Maias Corridas No Hipódromo

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As corridas de cavalos são uma sátira ao esforço de cosmopolitismo que se espelha no desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e era considerado sinal de progresso, e ao provincianismo do acontecimento. O domingo das corridas é descrito como sendo um dia quente, azul escuro , destacando-se a poeira baça do ar, que sufocava o ambiente. As cores salientadas neste episódio são o dourado do sol, o vermelho das papoilas, o verde da relva e o azul das bandeirolas, que acabam por alegrar um pouco o acontecimento, marcado pelo desinteresse e monotonia. Fisicamente o espaço é degradado: o recinto parece uma quintarola, as traves são mal pregadas e as bancadas são improvisadas, a da esquerda por pintar e a da direita besuntada de azul claro com palanques de arraial. O bufete fica debaixo da tribuna “sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor”, onde os empregados sujos e desorientados achatavam à pressa sanduíches com as mãos húmidas de cerveja. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas também ligeiro como compete a um acontecimento desportivo é deturpado, traduzindo a falta de gosto e o ridículo da situação que se quer elegante sem o ser. Critica-se ainda a falta de à-vontade das senhoras da tribuna que não falavam umas com as outras e que para não desobedecerem às regras de etiqueta – como fez D. Maria da Cunha ao abandonar a tribuna – permaneciam no seu posto, mas constrangidas. Os homens surgem desmotivados “numa pasmaceira tristonha”. A assistência não revela qualquer entusiasmo pelo acontecimento e comparece somente por desejar aparecer no “High Life” dos jornais e ara mostrar a extravagância do vestuário. As corridas terminam de forma algo grotesca e caricatural, pondo a nu a contradição entre o ser e o parecer: a imitação servil do que se fazia lá fora, em Inglaterra e em França, acaba numa cena de pancadaria que faz estalar o verniz postiço de civilização. No meio desta mediocridade, destacam-se Carlos e Craft pelo seu à-vontade e pela sua familiaridade com este tipo de acontecimentos sociais. Dâmaso, ávido de copiar Carlos, destaca-se também pela negativa, “pelo seu podre de chique” bem representado na indumentária escolhida: sobrecasaca branca e véu azul no chapéu.

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Resumo Corridas no Hipódromo

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As corridas de cavalos so uma stira ao esforo de cosmopolitismo que se espelha no desejo de imitar o que se faz no estrangeiro e era considerado sinal de progresso, e ao provincianismo do acontecimento.O domingo das corridas descrito como sendo um dia quente, azul escuro, destacando-se a poeira baa do ar, que sufocava o ambiente. As cores salientadas neste episdio so o dourado do sol, o vermelho das papoilas, o verde da relva e o azul das bandeirolas, que acabam por alegrar um pouco o acontecimento, marcado pelo desinteresse e monotonia. Fisicamente o espao degradado: o recinto parece uma quintarola, as traves so mal pregadas e as bancadas so improvisadas, a da esquerda por pintar e a da direita besuntada de azul claro com palanques de arraial. O bufete fica debaixo da tribuna sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor, onde os empregados sujos e desorientados achatavam pressa sanduches com as mos hmidas de cerveja. Assim, o ambiente que deveria ser requintado, mas tambm ligeiro como compete a um acontecimento desportivo deturpado, traduzindo a falta de gosto e o ridculo da situao que se quer elegante sem o ser. Critica-se ainda a falta de -vontade das senhoras da tribuna que no falavam umas com as outras e que para no desobedecerem s regras de etiqueta como fez D. Maria da Cunha ao abandonar a tribuna permaneciam no seu posto, mas constrangidas. Os homens surgem desmotivados numa pasmaceira tristonha. A assistncia no revela qualquer entusiasmo pelo acontecimento e comparece somente por desejar aparecer no High Life dos jornais e ara mostrar a extravagncia do vesturio.As corridas terminam de forma algo grotesca e caricatural, pondo a nu a contradio entre o ser e o parecer: a imitao servil do que se fazia l fora, em Inglaterra e em Frana, acaba numa cena de pancadaria que faz estalar o verniz postio de civilizao.

No meio desta mediocridade, destacam-se Carlos e Craft pelo seu -vontade e pela sua familiaridade com este tipo de acontecimentos sociais. Dmaso, vido de copiar Carlos, destaca-se tambm pela negativa, pelo seu podre de chique bem representado na indumentria escolhida: sobrecasaca branca e vu azul no chapu.