Manual Da Bolsa

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Manual da bolsa António Rodrigues

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Manual da bolsa

António Rodrigues

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Índice

1 INTRODUÇÃO 5

1.1 ESTE LIVRO É PARA SI? 51.2 COMO ESTÁ ESTE LIVRO ORGANIZADO? 51.3 A BUSCA DA LIBERDADE FINANCEIRA 6

2 PARTE I: INVESTIR NA BOLSA 7

2.1 COMO FUNCIONA A BOLSA? 72.2 É ARRISCADO INVESTIR NA BOLSA? 82.3 QUE TIPO DE FORMAÇÃO É MAIS ACONSELHÁVEL? 82.4 QUANTO TEMPO DEMORA ATÉ SE CONSEGUIREM RESULTADOS ACEITÁVEIS? 92.5 A BOLSA É EQUIPARÁVEL A UM CASINO OU JOGO? 92.6 É DIFÍCIL GANHAR DINHEIRO NA BOLSA? 102.7 COMO POSSO ACELERAR OS GANHOS? 112.8 ALAVANCAGEM: FAZER MAIS COM MENOS 142.9 É BOA IDEIA CONTRAIR UM EMPRÉSTIMO PARA INVESTIR NA BOLSA? 142.10 DEVO APROVEITAR TODAS AS BOAS OPORTUNIDADES QUE SURGEM? 282.11 É POSSÍVEL PERDER TODO O DINHEIRO? 282.12 COMO POSSO COMEÇAR? 292.13 A OSCILAÇÃO DAS COTAÇÕES É AO ACASO OU É PREVISÍVEL? 302.14 QUANTO POSSO GANHAR NA BOLSA? 302.15 QUE ACÇÕES POSSO COMPRAR? 312.16 E SE EU TIVER ACÇÕES E NINGUÉM AS QUISER COMPRAR? 312.17 COMO SE DEFINEM OS PREÇOS DE COMPRA OU VENDA? 312.18 É DIFÍCIL COMEÇAR? 322.19 COMO TRANSMITIR ORDENS DE COMPRA OU VENDA? 322.20 QUANTO PRECISO PARA COMEÇAR A INVESTIR? 322.21 E AS COMISSÕES DE CORRETAGEM? 332.22 QUE CUIDADOS DEVO TER COM A MINHA CORRETORA? 332.23 DE QUANTAS EMPRESAS DEVO COMPRAR ACÇÕES? 332.24 COMO POSSO INVESTIR COM MENOS RISCO? 342.25 POSSO COMPRAR ACÇÕES ATRAVÉS DO MEU BANCO? 352.26 E OS DIVIDENDOS? 352.27 POSSO TRANSMITIR ORDENS QUANDO O MERCADO ESTÁ FECHADO? 35

3 PARTE II: O MERCADO 36

3.1 A MECÂNICA DO MERCADO 363.2 UM MUNDO COM REGRAS PRÓPRIAS 363.3 O MERCADO DE ACÇÕES E A ECONOMIA DOS PAÍSES 373.4 O MERCADO É UMA CORRIDA DE «CAVALOS» 373.5 O QUE FAZ MEXER O MERCADO? 383.6 AS TENDÊNCIAS DE MERCADO 383.7 O MERCADO TEM UMA VIDA PRÓPRIA 39

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3.8 VELOCIDADES DIFERENTES, EXPECTATIVAS DIFERENTES 403.9 O TEMPO E OS RESULTADOS 413.10 O MERCADO RARAMENTE MUDA 423.11 É MELHOR INVESTIR A CURTO, MÉDIO OU LONGO PRAZO? 433.12 OS MERCADOS BOLSISTAS E OS CÂMBIOS 433.13 QUAL É O MELHOR ÍNDICE PARA SEGUIR? 443.14 DETECTAR O INÍCIO DA SUBIDA 443.15 ALTERAÇÃO DA LÓGICA DO MERCADO 443.16 ACÇÕES BARATAS SOBEM PRIMEIRO 453.17 PARA ONDE VAI O DINHEIRO? 45

4 PARTE III: DESENVOLVER A SUA ESTRATÉGIA 46

4.1 SABER EM QUE FASE ESTÁ O MERCADO 464.2 UTILIZAR UM SISTEMA DE INVESTIMENTO 464.3 NA BOLSA NÃO SE PREVÊ O FUTURO 474.4 SERÁ QUE OS PADRÕES FUNCIONAM? 484.5 ACOMPANHAR OS ÍNDICES OU EMPRESAS INDIVIDUALMENTE? 484.6 NA BOLSA, A HISTÓRIA REPETE-SE 494.7 UTILIZAR AS NOTÍCIAS 504.8 PERCEBER QUE RESULTADOS IREMOS OBTER 51

5 PARTE IV: ANÁLISE DE ACÇÕES 55

5.1 SELECÇÃO DE TÍTULOS: OS AMADORES E OS PROFISSIONAIS 555.2 ANALISAR AS ACÇÕES 555.3 COMO SÃO CONSTITUÍDOS OS PADRÕES DE MERCADO? 575.4 COMO SÃO ANALISADAS AS ACÇÕES? 575.5 MANTER A SIMPLICIDADE DOS MÉTODOS 575.6 INVESTIR EM PEQUENAS OU GRANDES EMPRESAS? 585.7 RECUPERAÇÃO DE PERDAS 585.8 FERRAMENTAS PARA ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 595.9 O PROBLEMA DOS GRÁFICOS 605.10 SISTEMAS «MECÂNICOS» 605.11 MÉTODOS QUE USAM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 615.12 OS MÉTODOS FUNCIONAM SEMPRE? 625.13 EXEMPLOS DE MÉTODOS 635.14 TER EM CONTA OS RESULTADOS TRIMESTRAIS E ANUAIS 675.15 COMPRA INSTITUCIONAL: O MOVIMENTO DOS GIGANTES 675.16 O MÉTODO «PIGGY-BACK» 685.17 APERFEIÇOAR OS MÉTODOS 685.18 VIGIAR A NOSSA POSIÇÃO 685.19 MONITORIZAÇÃO DE RESULTADOS: UM EXEMPLO 695.20 INFLUÊNCIA DA LEGISLAÇÃO 695.21 ANALISAR AS NOTÍCIAS 705.22 A PERSONALIDADE DAS ACÇÕES 72

6 PARTE V. ASPECTOS PSICOLÓGICOS 74

6.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS 746.2 INVESTIDORES VERSUS ESPECULADORES 746.3 O REAL MOTIVO PARA INVESTIR NA BOLSA 75

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6.4 INTERFERÊNCIAS EMOCIONAIS 756.5 ESTAR SEMPRE NO MERCADO? 756.6 VENDER SEMPRE AO FIM DE UM PERÍODO FIXO? 766.7 O LUGAR DA HESITAÇÃO 766.8 AS TENTAÇÕES 766.9 MANTER SIMPLES A NOSSA LEITURA DO MERCADO 766.10 OS NÍVEIS DE IGNORÂNCIA 776.11 O MERCADO TEM SEMPRE RAZÃO 776.12 AS ONDAS DO MERCADO 786.13 UTILIZAR O «PENSAMENTO CONTRÁRIO» 786.14 AS SUAS OPINIÕES VALEM MAIS 796.15 NÃO SE APAIXONE PELAS EMPRESAS 806.16 SABER É FÁCIL, FAZER É DIFÍCIL 806.17 ESTILO DE VIDA E EDUCAÇÃO 816.18 VISÃO INTEGRADA DOS INVESTIMENTOS 816.19 AGARRAR AS OPORTUNIDADES 81

7 PARTE VI: TEORIAS RELACIONADAS COM INVESTIMENTO EM ACÇÕES 82

7.1 TEORIAS RELACIONADAS COM INVESTIMENTO EM ACÇÕES 827.2 A TEORIA DOW 827.3 AS ONDAS DE ELLIOT 827.4 O EFEITO-BORBOLETA E A TEORIA DO CAOS 82

8 PARTE VII: A VIDA DE GRANDES INVESTIDORES 83

8.1 PERFIL DOS GRANDES INVESTIDORES 83

9 PARTE VIII: MANIPULADORES DO MERCADO 85

9.1 OUVIR OS ANALISTAS E COMENTADORES? 859.2 CUIDADOS COM A INTERNET E A COMUNICAÇÃO SOCIAL 859.3 A QUEM INTERESSA A DIVERSIFICAÇÃO? 86

10 CONCLUSÕES 88

11 PROSSEGUIR AS SUAS INVESTIGAÇÕES 88

11.1 RECURSOS NA WEB 8811.2 UTILIZAR UM SOFTWARE DE ANÁLISE 89

12 Bibliografia recomendada 90

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1 Introdução

1.1 Este livro é para si?

Esta obra é dedicada a si, que deseja começar a investir na Bolsa. Numa linguagem simples e directa encontrará aqui o conhecimento para iniciar o seu estudo e actividade no investimento em acções.

1.2 Como está este livro organizado?

A primeira parte é simples e prática para responder às principais dúvidas básicas sobre a Bolsa. É dirigida a todos os que querem começar a investir.

Em seguida vão ser abordados tópicos mais avançados, para que possa construir a sua estratégia de investimento e ter bases para prosseguir os seus estudos. Estas ideias serão aproveitadas pelos novos investidores. Os que já têm experiência podem encontrar novos pontos de vista e enriquecer os seus métodos.

Seguidamente analisamos as lições e as referências deixadas por grandes investidores para aprender a investir melhor. Terminamos com aquilo que podemos chamar de «o capítulo negro» desta obra, abordando alguns dos processos de manipulação pouco ética do mercado.

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1.3 A busca da liberdade financeira

A procura da liberdade financeira é o motivo que leva muitos a querer investir em acções. No mundo da Bolsa não existem patrões nem empregados. Não há horários inoportunos, salas barulhentas ou dinheiro parado. É uma oportunidade para começar a desenvolver mais controlo sobre a sua vida financeira. Com esforço e dedicação, a liberdade financeira é um sonho possível de realizar.

Mas o conhecimento sobre o funcionamento da Bolsa não traz benefícios apenas na lógica do investimento. Também aprendemos sobre nós próprios, as nossas qualidades e defeitos, e sobre a forma como funcionam as outras pessoas quando são confrontadas com variadas situações. A nossa capacidade de análise dos fenómenos psicológicos, sociais e financeiros é reforçada e pode ser aplicada a outros quadrantes da vida.

Uma das coisas mais fabulosas do mundo da Bolsa é termos sempre a oportunidade para colocar as nossas ideias em prática. Podemos assim medir os resultados das nossas ideias e progredir no conhecimento pelo nosso próprio caminho.

Ao contrário de muitas empresas e instituições, onde a responsabilidade por vezes é negada e lançada para os colegas, elementos superiores ou entidades de fora, as pessoas que investem na Bolsa assumem totalmente os seus resultados. Qualquer erro que possam cometer é utilizado para atingir novos conhecimentos e assim evoluir.

Os investidores não gostam de ter dinheiro. Procuram sistematicamente a forma de o trocar por activos (bens que geram rendimento). Compram imóveis, desenvolvem negócios ou investem na Bolsa para que a sua riqueza não seja devorada pela inflação e se possa multiplicar com o tempo.

E o dinheiro, por si, nada vale, dado que tudo é relativo ao esforço para o conseguir e à forma como é depois gasto. O que as pessoas procuram é sobretudo a segurança, a liberdade e o bem-estar.

Há pessoas que ganham a vida na Bolsa. É certo que poucas o fazem a tempo inteiro, mas muitas usam a Bolsa como complemento de aplicação financeira dado que os bancos, em determinados períodos, oferecem juros muito baixos. Muitas vezes, a situação da economia é má para outros tipos de investimento e boa para investir na Bolsa.

Ao aprendermos a investir na Bolsa, a possibilidade de nos libertarmos financeiramente é cada vez maior com o passar do tempo porque a nossa experiência na área financeira melhora de dia para dia.

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O tempo é o bem mais precioso que temos e, com a idade, torna-se mais escasso. É assim preciso dedicação à aprendizagem para obter bons resultados na Bolsa. Mas não é preciso necessariamente saber matemática ou ter experiência de gestão de empresas ou contabilidade.

Os investidores individuais têm um potencial maior do que os investidores institucionais. Negoceiam quantidades mais pequenas, são ágeis e invisíveis quando actuam, podem definir livremente as suas estratégias e não têm que prestar contas. Os melhores podem tornar-se investidores profissionais e eventualmente deixar o seu emprego antigo.

Para isso é preciso aprender e os resultados não chegam de imediato. Os investidores individuais dedicam o seu tempo à leitura dos mercados e à concretização e avaliação das suas ideias.

Embora seja boa ideia recorrer a consultores financeiros e fiscais de qualidade, também é natural que os investidores mais ambiciosos e sérios assumam controlo total sobre a gestão dos seus activos financeiros.

2 Parte I: Investir na Bolsa

2.1 Como funciona a Bolsa?

As grandes empresas querem obter financiamento para as suas actividades e aderem a uma forma de o conseguir que é emitir acções. Cada acção representa uma parcela minúscula do património da empresa. Diz-se que a empresa vai «dispersar» o capital em Bolsa, ou seja, recebe uma avultada quantia e, em troca, fornece títulos representativos do seu capital que são distribuídos pelas mãos de muitos investidores localizados por todo o mundo.

Cada Bolsa é um mercado, uma praça de comércio, que processa as ordens de compra e venda desses títulos: entre os compradores que querem acções de uma determinada empresa ao preço mais barato possível e os vendedores que se querem livrar delas ao preço mais alto possível. Quando existe compatibilidade entre uma ordem de compra e uma ordem de venda, dá-se a transacção: o vendedor recebe o dinheiro e a acção passa a ser propriedade do comprador. Tudo isto é automatizado e ocorre em poucos segundos - não precisa de se preocupar.

O investidor individual recorre à sua corretora para emitir ordens de compra e venda de acções. Uma corretora é uma instituição especializada em investimentos, onde se pode abrir uma conta como se faz num Banco normal.

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2.2 É arriscado investir na Bolsa?

Investir na Bolsa é como estar na praia. Faz lembrar as ondas e as marés. O amanhecer, o meio-dia com o sol forte, o fim da tarde calmo e a noite escura e fria. Entrar na Bolsa é como entrar na água: se souber nadar e souber ler a maré, saberá a melhor hora do dia para nadar, quais são os melhores sítios, quanto tempo tem para se divertir e quando deve permanecer sentado na areia a contemplar o horizonte. Nos momentos verdadeiramente perigosos não precisa de estar no meio das ondas.

Embora possa não ter a ideia de entrar na água durante a maré alta, ainda assim pode beneficiar muito: Existem pessoas a ganhar em média 12%, 15% ou 20% ao ano na Bolsa, para não falar de investidores profissionais que por vezes atingem picos de 50% a 90% por ano nos mercados financeiros. Poderá conferir os resultados de Charles E. Kirk, em www.thekirkreport.com - um investidor profissional que faz do investimento individual uma profissão bem remunerada.

Se parece impossível, a verdade é que acontece. Também é verdade que estas pessoas não gostam de ser notadas. Algumas dão entrevistas a livros que abordam genericamente os seus métodos bilionários sem que nunca sejam realmente revelados, e fazem-no apenas por prestígio.

Os grandes investidores correm sempre um determinado grau de risco porque, ao contrário do que se pensa, além da sua capacidade analítica eles não têm informação privilegiada. Os nossos próprios descontos mensais para a Segurança Social, que consideramos geralmente algo de seguro e garantido, são investidos na Bolsa. A verdade é que existe sempre um grau de risco em tudo o que fazemos e tudo o que não fazemos. Trata-se depois de aprender a desenvolver estratégias de controlo do risco.

A segurança nasce de um processo de aprendizagem que nos dá as ferramentas para tomar o controlo das nossas finanças pessoais. No caso das acções, se soubermos avaliar correctamente as situações de risco e de oportunidade, caso a caso, então podemos escolher as melhores empresas para investir, a melhor altura para comprar, a melhor altura para vender e os períodos em que devemos estar fora do mercado.

2.3 Que tipo de formação é mais aconselhável?

A formação académica e o chamado quociente de inteligência nada tem a ver com a capacidade de ganhar dinheiro na Bolsa. As pessoas seguem percursos de vida completamente diversos antes de começarem a investir. Alguns dos

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maiores investidores tiveram passados profissionais tão inesperados como construtores de piscinas, como Daniel Zanger, ou cartoonistas como Stuart Walton.

2.4 Quanto tempo demora até se conseguirem resultados aceitáveis?

São necessários alguns anos de estudo até começar a ter bons resultados. Mas há uma diferença entre ter bons resultados e ter bons resultados consistentemente. Numa boa onda de mercado qualquer pessoa os consegue, para depois eventualmente perder os ganhos logo a seguir.

Assim, enquanto notar que não consegue ter um método sólido e fiável, é melhor continuar a experimentar e fazer estudos. Só existe realmente uma forma de aprender, e é aprender fazendo. Os resultados melhoram passo a passo, à medida que o tempo decorre.

2.5 A Bolsa é equiparável a um casino ou jogo?

Não. Quem diz que a Bolsa é um casino ou um jogo perigoso, na verdade está a dizer: «Eu sou ignorante, se eu entrar é só para perder dinheiro». A ideia piora se temos um amigo ou amiga que perdeu dinheiro na Bolsa. Mas isso acontece não porque a Bolsa é perigosa, mas porque os efeitos da nossa ignorância podem ser desastrosos. É como ir à praia: se souber nadar não é perigoso, caso contrário o seu amigo tem razão: é mesmo perigoso e pode afogar-se!

Apesar disso e com as devidas reservas, podemos dizer que aprender a investir na Bolsa é também aprender a avaliar probabilidades. Existem jogos como o «poker» que ajudam a compreender o funcionamento das probabilidades. O «poker» é um jogo que mistura sorte com inteligência. Ganhar ao «poker» é saber medir a probabilidade de êxito de cada possível decisão a cada momento, escolhendo a decisão que nos favorece mais. É também perceber como funcionam as decisões dos restantes jogadores. É na sequência dos ganhos e das perdas que, fazendo as contas, o jogo é ganho. É preciso aprender a ceder para eliminar a possibilidade de perdas e aprender a atacar ofensivamente para tomar lucros.

No casino as suas probabilidades são altamente desfavoráveis: é sabido que 75% do seu dinheiro fica na casa. Na Bolsa, as suas probabilidades são proporcionais ao seu conhecimento e à sua experiência. No casino existe um forte ambiente lúdico, de prazer, ostentação e consumo. Na Bolsa há trabalho, planeamento, execução e avaliação - é radicalmente diferente. Contrariamente ao que se passa num casino, a sorte é desnecessária na Bolsa porque o nosso conhecimento crescente faz com que a experiência tome o lugar da sorte. Mas

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cuidado, porque é a sua atitude que, em último grau, define se a Bolsa é um casino ou não.

Este livro é sobre «investimento» na Bolsa e não para «jogar na Bolsa». Uma pessoa investidora planeia, executa e avalia resultados, aprendendo com as falhas a gerir o risco, e tornando-se assim cada vez melhor à medida que o tempo passa. A sua atitude vale tudo: a Bolsa pode ser um jogo para si ou pode ser um plano calculado e executado com objectivos mensuráveis.

A Bolsa é um lugar óptimo para pessoas que demonstram humildade, que sejam pacientes, metódicas e com objectivos de longo prazo. A disciplina pessoal é o mais importante. É necessário ter um plano concreto de objectivos e regras claras de actuação.

Mesmo assim, se quiser comparar a Bolsa a um jogo de futebol, note que neste «jogo» você é mais do que um adepto ou assistente na bancada: é parte activa nele e será responsável por aquilo que corre bem e por aquilo que corre menos bem.

Quando investe, a sua atitude é muito importante. Faz as coisas friamente ou sente a adrenalina com cada situação do mercado? Tem reacções rápidas e impensadas ou pensa friamente e sabe esperar?

2.6 É difícil ganhar dinheiro na Bolsa?

Se em certas alturas até um perfeito ignorante consegue ganhar dinheiro na Bolsa, então você pode aprender facilmente a conhecer as fases do mercado em que isso é possível. Noutras alturas em que é difícil determinar a direcção do mercado, os investidores ficam fora para que não percam o que foi ganho.

Há acções a subir 50%, 80% e mesmo 200% ou 400% de valor no período de um ou dois anos. Da mesma forma, é possível ver as acções descerem 70% do seu valor. No caso da subida como na descida, as acções demoram tempo bastante até que isso aconteça. Na esmagadora maioria dos casos, só uma pessoa desleixada venderá com 20% de prejuízo!

Ao longo de um mês é frequente haver acções a subir ou descer 20%. Neste livro aprenderá a desenvolver regras simples para evitar perdas e aproveitar boas subidas.

Ao estudarmos o mercado de acções devemos prestar muita atenção às dificuldades que surgem. Sempre que aparecem dificuldades, o mais provável é existir falta de conhecimento ou experiência, o que pode também ser um aviso para avançar com cuidado. O investimento em acções deve ser natural, calmo e fácil. Qualquer dificuldade ou impulsividade pode ser um alerta negativo.

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2.7 Como posso acelerar os ganhos?

Existem muitos métodos e alguns extremamente perigosos. O mais recomendado é o «compounding», que explica parcialmente o «milagre da multiplicação do dinheiro». Se dominar perfeitamente o investimento em acções, em vez de gastar o dinheiro dos seus ganhos, volte a aplicá-los no mercado. Se for aplicando os ganhos junto com o capital inicial, vai obter resultados quase inacreditáveis.

Vamos abordar um exemplo muito simplificado para ilustrar o fenómeno. Suponha que tem 10 mil euros e contenta-se com 5% ao ano livres de impostos. Se reinvestir tudo, os resultados vão ser estes:

Ano    Reinvestindo os lucros    Sem reinvestimento os lucros

Ano 0:  10,000  10,000

Ano 1:  10,600  10,600

Ano 2:  11,236  11,200

Ano 3:  11,910  11,800

Ano 4:  12,625  12,400

Ano 5:  13,382  13,000

Ano 6:  14,185  13,600

Ano 7:  15,036  14,200

Ano 8:  15,938  14,800

Ano 9:  16,895  15,400

Ano 10: 17,908  16,000

Ano 15: 23,966  19,000

Ano 20: 32,071  22,000

Ano 30: 57,435  28,000

Em trinta anos iria conseguir pouco mais de 57 mil euros com os 10 mil iniciais. Mas iria conseguir mais do dobro do que optando por gastar os rendimentos. Se partir do princípio que obtém 12% ao ano livres de impostos, repare no resultado a trinta anos:

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Ano    Reinvestindo os lucros    Sem reinvestimento os lucros

Ano 0:  10,000  10,000

Ano 1:  11,200  11,200Ano 2:  12,544  12,400Ano 3:  14,049  13,600Ano 4:  15,735  14,800Ano 5:  17,623  16,000Ano 6:  19,738  17,200Ano 7:  22,107  18,400Ano 8:  24,760  19,600Ano 9:  27,731  20,800Ano 10: 31,058  22,000Ano 11: 34,785  23,200Ano 12: 38,960  24,400Ano 13: 43,635  25,600Ano 14: 48,871  26,800Ano 15: 54,736  28,000Ano 16: 61,304  29,200Ano 17: 68,660  30,400Ano 18: 76,900  31,600Ano 19: 86,128  32,800Ano 20: 96,463  34,000Ano 21: 108,038 35,200Ano 22: 121,003 36,400Ano 23: 135,523 37,600Ano 24: 151,786 38,800Ano 25: 170,001 40,000Ano 26: 190,401 41,200Ano 27: 213,249 42,400Ano 28: 238,839 43,600Ano 29: 267,499 44,800Ano 30: 299,599 46,000

Conseguiria cerca de 300 mil euros a partir de um investimento inicial de 10 mil. Mas, se aumentar a taxa anual apenas mais 3%, repare na diferença:

Ano    Reinvestindo os lucros    Sem reinvestimento os lucrosAno 0:  10,000  10,000Ano 1:  11,500  11,500Ano 2:  13,225  13,000Ano 3:  15,209  14,500Ano 4:  17,490  16,000Ano 5:  20,114  17,500Ano 6:  23,131  19,000

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Ano 7:  26,600  20,500Ano 8:  30,590  22,000Ano 9:  35,179  23,500Ano 10: 40,456  25,000Ano 11: 46,524  26,500Ano 12: 53,503  28,000Ano 13: 61,528  29,500Ano 14: 70,757  31,000Ano 15: 81,371  32,500Ano 16: 93,576  34,000Ano 17: 107,613 35,500Ano 18: 123,755 37,000Ano 19: 142,318 38,500Ano 20: 163,665 40,000Ano 21: 188,215 41,500Ano 22: 216,447 43,000Ano 23: 248,915 44,500Ano 24: 286,252 46,000Ano 25: 329,190 47,500Ano 26: 378,568 49,000Ano 27: 435,353 50,500Ano 28: 500,656 52,000Ano 29: 575,755 53,500Ano 30: 662,118 55,000

Com apenas mais 3% de lucro anual o resultado é mais do que o dobro relativamente aos 12% da tabela anterior.

Este exemplo serve para demonstrar o fenómeno de «compounding», mas omite reforços de capital que você poderá fazer todos os meses. Vamos supor que coloca 400 euros mensais de lado e que, ao fim de cada ano, os insere na sua conta de investimento em acções. Com os parâmetros da tabela anterior, os resultados serão estes:

Ano 0:  10,000  10,000Ano 1:  16,300  16,300Ano 2:  23,545  22,600Ano 3:  31,877  28,900Ano 4:  41,458  35,200Ano 5:  52,477  41,500Ano 6:  65,149  47,800Ano 7:  79,721  54,100Ano 8:  96,479  60,400Ano 9:  115,751 66,700Ano 10: 137,913 73,000Ano 11: 163,400 79,300Ano 12: 192,711 85,600Ano 13: 226,417 91,900Ano 14: 265,180 98,200Ano 15: 309,757 104,500Ano 16: 361,020 110,800

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Ano 17: 419,973 117,100Ano 18: 487,769 123,400Ano 19: 565,734 129,700Ano 20: 655,395 136,000Ano 21: 758,504 142,300Ano 22: 877,079 148,600Ano 23: 1,013,441       154,900Ano 24: 1,170,257       161,200Ano 25: 1,350,596       167,500Ano 26: 1,557,985       173,800Ano 27: 1,796,483       180,100Ano 28: 2,070,756       186,400Ano 29: 2,386,169       192,700Ano 30: 2,748,894       199,000

O resultado é mais de 2 milhões e meio de euros. É claro que, embora possível, é muito difícil conseguir 15% ao ano na Bolsa e só os maiores o conseguem consistentemente, mas a ideia aqui é demonstrar o poder do «compounding».

2.8 Alavancagem: fazer mais com menos

Os grandes investidores usam mecanismos de alavancagem que lhes permite usar o valor que têm na conta para comprar o dobro ou o triplo de acções relativamente ao que seria possível em situações normais. Ao fechar a venda o lucro ou prejuízo também é reflectido nessas proporções.

Normalmente trata-se de uma forma de crédito em que os seus títulos servem de garantia. A sua corretora permite que compre o dobro ou o triplo das acções, sendo que o risco/oportunidade atingem dimensões proporcionais ao grau de alavancagem. Deverá estar consciente de todas as condições que implicam aceder a este recurso.

2.9 É boa ideia contrair um empréstimo para investir na Bolsa?

Como regra geral, absolutamente não! Imagine tudo ao contrário: em vez do banco, é você que ganha os juros. Se uma determinada quantia de capital inicial for investida com os juros acumulados e se lhe juntar um reforço de capital mensal, fica milionário.

Com um capital inicial de 10000 euros, investindo com mais-valias de 1% ao mês, realizando um reforço mensal de 200 euros corrigido para uma taxa de inflação média de 3%, considerando que são tributados 10% sobre as mais-valias ao fim do ano e para um horizonte de investimento de 35 anos, os resultados são os seguintes:

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Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

1 1 10,000 100 2001 2 10,300 103 2011 3 10,604 106 2011 4 10,911 109 2021 5 11,221 112 2021 6 11,535 115 2031 7 11,853 119 2031 8 12,175 122 2041 9 12,500 125 2041 10 12,829 128 2051 11 13,162 132 2051 12 13,499 135 206

Posição após impostos (10% sobre 1,406 euros): 13,699

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

2 1 13,699 137 2062 2 14,042 140 2072 3 14,389 144 2072 4 14,740 147 2082 5 15,095 151 2082 6 15,454 155 2092 7 15,817 158 2092 8 16,184 162 2102 9 16,556 166 2102 10 16,932 169 2112 11 17,312 173 2112 12 17,696 177 212

Posição após impostos (10% sobre 1,879 euros): 17,897

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

3 1 17,897 179 2123 2 18,288 183 2133 3 18,684 187 2133 4 19,084 191 2143 5 19,489 195 2143 6 19,899 199 215

Page 16: Manual Da Bolsa

3 7 20,313 203 2163 8 20,731 207 2163 9 21,155 212 2173 10 21,583 216 2173 11 22,016 220 2183 12 22,454 225 218

Posição após impostos (10% sobre 2,416 euros): 22,655

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

4 1 22,655 227 2194 2 23,100 231 2194 3 23,551 236 2204 4 24,006 240 2204 5 24,467 245 2214 6 24,932 249 2224 7 25,403 254 2224 8 25,879 259 2234 9 26,361 264 2234 10 26,848 268 2244 11 27,340 273 2244 12 27,838 278 225

Posição após impostos (10% sobre 3,024 euros): 28,039

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

5 1 28,039 280 2255 2 28,544 285 2265 3 29,056 291 2275 4 29,573 296 2275 5 30,096 301 2285 6 30,625 306 2285 7 31,159 312 2295 8 31,700 317 2295 9 32,246 322 2305 10 32,798 328 2315 11 33,357 334 2315 12 33,922 339 232

Posição após impostos (10% sobre 3,711 euros): 34,122

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

Page 17: Manual Da Bolsa

6 1 34,122 341 2326 2 34,695 347 2336 3 35,275 353 2336 4 35,861 359 2346 5 36,454 365 2356 6 37,053 371 2356 7 37,659 377 2366 8 38,271 383 2366 9 38,890 389 2376 10 39,516 395 2386 11 40,149 401 2386 12 40,789 408 239

Posição após impostos (10% sobre 4,487 euros): 40,987

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

7 1 40,987 410 2397 2 41,636 416 2407 3 42,292 423 2417 4 42,956 430 2417 5 43,627 436 2427 6 44,305 443 2427 7 44,990 450 2437 8 45,683 457 2447 9 46,384 464 2447 10 47,092 471 2457 11 47,807 478 2457 12 48,531 485 246

Posição após impostos (10% sobre 5,363 euros): 48,726

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

8 1 48,726 487 2478 2 49,460 495 2478 3 50,202 502 2488 4 50,952 510 2498 5 51,710 517 2498 6 52,476 525 2508 7 53,250 533 2508 8 54,033 540 2518 9 54,825 548 2528 10 55,625 556 2528 11 56,433 564 253

Page 18: Manual Da Bolsa

8 12 57,250 573 254

Posição após impostos (10% sobre 6,349 euros): 57,441

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

9 1 57,441 574 2549 2 58,270 583 2559 3 59,108 591 2559 4 59,954 600 2569 5 60,810 608 2579 6 61,675 617 2579 7 62,549 625 2589 8 63,432 634 2599 9 64,325 643 2599 10 65,228 652 2609 11 66,140 661 2619 12 67,062 671 261

Posição após impostos (10% sobre 7,460 euros): 67,248

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

10 1 67,248 672 26210 2 68,182 682 26310 3 69,127 691 26310 4 70,081 701 26410 5 71,046 710 26510 6 72,021 720 26510 7 73,006 730 26610 8 74,002 740 26710 9 75,009 750 26710 10 76,026 760 26810 11 77,054 771 26910 12 78,093 781 269

Posição após impostos (10% sobre 8,709 euros): 78,272

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

11 1 78,272 783 27011 2 79,325 793 27111 3 80,389 804 27111 4 81,464 815 272

Page 19: Manual Da Bolsa

11 5 82,550 826 27311 6 83,648 836 27311 7 84,758 848 27411 8 85,880 859 27511 9 87,013 870 27511 10 88,159 882 27611 11 89,316 893 27711 12 90,486 905 277

Posição após impostos (10% sobre 10,113 euros): 90,657

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

12 1 90,657 907 27812 2 91,842 918 27912 3 93,039 930 27912 4 94,249 942 28012 5 95,471 955 28112 6 96,707 967 28212 7 97,956 980 28212 8 99,217 992 28312 9 100,493 1,005 28412 10 101,781 1,018 28412 11 103,083 1,031 28512 12 104,399 1,044 286

Posição após impostos (10% sobre 11,689 euros): 104,560

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

13 1 104,560 1,046 28713 2 105,892 1,059 28713 3 107,239 1,072 28813 4 108,599 1,086 28913 5 109,974 1,100 28913 6 111,363 1,114 29013 7 112,766 1,128 29113 8 114,185 1,142 29213 9 115,618 1,156 29213 10 117,067 1,171 29313 11 118,531 1,185 29413 12 120,010 1,200 295

Posição após impostos (10% sobre 13,458 euros): 120,159

Page 20: Manual Da Bolsa

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

14 1 120,159 1,202 29514 2 121,655 1,217 29614 3 123,168 1,232 29714 4 124,696 1,247 29714 5 126,241 1,262 29814 6 127,801 1,278 29914 7 129,378 1,294 30014 8 130,972 1,310 30014 9 132,582 1,326 30114 10 134,209 1,342 30214 11 135,853 1,359 30314 12 137,514 1,375 303

Posição após impostos (10% sobre 15,442 euros): 137,649

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

15 1 137,649 1,376 30415 2 139,329 1,393 30515 3 141,028 1,410 30615 4 142,744 1,427 30715 5 144,478 1,445 30715 6 146,230 1,462 30815 7 148,000 1,480 30915 8 149,789 1,498 31015 9 151,596 1,516 31015 10 153,423 1,534 31115 11 155,268 1,553 31215 12 157,133 1,571 313

Posição após impostos (10% sobre 17,667 euros): 157,250

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

16 1 157,250 1,573 31316 2 159,136 1,591 31416 3 161,042 1,610 31516 4 162,967 1,630 31616 5 164,913 1,649 31716 6 166,879 1,669 31716 7 168,865 1,689 31816 8 170,872 1,709 31916 9 172,899 1,729 320

Page 21: Manual Da Bolsa

16 10 174,948 1,749 32116 11 177,018 1,770 32116 12 179,110 1,791 322

Posição após impostos (10% sobre 20,159 euros): 179,207

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

17 1 179,207 1,792 32317 2 181,322 1,813 32417 3 183,459 1,835 32517 4 185,619 1,856 32517 5 187,800 1,878 32617 6 190,005 1,900 32717 7 192,232 1,922 32817 8 194,482 1,945 32917 9 196,755 1,968 33017 10 199,053 1,991 33017 11 201,373 2,014 33117 12 203,718 2,037 332

Posição após impostos (10% sobre 22,950 euros): 203,792

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

18 1 203,792 2,038 33318 2 206,163 2,062 33418 3 208,559 2,086 33518 4 210,979 2,110 33518 5 213,424 2,134 33618 6 215,894 2,159 33718 7 218,390 2,184 33818 8 220,912 2,209 33918 9 223,460 2,235 34018 10 226,034 2,260 34018 11 228,635 2,286 34118 12 231,262 2,313 342

Posição após impostos (10% sobre 26,075 euros): 231,310

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

19 1 231,310 2,313 34319 2 233,966 2,340 344

Page 22: Manual Da Bolsa

19 3 236,649 2,366 34519 4 239,360 2,394 34619 5 242,099 2,421 34619 6 244,867 2,449 34719 7 247,663 2,477 34819 8 250,488 2,505 34919 9 253,341 2,533 35019 10 256,225 2,562 35119 11 259,138 2,591 35219 12 262,081 2,621 353

Posição após impostos (10% sobre 29,572 euros): 262,097

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

20 1 262,097 2,621 35320 2 265,071 2,651 35420 3 268,076 2,681 35520 4 271,112 2,711 35620 5 274,179 2,742 35720 6 277,278 2,773 35820 7 280,409 2,804 35920 8 283,572 2,836 36020 9 286,767 2,868 36120 10 289,995 2,900 36120 11 293,257 2,933 36220 12 296,551 2,966 363

Posição após impostos (10% sobre 33,484 euros): 296,532

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

21 1 296,532 2,965 36421 2 299,861 2,999 36521 3 303,225 3,032 36621 4 306,623 3,066 36721 5 310,056 3,101 36821 6 313,525 3,135 36921 7 317,029 3,170 37021 8 320,569 3,206 37121 9 324,145 3,241 37121 10 327,758 3,278 37221 11 331,408 3,314 37321 12 335,095 3,351 374

Posição após impostos (10% sobre 37,858 euros): 335,035

Page 23: Manual Da Bolsa

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

22 1 335,035 3,350 37522 2 338,760 3,388 37622 3 342,524 3,425 37722 4 346,326 3,463 37822 5 350,168 3,502 37922 6 354,048 3,540 38022 7 357,969 3,580 38122 8 361,929 3,619 38222 9 365,930 3,659 38322 10 369,973 3,700 38422 11 374,056 3,741 38522 12 378,181 3,782 386

Posição após impostos (10% sobre 42,749 euros): 378,074

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

23 1 378,074 3,781 38723 2 382,241 3,822 38823 3 386,451 3,865 38923 4 390,704 3,907 39023 5 395,001 3,950 39123 6 399,342 3,993 39123 7 403,726 4,037 39223 8 408,156 4,082 39323 9 412,631 4,126 39423 10 417,152 4,172 39523 11 421,719 4,217 39623 12 426,333 4,263 397

Posição após impostos (10% sobre 48,215 euros): 426,172

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

24 1 426,172 4,262 39824 2 430,832 4,308 39924 3 435,540 4,355 40024 4 440,295 4,403 40124 5 445,100 4,451 40224 6 449,953 4,500 40324 7 454,856 4,549 404

Page 24: Manual Da Bolsa

24 8 459,809 4,598 40524 9 464,813 4,648 40624 10 469,867 4,699 40724 11 474,973 4,750 40824 12 480,131 4,801 409

Posição após impostos (10% sobre 54,323 euros): 479,910

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

25 1 479,910 4,799 41125 2 485,119 4,851 41225 3 490,382 4,904 41325 4 495,699 4,957 41425 5 501,069 5,011 41525 6 506,495 5,065 41625 7 511,975 5,120 41725 8 517,512 5,175 41825 9 523,104 5,231 41925 10 528,754 5,288 42025 11 534,462 5,345 42125 12 540,227 5,402 422

Posição após impostos (10% sobre 61,147 euros): 539,937

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

26 1 539,937 5,399 42326 2 545,759 5,458 42426 3 551,641 5,516 42526 4 557,582 5,576 42626 5 563,584 5,636 42726 6 569,647 5,696 42826 7 575,772 5,758 42926 8 581,959 5,820 43026 9 588,209 5,882 43226 10 594,523 5,945 43326 11 600,901 6,009 43426 12 607,344 6,073 435

Posição após impostos (10% sobre 68,769 euros): 606,975

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

Page 25: Manual Da Bolsa

27 1 606,975 6,070 43627 2 613,481 6,135 43727 3 620,052 6,201 43827 4 626,691 6,267 43927 5 633,397 6,334 44027 6 640,171 6,402 44127 7 647,014 6,470 44227 8 653,927 6,539 44427 9 660,910 6,609 44527 10 667,963 6,680 44627 11 675,089 6,751 44727 12 682,287 6,823 448

Posição após impostos (10% sobre 77,280 euros): 681,829

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

28 1 681,829 6,818 44928 2 689,097 6,891 45028 3 696,438 6,964 45128 4 703,854 7,039 45328 5 711,345 7,113 45428 6 718,912 7,189 45528 7 726,556 7,266 45628 8 734,277 7,343 45728 9 742,077 7,421 45828 10 749,956 7,500 45928 11 757,915 7,579 46028 12 765,955 7,660 462

Posição após impostos (10% sobre 86,782 euros): 765,398

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

29 1 765,398 7,654 46329 2 773,514 7,735 46429 3 781,713 7,817 46529 4 789,996 7,900 46629 5 798,362 7,984 46729 6 806,813 8,068 46929 7 815,350 8,153 47029 8 823,973 8,240 47129 9 832,684 8,327 47229 10 841,483 8,415 47329 11 850,371 8,504 47429 12 859,349 8,593 476

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Posição após impostos (10% sobre 97,390 euros): 858,679

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

30 1 858,679 8,587 47730 2 867,743 8,677 47830 3 876,898 8,769 47930 4 886,147 8,861 48030 5 895,488 8,955 48230 6 904,925 9,049 48330 7 914,457 9,145 48430 8 924,086 9,241 48530 9 933,812 9,338 48630 10 943,636 9,436 48830 11 953,561 9,536 48930 12 963,585 9,636 490

Posição após impostos (10% sobre 109,230 euros): 962,788

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

31 1 962,788 9,628 49131 2 972,907 9,729 49331 3 983,129 9,831 49431 4 993,454 9,935 49531 5 1,003,884 10,039 49631 6 1,014,419 10,144 49831 7 1,025,061 10,251 49931 8 1,035,810 10,358 50031 9 1,046,668 10,467 50131 10 1,057,636 10,576 50331 11 1,068,715 10,687 50431 12 1,079,906 10,799 505

Posição após impostos (10% sobre 122,444 euros): 1,078,966

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

32 1 1,078,966 10,790 50632 2 1,090,262 10,903 50832 3 1,101,672 11,017 50932 4 1,113,197 11,132 51032 5 1,124,839 11,248 511

Page 27: Manual Da Bolsa

32 6 1,136,599 11,366 51332 7 1,148,478 11,485 51432 8 1,160,477 11,605 51532 9 1,172,597 11,726 51732 10 1,184,839 11,848 51832 11 1,197,205 11,972 51932 12 1,209,696 12,097 520

Posição após impostos (10% sobre 137,188 euros): 1,208,595

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

33 1 1,208,595 12,086 52233 2 1,221,203 12,212 52333 3 1,233,938 12,339 52433 4 1,246,801 12,468 52633 5 1,259,795 12,598 52733 6 1,272,920 12,729 52833 7 1,286,177 12,862 53033 8 1,299,569 12,996 53133 9 1,313,095 13,131 53233 10 1,326,759 13,268 53433 11 1,340,560 13,406 53533 12 1,354,500 13,545 536

Posição após impostos (10% sobre 153,639 euros): 1,353,218

Ano Mês Capital Juros Reforço--- --- ------- ----- -------

34 1 1,353,218 13,532 53834 2 1,367,287 13,673 53934 3 1,381,499 13,815 54034 4 1,395,854 13,959 54234 5 1,410,355 14,104 54334 6 1,425,001 14,250 54434 7 1,439,795 14,398 54634 8 1,454,739 14,547 54734 9 1,469,834 14,698 54834 10 1,485,080 14,851 55034 11 1,500,481 15,005 55134 12 1,516,037 15,160 553

Posição após impostos (10% sobre 171,992 euros): 1,514,551

Ano Mês Capital Juros Reforço

Page 28: Manual Da Bolsa

--- --- ------- ----- -------

35 1 1,514,551 15,146 55435 2 1,530,250 15,303 55535 3 1,546,108 15,461 55735 4 1,562,126 15,621 55835 5 1,578,305 15,783 55935 6 1,594,648 15,946 56135 7 1,611,155 16,112 56235 8 1,627,829 16,278 56435 9 1,644,671 16,447 56535 10 1,661,683 16,617 56735 11 1,678,866 16,789 56835 12 1,696,223 16,962 569

Posição após impostos (10% sobre 192,464 euros): 1,694,508

Deverá assim evitar todo e qualquer tipo de crédito, em especial os populares créditos ao consumo com taxas de 14 a 22%. Acontece que, quem ganha juros desta ordem de valores, nunca mais precisa de trabalhar!

2.10 Devo aproveitar todas as boas oportunidades que surgem?

Como princípio poderiamos concluir que, para tornar rentável a nossa actividade, devem ser aproveitadas todas as oportunidades possíveis de investimento. Mas não há necessidade de negociar sempre que detecta oportunidades no mercado, aliás essa postura poderá estragar negócios em curso. Mais importante que a quantidade é obter êxito numa alta percentagem dos negócios efectuados, pois é aí que está toda a diferença.

2.11É possível perder todo o dinheiro?

Seguramente não, a menos que você tenha um comportamento completamente eufórico e descontrolado. Uma boa estratégia de investimento na Bolsa inclui avaliar periodicamente o grau de exposição às acções. Em momentos de boa subida, terá totalmente aplicada a sua conta de investimento de acções. Em situações indecisas ou desfavoráveis (que dependem da forma como analisa e opera), então a sua estratégia diz-lhe que deve ficar 100% a dinheiro. Isto é fácil de dizer, mas a aplicação prática, embora por vezes pareça muito simples, não é. De qualquer modo, se exercer mais ou menos este processo de controlo, então verá que é mesmo impossível perder toda a sua conta de investimento em acções. Na verdade, a sua estratégia também deve ter regras para sair do mercado e avaliar as razões de cada falha que

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acontece.

É impossível perder todo o dinheiro, mas se não fizer um estudo continuado das suas acções, então sujeita-se, pelo menos parcialmente, a vir a ter uma perda significativa. Para que isso não aconteça deverá rever diariamente a situação das empresas, por exemplo, dedicando 10 ou 15 minutos ao fim do dia, após o fecho das sessões.

Como deve calcular, a Bolsa é 95% experiência e 5% teoria. Mesmo estes 5% de teoria são construídos por si quando retira lições da prática com o passar do tempo.

2.12Como posso começar?

Abra conta numa corretora - é o mesmo que abrir conta no seu banco, mas trata-se de uma instituição bancária especializada em investimentos. Provavelmente precisa apenas de 500 euros para abrir a conta, mas isso é muito pouco, mesmo para começar.

Se tem muito dinheiro disponível é recomendável que não mexa em aplicações e investimentos em curso - mas usar mais-valias para este efeito. Caso tenha pouco dinheiro, uma boa ideia é fazer, através do seu banco, uma ordem de transferência bancária permanente para a sua conta de investimento na corretora. Mês após mês terá um pequeno valor a ser automaticamente depositado. Este é o processo mais fácil para amealhar algum dinheiro para começar.

Será boa ideia nunca colocar o dinheiro que precisa para fazer a sua vida normal e para colmatar necessidades inesperadas. Para o caso imagine que perde esse dinheiro. Se vê que isso não afecta a sua vida normal e o seu futuro a curto, médio e longo prazo, então é provavelmente uma quantia aceitável.

Logo que tenha uma conta poderá comprar e vender acções, mas é aconselhável que vá com calma. É preciso acompanhar os mercados e saber as razões porque há acções a subir e acções a descer de valor. Pode acompanhar os canais de televisão e web sites especializados, bem como o web site da sua corretora. Começará a conhecer as empresas, os mercados, e a ver as melhores alturas para entrar.

Existem sectores da indústria que estão em subida e sectores que estão em descida.

É muito importante anotar a sua estratégia. Antes de comprar ou vender, deverá ter razões claras e factuais para o fazer e apontar essas razões por escrito para que as possa avaliar logo após a venda.

É também importante acompanhar as cotações diariamente de Segunda a Sexta-feira, pelo menos ao fim do dia.

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2.13A oscilação das cotações é ao acaso ou é previsível?

Esta questão alimenta discussões intermináveis criando duas facções: a dos académicos diz que o mercado é eficiente, ou seja, adapta-se tão rapidamente aos acontecimentos que é impossível irmos a tempo de comprar acções para beneficiar desses acontecimentos. A quantidade tão gigantesca de agentes que operam o mercado faz com que as subidas e descidas nas cotações sejam perfeitamente ou praticamente aleatórias. Para escolher acções que integrem uma carteira de títulos, até um macaco atirando dardos à página de cotações do jornal «Financial Times» conseguiria escolher tão bem os títulos como o faria um gestor profissional de fundos.

A outra facção diz que, embora parcialmente isso até possa ser verdade, o mercado produz imensas ineficiências, ou seja, há distorções de preços que não correspondem ao valor lógico ou real das acções, que isso é identificável e que é possível assim chegar a tempo de beneficiar dessas situações.

Entretanto, a teoria académica começou a perder terreno. Os maiores negociantes de acções do mundo apresentam contas auditadas que a contrariam. Seria impossível conseguirem resultados tão consistentes durante tantos anos seguidos se fossem meramente sortudos aleatórios. Imagine um grande investidor sem o conhecimento que deriva da sua experiência obtida ao longo de anos. Seria capaz de conseguir os mesmos resultados e, em especial, mantê-los sempre positivos? É evidente que poderiamos argumentar que isso foi obra do acaso, apesar das milhares de horas de análise e das milhares de decisões tomadas pelo investidor.

2.14Quanto posso ganhar na Bolsa?

É melhor definir quanto quer ganhar na Bolsa e construir uma estratégia para o conseguir. São precisos objectivos realistas mas ambiciosos. Para começar, pode estabelecer um rendimento mínimo de, por exemplo, 8% ao ano. Logo que atinja o seu objectivo é boa ideia ir subindo pouco a pouco a fasquia.

A sua expectativa de lucro deve estar adaptada ao contexto em que o mercado se encontra. Se existem meses em que podemos esperar um retorno de 2% ou 4%, a nossa expectativa terá que estar ajustada em períodos de menor performance. 1% pode ser uma boa percentagem. Isto é muito importante porque é a nossa expectativa que determina o momento exacto das transacções. É muito melhor tirar 1% numa semana do que esperar até conseguir 3% até ao fim do mês e sermos obrigados em vez disso a suportar uma perda de -5%.

Da mesma forma, os métodos de investimento devem ser diferentes para situações diferentes do mercado e do título em particular. A nível de mercado,

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o método deve ser diferente conforme estamos num mercado em subida ligeira, em subida forte, em fim de subida, em início de descida, em descida forte ou em fim de descida.

Criar e executar um plano de investimento em Bolsa não tem rigorosamente nada a ver com os filmes de Hollywood. O plano não é nada empolgante nem serve para nos fornecer doses diárias de adrenalina. É apenas algo que definimos e que levamos até ao fim pacientemente e ao longo de muito tempo.

2.15Que acções posso comprar?

A sua corretora disponibiliza-lhe acesso a uma quantidade de títulos cotados em vários mercados, estejam eles localizados em Portugal, Alemanha ou EUA. A lista de títulos pode variar. Em Portugal é normal ter acesso ao mercado português (Euronext Lisboa), a mercados europeus como o Xetra, Frankfurt e Paris e a mercados norte-americanos (NYSE, Nasdaq e AMEX). Isto é importante para que possa ter uma boa diversidade de opções de investimento e escolher as melhores. Quanto mais empresas diferentes tiver a possibilidade de comprar, melhor poderá investir. O mais importante é que a sua corretora disponibilize os títulos que precisa de transaccionar.

2.16E se eu tiver acções e ninguém as quiser comprar?

Se estivermos a falar de empresas cotadas publicamente e não se importar de vender ao melhor preço de mercado, isso é impossível de acontecer com empresas conhecidas que transaccionam mais de cem mil acções por dia, para não falar de doze milhões de acções a cada dia que passa. Normalmente, uma ordem de venda nessas condições pode demorar um ou dois segundos a ser executada. Em mercados grandes como o alemão ou o de Nova Iorque não existem esses problemas.

2.17Como se definem os preços de compra ou venda?

Você decide. Ao colocar uma ordem de compra pode opcionalmente especificar o valor máximo que deseja pagar por cada acção. Se investe mais a médio ou longo prazo é normal que dê uma ordem de compra ao melhor preço, que a sua corretora é obrigada a executar. A sua ordem entra numa fila ordenada dizendo-se que está em negociação. O processo pode demorar menos de um segundo ou, se especificar um preço baixo, poderá ter que aguardar alguns minutos ou dias e dias até que a ordem seja executada.

Page 32: Manual Da Bolsa

No caso das acções serem previamente suas, como qualquer outro bem que seja seu poderá pedir o preço que quiser. Se houver alguém que queira a esse preço, a venda será feita, caso contrário a sua ordem fica em estado de negociação até que alguém a aceite. Pode também vender ao melhor preço possível e fechar o negócio num instante de segundos.

2.18É difícil começar?

Começar a investir em acções é tão difícil como aprender a andar de bicicleta. Logo que compreenda o esquema básico poderá começar a treinar em ambiente real. É melhor iniciar a sério e com pouco dinheiro do que fazer simulações de compras e vendas permanecendo num ambiente de fantasia. Isto porque na Bolsa a experiência é tudo, da prática vem o conhecimento dessa mesma prática. Se o seu objectivo é investir deve começar a investir. Infelizmente é mesmo preciso preparar-se para cometer alguns erros, caso contrário nunca será possível aprender.

Normalmente, as pessoas preocupam-se com os procedimentos para comprar e vender. Nos últimos anos isso tornou-se muito simples com o uso da Internet. Se souber usar a web não precisa de saber mais nada de especial. Trata-se apenas de escolher a empresa que quer comprar ou vender, colocar a quantidade de acções e confirmar a ordem. Irá também vigiar periodicamente a sua carteira de títulos e analisar as acções para saber quando vende e quando compra.

2.19Como transmitir ordens de compra ou venda?

O mais prático é usar o web site da sua corretora e seleccionar as opções respectivas.

As corretoras costumam também aceitar ordens por telefone. Pode transmitir ordens de compra e venda à sua corretora dizendo algo como: «Desejo vender 100 acções da empresa X ao melhor preço de mercado», mas isso normalmente sai mais caro.

Pode ainda especificar o seu preço de venda ou compra. Não é obrigatório colocar uma venda ao preço que os compradores querem.

2.20Quanto preciso para começar a investir?

É aconselhável um período de treino em ambiente real. Com 6000 euros ou até menos já poderá constituir uma carteira sem que as comissões de corretagem

Page 33: Manual Da Bolsa

devorem os seus ganhos. Mas se tiver menos dinheiro disponível poderá usar apenas 1500 ou 2000 euros à vontade mas, nesse caso, é aconselhável que não compre mais de um título.

No futuro irá querer conhecer outros instrumentos derivados de acções, e aprenderá a usá-los como seguro para a sua carteira: as suas perdas tornam-se assim muito limitadas quando investe grandes quantias.

2.21E as comissões de corretagem?

As comissões de corretagem são um valor que a corretora tira da sua conta por cada transacção que faz (compra ou venda). Serve para pagar os serviços de intermediação prestados pela corretora. Informe-se das comissões de várias corretoras e faça as contas. Ao início pode investir pouco e procurar corretoras com comissões baixas. No extremo oposto, terá os serviços bem pagos de consultores financeiros especializados que analisam os melhores negócios bilionários para si!

2.22Que cuidados devo ter com a minha corretora?

Uma corretora ganha por cada transacção que você realiza (uma compra ou uma venda), cobrando um pequeno valor fixo ou variável. É do interesse da corretora ter clientes a comprar e vender a toda a hora. Se enveredar por decisões impulsivas e sem lógica a culpa será toda sua e poderá vir a dizer a sério o que Woody Allen uma vez disse em tom de comédia: «Um corretor é um tipo que investe o nosso dinheiro até não sobrar nenhum».

As corretoras disponibilizam acesso a vários esquemas de crédito exigindo que venda as suas acções no próprio dia em que as comprou. A estratégia que você desenvolve para investir pode acabar por ficar posta de lado se aderir impulsivamente a formas de investimento que não estavam nos seus planos. Certifique-se de que usa os bons serviços da sua corretora para realizar a sua estratégia! Em resumo, ou faz as suas próprias regras, ou adere a regras que lhe são estranhas e sujeita-se a ter dificuldades.

2.23De quantas empresas devo comprar acções?

Se comprar muitos títulos diferentes será difícil acompanhar a sua carteira, e muito mais difícil se por acaso tiver um emprego a tempo inteiro. Se comprar muitas empresas, diz-se que está a «diversificar» para que o risco seja menor. Se um título cai inesperadamente será «suportado» pelos restantes.

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Se comprar uma, duas ou três empresas diz-se que está a «concentrar». Warren Buffet, um dos maiores investidores do mundo, critica muito a diversificação dizendo que, se fazemos isso, é porque não temos conhecimentos suficientes para escolher as melhores empresas. Ou seja, a diversificação é vista como uma tentativa de nos protegermos contra a nossa própria estupidez!

Parece ter lógica. Os maiores investidores possuem meios de análise superior e concentram os seus investimentos nas melhores empresas.

Se diversificarem, estão a comprar empresas piores e isso não faz sentido. Contudo, estudar sistematicamente o mercado faz com que tenhamos cada vez mais poder de análise.

As acções que comprar irão constituir a sua «carteira de investimento» ou «portfolio de títulos». É uma grande arte conseguir gerir essa carteira de acções. Deve analisar o mercado para saber se vale a pena ter toda a sua conta de investimento aplicada em acções ou se deve manter uma exposição mais fraca ao mercado. É que também faz parte da estratégia não ter títulos nenhuns em carteira.

Há um problema que pode invalidar qualquer método de investimento: decisões menos boas que prendem o capital durante demasiado tempo enquanto surgem outras oportunidades. A questão é saber o que constitui uma boa oportunidade, por isso é preciso aprender a seleccionar bem as empresas.

Mas, como veremos mais adiante, há algo de sinistro na popular ideia da diversificação.

2.24Como posso investir com menos risco?

A sua estratégia de investimento em Bolsa deve basear-se na procura do maior retorno com o menor risco possível. Se considera que ainda não tem experiência suficiente e acha que está a arriscar demais, pode tomar algumas medidas como estas, que tornam os seus investimentos em Bolsa mais seguros:

1. Não colocar em Bolsa dinheiro que lhe poderia fazer falta se o perdesse;

2. Reduzir exposição ao mercado (manter menos valor em acções);

3. Aguardar por um mercado que caiu durante meses e claramente se enconta em início de subida. Num mercado em subida é normal ver três em cada quatro títulos a subir. Poderá fixar um prazo de observação para confirmar essa subida.

4. Aprender o máximo, para que as decisões sejam cada vez melhores;

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5. Conhecer ao máximo cada empresa, para que possa escolher melhor, analisando também os últimos dados contabilísticos antes de comprar;

6. Aprender mais sobre o uso de mecanismos de alavancagem (crédito) antes de os utilizar.

2.25 Posso comprar acções através do meu banco?

A resposta é sim, mas os maiores investidores procuram bancos especializados que, além de vocacionados para investimento financeiro, conseguem prestar os seus serviços por comissões menores. Se um dia chegar ao patamar profissional irá mudar este esquema e provavelmente vai querer pagar a bons consultores financeiros, esquecendo a ideia do «barato».

2.26E os dividendos?

Há investidores que desejam receber dividendos, a remuneração por deter acções ao longo do tempo. Correspondem a um pequeno valor por cada acção que temos - é decidido pela empresa todos os anos e aparece creditado na nossa conta na corretora. Mas isso, como outros fenómenos, é descontado no mercado muito antes de acontecer.

Certas empresas decidem não distribuir dividendos. Isso é positivo se a empresa for estável, saudável e tiver potencial porque assim retém valor que pode ser usado para desenvolver ainda mais os produtos e serviços que disponibiliza. Se a empresa for má, tanto faz se os distribui - mais vale não termos as suas acções em carteira.

2.27Posso transmitir ordens quando o mercado está fechado?

Sim, embora muitos critiquem esta prática. Durante a noite muita coisa pode acontecer. Mesmo que queira investir a longo prazo, é sempre boa ideia deixar o mercado abrir e acompanhar a primeira hora e meia de negociação para ver o que está a acontecer ao título que escolheu. Deixe que os outros coloquem as suas ordens às cegas, que são acumuladas para serem processadas ao início das sessões, provocando oscilações fortes na primeira hora. Depois confirme se vale a pena comprar nesse dia ou esperar até ao dia seguinte. Pode também ser boa ideia deixar a sessão correr até à hora de almoço onde, muitas vezes, vemos com mais clareza o que vai acontecer.

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3 Parte II: O mercado3.1 A mecânica do mercado

A Bolsa é um mercado puro de oferta e procura. As pessoas querem comprar ao mais barato possível e vender ao mais caro possível. Os investidores mais sérios dizem que o mercado é um jogo segundo o qual se processa a passagem do dinheiro dos menos experientes para a mão dos mais experientes. Teoricamente, dado que envelhecemos e novas pessoas nascem, é de esperar que quem estuda sistematicamente o mercado de acções veja os seus concorrentes experientes a seguirem a lei da vida: a reformarem-se, a falecer, ou a procurar outros negócios, enquanto que novos e inexperientes jogadores começam a entrar. Com esta evolução natural, em determinada altura do nosso caminho estariamos em posição vantajosa para beneficiar do mercado.

3.2 Um mundo com regras próprias

Poderiamos tentar perceber o funcionamento da Bolsa dizendo que uma empresa de gelados teria as suas acções a subir no Verão e a descer no Inverno. Uma petrolífera teria mais vendas no Inverno devido aos gastos de combustível com aquecimento das casas e dos automóveis, por isso as suas acções ficariam mais altas. Uma empresa de aviação comercial transporta mais pessoas no Verão, os livros escolares vendem-se mais em Setembro... Mas esse tipo de factos sazonais pouco interessam à Bolsa, que é um mercado distinto e que funciona com variáveis muito diferentes.

Tratando-se de um mercado, o preço depende da quantidade de pessoas que quer comprar e da quantidade de pessoas que está a pedir para vender. Depende ainda dos valores a que estas pessoas estão dispostas a comprar ou vender. Uma pessoa que queira vender pode necessitar muito de o fazer ou, por outro lado, até pode nem se importar se ninguém quiser comprar as suas acções ao preço que fixou. Pode precisar de converter as suas acções em dinheiro para pagar um carro, ou apenas está a especular o preço para ver se ganha mais.

Quanto à avaliação das empresas, os factos conhecidos são descontados antes de acontecerem. O valor de uma empresa é calculado conforme o seu potencial de lucro futuro.

Isto não quer dizer que as empresas sejam imunes a alterações na legislação dos países, acordos políticos internacionais e outros acontecimentos.

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3.3 O mercado de acções e a economia dos países

Diz-se que o mercado de acções costuma preceder a chamada «economia real»: quando há uma crise no mercado de acções só passado talvez um ano ou ano e meio é que ouvimos os políticos a queixarem-se!

As taxas de juro são das maiores responsáveis pelos grandes pontos de viragem do mercado. A subida das taxas de juro afasta as empresas de pedir crédito porque este fica mais caro. Assim as empresas retraem-se mais, investindo menos, e os lucros passam a ser menores, afectando os resultados ao fim do ano e assim o património (capital) da empresa. Os accionistas são assim afectados porque são os detentores do património.

As taxas de juro são um mecanismo utilizado para «arrefecer a actividade económica». A subida repetida das taxas de juro tem como efeito uma queda nas cotações (note que é o grau de variação das taxas de juro que afecta as acções e não necessariamente o seu valor).

A inflação (aumento geral dos preços ao nível de consumidor), por sua vez, tem um efeito corrosivo no dinheiro e gera ilusões: as pessoas pensam que têm mais dinheiro porque os números são maiores mas conseguem comprar cada vez menos. Como a inflação vai tornando a moeda menos valiosa face a outras, os investidores de fora passam a querer deter menos dessa moeda, fazendo com que esta se desvalorize. Assim, a taxa de câmbio desce e as cotações na Bolsa também.

Mas com uma moeda nacional barata as empresas conseguem exportar mais porque se torna mais barato aos de fora vir comprar. Os importadores terão que pagar mais caro para continuar a sua actividade.

3.4 O mercado é uma corrida de «cavalos»

Muitos investidores imaginam o mercado como uma corrida de cavalos. Cada cavalo é um título cotado. A gestão de uma carteira de títulos é feita permitindo aos nossos melhores «cavalos» correr e trocando os cavalos mais cansados por outros. Um dos ditados mais conhecidos é: deixe os seus lucros correr, corte as suas perdas rapidamente. Mas a rapidez do corte de perdas é uma arte complexa que se vai aprendendo com o tempo. É que às vezes cortamos os ganhos também. Ainda assim, será melhor assumir um ganho do que suportar uma perda.

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3.5 O que faz mexer o mercado?

Em geral, as acções são muito influenciadas por actualizações dos indicadores económicos como a taxa de inflação, a taxa de juro, o preço do petróleo, as taxas de câmbio e os indicadores de emprego. Algumas vezes os efeitos fazem-se sentir no mercado durante apenas um dia, outras vezes o mercado vê-se afectado no eixo da sua tendência.

Depois, cada sector da indústria sofre influências mais fortes ou mais fracas destes ou de outros indicadores. Por exemplo, a aviação comercial é muito afectada pelo preço do combustível. Daí que seja importante conhecer bem as empresas, independentemente do tipo ou estilo de análise que fazemos.

Em terceiro lugar, os resultados trimestrais e anuais das empresas têm grande influência no seu desempenho em Bolsa. Não é garantido que bons resultados de contas façam a cotação subir. Por vezes fazem-na descer.

Em quarto lugar, novidades boas ou más sobre produtos e serviços disponibilizados por uma empresa podem influenciar drasticamente o seu valor de curto prazo. Escândalos financeiros ou processos em tribunal por parte de outras empresas ou consumidores pode fazer descer muito a cotação. Isto pode constituir uma oportunidade para comprar se a empresa for boa. As grandes farmacêuticas são especialmente sensíveis a escândalos que involvem os seus produtos.

Algumas políticas governamentais podem afectar positivamente ou negativamente as acções. Por exemplo, a segunda vitória de George W. Bush em 2004 foi bem recebida pela indústria farmacêutica, dado que havia indicações concretas de que a política do candidato ia beneficiar esta indústria.

Curiosamente, acontecimentos drásticos como furacões ou atentados terroristas como o «11 de Setembro» não afectam a Bolsa de forma consistente ou permanente como seria de esperar. Podem provocar oscilações bruscas, mas que corrigem em pouco tempo.

3.6 As tendências de mercado

As expectativas dos investidores acerca dos movimentos na economia geram ondas nas cotações que se chamam de tendências. Diz-se que o mercado se move em tendências de curto, médio e longo prazo. O tempo que dura cada tendência varia sempre e só a observação do mercado permite-nos perceber a direcção das tendências.

É nessa observação que podemos descobrir as alturas certas para entrar e sair do mercado. Temos que ganhar sensibilidade para perceber em que ponto da tendência se encontram as economias nacionais e em que ponto da tendência se encontra o mercado financeiro.

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Mas é preciso perspicácia. A formação de uma tendência ascendente pode ser mais difícil de se perceber porque é normal demorar mais tempo a formar-se, enquanto que é mais fácil e rápido ver a Bolsa a cair.

3.7 O mercado tem uma vida própria

Num mercado em início de vida, as cotações estão geralmente muito baixas. Diz-se que as empresas estão em desconto. Depois começam a subir pouco a pouco. São dias mais ou menos calmos. As notícias dos canais especializados começam a anunciar subidas todas as semanas. As percentagens de subida num só dia são apetecíveis: 2.5%, 1.4%, 3.29%, 0.46%. Se as cotações sobem durante semanas a fio depois de meses e meses a cair, podemos esperar que já estamos em pleno mercado em subida.

Para conseguir ganhar na Bolsa temos que descobrir, a cada momento, qual é o tempo ideal para manter as acções em nossa posse. Há quem prefira ganhar esperando anos e há quem arranje métodos para manter as acções durante poucos dias. Para saber isso temos que analisar as flutuações dos títulos. Se o mercado estiver a subir bem, podemos mantê-las mais dias, semanas ou meses. Se o mercado não está claramente a subir, as nossas expectativas devem adaptar-se para comprar em quedas temporárias e tomar lucros menores e mais rapidamente.

Existe uma «vida do mercado» mais ou menos assim:

1. Um forte medo faz com que as pessoas vendam a qualquer preço. Isso faz com que os preços caiam. O facto do preço cair alimenta o ciclo do medo, trazendo mais medo e a vontade de vender aos preços oferecido pelos compradores do momento. As notícias nos órgãos de comunicação social começam a ser terríveis. A queda provavelmente acelera ainda mais.

2. Os preços começam a ficar absurdamente baixos, ou seja, o medo faz os títulos descerem de tal forma que as empresas têm as suas acções em desconto claro. Entretanto, a queda começa a tornar-se ligeira ou pára abruptamente. É nesta fase que o medo dá lugar ao pessimismo e à resignação.

3. Os preços vagueiam lateralmente, e as empresas são ignoradas por vendedores desiludidos e compradores de mais curto prazo que também acabaram por vender e se juntaram a esse grupo.

4. Os investidores que acompanham as empresas e sabem que estas possuem um perfil de saúde financeira, inovação, gestão capaz, etc. decidem agir, aguardando a próxima subida geral do mercado. Compram no fim do medo e antes de iniciar o processo de avareza que faz os títulos voltarem a subir. As empresas podem ser ignoradas durante algum tempo, mas essa é a altura de comprar.

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5. Renova-se o ciclo da avareza. Quanto mais se compra, mais os preços sobem, mais se compra e o próprio grau de subida se intensifica. Os preços sobem tanto que às vezes parecem querer subir na vertical. Quanto mais se aproxima o fim da subida, mais perigoso é deter títulos. Isto porque começa a funcionar o que podemos traduzir como o jogo do «maior tolo»: há sempre um investidor mais tolo que compra demasiado caro para vender a um tolo ainda maior por um preço mais alto.

Esta descrição em cinco pontos aplica-se ainda a situações em que existe uma queda técnica de preço de um título sem nenhuma razão fundamental. Por vezes os analistas reagem mal e provocam quedas temporárias, que começam a recuperar poucos dias depois.

3.8 Velocidades diferentes, expectativas diferentes

O mercado funciona a velocidades que variam consoante a sua «idade». Quando é um recém-nascido sobe passo a passo, quando é um adolescente começa a acelerar, quando é adulto começa a atingir o seu pico a grande velocidade, quando envelhece sobe lentamente e quando morre começa a cair.

Os americanos costumam dizer que o touro sobe pelas escadas e o urso atira-se da janela. O touro, que simboliza o mercado em subida, é lento e gradual na sua subida. O urso, símbolo do mercado em que os preços caem, é violento e rápido. Esta é uma das regras mais importantes do funcionamento da Bolsa.

Se detectamos um mercado em início de subida, essa é a altura de comprar acções com o objectivo de as vender quando o mercado envelhece. É uma forma de investimento mais calma em que se vai acompanhando as subidas ao longo de alguns meses. Ao início é preciso paciência. A meio caminho é preciso nervos de aço e quando o mercado envelhece é necessário bom senso para vender tudo antes que comece a cair.

Mas se estivermos a comprar num mercado envelhecido é necessário cautela e ajustar as nossas expectativas. Deixamos de pensar em conseguir 10 ou 15% para nos contentarmos com 5%, 3% ou até pouco mais de 1%, tendo em conta que, mais dia menos dia, teremos que deixar o mercado até que este se renove.

Assim, para cada momento da vida do mercado devemos fazer uma avaliação da percentagem que será possível obter e ajustar dinamicamente a nossa expectativa.

Normalmente fazemos uma projecção do valor que atingimos a cada momento.

Para um investimento de 2500 euros, temos:

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2500    0%      =>      02500    1%      =>      252500    2%      =>      502500    3%      =>      752500    4%      =>      1002500    5%      =>      1252500    6%      =>      1502500    7%      =>      1752500    8%      =>      2002500    9%      =>      2252500    10%     =>      2502500    11%     =>      2752500    12%     =>      3002500    13%     =>      3252500    14%     =>      3502500    15%     =>      3752500    16%     =>      4002500    17%     =>      4252500    18%     =>      4502500    19%     =>      4752500    20%     =>      500

Vemos que, para 2500 euros, podemos ganhar 200 ou mais euros num mercado em subida. A estes valores devemos subtrair as comissões da transacção de compra e da transacção de venda. Por exemplo, se estamos com 2500 euros a 6%:

2500 x 0.06 - comissão de compra - comissão de venda

3.9 O tempo e os resultados

Na Bolsa, o tempo não funciona como nos nossos relógios de pulso: às vezes é muito rápido, às vezes muito lento, e por vezes parece estar parado. Daí que a observação dos mercados nos leva a descobrir formas de medir a velocidade das coisas. Depois, é preciso estarmos sincronizados com a velocidade certa, própria de cada período. Alguns instrumentos simples podem ajudar a descobrir alterações de velocidades, tendências e oportunidades, sendo o VIX (Volatility Index) um dos mais interessantes.

Neste índice conseguimos ver pontos de viragem do mercado: se atinge um pico e inicia uma descida, o mais provável é que as nossas acções comecem a subir. Se cai para novos valores mínimos e começa a reverter para cima, as nossas acções ou mesmo toda a Bolsa irá registar uma fase de queda.

A medição de cada tempo e amplitude de cada fenómeno observado faz-nos ganhar experiência e confiança para escolher os nossos pontos de entrada e saída do mercado.

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Assim, é fundamental descobrirmos se o nosso tempo de análise está adaptado ao tempo do mercado. A volatilidade, que mede o grau de variação (para cima ou para baixo) dos preços, sobe quando o mercado está em queda e desce quando o mercado sobe. Sabemos também que as subidas são lentas e que as descidas são geralmente abruptas.

Para um investidor que compra e vende acções comuns, um ambiente de volatilidade alta significa que o tempo é muito curto para obter mais-valias e o risco é maior. Assim, uma hipótese é esperar uma subida histórica de volatilidade e depois o início consistente de uma queda. É provável que, durante algum tempo, possamos investir sem grandes preocupações.

3.10O mercado raramente muda

No meio de um número infinito de acontecimentos, fenómenos, oscilações, como é possível dizer que o mercado raramente muda? Estatisticamente há efeitos previsíveis no mercado. Alguns exemplos, que podem ser mais válidos ou menos válidos:

1. No início do mês os títulos podem sofrer alterações fortes que marcam a evolução dos dias seguintes;

2. A sexta-feira que se segue ao dia 15 de cada mês costuma ser dia de expiração de opções - águas demasiado turbulentas para vários tipos de investidores;

3. O mês de Agosto costuma ser marcado por uma oscilação de cotações (volatilidade) mais baixa. Muitos investidores estão de férias.

4. Os últimos três meses do ano costumam ser marcados por optimismo nos mercados.

5. A primeira hora de negociação costuma oscilar bastante devido a ordens acumuladas desde o dia anterior;

6. A última hora de negociação costuma acentuar para cima ou para baixo a tendência que o título estava a seguir;

7. A meio da sessão tomam-se muitas decisões, antecipando-se muitas vezes como fechará a sessão.

Não é necessário procurar estes fenómenos. A nossa análise dos títulos fornece-nos diariamente novas visões. Eles simplesmente aparecem-nos à frente quando nos dedicamos a acompanhar os mercados.

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3.11É melhor investir a curto, médio ou longo prazo?

O curto, médio ou longo prazo não têm uma definição exacta e dependem da leitura que fazemos do mercado. É normal considerar o curto prazo como qualquer período menor que um mês, o médio prazo até um ano e o longo prazo qualquer número maior que um ano. Mas também é normal considerar curto prazo tudo o que for abaixo de um ano. Provavelmente a nossa ideia destes três prazos tende a ficar cada vez mais reduzida no tempo face às ferramentas de investimento que permitem diminuir cada vez mais o tempo físico.

Para um gestor de fundos que trabalhe com somas gigantescas, uma pessoa que compre acções e as mantenha por um mês pode ser chamada de especuladora de muito curto prazo. Outra pessoa que considere um mês como curto prazo, chamará de especulador a uma pessoa que compre de manhã e venda à tarde.

O tempo que mantemos os títulos na nossa carteira tem a ver com a questão da previsibilidade. É impossível prever o futuro mas, se fazemos compras, é porque esperamos que o preço suba por algum motivo lógico. Alguns investidores não acreditam no curto prazo: dizem que é o domínio do caos, onde operam especuladores que fazem as cotações oscilarem sem uma base sustentável. Só o longo prazo nos faz invisíveis aos especuladores e torna possível determinar mais ou menos a direcção das cotações.

Outros investidores, com imensa experiência e resultados comprovados, dizem que é precisamente o contrário: se temos o conhecimento do dia de hoje, se temos uma linha de tendência definida na cotação, se sabemos o que se passa na empresa, não é mais fácil prever os próximos três ou quatro dias? O futuro mais longínquo é também o mais obscuro, por isso as estratégias devem ser dedicadas ao muito curto prazo.

3.12Os mercados bolsistas e os câmbios

Se o dólar estiver claramente a subir poderá ser melhor investir nas praças de Nova Iorque e beneficiar da subida cambial. Se o euro estiver a subir, poderá escolher praças europeias para ganhar paralelamente com a subida do euro. Para isso basta manter duas contas na sua corretora: uma em euros e uma em dólares, fazendo transferências internas dos valores de uma conta para outra conforme a necessidade.

Os investidores podem assim saltar para empresas fortemente exportadoras, sedeadas em países com moeda temporariamente desvalorizada, e que exportam para países com moeda valorizada.

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3.13Qual é o melhor índice para seguir?

Os índices funcionam como se fossem títulos cotados e têm o objectivo de representar um determinado mercado nas suas subidas e descidas diárias. Conforme variam as cotações ao longo da negociação, cada índice reflecte, através de um valor, o estado do mercado que representa. Assim se pode ver a evolução desse mercado ao longo dos dias, meses e anos.

Os índices podem representar um mercado específico ou abranger vários mercados. Há índices que representam apenas 30 empresas, outros representam 100 ou 500 e outros podem chegar a mostrar a evolução de 2000 e 5000.

Há índices vocacionados para sectores específicos da indústria ou para empresas de pequena ou grande dimensão. São calculados também de formas diferentes. Uns atribuem o mesmo peso a todas as empresas que o integram, outros dão mais relevância a empresas com maior desempenho na Bolsa.

É aconselhável conhecer vários índices e visualizá-los a representar o mesmo período de tempo, para que possa decidir qual é o que mais se adapta a si.

Você também pode criar os seus índices se achar que consegue representar melhor o mercado tendo em conta o seu tipo de análise e os seus objectivos.

3.14Detectar o início da subida

Quando as acções caem fortemente é preciso ser muito paciente para saber quando obtemos uma tendência de subida. A maneira mais lógica é deixar pacientemente as acções subirem durante algum tempo. Se as subidas são claras temos a oportunidade de beneficiar de parte dessa subida com mais segurança. Tudo depende dos nossos métodos: se tivermos como princípio a compra de acções de empresas sólidas e inovadoras, podemos arriscar mais cedo.

3.15Alteração da lógica do mercado

Um mercado em subida consistente segue algum tipo de lógica que devemos procurar entender, sobretudo relativa ao ambiente psicológico criado. Por vezes, alterações bruscas dessa lógica, ainda que por um período muito curto, podem significar o fim da tendência e dos lucros para o investidor em acções.

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3.16Acções baratas sobem primeiro

Um dos fenómenos que continua a fazer o mercado é o comportamento das acções de empresas mais pequenas e baratas. Se desenharmos um gráfico para comparar a evolução de um conjunto de acções baratas versus um conjunto de acções das maiores empresas, temos a primeira linha a dar indicações valiosas sobre o que vai acontecer às empresas maiores no futuro próximo.

Vemos assim que também existem duas velocidades: a das acções baratas e a das acções caras. A vantagem é usar empresas mais perigosas para mostrar o ambiente no qual se movem as empresas mais sólidas. Assim, uma ideia é fazer um índice com o preço de um cabaz de títulos de baixo valor. Um gráfico que mostre a evolução das duas linhas torna-se útil para percebermos os melhores momentos para entrar e sair.

3.17Para onde vai o dinheiro?

A força da procura faz subir a cotação. Enquanto que os activos a circular são relativamente estáveis, com algumas empresas a dispersar capital na Bolsa enquanto que outras lançam ofertas públicas de aquisição dessas acções dispersas, o seu valor em dinheiro varia muito em função do mercado.

Para se protegerem ou abraçar melhores oportunidades, os investidores podem vender ao melhor preço possível para adquirir activos ditos mais «seguros» fora da Bolsa, como ouro, obrigações do Tesouro, aplicações bancárias a prazo, etc., fazendo assim cair o valor desse capital em actividade.

É por isso importante acompanhar as razões que levam os investidores a interessarem-se por adquirir activos em Bolsa ou tentarem livrarem-se deles para adquirir outros fora deste mercado. As condições que dão os motivos a esses investidores podem intensificar-se ou mesmo deixar de existir, voltando a provocar oscilações na Bolsa que podemos aproveitar.

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4 Parte III: Desenvolver a sua estratégia

4.1 Saber em que fase está o mercado

A nossa decisão de entrar num negócio comprando acções deverá ter em consideração em que fase está o mercado. Quanto mais dias se prolongarem estas fases, mais devemos prestar atenção pois aproxima-se uma mudança que nos pode ser favorável. Você pode criar as suas leituras da situação do mercado, mas alguns termos são genericamente aplicados para descrever certos fenómenos:

«Rally»: o mercado sobe rapidamente e o optimismo cresce cada vez mais. Se entrarmos numa fase tardia de rally (quando os gráficos sobem «quase na vertical») é quase certo que teremos que vender com prejuízo ou ficar à espera que o nosso título recupere mais tarde;

«Consolidação»: Quando termina um rally, um bom indicador é ver que, apesar do mercado ter subido, não sofreu uma queda, mas oscila com se estivesse a descansar da subida, fazendo um «degrau». Normalmente são dias de preparação para mais subidas;

«Correcção»: Depois do mercado subir demasiado passa alguns dias a «corrigir», descendo para valores mais realistas;

«Flat»: Em certos dias, semanas, ou até meses pode ver-se que o mercado apresenta-se sem acção, com relativamente poucos títulos a serem transaccionados;

«Rebound»: Depois de uma forte queda, o mercado sobe rapidamente pelo menos durante uma parte de tempo que levou a cair. É perigoso entrar nesta altura, mas quem o sabe fazer consegue boas mais-valias;

Seja qual for a forma que usa para classificar o estado do mercado, é importante saber em que águas se move quando decide fazer um negócio.

4.2 Utilizar um sistema de investimento

Para que possamos medir os nossos resultados, investir com segurança e aprender constantemente, devemos ter um conjunto de regras simples para entrar no mercado comprando títulos e sair do mercado vendendo-os. Não existem regras fixas! A nossa experiência é que nos faz reflectir e criar regras.

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As regras de outras pessoas nem sempre funcionarão connosco porque temos demasiadas diferenças psicológicas e comportamentais, além de diferentes expectativas.

Por exemplo, um sistema básico pode ser assim descrito:

1. Acompanhar as notícias esperando que o mercado atinja o fundo;

2. Analisar quais os sectores que podem subir mais no futuro;

3. Escolher empresas desses sectores analisando a sua saúde financeira e capacidade;

4. Aguardar até começar a haver sinais de subida geral do mercado;

5. Constituir uma carteira das 4 melhores empresas.

Um conjunto de regras como este é chamado de «sistema». Cada pessoa tem pelo menos um, que pode ir de alguns tópicos apontados num bloco de apontamentos a vários sistemas informáticos com inteligência artificial para acompanhar os mercados diariamente. Em todo o caso, não existem soluções milagrosas e é a experiência que nos vai dizendo o que funciona e o que não funciona. O importante é perceber como gerir o nosso dinheiro e como entrar no mercado fazendo compras, como esperar, e como sair fechando as vendas.

4.3 Na Bolsa não se prevê o futuro

Muitos tentam desenvolver métodos tão fabulosos como obscuros para «prever o futuro» nos mercados, recorrendo a programas de computador e a superstições técnicas, delirando perante centenas de padrões gráficos aos quais são atribuídas as causas e as consequências de tudo. Os maiores investidores não fazem bem isto - seguem as suas estratégias trabalhando pacientemente no presente, que é a única coisa que têm! Os bons resultados normalmente são reflexo de muitos milhares de causas que operam em simultâneo e que nada têm a ver com o nosso método. Por isso devemos estar sempre prontos a aceitar uma falha futura nos nossos métodos de investimento.

Mesmo alguns que não interpretam obscuramente os números, os gráficos ou os acontecimentos, podem manter a ideia de «prever o futuro». A experiência parece mostar que o mais importante não é prever o futuro, mas sim trabalhar para conseguir prever as nossas próprias reacções no futuro quando determinadas coisas acontecem. Quando temos falta de experiência muitas vezes damos por nós a concluir correctamente mas a falhar ou atrasar a execução das nossas decisões.

Quando conseguimos fazer boas análises das empresas e cotações, a necessidade de prever o futuro torna-se mais irrelevante. Iremos comprar

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devido ao resultado da nossa avaliação das empresas. Mas isto não nos impede de aceitar que, quando se compra, é obviamente porque acreditamos na subida ou então tudo perderia o sentido.

4.4 Será que os padrões funcionam?

Se analisarmos as cotações ao longo do tempo descobrimos fascinantes padrões de comportamento que se repetem mais ou menos de forma similar, antecipando fielmente as subidas ou descidas. Os padrões, sejam vistos em gráfico ou por análise numérica, de facto existem.

Acontece que muitos padrões não representam a causa efectiva das coisas, reduzindo o nosso esforço a uma mera procura de coincidências. Se os dados que tivéssemos fossem aleatórios, seria na mesma possível encontrar padrões tão claros e interessantes. Ou seja, não foi por causa do aparecimento do padrão num determinado momento que o nosso título subiu.

Há, no entanto, muitos fenómenos que conseguimos identificar no mercado e que ajudam a formar a nossa decisão, sendo o uso de gráficos essencial para os compreender.

4.5 Acompanhar os índices ou empresas individualmente?

Esta questão é muito relativa ao método que usamos a cada momento. Existem métodos que se concentram em analisar fenómenos típicos de um título que em nada se relacionam com o mercado, por exemplo, um súbito processo em tribunal que faz descer abruptamente a cotação de apenas uma empresa cotada. Existem outros que procuram dar sinal de compra quando o mercado está baixo e determinar quando é que o mercado atinge o topo.

Uma estratégia boa é conhecer muito bem as empresas e depois aguardar pacientemente a altura certa para as comprar. Os índices representam o mercado em geral e são muito úteis dado que podem determinar alturas em que é seguro entrar no mercado. Se entrar no mercado comprando títulos de empresas que conhece muito bem, as hipóteses são ainda maiores.

Diz-se que na Bolsa não compramos o mercado, mas acções de empresas específicas. É verdade, mas se o mercado estiver a cair, três em cada quatro empresas estarão a cair, o que diminui a nossa probabilidade de acertar. O inverso também acontece: num mercado em plena subida, 75% dos títulos sobe e quase poderíamos escolhê-los sem pensar!

É preciso ver também que, dar demasiada atenção aos índices pode diminuir a nossa capacidade de avaliar empresas, dado que acabamos por ver apenas «médias» que escondem oportunidades importantes.

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A sua estratégia poderá incluir objectivos como:

1. Conhecer profundamente um determinado número de empresas para acompanhar futuramente. O número de empresas pode ser tão poucas como cem ou tantas como dez mil;

2. Analisar o mercado para saber se vale a pena fazer análises específicas de cada empresa; em caso de dúvida sobre a direcção do mercado, esperar mais um ou dois dias;

3. Esperar por sinais que se manifestem e que alertem para a necessidade de ver a situação de determinada empresa;

4. Antes de comprar, acompanhar a primeira hora da sessão, ou acompanhá-la até à hora de almoço, para deixar que as ordens acumuladas se processem e se perceba em que direcção o título está a seguir;

5. Verificar em que direcção o título segue para aproveitar a última hora da sessão ou vender antes dos investidores intradiários;

6. Monitorizar uma lista fixa de empresas atribuíndo a cada uma pontuação quanto ao grau de inovação, resultados contabilísticos, solidez do negócio e outros parâmetros considerados importantes. Esta lista serve como base para uma pré-selecção de empresas.

4.6 Na Bolsa, a História repete-se

Teoricamente, como criaturas de hábitos que somos, é natural que ao operarmos na Bolsa se formem alguns momentos em que o mercado parece muito previsível. É importante lembrar o seguinte: se o mercado fosse totalmente previsível, então a Bolsa que conhecemos não existiria porque as acções que fossem subir não seriam vendidas e as que fossem descer ninguém as quereria. É o risco que cria a oportunidade: as pessoas dividem-se entre os ambiciosos que querem seguir em frente e os cépticos que têm medo. Tudo se reduz ao medo e à esperança: como dizia Jesse Livermore, um dos maiores especuladores da Bolsa, são os dois únicos sentimentos que existem no mercado.

A crença das multidões numa determinada leitura técnica pode também causar alguns fenómenos de previsibilidade do mercado durante algum tempo, mas isso é temporário, dado que todos tentam depois antecipar esses padrões conhecidos, acabando por destruí-los pois o curso dos acontecimentos é ele próprio modificado.

Seguindo a ideia de que existem padrões técnicos na Bolsa, podemos até aceitar que a História se repete, mas com variações dentro dessa repetição. O grande desafio que nos fascina é perceber a ordem subjacente a esse caos.

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Por vezes é espantoso ver como se repetem esses padrões, outras vezes como é decepcionante verificar que isso é ilusório.

Já foram gerados gráficos com oscilações aleatórias ou retiradas de leituras de alguma fonte electrónica e é surpreendente ver como essas formações aparentam formar padrões exactamente iguais às cotações da Bolsa. A crença em padrões fez desenvolver uma escola mundial de análise técnica que divide os investidores entre aqueles que usam esse tipo de análise e os que a rejeitam.

Há, no entanto, acontecimentos nas próprias empresas com resultados previsíveis, mas cuja ocorrência nem sempre é fácil de prever. Por exemplo:

1. Quando uma empresa despede trabalhadores é normal haver subida nas suas cotações;

2. Um escândalo nas contas da empresa pode atirar a cotação para baixo durante meses;

3. A compra de outra empresa será vista positiva ou negativamente, reflectindo-se na cotação com efeitos que podem ser notados por meses ou anos;

4. Se a moeda nacional do país estiver barata, o país está a atrair investidores e isso vai reflectir-se mais tarde nas cotações;

5. Quando um Director Executivo é claramente péssimo, obviamente podemos esperar maus resultados que levarão à queda da cotação. Em seguida esperamos que o mesmo seja substituído e que a cotação volte a subir em reacção a isso.

Os vários tipos de análise devem ser complementados para formar uma decisão final. Só conhecendo profundamente o estado da empresa em que investimos é que podemos puxar ao limite o potencial da sua valorização futura.

4.7 Utilizar as notícias

Muitos analistas técnicos dizem que as notícias são inúteis. O nosso conhecimento sobre o interior das empresas é sempre limitado e, quando as notícias são divulgadas, a rapidez de reacção dos mercados é tal, que é impossível chegarmos a tempo para aproveitar a situação.

Mas conhecer as novidades de cada empresa serve para aproveitarmos significativos efeitos secundários das notícias. Por exemplo, se o mercado está a subir e uma notícia faz temporariamente o preço de uma empresa cair, nós

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podemos analisar os acontecimentos e facilmente ver se as causas da queda são temporárias. Então iremos acompanhar as cotações durante alguns dias para perceber se vale a pena comprar, beneficiando de uma subida muito mais rápida.

4.8 Perceber que resultados iremos obter

Se reduzirmos a números uma determinada estratégia, então podemos partir para algumas simulações dos possíveis resultados que iremos obter ao longo do tempo. O problema mais difícil é saber estar fora do mercado quando é necessário estar fora do mercado, e dentro quando é preciso estar dentro. Como tudo, o investimento na Bolsa pode ser mais um vício ou obsessão do que um plano concebido como complemento de investimento financeiro.

Assim, é necessário fazer contas. Vamos supor que temos 15000 euros iniciais e a disponibilidade financeira para fazer um reforço mensal da nossa conta com 100 euros por mês. Vamos ainda partir do princípio que conseguiremos uma média mensal de 1%. Temos aqui uma estratégia mínima de investimento, mas qual é o resultado disto se for colocada em prática ao longo de 20 anos? Se conseguimos 12% ao ano e temos, a cada mês que passa, mais 100 euros para juntar à conta de investimentos, quanto ganharemos?

Teremos que considerar quantas transacções fazemos em média por mês e os impostos a pagar. O número de transacções é de grande importância já que, a 20 anos, pode significar uma fortuna. Isto porque, por cada negócio, além do dinheiro que deixamos de ter disponível, perdemos também o valor da sua multiplicação no futuro pela acção do investimento e isso agrava-se com o aumento de transacções.

A primeira coisa a fazer é testarmos se somos capazes de obter uma percentagem média de 1% ao mês derivada da nossa perícia como investidores. A flutuação cambial também é considerada, por isso é importante monitorizar, não percentagens, mas a nossa posição financeira real (o valor em dinheiro de toda a conta, como se as acções estivessem todas vendidas) ao longo do tempo.

O exemplo seguinte mostra como é necessário fazer simulações da nossa estratégia, pelo menos para ter uma ideia mais aproximada dos resultados. A seguir temos a simulação básica do que falamos:

Capital inicial: 15000 eurosPercentagem mensal conseguida: 1%Número de negócios por mês (compra e venda): 1Total de comissões por cada negócio: 31.1 eurosPercentagem de imposto sobre mais-valias (anual): 10%Reforço mensal da conta: 100 euros

Mês Capital Lucro/mês

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Mês 1 15000 119 Mês 6 16117 130 Mês 12 17532 144 Mês 18 18869 158 Mês 24 20453 173 Mês 30 21935 188 Mês 36 23708 206 Mês 42 25351 222 Mês 48 27335 242 Mês 54 29158 260 Mês 60 31375 283 Mês 66 33398 303 Mês 72 35877 328 Mês 78 38123 350 Mês 84 40892 378 Mês 90 43387 403 Mês 96 46480 434Mês 102 49252 461 Mês 108 52706 496 Mês 114 55786 527 Mês 120 59642 565 Mês 126 63066 600 Mês 132 67370 643 Mês 138 71177 681 Mês 144 75980 729 Mês 150 80214 771 Mês 156 85573 825 Mês 162 90283 872 Mês 168 96261 932 Mês 174 101500 984 Mês 180 108169 1051 Mês 186 113998 1109 Mês 192 121436 1183 Mês 198 127923 1248 Mês 204 136217 1331 Mês 210 143437 1403 Mês 216 152685 1496 Mês 222 160722 1576 Mês 228 171034 1679 Mês 234 179980 1769 Mês 240 191476 1884

Mais-valias líquidas:

Ano 1: 1419 (1576 total; Imposto: 158)Ano 2: 1717 (1908 total; Imposto: 191)Ano 3: 2050 (2278 total; Imposto: 228)Ano 4: 2421 (2691 total; Imposto: 269)Ano 5: 2835 (3150 total; Imposto: 315)Ano 6: 3295 (3662 total; Imposto: 366)

Page 53: Manual Da Bolsa

Ano 7: 3809 (4232 total; Imposto: 423)Ano 8: 4380 (4867 total; Imposto: 487)Ano 9: 5017 (5575 total; Imposto: 557)Ano 10: 5727 (6363 total; Imposto: 636)Ano 11: 6517 (7242 total; Imposto: 724)Ano 12: 7398 (8220 total; Imposto: 822)Ano 13: 8380 (9311 total; Imposto: 931)Ano 14: 9473 (10526 total; Imposto: 1053)Ano 15: 10691 (11879 total; Imposto: 1188)Ano 16: 12049 (13388 total; Imposto: 1339)Ano 17: 13561 (15068 total; Imposto: 1507)Ano 18: 15246 (16940 total; Imposto: 1694)Ano 19: 17123 (19026 total; Imposto: 1903)Ano 20: 19215 (21350 total; Imposto: 2135)

Capital inicial: 15000Reforço mensal da conta: 100Total de reforços: 24000Valor na conta: 191325Total lucro após 20 anos: 152325

Este exemplo, além de muito básico, não parece interessante para quem deseja ficar milionário, mas é preciso notar que tivemos um investimento de apenas 15000 euros e um total de reforços de conta de apenas 24000 euros ao longo de um período de 20 anos. Ao fim destes 20 anos recuperamos os 15000 euros iniciais, os reforços mensais e, pagando todas as comissões e impostos, conseguimos mais de 150000 euros.

Para ganharmos mais é preciso ter um valor inicial de investimento muito superior ou então trabalharmos as nossas capacidades para conseguir, por exemplo, mais três décimas de percentagem por mês. Mantendo os 15000 euros, o resultado a 1,3% ao mês será este:

Simulação básica de mais-valias II

Capital inicial: 15000Percentagem mensal conseguida: 1.3%Número de negócios por mês: 1Total de comissões por cada negócio: 31.1Percentagem de imposto sobre mais-valias (anual): 10%Reforço mensal da conta: 100

Mês 1 15000 164Mês 6 16354 182Mês 12 18099 204Mês 18 19750 226Mês 24 21768 252Mês 30 23657 276Mês 36 25991 307Mês 42 28155 335Mês 48 30850 370

Page 54: Manual Da Bolsa

Mês 54 33330 402Mês 60 36443 443Mês 66 39287 480Mês 72 42880 526Mês 78 46143 569Mês 84 50288 623Mês 90 54033 671Mês 96 58814 733Mês 102 63113 789Mês 108 68626 861Mês 114 73564 925Mês 120 79919 1008Mês 126 85592 1082Mês 132 92916 1177Mês 138 99434 1262Mês 144 107873 1371Mês 150 115365 1469Mês 156 125088 1595Mês 162 133700 1707Mês 168 144900 1853Mês 174 154801 1981Mês 180 167701 2149Mês 186 179086 2297Mês 192 193943 2490Mês 198 207035 2660Mês 204 224145 2883Mês 210 239202 3079Mês 216 258903 3335Mês 222 276222 3560Mês 228 298906 3855Mês 234 318827 4114Mês 240 344945 4453

Mais-valias líquidas

Ano 1: 1983 (2203 total; Imposto: 220)Ano 2: 2463 (2737 total; Imposto: 274)Ano 3: 3016 (3351 total; Imposto: 335)Ano 4: 3652 (4058 total; Imposto: 406)Ano 5: 4384 (4871 total; Imposto: 487)Ano 6: 5227 (5808 total; Imposto: 581)Ano 7: 6197 (6885 total; Imposto: 689)Ano 8: 7313 (8125 total; Imposto: 813)Ano 9: 8597 (9552 total; Imposto: 955)Ano 10: 10075 (11195 total; Imposto: 1119)Ano 11: 11777 (13085 total; Imposto: 1309)Ano 12: 13735 (15261 total; Imposto: 1526)Ano 13: 15988 (17765 total; Imposto: 1776)Ano 14: 18582 (20646 total; Imposto: 2065)Ano 15: 21566 (23963 total; Imposto: 2396)

Page 55: Manual Da Bolsa

Ano 16: 25001 (27779 total; Imposto: 2778)Ano 17: 28955 (32172 total; Imposto: 3217)Ano 18: 33505 (37228 total; Imposto: 3723)Ano 19: 38741 (43046 total; Imposto: 4305)Ano 20: 44768 (49742 total; Imposto: 4974)

Capital inicial: 15000Reforço mensal da conta: 100Total de reforços: 24000Valor na conta: 344524Total lucro após 20 anos: 305524

Este exemplo serve tão só para mostrar a importância de factores que parecem insignificantes. Conseguindo mais três décimas por mês, mantendo igual o restante, temos aqui o dobro de mais-valias em relação ao exemplo anterior.

Agora tudo parece bem, mas... e a inflação? A inflação devora-nos uma fatia importante do nosso dinheiro ao longo deste tempo! O atractivo deste investimento é que o potencial de valorização está nas nossas mãos, e não em esperar que as coisas dêem certo.

5 Parte IV: Análise de acções

5.1  Selecção de títulos: os amadores e os profissionais

Os investidores amadores concentram a maior parte das suas preocupações na escolha dos títulos, enquanto que os profissionais atribuem mais peso às formas de preservar o capital e gerir o risco. Os inexperientes mudam facilmente de métodos e procuram fórmulas certas, enquanto os profissionais procuram aperfeiçoar uma base de conhecimento amplo.

5.2 Analisar as acções

Existem duas grandes escolas que dividem teoricamente os analistas: os que defendem a «análise técnica» ignoram a situação financeira das empresas e analisam gráficos com cotações e indicadores. Os que defendem a chamada «análise fundamental» centram-se nos aspectos contabilísticos das empresas e preferem recorrer aos relatórios de contas anuais e trimestrais.

Page 56: Manual Da Bolsa

A análise técnica baseia-se na ideia de que existem padrões gráficos que permitem prever subidas ou descidas futuras. Medições com médias e linhas de tendência mais sofisticadas são usadas para determinar se um título é bom para comprar ou vender. O problema desta análise é que os gráficos enganam e os indicadores, embora funcionem muito bem em determinados períodos, são bastante falíveis e desactualizam-se com o tempo.

Os instrumentos usados pelos analistas técnicos dividem-se normalmente em dois: indicadores e osciladores.

Os indicadores são instrumentos como linhas de média (médias móveis), que assumem valores por cima ou por baixo da linha do preço para significar algo. Os osciladores formam linhas que oscilam dentro de determinados limites de valor, como zero e 1 ou zero e 100.

A análise fundamental é mais de cariz contabilístico e de gestão. É orientada para investir a longo prazo. Mas, acontece que uma empresa não é apenas o seu relatório de contas e o seu conselho de administração, pelo que este tipo de análise também está sujeita a um conjunto próprio de problemas.

Em anos recentes desenvolveu-se muito um tipo de análise chamada quantitativa, mais na linha da estatística, da probabilidade e da inteligência artificial, que recusa a ideia dos populares padrões gráficos e que medem relações de força do mercado e padrões invisíveis, multidimensionais, impossíveis de representar em gráfico. Este tipo de análise estará também sujeito às suas falhas mas ajuda bastante a decidir.

Uma boa ideia é conjugar os três tipos de análise, por exemplo, desta forma:

1. Conhecer bem a empresa onde vai investir. O conselho de administração é competente? A empresa é inovadora? A empresa tem produtos ou serviços muito difíceis de serem prestados por outras empresas? Tem processos em tribunal que provalvelmente lhe retirem lucros?

2. Verificar se os gráficos registam uma queda de cotação que começa a claramente a recuperar, ou uma subida que ignora consistentemente as descidas do mercado;

3. Da análise de outras empresas, determinar quantos dias deverá ter o título em carteira e qual é a percentagem média que tem sido possível obter com outros negócios recentes semelhantes. É normal que seja um valor como 2,5% ou 6%.

Em todo o caso, a experiência diz que o meio é a virtude e que os três métodos de análise podem ser perfeitamente complementares uns dos outros.

Há ainda a hipótese de escolher dois ou três sectores de indústria e procurar oportunidades em empresas só desses sectores.

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5.3 Como são constituídos os padrões de mercado?

Muitos procuram descobrir padrões no comportamento das acções para identificar novas oportunidades. Os padrões podem ser formados pela cotação (preço) das acções, pelas quantidades negociadas (volume) ao longo dos dias, pela medição do grau de oscilação do mercado (volatilidade), por um índice que represente o mercado geral (por exemplo, os índices NASDAQ, Wilshire 5000 ou Value Line) e muitos outros indicadores. Podem incluir valores que representam subida nos lucros, etc. Os padrões podem ser relativos a um só dado ou ser compostos por combinações de vários tipos de dados.

Uma regra básica é não deixar que a caça aos padrões ofusque o nosso bom senso, esquecendo factos que ocorrem nas empresas, ignorando que o mercado está em queda forte, etc. Os padrões alertam mas a nossa decisão deve ser bem fundamentada com razões sólidas.

5.4 Como são analisadas as acções?

Há pessoas que visualizam gráficos na Web para detectar padrões técnicos. Outras adquirem aplicações especializadas. Outras seguem directamente as cotações. Outras realizam cálculos matemáticos. Outras usam programas de computador com inteligência artificial. Outras seguem as notícias. Muitas conjugam várias destas fontes com vários métodos que desenvolvem.

Não existem formas comprovadamente melhores de analisar acções e tudo depende das suas capacidades, necessidades, preferências e perfil psicológico, bem como do seu plano. Se tiver queda para a matemática terá certas formas de ver a realidade representada, como através de números que representam forças do mercado. Se for uma pessoa mais intuitiva poderá dar mais atenção às notícias que anunciam alterações no interior das empresas. Em todo o caso a ideia é tomar a medida certa de cada coisa - a crença inabalável em determinada prática costuma ter bons resultados mas só até que comece a falhar.

5.5 Manter a simplicidade dos métodos

Não há notícias de que métodos extremamente complexos funcionem na Bolsa. Além de difícil execução são difíceis de compreender. Já se deu o caso de serem criadas equipas de especialistas técnicos com acesso a supercomputadores e a métodos complexos e, até agora, os resultados não têm sido positivos.

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A ideia é que devemos desenvolver os nossos métodos e, à medida que os criamos e aplicamos, descobrimos os que funcionam melhor e os que funcionam pior para nós. Dá-se o caso de termos métodos bons e surgirem muitas ideias para os aperfeiçoar.

Embora muito atractivos e até eficientes, os métodos que usam inteligência artificial são por vezes constrangedores porque baseiam-se num paradigma de «caixa-negra»: os dados entram, os dados saem, mas é difícil compreender exactamente como é que o computador chegou a determinada conclusão.

5.6 Investir em pequenas ou grandes empresas?

Há investidores que se especializam em empresas pequenas (small-caps). A estratégia é conhecer muito bem essas empresas e acompanhá-las. Se tiverem bons gestores, capacidade de inovação, aumento de vendas, etc., eventualmente vão disparar para cima num futuro próximo. Esta técnica é boa, mas bastante arriscada para investidores pouco sofisticados. Implica muita experiência e muita paciência. A possibilidade de uma pequena empresa falir é geralmente maior do que a de uma grande empresa. Note também que uma grande empresa em Portugal é considerada uma empresa minúscula nos Estados Unidos da América.

As grandes empresas (blue chips) possuem muita liquidez (possibilidade de comprar e vender rápido e em grandes quantidades) sendo preferidas por investidores institucionais. São muito mais seguras mas a sua capacidade de gerar rendimentos ao accionista pode ser bastante menor.

5.7 Recuperação de perdas

As perdas são inevitáveis, até num bom sistema de investimento. Por isso são previstas e acauteladas. Mas a perda não é colmatada com um ganho de percentagem positiva igual. Ou seja, se perder 10% num negócio e reinvestir o valor que sobrou, não é com 10% que recupera, mas terá que conseguir 11.2% só para recuperar a perda. Para saber quanto necessita, aqui está uma lista de algumas percentagens:

Perda de        % para recuperar1%            1.1%2%            2.1%3%            3.1%4%            4.2%5%            5.3%6%            6.4%7%            7.6%8%            8.7%

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9%            9.9%10%            11.2%11%            12.4%12%            13.7%13%            15.0%14%            16.3%15%            17.7%

Se se desse o caso de perder 50% do valor, o que poderia acontecer a algum título se ignorasse completamente a sua carteira por alguns meses ou anos, a investir o valor restante teria que conseguir 100% apenas para recuperar o valor perdido (recuperar o valor perdido ou investido é chamado de break-even).

5.8 Ferramentas para análise de investimentos

Os métodos ou formas para decidir fazer compras e vendas variam muito de pessoa para pessoa de acordo com a sua disponibilidade e objectivos. É errado seguir cegamente qualquer tipo de dica ou método de outra pessoa, por mais profissional que se intitule. Ao seguir cegamente conselhos dos outros irá impedir-se de aprender pelos seus próprios meios e ganhar o melhor conhecimento que funciona com as suas características individuais, e que só pode derivar da experiência.

Existem investidores, muitos deles admiradores de Warren Buffet, que acreditam no longo prazo e procuram mais acompanhar a situação financeira das empresas (a chamada análise «fundamental»). Existem outros que centram a sua actividade nos fenómenos técnicos dos mercados como subidas e descidas de cotação ou volume (análise técnica).

Seja como for, o investidor individual está sozinho no processo. A palavra mais importante no investimento financeiro é «disciplina». Será muito difícil ganhar em Bolsa quando se muda de métodos e de objectivos constantemente ou quando se deixa que factores emocionais dominem toda a situação. É impossível aprender com os erros quando não os assumimos e saltamos logo para o «método infalível» seguinte.

Nenhum investidor espera ser infalível, mas os seus métodos prevêem a existência de fracasso e prevêem a aprendizagem a partir desse fracasso. Acontece que, se o investidor conseguir estudar métodos que se adequam à sua personalidade e objectivos, ele ou ela tem esperança de que uma percentagem significativa de negócios tenham êxito.

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5.9 O problema dos gráficos

Embora seja uma questão mais filosófica do que prática, podemos alegar que os gráficos que normalmente são consumidos pelos analistas técnicos têm um problema: a escala varia constantemente, esticando ou encolhendo não só o gráfico no espaço e no tempo mas também a nossa percepção dos acontecimentos! Ou seja, a relação espaço-tempo-valor é coerente no gráfico mas é distorcida face a outro gráfico que tenhamos ao lado.

O escalamento dos dados para caberem dentro de um rectângulo fixo pode provocar, pelo espaço, uma distorção da nossa avaliação quanto ao valor e ao tempo.

Ou seja, utiliza-se o mesmo espaço para representar valores diferentes.

Além disso, e como acontece com qualquer outra ferramenta de análise, a importância que atribuímos a fenómenos representados graficamente pode estar distorcida por causa das muitas forças externas que não estão aí representadas.

5.10Sistemas «mecânicos»

As formas sistemáticas de análise de acções, a que chamamos métodos, são um conjunto de passos para atingir determinado objectivo, neste caso uma compra ou venda. Os métodos de investimento mecânicos são simplesmente versões informáticas (chamadas «algoritmos») dos nossos métodos que criamos e testamos ao longo do tempo. Os investidores sem conhecimentos especiais de informática contratam programadores ou adquirem uma aplicação comercial onde testam as suas estratégias.

É um conjunto de regras simples que definimos para comprar e para vender, mas inseridas num sistema informático. Só quando essas regras são cumpridas é que agimos. As regras podem incluir dados sobre a situação do mercado, a forma de escolher empresas, cálculos percentuais, etc.

Existem três grandes motivos para a existência de sistemas informáticos avançados que nos ajudem a fazer uma análise automatizada:

1. O nosso dia só tem 24 horas e é impossível acompanharmos todos os títulos. Teríamos que fazer milhões de cálculos por dia. Há investidores profissionais que visualizam 10 mil gráficos por dia e, embora possível, a maioria das pessoas não tem tempo para isso, além de que é preciso manter uma disciplina rígida durante longos períodos de tempo. Este é um problema de tempo e de quantidade de processamento.

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2. Muitos fenómenos de mercado, por mais que os estudemos, são invisíveis à nossa capacidade de análise. As relações entre fenómenos ou indicadores de mercado são praticamente infinitas e o nosso tempo de vida não nos permite perceber tudo, por mais esforço que façamos. É um problema de capacidade de visão, de ver aquilo que é invisível.

3. As nossas emoções são normais mas distorcem a razão quando tomamos decisões tão frias como as de comprar um determinado título. Um sistema mecânico funciona como um guia que nos ajuda a manter as emoções no lugar em que sejam bem-vindas.

São criados muitos sistemas para acompanhar o mercado diariamente, fornecendo pistas importantes que reduzem a nossa análise de uma lista de milhares de títulos a um grupo de poucos, sendo superior a qualidade final da escolha.

Os sistemas ajudam também a tirar muitas dúvidas sobre o funcionamento dos mercados. Por exemplo, avaliando a utilização dos seus métodos, poderá concluir que existe uma probabilidade forte de ver um título cair quando atinge percentagens que rondam os 7% em determinadas alturas do mercado.

Mas sistemas muito rígidos, que parecem num determinado momento funcionar muito bem, caem no ridículo passados poucas semanas ou meses, porque entretanto outras variáveis que não esperavamos passam a entrar em funcionamento. O sonho de muitos é criar sistemas informáticos suficientemente inteligentes e adaptativos, que aprendam sozinhos a investir tão bem ou melhor que os humanos.

Note que 99% dos «osciladores» e indicadores clássicos de mercado, acessíveis publicamente, falham, e que 99% dos sistemas mecânicos falham! Mas poderá acreditar que um sistema seu, desenvolvido e testado com cuidado, ultrapassará muito a performance dos sistemas que encontra na Internet. Além disso, ajudar-lhe-á a extrair dados valiosos sobre o funcionamento do mercado.

Os grandes investidores usam sobretudo a sua experiência mas são ajudados por sistemas mecânicos que desenvolvem para testar as suas ideias. Mas cuidado: pode usar o último grito em inteligência artificial, mas não deixe de fazer uma análise recorrendo aos seus próprios neurónios!

5.11Métodos que usam inteligência artificial

Os anos 80 foi ressuscitada a ideia de colocar um sistema informático a «aprender», após um período de trevas causado pela ausência de fundos para investigação nesta área. Muitos investigadores procuraram fazer surgir novas formas matemáticas e informáticas de resolver problemas. De comum tinham o objectivo de fazer com que um computador fosse capaz de agrupar padrões complexos não por serem iguais mas por serem mais ou menos semelhantes.

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O problema não se limitava a isso: o grande objectivo continua a ser o de fazer um computador generalizar a partir de exemplos, como faz um ser humano.

Além de generalizar, a ideia é dar ao sistema informático a capacidade de se adaptar a situações em evolução. Para isso foi aproveitada a Teoria da Evolução das Espécies para criar sistemas compostos por agentes, nos quais os mais aptos sobrevivem e os menos aptos desaparecem.

Uma das aplicações destes sistemas são exactamente os mercados financeiros, onde é necessária a capacidade de nos adaptarmos a condições em constante mudança perante padrões complexos.

É de notar que os computadores ainda não conseguem fazer inteiramente esta tarefa com êxito, limitando-se a aprender padrões repetitivos e tendo muito fraca capacidade de generalizar. Mas a evolução neste campo tem sido significativa. Embora possa descobrir que 95% de tudo o que lê sobre o assunto é irrelevante, ainda assim encontrará pistas valiosas nesta área para desenvolver os seus métodos. A Internet é praticamente o único local onde poderá descobrir novas tendências da inteligência artificial.

5.12Os métodos funcionam sempre?

Chamamos aqui de métodos a várias formas de análise sistemática (repetitiva), que podem recorrer a linhas de indicadores ou de osciladores (indicadores cujo valor oscila à volta de zero) e outros mais subjectivos.

A durabilidade dos métodos quanto à sua eficácia é discutível. Há investidores que criam os seus próprios métodos e os guardam secretamente com medo de que a sua descoberta pública os faça perder eficácia. A lógica é que, se muitos utilizarem o seu método, o mercado sofre alterações que destroem a eficácia do mesmo. Os intervenientes passam assim a tentar antecipar no tempo as condições em que o método actua, fazendo o preço subir e impedindo os restantes utilizadores de comprar a tempo.

Outros investidores divulgam abertamente todas as metodologias que usam na sua actividade. De qualquer forma, é de supor que o mercado é um mecanismo muito complexo de expectativas que cria modas e hábitos mais consistentes ou menos consistentes quanto à sua durabilidade. Os primeiros a detectar esses hábitos estarão melhor posicionados para beneficiar deles.

É de esperar que um bom método funcione anos seguidos ou mesmo para sempre, enquanto que outros, baseados em modas passageiras, acabem por desaparecer quando muitos começam a usá-lo por longos períodos. Diz-se também que os melhores métodos são aqueles que sempre funcionaram, embora também estejam sujeitos a deixar de o fazer assim que sejam muito conhecidos.

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Outros, tão básicos como a simples leitura da evolução do preço relativamente ao seu volume, parecem resistir ao tempo.

Há também a ideia de que cada método funciona em determinados períodos de tempo e noutros não, sendo necessário aprender em que alturas do mercado funcionam. Por exemplo, é sabido que as médias móveis funcionam em mercados de tendências mais longas e falham muito quando o preço oscila mais rapidamente. Com os osciladores como o Estocástico passa-se o contrário.

Steve Lescarbeau, um especialista que faz 70% ao ano, repara: «É interessante notar que os sistemas que usei durante alguns anos já não estão a funcionar muito bem. De uma ou outra forma eu tenho vindo a mudá-los, por isso geralmente uso os melhores sistemas». Steve acrescenta que se considera um «reactor» de mercado, ou seja, que não faz prognósticos de mercado mas focaliza-se em saber reagir. Considera que, quando alguém descobre um sistema lucrativo não o deve divulgar a ninguém mas tentar aproveitá-lo, dado que irá deixar de funcionar no futuro. (SCHWAGER, Jack D. - The New Market Wizards - Conversations with America's Top Traders. Nova Iorque, Harper Business, 2003, p. 190)

Qualquer método excelente para fazer dinheiro na Bolsa apenas subsiste se existir disciplina da nossa parte, caso contrário é irrelevante se temos ou não um bom método.

5.13Exemplos de métodos

A seguir revemos algumas ideias mais provisórias ou definitivas para a construção de métodos que integrem a nossa estratégia de investimento.

Abertura da janela de oportunidade

Esperar até que o mercado comece a subir é importante. Isso pode significar ver registos de semanas inteiras de subida geral das cotações, após uma queda prolongada de vários meses. Isto relaciona-se com a ideia de nunca ir contra o mercado. Por vezes, após grandes subidas, o mercado começa a cair e subitamente os títulos parecem muito baratos. Mas não é essa a altura de comprar.

Detecção de diferencial de valor

Uma possível técnica é detectar qual é o grau de afastamento de um determinado título face a uma linha de mercado. Durante algum tempo, o título desce mais do que o mercado, afastando-se e aumentando uma situação de diferencial. A partir de certo momento, começa a convergir com o mercado,

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passando para cima deste, onde faz o mesmo efeito, mas ao contrário.

Detecção do fluxo de dinheiro

Há alturas em que as pessoas apostam mais em acções, procurando-as no mercado. Isso faz subir os preços. Noutras alturas, o medo faz com que as pessoas as vendam e procurem investimentos alternativos. Uma técnica possível é conseguir saber se o dinheiro está a entrar na Bolsa ou está a sair para outros mercados (imobiliário, obrigações, depósitos bancários, empresas fora do mercado, etc.)

Volume como indicador de força

O volume, ou quantidade de títulos transaccionada, é um poderoso indicador do comportamento do mercado. As subidas e as descidas são fortes na proporção do seu volume. Diz-se que o volume dá força à direcção da linha de preço. Se o preço começa a descer ao mesmo tempo que o volume transaccionado desce também, isso significa falta de força na descida e, pesando outras variáveis, pode significar que o título está a ganhar força para subir.

Se um título começa a subir e a sua linha está cada vez mais na vertical, acompanhada por volume muito forte ou crescente, isso também pode significar excesso de força e ser um sinal urgente de venda, dado que subidas demasiado fortes são acompanhadas por correcções (descidas) também bastante fortes.

Se o título não desce e o seu volume num determinado dia é muito mais fraco do que uma média do volume de, por exemplo, dois meses, isso pode indicar que o título vai disparar para cima passados um, dois ou três dias se o mercado geral não estiver a descer.

A volatilidade

As cotações podem oscilar muito ou pouco. A volatilidade é o grau de variação, para cima ou para baixo, das cotações, sendo muito importante para saber em que direcção vai o mercado. Num mercado instável existe muita volatilidade e os títulos sobem ou descem muito num determinado período de tempo de análise, como um dia. Em baixa volatilidade, as linhas de preço são mais suaves e os títulos parecem mais calmos.

Quando a volatilidade está muito alta ou forma picos temporários, o que se segue normalmente é uma subida de preço à medida que a volatilidade vai baixando. Quando esta começa a subir é normal que os títulos comecem a cair.

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As Bandas de Bollinger

John Bollinger criou um indicador que desenha duas linhas: uma por cima da linha do preço, outra por baixo da linha do preço. Quando estas duas linhas apertam em direcção ao preço, é frequente a tendência do preço sofrer alterações significativas.

Índice de detecção de tendência

M. H. Pee criou um índice interessante chamado Trend Detection Index. Trata-se de uma linha que muda de direcção quando o mercado muda de direcção, ajudando a definir os nossas entradas e saídas do mercado.

Sistema de Swing de 4%

Em 1986, Martin Zweig divulgou um sistema simples. Consiste em comprar quando o preço sobe 4% depois de ter atingido o fundo e vender quando o preço desce 4% depois de ter atingido o topo. O sistema é bastante resistente, mas falta-lhe capacidade de adaptação a condições em constante mudança, podendo ser reprensado para funcionar conforme o grau de volatilidade do mercado ou do título em análise.

Medir o grau de especulação

As empresas pequenas e baratas são as preferidas pelos investidores técnicos de muito curto prazo. Você poderá criar um método que compara as variações de cotação de duas listas de títulos: uma delas contém títulos muito baratos e voláteis, a outra contém títulos caros de grandes empresas. Se desenhar um gráfico com duas linhas que representem cada lista, poderá facilmente descobrir que a linha das empresas baratas fornece pistas importantes para a compra de títulos de qualidade.

Detectar picos de preço

Não é muito difícil determinar o momento em que os preços atingem um pico de curto, médio ou longo prazo, criando assim uma oportunidade de venda. Martin J. Pring e outros chegaram à conclusão de que o aumento forte de volume antecede consistentemente um pico no preço dos títulos. Observando informalmente uma linha de preço vemos que esta sobe cada vez mais em direcção à verticalidade, tornando-se evidente que nunca poderia continuar nessa direcção, ao mesmo tempo que o volume também mostra exagerada força.

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Conhecer possíveis incidentes

Na análise de uma empresa, uma estratégia possível é contemplar uma lista de riscos, incidentes ou tudo o que pode fazer cair o preço. Não é tanto para tentar reagir rapidamente após notícias inesperadas, mas para ter consciência das nossas probabilidades. Se necessitamos de vender um dos títulos da nossa carteira para tomar uma oportunidade melhor, saber medir os riscos de cada negócio e conjugá-los com a situação do mercado é melhor do que fazer transacções impulsivamente.

Propagação de reacções

Esta ideia diz-nos que, num mercado que começa a recuperar depois de muito tempo em queda, os títulos que iniciam subida não o fazem todos ao mesmo tempo, embora o comportamento na subida seja relativamente semelhante. Se partirmos do princípio de que há um espaço de tempo entre os primeiros títulos que iniciam subida e os restantes que sobem mais tarde, pode-se dizer que poderemos em dias seguintes acompanhar um efeito de propagação de reacções que afectam esses títulos mais atrasados. As nossas análises já devem ter feito uma triagem de empresas para escolher as melhores posicionadas.

A «Condição Primária»

A condição primária é um método muito básico que nos diz quando devemos estar dentro do mercado e quando devemos ficar fora do mercado. O cálculo é simples e pode ser assim: tomando um índice muito representativo do mercado como o Nasdaq Composite, tomamos três leituras: i0 é o valor de hoje, i5 é o valor há 5 sessões atrás e i40 é o valor há 40 sessões atrás. Se i0 for maior que i5 e i5 for maior que i40, então o mercado está em subida e a condição primária manifesta-se.

Outra alternativa é traçar uma média móvel de 50 dias sobre um gráfico do índice NASDAQ, sendo a entrada no mercado feita logo que a linha do NASDAQ cruze a média de baixo para cima e a saída logo que a mesma caia para baixo da linha de média.

Vendas programadas

Há investidores que, antecipando uma possível queda em títulos que detêm, utilizam um método que consiste em vender (automaticamente ou não) um determinado título no caso deste cair até um valor ou percentagem fixa abaixo do preço de compra. (8% ou 10% são percentagens populares). Aqui é necessário avaliar se este método poderá estar a ser usado por preguiça, falta de estratégia, medo, falta de acompanhamento do mercado, etc. Há condições no mercado em que é possível ver quedas temporárias que, num mercado em subida, corrigem facilmente para cima. Este método falha bastante porque a

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volatilidade de mercado é muito variável. Poderemos, sem notar, estar a usá-lo para nos protegermos da nossa própria incerteza.

5.14Ter em conta os resultados trimestrais e anuais

Um método importante é saber se a empresa em análise já divulgou os seus resultados contabilísticos.

Os meses de Janeiro, Abril, Julho e Outubro podem ser especialmente inseguros para investir, dado que a divulgação de resultados das empresas cotadas provoca fortes oscilações nos preços. São dias em que os investidores vigiam o mercado com redobrada atenção. Há resultados de determinadas empresas que podem afectar todo o mercado ou a cotação de empresas do mesmo sector.

Mas estas alturas também podem ser de oportunidade, conforme os métodos e experiência dos investidores.

5.15Compra institucional: o movimento dos gigantes

Todos os dias, uma esmagadora percentagem do volume transaccionado (cerca de 70%) é resultado da mão dos maiores bancos e casas de investimento que gerem grandes fundos internacionais. Este facto é um dos mais importantes e molda toda a forma como estamos no mercado. Estes agentes, pela sua dimensão, podem abalar o mercado comprando ou vendendo grandes quantidades. Mas, apesar das novas técnicas que usam, é muito difícil passarem despercebidos. Os picos de volume permitem ver se estão interessados ou desinteressados num determinado título. Se estiverem a comprar grandes quantidades, irão provocar subidas no preço. Se estiverem a vender, fazem necessariamente cair o valor das acções. Acontece também que geralmente é difícil realizarem a compra de uma só vez, devido à sua dimensão, esta é parcelada e pode decorrer em determinados dias ao longo de uma ou mais semanas.

Em qualquer dos casos, analisando o volume e, no mesmo momento, observando atentamente o que acontece ao preço, vemos que os maiores picos de volume permitem antecipar a direcção futura dos títulos sem grandes esoterismos. Os grandes compradores parcelam as suas compras, esperando alguns dias para que a cotação volte a descer um pouco de forma a comprarem mais parcelas sem grande alarido. É uma forma de timing que os pequenos investidores podem adoptar para entrar no mercado.

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5.16O método «piggy-back»

Embora a sua definição seja obscura, alguns investidores chamam de método «piggy-back» o estudo da acção dos compradores institucionais e a entrada rápida no mercado quando se manifesta que um grande lote de acções está a ser comprado. Para isso usam-se redes informáticas rápidas,  software sofisticado em tempo real e, sobretudo, muita experiência acumulada ao longo de anos. Trata-se de aproveitar um grande movimento indo às «cavalitas» das compras institucionais. Encontra-se aqui uma resposta dos pequenos investidores à dimensão dos grandes fundos de acções. É também o motivo do conflito que irá perdurar pelos tempos entre estes dois tipos de investidores: os grandes manipuladores de «longo prazo» sem escrúpulos versus os pequenos especuladores também sem escrúpulos! Cada utiliza as suas armas conforme puder e souber.

5.17Aperfeiçoar os métodos

Qualquer ideia que tenhamos pode ser testada para saber se é válida na aplicação em decisões de investimento. É importante ter dados históricos de cerca de 20 anos (no caso de cotações de fim do dia) para que as nossas ideias possam ser testadas e possuam validade estatística. Para isso poderá aprender a programar computadores ou recorrer a uma aplicação comercial de análise que possua uma linguagem simples adaptada a este tipo de tarefas.

5.18Vigiar a nossa posição

Mais importante que vigiar oscilações de mercado é saber qual é a nossa posição financeira real a cada momento, ou seja, o valor líquido do nosso portfolio se tudo fosse reduzido a dinheiro nesse dia descontando tudo o que houvesse a descontar. Não adianta estar a ganhar na Bolsa de Nova Iorque se o dólar vem a descer devorando as nossas mais-valias.

As comissões, o valor das acções, a taxa de câmbio, o valor que deixamos em dinheiro na conta de investimento são variáveis que devem ser medidas dia-a-dia. Se o objectivo é obter mais-valias, então esta monitorização é importante.

É na sucessão de ganhos e perdas que se ganha, por isso analisa-se diariamente se as nossas acções estão a contribuir para os ganhos ou para as perdas, ou se é necessário substituir componentes da nossa «máquina de fazer dinheiro».

É especialmente na relação entre o câmbio e as acções que se encontra o segredo para uma boa gestão do nosso portfolio. O investimento em acções

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não é um jogo para conseguir o maior número de negócios ganhadores. A posição líquida é que conta.

Mas, já em finais dos anos setenta do século passado, Daniel Kahneman e Amos Tversky, dois economistas behaviouristas, avisavam que uma perda na Bolsa tem cerca de 2,5 vezes mais impacto psicológico do que um ganho do mesmo tamanho, através de uma teoria que mostrava como os comportamentos económicos eram inconsistentes com o processo de decisão racional. Ou seja, ao contrário do que parece, muitas decisões económicas são tomadas irracionalmente (The Consilient Observer, Vol 1, Issue 2, January 29, 2002, p.1)

5.19Monitorização de resultados: um exemplo

Se o objectivo é fazer dinheiro na Bolsa, o resultado líquido da nossa carteira em cada momento é que deve ser vigiado. Olhar para médias, linhas gráficas ou percentagens obtidas pode ser uma forma enganadora de esquecermos a ausência de resultados práticos. Um exemplo é simplesmente contabilizar os valores, dia-a-dia, desta forma:

Data    | Valor | Valor dia | Valor acumulado | % Dia | % Acumulado

Estes valores incluem todo património líquido em euros se tivéssemos vendido todas as acções e colocado o valor daí resultante na nossa conta de investimento em euros. Ou seja, tem em conta todo o tipo de comissões e impostos até ao momento, a diferença cambial, o valor dos activos em acções e o valor em dinheiro que está na conta. Isto traduz a realidade da nossa «posição».

Um dos segredos dos profissionais é desenvolver uma excelente gestão da sua carteira de investimento sem se deixarem ofuscar por actividades folclóricas de análise!

5.20Influência da legislação

A legislação portuguesa favorece os investidores de longo prazo, determinando que a posse de acções por um período inferior a um ano é sujeita a 10% sobre as mais-valias obtidas. Dependendo da situação de mercado, também se pode construir uma estratégia de compra baseada neste prazo.

Mas pode ser difícil fazer coincidir o período de um ano com o início e fim de uma tendência de subida geral do mercado, tendo em conta as nossas características e objectivos individuais de investimento.

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5.21Analisar as notícias

Fazer uma boa leitura do mercado inclui acompanhar notícias sobre a economia, a Bolsa em particular e os resultados trimestrais e anuais das empresas. Isto permite-nos analisar a reacção das multidões e gerar ferramentas para construir a nossa estratégia através do estudo das causas e dos efeitos de curto, médio e longo prazo. Hoje em dia podemos receber notícias ao segundo vindas de milhares de fontes mas é necessário lembrar que algumas, como os relatórios de contas, reportam-se ao passado e não ao dia em que são divulgados. O grande problema é distinguir o que é informação e o que é manipulação. Só dados extremamente objectivos são usados pelos investidores profissionais, que desenvolvem a capacidade de detectar conteúdos manipuladores.

Por exemplo, no mês de Janeiro as empresas cotadas começam a fazer aparecer os seus resultados do último trimestre do ano anterior, bem como os resultados de todo o ano que passou. Muitos deles são excelentes mas, à data da sua divulgação a Bolsa pode encontrar-se em forte queda e a compra é complicada.

Vamos analisar brevemente uma série de notícias, em especial alguns casos extremos onde será possível começar a perceber algumas causas e efeitos em situações concretas:

13 de Maio de 2004: A Shatz & Nobel anuncia que vai processar, em nome dos investidores, a Krispy Kreme Doughnuts pelos seus dirigentes alegadamente veicularem informação fraudulenta sobre a real situação financeira da empresa. As acções, que em Abril estavam acima de 30 dólares, caem com o anúncio para $22.75, iniciando depois uma longa descida que iria ignorar a excelente subida geral do mercado a partir de 12 de Agosto de 2004. O problema principal da Krispy Kreme era a sua péssima gestão. Em 18 de Janeiro de 2005, perante a notícia de que o director executivo da empresa seria afastado para dar lugar a Stephen Cooper (o homem contratado para recuperar a Enron), a cotação saltou para cima em 89 cêntimos, cerca de 10%, ao fecho da sessão.

24 de Janeiro de 2005: Os ganhos da Merck descem 21% no quarto trimestre de 2004, para 1.1 biliões de dólares, devido a um estudo realizado pela própria empresa que a leva a retirar do mercado o medicamento Vioxx. No entanto, a Merck anuncia que as vendas dos seus quatro produtos de topo subiram quase 20%. Em 29 de Setembro de 2004 as acções da Merck estavam cotadas a $45.07. Um dia a seguir o estudo é divulgado e a cotação desce para um valor assustador de $33. Em 9 de Novembro estavam a $26, altura em que começaram a subir de novo, mas a 24 de Janeiro de 2005 ainda estavam a $29.85.

As farmacêuticas são geralmente um bom investimento de longo prazo, mas

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estão sujeitas a bastantes processos em tribunal. A Merck reservou recursos para pagar indemnizações aos lesados.

24 de Janeiro de 2005: A Netflix Inc. reporta que o seu lucro duplicou no quarto trimestre devido a um grande aumento de novos subscritores do seu serviço. As acções subiram 10 cêntimos para $11.14. No dia seguinte quase atingiram $13 e voltaram a descer, ao longo da sessão, ficando em $11.33.

24 de Janeiro de 2005: O director executivo da PalmOne vai exonerar-se em Fevereiro. Depois de alguns anos na empresa, Todd Bradley deixa um trabalho que estava a desenvolver com excelentes resultados. As acções da PalmOne desvalorizam 4.4% no dia 24, para $26.59. No dia seguinte desvalorizam mais 9.10%. A saída de um bom director executivo é geralmente mal vista e criadora de incerteza. Embora a PalmOne esteja em muito boas condições em Janeiro de 2005, não existem suficientes garantias de que o próximo director é um substituto à altura.

25 de Janeiro de 2005: Lucros trimestrais da Avaya mais que triplicaram na sequência de forte procura de equipamento de telecomunicações. A Avaya reporta um lucro trimestral de 31 milhões de dólares que correspondem a 7 cêntimos por acção, em comparação com os 10 milhões (2 cêntimos por acção) de um ano atrás. Os investidores parecem estar a ignorar esta empresa e sua cotação tem vindo a acompanhar a tendência geral de queda do mercado, que se faz sentir desde o primeiro dia do ano. Na verdade, embora haja boas perspectivas para o consumo de tecnologias em 2005, os investidores já fizeram cair os índices tecnológicos em 10% desde o início do ano.

25 de Janeiro de 2005: EMC Corp. apresenta 46% de subida nos lucros do último trimestre. É o sexto trimestre consecutivo a mostrar subidas na casa dos dois dígitos. O lucro anual da EMC passa a ser de 871 milhões de dólares (36 cêntimos por acção) que representam 76% de subida relativamente ao ano anterior. A EMC também acompanha a tendência de queda nas cotações.

2 de Fevereiro de 2005: A Wild Oats subiu 7.1% logo que a J.P. Morgan classificou o título em baixa. A situação da empresa leva os analistas a acreditar que alterações importantes vão ser operadas na empresa em breve.

2 de Fevereiro de 2005: A Google, Inc., empresa do maior motor de busca da Internet, pondera pagar 260.000 euros a Louis Vuitton por motivo de violação de marca registada. O tribunal de Paris considerou haver prejuízos e ordenou a Google a deixar de mostrar empresas concorrentes quando os seus utilizadores pesquisam a palavra «Vuitton». As acções da Google cairam 4,1%.

Da análise destas notícias constatamos o que faz mexer a mente dos

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investidores e facilmente concluímos que o mercado é muito susceptível a opiniões de analistas, reagindo a possibilidades não confirmadas. Isto quer dizer que o investimento a muito curto prazo está sujeito a emoções e reacções impulsivas. Muitas vezes o facto do preço subir ou cair já é motivo para comprar ou vender imediatamente. Dependendo da nossa forma de trabalhar, isto pode não nos deixar muitas bases para uma análise fria e fundamentada, sendo necessário mais tempo para que haja correcção destes fenómenos.

5.22A personalidade das acções

É mais fácil conhecer as acções se as dividirmos em vários tipos. Poderá dividi-las conforme os seus critérios. Como exemplo classificamos os títulos assim:

«Acções-refúgio»

Parece impossível, mas acontece: num mercado em forte queda, enquanto todos parecem fugir e outros contam histórias de terror, é normal que 10% dos títulos continuem a subir como se ignorassem tudo e todos. São as acções-refúgio que, na prática, só com métodos automatizados conseguimos determinar, dado que existem milhares de títulos disponíveis.

Acções «Patinho-feio»

Algumas empresas, embora com bons relatório de contas, subidas fortes nas vendas, uma boa gestão com iniciativa, enquadradas num sector em crescente procura, detentoras de produtos em forma de monopólio, são ignoradas pelos investidores. Muitas são empresas menores em dimensão, menos conhecidas, outras até marcam presença mundial, mas as modas de Wall Street estão orientadas para outro lado. Há investidores mais pacientes que dedicam tempo a analisar estas empresas e investem a médio e longo prazo nelas.

Isto mostra que o estado real das empresas pouco interessa aos especuladores. A Bolsa é um mercado que funciona com regras próprias e por vezes esquece o mundo exterior. Dado que a Bolsa é um mercado e menos pessoas querem essas acções, elas ficam necessariamente mais baratas porque quem as quer vender tem que ir descendo o preço. Isto acontece até que as empresas sejam notadas, provocando reacções entusiasmadas que podem fazer subidas tremendas.

Acções «Bungee jumper»

Em casos muito específicos, não relacionados com a subida ou descida geral do mercado, o título desce abruptamente depois que os especuladores, por algum motivo, começam a querer livrar-se das acções. Essa é outra

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oportunidade, pois por vezes em poucos dias o título pode cair algo como 15%. É nesse momento que fazemos uma análise da situação da empresa. O que lhe aconteceu concretamente? Um processo em tribunal? Maus resultados do trimestre? Foi considerada má por parte de uma grande casa de investimento? Decidiu comprar outra empresa e isso foi mal visto?

Em muitos casos, o fenómeno de uma queda abrupta de 15% é apenas técnico e não traduz efeitos a médio e longo prazo, especialmente num mercado que esteja em saudável subida. Se a empresa tem os seus lucros a crescer, se é inovadora, se tem um bom conselho de administração, a ideia é acompanhar a empresa durante alguns dias e eventualmente comprar.

É normal demorar um mês ou mais a voltar ao preço que estava anteriormente, mas a operação pode valer a pena. Não é certo que atinja o valor que detinha antes da queda, por isso é necessário muito cuidado pensando-se seriamente em vender a qualquer momento, a menos que a estratégia seja de longo prazo.

Resumindo, existe uma distorção exagerada entre a queda abrupta na cotação motivada pelo pânico e um valor mais razoável e lógico aceitável numa situação dessas.

Acções-urso

Há títulos cotados que, após uma queda geral do mercado que dura meses, encontram-se numa oscilação suave sem subir nem descer (em «tendência lateral»). Quando o mercado começa claramente a subir, estes títulos continuam por mais algum tempo a sua hibernação. Isso permite-nos detectá-los a tempo. Poderá ser precisa paciência até que subam, talvez aguardar duas semanas ou até dois meses, mas quando acontece é uma boa operação.

Ahmet Okumus, conhecido por ser capaz de manter lucrativos 90% dos seus negócios na Bolsa, diz: «Geralmente nunca considero comprar um título a menos que esteja 60% ou 70% abaixo do seu valor máximo. Em sete anos que negociei em acções norte-americanas, eu nunca fui dono de acções que tenham feito um novo máximo.» (SCHWAGER, Jack D. - Stock Market Wizards - Interviews with America's Top Stock Traders. Nova Iorque, HarperCollins Publishers, 2003, p. 146;)

Acções clinicamente mortas

Há empresas, em especial antigas e com produtos ou serviços nada inovadores, que se encontram em tendência lateral quase eternamente. Se a cotação não apresenta grandes tendências de subidas e descidas ao longo dos meses e conforme alguma lógica, então é melhor esquecê-las.

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Acções-touro

As acções-touro são aquelas que não páram de subir ao longo das semanas quando o mercado se encontra em subida geral. Mas podem ser as primeiras a cair quando o mercado vira, ou as que caem mais rápido, ou as que caem mais. Assim, é preciso saber quando é a altura de sair.

6 Parte V. Aspectos psicológicos

6.1 Aspectos psicológicos

Van K. Tharp é um psicólogo com um extenso trabalho no acompanhamento de investidores. Nos seus estudos conclui que as pessoas impedem-se a elas próprias de terem êxito na Bolsa quando trazem os seus problemas pessoais para dentro do mercado.

O perfil de um investidor sem êxito, segundo Van K. Tharp, é composto a partir de características como estas: altamente stressado, tem uma visão negativa da vida e espera o pior, tem bastantes conflitos com a sua própria personalidade e culpa os outros quando as coisas correm mal. Tende a ser uma pessoa desorganizada e impaciente.

(SCHWAGER, Jack D. - Market Wizards: Interviews with Top Traders. Nova Iorque, Harper Collins Publishers, 1993, p. 414;)

6.2 Investidores versus especuladores

Neste livro chamamos «investidores» a todos os que têm uma actividade lucrativa na Bolsa independentemente do tempo que mantêm os seus títulos em carteira e dos métodos que utilizam. Mas esta palavra não é compreendida da mesma forma por todos. Para alguns, um investidor que compra e vende no mesmo dia não é um verdadeiro investidor, mas um perigoso «especulador», sendo o termo usado com sentido pejorativo.

Mas o objectivo final é o mesmo, não havendo diferença fundamental entre um investidor que vende as suas acções na própria semana ou um investidor que as mantém eternamente. Trata-se apenas de uma divergência relativamente ao tempo e a alguns métodos, sem que haja forma de provar que uma escolha é melhor que a outra.

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6.3 O real motivo para investir na Bolsa

Os psicólogos acumulam muitos casos de pacientes que investem na Bolsa. Parece impossível, mas existem pessoas que investem na Bolsa porque querem perder e não porque querem ganhar! Existem outras tão avarentas que nunca conseguirão nada nesta arena. Outras são tão impulsivas que nem todo o conhecimento do mundo as faria agir correctamente no mercado. Outras são tão preguiçosas que preferem ver os seus títulos a cair do que tomar a iniciativa de os vender. Outras são tão rápidas que compram antes do tempo certo e vendem antes do tempo certo. Outras só param quando perdem todo o dinheiro que têm. Outras que ignoram totalmente a sua vida familiar ou emocional para ficar dias seguidos em frente a um computador a ver gráficos, sem notar que isso vai reflectir-se nos próprios resultados. Outras que entram no mercado sem os mínimos conhecimentos necessários e persistem sem querer aprender. Outras que nunca acreditam em si próprias e seguem tudo e todos até perderem as suas poupanças.

É importante conhecer qual é o motivo profundo da sua decisão de investir na Bolsa. Se formular um plano concreto, com objectivos ambiciosos mas realistas, se tem suficiente capacidade de materialização, se é perseverante e sabe que isto é construído calmamente, dia-a-dia, então terá algumas das principais características dos grandes investidores.

Se chegar à conclusão de que procura adrenalina na Bolsa, estatuto social ou lucros imediatos, esse local não é para si.

6.4 Interferências emocionais

Para bem ou para mal, alguns acontecimentos na vida podem interferir na sua capacidade de ganhar dinheiro na Bolsa. Por exemplo, há pessoas que deixam de operar no mercado durante alguns meses quando passam por um divórcio difícil, outras nas quais a ocorrência de um parto em nada interfere com a sua capacidade de avaliação.

6.5 Estar sempre no mercado?

Muitos investidores, em especial intradiários, cultivam a ideia de que um verdadeiro operador de Bolsa deve ter sempre títulos na mão, independentemente da situação do mercado, caso contrário não é um investidor. É necessário decidirmos qual é o nosso real objectivo: ser um investidor com determinadas características ou simplesmente multiplicar os nossos activos seja de que maneira for. A gestão do dinheiro no investimento normal em acções implica ficar dentro do mercado quando isso é favorável e

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fora do mercado quando os ventos são perigosos, ou estaremos a ganhar no mercado para compensar perdas que tivemos meses atrás.

6.6 Vender sempre ao fim de um período fixo?

Uma situação semelhante à anterior é também a regra que alguns investidores intradiários seguem - a de que devemos vender tudo ao fim do dia para podermos dormir descansados e evitar alguma catástrofe que possa ocorrer durante a noite. Estatisticamente está provado que o contrário funciona melhor. Embora a nossa estratégia pessoal possa ter em consideração fenómenos que possam ocorrer ao fim das sessões (como descidas ou subidas previsíveis), a regra rígida e cega de vender tudo ao fim da sessão significa que poderemos estar a ir muitas vezes contra o mercado apenas para cumprir uma regra!

6.7 O lugar da hesitação

À medida que a nossa experiência aumenta, algo de interessante pode acontecer: perante uma determinada análise ficamos hesitantes se devemos comprar, vender ou aguentar. Essas situações costumam ser particularmente perigosas e é boa táctica recuar atrás até que a nossa certeza volte, acompanhada por motivos lógicos para fazer as coisas.

6.8 As tentações

Outro dos grandes problemas da aprendizagem do investimento em acções é criarmos justificações para abandonar, ainda que temporariamente, os nossos bons métodos para experimentar outros. Se chegamos à conclusão que devemos estar fora do mercado por um período que pode atingir muitos meses, a tentação é procurar descobrir novas formas de entrar no mercado nesse período. É assim preciso cuidado para não nos enganarmos e saltarmos de método em método sem sentido, entrando no mercado em condições desfavoráveis para perder.

6.9 Manter simples a nossa leitura do mercado

A tentação de fazer segundos e terceiros sentidos a partir de factos simples distorce qualquer boa estratégia de investimento. A leitura do mercado deve

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ser clara, fácil e não deixar margem para dúvidas. Criar mais informação a partir da mesma informação é sempre um risco!

Da mesma forma, a falta de informação como o seu excesso podem distorcer a análise simples e directa. Se o mercado está claramente em queda, o mercado está em queda! Um investidor não fica impaciente com isso nem salta para o mercado com o objectivo de o contrariar. Há uma leitura dos ritmos do mercado, das velocidades com que reage e da amplitude dessas reacções.

6.10Os níveis de ignorância

Investir na Bolsa com êxito não se consegue em poucos dias. Num determinado momento podemos ter a ilusão de dominar o mercado, no momento seguinte concluímos de que necessitamos de mais experiência.

As pessoas que se dão bem a investir na Bolsa geralmente são humildes e pacientes, nunca chegando a fórmulas definitivas. Manter a mente aberta a novas ideias é um factor fundamental para alguns dos maiores investidores. Jake Bernstein, na obra «The Investors Quotient», fala sobre os níveis de ignorância pelos quais passamos: o primeiro nível de ignorância é o mais terrível porque corresponde à ilusão do conhecimento, ou seja, é o nível em que nem sequer sabemos que somos ignorantes. Num segundo nível apercebemo-nos que somos ignorantes, mas não sabemos em relação a quê. Num terceiro passamos a saber o quê mas não termos vontade de agir para deixarmos de ser ignorantes. Num quarto nível passamos a querer agir, mas continuamos ignorantes. No quinto nível queremos deixar de ser ignorantes, mas sentimo-nos impedidos de agir. E, finalmente, no sexto nível, chegamos à «ignorância desejável»: começar a agir. (BERNSTEIN, Jake - The Investors Quotient - The Psychology of Successful Investing in Commodities & Stocks. Nova Iorque, John Wiley & Sons, 1993, p. VIII;)

6.11O mercado tem sempre razão

Há pessoas que constituem excelentes «arquivos de desculpas». Tudo o que lhes acontece é culpa do mercado, ou do Governo, ou da família, ou do cônjuge, ou da entidade patronal, ou de vizinhos, ou de terroristas internacionais ou mesmo de criaturas sobrenaturais. Mas nunca reconhecem o efeito das suas decisões e acções, por isso também nunca poderão aprender.

Esta será talvez, junto com a disciplina, a característica mais importante que poderemos ter na Bolsa: assumir que os nossos resultados são única e exclusivamente fruto das nossas acções e que, se tivéssemos feito as coisas de outra forma então os resultados seriam necessariamente diferentes. É saber ligar as nossas decisões às nossas acções, e as nossas acções aos

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respectivos efeitos que constitui a prática de investir na Bolsa. É um processo lento de aprendizagem.

Por isso, o princípio de tudo é saber que o mercado tem sempre razão. Os investidores experientes sabem ler a carta marítima do mercado e ficam em terra quando é para ficar em terra, partindo na altura certa e regressando em tempo útil. As suas viagens podem demorar um, dois, quatro ou sete meses, mudando de barcos várias vezes - o tempo varia sempre, mas os instrumentos de medição indicam quando é altura de voltar.

6.12As ondas do mercado

Se visualizar o gráfico de um índice que represente o mercado num período de alguns anos, verá que existem grandes ondas que podem subir durante meses a fio para depois cair de novo. É normal o mercado subir mais lentamente e descer mais rapidamente. Como regra geral, se contrariar estas tendências maiores comprando numa tendência de queda, os resultados podem ser desastrosos. É preciso aprender a ir na onda do mercado e a ficar fora se a onda está contra nós.

Na obra de Edwin Lefèvre, «Reminiscences of a Stock Operator», considerada o maior clássico do género e que conta a vida de Jesse Livermore, um dos maiores especuladores de sempre, lemos: «Desconsiderar a grande onda e tentar saltar para dentro e para fora foi fatal para mim. Ninguém consegue apanhar todas as flutuações. Num mercado em subida o seu jogo é comprar e manter até acreditar que o mercado em subida está perto do fim.» (LEFÈVRE, Edwin - Reminiscences of a Stock Operator. Nova Iorque, John Wiley & Sons, 1994, p. 69;)

6.13Utilizar o «pensamento contrário»

O pensamento contrário consiste em detectar oportunidades quando a grande maioria têm medo ou está desiludida. É fechar as nossas posições em carteira enquanto a multidão está absurdamente eufórica com as grandes subidas. O pensamento contrário não é fazer tudo ao contrário, mas ter perspectiva crítica e usá-la a partir da nossa percepção do estado do mercado. Serve para agir quando a multidão faz algo de exagerado, seja no sentido do absurdo, impulsividade, medo, euforia, etc.

O nosso comportamento em multidão é pouco esperto. É natural na condição humana ceder para agradar a quem nos rodeia. Os investidores profissionais sabem usar o pensamento contrário e especializam-se em fenómenos de mercado bem definidos. Ficam sintonizados em determinados comprimentos de onda que alertam sobre oportunidades excelentes. Isto acontece porque a aprendizagem na experiência aumenta a inteligência. A inteligência consiste

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muito na capacidade de separar, por isso o que anteriormente víamos como «tudo a mesma coisa» passa a ser claramente distinto. A experiência dá-nos sensibilidade para detectar padrões em fenómenos que anteriormente pareciam fruto do acaso. É começar a ver coisas que anteriormente não víamos, embora estivessem bem à nossa frente.

Poderá identificar o comportamento da multidão observando e avaliando a carga emocional das notícias que surgem sobre o mercado de acções: notará que, antes do mercado iniciar uma subida milionária, todos, incluindo amigos e colegas, canais de televisão, semanários económicos, estão a dizer coisas muito negativas dia após dia, semana após semana. Pensamento contrário é também perceber que comunicar é sobretudo influenciar. Nenhum interveniente na cadeia de informação jornalística é imparcial e a informação que nos chega foi criteriosamente seleccionada em função de naturais interesses comerciais e financeiros.

Muitas notícias, quando dizem coisas como «Acções das tecnológicas sobem 50%», referem-se a realidades inúteis para o investidor profissional, porque reportam-se a meses e meses no passado, não sendo obviamente possível voltar ao passado para ganhar esses 50%.

O pensamento contrário também significa ter presente que as estratégias e métodos usados por 90% dos investidores podem estar errados ou falham em algum ponto, dado que a grande maioria, se não perde, pelo menos não consegue ir muito longe na Bolsa.

6.14As suas opiniões valem mais

Os analistas profissionais que trabalham para grandes casas de investimentos são, directa ou indirectamente, interessados que determinadas acções subam e outras desçam de valor. O jogo deles é convencer-nos de certas coisas, não havendo mal nenhum nisso. Mas o nosso jogo também é extrair a informação que nos interessa.

Como exercício poderá fazer o seguinte: registe recomendações de compra ou de venda de títulos concretos emitidos por analistas populares, pessoas com quem fala directamente ou a partir de recomendações das grandes casas de investimento. Passado alguns meses, pegue nessa informação e contabilize os seus resultados. É mais provável que se surpreenda e chegue à conclusão de que as suas opiniões valem mais.

Como terá dito Jesse Livermore, «custou-me milhões até aprender que outro inimigo perigoso de um investidor é a sua própria susceptibilidade perante as exortações de uma personalidade magnética quando expressas plausivelmente por uma mente brilhante.» (LEFÈVRE, Edwin, op. cit., p. 155;)

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6.15Não se apaixone pelas empresas

Se deixarmos que as emoções interfiram na nossa análise de investimento, as decisões serão desajustadas. O mesmo acontece com o tempo exacto em que a execução é feita: como se não bastasse não conseguirmos prever o futuro, a execução da nossa decisão será adiantada ou atrasada relativamente ao tempo ideal.

É bom dominar um determinado sector da indústria para saber escolher melhor os títulos, mas a escolha baseada no afecto por uma marca poderá estragar toda a estratégia.

O gosto que temos por determinadas profissões, produtos ou serviços pode influenciar negativamente a nossa capacidade de análise. É importante conhecer as suas razões profundas para querer investir.

6.16Saber é fácil, fazer é difícil

A ideia de não contrariar a direcção do mercado, aproveitando-o quando este é favorável e ficando de fora quando cai, embora simples, é o mais difícil de pôr em prática.

Podemos assim fazer uma análise perfeita, chegar a uma conclusão perfeita, mas depois falhar totalmente na execução. Por isso, a questão da disciplina é a mais importante de todo o processo. Os grandes investidores dizem que isto é o principal e que a capacidade da gestão da carteira vem em segundo lugar.

Se existir um sistema de investimento simples, directo e cujas regras sejam seguidas, a hipótese de conseguir bons resultados sobe.

Um dos conselhos dados pelos maiores é este: nunca se envolva emocionalmente com as acções, porque isto é um plano para investir e não um plano para colmatar necessidades emocionais. Se compra acções do seu clube de futebol só porque gosta do clube, então o seu objectivo não é fazer dinheiro. Está certo comprar essas acções, mas não para o objectivo de ganhar.

Por isso é necessário sabermos quais as razões profundas que nos levam a entrar nos mercados. Se descobrimos que é para colmatar necessidades psicológicas, emocionais ou sociais, então tudo está perdido: o mercado é um lugar que ignora as nossas razões e o mais provável é acabarmos por perder.

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6.17Estilo de vida e Educação

A possibilidade de multiplicação do dinheiro faz com que seja necessária uma boa gestão das finanças pessoais. Especialmente nas idades mais jovens é preciso saber que 5000 euros podem significar meio milhão passados vinte e cinco anos.

O sistema de ensino dá sempre um forte privilégio a uma educação artística, literária ou técnica, orientada para a formação de funcionários de empresas ou do Estado. Apesar da proliferação de cursos superiores orientados para números e gestão, determinada aprendizagem e experimentação financeira continua um privilégio de algumas famílias ou de empreendedores que decidem seguir por si próprios. A gestão pessoal do dinheiro, tão esquecida pelo sistema de ensino, é centro da nossa capacidade para investir na Bolsa.

6.18Visão integrada dos investimentos

Embora só abordamos a base do investimento em acções, é importante referir a necessidade de uma visão integrada dos nossos investimentos. Todo o trabalho de investimento pode ser inútil se outros campos da nossa actividade financeira estiverem a perder. O conselho é este: monitorizar a nossa posição integrada da conta de investimento à medida que observamos a situação de cada investimento em curso fora da Bolsa, as nossas receitas e as nossas despesas. É fácil fazer isto: basta apurar os números de todas as nossas receitas, despesas, activos e passivos.

6.19Agarrar as oportunidades

Mesmo que tenhamos bons métodos desenvolvidos, quando as oportunidades estão claramente à nossa frente é necessário aproveitá-las imediatamente. Deixar passar tempo significa que podemos perder a onda de subida e ter que esperar meses e meses até que novas oportunidades se formem lentamente.

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7 Parte VI: Teorias relacionadas com investimento em acções

7.1 Teorias relacionadas com investimento em acções

Muitas ciências reúnem-se para tentar compreender o mundo do mercado de acções. Áreas de conhecimento como a psicologia, matemática, física, estatística, informática, filosofia, linguística, sociologia ou engenharia electrónica dão excelentes ideias para isso.

7.2 A teoria Dow

A partir do ano de 1900, os trabalhos de Charles H. Dow deram lugar a uma teoria das tendências de mercado, sendo a mais antiga e uma das mais usadas hoje em dia. Esta teoria diz que a maioria dos títulos cotados segue uma linha de tendência durante a maior parte do tempo do seu trajecto. Para fazer a medição dessas tendências foram criados os índices que actualmente usamos.

7.3 As ondas de Elliot

É fácil ver que os títulos cotados não sobem na mesma direcção durante o tempo todo, mas parecem subir por degraus, passando algum tempo a oscilar lateralmente ou a formar quedas menores antes de subir de novo. Ralph Elliot formulou uma teoria, ainda válida, de que os títulos sobem em três degraus e depois descem em dois. O mercado costuma subir mais lentamente e cair mais rapidamente. Diz-se também que, dentro de uma determinada onda se vislumbram formações semelhantes à explicada, mas em dimensão menor.

7.4 O Efeito-borboleta e a Teoria do Caos

Em «Caos, a Construção de uma nova Ciência», James Gleick descreve o que se diz ser a dependência sensível a condições iniciais, conhecido como o «Efeito Borboleta»: uma borboleta a bater asas em Pequim hoje pode, daqui a um mês, originar ou modificar a configuração de uma tempestade em Nova Iorque.

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Defensores da previsibilidade do mercado a curto prazo, como Linda Bradford Raschke, dizem que existem demasiados acontecimentos a decorrer ao mesmo tempo e por isso o tempo ideal para manter um título em carteira é dois ou três dias, porque a nossa capacidade de prever diminui com o tempo.

A teoria do caos diz que, para sistemas que nunca se repetem exactamente e por isso não encontram um estado estável, como os fenómenos climatéricos, pequenas diferenças em medições podem significar que determinados efeitos são ampliados e produzir resultados cada vez maiores com o passar do tempo.

8 Parte VII: A vida de grandes investidores

8.1 Perfil dos grandes investidores

Mitos sobre os grandes investidores incluem dizer que são provenientes de famílias abastadas, que possuem educação de determinadas universidades, que possuem capacidades mentais fora do comum, que tiveram sorte na vida, etc. Nada poderia estar mais longe da verdade.

Thomas J. Stanley, após 20 anos a estudar a vida de pessoas que possuem fortunas, demonstrou que os grandes investidores são pessoas que possuem características como estas:

1. Não decidem fazer tudo sozinhas, aprendendo com outras pessoas constantemente mas, ao mesmo tempo são diferentes: não seguem a multidão;

2. Têm capacidades de relacionamento social, aproveitando actividades informais para desenvolver a sua rede de conhecimentos, além de participar em obras comunitárias;

3. Sabem vender as suas ideias;

4. São tenazes e corajosas, com capacidade de liderança, mas não necessariamente os mais espertos ou os mais rápidos;

5. Concentram-se nas necessidades dos outros;

6. Ignoram totalmente ou são inspiradas pela crítica dos outros;

7. Têm uma forte incidência de prática de desportos bem como um espírito competitivo;

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8. São integras, honestas com toda a gente;

9. São pessoas muito criativas e corajosas na altura de assumir riscos que prometam um bom retorno de investimento;

10. Conseguem ver oportunidades que os outros não conseguem;

11. Vivem bem, mas sem sinais exteriores de riqueza. Não gostam de dar nas vistas e não gostam de deixar levar-se pelo consumismo;

12. A maior parte não teve notas altas na escola;

13. Decidiram deixar de ser empregados dos outros e tornaram-se empresários;

14. Mantêm um casamento feliz por muitos anos, apoiando a pessoa com quem vivem;

15. Acreditam que tempo é dinheiro;

16. Adoram o que fazem;

17. São pessoas disciplinadas mas não obcecadas pelo trabalho;

18. Muitas começaram do nada;

19. Usam serviços de bons contabilistas, advogados e especialistas em impostos;

20. São decididas.

Os maiores investidores são muito sofisticados na gestão dos seus activos, que incluem investimentos na Bolsa, negócios imobiliários e gestão de empresas.

(STANLEY, Thomas J. - The Millionaire Mind. London, Bantam Books, 2000;)

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9 Parte VIII: Manipuladores do mercado

9.1 Ouvir os analistas e comentadores?

Os analistas das grandes casas de investimento e os comentadores especializados são parte interessada e fazem o seu papel. Podem fornecer-nos informações valiosas sobre as empresas, mas também dão muitas dicas, recomendações e avisos com objectivos que desconhecemos. Os grandes investidores recorrem ao serviço dos melhores analistas. Se não puder dar-se a esse luxo, é boa ideia aproveitar apenas tudo aquilo que contribua para o seu plano. As opiniões podem ser boas se contribuem para o seu conhecimento, e más se vierem baralhar o seu plano, porque assim nunca chegará aos seus resultados para que os possa avaliar.

9.2 Cuidados com a Internet e a Comunicação Social

Dependendo das práticas de fiscalização de cada país, alguns gestores de grandes fundos por vezes conseguem comprar acções para a sua carteira de investimento pessoal antes que o façam em favor dos seus clientes institucionais, beneficiando da subida originada pela compra posterior de grandes quantidades de títulos. Ou, como se costuma dizer, a melhor maneira de prever o futuro é sermos nós a fazê-lo.

Imediatamente a seguir lançam grandes campanhas na web e nos media para convencerem os restantes investidores a comprar, ou seja, a fazerem subir o valor das acções. Parte do processo é lançar «recomendações» de compra ao público. Nos EUA, o poder dos media é arrasador neste aspecto. Os autores dessa campanha inicial fazem assim escoar a oferta e subir o preço, promovendo ao mesmo tempo a ideia de que as pessoas devem pensar a longo prazo retendo os títulos durante anos seguidos, de forma a «apertar» o mercado o máximo possível, criando uma escassez relativa ao nível do mercado que mantém as cotações no alto. É também uma forma de criar um ambiente mais calmo para desenvolverem todo este esquema. Se a grande massa de investidores ingénuos e inexperientes tiver um comportamento mais previsível, comprando e ficando quietos, tanto melhor. Um estudo interessante seria descobrir se um investidor que «pensa a longo prazo» não estará muito mais predisposto a comprar um volume bastante superior de acções.Logo após esta fase, os títulos que estão na carteira pessoal do gestor são vendidos para obter mais-valias, seguindo-se o mais previsível: o grande lote de acções dos clientes institucionais é vendido, fazendo o preço cair inesperadamente e apanhando de surpresa os investidores que acreditavam

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num investimento de longo prazo. A esses é dito que devem continuar a esperar porque a empresa é boa e que o dinheiro ganha-se no «longo prazo».Mas, embora aparentemente o investidor individual esteja no «fim da linha» e o tabuleiro do jogo tenha sido desenhado e montado pelos grandes, os grandes operadores do mercado são previsíveis e não conseguem de forma nenhuma ter a agilidade e rapidez de acção de um pequeno investidor. Existem muitas regulamentações, regras e limitações a que os grandes gestores estão sujeitos, impedindo-os de ter as vantagens do pequeno investidor.

Sabendo como funciona o sistema, você saberá evitar as armadilhas. Mais do que isso, poderá aproveitar a acção dos grandes investidores para beneficiar a sua carteira. Para compreender este fenómeno na prática basta criar um endereço de correio electrónico e subscrever recomendações sensacionalistas na web, analisando o que acontece à cotação tendo em conta o dia e hora em que o e-mail com a recomendação foi enviado.

9.3 A quem interessa a diversificação?

Na questão de diversificar a carteira de títulos, há algo que nos deixa desconfiados. O programa de TV «Consuelo Mack WealthTrack», emitido em 1 de Setembro de 2006, difunde uma entrevista a Richard Bernstein, «Chief Investment Strategist» da Merryl Lynch. Consuelo Mack informa:

- «Numa recente entrevista, Bernstein concorda fortemente com a nossa visão de que os investidores individuais se devem concentrar no longo prazo.»

Afirma Bernstein:

- «Os meus colegas e eu na Merryl estamos perfeitamente convencidos de que os horizontes temporais dos investidores institucionais encurtaram de forma tão dramática, que os investidores individuais devem concentrar-se no longo prazo. Quero dizer, a probabilidade de perder dinheiro sobe à medida que se encurta o espaço temporal. Então, apenas simplesmente alongando o tempo de investimento, a probabilidade de ter retornos positivos aumenta» - explica.

Aparentemente, os investidores institucionais não gostam que os investidores individuais «mexam no mercado» directamente. Quase unanimemente, eles passam a mensagem, na qualidade de especialistas, de que os individuais devem comprar e depois permanecer inactivos.

Colocando-nos na perspectiva de advogado do diabo: Será que os investidores institucionais procuram a estabilidade e isso será menos bem conseguido com milhões de pessoas a intervir no mercado constantemente? Mas se esses milhões de pessoas ajudarem a esgotar os títulos no mercado em certas alturas, comprando-os e mantendo-os em carteira, então será que assim os institucionais poderão beneficiar de uma subida de valor dos seus próprios títulos?

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Um aspecto interessante a notar neste caso é que Bernstein aconselha o investidor individual a fazer exactamente o oposto do que ele próprio diz que as instituições de investimento fazem, mas a verdade é esta: a análise baseada em factores «fundamentais», que é adoptada por grande maioria dos institucionais, pressupõe um horizonte mais longo de investimento, pelo menos de três meses e que corresponde à compilação e publicação dos resultados contabilísticos.

Assim, a nossa teoria é que as empresas cotadas precisam dos investidores individuais para obter financiamento, mas os institucionais preferem que as pessoas não intervenham no mercado directamente e, em alternativa, subscrevam os seus próprios fundos para que sejam eles a gerir esse capital.

Os investidores institucionais repetem até à exaustão: Diversifique! E assim o repete Bernstein nesta entrevista. Mas, paremos para pensar nisto: «Investir a longo prazo e diversificar».

Qual é a forma mais prática e lógica de fazer isto? É subscrever títulos de participação em grandes fundos, que possuem uma forte componente de diversificação, mantendo assim o nosso dinheiro, por anos e anos, nas mãos de especialistas, os mesmos que aconselham esta metodologia.

A nossa conclusão é simples: seja ele bom ou mau, o esquema de «investir a longo prazo e diversificar» parece servir os interesses de quem tão incessantemente o promove. Assim compreende-se o voluntarismo de Bernstein ao vir a público para «ajudar» os investidores individuais.

A entrevista pode ser lida em http://www.wealthtrack.com/transcript_09-01-2006.php

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10 ConclusõesSe existir uma única coisa importante a dizer, será esta: o objectivo de um investidor na Bolsa é apenas fazer dinheiro. Quando se entra no mercado é com uma certeza de que existem fortes probabilidades de ganhar. Tudo roda em torno de um núcleo que é a medição de procura e oferta.

Investir na Bolsa é sobretudo experiência que nenhum livro lhe poderá dar. Como certamente notou, as estratégias, métodos, opiniões, crenças e objectivos variam de pessoa para pessoa e o importante será conhecer tudo isto e formar o seu próprio caminho. Será óptimo se encontra nestas páginas as suas primeiras ferramentas. Muitas dúvidas serão resolvidas com o tempo se fizer o seu plano, dedicando-se a estudar e acompanhar o comportamento das acções.

11 Prosseguir as suas investigações

11.1Recursos na Web

Se deseja tirar o máximo da Bolsa é fundamental dominar a língua inglesa. Se não gostar de ler e ouvir inglês, note que é uma língua mais fácil de aprender do que a portuguesa.

Na web poderá achar úteis os seguintes recursos:

http://finance.yahoo.comUma referência importante. Pode analisar uma grande quantidade de informação que inclui gráficos, relatórios de contas e notícias sobre milhares e milhares de empresas. Poderá descarregar cotações, ver quem dirige as empresas, etc.

http://www.prophet.netInclui ferramentas de grande qualidade para análise gráfica online.

http://www.thestreet.com/basics/fundamental/19519.htmlNoções básicas sobre como «dissecar» os relatórios de contas das empresas.

http://www.fxstreet.comPermite acompanhar o mercado monetário em tempo real.

http://www.turtletrader.comRecurso para as «tartarugas» do investimento. Defende que se deve

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acompanhar as grandes tendências de médio ou longo prazo e aprender a tirar partido delas. Um web site excelente.

http://www.neuroquant.comMétodos que usam inteligência artificial. Alguns memorandos excelentes sobre aplicação destas tecnologias.

http://www.traders.comWeb site da revista de referência sobre métodos de análise técnica: «Technical Analysis of Stocks and Commodities»

http://www.equis.com/Customer/Resources/TAAZEdição online da obra de referência de Steven B. Achelis, «Technical Analysis from A to Z». Descreve as fórmulas mais conhecidas para osciladores e indicadores.

http://www.nasdaqtrader.com/Acesso a ferramentas para acompanhar o mercado.

http://www.investopedia.comA enciclopédia de investimento mais conhecida da Internet.

http://www.wikipedia.orgA enciclopédia genérica mais importante da Internet.

http://invest-faq.comUma fonte de recursos para esclarecer as suas dúvidas.

http://kb.worden.com/A base de conhecimento da Worden

11.2Utilizar um software de análise

Várias empresas disponibilizam software especializado em análise técnica de acções. Fica a nota de que são bastante úteis ao investidor iniciante mas que, com o passar do tempo, poderão tornar-se insuficientes e ser necessário desenvolver software por medida para testarmos todas as ideias que surgem. É normal este tipo de software trazer alguma linguagem de programação embutida que permite testar uma série de coisas, mas isso não chega. Alguns investidores avançados aprendem a programar, outros recorrem a programadores informáticos.

Veja, por exemplo:

TradingExpert Pró

http://www.aiqsystems.com

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Equis Metastock

http://www.equis.com

NeuroShell Trader

http://www.neuroshell.com

TeleCharthttp://www.worden.com/

12 Bibliografia recomendada Existem bons recursos para aprender a investir na Bolsa. Uma obra muito recomendada é «Ganhar em Bolsa», de Fernando Braga de Matos, um livro português de referência sobre este assunto, que pouco fica a dever a muitas obras internacionais do género. Adicionalmente, são recomendadas as seguintes:

SCHWAGER, Jack D. - Stock Market Wizards - Interviews with America's Top Stock Traders.

SCHWAGER, Jack D. - The New Market Wizards - Conversations with America's Top Traders. Nova Iorque, Harper Business, 2003, p. 190;

BERNSTEIN, Jake - The Investor's Quotient Second Edition - The Psychology of Successful Investing in Commodities and Stocks.

LEFÈVRE, Edwin - Reminiscences of a Stock Operator. Nova Iorque, John Wiley & Sons, 1994;

PRING, Martin J. - Technical Analysis Explained - The Successful Investor's Guide to Spotting Investment Trends and Turning Points. Nova Iorque, McGraw-Hill, 1991;

STANLEY, Thomas J. - The Millionaire Mind. London, Bantam Books, 2000;