Marcuse

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 380  Notas Sobre Suicídio no Trabalho à Luz da Teoria Crítica da Sociedade Notes On Suicide At Work Based On The Critical Theory Of Society Notas Sobre Suicidio En El Trabajo En Vista De La Teoría Crítica De La Sociedad       A     r      t       i     g     o  Ana Paula de  Ávila Gomide Universidade Federal de Uberlândia 380 PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 3 3 (2), 380-395

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Crítica de Marcuse à teoria social de Freud e suas relações com a modernidade tardia.

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    Notas Sobre Suicdio no Trabalho Luz da

    Teoria Crtica da Sociedade

    Notes On Suicide At Work Based On The Critical Theory Of Society

    Notas Sobre Suicidio En El Trabajo En Vista De La Teora Crtica De La Sociedad

    Artig

    o

    Ana Paula de vila Gomide

    Universidade Federal de Uberlndia

    380

    PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2013, 33 (2), 380-395

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    Resumo: Tendo como ponto de partida as discusses de Cristophe Dejours sobre o suicdio ligado s novas organizaes de trabalho no mundo contemporneo, este trabalho visa a apontar mais elementos tericos para a discusso do problema a partir do referencial da teoria crtica da sociedade. Os escritos de Adorno, Horkheimer e Marcuse oferecem um arsenal conceitual profcuo para o tema em questo, no sentido de iluminar a atual forma histrica pela qual o progresso e o cientificismo tcnico a racionalidade instrumental tm se objetivado. As formas de organizao do trabalho nas empresas sob a gesto do terror mobilizam e fortalecem nos indivduos seus traos autoritrios, caractersticas individuais tornadas necessrias produo e adequadas ao clima social com tendncias destrutivas. Enfim, o sofrimento no trabalho entendido como reflexo da deformao da subjetividade pela forma social imperante de trabalho alienado das sociedades ps-industriais, assim resultando no chamado trabalho morto o ato suicidrio de um trabalhador no seu local de trabalho.Palavras-chave: Teoria crtica. Stress ocupacional. Condies de trabalho. Suicdio.

    Abstract: Taking as a starting point the discussions about suicide from Cristophe Dejours on the new work organizations in the contemporary world, this work aims at pointing the theoretical elements for the discussion of the problem, on the grounds of the critical theory of society. The writings of Adorno, Horkheimer, and Marcuse offer a useful conceptual tool about the topic in order to enlighten how the current historical form in which the instrumental rationality has been objectified. Forms of work organization in enterprises under the terror management mobilize and empower individuals in their authoritarian traits, individual characteristics which are required for production and appropriate for the destructive tendencies in the current social context. Finally, suffering at work is understood as a reflection of the deformation of subjectivity by the prevailing social form of alienated work in post-industrial societies, thus resulting in the so called dead work the suicidal act of an employee in his/her workplace.Keywords: Critical theory. Occupational stress. Working conditions. Suicide.

    Resumen: Teniendo como punto de partida las discusiones de Cristophe Dejours sobre el suicidio relacionado a las nuevas organizaciones de trabajo en el mundo contemporneo, este trabajo visa apuntar ms elementos tericos para la discusin del problema desde el referencial de la teora crtica de la sociedad. Los escritos de Adorno, Horkheimer y Marcuse ofrecen un arsenal conceptual proficuo para el tema en cuestin, en el sentido de alumbrar la actual forma histrica por la cual el progreso y el cientificismo tcnico la racionalidad instrumental se han objetivado. Las formas de organizacin del trabajo en las empresas bajo la gestin del terror movilizan y fortalecen en los individuos sus trazos autoritarios, caractersticas individuales que se volvieron necesarias a la produccin y adecuadas al clima social con inclinaciones destructivas. En fin, el sufrimiento en el trabajo es entendido como reflejo de la deformacin de la subjetividad por la forma social imperante de trabajo alienado de las sociedades post industriales, as resultando en el llamado trabajo muerto el acto suicida de un trabajador en su lugar de trabajo.Palabras clave: Teora crtica. Estrs ocupacional. Rendimento laboral. Suicidio.

    Tendo como ponto de partida os estudos de Cristophe Dejours sobre o suicdio ligado s novas organizaes de trabalho no mundo contemporneo (Dejours, 2007; Dejours & Bugue, 2010), nosso objetivo levantar mais elementos tericos e conceituais para um tema to complexo quanto o do suicdio no trabalho. Para tal, buscamos nas discusses lanadas pelos filsofos frankfurtianos sobretudo, Adorno, Horkheimer e Marcuse dirigidas s sociedades ps-industriais e aos seus mecanismos de dominao sobre a subjetividade uma abordagem que prima pela interdisciplinaridade, na tentativa de elucidar o clima totalitrio que se estabelece

    no mundo laboral. Cumpre ressaltar que no se trata de tentar estabelecer afinidades ou contrapontos entre o pensamento de Dejours e o dos autores da teoria crtica, visto que, claro, o primeiro um autor reconhecidamente estudioso do tema e um dos maiores expoentes sobre o assunto na atualidade, o que no se pode dizer dos frankfurtianos. No obstante, a teoria crtica da sociedade oferece um arsenal terico e conceitual profcuo para o tema em questo, no sentido de iluminar a atual forma histrica pela qual o progresso e o cientificismo tcnico a racionalidade instrumental tm se objetivado, tendo em vista as

    Submisso morte submisso ao

    senhor da morte: a plis, o estado,

    a natureza, ou deus. O juiz no o

    indivduo, mas um poder mais alto; o poder sobre a

    morte tambm o poder sobre a

    vida. Mas isso s metade da histria. A outra metade a

    disposio, o desejo de desistir de uma vida de mentiras uma vida que trai

    no somente os sonhos de infncia

    mas tambm as esperanas

    e promessas amadurecidas do

    homem.

    (Herbert Marcuse em A Ideologia da

    Morte,1959).

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    concomitantes transformaes de formas de organizao do trabalho nas empresas e seus efeitos psicossociais sobre os indivduos, em termos de neles fortalecer e de mobilizar seus traos autoritrios.

    As crticas assertivas e mais abrangentes de Adorno e Horkheimer a respeito da dialtica do esclarecimento, de que os rumos tomados pela razo ocidental exigiram a reproduo do horror como condio de desenvolvimento das foras produtivas assim culminando no recrudescimento da barbrie (Horkheimer & Adorno, 1944/1985) , enriquecem as reflexes e as anlises sobre o sofrimento no trabalho. Nesse sentido, o sofrimento entendido como reflexo da deformao da subjetividade pela forma social imperante de trabalho alienado, tal como discutido, tambm, por Marcuse (1955/2009, 1957/1970).

    A anlise a ser aqui empreendida parte do campo da psicodinmica do trabalho, mas avaliando essa problemtica dentro de uma tendncia social e histrica mais ampla, cujas implicaes na psicologia das pessoas (na subjetividade) devem ser consideradas, ou seja, tentamos atribuir ao suicdio no ambiente laboral no a leitura de que esse seja um ato desesperado de recusa do indivduo que no mais quer se deixar dominar1 e cuja identidade (profissional e particular) foi destroada pelas presses do trabalho , mas sim, o reflexo de um consentimento silencioso, por parte do sujeito, com as tendncias destrutivas e totalitrias instaladas no mundo do trabalho: a concordncia de sacrificar a si mesmo. Sob essa tica, tambm perguntamos: a vida, hoje, tem de fato se reduzido adaptao, e se a melhor perspectiva de vida a adaptao s condies desumanas, como os sujeitos reagem psicologicamente

    a essas contradies? Ora, a percepo dos sujeitos de que o trabalho e seus produtos no trazem a perspectiva de uma sociedade justa e racional no tem sido suficiente para romper essa situao de alienao; ao contrrio, tem ampliado tal condio e, ainda mais, impulsionado os sujeitos ao abandono de vnculos sociais (no caso, tornando-se a empresa o nico referencial de vida), o que tem ocasionado a morte psquica e, fatalmente, o suicdio.

    Uma digresso necessria: trabalho e suicdio depois de Auschwitz

    O suicdio de Walter Benjamin, em setembro de 1940, na fronteira franco-espanhola, mais do que um ltimo gesto de desespero para no cair nas mos da Gestapo, pode ser visto como uma forma de denncia dos entraves para uma possvel felicidade sob as condies de vida desumanas regidas pelas leis do capital no sculo XX. Frente ao horror do totalitarismo, cujas formas polticas na Europa ocidental (nazismo na Alemanha e fascismo na Itlia) atendiam aos interesses dos grandes trustes do capitalismo tardio, o intelectual judeu que amava os livros e a arte e que, recalcitrante aos costumes burgueses e aos rumos tomados pelo progresso, elaborara crticas contundentes ao capitalismo , no teve como sobreviver ao fascismo sem se renegar. Sua morte o testemunho da dificuldade de um pensador, sobretudo judeu, para continuar vivo sob o fascismo: Os sete ltimos anos da vida de Benjamin constituem uma fuga sem trgua da perseguio poltica e tambm uma luta perptua pela sobrevivncia material (Gagnebin, 1982, p.9). Tambm frente presso do totalitarismo, o escritor austraco Stefan Zweig deu fim prpria vida depois de muitos anos de exlio forado por causa

    1Dejours inclusive chama a ateno para

    o fato de que h um nmero significativo

    de trabalhadores com excelente desempenho

    profissional que cometem o suicdio

    no trabalho: Contrariamente ao que se pode pensar, no so apenas os trabalhadores

    acostumados aos atestados mdicos que

    se suicidam no trabalho, um nmero significativo de vtimas est centrado

    nos trabalhadores dedicados, queridos pelos colegas e pela

    chefia (...) (Dejours & Bugue, 2010, p.29).

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    da perseguio dos nazistas. No por acaso, o suicdio desses intelectuais aqui citado, ressaltando-se a situao asfixiante e sem sada para Benjamin e Zweig, submetidos a condies sociais objetivas permeadas de horror e de tortura que ocasionaram o morticnio e a destruio racionalmente generalizada e administrada pelos altos e mdios escales do partido nazista contra milhares de pessoas inocentes. Trata-se de pessoas que foram perseguidas pelo regime totalitrio, por meio de seus mecanismos polticos e sociais apelativos contra a razo e a vida intelectual e cultural, que, no obstante, mobilizaram nas massas o desejo irracional de aderir organizao nazifascista delirante.

    O ato suicida de um indivduo como resultante de uma situao de opresso e de no liberdade, geradora de sofrimento fsico e de reduo do humano a um simples objeto descartvel, ou a mera engrenagem do sistema, mais comum hoje em dia do que podemos prever, mesmo (e principalmente!) em tempos de democracia neoliberal do sculo XXI. Atentamos para o suicdio no local de trabalho que, no mundo contemporneo, tem mostrado a que ponto a degradao e a precariedade das relaes de trabalho chegaram, juntamente ao enfraquecimento das aes polticas e solidrias coletivas necessrias para o enfrentamento, pelos homens, das condies desumanas que vo contra seus interesses racionais, essas, presentificadas ao mximo nas empresas. Tais atos extremos so consequncia da funesta mentalidade administrativa aplicada nas organizaes empresariais que, dentro de uma crtica mais abrangente, apresenta similaridades com os princpios nazifascistas de administrao burocrtica, quais sejam: a organizao cientfica voltada para a intensificao da fora de trabalho dos sujeitos, que traz em seu bojo elementos

    irracionais ao colocar questes econmicas, quantitativas e produtivas acima do bem-estar e da felicidade humanas, custa da excluso e da morte daqueles considerados fracos, no adaptados, entre outros fatores (Dejours, 2007). A respeito das aberraes do Holocausto, pensadores que se dedicaram a pensar sobre as crises do mundo contemporneo (Adorno, 1969/1995; Arendt, 1963; Bauman, 2001) tm justamente demonstrado como os princpios da organizao moderna burocrtica, para a efetivao do maquinrio nazista, foram conduzidos por pessoas aparentemente comuns que acabaram por introjetar os princpios calculistas e de eficincia, cujos fins eram o de fazer que a mxima racionalizao criasse uma distncia entre os perpetradores do morticnio e as vtimas dos campos de concentrao.

    Para Dejours (2007), inspirado nas obras de Hannah Arendt, a banalizao do mal, atualmente encontrada nas demais formas de injustia social (o desemprego crescente, o aumento da violncia social e a xenofobia na Europa), torna-se patente com a disseminao, a partir da dcada de 80, do modelo econmico calcado no neoliberalismo. Tal modelo integrou sua lgica beligerante sociedade como um todo no sentido de instilar nas pessoas a crena de uma guerra econmica mundial, na qual os imperativos do combate, da competio e do remanejamento de grupos sociais pela cincia (assim intensificando e endossando as polticas mundiais de segregao tnica, religiosa e racial) se tornaram normas. Dessa forma, as crueldades praticadas no mundo do trabalho para excluir os menos aptos ao combate transformaram-se em elementos indispensveis, seno naturais, dentro da lgica empresarial, ao lado da poltica de banalizao do sofrimento de outros que

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    acabou por corroborar a mentalidade de que as vtimas do desemprego e da pobreza e tambm os trabalhadores despreparados para a guerra so responsveis pelos seus tristes destinos. No toa, sobre tais princpios apontados, levantamos a ideia de que esses se encontram na base das tcnicas gerenciais difundidas na empresa moderna e nas escolas de Administrao que determinam as novas organizaes no mundo do trabalho (Santos, 2009). A partir dessas reflexes, at que ponto se pode afirmar que sob as novas organizaes de trabalho se encontra a continuidade histrica de condies sociais objetivas e subjetivas que permitiram a antecmara de Auschwitz? (a saber, a racionalizao da linha de produo industrial do terror e da morte?). A questo acima colocada tem tambm como pano de fundo as discusses levantadas por Dejours (2007, 2010) a propsito das defesas psquicas de trabalhadores contra a deteriorao do trabalho, resultantes das tcnicas corriqueiras de assdios ou de presses por parte da direo empresarial sobre o trabalhador, em nome da racionalidade tcnica, disseminadas nas novas organizaes do trabalho. E, frente a esse quadro sombrio de prticas corriqueiras de crueldade e de resignao por parte dos trabalhadores j adoecidos e fragilizados por tais tcnicas gerenciais posto que transformados em objetos para o funcionamento da empresa , o ato suicidrio de um trabalhador no seu local de trabalho revela uma mensagem brutal, alm de expressar a mxima encontrada nas sociedades ultraindividualistas, qual seja: a de que a vida matvel, perpetrada pela lgica do sacrifcio individual e encontrada nos inmeros exemplos de vidas descartveis, fator integrante para o funcionamento da economia mundial ou o sujeito se adapta s condies de desumanizao ou morre.

    Dessa mensagem endereada aos que ficam e aos que continuam participando de tais relaes perversas, Dejours ainda aponta uma srie de manifestaes psicopatolgicas que tornam as pessoas insensveis contra aquilo que as faz sofrer, assim tornando a situao de desumanizao aceitvel, e o medo e a angstia, condizentes com o sofrimento gerado no ambiente de trabalho, escamoteados e renegados a ponto de a morte de um colega configurar-se perante os demais como um ato banal2. E, claro, conforme foi assinalado, o cenrio no qual se desenvolvem tais condies desumanas o do modelo econmico atual, tendo em vista seu modelo de racionalidade instrumental perpetrado pelas leis do mercado e internalizado por grande parte de pessoas os tipos sociais mais afinados com a tendncia histrica de uma sociedade burguesa subordinada racionalizao progressiva da produo industrial e lgica do princpio de equivalncia (Adorno, 1959/2010).

    Para os intuitos deste ensaio, ressaltamos que, diferentemente das minorias perseguidas pela Gestapo (os judeus e todos os considerados prias da sociedade), os sujeitos que atentam contra as prprias vidas no local de trabalho so justamente as pessoas consideradas adaptadas ao sistema por possurem um emprego (inclusive, at altos cargos nas multinacionais e nas grandes empresas), e que se esforam ou se esforaram para se ajustar aos desgnios da produo ao preo da prpria mutilao psquica. Vivemos ainda em tempos sombrios sob formas talvez mais perversas e transparentes em termos do sacrifcio individual exigido para a sobrevivncia e o funcionamento do sistema, cuja irracionalidade objetiva, em nome de uma falsa racionalidade econmica, tem se sobreposto aos valores humanos. No tocante ao fundamento das relaes

    2 Das interpretaes

    estabelecidas sobre as relaes entre

    o suicdio e o trabalho, uma que

    serve para encobrir a responsabilidade

    da organizao empresarial e

    enfraquecer propostas de aes polticas no mundo do trabalho a que

    tenta atribuir as causas do suicdio

    do indivduo aos seus problemas

    de personalidade, como se o sujeito

    fosse o nico responsvel pelo

    ato, incapaz de lidar com

    as presses do seu ambiente

    de trabalho, consideradas pela lgica empresarial

    como naturais e imprescindveis

    produo.

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    econmicas internacionais e ao mundo do trabalho, caminhamos para um novo holocausto cientificamente planejado em nome do lucro e da produtividade de grandes empresas que, agora, sob o discurso da guerra econmica, adotam formas de organizao de trabalho voltadas para a explorao e a intensificao mxima da fora de trabalho, fomentando a competitividade entre os indivduos (Dejours, 2007). Os setores mais poderosos da indstria no capitalismo tardio ao, petrleo, automobilismo, eletricidade, qumica, telecomunicaes tm introduzido novos mtodos de avaliao do trabalhador, em particular, a avaliao individual do desempenho e a introduo de tcnicas ligadas chamada qualidade total, cujas repercusses na vida dos sujeitos tm sido as piores possveis: trata-se de instrumentos de controle cruis e desumanos que tm fortalecido um tipo de darwinismo social no ambiente de trabalho. E aquele que no se conforma ou no consegue adaptar-se ao clima de ameaa social oriundo das presses enfrentadas no trabalho, assim correndo o risco de impotncia econmica e de excluso, acaba por pagar o preo com a prpria vida ou, no mnimo, por introjetar condutas exigidas que perpetuam a prpria alienao e servido psquica.

    No demais lembrar a frase de Adorno (1969/1995) que Auschwitz no se repita!, cuja preocupao era a de alertar sobre a possibilidade de que tal sistema brbaro encontrado nos campos de concentrao pudesse tornar- se regra no mundo contemporneo, passvel de desdobrar-se em novos fenmenos. Ora, nada mais atual e contundente que a afirmativa de Adorno! No mundo do trabalho, tendo em vista o grau profundo de degradao do conjunto do tecido humano e social do trabalho (Dejours & Bugue, 2010) a despeito

    dos entusiastas tecnolgicos e defensores do neoliberalismo que afirmam serem as condies dos empregados, nas empresas, as melhores possveis com os novos mtodos de gesto e com a robotizao , a ameaa de Auschwitz, para alm de uma alegoria, continua mais presente do que nunca.

    A gesto do terror: a administrao do trabalho morto

    Na linha de estudos que relacionam o trabalho com os processos de sade-doena-sofrimento do trabalhador, destacamos os da psicodinmica do trabalho. Dentro dessa linha, o trabalhador no visto como um receptor passivo de agentes provocadores de doena, mas, ao contrrio, participa desse processo ao desenvolver sistemas defensivos contra o sofrimento psquico e fsico advindos dos modelos de organizao do trabalho no qual est implicado (Heloani, 2011). Dejours, dentro dessa linha de estudo, destaca que, quando no trabalho se intensifica a sua dimenso patognica a saber, modelos de gesto que minam a autonomia do trabalhador e que impedem o seu reconhecimento no trabalho, assim intensificando aspectos identitrios conflitivos , os sujeitos podem lanar mo, em ltimo caso, do suicdio.

    Dejours e Bgue (2010) afirmam que um tipo de sofrimento no trabalho que conduza ao isolamento e depresso do sujeito a ponto de ele cometer suicdio no local de trabalho se deve s condies de injustia e de assdio que hoje em dia se tornaram cada vez mais comuns nas empresas. A introduo de novos mtodos de gesto na organizao do trabalho tem como finalidade introduzir tcnicas de avaliao individual de desempenho, juntamente s medidas de

    Dejours e Bgue (2010) afirmam que um tipo de

    sofrimento no trabalho que conduza ao

    isolamento e depresso do

    sujeito a ponto de ele cometer suicdio no local

    de trabalho se deve s

    condies de injustia e de assdio que

    hoje em dia se tornaram cada

    vez mais comuns nas empresas.

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    qualidade total, para averiguar a qualidade de servio oferecido pelas empresas, a partir do qual os assalariados so impelidos a burlar a tica profissional (e a si mesmos) para atingir os padres da suposta qualidade colocada pelos gestores. Nas palavras de Dejours e Bgue:

    No momento em que a colonizao do mundo pelos novos mtodos de gesto estava em seu pice, um novo mtodo de organizao, estreitamente ligado doutrina gestionria, introduzido na maioria das empresas privadas e mesmo no servio pblico. Trata-se da avaliao individualizada do desempenho. Esse mtodo apresentado como meio objetivo de avaliar o trabalho de cada indivduo, de torn-lo comparvel ao trabalho dos outros assalariados. A avaliao individualizada assenta-se no princpio de uma anlise quantitativa e objetiva do trabalho, passando pela mensurao dos resultados (2010, p.44)

    Entretanto, os autores lembram que a avaliao do trabalho por mtodos objetivos e quantitativos de mensurao se assenta em bases cientficas falsas, posto ser impossvel mensurar o trabalho propriamente dito a mensurao do tempo psquico e intelectual que um trabalhador emprega no seu trabalho para a realizao das competncias necessrias para se atingir os objetivos propostos pela empresa. Tais fundamentos cientficos tm como princpios o clculo utilitrio e a lgica da razo instrumental, que se tornaram valores sociais preponderantes da sociedade capitalista. O suporte de dominao psquica agenciado pelas tcnicas de avaliao individual do trabalhador tem efeitos deletrios sobre a sade mental, pois acaba por gerar sentimentos de injustia nos sujeitos avaliados (o lucro e o faturamento de uma empresa no esto diretamente relacionados ao desempenho do trabalhador), assim como criar um clima de competitividade entre os colegas,

    minando os sentimentos de cooperao no seio das empresas e de pertencimento a uma coletividade. Essas avaliaes trazem em seu bojo as ameaas de excluso e de demisso, assim como a desestabilizao da identidade dos assalariados. Assim, dizem os autores que

    A ava l iao ind iv idua l i zada dos desempenhos introduz concorrncia entre servios, entre departamentos, entre sucursais, mas tambm entre os prprios assalariados (...). Mas se acrescentarmos avaliao individualizada do desempenho a ameaa de ser colocado na geladeira, da transferncia sumria, da queda em desgraa, da demisso, ento o mtodo gera no apenas o cada-um-por-si, mas ainda faz surgir rapidamente, para alm da emulao saudvel, condutas de concorrncia e de rivalidade que derivam em condutas desleais: reteno de informaes, boatarias, rasteiras, etc. A lealdade e a confiana so corrodas e so trocadas pela desconfiana e pelo constrangimento dos colegas, logo considerados como adversrios (Dejours & Bgue, 2010, p.46)

    Esses mtodos so empregados a fim de excluir os que no esto aptos para os objetivos da produtividade, e de exigir daqueles considerados fortes, produtivos e combativos, desempenhos sempre superiores em termos de disponibilidade, de disciplina, de abnegao e de subservincia aos valores da empresa. Segundo Dejours, o privilgio concedido gesto, em detrimento do trabalho (2010, p.27) tem desestruturado os coletivos e desestabilizado psicologicamente os sujeitos em prol da busca de objetivos almejados pelas empresas sob as polticas de reestruturao produtiva. Isso tambm se relaciona s crises enfrentadas pelas organizaes polticas e sindicais com a emergncia das culturas empresariais forjadas por pases como Estados Unidos e Japo, em que a identidade e a realizao dos sujeitos se encontra na sua adaptao s empresas, acenando a ideia de que o principal meio de

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    referncia para o trabalhador o seu trabalho e a funo que nelas exerce (Dejours, 2007).

    A indiferena pelo sofrimento psquico dos que trabalham tambm tem suas razes no descompasso histrico das organizaes sindicais com a questo da subjetividade e do sofrimento dos trabalhadores, o que contribuiu para um clima de intolerncia ao sofrimento gerado pelos novos mtodos de gesto que, no por acaso, tm minado reaes coletivas contra as adversidades sociais e psicolgicas causadas tambm e principalmente pelo desemprego (Dejours, 2007). A respeito do sofrimento subjetivo historicamente negado pelos sindicatos e pelos movimentos de esquerda, Dejours destaca que: Afora a sade do corpo, as preocupaes relativas sade mental, ao sofrimento psquico no trabalho, ao medo da alienao, crise do sentido do trabalho no s deixaram de ser analisadas e compreendidas (pelos movimentos esquerdistas) como tambm foram freqentemente rejeitadas e desqualificadas (...) (Dejours, 2007, p. 38).

    As imposies de organizao do trabalho geram angstia e uma srie de manifestaes psicopatolgicas nos assalariados, em consonncia com a organizao econmica que continua obrigando a maioria das pessoas (empregadas ou desempregadas) a defender situaes em relao s quais se tornaram impotentes, bem como a se manter em uma situao de alienao e de sofrimento para garantir a sobrevivncia material. Confirma-se, assim, o que Adorno e Horkheimer (1944/1985) explanaram acerca da racionalidade dominante: a apologia da autoconservao ou da razo autoconservadora , hoje visivelmente perpetrada pelos setores econmicos e empresariais dominantes na fase monopolista do capitalismo (tambm citamos os setores

    educacionais e demais instituies sociais que incorporaram tal lgica de domnio), tem eliminado os sujeitos, sinalizando a questo psicodinmica de como eles podem resistir a uma racionalidade que em si mesma irracional, pois ajustada aos mecanismos do mercado e distante das questes humanas. As regresses psquicas necessrias adaptao ao todo so mediadas pela estrutura econmica e social, sendo a adaptao ao poder no mais resultante da dolorosa conscincia moral dos sujeitos ou de um processo dialtico entre o sujeito e a realidade, mas sim, produzidas pela engrenagem da indstria. Nas palavras dos autores:

    A o r i e n t a o e c o n o m i c a m e n t e determinada da sociedade em seu todo (que sempre prevaleceu na constituio fsica e espiritual dos homens) provoca a atrofia dos rgos do indivduo que atuavam (outrora, na fase liberal do capitalismo) no sentido de uma organizao autnoma de sua existncia. Desde que o pensamento se tornou um simples setor da diviso do trabalho, os planos dos chefes e especialistas competentes tornaram suprfluos os indivduos que planejam sua prpria felicidade. A irracionalidade da adaptao dcil e aplicada realidade torna-se, para o indivduo, mais racional do que a razo (...). O progresso da sociedade industrial, que devia ter eliminado como que por encanto a lei da pauperizao que ela prpria produzira, acaba por destruir a idia pela qual o todo se justificava: o homem enquanto pessoa, enquanto portador da razo. A dialtica do esclarecimento transforma-se objetivamente na loucura (Horkheimer &

    Adorno, 1944/1985, p.190)

    As formas de organizao do trabalho cientificamente articuladas pelo saber administrativo e justificadas pelo discurso economicista (Dejours, 2007) trazem em seu bojo uma lgica irracional, pois contra os interesses dos indivduos, assim indicando uma extrema desproporo entre a coletividade e os sujeitos, a despeito da

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    ideologia corrente que tenta impor a ideia de que a felicidade pode ser encontrada na devoo do empregado sua empresa. A isso, acrescenta-se a cultura organizacional que tende a colocar as empresas como principais referncias identitrias para os sujeitos, em detrimento da cultura e das demais instituies sociais formadoras que poderiam propiciar a eles uma razovel autonomia e reflexo crtica sobre a realidade. Adorno (1956/2010), no texto Teoria da Semiformao, observa que a hegemonia da ideia de formao s voltada para a adaptao ao existente, com seus contedos ajustados pelos mecanismos do mercado que se desfaz da ideia de formao espiritual, perpetua a deformidade subjetiva que se pensava dominada nas sociedades modernas tecnolgicas, a saber, a tendncia agresso destrutiva e mrbida dos indivduos e competio entre eles (Adorno, 1956/2010, p.12). Em consequncia disso, a raiva tambm se volta contra a prpria promessa da cultura, que os sujeitos tendem a depreciar ou a no reconhecer (Adorno, 1969/1995). No fundamento econmico das relaes sociais, a socializao da semicultura caracteriza hoje a camada de empregados mdios, visto que os ltimos, privados dos pressupostos necessrios para a sua formao (aquela propiciadora tanto da adaptao quanto da autonomia do indivduo na realidade social) e, sobretudo, do cio, acabaram por se tornar mais vulnerveis e integrados s malhas do poder, j que o que tem vigorado na sociedade burguesa a sobrevivncia material e a produo econmica, bem como o saber tcnico e funcional. Dentro desse quadro de conformismo onipresente, o potencial destrutivo da pseudoformao lembrado por Adorno, tendo em vista que os homens, subtrados da promessa da cultura a realizao da possvel liberdade e felicidade individual para o bem-estar da humanidade,

    assim como da reflexo crtica sobre a cultura e a civilizao , investem suas frustraes contra o prprio conceito de cultura e de formao espiritual. A respeito da formao cultural revertida em pseudoformao no capitalismo industrial e ps-industrial, Adorno escreve que:

    Sua realizao (a da formao) haveria de corresponder a uma sociedade burguesa de seres livres e iguais. Esta, porm, ao mesmo tempo, desentendeu-se dos fins e de sua funo real, como, de certo modo, ocorre radicalmente, por exemplo, com a esttica kantiana, que defende uma finalidade sem fim. A formao devia ser aquela que dissesse respeito de uma maneira pura como seu prprio esprito ao indivduo livre e radicado em sua prpria conscincia, ainda que no tivesse deixado de atuar na sociedade e sublimasse seus impulsos. A formao era tida como condio implcita a uma sociedade autnoma (...). Contraditoriamente, no entanto, sua relao com uma prxis ulterior apresentou-se como degradao a algo heternomo, como percepo de vantagens de uma irresolvida bellum omnium contra omnes (1956/2010, p.13)

    Trata-se, ento, de uma formao social regressiva, no mais atrelada emancipao do sujeito, mas ao princpio de equivalncia e em funo do trabalho abstrato e alienado, que tem como mola propulsora os referenciais de uma razo reduzida em fora produtiva, o que conduz nossa poca histrica a um caminho contrrio emancipao: barbrie. No plano da subjetividade, confirma-se, assim, o que Freud (1930/1974) postulou acerca do mal-estar na cultura, ou seja, a intensificao da rebelio violenta e irracional contra a civilizao que se pauta somente no sacrifcio e na renncia individual, bem como no acirramento de mentalidades preconceituosas encontradas nos diversos grupos sociais passveis de se sentirem seduzidos pelos crimes e por demais tipos de aes excludentes contra as alteridades. A propsito desse ltimo elemento relacionado

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    aos sentimentos narcsicos gerados na civil izao (o que Freud denominou narcisismo das pequenas diferenas), aludimos s discusses de Dejours a respeito das origens subjetivas do consentimento das pessoas com relao ao seu sofrimento e ao dos outros, por sua vez, tambm reforadoras das ideias reproduzidas pela mquina neoliberal de que os homens socialmente discriminados merecem a sua situao de excluso seja por causa da incompetncia, seja por causa de caractersticas pessoais. Dejours afirma que o sofrimento no trabalho, e a participao consentida de trabalhadores que exercem cargos de responsabilidade nas empresas em condies geradoras de desigualdade e de injustia, a fim de garantir a sobrevivncia e o prestgio social, so fatores determinantes para o funcionamento do sistema que, por sua vez, gera um sofrimento crescente entre os que trabalham (Dejours, 2007, p.17). Citamos os gerentes e os responsveis por departamentos nas empresas que, ao incorporarem o discurso tcnico da cincia econmica adotada pelas polticas administrativas empresariais, ostentam um tipo de cinismo ao aplicarem e defenderem as chamadas tcnicas de seleo para a elaborao das listas de demisses que visam a livrar as empresas dos chamados parasitas e improdutivos. E os subordinados cada vez mais se sentem ameaados e expostos ao grande engodo do discurso economicista e tecnicista que subjaz s tcnicas seletivas. Entretanto, os que consentem em fazer o trabalho sujo (ou seja, em colaborar com as polticas e tcnicas de enxugamento de pessoal em defesa da Realpolitik), contraditoriamente, para continuar no emprego, desenvolvem defesas psquicas que Dejours (2007) denomina racionalizao do mal o cinismo, a depreciao de condutas ticas e morais com a exaltao da virilidade, entre outros , que

    acabam por alimentar as condies irracionais da organizao de trabalho e, assim, por fechar o grande crculo da injustia social: a negao do sofrimento alheio, de massas de excludos, percebidos agora no mais como dignos de preocupao poltica; ao contrrio, os excludos so depreciados e at mesmo responsabilizados por suas tristes situaes sociais. Nas palavras de Dejours:

    Esse sofrimento (no trabalho) aumenta com o absurdo de um esforo no trabalho que em troca no permitir satisfazer as expectativas criadas no plano material, afetivo, social e poltico. As conseqncias desse sofrimento para o funcionamento psquico e mesmo para a sade so preocupantes (...). Mas o sofrimento no desativa a maquinaria de guerra econmica. Ao contrrio, alimenta-a, por uma sinistra inverso que cumpre elucidar (...).Em outras palavras, h uma clivagem entre sofrimento e injustia. Para os que nela incorrem, o sofrimento uma adversidade, claro, mas essa adversidade no reclama necessariamente reao poltica (...). Evidentemente, quando no se percebe o sofrimento alheio, no se levanta a questo da mobilizao numa ao poltica, tampouco a questo de justia e injustia

    (2007, pp. 18, 19)

    Assim, podemos pensar o quanto a neutralizao da injustia social por meio da ideologia do realismo econmico e a ocultao do sofrimento psquico gerado pelas condies irracionais de trabalho tendem a fortalecer as mentalidades propensas aos demais tipos de preconceitos contra os excludos e os que correm o risco de excluso, o que contribui, segundo Dejours (2007, p. 91), para o estabelecimento de uma cultura de desprezo nas empresas para os que so excludos do trabalho por reformas estruturais, ou para os que no conseguem realizar os esforos necessrios em termos de carga de trabalho acima do que estipulado. A psicodinmica do trabalho, por sua vez, lana luz aos mecanismos

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    sociais e psicolgicos criados e gerados no ambiente de trabalho que servem para perpetuar uma sociedade desigual e minar as possveis resistncias coletivas ou individuais contra a desumanizao. As caractersticas psicolgicas da banalizao do mal e da racionalizao da violncia e da injustia, em nome do aparato produtivo providenciado pelas grandes corporaes empresariais, so induzidas e mobilizadas pelo trabalho, o que significa ser o mundo do trabalho, tal como hoje se configura pela ideologia neoliberal, um verdadeiro laboratrio de experimentao e aprendizado da injustia e da iniqidade (Dejours, 2007, p.140), ou, como diria Adorno (1956/2010), o modelo social pelo qual hoje se constitui a experincia formativa dos sujeitos reduzida pseudoformao a tragdia da formao na sociedade capitalista tardia.

    Dejours e Bgue salientam que as polticas empresariais de enxugamento de quadros e de contratao de temporrios, e mais o recurso terceirizao, intensificaram o trabalho dos assalariados sob condies de explorao cada vez mais cruis e degradantes, estabelecendo um quadro de darwinismo social correspondente a um clima de reduo dos homens ao estado de seres naturais, tal como sinalizado por Adorno (1969/1995) a respeito da competitividade exaltada na nossa cultura. A desestabilizao psquica do trabalhador provocada pelas presses e pela intensificao do trabalho articulada e calculada, de forma perversa, por especialistas da rea psiclogos organizacionais, gerentes e gestores , cuja formao tcnica voltada para a aprendizagem do assdio e da disseminao do medo como instrumento de produtividade, em nome da racionalidade tcnica (Dejours, 2007). Nesse sentido, Dejours cita as tcnicas voltadas para o assdio de trabalhadores a fim

    de potencializar suas produes, tais como as famosas ameaas de demisso, a presso para participar da construo da mentira organizacional, as demais humilhaes morais, a imposio de condutas no ambiente de trabalho que vo contra as regras da profisso e contra as leis trabalhistas, e mais a presso social para sonegar informaes aos colegas, entre outras. No mundo do trabalho, sob a gesto do terror, podemos afirmar que os traos autoritrios so mobilizados nas pessoas em benefcio da produtividade, quando homens se tornam coisas e incapazes de experincia ou de identificao com outrem, esse tambm considerado um objeto. Sob a gide da lgica instrumental encontrada no discurso da cincia administrativa, homens e coisas convergem para o mesmo status quo. Na pesquisa A Personalidade Autoritria (Adorno, Frenkel-Brunswick, Levinson & Sanford, 1955), a respeito do potencial fascista, Adorno apresenta as caractersticas do carter manipulador, tambm denominado o tipo de conscincia coisificada, que se distingue pela fria organizativa, pela incapacidade total de levar a cabo experincias humanas diretas, por um certo tipo de ausncia de emoes, por um realismo exagerado (Adorno, 1969/1995, p.129). Sobre o carter manipulador que faz o culto da eficincia e da tcnica, Adorno alerta que esse se encontra mais disseminado do que podemos imaginar, para alm dos administradores dos campos de concentrao e da produo do sistema nazista, levando em conta a estrutura social contempornea que produz e exalta tais personalidades para fins econmicos. Assim, cumpre ressaltar que as condutas de gestores voltadas para a aplicao de tcnicas geradoras de medo e de sentimento de incompetncia nos subordinados, por meio de uma participao consciente e deliberada desses atos de injustia (para a realizao de objetivos empresariais)

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    correspondem ao modelo imperante de homo oeconomicus, que, por sua vez, acaba por apresentar similaridades com o tipo de carter autoritrio exemplificado por Adorno como conscincia coisificada, a saber: pessoas que fazem uso de uma racionalidade prtica em prol do discurso da eficincia e do realismo econmico em detrimento de escolhas pautadas na tica e na racionalidade moral (Dejours, 2007). As relaes de trabalho calcadas nesse tipo de gesto que desestabiliza formas de solidariedade entre os colegas, que mobiliza nos empregados o sentimento de medo e de angstia, em um clima de constante suspeio e violncia, e no qual todo o medo do indivduo reprimido e silenciado, s podem resultar em um ambiente mortfero, cujo silncio quebrado na morte voluntria de um dos perseguidos, qual seja, o ato suicida do trabalhador no ambiente laboral.

    No que diz respeito s fachadas limpas e higinicas das empresas as chamadas vitrines do progresso , Dejours diz nelas se esconder uma tendncia totalitria e destrutiva. Nas hiper-empresas divulgadas pelo mass media como locais em que se renem os homens qualificados, competentes e vencedores, o sofrimento dos que trabalham evidenciado por detrs dos clichs fabricados pelos discursos correntes, em condies pouco diferentes daquelas de antigamente, e at mesmo piores em termos das infraes de leis trabalhistas (Dejours, 2007). Sob o movimento de intensificao do trabalho produtivo tangenciado por presses morais exercidas sobre os assalariados, Dejours apresenta, nos casos clnicos estudados, o sofrimento do trabalhador como resultado do medo de no corresponder s imposies do mundo do trabalho, tais como: as imposies de formao tcnica e de informao, de rapidez de aquisio de conhecimentos

    tericos e prticos e de adaptao cultura ou ideologia da empresa (Dejours, 2007, p.28). Ao contrrio das teses neoliberais vigentes que afirmam no mais ser o campo do trabalho um problema cientfico3 por causa da robotizao e da racionalizao do trabalho, citamos Adorno (1951/1993) no aforismo a sade para a morte. O autor aborda a velha injustia que ainda continua sob o vu tecnolgico e sob a racionalizao do trabalho, ou seja, a dor e a violncia fsica ainda subsistem nas relaes sociais do capitalismo ps-industrial, bem como as ameaas de excluso social que, no obstante, impedem a expresso do sofrimento, esse, agora, revertido em conduta de ajustamento. Nas palavras de Adorno:

    Assim como a velha injustia no alterada pelo emprego macio e generoso de luz, ar e higiene, mas sim, precisamente encoberta pela cintilante transparncia da empresa racionalizada, do mesmo modo a sade interior de nossa poca consiste em ter bloqueado a fuga para a doena sem alterar em um mnimo sequer sua etiologia. As latrinas mal iluminadas foram eliminadas como um incmodo desperdcio de espao e transferidas para

    3Dejours apresenta uma dessas teses encontradas nas

    prticas discursivas do neoliberalismo

    que tentam desqualificar a

    centralidade do trabalho, tanto no plano social

    quanto no plano psicolgico. Uma

    delas afirma que: O trabalho no mais suscita problema

    cientfico, tornou-se inteiramente

    transparente, inteligvel,

    reproduzvel e formalizvel, sendo

    possvel substituir progressivamente

    o homem por autmatos. O

    trabalho diz respeito to somente

    execuo. Os nicos problemas residuais da empresa residem na concepo e na

    gesto (Dejours, 2007, p.42).

    o banheiro (1953/1993, p.50)

    Em outras palavras, o medo do sofrimento corporal, fsico e psicolgico provocado pelas sofisticadas formas de explorao e de dominao continua vigorando na contemporaneidade, s que, no contexto atual, transformado em motivo de vergonha ou em fraqueza de carter, visto que a doena social interiorizada pelas pessoas se converteu em formas idiossincrticas de comportamentos considerados normais. As ameaas de violncia e de mutilao fsica e psicolgica encontram-se embutidas nas novas formas de gesto, posto que elas tambm se fundamentam em poderosos aparatos narcsicos de controle a partir dos quais o medo do fracasso, acrescentado ao aumento

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    do sentimento de culpa no trabalhador, se tornaram os objetivos primeiros das tcnicas de manipulao utilizadas e disseminadas nas empresas. Nas palavras de Adorno: A ausncia de nervosismo e a calma, j transformadas em condio para que os candidatos obtenham as posies mais bem remuneradas, so a imagem do silncio sufocante que s depois vem a ser infligido politicamente pelos mandantes do chefe de pessoal (Adorno, 1951/1993, p.50). A energia libidinal que se exige dos sujeitos para a sua adaptao e para a sua vida psquica saudvel assim como para seus desempenhos no trabalho em vista do ilusrio sucesso almejado de tal forma extensa que, segundo o autor, efetua-se ao preo da mais profunda mutilao. No obstante, a mutilao psquica acaba por se denunciar nos movimentos e nos gestos padronizados de tais pessoas quando, por um momento, percebemos nelas aes inusitadas de estupidez ptica, ou, no caso, as trgicas tentativas de suicdio.

    As formas de racionalizao do trabalho perpetradas por meios brbaros e desumanos de gesto cada vez mais se encontram presentes no cotidiano da sociedade, nas relaes entre as pessoas e no espao domstico privado, sendo que os sujeitos reproduzem no mais ntimo de seus seres os valores e os modos de comportamento que servem para a manuteno do sistema (Marcuse, 1957/1970). Nas sociedades tecnolgicas de consumo, presenciamos a desprivatizao do tempo livre pela indstria do entretenimento e pela exigncia de formao politcnica aos trabalhadores. Em nome do progresso tcnico defendido por muitos, testemunhamos um crescente investimento libidinal por grande parte de pessoas para a produtividade do trabalho, tendo em vista que o consumo de objetos e

    de bens suprfluos de fruio tem aumentado as possibilidades de gozo, assim como tambm providenciado uma ilusria sensao de liberdade nas pessoas, o que contribui para a perpetuao da lgica dominante de trabalho alienado nas relaes estabelecidas. Segundo Marcuse, ao estabelecer as relaes da economia poltica com a psicologia individual (...) em meio geral de subsistncia, a tendncia originria das pulses est quebrada a ponto de no mais ser a satisfao que constitui o contedo da vida, mas o trabalho para obt-la (Marcuse, 1957/1970, p.62). Dessa forma, ao lado da resignao de muitos s modalidades de trabalho oferecidas, assistimos a uma crescente neutralizao de foras de oposio forma social dominante, o que significa maior subordinao dos sujeitos ao monstruoso aparelho de produo e distribuio de forma deliberada, tendo em vista a incorporao psquica, pelos ltimos, das necessidades econmicas criadas pela ordem capitalista mundial. O autor ainda acrescenta que, nessa unidade indivisvel do aparelho econmico, poltico e cultural que converge na formao de subjetividades afeitas a esse estado de coisas pessoas cujas necessidades so determinadas pelos interesses de grupos dominantes e que, assim, colaboram em reproduzir uma sociedade que tornou a dominao cada vez mais agradvel e desejvel a todos (Marcuse, 1955/2009) , presenciamos uma amlgama quase indiferencivel entre trabalho socialmente construtivo e destrutivo. A forma dominante de trabalho nas sociedades de mercadorias e tecnolgicas aquela que se volta, quase que exclusivamente, para a intensificao da explorao da natureza e dos recursos intelectuais e materiais a servio do capital, ao contrrio do conceito de trabalho como condio necessria humanizao do homem, tal como apontado por Marx

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    nos Manuscritos Econmicos Filosficos, relembrados e discutidos por Marcuse (1957/1970). Assim, o autor apresenta as consequncias sociais e psicolgicas efetivas do modelo imperante de trabalho social totalmente alienado: a liberao de foras destrutivas na sociedade e a retrao das pulses erticas responsveis pelo reconhecimento dos sujeitos na cultura e pela possibilidade de fruio e de prazer, que permitem uma vida destituda da presena constante dos sentimentos de medo e de ameaa.

    No capitalismo ps-industrial, a dualidade entre Eros e Thnatos postulada pela teoria freudiana tem sido expropriada dos indivduos e racionalmente administrada pelo saber tcnico e cientfico, ao percebermos que, nas novas organizaes, o aumento da agressividade agora neutralizada pela mentalidade tcnico-administrativa tornou-se fator necessrio e naturalizado nas relaes sociais em proveito de foras mais eficazes, tais como os objetivos da indstria moderna e das grandes corporaes (Marcuse, 1957/1970). Desses objetivos, observamos que a tecnologia altamente desenvolvida e os meios de produo tm sido utilizados no s para os benefcios da humanidade ou seja, no s para tornar a vida humana mais segura e atenuar a crueldade da natureza (Marcuse, 1955/2009) mas tambm para a produo de bens suprfluos e destrutivos (desde os produtos da indstria cultural at os armamentos e artefatos blicos), cujos poderes aniquiladores tm seus efeitos mais funestos nos pases em desenvolvimento, com a explorao da fora de trabalho barata e demais intervenes polticas e econmicas, de natureza belicosa. No s os mais pobres da Terra que, ao pagarem o preo do progresso, revelam a substncia que subjaz s sociedades tecnolgicas

    a saber, a lgica da mxima explorao para atender aos interesses econmicos de pequenos grupos , mas tambm aos homens adaptados, ajustados ao capitalismo. Esses, que atuam em defesa do status quo e defendem a forma dominante de trabalho (pois subordinados engrenagem produtiva), acabam por se trair ao revelar os vestgios de suas mutilaes somticas e psicolgicas, desencadeadas pelo sistema econmico estabelecido, nas suas experincias de vida j atrofiadas. Nessa direo, lembramos que, ao contrrio do que Marcuse pressups, a automatizao e a racionalizao do trabalho no liberaram o homem para o jogo das livres pulses erticas, mas sim, acabaram por providenciar novas formas de controle e de domnio sobre o trabalhador, aumentando seu sacrifcio e sofrimento psicolgico, ocultados, agora, pela falsa liberdade provida pelas sociedades de massa (a liberdade sexual e de consumo). Podemos dizer que a Grande Recusa formulada pelo autor (Marcuse, 1955/2009) a saber, a revolta orgnica ou a averso biolgica de sujeitos contra as sociedades tecnolgicas avanadas que, alm da produo do consumo suprfluo tambm tm aumentado os meios de destruio em graus cada vez maiores , no contexto das novas organizaes de trabalho, transladou-se em energia corporal destrutiva, s que agora retrada para o prprio sujeito, culminando no desejo de morte, e, assim, na sua morte fsica.

    Consideraes finais

    O atalho para a morte contraditoriamente encurtado pelas relaes deterioradas estabelecidas no mundo do trabalho, sendo que a morte de um assalariado nesse contexto acaba por revelar o quanto a autoconservao racionalizada e incorporada pelo sujeito tem resultado no seu contrrio: a autodestruio. Da, tendo em vista as discusses acima, com

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    relao ao gesto fatal do suicdio no ambiente laboral, perguntamos: o suicdio de sujeitos no se tornou a mxima confirmao de foras histricas que operam no sentido de alimentar a ideologia do sacrifcio e o desejo de morte, para que as sociedades tecnolgicas e ps-industriais do mundo administrado continuem a funcionar com a sua lgica produtivista altamente destrutiva? Ou seja, mais do que uma mensagem de desespero ou de protesto por parte de quem pe fim prpria vida, assim sinalizando que algo muito cruel subsiste nas relaes de trabalho, o ato suicida, em ltima instncia, no seria a confirmao de que o sistema funciona com a sua incontestvel prioridade em nome do progresso? O suicdio do trabalhador no

    seria o reverso da razo autoconservadora? Nesse sentido, a impotncia daquele que d cabo da prpria vida no ambiente de trabalho acaba por perpetuar as foras que o mutilaram: o poder das novas organizaes de trabalho calcadas na gesto do terror.

    Para alm das leituras que veem no suicdio uma fora de resistncia que obriga a buscar a verdade que se esconde por trs das perversas relaes de trabalho estabelecidas (Dejours & Bugue, 2010), eis algumas questes que nos levam a uma triste concluso: a de que o trabalho morto faz parte do esquema dominante. Mas, segundo Adorno (1951/1993), a esperana no se encontra nos desesperanados

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    Ana Paula de vila GomideDoutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de So Paulo edocente da Universidade Federal de Uberlndia, Uberlndia MG Brasil.E-mail: [email protected]

    Endereo para envio de correspondncia:Rua Maria Dria Cunha, 160, Ap. 302, Bairro Jardim Finotti. CEP: 38408-080. Uberlndia, MG.

    Recebido 27/04/2011, 1 Reformulao 13/12/2012, Aprovado 22/01/2013.

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