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Manipulação do Tecido Gengival Perimplantar na
Reabilitação Estética de Área Anterior de Maxila – Relato de
um Caso
Peri-implant gingival tissue modeling in the esthetic
rehabilitation of the maxillary anterior area – a case report Reynaldo Porcaro Filgueiras*, Waldir Benicasa de Castro Lima**, Andrea de Sousa
Domiciano***
*Doutorando em Clínica Odontológica SLM Campinas SP - Mestre em Reabilitação
Oral UVA RJ - Especialista em Implantodontia ABO Barra Mansa RJ - Especialista em
Prótese Dentaria FOFAA Valença RJ
** Mestre em Implantodontia pelo Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo
Mandic Especialista em Implantodontia pela APCD São Bernardo do Campo;
***Especialista em Periodontia – OCEX/RJ; Graduanda no curso de especialização de
Implantodontia – ABO/BM
RESUMO
A reabilitação protética implanto-suportada de espaços edêntulos na região anterior da
maxila é um desafio para o cirurgião-dentista. Um adequado posicionamento dos
implantes e sua relação harmoniosa com os tecidos duros e moles são fundamentais para
o sucesso do tratamento no sentido estético e funcional. Esse estudo, realizado no curso
de Especialização da Associação Brasileira de Odontologia de Barra Mansa, RJ, relata a
instalação de implante na região do elemento 12 associado a correção de um defeito
estético decorrente da reabsorção óssea vestibular através da manipulação dos tecidos
perimplantares, alcançando um resultado estético satisfatório.
Unitermos - Implante dentário, Estética perimplantar, Manipulação de tecido gengival.
ABSTRACT
Implant-supported prosthetic rehabilitation of anterior edentulous spaces is a challenge
to the dentist performing the implant surgery. Proper positioning of the implant and its
harmonious relationship with the hard and soft tissues are fundamental for a high
aesthetic demand. This case report an implant installation on 12 region held in Implant
2
specialization course at Brasilian Association of Odontology, Barra Mansa, RJ
correction of a esthetic defect caused by vestibular bone resorption through the
manipulation of peri-implant tissues, achieving a satisfactory result.
Key words - Dental Implants; Peri-implant estetic; Tissue conditioning; Soft tissue
manipulation.
Introdução
A reabilitação em espaço unitário de um dente superior tem sido um dos
fatores mais desafiadores em odontologia. Em vista de todas as vantagens da
longevidade do implante unitário, manutenção do nível ósseo, diminuição das
complicações dos dentes pilares, e maior sobrevida dos dentes adjacentes, os implantes
unitários tem se tornado o tratamento de escolha.1-2-3-4
O conhecimento dos parâmetros que influenciam a estética perimplantar
é de suma importância para a obtenção de resultados satisfatórios que se mantenham por
longo prazo. Avaliar os fatores anatômicos, biológicos, cirúrgicos e protéticos torna-se
fundamental para se obter um posicionamento ideal de implantes osseointegráveis, com
melhor resultado estético e funcional.5-6
Para que se possa alcançar esse resultado, deve-se realizar um detalhado
planejamento, pois o volume ósseo e as características da mucosa perimplantar podem
comprometer, sobremaneira, o resultado final do caso. Sendo assim, nas reabilitações
implantossuportadas com alto grau de necessidade estética, muitas vezes torna-se
necessária a realização de procedimentos cirúrgicos prévios a dos implantes para o
restabelecimento de um contorno ósseo adequado, ou ainda, de procedimentos
posteriores a colocação dos implantes, para a obtenção de um tecido mole, saudável e
esteticamente natural.2,5-6-7-8-9
Dentro do conceito da estética rósea (tecidos gengivais) percebe-se,
geralmente, que a configuração natural da gengiva é perdida após a extração dos dentes,
apresentando alteração do arco côncavo regular e indiferenciação das papilas. Isso
ocorre devido à reabsorção do osso alveolar na região vestibular (horizontal) em uma
velocidade maior do que na região palatina, de forma que a crista se move efetivamente
para dentro 2-3,7,10
. A quantidade de perda óssea vertical e horizontal pode alcançar até
3
60% dentro de dois anos após a extração sendo que a maior perda ocorre no primeiro
ano.9
Para que essa configuração natural seja atingida, a gengiva perimplantar
deve ser espessa e fibrosa a fim de mascarar os componentes protéticos, visando a
obtenção da estética na prótese sobre implante. A espessura aceita como ideal seria de
valores iguais ou maiores que 3,0 mm de gengiva ceratinizada.3
A presença de mucosa ceratinizada proporciona uma maior resistência a
inflamação pelo selamento biológico, proteção mecânica contra infecção, força exercida
pelos lábios, impede a impactação alimentar, problemas de fonética, torna o tecido mais
resistente a retrações, ausência de incomodo na escovação, contribuindo para uma
melhor função mastigatória e estética satisfatória. Com isso, se torna indispensável à
utilização de manobras cirúrgicas para restabelecer a configuração natural dos tecidos
gengivais.2-3,6-7,10-11-12-13
A manobra de escolha, ou seja, se será necessário enxerto ósseo, enxerto
de conjuntivo, ou somente manipulação do tecido deve ser avaliada no exame pré-
operatório, levando em consideração os aspectos anatômicos da área em potencial. Isto
inclui uma variedade de parâmetros como: a forma e espessura da crista óssea, presença
de depressões vestibulares, condições dos dentes vizinhos, relação inter-maxilar,
presença de diastemas, espessura e contorno dos tecidos mucosos vestibulares (fenótipo
gengival), posição da papila, localização da linha de sorriso e o tipo de defeito
apresentado.2,5,9
Adotou-se a Classificação Palacci & Ericsson como parâmetro pois
classifica os defeitos de rebordo de acordo com a quantidade de tecido ceratinizado e
reabsorção óssea no sentido vertical e horizontal.5,10
Dessa forma, o presente trabalho relata a reabilitação de uma área
edêntula na região anterior da maxila, com defeito estético Classe I-A de Palacci &
Ericsson, onde optou-se pela manipulação dos tecidos perimplantares, resultando numa
dobra cirúrgica, também chamado de retalho em rolo ou retalho pediculado no
momento da reabertura do implante previamente instalado.
Constitui-se numa excelente opção estética aos enxertos livres de
gengiva e enxertos ósseos autógenos/alógenos, em situações em que se tem uma
pequena perda de volume dos tecidos moles e duros interproximais sendo menos
invasivos e bem aceitos. Possibilita a criação da estética gengival proporcionando o
preenchimento da crista, espessamento gengival pré-protético, recuperação do contorno
4
vestibular (eliminando a concavidade), criação de papilas, aumentando em até dois
milímetros de tecido ceratinizado disfarçando a cor cinza do metal do implante.
Alcançando assim, um resultado satisfatório em apenas um estágio cirúrgico.2,10-11
Preposição
Aumentar a espessura de gengiva ceratinizada por vestibular através de técnicas
cirúrgicas na região anterior da maxila, obtendo, consequentemente, um ganho em
altura, corrigindo a concavidade vestibular apresentada no periodonto de proteção do
implante.
Relato de Caso Clínico
A paciente J.B, 48 anos, sexo feminino compareceu a Clínica de Especialização
da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Barra Mansa, RJ, desejando a
reposição do elemento 12 (Incisivo lateral superior direito) perdido por cárie dental.
Foi realizada a instalação do implante cilíndrico de hexágono interno (Implacil
de Bortoli Universal II) com medidas 3,75mm X 14 mm nessa região.
Passado o período de osseointegração, a paciente foi chamada para a reabilitação
protética desse elemento após nove meses. Durante a realização de exame clínico e
radiográfico (Figura 1), foi detectada a presença de um defeito ósseo em espessura
(Classe I-A de Palacci & Ericsson) optando-se por realizar um retalho em rolo (retalho
pediculado) no momento da reabertura e colocação do cicatrizador a fim de solucionar
esse defeito. Inicialmente, procedeu-se a anestesia terminal infiltrativa paraperiostal
com mepivacaína HCL 2% com epinefrina 1:100.000 (DFL) por vestibular e palatina
(Figura 2).
5
.
Realizou-se uma incisão trapezoidal na mucosa palatina, seu epitélio foi
removido com uma lamina de bisturi 15c (SOLIDOR) (Figura 3), e um retalho
pediculado de tecido conjuntivo foi elevado com o objetivo de expor a área doadora. A
região vestibular foi divulsionada através de relaxantes que respeitaram a papila mesial
do elemento 13 e a papila distal do elemento 11 não ultrapassando a linha
mucogengival, criando um leito supra-periostal (Figura 4). O pediculo palatino foi então
flexionado e reposicionado sob o tecido gengival vestibular (Figura 5), corrigindo
defeitos de espessura de rebordo.
Figura 1: Vista oclusal da deficiência
em espessura de rebordo ósseo (Classe
I-A de Palacci & Ericsson).
Figura 2: Anestesia terminal infiltrativa
paraperiostal com mepivacaína 2% no
nervo alveolar antero-superior.
Figura 3: Incisão palatina,
remoção do tecido epitelial
utilizando uma lâmina de
bisturi 15C.
Figura 5: Retalho
vestibular respeitando a
papila mesial e distal.
Figura 4: Incisão vestibular
preservando as papilas.
6
Um cicatrizador cilíndrico de diâmetro expandido de 3,0 mm de altura foi
posicionado (Figura 6) e a sutura concluída com fio de seda 4.0 (ETHICON) (Figura 7).
A área incisionada palalina permanece cruenta, havendo a cicatrização por segunda
intenção. Receitou-se Ibuprofeno 600mg de 6 em 6 horas por 3 dias e bochecho com
clorexidina a 0,12% a partir do segundo dia por 7 dias, amenizando qualquer
desconforto, melhorando a higiene intra oral evitando possíveis infecções oportunistas.
Imediatamente após a realização da cirurgia não é possível adaptar o provisório
devido o volume de tecido mole ter sido aumentado e ao edema previsto na região.
Então confeccionou-se uma ponte adesiva provisória utilizando dente de estoque e
resina fotopolimerizável com isolamento absoluto. O pôntico foi confeccionado com
aspecto de "ponta de bala", com superfície extremamente polida, havendo apenas um
toque suave no tecido gengival pois uma pressão excessiva neste momento poderia
causar necrose do enxerto, agravando o defeito inicial.
Depois de três semanas avaliou-se a cicatrização havendo um ganho de volume
gengival satisfatório, preservação de papilas e gengiva perimplantar totalmente
ceratinizada (Figuras 8 e 9) dando sequência aos procedimentos subsequentes.
Realizou-se a moldagem com transferente de moldagem anti-rotacional (Figura 10)
utilizando uma moldeira fechada e silicona de condensação.
Figura 6: Cicatrizador cilíndrico de
diâmetro expandido de 3,0mm
posicionado.
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Na semana seguinte foi instalado o componente protético do tipo munhão reto
preparado (Figura 11 e 12) com torque de 30N no parafuso e a coroa transitória
cimentada com cimento provisório. A coroa transitória foi confeccionada pelo
laboratório de prótese com ajuste final na clínica, criando um novo contorno gengival
(Figura 13). Um ajuste oclusal foi realizado a fim de evitar contatos prematuros.
Observe que a cor e a textura original do tecido mole foram preservadas, o volume
gengival ganho e as papilas preservadas.
Figura 8: Vista frontal da
região após quatro semanas,
observar a preservação da
papila e tecido gengival
saudável.
Figura 9: Vista oclusal do
implante, gengiva
perimplantar totalmente
cicatrizada e ceratinizada.
Figura 10: Transferente de
moldagem anti-rotacional
posicionado para moldagem
com moldeira fechada.
Figura 11: Componente
protético posicionado.
Figura 12: Vista oclusal do
componente protético.
Figura 13: Coroa
transitória confeccionada
pelo protético instalada.
8
Todos os passos foram radiografados para conferir o correto posicionamento e
encaixe dos transferentes, componente protético e prótese definitiva no implante (Figura
14).
A prótese definitiva em metalocerâmica foi instalada e devidamente ajustada
após um mês (Figura 15), atendendo satisfatoriamente a estética e função, como
podemos observar ao comparar com a Figura 1.
Figura 14: Avaliação radiográfica da
adaptação da coroa metalocerâmica.
Figura 15: Prótese definitiva
metalocerâmica cimentada dois
meses após o procedimento cirúrgico.
Comparar com o a foto inicial,
observando a reanatomização da
região.
Figura 1: Vista oclusal da deficiência
em espessura de rebordo ósseo (Classe
I-A de Palacci & Ericsson).
9
Conclusão
Com este trabalho verificou-se que a técnica de retalho em rolo, também
chamado de retalho pediculado, apresentou as seguintes vantagens: é um procedimento
simples e menos invasivo que as técnicas de enxertos gengival livre, podendo ser
realizado pelo clínico em um único estágio, dispensa o uso de biomateriais, boa
previsibilidade, evita a morbidade de um leito doador e receptor como nas técnicas de
enxertia gengival, preservação das papilas e coloração gengival, eliminação da
concavidade vestibular e aumento do volume de gengiva inserida nessa região com o
mínimo trauma para o paciente.
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Endereço para correspondência:
Andrea Domiciano
Rua Siqueira Campos, 121/304 – Copacabana
22031-070 – Rio de Janeiro – RJ
Tel: (21) 2256 5323
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