Marca da lua

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A relação conturbada com o pai, o acidente que leva o irmão a perder a memória, os conflitos na escola, o misterioso e envolvente professor que a está rodeando... Tudo isso ainda é pouco diante do que Julie Lynch terá de enfrentar. Ao cumprir uma detenção na biblioteca da escola, ela encontra um misterioso livro, que lhe dá a missão de matar sete criaturas. Além disso, uma estranha marca de meia-lua começa a surgir em sua nuca, tornando ainda mais intrigante seu envolvimento com este fabuloso mundo da magia. O que são estas criaturas? E por que este professor, Noah, a atrai tanto?

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Flávia Duduch

São Paulo, 2014

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

Marca da LuaRevelando o Ciclo

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Copyright © 2014 by Flávia Duduch

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográficoda Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Duduch, FláviaMarca da Lua / Flávia Duduch. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. – (Talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

13-13824 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2014IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO

À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11o- andar

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Para J. K Rowling, que, com Harry Potter, fez com que meu gosto por ler e escrever aumentasse.

E aos meus amigos e familiares que me ajudaram durante todo o processo de escrita do primeiro livro de Marca da Lua.

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PARTE I – MARCADARaio de Sol ................................................................................11Consequências .........................................................................22Indiferença ...............................................................................31Festa da Valerie .......................................................................40Tabuleiro Ouija ........................................................................50Jantando com Noah ................................................................58Desencontros e Encontros ......................................................67Conversa ...................................................................................76Marcada ....................................................................................84Dores .........................................................................................92Duas menos uma .....................................................................99Informações de um médico .................................................105Festa do pijama ......................................................................112

PARTE II – CAÇADABelo da meia-noite .................................................................121Toda flor tem seu espinho ...................................................127Sonhos ajudam pessoas ........................................................138

Sumario

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É Halloween ...........................................................................148Convocação ............................................................................161Floresta de cobras ..................................................................169O Ciclo ....................................................................................175Nova companhia ...................................................................184Verdade ou desafio ...............................................................194Diferentes ...............................................................................201Bala de prata ..........................................................................212Subterrâneo ............................................................................225Amaldiçoados ........................................................................238Doce crime ..............................................................................248Primeiro a escuridão .............................................................258Para depois a claridade... .....................................................268

PARTE III – DESPEDIDASLembranças ............................................................................273Nova Iorque ...........................................................................281História para dormir .............................................................290Sweet Child O’Mine ..............................................................297

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I

Marcada

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“Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências.”

Jean Paul Sartre

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A MINHA CABEÇA latejava e eu sentia quase todos os ossos do meu corpo doerem de uma forma intensa. De início, não ousei abrir os olhos, mesmo já estando acordada.

Eu gostaria de me mexer um pouco primeiro, portanto, tentei esticar o joelho direito e, ao ver que não conseguiria mexê-lo, após um pouco de esforço, acabei me assustando. Consequentemente, mordi os lábios.

Era isso que eu fazia quando estava nervosa, e era uma droga. Eu também ficava passando a mão no cabelo, mas morder os lábios naquela hora estava mais fácil e foi quase automático. Simplesmente mordi e, em seguida, comecei a sentir o gosto de sangue. Ignorei o sangue porque não era muito.

Eu não podia ter perdido meus movimentos no joelho. Não poderia ter perdido.

Tentei me lembrar do que aconteceu antes de eu aca-bar adormecida, e a única lembrança que me vinha à mente era um barulho ensurdecedor e depois tudo ficando preto dentro de mim. Provavelmente, o sono que havia chegado, e que por pouco, parecia eterno.

Raio de Sol

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Novamente, estiquei minha perna direita e, quando consegui movimentá-la, soltei minha respiração que nem eu mesma sabia que estava segurando. Uma onda imensa de alívio passou sobre mim. Eu ainda iria conseguir andar e jogar futebol americano com meu irmão.

Aos poucos, fui abrindo os olhos e me acostumando com a luz ambiente que estava falha. Ao abri-los, avistei do lado da cama algumas máquinas e supus que algumas delas estavam me monitorando. Era bem provável. Uma das má-quinas eu já conhecia. Derek Collins, meu médico particu-lar, havia levado-a lá em casa no dia em que meu pai esteve doente. Ela tem um arranhão num dos lados que agora era visível para mim.

Derek era meu médico desde sempre. Nunca nenhum outro havia encostado em mim. Desde sempre Derek aten-de minha família, que mora em Havenwood, Canadá. Ele havia acabado de arrumar o emprego no hospital quando meu pai o conheceu e o chamou para trabalhar para nossa família.

Infelizmente a primeira consulta que ele prestou a al-guém da minha família foi a meu pai, quando ele teve uma um problema com a glicemia. Papai não pode comer açúcar demais, mas ele ainda assim insiste em encher a xícara de café com mais açúcar do que a própria cafeína.

Meu pai se chama Richard. Ele é gordo e quando se arruma para o trabalho coloca seu uniforme do hospital e, às vezes, a calça fica apertada demais. Então mamãe é obri-gada a ir comprar mais uma calça no centro para que ele tenha com o que ir trabalhar no dia seguinte. Havenwood é uma cidade minúscula, então ir ao centro não dá muito trabalho, precisam-se apenas de alguns minutos dentro de um carro.

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Papai nunca fez meu tipo favorito de pessoa que gosta-ria de conversar, quero dizer, na verdade, sempre se preo-cupava com seu status.

Talvez tenha sido apenas por status que Derek havia aceitado trabalhar com ele, afinal, todo médico gostaria de tratar os Lynch, a família mais renomada do estado, da cida-de, e isso era um saco! Parecia que meu pai era mais impor-tante que o prefeito da cidade, afinal, era o próprio médico do prefeito. Ao lado do meu pai, tinha o seu melhor amigo, o Dr. Lopez, que era menos conhecido do que o meu pai, o que não era grande coisa, uma vez que os dois tinham boa notoriedade local.

De qualquer maneira, eu e Derek nos afeiçoamos com o tempo. Quando era pequena, ele me atendia, e por eu ficar comportada durante o tratamento, ele me dava balas e do-ces ao monte, eu sempre pensei que isso acontecia porque eu era filha de Richard, mas hoje, vendo o quanto eu e Derek nos damos bem fora do espaço médico-paciente, percebo que eu estava enganada.

Meu pai trabalha em um hospital da nossa cidade, po-rém Richard sempre viajava para as cidades vizinhas a fim de dar palestras, mas no fundo eu sempre soube que os mo-tivos das viagens do meu pai eram outros.

Sempre quando ia ao outro hospital na cidade vizinha, Salem, as enfermeiras e médicas me olhavam de um modo estranho, como se soubessem de alguma coisa que certa-mente era minha obrigação saber. E eu nunca consegui ter a mesma confiança que minha mãe tem em meu pai, o que é estranho, afinal, sou filha dele. Ele quem me criou, não muito bem, mas infelizmente continua sendo meu pai e sou obrigada a respeitá-lo e a abaixar o olhar e obedecê-lo toda vez que impõe alguma regra.

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No dia em que quebrei o braço após bater no meu ir-mão porque ele havia roubado de mim em uma partida de futebol, uma das enfermeiras resolveu abrir o jogo comigo e disse que se sentia envergonhada de já ter dado em cima do meu pai, um homem casado e pai de família, apesar de sempre deixar claro que foi ele quem começou tudo.

Não a culpei. Há alguns anos, apesar de ser um pou-quinho fora do peso, os olhos azuis do meu pai – idênti-cos aos meus – conquistavam qualquer uma. Era só jogar um charme e pronto, talvez fora apenas com esse pequeno charme e sem esforço nenhum que ele acabara conquistan-do minha mãe.

Houve um dia em que eu o encarei e perguntei o por-quê disso tudo. E acabei perguntando se a mamãe não era o suficiente para ele.

Como eu previa, Richard não me respondeu, o silêncio era a resposta que eu precisava para confirmar a minha sus-peita, mas na vez seguinte que me encontrei com Isabelle ela me contou que ele realmente havia ficado no seu quarto de hotel e não no quarto de outra mulher, quando eles foram para outra conferência, depois que lhe enfrentei. Fiquei um pouco feliz por isso, não completamente, mas foi o suficien-te para uma chama de esperança se acender dentro de mim.

Antes, essas conferências, na verdade, eram apenas palestras que minha mãe achava inútil, e eu também, mas agora que meu pai vinha prestando mais atenção nelas eu achava que estávamos evoluindo.

Porém, o pensamento de que meu pai só estava arre-pendido porque havia sido pego e não porque realmente havia se arrependido sempre me atingia. Papai nunca foi um homem honesto, eu conhecia suas histórias. Havenwood era uma cidade velha o suficiente para ter sido o cenário da

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infância do meu pai e, assim, eu já havia escutado histórias sobre ele.

Em todo caso, achei que poderia depositar um pou-quinho mais de confiança no meu pai, apesar de eu ainda não aprovar o lance de ele estar mais preocupado com seu status na sociedade do que com qualquer outra coisa. Isso era irritante.

Mamãe não trabalha porque o emprego do meu pai co-bre todas as despesas. Nunca gostei muito disso. Às vezes, eu sentia que ela estava triste, como se não tivesse um obje-tivo de vida além de cuidar de dois filhos já crescidos, que podiam se virar sozinhos em deveres da escola e em outras responsabilidades.

Não que eu queira que aconteça, mas se um dia meus pais resolverem se separar, minha mãe não terá muito di-nheiro guardado para sobreviver, por isso, tento fazer o má-ximo, juntando o meu dinheiro quando trabalho nas férias em uma livraria da cidade, que é a única. Todo o comércio se localiza no centro, exceto pelo clube de esportes e pelo único hotel que, raramente, recebe hóspedes.

Às vezes, passo mais tempo lendo do que trabalhando, já que o gerente não se importa. A leitura me mantém viva. Está claro que todos nós precisamos de algo para ter com o que se agarrar. Eu me agarrava nos livros. Em um mês, eu já tinha lido uns cinco, sem contar as duas vezes que reli Moby Dick, em menos de uma semana.

Acho que o meu chefe não brigava comigo porque ninguém quer entrar em conflito com o parente de Richard Lynch, ainda mais com a filha mais nova dele. Toda vez que eu me metia em confusão na escola – não que eu fizesse isso sempre – bastava Richard telefonar e dizer que “foi certa-mente um engano”. A voz dele soava tão firme que bastava apenas isso para o diretor mudar de ideia referente à minha

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suspensão. Eu odiava todo esse privilégio, mas ninguém es-colhe a família que nasce.

E ainda tinha meu irmão. Lucca Lynch. Ah, ele não era muito diferente de mim. Seus olhos azuis brilhavam tanto quanto os meus, era alto e, portanto, mais magro do que eu. Os cabelos dele eram um pouco mais escuros do que o meu.

Quando estamos em alguma refeição, papai diz a Lucca que ele precisa se alimentar mais, no entanto, mesmo que ele coma vários pratos de comida, ele continua com o mesmo peso.

Ah! Como eu gostaria de ser que nem ele, pelo menos nessa situação, afinal, se eu quisesse perder algum peso ti-nha de fazer uma dieta infernal que quase sempre acabava em... Doce. Era estressante demais uma dieta. E eu não era gorda. Apenas me tornaria se eu não me cuidasse, mas eu me cuido, afinal, meu pai é médico.

Tirando-me dos meus devaneios, escuto a porta se abrindo. Derek entra na sala e me lança um sorriso quando repara que estou acordada. Sorrio pra ele de volta. Derek é um homem de estrutura mediana, ele tem entre 25 a 30 anos. A barba por fazer estava lá e os seus olhos escuros pareciam cansados, mas, fora isso, ele parecia bem.

– Tudo bem, Julie? – ele me perguntou amigavelmente e agora sei que não está agindo como meu médico e sim como quem se preocupa comigo e isso faz com que eu, le-vemente, abra um pequeno sorriso. Consigo ler Derek fa-cilmente, ele se tornou um bom amigo para mim, além de mais um doutor.

– Tudo, e como você está, Derek? – Devolvi a pergunta, mesmo sabendo que a questão de estarmos aqui era sobre como eu estava, não ele.

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– Eu estou ótimo... Você nos deu um susto, sabia disso? Sua mãe quase morreu de preocupação, se seu pai não ti- vesse uma postura firme, de fato, sua mãe teria pirado. – Ele me olhou tranquilamente ao terminar de falar, o que fez com que o meu estômago se embrulhasse.

– Como eles estão? – Abaixei o olhar ao fazer essa per-gunta de uma forma curiosa e preocupada, afinal, Derek de-veria já ter avisado à minha família que eu acordei.

– Bom, antes de eu responder suas perguntas, eu gosta-ria que você respondesse as minhas – disse ao se sentar num banco ao lado da cama onde eu estou deitada.

– Certo.– Que dia é hoje? – perguntou calmamente.– Onze de novembro – respondi com a voz firme, afi-

nal, parecia que eu sabia a resposta.– Errado, Julie. – Derek disse e anotou alguma coisa

na prancheta. O último dia que me lembro de ter “vivido” era dia onze. Que raio de dia era hoje? – Hoje é dia 21 de novembro.

– Dez dias desacordada?! – Entrei em desespero e logo me sinto agoniada. – O que aconteceu?!

– Você sofreu um acidente, eu sinto muito. – Derek me explicou com calma e eu já ia me sentando na cama até que senti uma dor aguda nas costas, fazendo com que eu dei- tasse novamente.

– Seu irmão resolveu tirar você do castigo e levou-a pra que você comemorasse seu aniversário e, na volta, ele per-deu o controle do carro...

Lucca. Ao lembrar-me do meu irmão, eu estremeci.– Meu Deus! Como Lucca está?! – perguntei exaspe-

rada, levando as minhas mãos ao rosto e, por nervosismo e ansiedade pela resposta de Derek, acabei fechando meus olhos com força.

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– Ele ainda não acordou – Derek disse suavemente –, mas não posso deixar de admitir que fiquei surpreso em vê-la de olhos abertos, Julie. – Apesar da circunstância, sorri para ele por ter me chamado de Julie e não de Srta. Lynch, como os outros médicos me chamavam.

– Por quanto tempo mais terei que ficar aqui? – pergun-tei, mantendo meu olhar sobre o médico à minha frente que eu considerava como um amigo.

– Mais uns dias, não passará de quatro, eu prometo – disse com um tom de voz tranquilo. – A equipe médica que está cuidando de você precisa saber se ocorrerá tudo bem antes de você voltar às suas atividades normais.

– Tudo bem. – Fecho os olhos e a imagem de Lucca vem à minha cabeça. – Mas, por favor, assim que tiver notícias de Lucca, você pode me dizer?

Derek sorri.– É claro que sim. Mas preciso terminar as minhas

perguntas antes de qualquer coisa... Qual é o seu nome completo?

– Julie Lynch.– Nome da sua mãe e do seu pai?– Richard Lynch e Ester Lynch e caso ainda me pergun-

te, Lucca Lynch.Derek acenou com a cabeça e disse que estavam pre-

cisando dele num outro lugar do hospital. Sussurrei um tchau e deixei que as memórias do dia 11 de setembro vies-sem à minha mente.

Eu estava trancada no meu quarto, de castigo porque eu ha-via passado a noite anterior na casa da Valerie, com ela e outra conhecida nossa, sem avisar aos meus pais. Sim, achei isso uma grande idiotice... Qual é! Era só a Valerie... Mas meu pai me obri-gou a me trancafiar no quarto bem no dia do meu aniversário.

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Quando eu estava sentada em frente à minha escrivaninha, escrevendo algumas memórias – coisa que eu gosto de fazer porque quando eu quero me lembrar de algum acontecimento é só eu ir checar no meu caderno–, repentinamente ouvi alguém gritar atrás de mim.

– Bu! – Lucca! – Levantei-me da cadeira, irritada. Lucca me agar-

rou por trás, começou a fazer cócegas e eu comecei a rir; ele me jogou na cama e abriu um sorriso.

– Como se sente um ano mais velha?– Normal. Dezesseis anos, não é pra tanto.– É sim. – Lucca sorria mais ainda e era esse tipo de sorriso

que me fazia arrepiar, pois eu sabia muito bem que coisa boa não poderia ser. – Por isso nós vamos dar o fora daqui, que tal irmos no restaurante de sempre? Ligue para Tyler e Megan.

Senti que havia uma dúvida intensa e sincera em meu olhar antes de respondê-lo.

Sempre havia sido normal eu quebrar as regras quando Richard as impunha, mas havia uma voz dentro da minha cabeça dizendo que se eu saísse com Lucca naquele dia e naquela hora se-ria uma grande burrice, mas essa voz era muito baixa, porque, em contrapartida, tinha outra voz gritando que eu deveria me deixar levar para poder ter uma comemoração descente de aniversário de dezesseis anos ao lado do meu irmão.

E, então, sem pensar que aquela decisão faria com que mi-nha vida mudasse para sempre e que Richard poderia me deixar de castigo mais uma vez caso descobrisse minha fuga, esbocei um sor-riso para o meu irmão, e apenas respondi calmamente:

– Em cinco minutos a gente vai. Espere-me na sala.A ida até o restaurante foi tranquila, Megan esperava ao lado

de Tyler (meu melhor amigo) no estacionamento do restaurante. Eles também tinham acabado de chegar.

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– Feliz aniversário! – Meg me abraçou e me entregou um pacote embrulhado.

Um presente que eu teria de esconder dos meus pais; no en-tanto, não dei bola para isso, eu tinha tanta coisa que meus pais não iriam perceber caso eu aparecesse com um presente a mais que provavelmente era um dos musicais que Megan adorava.

Tyler me deu um abraço de urso sufocante logo depois de Megan. E eu gostava do abraço dele, sentia-me protegida. Mas era só porque ele era meu melhor amigo, só por isso. Meu irmão diz que nós deveríamos namorar, mas não consigo imaginar Tyler como algo a mais, e eu não estava muito a fim de pensar em namo-ros no momento.

Nós entramos e estava vazio demais para ser uma sexta-feira, um garçom veio até nós e nos levou para a mesa que Lucca havia reservado para agente. Durante o jantar, Tyler me deu um CD com umas músicas que nós dois gostávamos, e a primeira música era “Heroes”, a qual ele sabia que eu adorava.

Quando nós nos despedimos, eu estava com uma sensação estranha.

– Tudo bem, Sunshine? – Lucca perguntou.Sunshine era o apelido que ele deu. Raios de sol, por conta dos

meus fios loiros. Já o cabelo dele era um pouco mais escuro do que o meu. Ele era um ano mais velho do que eu, e papai não gostava da ideia de ele não ter planos de ir para uma faculdade no ano que vem.

– Tudo, sim – menti. Ele deu a partida no carro e quando saí-mos do estacionamento, ele virou o carro para a rua que nos levaria até em casa e, então, ouve um barulho ensurdecedor, fechei os olhos com força, sentindo um baque contra as minhas costas.

Quando acordei novamente no hospital, Tyler estava sentado no mesmo banco no qual Derek havia se sentado para fazer, a mim, as perguntas, as quais ele precisava. Ele estava cabisbaixo e podia jurar que vi algumas lágrimas es-correndo em seu rosto.

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– Tyler... – sussurrei e ele olhou para mim assustado.– Meu Deus! Você acordou, Julie – disse contente, aper-

tando minha mão para verificar se era real; eu apertei a mão dele de volta, vendo meu grandão sorrir e secar suas lágri-mas com a outra mão.

– Eu já tinha acordado há algumas horas, Tyler.– Sim, já tinha, mas dormiu de novo – sorriu –, mas e aí,

você está inteira?– Estou... – Encontrei Derek. – Tyler também o conhecia, ele já

tinha sido apresentado a Derek quando estávamos correndo no parque central da cidade. Tyler acabou tropeçando nos próprios pés, caindo de cara no chão e torcendo um torno-zelo e, francamente, eu não quis mais saber como ele havia conseguido fazer aquilo. – Perguntei sobre Lucca... Ele ainda não acordou, eu sinto muito, Julie.

– Eu só espero que ele acorde logo – eu disse agoniada e Tyler, percebendo, apertou a minha mão com um pouco mais de força.

– Estarei do seu lado – disse. Agora o grandão desastrado tem um sorriso no rosto,

nós dois temos. Os cabelos dele estavam do mesmo jeito da última vez que eu o vi. O cabelo castanho-escuro um pouco encaracolados. O sorriso deixava-o um pouco mais bonito do que realmente ele era.

Apesar da situação, toda vez que estou com Tyler não consigo deixar de sorrir. Ele era o meu melhor amigo e de mim ninguém iria tirá-lo.

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