Marcio BoletimTecnico Projeto ARPLAS final 31102018
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Instituto de
Materiais
Cerâmicos
Boletim Técnico
Aproveitamento de resíduos de rochas no desenvolvimento de
produtos cerâmicos-poliméricos
Projeto ARPLAS
Convênio: SCIT 51/2014 Processo: 337-25.00/14-0
BO
LETIM
TÉC
NIC
OB
OLET
IM T
ÉCN
ICO
BO
LETIM
TÉC
NIC
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OLET
IM T
ÉCN
ICO
Instituto de
Materiais
Cerâmicos
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
DIVISÃO DE POLOS TECNOLÓGICOS POLO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DO VALE DO CAÍ
Boletim Técnico Projeto: Aproveitamento de resíduos de rochas no desenvolvimento de produtos cerâmicos-poliméricos (Projeto ARPLAS)
Financiamento: SDECT/UCS Convênio: SCIT 52/2013 Processo: 364-25.00/13-9 Aproveitamento de resíduos de rochas no desenvolvimento de produtos cerâmicos-poliméricos Equipe Executora: Dr. Márcio Ronaldo Farias Soares* Dr. Otávio Bianchi Dra. María Cristina Moré Farias Dra. Jadna Catafesta * [email protected] Universidade de Caxias do Sul (UCS) Instituto de Materiais Cerâmicos – IMC Rua Irmão Moretto, no 75, Bairro D. Vicente, Bom Princípio, CEP 95765-000, RS, Brasil (+55) 51 3634-1100 [email protected] www.ucs.br/site/imc
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ÍndiceÍndiceÍndiceÍndice
4 IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução
5 Resultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projeto
6 Fabricação dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricas
7 Propriedades tecnológicas dos corpos de prova das formulações cerâmico-
poliméricas
9 Propriedades mecânicas dos corpos de prova das formulações cerâmico-
poliméricas
10 Molhabilidade das superfícies dos corpos de prova das formulações
cerâmico-poliméricas
11 Análise química e térmica dos corpos de prova das formulações cerâmico-
poliméricas
12 Microestrutura dos corpos de prova das formulações cerâmico-poliméricas
13 Topografia dos corpos de prova das formulações cerâmico-poliméricas
15 Coeficiente de atrito e desgaste por deslizamento das formulações cerâmico-
poliméricas
16 Resistência ao risco das formulações cerâmico-poliméricas
17 Resistência à abrasão dos corpos de prova das formulações
18 Seleção de formulações para revestimentos cerâmico-poliméricos com base
no desempenho mecânico e tribológico
18 Fabricação das placas de revestimentos com potencial aplicação na
construção civil
20 Fabricação de placas protótipos (painéis portantes de exposição)
21 ConclusõesConclusõesConclusõesConclusões
22 Referências bibliográficasReferências bibliográficasReferências bibliográficasReferências bibliográficas
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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução
A economia de recursos energéticos e naturais com o foco na proteção e preservação do
meio ambiente são demandas mundiais importantes para o desenvolvimento tecnológico
sustentável de países em desenvolvimento como o Brasil. Tais demandas motivaram a
realização do Projeto intitulado Aproveitamento de Resíduos de Rochas no
Desenvolvimento de Produtos Cerâmico-Poliméricos (ARPLAS), na busca por soluções
inovadoras para a produção de novos materiais com propriedades otimizadas, que possam
ser aplicadas como revestimentos na construção civil. Realizado no âmbito do Programa
de Apoio aos Polos Tecnológicos do RS e do Polo de Inovação Tecnológica do Vale do
Caí, este projeto teve aporte de recursos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul (SDECT), com foco no
desenvolvimento e caracterização de materiais compósitos à base de resíduos provenientes
do corte de rochas e de construção e demolição (RDC's), como agregados para a fabricação
produtos cerâmico-poliméricos, que possuam características físico-químicas, mecânicas e
tecnológicas adequadas. Tais características auxiliaram na seleção de formulações com
níveis adequados de atrito, associado ao escorregamento e de resistência ao desgaste por
deslizamento, à abrasão e ao risco, associados à durabilidade do revestimento. Neste
sentido, foram desenvolvidos placas de revestimentos (compósitos de matriz polimérica)
com adição de resíduos de rochas e de construção e demolição. Neste Boletim Técnico,
são apresentados os principias resultados obtidos pelo projeto.
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Principais objetivos técnicos e científicos Principais objetivos técnicos e científicos Principais objetivos técnicos e científicos Principais objetivos técnicos e científicos
do projetodo projetodo projetodo projeto
Desenvolver materiais compósitos com
agregados de resíduos de rocha e de construção
e demolição (RCD), que possuam boa resistência
mecânica, à abrasão e ao risco, textura superficial
e durabilidade. Além de possuir propriedades
tribológicas (atrito e desgaste) aceitáveis para uso
como revestimentos aplicados à construção civil.
Resultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projetoResultados obtidos no âmbito do projeto
Com base em resultados preliminares obtidos
durante a execução de vários ensaios
exploratórios, foram confeccionados materiais
compósitos constituídos por uma matriz
polimérica a base de resina poliéster (resina
poliéster insaturada tereftálica - PET) reforçada
com dois tipos de aditivos cerâmicos
particulados, um resíduo de origem de
mineração (rocha) e outro resíduo de origem de
construção e demolição (RCD). Esses resíduos
foram adicionados à matriz polimérica e
estudados em função de diferentes distribuições
granulométricas.
CaracterizaçãoCaracterizaçãoCaracterizaçãoCaracterização das matériasdas matériasdas matériasdas matérias----primasprimasprimasprimas
Dois tipos de resíduos de rocha foram coletados
em minas da região da Serra Gaúcha, um com
granulometria denominada “grossa” e outro com
granulometria denominada “fina”. A rocha de
origem do material coletado é classificada como
de natureza ácida, devido ao seu alto teor de
quartzo (acima de 60%), além ser de constituída
principalmente por outros elementos como
feldspato, anortita, diopsídio, augita, tremolita e
ilmenita, conforme indicaram as análises de
difração de raios X (DRX). A sua microetrutura
apresenta-se como uma estrutura granular fina
(Figura 1).
Após a coleta, os particulados foram deixados em
estufa durante 24 h a temperatura de ~120ºC,
para retirar a umidade adsorvida à superfície das
partículas pelo ambiente.
A fim de se obter diferentes distribuições
granulométricas, parte do resíduo de rocha
“grosso” e “fino” coletado foi submetido a um
processo de moagem a seco em moinho de bolas
por 5 h. O material como coletado e o obtido da
moagem foi então peneirado, e curvas
granulometrias foram levantadas com o intuito
de determinar o diâmetro médio das partículas.
Ambos materiais particulados, como coletados e
processados por moagem por 5 h, apresentaram
um perfil de distribuição granulométrico
contínuo (Figura 2), o que minimiza a presença
de possíveis vazios nas formulações produzidas e
propicia uma melhora nas propriedades
Figura 1 – Micrografia da rocha de origem do resíduo particulado. Imagem obtida por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).
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reológicas, na resistência mecânica e na textura
superficial do produto final.
Além dos resíduos de rocha, materiais
particulados provenientes do descarte da
construção civil foram coletados em uma
empresa processadora de entulhos da região da
Serra Gaúcha, que previamente separados
(cerâmicas, argamassas e concretos), são britados
gerando assim o que chamamos Resíduo de
Construção e Demolição ou (RCD). Após a
coleta, o RCD foi devidamente seco em estufa à
120ºC por 24 h, com a finalidade de reduzir a
presença de umidade. Na sequência, o RCD foi
processado em moinho de bolas em dois tempos
distintos de 2,5 h e 5 h, com base em estudos
prévios realizados pelo grupo de pesquisa,
apresentando ambos um perfil de distribuição
granulométrico contínuo (Figura 3).
A análise via DRX para o RCD se mostrou de
difícil interpretação, sendo possível identificar
elementos de maior presença como quartzo
(grande maioria), seguido por calcita e albita sem
a presença de amorfos.
A resina poliéster utilizada como matriz é uma
resina comercial de baixo custo, fácil manejo e
grande potencial de reaproveitamento, pois
também pode ser oriunda de produtos
descartáveis como garrafas plásticas. A resina
poliéster insaturada tereftálica, ou simplesmente
PET, é um polímero termoplástico formado pela
reação entre o ácido tereftálico e etileno glicol
(Figura 4).
Fabricação dFabricação dFabricação dFabricação dosososos corpos de provacorpos de provacorpos de provacorpos de prova ddddeeee formulações formulações formulações formulações
cerâmicocerâmicocerâmicocerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
A resina poliéster, juntamente com o reforço
cerâmico (resíduo de rocha ou RCD), foi
processada em mistura única manual a fim de se
obter uma massa homogênea e consistente. Na
sequência, o compósito foi moldado em formatos
específicos para obtenção de corpos de prova de
Figura 4 – Esquema de reação de formação do PET.
Figura 2 – Curvas granulométricas para o particulado de rocha como coletado grosso e fino (linhas contínuas) e moídos por 5h (linhas tracejadas).
Figura 3 – Curvas granulométricas para o particulado de RCD moídos por 2,5h (linhas preta) e 5h (linha vermelha).
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acordo com normas específicas para a realização
de ensaios laboratoriais. Após desmoldados estes
corpos de prova passaram por um processo de
cura controlada em estufa a 80ºC por 48 h.
ProProProPropriedades tecnológicaspriedades tecnológicaspriedades tecnológicaspriedades tecnológicas ddddosososos corpos de prova corpos de prova corpos de prova corpos de prova
ddddasasasas formulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
Os corpos de prova produzidos nas formulações
específicas (poliéster-rocha e poliéster-RCD), na
forma de placa, foram caracterizados quanto a
suas propriedades tecnológicas, no que se refere
à absorção de água, perda de cor e brilho. O
índice de absorção de água (Aa) foi avaliado de
acordo com a norma NBR 13818 – anexo B. Em
todos os corpos de prova produzidos, o índice de
absorção de água ficou abaixo de 0,5% (Tabela
1). Para avaliar a perda de cor e brilho das peças
produzidas, foram realizados ensaios de
envelhecimento acelerado UV segundo a norma
ASTM D573-04 para o tempo de 264 h, tempo
equivalente a seis meses de exposição à radiação
ultravioleta.
Tabela 1 – Absorção de água dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Índice de absorção de Índice de absorção de Índice de absorção de Índice de absorção de
água Aa (%)água Aa (%)água Aa (%)água Aa (%)
Resina poliéster pura 0,18 ± 0,02
Poliéster-Rocha-grosso-5h 0,38 ± 0,03
Poliéster-Rocha-fino-5h 0,22 ± 0,03
Poliéster-RCD-2.5h 0,22 ± 0,04
Poliéster-RCD-5h 0,19 ± 0,05
As medidas de cor e brilho dos corpos de prova
antes e após os ensaios de envelhecimento foram
realizadas utilizado um medidor de brilho
(glossmeter) Mutli Gloss GM-268A da Konica
Minolta. O brilho é quantificado pela incidência
de um feixe de luz, de determinada intensidade,
em ângulo fixo relativo à normal ao plano da
superfície da amostra, medindo a quantidade de
luz refletida em seu ângulo complementar. São
três geometrias de ângulos de incidência (20, 60
e 85º), e o brilho é calibrado utilizando um
padrão de vidro preto e tomado como referência
à 100 unidades de brilho. Assim, quanto mais
próximo a esse valor mais especular é a
superfície, caso contrário será mais fosca.
Superfícies semi-reflexivas são medidas com um
ângulo de incidência de 60° e devem estar dentro
de um intervalo de 10 a 70. Superfícies altamente
refletivas com valores de medição superiores a 70
na geometria de 60°, devem ser medidas a 20°.
Por outro lado, superfícies foscas com menos de
10 unidades de brilho (a 60°) devem ser medidas
na geometria de 85°. Para não-metais, a
quantidade de luz refletida normalmente
aumenta com um maior ângulo de iluminação,
além de estar relacionada a parte da luz penetrar
no material e ser absorvida, ou difusa pela
superfície, dependendo de sua cor e rugosidade
[1,2].
As medidas de brilho realizadas, antes e após
264 h de envelhecimento acelerado (Tabela 2),
indicaram que estes corpos de prova podem ser
classificados como de superfícies foscas. Não
houve indicação de alterações significativas de
brilho (a 85º) para todas as formulações após o
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envelhecimento. O compósito Poliéster-RCD-
2.5h foi o que apresentou a menor variação de
brilho.
O sistema CIE (definido pela Comissão
Internacional de Iluminação) [3], usa os
parâmetros L*, a* e b* para descrever cor. L*
corresponde ao grau de luminosidade (lightness)
e escuridão (darkness), e a* e b* correspondem à
escala cromática: vermelho (+a*), verde (-a*),
amarelo (+b*) e azul (-b*) (Figura 5) [4]. O
parâmetro ∆E* representa a variação de cor, e
está relacionado com os parâmetros L*, a* e b*
de acordo com a Equação (1) [5].
(1)
onde os subíndices i e f são, respectivamente, os
valores dos parâmetros antes e depois do ensaio
de envelhecimento acelerado. A cor de um objeto
depende da sua refletância espectral da
superfície, a qual está relacionada com sua
rugosidade. Devido à diversidade de
formulações, as superfícies exibem diferentes
níveis de rugosidade superficial. Materiais com
cargas maiores geralmente apresentam maior
rugosidade superficial do que aqueles com cargas
menores [6]. Comparando os valores de ∆E*
(Tabela 3), observou-se que entre as formulações
de mesmo reforço com tamanho médio maior,
apresentaram as maiores alterações de cor.
Observou-se também que os compósitos a base
de rocha, apresentaram uma tendência ao verde
e ao amarelo, enquanto aos compósitos a base de
RCD, uma tendência ao vermelho e amarelo,
para aquela com particulado de tamanho médio
maior, e para verde e azul, para a de tamanho
médio menor. O compósito Poliéster-RCD-5h
apresentou a menor variação dos índices de cor.
Tabela 2 – Resultados de envelhecimento UV dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Antes do envelhecimentoAntes do envelhecimentoAntes do envelhecimentoAntes do envelhecimento Depois do envelhecimentoDepois do envelhecimentoDepois do envelhecimentoDepois do envelhecimento
20o 60o 85o 20o 60o 85o
Poliéster-Rocha-grosso-5h 0,0 ± 0,0 0,6 ± 0,1 1,3 ± 0,0 0,0 ± 0,0 0,6 ± 0,0 0,8 ± 0,1
Poliéster-Rocha-fino-5h 0,0 ± 0,0 1,0 ± 0,1 2,4 ± 0,2 0,1 ± 0,0 1,2 ± 0,1 5,5 ± 0,4
Poliéster-RCD-2.5h 0,0 ± 0,0 0,6 ± 0,1 0,9 ± 0,1 0,0 ± 0,0 1,0 ± 0,0 0,8 ± 0,1
Poliéster-RCD-5h 0,0 ± 0,0 0,8 ± 0,1 1,1 ± 0,1 0,0 ± 0,0 1,0 ± 0,0 1,5 ± 0,0
( ) ( ) ( )2 2 2
* * * * * ** f i f i f iE L L a a b b∆ = − + − + −
Figura 5 – Espaço de cor CIE L*a*b*.
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Tabela 3 – Resultados de cor dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Antes do envelhecimentoAntes do envelhecimentoAntes do envelhecimentoAntes do envelhecimento Depois do envelhecimentoDepois do envelhecimentoDepois do envelhecimentoDepois do envelhecimento
∆E* L* a* b* L* a* b*
Poliéster-Rocha-grosso-5h 31,50 5,65 6,49 33,01 5,19 7,76 2,03
Poliéster-Rocha-fino-5h 30,48 5,14 6,13 30,84 4,60 6,34 0,68
Poliéster-RCD-2.5h 34,15 7,34 10,78 34,57 7,70 12,59 1,89
Poliéster-RCD-5h 33,58 7,10 10,12 33,86 6,52 9,94 0,64
Propriedades mecânicas dos corpos de prova Propriedades mecânicas dos corpos de prova Propriedades mecânicas dos corpos de prova Propriedades mecânicas dos corpos de prova
das formulações cerâmicodas formulações cerâmicodas formulações cerâmicodas formulações cerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
O módulo de elasticidade e a resistência
mecânica dos corpos de prova cerâmico-
poliméricos foram determinados a partir de
ensaios de flexão transversal de carregamento em
três pontos, de acordo com a norma ASTM D790
[7]. Para os compósitos poliéster-rocha
observou-se um aumento do módulo de
elasticidade (Tabela 4) das formulações com a
redução do tamanho de partícula. Entretanto,
essa mesma tendência não se repetiu para os
compósitos poliéster-RCD.
Tabela 4 – Módulo de elasticidade dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Módulo de Módulo de Módulo de Módulo de
elasticidade (MPa)elasticidade (MPa)elasticidade (MPa)elasticidade (MPa)
Resina poliéster 4.221 ± 323
Poliéster-Rocha-grosso-5h 12.660 ± 432
Poliéster-Rocha-fino-5h 15.420 ± 1.665
Poliéster-RCD-2.5h 17.807 ± 615
Poliéster-RCD-5h 14.140 ± 2.188
Como pode ser observado na Tabela 5, não
houve diferenças entre os valores obtidos para a
resistência à flexão dos corpos de prova
produzidos como o mesmo tipo de carga.
Contudo, os compósitos produzidos a base de
RCD apresentaram os maiores índices de
resistência à flexão.
Tabela 5 – Resistência à flexão dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação ResisResisResisResistência à flexão tência à flexão tência à flexão tência à flexão
(MPa)(MPa)(MPa)(MPa)
Resina poliéster 27,07 ± 5,80
Poliéster-Rocha-grosso-5h 28,54 ± 6,98
Poliéster-Rocha-fino-5h 28,86 ± 3,38
Poliéster-RCD-2.5h 36,78 ± 3,79
Poliéster-RCD-5h 36,37 ± 4,18
Os corpos de prova também foram submetidos
ao ensaio de dureza Rockwell, escala R, segundo
a norma ASTM D785-08 [8], antes e após o
ensaio de envelhecimento UV. Os valores
obtidos antes do ensaio de envelhecimento não
apresentaram diferença significativa (Tabela 6).
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Após o ensaio de envelhecimento, observou-se
que a formulação Poliéster-Rocha-Fino-5h não
apresentou diferença significativa no valor da
dureza. Para as demais formulações, houve uma
redução no valor da dureza. Para o poliéster puro
antes do ensaio a dureza foi 125 ± 1 HR.
Tabela 6 – Dureza Rockwell dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Dureza RockwellDureza RockwellDureza RockwellDureza Rockwell----R (HR)R (HR)R (HR)R (HR)
AntesAntesAntesAntes DepoisDepoisDepoisDepois
Poliéster-Rocha-grosso-5h 119 ± 1 116 ± 2
Poliéster-Rocha-fino-5h 119 ± 1 119 ± 2
Poliéster-RCD-2.5h 119 ± 1 110 ± 2
Poliéster-RCD-5h 120 ± 1 106 ± 1
Molhabilidade das superfícies dos corpos de Molhabilidade das superfícies dos corpos de Molhabilidade das superfícies dos corpos de Molhabilidade das superfícies dos corpos de
prova das formulações cerâmicoprova das formulações cerâmicoprova das formulações cerâmicoprova das formulações cerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
A molhabilidade das superfícies das placas das
formulações com poliéster-rocha e poliéster-
RCD foi determinada por medidas de ângulo de
contato utilizando um tensiômetro óptico
modelo Phoenix-100 da SEO (Figura 6).
Figura 6 – Tensiômetro Óptico, SEO.
As medidas foram realizadas utilizando-se água
mili-Q, antes e depois do ensaio de
envelhecimento (Tabela 7). Com relação à
molhabilidade de uma superfície, diz-se que ela
é hidrofílica quando o ângulo de contato é
menor ou igual a 90o, e hidrofóbica quando o
ângulo de contato está entre 90o e 150o. Dois
fatores afetam o valor do ângulo de contato:
rugosidade (topografia) e energia livre de
superfície (polaridade).
Comparando os valores obtidos antes do
envelhecimento, observou-se que as superfícies
tiveram caráter mais hidrofóbico. Isso se deve ao
fato de que o particulado tanto o resíduo de
rocha quanto o RCD era constituído de
compostos polares. Além disso, como as
superfícies não foram polidas, teve-se a
influência da topografia destas amostras.
Tabela 7 – Ângulo de contato (antes e depois do envelhecimento) dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos (resina poliéster reforçada com resíduos de rocha ou RCD).
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Ângulo de contato (º)Ângulo de contato (º)Ângulo de contato (º)Ângulo de contato (º)
Antes Antes Antes Antes Depois Depois Depois Depois
Poliéster-Rocha-grosso-5h 84,7 ± 1,9 85,0 ± 4,3
Poliéster-Rocha-fino-5h 109,3 ± 5,9 106,9 ± 3,4
Poliéster-RCD-2.5h 118,6 ± 4,3 81,3 ± 3,0
Poliéster-RCD-5h 88,9 ± 7,0 69,6 ± 4,3
Após o envelhecimento, os valores do ângulo de
contato para as formulações com resíduo de
rocha (grosso e fino) não apresentaram diferença
significativa. Entretanto, para as formulações
com RCD, percebeu-se uma diminuição no
valor, que ainda foi maior em relação ao do
poliéster puro (59,4 ± 3,0).
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Análise química e térmica dos corpos de prova Análise química e térmica dos corpos de prova Análise química e térmica dos corpos de prova Análise química e térmica dos corpos de prova
das formulações das formulações das formulações das formulações cerâmicocerâmicocerâmicocerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
Foi realizada uma série de análises por
espectrometria de infravermelho (ATR-FTIR), a
fim de investigar a natureza química dos corpos
de prova, antes e depois do ensaio de
envelhecimento. As principais mudanças nos
espectros estão relacionadas à diminuição da
intensidade em 1724 cm-1 (estiramento, C=O),
1457 cm-1 e 1376 cm-1 (hidrocarbonetos
aromáticos) e 697 cm-1, bem como ao surgimento
de um ombro em 1620 cm-1 [9], para as
formulações Poliéster-Rocha-fino5h, Poliéster-
RCD-2,5h e 5h (Figura 7).
(a)
(b)
Análises termogravimétricas (TGA) foram
realizadas em ar sintético com rampa de
aquecimento a 10 ºC.min-1 (Figura 8 (a,b)).
A partir da análise das curvas de perda de massa
observou-se que, para os compósitos Poliéster-
Rocha-grosso5h (linha vermelha), Poliéster-
Rocha-fino5h (linha preta) e Poliéster-RCD-5h
(linha verde), a fração do resíduo final de queima
foi aproximadamente a mesma apresentada na
formulação teórica da mistura. Já para o
compósito Poliéster-RCD-2,5h (linha vermelha),
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
C-H
C-H
CO-O
C-H
Abso
rvan
cia
(a. u
.)
PET-RG 5h
PET-RF 5h
PET-RCD 5h
PET-RCD 2.5h
Número de onda (cm-1
)
PET
C=O
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
C-H
C-H
CO-O
C-H
Abso
rvan
cia
(a. u
.)
PET-RG 5h
PET-RF 5h
PET-RCD 5h
PET-RCD 2.5h
Número de onda (cm-1
)
PET
C=O
(a)
(b)
Figura 7 – Espectros de FTIR dos compósitos de resina poliéster, antes (a) e após envelhecimento (b).
Figura 8 – Curvas de perda de massa dos compósitos de resina poliéster a base de rochas (a) e a base de RCD (b).
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o resíduo final de queima indicou
aproximadamente 75%, três pontos percentuais
abaixo da formulação teórica produzida, o que
pode estar associado à presença de algum
material orgânico na composição do RCD. Esta
flutuação no valor também pode ser atribuída à
estatística na amostragem do compósito, uma
vez que este particulado apresentou uma
distribuição granulométrica maior. Na curva de
perda de massa correspondente somente ao
resíduo RCD-2,5h (linha preta) (Figura 8 (b)),
observou-se também uma mesma tendência de
flutuação no valor de perda de massa, assim
como o observado para o compósito Poliéster-
RCD-2,5h.
Microestrutura dos corpos de prova das Microestrutura dos corpos de prova das Microestrutura dos corpos de prova das Microestrutura dos corpos de prova das
formulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
A microestrutura dos corpos de prova cerâmico-
poliméricos foi avaliada por microscopia óptica
(MO) e microscopia eletrônica de varredura
(MEV). O exame foi realizado após polimento
das superfícies. Os corpos de prova de poliéster-
rocha (Figura 7 (a,b)) e poliéster-RCD (Figura 9
(c,d)) não estavam livre de porosidade. A análise
por MEV (Figura 10) mostrou que todas as
amostras apresentaram uma boa dispersão do
particulado de diferentes formas e tamanhos na
matriz de poliéster. Observou-se também que as
amostras produzidas a base de aditivos de RCD,
apresentaram a maior distribuição de tamanho
de partículas das formulações propostas.
(a) (b) (c) (d)
Figura 9 – Micrografia da microestrutura das formulações cerâmico-poliméricas. Imagens obtidas por MO. (a) Poliéster-rocha-grosso-5h. (b) Poliéster-rocha-fino-5h. (c) Poliéster-RCD-2,5h. (d) Poliéster-RCD-5h.`
(a) (b) (c) (d)
Figura 10 – Micrografia da microestrutura das formulações cerâmico-poliméricas. Imagens obtidas por MEV. (a) Poliéster-rocha-grosso-5h. (b) Poliéster-rocha-fino-5h. (c) Poliéster-RCD-2,5h. (d) Poliéster-RCD-5h. 250 X.
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Topografia dos corpTopografia dos corpTopografia dos corpTopografia dos corpos de prova das os de prova das os de prova das os de prova das
formulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmicoformulações cerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
Para estes mesmos corpos de prova polidos,
utilizando um Perfilômetro Óptico 3D, GTK da
Bruker (Figura 11), foi possível avaliar a
topografia das amostras (Figura 12) e determinar
a rugosidade média dessas superfícies em função
da formulação. A rugosidade foi menor para as
amostras com maior tempo de moagem do
resíduo (Tabela 8).
Figura 11 – Perfilômetro óptico 3D - GTK, Bruker
(a) (b)
(c) (d)
Figura 12 – Imagens de perfilometria óptica 3D da superfície das corpos de prova cerâmico-poliméricos. (a) Poliéster-Rocha-grosso-5h. (b) Poliéster-Rocha-fino-5h. (c) Poliéster-RCD-2,5h. (d) Poliéster-RCD-5h. Magnificação de 5 X.
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Tabela 8 – Rugosidade da superfície dos corpos de prova de formulações cerâmico-poliméricos obtidos por perfilometria óptica 3D.
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação RugosidadeRugosidadeRugosidadeRugosidade
Ra (Ra (Ra (Ra (µµµµm) m) m) m) Rq (Rq (Rq (Rq (µµµµm) m) m) m)
Poliéster-Rocha-grosso-5h 0,595 2,205
Poliéster-Rocha-fino-5h 0,554 1,799
Poliéster-RCD-2.5h 1,699 3,188
Poliéster-RCD-5h 0,849 2,009
Utilizando um Microscópio de Força Atômica,
SPM-9700HD da Shimadzu (Figura 13), foi
possível, a partir das imagens das superfícies,
(Figura 14) estimar o diâmetro médio da fração
das partículas com diâmetros menores que 200
nm presentes nas formulações.
Figura 13 – Microscópio de força atômica, SPM 9700HD Shimadzu.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 14 – Imagens de microscopia de força atômica (AFM) da superfície das corpos de prova cerâmico-poliméricos. (a) Poliéster-Rocha-grosso-5h. (b) Poliéster-Rocha-fino-5h. (c) Poliéster-RCD-2,5h. (d) Poliéster-RCD-5h. Área de varredura 5x5 µm.
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Como esperado, observou-se a presença de
partículas em escala nanométrica em todas as
formulações, além de uma tendência à redução
de tamanho de partícula com o aumento do
tempo de moagem para as formulações poliéster-
RCD. Observou-se também a presença de
menores finos na formulação poliéster-rocha-
fino-5h que a formulação com rocha-grosso-5h,
apresentando o menor diâmetro médio de
partículas, com valor médio de 74,6 ± 10,0 nm
(Tabela 9; Figura 15).
Tabela 9 – Diâmetro médio das partículas das formulações cerâmico-poliméricas com tamanho abaixo de 200 mm.
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Diâmetro Diâmetro Diâmetro Diâmetro mmmmédio (nm) édio (nm) édio (nm) édio (nm)
(abaixo de 200 nm)(abaixo de 200 nm)(abaixo de 200 nm)(abaixo de 200 nm)
Poliéster-Rocha-grosso-5h 116,1 ± 19,8
Poliéster-Rocha-fino-5h 74,6 ± 10,0
Poliéster-RCD-2.5h 164,9 ± 24,6
Poliéster-RCD-5h 109,5 ± 23,3
Figura 15 – Imagem de AFM da superfície da amostra Poliéster-Rocha-fino-5h.
Coeficiente de atrito Coeficiente de atrito Coeficiente de atrito Coeficiente de atrito e desgaste por e desgaste por e desgaste por e desgaste por
deslizamento deslizamento deslizamento deslizamento das formulações cerâmicodas formulações cerâmicodas formulações cerâmicodas formulações cerâmico----
poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
Nestas amostras foram realizados ensaios de
deslizamento com o objetivo de estudar
coeficiente de atrito e o desgaste das formulações
de compósitos de resina de poliéster e resíduos
cerâmicos. Os ensaios foram executados
utilizando o módulo de ensaios de deslizamento
alternado acoplado ao equipamento de ensaios
tribológicos (tribômetro) UMT Tribolab da
Bruker (Figura 16), em condições de
deslizamento linear alterado. Os ensaios foram
executados sem meio líquido (a seco), a
temperatura ambiente, com valores fixos de
força, velocidade de deslizamento e tempo.
Observou-se
uma tendência
de aumento no
coeficiente de
atrito com a
redução do
tamanho das
partículas (i.e.
aumento do
tempo de
moagem), para
todas as
formulações
(Tabela 10).
Figura 16 – Equipamento de ensaios tribológicos (atrito, desgaste e lubrificação) Tribômetro UMT-Tribolab, Bruker.
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Tabela 10 – Resultados dos ensaios tribológicos das formulações cerâmico-poliméricas.
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Coeficiente Coeficiente Coeficiente Coeficiente
de atritode atritode atritode atrito
Desgaste, lDesgaste, lDesgaste, lDesgaste, largura argura argura argura
da trilha (mm)da trilha (mm)da trilha (mm)da trilha (mm)
Poliéster-Rocha-grosso-5h 0,83 ±0,02 0,11 ± 0,02
Poliéster-Rocha-fino-5h 1,27 ±0,04 0,10 ± 0,05
Poliéster-RCD-2.5h 0,73 ±0,03 0,07 ± 0,03
Poliéster-RCD-5h 0,88 ±0,02 0,09 ± 0,04
Já em relação à largura da trilha, observa-se que
as formulações a base de RCD apresentaram um
menor desgaste, além de uma tendência ao
aumento do desgaste com relação ao tempo de
moagem.
Resistência ao risco das formulações cerâmicoResistência ao risco das formulações cerâmicoResistência ao risco das formulações cerâmicoResistência ao risco das formulações cerâmico----
poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
Com o intuito de avaliar a resistência ao risco
das formulações, foram realizados ensaios de
esclerometria unidirecional, também conhecido
como ensaio de riscamento (do inglês scratch
test). Esse ensaio consiste em riscar a superfície
da amostra com um penetrador geralmente de
diamante com ponta esférica. O penetrado é
pressionado contra a superfície da amostra sob
ação de uma força crescente ou constante
enquanto desliza (Figura 17) até a observação
dos fenômenos que desejam-se estudar.
Fenômenos como deformação plástica e
aparecimento de trincas são comumente
estudados, juntamente com a evolução da
variáveis do ensaio, como força normal, força
tangencial (associada à força de atrito) e
coeficiente de atrito. Alterações em alguns desses
parâmetros de ensaio permitem identificar e
comparar materiais mono e multifásicos, obtidos
por diferentes tratamentos ou processamentos,
quanto a sua resistência ao risco, assim como
avaliar de forma semiquantitativa a adesão de
revestimentos (tintas, filmes finos, etc.) a
substratos [13].
Para os materiais produzidos no âmbito deste
projeto, foi avaliado o coeficiente de atrito
resultante dos ensaios de riscamento, que foram
realizados utilizando o módulo de riscamento
(Figura 18) acoplado ao tribômetro UMT
TriboLab, aplicando-se uma carga crescente de
4 N até 40 N a 5.8 N/mm, em uma distância de
6 mm. Cada ensaio foi repetido no mínimo duas
vezes. A resposta
deste tipo de
ensaio pode ser
associada à
resistência ao risco
das formulações.
Considerando o
trabalho do atrito
(energia liberada
pelo atrito), Wsi,
notou-se (Figura
19) que as Figura 17 – Deformação elástica e plástica desenvolvidas em material durante o ensaio de esclerometria linear ou riscamento [10].
Figura 18 – Módulo de riscamento UMT-Tribolab, Bruker.
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formulações contendo RCD apresentaram
menor Wsi, quando comparadas com as que
continham Rocha-grosso (RG) e Rocha-fino
(RF).
Assim, o menor valor de Wsi para as
formulações com RCD se interpreta como uma
menor energia liberada pelo atrito durante a
passagem do indentador pela superfície da
amostra. Essa menor energia do atrito indica que
as formulações com RCD tiveram menor
deformação plástica e menor riscamento e, por
conseguinte, maior resistência ao risco que as
formulações com rocha. Esse resultado se
correlaciona com a maior resistência à flexão e
com o maior índice de abrasão obtido para essas
formulações.
Figura 19 – Trabalho do atrito no ensaio de esclerometria linear das quatro formulações.
Resistência à abrasão Resistência à abrasão Resistência à abrasão Resistência à abrasão de placasde placasde placasde placas das formulações das formulações das formulações das formulações
cerâmicocerâmicocerâmicocerâmico----poliméricaspoliméricaspoliméricaspoliméricas
A resistência à abrasão de placas produzidas nas
formulações estudadas foi determinada por meio
de ensaios de resistência à abrasão de acordo com
a norma ASTM C744-15 (mesma utilizada para
placas concreto pré-fabricado) [11,12]. Foram
preparados corpos de prova quadrados de (100 x
100 mm e 6 mm) (Figura 20), e ensaiados em
um abrasímetro tipo Taber 5135, da Taber
Industries (Figura 21). Esse ensaio consiste em
submeter as amostras em rotação a 60 rpm a 500
ciclos, pressionando dois rebolos (9,8 N de carga
cada) sobre a superfície. Usando a Equação (2),
obtém-se um índice de abrasão (Iw) do material,
que depende da massa das amostras antes (w0) e
depois (wf) da realização do ensaio. Quanto
maior for esse índice, maior é a resistência ao
desgaste por abrasão. Os valores para o índice de
abrasão obtidos para as formulações com RCD,
apresentaram uma redução em relação ao
aumento do tempo de moagem. Já para as
formulações com resíduo de rocha, observou-se
uma diminuição no valor com o aumento do
tamanho médio do particulado (Tabela 11).
(2)
Figura 20 – Corpo de prova amostra Poliéster-RCD-2,5h ensaiada em abrasímetro Taber - ASTM C744-15 [12].
PET_RCD_2.5h PET_RCD_5h PET_RG_5h PET_RF_5h
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
Tra
balh
o d
o a
trit
o,
Wsi
(N
.mm
)
Formulação
0
88w
f
Iw w
=−
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Figura 21 – Abrasímetro tipo Taber 5135, Taber Industries.
Tabela 11 – Índice de abrasão das formulações cerâmico-poliméricas.
FormulaçãoFormulaçãoFormulaçãoFormulação Índice de abrasão, IÍndice de abrasão, IÍndice de abrasão, IÍndice de abrasão, IWWWW
Poliéster-Rocha-grosso-5h 632 ± 064
Poliéster-Rocha-fino-5h 782 ± 277
Poliéster-RCD-2.5h 978 ± 178
Poliéster-RCD-5h 754 ± 178
Seleção de formulações para Seleção de formulações para Seleção de formulações para Seleção de formulações para revestimentosrevestimentosrevestimentosrevestimentos
cerâmicocerâmicocerâmicocerâmico----poliméricopoliméricopoliméricopoliméricos com base no desempenho s com base no desempenho s com base no desempenho s com base no desempenho
mecânico e mecânico e mecânico e mecânico e tribológicotribológicotribológicotribológico
Foi realizada uma análise comparativa entre o
desempenho tribológico (coeficiente de atrito)
das formulações produzidas neste projeto e de
três produtos comerciais (dois pisos cerâmicos e
um pavimento intertravado de concreto) obtidos
em trabalho prévio [14]. Observou-se que, com
exceção da formulação Poliéster-Rocha-fino-5h,
os valores do coeficiente de atrito (Figura 22),
ficaram bem próximos ao valor obtido para o
piso-cerâmico1 (~0,73) e um pouco acima do
pavimento intertravado de concreto (~0,56).
Figura 22 – Coeficiente de atrito das formulações obtidas neste projeto e o de pisos comerciais.
A partir de uma análise conjunta do coeficiente
de atrito, da resistência à abrasão e à flexão para
as formulações estudadas (Figura 23), observa-se
que a formulação Poliéster-RCD-2,5h
apresentou os melhores resultados. Isto é, um
coeficiente de atrito compatível com pisos
comerciais e os maiores índices de resistência à
abrasão e à flexão.
Figura 23 – Coeficiente de atrito, índice de abrasão e resistência à flexão das formulações selecionadas neste projeto.
Fabricação das placasFabricação das placasFabricação das placasFabricação das placas de revestimentos com de revestimentos com de revestimentos com de revestimentos com
potencial aplicação na construção civilpotencial aplicação na construção civilpotencial aplicação na construção civilpotencial aplicação na construção civil
Após a definição pela formulação que apresentou
as melhores propriedades mecânicas e
tribológicas, foram definidas as dimensões da
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placa de revestimento com potencial aplicação na
indústria da construção civil, baseadas em
modelos de peças cerâmicas comerciais, com 26
cm de comprimento, 13 cm de largura e 1,2 cm
de espessura. Para a produção dessas peças foram
elaborados moldes para uso em prensas
mecânicas, confeccionados em aço inoxidável e
desmontáveis, para fácil limpeza após uso,
conforme desenho apresentado (Figura 24).
A produção das placas foi realizada seguindo as
etapas seguintes: secagem do resíduo por 24 h;
moagem do resíduo em um moinho de bolas por
2,5h; mistura mecânica das matérias-primas
(resíduo e resina polimérica); moldagem (Figura
24); prensagem por 1 min em prensa; pré-cura
em estufa a 80ºC por 15 min; desmoldagem das
placas (Figura 25), seguida de cura à 80ºC por
24 h.
Figura 24 – Molde (desenho e fotografia) elaborado para a produção das placas finais de material compósito cerâmico-polimérico.
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Figura 25 – Processo de desmoldagem das peças finais
Fabricação de placas protótipos (Fabricação de placas protótipos (Fabricação de placas protótipos (Fabricação de placas protótipos (painéis painéis painéis painéis
portantes de exposiçãoportantes de exposiçãoportantes de exposiçãoportantes de exposição))))
Foram confeccionados três (03) painéis
expositores portantes em madeira, de fácil
manuseio, para fixação de 30 placas de 26x13 cm.
Cada um destes painéis possui uma área útil de
1 m2, conforme desenho apresentado na Figura
26.
Figura 26 – Painel elaborado para expor um protótipo de revestimento pela fixação das placas produzidas.
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No total, foram produzidas no mínimo 90 peças
nas formulações contendo resíduo de rochas e de
RCD em matriz de resina poliéster, conforme
ilustra a Figura 27. Os painéis foram então
montados com as placas para os devidos ajustes,
conforme a Figura 28.
Figura 27 – Placas finais de material compósito produzidas para exposição.
Figura 28 – Painel montado para exposição com placas protótipo de revestimento produzidas.
Os três painéis produzidos possuem os números
de patrimônio 200726, 200727 e 200728, e
seguem em exposição no Instituto de Materiais
Cerâmicos – IMC em Bom Princípio. Esses
painéis podem ser transportados
esporadicamente, para demonstração, em algum
evento de divulgação feito pela Universidade de
Caxias do Sul, além de permanecer
temporariamente expostos dentro das instalações
da Universidade de Caxias do Sul.
ConclusõesConclusõesConclusõesConclusões
Com a obtenção e processamento de matérias-
primas oriundas de resíduos de mineração e de
construção civil, com o foco na sustentabilidade
e baseados em critérios técnicos e científicos, foi
possível mostrar que é altamente viável o
desenvolvimento de produtos inovadores a partir
de materiais de descarte ou de subprodutos.
O critério de seleção das formulações e produção
das peças finais (materiais compósitos) foram
baseados em características físico-químicas e
tecnológicas adequadas e, principalmente, no
desempenho mecânico, resistência à abrasão e ao
risco, atrito e desgaste por deslizamento. Ou seja,
quando apropriados do ponto de vista mecânico,
de resistência à abrasão e ao risco, esses materiais
têm valores de coeficiente de atrito na faixa de
produtos de revestimentos comerciais
disponíveis no mercado, além de menor perda de
massa especifica devido ao desgaste (associado à
durabilidade).
Vimos que com cerca de 75 a 78% em massa de
incorporação de aditivos cerâmicos em uma
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matriz polimérica de poliéster, foi possível obter
placas com níveis aceitáveis de atrito
comparáveis a de produtos comerciais. Os
revestimentos formulados a partir de resíduos de
construção e demolição foram os que melhor
atenderam os critérios de seleção (i.e. resistência
à abrasão, flexão e ao risco).Em particular, a
formulação que obteve os melhores índices foi o
compósito Poliéster-RCD-2,5h.
Referências bibliográficasReferências bibliográficasReferências bibliográficasReferências bibliográficas
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