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MANUAL DE INCIDÊNCIA PÚBLICA PARA ATIVISTAS CRISTÃOS QUE LUTAM PELA JUSTIÇA

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MANUAL DE INCIDÊNCIA PÚBLICAPara ativistas cristãos que lutam pela justiça

Elaboração: Alfonso Wieland, Loida Carriel e Rolando PérezTradução: Wagner GuimarãesRevisão: Flávio Conrado e Alessandra Dalva Barros

© PAZ Y ESPERANZA

Peru: Hermilio Valdizan 681-Jesús María, LimaEquador: Lorenzo de Garaycoa 732 y Víctor Manuel Rendón, 4to piso. Of. 42 – Guayaquil Bolívia: Avenida Virgen de Cotoca. 3er anillo externo, N3897 - Santa Cruz

Paz y Esperança é uma organização internacional cristã de direitos humanos, dedicada a defender e promover a justiça em favor de pessoas e comunidades em situação de pobreza ou afetadas por injustiças. Somos uma fraternidade de organizações independentes no Peru, Bolívia, Equador, Estados Unidos e Reino Unido.

Mais informação em: www.pazyesperanza.org

O Manual foi publicado no marco do Projeto Fortalece, apoiado pelas fundações holandesas TEAR e PSO. No Brasil, adaptado e traduzido pela Visão Mundial e Rede Evangélica Nacional de Ação Social – RENAS.

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SUMÁRIO

INTRODUçãO ...................................................................................5

1. INCIDÊNCIA PÚBLICA, CIDADANIA E MUDANçA SOCIAL ...7

2. A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉ ........................... 19

3. MãOS À OBRA ...........................................................................33

3.1 Quem intervém na incidência ........................................................................34 3.2 Funções dos atores da incidência .................................................................34 3.3 Competências dos promotores da incidência ..........................................35 3.4 Ciclo da incidência pública . ............................................................................37 4. ESTRATÉGIAS, MÉTODOS E TÁTICAS ..................................55

4.1 Como fazer lobby ................................................................................................56 4.2 Como usar os meios de comunicação .........................................................61 4.3 Como sensibilizar e mobilizar .........................................................................66 4.4 Trabalhando em redes .......................................................................................71

5. AVALIANDO E CELEBRANDO .................................................75

ANEXOS ........................................................................................... 81

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INTRODUçãO

Esta época de grandes mudanças no Brasil e na América Latina trouxe consigo o surgimento de atores e lideranças emergentes na sociedade civil que estão redefinindo as novas formas de representação institucional e os modos de in-teração entre os cidadãos, a sociedade civil e o Estado, assim como entre as próprias organizações e movimentos da sociedade civil.

Um dos atores emergentes é o setor vinculado às igrejas, ou seja, suas insti-tuições e lideranças, que cada vez mais estão sendo convocadas a participar em esforços de incidência nas políticas públicas, como instâncias de acordos entre pessoas ou grupos de identidades variadas, comissões da verdade, ini-ciativas contra a corrupção, resistências pacíficas a favor da democracia, entre outros espaços de articulação e pressão da sociedade.

Muitos concílios de igrejas e movimentos cristãos se converteram em inter-locutores-chaves para as instituições estatais e fóruns da sociedade civil para gerar processos cidadãos no campo do fortalecimento da democracia e da solução de graves problemas sociais.

Diante desta conjuntura, consideramos que neste processo se faz necessá-rio potencializar e legitimar instâncias alternativas — lideranças individuais e coletivas, que estão gerando correntes de opinião — que contribuam para enriquecer a vida cidadã a partir dos valores cristãos, como a solidariedade, a tolerância, o respeito à vida humana, e a capacidade de comunicação entre os cidadãos, a expressividade de solidariedades coletivas, entre outros.

Neste sentido, este Manual de Incidência Pública pretende ser uma ferramen-ta útil para repensar as estratégias pastorais e as ações cidadãs que promovem a incidência a fim de resolver os problemas sociais em nível estrutural. É, por-tanto, uma ferramenta para acompanhar as ações concretas de incidência pú-blica que buscam gerar mudanças em políticas públicas que afirmem a justiça, o respeito aos direitos humanos e todos os valores que sustentam a cultura democrática. O que distingue este Manual de outros é que ele se constrói a partir das experiências de Paz y Esperanza e de outras organizações, várias delas cristãs, que decidiram trabalhar para que a justiça fosse uma realidade em nossos países.

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INCIDÊNCIA PÚBLICA, CIDADANIA

E MUDANÇA SOCIAL

REPENSANDO A ABORDAgEM DOS PROBLEMAS SOCIAIS

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  Geralmente, quando nos deparamos com problemas sociais em co-munidades onde atuamos como facilitadores da mudança, há um aspecto que, para nós, é muito difícil assumir: as questões de caráter estrutural. É mais simples trabalharmos para que uma determinada comunidade aumente a produção agrícola, atenda os órfãos ou ofere-ça serviços variados a pessoas em situação de pobreza.

Mas teríamos que nos perguntar se a única forma de abordar estes problemas é oferecendo certos serviços que no fim das contas poderiam ser somente paliativos para as necessidades imediatas das pessoas ou comunidades que têm certas carências. E quanto às causas, à raiz dos problemas?

  Quase sempre, a raiz das situações de injustiça está no abuso do po-der. Tanto do poder que possuem as autoridades ou certos grupos econômicos, religiosos, políticos, sociais como o dos indivíduos. O abuso de poder quebra a ordem legal e cultural da sociedade. Em so-ciedades nas quais a corrupção se alojou fortemente nas estruturas de poder, a injustiça, a arbitrariedade, a violação dos direitos é cada vez mais frequente.

Então, quando trabalhamos em uma determinada comunidade, seja repre-sentando uma ONG, um ministério eclesiástico ou um grupo de pessoas, nos-so maior afã é atacar os sintomas dos problemas sociais, como, por exemplo, crianças desnutridas, má qualidade da moradia ou dos serviços de água/ele-tricidade etc.

É que as necessidades estão lá e queremos de alguma forma apoiar as pesso-as em situação de pobreza. Porém, como organizações sociais, movimentos cidadãos ou grupos eclesiásticos, também deveríamos nos perguntar se não seria necessário atacar as causas destes problemas sociais, que correspondem à dimensão estrutural de nosso desenvolvimento.

Isto implicaria apoiar a mudança de leis ou de procedimentos legais, fortale-cer a administração da justiça e incidir para que grupos econômicos e líderes políticos que detêm o poder cumpram as leis. Deste modo, se fortaleceria as capacidades dos cidadãos para que desenvolvam iniciativas de monitoramen-to dos organismos judiciais, e procurar a mudança das práticas políticas ou culturais que afirmam o abuso ou a violação dos direitos etc.

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INCIDÊNCIA PÚBLICA, CIDADANIA E MUDANÇA SOCIALrePensandO a abOrdageM dOs PrObleMas sOciais 1

É importante levar em conta que a solução não está só nas leis. Quando ob-servamos as causas dos problemas, nos deparamos com flagelos estruturais, como a desigualdade na distribuição da riqueza, a concentração do poder, a fragilidade da democracia, a exclusão social etc. Por isso, é necessário fazer mudanças estruturais na sociedade, e educar os cidadãos para afirmar nossas práticas democráticas, a fim de construir uma sociedade capaz de garantir a todas e todos uma vida digna, justa e livre.

Para lutar contra as causas dos problemas sociais são necessárias organizações sociais fortes e democráticas, articulações para trabalhar em espaços políticos e econômicos, assim como com atores que tenham influência na tomada de decisões. Isto é o que chamamos de incidência pública.

“Influenciar”, convencer os outros de uma causa que é nossa ou de outrem, “convencê-los sobre una iniciativa que beneficie seu desenvolvimento, não só a partir da perspectiva infraestrutural, mas também em termos de qualidade de vida e respeito aos direitos. “Interceder ou advogar por uma causa justa” não é nada novo para as pessoas, organizações e comunidades. O tempo todo buscamos influenciar as pessoas que têm poder sobre assuntos que nos inte-ressam.

Por exemPlo...

Joana Rios é assistente social e encaminhou ao hospital um doente grave, de poucos recursos econômicos, que foi rejeitado por “falta de vagas”. Ela conversou com os respon-sáveis pela internação do hospital, expôs o caso à imprensa, e, por fim, conseguiu que o doente fosse internado.

Porém, pensando em nível macro, poderíamos destacar como exemplo a par-ticipação no debate e na apresentação de propostas para a elaboração do Or-çamento da União e como os diferentes setores da sociedade podem influen-ciar o Poder Executivo e o Congresso para conseguir que suas propostas de aumento de recursos sejam consideradas.

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Podemos “incidir” ou interceder por nossos próprios problemas ou dos outros.

Por exemPlo:

Em uma cidade, Jaime Costa foi escolhido como juiz. Logo se tornou conhecido por sua severidade, falta de respeito para com as pessoas e maus vereditos. Emilia Pereira é uma migrante pobre, com quatro fi lhos pequenos, que fala o idioma com difi culdade. Seu esposo, um operário da construção civil, foi atropelado por um policial que per-seguia um carro com bandidos e acabou fi cando paralítico. Foi a um serviço jurídico gratuito para pedir uma indenização. Entraram na Justiça, mas, depois de seis meses, não houve nenhum resultado. A cada manhã ia até o Fórum e esperava pacientemente o juiz. Ao vê-lo, lhe suplicou: “Seu juiz, faça justiça, por favor”. Isto se repetiu dia após dia por mais de um mês. Por fi m, o juiz disse: “Embora não tema a Deus, nem respeite os homens, todavia, como esta viúva me perturba, hei de fazer-lhe justiça, para que enfi m não volte, e me importune muito.” (Baseado na parábola de Lucas 18)

A incidência não é a única maneira de lutar contra os problemas sociais ou a injustiça. Se quisermos conseguir uma redução do HIV/AIDS, por exemplo, há outras medidas a tomar, a saber, a educação comunitária, o apoio direto às populações em risco etc. A incidência pública pode tornar estes métodos mais efi cazes, fazendo com que as autoridades e pessoas-chave no poder resolvam as causas estruturais do problema.

“Entrar em sociedade com o Deus verdadeiro é arriscar-se em uma aventura custosa.

É correr os riscos que ele corre, até a morte. É aceitar o projeto de não viver simples-

mente só, para si, mas transformar o mun-do por meio do amor e do fogo.”

José Míguez Bonino

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INCIDÊNCIA PÚBLICA, CIDADANIA E MUDANÇA SOCIALrePensandO a abOrdageM dOs PrObleMas sOciais 1

Façamos a distinção entre a incidência pública e outras estratégias de mudan-ça social.

Incidência pública

Informação, educação, comunicação,

Mobilização comunitária

Trabalho em redes

O que pode mudar?

Políticas ou sua implementação, direitos e práti-cas do direito.

Conscientização.Comportamentos sociais.

Fortalecimen-to de capa-cidades da comunidade para identifi-car e enfrentar problemas.

Isolamento e duplicação de trabalhos das organizações ou atores sociais.

Atores/ Organiza-dores

Lideranças da comunidade, organizações sociais, ONGs.

Organizações privadas ou públicas, Igrejas, ONGs na qualida-de de prestadores de serviço.

Membros da comunidade ou organizações.

Organizações

Grupo alvo

Líderes políticos, formuladores de políticas, em ge-ral pessoas que ostentam poder para resolver um problema social.

Indivíduos, segmentos de uma comunida-de (mulheres, crianças, jovens etc.).

Membros e/oulíderes de uma comunidade.

Indivíduos ou grupos que tenham uma agenda similar.

Estão enfo-cados em pessoas que têm poder de decisão?

SIM NÃO NÃO NÃO

Indicadores de êxito

Políticas novas, modificadas ou corretamente aplicadas.

Mudanças de atitudes, melhor compreensão da problemática, prevenção, soli-dariedade.

Problemas comunitários são resolvidos, maior par-ticipação da comunidade.

Os membros da rede conse-guem juntos conquistas que não teriam alcançado indi-vidualmente.

Fonte: Adaptado do quadro “Advocacy and related concepts” em Alliance, 2001.

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reSUmINDo:

Existe uma clara diferença entre a Incidência Pública e outros conceitos relacionados, tais como informação, educação e comunicação, mobilização comunitária ou trabalho em re-des. Ainda que sejam muito parecidos em vários aspectos, a diferença mais acentuada é que a Incidência Pública enfoca seus esforços para mudar, reformar ou estabelecer políti-cas ou leis, razão pela qual está enfocada em causas estruturais e em quem têm o poder de decisão (autoridades, grupos, organizações com poder) neste nível.

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Fazendo um resumo dos enfoques da incidência pública, podemos destacar:

Incidência em favor dos afetados por uma situação

Incidência com os afeta-dos por uma situação

Incidência pelos afetados por uma situação

O trabalho de incidên-cia é realiza-do por

Profissionais, ONGs, líderes eclesiásticos com experiência.

Uma combinação de pro-fissionais, ONGs e grupos comunitários locais.

A comunidade local, os trabalhadores.

Principais objetivos da intervenção

Provocar mudanças na lei, nas políticas ou nas práticas.

- Maior acesso à tomada de decisões.- Provocar mudanças na lei, nas políticas ou nas práticas.- Aumentar a capacidade dos afetados pela situação para incidir.

Aumentar o nível de consciência a respeito das possibilidades e capacidades de incidir.

Caracterís-ticas

- Com frequência, os temas são identificados por pessoas externas.- Normalmente, dirige-se àqueles que oficialmente tomam as decisões.

- Problemas identificados pela comunidade.- Planejamento, recursos e atividades compartilhadas.- Organizadores externos mobilizam as capacidades internas.

- Problemas identifica-dos pela comunidade.- Aprende-se ao par-ticipar.- Em princípio, pode-se receber apoio exter-no significativo.

Vantagens - Rápido acesso àqueles que tomam as decisões.- Bom acesso à informação sobre o contexto mais amplo.

- Aumento na possibilida-de dos pobres de ter aces-so àqueles que tomam as decisões.- Desenvolvimento das habilidades e capacidades para incidir.

- Empoderamento: os pobres se veem como agentes de mudanças- Sustentável.- Pode corrigir des-equilíbrios no poder.

Desvanta-gens

- Poderia fortalecer as estruturas de poder existentes.- Pode não aumen-tar a capacidade de ação dos grupos locais.

- Frequentemente a ONG está no controle e define a agenda.- Processo mais lento devido à necessidade de chegar a um acordo entre todas as partes.

- Acesso a menos recursos e informação.- Risco de vinganças.- A mudança nas políticas pode ser mais demorada.

Fonte: Adaptado do Manual de Advocacy, TEARFUND UK.

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Por exemPlo:

A Incidência Pública pode ser utilizada em diferentes espaços da vida das pessoas. No mundo existem organizações especializadas em influenciar as políticas e ações dos paí-ses, companhias transnacionais, organizações multinacionais etc., buscando que sejam transformadas ou existam em benefício dos mais pobres.

É amplamente conhecido a nível global o trabalho que realiza a Anistia Internacional, cuja missão consiste em “realizar trabalhos de investigação e ação centrados em impe-dir e por fim aos abusos graves contra o direito à integridade física e mental, à liberdade de consciência e de expressão, e a não sofrer discriminação, no contexto de seu trabalho de promoção de todos os direitos humanos”.

Outro exemplo claro foi a campanha que desenvolveu o movimento JUBILEU 2000. Este movimento começou bem modestamente (muitas igrejas e organizações cristãs estive-ram envolvidas desde o início) e chegou a ser bastante influente, pressionando efetiva-mente para que os líderes dos países mais poderosos economicamente (que integravam o G7) “cancelassem até o ano 2000 a dívida impagável das nações mais pobres, median-te um processo justo e transparente”.

Até o final da campanha, 24 milhões de assinaturas foram recolhidas para a petição do Jubileu 2000 em mais de 60 países do mundo. O G7 se comprometeu a cancelar mais de 100 milhões de dólares de dívida e, obviamente, o tema da dívida externa foi colocado na agenda política global.

Há também campanhas nacionais, como a Campanha do Desarmamento, que contou com a presença ativa de setores religiosos, contribuindo para que os movimentos an-tiviolência chegassem aos locais mais afastados dos grandes centros e também nas periferias da sociedade brasileira. O Mutirão Nacional de Entrega de Armas, no dia 21 de maio de 2005, possibilitou a abertura de postos de coleta de armas em templos e igrejas, e a difusão de uma versão religiosa da “paz sem armas” do movimento de pa-cificação das cidades brasileiras, e levou a que num só dia mais de mil armas fossem entregues, envolvendo 220 postos, em 120 cidades, de 22 estados. Ao longo da campa-nha, foram recolhidas mais de 11 mil e 500 armas, apenas na cidade e estado do Rio de Janeiro, por igrejas e no posto da ONG Viva Rio.

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No nível local, há campanhas que podem abarcar uma cidade, várias comunidades, apenas uma comunidade e inclusive um bairro. Há ricas experiências neste nível: pro-teção de áreas ambientais, melhoramento do saneamento básico, campanhas contra empresas que contaminam o meio ambiente, luta contra o abuso sexual infantil, solici-tação de intervenção do município para atenção a indigentes etc.

Algumas ações de Incidência Pública começam localmente mas podem abarcar logo espaços mais amplos, chegando inclusive a ter impacto internacional. Isto aconteceu com a campanha em favor das pessoas injustamente acusadas por terrorismo no Peru. Centenas de pessoas haviam sido encarceradas como produto de uma legislação muito dura. Igrejas e organismos de direitos humanos começaram a pedir firmemente a liber-dade imediata destas pessoas. Conseguiu-se o apoio de organizações internacionais, e que congressistas e autoridades de países europeus e dos Estados Unidos se interessas-sem pelo tema e intercedessem junto ao governo peruano.

Também podemos nos referir ao caso da campanha contra a contaminação ambiental na comunidade de La Oroya, também no Peru, que promoveram as organizações vincu-ladas a movimentos cidadãos em favor do meio ambiente junto com as igrejas.

Esta campanha se iniciou como uma luta bem local, a partir de informações de mães sobre os altos níveis de chumbo no sangue, especialmente em crianças e mães gestan-tes na cidade de La Oroya. Elas não sabiam do impacto que causava o chumbo sobre a saúde das crianças; não tinham muita informação sobre a questão mas estavam bas-tante preocupadas.

Quando foram conversar com os donos da empresa norte-americana Doe Run, eles ar-gumentaram que havia muitas fontes de contaminação por chumbo (a estação de trem, a tinta do cabelo das mães, a pintura das casas) e não era culpa da empresa. As mães começaram a se perguntar mais e se depararam com a realidade: a empresa lançava mais de mil toneladas de chumbo, arsênio e dióxido de enxofre a cada dia na cida-de através da grande chaminé ou de emissões que escapavam sem nenhum controle. Também ficaram sabendo através de estudos técnicos que o sangue das crianças estava contaminado por chumbo e que afetava sua saúde.

As mulheres da Associação Tomayra Pacci Filomena, uma ONG que trabalha com as es-posas dos mineiros, assumiu esta luta. Muitas delas estão ligadas a congregações evan-gélicas na área, na região central do país.

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Logo somaram-se outras organizações da sociedade civil e a diocese católica da região. Graças a esta iniciativa, a campanha conseguiu comprometer não apenas os cidadãos do Peru, mas também de outros países. Assim, um movimento ecumênico, tanto no Peru, como em Missouri, Estados Unidos (sede da empresa Doe Run Company), foi cria-do em favor das crianças intoxicadas por chumbo em La Oroya.

Esta campanha de incidência política é considerada uma das mais emblemáticas por-que permitiu criar consciência cidadã entre o público e as autoridades governamentais sobre a importância da proteção ambiental na gestão das indústrias extrativas.

“Não estamos aqui simplesmente para aplicar curativos nas feridas das vítimas

atropeladas pelas rodas da injustiça, mas para impulsionar a mudança

nas rodas que atropelam”.

Dietrich Bonhoeff er

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AProFUNDANDo

Como PAZ Y eSPerANZA DeFINe A INCIDÊNCIA PÚBlICA

“A incidência pública tem a ver com a defesa e promoção da justiça, o que implica enfrentar estratégica e publicamente as causas de qualquer injustiça contra os pobres, conseguindo influenciar pacificamente as pessoas com poder de decisão para que estabeleçam, cum-pram ou mudem as leis, políticas, procedimentos ou práticas que solucionem determinada injustiça social. Para Paz y Esperanza a Incidência Pública se fundamenta no mandato bíblico de fazer justiça”

exPlICAÇÃo

� É estratégica, pois usa uma metodologia planejada participativamente e consensuada pelos defensores, dentro de uma escala de tempo.

� É pública, pois busca influenciar e ganhar apoio da sociedade e utiliza métodos que provocam o debate público na comunidade que se defende, de outros setores e das próprias pessoas que detêm o poder.

� Dirige-se às causas, não às consequências da injustiça.

� É em benefício dos pobres, ainda que possa ser usada para outros segmentos. O ideal é que sejam os próprios pobres que levem adiante a incidência pública ou, ao menos, deve-se contar com o total consentimento deles.

� É uma estratégia de influência pacífica, sem uso de violência mas sim de métodos cria-tivos e que encarem frontalmente a situação de injustiça.

� Dirige-se às pessoas com poder, as quais representam a si mesmas ou a organizações públicas ou privadas, e que têm em suas mãos a possibilidade de decidir as mudanças necessárias para eliminar a causa ou causas que provocam uma determinada injustiça.

� Busca a mudança de práticas, leis ou procedimentos que atentam contra a dignidade, os direitos humanos dos pobres, ou, ao menos, o estabelecimento de novas leis, proce-dimentos ou práticas para esse fim ou seu cumprimento!

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OUTROS CONCEITOS DE INCIDÊNCIA OU ADVOCACY

“Advocacy é uma ação dirigida a mudar as políticas, posições e programas de qual-quer tipo de instituição” (...) “é interceder por, defender ou recomendar uma ideia para outra pessoa”.An Introduction to Advocacy, Training Guide, SARA PROJECT.

“Defesa e promoção é o ato ou processo de apoiar uma causa. Uma campanha de defesa e promoção é uma série de ações específicas em apoio a uma causa. Promove-mos uma causa porque desejamos:

� Aumentar o apoio para esta causa;

� Influir em outros para que a apoiem; ou

� Tratar de influenciar ou mudar a legislação que a afeta”.Internacional Planned Parenthood Federation: IPPF Advocacy Guide 1995.

“Advocacy é o processo mediante o qual fazemos uso da influência que temos, devido à nossa presença, experiência, tamanho e intervenção programática, para beneficiar os pobres de forma sustentável e a longo prazo”.Visão Mundial Internacional

“Advocacy é procurar com, e em nome dos pobres, enfrentar as causas fundamentais da pobreza, promover a justiça e apoiar um bom trabalho de desenvolvimento, ao exercer influência sobre as políticas e práticas dos poderosos. Advocacy é visto pela Tearfund como parte da missão de trazer boas novas aos pobres, motivados pela compaixão de Jesus Cristo”.Tearfund Reino Unido

“Defesa e promoção é falar de defesa de uma causa, chamar a atenção de uma comu-nidade sobre uma questão importante e conduzir as pessoas com poder de decisão até uma solução. Defesa e promoção é trabalhar com outras pessoas e organizações para produzir mudanças decisivas”.The Centre for Development and Population Activities (CEDPA)

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉ

ARTICULANDO UMA PERSPECTIVA BíBLICA DA DEFESA DA jUSTIçA

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2.1 ONDE A IgREJA ESTÁ?

A igreja é a resposta de Deus para trazer sua proposta reconciliadora às pes-soas e aos povos. A reconciliação é certamente pessoal mas também social. Portanto, como parte desta missão, assim como do mandato bíblico de fazer justiça e amar a misericórdia (Miqueias 6.8), a igreja é chamada a estar presen-te em meio às necessidades sentidas pelas pessoas, dando-lhes esperança e acompanhando-as para que consigam uma qualidade de vida conforme os propósitos de Deus.

É também luz, pois, como portadora da mensagem de boas novas, ajuda a ver nos problemas cotidianos das pessoas e comunidades as oportunidades para crescer como seres humanos e de pôr sempre no centro a defesa da dignidade humana.

É por isso que pode e deve se comprometer nas causas justas, incentivando seus membros a que participem a partir de sua perspectiva evangélica de justiça. Ao estar presente em muitas comunidades pobres, mas também nas classes médias e altas, constitui-se uma ponte magnífica para aproximar di-ferentes setores, conseguir um diálogo entre as partes confrontadas e com aqueles que detêm o poder.

2.2 A INCIDÊNCIA E A JUSTIÇA DE DEUS

Quando chegamos a alguma comunidade empobrecida ou queremos enfren-tar problemas sociais, como o tráfico de pessoas, a violência contra a mulher, a pobreza etc., nosso primeiro contato é com pessoas de carne e osso que so-frem diariamente essas situações. Enfrentar-nos cara a cara com o sofrimento dos outros nos leva (ou deve nos levar) à compaixão.

Então, sensibilizados pelo que observamos, tratamos de solucionar ou ajudar a solucionar esses problemas sociais. Diante da urgência das necessidades dessas pessoas ou comunidades, a primeira coisa que pensamos é oferecer assistência social, ajuda econômica, serviço jurídico etc. Trata-se de atender aos sintomas mas não necessariamente pensamos nas causas que originam esses problemas.

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

“Os cristãos não deveriam estar apenas resgatando as pessoas que estão se afogando no rio. Deveriam, na

verdade, buscar aqueles que empurram essas pessoas para dentro do rio,

para poder pará-las.”

Arcebispo anglicano Desmond Tutu

Isto nos leva ao ponto de que muitas vezes nossos esforços estiveram concen-trados em um trabalho que era apenas compassivo e não de busca da justiça.

A compaixão é uma resposta natural, cristã e demandada por Deus. Diante das diferentes calamidades e situações de enfermidade, pobreza extrema, abandono da infância, entre outros, temos de atender compassivamente a essas pessoas ou comunidades. Não podemos dizer a essas pessoas que en-frentam necessidade, doenças, destruição de seus bens por causas naturais ou por guerras, que esperem que estudemos uma forma de enfrentar as causas desses problemas.

No entanto, trabalhar pela justiça deveria ser parte do processo natural do trabalho social de toda igreja, ministério ou organização não governamental de inspiração cristã. Se não dermos mais um passo para enfrentar as causas dos problemas, mesmo quando forem complexos, não estaremos sendo fi éis ao mandato bíblico de fazer justiça.

QUAL É O FUNDAMENTO DA JUSTIÇA?

Um fato fundamental quando falamos de justiça é reconhecer a dignidade de todos os seres humanos, pois foram criados à imagem e semelhança de Deus. É também um fato que essa dignidade está sendo ameaçada constantemente pelo mau uso do poder, a avareza e o amor à riqueza, as violências, o racismo, a xenofobia, as guerras.

Diante da demanda divina do respeito irrestrito à vida e a realidade cotidia-na de injustiças, há um espaço de ação imenso para os cristãos, para que, de maneira criativa e com a ajuda de outros setores da sociedade, ponham fi m a essas injustiças.

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A incidência pública é uma ferramenta para que a justiça prevaleça em situ-ações onde se pisa na dignidade das pessoas. A incidência trata de enfocar as causas das injustiças. Quando fazemos incidência estamos defendendo e promovendo a justiça. Porém, a justiça não é um fi m em si mesmo; o fi m é que as pessoas criadas por Deus vivam vidas plenas, que glorifi quem seu criador.

O Deus que a Bíblia descreve é um Deus amante da justiça (Isaías 1.15-17; 30.18; 61.8; Salmo 33.5; 37.28; 11.7).

Não há nenhuma dúvida de que fazer justiça no Antigo Testamento é um ato de profunda espiritualidade e de adoração a Deus. Isto está claramente re-gistrado por Isaías, Miqueias, Amós, Jeremias etc. Deus, inclusive, sente nojo e repulsa de uma adoração baseada somente em cantos, jejum e oração, e divorciada da prática da justiça para com o próximo, particularmente o pobre.

No Novo Testamento, Jesus, fazendo referência a Miqueias 6.8, recrimina os religiosos de seu tempo que estão muito preocupados em seguir os rituais, a lei e as tradições, “mas não se preocupam com o mais importante da lei, que são a justiça, a misericórdia e a fé. Isto é o que deveriam fazer, ainda que sem deixar de cumprir também todos os demais”. (Mateus 23.23)

Também podemos ler em Tiago 5.1-6 a radicalidade da mensagem cristã com res-peito àqueles que agem injustamente contra os pobres e pessoas desprovidas de poder.

É por isso que mudar situações de injustiça contra as pessoas ou comunidades é mais que uma alternativa; é uma demanda direta de Deus para o seu povo.

“O mais importante não é a perversidade dos maus mas sim a indiferença

e o silêncio dos bons.”

Martin Luther King

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

“Esse Juiz severo que é Deus... se sensibiliza pelo órfão e pela viúva. Faz justiça em favor deles. Sua insistência na justiça é motivada por sua preocupação com o fraco e o oprimido. Precisamente por amar o oprimido, ele condena o opressor... A justifi cação do malvado não é só a ofensa contra um ideal abstrato de justiça, mas sim a traição prática do pobre e do inocente. Toda perversão da justiça equivale a impor um sofrimento a alguém que é incapaz de se defender... Tolerar a injustiça é tolerar o sofrimento humano... Na raiz da exigência de justiça está o amor ao homem...”

E. Berkovits,The Biblical meaning of justice, p. 228.

O QUE PAZ Y ESPERANZA CRÊ SOBRE A INCIDÊNCIA PÚBLICA

Para PAZ Y ESPERANZA o respeito aos direitos dos outros transcende os con-tratos sociais ou legais porque é também um compromisso com Deus. Cre-mos que nossos direitos humanos e nossas responsabilidades fazem parte do entendimento bíblico sobre o que signifi cam as relações justas. Amar nosso próximo como a nós mesmos implica um respeito profundo pelos demais, considerando-os de igual valor perante Deus, como pessoas com dignidade.

Consideramos os pobres como agentes ativos de mudança, que merecem o direito de viver uma vida digna e não permanecer como meros objetos de caridade. Nós refl etimos isto em nossas políticas e projetos que empoderam os pobres para que possam obter o controle de suas vidas e tenham capaci-dade de participar na tomada de decisões, iniciando e implementando assim a mudança positiva.

“A injustiça acontece quando há um mau uso do poder de modo que seja usado

para tirar dos outros o que Deus lhes deu, a saber, sua dignidade, sua liberdade, ou

os frutos de seu amor e seu trabalho”.Gary Haugen,

Presidente de lnternational Justice Mission - IJM

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RESUMINDO

O conceito bíblico de Justiça é a restauração das relações justas entre Deus e a humani-dade, entre os indivíduos, e entre a humanidade e a criação. Portanto, os direitos e as responsabilidades estão intrinsecamente unidos.

A justiça bíblica enfatiza e demanda a defesa dos pobres e daqueles que se encontram em maior desvantagem e indefesos na sociedade, para que tenham a oportunidade de decidir a mudança de sua situação espiritual e material.

A restauração de relações justas também implica a reconciliação. Paz y Esperança tam-bém trabalha para alcançá-la, construindo canais de diálogo e comunicação entre os diferentes agentes da sociedade, gerando, assim, um maior entendimento mútuo.

O espírito de nosso trabalho se baseia no exemplo de Cristo, que mostrou compaixão pelos necessitados, que eram objeto de injustiça, opressão e pobreza. Jesus devolveu a dignidade e o valor àqueles que se encontravam em um maior grau de marginaliza-ção dentro da sociedade e desafi ou também as autoridades, enfatizando seus atos de injustiça e corrupção.

A Bíblia exorta os cristãos a que façam o mesmo. Esperamos fortalecer a responsabili-dade e a capacidade dos atores governamentais, promover e proteger ativamente os direitos e também atuar como pontes entre as comunidades e os grupos da sociedade civil, os atores políticos e as instituições estatais.

“Eu prego o Evangelho com todas as minhas forças, e minha consciência está limpa

diante de Deus, que me colocou do lado do governo atual, que é totalmente egoísta.

Fui ameaçado muitas vezes. Cada vez que tenho a oportunidade, digo ao Presidente

as coisas que as igrejas desaprovam. Deus é minha testemunha.”

Janani Luwum (Arcebispo da Igreja Anglicana de Uganda, assassinado

pelo ditador Idi Amín no ano de 1977)

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

POR EXEMPLO

William Wilberforce (Inglaterra, 1759-1833) foi um homem de fé que buscou a transformação e a renovação da sociedade in-glesa. Ele liderou o movimento na Grã-Bretanha para abolir o comércio de escravos e lutou toda a sua vida contra a injustiça da escravidão. Wilberforce foi eleito no Parlamento em 1780 com a idade de 21 anos. Depois de um processo e a infl uência de amigos cris-tãos, abraçou a fé evangélica e se envolveu em uma comunidade de fé que tinha paixão pela justiça social. Esta comunidade era conhecida como Clapham Sect (Seita Clapham) em Londres, onde viviam e compartilhavam as suas vidas.

Em 1787, Wilberforce se uniu à Sociedade para Abolição do Comércio de Escravos e co-meçou suas pesquisas e trabalho para sua primeira proposta para a abolição da escra-vidão, apresentada diante do Parlamento em 1790. Lamentavelmente, sua proposta foi derrotada.

Wilberforce teve que lutar contra o comércio de escravos por mais de 20 anos antes que o Parlamento aprovasse a legislação que proibisse o comércio de escravos em 1807. Ainda que o comércio de escravos tenha sido proibido, a prática de escravidão conti-nuava no Império Britânico e Wilberforce se reuniu com o movimento para abolir a es-cravidão em todas as suas formas. Foi apenas em 1833, um mês depois de sua morte e 46 anos depois que Wilberforce começou sua luta, que o Parlamento proclamou a Lei de Emancipação, que aboliu a escravidão em todas as formas possíveis e por todo o Império Britânico.

Como demonstra o fi lme AMAZING GRACE, William Wilberforce utilizou sua vida inteira na busca de duas metas: a abolição da escravidão, e a restauração da sociedade. Esta paixão pela justiça nasceu de sua fé, que estava no centro de sua vida.

Há que se recordar que no século dezoito, poucos cristãos tinham questionado a ins-tituição antiga da escravidão. Muitos cristãos tinham seus próprios escravos, e ainda manipulavam textos bíblicos para justifi cá-lo. Os cristãos não começaram a se organi-zar e a levantar uma voz de oposição contra o comércio de escravos até que os quakers dessem o primeiro passo para organizar o primeiro comitê de abolicionistas em 1787. A partir desse momento, o movimento para abolir a escravidão começou a tomar forma e buscar estratégias para alcançar suas metas.

comércio de escravos e lutou toda a sua vida contra a injustiça comércio de escravos e lutou toda a sua vida contra a injustiça da escravidão. Wilberforce foi eleito no Parlamento em 1780 com a da escravidão. Wilberforce foi eleito no Parlamento em 1780 com a

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PArA AProFUNDAr

MATERIAL DE LEITURA 1

DESAFIOS PASTORAIS PARA A INCIDÊNCIA PÚBLICA DAS IgREJAS

Por Rolando Pérez

As igrejas são cada vez mais desafi adas a repensar suas estratégias pas-torais, visando a desenvolver incidência efetiva na esfera pública. Nesse sentido, cremos que as estratégias de capacitação e assessoramento nes-te campo deveriam levar em conta o seguinte:

a incidência POlítica cOMO uM enfOque da açÃO PastOral

É importante trabalhar a ideia de que a incidência política não é só uma metodologia ou uma ação estratégica para gerar determinadas mudan-ças políticas, mas deveria se constituir em um enfoque da ação pastoral e da dimensão profética da missão da igreja. O fato de incidir no nível das estruturas é fundamental para a construção do discurso que acompanha as ações de incidência política.

desenvOlver uMa cOMPreensÃO bíblicO-teOlógica da incidência Pública

Se quisermos que a incidência política se insira no projeto pastoral das igrejas, como um eixo estruturador das ações do mesmo, é necessário par-tir das imagens e referências bíblicas a respeito do tema. Nesse sentido, é necessário fazer releituras pedagógicas daqueles textos muitas vezes lidos com outros olhos e outras mentalidades.

Partir das exPeriências e saberes da igreja

É importante levar em conta que existem experiências nas igrejas ou co-munidades de fé que incorporaram em sua ação pastoral elementos da incidência política. Por exemplo, nos últimos anos, alguns setores das igrejas vêm participando em diversas redes que trabalham no campo dos

MATERIAL DE LEITURA 1

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

direitos cidadãos; igrejas que se uniram a ações de protesto diante de determinados fatos de injustiça, assim como ONGs evangélicas que de-senvolveram campanhas a favor de setores em situação de vulnerabili-dade.

Uma entrada pedagógica efetiva é a de desenvolver o conceito e os crité-rios estratégicos da incidência política a partir destas referências próximas dos membros de nossas comunidades de fé. É importante que os líderes compreendam que não estamos falando de um tema alheio ao trabalho e à experiência das igrejas. Este é um capital que se pode resgatar peda-gogicamente para sensibilizar e aproximar as igrejas a ações de incidência que não fiquem em iniciativas isoladas, parcialmente desenvolvidas, mas em esforços abordados estrategicamente.

fOrtalecer deterMinadas caPacidades-chave

Por fim, é importante trabalhar não só no nível da aprendizagem das me-todologias ou dos critérios para desenvolver estratégias de incidência política, mas também no nível do acompanhamento e assessoramento no campo do fortalecimento de determinadas capacidades fundamentais para a implementação da estratégia e da ação.

Nesse sentido, se faz necessário ajudar as igrejas e entidades evangélicas no fortalecimento de capacidades para a interlocução pública, para in-serções adequadas nas redes cidadãs, assim como no planejamento de estratégias para a construção de alianças sustentadas com setores não re-ligiosos e construção de propostas políticas viáveis. Também para analisar o cenário sociopolítico, a construção de discursos públicos adequados, assim como usar eficazmente os meios de comunicação.

Este cenário propõe aos movimentos, entidades e conselhos vinculados à igreja na América Latina os seguintes desafios:

cOntar cOM uMa estratégia clara

A crise ética da liderança política e social em nossos países trouxe consigo a emergência de novos atores. Entre estes novos atores aparecem hoje as lideranças das igrejas. Efetivamente, hoje existe uma maior presença de líderes e instituições cristãs na atuação pública. No entanto, faz-se neces-

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sário passar da presença pública à construção de estratégias de incidência pública previamente planejadas.

Não se trata de aparecer por aparecer ou de estar na esfera pública por uma questão de pressão ou de modo conjuntural. Necessitamos ter clare-za sobre nossas intenções e sobre o sentido de nossa incidência. Ter uma estratégia nos permite saber por que atuamos, onde e quando o fazemos.

cOnstruir uMa Presença Pública cOM vínculO cidadÃO

Muitos setores das igrejas estão desenvolvendo esforços ou projetos de serviço social, mas estes esforços de missão não estão sendo articulados com uma reflexão sobre a noção da cidadania, que tem a ver com o sen-tido de pertencimento à comunidade política, que exige uma compreen-são dos DEVERES E DIREITOS cidadãos.

Nesse sentido, nossos projetos têm que estar articulados com a atuação cidadã e inseridos nos processos de desenvolvimento locais e regionais.

estar inseridO eM redes

É necessário fortalecer a capacidade das igrejas a respeito da necessidade de inserir-se nas redes que são construídas não só a partir de instituições, movimentos e organizações próximas a nossos projetos, mas também com outros esforços que estão incidindo nas políticas públicas e no de-senvolvimento de nossos países.

cOnstruir relações cOM jOrnalistas e líderes de OPiniÃO

É importante que construamos uma cultura de relacionamento e intercâm-bio com os jornalistas dos meios de comunicação de massa, assim como com os líderes de opinião que incidem permanentemente na agenda pública.

ter leituras claras dOs PrOcessOs e lógicas POlíticas

É necessário que nos exercitemos permanentemente na leitura e na aná-lise com rigor do que está passando nos contextos políticos, sociais e cul-turais onde nos desenvolvemos; sobretudo levando em conta que nossas sociedades hoje estão em constante mudança.

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

cOnstruir PrOPOstas que sejaM viáveis Para O interesse PúblicO

É importante que nossos projetos não só sejam interessantes e bons para nós, mas que sejam viáveis para responder às necessidades integrais do interesse público.

cOnverter-nOs eM interlOcutOres legítiMOs

nO âMbitO PúblicO

Necessitamos desenvolver uma estratégia de incidência real na agenda pública, o que implica converter-nos em referenciais e interlocutores le-gítimos para a geração de correntes de opinião que se constroem a partir de diversos espaços públicos, principalmente dos meios de comunicação.

Isto implica construir políticas explícitas de incidência que suponham a possibilidade de entrar estrategicamente no diálogo e na participação propositiva da agenda pública de nossos países. Isto também supõe a construção de uma liderança pública propositiva, que dialogue e seja ecu-mênica, que seja capaz de construir alianças e de se inserir nas redes que são construídas na sociedade civil.

serMOs PedagógicOs nO interiOr das igrejas

É necessário construir uma estratégia pedagógica a partir das igrejas, que implica não somente no desenvolvimento de esforços de capacitação re-alizados para líderes interessados no tema, mas também na incorporação da temática dos centros de formação pastoral ou teológica interdenomi-nacionais ou das próprias igrejas.

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MATERIAL DE LEITURA 2

O AMOR ESPECIAL DE DEUS PELOS INDEFESOS (FRAgMENTO)

Por Darío López

No Novo Testamento a palavra mais frequente para designar o pobre é pto-jós, o indigente e os que se curvam diante dos outros, o que não tem o ne-cessário para subsistir, o miserável obrigado à mendicância. Também são uti-lizadas outras palavras para identifi car o pobre como pemicrós (muito pobre, desgraçado, necessitado), usteréo (pobre) e pénes (pobre ou necessitado).

Na epístola de Tiago, é mostrado com precisão e clareza quais devem ser a atitude e a prática evangélicas em concordância com o propósito de Deus (Tg. 2.1-26). Particularmente, a veia profética deste documento do Novo Tes-tamento é bastante explícita em Tiago 5.1-6.

Os evangelhos sinóticos deixam registrada a opção Galileia de Jesus e seu amor especial pelos insignifi cantes, os “de baixo”, os descartáveis, os oprimi-dos, os marginalizados, os pobres da terra.

A Igreja apostólica seguiu essa mesma linha, entendendo sua vocação na história como o seguimento do Senhor que: ... sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos”.(2 Co. 8.9).

Trata-se exatamente disso, ou seja, de encarnar uma situação histórica con-creta e de carregar a cruz todo dia, inserindo-se na rota do seguimento em tempo integral, como discípulos fi éis e obedientes a Jesus de Nazaré, encar-nado, crucifi cado e ressuscitado. Como crentes no Deus da vida, não temos outra opção, não temos outro caminho, não temos outro chamado.

NOSSO COMPROMISSO

A existência de pobres e de excluídos não é um mero dado estatístico ou re-alidade carente de um conteúdo social e político específi co. Tampouco uma simples moda teológica ou um assunto referencial para a refl exão teológica e para a prática de amor ao próximo. Ambos os fatos expressam realidades concretas que constituem enormes desafi os para a missão das igrejas situa-das no Sul do mundo.

MATERIAL DE LEITURA 2

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A INCIDÊNCIA PÚBLICA A PARTIR DA FÉarticulandO uMa PersPectiva bíblica da defesa da justiça 2

Diante do escândalo da pobreza abjeta em que se encontram milhões de seres humanos e da inegável condição de exclusão social e política de mi-lhões de seres humanos de carne e osso, os discípulos de Jesus de Nazaré não podem permanecer impassíveis ou ficar em silêncio.

A enérgica denúncia dos profetas do Antigo Testamento, que sacudiu a socie-dade de seu tempo, a solidariedade de Jesus de Nazaré com os pobres e os oprimidos, a prática solidária da igreja apostólica e das comunidades de dis-cípulos que foram se formando como consequência da proclamação da boa notícia do reino de Deus fora dos limites da Palestina, constituem suficiente combustível espiritual para forjar modelos concretos de serviço ao próximo.

A rota está traçada e os modelos estão delineados tanto no Antigo como no Novo Testamento. Porém, faz falta que os discípulos do Mestre da Galileia corram o risco de ser obedientes a todo o conselho de Deus nos distintos contextos históricos nos quais estão situados para ser amigos da vida, artí-fices da paz, embaixadores da justiça, exemplos viventes de solidariedade com o ser humano concreto, construtores de novas relações humanas, arqui-tetos de uma sociedade justa e solidária.

Deus é amigo da Vida. É o Deus da Vida. As formas refinadas e sutis de as-sassinar a milhões de inocentes e de desvalorizar a dignidade humana dos órfãos, das viúvas e de estrangeiros (migrantes) deste tempo fazem parte do círculo diabólico de morte e violência, contrário ao propósito libertador de Deus.

A perspectiva bíblica é explícita e contundente. O amor especial de Deus pelos indefesos, os fracos, os insignificantes, os necessitados, os “ninguéns” ou os “nadas” segundo o discurso oficial, desafia a Igreja cristã a sair de seus cômodos pressupostos teológicos e alinhamentos missionários. Deixando que o Deus da Vida fale pela força de sua palavra, para que, no poder de seu Espírito, proclame com palavras e atos as boas novas do reino de Deus, ali onde o pão é comunhão íntima, amor definitivo: a mesa dos pobres e dos excluídos.

A opção Galiléia é vocação para hoje. A renúncia voluntária por causa de Je-sus, ao pé da cruz, nos convoca a um seguimento radical que tem como um de seus eixos centrais o chamado a solidarizar-nos com os pobres e excluídos, a ser uma contracultura ou uma comunidade alternativa dentro de uma so-ciedade que presta culto ao sucesso e ao mercado como valores supremos.

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MãOS A OBRA

PLANEJANDO E ExECUTANDO AS INICIATIvAS DE INCIDÊNCIA PÚBLICA

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MANUAL DE INCIDÊNCIA PÚBLICAPara ativistas cristÃOs que lutaM Pela justiça

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3.1 QUEM INTERVÉM NA INCIDÊNCIA

  Para defender e promover a justiça é necessária a participação de vários atores. O primeiro é o Defensor, que expressa sua solidariedade com a cau-sa daqueles que desejam a justiça. Também estão os aliados, que são pes-soas ou organizações que se unem ao grupo de defesa e contribuem para a solução do problema.

Os defensores e aliados atuam de maneira conjunta para fazer com que o grupo-alvo, que, em geral, é a pessoa ou pessoas que têm poder para mudar políticas, tomem uma decisão favorável aos que sofrem injustiça.

  Para que tomem a decisão que desejamos, trabalharemos em redes ou co-alizões, fazendo lobby, mobilização, sensibilização e utilizando os meios de comunicação.

3.2. FUNçõES DOS ATORES DA INCIDÊNCIA

  Defensores: São aqueles que assumem o compromisso de dedicar-se à promoção e à defesa pública de uma causa pela justiça. Podem ser:

� Uma pessoa ou grupo de pessoas;

� Uma organização local, regional, nacional ou internacional.

� Uma rede de organizações;

� Uma comunidade;

� Uma ou várias igrejas.

  Aliados: São pessoas ou organizações que se unem ao grupo de defesa e participam juntas na solução do problema apresentado. Geralmente são pessoas que têm legitimidade e credibilidade diante da opinião pública.

  Grupo-alvo: É, em geral, uma pessoa, grupo de pessoas ou instituição que possui o poder para mudar políticas que afetam aqueles que nós deseja-mos defender. Este grupo tem o poder para construir políticas, detê-las ou modificá-las quando necessário.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3

  O grupo-alvo também pode ser um grupo de pessoas que influenciam po-sitivamente aqueles que são responsáveis pelas políticas que desejamos modificar. O grupo-alvo pode ser:

� Autoridades legislativas, do judiciário, Presidente da República, autori-dades regionais e locais, empresários.

3.3 COMPETÊNCIAS DOS PROMOTORES DA INCIDÊNCIA

Antes de empreender qualquer iniciativa de incidência é importante revisar as capacidades e competências da organização, grupo ou movimento que im-pulsionará a iniciativa.

Nesse sentido, é necessário realizar uma avaliação das competências vincula-das à incidência pública.

Compartilhamos aqui uma matriz com as perguntas que podem ajudar nesta avaliação, levando em conta três eixos estratégicos:

Categoria Enunciados

Estratégias políticas

• A organização conta com informação suficiente sobre a dinâmica dos espaços em que decisões políticas são tomadas?• Quem toma as decisões, quando elas são tomadas?• Qual é o nível de experiência da organização a respeito do "lobby político"?• Qual é a experiência que a organização tem a respeito da elaboração de

propostas políticas?

Estratégiaseducativas

• A organização conta com estratégias pedagógicas para desenvolver ações de sensibilização?• Qual é o nível de informação sobre concepções, percepções e práticas

dos setores em que quer desenvolver ações de sensibilização?• Quais são os critérios para desenvolver as ações educativas?

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Categoria Enunciados

Estratégias comunicativas

• Qual é o nível de conhecimento sobre a dinâmica dos meios de comunicação?• Existe algum critério para a seleção do público a quem queremos

sensibilizar ou sobre o qual queremos incidir?• Que capacidades técnicas temos para produzir mensagens e usar os

meios de comunicação?• Existe uma estratégia de relacionamento com atores dos meios de

comunicação?

PerGUNTAS CHAVeS

As ONGs e movimentos sociais que se envolvem em processos de incidência pública poderiam considerar as seguintes questões em relação a qual é o melhor momento e a melhor área para inserir o desenvolvimento de capacidades em seus planos de inci-dência política (O’Connell & Burrows, 2007):

� De quem são as prioridades nas quais estão trabalhando? Como foram determinadas?

� As comunidades pelas quais vocês e suas organizações sociais rea-lizam atividades de incidência política participam nas iniciativas de incidência pública? Caso não participem, como podem ser envol-vidas?

� Vocês compartilharam toda a sua informação e análise com elas, na medida do possível?

� Elas participaram na elaboração de soluções para os problemas que desejam resolver?

� Vocês podem incrementar o acesso das comunidades à informação e análise?

� As comunidades desejam que vocês as ajudem a incrementar sua capacidade de influência?

� Há necessidades de capacitação que vocês possam atender ou ajudá-las a atender?

� Que contatos podem facilitar seu trabalho? Como podem ajudá-las a ampliar suas redes?

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3É possível que as organizações devam considerar também como fortalecer suas próprias capacidades de incidência pública e se é necessário implemen-tar um processo interno de desenvolvimento de capacidades. Se sua organi-zação não possui habilidades ou conhecimentos adequados, não poderá levar a cabo um trabalho de incidência efetivo.

3.4 CICLO DE LA INCIDENCIA PÚBLICA

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

A ESTRATÉgIA PARA

ALCANÇAR O OBJETIvO

AvALIACÃO CONTÍNUA

COLETA E ANÁLISE DA INFORMACAO

E DE QUEM TEM O PODER

OBJETIvO A SOLUÇÃO PROPOSTA

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PASSO 1

IDENTIFICANDO O PROBLEMA

Vivemos em uma sociedade onde constantemente enfrentamos problemas sociais. Sejam os inadequados serviços públicos, a dependência das drogas nas escolas, uma fábrica que contamina o meio ambiente, bares onde ocorre exploração sexual infantil, até impostos injustos ou más práticas de empresas, estamos rodeados de situações que vulnerabilizam os direitos das pessoas, particularmente dos mais pobres.

Os problemas sociais são, às vezes, muito complexos. A pobreza, por exemplo, tem causas variadas.

Para aqueles que trabalham com desenvolvimento comunitário, oferecendo serviços concretos à população, pode ser complicado dar um passo a mais ao incorporar a estratégia de incidência em seu trabalho. No entanto, os frutos podem ser abundantes se decidirem fazê-lo.

Para iniciar, devemos nos perguntar que problema queremos enfrentar. A apresentação do problema deve ser muito concreta, evitando frases genéricas etc. Importante ir direto ao ponto.

exemPlo:

Na comunidade de Santa Rita, a água não é suficiente para o consumo humano porque, há cinco anos, uma empresa engarrafadora de água com gás extrai água do subsolo, deixando os poços dos habitantes quase vazios.

A ONG “Água é Vida” ajuda os habitantes a conseguir água em cisternas. Porém, este serviço é caro. O projeto da ONG está a ponto de acabar e os habitantes temem ficar sem água.

Uma forma ruim de apresentar o problema seria “A água é um bem escasso no semiárido. A mudança climática faz com que cada vez tenhamos menos reser-vas de água. Mesmo assim, falta sensibilidade das empresas para compartilhar com os habitantes de Santa Rita”.

O problema que devemos enfrentar, corretamente apresentado, seria: “Carên-cia de água para uso humano na Comunidade de Santa Rita porque não existe

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3uma regulamentação do Município sobre o uso da água do subsolo, e, além disso, os sistemas de irrigação são inadequados”.

Alguns exemplos de possíveis temas ou problemas nos quais podemos utili-zar a defesa e a promoção da justiça.

  Serviços básicos inadequados (saúde, educação, saneamento, água, ele-tricidade etc.).

  Atendimento a vítimas de desastres naturais e seus efeitos.   Discriminação.   Subornos, corrupção, abuso de autoridade.   Proteção do meio ambiente.   Prisões injustas.   Crianças feitas soldados em conflitos armados.   Dívida externa.   Maus tratos a setores da população (minorias étnicas, afetados pela AIDS

etc.).   Crianças em situação de rua.   Diminuição da ajuda externa.   Tráfico de pessoas, escravidão moderna.   Abuso sexual infantil, violência familiar.   Direitos de comunidades indígenas.   Vazios no sistema de administração de justiça.   Direito à terra.   Liberdade e igualdade religiosa.

Algumas dificuldades comuns no momento de selecionar o problema central são:

  Confusão entre causas e consequências. Entres soluções que são dadas mediantes políticas públicas e aqueles que não têm nada a ver com isso.

  Pouca capacidade de análise por parte da sociedade civil.

  Pouco controle da informação.

  Tendência a querer resolver problemas macros.

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PERgUNTAS-ChAvE NA IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

Qual é realmente o problema? Quais são as causas desse problema? Quem o provoca? Quais são as consequências sobre o grupo afetado?

PROBLEMAS

CONSEQUÊNCIAS

CAUSAS

OUTRAS PERgUNTAS-ChAvE PARA O PASSO 1

  Consciência da organização: Você e sua organização são conscientes de que com uma estratégia de incidência podem ajudar na solução do pro-blema?

  Capacidade da organização: Vocês tem a capacidade necessária para en-frentar o problema?

  Conexões com redes: Sabem quem poderia ajudá-los a desenvolver sua capacidade ou ser aliado na busca por uma solução?

  Informação sobre o problema: É importante que os membros de sua organização ou comunidade estejam conscientes do problema e tenham informação suficiente a fim de começar a agir.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3

Muitas vezes as causas socioculturais de um problema (desonestidade, falta de princípios etc.), apontam para a necessidade de que campanhas

de incidência pública incluam uma forte dose de educação e conscientização para gerar

mudanças sustentáveis.

Para poder fazer uma análise das causas de um problema, é essencial ter um conhecimento detalhado das políticas e programas oficiais. Por isto, se o grupo não tem este nível de conhecimento, seria muito importante fazer a pesquisa necessária e/ou apoiar-se em especialistas sobre a ação do Estado.

No exercício da análise de causas, muitas vezes há uma tendência a identificar como causa principal a falta de leis quando frequentemente existem leis adequadas mas que não são aplicadas efetivamente. Por não identificar ou priorizar com precisão as raízes do problema, o grupo corre o risco de terminar formulando propostas de solução (uma nova lei) sem sentido e pouco efetivas.

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PASSO 2

COLETA E ANÁLISE DA INFORMAçãO E DE ATORES COM PODER

O passo 2 é uma etapa vital e importante na qual obteremos e analisaremos informação que nos permitirá saber se podemos realizar a incidência pública ou se se trata de um problema que pode ser resolvido sem ela.

Toda ação de defesa e promoção da justiça se baseia em informação objetiva, confiável e suficiente, a fim de:

  Entender o contexto em que o problema e a busca de solução são gerados.

  Compreender as ações que poderíamos tomar no futuro.

  Oferecer informação confiável para formular a proposta de solução.

  Conhecer o que outros setores ou grupos estão fazendo em relação a nos-so problema, a fim de evitar duplicar esforços.

  Saber quem são as pessoas que têm o poder para gerar as mudanças que desejamos.

EFEITOS DO PROBLEMA. Quais os efeitos do problema sobre as pessoas de sua comunidade ou do grupo que a sua instituição apoia? Solucionar o problema identificado é urgente? É um problema importante para a saúde da vida comunitária? Sua instituição pode resolvê-lo?

RESPONSABILIDADES SOBRE O PROBLEMA. Que instituições ou autoridades têm responsabilidade sobre o problema? Já quiseram solucioná--lo anteriormente? Foram apresentadas propostas de outros setores?

GRUPO-ALVO. Você sabe como funciona o Estado? Em que nível as de-cisões são tomadas? Você sabe quem deve ser procurado para solucionar o problema? Nomes? Cargos?

SOLUçõES/PROPOSTAS. Há outras organizações, comunidades ou membros da sociedade civil que tenham apresentado anteriormente uma

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3proposta de solução para o problema apresentado? Existe uma lei, resolução, decreto, norma que solucionaria o problema? Está sendo cumprido?

OPORTUNIDADES. É um problema da atualidade? Que oportunidades existem para influenciar e conseguir a solução do problema? A conjuntura política atual é própria para influenciar no momento? Quando deve ser exe-cutada uma ação de defesa e promoção da justiça para que seja oportuna?

ALIADOS. Quais poderiam ser os potenciais aliados para o enfrentamento do problema apresentado? Em que nível? Local? Nacional? Internacional? Há redes, coalizões, meios de comunicação, organizações, comunidades, lí-deres influentes que poderiam ser nossos aliados? Pensamos o mesmo ou temos discrepâncias com alguns aliados? Que ações sobre temas afins ao problema apresentado estão sendo executadas por outras instituições?

OPONENTES. Quem é contrário a que o problema seja resolvido? Por quê? O que argumentam? Quanto poder eles têm? Eles podem influenciar forte-mente no nosso ator-chave? Quantos são? Analise sua posição.

INDECISOS. Você conhece pessoas, grupos, comunidades, líderes influen-tes e instituições que não estão interessados no problema ou que acham que o problema não lhes afeta e que, portanto, não necessitam colaborar para sua solução? Quais são seus argumentos? Poderiam mudar de posição e ser alia-dos ou oponentes?

INFORMAçãO. Você possui fontes de informação confiáveis sobre o pro-blema a solucionar? A análise da informação que temos é vital; por isso acon-selhamos que consulte um especialista ou analista político sobre a informação que possuímos. Contar com diferentes opiniões nos ajuda a pensar em coisas que nossa organização não viu.

RISCOS/VANTAGENS. Que tipo de riscos correríamos se levássemos a cabo a Incidência Pública? Quais seriam os riscos de não fazer a campanha? Que grandes vantagens você pode obter se agir?

PROBABILIDADES DE PROGRESSO. Quais são as probabilidades de que a campanha seja a curto, médio ou longo prazo?

  Também em grupo, peça aos participantes para desenvolverem o quadro de análise de aliados, oponentes e indecisos.

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PONTOS IMPORTANTES:

  É requerida informação que indique tanto os fatos como a análise da situ-ação.

  Em alguns casos, você já pode contar com a informação que necessita para fazer a Incidência Pública.

  Em princípio, pode levar tempo reunir toda a informação de que se neces-sita. Encontre fontes confi áveis e fáceis de utilizar.

  Esteja seguro de que a informação que possui é verdadeira, atualizada e correta.

  Por fi m, este passo lhe permite saber se deve continuar ou não com a cam-panha de Incidência Pública.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3

AProFUNDANDo

CONSTRUÇÃO DO MAPA DE PODER

O mapa de poder nos permite:

� Identificar a pessoa que decide na instância em que as decisões políticas são to-madas.

� Identificar duas coisas com facilidade: 1) o universo de atores que influenciam quem tem poder de decisão; 2) os aliados, os oponentes e os indecisos com res-peito a nosso objetivo.

É importante observar como atores que têm interesses políticos, econômicos, sociais, religiosos, culturais, empresariais etc. podem influenciar nas decisões de uma pessoa.

QUADRO DE ANÁLISE DO MAPA DO PODER

Aliados Indecisos Oponentes Oponentes

Alto poder

Médio poder

Baixo poder

Fonte: Favaro, Daniel. “Comunicación organizacional”, CREAS: Buenos Aires.

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PASSO 3

ESTABELECENDO O OBjETIVO E A PROPOSTA

Temos que apresentar uma solução para o problema identificado. O objetivo da incidência deve ser claro e possível de ser medido. O melhor indicador é que a mudança desejada seja realizada. Ou seja, que o problema social que enfrentamos tenha uma solução eficaz.

Um objetivo de defesa e promoção da justiça está dirigido à mudança de políticas ou práticas de governos, instituições ou organizações. Isto inclui: aquilo que queremos mudar, quem fará a mudança, quanto mudará e quan-do ocorrerá.

Um objetivo é um passo gradual e realista que nos leva a uma meta global. Os objetivos de incidência pública não são gerais e, ao contrário, se referem a uma ação específica que se quer iniciar. Aqui, alguns critérios que o objeti-vo de incidência pública deve ter:

  Que seja mensurável.

  Que seja factível (em termos técnicos e políticos).

  Que seja entendido por todos. Que seja motivador e aglutinador para a organização ou coalizão que respalde a campanha de incidência pública.

  Que contribua para a formação ou fortalecimento de alianças e coalizões e para a mobilização dos mais afetados.

  Que se possa alcançar no curto ou médio prazo.

  Que contribua para a solução do problema específico.

  Que gere apoio público.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3Voltando ao nosso exemplo, dizíamos que o problema era a “Carência de água para uso humano na Comunidade de Santa Rita porque não existe uma regu-lamentação do Município sobre o uso da água do subsolo. Isto faz com que uma empresa esteja usando intensivamente a água para industrializá-la”.

O objetivo para resolver este problema seria: “Que o governo municipal, ao qual pertence Santa Rita, emita uma ordem na qual se precise os limites de uso da água para fi ns industriais”. Então isto é o que vamos buscar com nossa campanha de incidência: Que o uso da água seja regulado legalmente e que as autoridades garantam o direito da população ao acesso à água.

Mensagem da incidência pública. Estabelecer os objetivos que queremos na defesa e promoção da justiça, com clareza e para diferentes públicos. Ou seja, trata-se de nossa petição central. Deve ser uma mensagem clara, pre-cisa, concreta, específi ca e detalhada do que se pretende conseguir na Inci-dência Pública. A mesma mensagem central deve estar em todas as ações da estratégia.

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AProFUNDANDo

PERGUNTAS QUE NOS AJUDAM A DEFINIR O PROBLEMA E AS SOLUÇÕES POSSÍVEIS

CRITÉRIOS OBJETIVO 1 OBJETIVO 2

Existem dados qualitativos ou quantitativos que demonstram que o objetivo melhorará a situação?

O objetivo pode ser alcançado? Inclusive com oposição?

O objetivo obterá o apoio de muitas pessoas? As pessoas se interessam o suficiente pelo objetivo a ponto de fazer algo?

Poderá obter dinheiro ou outros recursos para apoiar seu trabalho em relação ao objetivo?

Pode-se identificar claramente as pessoas destinatárias com poder de decisão?

O objetivo é fácil de compreender?

O objetivo da defesa e promoção tem um marco cronológico claro que se ajuste à realidade?

Você tem alianças com pessoas ou organizações-chaves necessárias para alcançar o objetivo da defesa e promoção? De que forma o objetivo ajudará a promover alianças com outras ONGs, líderes ou partes interessadas?

Terão as pessoas para trabalhar com o objetivo da incidência pública?Oportunidade de aprender sobre o processo de tomada de decisões e participar neste processo?

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3PASSO 4

A ESTRATÉGIA

A estratégia deve considerar vários métodos e atividades. Entre elas, por exemplo, as visitas às pessoas com poder de decisão (lobby), conscientizar a população ou sociedade civil sobre o tema que queremos resolver (sensi-bilização), incidência através dos meios de comunicação para gerar opinião pública favorável, mobilização de afetados e cidadãos/as solidário/as com o problema.

PONTOS-ChAVE A CONSIDERAR:

A PROPOSTA. É importante colocar de maneira concreta a proposta que apre-sentamos para resolver o problema por meio de uma estratégia de incidência pública. Esta pode ser construída levando em conta as seguintes perguntas:• O que se pretende conseguir? Como se quer conseguir? (que ação queremos que a pessoa-chave ponha em prática?) Qual é o espaço de decisão (em que instância a decisão sobre a proposta é tomada?)? Para quando ou em que pe-ríodo se quer obter a proposta?

DEFINIÇÃO DO GRUPO PROMOTOR. É importante definir a equipe, comitê ou grupo promotor da campanha.

O CRONOGRAMA. É fundamental construir um cronograma lógico que per-mita medir os avanços. Este deve incluir: tempo, responsáveis, recursos, riscos etc., e deve contemplar ações a curto, médio e longo prazo.

DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES. É necessário definir o nível de res-ponsabilidades. Quem tem a autoridade final sobre as decisões estratégicas? Quem deve participar das decisões? Quem fará o trabalho do dia a dia? Que organização da rede, aliança ou coalizão se encarregará de que atividade? Que membro da comunidade irá a uma entrevista? Ou coordenará as ativida-des de mobilização? Quem será o encarregado das relações com os meios de comunicação?

AVALIAÇÃO PERMANENTE. Como veremos na seção 5, é importante avaliar constantemente durante o processo da campanha. Para isso é importante de-finir os indicadores que ajudem a saber o que queremos medir.

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QUADRO DAS ESTRATÉgIAS

Estratégias Propósito/meta Como se faz Conselhos práticos

LOBBY � Comunicar as propostas adequadamente aos que tomam decisões.

� Conhecer as posições dos atores-chaves e das pessoas que tomam a decisão.

� Aperfeiçoar o mapa do poder.

� Melhorar os argumentos.

� Motivas os aliados e persuadir quem possui o poder de decisão e os indecisos.

� Identificar e priorizar os atores sobre os quais se vai incidir.

� Estabelecer objetivos e metas para cada pessoa.

� Analisar posições, interesses e motivações das pessoas em relação à proposta.

� Desenvolver argumentos para serem utilizados com cada pessoa.

� Esclarecer conclusões e acordos alcançados.

� Prepare-se adequadamente para as reuniões

� Defina as agendas, de antemão, para as reuniões.

� Limite suas mensagens ou argumentos a poucos pontos centrais.

� Escolha os porta-vozes cuidadosamente e entre em acordo sobre os pontos a serem tratados.

� Registre os acordos obtidos de forma escrita.

� Identifique outras pessoas e formas a fim de influenciar a pessoa visitada.

� Acompanhe as pessoas visitadas.

� Tenha clareza sobre o que é negociável e o que não é.

� Tenha clareza sobre o poder de decisão ou de influência dos atores com que se está fazendo lobby.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3

Estratégias Propósito/meta Como se faz Conselhos práticos

MOBILIZAÇÃO � Definir, ampliar e fortalecer a estrutura interna do grupo ou coalizão.

� Organizar e incorporar a população afetada ao processo de incidência.

� Construir mecanismos para mobilizar diversos setores.

� Construir redes.

� Definir o grupo que impulsiona a campanha.

� Definir os mecanismos de comunicação e de tomada de decisões.

� Definir os mecanismos para administrar recursos econômicos.

� Reunir-se com grupos, organizações ou setores com interesses similares, comunicando-lhes a proposta de incidência política.

� Sondar o grupo sobre a disponibilidade de tempo e recursos humanos, materiais e financeiros.

� Criar comitês de trabalho.

� Definir mecanismos de monitoramento e avaliação.

� Gerar mecanismos efetivos de comunicação com a população afetada.

� Gerar mecanismos concretos de participação da população afetada

� Tenha criatividade para comunicar sua posição a grupos interessados em apoiar a proposta.

� Buscar maneiras em que a população afetada possa participar, contribuindo com suas próprias capacidades.

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Estratégias Propósito/meta Como se faz Conselhos práticos

SENSIBILIZAÇÃO � Gerar e compartilhar informação com os atores (aliados, afetados e simpatizantes da proposta).

� Conscientizar de maneira permanente.

� Identificar pessoas grupos e/ou setores (audiências) que se quer sensibilizar.

� Estabelecer objetivos e metas de educação e sensibilização.

� Desenvolver temas e argumentos gerais.

� Determinar meios, forma e metodologia.

� Realizar atividades focalizadas de sensibilização.

� Priorize a audiência ou audiências que se quer alcançar.

� Leve em conta os fatores de tempo e recursos.

� Conte com pessoal com capacidade adequada.

� Sensibilize ou eduque em função de gerar mais força social para influenciar na tomada de decisão sobre a proposta, não de forma geral.

� Use a criatividade para buscar meios efetivos e baratos.

� Solicite apoio de pessoas e instituições com interesses e perspectivas similares.

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MÃOS A OBRA PlanejandO e executandO as iniciativas de incidência Pública 3

Estratégias Propósito/meta Como se faz Conselhos práticos

COMUNICAÇÃO E MEIOS

� Situar o tema na agenda pública.

� Construir credibilidade do grupo como fonte de informação.

� Gerar correntes de opinião pública favoráveis à proposta.

� Gerar pressão sobre a pessoa-chave.

� Defi nir os objetivos da estratégia com os meios de comunicação.

� Defi nir as audiências que se quer alcançar.

� Defi nir os espaços e meios de comunicação.

� Formular a mensagem.

� Analisar e priorizar os meios.

� Realizar atividades para ganhar aceso aos meios.

� Avaliar continuamente.

� Dê um enfoque adequado ao tema, levando em conta as características da audiência.

� Considere o conteúdo, a linguagem, a fonte ou pessoa que envia a mensagem, o formato, o tempo e o lugar da mensagem.

� Use a criatividade e audácia para atrair os meios e convencê-los da importância dos temas.

� Dê continuidade intensivamente ao contato com os meios e jornalistas específi cos.

� Ofereça dados completos e objetivos para aumentar sua credibilidade como fonte de notícia.

“Lutamos pela justiça porque a Igreja tem que ser a voz da justiça. (Seremos atacados) quando

assumirmos posição pelos direitos humanos, reclamando justiça a favor dos que sofreram

abuso, questionando a corrupção dos governos. Porém, cedo ou tarde, os governos escutarão,

porque Deus está ao lado dos pobres, dos humildes e das vítimas da injustiça”

Rev. Alicia Winters (Biblista, USA-Colombia)

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ESTRATÉgIAS MÉTODOS

vEJAMOS MAIS DETALhADAMENTE A MANEIRA COMO PODEMOS E

DEvERÍAMOS USAR CADA UM DESTES MÉTODOS DA ESTRATÉgIA

4

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4.1 COMO FAZER LOBBY

O lobby é um método que se utiliza para a incidência pública. Aplica-se o ter-mo “lobby” a toda situação na qual um grupo da sociedade exerce pressão de maneira pacífica sobre alguma autoridade ou conjunto de autoridades, para influenciar uma decisão específica que deva ser tomada.

O lobby é uma estratégia de persuasão que consiste em “convencer” outras pessoas sobre nosso ponto de vista, de maneira voluntária e sem recorrer à manipulação.

Apresentamos no manual alguns conceitos básicos de lobby:

  Importância de se construir relações com aqueles que detêm o poder de decidir.

  Formas de influência direta sobre aqueles que tomam as decisões.

CONCEITOS BÁSICOS

A IMPORTÂNCIA DE SE CONSTRUIR BOAS RELAÇÕES

Grande parte da estratégia eficaz de defesa e promoção da justiça depende das relações que os que incidem constroem com as pessoas influentes, ou seja, com aqueles que tomam as decisões. Quanto mais fortes forem os laços de credibilidade e confiança entre o que incide e sua audiência, mais eficaz será seu trabalho.

Como é possível ter e manter boas relações com as pessoas-chave? Ainda que não existam fórmulas estabelecidas para as relações humanas, pode-se consi-derar os seguintes conselhos no momento de relacionar-se com aqueles que tomam decisões.

CONHEÇA SUA HIERARQUIA Informe-se previamente sobre o papel ou res-ponsabilidade da pessoa com quem estabelecerá a relação.

OFEREÇA-LHES APOIO EM CASOS CONCRETOS Oferecer ajuda para trabalhar nas causas ou problemas em que eles estão interessados e que não entrem em conflito com seus interesses como defensor.

COLABORE COM SEU TRABALHO Estar informado sobre suas necessidades e descobrir como colaborar para que possa realizar seu trabalho

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4OFEREÇA-LHES CREDIBILIDADE Converter-se em uma fonte de informação confiável, crível e digna de confiança.

SEJA SOCIÁVEL Desenvolver relações de amizade pessoal na qual você ex-presse seu desejo de cooperar com o trabalho do outro.

COMUNIQUE-SE CONSTANTEMENTE Manter-se em contato de maneira regu-lar e ser paciente. Leva tempo criar relações duradouras.

COMO ELABORAR UMA ESTRATÉGIA EFICAZ DE INFLUÊNCIA

  Tenha uma boa compreensão da situação política do momento, pois a conjuntura está em constante mudança.

  Defina um objetivo realista: O que podemos conseguir considerando os recursos que podemos envolver?

  Elabore um perfil claro da autoridade a qual busca influenciar (congressis-ta, prefeito etc.): suas funções e os alcances e limites de seu poder.

  Seja discreto com sua estratégia. Nem sempre é conveniente lançar mão de todas as suas cartas ao mesmo tempo.

  Diga a verdade, a menos que sua segurança esteja em perigo.

  Cultive uma relação interpessoal e mantenha uma rede informal. Evite es-tar em conflito ou dar essa sensação.

  Saiba o que realmente está acontecendo dentro dos níveis burocráticos (comissões, subcomissões, grupos de trabalho). Estude qual a relação de poder entre as diversas autoridades e funcionários envolvidos nas deci-sões. Faça uma análise apropriada das pessoas-chave.

  Identifique os eventuais aliados que possam apoiar sua petição, e estabe-leça alianças com setores que compartilham interesses similares aos seus.

  Em atividades de lobby é importante a representatividade. Se se trata de falar com uma autoridade, quem deve ir é a pessoa que dirige a instituição.

  Para fazer lobby não se pode delegar a outras pessoas. O especialista no tema também deve estar presente na reunião.

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CONSELhOS PARA UM LOBBY BEM-SUCEDIDO

cOMO cOnseguir uMa reuniÃO de aPresentaçÃO

  Como em toda relação, o primeiro passo do lobby é estabelecer o contato inicial com a autoridade sobre a qual se quer influenciar. Para isso, existem alguns conselhos que se deve levar em conta:

  Busque um ponto de contato. Pense de maneira criativa na forma como pode conseguir uma reunião com essa autoridade. Essa autoridade tem algo em comum com você que ajude a contatá-lo? Por exemplo: um amigo seu poderia ir à mesma igreja que essa autoridade.

  Envie uma carta. A maneira mais comum de solicitar uma reunião é me-diante o envio de uma carta à autoridade explicando o motivo da defesa e promoção da justiça e por que gostaria de reunir-se com essa pessoa. Depois de enviar a carta, faça o acompanhamento mediante ligações te-lefônicas. É importante utilizar uma linguagem cordial para alentar uma resposta amigável.

  Convide a autoridade a visitar a sua instituição ou comunidade. Assim, pode lhe mostrar em que estão trabalhando e por quê deveria apoiá-los.

  Convide a autoridade por meio de um amigo influente. Se o convite vier de alguém conhecido e que goza de credibilidade, há mais probabilidades de que quem tome decisões se reúna com você e talvez valorize mais o objetivo da campanha de defesa e promoção da justiça.

cOMO se PreParar Para a reuniÃO de aPresentaçÃO

  Conheça a sua audiência. O primeiro passo é saber o máximo que puder sobre a pessoa ou pessoas com quem se reunirá. Apoia seu objetivo de defesa e promoção da justiça? O que sabe sobre o problema? Que temas lhe interessa? Quais são suas expectativas sobre a reunião? Trate de saber a que tipo de argumentos ela é sensível.

  Centre-se em sua mensagem. Planeje o que gostaria de dizer na reunião. Escolha o objetivo principal e o tenha sempre presente. Primeiro apresen-te o tema que motivou a reunião. Depois desenvolva dois ou três pontos sobre por que vale a pena tratá-lo. Você pode apresentar sugestões e infor-

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4mar o que gostaria de que se fizesse para apoiá-lo. Você pode usar quadros ou gráficos que sejam muito simples e claros.

cOMO cOnduZir a reuniÃO de aPresentaçÃO

  A cordialidade não é incompatível com a ousadia. Inicie sua reunião elogian-do a pessoa com poder de decisão pelo apoio que lhe oferece em relação a seu problema e por recebê-lo. Se mais de uma pessoa de seu grupo com-parecer à reunião, decida quem desenvolverá os pontos a serem tratados.

  Vá direto ao ponto. Refira-se primeiro aos pontos mais importantes. Você pode ser interrompido ou não ter tanto tempo quanto pensa. Inicie a reu-nião com uma ideia clara do que a pessoa com poder de decisão pode fazer para contribuir com o esforço que você vai começar, mas seja flexível. Talvez a pessoa que toma decisões sugira algum outro tipo de ação. Se souber que a audiência será hostil à sua posição, inicie a reunião destacan-do os aspectos comuns e de interesse mútuo.

  Escute. Dê à pessoa com poder de decisão um tempo para falar. Não domi-ne a discussão. É importante descobrir o que ela pensa de seu problema e o que deseja fazer. Se a reunião se desviar do assunto, interrompa de modo cordial e faça com que a discussão retorne ao objetivo estabelecido.

  Explicite os acordos. No final da reunião, deixe estabelecido o que tiver entendido que a pessoa com poder de decisão manifestou que faria. Em seguida, dê continuidade a esta reunião mediante uma carta de agradeci-mento dirigida a quem toma decisões. Nela, volte a estabelecer os acordos a que chegaram na reunião.

O acOMPanhaMentO dOs acOrdOs

  Cumprir com os acordos. Às vezes não cumprimos com o que acordamos e isso causa dano à nossa credibilidade.

  Carta reafirmando os convênios. É cordial escrever para a autoridade de-pois da reunião para agradecer-lhe pela hospitalidade e resumir os acor-dos feitos.

  Dar seguimento aos acordos. Se o político prometeu algo e não cumpriu, é conveniente recordá-lo sobre o compromisso assumido.

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as ferraMentas dO lObbY

As visitas

O lobby por meio de visitas ou contatos pessoais é o mais efetivo e o que tem maior impacto sobre as autoridades. Muitos deles estão muito ocupados e difi cilmente encontram tempo para ler os documentos ou papéis sobre determinada posição. Porém, com frequência acomodarão seu tempo para receber uma breve visita. É provável que lembrem disso muito mais do que de haver lido uma carta ou um documento nosso.

As cartas Uma carta bem escrita é uma maneira de infl uenciar um funcionário público.

Os documentos

Uma compilação de informação importante sobre o assunto de sua preocupação será muito útil para tentar convencer a autoridade. Com frequência, as autoridades estão preocupadas com diversos assuntos ao mesmo tempo e carecem de material de pesquisa e dos dados que você pode ter capacidade de lhes oferecer. Este esforço também mostra que você pode ter estudado seriamente o assunto e sabe do que está falando.

As ligações telefônicas

A comunicação telefônica é importante, especialmente para o intercâmbio de informações breves ou para fazer perguntas muito pontuais. É pertinente fazer este tipo de comunicação com autoridades com as quais já foram estabelecidas relações de respeito e acesso.

“Quando uma pessoa compreende que obedecer a leis injustas é contrário à sua dignidade como

homem, nenhuma tirania pode dominá-lo”.

Mahatma Gandhi

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 44.2 COMO USAR OS MEIOS DE COMUNICAçãO

Quando formos nos relacionar com os meios de comunicação, devemos ser realistas. Não é fácil estar diante de um jornalista de televisão, rádio ou im-prensa escrita e não sentir temor, pois, em geral, pensamos e imaginamos que milhares de pessoas estão nos escutando, nos vendo ou lerão o que dizemos.

Diante das perguntas que o repórter faz, muitos homens e mulheres tremem, esquecendo-se, assim, que, se conhece bem o assunto sobre o qual se falará, não há com o que se preocupar e, ao contrário, deveriam alegrar-se de ter a oportunidade de difundir seus conhecimentos e propostas.

A seguir, queremos oferecer-lhe ferramentas para que se relacione com a im-prensa facilmente e para que esse contato útil na campanha de defesa e pro-moção da justiça seja levado adiante. Neste manual, lhe apresentamos este recurso importantíssimo sobre o qual você aprenderá:

  A identificar aqueles que fazem parte da imprensa.

  A se relacionar com eles.

REgRAS BÁSICAS PARA APROxIMAR-SE DA IMPRENSA

INFORMAÇÃO BÁSICA. Se você quiser uma aproximação com ela, então, de-verá contar com:

  Uma lista de meios de comunicação. Faça uma lista dos espaços de no-tícias, de opinião, entrevistas etc., que podem difundir a sua informação.

  Detalhe bem o nome do meio de comunicação, do chefe de redação, do editor e dos jornalistas especializados por temas.

  Não se esqueça de seus números de telefone, endereço, celular, correio eletrônico etc.

  Esta lista lhe permitirá saber quem são os que trabalham com o tema que lhe interessa e não perder tempo com os que não o fazem.

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DESIGNE UMA PESSOA PARA SE RELACIONAR COM A IMPRENSA. Nem todas as pessoas têm o carisma ou a capacidade de se relacionar com a im-prensa. Recomendamos que você selecione a pessoa mais adequada de sua equipe para esta tarefa.

NÃO EXAGERE COM A IMPRENSA. Efetivamente, não exagere em suas de-monstrações de simpatia para com a imprensa. Lembre-se de que é uma troca de informações e de ajuda mútua entre o jornalista e você. Não dê a sensação de que você está buscando um favor.

Para ativistas cristÃOs que lutaM Pela justiçaPara ativistas cristÃOs que lutaM Pela justiça

Antes de mais nada,

jornalistas, comunicadores sociais ou

repórteres são pessoas normais como você, com as quais não é

difícil estabelecer uma relação. Pense neles como possíveis aliados de seu trabalho e que podem se converter

em canais ou instrumentos para chegar a seu público objetivo, aqueles aos quais você quer

levar a mensagem da campanha.campanha.

Você deveconsiderar que,

se o chamarem para uma entrevista ou você

desejar isso, é porque você tem muita informação e

conhecimento sobre os temas a tratar

com eles.

difícil estabelecer uma relação. Pense neles como possíveis aliados de seu trabalho e que podem se converter

considerar que, se o chamarem para

Não subestime

os jornalistas. Assim como qualquer pessoa, o

jornalista merece respeito e mais ainda se você o tem como potencial aliado da campanha, independente se é da oposição

ou da situação ou de uma confi ssão religiosa diferente da sua.

desejar isso, é porque você tem muita informação e

Seja claro,conciso e preciso

com os jornalistas, pois, em geral, são

pessoas muito ocupadas e sem tempo a perder.

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4 REgRAS BÁSICAS PARA FALAR COM JORNALISTAS

Uma vez que tenhamos nos aproximado da imprensa, já estamos prontos para falar com eles e buscar entrevistas, reportagens etc. em seus espaços. Considerando que sua organização ou representante sabe perfeitamente so-bre o tema e está pronto para qualquer tipo de pergunta; estão documenta-dos, informados e têm um arquivo do que os meios de comunicação publicam sobre o tema.

Aqui, algumas regras básicas:

sugira suas Perguntas, Mas nÃO as cOndições

O jornalista pode perguntar o que quiser e o entrevistado tem a liberdade de responder o que desejar ou lhe interessar. Jamais faça para um jornalista uma lista de perguntas que gostaria de responder.

desPerte interesse sObre O teMa

Se um tema em particular não estiver na agenda dos meios de comunicação, é nossa responsabilidade despertar o interesse do jornalista sobre o mesmo. É um erro pensar que a imprensa está interessada de antemão em nosso tema. Aconselhamos que você envie informação prévia ao meio de comunicação.

ressalte O que é nOvO na caMPanha

Em suas entrevistas, você sempre deve apresentar um fato transcendente, que gere notícia, que levante o tema de discussão de nossa campanha. Lembre-se de que quem domina o tema é você e não o jornalista, portanto, você deve dar a notícia.

aPresente seu POntO de vista cOM clareZa

Pode ser que o jornalista não informe sobre o tema exclusivamente a partir do seu ponto de vista. Portanto, é importante que você o apresente da forma mais clara possível.

fale de MOdO clarO e siMPles

Durante a entrevista, não gaste o tempo utilizando palavras difíceis de enten-der. Ponha-se no lugar daqueles que desconhecem o seu tema, para que você possa chegar e cativar a atenção. Esqueça-se do jargão religioso nas entrevis-tas; se for o caso, parafraseie a mensagem.

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nÃO divague

Seja claro e objetivo ao responder as perguntas.

aPrOxiMe-se dOs esPaçOs de MaiOr audiência

Tente chegar aos espaços de maior audiência, mas não menospreze o resto. Não se esqueça de que todos têm uma audiência cativa e especial.

seja POntual nas entrevistas

Aproveite o espaço que estão lhe dando, chegando a tempo nos compromis-sos, pois os jornalistas têm agendas muito carregadas.

iMageM

Sua imagem é importantíssima. Não seja descuidado com sua imagem, lim-peza, vestuário.

aPrenda cOM as entrevistas

Grave suas entrevistas. Analise-as para saber se cumpriram o objetivo de infor-mar claramente a mensagem que você queria transmitir.

arquive O trabalhO realiZadO

Faça um arquivo das entrevistas publicadas em jornais, difundidas pela televi-são e escutadas no rádio. Avalie como trataram a notícia. O arquivo informati-vo é importante para a sistematização do trabalho e das campanhas.

Mais algumas recomendações...

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4Que um meio de comunicação importante patrocine a campanha.

Trate de estabelecer contatos com os diretores dos meios de comunicação. Procure o patrocínio.

Invista em reuniões com jornalistas. Em algumas ocasiões, investir em um café da manhã de trabalho ou um café pela tarde com um jornalista pode ser revertido em uma boa reportagem, entrevista ou programa sobre nossa campanha.

Ofereça informação aos meios de comunicação.

Sempre trate de fornecer informações aos jornalistas sobre nossa campanha ou sobre o tema de que tratamos. Desta maneira, a imprensa não se sentirá usada quando nos convém.

Seja claro, conciso e preciso no que você quer transmitir.

Nunca se esqueça de que as entrevistas para a rádio não são iguais às para a televisão ou meio impresso. A televisão dá pouco tempo e deve ser muito explícita e concreta no que quer comunicar. Explique o essencial da campanha em poucas palavras.

Seja pontual. Não falte. Não há pior erro de nossa parte para com um meio de comunicação do que chegar atrasado ou faltar a um compromisso.

Equipamentos necessários. Recomendamos que cada instituição tenha no mínimo uma câmera fotográfica, gravador e pilhas disponíveis. Se existirem mais recursos, não esqueça de comprar scanner, filmadora e fitas de vídeo.

Sobre os entrevistados. Nem todos os diretores institucionais são os mais carismáticos para lidar com a imprensa ou falar com ela. Se for assim, melhor não fazê-lo e ceder o lugar para quem o fizer melhor.

INCIDINDO A PARTIR DAS REDES SOCIAIS

Tornou-se muito popular o uso das redes sociais (Facebook, Twitter, blogs, YouTube, podcasts, listas eletrônicas etc.) para apoiar a mobilização de pesso-as a determinadas causas sociais. Alguns começaram a chamar este processo de ciberativismo.

O ciberativismo refere-se ao conjunto de técnicas e tecnologias da comunica-ção, baseadas fundamentalmente na internet e telefonia móvel, com o fim de comunicar rapidamente as ações dos movimentos cidadãos locais ou globais a uma grande audiência.

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Além disso, as tecnologias de internet são utilizadas para a arrecadação de fundos, formação de comunidade, para fazer lobby e se organizar.

Organizações como Oxfam, Anistia International, Greenpeace usam este siste-ma para fazer pressão sobre os que detêm o poder para mudar situações de injustiça social.

Um exemplo disso é o Avaaz (www.avaaz.org). Eles mesmos se definem como uma comunidade global de mobilização online que integra a ação política im-pulsionada pela cidadania dentro dos processos de tomada de decisões glo-bais. Atualmente integra cerca de 40 milhões de membros.

4.3 COMO SENSIBILIZAR E MOBILIZAR

Uma boa ação de incidência deve incluir a educação e a sensibilização a um público amplo sobre os motivos que levam a se opor ou solicitar a mudança de situações de injustiça. Isto se chama constituir a demanda social para que se ponha fim àqueles atos que vulnerabilizam a dignidade das pessoas.

Porém, a educação deve ser realizada também no interior do próprio grupo que está trabalhando para mudar leis ou procedimentos. Não poucas vezes há um conhecimento pobre dos ativistas sobre as razões e objetivos finais do que se está realizando.

Há que se levar em conta que a aprendizagem é muito mais que dar conferên-cias ou sermões para a população. Trata-se de construir uma estratégia peda-gógica participativa.

De maneira prática, deve-se partir da experiência das próprias pessoas, procu-rando fazer com que cresçam em suas reflexões, análises da situação social e propostas de soluções etc.

Os processos de educação e sensibilização podem ser realizados mediante distintas formas e metodologias. Mencionaremos algumas: fóruns públicos, oficinas de sensibilização, feiras públicas em praças ou ruas estratégicas, car-tazes ou murais com frases impactantes, concursos artísticos de canto, contos, poesia ou pintura, programas de rádio, spots publicitários em rádio, televisão ou Internet, teatro de rua etc.

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4

moBIlIZANDo NoSSA GeNTe

Um elemento importante quando nos envolvemos em alguma campanha em prol da justiça é mobilizar as pessoas ou grupos para a ação concreta.

Não poucas vezes as práticas injustas são toleradas por um amplo setor da so-ciedade. Historicamente, o silêncio perante a injustiça foi algo quase permanen-te. Só quando um grupo de pessoas ou, até mesmo, uma só pessoa se atreve a quebrar o círculo vicioso do silêncio é que são geradas as mudanças sociais.

Tomemos o exemplo de Rosa Parks. Esta mulher nascida nos Estados Unidos, afrodescendente, foi quem no ano de 1955 se negou a ceder o assento a uma pessoa de raça branca e ir para a parte de trás do ônibus. Esta ação de Rosa era ilegal, segundo as leis segregacionistas daquela época no sul dos Estados Unidos, razão pela qual acabou na prisão.

Como resposta ao encarceramento de Rosa, Martin Luther King, o famoso pastor batista, conduziu um protesto nos ônibus públicos de Montgomery, o que fez com que fosse necessário que a autoridade do transporte público terminasse com a prática de segregação racial nos ônibus. Mas isto foi o início de mais protestos dos movimentos pelos direitos civis.

Às vezes basta que um grupo pequeno reaja diante de uma injustiça para que grupos de indecisos se somem à causa e inclusive opositores possam aceitar se envolver ao serem convencidos da causa justa.

Mobilizar pessoas requer paciência. Porém, é necessária para garantir as mu-danças sociais a longo prazo.

“Alguns dos que já começaram a romper o silêncio da noite descobriram que o chamado para falar

costuma ser uma vocação de agonia, mas é necessário falar. Temos que falar com toda a

humildade que demanda nossa visão limitada, mas devemos falar”.

Martin Luther King Jr. (Excerto do discurso Beyond Vietnam)

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Na tentativa de mobilizar, devemos ter estratégias diferenciadas para aqueles que:

  Já estão convencidos porque vivem o problema diretamente e refletiram sobre ele.

  Aqueles que, vivendo o problema, não sentem que devem fazer algo para solucioná-lo e inclusive são céticos de que seja possível uma solução.

  Aqueles grupos ou pessoas altamente conscientizadas sobre os problemas sociais e que necessitam apenas de se informar bem sobre a causa que defendemos.

  As pessoas-chave e influentes que se mantêm à margem do problema mas que eventualmente podem se unir à campanha (por exemplo, artistas e celebridades, autoridade religiosas).

Os métodos usados para mobilizar e causar impacto público são diversos. Há exemplos históricos, como as formas de protesto usadas por Gandhi e Martin Luther King Jr.

Toda forma de protesto é adequada, desde que não atente contra a vida e não seja violent, nem cause problemas a terceiras pessoas que não estão relacio-nadas à situação concreta que estamos enfrentando. Em cada caso, há que se alisar os métodos, à luz de nossas convicções cristãs.

O protesto e persuasão não-violentos são um tipo que inclui um grande nú-mero de métodos que são em geral atos simbólicos de oposição pacífica, ou de esforços de persuasãor. Alguns métodos usados em diferentes protestos através da história moderna foram:

  Cartas de protesto ou de apoio a determinada causa social.

Podem ser:

� Cartas de alguma organização social ou igrejas, de pessoas de tra-jetória reconhecida (escritores, intelectuais, religiosos etc.). Esta carta poderia ser difundida pelos meios de comunicação (imprensa, rádio e TV) e redes sociais.

� Cartas de indivíduos. Podem ser o mesmo tipo de carta que são envia-das a uma ou várias autoridades que detêm o poder de decisão sobre o problema. Também poderia ser que uma mesma carta fosse assinada por muitas pessoas e esta fosse enviada a uma autoridade sobre a qual queremos influenciar.

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4   Manifestações públicas:

� Vigílias de oração - geralmente um grupo pertencente a alguma co-munidade religiosa se reúne perto do edifício da instituição pública ou privada onde trabalham as pessoas que tomam decisões para resolver o problema. Na vigília, por exemplo, pode-se ler textos bíblicos sobre justiça social, orar, ouvir testemunhos de pessoas afetadas, realizar atos simbólicos etc.

� Reuniões em lugares estratégicos para difundir a mensagem, realizar gestos simbólicos etc. Por exemplo, em Lima, Peru, durante o último ano da ditadura de Fujimori, grupos pequenos de pessoas se reuniam em algumas praças, e em uma bacia com água, faziam o gesto de lavar a bandeira peruana.

Isto foi repetido em várias cidades do Peru. Com este protesto, tentava-se dizer que a corrupção e a ditadura tinham manchado a pátria e que era necessário que os cidadãos a limpassem desses males.

� Marchas pacífi cas. Aparentemente, esta é uma das medidas de protes-to mais populares. Trata-se de mobilizar as pessoas e organizações que apoiam determinada causa, marchando geralmente até o Palácio do Governo, algum ministério, a Corte de Justiça, o Congresso etc.

As marchas causam um grande impacto midiático. Porém, às vezes, quando não são bem organizadas, pessoas que querem destruir a re-putação dos manifestantes podem se infi ltrar. Por isso, há que se contar com pessoas que cuidem da ordem, identifi quem rapidamente aque-les que querem provocar distúrbios ou violência etc.

“Quando percebermos que nossos interesses particulares foram vulnerabilizados, ou que o

bem nacional foi preterido, devemos protestar publicamente com energia inquebrantável,

e, assim, conseguiremos o reconhecimento de nosso direito, a preeminência do interesse da

Pátria sobre o da burocracia”.María Alvarado Rivera

(Jornalista, educadora, lutadora social peruana)

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  Outras ações simbólicas Em meio a um jogo de futebol, um show, uma atividade social ou nas ruas, ao exibir uma faixa, lema, cânticos etc. Uma ação simbólica, por exemplo, nas manifestações estudantis no Chile no ano de 2011, foi denominada corrida das 1.800 horas.

  Cultos de Oração com a participação das igrejas e movimentos religiosos comprometidos, a partir de sua fé, na luta contra a injustiça. No caso da campanha contra a contaminação em La Oroya, Peru, a mobilização das igrejas foi muito importante. As liturgias ecumênicas em frente ao Minis-tério de Minas e Energia geraram um bom impacto nos meios de comuni-cação, e contribuíram para sensibilizar muitos cidadãos e cidadãs contrá-rios, que achavam que estes assuntos eram iniciativas apenas dos ativistas políticos ou sociais, a se envolverem em uma campanha de incidência.

  Boicotes e não cooperação

Este método busca pressionar aqueles que estão causando uma injustiça. Trata-se de organizar a não cooperação, de tal maneira que o maior nú-mero de pessoas possível se negue a colaborar com as estruturas, insti-tuições e regimes que criam e mantêm uma situação de injustiça.

Por exemplo, o famoso boicote contra o transporte público em Montgo-mery (Estados Unidos) no ano de 1955. Os afrodescendentes que mora-vam nessa cidade deixaram de usar o transporte público por quase um ano, obrigando a Corte Suprema desse país a declarar inconstitucionais as leis que permitiam a segregação racial nos ônibus.

Outro exemplo são as distintas formas de boicotes promovidas por Gan-dhi para conseguir a independência da Índia do Império Britânico. Em 12 de marco de 1930, Mahatma Gandhi empreendeu a manifestação co-nhecida como Marcha do Sal. Depois de um percurso a pé de 300 km, Gandhi chegou ao mar, recolhe sal e alenta seus compatriotas a violar o monopólio do governo britânico sobre a distribuição do sal.

Na época colonial, a produção de sal na índia constituía um monopólio regido pelo governo da Grã Bretanha, que, além disso, estabelecia um imposto adicional sobre o sal consumido. Este gesto pequeno, mas alta-mente simbólico, abalou o Império.

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4As paralisações do comércio, do transporte, dos servidores públicos em determinadas cidades são outra forma de oposição e rejeição das injusti-ças contra um determinado povo. O perigo está em quando se obriga por meio da violência que todos os cidadãos acatem esta medida, destruin-do, às vezes, edifícios e saqueando comércios. Como ocorre em grandes marchas, costuma haver pessoas ou grupos que querem desprestigiar o protesto e se infiltram no evento. Deve-se organizar bem este tipo de ma-nifestação.

4.4 TRABALhANDO EM REDE

A incidência pública não é um esforço para os “cavaleiros solitários”, porque não é possível fazer uma incidência efetiva a favor da justiça se não somarmos esforços e capacidades ou compartilharmos a tarefa.

Nós que fazemos incidência pública formamos constantemente redes que vinculam pessoas e, algumas vezes, coalizões entre organizações como uma estratégia eficaz para alcançar nossos objetivos.

Ocorre com frequência que os resultados que não podemos obter por nossa conta podem ser alcançados se compartilharmos o trabalho com outras ins-tituições.

No entanto, formar uma coalizão e, mais ainda, conseguir que dure e se for-taleça progressivamente, não é algo simples. Necessitamos investir muito tempo e dedicação, pois implica construir relações de confiança com outras pessoas e instituições.

O QUE É UMA REDE OU COALIZÃO DE DEFESA E PROMOÇÃO DA JUSTIÇA?

É um grupo de organizações que trabalham juntas de maneira coordenada, rumo a uma meta comum: incidir nas autoridades e cidadãos para obter mu-danças significativas em uma comunidade. A formação de redes ou coalizões tende a fortalecer outros esforços de coordenação entre instituições e orga-nizações.

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AS vANTAgENS DE SE TRABALhAR EM REDES OU COALIZÕES

APROVEITAMOS RECURSOS Em algumas ocasiões, necessitamos de muitas pes-soas e recursos para trabalhar uma campanha de incidência. As coalizões nos permitem vincular essas pessoas e recursos entre si para alcançar vitórias im-portantes.

AUMENTAMOS NOSSOS RECURSOS Se a questão da coalizão é de grande impor-tância para nossa organização, é possível que nos beneficiemos diretamente obtendo pessoal e recursos econômicos adicionais para a campanha.

SÃO DESENVOLVIDOS NOVOS LÍDERES Pode-se solicitar a líderes experientes que assumam papéis de liderança nas coalizões, abrindo, assim, espaço para no-vos líderes em cada instituição.

AMPLIA NOSSAS PERSPECTIVAS Uma coalizão pode oferecer a oportunidade para que nosso grupo trate de temas de interesse local ou nacional. Isso pode dar ao nosso trabalho um sentido de maior transcendência que, inclusive, me-lhora a motivação pessoal da equipe envolvida.

OFERECE-NOS SEGURANÇA As possibilidades de obter sucesso aumentam para o trabalho de defesa e de promoção da justiça.

GANHAMOS NO IMPACTO Aumenta a credibilidade e a influência da campanha de defesa e proteção da justiça, assim como de cada membro da rede ou coalizão.

CONSEGUIMOS MAIS APOIO Obtém-se impacto maior na opinião pública que o que conseguiríamos isoladamente, o qual nos oferece uma base de poder mais firme e duradoura.

COMO CONSEgUIR QUE UMA REDE OU COALIZÃO FUNCIONE BEM

Desde a primeira reunião da rede ou coalizão se deverá estabelecer claramente:

  Os objetivos da coalizão ou da rede.

  Suas metas concretas.

  O aporte de cada instituição.

  Os benefícios.

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ESTRATÉgIAS E MÉTODOS 4A comunidade ou as instituições devem definir se estarão ou não na rede ou na coalizão com base nestes pontos claramente estabelecidos.

Alguns conselhos para fortalecer a rede ou coalizão e para que funcione fluida e eficazmente:

QUEM É QUEM Conheçam bem a todos os membros da coalizão, informem-se sobre suas posições e opiniões. Estas poderiam ser diferentes das suas.

COMUNICAÇÃO CONSTANTE Mantenham-se em contato pessoal com os mem-bros-chave da coalizão ou rede e certifique-se de que todos os membros se-jam informados regularmente sobre o desenvolvimento das ações tomadas ou outros assuntos de interesse. A maioria das organizações se une para ter acesso à informação periodicamente.

OS PÉS SOBRE A TERRA A coalizão ou rede que está executando uma campanha de defesa e promoção da justiça deverá ter consenso entre seus membros so-bre as metas a curto e longo prazo. É necessário estabelecer um objetivo co-mum que a coalizão possa alcançar em um tempo razoável. O sucesso inicial ajudará a gerar confiança e credibilidade.

Por outro lado, é preferível começar por uma coalizão pequena e crescer rapi-damente a começar com uma coalizão grande e morrer por inércia.

TUDO O QUE É DEMAIS ENJOA Programem as reuniões de trabalho considerando que devem ser breves e em datas estabelecidas. As reuniões longas desani-mam os participantes; as reuniões muito frequentes podem causar “fadiga de reuniões”. Estabeleçam um tempo limite para cada reunião e definam uma agenda precisa. Façam circular sempre uma folha para registrar a participação.

DISTRIBUAM O TRABALHO Formem grupos de trabalho para que se encarre-guem de tarefas específicas. Porém, cuidado! Evitem que o número de grupos cresça descontroladamente.

O DIÁLOGO DEVE SER FRANCO Os problemas difíceis devem ser discutidos aber-tamente nas reuniões da rede ou da coalizão. Do contrário, estes provocarão intrigas e mal-estar que vão colocar a coalizão em risco de divisão.

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AVALIANDO E CELEBRANDO

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A avaliação da campanha de incidência pública é um passo importante para completar o processo. A avaliação tem a ver com ações de permanente moni-toramento e refl exão sobre o planejamento e a execução das distintas estraté-gias e atividades específi cas. Isto tanto tem a ver com a avaliação do processo como com a avaliação do impacto das iniciativas ou campanhas de incidência.

A avaliação da campanha nos permite aprender dos acertos e fracassos. Uma boa avaliação nos permite fortalecer as capacidades das organizações, mo-vimentos, coalizões ou grupos comprometidos com iniciativas de incidência nas políticas públicas.

Consideramos três aspectos que necessitamos levar em conta para a avaliação:

  OBJETIVOS ALCANÇADOS Até que ponto se alcançaram os objetivos esta-belecidos?

  INFLUÊNCIAS CHAVES O que mais contribuiu para o sucesso ou fracasso da sua iniciativa?

  MUDANÇAS O que precisa ser modifi cado ou realizado de forma diferente na próxima campanha?

Apresentamos aqui, em forma de perguntas, os eixos que deveríamos consi-derar no momento da avaliação.

“O bem é maioria, mas não se nota porque é silencioso. Uma bomba faz muito mais

ruído que uma carícia, mas, por cada bomba que destrói, existem milhões

de carícias que constroem a vida.”

Facundo Cabral (cantor, escritor e fi lósofo argentino)\

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AvALIANDO E CELEBRANDO 5

ÁMBITOS Preguntas posibles

Conquista de objetivos

Os objetivos originais foram mantidos ou foi preciso fazer mudanças durante a campanha? Por quê?

Quais foram os principais obstáculos ao longo do processo de incidência?

Que medidas foram tomadas para superar esses obstáculos?

Influências-chave

As audiências foram selecionadas adequadamente?Foram apresentadas propostas formais diante das instâncias de poder de decisão?A incidência foi feita a partir de uma coalizão? Quais foram os benefícios ou inconvenientes de se formar uma coalizão?

Mudanças

Foram criadas novas políticas depois da campanha?

As políticas prejudiciais foram modificadas?

Novas políticas foram implementadas?

Quais foram os fatores que favoreceram/dificultaram a mudança destas políticas?

Que lições podem ser extraídas para futuras iniciativas de incidência?

Os interlocutores mudaram seu conhecimento, atitudes ou opiniões sobre o tema ou problema da incidência?

O entorno político foi modificado desde que se iniciou a incidência?

Foi produzida a mudança de políticas pela qual se lutou por meio da campanha de incidência?

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Apresentamos aqui alguns indicadores que podem nos ajudar a avaliar o su-cesso ou fracasso de nossas iniciativas de incidência política.

Razões para o sucesso Razões para o fracasso

� Bons contatos com aqueles que formulam as políticas públicas.

� As políticas construídas sobre uma base de boas relações prévias.

� Informação confi ável, precisa e detalhada. � Bom uso de contatos e redes existentes e de informação disponível.

� Objetivos realistas e alcançáveis em um marco de tempo dado.

� A comunidade local foi mobilizada e partici-pou na pesquisa, gerou propostas e represen-tou a si mesma perante aqueles que tomam as decisões.

� Uma marcha demonstrou o alto nível de preocupação das pessoas locais.

� Linhas claras de responsabilidade.

� Aqueles que formulam políticas não escuta-ram ou não se teve acesso a eles.

� Não se contou com informação sufi ciente. � Não havia pessoas sufi cientes ou tempo su-fi ciente, e, portanto, não se implementou a estratégia como se tinha planejado.

� Muito poucos aliados. � O processo foi mais lento do que o esperado. � As pessoas não realizaram as atividades com as quais tinham se comprometido.

� Não se contava com conhecimento sufi ciente em nível técnico ou legal

Fonte: Excerto do Manual de Defesa de Direitos de Tearfund.

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AvALIANDO E CELEBRANDO 5

PONTOS IMPORTANTES A SEREM CONSIDERADOS:

  Corresponde a todo o grupo da iniciativa definir coletivamente mecanis-mos ágeis de avaliação, incluindo sua periodicidade, segundo as caracte-rísticas do grupo e o ritmo de sua iniciativa.

  Nunca devemos nos esquecer da necessidade de avaliar cada atividade imediatamente depois de terminada.

  Deve se identificar as razões internas ou externas para o cumprimento ou não cumprimento dos objetivos ou resultados esperados. Não adianta muito saber o que passou se não se sabe o porquê.

  É importante reconhecer e celebrar as conquistas como um elemento im-portante na motivação do grupo. Avaliar não significa destacar apenas o negativo. Também serve para dar visibilidade aos avanços.

  Ao se iniciar o planejamento, o grupo deve ter clareza sobre os indicadores a respeito dos impactos buscados. Os indicadores devem ser bem especí-ficos e mensuráveis.

  É importante aplicar indicadores tanto qualitativos como quantitativos quando as iniciativas de incidência política são avaliadas.

  Os indicadores devem considerar as seguintes perguntas: O que nos in-dicará que tivemos sucesso em cada objetivo? Jamais poderemos medir o sucesso de uma campanha pelo número de pessoas que participaram, mas sim pelos resultados obtidos. Há indicadores a curto, médio e longo prazo.

Fonte: Guía de Incidencia Política, RED PERU, Lima, 2006.

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ANEXOS

A

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ANEXO 1

EXERCíCIO 1CONSTRUINDO jUNTOS UMA DEFINIçãO DE INCIDÊNCIA PÚBLICA

Sugere-se trabalhar dentro de cada organização uma definição do que é a incidência pública para ela. Pode-se usar o material a seguir para trabalhar em pequenos grupos.

INTRODUÇÃO

� Como vimos na primeira seção, há diferenças marcantes entre a Inci-dência Pública e outras estratégias afins.

� Porém, devemos agora melhorar sua definição, de tal maneira que to-dos estejamos de acordo com o que fazemos quando falamos da Inci-dência Pública.

DINÂMICA

� O facilitador pedirá aleatoriamente a dois ou três participantes que ex-pliquem o seguinte ditado: QUEM NÃO CHORA NÃO MAMA. Escreverá no quadro as principais ideias recolhidas da explicação dos participantes.

� Com o resultado do exercício anterior, pedirá a cada pessoa do grupo que diga uma palavra que lhe venha à mente quando pensa em Defesa e Promoção da Justiça. Escreverá as palavras no flipchart. Se alguma se repetir, colocará uma marca (/) ao lado da palavra repetida.

� Então, compartilhará as definições de algumas organizações ou grupos sobre o que é a Incidência Pública. Podem ler todas ou apenas algumas. Aqui há que se destacar que são usados termos como advocacy, inci-dência política, defesa de direitos, lobby, para referir-se à mesma coisa.

Uma vez lidas e revisadas estas definições, os participantes devem olhar para o flipchart onde foram escritas as palavras do exercício de “chuva de ideias” e mencionar quais delas estão nas definições. Estas palavras devem ser marca-das com um círculo no flipchart.

O grupo deve redigir uma definição do que é Incidência Pública, usando as palavras marcadas. Podem ser divididos em grupos pequenos ou fazê-lo entre

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ANExOS A

todos; ter um tempo para “juntar” todas em uma só definição. No final, deve-se escrever a definição em um papel e colocá-lo em algum lugar visível.

EXERCíCIO 2PAPEL DOS DEFENSORES DA jUSTIçA

INTRODUÇÃO

� Observemos a definição que redigimos em grupo.

� Uma coisa importante é compreender com quem se faz a incidência pública. Uma definição da Tearfund enfatizava que se deve fazer com e em nome dos pobres. PAZ Y ESPERANZA esclarece que o ideal é que sejam os próprios pobres que estejam à frente da Defesa e Promoção da Justiça quando há um problema de injustiça.

� Porém, isto nem sempre é possível, já que, em algumas ocasiões, os pobres estão submetidos a uma forca que faz com que seja muito difícil que o façam por si mesmos (por exemplo, a situação de detenção, a comunidade rural com poucas possibilidades de fazer com que sua voz seja ouvida etc.).

� Assim, os defensores podem desempenhar um papel diferente depen-dendo da situação e das pessoas ou grupos que são defendidos. Enten-damos juntos um pouco mais sobre isto.

DINÂMICA

� O facilitador deve dividir as pessoas em grupos de três a cinco parti-cipantes. Em seguida, deve pedir a elas que pensem num problema concreto de injustiça social que queiram enfrentar e o descrevam (por exemplo: falta de água potável da comunidade “x”, crianças em situação de rua na cidade “y” que estão sendo maltratadas pela polícia, portadores de HIV/AIDS que não recebem atendimento nos hospitais etc.). Depois, todos devem responder à seguinte pergunta: Suponha-mos que você decidiu comprometer-se com a solução desta causa.

Qual seria seu papel ou o de sua organização no planejamento e exe-cução de uma estratégia da Incidência Pública?

Uma vez terminado, o facilitador deve pedir ao grupo que compartilhe um resumo do que foi conversado. Depois, deve anotar as ideias princi-

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pais em um fl ipchart. E, em seguida, o facilitador deve fazer um resumo do que foi dito pelos participantes.

� Compartilhe em seguida o quadro 2, repassando juntos. Depois disso, o facilitador deve perguntar aleatoriamente a vários participantes: Em qual dos modelos você se sentiria melhor e por quê?

RESUMO

Ao nos perguntarmos sobre quem são chamados a fazer Incidência Pública, devemos saber que não há uma resposta única. Dependerá muito da situação que enfrentemos e das capacidades e habilidades das pessoas afetadas por uma injustiça.

O ideal será sempre que sejam os próprios pobres que assumam o papel de defensores, pois busca-se o empoderamento deles e a expansão de suas capa-cidades, de tal maneira que aprendam a defender-se por si mesmos.

Porém, há que se reconhecer que isso nem sempre será possível. Por ques-tões práticas, o risco que os afetados possuem, a urgência do problema que nos impossibilita de entrar num processo de aprendizagem com os afetados, tudo isso pode nos levar a decidir por agir em representação das vítimas da injustiça.

“Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor

de um povo oprimido e humilhado”.Monsenhor Arnulfo Romero

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ANExOS A

CASO DE INCIDÊNCIA PÚBLICA

CAMPANhA PELO DIREITO à ALIMENTAÇÃO NO BRASILDaniela Sanches Frozi

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, porém milhões de pessoas que vivem nas regiões Norte e Nordeste do Brasil sofrem escassez de alimentos.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) possui uma função consultiva e de assessoria ao Presidente na definição de orienta-ções para que o país garanta o direito à alimentação. No CONSEA, os membros da sociedade civil e o governo trabalham juntos nas políticas públicas para proteger as pessoas mais vulneráveis.

Em 2009, o CONSEA iniciou uma campanha nacional em prol das pessoas que passam fome no Brasil. A campanha previa a inclusão do direito humano à ali-mentação adequada na Constituição Brasileira, através de uma Emenda Cons-titucional. Se a campanha fosse bem-sucedida, a população brasileira contaria com uma proteção maior do governo durante épocas de fome. Diferentes se-tores da sociedade apoiaram a campanha, sendo signatários da mesma, in-cluindo a Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) e a Rede FALE de defesa de direitos.

Em dezembro de 2009, a Câmara dos Deputados entrou em recesso sem ter aprovado a Emenda Constitucional, e a campanha nacional do CONSEA es-friou no cenário político. Em resposta a isto, a Tearfund e os seus parceiros do Brasil decidiram pressionar a Câmara dos Deputados para que agisse. A opor-tunidade de união em torno de uma temática comum facilitou a participação de muitas organizações, redes e igrejas envolvidas com a RENAS e a Rede FALE na campanha nacional do CONSEA.

ELES USARAM DOIS ARgUMENTOS:

� Quase 14 milhões de brasileiros vivem em domicílios com um alto grau de insegurança alimentar, de acordo com o dado revelado pela primei-ra pesquisa sobre Segurança Alimentar feita em 2004 pelo IBGE, um respeitado instituto nacional de estatística.

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� A Constituição Federal Brasileira (artigo 6°) garante o direito à edu-cação, à saúde, ao trabalho, à moradia e outras coisas. Mas e o direito à alimentação?

Liderada pela RENAS e pela Rede FALE, a campanha pelo direito humano à alimentação adequada começou no dia 22 de dezembro de 2009 e continuou até a Emenda Constitucional entrar na pauta de votação da Câmara dos De-putados, no dia 4 de fevereiro de 2010. Usando sites da internet e e-mails, os participantes da campanha divulgaram informações nas suas redes em âmbi-to regional e local, com instruções claras sobre o que as pessoas deviam fazer para apoiar a campanha. Eles pediam que as pessoas:

  escrevessem para os membros do congresso brasileiro;

  levantassem questões de segurança alimentar junto aos políticos locais orassem.

Isto resultou na aprovação da Emenda Constitucional, a qual imediatamente garantiu o direito humano à alimentação adequada para todos os cidadãos brasileiros - uma vitória muito importante.

O representante da Frente Parlamentar de Segurança Alimentar e Nutricional, o deputado Nazareno Fonteles, disse à representante da RENAS no CONSEA que a pressão exercida pelos evangélicos foi muito importante porque:

  foi recebido um grande número de mensagens,

  as mensagens chegavam diariamente, e

  a pressão mostrou que os evangélicos se preocupam com o direito da po-pulação brasileira à alimentação adequada.

O sucesso da campanha mostrou a força que os cristãos podem exercer no cenário político. O desafio é continuar promovendo outras campanhas de de-fesa de direitos para termos uma sociedade livre da pobreza extrema.

Daniela Sanches Frozi é membro do Conselho Nacional de Segurança Alimen-tar e Nutricional (representante de RENAS) e 1a vice-presidente da Aliança Bí-blica Universitária do Brasil.

Fonte: http://tilz.tearfund.org/pt-pt/resources/publications/footsteps/footsteps_81-90/footsteps_83/campaigning _for_the_right_to_food_in_brazil/#sthash.abNVDXb4.dpuf

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ANExOS A

ANEXO 2

PROBLEMAS SOCIAIS CONCRETOS DESTACADOS PELOS PROFETAS

Na Bíblia, os profetas denunciam diversos problemas sociais. Cada um enfa-tiza o que considera pior na sua sociedade Sugerimos que, em grupos pe-quenos, revisem os textos bíblicos do quadro a seguir, a partir das seguintes perguntas:

  Como os profetas descrevem os problemas sociais de seu tempo?   As causas da injustiça são mencionadas nos textos?   Dê exemplos. Quais são as soluções sugeridas por eles?

1. A administração da justiça Amós 5.10-12 Isaías 1.10-17; 5.23; 10.1

6. Tributos e impostos Amós 2.8; 5.11

2. O comércio injusto Amós 8.4-6 Oseias 12.8 Miqueias 6.9-11 Sofonias 1.10-11 Jeremias 5.27

7. Garantias e empréstimos de usura Amós 2.8 Isaías 58.3 Ezequiel 18.16

3. A escravidão Amós 1.6-9; 2.6; 8.6 Jeremias 34.8-22 Isaías 10.1-2

8. Roubo (em sentido estrito) Oseias 4.2 Jeremias 7.9 Zacarias 5.3-4 Miqueias 2.2

4. O latifúndio Isaías 5.8-10 Miqueias 2.1-4 Zacarias 5.1-4

9. Assassinatos Oseias 4.2; 6.9 Jeremias 7.9; 2.34

5. O salário não pago ou injusto Jeremias 22.13-19 Malaquias 3.5

10. Luxo e riqueza Amós 3.10-15; 4.1; 5.11; 6.4-7 Isaías 3.18-21; 5.8-13 Jeremias 5.25-28; 6.13; 17.11; 22.17 Ezequiel 22.12; 33.31

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ANEXO 3

A seguir, são apresentadas algumas ferramentas bem práticas para trabalhar com os meios de comunicação. Revise-as em grupo e comente o que pode ser factível de ser usado por sua organização.

FERRAMENTAS PARA TRABALhAR COM A IMPRENSA

a cOletiva de iMPrensa

As coletivas de imprensa sempre são para informar algo importante e que gera notícia. Prepare-as com esse fi m. No convite, não se esqueça de colocar:

� Motivo da Coletiva

� Nome dos expositores

� Cargos

� Dia

� Hora

� Lugar

Ao preparar a Coletiva, não nos descuidemos do seguinte:

  Entre os que vão falar, sempre deve haver alguém que atraia os meios de comunicação, seja por seu cargo, domínio do tema, posição política etc.

  Nem todos os que estão sentados na mesa têm a obrigação de falar. É me-lhor que uma ou duas pessoas falem e não cinco, pois, em algumas ocasi-ões, os jornalistas não têm tempo para fi car em toda a coletiva.

  Escolha horários apropriados e convenientes. Procure saber se no mesmo horário há outro ato importante que diminua a participação dos jornalistas na sua coletiva. Nunca a faça na hora dos jornais televisivos.

  Prepare material ou uma nota de imprensa na qual se explique claramen-te a mensagem dita na coletiva. Não se esqueça de que o primeiro pará-grafo da informação deve responder às perguntas: O QUÊ, QUEM, COMO, QUANDO, ONDE, POR QUÊ. Você não faz ideia de como essas informações ajudam os jornalistas.

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ANExOS A

  É importantíssima a localização da mesa da coletiva de imprensa. Pense nos fotógrafos, cadeias de televisão e não só nos gravadores. Jamais situe a mesa diante de uma janela, pois isso prejudica a imagem do entrevistado nos vídeos e nas fotografi as.

  Cuide para que nas fotografi as ou vídeos saia o símbolo ou logo da sua instituição.

  Receba cada jornalista que chegar e faça com que ele note que sua presen-ça é importante. Anote os nomes dos meios de comunicação e jornalistas que participaram da coletiva. Se forem pela primeira vez, peça a eles seu número de telefone, endereço, correio eletrônico etc.

  Faça um arquivo/clipping com o que for publicado sobre sua coletiva nos meios de comunicação. Assim, saberá como enfocaram sua notícia.

  Muitos convites para coletivas de imprensa são perdidos nas salas de re-dação por não serem dirigidos a alguém em especial. Busque confi rmar a participação dos jornalistas, insista, telefone quantas vezes for necessário.

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O AvISO DE IMPRENSA

Consideramos que o aviso de imprensa é o meio mais concreto, preferido dos meios de comunicação, para receber a comunicação de algo de pessoas ou instituições interessadas.

Aqui apresentamos alguns conselhos para escrevê-las:

  Utilize papel timbrado de sua instituição, grupo ou comunidade.

  Na parte superior do papel, escreva: AVISO DE IMPRENSA. Além disso, co-loque a data em que o aviso for escrito.

  Escreva o aviso de imprensa como se fosse feita à mão. Ou seja, com pará-grafos e orações curtas.

  É preferível que seja escrita em uma folha A4.

  O mais importante em um aviso de imprensa é que no primeiro parágrafo se inclua o que se quer informar. Ou seja, lendo esse parágrafo, o jornalista deve saber de que se trata todo o resto.

  Certifique-se de que o primeiro parágrafo responde às perguntas: O quê? Quem? Quando? Por quê? Como? Onde?

  Inclua sempre algumas declarações de alguém de sua organização, comu-nidade ou grupo sobre o que você quer informar ou o evento a ser reali-zado.

  Certifique-se de que os membros de sua organização, comunidade ou gru-po estão satisfeitos com as declarações que sairão no aviso de imprensa antes que seja enviado.

  Envie um aviso de imprensa via correio eletrônico ou endereço do meio de comunicação uns dias antes do evento, a fim de que sua agenda seja programada. Entretanto, um dia antes ou no próprio dia, envie-a de novo.

  Telefone para o meio de comunicação e certifique-se de que tenham re-cebido o aviso de imprensa e que ele vai ser publicado ou que estarão presentes na atividade.

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ANExOS A

O contato telefônico com os meios de comunicação depois de enviar o aviso de imprensa é vital. Não somente porque seu aviso é mais um entre centenas que chegam a uma sala de redação, mas também porque você deve fazer con-tato com os jornalistas e construir relações com eles.

exeMPlO de avisO de iMPrensaexeMPlO de avisO de iMPrensaexeMPlO de avisO de iMPrensa

AV I S O D E I M P R E N S A

Moradores exigem que delitos de abuso sexual e violência familiar não fi quem impunes

Durante uma campanha denominada “Mulheres livres de violência”, 2.836 cidadãos desta cidade assinaram uma petição exigindo da polícia e das au-toridades judiciais que os casos de abuso sexual e violência intrafamiliar não fi quem impunes.

A campanha durou três dias e foi promovida pelo Fórum Eu Quero Paz. Ri-cardo Souza, coordenador do Fórum, afi rmou que “2.836 assinaturas com-prometem os organismos da sociedade civil a serem vigilantes de que os casos de abuso sexual e violência familiar não fi quem impunes”.

De acordo com estatísticas, a cada cinco dias são registrados em Peixoto 50 casos de estupro de mulheres, a maioria dos quais fi cam impunes pelo pouco interesse, falta de recursos e desatenção das autoridades policiais, do Ministério Público e do judiciário.

No fi nal do aviso de imprensa, nunca se esqueça de pôr seu nome e dados para contato. Se tiver informação adicional sobre o tema que possa interessar ao meio de comunicação, faca alusão à mesma no fi nal do aviso.

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REFERÊNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

Mary O’Connell, Gideon Burrows. (2007). “Libro de consulta sobre incidencia política”. Bilaterado: UK.

Gordon, Graham. (2002). “Manual de Defensoria: Acciones prácticas em defen-soría”, Tearfund: UK.

Mckinley, Andrés. (2002). “Manual básico para la incidencia política”. WOLA: El Salvador.

Sharma, Ritu R. “An Introduction to Advocacy: Training guide”. SARA Project – Advocacy. AED: Washington.

Campbell, Eileem (2012). “The advocates handbook: A blueprint for building your advocacy campaign”, IJM: Washington.

Haugen, Gary (2002) Buenas noticias acerca de la injusticia”, Ediciones Kairos. Argentina.

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Esta época de grandes mudanças no Brasil e na América Latina trouxe consigo o surgimento de atores e lideranças emergentes na sociedade

civil. Um dos atores emergentes é o setor vinculado às igrejas, ou seja, suas instituições e lideranças, que cada vez mais estão sendo

convocadas a participar em esforços de incidência nas políticas públicas, como instâncias de acordos entre pessoas ou grupos

de identidades variadas, comissões da verdade, iniciativas contra a corrupção, resistências pacífi cas a favor da democracia,

entre outros espaços de articulação e pressão da sociedade.

Neste sentido, este Manual de Incidência Pública pretende ser uma ferramenta útil para repensar as estratégias pastorais e as ações

cidadãs que promovem a incidência a fi m de resolver os problemas sociais em nível estrutural. É, portanto, uma ferramenta para

acompanhar as ações concretas de incidência pública que buscam gerar mudanças em políticas públicas que afi rmem a justiça, o

respeito aos direitos humanos e todos os valores que sustentam a cultura democrática.

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