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VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 1/44
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COORDENADOR: Dia Internacional da Mulher | 11-14
LUZIA MONIZ: CPLP | Escolhe Poeta Luso Escravocrata e Racista | 15-17
WEIMAN KOW: Art on Hygiene & Prophilaxis | 19-25
DONA CACILDA: 27-28
MYRIAM JUBILOT d’CARVALHO: Culturas in Movimento| momento POÉTICO| 30-33
FANISSE CRAVEIRINHA: | 34-35 || ADELTO GONÇALVES: divulga duas autoras | 36-37
SILVYA GALLANNI: Instantâneos - texto e imagem | Nossas Senhoras | 38-40
MK: ESOTERIKA | Numerologia | 8 de Março | 42-43
PARCERIA de DIVULGAÇÃO | VuJonga | jornal O Autarca de Moçambique | 7
FALUME CHABANE | coluna da Beira | Moçambique| 8-9
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 2/44
8th March | English.
In a World where we are more and
Over demanded - Moved by the social
impulse stemming from A heritage of the
Natural instinct of life, we will always be
exceptional to survive. As we reign
absolute within our space – the space that
we created – the space that we will create.
In the Past, we were born in an
environment where men always reigned.
In the past, we were educated only
to serve and obey. Getting married to be
procreators and educators of the family
children. However, and thanks to many
women, from yesterday, today we follow
their examples of emancipation. We still
work inside home, but as well we already
work outside. More aware of our value, we
decide our paths.
Today, we are what we want to be.
We have our rights conquered, at work, at
home, in a relationship. Even motherhood
can be, or not, with a man. Today we are
the ones who drive our machines, as well
as our life’s.
Congratulations to us – warrior
women. And, WOMEN'S DAY always
will be, every day. ■ Silvya Gallanni
8 de Março | Português.
Num Mundo onde somos Ultra
sensíveis, porque Libertas da Herança
Encontrada na Realidade da vida, seremos
sempre excepcionais. Pois, somos nós que
reinamos absolutas dentro do nosso
espaço, o espaço que criámos – o espaço
que criarmos. Nascemos num ambiente
onde os homens sempre reinaram. No
Passado, éramos educadas somente para
sermos servis e obedientes. Para
casarmos – para sermos procriadoras e
educadoras das crianças da família.
Contudo, e graças a muitas
mulheres, de Ontem, Hoje seguimos os
seus exemplos de emancipação.
Continuamos a trabalhar dentro de casa.
Mas já trabalhamos fora. E mais
conscientizadas, decidimos os nossos
caminhos. Hoje, somos aquilo que
queremos ser. Temos os nossos direitos
conquistados, no trabalho, em casa, num
relacionamento. Até a maternidade
podemos ter, ou não, com um homem.
Atualmente somos nós que dirigimos as
nossas máquinas, assim como a nossa
vida.
Parabéns para nós, mulheres guerreiras.
E, DIA da MULHER – sempre serão
todos os dias. ■ Silvya Gallanni
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 3/44
Ficha técnica neste número |
CULINÁRIA | Dona Cacilda da Conceição Dias: Moçambique |
receitas | gastronomia | memórias associativas mestiças.
FILOSOFIA | Myriam Jubilot d’Carvalho: Península Ibérica |
[pseudónimo de Mª de Fátima Oliveira Domingues]
prosa e poesia | crónicas interculturais | ensaio.
REVISÃO | Mª de Fátima Oliveira Domingues: Portugal |
textualidade e contexto | pedagogia | revisão de texto.
PSICOLOGIA CLÍNICA | Fanisse Craveirinha: Europa |
psicoterapias | reflexões sobre saúde mental quotidiana.
HISTÓRIA | Adelto Gonçalves: Brasil – Portugal |
resenhas literárias | Lusofonia.
INSTANTÂNEOS | Silvya Galllanni: Portugal – Brasil |
instantâneos | crônicas | poesia | fotografia | revisão gráfica.
ARTE | Mphumo Kraveirinya: ‘Anima Mundi’ |
infografismo | layout | art work | poesia | crítica de arte | esoterika.
COMUNICAÇÃO e CULTURA | João Craveirinha: CPLP |
[fundador e coordenador]
comunicação e cultura | resenhas | revisão-geral.
E-mail | [email protected]
Facebook | https://www.facebook.com/VuJonga
Instagram | em organização
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 4/44
Revista digital ilustrada, actualizada, made in CPLP | fundada por: João Craveirinha (CLEPUL); Silvya Gallanni (RL); Mª de Fátima Oliveira Domingues (CLEPUL).
VuJonga 15 – cadernos literários | 08 Março 2020 https://rl.art.br/arquivos/6883532.pdf VuJonga 14 – cadernos literários | 1º Março 2020 https://rl.art.br/arquivos/6881116.pdf
VuJonga 13 – cadernos literários | 23 Fevereiro 2020
https://rl.art.br/arquivos/6872116.pdf VuJonga 12 – cadernos literários | 16 Fevereiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6867013.pdf VuJonga 11 – cadernos literários | 09 Fevereiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6862114.pdf VuJonga 10 – cadernos literários | 02 Fevereiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6856528.pdf VuJonga 09 – cadernos literários | 26 Janeiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6851143.pdf VuJonga 08 – cadernos literários | 19 Janeiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6847856.pdf VuJonga 07 – cadernos literários | 12 Janeiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6847855.pdf VuJonga 06 – cadernos literários | 05 Janeiro 2020 https://rl.art.br/arquivos/6847853.pdf VuJonga 05 – cadernos literários | 29 Dezembro 2019 https://rl.art.br/arquivos/6847238.pdf VuJonga 04 – cadernos literários | 22 Dezembro 2019 https://rl.art.br/arquivos/6847233.pdf VuJonga 03 – cadernos literários | 15 Dezembro 2019 https://rl.art.br/arquivos/6847230.pdf VuJonga 02 – cadernos literários https://rl.art.br/arquivos/6847228.pdf VuJonga 01 – cadernos literários | 1º Dezembro 2 https://rl.art.br/arquivos/6847218.pdf
Ligações online de VuJonga cadernos literários | 2019/2020.
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VuJONGA – significado.
VuJONGA significa ORIENTE, e também por analogia,
povo vaJonga do ‘Sol Nascente’– em língua Jonga.
ORIENTE – ponto cardeal
de uma das quatro direcções principais da rosa-dos-ventos
[Sul – Norte; Ocidente – Oriente]
ShiJonga ou ‘O Jonga’ é um idioma africano que tem a sua origem
milenar no idioma kiKongo, com sede em Bandundu no ‘Congo-
Kinshassa.’ Daí sairiam migrações cíclicas do povo (ba)Kongo, rumo à
África Austral, tomando rumos diferentes a partir do rio Zambeze, a sul
e a norte.
Posteriormente, em fusão genético-cultural, originou outras
variantes idiomáticas, tais como as dos povos Nhandja (Niassa), Guigóne
(Inhambane), Jonga (Móputso), e ainda outras variantes posteriores tais
como ShiSuate (Suazilândia), Zulo (Natal), Shengane (Gaza), ShiTsua
(Inhambane).
A língua Jonga é, pois, um idioma muito antigo da cultura baNto da
capital de Moçambique. Sofreu várias influências linguísticas no decurso
do tempo. Estas são o registo cultural de épocas em que navegadores
europeus e asiáticos circularam pela costa marítima moçambicana, aí
desenvolvendo relações comerciais – mais pacíficas – umas, e outras
mais conflituosas.
Este idioma, shiJonga, encontra-se actualmente em processo de
extinção, devido a imposições ideológicas do poder político
estabelecido desde 1975.■ coordenador JC.
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1º Esboço de Mapa Etno-Etimológico
da região vaJonga - séculos XVI-XIX
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Sónia Saleiro Uache é uma mulher semelhante a tantas outras mulheres
moçambicanas, africanas e do mundo, com a particularidade de muito cedo ter
assumido o carácter de liderança.
Nasceu em Nampula e aos quatro anos transferiu-se para a Beira, cidade onde
vive até hoje, razão pela qual se considera mais beirense do que nampulense.
Conheço a Sónia Uache há mais de duas décadas, período desde o qual sou
Amigo do marido, Manuel Uache. Na época partilhavamos o mesmo corredor onde
cada um de nós tinha o seu escritório, no Prédio Tâmega. Nessa altura o Uache
andava numa Nissam Skarline e eu num Ford XR-III. Foram bons momentos.
A Sónia é uma mulher empreendedora persistente e, felizmente, bem sucedida,
e tem a família (esposo, filhos e faz insistentemente referência à mãe) a sua
principal base de inspiração e suporte para o sucesso na vida.
Tem formação básica de Contabilidade pela Escola Industrial e Comercial 25
de Junho e concluiu o ensino médio na Escola Secundária e Pré-Universitária
Samora Moisés Machel. Tem licenciatura em Psicologia Escolar pela ora extinta
Universidade Pedagógica e mais tarde concluiu o curso de mestrado em Direito na
Universidade Católica de Moçambique.
coluna de
Falume Chabane
Moçambique
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 9/44
Quando ainda criança, estudante, devido às circunstâncias da vida do momento,
Sónia tornou-se muito cedo líder, cuidando dos irmãos mais novos. Conta que a
sua infância foi muito curta, mas orgulha-se de ter aprendido muito da vida devido
a essa condição.
Teve de lutar sempre por alguma coisa na vida, tendo muito cedo aprendido a
costura e nessa altura já fazia roupas para colegas da escola para conseguir dinheiro
para si e ajudar os seus irmãos. Lembra-se, também, que fazia tranças, pão, e com
essas actividades sempre conseguiu ter dinheiro para si e ajudar os seus irmãos
mais novos. Além de negócios é, também, dedicada à área social, sendo uma das
percursoras da Associação de Mulheres para Mulheres, que desenvolve uma série
de projectos sociais em Sofala.
Entra para o mundo de negócios pelo encorajamento do seu marido, Manuel
Uache, inciando com a abertura de uma empresa de comercialização e montagem
de persianas, a PERFIL, que hoje engloba outras actividades decorativas,
mobiliário de escritório e prestação de vários serviços.
A sua experiência profissional incluiu passagem pela Proteia, onde onde
aprendeu as primeiras técnicas como vendedora e saber lidar com clientes.
Sónia Saleiro Uache, ou simplesmente Sónia Uache, nasceu em Nampula, no
dia 06 de Março (mês da mulher) de 1976 e hoje celebra o seu 44º Aniversário
Natalício. É uma mulher especial digna merecedora de receber minhas felicitações
públicas pelo aniversáio. Feliz Aniversário e tudo de bom para si e sua amada
Família, Sónia.■ ©Falume Chabane (5, 2020) [in ‘O Autarca’ nº 3866 | 07/03/2020]
Sónia Uache
Saleiro
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Dia Internacional da Mulher – e é com o pretexto desta efeméride de 8
Março 2020 que lembramos aquelas Mulheres que directa ou indirectamente
contribuíram com a sua inteligência criativa para o enriquecimento destas páginas
do VuJonga cadernos literários - made in CPLP, e afins, ou foram mencionadas de
uma forma ou de outra. Tais são o caso da incansável estudiosa, poetisa e antiga
professora Myriam Jubilot d’Carvalho (MJdC*), e a contista, fotógrafa-amadora e
poetisa Silvya Gallanni (haikais), que além de serem nossas co-fundadoras são
também colunas-mestras desta revista digital.
Ainda de agradecer as colaboradoras desta revista, a psicóloga clínica
Fanisse Craveirinha e sua avó, a matriarca Cacilda da Conceição Dias com suas
receitas moçambicanas modernas; e ainda a colaboração vinda do México vinda
de Mª Auxílio Salado, professora universitária e tradutora, e antiga guionista de
telenovelas, no seu comentário sobre cinema.
De Singapura, cidade-estado na Ásia, temos de mencionar a UX designer
Weiman Kow, que graciosamente nos autorizou a utilizar suas tiras desenhadas,
elucidativas da higiene e profilaxia fundamental na prevenção do Covid-19,
variante de um vírus gripal com contornos pandémicos.
Destacamos também a autora portuguesa Manuela Gonzaga (citada e re-
citada numa resenha de um outro colaborador nosso da primeira-hora, e pós-
doutorado do Brasil). O mesmo colaborador que nos trouxe a conhecer nas nossas
páginas (ed. 10 de 02/02/2020) um dos grandes vultos femininos académicos do
Brasil, Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, professora universitária aposentada
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ).
“Pesquisadora há 52 anos, é doutora e mestra em Ciências Sociais na área de
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Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com
pós-doutoramento também em Antropologia pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e pós-doutorado em Ciências da Literatura pela UFRJ. Fez
os primeiros estudos em Maceió, até o curso científico. No Rio de Janeiro, em
1968, bacharelou-se e licenciou-se em Ciências Sociais pela UFRJ e, em 1966, em
Fisioterapia.” (in VuJonga 10: A.G., p. 26, 2020)
Temos também a associativista Luzia Moniz, nascida em Angola, radicada
em Portugal e inserida numa denominada ‘Diáspora Africana na Europa’ ou como
se diz extra-muros-portugueses na Europa – ‘Diáspora Afro-Europeia.’
Luzia Moniz é líder associativista de ‘Promoção da Mulher’ – foi destaque
no mundo da CPLP em 2019, pelo alerta que lançou no parlamento português,
contestando a escolha do nome de um falecido e conhecido poeta luso para um
órgão cultural da Lusofonia-CPLP, devido à sua postura ideológica de minimizar
a tragédia da Escravatura, pela qual a Europa arrancou brutalmente do continente
africano em quase 400 anos seguidos, mais de 12 milhões de seres humanos.1
E, dessa portentosa África e mal-amado continente, ainda que centrado no
planeta Terra de onde há centenas de milhar de anos partiram muitas diásporas
humanas – Seres que evoluindo como espécie humana, se diversificaram povoando
o planeta – Evocamos a falecida e ímpar activista política pelo meio-ambiente, a
académica do Quénia e Prémio Nobel 2004 – Wangari Maathai (1940-2011) que
criou o ‘Green Belt Movement’ (Movimento de Cintura Verde):
«Quer dizer, Wangari Maathai plantou (ou inspirou a plantar) mais de
30.000.000 de árvores, do mesmo modo que ajudou cerca de 900.000 mulheres a
reencontrarem os seus direitos. Para conseguir atingir os seus elevados ideais, a
Profª Wangari Maathai teve que ultrapassar inúmeros obstáculos, tanto no campo
político, como na sua vida pessoal. Hoje em dia, o “Movimento de Cintura
Verde”, por ela criado, alastrou à África Sub-Saariana e é uma realidade.■
MJdC*» (in VuJonga 10/01/20, p. 10)
Neste ‘Março – Mês da Mulher’ em curso, da cidade da Beira de
Moçambique, neste número é reproduzida, da página de um jornal local, o texto
onde um jornalista moçambicano cita a empresária moçambicana Sónia Saleiro,
pelo seu esforço como Mulher, Esposa e Mãe, além de activista social.
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 13/44
Noutro quadrante geográfico e político, mas europeu como a França, temos
a escritora Laura Nsafou, afro-francesa, com quem partilhámos a mesma sala de
apresentação de ‘papers’ na Universidade de Tampere no norte da Finlândia,
aquando da conferência internacional sobre a AfroEuropa, em 2017.
E, noutra região ainda mais longe, neste dia internacional da Mulher, não
podiamos deixar de mencionar a Professora Kassie Freeman, presidente da
‘African Diaspora Consortium,’ que desde 1993 nos tem acompanhado dos EUA,
observando o percurso sócio-cultural e político da situação em Portugal da
denominada diáspora africana e seus afro-descendentes ou ‘tout court’ –
comunidade afro-portuguesa (os que possuem nacionalidade lusa).
Porém, sem visibilidade positiva, ainda que ultrapassem à vontade os 20%
da população total, índigena, lusitana.
E, no pós- 25 de Abril 1974, somente bem visível na A.R., na década de 1990,
houve um deputado afro-português (já falecido), Fernando Ka, que se evidenciou.
Em 2020, esse seu testemunho foi entregue no feminino a Três Mulheres –
senhoras afro-portuguesas com assento parlamentar – as Deputadas – Joacine
Katar Moreira. Beatriz Gomes Dias e Romualda Fernandes. | vide página seguinte
rodapé do centro à direita, respectivamente.
É nesse contexto que hoje, simbolicamente e através destes exemplos que
fazem a diferença, que homenageamos todas as mulheres do Planeta em todos os
quadrantes de afazeres – desde as MULHERES, aparentemente simples donas de
casa tradicionais que no silêncio do lar sobrevivem sabe-se lá como, tentando
superar as suas dores e das pressões das dificuldades diárias tornando-se heroínas
anónimas sem o saberem – às estudiosas e interventivas na sociedade que
diariamente têm de contornar preconceitos em prol de uma melhor sociedade.
A Elas, por tentarem reivindicar um espaço digno numa sociedade civil presa
a uma hegemonia tradicional masculina, o nosso louvor e apreço.■
©Coordenador Mphumo João Craveirinha.
1 Texto que republicamos neste número, cuja reacção proactiva foi motivada pela
citação desse vate português, atrás referido, inserida num dos capítulos da obra literária de um
autor prolífico do Brasil, além de jurista renomado e de sua ligação à UNESCO. Autor nosso
conhecido pessoal há quase duas décadas: o Professor Doutor José Paulo Cavalcanti.
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 14/44
Às nossas co-fundadoras e às primeiras colaboradoras e senhoras que
foram sendo mencionadas no VuJONGA cadernos literários, nos seus
15 números | a nossa gratidão !
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 15/44
[Fernando Pessoa] Aos 28 anos escreveu: “A escravatura é lógica e
legítima; um zulu (negro da África do Sul) ou um landim (moçambicano) não
representa coisa alguma de útil neste mundo. Civilizá-lo, quer religiosamente, quer
de outra forma qualquer, é querer-lhe dar aquilo que ele não pode ter. O legítimo
é obrigá-lo, visto que não é gente, a servir aos fins da civilização. Escravizá-lo é
que é lógico. O degenerado conceito igualitário, com que o cristianismo envenenou
os nossos conceitos sociais, prejudicou, porém, esta lógica atitude”.
Em 1917, aos 29 anos continua: “A escravatura é a lei da vida, e não há outra
lei, porque esta tem que cumprir-se, sem revolta possível. Uns nascem escravos, e
a outros a escravidão é dada.”
Aos 40 anos consolida a sua ideologia racista, escrevendo: “Ninguém ainda
provou que a abolição da escravatura fosse um bem social”. E ainda: “Quem nos
diz que a escravatura não seja uma lei natural da vida das sociedades sãs”?
Fernando Pessoa, dono desse ignóbil pensamento, é a figura escolhida
pela CPLP para patrono de um projecto de intercâmbio universitário no
Espaço de Língua Portuguesa.
CPLP ESCOLHE
ESCRAVOCRATA - RACISTA
PARA PATRONO DE
PROJECTO JUVENIL
por Luzia Moniz*
*Luzia Moniz é líder associativa africana, em Portugal, onde reside há décadas. Natural de
Angola, foi jornalista em Maputo, Moçambique, na década de 1980. Formada em Sociologia.
Tem participado em Conferências sobre os Direitos Humanos pela Europa. [Este texto
surge da sua intervenção na A.R. Lisboa] in
INTERVENÇÃO FEZ 1 ANO EM 30 JANEIRO 2020
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 16/44
Essa iniciativa, cópia do programa europeu Erasmus, visa a educação,
formação e mobilidade de jovens do espaço de língua portuguesa, oferecendo-lhes
oportunidades de estudo, aquisição de experiência e voluntariado por um período
curto num dos países da CPLP à sua escolha.
Que Portugal, país onde a mentalidade esclavagista fascista ainda é
dominante, tenha escolhido promover, branquear essa figura sinistra não me
espanta.
Agora, o que verdadeiramente me deixa perplexa é a aceitação pelos países
africanos, as vítimas da escravatura.
Se foi para a isso que Portugal fez a guerra para assumir o secretariado
executivo da CPLP, tudo indica que a coisa começa mal.
Denunciei isso mesmo, esta quarta-feira na Assembleia da República de
Portugal, durante a cerimónia de abertura do ano da CPLP para a Juventude, onde
estavam deputados portugueses, governantes dos estados da CPLP, jovens,
activistas, intelectuais e académicos afrodescendentes, brasileiros, portugueses e
africanos.
Não sei se Pessoa é ou não bom poeta, Isso pouco interessa para o caso. A
minha inquietação é o uso da CPLP para branquear o pensamento de um acérrimo
defensor do mais hediondo crime contra a Humanidade: a escravatura.
Atribuir o seu nome a um projecto que envolve jovens, descendentes dos
escravizados, configura um insulto fascista.
Na **A.R., alguém, para tentar justificar o injustificável, alegou que as
convicções esclavagistas fascistas de Pessoa refletem o pensamento da Época,
ignorando que, por exemplo, Eça de Queirós, contemporâneo de Pessoa, era contra
a Escravatura e que quando Pessoa escreve tais alarvidades já a escravatura tinha
sido abolida oficialmente. Outros diziam que precisamos de olhar para o futuro,
esquecendo o passado. Como se Pessoa fosse futuro. Pessoa representa o que é
preciso combater hoje para defender o futuro. Como construir um futuro salutar
sem olhar para os erros do passado?
E se nos cingirmos apenas ao “pensamento de Época” qualquer dia, temos o
nome de outro colonialista-fascista António de Oliveira Salazar atribuído ao
Conselho de Finanças da CPLP, com o argumento de que “tinha as contas em
ordem” e de que foi “fascista à Época”.
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 17/44
Se se pretende criar uma comunidade envolvendo as populações e não se
limitando aos políticos, mais ou menos distraídos, é imperativo que o nome de
Fernando Pessoa não figure em projectos comuns.
Em sua substituição sugeri Mário Pinto de Andrade, académico, um dos mais
brilhantes intelectuais do espaço de língua portuguesa. Angolano que iniciou o seu
percurso académico em Angola, passando por Portugal antes de ser ministro da
Informação e Cultura na Guiné Bissau, que teve passaporte cabo-verdiano e deu
aulas em Moçambique.
Dos países africanos membros espera-se que revertam essa situação, opondo-
se ao nome de Fernando Pessoa, mesmo que com esse digno gesto se crie um novo
irritante. Os irmãos de Cabo Verde, que neste momento presidem a CPLP, têm
uma responsabilidade acrescida nesta questão.
Se Portugal olha para a CPLP como um instrumento de dominação dos
outros, cabe-nos a nós, africanos, impedir que isso aconteça.
Da minha parte, estou aqui, em nome dos meus antepassados e protegendo o
futuro dos meus descendentes. ■ Luzia Moniz. *
Quarta-feira, 30 Janeiro 2019. (Lisboa, **Assembleia da República
Portuguesa, sessão da manhã).
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 18/44
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 19/44
designer Weiman Kow de Singapura
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 20/44
Excerto da autorização directa por email de Weiman Kow, ao VuJonga,
consentindo a inserção probono dos seus desenhos em quadrinhos ou em
quadradinhos, nesta edição, a nosso pedido:
« Weiman Kow <comics-for-good> ter, 03/03/2020 22:45 |
«Dear vuJonga, [received by the coordinator of VuJonga, João Craveirinha, also known as Mphumo Kraveirinya]
Thanks for your email. Your magazine looks very interesting.
You have my permission to post my comics, please also link where you can find
all current and future comics: comicsforgood.com. There are also translations of
some comics available in Spanish and Portuguese - you can find it on my
instagram story highlights. (…) Send me the magazine when you've published it!
Weiman Kow»
TRADUÇÃO: «Tem a minha permissão para publicar os meus desenhos em
quadrinhos; por favor, crie um link para encontrar todos os quadradinhos actuais e
futuros: comicsforgood.com. Existem também traduções de alguns desenhos em
tiras disponíveis em espanhol e português - pode encontrar nos meus destaques da
história no instagram.» ... Envie-me a revista quando a publicar!» Weiman Kow»
Quem é Weiman Kow? a própria responde em inglês | Nós traduzimos |
- «Meu nome é Weiman (nome) Kow (sobrenome) e sou singapurense, residindo
em Singapura. Aqui está a minha história, se precisar:
- Sou designer de UX e desenho em quadradinhos por diversão. Em Janeiro, fiquei
de licença médica por três semanas devido a uma doença respiratória. Enquanto
estive doente, fiz muitas pesquisas sobre doenças respiratórias. Naquela época, as
notícias sobre o vírus Wuhan, agora conhecido como COVID-19, acabavam de
aparecer.
- Como ilustradora, fiz um resumo do que aprendi sobre o coronavírus em geral.
Descobri que muitos artigos informativos sobre o assunto eram difíceis de digerir
e tentei simplificar os desenhos em quadradinhos o máximo possível e
compreensível até para crianças.»
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 21/44
- Based in Singapore, Weiman is a full time user experience designer and part time illustrator
who likes to draw cute and informative doodles.
- Publishing weekly comic series on COVID-19 for now.
- All comics in my infocomic series about COVID-19 are free to use for educational
purposes with credit. If you would like to support me through donations, it would be greatly
appreciated.
TRADUÇÃO |
- Com sede em Singapura, Weiman é uma designer de experiência do usuário [UX] em período
integral e ilustradora em tempo parcial que gosta de desenhar rabiscos fofos e informativos.
- Publica séries semanais de quadradinhos sobre o COVID-19, por enquanto.
- Todos os desenhos em quadradinhos da minha série infocomic sobre o COVID-19 são de uso
gratuito para fins educacionais com crédito. Se quiser apoiar-me através de doações, seria
muito apreciado.
https://www.comicsforgood.com/about
©Weiman Kow comic stripes | on hygiene and prophylaxis
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 22/44
©Weiman Kow drawings | Desenhos de Weiman Kow©
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 23/44
©Weiman Kow drawings | Desenhos de Weiman Kow©
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 24/44
COVID-19 Updates
‘Where can I find credible information’
“Syra Madad, the senior director of the NYC Health + Hospitals System-wide Special
Pathogens Program, and Stephen Morse, a professor of epidemiology at Columbia University,
debunked 13 of the most common myths about the coronavirus. They explained how packages
from China won't make you sick and that getting COVID-19 is not a death sentence. They also
debunked the idea that it affects only older people — anyone can get the coronavírus.” WHO
| COVID-19 Actualizações |
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“Onde posso encontrar informações confiáveis”
«Syra Madad, diretora sénior do Programa de Patógenos Especiais do Sistema de Saúde e
Hospitais de Nova York, e Stephen Morse, professor de epidemiologia na Universidade de
Columbia, desmascararam 13 dos mitos mais comuns sobre o coronavírus. Eles explicaram
como os pacotes da China não vão deixar você doente e que ficar com COVID-19 não é uma
sentença de morte. Eles também desmentiram a ideia de que isso afecta apenas as pessoas mais
velhas - qualquer pessoa pode apanhar o coronavírus.» OMS
REFERÊNCIAS | Créditos / Data Venia | © Weiman Kow
Comics For Good |
https://www.comicsforgood.com/
Pathologists Debunk 13 Coronavirus Myths | WHO
Patologistas descartam 13 mitos do coronavírus | OMS https://www.comicsforgood.com/new-page
VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 25/44
REFERÊNCIAS | Informação Médica |
PORTUGAL |
https://www.dgs.pt/corona-virus.aspx
Coronavírus: 5 coisas que você precisa saber
26 fevereiro 2020
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51394578
Coronavírus: como são tratados os pacientes diagnosticados com covid-19
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51752012
Coronavirus disease (COVID-19) outbreak
https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
OMS | WHO https://www.who.int/es/health-topics/coronavirus/coronavirus
Conselhos para o público https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public
Data Venia | © Weiman Kow
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COZINHA MOÇAMBICANA
1ª edição de Agosto 1975
da publicação de culinária
de que a Dona Cacilda foi
coordenadora.
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© Dona Cacilda… | década de 1970
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Timoneira A Arquíloco, de Paros (séc. VII aC)
Timoneira de um veleiro no
alto mar sem
bússola sem velas sem
sextante sem
leme
E a Estrela do Norte oculta para lá
das nuvens
pressente-se
mas não se vê
Timoneira
lança-te ao mar
Empurra tu o
teu veleiro
momento POÉTICO
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Com a intuição que
não falha
a quem abre o
coração
Quando finalmente salva dos sargaços traiçoeiros
...mas encalhada nos recifes de coral
não chores – não desesperes
Que a viagem de tão breve
nem dá para recordar
E a Paz apela do lado de lá das cinzas das nuvens
© Myriam Jubilot de Carvalho
Agosto de 1993 | Portugal
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Nómada
Montei meus haveres sobre o dorso do meu camelo,
Embrulhei-os em macios tapetes de Tabriz e Kashan,
de seda e de lã.
Atei tudo muito bem atado
e fiz-me ao largo
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Desci a montanha. Transpus o vale.
Cruzei, caudaloso, o tormentoso rio
na curva apertada de bambus e calhaus
onde vi que podia passá-lo a vau –
E novamente subi a montanha.
Vencendo o cansaço, iludindo o sono,
levando o gado às pastagens de outono
Da lã macia e grosseira dos meus carneiros
podia enfim erigir minha tenda.
Da minha algibeira tirei a flauta, fiel companheira –
A plenos pulmões soltei, lancei ao ar puro
e às areias e lacraus do turvo deserto
a eterna canção dos mitos e das lendas
Quando, finalmente, desfiz os embrulhos,
viram com espanto meus olhos maduros
que as minhas dores já não estavam lá
© Myriam Jubilot de Carvalho
Almada 3 de Março de 2005 | Portugal
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psicoterapia ao alcance de todos | saúde mental | link
Fanisse Craveirinha | psicóloga
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©Adelto Gonçalves | Letras
©Adelto Gonçalves | resenha
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instantâneo | texto e imagens | ©Silvya Gallanni.
5 de janeiro de 2013.
P
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instantâneo | texto e imagens | ©Silvya Gallanni.
5 de janeiro de 2013.
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VuJonga – edição literária de autora 2016 / 2020 e-Livro | Silvya Gallanni: Fragrâncias Poéticas | HAiKAiS |Poetic Fragrances |
https://rl.art.br/arquivos/6851021.pdf
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VuJonga - Cadernos Literários | Domingo – 08/03/20, Edição nº 15 – Pág. 43/44
H C B B
8 3 2 0 2 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9
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J K L M N O P Q R
S T U V W X Y Z
DECODIFICAÇÃO |
15 noves fora 6
O MENSAGEIRO NÃO É A MENSAGEM
https://www.jewishvirtuallibrary.org/the
-hebrew-alphabet-aleph-bet
Alfabeto Hebraico
Sistema funcional de Pitágoras
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Dona Cacilda da Conceição [Gastronomia]; Poetisa Myriam Jubilot d’ Carvalho;
Dra. Mª de Fátima Oliveira Domingues [Licenciatura Filologia Românica]
Dra. Fanisse Craveirinha [Mestrado Psicologia Clínica];
Cronista Silvya Gallanni; Professor Doutor Adelto Gonçalves [pós-Doutor];
Pintor Mphumo Kraveirinya [Artwork & Layout].