram. São os primeiros passos de um
caminho longo e árduo mas, evidentemente, necessário.
Diante do exposto, concordamos com os comentários do professor Yes
André:Todo ensino tende a ser uma abertura e convida a conhecer mais, É universalista e, por essa razão, transcende a função de conferir identidade. Contribui para situar cada um de nós relativamente aos demais. No entanto, essa abertura tropeça rapidamente com a seguinte dificuldade: como continuar sendo o mesmo e praticar a tolerância com as demais civilizações? Com efeito, o descobrimento da pluralidade de culturas jamais é um exercício inofensivo. O risco é converter-se em um entre os demais, ou, pior ainda, dissolver-se na cultura alheia (...). Por essa razão, essa abertura se fundamenta em um paradoxo: os povos desejam conhecer os demais desde que se representam a si mesmos como centro do mundo (...) Outro problema é a globalização: a humanidade, considerada um corpo único, entra em uma civilização planetária única que representa, ao mesmo tempo, um progresso colossal para todos e uma tarefa enorme de sobrevivência e adaptação do patrimônio cultural a esse novo marco esses novos marcos informais colocam o problema da existência e da sobrevivência de culturas e de identidades sociais. É necessário então, para inserir-se no mundo, abandonar o que compõe a razão de ser de um povo? (ANDRÉ, 1998)
Na garimpagem efetuada para selecionar material para trabalhar em
sala de aula, foi providencial comemorei ter encontrado o artigo do escritor
nigeriano Uzodinma Iweala, que tem por título “Parem de salvar a África”,
publicado no Washington Post em julho de 2007, questionando criticamente as
ajudas humanitárias para a África. Aparentemente no sentido contrário ao que se consideraria politicamente
correto, ele faz uma análise séria e pertinente, questionando a participação
nesses movimentos de figuras ilustres do cinema como Angelina Jolie e
cantores como Bono Vox. Essas pessoas, ao seu ver, ajudam a consolidar a
idéias de que a África precisa ser salva pelo Ocidente. Não contribuindo para a
disseminação da idéia de que o continente africano quer que o mundo
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reconheça que por meio de parcerias com diversas instituições da comunidade
global os africanos são capazes de um crescimento sem precedentes, fazendo
assim se sentirem sujeitos da sua história e não apêndices, dignos de
comiseração e da benevolência ocidental.
Acreditamos que facilmente despertaria o interesse dos educandos pois
faz referência a personalidades conhecidas mundialmente, que representam
um padrão de beleza e vida glamurosa. Esta atividade possui conteúdo mais
recente de todos os selecionados e permite instigar os educandos ao debate e
possui melhores condições de contextualizar o tema África, pois descreve
situações históricas que estão rotineiramente veiculadas nos meios de
comunicação
Acreditando, então, que o texto atrairia substancialmente o interesse dos
alunos, foi com muita alegria que percebi minhas expectativas confirmadas.
Alguns trechos suscitaram reações de espanto como este sobre a imagem da
África para os ocidentais:Esta é a nova imagem do Ocidente: uma geração sensual e politicamente ativa, cuja forma predileta de espalhar as idéias é por páginas duplas em revistas de celebridades com celebridades na frente, africanos tristonhos ao fundo. Ignore que as estrelas enviadas para trazer alívios aos nativos são, por vontade própria, tão magros quanto aqueles que eles querem ajudar. (IWEALA, 2007)
De modo bastante contundente, o autor discorreu, sobre as campanhas humanitárias:
Tais campanhas, apesar de bem intencionadas, promovem o estereótipo da África como um buraco negro de doença e morte. Noticias frequentemente focam nos líderes corruptos do continente, guerras, conflitos “tribais”, trabalho infantil e mulheres desfiguradas por abuso e mutilação genital. Essas descrições passam por baixo de manchetes do tipo “Pode Bono salvar a África?” ou “Irá Angelina Jolie salvar a África?” A relação entre o Ocidente e África não é mais baseada em crenças abertamente racistas, mas tais artigos são remanescentes dos relatórios do auge do colonialismo europeu, quando missionários eram enviados para a África para nos introduzir a educação, “Jesus Cristo” e civilização.(IWEALA, 2007)
Os filmes ocidentais sobre as guerras no continente africano, também
não escaparam de seu olhar crítico e contundente:Toda vez que um diretor de Hollywood filma um filme sobre a África estrelado por um ocidental, eu balanço minha cabeça –
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por que africanos, por mais reais que possamos ser, somos usados como figurantes na fantasia do Ocidente por si próprio? (IWEALA, 2007).
Após a leitura, foi lançada a seguinte questão para fomentar um debate:
“Que imagem eles (os alunos) pensavam o mundo ter da África?”
Em reposta, o aluno J.P.S. fez este comentário:A imagem de um continente pobre, acabado, que precisa da “ajuda” dos outros países. Que passa por muitos conflitos e não consegue se erguer sozinho, de pessoas carentes que precisam de ajuda.
A aluna M.P.S. apresentou uma reflexão mais ampla:
Um buraco negro de morte e doença. Pobreza, que a África é uma “COITADINHA”, mas na verdade não é. Tem o lado bom da África, só mostram sempre o lado ruim da África, e nunca o lado bom, tipo cultura. O mundo acredita que a África é um mundo de escuridão, um mundo de pobreza, fome, miséria, dor, sofrimento. Um lugar cheio de desgraça (sem valor algum). Escravos (eu também achava isso, mas hoje minha visão mudou sobre a África).
O “lado bom da África” mencionado pela aluna foi trabalhado trabalhar
de maneira sistemática, evidenciando principalmente a diversidade cultural dos
povos africanos, mesmo considerando que este não era o foco do projeto.
A essa altura do processo já foi possível perceber, com grande
satisfação, que os alunos estavam compreendendo a complexidade da questão
africana e passando a reelaborar suas intervenções a partir de diferentes
perspectivas.
As outras questões apresentadas aos alunos foram estas: “Qual a
imagem que você faz da cultura e da arte africanas? Considerando a larga
porcentagem da população brasileira que é descendente de africanos, você
acha que é uma cultura de fato reconhecida no Brasil?” As respostas de uma
maneira geral consideraram que a cultura africana é interessante mas que não
é devidamente reconhecida e valorizada. O aluno O.F.S. fez este comentário
bastante reflexivo:Talvez sim e talvez não, alguns brancos ainda são levados pelo preconceito e dizem “sou descendente de italiano” para não dizer que é parente de negros, outros negros dizem e tem orgulho de serem descendentes de africanos, então a sociedade fica meio em cima do muro e talvez não é muito bem assumida a cultura da África aqui no Brasil. E a minha imagem da cultura e a arte da África é: quando eu não tinha
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conhecimento algum sobre a África, eu imaginava um continente extremamente pobre e só hoje sabendo bem mais sobre a África vejo que não é só isso, a África também é cultura e beleza e uma ótima opção para turismo.
A ultima consulta junto aos alunos, a partir deste texto, foi a seguinte:
“Você concorda com as ideias do autor de que os americanos (representando o
Ocidente) criaram a imagem de um continente à mercê da fome e da guerra,
que precisaria da ajuda deles, seja por meio do colonialismo, seja por ajuda
“humanitária”, para se sustentar?”
Para o aluno M.V.F., a situação é ambígua:
Sim e não, porque os europeus e os americanos acham que são o centro do mundo, que todos “precisam” da ajuda deles, principalmente o continente africano. Mas não é bem assim, porque eles falam mais do que fazem, deveriam fazer algo para colaborar realmente, mas não acho que é o que eles estão fazendo.
Já para as alunas E.L. e V.F., respectivamente, a questão está bem
definida:
Sim, pois os americanos sempre foram de se achar o melhor país do mundo, e com tanto dinheiro eles querem “salvar” a África e depois dominar, porque eles não iriam gastar dinheiro à toa para depois não ter nada em troca, pois, fala sério, eles são bem egoístas.
Sim, porque eles (os europeus e americanos) acabam tirando certo proveito do que aconteceu na África, geralmente por serem mais famosos são mais reconhecidos do que os soldados africanos por ajudarem a África. Muitas vezes eles fazem parecer que a África é mais pobre do que já é, atualmente.
Tendo em vista as respostas apresentadas, é possível afirmar que os
discursos elaborados pelos alunos são construídos principalmente a partir das
imagens da sociedade em que eles vivem. São, então, em grande parte,
leituras de um tempo presente e, por isso, apresentam um contexto muitas
vezes confuso, demonstrando dificuldade de delimitar um determinado período
histórico, sofrendo, também, interferências importantes por parte da mídia.
Ressalto, novamente, que devemos considerar a faixa etária e o período
escolar que eles se encontram.
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Neste momento da implementação fui inquirida pela aluna V.R.P. com o
seguinte questionamento: Professora, onde é que entram máscaras africanas nesta história? Quando a senhora apresentou seu projeto falou do colonialismo europeu na África, dos estereótipos em relação aos povos africanos e em máscara africana. Até agora não vimos isso!
A clareza e objetividade da argumentação chegaram a me surpreender
positivamente, pois é exatamente isso que desejamos que nossos alunos
façam.
Assim, passamos para a última etapa da nossa ação docente, o estudo
sobre as máscaras africanas a fim de entender o entrelaçamento entre os
acontecimentos históricos e as manifestações culturais como parte de um
mesmo processo histórico.
Nas aulas que se seguiram expus que a confecção e uso das máscaras
pelos seres humanos são evidências encontradas em todos os lugares do
mundo e que a diversidade encontrada – formas, traços, cores, e funções -
mostram com clareza a complexidade dos grupos humanos e suas
peculiaridades. Elas são representações da riqueza simbólica encerrada nos
ritos, mitos, tradições, manifestações e celebrações festivas que, após
superarem e passarem a prova do tempo, sobreviveram até nossos dias somo
símbolos universais.
O desenvolvimento da sociabilidade, o intercâmbio de informações, a
colaboração e a designação de atividades específicas a cada membro do grupo
desembocaram na necessidade que tem o homem de manifestar suas idéias
utilizando muitos e diversos meios. Um deles é a arte: a expressão artística vai
além do estabelecido pelas normas, rompendo com os moldes habituais
através de elementos que se sobrepõem a elas. É neste contexto que se
encontra o costume do uso de de máscaras, um recurso imaginativo para a
expressão dos sentimentos do ser humano que, através do pensamento
simbólico e da linguagem, descreve não somente o que vê, libertando-se para
imaginar, inventar, descrever o real e o irreal.
Considerei que é praticamente consenso que, para se atingir a
compreensão estética de uma obra de arte, seu significado, suas
representações, é desejável conhecer sua razão de ser, qual o objetivo que o
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artista propôs atingir e a utilização dos que se serviram dela. Sem esta
compreensão ela fica mutilada, empobrecida. Diante dessa situação, surgem
os artistas, que abrem espaço para que ampliemos nossos sentidos e nos
aproximemos das emoções humanas.
Realcei que as conseqüências das chagas deixadas pelo colonialismo
europeu na África podem ser percebidas até os dias de hoje, nas levas de
africanos que tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo. As raízes
desses movimentos migratórios, que assistimos pela televisão, estão no
colonialismo.
Assim, a desvalorização das sociedades africanas pelos europeus,
praticada desde o período de colonização, alcançou também o campo da arte.
O reconhecimento dos valores artísticos das obras africanas pelos artistas
europeus se deu no máximo, através da imitação, sempre sob a ótica do olhar
europeu o qual parecia buscar na arte africana o fantástico ou a função
decorativa, e não uma obra de arte a ser apreciada.
A partir daí, muitas culturas africanas passam a ser categorizadas como
“exóticas” pelos colonizadores que se sentiam, assim, licenciados para
promover um saque cultural neste continente sem constrangimento algum.
Realcei que o resgate dessa herança é complicadíssimo, porque alguns danos
mostram-se irreparáveis, pois muitos artefatos africanos têm seu lugar de
origem e função desconhecidos, o que dificulta a sua análise. A arte africana é
funcional, e não pode ser entendida senão com base no estudo da comunidade
que a produziu e de suas crenças religiosas.
Hoje, forçosamente, os especialistas em arte africana se vêem
obrigados a estudá-la nos museus da Europa, onde foi introduzida na maioria
dos casos por viajantes, missionários e pelos administradores coloniais que
muito lucraram com este comércio. Para esses estudiosos, são considerados
inimigos da arte africana grande número de influentes negociantes,
colecionadores, marchands de arte e museus europeus, que fizeram sair
clandestinamente do continente africano máscaras, estatuetas e outros objetos.
São tidos como usurpadores, não só do objeto, mas também da história
africana. Compromete-se, assim, sua origem.
Ponderei que, diferentemente da arte ocidental, a arte africana, seja ela
expressa na forma de uma estátua ou de uma máscara, não é, em seu
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contexto, usualmente exposta em vitrines, nem mesmo em conjunto ou em
separado, como são apresentados esses objetos nos museus do Ocidente.
Apesar do fato de hoje muitos objetos africanos tradicionais estarem envolvidos
com o mercado turístico, impulsionado pela curiosidade e pelo exotismo e que
esta demanda, muitos artesãos passaram a expor suas produções aos moldes
europeus.
Observei, também que a expressão “arte africana" foi um reducionismo
inventado pelos europeus, e está cristalizada tanto na sociedade européia
como na brasileira. Ela envolve toda a produção material dos africanos,
desconsiderando-se quando e como foi produzida, se antes ou durante o
período de colonização, ou se no século XX. Assim, diferentemente da
européia, a arte africana não pode ser enquadrada num determinado
movimento artístico, conforme se estuda na disciplina de Educação Artística no
Ensino Fundamental e Arte no Ensino Médio. Portanto, as análises que o
Ocidente faz sobre as artes plásticas não se aplicam à produção material
africana. Ela tem uma conexão com o Sagrado, está ligada às forças da
Natureza e do Universo e concentra significados, desde o material de que é
constituída, até sua função principal, a de culto.
A melhor maneira encontrada pelos colonialistas para viabilizar seu
projeto de conquista foi o aniquilamento dos deuses africanos, atingindo assim
o mais importante elemento de constituição das sociedades tradicionais
africanas: a religião. Iniciaram a dominação com a destruição, principalmente,
das suas máscaras e estatuetas, pois eram tidas por eles como um elo entre o
mundo material (humano) e o espiritual (divino). Ressaltei, aos alunos, que esta
destruição foi seletiva, pois algumas eram “salvas” e, como verdadeiros troféus,
levadas para serem expostas nos museus da Europa.
As máscaras são protagonistas constantes na arte africana, possuindo
função concreta e, num sentido amplo, podem desencadear sentimentos e
sensações muito diversos, pois são enigmáticas e chegam a causar
inquietação em certas circunstâncias. Podem representar situações trágicas ou
cômicas, assustar ou apresentar formas delicadas e singelas.
Enfim, as máscaras compõem um extraordinário acessório de formas e
funções múltiplas, cujas origens remetem a tempos imemoriais. Podem ter
formas simples ou complexas e são nomeadas de antropomorfas se tiverem
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formas humanas, zoomorfas, se tiverem formas de animais, e de híbridas, se
apresentarem uma composição das duas formas. Podem ser confeccionadas a
partir de folhas, cascas, ramos vegetais, tecido, pele, couro, marfim, bronze,
terracota, madeira, conchas, ouro, prata ou outros metais, esculpidas em pedra
ou cozidas em cerâmica, moldadas em papel ou qualquer outro material.
Independente do material utilizado, não se pode deixar de considerar que as
máscaras são artefatos representativos que espelham as sociedades que as
elaboram.
Dando continuidade à exposição do tema, considerei que, dentre as
matérias primas utilizadas na elaboração das máscaras africanas, a madeira é
a preferida. A mais comum é a madeira preta, de ébano, chamada de mpingo,
que pela dureza, durabilidade e cor é considerada perfeita para esculpir.
Contei a eles que existe a crença por parte de muitos artífices africanos
de que as árvores possuem uma alma, um espírito. A madeira seria, então,
interpretada como um receptáculo espiritual. Parte dessa essência passaria
para a máscara, conferindo ao seu portador alguma espécie de poder. Diante
do exposto é interessante registrar o comentário do aluno J.P.S.: “Seriam então
os africanos os povos mais ecológicos do mundo?” Considerei que as
generalizações são perigosas, mas que sem dúvida, a cultura africana está
intimamente relacionada à natureza.
Na seqüência, ressaltei que a escolha do material para a execução das
máscaras não é aleatória, nem sempre recaindo sobre materiais existentes em
abundância no meio ambiente. Ele deverá ter um valor simbólico: máscaras ou
estátuas só podiam ser esculpidas em madeira de determinadas árvores,
adornos de determinadas fibras e sementes, ou dentes e peles de
determinados animais. Chamei a atenção para o fato de que não se pode
esquecer que as formas dos objetos, a posição, o tamanho, as cores utilizadas
variam de uma sociedade para outra.
Muitas máscaras africanas ainda hoje são ser associadas a ritos
agrários - para que não falte a caça, para que a terra seja fértil ou que produza
abundantes colheitas - ao benefício da cura de doentes da comunidade, a
rituais de casamentos ou nascimentos, à iniciação de jovens, a danças de
fecundidade e a cerimônias fúnebres.
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Podemos dizer que cada máscara tem a sua própria história e
originalidade. Normalmente, em muitas regiões da África, a decisão para a
confecção de uma máscara parte de uma comissão que, dentro de um ritual
com conotação sagrada, decide quem a fará e que tipo de madeira será
utilizado. A máscara nova que irá surgir será uma expressão das habilidades
do artista, expondo, traduzindo ou evidenciando a tradição daquele grupo e a
ligação que ele tem com o mundo espiritual.
O escolhido, segundo essas tradições, entra na floresta e é guiado
espiritualmente para a árvore tida como perfeita. É feito nela um corte e, a
partir dele, homem e árvore passam a ser uma coisa só. A máscara passa a
ser elaborada ainda na madeira viva, a partir de um esboço básico. Ela pode
ser acabada posteriormente numa oficina ou num lugar secreto na floresta,
mas não deve ser vista por mais ninguém até que todo o processo tenha sido
concluído e venha a ser habitada pelo espírito para a qual foi destinada: um
antepassado ou um animal. Portanto, a máscara tem vida. Após representar
seu papel nestas ocasiões, ela é cuidadosamente guardada até que em nova
ocasião seja usada. Caso ela não seja utilizada perde seu poder, porque o
espírito poderá sair se for chamado para um outro trabalho útil. Assim, pode-se
dizer que um africano nativo, visitando um museu europeu, diria que as
máscaras ali expostas estão sem função e que teriam perdido seu poder,
porque estão desligadas do mundo espiritual e que os espíritos que nela
habitavam tinham retornado a ele.
A aluna C.M.Z. fez este comentário: “Para mim, máscara era para ser
usada em festas de fantasia, no carnaval, ou para esconder o rosto como os
bandidos fazem. Nunca pensei numa máscara dessa maneira.”
Então, escrevi na lousa uma citação do antropólogo R. Laraia,, pois a
considerei bastante pertinente para o momento: [...] o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, resultado da operação de uma determinada cultura. (LARAIA, 2001, p. 67-68)
Dando prosseguimento, considerei que o uso das máscaras africanas é
muito diferente do das máscaras confeccionadas para o carnaval. As africanas
são elaboradas para situações muito especiais, como que já tinha mencionado
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para eles. Excluindo aquelas circunstâncias, elas perdem em significado e
valor.
Para que eles tivessem uma idéia do poder de representatividade que as
máscaras têm para maioria dos povos africanos, lancei mão da informação do
pesquisador João Albanese (1998, p.2) que relatou que na República
Democrática do Congo, uma máscara foi esculpida e utilizada nos funerais de
um velho. Ela foi confeccionada com uma barba comprida, é símbolo de
sabedoria para muitos povos, e que o homem que a usou durante as danças
fúnebres passou, dessa maneira, a exteriorizar a presença do falecido, fazendo
com que seus familiares se sentissem mais confortados.
A partir das informações do historiador Carlos Eugênio M. Moura (2009,
p.4) relatei que, em outros rituais fúnebres, a máscara capta a força vital que
escapa da pessoa que morreu. O objetivo é controlar esta energia e evitar
danos à comunidade, e quem que carrega a máscara passa a distribuir essa
força vital em benefício de toda a coletividade através da dança. Nesse
momento, a máscara protege quem a carrega e a pessoa se converte em
outro ser. Para este ritual, o portador da máscara deve se vestir de forma a não
ser reconhecido. Ao contrário dos europeus, para quem o coração simboliza a
vida, a máscara faz parte da vestimenta e cobre a parte mais importante do
corpo, a cabeça, onde se encontra, para os africanos, a força vital.
Outra situação relatada, que também revela os profundos laços de
muitos povos africanos com o mundo natural, é quando um participante de um
determinado ritual sustenta na cabeça, cobrindo-a completamente, uma grande
máscara com feições de animais. Elas podem representar leões, leopardos,
hienas, pássaros, babuínos e muitos outros. Esses animais passam a significar
o caos em que o universo se encontrava antes de sua formação. O indivíduo
que porta essas máscaras aterroriza com as suas danças as pessoas da aldeia
e com isto consegue afastar os espíritos maléficos, tornando puro o ambiente.
Os alunos demonstraram grande interesse nestas informações.
Observei ainda que, em outros lugares da África, as máscaras só podem
ser produzidas com autorização do chefe religioso e por um escultor iniciado
em magia, que antes se submete a um rito de purificação, com reza aos
espíritos ancestrais e às forças divinas. Tal prática faz com que a força divina
se transfira para a máscara durante o processo de manufatura. Mas que nem
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todas as madeiras podem ser utilizadas em razão das qualidades negativas
atribuídas a determinadas árvores, nas quais podem habitar espíritos malignos,
o que comprometeria a eficácia da máscara. Essas crenças chegaram ao Brasil
através dos escravos, e serviram para garantir sua adaptação à nova terra.
Ressaltei também que para alguns grupos étnicos africanos o material
mais utilizado é a madeira verde. Antes de começar o entalhe, o artesão realiza
uma série de rituais no bosque, onde normalmente desenvolve seu trabalho.
Longe da aldeia e usando ele próprio uma máscara no rosto para não
contaminar o ambiente e tem como instrumento apenas uma faca afiada, a
máscara passa a ser criada com total liberdade, dispensando esboço, e o
artesão concentrando-se apenas na função que deve desempenhar.
Ressaltei a importância de que eles entendessem que as máscaras
africanas não traduzem a emoção do indivíduo que a usa, mas primam pelas
funções ritualísticas que desempenham e por uma intensa expressividade
estética.
Considerei ainda que demorou-se muito para valorizar essas peças,
vistas apenas como curiosidade de um povo exótico e infiel. Somente no final
do século XIX alguns pesquisadores mudaram de atitude e passaram a tratar a
produção artística africana de fato como arte, ainda que pela concepção
européia.
A reação dos europeus, ao se depararem com o imenso universo de
tradições africanas, foi permeada de desdém. Relacionaram as religiões
praticadas com magia e superstição, infantilizando-as como próprias de mentes
não evoluídas, de povos em estado primitivo, de sociedades paradas no tempo.
Pensamento bem diferente nos revela a antropóloga Aracy Lopes da
Silva:todos os povos, apesar de suas diferenças nos modos de pensar, agir, viver, fazem uma única humanidade. Todo o homem, toda a humanidade se define como portadora e produtora de linguagem e cultura. (SILVA, 1995, p.317)
A partir dos anos iniciais do século XX pode-se dizer que a arte africana
chamada até então de “primitiva” no sentido depreciativo, passa a influenciar e
a ter o papel estimulante, como uma fragrância que trazia o frescor, energia e
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revitalidade à arte européia, Começa, só então, a ser reconhecida por seus
valores artísticos.
Esse “equívoco” na valoração do africano por parte da sociedade
européia, alcançou também o campo da arte. O reconhecimento dos valores
artísticos das obras africanas pelos artistas europeus se deu no máximo,
através da imitação, sempre sob a ótica do olhar europeu o qual pareceu
buscar na arte africana o fantástico ou algo com uma função decorativa, e não
uma obra de arte que deve ser apreciada como um trabalho artístico.
De acordo com a historiadora Dilma de Melo e Silva: No século XIX, a Europa é inundada com objetos de origem africana: as expedições científica e etnográficas dirigem-se ao continente africano e trazem consigo centenas e milhares de objetos que formam os acervos dos Museus da Europa: joalheria, esculturas, máscaras, suportes, placas, portas, frontões, etc. Em 1897, uma expedição punitiva da Marinha Inglesa vai ao Benin, destrói a comunidade e carrega como despojo de guerra toda a produção plástica encontrada. Num único carregamento é levado mais de duas mil peças, provocando uma ruptura na produção local, que fica despojada de suas matrizes.” (SILVA, 1997, p. 45)
O contato do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) com a arte
africana, especialmente as máscaras, se deu em 1905, quando percebeu de
imediato sua importância, não as considerando apenas peças esculpidas, mas
dotadas de certa magia. Deve-se muito a Picasso essa mudança de
mentalidade, pois após a sua apropriação as máscaras passaram a ser vistas
pela comunidade européia como detentoras de valor estético.
Dos muitos artistas europeus que se sentiram atraídos pela arte
africana, Pablo Picasso foi o que mais se aproximou de sua essência. Porém,
pintores franceses como Braque, Cézanne, Calder e o italiano Amedeo
Modigliani também se revelaram apreciadores.
Mas esse deslumbramento não foi unânime. Alguns críticos
argumentaram que grande parte da arte africana, incluindo aí as máscaras,
era destinada à exaltação do soberano, com a intenção deliberada de enaltecer
o seu prestígio. Para contrapor este argumento, lembrei aos alunos que o
soberano, chefe ou rei, estava vinculado a uma essência divina na cultura
africana e, assim as máscaras passam a ser obras religiosas, com inúmeras
implicações de ordem moral e social. Através delas podemos perceber o nível
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de coesão e as hierarquias sociais, o suporte que é dado pelas leis tradicionais
e quais os instrumentos de repressão postos em prática aos comportamentos
que são reconhecidos pela comunidade como reprováveis. São, portanto,
fontes de pesquisa muito importantes para os estudiosos.
Finalizei a minha exposição sobre as máscaras argumentando que se no
passado seu uso era prática generalizada na maioria dos povos do continente
africano, houve um enorme declínio nas últimas décadas. No entanto, a
manufatura e o emprego desses objetos continuam sendo fundamentais na
identidade de vários grupos étnicos africanos, existindo pessoas que trabalham
pela preservação deste hábito milenar. De fato não importa se o artista africano
criador estava a serviço de um soberano. Vários artistas europeus,
classificados como gênios, estiveram a serviço dos mecenas (burgueses e
clérigos) na época do Renascimento, como Leonardo da Vinci e Miguel
Ângelo. Se a autonomia deles era limitada pelos interesses de seus
protetores/financiadores, isto não influenciou o valor artístico de suas obras,
que é reconhecidamente imenso.
Para dar forma e cor ao que expusemos sobre as máscaras africanas,
nas aulas que se seguiram os alunos foram recebidos no laboratório de
informática do colégio. Escrevi na lousa vários endereços de vários sites -
todos eles constam nas referências – e assim os alunos passaram a observar
inúmeras imagens sob a minha orientação. Esta atividade final veio corroborar
as informações recebidas nas aulas expositivas sobre as máscaras africanas,
sendo muito apreciada pelos alunos. A aluna C.B.B., trouxe, por iniciativa
própria, quatro máscaras africanas da Nigéria, elaboradas a partir da madeira
de ébano. Elas foram compradas numa feira livre por seu pai quando visitou
aquele país na década de 70. Foi um momento extremamente enriquecedor.
A nossa opção por um diálogo com as produções artísticas se deve por
compartilhar com as idéias da professora Antonia Terra:A introdução de estudos que buscam desvendar as múltiplas relações dialógicas incorporadas às obras humanas amplia a oportunidade dos alunos conhecerem contextos históricos complexos, que se expandem em ressonâncias no tempo e que se materializam em obras e acontecimentos. Possibilitam, ainda,escaparem de explicações causais e simplistas, indo de encontro à construção de olhares substanciosos, recheados de referências culturais, contextos e histórias. Implica, por outro lado, investir em estudos que abandonam uma
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concepção de tempo linear [...]. Dentro dessa perspectiva do ensino de História, orienta-se, nesse sentido, para um novo tipo de estudo na utilização [outros] documentos como recurso didático. [...] a necessidade da recuperação dos diálogos mantidos entre os sujeitos históricos que falam e dialogam, mesmo em tempos distantes, incluindo, com igualdade de situação, o sujeito contemporâneo – o aluno, a classe e o professor, com seus universos culturais e seus espaços resguardados para a construção de novos enunciados. (TERRA, 2005)
Conforme explica Rosa Iavelberg (2003, p.87) “as poéticas visuais
devem ser colocadas como uma situação de aprendizagem por meio da
resolução de problemas e da descoberta ao mesmo tempo.”.
Isso significa promover uma leitura criativa, dando informações sobre as
imagens sem se antecipar às colocações da garotada – esse é o momento de
pensar e agir introduzir, sempre que possível à questão da intencionalidade
nas produções artísticas.
Considerações finais:“A máscara, enquanto símbolo ilustra a marca humana de um
pensamento, de uma atividade social que se exprime em costumes e hábitos coletivos.”
Sofia Adriana Maciel
Foi com o olhar para educandos concretos e com muitos sentimentos
conflituosos que se deu a implementação deste projeto. E com a consciência
profissional do papel da escola que tem o dever de contribuir na formação de
pessoas reflexivas e responsáveis pelas suas ações que entendemos as
superações dos problemas educacionais que as escolas vivenciam, desde
políticas públicas, currículo, violência, preconceito, evasão, etc. Está
ocorrendo, é impossível negar, uma efetiva mudança da prática docente da
sala de aula. É preciso que lancemos mãos de novas abordagens, novas
metodologias e novas atividades nas quais os educandos utilizem diversas
linguagens que os levem à busca de possíveis respostas para os problemas
sociais em que estamos inseridos.
Defendemos a permanente capacitação dos profissionais da educação,
estejam eles em sala de aula ou não. Na condição de um deles acreditamos
que um educador bem formado tem consciência de seu poder de
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transformação e que também ela somente ocorrerá de maneira efetiva com
políticas públicas sérias e antenadas com o “chão da escola”.
Para que isso ocorra devemos, então, evoluir no conhecimento dos
conteúdos a serem ensinados, buscando um relacionamento mais democrático
e menos conflituoso com os nossos educandos. Temos de estar atentos,
também, para posturas discriminatórias em sala de aula e no espaço escolar,
atuando com a devida responsabilidade que nos cabe, e que se estende numa
atuação enquanto categoria profissional. Só assim entendemos que se poderá
dar um salto para a valorização dos conteúdos administrados em sala de aula
em detrimento de sua memorização. Acreditamos que, para isto acontecer, é
necessária a efetiva união de todos os profissionais de educação para um
trabalho de melhor qualidade
Concordamos que os textos ou atividades selecionadas mostram mais
as permanências do que as mudanças na África. Isso se explica pelo fato de
aquelas terem sido mais numerosas do que estas, devido à intensa força que
o colonialismo empreendeu nas sociedades africanas. Não é nossa pretensão
indicar conclusões basilares acerca de como deve ser trabalhada
interdisciplinarmente a temática africana em sala de aula.
Entretanto, parece interessante ressaltar que, em primeiro lugar,
procurou-se analisar aqui a história do colonialismo europeu no continente
africano de uma forma integrada com uma das produções artísticas mais
representativas dos povos negros africanos: as máscaras. Em segundo lugar, é
pertinente salientar que, nas culturas dessas sociedades, existia uma dinâmica
própria, diferenciada da dos europeus, que não a souberam compreender, e
que também não viam justificativas significativas para dispender sua atenção
nesse sentido, já que o interesse primordial era a dominação e a conseqüente
exploração da mão-de-obra e as riquezas de seus territórios.
A fim de dar prosseguimento à temática, o professor que se sentir
estimulado poderá sugerir outras pesquisas, outras interdisplinaridades, o que
só contribuirá para ampliar a discussão sobre a temática africana.
Esperamos que este artigo possa ter divulgado uma experiência
particular e bem sucedida em sala de aula. Do mesmo modo, acreditamos ter
contribuído para promover uma interação interdisplinar.
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Verificamos, ao fim da experiência, que muitos alunos que haviam se
mostrado desinteressados inicialmente, passaram a se envolver com a
temática. É inquestionável que nossos estudantes são intensamente
assediados pelo universo midiático e que a apatia que caracteriza o ensino
tradicional é um dos fatores que faz os alunos se mostrarem desinteressados.
Então, trazer novas abordagens e recursos para o ambiente escolar é uma
alternativa para modificar esta situação.
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Nesta pesquisa se empreendeu todos os esforços para identificar e localizar os autores de textos e imagens, de forma a acautelar os respectivos direitos autorais. Caso, por inadvertência se verifique situações desprovidas de autorização em que seja possível comprovar titularidades desses mesmos direitos, nos comprometemos acionar todos os mecanismos com vista à sua regularização.Caso ocorram imprecisões ou omissões nos dados editados, solicitamos a interpelação dos respectivos interessados com vista à sua imediata retificação ou atualização. Ressaltamos que este artigo não se destina a uma utilização comercial.
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