Mais MZ - Edição 0

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Negócios Salimo Abdula O incontornável homem de negócios Cultura Calane da Silva Escritor com um músculo intelectual erudito Dossier Agricultura Representa 25,5% do PIB MAISMZ.COM Edição 0 / 2012 80 Meticais 2,8 USD Salimo Valá Economia Moçambicana: Crescimento Espantoso

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Todos os projectos nascem de um sonho, de um desejo de criar algo que movimente o mundo, o ajude a crescer e o transforma num espaço humano e de dignidade. Sei que não é tarefa simples. Mas são estes desafios que me cativam. E a +MZ nasceu desta vontade, uma revista que quero multitemática, que seja parte do desenvolvimento de Moçambique, que crie ideias, derrube barreiras culturais e sociais e consiga unir Moçambique em projectos válidos e de futuro. +MZ distingue claramente informação de opinião, respeitando sempre os leitores. +MZ terá a criatividade sustentada numa clara opção de rigor jornalístico, abrindo portas ao debate social de forma a fomentar e criar sociedades responsáveis e críticas.

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Negócios Salimo Abdula

O incontornável homem

de negócios

Cultura Calane da Silva Escritor com um músculo

intelectual erudito

Dossier Agricultura

Representa 25,5%

do PIB

MA

ISM

Z.C

OM

Edição 0 / 2012 80 Meticais 2,8 USD

Salimo Valá Economia Moçambicana: Crescimento Espantoso

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Salimo Valá:Economia Moçambicana,Um crescimento espantoso

Moçambique na rota das tecnolo-gias de ponta

País de encantos

Salimo Abdula: O Incontornável homem de negócios

Verdadeira ascensão

Mais MZ por Sérgio Esteves

Sector da Agricultura em Moçambique

Vulnerabilidade associada à pobreza extrema

Calane da SilvaPrémio José Craveirinha 2011

Em Foco

Dossier

Ambiente

Cultura

Inovação

Tradição

Bio Missão

Repórter

Turismo

Crónica

08

24

38

48

18

46

56

16

42

54

30 34FDC:Ajudando o país a construir sorrisos

Autênticos milagres de carvãoe gás natural na Pérola do índico

Sumário

Vamizi: A ilha Esmeralda

Descobrir

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4

Todos os projectos nascem de um sonho, de um desejo de

criar algo que movimente o mundo, o ajude a crescer e o

transforma num espaço humano e de dignidade. Sei que não

é tarefa simples. Mas são estes desafios que me cativam. E a

+MZ nasceu desta vontade, uma revista que quero multite-

mática, que seja parte do desenvolvimento de Moçambique,

que crie ideias, derrube barreiras culturais e sociais e consiga

unir Moçambique em projectos válidos e de futuro.

Associado ao sonho da revista, a +MZ também nasce como

forma de intervir socialmente e traçar em arco-íris, nas dife-

rentes cores, matizes sociais de equidade, de liberdade, de

desenvolvimento do Homem, de desenvolvimento do país.

Na verdade, o desejo é simples: editar a +MZ como forma

de textos livres, torná-los de fácil leitura, atraentes; quero

criar uma unidade na diversidade de temas, de ideias, de

propostas, de conhecimentos, de vida.

Com o grupo que escolhi para dar corpo a este projecto, con-

segui dar fundamento a este desejo e tenho a certeza que,

aos poucos, ele será ampliado e reconhecido. Só com muita

dedicação e persistência se consegue concretizar sonhos.

Quero a +MZ como enciclopédia de saber múltiplo e plural,

e o caminho que vai percorrer ajudará a clarificar alguns

conceitos e a criar uma país mais crítico, inovador e

ambiental e socialmente mais responsável.

Estatuto Editorial

Editorial

Está nas vossas mãos a revista de apresentação. Não quero

destacar temas por sentir que todos fazem parte de um

conhecimento múltiplo e são, todos eles, a vida, o traba-

lho, o empenho de cada Moçambicano na construção de um

país. Será esta primeira imagem que vamos manter, com

muitas outras ideias e desejos que vão criar em cada +MZ

algo que acreditamos ser inovador e essencial.

Quero a +MZ como enciclopédia de saber múltiplo e plural, e

o caminho que vai percorrer ajudará a clarificar alguns con-

ceitos e a criar uma país mais crítico, inovador e ambiental e

socialmente mais responsável.

Tenho de agradecer a quem tornou este projecto possível, a

quem de perto sempre nos apoiou, às primeiras empresas

que acreditaram no nosso projecto e que patrocinam a +MZ,

são elas que tornam o projecto viável. Agradeço a quem tem

a revista neste momento nas mãos e lê estas curtas pala-

vras… mas o coração da revista são os textos e as palavras

que nos levam, nas nossas mãos, Moçambique.

Sádia Ibraimo.

+MZ é um projecto de informação. +MZ é uma revista mensal multitemática, orientada por critérios de rigor e criatividade editorial, sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica. +MZ inscreve-se numa tradição de jornalismo exigente e de qua-lidade, recusando o sensacionalismo e a exploração mercantil da matéria informativa, comprometendo-se a assegurar o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas. +MZ aposta numa informação diversificada dentro de áreas transversais à sociedade, orientada para a multiplicidade cultural de Moçambique. +MZ apresentará trabalhos jornalísticos de investigação, entrevistas, reportagens, dando cor à diversidade de temas em todas as edições. +MZ estabelece as suas opções editoriais sem hierarquias prévias, numa constante disponibilidade para o estímulo de tudo o que faz parte do desenvolvimento social sustentável, assumindo nas suas opções responsabilidade social e ambiental.

+MZ não fixa fronteiras regionais, nacionais, culturais e ideológicas. +MZ participa no debate das grandes questões se colocam à socie-dade Moçambicana na perspectiva de uma descoberta mútua entre palavras e realidade. +MZ é responsável apenas perante os leitores, numa relação rigorosa e transparente, autónoma do poder político e independente de pode-res particulares. +MZ situa-se no terreno dos que sentem que outro mundo é possível. +MZ terá autonomia para, nas suas opções editoriais, alargar o seu campo jornalístico. +MZ distingue claramente informação de opinião, respeitando sem-pre os leitores. +MZ terá a criatividade sustentada numa clara opção de rigor jorna-lístico, abrindo portas ao debate social de forma a fomentar e criar sociedades responsáveis e críticas.

Fabrico e comercialização de cartuchos

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5

Localização da Empresa/Contactos: Av. Samora Machel, Parcela nº 10, Estrada Nacional nº 4, C.P. nº 1007. Matola – Moçambique

Fabrico e comercialização de cartuchos

Page 6: Mais MZ - Edição 0

6

A Primeira exportação de minério de ferro produzido no dis-

trito de Lalaua, província de Nampula, terá lugar até ao final

do ano, tendo como destino a China. O primeiro lote será cons-

tituído por cerca de 28 mil toneladas de magnetite de ferro,

actualmente armazenado nas instalações da Damodar Ferro

Limitada, dona do projecto.

Mais de 300 turistas de diversas nacionalidades, com destaque

para sul-africanos, visitaram no primeiro trimestre do ano em

curso, o Parque Nacional de Zinave, em Mabote.

Antílopes, boi-cavalo, zebras e girafas são os animais que, neste

momento, podem ser observados no Parque Nacional do Zinave,

havendo previsões, segundo prometeu o respectivo administra-

dor, da introdução de mais quantidades dos mesmos animais,

alguns dos quais em extinção. Pretende-se com este acção que o

parque seja também de grande referência na região sul do país. Para

complementar as actividades turísticas, no interior de Inhambane,

funciona no Parque Nacional de Zinave um lodge comunitário edi-

ficado com objectivo de permitir o alojamento dos turistas.

Moçambique é o segundo país da Comunidade

de Desenvolvimento da África Austral (SADC)

com maior participação feminina no par-

lamento, cuja representação é estimada em

39,2% do total dos 250 deputados.

De acordo com os dados divulgados pela pre-

sidente do Grupo Regional de Mulheres Par-

lamentares da SADC, Beatrice Nyampinga,

sexta-feira última, em Maputo, a nível da

região, a África do Sul tem a maior represen-

tação feminina no parlamento, com 45 por

cento de mulheres no total dos deputados.

Minas de Lalaua em Nampula: Primeira exportação de ferro para China

Inhambane: Turismo cinegético em alta no Zinave

Parlamentos da SADC: Moçambique com segunda maior participação feminina

O Porto de Maputo projecta investir pelo menos 322 milhões

de dólares no período de 2012 a 2014 em obras de dragagem,

construção de novos cais de acostagem e desenvolvimento dos

terminais de carga.

Alinhados com o objectivo de aumentar a capacidade de carga

e melhoria da qualidade de serviços prestados aos utilizado-

res, os investimentos visam igualmente corresponder ao pre-

visto crescimento da demanda de serviços portuários devido ao

incremento do comércio entre os países bem como elevar a com-

petitividade do porto no contexto regional e internacional.

Sobre os investimentos projectados até 2014 a prioridade vai

para a construção de novos cais de acostagem, que deverá

consumir cerca de 121 milhões de dólares ao longo dos três

anos, o desenvolvimento de terminais de carga com orça-

mento estimado de 118 milhões de dólares, bem como a draga-

gem do porto para profundidades até os 14 metros, uma acção

prevista para 2013 com um custo estimado de 83 milhões de

dólares. Outras intervenções previstas para o mesmo período

abarcam os sectores de vias de acesso, nomeadamente estra-

das e vias-férreas, segurança e iluminação, serviços maríti-

mos, edifícios e outras infra-estruturas.

Nos próximos oito anos está previsto um incremento dos volu-

mes da carga manuseada no Porto de Maputo dos actuais cerca

de 12 milhões de toneladas para 40 milhões de toneladas por

ano. Na grande maioria esta carga será constituída por carvão,

magnetite e outros minerais, esperando-se que aumente tam-

bém a demanda de transporte de combustíveis, produtos agrí-

colas e carga contentorizada.

Com olhos postos na concorrência: Porto de Maputo seduz potenciais clientes na RAS

Breves

Page 7: Mais MZ - Edição 0

7

- Curso de Formação de Vigilante Estático

- Curso de Formação em Reacção/Resposta Armada

- Curso de Formação de Vigilante Armado – Atirador de Posto

- Curso de Formação em Transporte de Valores

- Curso de Formação em Protecção Pessoal (Guarda – Costas)

- Curso de Formação de Supervisor de Segurança Privada

- Curso de Formação de Inspector de Seguranca Privada

- Reciclagem, Limpeza e Manutenção de armas de fogo

CFV – Centro de Formação de Vigilantes, Av. Samora Machel, Parcela nº 10, Estrada Nacional nº 4, C.P. nº 1007. Matola – Moçambique

Telefone: 00258 21 749 196 | Fax: 00258 21 749 197 | Cell: 00258 82 5945963 | E-mail: [email protected]

Page 8: Mais MZ - Edição 0

8

AGRICULTURA EMPREGA 90% DA POPULAÇÃO ACTIVA

Os fundamentos da economia moçambicana estão estáveis, temos um país que nos últimos 12-15 anos tem estado a conhecer um ritmo de crescimento económico na ordem de 7-8%, numa média de 7,5%/ano, temos um nível de inflação controlado, com a previsão de cerca de 7,2% este ano” – ponto de vista do académico moçambicano Salimo Valá. O desempenho da economia moçambicana traduz-se igualmente no aumento progressivo do PIB per capita, situando-se actualmente na casa dos USD 580-588.

“Isto dá um sinal claro de que a economia está no bom

caminho”, diz Salimo Valá, exemplificando com cresci-

mento nas áreas de construção, infra-estruturas socio-

económicas, transportes e comunicações, electrificação

rural e agricultura, base de desenvolvimento do país. Ele

reconhece, no entanto, que o crescimento na agricultura

está aquém do desejado, situação que se pretende alterar

com o aumento dos níveis de produção e da produtivi-

dade, principalmente nas culturas alimentares.

O “bum” na exploração dos recursos naturais (gás, car-

vão, areias e pesadas) está a estimular, de forma especial,

a economia moçambicana, e a expectativa é que se traduza

numa estabilidade económica ainda maior para o país,

com a previsão de aumento da renda para os moçambica-

nos e de oportunidades de emprego, ajudando na redução

dos índices da pobreza.

Em Foco

A agricultura e a economia

Moçambicana

8

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9

Em Foco

9

VALÁ

SALIMO

Page 10: Mais MZ - Edição 0

10

Capital estrangeiro

Muitos analistas consideram que os

ganhos dos grandes projectos não acres-

centam valor na economia moçambi-

cana, uma vez resultarem de capital

estrangeiro que volta a ser expatriado,

ficando muito pouco para o país (cerca

de 20 por cento). Salimo Valá contra-

põe, sustentando que as estratégias de

desenvolvimento, com realce para o

Programa Quinquenal do Governo e o

Plano de Acção da Redução da Pobreza,

mostram claramente que Moçambique

usa vários caminhos para o suporte da

sua economia.

“Um dos caminhos é a exploração sus-

tentável dos recursos naturais, mas

temos a plena consciência de que o

desenvolvimento socioeconómico não

depende exclusivamente da exploração

dos recursos naturais, através desses

projectos de grande dimensão, imple-

mentados fundamentalmente com

recurso ao capital estrangeiro. A par

dessas políticas (amigas), atractivas ao

investimento, nós temos consciência

de que o desenvolvimento socioeconó-

mico, sobretudo para aquela franja da

população, que ainda vive numa situa-

A agricultura é o principal

sector da economia que recebe

maior apoio e que emprega

a maior parte da população

(90% da população activa)

ção de pobreza, vai ter que contar com

grande contributo da agricultura e de

outras actividades que se desenvolve,

quer nas áreas rurais quer nas áreas

urbanas, relacionadas com comércio,

serviços, turismo e pesca, mas princi-

palmente a agricultura, incluindo o agro

processamento”, afirma Salimo Valá.

Sublinha que a par desta intervenção,

ao nível do capital intensivo estran-

geiro, Moçambique preconiza medidas,

ao abrigo do Plano de Acção de Redução

da Pobreza Urbana, de promoção de tra-

balho intensivo em empreendimentos

que empregam mão-de-obra intensiva,

permitindo que mais moçambicanos

tenham acesso ao emprego e também

à promoção de auto-emprego, através

da capacitação técnico-profissional.

“Quem tem o grande capital e o know-

-how ou tecnologia necessária para

esses projectos de grande capital, neste

momento da fase da nossa história, é

o capital estrangeiro, mas também há

medidas no sentido de o empresariado

nacional moçambicano, com ideias de

negócio, possa também entrar no cir-

cuito produtivo de exploração de recur-

sos naturais, através de parcerias com

um capital estrangeiro mais pujante,

tem mais tecnologia, tem mais capital,

tem a rede de comercialização destes

produtos que irão sair das iniciativas de

exploração dos recursos de que o país é

bastante forte”.

O Governo moçambicano defende a

tese de que cada família seja o cen-

tro de estratégia de combate à pobreza.

“Quem combate a pobreza são os indiví-

duos, são as famílias, são as comunida-

des, com as suas iniciativas, no quadro

de um ambiente adequado, para que

possam prosperar e criar riqueza”.

O Governo moçambicano defende a tese de que cada família seja o centro de estraté-gia de combate à pobreza. Quem combate a pobreza são os indivíduos, são as famílias, são as comunidades, com as suas iniciati-vas, no quadro de um ambiente adequado, para que possam prosperar e criar riqueza.

Em Foco

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11Av. Abel Baptista, parcela 10

contacto - 82 1855217

FEDERAÇÃO MOÇAMBICANA DE TIRO DESPORTIVO

Com o desenvolvimento do desporto em Moçambique

Page 12: Mais MZ - Edição 0

12

Investir na agricultura

Muita terra arável continua adorme-

cida no país. São vários os factores de

ociosidade, destacando-se a falta de

dinheiro para investir na exploração

da enorme e vasta riqueza adormecida

no subsolo. Estima-se que Moçambique

tem cerca de 36 milhões de terra fértil,

cuja exploração não chega sequer a um

quarto. As estatísticas oficiais da terra

ociosa estão muito aquém da dimensão

real do problema.

Salimo Valá nega falar em falha nas

estratégias, referindo-se à necessidade

de se prosseguir com o trabalho que

não terá sido realizado, determinando

Em Foco

aquele panorama. Diz serem válidas

para este objectivo, as experiências do

passado. Aponta o desafio da promo-

ção da irrigação agrícola e de provi-

mento dos serviços de extensão com

recursos humanos à altura da dimen-

são real do país e das necessidades

cada vez crescentes. “Ainda temos uma

quantidade não significativa das áreas

irrigadas, que permite não depender

da chuva. Temos o desafio de incre-

mentar o número de extensionistas

(há 900 extensionistas públicos con-

tra 1.218 extensionistas de empresas de

fomento e de organizações não-gover-

namentais. O combate da pobreza

deve começar nas aldeias, onde vivem

as pessoas, que devem ser dotadas de

conhecimento das novas tecnologias”.

Moçambique é auto-suficiente apenas

na cultura de milho e mandioca, regis-

tando um défice acentuado nas restan-

tes culturas, incluindo nas hortícolas,

com mais peso na inflação.

Sobre os cinco problemas

São cinco os problemas que impedem

uma agricultura de desenvolvimento

em Moçambique, a começar pela abor-

dagem generalista. A solução des-

ses problemas passa por estratégias

pragmáticas e realistas que ponham o

sector familiar (agricultura de subsis-

tência) a produzir em pleno.

Mas não deve haver a utopia de que

um sector familiar, com elevados

níveis de produção e de produtividade,

resulte na acumulação necessária para

o desenvolvimento dos outros secto-

res. Isto só se consegue com a agricul-

tura de pequena, e médias empresas, a

agricultura comercial.

Aqui nota-se a ausência gritante da

cadeia de valor. As políticas e acções

definidas para os diversos sectores de

desenvolvimento muitas vezes deno-

tam a falta de harmonia e congruên-

cia. Em consequência, nenhuma acção

36Milhões hectares

de terra fértil

500Mestrados em eco-

nomia agrária

Page 13: Mais MZ - Edição 0

13

ou política tem sucesso. Se há finan-

ciamento de semente, não há finan-

ciamento de transporte nem de

armazenamento. Se há uma linha fér-

rea, não há agro processamento. Não

há ligação entre a produção, processa-

mento, armazenamento e distribuição.

“É verdade que temos um grande cami-

nho a percorrer, mas os sinais que estão

sendo dados mostram que pode, nos

próximos anos, ter uma melhoria sig-

nificativa, particularmente ao nível das

culturas chave para a segurança ali-

mentar”, precisou Salimo Valá.

No sector de pequena e média empre-

sas, não há empresários em número e

em potência diferenciados, isto é, em

número temos poucos ou quase ine-

xistentes, e em termos de potência,

os poucos que existem estão quase

descapitalizados, e não há um sis-

tema de financiamento de empre-

sas privadas para o desenvolvimento

agrário em Moçambique.

Não faz sentido que com o enorme

potencial agrícola que Moçambi-

que detém, não existam no país, pelo

menos 3-4 grandes empresas indus-

triais do ramo alimentar, que trariam

o almejado desenvolvimento. Estas

seriam uma espécie de joint ven-

ture entre o Estado e o Sector Privado,

nacional ou estrangeiro, para se preo-

cuparem com alta produção e produti-

vidade. Esta é que seria a maior fonte

de acumulação de riqueza, e não só,

como também o aproveitamento inte-

gral das zonas agro-ecológicas.

O segundo problema, não menos impor-

tante, prende-se com a falta de inves-

tigação, de facto, extensão e inovação.

Faz-se muita investigação, definem-

-se variedades e algumas vezes encon-

tram-se soluções específicas para zonas

agro-ecológicas.

Todavia, a transição da investigação

para a implementação, extensão e ino-

vação, é uma miragem. Este circuito

não está sendo financiado aos níveis

requeridos, não se aproveita o poten-

cial dos quadros formados. A tomada

de decisão técnica sobre o que se deve

fazer na agricultura não é feita pelos

melhores formados, que tratam, de

facto, da agricultura.

Definitivamente revela-se crucial o

financiamento à investigação e exten-

são, para o aproveitamento integral

dos recursos disponíveis.

A valorização dos recursos humanos, o

terceiro problema, passa por um plano

da sua distribuição, utilização e poten-

ciação. O país conta, hoje, com mais de

500 mestrados em economia agrária,

fitopatológica, a quem o país já devia

responsabilizar pela área de desenvol-

vimento das zonas com grande poten-

cial agro-ecológico, onde já deviam

estar a fazer maior diferença. Falta é a

sua mobilização para a grande tarefa.

Mobilizados recursos humanos, ata-

car-se-ia o quarto problema, a mobi-

lização dos recursos financeiros, para

que um quadro mobilizado se sinta

valorizado, em qualquer ponto do país

onde estiver, e tão importante como

aquele que está em Maputo.

A dinâmica actual determina que o

Ministério da Agricultura já devia

estar dotado de quadros calejados, que

já trabalharam o suficiente e carregam

uma experiência.

O combate da pobreza deve

começar nas aldeias, onde

vivem as pessoas, que devem

ser dotadas de conhecimento

das novas tecnologias

900Extensionistas

Públicos

1.218Extensionistas de

empresas de fomento e de organizações

não-governamentais

O desenvolvimento da nossa agricultura passa pela transformação da agricultura de subsistência em agricultura comercial.

Em Foco

Page 14: Mais MZ - Edição 0

14

Precisamos, igualmente, de valori-

zar os agricultores, principalmente de

pequena e média dimensões, e fazer

com que os jovens que saiem hoje das

universidades se engajem na activi-

dade. O desenvolvimento da nossa

agricultura passa pela transforma-

ção da agricultura de subsistência em

agricultura comercial.

Isto só é possível através dos estudan-

tes finalistas, médios e licenciados, que

cursaram agricultura, desde que se lhes

abra o caminho de serem empresários,

aliados a velhos empreendedores, que

fariam o papel de incubadores.

Ainda não provámos a nossa seriedade

para apostarmos de forma significa-

tiva e pôr dinheiro na agricultura, a

premiar os melhores deste sector, por

forma a transformar a agricultura de

subsistência em agricultura comercial.

Mesmo com o paradigma da minera-

O quinto problema está relacionado

com o excesso de planos e estratégias

que, entretanto, nunca chegam ao fim.

Não estaríamos a inventar a roda! A

União Europeia, por exemplo, durante

50 anos seguiu as mesmas políticas.

De políticas temos uma riqueza ines-

gotável. Precisamos de pegar em algu-

mas delas e implementá-las, juntando

a teoria à prática.

Em Foco

Salimo Valá nega falar em falha nas estra-

tégias, referindo-se à necessidade de se

prosseguir com o trabalho que não terá sido

realizado, determinando aquele panorama.

Ele diz serem válidas para este objectivo, as

experiências do passado.

A expansão da estrutura

está a facilitar o comércio de

cereais e outras culturas aos

mercados consumidores.

ção, se não apostarmos na agricultura,

não iremos a lado algum. Os recursos

minerais acabam e não matam fome.

Aliás, o dinheiro dos recursos mine-

rais não garante segurança alimen-

tar. E mais: 70-80% do investimento

em recursos minerais é estrangeiro e

dos retornos só 20% ficam em Moçam-

bique. Não vão servir para combater a

pobreza. Apenas contribuirão para a

imagem do país, sem representar solu-

ção para a segurança alimentar, nem

para o nosso desenvolvimento com

sustentabilidade.

A agricultura e a agro-indústria con-

tinuam a ser áreas importantes, de

facto. Temos que passar da retórica

para a implementação. Já tivemos os

Planos Prospectivo e Indicativo, pre-

paração do Sétimo Congresso, Nono

Congresso, etc., com ideias brilhantes

nunca materializadas.

Atingido salto necessário

O país deu-se ao luxo do excesso em

universidades, o nível mais alto de abs-

tracção e pensamento. Por cada licen-

ciado precisaríamos de apenas um

técnico médio, com conhecimentos

profundos da agricultura, para imple-

mentar. Este técnico deverá saber fazer

a lavoura devidamente, num solo are-

noso, franco argiloso, verte solo e

saber fazer a gradagem. Numa só pala-

vra: saber analisar o solo, estimar a

matéria orgânica no solo. O país ainda

não possui laboratórios para avaliar o

nível de acidez das águas dos rios e dos

solos, não tem fertilizantes, nem sabe

como aplicá-los, porque está despro-

vido de capacidade institucional e de

mercado, para providenciar os facto-

res de produção.

A nível superior, Moçambique já atin-

giu o necessário. Tem défice a nível

técnico-profissional. A nível do Estado

sobressai a premissa de materializar os

programas, sem mudanças de três em

três anos ou de quatro em quatro anos,

e detectando-se erros, a correcção não

faria mal a ninguém. Já lá se foram o

pré PROAGRI, PROAGRI-I, PROA-

Page 15: Mais MZ - Edição 0

15

GRI-II e outros tantos. Os problemas

encontrados deveriam servir de lição.

Isto pressupõe um momento de pausa,

para reflectir sobre o que andou mal

em cada um dos programas.

Sempre a redução da pobreza

Os níveis da redução da pobreza em

Moçambique continuam aquém das

expectativas criadas. Salimo Valá jus-

tifica a situação com dois grandes pro-

blemas de desenvolvimento no país, a

começar pelas calamidades naturais,

que afectam a produção agrícola, com

destaque para os pequenos produtores.

O segundo problema, que representa

um desafio para o presente e futuro

está ligado ao HIV/SIDA no desenvol-

vimento.

“Em termos de redução da pobreza,

eu queria reafirmar que o nosso país

está num bom caminho. Se nos recor-

damos, quando Moçambique apre-

sentou o seu relatório periódico, em

Nova Iorque, nas Nações Unidas, sobre

o progresso no quadro do alcance dos

Objectivos de Desenvolvimento do

Milénio (ODMs), o Presidente Barack

Obama referiu-se, na sua intervenção,

aos grandes passos que estamos a dar,

ao nível de África. Ele realçou Moçam-

bique relativamente ao cumprimento

dos ODMs”, recordou Salimo Valá.

Apontou como maior desafio do país,

as calamidades naturais que afectam

o país de forma quase cíclica, des-

truindo a produção dos campone-

ses, incluindo excedentes agrícolas

nos celeiros. “O que temos a fazer é

melhorar a nossa capacidade de men-

surar de forma adequada a pobreza,

porque este é um fenómeno multi-

dimensional. A pobreza é dinâmica

e muitas vezes é volátil. Em certas

zonas, como Zambézia e Sofala, tive-

ram um “bum” muito grande, mas

em 2008/2009 retrocederam (tive-

ram índices de pobreza elevados) por

causa dessa calamidade”.

O académico considera que o maior

índice de pobreza prevalecente em

Moçambique é mais alimentar do que

de activos económicos. No âmbito do

Plano de Acção de Redução da Pobreza,

espera-se que até 2014 os índices da

pobreza se fixem em 42 por cento e 40

por cento em 2015, o mesmo indicador

fixado pelos ODMs. “O caminho é longo

e sinuoso, mas os resultados que temos

estado a alcançar dão-nos a coragem de

que estamos no caminho certo”.

42%Previsão para o

índice de pobreza em 2014

40%Previsão para o

índice de pobreza em 2015

Em Foco

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16

Segundo Salimo Valá, Moçambique é um

país que apresenta um quadro encoraja-

dor para o futuro. “É por isso que mui-

tos investidores ao nível mundial querem

investir em Moçambique, porque há esta-

bilidade e paz, há uma gestão macroeco-

nómica e das finanças públicas correcta,

as medidas de descentralização estão a

trazer uma lufada de ar fresco e ao nível

local estão a oxigenar a economia e a dinâ-

mica da sociedade. Temos de continuar a

prosseguir com essas medidas, afectando

mais quadros qualificados aos distritos,

implantar mais infra-estruturas econó-

micas e sociais para atrair investimento

para estes pólos de desenvolvimento”.

Crescimento inclusivo

“A grande questão que temos hoje,

quando se aborda a questão do cres-

cimento inclusivo e desenvolvimento

económico inclusivo, são que nós

vínhamos de uma situação muito difí-

cil. Moçambique quando alcançou a

paz em 1992, era considerado o país

mais pobre do mundo, com uma infla-

ção de quase 50 por cento e uma dívida

externa elevadíssima (200 por cento do

seu PIB) e fomos dando passos firmes.

À medida que vamos desmatando,

vamos criando mais oportunida-

des, melhorando a economia e esta-

bilizando as condições da população.

Obviamente vão surgindo também

novos desafios: o processo de electrifi-

cação, a melhoria de educação, incre-

mento significativo da agricultura.

Temos que ter em conta que Moçam-

bique é um país pobre, luta com afinco

para reduzir a dependência externa e

temos testemunhando o aumento gra-

dual de receitas internas”.

Moçambique aloca actualmente cerca

de 67 por cento de recursos públicos

para áreas prioritárias de combate à

pobreza (abastecimento de água, edu-

cação, saúde, infra-estruturas, agri-

cultura e desenvolvimento rural).

Apontou como maior desafio do país, as calamidades naturais que afectam o país de forma quase cíclica, destruindo a produção dos camponeses, incluindo

excedentes agrícolas nos celeiros.O que temos a fazer é melhorar a nossa capacidade de mensurar de forma ade-

quada a pobreza, porque este é um fenó-meno multidimensional.

1992O país mais

pobre do mundo

50%Valor de inflacção

anual em 1992

Em Foco

Page 17: Mais MZ - Edição 0

17

Page 18: Mais MZ - Edição 0

18

Ganham forma as obras de constru-

ção do Parque de Ciência e Tecnologia

de Maluana, distrito da Manhiça, pro-

víncia do Maputo com a construção

do Centro de Inovação e Desenvolvi-

mento Tecnológico (CIDT), o primeiro

dos vários edifícios a serem implanta-

dos no parque em alusão e cuja entrada

em funcionamento se prevê acontecer

até Setembro próximo.

O CIDT, cujo objectivo é promover a

aprendizagem, investigação e empre-

endedorismo, será equipado de infra-

-estruturas e facilidades, tais como

salas de aulas, laboratórios para ensino

e investigação, espaços para incubação

de empresas, administração, e para

albergar empresas de base tecnológica

e de conhecimento.

O Ministro da Ciência e Tecnologia,

Venancio Massingue, acredita que a

criação desta infra-estrutua tecno-

lógica não só vai beneficiar as comu-

nidades da Manhiça, distrito onde foi

implantada a obra, mas também aos

investigadores, que encontrarão no

parque um ambiente apropriado para

a transformação dos resultados da sua

investigação em produtos que possam

ser objecto de consumo na sociedade.

Massingue encoraja as empresas públi-

cas e privadas a se estabelecerem no

Parque de Ciência e Tecnologia, onde

poderão beneficiar-se de inúmeras

facilidades entre as quais se desta-

cam as isenções fiscais no contexto do

Código de Benefícios Fiscais aprovado

pela Assembleia da República, para

além da interacção com as instituições

de investigação.

Disse ainda existir um grande inte-

resse expresso de empresas nacio-

nais e estrangeiras em se estabelecer

no Parque de Ciência e Tecnologia.

“Este facto é bastante encorajador e

um indicador claro de que estamos no

caminho certo”.

O lançamento da primeira pedra que

marcou o início das obras de constru-

ção do Parque de Ciência e Tecnologia de

Maluana teve lugar em Fevereiro de 2010.

O empreendimento é um espaço com

infra-estruturas e serviços de gestão,

para o estabelecimento de empresas

baseadas no conhecimento, localiza-

das num ambiente com ligação formal

às instituições do Ensino Superior e

de investigação.

O parque, que vai ocupar um espaço

de cerca de 950 hectares, visa fomen-

tar o empreendedorismo, incubação

de pequenas e médias empresas, bem

como servir de local para a difusão do

conhecimento e terciarização de desen-

volvimento de produtos entre empre-

sas-âncora, incubadoras e instituições

nacionais de educação e de investigação.

Para o estabelecimento dos parques de

ciência e tecnologia, o Governo aprovou

o Programa de Estabelecimento do Par-

ques de Ciência e Tecnologia, que prevê

desenvolver quatro parques de ciên-

cia e tecnologia no país, nas provín-

cias de Maputo (Maluana, distrito da

Manhiça), entre a províncias de Sofala

(Estaquinha) e Manica (Dombe), Zam-

bézia (distrito de Mocuba), e Nampula,

num horizonte temporal de 10 a 15 anos.

Moçambique caminha a passos largos para um futuro, onde a inovação cientifica e tecnológica será uma realidade.

Inovação

JAIME CUAMBE

Moçambique na rota das tecnologias de ponta

Page 19: Mais MZ - Edição 0

19

Inovação

Obras do Parque de

Ciência e Tecnologia

decorrem a bom ritmo

Page 20: Mais MZ - Edição 0

20

Autênticos milagres de carvão e gás

na pérola do Índico

Repórter

BOAVENTURA MANDLATE

São vários os desafios que Moçambique enfrenta no con-texto da mineração de carvão no país, a começar pela

garantia que se impõe de forma imediata, de que os ganhos sejam efectivamente para os moçambicanos.

20

Page 21: Mais MZ - Edição 0

21

Só a Vale Moçambique já investiu

cerca de USD 1.7 bilião, mas até que

esse investimento se reflicta, em ter-

mos efectivos, na vida dos moçam-

bicanos, a distância a percorrer é

praticamente infinita. O que nos per-

tence é apenas o recurso carvão em

solo moçambicano, mas porque a sua

exploração requer capital financeiro

que não temos, os frutos dessa explo-

ração são expatriados quase na tota-

lidade para a origem desse capital, e

nós vamos assistindo, impotentes, à

nossa maldita pobreza perpetuada.

São 870 milhões de toneladas de car-

vão mineral que a Vale vai explorando

por longos anos, na região carboní-

fera de Moatize, em Tete, cuja primeira

exportação ocorreu em Setembro pas-

sado, num total de 35 mil toneladas,

para o Dubai. A previsão do empre-

endimento é de gerar 50 mil empre-

gos, directos e indirectos, dos quais

90 por cento moçambicanos. O sec-

tor passará, nos próximos anos, a res-

ponder por até 10 por cento do Produto

Interno Bruto do país e só em impos-

tos, o Estado moçambicano vai arre-

cadar o correspondente a cerca de USD

300 milhões anuais.

Por sua vez, a mina de carvão de Benga,

também em Tete, detido em 65 por

cento pela Rio Tinto, já investiu mais de

um bilião de dólares norte-americanos.

A previsão é de que apenas cerca de 15

por cento do orçamento do projecto

seja gasto no mercado local, criando-

-se oportunidades para os peque-

nos negócios locais e a indústria da

região de Moatize, havendo expecta-

tiva de gerar mais de 4.500 empregos

directos e indirectos, durante os pró-

ximos cinco anos.

O efeito multiplicador esperado deste

projecto de mineração de carvão

metalúrgico e de carvão térmico realça

o grande impacto positivo que ele terá

a longo prazo nas economias locais e

regionais. Estima-se um potencial na

ordem de biliões de toneladas de car-

vão só nas áreas de exploração deti-

das pela companhia australiana Rio

Tinto, que considera que a extensão

dos recursos de carvão em Benga per-

mite mineração a céu aberto, de custo

reduzido, com potencial para a produ-

ção bruta de 20 milhões de toneladas

anuais de carvão, por um período de

mais de 25 anos.

Ora, para os moçambicanos, estes

números dizem quase nada, porque no

dia-a-dia da maioria não se sentem os

efeitos dessa exploração. Muito haverá

que fazer, até que os frutos da actividade

geológico-mineira em Moçambique sir-

vam o país e que os ganhos da actividade

sirvam para melhorar o nível de vida

das pessoas, ou seja, garantir que a acti-

vidade seja feita de forma sustentável e

traga beneficiários para o país.

Não menos importante, a necessidade

de garantir que todas as actividades

de pesquisa se reflictam em actividade

produtiva. Por outro lado, deve-se

garantir que cada vez mais moçambi-

canos tenham conhecimento da activi-

dade geológico-mineira, e que possam

ser parte desta actividade. Mesmo que

não estejam directamente envolvidos

na pesquisa e na produção de recursos

minerais, assiste aos moçambicanos,

o direito e a oportunidade de presta-

rem serviços a montante e a jusante,

na actividade mineira.

Repórter

São 870 milhões de tone-

ladas de carvão mineral

que a Vale vai explorar

por longos anos, na região

carbonífera de Moatize.

21

Page 22: Mais MZ - Edição 0

22

Outro desafio que Moçambique enfrenta

é de viabilizar a exploração do gás

que está sendo descoberto na bacia

do Rovuma, em reservas duas ou três

vezes maiores que as de Temane, já em

plena exploração.

São reservas que aliás já atingiram a

classe mundial. O maior desafio é o

factor tempo, porque se se permitir

o mínimo de atraso, as dificuldades

serão extremas para se levar o pro-

jecto avante.

A rapidez e celeridade na execução são

o maior segredo para se aproveitar o

mercado mundial actualmente sedento

de receber o recurso. Caso contrá-

rio, muitos projectos similares pelo

mundo fora podem-nos roubar o negó-

cio. Os potenciais mercados são asiáti-

cos, nomeadamente o Japão, a Coreia,

China e Índia, abrindo-se igualmente

a possibilidade de envolvimento dos

mercados europeu e americano.

Entre dez e quinze mil milhões de

dólares é quanto deverá ser investido

proximamente até se iniciar a fase

de exploração comercial, que deverá

ocorrer entre os anos 2018 e 2019. A

magnitude das reservas de gás natu-

ral descobertas na Bacia do Rovuma

impõe enormes desafios a Moçambi-

que. O jazigo foi descoberto em águas

profundas, requerendo investimentos

estruturantes para o desenvolvimento

de infra-estruturas para viabilizar o

início da exploração.

Em perspectiva, a mobilização de

bens e serviços, numa actividade que

vai envolver mais de sete mil empre-

gos internos numa assentada, durante

a fase de construção, entre expatria-

dos e nacionais. Não menos impor-

tante, fazer tudo de modo a assegurar

o potencial mercado já identificado,

que garante pagar todos os custos

e o retorno inicial dos investimen-

tos a realizar. Só a Empresa Nacional

de Hidrocarbonetos terá de mobilizar

um investimento de cerca de 1.5 mil

milhões de dólares.

O Estado espera importantes provei-

tos a advirem dos recursos ora des-

cobertos: o contrato de concessão

prevê que depois do pagamento dos

custos prometidos haverá uma parte

de partilha que irá para o Estado

Moçambicano, para além dos impos-

tos inerentes ao funcionamento das

empresas que serão constituídas e o

imposto sobre a produção.

Enquanto o projecto de gás de Temane

está a ser desenvolvido em terra, na

bacia do Rovuma tudo vai acontecer

em águas profundas. Esta a maior

diferença entre os dois empreendi-

mentos, fora o facto de no Rovuma

as reservas poderem ser duas ou três

vezes maiores, com tempo mínimo

de exploração de 25 anos, havendo

no entanto potencial para o dobro

deste tempo.

Repórter

ENI, Exxon Mobil, BP, Petronas

da Malásia, Shell, Tullow

Oil, Vitol e Noble Energy, já

manifestaram interesse em

participar no concurso para

novos furos na bacia Rovuma

Pontualidade determinante

Page 23: Mais MZ - Edição 0

23

A estabilidade social, económica e política vigente em Moçambique são pressupostos funda-mentais para determi-nar a atracção de inves-timento para o país.

E a candidatura à ITIE?

No passado dia 19 de Agosto concluiu-

-se o primeiro ciclo do processo de

candidatura de Moçambique à Ini-

ciativa de Transparência na Indústria

Extractiva, ITIE.

Informações postas a circular na altura

indicaram que o Conselho da ITIE deci-

diu chumbar a candidatura do nosso

país, por não ter cumprido alguns dos

18 indicadores que compõem a matriz

de validação, que deve ser cumprida

por qualquer país que queira tornar-se

membro de pleno direito, ou cumpri-

dor, no jargão oficial, daquela inicia-

tiva, num período de dois anos.

Finalmente emergem notícias indi-

cando que o país corrigiu tudo que

havia a corrigir e proximamente, salvo

novas constatações imprevistas, esta-

remos na ITIE na próxima avaliação.

Mesmo na altura não se podia falar de

reprovação, pois o Secretariado Inter-

nacional da ITIE reconheceu publi-

camente que Moçambique realizou

progressos significativos na imple-

mentação da iniciativa, saudando e

encorajando o país a continuar o tra-

balho iniciado. As recomendações

de então eram no sentido de melho-

rias nas próximas avalizações. Há que

reconhecer que Moçambique conse-

guiu progressos significativos num

prazo relativamente mais pequeno que

aquele que habitualmente é dado aos

países, de dois anos.

Recomendava-se, por exemplo, um pro-

grama de trabalho mais abrangente, que

fosse aprovado e que fosse mensurável, e

que fosse divulgado. O que também foi

mencionado na altura é que devia haver

uma maior participação da sociedade

civil, não só no Comité de Coordena-

ção, que já existe, composto por qua-

tro representantes do Governo, quatro

da Sociedade Civil e igual número das

empresas, sendo duas delas da indústria

mineira e duas da indústria extractiva.

Finalmente Moçambique já realizou

estes objectivos.

Aliás, há que observar que quem deci-

diu sobre qual é o nível da participação

das empresas, que tipo de empresas

que deviam participar, quais são os

pagamentos que deviam ser incluídos

nesse primeiro relatório de reconcilia-

ção, foi o próprio Comité de Coordena-

ção. Moçambique limitou-se a seguir

todos os princípios, os critérios e a

metodologia preconizados pelo Secre-

tariado Internacional da ITIE para

este processo de reconciliação. Prati-

camente Moçambique já concluiu o

segundo relatório de reconciliação

e tem o prazo até Fevereiro de 2013

para uma nova avaliação do processo

de candidatura.

Impõe-se pois que Moçambique esteja

nesta iniciativa, uma vez que isso faz com

que haja maior confiança dos investido-

res e da sociedade em relação ao governo

e ao clima de investimento no país. A

estabilidade social, económica e polí-

tica vigente em Moçambique são pressu-

postos fundamentais para determinar a

atracção de investimento para o país.

devia haver uma maior

participação da socie-

dade civil.

Repórter

Page 24: Mais MZ - Edição 0

24

Dossier

O aumento do investimento e da produtividade na agricultura são vital-mente importantes em Moçambique como base para o crescimento sustentável, redução da pobreza, criação de emprego e aumento dos benefícios do comércio.

No sentido contrário, as contas nacio-

nais indicam que o valor acrescentado

da agricultura (a preços constan-

tes) cresceu a uma taxa média anual

de 5.7% entre 1996 e 2006, tendo ace-

lerado para 7.7% nos últimos cinco

anos. Os últimos dados incluem taxas

de crescimento de 8% para as cultu-

ras agrícolas, 6.7% para a pecuária,

5.3% para a silvicultura, 5.5% para

as pescas. O valor acrescentado glo-

bal da agricultura expandiu em cerca

de 74% nos últimos 10 anos. Grande

parte do crescimento inicial deri-

vou do reassentamento da popula-

ção deslocada em virtude da Guerra

Civil. Se as estatísticas do PIB forem,

no seu todo, precisas, o forte desem-

penho recente sugere que tem havido

um substancial investimento na agri-

cultura (incluindo investimentos em

limpeza das terras para uma extensiva

expansão de terras cultivadas).

Nos últimos 10 anos, a importância da

agricultura com fonte para as expor-

tações também decresceu, apesar do

forte crescimento em termos abso-

lutos. Este cenário misto resulta do

advento de mega-projectos de expor-

tação de lingotes de alumínio, electri-

cidade e gás natural.

Durante este período, o valor em dóla-

res das exportações da agricultura

(excluindo produtos pesqueiros) cresceu

a uma taxa média de 8.6% por ano e de

77.6% em termos globais. Não obstante,

a contribuição do sector nas exportações

totais decresceu de 42.6% no princípio

da década para 11.4% no ano passado.

A redução da contribuição da agricul-

tura no PIB e nas exportações mini-

miza significativamente a importância

do sector no desenvolvimento econó-

mico e social. Em 2005, aproximada-

mente dois-terços da população vivia

nas zonas rurais. Aproximadamente

93% destes vivem na base da agricul-

tura, e mais da metade (55.3%), de

acordo com Inquérito aos Agregados

Familiares (IAF 2002/03) – encontra-se

na pobreza absoluta (medida através

do consumo). Quase todos os agrega-

dos familiares nas zonas rurais têm a

agricultura como a principal fonte de

sobrevivência. Ademais, o Inquérito

a Força de Trabalho de 2004/05 cons-

tatou que a agricultura contribui com

cerca de 78.5% do emprego total em

Moçambique e 87.3% da população-

-feminina economicamente activa.

Com aproximadamente mais de três-

-quartos dos trabalhadores produ-

zindo apenas um quarto do PIB, é

evidente que a produtividade de traba-

lho na agricultura é mais baixa compa-

rativamente a indústria e serviços.

A agricultura representa 25.5% do PIB EUGÉNIO PINTO

Page 25: Mais MZ - Edição 0

25

Dossier

Moçambique é abençoado pela abundância de terra,

água e sol… As oportunida-des parecem enormes, desde a expansão de produtos tra-

dicionais como o milho, açú-car, algodão, caju e coco.

25

Page 26: Mais MZ - Edição 0

26

A extremamente baixa produtividade é sintomático de pre-

valência de insumos e técnicas agrícolas tradicionais de

baixo rendimento. O Trabalho de Inquérito Agrícola anual

(TIA) mostra que as pequenas explorações familiares repre-

sentam 99.5% do total da agricultura empresarial. A vasta

maioria destas explora-

ções familiares depende

de variedades de plan-

tas e técnicas de cultivo

tradicionais. Muito pou-

cas utilizam sementes

melhoradas, fertilizan-

tes inorgânicos, pestici-

das, herbicidas, tracção

animal ou mecânica, ou

irrigação. Este cenário

reflecte uma combina-

ção de conjunto de pro-

blemas, incluindo fraca

educação, fraco acesso a mercados de insumos e de produ-

ção, pobres infra-estruturas de todo tipo e fraco acesso a

financiamentos. Adicionalmente, a população rural encon-

tra-se geograficamente dispersa, aumentando, assim, os

custos e as dificuldades logísticas de providenciar infra-

-estruturas e serviços de apoio ao mercado.

As diferenças prevalecentes de produtividade entre os

sectores implicam que uma transformação estrutural -

que envolve a deslocação da mão-de-obra da agricul-

tura para outras actividades - será uma fonte importante

para aumento da produtividade e redução da pobreza

em Moçambique. Mas

existe igualmente uma

necessidade premente

de uma transformação

estrutural no seio do

próprio sector agrícola

de forma a introduzir

técnicas mais eficien-

tes para os pequenos

produtores, aumentar

a produção de culturas

comerciais, bem como

facilitar a expansão da

agricultura comercial

de média para grande escala. Além disso, a transforma-

ção da agricultura é também fortemente influenciada

pelo desenvolvimento de indústrias de agroprocessa-

mento competitivas e da melhoria da eficiência em toda

a cadeia de valor, ligando os agricultores aos mercados a

nível nacional, regional e internacional.

Dossier

Com aproximadamente mais de

três-quartos dos trabalhadores

produzindo apenas um quarto do

PIB, é evidente que a produtivi-

dade de trabalho na agricultura é

mais baixa comparativamente a

indústria e serviços.

O Trabalho de Inquérito

Agrícola anual (TIA)

mostra que as pequenas

explorações familiares

representam 99.5% do

total da agricultura

empresarial

Page 27: Mais MZ - Edição 0

27

Moçambique, um país agrícola

Moçambique é abençoado pela abun-

dância de terra, água e sol. Possui

igualmente uma localização vantajosa

em relação aos mercados regionais e

rotas marítimas para a Ásia e Europa;

uma abundância de mão-de-obra

barata; e uma variedade de zonas cli-

máticas proporcionando condições

favoráveis para cultivo de muitos tipos

de produtos e em épocas de alta de

mercado. As oportunidades parecem

enormes, desde a expansão de produ-

tos tradicionais como o milho, açúcar,

algodão, caju e coco, até ao desenvol-

vimento de novas culturas de ren-

dimento tais como biocombustíveis,

frutas e horticulturas.

Os dados sobre o emprego e a com-

posição do PIB dão a entender que a

produtividade média do trabalho na

agricultura é inferior a um décimo da

média de outros sectores. Este enorme

diferencial de produtividade é incon-

sistente com o relativamente pequeno

diferencial rural-urbano na incidência

da pobreza, o que lança dúvidas sobre

a exactidão das estatísticas.

O aumento da produtividade de cul-

turas alimentares básicas nas regi-

ões com fracas ligações aos mercados

nacionais ou internacionais pode ter

efeito negativo sobre o bem-estar, dado

que o excedente das famílias pode pro-

vocar uma descida no preço do mer-

cado local em épocas de colheita. Este

cenário poderia ser evitado através de

uma melhoria dos canais de comercia-

lização, transferindo mais trabalho e

terra para as culturas de rendimentos,

ou na melhoria da capacidade de apro-

visionamento de forma que a produção

adicional não inunde o mercado em

épocas de colheita. Além disso, os pre-

ços no mercado mundial para a maioria

destes produtos são muito favoráveis,

o que deveria catapultar ainda mais as

perspectivas de desenvolvimento.

Por estas razões, o sector de agricul-

tura em Moçambique deveria ser um

forte pólo de atracção do investimento

nacional e estrangeiro. No entanto,

persistem ainda sérios obstáculos

para o sucesso, tal como evidencia a

fraca capacidade do país atrair gran-

des investimentos para agricultura

e agroindústria, assim como o papel

limitado da agricultura comercial em

relação ao sector familiar.

Tendências do investimento privado na agricultura

Quais são os factos sobre a tendência

do investimento privado na agricul-

tura? Em busca de uma resposta, esta

secção analisa seis fontes de dados,

com uma ênfase para as deficiências

nas estatísticas disponíveis.

Dossier

Por estas razões e outras tantas, o sector de agricultura em Moçambique deveria ser um forte pólo de atracção do investimento nacio-nal e estrangeiro.

Page 28: Mais MZ - Edição 0

28

A discussão também identifica possíveis

abordagens para melhorar os sistemas

de dados existentes, de forma a propor-

cionar melhor informação para a moni-

toria da eficácia da despesa pública no

desenvolvimento agrícola, estimulando

o investimento para o sector.

Projetos de investimentos aprovados

O Centro de Promoção de Investimen-

tos (CPI) produz regularmente relató-

rios sobre projectos de investimentos

aprovados. Os dados cobrem investi-

mentos nacionais e estrangeiros, com

uma desagregação por sector, provín-

cia, distrito, e país de origem, incluindo

o capital social proposto, o valor de

empréstimos e suprimentos, bem

como o número esperado de postos de

empregos a ser criados. Os potenciais

investidores fornecem esta informação

no decurso da aplicação para assistên-

cia do CPI e para incentivos de investi-

mento ao abrigo da Lei do Investimento

e do Código dos Benefícios Fiscais. Os

incentivos incluem garantias sobre o

repatriamento de dividendos e capital,

o acesso à arbitragem internacional,

isenções de direitos aduaneiros sobre

bens de capital constantes da Classe "K"

e outros benefícios fiscais para deter-

minado tipos de investimentos. O total

do investimento no sector aumentou

mais de oito vezes, de US$ 69,5 milhões

em 2003 para US $ 594,3 em 2010.

Fluxo de investimento estrangeiro

O Banco de Moçambique (BM) com-

pila dados sobre fluxo de capital

estrangeiro para efeito das estatís-

ticas da balança de pagamentos. Os

dados são obtidos a partir dos docu-

mentos apresentados pelos investido-

res estrangeiros que devem registar

a entrada de capitais para efeitos de

Dossier

Page 29: Mais MZ - Edição 0

29

qualificação, mais tarde, no repatria-

mento de dividendos e capital.

Assim, os dados do BM fornecem situ-

ação real do fluxo de investimentos

estrangeiros para complementar os

dados CPI sobre o investimento apro-

vados. Obviamente, esta fonte não for-

nece nenhuma informação sobre os

investimentos nacionais. Tal como os

dados do CPI, as estatísticas de inves-

timentos estrangeiros compiladas pelo

BM distinguem os capitais próprios dos

capitais provenientes de empréstimos

e suprimentos. Tecnicamente, apenas

a componente dos capitais próprios

representa o Investimento Directo

Estrangeiro (IDE). O BM também apre-

senta a desagregação dos dados por

país de origem e por sector.

As estatísticas do CPI incluem outras

sete categorias de sectores: indústria;

transportes e comunicações; turismo e

hotelaria; recursos minerais e energia;

banca, seguros e leasing; e outros. No

entanto, a classificação dos sectores é

reportada a um alto nível de agregação,

existindo especificamente apenas duas

linhas relativas à agricultura: um para

a agricultura, produção animal, caça

e silvicultura, e outra para as pescas.

Além disso, os dados sobre o investi-

mento na agro-indústria constam do

sector de indústria manufactureira.

O investimento na agricultura,

excluindo as pescas, representa uma

média de 4,0% do total do investi-

mento estrangeiro, e 0,8 % do PIB

da agricultura. Incluindo as pescas,

os números respectivos são: 7,3% do

total dos investimentos estrangei-

ros e 1,2% do PIB do sector. Este nível

de investimento estrangeiro é dema-

siado pequeno para representar mais

do que uma fracção do crescimento na

agricultura como estimado nas contas

nacionais. No entanto, é claramente

uma fonte importante de crescimento

para alguns subsectores, tais como

açúcar e frutas tropicais.

Dossier

O investimento na agricultura, excluindo as pescas, representa uma

média de 4,0% do total do investi-mento estrangeiro, e 0,8 % do PIB

da agricultura. Incluindo as pescas, os números respectivos são: 7,3% do total dos investimentos estrangei-

ros e 1,2% do PIB do sector. Este nível de investimento estrangeiro é dema-siado pequeno para representar mais do que uma fracção do crescimento na agricultura como estimado nas

contas nacionais.

Page 30: Mais MZ - Edição 0

30

Crédito bancário para a agricultura

O Banco de Moçambique também com-

pila regularmente estatísticas sobre

crédito dos bancos comerciais para a

economia, desagregando-as por sec-

tor, tipo de crédito e províncias. Neste

caso, as categoriais sectoriais forne-

cem um nível razoável de detalhe.

Neste caso particular, os créditos para

a agricultura incluem uma sub-desa-

gregação em chá, açúcar, caju, sisal,

copra, algodão e outras culturas, bem

como pecuária, silvicultura e pescas.

Adicionalmente, os dados referentes a

indústria manufactureira apresentam

separadamente os empréstimos para a

agro-indústria, que abrange processa-

mento de produtos alimentares, bebi-

das e de tabaco. Em relação a utilização

dos empréstimos, o BM distingue entre

créditos para meios circulantes e cré-

ditos para investimento. A maio-

ria dos apuramentos mostra os créditos

em circulação no final de um determi-

nado período; a mudança de um período

para o outro é, portanto, uma medida do

fluxo líquido de créditos durante o perí-

odo. O BM também fornece informações

sobre os novos créditos brutos, reem-

bolsos e créditos líquidos, por uma clas-

sificação sectorial mais ampla e por tipo

de empréstimo.

Este conjunto de dados pode ser uma

base importante para acompanhar

a tendência do investimento agrí-

cola, mas apenas na perspectiva dos

investimentos financiados pelo sector

bancário. Esta é uma limitação grave

dado que os inquéritos as empresa

em Moçambique e outros países da

região mostram que o sector privado

depende muito mais do auto-finan-

ciamento e dos lucros retidos do que

propriamente dos créditos bancários,

particularmente devido a proble-

mas de acesso ao crédito e de taxas de

juro elevadas (bem como, a aversão ao

risco, que os inquéritos não costumam

mencionar). Assim, os dados sobre os

créditos bancários não constituem

uma medida do investimento total na

agricultura, mesmo das empresas for-

malmente registadas.

Outra limitação é que a classificação

dos sectores parece ser problemática.

Uma fonte bem informada advertiu

fortemente que muitos dos créditos

registados como sendo direccionados

a agricultura são efectivamente uti-

lizados para outras actividades, tais

como transporte, marketing, pro-

cessamento ou comercialização. Isto

é, em parte, um reflexo do facto de

empresas agrícolas frequentemente

estarem envolvidas nas diversas de

actividades relacionadas com agricul-

tura. Além disso, o Código de Impos-

tos cria fortes incentivos para os

grupos empresariais recorram a uma

contabilidade criativa para imputar as

suas actividades lucrativas como pro-

venientes da agricultura.

Uma fonte bem informada advertiu forte-mente que muitos dos créditos registados

como sendo direccionados a agricultura são efectivamente utilizados para outras acti-vidades, tais como transporte, marketing,

processamento ou comercialização.

Dossier

Page 31: Mais MZ - Edição 0

31

Page 32: Mais MZ - Edição 0

32

Bio

Salimo Abdula, uma figura que é incontornável no mundo empresarial em Moçambique, nasceu a 18 de Junho de 1963, na província da Zam-bézia, é um dos mais influentes homens de negócios moçambicano da actualidade. Salimo Abdula foi deputado na Assembleia da República e presidente da CTA, a Confederação das Associações Económicas.

É inevitável esta questão, para começar: quando é que nas-

ceu e como é que caracteriza a sua infância?

A minha infância não foi muito diferente da dos meninos

que nasceram em Moçambique. Foi uma infância bonita,

numa época em que ainda era de transição para a inde-

pendência. Dividi a minha infância entre a localidade de

Maruro, no distrito de Mopeia, com casa precárias, à beira

do Rio Zambeze e a cidade de Quelimane, na Zambézia.

Tenho memória de muitas brincadeiras interessantes que

fiz nessa altura...

Pode-se dizer que teve uma infância positiva...

Sim, positiva. Parto do princípio que quando uma criança

tem onde dormir, tem família, o que comer, tem acesso à

escola, tem onde brincar deve considerar a sua infância

como bonita. Sobretudo se tivermos em conta que muitas

crianças moçambicanas não têm essas condições. Por-

tanto, nós que tivemos acesso a essas condições não nos

podemos queixar nem tão pouco. Não temos esse direito.

Aliás, devemos desejar que todas as crianças no mundo

um dia tenham estas condições...

A sua formação, como é que ela foi feita?

Nós não tínhamos uma vida de luxo. O meu pai sempre

foi uma pessoa humilde e grande trabalhador para susten-

tar uma família com 8 filhos e a minha mãe, com a sua

machamba, também se esforçou muito. Ela também ven-

dia pão para ajudar na renda. Tive um tio que nos apoiou

muito e posso considerá-lo de segundo pai. Digo isso para

explicar que frequentei uma escola normal, como qual-

quer um. Olha, iniciei o ensino primário na Escola Vasco

da Gama, onde iniciei e criei muitas amizades e onde dei os

meus primeiros passos no desporto, num torneio de mini-

-basquete da Coca-Cola.

Um dos momentos marcantes da sua juventude parece ter

sido o basquetebol. Conte-nos essa fase...

Sim, acho que comecei a praticar com oito anos. Apoixo-

nei-me por este desporto. O meu primeiro clube foi a Asso-

ciação Africana. Naquela altura, ficávamos muito satisfeitos

sempre que havia jogos, porque davam-nos chá gelado. Era

um clube muito humilde e isso era tudo que nos podiam

dar, mas ficávamos mesmo muito satisfeitos.

Salimo Abdula, o incontornável homem de negócios ADAM JORESSE

Page 33: Mais MZ - Edição 0

3333

BioBio

33

Page 34: Mais MZ - Edição 0

34

Depois de terminar a 4ª classe, passei para o ciclo preparató-

rio, na escola de padres. Lembro-me que tinha boas instala-

ções, boas condições para praticar desporto. Nessa altura ia a

pé e percorria cerca de 45 minutos, a partir de casa. Mas, neste

mesmo período o meu irmão mais velho estava em Maputo e o

meu tio, que estava doente em Portugal, falecera. Fui, então, à

Ilha de Moçambique para ficar com os meus pais, e onde, em

conjunto com outros amigos, reactivamos o basquete.

Como eu já vinha do Benfica de Quelimane, que depois passou

a chamar-se Desportivo de Quelimane, tinha alguma expe-

riência. Formamos 4 equipas, fizemos um torneio lá e depois

fiz parte da selecção de Nampula, participei de torneios esco-

lares. Foi nessa altura que conheci o Aníbal Manave. Quando

regressei a Quelimane, ajudei a reactivar a federação de bas-

quete e tínhamos todos os escalões, algo que nem Maputo

tinha. Foi muito interessante...

Quando Salimo Abdula consegue o seu primeiro emprego?

O meu primeiro trabalho era não formal, porque só tinha

15 ou 16 anos. Eu trabalhei no bar do cinema em que o meu

pai trabalhava. Acumulei algum dinheiro, mas um amigo

pediu-me emprestado e dei-o todo, sem hesitar. Só que ele

nunca mais devolveu. Foi a primeira ‘cabeçada’ que levei

na vida (risos)!... Mas, também fui à tropa. Depois fui à

Beira, onde conclui os estudos e comecei a trabalhar numa

empresa chamada Iluminante, em tempo parcial.

Bio

Duas grandes escolas

Na sua história profissional, a passagem pela Iluminante foi

marcante, não só por ter sido o primeiro emprego. Pode se

dizer que foi aí que se lançou como empresário?

Mais ou menos. Eu já estava em Maputo, na altura em que

me tornei proprietário da Iluminante. Recebi uma cha-

mada em que explicavam a situação de falência da empresa

essa altura e que eu era um dos procuradores para quem a

empresa havia sido deixada.

Mas, os trabalhadores incentivaram-me a aceitar o desafio

e eu, sem perceber muito bem a dimensão da responsabili-

dade, aceitei. Mas, com a ajuda de todos, conseguimos tra-

balhar reerguer a empresa e pagar gradualmente as dívidas

da empresa. Felizmente, rapidamente os nossos lucros eram

grandes porque a procura era muito maior que a oferta. E

foi assim que entrei no sector energético, acidentalmente.

Depois, apostei em várias oportunidades que apareceram.

Fui convidado, nas primeiras eleições multipartidárias, para

ocupar um lugar de deputado e aceitei, porque podia dar esse

contributo. Quando sai da AR fui convidado a liderar a CTA e

esses dois momentos foram duas grandes escolas.

Como empresário e líder de um grupo empresarial forte,

pode dizer-nos qual é a chave para se alcançar o sucesso?

Eu sempre procurei aproveitar a parte positiva das pessoas.

O importante é conseguir criar sinergias nas partes positi-

vas e deixar de lado as menos positivas.

Eu sempre desde jovem envolvi-me em acções sociais: fui

chefe de turma, fui presidente da OJM, na Ilha de Moçam-

bique, a nível da escola, depois da associação de basquete, e

tudo isso fez de mim quem sou hoje.

Portanto, quando saí da Assembleia da República e fui à CTA

tentei implementar essa filosofia. Introduzi o limite de dois

mandatos, porque, o ser humano quando senta na cadeira,

reduz a produtividade e aumenta a longevidade, surge aí o

conflito da inércia. Eu fui o primeiro a cumprir esses dois

mandatos, porque tinha a tarefa de restabelecer a boa ima-

gem que os empresários tinham.

Estou satisfeito comigo, com os meus trabalhadores e com as minhas empresas.

Page 35: Mais MZ - Edição 0

35

Maior capital é o humano

Para si, o que é mais importante: os

recursos materiais, financeiros ou

humanos?

Olha, o maior capital que uma

empresa pode ter é o capital humano.

Quero afirmar categoricamente que,

a minha conduta como empresário é

nunca passar por cima dos problemas.

Nunca desvalorizar qualquer recurso

humano. É formá-lo e traze-lo para a

equipa. Os trabalhadores que come-

çaram comigo na Beira, alguns deles

ainda estão comigo. Mesmo os que já

reformaram, ainda os tenho comigo.

Se tu estiveres bem financeiramente

e o teu vizinho, colega, colaborar não

estiver, então desengane-se: não estás

bem. Eu cresço no mundo empresarial

de escada em escada, só assim é que

torna realmente num empresário de

sucesso, mas é preciso também fazer

crescer as pessoas. Esta é a visão.

Salimo Abdula é sócio em negócios e

amigo pessoal do Presidente da Repú-

blica, Armando Guebuza. Como é que

surge essa relação?

Primeiro é preciso separar o trigo do

joio. Uma coisa é o cidadão Armando

Guebuza, por quem tenho muito res-

peito e outra é o Chefe de Estado, que

é o símbolo do nosso Estado. Devemos

separar muito bem isso.

Segundo, eu não tenho essa rela-

ção tão íntima com ele como as pes-

soas pensam. A minha relação com (o

cidadão) Armando Guebuza é sobre-

tudo de negócios. O que me liga a ele

é a Electrotec, uma sociedade estabe-

lecida há 15 anos. Nada mais me liga a

ele do que isso. E é preciso esclarecer

que, depois dele tornar-se Presidente

da República, demitiu-se de todas as

suas responsabilidades na sociedade,

mantendo, obviamente, os seus direi-

tos como accionista. Portanto, é pre-

ciso que se mantenha intacta a imagem

do senhor Guebuza.

Se pudesse voltar atrás no seu per-

curso como empresário há algo que

mudaria ou que gostaria que tivesse

sido diferente?

A minha vida empresarial tem tido

momentos de surpresa. Há momen-

tos menos bons, resultados de inex-

periência, de oportunidades. Mas, não

diria que mudaria algo. Acho que segui

o caminho possível. Provavelmente,

se soubesse o que sei hoje, poderia

melhorar a minha perfomance, mas

não mudaria nada. Estou satisfeito

comigo, com os meus trabalhadores e

com as minhas empresas.

Bio

O maior capital que uma empresa pode ter é o capital humano. Quero afirmar cate-goricamente que, a minha conduta como empresário é nunca passar por cima dos problemas. Nunca desvalorizar qual-quer recurso humano.

Conversa marcada pela boa

disposição de Salimo Abdula,

sem dúvida, um exemplo

para a classe empresarial

Page 36: Mais MZ - Edição 0

36

Ums das últimas acções da FDC, é o projecto integrado de

desenvolvimento rural de Ancuabe, um distrito locali-

zado na província de Cabo Delgado, no norte de Moçam-

bique. Este projecto, que está a ser implementado desde o

início de 2008, e tem como público-alvo a população dos

postos Administrativos de Metorro e Meza, beneficiou, só

em 2011, cerca de 11.500 famílias.

Apoiado pela Embaixada da Noruega, o projecto integrado de

desenvolvimento rural de Ancuabe é uma das mais significa-

tivas iniciativas de apoio às zonas rurais que actualmente está

a ser desenvolvido por esta organização. O mesmo tem tam-

bém como principal objectivo fortificar e desenvolver activi-

dades e iniciativas locais para a redução da pobreza em três

áreas consideradas importantes, nomeadamente, educação e

alfabetização, saúde, que inclui o saneamento, o acesso à água

potável e o HIV/Sida, e a segurança alimentar e nutrição.

FDC: Ajudando o País a construir sorrisos

Missão

A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), liderada por Graça Machel, viúva do Presidente Samora Machel, é uma orga-nização civil, sem filiação partidária, que tem por objectivo congregar forças de todos os sectores da sociedade na realização de um ideal de desenvolvimento, democracia e justiça social. Esta Fundação surge da convicção de que a pobreza não é uma fatalidade. É, precisamente por isso, que a FDC desenha e implementa vários projectos que carac-terizam-se por criar benefícios directos às populações.

ADAM JORESSE

Page 37: Mais MZ - Edição 0

37

A FDC é uma organização pri-vada, sem fins lucrativos, que trabalha para conjugar esfor-

ços de todos os sectores da sociedade com o propósito de promover desenvolvimento, democracia e justiça social.

37

Missão

Page 38: Mais MZ - Edição 0

38

-espera”, que são locais localizadas nas proximidades dos

hospitais e onde as parturientes se acomodam nas véspe-

ras dos partos, uma vez que a maior parte da população têm

as suas casas em zonas distantes das unidades sanitárias.

Isso permitiu que o número de consultas pré-natais e par-

tos realizados nos centros de saúde aumentasse. Para além

das casas “mãe-espera”, foram distribuídas 22 bicicletas-

-ambulância às unidades sanitárias e às comunidades, o

que tem contribuído de forma substancial para a diminui-

ção do tempo que os doentes ou mulheres grávidas levam

para chegarem aos hospitais.

A FDC procura garantir que as comunidades tenham o

básico para que possam desenvolver as suas actividades

rotineiras de forma segura. Tanto é que as acções desenvol-

vidas no âmbito do projecto integrado de desenvolvimento

rural de Ancuabe, há, para além das acções já mencionadas,

várias outras actividades, como capacitação sobre nutrição

e associativismo, abertura e manutenção de furos e poços

de água, construção de latrinas melhoradas e apoio à acções

de geração de rendimento.

A área de produção de amendoim duplicou de 8 para 16 hec-

tares e a de produção de gergelim, subiu de 80 para 180,

resultado do apoio directo aos grupos e associações de cam-

poneses criadas para a produção em massa de produtos ali-

mentares, garantido um dos objectivos desta iniciativa,

que é a segurança alimentar. Esse crescimento na produção

agrícola é visível através dos números: em 2011, o volume de

venda do gergelim atingiu os 4,4 milhões de meticais.

Não obstante algumas dificuldades enfrentadas, como a

escassez de chuva, o difícil acesso a algumas localidades,

sobretudo no período chuvoso, e algum atraso no desem-

bolso dos fundos, a Fundação para o Desenvolvimento da

Comunidade, com a ajuda de vários parceiros, vai dando

uma maior esperança às comunidades e ajudando a cons-

truir sorrisos no rosto de cada vez mais moçambicanos

espalhados pelo país.

Missão

A FDC procura garantir que as comunidades tenham o básico para que possam desenvolver as suas actividades rotineiras de forma segura. Tanto é que as acções desenvolvidas no âmbito do projecto integrado de desen-volvimento rural de Ancuabe, há, para além das acções já mencio-nadas, várias outras actividades, como capacitação sobre nutri-ção e associativismo, abertura e manutenção de furos e poços de água, construção de latrinas melhoradas e apoio à acções de geração de rendimento.

No que respeita à educação, o projecto de desenvolvimento

rural criou, só no Posto Administrativo de Meza, 22 centros

de alfabetização, contando com mais de 600 alfabetizados,

dos quais contam-se 429 mulheres, um número conside-

rado bastante encorajador, dado que as mulheres desem-

penham um papel preponderante na execução das várias

actividades educativas e comerciais, sendo portanto, uma

forma de garantir-lhes alguma autonomia.

Ainda no que se refere à educação, nota positiva é dada ao

número de desistências por parte dos alunos matriculados

nos diferentes centros educacionais, que caiu abruptamente

ao longo dos anos de implementação do projecto, depois de

no primeiro ano ter sido registado um número bastante alto

de desistências. No sentido inverso, estão as matrículas que

tiveram um acréscimo de cerca de 200% desde 2008, com

uma ligeira descida e com tendência à estabilização.

O projecto implantado pela FDC tem se mostrado de capi-

tal importância para a população de Ancuabe, sobretudo

por causa do impacto desta componente social. Na área da

saúde, por exemplo, foram construídas três casas de “mãe-

Page 39: Mais MZ - Edição 0

39

Fortalecer 100 organizações e redes da sociedade

A Fundação para o Desenvolvimento

da Comunidade surgiu em 1990. Na

altura como Associação para o Desen-

volvimento da Comunidade, a organi-

zação foi formada a fim de estabelecer

a base legal e as condições materiais

para o surgimento da Fundação. A

ADC estava preocupada com os agen-

tes de desenvolvimento das comu-

nidades moçambicanas, com as

Organizações Não-Governamentais

(ONGs) e com as Organizações de Base

Comunitária (OBCs), pois estas esta-

vam quase totalmente dependentes de

fundos externos. Tal situação denotava

que os moçambicanos não tinham assu-

mido a responsabilidade primária para o

estabelecimento das prioridades e para a

tomada de decisões, com vista a melho-

ria dos padrões de vida das comunidades

pobres. Havia, assim, a necessidade de

criar uma instituição moçambicana da

sociedade civil que pudesse apoiar as ini-

ciativas locais, investindo e capacitando

as comunidades bem como as organiza-

ções comunitárias de base. Como resul-

tado do trabalho preparatório realizado

pela ADC, no ano de 1994, assistiu-se ao

nascimento da Fundação para o Desen-

volvimento da Comunidade.

A FDC é uma organização privada, sem

fins lucrativos, que trabalha para conjugar

esforços de todos os sectores da sociedade

com o propósito de promover desenvolvi-

mento, democracia e justiça social.

Esta colectividade nasceu da convicção

de que a pobreza não é inevitável. É o

resultado de um processo complexo, em

que os mais necessitados são marginali-

zados e explorados. Estes não têm acesso

ao conhecimento científico e tecnoló-

gico, à informação sobre as tecnologias

mais apropriadas; têm acesso limitado

a recursos e à informação sobre como

fazer melhor uso dos recursos que pos-

suem; não recebem apoio suficiente das

instituições formais do país, incluindo

educação, saúde, serviços de trans-

porte, agrícolas e financeiros. A combi-

nação deste conjunto de circunstâncias

influencia, no geral, a atitude das pes-

soas perante a natureza e perante a vida

e, em particular, as suas convicções de

que têm possibilidades limitadas de

melhorar a situação em que vivem. Estes

são os obstáculos estruturais e psico-

lógicos, as causas principais que a FDC

pretende mudar.

Nos últimos quinze anos, a FDC imple-

mentou e apoiou uma vasta intervenção

em áreas prioritárias tais como a edu-

cação, a saúde, segurança alimentar, e

geração de rendimento, água e salubri-

dade e HIV/SIDA, com particular ênfase

para os grupos mais vulneráveis como o

das mulheres e das crianças.

Ao longo de todo o país, mais de 100

organizações e redes da sociedade

civil têm sido fortalecidas, e a FDC e

os seus parceiros de implementação

têm estado em actividade em mais de

metade dos 128 distritos do país. Ao

mesmo tempo, a Fundação tem estado

a trabalhar continuamente na sua

própria capacitação e fortalecimento

financeiro institucional.

Missão

22Centros de

alfabetização

600Mais de 600

alfabetizados

429São do sexo

feminino

Dados do projeto

de desenvolvimento

rural apenas no Posto

Administrativo de Meza

Page 40: Mais MZ - Edição 0

40

Ambiente

FRANCISCO MANJATE

Moçambique é um dos países mais vulneráveis às mudanças climá-ticas em África e no mundo. Esta situação é caracterizada pela ocor-rência de eventos extremos climáticos, como são os casos de cheias e secas cíclicas, ciclones tropicais, bem como a erosão costeira e o desmatamento florestal.

Por outro lado, o facto de possuir uma

longa costa, que é o limite ocidental

da zona activa em ciclones e tempes-

tades tropicais, faz com que o país seja

assolado, em média, por um ciclone

tropical por ano, pondo em causa os

esforços envidados para o cresci-

mento económico sustentável.

A ponto focal para Mudanças Climá-

ticas no Ministério para a Coorde-

nação da Acção Ambiental (MICOA),

Marília Telma Manjate, explica que

uma das razões para a vulnerabili-

dade do país às mudanças climáti-

cas prende-se com a sua localização

geográfica, dando como exemplos o

facto de possuir cerca de 2,700 Km

de costa, para além de que a maior

parte dos rios internacionais atra-

vessam o país antes de desaguarem

no Oceano Índico.

As altas temperaturas, a aridez e pobreza

dos solos, bem como a ocorrência de

doenças endémicas e epidémicas, asso-

ciado às deficientes vias de comunica-

ção, o alto nível de analfabetismo à par

da dependência de recursos naturais

cuja existência está na quantidade de

precipitação, criam um cenário desola-

dor, quando se olha para a pirâmide de

desenvolvimento em Moçambique.

Na visão de Marília Telma Manjate, a

localização geográfica é um dos princi-

pais factores que contribui para a vulne-

rabilidade do país aos eventos extremos,

na medida em que alguns dos ciclones

tropicais e depressões são formadas no

Oceano Índico, atravessam o Canal de

Moçambique e afectam a parte costeira.

Diz ainda que, com a subida da tempe-

ratura global aumentará a frequência e

severidade da seca no interior do País e

das cheias nas regiões costeiras.

As cheias dos anos 2000, na Zona Sul,

e 2001, na região Centro, e os vários

ciclones que afectaram a província de

Inhambane, particularmente o distrito

de Vilanculos, em 2007, e mais recente-

mente o primeiro semestre de 2012 são

dados como exemplos dos problemas

climáticos que afectam o país.

“Muitos moçambicanos vivem em con-

dições de extrema pobreza, com con-

sequências para a sua saúde. Por outro

lado, a ocorrência de eventos extremos

tem deteriorado as já precárias condi-

ções de vida destas populações, resul-

tando na eclosão de epidemias como

cólera, malária e disenterias”, explica

a ponto focal nacional.

Na sua perspectiva, a produção de ali-

mentos podia aumentar para satisfazer

a demanda da população moçambicana,

Vulnerabilidade associada à pobreza extrema

Page 41: Mais MZ - Edição 0

41

As altas temperaturas, a aridez e pobreza dos solos, bem como a ocorrên-cia de doenças endémicas e epidémicas, associado às deficientes vias de comu-nicação, o alto nível de analfabetismo à par da dependência de recursos natu-

rais cuja existência está na quantidade de precipitação, criam um cenário deso-lador, quando se olha para a pirâmide de

desenvolvimento em Moçambique.

Ambiente

Page 42: Mais MZ - Edição 0

42

Ambiente

em rápido crescimento, contudo a falta

de precipitação não permite tal deside-

rato, onde muitos agricultores depen-

dem da chuva.

Na mesma senda estão as pragas que

ocorrem frequentemente durante ou

depois de um evento extremo, reduzindo

a produção agrícola e piorando a situação

de emergência das famílias agrícolas.

“A insegurança alimentar e nutricional

e as epidemias exacerbam os efeitos das

doenças endémicas e epidémicas, o que

aumenta a vulnerabilidade das popu-

lações aos fenómenos de variabilidade

climática”, explica Telma Manjate, elu-

cidando que em Moçambique as secas,

cheias e ciclones tropicais são os princi-

pais eventos extremos, que se associam

às pragas, queimadas, erosão e desma-

tamento e degradação florestal.

Seca

Em Moçambique, a seca e desertifica-

ção são mais causadas por problemas

de origem climática, estando associa-

das à redução drástica na quantidade ou

mudanças no regime da precipitação.

No entanto, as queimadas e o desmata-

mento, associadas à abertura de novas

áreas de cultivo, ao corte de lenha, pro-

dução de carvão vegetal e a e explora-

ção industrial da floresta são os factores

mais comuns que se assistem no país e

que estão relacionados com a pobreza

das comunidades, o que põe em risco,

na visão da ponto focal, o seu próprio

futuro e o das gerações vindouras.

A seca – que é resultante da escassez de

chuva, associado ao fenómeno El Nino

– é, mais frequente nas regiões Cen-

tro e Sul do país, ocorrendo também

alguns focos no Norte.

Sublinhou que, em Moçambique a seca

e desertificação resultam da combi-

nação dos baixos índices de precipita-

ção que resultam na falta de água para

manutenção da cobertura vegetal e o

uso excessivo e inadequado dos solos

para agricultura e pecuária.

Sobre cheias

As cheias ocorrem durante a época

chuvosa principalmente ao longo das

bacias hidrográficas, zonas baixas do

litoral e áreas com problemas de dre-

nagem. Estas têm influência do fenó-

meno La Ninã, que provoca chuvas e

ciclones tropicais, ou seja, efeitos da

Zona de Convergência Intertropical.

Para além das cheias causadas pela

precipitação que ocorre dentro do

território nacional, Marília Telma

Manjate avança que Moçambique é

também afectado pelo escoamento

das águas provenientes das descar-

gas das barragens dos países vizinhos

situadas à montante das bacias hidro-

gráficas partilhadas.

O facto de o país ter nove bacias hidro-

gráficas internacionais e outras peque-

nas torna-o vulnerável às cheias.

Por exemplo, a ponto focal recorda que,

as cheias que afectaram o país nos anos

2000 e 2001, em parte foi devido às

chuvas torrenciais nos países vizinhos

que levaram ao agravamento do débito

dos rios internacionais e consequente

alagamento das áreas ribeirinhas.

Ciclones tropicais

Os ciclones normalmente ocorrem

ao longo da costa de Moçambique em

função de depressões tropicais que

têm origem no oceano Índico, mas às

vezes têm também afectado algumas

zonas do interior.

A época ciclónica é de Outubro a Abril

e a sua intensidade aumenta no perí-

odo de Fevereiro a Abril.

Os ciclones tropicais são entre os sis-

temas meteorológicos os mais fortes e

destrutivos, globalmente, estes ocor-

rem de forma cíclica, acompanhados

de ventos fortes e chuvas torrenciais.

Causam destruição de infra-estrutu-

ras resultando em falhas nos sistemas

de abastecimento de água potável e

energia eléctrica, considerável número

de desalojados e agravamento das

deficitárias condições de saneamento

do meio, retrocessos sociais e econó-

micos, perdas de vidas, sofrimento

humano, destruição de propriedades,

degradação do meio ambiente e rup-

tura das actividades normais. Con-

tudo, estes eventos extremos podem

contribuir para o suprimento de água

em zonas outrora secas, redistribuição

da flora e fauna.

Para contrariar esta situação, o Insti-

tuto Nacional de Gestão de Calamidades

(INGC), um órgão adstrito ao Conselho

de Ministros, e o Instituto Nacional de

Meteorologia (INAM) prepararam um

novo sistema de alerta e aviso de ciclo-

nes tropicais em Moçambique.

Secas, Cheias e Ciclones Três eventos que ameaçam a existência duma Nação

Page 43: Mais MZ - Edição 0

43

“Este sistema visa definir acções a serem

realizadas pelos diferentes actores e a

todos os níveis com vista a reduzir os

efeitos resultantes da ocorrência de ciclo-

nes no país”, diz, ressalvando que, após a

elaboração deste novo sistema realiza-

ram-se campanhas de educação cívica,

com o envolvimento da comunicação

social, de instituições públicas, autori-

dades comunitárias e da sociedade civil.

Contudo, pouco foi feito devido à falta

de recursos financeiros para imple-

mentação deste sistema, que se julga

serviria para alertar o público e as

comunidades locais sobre a proximi-

dade de ciclones para que estas pos-

sam tomar as devidas atitudes.

Danos na marginal

da baía de Maputo,

provocados pelo ciclone

Ambiente

Face à vulnerabilidade do país às

mudanças climáticas, várias acções

de adaptação aos efeitos e mitiga-

ção das causas (redução de emissões)

têm sido implementadas. Por outro

lado, a nossa fonte deu a conhecer que

as mudanças climáticas nas políticas

estão integradas nas políticas, estraté-

gias, planos de acção e programas de

governação de Moçambique.

O Programa Quinquenal do Governo

2010 – 2014 reconhece que as mudan-

ças climáticas constituem um desafio

para a redução da pobreza e preco-

niza a elaboração e implementação

de políticas de qualidade ambiental,

incluindo estratégia de adaptação e

mitigação das mudanças climáticas.

Está em curso a elaboração da Estraté-

gia e Plano de Acção Nacional para as

Mudanças Climáticas, a Estratégia de

Redução de Emissões por Desmata-

mento e Degradação Florestal (Estra-

tégia REDD+).

Apesar de não possuirmos uma polí-

tica nacional de mudanças climáticas,

algumas políticas, estratégias e pla-

nos de acção integram já a questão de

mudanças climáticas, são exemplos a

Política de Energias Novas e Renováveis,

a Política e Estratégia de Biocombustí-

veis, Estratégia Nacional de Gestão de

Recursos Hídricos, Plano de Acção para

a Redução de Pobreza, Estratégia de

Género, Ambiente e Mudanças Climáti-

cas, o Programa de Educação, Comuni-

cação de Divulgação Ambiental.

Em termos de acções concretas de

adaptação dos efeitos e mitigação das

emissões o país tem projectos imple-

mentados com financiamento inter-

nacional e nacional.

Contudo, estão em curso, desde 2009,

acções como as Iniciativas Presiden-

ciais “Um Aluno, Uma Planta Anu-

almente” e “Um Líder Comunitário,

Uma Floresta”, cuja perspectiva é

o aumento de florestas, fazer face à

degradação e desmatamento flores-

tal. Estas acções têm ainda sido acom-

panhadas com a electrificação rural,

usando-se energias limpas e renová-

veis (hídrica, eólica e painéis solares).

Moçambique está igualmente a imple-

mentar o projecto “Lidar com a Seca e

Mudanças Climáticas”, que decorre no

distrito de Guijá, província de Gaza.

Um outro projecto está a ser desenvol-

vido no distrito de Chicualacuala, em

Gaza, designado “UN Joint Program”

que conta com o apoio do Programa

Africano de Adaptação às Mudan-

ças Climáticas (AAP), sendo também

acompanhado pelo projecto piloto de

Resiliência Climática (PPCR) finan-

ciado através do Banco Mundial.

Planos de médio e longo prazo

Page 44: Mais MZ - Edição 0

44

Verdadeira ascenção

Turismo

Noor Momade explica que o sector do turismo em Moçambique

está a atravessar chamada “fase da crise de crescimento”, car-

acterizada pela falta ou escassez de disponibilidade financeira.

ADAM JORESSE

Page 45: Mais MZ - Edição 0

45

Está a crescer! Esta é a constatação, até certo ponto, cate-

górica de Noor Momade, Presidente da Associação de Agen-

tes de Viagens e Operadores Turísticos de Moçambique

(AVITUM). No entanto, esta constatação contrasta com os

ganhos financeiros, que ainda mostram-se distantes de

satisfazer os operadores aos vários níveis.

Para Noor Momade, actualmente, o investimento é

feito por entusiasmo, impulsionado pela presença em

Moçambique de grandes empresas e empreendimen-

tos. Esta é uma situação em que o turismo como tal não

é presente, mas aproveita-se a presença de prospecto-

res de negócios para a realização de investimentos em

hotéis para acomodação, por exemplo, mas não neces-

sariamente para a actividade turística.

É exactamente por isso, afirma Noor, que Moçambique tem

registado, nos últimos 3 anos, um crescimento no número

de camas acima de 100%, particularmente nos principais

pólos de desenvolvimento, como são os casos de Maputo,

Tete e Nacala, em Nampula, que registam um desenvolvi-

mento económico acentuado e a ritmo vertiginoso.

No que se refere ao turismo interno, o presidente da AVI-

TUM não tem ilusões. Noor Momade diz que ainda não

existe turismo interno em números significativos porque

a população moçambicana não tem recursos para tal. “O

turismo é uma daquelas necessidades que só aparece depois

de todas as necessidades básicas estarem resolvidas e outras

tantas necessidades secundárias terem sido minimiza-

das”, pelo que “é uma ilusão pensar-se que tão já tenhamos

turismo interno de forma visível”.

Para já, são na esmagadora maioria estrangeiros os que vão

se deliciando com as enormes e deslumbrantes paisagens. O

destaque vai para a Rota da Costa das Lagoas, que liga Maputo

a Vilankulos, em Inhambane, muito procurada pelos turis-

tas sul-africanos. O chamado ‘triângulo do norte’, que inclui

a província de Nampula, a Ilha de Moçambique, na mesma

província, e a cidade de Pemba, em Cabo Delgado. A com-

ponente cultural e histórica – como os edifícios com mais de

300 anos – são os principais atractivos. Os arquipélagos não

ficam para trás. Aqui sobressaem as já famosas Quirimbas e

o incontornável Bazaruto.

Moçambique tem regis-tado, nos últimos 3 anos, um crescimento no número de camas acima de 100%.

A magnifica costa Moçambicana banhada

pelo Oceano Indico é o principal ponto de

interesse para o turismo externo, Resorts e

alojamento de luxo são cada vez mais comuns

nas melhores zonas da orla marítima

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46

A vegetação é densa e a sua forma esguia não revela de imediato

a sua inacreditável beleza. É, de facto, único o que aqui se vive.

Descobrir

Vamizi: A Ilha Esmeralda

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47

Descobrir

Vamizi é uma ilha do Arquipélago das

Quirimbas, província de Cabo Del-

gado, em Moçambique. A vegeta-

ção é densa e a sua forma esguia não

revela de imediato a sua inacredi-

tável beleza. É, de facto, único o que

aqui se vive. A estrada feita de corais

mortos há milhões de anos é ainda

rudimentar, pois está em constru-

ção. São trinta minutos de uma pai-

sagem verde refrescante exalando

um cheiro maravilhoso. Os macacos

Samango pulam de galho em galho

assustados. São de pequena dimensão

mas com traços bem delineados. De

repente chega-se a um resort: amplo,

sem portas nem trancas edificado

com materiais locais e escandalosa-

mente a olhar um mar de cor esme-

ralda inacreditavelmente belo. Nunca

tinha visto uma cor assim.

Os quartos são divinais. Enormes,

extremamente bem decorados e

muito confortáveis mas a sua cons-

trução deixa o som das ondas emba-

lar-nos assim como a brisa suave da

noite moçambicana. O duche em már-

more colocado no meio de um amplo

espaço é magnífico. Cada pormenor,

cada detalhe nos surpreende. De uma

simplicidade difícil de alcançar. Ele-

gância, seria o adjectivo que utili-

zaria para descrever este local. Mas

confesso: o resort é mesmo o menos

importante desta maravilhosa ilha.

Vamizi entre os melhores destinos turísticos do mundo

A ilha Moçambicana de Vamizi está

entre os melhores destinos turísti-

cos do mundo. A prestigiada revista

de viagens de luxo, Condé Nast Tra-

veler, escolheu a Ilha de Vamizi, no

arquipêlago das Quirimbas, em Cabo

Delgado, como um dos lugares mais

fantásticos para férias e um destino

de lua-de-mel para casais que come-

çam a criar as suas primeiras lem-

branças da vida em matrimónio.

A lista da revista inclui 13 outros

locais, sendo que a moçambicana

Vamizi, norte de Moçambique, é con-

siderada por muitos, inclusive pela

lenda do mergulho Jacques Cousteau,

como um dos lugares mais fantásticos

para mergulho. As águas cristalinas do

litoral da ilha têm terrenos irregula-

res, com vales onde se reúnem cente-

nas de espécies de animais marinhos.

O resort da ilha de Vazimi tem 13 vilas

exclusivíssimas, onde é possível rela-

xar, degustando uma boa lagosta num

piquenique na praia. Fora da água, a

ilha também tem uma rica vida natu-

ral, com florestas tropicais com maca-

cos e mais de 100 espécies de pássaros.

A publicação especializada em turismo

mundial, escreve que “para relaxar,

Vamizi é, como se define, "um grande

spa", com uma ampla variedade de

tratamentos clássicos como shiatsu

e reiki e outros criados no local, com

produtos fabricados a partir de mine-

rais e algas do oceano Índico.

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48

Descobrir

Sol e brisa

Arqueando para fora dos mares Vamizi

- doze quilómetros de comprimento e

um quilómetro de largura - esta curva

em forma de baleia da praia e mato está

encharcado de sol e brisa.

Os quilómetros de areia branca e inte-

rior selvagem também são um santuá-

rio para macacos simango, caranguejos

de coco e as 112 espécies de aves que

foram registadas como residentes ou

visitantes, bem como um refúgio para

as criaturas mais terrestres entre nós.

Como as 100 tartarugas que nidificam

nas praias vazias de Vamizi e são irre-

sistivelmente atraídas para a sua paz,

solidão e perfeita harmonia. Ano após

ano, os viajantes intrépidos e reque-

rentes de prazer rarefeito descobrem

que é apenas o lugar para descansar as

suas barbatanas cansadas.

Projeto Life The Vamizi Island

O projecto Life The Vamizi Island Pro-

jeto visa ajudar estas aldeias a vencer a

pobreza e a melhorar a vida diária. Vamizi

é muito mais do que Nirvana de férias

para os poucos privilegiados - é tam-

bém uma casa e uma comunidade para as

1.500 pessoas que vivem em três aldeias

no extremo oriental da ilha. Envolvi-

mento a nível comunitário tem sido uma

prioridade desde o início, conservação e a

comunidade são indissociáveis.

Historicamente, um lugar de retiro,

Vamizi começou a ser colonizada por

pessoas que tentam evitar as devasta-

ções da guerra civil em Moçambique, que

terminou mais de uma década atrás. A

vida nas aldeias é fundamental e extre-

mamente tradicional. A maioria das pes-

soas sobrevive da pesca, pescando com

canoas, pequenos veleiros locais (dhows)

ou apanhados à mão dos recifes da ilha.

Nunca houve água doce na ilha, por isso

cada gota a comunidade usa é trazido por

veleiros para as aldeias de colmo duas

vezes por dia a partir do continente.

O que pode parecer, de certa forma

romântico ou selvagem é, na sua ima-

gem no espelho, uma vida dura, à

miséria por recursos escassos e de

pouca oportunidade.

O Vamizi Projecto Ilha visa ajudar estas

aldeias a vencer a pobreza e a melhorar

a vida diária, para desenvolver decen-

tes instalações médicas e escolas, criar

novas opções e conservar casas na ilha

e as suas riquezas abundantes no oce-

ano, para o bem da comunidade e dos

seus filhos.

Vamizi, ilha de sonho

Abaixo da superfície dos mares

Vamizi é um excelente reefscape -

montanhas, vales planaltos e escar-

pas-cheias com uma quantidade

impressionante de vida marinha, de

baleias, golfinhos, tartarugas e tuba-

rões de recife de corais gregorianos

e moluscos gigantes. Vamizi situa-

-se junto ao ponto onde a corrente

sul equatorial se divide. As correntes

emergentes frios e quentes sustentam

quantidades anormalmente grandes

de plâncton microscópico e krill, uma

importante fonte de alimento, que

suporta uma vasta gama de espécies

até 46 tipos de corais e mais de 400

espécies de peixes, por si só.

Um olhar sobre um mapa marinho

revela outro segredo de Vamizi: um

desfiladeiro marítimo, oferecendo

locais de mergulho e habitats de corais

que foram considerados entre os sis-

temas saudáveis de recife. Simpli-

ficando, se quer mergulhar, pescar,

nadar, este é o lugar!

A ilha Moçambicana de

Vamizi está entre os melhores

destinos turísticos do mundo

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49

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50

Fomos ao encontro de Calane da Silva, uma figura cultural

moçambicana multifacetada. O pretexto para a conversa

foi ter sido laureado em Novembro do ano passado com o

Prémio José Craveirinha, que é o maior galardão literário

moçambicano, cujo valor pecuniário é de 25 mil dólares

(cerca de 700 mil meticais), patrocinado pela Hidroeléc-

trica de Cahora Bassa (HCB). Mas quem procura Calane

tem que estar preparado para “empreender uma odis-

seia” em torno dos vários assuntos que marcam e carac-

terizam o nosso mosaico social, artístico e cultural. E

nós não perderíamos essa oportunidade. Deixamo-nos

embrenhar pelas veredas do conhecimento deste escritor

e académico moçambicano. Como só aos fachos lhes com-

pete, Calane da Silva foi dissertando sobre as mais can-

dentes questões da vida do país, alumiando, igualmente,

os corredores da nossa História mais recente. Dono de

uma invejável oratória, ele falou de tudo um pouco, indo

da sua génese literária, passando pelo jornalismo, sua

eterna paixão, até ao mundo da academia que ele perse-

gue diariamente, de forma fervorosa, à importância que

ostenta para si o Prémio Craveirinha, por sinal, pessoa

que conheceu e muito privou. E aqui ficam os principais

excertos de uma conversa de quase hora e meia com o

autor de “Xicandarinha na Lenha do Mundo”.

Cultura

Quem procura Calane tem que estar preparado para “empreender uma odisseia” em torno dos vários assuntos que marcam e caracteri-

zam o nosso mosaico social, artístico e cultural.

Escritor com um músculo intelectual

erudito

Calane Da Silva Prémio José Craveirinha 2011

FRANCISCO MANJATE

50

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51

Cultura

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52

português em Moçambique, as influ-

ências das línguas Bantu no portu-

guês e desta para as línguas Bantu. As

minhas obras não são só de criação

artística, mas de investigação acadé-

mica. Embora também ainda conti-

nue a escrever artigos e crónicas para

os jornais. Deixei de estar a tempo

inteiro no jornalismo, mas continuo

a ser o jornalista que sempre fui… foi

a profissão que escolhi e que também

foi a profissão de José Craveirinha. É

isto que mais me emociona, pois rece-

ber o prémio que ostenta o nome de

um homem com quem convive e que

juntos batalhamos para algumas cau-

sas importantes e com que partilhei

ideias, algumas comuns, sobre o que

nos interessava, o que queríamos para

o nosso país.

A distinção muda algo no seu percurso

de vida?

Este prémio veio a calhar-me, diga-

mos, no último tempo da minha

vida, e veio me calhar bem. Por isso o

dedico a familiares, amigos e ao povo

moçambicano, porque me ajudaram a

crescer. Nós não crescemos sozinhos,

mas sim o nosso crescimento é fruto

também do crescimento dos outros.

O país e o planeta são uma escola para

todos nós e temos que os olhar como

o lugar de aprendizagem em cada um

dos momentos das nossas vidas. E foi

o mundo, foram os povos, particular-

mente deste país, que me fizeram abrir

os olhos e poder produzir as obras e

estar ainda empenhado numa escrita

investigativa, por um lado, e por outro

que leva a visão cultural do nosso povo,

continuando a ser o Calane sempre fui.

E assim tudo começou…

Este prémio honra um trabalho de

quase 45 anos de produção artístico-

-literária, desde os tempos em que era

“O Menino da Malanga” até que se tor-

nou no intelectual activo e de reco-

nhecido mérito dentro e fora do país.

É verdade. A gente nunca sabe para

onde a vida nos leva. Estava conven-

cido que ia morrer como um jornalista

a tempo inteiro, para além de sentir

em mim este fervilhar cultural. Sem-

pre estive ligado a questões culturais

desde os tempos do Liceu, fazendo

teatro, publicando poemas nos “livros

de parede”, até que apareceram “Os

Calane da Silva foi galardoado com o

Prémio José Craveirinha, sendo o pri-

meiro escritor a recebê-lo no novo for-

mato, e que distingue a sua carreira na

literatura, no ensaio e na academia.

Isso representa algo?

É um galardão relativo à vida literá-

ria de um cidadão. Para mim foi uma

honra receber este prémio, precisa-

mente por ostentar o nome que tem:

José Craveirinha. Eu me lembro que

quando instituíram o Prémio para uma

obra literária disse que não podia ser

assim, pois vulto literário de Cravei-

rinha é de tal maneira gigantesco que

merecia um outro tipo de distinção

para valorizar ainda mais a literatura

moçambicana. Passaram-se anos e a

Associação dos Escritores Moçambi-

canos (AEMO) achou por bem adaptá-

-lo para este formato, tendo o seu valor

monetário e também valor simbólico.

O que é mais importante para si?

Esse valor simbólico para mim é fun-

damental. O monetário desaparece em

pouco tempo se não for bem gerido.

Mas o prémio simbólico honra-me

bastante. O júri deve ter visto o cami-

nhado trilhado por mim nos últimos

45 anos e achou que à minha pessoa

cabia, no seu juízo de valor, a premia-

ção, isto do ponto de vista do trabalho

literário que desenvolvo em prol tam-

bém da literatura deste país.

Mas, a sua acção neste movimento

cultural para lá da literatura, roçando

outras expressões…

O meu trabalho literário não tem

somente que ver com a arte literária,

mas tem também a ver com a inves-

tigação académica que versa também

a parte literária. Faço análises aca-

démicas que versam a parte linguís-

tica moçambicana, as alterações do

CulturaSe nós conseguimos fazer milagres num tempo em que a cultura moçam-bicana era marginalizada, se nós con-quistamos uma bandeira de liberdade para nós, então por mais obstáculos que possam haver, duma outra forma, não seriam motivos impeditivos para que não façamos nada, mas antes devemos nos empenhar ainda mais na

construção da nossa cultura.

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53

Meninos da Malanga” que eram muito

criticados porque na altura havia cen-

sura e não se gostava muito do que era

nosso. Esgrimir publicamente a nossa

situação social de explorados não era

fácil. Mas este percurso de quase 45

anos leva-me a olhar o país e a mim

mesmo de forma diferente e me fez

compreender melhor a vida. A escrita

foi o passo instrumental da exposição

de sentimentos que sempre me nor-

tearam no sentido de solidariedade,

no sentido de uma política a favor dos

explorados, no sentido de uma luta

constante pela dinamização cultural.

Eu desde que me conheço nos bairros

suburbanos ou noutros locais sempre

me vi envolvido em actividades cul-

turais. Por isso me sinto honrado com

o Prémio José Craveirinha, pois ele

representa um reconhecimento tam-

bém dessa trajectória. Bastante difícil

porque a vida não era nada fácil, mas

também por outro lado gratificante no

sentido de que conseguimos, apesar

de todos os obstáculos, cumprir com

aquilo que era o nosso desejo funda-

mental ou seja escrever em função de

uma atitude e de um empenhamento

solidário em prol do nosso povo.

Haverá alguma diferença na direcção

da sua escrita, ou melhor ela é inti-

mista ou colectiva?

Quando a gente escreve para os outros

ou para o nosso povo é evidente que

estamos a escrever para nós mesmos

porque não existimos sem aqueles que

nos rodeiam. Há um provérbio ronga

muito interessante que diz: “A Mhunu

hivhanwanhane” ou seja “Uma pes-

soa é constituída por outras pessoas”.

Portanto, nós não podemos estar dis-

tanciados dos outros. Nós somos parte

integrante uns dos outros. Eu não

existo sem o outro. Então isso levou a

empenhar-me na escrita literária.

Jornalismo: a escola dos escritores

O jornalismo em Moçambique sempre

esteve muito ligado à literatura. E isso

é algo que se viveu muito no período

colonial até mais ou menos no pós-

-Independência. Não era ao acaso.

O jornalismo sempre foi uma escola

de preparação dos escritores no nosso

país. A maior parte dos primeiros

grandes escritores em Moçambique

vieram do jornalismo, desde o Cam-

pus de Oliveira, em 1869; depois o João

Albasini, fundador do Brado Africano,

e mais tarde o Rui de Noronha que

foi Chefe de Redacção do Brado Afri-

cano. A escritora Noémia de Sousa foi

jornalista, José Craveirinha foi jorna-

lista, Rui Nogar foi jornalista e chegou

mesmo a trabalhar na revista Tempo e

era correspondente de jornais da opo-

sição lá fora. Grande parte dos escrito-

res moçambicanos veio do jornalismo.

Isso aconteceu num período em que

os “escribas” faziam tudo nos jornais e

tinham um rigor e paixão com a escrita.

Sim. Por isso, o jornalismo foi uma

escola tanto para aqueles escrito-

res como para mim. Como jornalis-

tas tínhamos a distância necessária

para ouvirmos todas as partes envol-

vidas, ao mesmo tempo que tínhamos

que saber expor, narrar e argumentar

porque na época o jornalista fazia um

pouco de tudo.

Até porque como jornalista tinha que

ter ainda uma alta capacidade expres-

siva e comunicativa?

Tínhamos que fazer a crítica literá-

ria, do teatro, das estreias cinemato-

gráficas, o que nos obrigava a termos

um músculo erudito. Éramos obriga-

dos a estudar e a ler muito, mesmo sem

cursos superiores – na altura até nem

haviam. No máximo tínhamos o 3º

Ciclo do Liceu, que era o pré-univer-

sitário. Na altura era um ensino enci-

clopédico que, diga-se de passagem,

dava-nos uma bagagem larga para

depois sermos autodidactas e avan-

çarmos. Inclusive, a própria 4ª Classe

– que José Craveirinha fez – era difí-

cil de consegui-la. E quando se tirava

mais não havia senão ser-se autodi-

dacta: ler tudo e avançar. Isto quer

dizer que o jornalismo deu-nos a mim

e a outros um caminho e uma capaci-

dade expressiva ao nível da escrita que

me valorizou e me permitiu também

abrir, com mais rapidez, caminhos

para a escrita a literatura.

A gente nunca sabe onde a vida nos leva.

Cultura

Page 54: Mais MZ - Edição 0

54

Um estudioso de Craveirinha

Fez várias obras de carácter académico

estudando a poesia de José Craveiri-

nha. Qual era a perspectiva?

Sendo ele um poeta e dono de uma

envergadura colossal aqui em Moçam-

bique, José Craveirinha é ainda um

manancial inesgotável de estudos. E

uma vez que ele é filho de mãe ronga

e pai português, tal como eu sou, fui

buscar na obra dele um estudo pro-

fundo a nível lexicológico dos lexemas

Bantu e dos neologismos luso-ronga,

anglo-boer e bantu-africanse, que

estão muito bem patentes na sua poe-

sia. Como é que isso se conjugava, qual

é o papel, qual é a função estético-

-estilística e linguística de tudo isso

na obra dele, é o que eu queria com-

preender. Foi uma pesquisa interes-

sante e que tem uma continuidade já

mais avançada na minha tese de Dou-

toramento, que também vai ser publi-

cada em livro.

Para além do livro “O Estiloso Cravei-

rinha”, Calane fez, entre outros tan-

tos textos, os estudos introdutórios

dos as obras “Xigubo” e “Karingana ua

Karingana”. Podemos aqui considerar

a existência de uma coincidência com

o que aconteceu: ser hoje detentor do

Prémio Craveirinha?

Para mim é agora mais gratificante

ainda porque ganhei um prémio que

ostenta o nome dele, isto muitos anos

depois de ter feito um trabalho sobre a

obra dele. E fi-lo sem nunca ter imagi-

nado que um dia haveria uma distinção

deste calibre. Mas foi uma feliz coinci-

dência. Para além do “Estiloso Craveiri-

nha”, tenho no “Xigubo” e “Karingana

ua Karingana”, das últimas edições da

Alcance Editores, um estudo introdutó-

rio. A família me pediu para fazer o texto

para as duas obras, que para mim são as

mais emblemáticas de José Craveirinha,

e fiz com muito gosto. Mas tenho muito

mais textos sobre ele que serão publica-

dos no livro “A Canção da Escrita”. E isso

só é possível acontecer porque Craveiri-

nha é um escritor inesgotável, basta ver

a quantidade de académicos que con-

tinuam a fazer dissertações, livros e

ensaios em torno da obra dele. Ao par-

ticipar no estudo de uma obra do prin-

cipal escritor, e o maior até agora, eu me

torno num estudioso da palavra do pró-

prio poeta, o que é gratificante sobre-

tudo quando não estava previsto que

ganhasse um prémio desta dimensão,

mas sim era apenas um estudo sistemá-

tico da obra do escritor.

Uma cultura rica e variada

Intelectual fervoroso, Calane da Silva,

tem um percurso de quase cinco déca-

das. E nos seus trabalhos não olha

somente os aspectos do passado, mas

também do presente. Para além de

que também participa activamente

no movimento cultural nacional. Que

radiografia faz o mosaico artístico e

cultural do nosso país, actualmente?

Ora, bem. Se nós conseguimos fazer

milagres num tempo em que a cultura

moçambicana era marginalizada,

se nós conquistamos uma bandeira

de liberdade para nós, então por

mais obstáculos que possam haver,

duma outra forma, não seriam moti-

vos impeditivos para que não faça-

mos nada, mas antes devemos nos

empenhar ainda mais na construção

da nossa cultura. E a nossa cultura

é das mais ricas e mais variadas que

existem. É só percorrer do Rovuma

ao Maputo para ver o que temos de

manancial inesgotável de valores cul-

turais espectaculares quer ao nível

da escrita, das histórias e contos tra-

dicionais, como da História propria-

mente dita, que é também cultura. E

do ponto de vista linguístico, é mais

interessante ainda, pois ter 23 línguas

não é brincadeira nenhuma. Em ter-

mos das nossas danças, canções e ins-

trumentos tradicionais que ainda não

estão totalmente estudados, pode-

mos dizer que Moçambique é detentor

de centenas e centenas deste tipo de

expressões. Tudo isso me leva a dizer

que, de maneira nenhuma, deve-

mos parar. Tanto de pesquisar, como

de documentar e divulgar as nossas

manifestações artísticas e culturais

e pô-las ao conhecimento tanto dos

estudantes como dos académicos.

Cultura

Quando a gente escreve para

os outros ou para o nosso

povo é evidente que estamos

a escrever para nós mesmos

porque não existimos sem

aqueles que nos rodeiam.

Page 55: Mais MZ - Edição 0

55

Calane da Silva em Vila Nova

de Gaia, Avintes, Portugal, em

casa das "As Quelimanes", ao

encontro da receita do Mitake

(broa de Avintes) 1995

A nossa cultura é das mais ricas e mais variadas que existem.

Será por isso que continua a criar ou a

fazer parte de movimentos e associa-

ções culturais?

É sim. Junto e crio movimentos cultu-

rais e literários. No Centro Cultural Bra-

sil-Moçambique criamos o Movimento

Cultural Kulapuxa, que hoje é uma

associação extremamente dinâmica.

Estive também envolvido com o grupo

Xitokozelo, e logo depois da Indepen-

dência, organizei, durante quatros, os

M’sahos, que eram encontros de poesia

ao ar livre no coreto do Jardim Tunduru.

Mais tarde o falecido escritor e jornalista

Gulamo Khan se juntou ao projecto. Mas

também este factor de abertura política

permitiu que nós nos empenhássemos

ainda mais na criação de associações,

grupos ou mesmo movimentos de cul-

tura em Moçambique.

Sente-se feliz com o movimento cul-

tural nacional?

Olha, num país tão grande como o

nosso, exige sempre cuidado quando se

fala de cultura, porque não existem cul-

turas maioritárias e nem minoritárias,

mas sim cultura. Mas também quando se

fala somente de cultura moçambicana, a

pergunta que vem a seguir é qual é essa

cultura, ou quais são os seus traços. Se

nós cavarmos em termos de Antropo-

logia iremos verificar que nós temos

muitas culturas das várias etnias que

constituem no seu todo o povo moçam-

bicano. E também temos comunidades

que se instalaram aqui em Moçambi-

que há mais de oito ou dez séculos ao

longo do litoral ou no interior, vindos de

outras zonas ou regiões, quer do inte-

rior de África, quer de continentes vizi-

nhos, como são os casos da Índia, China,

Pérsia. Vieram, se instalaram aqui e con-

nosco conviveram. E hoje vemos que as

pessoas ao longo do litoral estão perfeita-

mente à vontade nesse convívio secular.

Então, estamos perante uma situação

de uma cultura não homogénea, mas

produto de várias misturas, de traços

e expressões diferenciadas?

Todos esses povos que chegaram a

Moçambique, com as suas manifesta-

ções, constituem um manancial rico de

presença cultural moçambicana. Por

isso quando falamos de línguas não nos

esqueçamos que não temos somente

o Bantu e outras de origem europeia

como o português, mas sim temos lín-

guas fixas há cinco séculos, que são de

origem asiática. O Gujarato – uma lín-

gua de origem indiana – é falado em

muitas famílias moçambicanas há

cinco séculos, o Árabe clássico é estu-

dado nas nossas Madrassas. Portanto,

são coisas que as nossas universidades

devem estar atentas a elas para inclu-

írem no seu plano cultural de conheci-

mento porque a gente não pode amar o

que desconhece. É preciso estudá-las

e conhecê-las para poder amá-las,

pois elas não são culturas minoritá-

rias, mas sim existem no seio do povo

moçambicano e no interior de todo o

território nacional. Há uma realidade

cada vez mais rica de potencialidades

e de realidades que me leva a procurar

conhecer tudo isso e a fazer cada vez

mais em prol deste mosaico cultural

moçambicano que não é somente meu,

mas sim é nosso.

Cultura

Page 56: Mais MZ - Edição 0

56

País de Encantos

Tradição

O estilo de vida tradicional – que varia de província para província – é muito bem conservado em Moçambique,

a Pérola do Índico.

Page 57: Mais MZ - Edição 0

57

Os Makondes, na província nortenha de Cabo Delgado, são

conhecidos por serem um povo destemido e pelos seus ritos

de iniciação. Os participantes entram na roda do “mapiko”, a

dança da máscara. Os corpos são tatuados e os dentes são afia-

dos por questões puramente estéticas. Esses são os Makondes.

A música é um forte condimento na cultura do povo de Niassa.

Os instrumentos musicais são fabricados com recurso às mas-

salas e chifres ocos e secos, que funcionam como trompetes.

Os músicos formam grupos – que são verddeiras orquestras –

e tocam instrumentos de dimensões diversificadas.

A mulher Macua é famosa por pintar a sua cara com o

“muciro”, uma espécie de loção branca feita com base em

ervas e raízes locais. Os Macuas, tal como em outras par-

tes do país, são especilistas na produção de cestos, utensílios

domésticos e outros objectos artísticos de palha.

A cozinha da Zambézia é altamente apreciada por todos os

que têm a sorte de provar uma mucapata ou um frango assado

no carvão temperado com molho de côco típico da região. A

agilidade do povo Nhau, da província de Tete, é visível nas

suas coreografias e gera admiração de muitos que assistem

a verdadeiro espectáculo do género. Ao ritmo dos batuques,

os dançarinos Nhau exibem as suas máscaras num gesto fra-

terno que só neles é que se pode encontrar.

Da população Chope da província de Inhambane chega-

-nos a Timbila, um musical tradicional similar ao xilofone

declarado Património da Humanidade. Durante uma apre-

sentação de uma orquestra de Timbila, podem ser tocado

mais de 20 instrumentos em simultâneo com uma harmo-

nia impressionante. A Mbira é outro instrumento caracte-

rístico do povo Chope. Produzido com cabaças de massalas

e incorporados uma espécie de teclados de metal e tocados

somente com dedos.

TradiçãoMulher Makonde, ostentando

um disco ornamentado no

lábio inferior, simbolo de

beleza para a tribo

Exemplar do instrumento

Mbira, instrumento

característico do povo Chope

província de Inhambane

A mulher Macua é famosa por pintar a sua cara com o “muciro”

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58

Mais MZ

Era um fim de tarde que nos pedia

perto. De véspera deixamos o nosso

jardim com um beijo, para mais logo

adormecer a espera.

Era uma tarde boa para partir, em

frente, por essa grande rua, a mesma

que nos traz o Norte.

Era um fim de tarde de inverno e não

parei na Manhiça, disseste "Capitão...

segue a luz" e aportei na primeira praia de

nós... trocamos mensagens e adormeci.

Depois do amanhecer não fomos longe

na separação, cortaste o trópico, subju-

gamos a saudade e encurtamos a distân-

cia em Vilankulos.

Voaste mais rápido, não me querias dei-

xar... uma manhã a mais de sono, mais

um livro na varanda, a música no Iphone

e o nosso matabicho.

Foi quando fizemos outro beijo e parti-

mos a latitude... fazia vento nessa manhã.

A estrada levou-me... Inchope, Goron-

gosa, Caia... a estrada levou-te... Mas-

singa, Maxixe, Inhambane... cruzei

Crónica

SÉRGIO ESTEVES

A estrada levou-me... Inchope,

Gorongosa, Caia... a estrada levou-te...

Massinga, Maxixe, Inhambane...

cruzei o Zambeze de noite...

e depois Quelimane... Estava estafado!

o Zambeze de noite... e depois Queli-

mane... Estava estafado!

Nessa noite falaste de Maputo.

Pela manhã segui às montanhas... estou

assim só nesta busca, intrépido, com

um cigarro e mais este pó que levanto.

Ali fica o Alto Molucue, logo depois

Nampula, a música do rádio foi a

mesma que dançamos no "Face" mas

tenho que ser breve, daqui a pouco

será outra vez noite.

Falta o último assalto, o último troço, as

últimas horas... mais um café... Nam-

pula fervilha de gente neste 25 de Junho

e tenho que ter cuidado na marcha.

Depois o breu, a estrada, o capim em

cima dela... Namialo, Namapa, Rio

Lurio, Pemba.

Cheguei!

Aqui mora o azul... o azul dos olhos

de Leonor.

É assim minha linda, que nos temos...

na maior viagem deste nosso encontro.

Mais Moçambique.

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O QUEIMPORTA ESTÁ CÁ DENTRO

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60

Director Aniceto MAtArucA

Director executivo SáDiA ibrAiMo

eDitor ADAM JoreSSe

reDAcção boAventurA MAnDlAte,

ADAM JoreSSe, FrAnciSco MAnJAte,

eugénio Pinto

DeSenho gráFico AnDré oliveirA /

the gAFe, lDA.

iluStrAção AnDré oliveirA

coPyDeSk eugénio Pinto

FotogrAFiA JuMA cAPelA

Director coMerciAl vASco cArvAlho

ServiçoS ADMiniStrAtivoS/

PubliciDADe cAMilA FAquir

ProPrieDADe the gAFe MeDiA, lDA.

tirAgeM 5.000 exeMPlAreS

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AveniDA cArl MArx, 173

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MAPuto – MoçAMbique

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848 899 147 / 827 039 345

21 303 409

FICHA TÉCNICA

Pelo menos duas mil pessoas, em Mocambique, entre doentes

de Sida em tratamento anti-retroviral, com tuberculose e mal

nutridos, passarão a partir deste mês, Agosto, a beneficiar de

uma cesta básica avaliada em 985 meticais.

A operadora móvel Mcel anunciou ter efectuado uma signifi-

cativa redução dos preços nos serviços de dados do pré-pago

e pós-pago. Os clientes do netmóvel pré-pago da Mcel passa-

ram a pagar apenas 200 meticais por 1GB de downloads contra

os anteriores 250 meticais, sendo que o netmóvel NTDIA de 3GB

passa a custar apenas 500 meticais.

Cesta básica já no próximo mês para duas mil pessoas em Moçambique

Mcel reduz preços nos serviços de dados

O Presidente Armando Guebuza promulgou ontem e mandou

publicar, através de dispositivos legais, três leis, nomeada-

mente a Lei de Protecção de Vítimas, Denunciantes e Outros

Sujeitos Processuais, a Lei de Probidade Pública e a Lei sobre os

Princípios e Critérios da Organização Territorial.

As presentes leis foram recentemente aprovadas pela Assem-

bleia da República e submetidas ao Presidente da República

para promulgação, tendo o Chefe do Estado verificado que as

mesmas não contrariam a Lei Fundamental, nomeadamente a

Constituição da República.

PR promulga três leis

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