48650193 Monografia Musicalizacao de Adultos Por Zelia Pimenta Uemg
Maria Zelia de Alvarenga HADESCAPITULO_6[1].DoHc
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TEXTO DO CAPÍTULO 6 da segunda edição do Livro MITOLOGIA SIMBÓLICA
HADES
Maria Zelia de Alvarenga
Terminada a luta de Zeus e seus aliados contra Crono e demais Titãs, o
Universo foi dividido em três níveis, configurando impérios, e Hades tornou-se rei das
entranhas da Terra, “seio das trevas brumosas”, como fala Junito Brandão (1986:311).
Os Ciclopes armaram-no com o capacete que lhe conferia a invisibilidade, donde,
segundo Brandão, a falsa etimologia de não) ver), ou seja, o que não se vê.
Hades, o deus, era tão temido que seu nome não era pronunciado, por receio de
desencadear-lhe a cólera. Quando invocado, o era por eufemismos como Plutão, o rico,
pelo fato de receber inumeráveis hóspedes e possuir riquezas das profundezas,
sustentação das produções de toda agricultura. Hades teme a atuação do “Treme-
Treme”, epíteto de Posídon, pois somente ele, por meio de seus abalos terrestres,
poderia mostrar seu reino aos olhos mortais.
Hades, nome do local onde reina Hades ou Plutão, era um abismo das
entranhas da Terra. Três possíveis localizações de sua entrada são relatadas: Cabo
Tênaro, região sul do Peloponeso, ou através de uma caverna perto de Cumas, sul da
Itália, por onde adentrou Enéias, como também em pleno oceano, conforme relato de
Homero, por onde entrou Ulisses quando buscou esclarecimentos com Tirésias.
***
Saber de Hades1 representa, simbolicamente, povoar-se do recolhimento
próprio da introversão, condição propiciadora de reflexões que possibilitam perceber as
ideações intuitivas. Hades é o guardião dos sonhos mais incorpóreos, que permanecem
distantes, muito distantes do campo da consciência, porém desejosos de realização.
Falar de Hades implica necessariamente saber de sua polaridade oposta
configurada em seu irmão Zeus, com quem, por expressar o seu duplo, constitui o par
complementar portador de características antinomiais, seu irmão Zeus. O regente
olímpico é a atualização da possibilidade do ser social, do ser no mundo, da capacidade
1. Todos os dados referentes à mitologia, presentes neste capítulo devem-se a: Brandão (1986, 1988, 1991, 1992); Bolen (2002); Calasso (1996); Hesíodo (2003); Kerennyi (1994); Homero (1987, 2001,2002); Eurípides (1993); Apuleio (1969); Otto (2004, 2005; 2006A, 2006B)
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relacional com os outros concretos ou simbólicos, do ser político, do ser regente, pai,
protetor, etc. Figura mítica arquetípica, por seus incontáveis casamentos, expressa a
função de fecundador e do Deus Faber, criador de famílias míticas, gestadoras da
humanidade. Manifestar-se como herói, amante, competidor, entre outros, faz parte de
sua “história”. Seus filhos, seus confrontos e lutas, bem como suas hierofanias,
configuram aspectos dos diferentes caminhos de humanização pelos quais a estruturação
do símbolo poderá se fazer. Assim, o arquétipo do masculino (expresso como Pai, Filho,
Amante, Amado, Guerreiro, Conquistador, Herói, Amigo e tantos outros aspectos), ao
se atualizar pela imagem arquetípica de Zeus, poderá seguir um processo de
humanização segundo o referencial dos vários mitologemas que compõem o seu mito.
Os mitologemas componentes do mito de Zeus e, igualmente, os de Hades representam
momentos de grande significado, constituindo aspectos imprescindíveis à compreensão
do caminho de humanização do arquétipo. Eles nos permitem entender a relevância
estratégica das escolhas, casamentos e confrontos no processo de humanização
enquanto propiciatórios da atualização da realidade arquetípica em seu sentido mais ou
menos criativo de forma a criar condições para que o ser seja cada vez mais o que
nasceu para ser.
De outra parte, Hades, divino regente do mundo dos mortos pode ser
entendido simbolicamente como a capacidade de reflexão e introspecção, condição
indispensável para que as transformações de alma ocorram, sem a qual a possibilidade
da consciência, como um vir a ser em atualização pelos caminhos de humanização de
Zeus, não teria substrato nem seria realidade.
Hades é a expressão da possibilidade do recolhimento necessário quando a
elaboração simbólica pontifica; é a expressão da possibilidade do processo de
ensimesmamento, que gesta pelas funções intuitiva e pensamento, a concepção de
idéias, dos conceitos, dos filhos do tempo novo. Hades é a melhor expressão da
metanóia, do casamento interior, do encontro de si consigo mesmo, da integração de
alma, da coniunctio oppositorum em sua plenitude maior. Hades é a expressão da
possibilidade da atualização da consciência da finitude, da consciência da aceitação do
morrer como condição intrínseca do existir.
O divino Plutão, seu outro nome, representa a fidelidade a sua anima, e
dessa forma, seu casamento com Perséfone é único e exclusivo. Segundo o mito, Hades
esteve interessado em outras criaturas femininas como relata Brandão (1991;475) e
Bolen (2002, 119). Todavia, como casal, Hades e Perséfone representam os amantes e
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tão somente a condição de serem amantes, eternos amantes um do outro, representações
simbólicas complementares de anima e animus respectivos. O casal, regente dos ínferos,
não configura a representação de pai e mãe, mas sim e tão somente o casal
amante/amado.
A autonomia da anima de Zeus-Hades, expressa na figura de Perséfone,
surge tão grandiosa, tão divinamente poética, como configuração da metáfora das
metáforas. Quando a deusa-anima-grão retorna à superfície, anunciando a chegada da
primavera, apresenta-se carregando em seus braços espigas e mais espigas de trigo.
Perséfone é a melhor possibilidade do ser consciente, profundamente
consciente de si mesma, certa de sua condição de ser Grão–Coré. Perséfone, ao
apresentar-se como trigo-cuore–alimento-pão–corpo, representa a vida que se alimenta
de vida, vida que provê a vida, vida que transforma a vida, grão que gesta o filho do
tempo novo. Perséfone, anima-grão que concebe com Zeus-Hades, e Zeus-Hades que
concebe com sua anima-grão, entregam-se à humanidade, na figura do filho Dioniso-
trigo como redenção, alimento e cura da alma.
A autonomia da anima de Hades-Zeus ctônio é a expressão da liberdade de
criar, da competência para criar e da necessidade intrínseca de criar.
Criar é uma das condições que traduz transformação. Para criar é
fundamental que o ser recupere a consciência de se saber divino e, portanto, Criador.
Somente então poderá individuar-se, ou seja, conceber-se como criatura ímpar.
***
Hades, como Zeus ctônio, gestou com Deméter o símbolo mais complexo da
integração, da conjunção. Gestou para si a mais complexa configuração da anima: Coré.
Zeus ctônio gestou o grão fecundante do homem, gestou sua parte mulher. E,
sincronicamente, a humanidade surgiu como criatura criada do filho devorado de Zeus-
ctônio-Hades com sua anima Coré - Perséfone. O filho Dioniso Zagreu nasce desse
encontro, e torna-se a melhor expressão do duplo ou hipóstase mais humana de Zeus-
Hades. Com Dioniso2 emerge a possibilidade de Zeus - Hades atualizar-se como
símbolo da criança divina, como filho sacrificial, redentor das criaturas humanas,
provedor e protetor, o que morre e renasce num processo de eterna renovação. Dioniso
2 Para mais detalhes sobre Dioniso, consulte o capítulo referente a este divino.
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Zagreu é o divino mais humano já concebido. Assim o Zeus-ctônio-Hades, depois de
realizar sua melhor expressão de anima, concebe com ela própria a expressão máxima
da possibilidade de humanização.
Interessante pensar Hades como pai de Dioniso Zagreu, o mais humano dos
divinos, expressão plena do ciclo completo da vida, o que nasce, morre e renasce:
Hades, o divino que mais explicitamente não suporta a dor física, nem suporta a finitude
da vida, tem no filho seu par, duplo complementar, o que morre por despedaçamento,
renascendo para o novo tempo, símbolo de eterna renovação. Pai e filho, Hades e
Dioniso retratam antinomias e complementaridades, mesmo porque Dioniso é o corpo
que Hades não pode ser (Baptista, 2007). Hades-Zeus-ctônio, sempre leal e fiel a sua
anima, é o amante-amado e o próprio filho gerado: é a expressão do símbolo da
transformação. Walter F. Otto, em seu texto Dioniso, Mito y Culto (2006B), citando
Heráclito, relata que “Para el que brinca furioso, Hades y Dioniso son una misma
coisa. Dioniso es para él El dios de La locura salvaje, de La actividad de lãs
y de las , emparentadas con aquéllas. Y declara que este dios es el
propio Hades”. (pg. 88).
.
***
Hades deixou os ínferos por duas vezes: da primeira para raptar Coré,
simbolicamente sua anima, com quem estabeleceu núpcias no recôndito dos ínferos,
numa condição profunda de busca de alma; deixou os ínferos para conquistar a
completude. Sua primeira saída traduz a demanda do Self por estabelecer a coniunctio
oppositorum, sem o que transformação alguma pode ocorrer.
Da segunda vez Hades deixou os ínferos em decorrência do ferimento
sofrido em luta mantida com Héracles. O herói, a mando do primo Euristeu, no
cumprimento de suas tarefas purificadoras do crime cometido, e sob a égide de Hera,
deveria capturar o cão Cérbero e levá-lo para Micenas. Hades se opôs tenazmente. No
embate teve seu ombro direito ferido por flecha envenenada pela peçonha da Hidra de
Lerna. A dor foi tão grande que o senhor dos ínferos, incontinente, buscou Apolo no
sentido de ter sua ferida curada. E assim se deu: os serviços de Peã, epíteto de Apolo,
resultaram em alívio imediato, tão logo o bálsamo foi aplicado (Brandão-1991, p.476).
Interessante atentar para o fato de que o deus dos mortos não suporta a sensação da dor,
tão comum aos vivos, sensação essa que concorre para a estruturação da consciência
corporal. A dor talvez seja um dos primeiros veículos mobilizadores para se fazer (criar)
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consciência, por sua instância corporal, consciência que estrutura ego Os imortais
expressam a possibilidade dessas realidades primordiais, modelos de representação no
mundo, tornarem-se símbolos estruturantes da psique (Alvarenga: 1995). Esses
símbolos passam a forjar consciência coagulando o núcleo complexo egóico. Estímulos
e mobilizações relacionais são elementos propiciatórios para a emergência de símbolos
estruturantes da consciência (Byington: 1983).
Diante da sensação dolorosa, o primeiro movimento de todos os seres vivos
é evitá-la. O ser humano como os demais seres vivos fogem da causa da dor, encolhem-
se, escondem-se: sofrer a dor sempre causa desconforto desagradável. E, quanto mais
encolhido o ser permanece mais fica com a dor, e constata (toma consciência de) o que
dói, porque dói, onde dói. O encolhimento e/ou recolhimento do corpo propicia ao ser
humano a possibilidade de contatar mais profundamente com o próprio corpo (quando a
dor é física) e refletir sobre o fenômeno. Quando se depara com as dores da alma, o
recolhimento ocorre mais comumente com os introvertidos.
Na criança, quando a dor surge, o corpo se agita e, o choro vem
desesperado. No meu entender esta situação -sofrer a dor- representa uma das primeiras
condições que configura a solidão do abandono para o humano, se a mesma for vivida
sem a continência do colo que aconchega e estabelece o contorno, o limite do corpo. A
condição de conviver com o sofrimento, enquanto realidade da existência, estabelece os
primórdios da consciência patriarcal. O feto, o contido, e o continente –útero, bolsa
amniótica, placenta- são uma só realidade. O tempo-espaço do inconsciente está
configurado nessa condição primordial. O nascimento impõe a retirada desse paraíso
urobórico. A necessidade de nascer, já presente, irrompe como demanda e o primeiro
lampejo de consciência discriminadora ocorre e a realidade tempo-espaço até então
circular torna-se linear. À primeira inspiração contrapõe-se o grito, o choro do
nascimento. O primeiro berro é como: venci o desafio, nasci, e ao mesmo tempo: que
dor!
A consciência do tempo linear parece vir associada à consciência corporal.
O tempo do inconsciente é circular como também é circular, simbolicamente, o tempo
do mito. Podemos pensar que a primeira consciência do tempo como uma realidade
indefinida, como se interminável; e nessa condição, o sofrimento terá a conotação da
insuportabilidade, talvez similar à configuração simbólica retratada no mito de Hades. A
criança atendida e contida pelos braços/colo da mãe, contato físico amoroso que dá
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limite, continência ao corpo, compõe a dor como realidade finita e o sofrer
compartilhado e contido é muito mais suportável.
Os divinos são expressões simbólicas de grandes emoções, criatividade,
idéias, modelos de realização, mas, em si mesmos, são tão somente imagens
arquetípicas. O divino (o arquétipo) precisa humanizar-se, ou seja, estruturar
consciência reflexiva para se saber: fazer-se humano é criar consciência, consciência de
si mesmo. A dor, sendo um símbolo estruturante, ao ser sentida concorre para a
realização dessa tarefa.
Hades, imagem arquetípica, retrata neste mitologema, como a estruturação
simbólica da consciência pode ser vivida como dor insuportável. A dor física, quando
não contida, não assistida, configura abandono. O contato com a dor faz emergir a
demanda pela finitude, pela morte, concreta ou simbólica. O ferimento de Hades3,
causado pela flecha envenenada, é em tudo similar ao ferimento de Quíron, também
causado por Héracles, ferimento esse que provocaria a morte para os seres mortais. Em
sendo Quíron e Hades imortais, a morte não pode ocorrer com o que o sofrimento torna-
se interminável, parte integrante da eternidade, sem possibilidade de ser transformado4
O sofrimento, qualquer que seja, permanece como condição de ser
insuportável se o mesmo se mantiver eternamente alheio à própria identidade, como
corpo estranho. A dor, o sofrimento, o pathos, deixa de ser insuportável quando pode
ser elaborado e, na condição de símbolo estruturante, passa a compor a identidade,
transformando-se em realidade integrante da totalidade do indivíduo. A dor se torna
suportável quando, pela transformação, se faz símbolo estruturante da própria
identidade. Assim entendido, a individuação implica integrar as próprias
insuportabilidades.
3 O momento mítico referente ao ferimento, dor insuportável de Hades, fornece uma correlação simbólica importante. A ferida de morte, na divindade guardiã da morte, não pode durar para sempre. Precisa ser curada e o curador escolhido é Apolo, a divindade da racionalidade, da discriminação, da justa medida. O mito revela o quão importante é experimentar a consciência da morte, pela via dolorosa, porém dentro dos “limites” – apolíneos- suportáveis de dor. Permanecer com a consciência constante da morte é incompatível com o processo de vida-morte-vida, representado pelo casal Hades/Perséfone. O mitologema aponta para a possibilidade de transformar a ferida portadora da insuportabilidade da dor, via logos, via distanciamento racional. (Cordeiro,2007)4 Hades não determina quem deve ou não morrer; quem o faz são as Trias ou as Moiras. Por ser o deus imortal que reina no campo das mortes, e traz para os que lá vão a confirmação da dimensão de finitude, a vivência física da dor, o entrar em contato direto com o penar, com o sofrimento material, Hades precisa dessa “vivência” para poder de fato se realizar como regente dos ínferos. O mitologema poderia traduzir, assim, a necessidade premente da experiência da dor, e sua consciência, para a compreensão do fenômeno da morte e da vida. (Baptista, 2007).
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Entendemos, portanto, porque Quíron, instrutor, mentor de heróis, precisa
ser mortal para saber como integrar a dor sem curá-la. A dor não se cura, mas se
transforma em símbolo estruturante, pois, ao integrar a mortalidade, a finitude, gera para
as criaturas consciência de ser. A geração de consciência não se dá, todavia, sem morte.
Humanizar é sinônimo de tornar-se mortal. A geração de consciência somente se faz
com as incontáveis Mortes simbólicas vividas. Assim entendido, podemos afirmar ser o
autoconhecimento, condição para se estabelecer a consciência profunda de si mesmo,
portanto, de caráter reflexivo, configura realidade de difícil suportabilidade. É
necessário aprender a morrer para poder transformar as inúmeras dores de alma!
O divino Hades parece representar a expressão arquetípica menos afeita à
humanização pelos caminhos da sensorialidade. A regência de Hades acentua a
introversão, o ensimesmamento, o recolhimento. O coletivo qualifica o humano,
portador dessa regência, como esquisito ou estranho.
Hades, em sendo uma tipologia INTP, com características da
incorporeidade, introvertido, com funções intuitiva e pensamento, expressa o universo
da reflexão subjetiva, ideativa, sem respaldo sensorial. Todo e qualquer estímulo vindo
pelo caminho da sensação ou do corpo, causará profundo desconforto.
***A catábase, ou descida aos ínferos, é tarefa relevante nos mitos de heróis,
seja em Homero, Hesíodo, Virgílio, entre os cavaleiros de Arthur, bem como na vida
dos grandes avatares. Quem quer que adentre o reino das profundezas haverá de morrer
e renascer simbolicamente para um tempo novo. Quem desce aos ínferos nunca mais
retorna, pois o que volta é outro ser, é o renascido. Nos mitos de heróis encontramos
vários relatos que constituem mitologemas de regressus ad uterus. Na mítica greco-
romana, todas as figuras heróicas e divinas que fizeram sua passagem pelo mundo dos
ínferos, reino de Hades e Perséfone, estabeleceram com os regentes relações interativas
propiciadoras de transformações para as suas personalidades tanto dos que lá
adentraram como para os que foram seus anfitriões.
Héracles por duas vezes esteve nos ínferos: da primeira vez para resgatar
Alceste e da segunda para capturar Cérbero. Teseu lá esteve também, sem contar que
anteriormente passara pela prova do labirinto. Orfeu desceu ao reino de Hades e
Perséfone com o intuito de trazer Eurídice de volta. Psiquê, após orientar-se com a
Torre, desceu aos ínferos, cumprindo tarefa imposta por Afrodite. Deveria entrar e
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retornar do reino dos Ínferos com o ungüento da beleza e entregá-lo à poderosa deusa da
beleza e da vida. Ulisses, a conselho de Circe, fez sua catábase ao reino dos mortos em
pleno oceano, à procura de Tirésias, para que o mesmo lhe revelasse o caminho de
retorno a Ítaca. Enéas, de quem Virgílio (1955, 176) cantou os feitos heróicos, desceu
aos ínferos, na companhia da sacerdotisa Sibila, indo ao encontro do pai, Anquises, de
quem recebeu instruções e revelações sobre seu futuro, sua descendência e seu povo.
Para melhor entender as razões outras que levaram essas personagens
míticas às suas catábases, faremos a leitura simbólica de alguns desses mitologemas.
Alceste (Eurípedes, 1993), quando resgatada da Morte pela intercessão de
Héracles, retornou dos Ínferos mais jovem e mais bela, manifestação essa que configura
um enigma. E, como entender simbolicamente o fenômeno?
Admeto, rei de Feres, apaixonou-se por Alceste, a mais bela das filhas de
Pélias, rei de Iolco. Para conseguir tê-la como esposa, precisaria vencer difícil prova
imposta pelo futuro sogro, apresentando-se à corte de Iolco num carro puxado por
parelha de animais, um leão e um javali: expressão do antagonismo. Com a ajuda de
Apolo, conseguiu o intento. O casamento foi uma união de amor e modelo de ternura
conjugal. Mas, Admeto há muito fora escolhido pelas Queres para deixar esta vida.
Apolo intercedeu junto às Moiras e conseguiu delas a promessa de Admeto continuar a
viver, desde que encontrasse um substituto para morrer em seu lugar. Como ninguém,
nem mesmo os pais do jovem rei, aceitassem tão grande sacrifício, Alceste, sua esposa,
se ofereceu para o intento e assim se deu. Héracles, em suas viagens no cumprimento de
suas tarefas, hospeda-se em casa de Admeto. Estranha a trisreza reinante no reino
quando toma conhecimento do luto do rei. Héracles dirige-se ao túmulo onde a rainha
fora enterrada e, após dura peleja com Tânatos, a Morte, resgata Alceste do infausto
destino e a traz de volta à vida. E, ao regressar a rainha retorna mais jovem e mais bela
que nunca. O amor de Alceste por Admeto era tão intenso que viabilizou o sacrifício; a
rainha podia abdicar de viver sua própria vida uma vez que experimentara a
transformação em si mesma, decorrência de seu casamento profundo com seu animus.
A juventude e a beleza de Alceste, acentuadas após o regresso dos ínferos,
configuram paradoxo que a morte por Amor, simbólica ou concreta, confere. Ao
entregar-se ao morrer sacrificial, por amor ao amado, e retornar à vida, resgatada pelo
amor do amigo, Alceste tornou-se iluminada, restaurada, apaziguada, porquanto o
morrer por Amor confere juventude e beleza. Relata-se ter sido Perséfone que,
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impressionada com o amor e devotamento de Alceste, aceitou mandá-la de volta à luz
do sol (Brandão, 1991:47). Após o regresso, Alceste retornou transformada, certamente,
pela vivência da Morte.
Como compreender a atitude de Alceste imolando-se pelo amado e a atitude
de Admeto aceitando o sacrifício da amada? Morrer pelo outro retrata uma realidade
sacrificial com poucos paralelos na mítica ou mesmo na história do mundo. A melhor
comparação simbólica pode ser encontrada no mito de Cristo, morrendo pela redenção
dos homens e mulheres. Ifigênia aceitou o sacrifício de morrer por um ideal, pela
pátria, pela honra do pai. O sacrifício por amor confere competência para renascer. A
Vida passa a ser retratada pelo complexo nascer-morrer. A morte sacrificial confere
eternidade!
Certamente que, assim como Perséfone, Hades comoveu-se com o amor e
devotamento de Alceste. Mesmo porque, o divino regente já há muito “devota” á
Perséfone tal padrão de amor irrestrito. Somos levados a pensar que esse seja um
mitologema que tenha em muito contribuído para o processo de humanização de Hades:
o contato com a humana capaz de viver um amor tão divino quanto o seu e que
incorpora o morrer como condição de se tornar divina.
Psiquê, a jovem amante de Eros desceu aos ínferos e conseguiu que a rainha
Perséfone lhe entregasse a caixinha com o ungüento da beleza, que deveria ser levado a
Afrodite. De posse do creme, Psiquê, pela primeira vez no mito, desejou a beleza;
desejou-a tão ardentemente que superou sua necessidade de recuperar Eros. Psiquê
desejou para si a integração, no campo da consciência, do símbolo beleza como
realidade fundamental de sua psique. Ao desejar saber-se, desejar conhecer-se, quis para
si o ungüento, com o que pagaria com a própria vida; entretanto, saber-se era mais
importante. Psiquê morre pela descoberta de si-mesma
Podemos pensar que a busca do autoconhecimento, experimentada por
Psiquê, implica sincronicamente a morte simbólica ou concreta. Psiquê, após saber-se
humanamente bela, experimenta a morte simbólica, para renascer transformada pela
intercessão e interação com seu animus – amante. Deixa de ter um Eros para ser com
Eros. Psiquê pode se ocupar de si mesma quando desvencilha-se das viciosidades de seu
jeito de ser, ou seja, estar a serviço do que o outro espera que ela faça e não a serviço de
seu próprio processo. Estar em função de seu próprio processo implica fazer escolhas
que a piedade ilícita não permite.
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Psiqué é a temperança do feminino da busca de si mesma pela coniunctio
com o animus, com o que a integração de símbolos indispensáveis à coniunctio com o
si-mesmo se faz. Hades “sabe” como a coniunctio com a anima se realiza, mas a
coniunctio que implica o morrer para o referencial estabelecido pelo outro para renascer
para o referencial estabelecido por/com o si-mesmo, se revela em Psiqué.
Orfeu. O herói, depois de longa viagem ao reino de Eetes, na Cólquida,
compondo a tripulação da nau Argos, comandada por Jasão, retornou a sua casa e, para
seu desespero, encontrou a esposa Eurídice morta, picada por uma serpente quando
perseguida por Aristeu. Orfeu sem Eurídice se sente perdido de si mesmo e decide
descer aos ínferos para resgatá-la do reino dos mortos.
A viagem de Orfeu ao reino do Hades representa episódio iniciático de seu
processo de individuação. Orfeu canta e encanta a todos quantos o ouvem; toca sua lira
com a competência de mestre, filho do divino Apolo, deus da música, da arte, da
medicina e da cura. De outra parte, Apolo é o deus da ordem, da lei, da justiça, da visão
solar. Orfeu pode ser considerado como um duplo simbólico de Apolo. Inflado, talvez,
pelo poder de sua arte, e tendo comovido tanto a Perséfone quanto a Hades com sua
música, melodia, paixão, Orfeu acabou por conseguir o retorno de Eurídice. Havia,
porém, uma interdição: não olhar para trás, não ficar no passado, e, assim se dando,
retornar permeado pela transformação ritualística. Orfeu já era casado com Eurídice. Ao
tentar resgatá-la do reino da morte, resgatava a si mesmo, porquanto transformado pela
coniunctio simbólica com a anima. Mas, Orfeu titubeou, suas dúvidas o fizeram olhar
para trás e sua anima Eurídice se perdeu no reino da morte.
Talvez, tomado pela inflação egóica, Orfeu não conseguiu sua coniunctio
com a anima. Sua juventude não lhe conferiu suficiente competência para tão grande
desafio, e, assim, não pode desfrutar do presente que o Self lhe oferecia. O desespero
tomou conta de nosso herói. Orfeu não estava pronto! Ao descer para reunir-se a sua
contraparte de alma, na realidade desejou a Eurídice do passado, enquanto Hades e
Perséfone propiciavam-lhe sua coniunctio com anima! Por não estar pronto, sabia
porém não tinha consciência de precisar de sua alma-anima-companheira enquanto
símbolo estruturante de sua psique. O presente que o Self lhe oferecia era a
manifestação do símbolo anima. Orfeu-ego desejava o retorno da mulher amada, insiste
em ter Eurídice, mas as portas dos ínferos estavam-lhe fechadas. O herói retorna
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derrotado e não mais tocou sua lira, não mais cantou, desdenhou Afrodite, e deprimiu.
Orfeu perdeu-se de si mesmo.
Mas, assim conta o mito, Orfeu não desiste. Sua busca continua e seu
encontro e coniuctio consigo mesmo se dará pela busca da Sabedoria Profunda, busca
pelo Conhecimento, pelo religar-se pela via do logos espiritual. Orfeu instituiu os
Mistérios Órficos dando início à teologia do orfismo cuja idéia principal é a expiação
das próprias culpas e faltas, assim como a aceitação da responsabilidade individual
pelos atos cometidos e da crença na vida pós-morte (Coelho-2004). O herói do tempo
novo ousou fazer perguntas e buscar respostas que somente ele poderia responder.
Orfeu se individua pelo logos espiritual, quando busca o divino em si mesmo. O Eros
da relação carnal, material, concreta com seu grande amor Eurídice, transforma-se no
amor de Ágape sagrado com Sofia (Souza, 2007). Dessa forma pôde novamente reunir-
se a si mesmo. Foi preciso que Orfeu experimentasse a morte simbólica com o que
estabeleceu a coniunctio consigo mesmo para reencontrar-se com Eurídice e voltar a
cantar a Vida.
Orfeu representa a possibilidade de se fazer a incursão pelo reino dos
ínferos, como primeira busca da morte simbólica. Essa condição primeira é necessária à
transformação da psique, tornando viável a integração anímica do Outro conjugado ao
Eu como centro da consciência, pela regência de Eros. A morte literal de Eurídice fez
Orfeu buscá-la no reino de Hades e Perséfone. Por não estar pronto para a integração,
perdeu-se de sua anima e, podemos dizer, permaneceu no passado. O herói configurado
por Orfeu não desiste e enceta nova busca de coniunctio com a anima, dessa vez pelos
caminhos do logos spiritual quando então consegue seu encontro com a Sabedoria
Profunda, que permite sua coniunctio com a anima Sofia. Podemos depreender o quanto
a temperança titânica presente nos humanos, filhos do corpo devorado de Dioniso,
mobiliza Hades e o leva a desejar trilhar os caminhos de humanização.
Ulisses desceu aos ínferos, à procura de Tirésias, para descobrir que as
respostas às suas próprias questões estavam em si mesmo. O vidente tebano, ao lhe
responder:- Andas em busca do doce regresso, Odisseu preclaríssimo... mas apesar dos
trabalhos, à pátria hás de ir ter se conseguires refrear tua cobiça e a de teus
companheiros... (Homero, Odisséia, XI: 100-105), estava certamente recordando ao
herói a necessidade de render-se às demandas que o conclamavam para reassumir seu
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papel e lugar de servir ao coletivo – reino, súditos, governo, etc. – bem como o
direcionavam para as relações que humanizam – esposa, filho, pais. Somente com esse
feito Ulisses conseguiria experimentar a transformação – refrear a cobiça. Interessante
atentar para o alerta de Tirésias que anuncia o quanto o descomedimento perverso do Eu
nos afasta do caminho da individuação. A viagem ao reino da morte configura aquisição
de autoconhecimento. Para Jung (1990: OC, XIV-2 § 398), O autoconhecimento é uma
aventura que conduz a amplidões e profundezas inesperadas. A presença de Ulisses no
reino dos Ínferos também convida Hades a essa que seria a maior de todas as aventuras:
aquisição do autoconhecimento.
Teseu, o herói da democracia, desceu ao reino dos Ínferos para raptar
Perséfone, levando consigo o companheiro Piritoo. A hybris ou descomedimento, ou
ultrapassagem da medida de Teseu, o fez prisioneiro ao macular sua condição mítica de
transformador do coletivo quando, para satisfazer a própria inflação, desejou possuir,
entre tantas mulheres conquistadas e abandonadas, a própria rainha das profundezas.
Teseu se desviou da aventura do autoconhecimento, perdendo-se de si mesmo ao seguir
em busca da glória. Ficou aprisionado no Hades e só conseguiu deixar o reino dos
ínferos por conta da intercessão de Héracles, que de lá o arrancou, porquanto estava
preso a uma pedra. Teseu não experimentou transformação suficiente em suas duas
catábases - aos ínferos e ao labirinto - para completar seu rito de passagem e adquirir
competência para seu novo nascimento simbólico. O mito de Teseu nos ensina que não
basta sofrer para que a transformação da alma ocorra. É necessário compreender o
processo vivido, encontrar o sentido do sofrimento e, acima de tudo, saber que: “Tudo
tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu"
(Eclesiastes: 3,1)
Teseu representa a inflação da psique -mecanismo de defesa- quando, então,
o centro da consciência se vê invadido pelo complexo autônomo e o Ego torna-se mero
espectador. A hibrys do grande herói democratizador de Atenas foi drasticamente
castigada por Hades. Permanecendo prisioneiro no reino dos Ínferos, de lá não teria
saído não fora a intervenção de Héracles que do assento o arrancou.
Hades deslumbrou-se com a tenacidade de Psiqué e com o desprendimento
de Alceste, comoveu-se com a arte de Orfeu, surpreendeu-se com a humildade de
Ulisses; no entanto, na presença da hybris de Teseu exerceu-se com presteza, refreando
o descomedimento do herói. Hades está aberto ao “diálogo”, mas não se perde de seu
centro.
13
Hades, o que estabeleceu núpcias com Coré, por amor, caminha pelo
processo de humanização, conduzido pelas demandas de seus heróis visitantes,
demandas essas que o impregnam e compõem sua personalidade, levando o regente dos
ínferos a desejar cumprir seu caminho de humanização, o que pressupõe enfrentar o
desafio da morte..
***
Quando no jogo da Vida, o herói acessa o reino da Morte, recebe do Self a
certeza do vir a ser inédito. Ao retornar de sua catábase, experimenta um novo
nascimento traduzido pela juventude e beleza restauradas, alegria e senso de renovação
e, paradoxalmente, a certeza de ter-se tornado mais velho. Aquele que faz a viagem
nunca retorna, pois o que volta é sempre o transformado. E, como diz Eliade (1994:49),
descer aos infernos é percorrer um labirinto, é descer ao interior da terra para depois
sair com sabedoria e com o corpo passível de se tornar imortal.
Que simboliza esse novo nascimento?
Hades, senhor dos Ínferos, é o propiciador da realização dessas demandas.
Em seu reino, heróis e heroínas experimentam vivências possíveis tão somente nesse
tempo e local. Não há como propiciar tais transformações sem ser também por elas
transformado. A descida ao reino de Hades é condição precípua de busca de
conhecimento e estruturação das instâncias da identidade, sem o que o processo de
individuação não se realiza.
A descida aos ínferos configura rito de passagem e de iniciação. O ritual é
condição fundamental para a aceitação da morte simbólica sem o que o renascimento
para a nova vida não acontece. A morte iniciática é condição indispensável às demandas
da plenitude do processo de humanização.
Humanizar implica incorporar a condição do morrer, ponto crucial quando a
meta é alcançar o autoconhecimento. Humanizar é tornar-se um ser reflexivo. Pelo
processo reflexivo a dinâmica do Coração se estabelece, a consciência de si mesmo se
faz, o religar-se com o Self torna-se o ômega da criatura humana.
***
Descida aos Ínferos e a Busca do Conhecimento.
14
Os ritos iniciáticos implicam sempre, como já dissemos, atividades pelas
quais o indivíduo se propõe adentrar uma compreensão nova, um tempo inédito de sua
vida, ou um conhecimento de fatos e realidades que até então não lhe haviam sido
permitidos. A busca do conhecimento constitui-se como demanda arquetípica em todos
nós. Buscar-se, procurar saber-se, é realidade imperiosa que a todos impulsiona. A
aquisição do conhecimento no sentido de sabermos quais são os grãos que nos
constituem decorre da constatação do fato de que necessitamos do outro para nos
sabermos, precisamos nos comparar com outros. E tal comparação nos remete de volta
a nós mesmos.
Segundo Kant (1975:51), conhecer é, em última instância, buscar saber a
essência de algo: para realizar o feito no sentido de conhecer a coisa ou o objeto, haverá
sempre a necessidade de o indivíduo comparar essa coisa com seus valores, num
processo de aferição, ou seja, a coisa, ou o objeto, ou o dado, conjuga-se com um
pressuposto seu, sem o que talvez nem se aperceba do objeto ou dado. Dito de outra
forma, se não houver um pressuposto do sujeito (referência), o dado se apresenta e não
é reconhecido e muitas vezes nem é sequer visto. Quando o pressuposto existe no
sujeito, o conhecimento acontece. O autoconhecimento pressupõe um dado, que é a
própria pessoa que busca o autoconhecimento, e um pressuposto, também da própria
pessoa.
Se o sujeito se perguntar qual o pressuposto que o faz reconhecer-se, saber-
se, descobrir-se, só poderá pensar o pressuposto como uma realidade arquetípica,
inerente à sua totalidade, portanto realidade do Self. O Self contém desde sempre o
pressuposto de si próprio que o leva a se buscar.
Essa condição de pressuposto em busca do dado e do dado que busca o
pressuposto se expressa para a consciência sempre como um processo interacional para
todo reclamo de conhecimento. Essas realidades simbólicas são expressões do reclamo
de conhecimento e estão presentes, como sempre estiveram, na totalidade do Self.
Dentre as buscas de comparações, algumas se sobressaem. São aquelas que
dizem de tudo quanto temos em comum com o outro, com a humanidade; compõem-se
de vivências, demandas, desejos, sentimentos e expectativas que muitas vezes supomos
serem profundamente individuais, ímpares. O tempo e a vida fazem-nos constatar serem
essas vivências parte da condição humana, pertencentes a todos. E assim entramos em
contato com as realidades do universo coletivo.
15
A busca do conhecimento conduz necessariamente ao confronto com a
finitude. Saber-se humano significa saber-se finito, perecível, mortal. Conquistar o
conhecimento será lidar com o limite do que é acessível à consciência.
A instauração de consciência, que nos define como humanos, define
também o limite: limite de tempo, limite do conhecer e do que pode ser conhecido,
limite do tempo de vida, limite do que pode ser alcançado, almejado, atingido, limite de
velocidade, limite de resistência. Tudo que diz respeito ao ser humano implica limite.
Mortalidade e humanidade são realidades inseparáveis da condição de se
adquirir consciência. Assim, a individuação como processo implica também aprender a
lidar com o limite do Eu uma vez que o Outro passará a compor o centro da consciência
numa condição de coniunctio: Eu – Outro.
Retomando a condição do conhecer como um processo de interação entre o
dado e o pressuposto, a conjunção Eu – Outro determina o Eu como portador do
pressuposto e o Outro como sendo o dado; porém concomitantemente teremos sempre o
fato de que, na perspectiva do Outro, a base do pressuposto será o Outro e o Eu ficará
como sendo o dado. Dessa forma Eu e Outro se aferem como dados de seus
pressupostos e se devolvem um ao outro como conhecimento.
Dentre as realidades que cada qual tem em comum com o Outro ou com a
humanidade, facilmente se descobre e facilmente se aceita que o Outro seja similar ao
Eu. Se o processo assim se dá, o que se descobre em si (e que concomitantemente é o
Outro ou no Outro) passa a traduzir o certo ou a verdade para si mesmo e também para
o Outro. Nessas aferições cada qual descobre as paridades, as semelhanças e as
identidades, ou seja, o Eu é como o Outro.
O grande problema ocorre quando se constata que o Outro, ou seja, o dado,
não se conjuga com nenhum dos próprios pressupostos: o Outro é um desconhecido,
estranho, diferente. E, mais, o Outro também vê o Eu, sente ou o toma como algo
insólito, diferente, etc. Esse é o momento que não se tem irmandade com ninguém,
momento em que se é o dado de si mesmo e o pressuposto em si é o próprio Self. Só
ele, Self, sabe e pode dar testemunho de si, da própria imparidade, das individualidades.
Dessa forma, o processo de individuação passará a ser a possibilidade de conjugar as
paridades e imparidades.
O processo de individuação como a busca imprescindível do conhecimento
de si e do outro implicará sempre lidar com o limite da vida, do tempo da existência,
limite de vitalidade, da suportabilidade da dor, da fome, da sede, do sono, limite do Eu,
16
que é imposto pela constelação do Outro no campo da consciência – limite de alcance
de conhecimento. o conseguimento de conhecimento. A mesma consciência que nos faz
saber dos limites, das finitudes, do perecível, do mortal, do humano, nos faz também
buscar incansavelmente tudo quanto é complementar, ou a polaridade oposta, ou seja,
buscar o ilimitado, o imperecível, o imortal, o divino, o eterno.
Como entender essa demanda de busca da realidade complementar do
conhecimento, senão como uma realidade intrínseca da própria natureza humana, ou
seja, como um fenômeno arquetípico? Com efeito, buscar saber do oposto, do
complementar, da antítese, só pode ser entendido como uma condição arquetípica.
A busca do conhecimento comporta duas vertentes: a primeira busca o
mundo, as relações, a aquisição de informações, a realização de tecnologia e tantas
outras; a segunda busca a subjetividade, a introspecção, as questões das razões do existir
e do sentido da vida, condição que depende do contato ou da atualização da regência de
Hades. Esta última vertente de busca se depara, com freqüência, com sentimentos ou
vivências subjetivas estranhas, como ter saudade do não vivido, saudade daquilo que
não conhecemos.
Talvez a saudade do não conhecido seja uma expressão da própria demanda
arquetípica, demanda do ainda por se fazer. Essa demanda, ao ser decodificada pela
consciência, poderá se traduzir como imagens arquetípicas experimentadas pela
consciência como o já vivido, apesar de ser tão somente uma realidade virtual.. E, então,
sentimos saudade de uma totalidade que sempre esteve em nós somente como realidade
arquetípica, como se a mesma já tivesse sido realidade existencial.
A descida aos ínferos, descrita no item dos heróis que adentram o Hades,
numa condição de retorno ad uterus, traduz a condição simbólica de busca do
autoconhecimento. Para buscar-se há que morrer. Sem a vivência simbólica da morte
não haverá possibilidade do renascer para o tempo novo, para a consciência
transformada, para a compreensão inédita de polaridades que se conjugam como
realidades até então paradoxais para os padrões de consciência linear. A morte
simbólica do tempo da consciência patriarcal viabiliza conjugar em si mesmo o humano
e o divino, a criatura e o criador, a consciência e o inconsciente, o efêmero e o eterno e
tantas outras polaridades tidas até então como excludentes.
***
***
17
Descida aos Ínferos, Confronto com a Sombra e o Novo Nascimento.
A descida aos ínferos como vivência de morte, pode significar também
confronto com a sombra, como instância que contém as polaridades simbólicas
afastadas do campo da consciência e, portanto, impossibilitadas de forjar identidade,
bem como a sombra enquanto aquilo que nos é desconhecido. A transformação causada
pela morte é a mais dolorosa, pois o iniciado ao retornar dos ínferos, necessita compor
seu centro da consciência, cerne da individualidade, com o desconhecido. O Outro, o
grande desconhecido, será a polaridade eternamente complementar e eternamente de
oposição. Ter o Outro no centro da consciência implica manter-se no constante desafio
de estar na aferição de dados que não têm pressupostos no Eu, mas são dados que
reclamam a atualização dos pressupostos. Podemos pensar que os dados insólitos, do
grande desconhecido, mobilizam demandas de pressupostos para a estrutura do Eu.
Num primeiro momento, o Eu se espanta, se assusta diante do desconhecido, mas, ao
trocar referenciais com o Outro, constrói pressupostos e se espanta com as próprias
descobertas
Essa competência de se fazer pressuposto, contando com o referencial do
Outro, confere sabedoria e ao mesmo tempo configura o sofrimento da perda do poder,
o poder de se manter como centro da psique, da consciência, para passar a dividi-lo com
o Outro. A aquisição do autoconhecimento decorre do sofrimento experimentado pela
vivência da Morte simbólica e composição do novo centro da consciência com o Outro.
A vivência de morte é veículo poderoso de integração simbólica.
***
Hades e a Originalidade dos Castigos
Hades é o regente dos processos de transformação da psique, porquanto é o
Senhor da Morte, realidade suprema da condição de ser a transformação da psique uma
vivência simbólica de morrer. A par disso, a vivência de morte propicia a integração de
símbolos estruturantes ao complexo do ego, os quais são, em última instãncia,
elementos fundamentais do autoconhecimento.
Somos levados a pensar que todas as figuras míticas sofredoras de castigos
explícitos vividos no mundo de Hades são expressões simbólicas da recusa ao auto
conhecer-se. A meta do processo de individuação é tornar-se a plenitude da expressão
da imparidade do si-mesmo, o que, para tanto, implica humanizar seu genoma
18
arquetípico. A humanização demanda a consciência de nossa instância perecível,
mortal, finita, ou seja, humanizar implica incluir no campo da consciência e na estrutura
do complexo egóico a condição da morte.
No processo de evolução estrutural dois grandes fatos são apontados como
marcos fundamentais de transformação; o desenvolvimento da reprodução
sexuada e o surgimento da consciência (mente)(JACOB-1983,22 & BATESON-
1986).
A sexualidade parece ter aparecido muito cedo no universo. Recorrer ã
sexualidade para reprodução implica ampliar gigantescamente o código genético
que deixa de ser propriedade exclusiva de uma linhagem. O código passa a
pertencer ao coletivo (JACOB-1983, 22). A sexualidade obriga a examinar
possibilidades de combinação genética que, necessariamente, leva a mudanças. A
sexualidade por abrigar, em si mesma, a possibilidade de combinação genética,
gera um fator evolutivo estruturante do sistema, associando-se a um
acontecimento ímpar, qual seja, a morte: não a morte como acidente, mas a morte
imposta pelo próprio programa genético (JACOB-1970,22).
Não aceitar a morte significaria, pois, ceder à tentação da polaridade divina,
imortal, da eterna juventude, da ilusão da eternidade. Recusar-se a viver os processos
do morrer implica trair o processo de individuação.
Sísifo, rei de Corinto, é a imagem arquetípica daquele que ludibria a morte.
Conta o mito que Sísifo, conforme relata Junito Brandão, é tido como o mais astuto e
inescrupuloso dos mortais. Um dia, Sísifo viu Zeus raptar a filha de Ásopo, o deus-rio.
De posse da informação, negociou com Ásopo a criação de uma fonte de água doce em
suas terras e revelou ao pai da jovem a identidade do raptor. Zeus, para castigar Sísifo,
enviou-lhe Tânatos. O astuto rei de Corinto enganou a Morte de tal forma, que
conseguiu prendê-la. Assim, as pessoas deixaram de morrer e Hades, rei dos ínferos,
reclamou. Zeus intimou que Tânatos fosse libertado, o qual imediatamente foi em busca
do astuto rei. Sísifo, sabendo que ia morrer, pediu à esposa para não lhe prestar as
honras fúnebres. Quando chegou aos ínferos, sem o revestimento próprio do ritual,
Hades perguntou-lhe o motivo. Sísifo, de forma astuta, culpou sua esposa e, à força de
súplicas, conseguiu permissão para voltar dos ínferos e exigir as honras a que tinha
direito. Mas, Sísifo não cumpriu o trato, não regressou aos ínferos e permaneceu na
Terra até idade avançada. Um dia, contudo, Tânatos veio buscá-lo em definitivo e o
19
castigo se deu: foi condenado a rolar montanha acima um bloco de pedra, que em
função do próprio peso, sempre o obrigava a retornar, pois a pedra rolava montanha
abaixo. Sísifo, então, recomeçava a tarefa, que haveria de durar para sempre.
O castigo infligido a Sísifo por Hades é a expressão da repetição obsessiva
de uma tarefa que não pode ser terminada; uma tarefa que eternamente se repete, sem
nada transformar; uma tarefa que não pode experimentar a condição do morrer. Assim,
não há como terminar um texto, não há como cumprir um acordo, acabar um trabalho.
A finalização de qualquer atividade/realidade implica a necessidade de morrer para um
tempo, para um trato, para uma função, para uma vida.
Quem não aceita a morte não experimenta a transformação; é como se
aquele que se recusa a morrer não se tornasse humano, perecível. Quem não faz o
caminho da humanização não cria consciência. Quem não se rende à Morte não conhece
a Vida. O castigo de Sísifo é também a configuração simbólica da psicopatologia do
transtorno obsessivo-compulsivo.
Outros tantos condenados encontramos nos ínferos suportando castigos
decorrentes de seus descomedimentos! Senão vejamos: Tântalo mantém-se eternamente
amarrado, sofrendo sede e fome em meio à água e alimentos. Sua hybris foi desafiar os
divinos testando a onisciência dos mesmos. Ao sacrificar o próprio filho Pélops para
fazer valer sua superbia, julgou-se possuidor do saber do iluminado. As Danaídes
lutam com seus tonéis sem nunca conseguir preenchê-los, no exercício obsessivo de
uma atividade que não pode ser terminada, como no exemplo de Sísifo. As Danaídes
recusaram-se a morrer, simbolicamente, ao assassinarem seus respectivos maridos na
noite de núpcias; não aceitaram viver a interdependência masculino/feminino,
recusaram-se a aceitar as demandas da instauração da dinâmica patriarcal. Hipermnestra
e Amímone não sofreram os castigos, pois ambas se tornaram expressões de um tempo
novo. Hipermnestra e Linceu darão origem a grandiosa família dos Pérsidas e Amímone
abranda a fúria de Posídon, possibilitando que os rios voltem a correr na região do
Peloponeso.
Todos os humanos, em algum momento de sua jornada, cometeram algum
desatino, ou de alguma forma ultrapassaram a medida do permitido. Assim posto,
podemos questionar sobre o porquê do fato de somente alguns terem sido castigados,
cada qual com uma penalidade ímpar.
Todos os castigados, ao se eximirem de sua condição humana ou por
pretenderem exercer-se exclusivamente por sua condição divina, permanecem nos
20
ínferos como mortos, impossibilitados de experimentar a gloriosa condição de poder
morrer a própria morte.
***
Dioniso nos Ínferos
Dioniso desceu aos ínferos para de lá arrancar o eidolon de sua mãe
Sêmele com o consentimento de Hades que pede algo em troca. Dioniso deu-lhe uma de
suas plantas favoritas, o mirto, que cobria a fonte dos iniciados nos mistérios
orgiásticos do filho de Sêmele (Brandão, 291, 1991). O mais humano de todos os
divinos desceu aos ínferos para resgatar Sêmele e com essa atitude podemos pensar na
incorporação de sua instância humana como decorrência do fato de ser também filho de
uma heroína. Hades e Dioniso se encontram, se confrontam e se respeitam.
Hades recebe o filho, seu duplo complementar e pelos caminhos dionisíacos
se definem seus processos arquetípicos de humanização. Hades foi presenteado com a
planta mirto, com o que podia ornar sua própria cabeça e participar dos rituais
dionisíacos orgiásticos incorporando a condição do morrer e renascer. O quarto regente,
expressão simbólica do próprio Hades realiza seu processo de humanização.
Dioniso, duplo ou a hipóstase mais humana de Zeus, representa a criança divina,
o filho sacrificial, redentor das criaturas humanas, provedor e protetor, que morre e
renasce num processo de eterna renovação. Com o nascimento de Dioniso o quatérnio
Urano-Crono-Zeus-Dioniso se completa. Dioniso é o quarto regente5, o mais humano
dos divinos, deus que morre e renasce. A inclusão da morte no sistema se fez.
Resumo: Hades é a expressão da possibilidade do recolhimento para a
elaboração simbólica, do ensimesmamento que gesta pelas funções intuitiva e
pensamento, a concepção de idéias e conceitos. É a expressão da metanóia, do
casamento interior, do encontro de si consigo mesmo, da integração de alma. Hades é a
atualização da consciência da finitude, do morrer como condição intrínseca do existir.
Representa a fidelidade a si mesmo. Como casal, Hades e Perséfone retratam os eternos
amantes um do outro. Como Zeus ctônio, gestou com Demeter sua anima: Coré. E com
ela gestou o filho Dioniso - Zagreu, hipóstase mais humana de Zeus-Hades e a
possibilidade de Zeus - Hades atualizar-se como símbolo da criança divina, filho
sacrificial, redentor, provedor e protetor. Seu processo de vida se faz no recôndito do
5 . Remeter ao capítulo de Dioniso
21
inconsciente, na reflexão, no ensimesmamento. Configura com sua esposa Perséfone o
casal de amantes, expressão máxima da relação anima-animus
Hades e sua tipologia: INTP: Pessoas com a tipologia de Hades, com o
pensamento introvertido apoiado pela intuição, são bons teóricos, estudiosos e
pensadores abstratos. A intuição lhes proporciona insights profundos. São curiosos,
intelectuais e vislumbram possibilidades além da lógica. Apresentam baixo limiar de
tolerância para com a rotina, porém adaptam-se à pesquisa e à busca intelectual.
Suportam muito pouco a rotina, mas adaptam-se à pesquisa e busca intelectual. Seu
maior interesse se concentra na análise e solução de problemas. São pessoas que
valorizam muito mais as teorias que os fatos considerados tão-somente evidências. Têm
certa dificuldade de comunicação e exigem de si mesmos respostas exatas e detalhadas.
São mentalmente rápidos, introspectivos e criativos. Como são intuitivos, têm seu
interesse centrado nas idéias que surgem, entretanto o julgamento se faz por meio do
pensamento, configurando um processo lógico dirigido a uma descoberta impessoal.
Quando as circunstâncias permitem, os introvertidos concentram a percepção e o
julgamento nas idéias, bem como trabalham melhor com a reflexão. Sua atitude
perceptiva confere-lhes a condição de simplesmente viver a vida, deixando que as
coisas aconteçam.
Myers propõe que, nos introvertidos, o processo dominante é igualmente
introvertido de forma que, ao necessitar que a atenção esteja voltada para o mundo
exterior, estes indivíduos tendem a usar o processo auxiliar. Os introvertidos cujo
processo dominante é perceptivo não agem exteriormente como pessoas perceptivas,
entretanto filtram a vida exterior a partir de uma atitude julgadora, uma vez que a
preferência JP diz respeito somente aos processos usados para lidar com o mundo
exterior.
Os perceptivos intuitivos consideram a vida como algo a ser experimentado
e compreendido; gostam de manter seus planos e opiniões o mais abertamente possível.
Esperam resolver os problemas a partir da compreensão de sua base, de sua origem, na
medida que a análise criteriosa, ou o julgamento, permite a continuidade dos propósitos
ao fornecer padrão de crítica e domínio às próprias ações. Os dons da percepção são:
espontaneidade e aceitação da experiência do presente; mente aberta e flexível à
consideração de novos fatos, idéias e propostas; compreensão do ponto de vista do
outro, com apreciação da situação; tolerância; curiosidade; possibilidade de destacar
22
algo interessante em qualquer situação; prazer pela experiência; capacidade de
adaptação dos meios disponíveis para atingir os fins.
Agradeço à colaboração de Ana Célia Rodrigues de Souza, Ana Maria Cordeiro e
Sylvia de Mello Baptista pelas sugestões na elaboração desse texto.
À Evelyn Doering-Silveira meu muitíssimo obrigada pela revisão gramatical do texto e
sugestões sobre a composição dos parágrafos
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