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Departamento
de Engenharia Civil
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aannáálliissee ddee ccaassooss pprrááttiiccooss Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em
Engenharia Civil – Especialização em Construção Urbana
Autor
Daniela Dias Rodrigues
Orientadores
Prof. Doutor Silvino Dias Capitão
Profª. Doutora Simona Fontul
Instituto Superior de Engenharia de Coimbra
Coimbra, Setembro, 2012
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: AGRADECIMENTOS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues i
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação não representa apenas o resultado de extensas horas de estudo, reflexão
e trabalho durante as diversas etapas que a constituem. É igualmente o culminar de mais
um objetivo académico que me propus realizar e que não seria possível sem a ajuda de
um número considerável de pessoas. Um grande bem-haja à minha família, amigos e a
todos aqueles que de algum modo me apoiaram ou se privaram da minha companhia
nesta etapa da minha formação e que demonstraram acreditar na oportunidade e na total
realização desta dissertação, apoiando-me e incentivando-me em todos os momentos e
situações. Em particular, agradeço:
Ao Professor Doutor Silvino Dias Capitão, Professor Coordenador do Departamento de
Engenharia Civil do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, orientador do
trabalho que se apresenta, gostaria de agradecer pela sugestão do tema, pela
disponibilização de todos os meios necessários para a sua realização, por todos os
ensinamentos, pela confiança em mim depositada, pelo apoio na superação dos diversos
obstáculos, por toda a dedicação, incentivo e pela sua amizade.
À Professora Doutora Simona Fontul, Investigadora Auxiliar do LNEC e Professora
Auxiliar Convidada do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, co-orientadora da dissertação, pelo tempo
que disponibilizou, pelos conhecimentos que partilhou, pela dedicação e pela sua
imensa boa disposição.
À Metro do Porto S.A. e à REFER, E.P. pelo apoio institucional e pessoal, pela
dedicação, interesse e disponibilidade que demonstraram e ainda pela documentação
fornecida que possibilitou o desenvolvimento dos trabalhos.
Aos Engenheiros Jorge Quelhas, Jorge Delgado e Luís Neto da Metro do Porto S.A.
pela disponibilidade com que me receberam e conhecimentos transmitidos.
Ao Engenheiro Nuno Teixeira da Metro do Porto S.A. pela visita à rede de metro, pelos
conhecimentos transmitidos, pelo esclarecimento de todas as dúvidas, pela atenção e
tempo dispensados e pela simpatia.
Às Engenheiras Carla Farinha e Sílvia Sequeira da REFER, E.P., pelo tempo
dispensado, conhecimentos e os demais recursos empregues.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: AGRADECIMENTOS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues ii
Aos Engenheiros João Vieira e Marco Baldeiras da REFER, E.P. e restantes pessoas
que proporcionaram a visita ao Entroncamento com o objetivo de apresentar os
equipamentos de inspeção de via.
Ao Engenheiro Jorge Seixas da REFER, E.P. pelo acompanhamento às ações de
manutenção, pelos conhecimentos transmitidos, pelo esclarecimento de todas as
dúvidas, pela atenção, paciência e simpatia.
Ao meu tio, João Sá Marta pelo esclarecimento de dúvidas, pela sua ajuda, pelas
preciosas dicas e amizade.
Ao meu pai, ferroviário de profissão, um saudoso bem-haja pelos conhecimentos,
sobretudo ferroviários, que comigo partilhou. Sem a sua colaboração, dedicação e
amizade, decorridas num tempo bastante anterior à ideia inicial de realização desta
dissertação, a probabilidade de a desenvolver seria bem mais reduzida.
À minha mãe e à minha irmã pelo apoio dado a todos os níveis mas especialmente pela
enorme paciência, pelo ânimo e os sábios conselhos que me transmitiram ao longo da
realização da dissertação, tanto nos maus como nos bons momentos, foram
imprescindíveis.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: RESUMO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues iii
RESUMO
O caminho-de-ferro, tal qual o conhecemos hoje em dia, é o resultado de uma notável
evolução da história no âmbito da engenharia civil. O desenvolvimento económico-
social impulsionou o aumento do nível de qualidade e a densidade das redes de
transporte, sendo que a necessidade das entidades gestoras de oferecerem melhores
serviços de mobilidade de pessoas e mercadorias é cada vez maior. Dadas as exigências
dos utilizadores, cabe às entidades gestoras a tarefa de administrar da melhor forma
possível os seus recursos, de forma a tornar as redes de via-férrea eficientes, modernas e
atrativas para novos utilizadores.
Esta dissertação tem como objetivos caracterizar as ações de manutenção e conservação
geralmente efetuadas na via-férrea, bem como reunir informação sobre o modo de
atuação das entidades gestoras. A realização deste estudo permitiu fazer uma revisão de
conhecimentos relativos à gestão da conservação da via-férrea, designadamente no que
se refere à política de manutenção, classificação das atividades, e tipos de manutenção,
e metodologias de conservação da via. Qualquer intervenção requer que
antecipadamente sejam realizadas inspeções na via-férrea, verificando-se através de
equipamentos específicos a conformidade dos parâmetros da via com as normas. Assim,
quando as inspeções o ditam, as entidades gestoras devem programar e realizar as ações
de manutenção necessárias de modo a restabelecer a qualidade da via.
Neste trabalho foram estudados dois casos que ilustram o modo de atuação de duas
empresas portuguesas, a REFER E.P. e a Metro do Porto S.A. Estas empresas
permitiram o acompanhamento de diversos trabalhos de manutenção, bem como o
contacto com a temática da inspeção de via, tanto ao nível dos equipamentos utilizados
para esse fim, como no que se refere aos dados que permitem recolher.
Com aquelas análises foi possível aprofundar os conhecimentos sobre o que na
atualidade se faz na indústria ferroviária e sobre o que pode ser melhorado, contribuindo
para uma mais eficiente gestão da conservação quando se opta por uma manutenção
mais preventiva do que corretiva.
O objetivo fulcral das políticas e ações de conservação prende-se sempre com a
necessidade de assegurar uma infraestrutura ferroviária com um elevado nível de
qualidade de serviço associado a uma melhor gestão dos recursos disponíveis, o que se
refletirá no crescimento da procura deste meio de transporte.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ABSTRACT
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues iv
ABSTRACT
The railway, as we know it today, is the result of a remarkable evolution in the history
of civil engineering. Economic and social development increased the level of quality
and the density of transport networks. Consequently, the management companies have
to provide better services for the ever-increasing mobility of people and goods. Given
the demands of users, the railway administrations are faced with the task of managing
the resources, in the best way possible, in order to make the railway networks efficient,
modern and appealing to users.
This dissertation aims to describe the inspection, maintenance and rehabilitation of
railway system and to study the procedure in which management operates. During this
study it was possible to obtain updated knowledge about the management of in-service
railway infrastructure, namely the maintenance policy, classification of maintenance
operations, the methodologies for maintenance of the track and the types of
maintenance. Any maintenance activity requires previous inspections to be carried out
on the track. These are made using special equipment, in order to determine whether the
track complies with the regulations or not. So, based on the inspection results, the
managers have to schedule and perform maintenance actions, in order to restore the
required track quality.
In this study, two Portuguese companies were contacted, namely REFER E.P. and
Metro do Porto S.A., for a better understanding of how maintenance policy is performed
in two different railway networks levels, national and urban. These companies gave a
significant contribution to the understanding of the practical and realistic aspects of the
maintenance processes addressed in this dissertation by allowing the monitoring of
various maintenance works and by providing information on track inspections matters.
This latter addressed both the equipment presentation and the access to data provided by
inspection devices.
This analysis attempts to deepen the understanding of what is going on today in the
railway industry and, hopefully, to contribute towards more efficient maintenance
management, highlighting the need for more preventive rather than corrective
maintenance.
The key objective is always to ensure a high level of quality service of the railway
system and the best possible management of resources, which will result in the growth
of demand for railway and tram transport.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues v
ÍNDICE
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1. Enquadramento ...................................................................................................................................... 1
1.2. Objetivos e Metodologia ....................................................................................................................... 2
1.3. Organização do Trabalho ...................................................................................................................... 2
CAPÍTULO 2 - SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-
FÉRREA
2.1. Considerações Iniciais ........................................................................................................................... 4
2.2. Evolução da Manutenção ...................................................................................................................... 6
2.3. Política de Manutenção ......................................................................................................................... 7
2.4. Manutenção da Via-Férrea .................................................................................................................... 9
2.4.1. Classificação das Atividades de Manutenção .......................................................................... 9
2.4.2. Metodologias de Conservação ................................................................................................. 9
2.4.3. Tipos de Manutenção ............................................................................................................ 10
2.5. Considerações Finais ........................................................................................................................... 12
CAPÍTULO 3 – INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
3.1. Considerações Iniciais ......................................................................................................................... 14
3.2. Tipos de Inspeção da Via-Férrea ......................................................................................................... 15
3.3. Parâmetros da Via e seus Defeitos....................................................................................................... 16
3.3.1. Bitola ..................................................................................................................................... 16
3.3.2. Escala/Sobrelevação/Nivelamento Transversal ..................................................................... 18
3.3.3. Nivelamento Longitudinal ..................................................................................................... 18
3.3.4. Alinhamento Longitudinal .................................................................................................... 20
3.3.5. Empeno ................................................................................................................................. 21
3.3.6. Posicionamento dos Carris .................................................................................................... 21
3.3.7. Defeitos dos Carris ................................................................................................................ 22
3.4. Equipamento de Avaliação de Via ...................................................................................................... 28
3.4.1. KRAB (auscultador de geometria de via) ............................................................................... 28
3.4.2. RMF (medição de desgaste ondulatório) ............................................................................... 29
3.4.3. Ultrassom (auscultação ultrassónica de carris) ..................................................................... 31
3.4.4. LaiserRail (medição do perfil transversal do carril) .............................................................. 32
3.4.5. EM 120 – Veículo de Inspeção Geométrica de Via .............................................................. 33
3.5. Considerações Finais ........................................................................................................................... 38
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues vi
CAPÍTULO 4 – AÇÕES DE MANUTENÇÃO
4.1. Considerações Iniciais ......................................................................................................................... 40
4.2. Ações Mecânicas ................................................................................................................................. 40
4.2.1. Depuração do Balastro ou Desguarnecimento de Via ........................................................... 40
4.2.2. Esmerilagem e Fresagem dos Carris ..................................................................................... 41
4.2.3. Ataque de Via ........................................................................................................................ 43
4.2.4. Ripagem ................................................................................................................................ 43
4.2.5. Renovação Integral da Via (RIV) .......................................................................................... 44
4.3. Ações Manuais .................................................................................................................................... 45
4.3.1. Sabotagem da Travessa ......................................................................................................... 45
4.3.2. Recalce da Travessa .............................................................................................................. 45
4.3.3. Substituição da Travessa ....................................................................................................... 45
4.3.4. Colocação de Lubrificante..................................................................................................... 45
4.4. Equipamentos de Manutenção Mecânica ............................................................................................ 50
4.4.1. Desguarnecedora/Depuradora de Balastro ............................................................................ 50
4.4.2. Esmeriladora de Carris ou Reperfiladora .............................................................................. 51
4.4.3. Atacadeira ............................................................................................................................. 52
4.4.4. Regularizadora ...................................................................................................................... 52
4.4.5. Estabilizador Dinâmico da Via .............................................................................................. 53
4.4.6. “Stoneblower” ....................................................................................................................... 53
4.4.7. Máquina de Soldadura Elétrica de Carris .............................................................................. 54
4.5. Equipamentos de Manutenção Manual ................................................................................................ 55
4.5.1. Martelo Compactador ............................................................................................................ 55
4.5.2. Terifonadora Hidráulica ........................................................................................................ 55
4.5.3. Esmeriladora de Carril .......................................................................................................... 55
4.5. Considerações Finais ........................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 5 – CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
5.1. Considerações Iniciais ......................................................................................................................... 58
5.2. Entidade Gestora ................................................................................................................................. 59
5.3. Tipos de Ações de Manutenção ........................................................................................................... 60
5.3.1. Manutenção Preventiva Sistemática ...................................................................................... 60
5.3.2. Manutenção Preventiva Condicionada .................................................................................. 61
5.3.3. Manutenção Corretiva ........................................................................................................... 62
5.4. Ações de Conservação ......................................................................................................................... 62
5.4.1. Revisão Periódica .................................................................................................................. 62
5.4.2. Intervenção Pontual ............................................................................................................... 63
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues vii
5.4.3. Renovação ............................................................................................................................. 64
5.5. Equipamento de Inspeção de Via ........................................................................................................ 64
5.6. Levantamento Geométrico e Análise dos Parâmetros de Via .............................................................. 64
5.7. Trabalhos Acompanhados ................................................................................................................... 76
5.7.1. Caso Prático 1 ....................................................................................................................... 76
5.7.2. Caso Prático 2 ....................................................................................................................... 79
5.8. Considerações Finais ........................................................................................................................... 82
CAPÍTULO 6 – CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
6.1. Considerações Iniciais ......................................................................................................................... 86
6.2. Apresentação da Rede e do Material Circulante .................................................................................. 86
6.3. Constituição da Via ............................................................................................................................. 88
6.4. Tipos de Ações de Manutenção ........................................................................................................... 91
6.4.1. Manutenção Preventiva ......................................................................................................... 91
6.4.2. Manutenção Corretiva ........................................................................................................... 94
6.5. Tolerâncias dos Parâmetros Geométricos da Via ................................................................................ 95
6.6. Equipamentos de Inspeção de Via ....................................................................................................... 96
6.7. Levantamento Geométrico dos Parâmetros Geométricos da Via e Desgaste Ondulatório .................. 97
6.8. Análise do Levantamento Geométrico .............................................................................................. 100
6.9. Considerações Finais ......................................................................................................................... 101
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES ............................................................................................... 104
7.1. Síntese do Trabalho e Considerações Gerais ..................................................................................... 104
7.2. Prosseguimento de Trabalhos Futuros ............................................................................................... 106
7.3. Considerações Finais ......................................................................................................................... 107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 108
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE DE FIGURAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues viii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.1. Rede Ferroviária Nacional em Exploração ................................................................................ 8
Figura 3.1. Ilustração esquemática da bitola ............................................................................................. 16
Figura 3.2. Alargamento da bitola .............................................................................................................. 17
Figura 3.3. Estreitamento da bitola ............................................................................................................. 17
Figura 3.4. Ilustração esquemática da sobrelevação ou escala ................................................................... 18
Figura 3.5. Desnivelamento transversal ..................................................................................................... 18
Figura 3.6. Ilustração esquemática do defeito de nivelamento longitudinal ............................................... 19
Figura 3.7. Linha desnivelada longitudinalmente ....................................................................................... 19
Figura 3.8. Esquema do encaminhamento dos rodados através da via-férrea ............................................ 20
Figura 3.9. Desalinhamento da via-férrea................................................................................................... 20
Figura 3.10. Ilustração esquemática do empeno ......................................................................................... 21
Figura 3.11. Mancha interior oval e fratura ................................................................................................ 23
Figura 3.12. Mancha interior oval .............................................................................................................. 23
Figura 3.13. Fenda transversa progressiva em estágio final ....................................................................... 23
Figura 3.14. Carril colocado fora de serviço com fenda transversa progressiva ........................................ 23
Figura 3.15. Fenda horizontal ..................................................................................................................... 24
Figura 3.16. Carril com desgaste de onda curta num carril de gola ............................................................ 24
Figura 3.17. Carril com desgaste de onda curta .......................................................................................... 24
Figura 3.18. Carril com desgaste de onda longa ......................................................................................... 25
Figura 3.19. Registo de desgaste ondulatório ............................................................................................. 25
Figura 3.20. Fenda longitudinal vertical ..................................................................................................... 26
Figura 3.21. Desgaste num dos lados da cabeça do carril .......................................................................... 27
Figura 3.22. Desintegração da superfície de rolamento .............................................................................. 27
Figura 3.23. Descascamento da superfície de rolamento do carril ............................................................. 27
Figura 3.24. Descascamento lateral da cabeça do carril: vista superior ..................................................... 28
Figura 3.25. Descascamento lateral da cabeça do carril: vista em perfil .................................................... 28
Figura 3.26. KRAB Light (auscultador de geometria de via da REFER) ................................................... 28
Figura 3.27. Computador de bordo do KRAB da REFER para armazenamento dos dados ........................ 29
Figura 3.28. Ecrã do computador do KRAB antes do início da medição .................................................... 29
Figura 3.29. RMF 2.3E (aparelho de medição do desgaste ondulatório da REFER) .................................. 29
Figura 3.30. Princípio de funcionamento do RMF ..................................................................................... 30
Figura 3.31. Ecrã do computador do RMF antes do início da medição ...................................................... 30
Figura 3.32. Gráfico do desgaste ondulatório gerado pelo RMF ................................................................ 30
Figura 3.33. Computador de bordo do KrautKramer USM25 .................................................................... 31
Figura 3.34. KrautKramer USM25 em serviço .......................................................................................... 31
Figura 3.35. Veículo de inspeção de via através de ultrassons ................................................................... 31
Figura 3.36. LaiserRail ............................................................................................................................... 32
Figura 3.37. Sobreposição do perfil do carril medido (linha vermelha) e novo (linha azul) ..................... 32
Figura 3.38. EM 120 – Veículo de inspeção geométrica de via da REFER ............................................... 33
Figura 3.39. Localização do equipamento de análise da geometria da via ................................................. 33
Figura 3.40. Cabine de condução .............................................................................................................. 34
Figura 3.41. Computadores de armazenamento e tratamento de dados ...................................................... 34
Figura 3.42. Gráfico dos parâmetros geométricos ...................................................................................... 34
Figura 3.43. Relatório dos defeitos da via .................................................................................................. 35
Figura 3.44. Relatório sumário ................................................................................................................... 35
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE DE FIGURAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues ix
Figura 3.45. Imagem do perfil transversal do carril ................................................................................... 36
Figura 3.46. Sistema laser de medição do perfil transversal da via ............................................................ 37
Figura 3.47. Gráfico do perfil transversal da via ........................................................................................ 37
Figura 3.48. Identificação de um ponto crítico com marca de cor deixada pelo veículo de inspeção ....... 37
Figura 4.1. Contaminação do balastro com partículas finas ...................................................................... 41
Figura 4.2. Esmerilagem............................................................................................................................. 42
Figura 4.3. Carril depois de esmerilado ...................................................................................................... 42
Figura 4.4. Carril reperfilado pelo método de fresagem ............................................................................. 43
Figura 4.5. Via-férrea que sofreu deslocamento transversal....................................................................... 44
Figura 4.6. Renovação integral de via-férrea .............................................................................................. 44
Figura 4.7. Tombo da via ........................................................................................................................... 45
Figura 4.8. Esquema do tombo da via ........................................................................................................ 45
Figura 4.9. Massa lubrificante .................................................................................................................... 47
Figura 4.10. Lubrificador de carril ............................................................................................................. 47
Figura 4.11. Colocação do lubrificador fixo de via .................................................................................... 48
Figura 4.12. Esquema do lubrificador fixo de via ...................................................................................... 48
Figura 4.13. Lubrificadores de verdugos .................................................................................................... 49
Figura 4.14. Aplicação do lubrificante na roda .......................................................................................... 49
Figura 4.15. Desguarnecedora .................................................................................................................... 50
Figura 4.16. Esquema de funcionamento da desguarnecedora-depuradora ................................................ 50
Figura 4.17. Esmeriladora de carris ............................................................................................................ 51
Figura 4.18. Esmeriladora em funcionamento ............................................................................................ 51
Figura 4.19. Atacadeira .............................................................................................................................. 52
Figura 4.20. Regularizadora ....................................................................................................................... 53
Figura 4.21. Estabilizador Dinâmico da Via .............................................................................................. 53
Figura 4.22. Stoneblower ............................................................................................................................ 54
Figura 4.23. Camião rodo-ferroviário de soldadura ................................................................................... 54
Figura 4.24. Martelo compactador ............................................................................................................. 55
Figura 4.25. Tirefonadora hidráulica .......................................................................................................... 55
Figura 4.26. Esmeriladora manual de carril................................................................................................ 56
Figura 5.1. Evolução da bitola nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 ........................................... 65
Figura 5.2. Evolução da bitola nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 no intervalo [4310;
4330] m com medições de 25 em 25 cm ................................................................................. 65
Figura 5.3. Evolução do empeno nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 ......................................... 65
Figura 5.4. Evolução da escala nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 no intervalo [1030;
1050] m com medições de 25 em 25 cm ................................................................................. 66
Figura 5.5. Evolução do nivelamento transversal esquerdo nas campanhas realizadas entre 2008 e
2011 ....................................................................................................................................... 66
Figura 5.6. Evolução do DP do nivelamento longitudinal esquerdo nas campanhas realizadas entre
2008 e 2011 ............................................................................................................................ 66
Figura 5.7. Evolução do DP do nivelamento longitudinal direito nas campanhas realizadas entre
2008 e 2011 ............................................................................................................................ 67
Figura 5.8. Evolução do DP do alinhamento longitudinal esquerdo nas campanhas realizadas entre
2008 e 2011 ............................................................................................................................ 67
Figura 5.9. Evolução do DP do alinhamento longitudinal direito nas campanhas realizadas entre
2008 e 2011 ............................................................................................................................ 67
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE DE FIGURAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues x
Figura 5.10. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2008 e tolerâncias da classe V ......................... 69
Figura 5.11. Representação da bitola na 2ª Campanha de 2008 e tolerâncias da classe V ......................... 69
Figura 5.12. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2009 e tolerâncias da classe VI ........................ 69
Figura 5.13. Representação da bitola na 2ª Campanha de 2009 e tolerâncias da classe VI ........................ 70
Figura 5.14. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2010 e tolerâncias da classe VI ........................ 70
Figura 3.15. Representação do empeno e tolerâncias da classe VI/V......................................................... 71
Figura 5.16. Balastreiro .............................................................................................................................. 76
Figura 5.17. Descarga de balastro .............................................................................................................. 76
Figura 5.18. Esquema da descarga de balastro ........................................................................................... 77
Figura 5.19. Via depois da descarga de balastro ........................................................................................ 77
Figura 5.20. Atacadeira em funcionamento ................................................................................................ 77
Figura 5.21. Cabine da atacadeira .............................................................................................................. 78
Figura 5.22. Balastro depois da ação da atacadeira .................................................................................... 78
Figura 5.23. Regularizadora em funcionamento ......................................................................................... 78
Figura 5.24. Sistema de limpeza da regularizadora .................................................................................... 78
Figura 5.25. Via-férrea depois da ação da regularizadora .......................................................................... 79
Figura 5.26. Sistema de estabilização do Veículo Estabilizador Dinâmico ................................................ 79
Figura 5.27. Local da intervenção aquando da inspeção ............................................................................ 80
Figura 5.28. Local da intervenção no dia da obra (balastro contaminado com finos) ................................ 80
Figura 5.29. Remoção do balastro com a giratória ..................................................................................... 81
Figura 5.30. Dresina para transporte do balastro e detritos ........................................................................ 81
Figura 5.31. Aperto de fixações com terifonadora ..................................................................................... 82
Figura 5.32. Colocação do geotêxtil e do balastro novo ............................................................................. 82
Figura 5.33. Ataque manual do balastro com martelo compactador .......................................................... 82
Figura 6.1. Mapa da Rede de Metro do Porto ............................................................................................ 87
Figura 6.2. Eurotram .................................................................................................................................. 88
Figura 6.3. Flexity Swift ............................................................................................................................. 88
Figura 6.4. Transição do carril U50 para o carril de gola na Estação de Mandim ...................................... 88
Figura 6.5. Perfil transversal tipo da via em placa com acabamento em relva ........................................... 89
Figura 6.6. Plataforma relvada e empedrada na Estação de Rio Tinto ....................................................... 90
Figura 6.7. Plataforma empedrada e betonada no lado Sul da Ponte D. Luís I........................................... 90
Figura 6.8. Fixação Nabla na Estação da Trindade .................................................................................... 90
Figura 6.9. Esquema da fixação Nabla ....................................................................................................... 90
Figura 6.10. Fixação Vossloh na Estação de Mandim ................................................................................ 90
Figura 6.11. Esquema da fixação Vossloh .................................................................................................. 90
Figura 6.12. Sistema de lubrificação instalado num carril de gola ............................................................. 91
Figura 6.13. União de carris através de soldaduras .................................................................................... 96
Figura 6.14. Levantamento dos parâmetros geométricos: bitola ................................................................ 97
Figura 6.15. Levantamento dos parâmetros geométricos: escala ............................................................... 97
Figura 6.16. Levantamento dos parâmetros geométricos: empeno ............................................................. 97
Figura 6.17. Levantamento dos parâmetros geométricos: alinhamento da fila direita ............................... 98
Figura 6.18. Levantamento dos parâmetros geométricos: alinhamento da fila esquerda ........................... 98
Figura 6.19. Levantamento dos parâmetros geométricos: nivelamento da fila esquerda ........................... 98
Figura 6.20. Levantamento dos parâmetros geométricos: nivelamento da fila direita ............................... 98
Figura 6.21. Levantamento do desgaste ondulatório do carril esquerdo 1 no comprimento de onda
30 a 100 mm ........................................................................................................................... 99
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE DE FIGURAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xi
Figura 6.22. Levantamento do desgaste ondulatório do carril esquerdo 2 no comprimento de onda
30 a 100 mm ........................................................................................................................... 99
Figura 6.23. Levantamento do desgaste ondulatório do carril direito 1 no comprimento de onda 10
a 30 mm .................................................................................................................................. 99
Figura 6.24. Levantamento do desgaste ondulatório no carril direito 2 no comprimento de onda 30
a 100 mm ................................................................................................................................ 99
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ÍNDICE DE TABELAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1. Assuntos abordados na manutenção e conservação de vias-férreas .......................................... 5
Tabela 3.1. Comprimentos de onda para desgaste ondulatório de onda curta e onda longa em via
balastrada e betonada .............................................................................................................. 25
Tabela 5.1. Unidades Operacionais e seus Centros de Manutenção ........................................................... 60
Tabela 5.2. Níveis de qualidade geométrica do DP para nivelamento e alinhamento longitudinais .......... 72
Tabela 5.3. Dados DP do nivelamento e alinhamento longitudinais da 2ª Campanha de 2009 .................. 73
Tabela 5.4. Análise dos dados DP para determinar o QN e o nível necessidade de AMP ......................... 75
Tabela 6.1. Inspeções e medições a realizar na via (Superestrutura) .......................................................... 92
Tabela 6.2. Inspeções e medições a realizar no carril U50 ......................................................................... 92
Tabela 6.3. Inspeções, medições e limpezas a realizar no carril de gola .................................................... 93
Tabela 6.4. Inspeções e medições a realizar nas fixações........................................................................... 93
Tabela 6.5. Inspeções a realizar nas travessas ............................................................................................ 93
Tabela 6.6. Inspeções e limpezas a realizar nos sistemas de drenagem ...................................................... 93
Tabela 6.7. Inspeções e limpezas a realizar na plataforma empedrada, betonada e balastrada .................. 94
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: ABREVIATURAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xiii
ABREVIATURAS
AMP – Ataque mecânico pesado
AMV – Aparelho de mudança de via
BLS – Barra longa soldada
CP – Comboios de Portugal, E.P.
DP – Desvio padrão
GPR (Ground Penetrating Radar) – Radar de prospeção
GPS (Global Position System) – Sistema de posicionamento global
IMU (Inertial Measuring Unit) – Unidade de medição inercial
OGMS (Optical Gage Measuring System) – Sistema de medição ótico/ laser
Pk – Ponto quilométrico
PN – Passagem de nível
QN – Nível de qualidade
REFER – Rede Ferroviária Nacional, E.P.
RIV – Renovação integral de via
TQI – Índice de qualidade da via
V – Velocidade máxima no troço
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: GLOSSÁRIO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xiv
GLOSSÁRIO
Agulha – Aparelho de via constituído pelos carris, lanças e outras peças mecânicas,
destinado a assegurar a ligação tangencial de duas vias, permitindo a circulação dos
comboios quer numa quer noutra via (REFER, 2012).
Aparelho de dilatação – Aparelho destinado a absorver as dilatações do carril quando,
por qualquer motivo, é necessário interromper a BLS (REFER, 2012).
Armamento de via – Conjunto definido pelos carris, travessas e fixações (REFER,
2012).
Bogie – Estrutura mecânica constituída por dois ou três eixos e por um sistema de
amortecimento que liga a caixa ao carril (REFER, 2012).
Carril – Componente da superestrutura da via, que recebe as cargas do material
circulante, guiando-o ao longo da linha férrea. É um perfil de aço laminado, em que
podemos distinguir três partes principais: a cabeça, cuja face superior constitui a mesa
de rolamento; a alma, parte vertical ligando a cabeça à patilha; a patilha, base inferior
que assenta sobre as travessas, alargada e oferecendo resistência à alteração da
inclinação transversal dos carris (REFER, 2012).
Catenária – Linha aérea formada por um ou mais fios de contacto colocados
superiormente ao eixo da via que têm a função de transporte de energia elétrica
(REFER, 2012).
Chapim – Elemento da fixação elástica da via, colocado aos pares por cada travessa de
madeira, sob o carril. É uma chapa de aço com formato, furações e entalhes apropriados
para apoio e fixação da patilha do carril (REFER, 2012).
Composição – Unidade ferroviária constituída por um número fixo de viaturas
intermédias e por uma ou duas motoras, idênticas nas extremidades. Uma composição
pode ser composta por uma ou várias unidades, se a acoplagem for compatível (REFER,
2011).
Desquadramento das juntas – Existe desquadramento das juntas dos carris, numa
mesma secção transversal da via, quando as juntas dos dois carris estão desencontradas
(REFER, 2012).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: GLOSSÁRIO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xv
Desquadramento das travessas – Diz-se que algumas travessas estão desquadradas
quando não existe paralelismo entre elas (REFER, 2012).
Dresina – Veículo ferroviário ligeiro, com tração própria, para transporte de pessoal
operacional, ferramentas e materiais. Poderá ainda rebocar vagões (REFER, 2012).
Eficiência do serviço ferroviário – Capacidade do serviço decorrer com o mínimo de
erros, evitando interrupções na circulação das composições, garantindo as exigências e
as expectativas dos passageiros, num sistema com bom desempenho a baixo custo.
Entrevia – Espaço compreendido entre duas vias paralelas adjacentes. Mede-se entre as
linhas verticais que passam pelos bordos interiores das cabeças dos carris das filas mais
próximas de cada uma das vias (REFER, 2012).
Escala – Diferença máxima na altura entre o carril exterior e interior, medida ao centro
da cabeça do carril (REFER, 2012).
Fila – Designação dada ao carril; numa reta será fila esquerda ou direita consoante o
sentido da marcha; em curva será fila interior ou baixa e fila exterior ou alta (REFER,
2012).
Fixação elástica – Sistema de fixação dos carris às travessas através de chapins
metálicos, garras e palmilhas de borracha canelada interpostas entre o carril e o chapim
(REFER, 2012).
Frenagem – Travagem (REFER, 2012).
Gabari ou Gabarito – Secção transversal ao eixo da via, que define o máximo espaço da
ocupação possível dos veículos quando circulam na via. Este espaço é maior do que o
que resulta das dimensões dos veículos pois considera as posições de inscrição na via
(REFER, 2012).
GPR (Ground Penetrating Radar) – Método geofísico eletromagnético de aquisição e
registo de dados do subsolo próximo da superfície. É utilizado para detetar vazios e
fazer o mapeamento da estratificação do subsolo (Delgado, 2008).
Infraestrutura – Conjunto definido pelas camadas localizadas sob o balastro/laje de
betão, aterros e taludes de escavação, sistemas de drenagem superficial e profunda e
onde se incluem as obras de arte destinadas a suportar a via (REFER, 2012).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: GLOSSÁRIO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xvi
Junta isolante – Placa isoladora com perfil idêntico ao do carril que se introduz na
abertura da junta entre dois topos de carris adjacentes para assegurar o seu isolamento e
assim garantir a independência das secções de via utilizadas pelos circuitos de via
(REFER, 2012).
Lança – Peça metálica, móvel, de perfil especial, existente em número par numa agulha
e que, movimentada para a esquerda e para a direita por intermédio de um aparelho de
manobra, encosta alternadamente à peça fixa respetiva, obrigando o material circulante
a seguir na direção desejada (REFER, 2012).
Movimento de galope – Movimento de rotação em torno de um eixo transversal
(REFER, 2012).
Movimento de lacete – Movimento de rotação da caixa de um veículo ferroviário ou de
um bogie em torno do seu eixo vertical (REFER, 2012).
Patinagem – Progressão longitudinal, sem rotação, de um ou mais rodados de uma
composição ferroviária (REFER, 2012)
Patinhagem – Rotação, sem progressão longitudinal, de um ou mais rodados de uma
composição ferroviária (REFER, 2012)
Peças móveis – Ver “Lança”.
Pregação – Aperto do carril à travessa. É um sinónimo de fixação (REFER, 2012).
Rebalastragem – Reguarnecimento do balastro da via (REFER, 2012).
Ripagem – Deslocamento transversal da via, que pode ser provocado por determinados
fenómenos, como por exemplo por um aumento exagerado da temperatura ambiente
(REFER, 2012).
Ripar a via – Deslocar lateralmente a via, geralmente para correção de uma curva
(REFER, 2012).
Superestrutura – Conjunto definido pelo armamento de via e pelo balastro (em via
balastrada) ou conjunto definido pelo armamento de via e pela laje de betão (em via em
placa) (REFER, 2012).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: GLOSSÁRIO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues xvii
Tombo – Designação dada à inclinação transversal do carril, consiste numa ligeira
inclinação do eixo vertical do carril, para o interior da via, a fim de garantir uma perfeita
adaptação da face superior da cabeça do carril ao aro dos rodados dos veículos,
compensando a elasticidade da alma que, sob o efeito das cargas, se deforma (REFER,
2011).
Traçado – Conjunto das características geométricas, em planta e perfil, de uma via-
férrea (REFER, 2012).
Travessa – Elemento situado transversalmente à via que faz a ligação entre o carril e o
balastro (REFER, 2012).
Verdugo – Flange, rebordo da roda que efetua o guiamento do comboio (Martins,
2010).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 1. INTRODUÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 1
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1. Enquadramento
O caminho-de-ferro surgiu com a Revolução Industrial, com o objetivo de dar resposta
às novas exigências de transporte de grandes quantidades a grandes distâncias.
Inicialmente as vias eram utilizadas até à sua inoperacionalidade, sendo posteriormente
necessário substituir os materiais degradados por materiais novos. Como a evolução dos
tempos, os responsáveis pelas infraestruturas notaram que seria mais conveniente
intervir na via antes da sua degradação total. Assim, conseguia manter-se um certo nível
de qualidade, fazendo uma manutenção periódica da via, com custos mais baixos do que
atingindo-se um elevado nível de degradação. Apesar da evolução na construção da via,
das preocupações na determinação do traçado e na rigidez da plataforma é de salientar
que a via se deforma e os seus elementos deterioram-se. Este fenómeno ocorre pois a
partir do momento em que a via é implementada, ficando sujeita a diferentes
solicitações que promovem a sua degradação.
O desempenho económico de uma via-férrea está ligado ao seu nível de rendimento em
relação ao número de interrupções no tráfego da via, onde circulam as composições. Se
uma via está deteriorada provoca uma redução da segurança, redução da
disponibilidade, restrições de utilização, fadiga do material rolante e desgaste na via. As
entidades gestoras das ferrovias utilizam várias técnicas para avaliar e monitorizar o
estado da via de forma a otimizar a utilização da mesma.
Após a construção da estrutura ferroviária é necessário pensar no modelo de gestão e de
manutenção/conservação da via com o objetivo de garantir a fiabilidade e conforto dos
passageiros e a segurança da circulação ferroviária. Para tal, as entidades gestoras
asseguram o cumprimento de exigentes requisitos de qualidade apostando na inovação e
melhoria permanentes.
Portugal iniciou o desenvolvimento do transporte ferroviário em 1844, sendo que a
viagem inaugural do troço entre Lisboa e o Carregado aconteceu em 1856. Os primeiros
investidores eram de caráter privado (CP, 2012). Mais tarde deram origem à CP –
Caminhos-de-Ferro de Portugal. Devido às diretivas europeias, em 1997 foi necessária
uma forte transformação no setor ferroviário. Assim, a CP que até então assumia as
funções de gestão de infraestruturas e operação comercial passou a designar-se por CP -
Comboios de Portugal, E.P, passando a dedicar-se exclusivamente à exploração dos
serviços de passageiros e de mercadorias, surgindo então a REFER – Rede Ferroviária
Nacional, E.P. que assume a gestão das infraestruturas. Contudo, a REFER só assumiu a
totalidade das funções em 1999, ano em que ficou concluído o processo de criação da
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 1. INTRODUÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 2
empresa. Deste modo, a manutenção, o planeamento e a programação de ações de novos
investimentos ou projetos de modernização da rede ferroviária ficam legalmente
assumidas pela REFER.
1.2. Objetivos e Metodologia
O desenvolvimento deste trabalho teve como objetivo caracterizar a manutenção e
conservação da via-férrea bem como conhecer o modo de atuação das entidades
gestoras.
Para cumprir este objetivo procedeu-se a uma recolha bibliográfica para obter um
conhecimento mais aprofundado do que atualmente se faz e quais os meios e
abordagens a utilizar na manutenção e conservação do sistema ferroviário.
Em parceria com a entidade portuguesa gestora da rede nacional, REFER E.P. e com a
Metro do Porto S.A. foi possível observar o seu modo de atuação na rede. Assim,
obteve-se mais informação acerca do que se faz, hoje em dia, no setor ferroviário em
Portugal.
1.3. Organização do Trabalho
O presente trabalho desenvolve-se ao longo de sete capítulos, fazendo-se em seguida
uma descrição sumária do seu conteúdo.
Neste capítulo inicial faz-se o enquadramento da temática abordada, descrevem-se os
objetivos a atingir, a metodologia seguida e ainda se descrevem os conteúdos de cada
capítulo.
No segundo capítulo descrevem-se os sistemas de gestão da conservação da via-férrea,
ou seja, a política de manutenção, como se classificam as atividades efetuadas nesse
âmbito, as metodologias utilizadas e os tipos de manutenção da via.
O terceiro capítulo aborda a inspeção da via-férrea. São mencionados os tipos de
inspeção, os parâmetros geométricos obtidos nas medições e os equipamentos utilizados
para esse efeito.
No capítulo quarto explicitam-se algumas ações de manutenção, mecânicas e manuais,
bem como os equipamentos de manutenção mecânica e manual.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 1. INTRODUÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 3
No quinto capítulo analisa-se o sistema e a metodologia usada em Portugal pela REFER
E.P. São ainda apresentados casos práticos de inspeções de via-férrea e casos reais de
ações de manutenção que foram acompanhados.
No sexto capítulo descreve-se o sistema de manutenção da Metro do Porto S.A,
apresentando-se também casos práticos de inspeções de via-férrea.
No capítulo sétimo apresentam-se as principais conclusões do trabalho realizado,
particularmente sobre os casos práticos de manutenção de vias-férreas estudados e o
prosseguimento de trabalhos futuros.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 4
CAPÍTULO 2 - SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA
VIA-FÉRREA
2.1. Considerações Iniciais
Até há poucos anos, o transporte ferroviário era considerado um sistema decadente pois
apenas se faziam remodelações quando o sistema ficasse inoperacional, o que era uma
atividade extremamente dispendiosa em termos financeiros. Porém, os caminhos-de-
ferro oferecem uma alargada vantagem no transporte maciço de mercadorias a grande
distância, deslocação de pessoas na órbita de grandes aglomerados urbanos e ligações
rápidas interurbanas, oferecendo-se como uma excelente alternativa às autoestradas e às
ligações aéreas. Verificadas as suas potencialidades, deu-se uma forte modernização no
sistema adaptando-o às novas exigências (Leal, 2008).
A ação do tráfego e do meio ambiente são fatores que contribuem para a degradação da
via-férrea logo após a sua implantação. Quanto maior a utilização e mais agressivo for o
ambiente, mais rapidamente aparecerá a degradação. De modo a prevenir as
degradações, há que proceder à manutenção da via de forma a manter um determinado
grau de qualidade (Leal, 2008).
A qualidade dos materiais, as características da infraestrutura, do meio ambiente e o tipo
de manutenção são fatores que influenciam a degradação dos elementos da
superestrutura, tais como: balastro, travessas, carris, fixações, placas de apoio, aparelhos
de mudança de via, etc. (Cacho, 2009).
Assim, o mau estado de uma via é definido pelas condições do material e pela geometria
da via. Estes dois aspetos influenciam-se mutuamente, sendo que se um deles se
apresentar em mau estado, irá contribui para a degradação do outro (Leal, 2008).
Na manutenção das vias, as operações de conservação e renovação de vias e aparelhos
de via visam manter a qualidade da geometria e do estado do material num nível que
garanta a segurança e o conforto no tráfego. O tipo de tráfego e o tipo de composições
que circulam na via são dois fatores que servem para definir a qualidade geométrica da
via (Leal, 2008).
Os responsáveis da manutenção da via têm como objetivo conservar ou restaurar os
elementos que constituem a via. Qualquer que seja o estado da rede, os gestores da via,
devem em primeiro lugar definir níveis de qualidade perante os objetivos fixados para o
sistema ferroviário, e de seguida abordar os melhores meios que têm ao seu dispor
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 5
(Cacho, 2009). Para tal é imprescindível definir uma política de manutenção por parte
das entidades gestoras.
Os temas mais importantes do âmbito da manutenção da via-férrea encontram-se
resumidos na tabela 2.1. e serão descritos ao longo deste capítulo.
Tabela 2. 1. Assuntos abordados na manutenção e conservação de vias-férreas
Manutenção
da
Via - Férrea
- Conservação
Classificação das Atividades de Manutenção - Remodelação
- Renovação
- Conservações Convencional e Eventual
Metodologias de Conservação - Conservação Cíclica
- Conservação com Base no
Acompanhamento da Degradação
da Via
- Manutenção Corretiva
- Manutenção - Renovação e Substitição
Preventiva - Revisão
Tipos de Manutenção - Pequenas Conservações
- Manutenção
Preditiva
- Manutenção
Detetiva
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 6
2.2. Evolução da Manutenção
Com a evolução dos tempos têm surgido melhorias na atividade de manutenção e
tecnologias mais sofisticadas.
Inicialmente optava-se por uma manutenção corretiva, ou seja, só era realizada a
manutenção da via após a deterioração das suas capacidades. Nessa época, os
equipamentos eram muito simples devido à ausência de desenvolvimento (Cacho,
2009).
Mais tarde, surgiu uma maior preocupação com o estado da via devido ao facto desta
estar sujeita a novas exigências. Deste modo, apareceram os primeiros aparelhos que
permitem a medição da amplitude das vibrações, choques, oscilações e características
geométricas. Assim, surgiu um novo conceito, a manutenção preventiva, que visa
intervir antes que ocorra a degradação da via, através da análise de dados (Leal, 2008).
Nos anos 70, com o aumento da procura deste modo de transporte, passaram a
justificar-se novas preocupações que induzem novos conceitos para a gestão da via-
férrea (monitorização da vida da infraestrutura, disponibilidade e eficiência) (Leal,
2008). Recentemente, os métodos de inspeção e registo de dados melhoraram
significativamente, o que levou ao aparecimento de políticas de manutenção.
A robustez e flexibilidade que os materiais modernos oferecem, conjugadas com a mão-
de-obra cada vez mais especializada, resultam no facto da via-férrea necessitar cada vez
de menos conservação. No entanto, as solicitações, em cargas transportadas e
velocidade são cada vez maiores e as vias novas coexistem com centenas de
quilómetros de linhas antigas, por vezes do fim do século XIX que precisam de
manutenção (Fernave, 2003).
Se a conservação for desprezada, podem ocorrer duas situações:
Uma via antiga pode atingir rapidamente a inoperacionalidade;
Uma via nova ou renovada gerará defeitos em pontos fracos. Estas anomalias
desenvolvem-se a um ritmo muito acelerado e conduzirão a grandes limitações de
velocidade. Deve proceder-se à sua reparação o mais rapidamente possível para evitar a
criação de deformações irreversíveis na plataforma e nos materiais de via. Caso esta
situação ocorra a única solução consiste na substituição por novos materiais.
Entre os pontos fracos mais comuns podemos listar os seguintes (Fernave, 2003):
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 7
Numa linha nova ou renovada:
Zonas de plataforma instável;
Zonas mal drenadas;
Zonas de aterro recente;
Proximidade de Obras de Arte;
Entradas e saídas de curvas;
Curvas de raio reduzido;
Soldaduras de carris e juntas isolantes;
Etc;
Numa via antiga os pontos fracos são os mesmos e mais os seguintes:
Juntas de carris;
Aparelhos de dilatação;
Aparelhos de via;
Zonas de balastro colmatado;
Zonas em travessas de madeira;
Etc.
2.3. Política de Manutenção
Na política de manutenção, as entidades gestoras procuram constantemente manter ou
evoluir os níveis de qualidade da rede para os níveis requeridos. Em todas as decisões
tomadas o fator económico é uma questão fulcral, tentando minimizar os custos totais
ao longo dos anos (Cacho, 2009). Além dos custos associados, as decisões de
manutenção baseiam-se na confiabilidade na análise dos resultados das inspeções e
ainda na disponibilidade de materiais, máquinas e operadores (Fontul, 2011).
A política de manutenção estabelece uma base mínima de qualidade para os seguintes
aspetos:
Características da via;
Características do material;
Características do tráfego a que a linha está sujeita.
Deve ainda ter a capacidade de se adaptar a novas situações, tais como: evolução
técnica, metodológica e recursos. Assim, pode assumir-se que a política de manutenção
está sempre num processo de otimização devido à aprendizagem com a análise de
projetos passados e à evolução que se pode prever do futuro (Cacho, 2009).
A definição de uma hierarquização de linhas de modo a definir parâmetros de qualidade
e regras de decisão torna-se imprescindível para aplicar a política de manutenção. Em
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 8
Portugal, estes trabalhos são da responsabilidade da Rede Ferroviária Nacional
Portuguesa (REFER, 2007). Esta empresa dá especial importância à velocidade e à
necessidade de estabelecer boas ligações. A hierarquização da rede foi feita
apresentando uma divisão em rede principal, rede complementar e rede secundária, tal
como mostra a Figura 2.1.
Figura 2.1. Rede Ferroviária Nacional em Exploração (REFER, 2007)
Através do levantamento da via e do estado do material que a constitui é possível
descrever o seu estado e estabelecer uma forma de manutenção, organizada em
calendários-programa. Na atualidade, estes podem ser definidos no espaço e no tempo
em função das necessidades reais identificadas pelos levantamentos. Nestes casos
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 9
constata-se uma atuação mais reativa do que preventiva. Contudo, a prevenção está
implícita na decisão sobre a altura da atuação (Cacho, 2009).
2.4. Manutenção da Via-Férrea
2.4.1. Classificação das Atividades de Manutenção
As atividades de manutenção da via podem classificar-se em: conservação, remodelação
e renovação.
A conservação é o conjunto de atividades necessárias para manter a qualidade da via
dentro dos limites de tolerância, uma vez que o padrão de qualidade inicial não voltará a
ser alcançado, diminuindo progressivamente após cada intervenção e provocando a
degradação do ciclo próprio de intervenção, ou seja, o prazo entre manutenções diminui
(Cacho, 2009).
A remodelação caracteriza-se pela substituição de uma elevada quantidade de
componentes. O padrão de qualidade inicial da via não é readquirido, nem ultrapassado
embora estas intervenções dilatem os ciclos futuros de manutenção (Leal, 2008).
Por fim, a renovação é o tipo de manutenção que implica a alteração das características
técnicas dos componentes, proporcionando um nível de qualidade superior ao inicial
(Leal, 2008).
2.4.2. Metodologias de Conservação
Antigamente a conservação era definida em duas categorias denominadas: Conservação
Convencional e Conservação Cíclica. Recentemente, surgiram os conceitos de:
Conservação Eventual, Conservação Cíclica e Conservação com Base no
Acompanhamento da Degradação da Via. Seguidamente explicitar-se-ão estes
conceitos.
As Conservações Convencional e Eventual baseiam-se em intervenções de carácter
corretivo, nas quais as operações de conservação só ocorrem à medida que a degradação
surge, não se efetuando programação de trabalhos (Cacho, 2009).
Na Conservação Cíclica a programação dos trabalhos é realizada, pois pressupõe-se que
existe um ciclo temporal para intervir, ao longo do qual é possível fazer a programação
dos serviços de manutenção, não desprezando os limites de segurança da via. Estas
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 10
atividades são definidas pelos técnicos responsáveis pela manutenção, com base na
experiência acumulada ao longo dos anos.
A Conservação com Base no Acompanhamento da Degradação da Via pressupõe meios
e equipamentos que permitam uma monitorização sistemática dos dados (Cacho, 2009),
ou seja, baseia-se na monitorização sistemática das condições da geometria da via como
ferramenta de decisão para intervir ou não (Leal, 2008). Esta decisão é tomada
comparando os índices de qualidade, obtidos a partir do levantamento das condições
geométricas da via, com os limites exigidos. Note-se que não é possível prever a
evolução do estado da via, pelo que este método não é uma atitude puramente
preventiva, embora seja uma maneira capaz de evitar degradações inaceitáveis para a
segurança e comodidade dos utentes (Cacho, 2009).
2.4.3. Tipos de Manutenção
i. Manutenção Corretiva
A manutenção corretiva é uma das técnicas mais antigas de intervenção em ferrovias
(Cacho, 2009). Esta atividade só ocorre quando se deteta a avaria ou o deficiente
funcionamento do material. Assim, a intervenção é realizada sem planeamento, visando
a correção da anomalia que compromete o desempenho do sistema. O domínio de
atuação é principalmente ao nível da geometria da via. Conclui-se que o grande objetivo
é recolocar a via em bom estado, de modo a retardar o processo de deterioração,
assegurar a segurança dos comboios e a proteção do material. Paralelamente a estes
trabalhos também podem ser corrigidos alguns defeitos do material.
As anomalias de emergência, isto é, as que ocorrem independentemente de se fazer um
acompanhamento ou não dos equipamentos são o motivo pelo qual este tipo de
manutenção não se pode eliminar por completo. São exemplos de anomalias de
emergência aquelas que interrompem o tráfego ou colocam restrições à circulação em
certos trechos (fraturas no carril, encurvadura do carril, deslizamento de barreiras, entre
outros). Quando uma destas falhas acontece deve-se ao facto de alguma outra forma de
manutenção não ter sido suficiente. Nestas situações a única solução é a reparação da
anomalia (Leal, 2008).
ii. Manutenção Preventiva
A manutenção preventiva, ao contrário da manutenção corretiva, é programada. O
objetivo é atuar antes do sistema apresentar degradações já não recuperáveis sem
remodelação, pois a atuação após o aparecimento das anomalias tem consequências para
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 11
a infraestrutura. As atividades realizam-se em intervalos fixos de tempo,
independentemente do material em análise ter ou não um valor crítico de desgaste
(Cacho, 2009).
Salienta-se que a realização de ações de correção da geometria da via em excesso
provoca a degradação prematura do balastro. Assim, é importante determinar o
adequado momento de intervir antes de o sistema entrar em falha. Este tipo de
manutenção tem em conta critérios económicos, ao contrário da manutenção corretiva
que encarece a obra.
As atividades preventivas podem ser agrupadas em três classes (Leal, 2008):
Renovação e substituição: consiste na troca total ou parcial dos materiais da via quando
a quantidade e a qualidade destes já não garante as suas funções ou acarreta despesas de
manutenção corretiva tecnicamente impossíveis ou não rentáveis. São exemplos os
seguintes trabalhos:
Inversão dos carris;
Substituição dos carris gastos ou defeituosos;
Substituição de travessas;
Limpeza e recomposição do balastro.
Revisão: consiste na inspeção de rotina realizada à via e tem a finalidade de eliminar os
defeitos existentes e os que estão em formação. São exemplos os seguintes trabalhos:
Nivelamento da via;
Alinhamento de curvas;
Alinhamento das tangentes.
Pequenas conservações: consiste em pequenas intervenções de substituição do material
ou pequenas reparações com o objetivo de impedir que as condições da via afetem a
segurança, pois destinam-se a corrigir os defeitos que não podem esperar até à próxima
manutenção. Estas atividades de conservação são efetuadas por equipas auxiliadas por
equipamentos mecânicos ligeiros. São exemplos os seguintes trabalhos:
Correção da bitola;
Reforço das fixações;
Eliminação de fraturas nos carris.
iii. Manutenção Preditiva
A manutenção preditiva tem em consideração a vida útil do material da via. Através das
propriedades dos materiais constituintes do sistema é possível determinar qual a sua
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 12
vida útil. Quando essas propriedades se começam a alterar é uma indicação de que o
momento de falha se começa a aproximar. O acompanhamento da degradação da
infraestrutura permite avaliar o seu desempenho futuro e planear as ações de
manutenção a executar. A manutenção preditiva encontra-se aliada à manutenção
preventiva, uma vez que a monitorização e estimativa do momento de falha permitem a
programação das atividades (Cacho, 2009).
Existem equipamentos que auxiliam na monitorização de alguns parâmetros pertinentes
à manutenção preditiva, são eles o auscultador de geometria de via e desgaste
ondulatório e o veículo de inspeção geométrica da via (EM 120). A descrição destes
equipamentos encontra-se no Capítulo 3.
iv. Manutenção Detetiva
A manutenção detetiva tem como objetivo assinalar defeitos não detetados nas
operações de manutenção. A auscultação ultrassónica de carris permite realizar esta
análise e deteta sinais de fadiga e fissuras internas. A descrição do aparelho que realiza
esta medição encontra-se no Capítulo 3. A maior parte das administrações ferroviárias
não possui este tipo de manutenção (Cacho, 2009).
2.5. Considerações Finais
Com o passar dos anos e a evolução das tecnologias concluiu-se que o caminho-de-ferro
era um sistema com inúmeras potencialidades e por isso teria interesse contribuir para a
sua modernização, adaptando-o às novas exigências.
Deste modo, surgiram os conceitos de manutenção e conservação de vias-férreas.
Assim, substituíram-se as antigas normas que ditavam apenas a remodelação do sistema
aquando da sua inoperacionalidade por novas regras que optam por uma atitude
preventiva em relação à degradação da via.
As entidades gestoras aperceberam-se das vantagens da realização das atividades de
manutenção, as quais constituem um processo bastante mais económico quando
comparado com o método utilizado no passado que implicava a construção de via
totalmente nova. Estas entidades desenvolveram políticas de manutenção que se
baseiam em manter os níveis de qualidade da rede, sendo que quanto mais importante
esta é, maior o nível de qualidade exigido. Surgem novos conceitos para a gestão da via-
férrea (monitorização da vida da infraestrutura, disponibilidade e eficiência).
Recentemente, os métodos de inspeção e registo de dados melhoraram
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 2. SISTEMAS DE GESTÃO DA CONSERVAÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 13
significativamente, o que permitiu a escolha de melhores políticas de manutenção
preventiva.
Neste capítulo as atividades de manutenção foram classificadas em conservação,
remodelação e renovação. Sendo a conservação o conjunto de atividades necessárias
para manter a qualidade da via dentro dos limites de tolerância. A remodelação consta
da substituição de uma elevada quantidade de componentes da via. Na renovação
realiza-se a alteração das características técnicas dos componentes, aumentando o nível
de qualidade da rede.
No âmbito da conservação houve necessidade de distinguir três metodologias:
Conservações Convencional e Eventual (a intervenção ocorre à medida que degradação
surge), Conservação Cíclica (pressupõe-se a existência de um ciclo para intervir) e
Conservação com Base no Acompanhamento da Degradação da Via (baseia-se na
monitorização sistemática das condições da geometria da via como ferramenta de
decisão para intervir ou não).
Os tipos de manutenção foram classificados em: Manutenção Corretiva (só ocorre
quando se deteta a avaria ou o deficiente funcionamento do material); Manutenção
Preventiva (tem o objetivo de atuar antes do sistema apresentar degradações já não
recuperáveis sem remodelação, inclui trabalhos de Renovação e Substituição, Revisão e
Pequenas Conservações); Manutenção Preditiva (tem em consideração a vida útil do
material da via); Manutenção Detetiva (tem como objetivo assinalar defeitos não
detetados nas operações de manutenção).
Conclui-se que são de valorizar todos os trabalhos que promovam a prevenção das
degradações, investindo cada vez mais em manutenções de caráter preventivo com o
intuito de diminuir intervenções profundas, mais gravosas para a estrutura e mais
dispendiosas para as entidades gestoras.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 14
CAPÍTULO 3 – INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
3.1. Considerações Iniciais
A superestrutura é a parte da via-férrea que recebe os impactos diretos da carga, cujos
principais elementos constitutivos são: os carris, as fixações, as travessas e a camada de
balastro (Silva, 2006). Estes estão sujeitos às ações de degradação provocada pela
circulação dos veículos (frequência de utilização, velocidade dos veículos, volume de
carga transportada), deterioração por ataque do meio ambiente, estabilidade da
infraestrutura ou, ainda, pelo facto da via estar apoiada sobre uma camada de balastro
que se encontra sujeita a deslocamentos em todas as direções (Leonardo, 2006).
A qualidade da geometria da superestrutura ferroviária é um fator importante na
determinação da velocidade e das condições de segurança da circulação das
composições ferroviárias. De igual modo, a qualidade da manutenção da geometria da
via influencia a capacidade de circulação ferroviária (Leonardo, 2006).
As inspeções ferroviárias são de grande importância para a avaliação do estado da via e
para determinar o modo de atuação. É através das inspeções que são determinadas as
degradações da via. As inspeções ferroviárias podem realizar-se a pé ou recorrendo a
veículos motorizados.
As atividades de manutenção e conservação em vias-férreas obedecem a especificações
técnicas fixadas em normas. O controlo de qualidade realizado através das inspeções
visa avaliar a conformidade com essas normas. Nessas especificações constam os
parâmetros de via, ou seja, as definições e tolerâncias a respeitar. Através da utilização
de equipamentos de avaliação de via é possível determinar esses parâmetros e compara-
los com as normas. Assim, podemos verificar se existem anomalias, determinar as suas
causas e realizar a reparação.
Também a capacidade de desempenho da via (velocidade máxima permitida, nível de
conforto e segurança, etc.) são avaliadas em função do índice de conformidade com
aquelas especificações técnicas. Por outro lado, se não existir conformidade revela-se a
existência de defeitos de construção, falta de conservação, desgaste ou deterioração de
qualidade.
Embora os parâmetros da via sejam definidos e medidos separadamente, a sua
influência é conjunta, o que implica que o incumprimento de um potencia a avaria de
outro.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 15
No presente capítulo descrevem-se alguns dos mais importantes parâmetros de via e os
respetivos defeitos associados a cada um deles (Fernave, 2003):
Bitola;
Escala/Sobrelevação/ Nivelamento transversal;
Nivelamento longitudinal;
Alinhamento longitudinal;
Empeno;
Posicionamento dos carris;
Defeitos dos carris.
Hoje em dia, está disponível no mercado uma alargada gama de maquinaria, técnicas de
execução e serviços que permitem garantir as exigências para uma infraestrutura
resistente e segura. Os equipamentos disponíveis para além de aumentarem a
produtividade da monitorização propiciam também a adoção de medidas de manutenção
adequadas e consequentemente o aumento da vida útil dos elementos da via (Leal,
2008). Neste capítulo apresentam-se alguns equipamentos de avaliação de via: KRAB,
RMF, Ultrasson, LaserRail e EM 120.
3.2. Tipos de Inspeção da Via-Férrea
Para se detetar os defeitos da via há que fazer o levantamento das necessidades da
mesma recorrendo a inspeções. Através delas obtêm-se dados que permitem determinar
as seguintes necessidades:
Substituição de materiais;
Correção da geometria da via;
Execução de limpezas da via;
Lubrificações periódicas que garantam a segurança, fiabilidade e disponibilidade
da infraestrutura.
De modo a detetar anomalias que possam causar danos na estrutura, as entidades
gestoras promovem ações de vigilância e controlo. Este tipo de ações permite também
recolher informação de diagnóstico que possibilita a programação das ações de
conservação.
Podemos distinguir dois tipos de inspeção:
Inspeção a pé (ronda): feita, se possível, semanalmente, servindo para vigiar em
especial (Fernave, 2003):
O aparecimento de fissuras, mossas e fraturas;
O aperto das ligações e fixações (aperto do carril à travessa);
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 16
O funcionamento das juntas de carris e a regularidade das folgas;
O estado das juntas isolantes;
O estado dos aparelhos de dilatação;
O estado geral da via na proximidade dos pontos singulares;
As zonas onde houve trabalhos há menos de três semanas que
desconsolidaram a via;
O ataque das travessas;
O alinhamento;
A limpeza das valetas e dos aquedutos;
A ameaça de desabamento de aterros e trincheiras;
A presença de arbustos, árvores ou qualquer objeto que interfira na
passagem das composições;
O estado do pavimento e a visibilidade nas passagens de nível;
Construções próximas do Domínio Público do Caminho-de-ferro;
Etc.
Inspeção em veículos motorizados: feito duas ou mais vezes por ano e tem como
objetivo a análise do comportamento da superestrutura aquando da passagem de cargas
e velocidades reais (Fontul, 2011).
3.3. Parâmetros da Via e seus Defeitos
3.3.1. Bitola
A bitola de uma via-férrea é a distância entre as faces interiores dos carris, medida
15mm abaixo do plano de rolamento e em esquadria com eles, tal como ilustra a
Figura 3.1.
Figura 3.1. Ilustração esquemática da bitola (Fernave, 2003)
No nosso país as linhas encontram-se classificadas em função da bitola:
Linhas de via normal: a bitola de via é de 1435mm.
Linhas de via larga: a bitola da via é superior à via normal.
Linhas de via estreita: a bitola da via é inferior à via normal (Fernave, 2003).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 17
A bitola é um indicador de qualidade de construção e do estado da conservação da via.
Quando este parâmetro não se apresenta em conformidade com as normas traduz o
reflexo do desgaste e degradação dos materiais ou a presença de anomalias noutros
parâmetros (Fernave, 2003).
O defeito de bitola aumenta o desgaste nos carris e nos rodados das composições. Este
pode ser avaliado sob dois aspetos: alargamento e estreitamento, os quais são descritos a
seguir.
Alargamento da Bitola
Nesta avaliação verifica-se o limite máximo admissível para o valor da bitola. Se o
valor medido é superior ao estabelecido, então a linha está com alargamento como se
pode verificar na figura 3.2 (Silva, 2006).
Figura 3.2. Alargamento da bitola (Silva, 2006)
Estreitamento da Bitola
Nesta avaliação verifica-se o limite mínimo admissível para o valor da bitola. Se o valor
medido é inferior ao estabelecido, então a linha está com estreitamento como demonstra
a figura 3.3 (Silva, 2006).
Figura 3.3. Estreitamento da bitola (Silva, 2006)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 18
3.3.2. Escala/Sobrelevação/Nivelamento Transversal
A escala da via é a diferença máxima na altura entre o carril exterior e interior, medida
ao centro da cabeça do carril (Figura 3.4).
Figura 3.4. Ilustração esquemática da sobrelevação ou escala (Fernave, 2003)
Em curva, as composições ferroviárias sofrem um impulso denominado força centrífuga
para o exterior da mesma. A escala ou sobrelevação tem como objetivo contrariar os
esforços transversais resultantes da força centrífuga (Fernave, 2003).
O defeito de nivelamento transversal é a diferença entre a escala existente num
determinado ponto da via e a escala fixada em projeto, isto é, uma fila está mais alta do
que o previsto. Na figura 3.5 o defeito é a diferença de nível “X”, quando esta é
diferente da escala de projeto (Silva, 2006).
Figura 3.5. Desnivelamento transversal (Silva, 2006)
3.3.3. Nivelamento Longitudinal
O nivelamento longitudinal é o parâmetro responsável pela regularidade do apoio dos
rodados em movimento e assegura a estabilidade vertical dos veículos. Na via-férrea
podem surgir assentamentos devido à pressão exercida pela passagem de grandes cargas
a elevadas velocidades, este tipo de patologia gera irregularidades no apoio dos rodados
e oscilações verticais bruscas no material circulante. Os assentamentos podem
desenvolver-se simultaneamente nas duas filas ou alternadamente numa e noutra.
Os defeitos de nivelamento podem ocorrer logo a seguir à construção ou renovação da
via nos seguintes pontos fracos (Fernave, 2003):
Zonas de plataforma de má qualidade;
Zonas mal drenadas;
Sobre aterro recente;
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 19
Zonas de balastro contaminado (colmatado) ou rolado;
Pontos de descontinuidade no apoio das travessas ou dos carris (passagens de
nível, pontões, encontros de obras de arte, etc.);
Travessas mal atacadas;
Soldaduras e juntas de carris;
Etc.
Como se pode verificar na figura 3.6, o defeito de nivelamento longitudinal é o desnível
entre a rasante de dois pontos altos e um ponto baixo situado entre os dois, ou seja,
caracterizada pela formação de pontos altos e baixos ao longo da via, numa das filas, ou
nas duas (Fernave, 2003).
Figura 3.6. Ilustração esquemática do defeito de nivelamento longitudinal
(Fernave, 2003)
O desvio longitudinal é responsável pelo movimento de galope dos veículos ferroviários
circulantes na via desnivelada (Figura 3.7).
Figura 3.7. Linha desnivelada longitudinalmente (Silva, 2006)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 20
3.3.4. Alinhamento Longitudinal
Como se sabe, é por meio dos carris que se faz o encaminhamento das composições nas
ferrovias (Figura 3.8). Esse encaminhamento é feito através do contacto do verdugo do
rodado com a face interior do carril, denominada face de guiamento (Fernave, 2003).
Figura 3.8. Esquema do encaminhamento dos rodados através da via-férrea
(Fernave, 2003)
O alinhamento é o parâmetro responsável pela qualidade do guiamento dos veículos e
assegura a estabilidade lateral dos mesmos. Deste modo, a existência de irregularidades
no alinhamento do carril de guiamento, transmitir-se-á diretamente às composições que
sobre ele circulam, causando instabilidade, em especial a velocidades elevadas. O lacete
(instabilidade lateral) é provocado pelos defeitos de alinhamento (Figura 3.9). Este
fenómeno provoca oscilação transversal, especialmente da locomotiva e do veículo da
cauda.
Figura 3.9. Desalinhamento da via-férrea (Silva, 2006)
Esta situação é muito preocupante, também porque aparece muitas vezes associada à
instabilidade vertical resultante dos defeitos de nivelamento. Assim, conclui-se que as
instabilidades, lateral e vertical, se influenciam mutuamente, provocando esforços na
superestrutura da via e nas suspensões dos veículos. Deste modo, a superestrutura tende
a sofrer uma rápida degradação que coloca a segurança em causa (Fernave, 2003). Por
todos estes motivos, o alinhamento da via é considerado um dos mais importantes
parâmetros para o bom desempenho da mesma.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 21
3.3.5. Empeno
A avaria de empeno caracteriza-se por alterações bruscas de nivelamento transversal as
quais se traduzem em irregularidades no apoio dos rodados.
Na figura 3.10, considerando quatro pontos sobre a base de medição, dois sobre cada
carril, formando um retângulo, define-se como empeno a distância vertical de um dos
pontos ao plano formado pelos outros três (Pereira, 2002). Assim, verificamos que
apenas três pontos assentam, ficando sempre um por assentar. É de notar que se
tentarmos assentar o ponto que ficou por assentar, outro irá levantar, sendo impossível
estabilizar a base de medição (Fernave, 2003).
Este parâmetro é considerado extremamente importante no que diz respeito à segurança
dado que em certas circunstâncias pode ser perigoso, podendo provocar o
descarrilamento de composições.
Figura 3.10. Ilustração esquemática do empeno (Pereira, 2002)
3.3.6. Posicionamento dos Carris
Para o bom funcionamento dos carris é fulcral que estes se mantenham na sua posição
inicial. Porém, os carris estão constantemente a sofrer ações que contribuem para o seu
deslocamento. Em linhas com juntas, os carris sofrem deslocamentos longitudinais
importantes que diminuem drasticamente a eficiência do serviço ferroviário. Estes
fenómenos aumentam de modo proporcional às deficiências de conservação tais como
(Fernave, 2003):
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 22
Falta de lubrificação de juntas;
Falta de qualidade das travessas;
Falta de qualidade da fixação;
Etc.
Nestas situações é imperativo proceder-se ao corrimento dos carris que consiste em
deslocar longitudinalmente um carril sem lhe alterar transversalmente a posição, ou
seja, em fazer retornar os carris à posição de origem. Contudo, esta operação é
dispendiosa e os seus efeitos positivos são de curta duração se as deficiências de
conservação não forem corrigidas (Fernave, 2003).
O deslocamento longitudinal incontrolado dos carris, sob o efeito de variações de
temperatura e em conjugação com os esforços de tração e de travagem dos comboios é
um fenómeno que se denomina caminhamento. Os carris estão sujeitos a deslocamentos
que produzem alterações no valor das folgas deixadas quando ocorrem assentamentos.
As mudanças de temperatura provocam dilatações e contrações sucessivas nos carris,
razão pela qual ocorrem os descolamentos. Estes podem ainda ser agravados nos
seguintes casos:
Esforços longitudinais produzidos pelas rodas dos veículos (zonas de travagem e
arranque);
Zonas de plataforma instável;
Zonas de fixação com deficiência de aperto.
Este tipo de patologias forma-se:
Na fila esquerda no sentido crescente da quilometragem;
Na fila direita no sentido decrescente da quilometragem;
No sentido da marcha dos comboios nas linhas da via dupla;
No sentido das pendentes nas linhas da via única.
A denominação “zonas de caminhamento sistemático” surgiu para caracterizar as zonas
em que o caminhamento se produz mais rapidamente. As entidades gestoras da via
tendem a identificá-las com o objetivo de as vigiar sistematicamente (Fernave, 2003).
3.3.7. Defeitos dos Carris
Os defeitos dos carris caracterizam-se por descontinuidades internas potenciadoras de
fadiga. Estes defeitos podem ter origem em problemas relacionados com o seu fabrico
ou alterações mecânicas ocorridas por influência da passagem das composições. O seu
carácter é irreversível.
Os principais defeitos do carril podem ser classificados nos seguintes grupos:
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 23
i. Fenda Transversa Progressiva
Caracteriza-se por uma descontinuidade interior oval com origem no núcleo central da
cabeça do carril ou fratura interna horizontal provocada pela temperatura no fabrico
(Figuras 3.11 e 3.12). Com o passar do tempo, esta fenda atinge a superfície do carril
causando de imediato uma falha visível e detetável quer por inspeção visual quer por
equipamento de ultrassom como podemos ver nas figuras 3.13 e 3.14 (Couto, 2007).
Figura 3.11. Mancha interior oval e fratura
(Lee, 2009)
Figura 3.12. Mancha interior oval
Figura 3.13. Fenda transversal
progressiva em estágio final (Lee, 2009)
Figura 3.14. Carril colocado fora de
serviço com fenda transversa progressiva
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 24
ii. Fenda Horizontal
Este defeito é originado na fase de fabricação e pode causar “descamação” da superfície
de rolamento (Figura 3.15). Deteta-se visualmente e por equipamento ultrassom (Couto,
2007).
Figura 3.15. Fenda horizontal
iii. Ondulação da Superfície de Rolamento (Desgaste Ondulatório)
O desgaste ondulatório é uma consequência física do contacto roda-carril, sendo um
fenómeno corrente na indústria ferroviária. Esta anomalia caracteriza-se pelo
aparecimento de deformações ondulatórias de periodicidade variável, no plano de
rolamento; manchas horizontais ovaladas ou “estreladas” ou por um traço ondulado,
com um comprimento de onda (distância entre pontos altos) variável (Martins, 2010).
Este defeito apresenta duas modalidades distintas:
Desgaste de onda curta: caracteriza-se por uma sequência de “cumes brilhantes”
e “depressões escuras” da superfície de rolamento (Couto, 2007), como
apresentam as seguintes figuras.
Figura 3.16. Carril com desgaste de onda
curta num carril de gola
Figura 3.17. Carril com desgaste
de onda curta (Lee, 2009)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 25
Desgaste de onda longa: não apresenta qualquer diferença na aparência entre os
cumes e as depressões. Esta modalidade é mais frequente em linhas urbanas
(Figura 3.18).
Figura 3.18. Carril com desgaste de onda longa [1]
Na Tabela 3.1 encontram-se os valores de comprimentos de onda para desgaste
ondulatório de onda curta e onda longa em via balastrada e betonada. É de notar que
para a via balastrada os comprimentos de onda são bastante maiores.
Tabela 3.1. Comprimentos de onda para desgaste ondulatório de onda curta e onda
longa em via balastrada e betonada
Modalidade Via balastrada
(Fernave, 2003)
Via betonada
(Metro do Porto)
Comprimento de Onda Curta (mm) 30 – 200 10 – 30
Comprimento de Onda Longa (mm) 200 – 300 30 – 100
No gráfico da Figura 3.19 podemos verificar o registo de desgaste ondulatório de um
carril, onde se encontra a profundidade das cavidades que formam o desgaste
ondulatório.
Figura 3.19. Registo de desgaste ondulatório (Fernave, 2003)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 26
Os locais mais propícios à ocorrência deste tipo de degradação são os troços onde as
composições arrancam e travam repetidamente (Fontul, 2011), curvas de pequeno raio e
ocorre principalmente na fila baixa, mas também na alta (Fernave, 2003). O desgaste
ondulatório provoca diferentes efeitos nefastos na infraestrutura, tais como:
Fadiga dos carris com o consequente desenvolvimento e propagação de defeitos
internos;
Degradação da geometria da via;
Desgaste das fixações;
Desenvolvimento de fissuras em travessas.
Este fenómeno em estado inicial não acarreta risco para o tráfego. Porém degrada o
conforto no contacto roda-carril e torna a passagem das composições muito ruidosa e
desconfortável para os passageiros (Pereira, 2002).
iv. Fenda Longitudinal Vertical
Este tipo de defeito (Figura 3.20) é de fabricação e pode, em fase terminal, separar a
cabeça do carril em duas partes. O defeito pode ocorrer também na alma ou na patilha
do carril. A sua deteção pode ser visual ou por ultrassom e deve proceder-se à sua
substituição imediata pois este tipo de falhas pode causar a fratura instantânea do carril,
especialmente a baixas temperaturas (Couto, 2007).
Figura 3.20. Fenda longitudinal vertical (Lee, 2009)
v. Desgaste Lateral da Cabeça do Carril
O desgaste lateral da cabeça do carril (Figura 3.21) é um dos mais frequentes, tendo
como causa o movimento de lacete dos rodados. A gravidade desta patologia prende-se
com o facto de ultrapassado o limite de segurança para este desgaste, deixar de ficar
garantido o limite de segurança para a bitola (Couto, 2007).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 27
Figura 3.21. Desgaste num dos lados da cabeça do carril [2]
vi. Desintegração da Superfície de Rolamento
Diz respeito a uma desagregação gradual da superfície de rolamento cujas causas podem
caber ao processo de fabrico ou fadiga (Figura 3.22). Os carris com este defeito devem
ser substituídos em sessões de manutenção previamente agendadas (Couto, 2007).
Figura 3.22. Desintegração da superfície de rolamento
vii. Descascamento da Superfície de Rolamento
Consiste num defeito de fabrico formado principalmente aquando do tratamento térmico
dos carris. Inicialmente observam-se pré-deformações irregulares na superfície de
rolamento com alguns milímetros de profundidade, numa fase mais avançada dá-se o
descascamento em forma de “concha” como mostra a figura 3.23. Este defeito ocorre
aleatoriamente ao longo da superfície, não sendo por isso um defeito isolado (Couto,
2007).
Figura 3.23. Descascamento da superfície de rolamento do carril
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 28
viii. Descascamento Lateral da Cabeça do Carril
Nesta patologia o carril apresenta-se, numa fase inicial, com longas manchas escuras,
espaçadas aleatoriamente que evoluem para alongadas saliências, fendas e lascas em
forma de conchas (Figuras 3.24 e 3.25). Frequentemente encontra-se este defeito em
curvas nos carris exteriores (Couto, 2007).
Figura 3.24. Descascamento lateral da cabeça
do carril: vista superior
Figura 3.25. Descascamento lateral
da cabeça do carril: vista em perfil
3.4. Equipamentos de Avaliação de Via
3.4.1. KRAB (auscultador de geometria de via)
O KRAB (Figura 3.26) é um equipamento ligeiro de inspeção de via que foi projetado
para complementar os veículos de medição maiores e mais sofisticados, e é ideal para
ser usado em vias secundárias, ramais ou linhas de metro. Permite medir todos os
parâmetros geométricos de via independentemente da bitola da mesma dado que o seu
sistema é ajustável a bitolas entre 1000 e 1668mm.
Figura 3.26. KRAB Light (auscultador de geometria de via da REFER)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 29
A velocidade de medição é limitada a 7km/h. O veículo de 36kg é empurrado por um
operador ao longo da via e os dados são registados num computador de bordo (Figuras
3.27 e 3.28) que regista as medições em intervalos de 0,25m. Após a medição, os dados
são transferidos para um computador e tratados num software que calcula a geometria
real sendo, por fim, analisada essa geometria (Baldeiras, 2008).
Figura 3.27. Computador de bordo do KRAB
da REFER para armazenamento dos dados
Figura 3.28. Ecrã do computador do
KRAB antes do início da medição
3.4.2. RMF (medição de desgaste ondulatório)
O RMF (Figura 3.29) é um equipamento leve e de fácil manipulação que regista e
armazena o desgaste ondulatório à sua passagem, a cada 2mm.
Figura 3.29. RMF 2.3E (aparelho de medição do desgaste ondulatório da REFER)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 30
Consiste num carro empurrado manualmente ao longo da linha, dotado de dois sistemas
de roldanas (Figura 3.30 - A) que rolam sobre cada carril e de sensores analógicos
(Figura 3.30 - B) com precisão 1/100mm que controlam as oscilações da superfície
enviando os dados para um computador de bordo (Figura 3.31) que efetua a
descodificação das informações analógicas para o formato digital. Esse computador
além de armazenar os dados dos parâmetros de via e desgaste ondulatório regista ainda
a quilometragem percorrida (Leal, 2008).
Figura 3.30. Princípio de funcionamento do RMF (Bance, 2012)
A Figura 3.32 representa um gráfico gerado por este aparelho, em ordenadas encontram-
se as variações do comprimento de onda do desgaste ondulatório e em abcissas
encontra-se a quilometragem. As linhas preta e azul correspondem ao carril direito e
esquerdo, respetivamente.
Figura 3.31. Ecrã do computador do
RMF antes do início da medição
Figura 3.32. Gráfico do desgaste
ondulatório gerado pelo RMF
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 31
3.4.3. Ultrassom (auscultação ultrassónica de carris)
O objetivo deste tipo de aparelho é a avaliação das condições mecânicas do carril,
detetando sinais de fadiga e fissuras internas, através da emissão de ultrassons na
superfície do carril (Leal, 2008).
Recentemente, com a implementação de avançadas tecnologias de detenção de
anomalias nos carris, ocorreu uma redução do número de falhas em serviço,
aumentando a sua segurança e disponibilidade.
Este equipamento pode ser manual ou pesado. Como exemplo de um equipamento
manual podemos observar as figuras 3.33 e 3.34. Por outro lado, em termos de
equipamento pesado temos o veículo da figura 3.35 cujos componentes são montados
sobre uma estrutura semelhante à do KRAB e que inspeciona os carris continuadamente,
a uma velocidade de até 40km/h (MRS Logística S.A, 2012).
Figura 3.33. Computador de bordo do
KrautKramer USM25 (Baldeiras, 2008)
Figura 3.34. KrautKramer USM25 em
serviço (Baldeiras, 2008)
Figura 3.35. Veículo de inspeção de via através de ultrassons
(MRS Logística, S.A, 2012)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 32
3.4.4. LaiserRail (medição do perfil transversal do carril)
Este aparelho monitoriza o desgaste dos carris com grande precisão através de um
sistema a laser que faz a leitura do perfil (Brochado et al, 2007). A medição é obtida
fazendo incidir um raio laser no carril, refletindo o seu perfil num painel luminoso, que
mostra o desenho do perfil desgastado sobre o perfil novo, fazendo a comparação entre
ambos e, assim, fornece dados como o desgaste sofrido e a perda da área da cabeça do
carril (Leal, 2008).
O processo de medição utilizando neste equipamento é bastante simples. O aparelho é
levado até ao local onde se pretende realizar a medição e é colocado sobre um carril,
apoiando-se no outro através de uma régua extensora, como se pode verificar na figura
3.36 (Brochado et al, 2007).
Figura 3.36. LaiserRail (Brochado et al, 2007)
Todos os dados são acumulados de forma digital e registados numa base de dados, a
qual permite efetuar comparações com medições anteriores, de forma a criar um
acompanhamento do desgaste do perfil (Leal, 2008).
O programa sobrepõe as medições e compara-as com as dimensões de um carril novo.
Fornece diretamente informações tais como o valor da perda percentual da cabeça do
carril, com a precisão de décimas de milímetro. Posteriormente, é ligado a um
computador, onde é possível sobrepor a imagem do perfil do carril medido com uma
imagem correspondente a um carril novo como se pode observar na figura 3.37. Os
dados obtidos nas medições formam uma base de dados para acompanhamento do
desgaste dos carris (Brochado et al, 2007). Em Portugal, este equipamento é mais
conhecido por perfilómetro ou perfilógrafo.
Figura 3.37. Sobreposição do perfil do carril medido (linha vermelha) e novo (linha
azul) (Baldeiras, 2008)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 33
3.4.5. EM 120 - Veículo de Inspeção Geométrica de Via
Os veículos de inspeção de via são mais sofisticados e a sua tecnologia permite a
inspeção contínua dos parâmetros de via e a comparação com os limites de tolerância
definidos. Este tipo de aparelho engloba medições de vários equipamentos tornando-se
por isso um processo que minimiza trabalhos desnecessários e reduz despesas.
O EM 120 (Figura 3.38) é um dos veículos utilizado para inspecionar as vias
portuguesas a velocidades até 120km/h, sendo propriedade da REFER.
Figura 3.38. EM 120 – Veículo de inspeção geométrica de via da REFER
(Baldeiras, 2008)
O EM 120 possui os seguintes sistemas de inspeção (REFER, 2001):
Sistema de inspeção da geometria de via;
Sistema de inspeção do perfil transversal do carril;
Sistema de inspeção do perfil transversal de via;
Sistema de inspeção da geometria da catenária.
O sistema de inspeção da geometria da via efetua as medições sem contacto, através de
um sistema inercial, que integra as seguintes partes (Figura3.39):
Figura 3.39. Localização do equipamento de análise da geometria da via (REFER, 2001)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 34
GPS: indica a posição na Terra em que o veículo se encontra. Essa informação
importa porque dá a referência inicial e para aferir as medições efetuadas pela
caixa inercial;
IMU (Inertial Measuring Unit): caixa inercial composta por 3 acelerómetros,
que medem acelerações (transformadas em deslocamentos após dupla
integração) segundo 3 eixos que formam 90º entre si, e 3 giroscópios que
medem as variações angulares em torno desses eixos. Permite medir:
alinhamento, nivelamento longitudinal e transversal;
Encoder: sistema de contagem da distância percorrida;
OGMS (Optical Gage Measuring System): equipamento laser/ótico de medição
da bitola. Mede a distância que vai desde a projeção do centro do eixo do bogie
traseiro sobre o plano onde a bitola é medida a cada um dos carris. Este sistema
está integrado com o IMU na definição dos alinhamentos (REFER, 2001).
Os dados recolhidos são armazenados e tratados em computadores e unidades de
controlo dos sistemas de inspeção instalados no EM 120 (Figura 3.40 e 3.41)
Figura 3.40. Cabine de condução
(REFER, 2001)
Figura 3.41. Computadores de
armazenamento e tratamento de dados
Por fim, são gerados gráficos dos parâmetros geométricos (Figura 3.42) onde constam:
1- Nivelamento Longitudinal
Esquerdo;
2- Nivelamento Longitudinal
Direito;
3- Empeno;
4- Bitola;
5- Nivelamento Transversal;
6- Alinhamento Esquerdo;
7- Alinhamento Direito.
Figura 3.42. Gráfico dos parâmetros geométricos (REFER, 2001)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 35
Do lado esquerdo do gráfico está representado o Pk e a velocidade bem como os
eventos que ocorrem (PN, Estações, AMV, etc). Em rodapé são identificados: o troço de
via, a data da análise e o ficheiro de gravação (REFER, 2001).
Alem dos gráficos são elaborados relatórios, sendo o primeiro o relatório dos defeitos
da geometria da via (Figura 3.43) que mostram os defeitos encontrados para as
tolerâncias definidas. As colunas do relatório representam o seguinte:
1- Via analisada;
2- Pk inicial do defeito;
3- Pk final do defeito;
4- Extensão do defeito
(Pk final - Pk inicial);
5- Tipo de defeito;
6- Amplitude máxima do defeito
(mm);
7- Pk onde foi detetada a
amplitude máxima;
8- Classe analisada;
9- Classe onde o defeito era permitido;
10- Subclasse analisada.
Figura 3.43. Relatório dos defeitos da via (REFER, 2001)
O segundo relatório designa-se relatório sumário (Figura 3.44) e nele constam o número
e extensão de defeitos de cada parâmetro nas subclasses pretendidas. As subclasses
representam (REFER, 2001):
A- Tolerâncias de receção de linhas novas ou renovadas;
B- Tolerâncias de conservação de via;
C- Tolerâncias de segurança.
Figura 3.44. Relatório sumário (REFER, 2001)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 36
O sistema de medição do perfil transversal do carril é efetuado através de equipamento
laser/ótico de 4 em 4 metros. O sistema foi concebido para que o perfil do carril seja
medido desde a ligação alma/patilha até à superfície superior da cabeça (Baldeiras,
2008). É criada uma imagem vídeo do perfil transversal, a qual é comparada
dimensionalmente com o perfil tipo. A figura gerada dá a percentagem de cabeça do
carril perdida (Figura 3.45).
Figura 3.45. Imagem do perfil transversal do carril (Baldeiras, 2008)
São também criados gráficos com o andamento dos parâmetros definidos na
configuração utilizando tolerâncias predefinidas. Nesses gráficos consta informação
relativa ao desgaste vertical e lateral dos carris esquerdo e direito. Finalmente surge
ainda o relatório dos defeitos do perfil do carril semelhante ao da geometria da via
(Figura 3.43) com a exceção da coluna da classe que, neste caso, identifica o tipo de
carril (REFER, 2001).
A inspeção do perfil transversal da via é realizada através da medição efetuada por um
sistema laser (Figura 3.46) que obtém as seguintes medidas (Fontul, 2011):
Medição do perfil do balastro;
Medição de distâncias de obstáculos ao eixo da via e a um gabarito (Figura 3.47);
Medição da altura de plataformas;
Medição da largura da entrevia.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 37
Figura 3.46. Sistema laser de medição do
perfil transversal da via (Baldeiras, 2008)
Figura 3.47. Gráfico do perfil transversal
da via (Baldeiras, 2008)
O EM 120 é ainda dotado de Radar de Prospeção (Ground Penetration Radar na
literatura inglesa) para medição da espessura de camadas e equipamento de inspeção do
desgaste ondulatório dos carris (Fontul, 2011).
Os dados obtidos pelo equipamento irão gerar relatórios que são analisados pelas
equipas de manutenção. O programa identifica os pontos onde os parâmetros medidos
não cumprem os limites de segurança. Naqueles relatórios, esses pontos serão
identificados como pontos críticos. Este veículo deixa uma marca de cor na via de
forma a facilitar a localização pontos detetados (Figura 3.48). Os pontos críticos
identificados deverão ser corrigidos de imediato, visto que o risco de descarrilamento é
elevado (Leal, 2008).
Figura 3.48. Identificação de um ponto crítico com marca de cor deixada pelo veículo
de inspeção (Lee, 2009)
A análise do estado das condições geométricas da via não é mais do que realizar a
comparação entre os parâmetros medidos e os valores das tolerâncias estabelecidas em
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 38
normas. Geralmente, os dados são analisados sob a ótica da segurança. Assim sendo as
correções são executadas imediatamente. Além disso, podem ser analisados sob a ótica
da manutenção, o que implica uma execução programada das ações (Leal, 2008).
3.5. Considerações Finais
Para realizar e programar as atividades de conservação e manutenção nas ferrovias é
necessário, antes de mais, saber quais as necessidades da via. Neste capítulo foi
abordada a temática da inspeção da via-férrea, ou seja, os procedimentos que visam a
obtenção de informação acerca do estado em que esta se encontra. É através dos
elementos recolhidos nas inspeções que se determinam quais as atividades de
manutenção/conservação que são necessárias: substituição de materiais, correção da
geometria da via, execução de limpezas, etc.
As entidades gestoras promovem inspeções a pé e em veículos motorizados. No
primeiro caso, devem ser efetuadas semanalmente para vigiar especialmente: a
existência de fissuras, ligações e fixações, juntas, zonas onde houve trabalhos há pouco
tempo, qualidade dos matérias, limpeza e desobstrução da via, etc. Ao invés destas, as
inspeções em veículos motorizados realizam-se com uma periodicidade muito mais
alargada e visam analisar o comportamento da estrutura aquando da passagem de cargas
reais, a velocidades reais.
O controlo de qualidade realizado através das inspeções visa avaliar a conformidade de
determinados parâmetros de via, especificados em normas. Os mais importantes
parâmetros de via são: a bitola, a escala ou sobrelevação ou nivelamento transversal, o
nivelamento longitudinal, o empeno e o alinhamento longitudinal. O posicionamento e
os defeitos dos carris são também fatores importantes a vigiar. Embora os parâmetros da
via sejam definidos e medidos separadamente contribuem de forma conjunta para as
condições de funcionamento da via, podendo o incumprimento de um dar origem a
problemas associados a outros.
É através da utilização de equipamentos de avaliação de via que é possível determinar
esses parâmetros e compará-los com as normas. Assim, pode verificar-se se existem
anomalias, determinar as suas causas e realizar as necessárias reparações.
Os equipamentos de avaliação de via descritos neste capítulo são: o KRAB, o RMF, o
Ultrassom, o LaserRail e o EM 120.
O KRAB é um equipamento leve e de fácil manipulação que regista e armazena os
parâmetros da via à sua passagem. O RMF regista e armazena o desgaste ondulatório. O
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 3. INSPEÇÃO DA VIA-FÉRREA
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 39
Ultrassom tem como objetivo a avaliação das condições mecânicas do carril, detetando
sinais de fadiga e fissuras internas. O LaserRail é um aparelho que monitoriza o
desgaste dos carris através de um sistema a laser que faz a leitura do perfil e o compara
com o perfil de um carril novo. Por fim, o EM 120 é um veículo pesado, bastante mais
sofisticado e a sua tecnologia permite a inspeção contínua dos parâmetros da via e a sua
comparação com os limites de tolerância definidos, assinalando os pontos críticos, o que
minimiza trabalhos desnecessários e reduz despesas. Este veículo engloba ainda a
medição do desgaste ondulatório, do perfil transversal do carril, do perfil transversal de
via e ainda inspeciona a geometria da catenária.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 40
CAPÍTULO 4 – AÇÕES DE MANUTENÇÃO
4.1. Considerações Iniciais
A realização de ações de manutenção nas superestruturas ferroviárias é essencial para
que o transporte de passageiros e mercadorias se realize em perfeitas condições de
utilização, segurança e conforto, permitindo a exploração das linhas ferroviárias nos
parâmetros de qualidade exigidos.
A superestrutura é a parte da via-férrea que recebe os impactos diretos da carga, logo
está sujeita às ações de degradação provocadas pela circulação dos veículos,
deterioração por ataque do meio ambiente, estabilidade da infraestrutura ou, ainda, pelo
facto da via estar apoiada sobre uma camada de balastro que se encontra sujeita a
deslocamentos em todas as direções.
No Capítulo 3 foram descritos métodos de avaliação do estado da via-férrea que nos
permitem aferir quais os defeitos existentes e determinar as necessidades da via, ou seja,
determinar quais as ações de manutenção que são necessárias.
Neste capítulo apresentam-se as ações de manutenção de aplicação mais corrente
utilizadas pelas entidades gestoras. Existem ações de manutenção mecânicas e manuais,
nas primeiras podem enumerar-se: a depuração do balastro ou desguarnecimento de via,
a esmerilagem, o ataque da via, a ripagem e a renovação integral da via; quanto às ações
manuais, as mais importantes tarefas são: a sabotagem, o recalce e a substituição das
travessas, e a colocação de lubrificante.
Cada ação de manutenção manual ou mecânica realiza-se com recurso a equipamentos
de manutenção manuais ou mecânicos, respetivamente. Hoje em dia, as operadoras
ferroviárias têm à disposição inúmeros equipamentos com diversos graus de
sofisticação. Existe uma tendência generalizada de cada vez mais se mecanizar a
manutenção. As versões mais modernas de alguns destes equipamentos utilizam
tecnologia laser e mecanismos controlados eletronicamente por unidades
computacionais.
4.2. Ações Mecânicas
4.2.1. Depuração do Balastro ou Desguarnecimento de Via
Depuração do balastro é a ação de realizar a substituição parcial ou total do balastro,
quando este atinge um determinado valor de contaminação, superior ao razoável.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 41
A contaminação do balastro pode ser de dois tipos: contaminação com finos (de baixo
para cima) das camadas inferiores quando não existem camadas protetoras ou estas
estão incorretamente construídas, ou contaminação (de cima para baixo) com elementos
prejudiciais como carvão, minério, areia, restos de vegetação e deterioração devido as
ações climáticas (geadas, amplitudes térmicas, humidade, etc.), como podemos verificar
na Figura 4.1.
Figura 4.1. Contaminação do balastro com partículas finas (Fortunato, 2005)
A degradação do balastro pode ainda ser consequência de outros dois fatores: o tráfego
e os trabalhos de conservação (Fortunato, 2005). No primeiro caso ocorre devido à onda
de avanço das rodas que faz a travessa levantar e voltar a ter impacto sobre o balastro.
Muitas vezes a rotura, o deslizamento e a abrasão no balastro devem-se a este tipo de
esforços dinâmicos. No caso dos trabalhos de conservação a degradação deve-se a
detritos da abrasão devida a um ataque ou a uma esmerilagem.
Para garantir o bom desempenho do balastro é essencial que este tenha boa resistência
mecânica, seja pesado, tenha forma angular com superfícies rugosas, dimensões
25/50mm e se encontre limpo (Fontul, 2011).
Esta ação pode ser realizada por equipamentos tais como: a desguarnecedora ou a
depuradora de balastro, equipamentos descritos na secção 4.4.1.
4.2.2. Esmerilagem e Fresagem dos Carris
A esmerilagem é um tipo de tratamento que se aplica aos carris. Consiste na remoção de
décimas de milímetro de material dos mesmos reduzindo ou eliminando o desgaste
ondulatório por ação de pedras de esmeril. Além de melhorar o perfil longitudinal do
carril permite ainda eliminar pequenas situações de fadiga pontual provocadas pelo
esmagamento à passagem das rodas dos veículos ferroviários (Silva, 2002).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 42
O esmeril atua tangencialmente ao perfil da cabeça do carril, variando o ângulo de
ataque, consoante o ponto de atuação no perfil. Na Figura 4.2 podemos ver o aspeto dos
equipamentos de esmerilagem.
Figura 4.2. Esmerilagem (Martins, 2010)
Presentemente as unidades esmeriladoras encontram-se aptas a esmerilar com alto
rendimento, nos casos de manutenção corretiva com mau estado da via, ou para apenas
efetuarem uma atuação preventiva com uma retificação entre 0,1 a 0,2mm. (Martins,
2010). A esmerilagem preventiva da via além de prolongar a sua vida útil reduz custos
de manutenção do material circulante (Figura 4.3).
Figura 4.3. Carril depois de esmerilado (Martins, 2010)
A esmerilagem tem como principal desvantagem, o facto de produzir partículas
contendo metal. Assim, estas unidades dispõem de aspiradores que recolhem na
esmerilagem pelo menos 70% das poeiras produzidas (Martins, 2010).
A esmeriladora é o equipamento que se utiliza para realizar a esmerilagem, a sua
descrição é apresentada na secção 4.4.2.
A fresagem é um método utilizado somente por um fabricante austríaco. Porém tem tido
algum sucesso dado o bom acabamento final do trabalho de reperfilagem, como
podemos contatar na Figura 4.4.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 43
Figura 4.4. Carril reperfilado pelo método de fresagem (Martins, 2010)
Em termos de vantagens, pode afirmar-se que no final da operação de fresagem
resultam apenas aparas, facilmente recuperadas através de um canal magnético,
evitando assim a poluição do balastro da via-férrea.
Esta metodologia apresenta algumas desvantagens: pouco económica devido ao custo
das peças da fresa. Para cada perfil diferente é necessária uma fresa diferente. É um
aparelho com grandes dimensões e o custo global destas unidades é normalmente muito
elevado, não estando por isso ao alcance de todos. Contudo, é uma alternativa ao
processo da esmerilagem (Martins, 2010).
4.2.3. Ataque de Via
O ataque de via é uma ação que consiste na colocação de balastro abaixo das travessas,
gerando elevação das mesmas, para que fiquem solidamente apoiadas. Esta operação
destina-se a colocar a via no nível correto, impedindo assim a deslocação das travessas
(CP, 1980). Depois de colocado o balastro, faz-se a sua compactação, através de
compressão interna, sujeitando-o a movimentos combinados de vibração e aperto,
eliminando assim os vazios existentes no balastro, aumentando a superfície de atrito e
colocando-o em contacto com as faces inferiores das travessas (REFER, 2012).
O equipamento destinado ao ataque de via designa-se Atacadeira e encontra-se descrito
na secção 4.4.3. Para complementar o trabalho são também necessárias as passagens de
um equipamento regularizador (secção 4.4.4) e ainda um estabilizador dinâmico de via
(secção 4.4.5).
4.2.4. Ripagem
A ripagem é um fenómeno caracterizado pelo deslocamento transversal da via (Figura
4.5), que pode ser provocado por determinados fenómenos, como por exemplo por um
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 44
aumento exagerado da temperatura ambiente (REFER, 2012). Ripar a via passa por a
deslocar lateralmente, geralmente para correção de uma curva (Fontul, 2011).
Figura 4.5. Via-férrea que sofreu deslocamento transversal [3]
4.2.5. Renovação Integral da Via (RIV)
A renovação integral da via surge quando após inspeção da via-férrea se verifica que
esta apresenta um estado de degradação bastante avançado. Concluindo-se assim que a
reabilitação por si só não é suficiente perante o estado da via, sendo então necessária a
substituição de elementos da superestrutura/infraestrutura. Quando se opta por este tipo
de ação é também devido ao facto de se revelar mais vantajoso a nível económico e de
cumprimento de prazos. A Figura 4.6 é um exemplo de renovação integral da via na
qual podemos verificar a colocação de novas travessas e novos carris.
Figura 4.6. Renovação integral da via-férrea (Plasser & Theurer, 2012)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 45
4.3. Ações Manuais
4.3.1. Sabotagem da Travessa
A sabotagem da travessa consiste em fazer um corte na madeira da travessa de modo a
proporcionar aos carris a inclinação transversal necessária, ou seja, o tombo da via
(Figuras 4.7 e 4.8).
Figura 4.7. Tombo da via
(Miranda, 2012)
Figura 4.8. Esquema do tombo
da via (Fernave, 2003)
Em Portugal, esta inclinação é de 1:20 nas vias renovadas e de 1:15 nas vias clássicas e
não renovadas.
4.3.2. Recalce da Travessa
O recalce das travessas consiste no nivelamento das mesmas com o objetivo de colocar
a via no nível correto e solidamente apoiada. Este processo realiza-se elevando a via por
meio de macacos, para um nivelamento correto controlado com auxílio de visor, mira,
régua e nível (CP, 1980).
4.3.3. Substituição da Travessa
Quando as travessas já não desempenham convenientemente a sua função devem ser
removidas e substituídas por travessas novas, assim mantem-se a linha férrea com
condições mínimas de apoio e fixação.
4.3.4. Colocação de Lubrificante
O sistema de lubrificação de carris surgiu recentemente no mercado com o objetivo de:
Atenuar o ruído proveniente do contacto roda-carril;
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 46
Melhor inscrever dinamicamente o comboio em curvas de raio reduzido que
provoca o desgaste lateral dos carris da fila exterior nas curvas e dos verdugos;
Diminuir a resistência de atrito no movimento das composições.
Para contrariar o desgaste lateral, recorre-se à lubrificação da parte lateral do carril que
entra em contato com a roda da composição, utilizando dispositivos de lubrificação, os
quais podem ser fixos (assentes na via) ou móveis (equipando as locomotivas).
O lubrificante é à base de grafite e deve possuir as seguintes propriedades:
Ter boa aderência aos verdugos;
Ter longa duração;
Ser biodegradável;
Não danificar as travessas.
A lubrificação deve ser aplicada na parte lateral interior dos carris da fila alta das curvas
e nas lanças dos aparelhos de via. O lubrificante não deve atingir a mesa de rolamento
com prejuízo de diminuir o atrito roda/carril, promovendo a patinhagem e
inviabilizando a marcha dos comboios. É de notar que a aplicação de lubrificantes não
deve retirar as condições de atrito dos comboios, capacidades de tração e frenagem,
essenciais à sua segurança. Qualquer situação deste tipo deve ser imediatamente
comunicada às entidades gestoras e reparada com urgência (Fernave, 2003).
Os sistemas de lubrificação têm como desvantagem a sua desafinação a qual leva a
excesso de depósito de massa na via que se espalha para a mesa de rolamento. Quando
esta situação ocorre torna-se necessário realizar a limpeza total da superfície de contacto
do carril, retirando a massa lubrificante com solvente. Este tipo de ocorrência diminuiu
bastante com os novos sistemas de lubrificação de acionamento elétrico com regulação
eletrónica, permitindo um doseamento adequado de massa lubrificante. Pode ainda
acontecer a obstrução do sistema de injeção. Nestes casos deve proceder-se à
desobstrução dos mesmos.
Os sistemas de lubrificação são instalados essencialmente por motivos de prevenção de
desgastes e redução de ruído e vibração. No entanto, estão também associados à redução
do desgaste ondulatório pelo facto de retardar o aparecimento de defeitos na via que
levam à sua formação.
De seguida apresentam-se os dois sistemas de lubrificação, sendo o primeiro fixo e o
segundo móvel.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 47
i. Lubrificação na Via
Este método consiste na aplicação de uma massa (Figura 4.9), semelhante à massa
consistente, através de um sistema mecânico ativado à passagem das circulações
(Figuras 4.10 e 4.11), que deposita uma carga de lubrificante na zona lateral do carril
que entra em contacto com os rodados que, por sua vez, irão distribuindo o lubrificante
ao longo do carril (REFER, 2012). A massa é transportada pelos rodados e distribuída
ao longo de uma ou várias curvas. A distância de distribuição é muito variável, havendo
exemplos de 3 a 10km em vias de sentido único e de 20km nas vias de dois sentidos
(Fernave, 2003). Esta massa modifica as características do contacto roda-carril,
atenuando o ruído derivado de atritos e contactos metálicos (Martins, 2010).
Figura 4.9. Massa lubrificante (Martins, 2010)
Figura 4.10. Colocação do lubrificador fixo de via (Fontul, 2011)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 48
Figura 4.11. Esquema do lubrificador fixo de via (Fernave, 2003)
A operação dos lubrificadores fixos de via é realizada com redução de velocidade para
os 30km/h e com dispositivo de aviso sonoro.
No nosso país a primeira entidade a instalar este processo foi o Metro do Sul do Tejo,
no ano de 2009. Foram também realizados ensaios no Metro de Lisboa, tendo-se
registado uma diminuição do ruído roda carril, confirmando-se ainda que não existe
perda de desempenho dos comboios por escassez de aderência (Martins, 2010).
ii. Lubrificação no Veículo
A lubrificação pode também ser colocada através dos comboios ou composições que
circulam na via-férrea. Este sistema é instalado nos veículos ferroviários e atua nas
zonas de curva de transição da parte cónica do plano de rolamento da roda para o
verdugo, onde existe maior incidência de desgaste e, por essa razão, verifica-se maior
alteração do perfil das rodas.
Este método de lubrificação é realizado através de um sistema do tipo “baton” (Figura
4.12), que apenas entra em contato com a roda, quando a composição estiver a
descrever uma curva. O material de lubrificação (“baton”) é constituído à base de grafite
que reduz o atrito neste ponto da roda, sujeito a maior desgaste.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 49
Figura 4.12. Lubrificadores de verdugos (Martins, 2012)
Pode também realizar-se a lubrificação através de um sistema do tipo “spray” que
vaporiza a roda de material lubrificante como demostra a figura 4.13.
Figura 4.13. Aplicação do lubrificante na roda (Mecanilub, 2012)
Considera-se que é um método indireto, por ser aplicado na roda e não no carril. A sua
aplicação de modo sistemático evita: defeitos, desgastes, alterações do perfil das rodas e
dos carris, ruído, vibração, como também o aparecimento do desgaste ondulatório.
Roda
Aplicador de
lubrificante
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 50
4.4. Equipamentos de Manutenção Mecânica
4.4.1. Desguarnecedora/Depuradora de Balastro
A desguarnecedora (figura 4.14) é uma máquina que desguarnece de balastro uma via,
em toda a sua largura, à sua passagem, ou seja, retira o balastro existente à volta e sob
as travessas, com a finalidade de o substituir, total ou parcialmente (REFER, 2012).
Este equipamento remove o balastro desgastado ou contaminado, por meio de
dispositivos que atuam por baixo da via-férrea colocando de seguida balastro limpo.
Figura 4.14. Desguarnecedora (Somafel, 2012)
A depuradora de balastro é um equipamento que realiza a limpeza do balastro,
removendo lodos e detritos que o contaminam, abrangendo 30 a 40% do balastro
(Fontul, 2011).
Muitas entidades gestoras optam por desguarnecedoras-depuradoras (Figura 4.15), ou
seja, máquinas que, além de desguarnecer de balastro a via, realizam a sua depuração
sempre que se constata que, apesar de sujo, a sua boa qualidade justifica a sua
reutilização.
Figura 4.15. Esquema de funcionamento da desguarnecedora-depuradora
(Fernave, 2003)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 51
4.4.2. Esmeriladora de Carris ou Reperfiladora
A esmeriladora de carris (Figura 4.16) é um equipamento de ação preventiva e corretiva
que atua desgastando, por atrito, a superfície da cabeça do carril, com o uso de blocos
abrasivos, seguindo-se o arrefecimento e lavagem dos carris (Figura 4.17). A utilização
deste equipamento visa dois objetivos:
Melhorar o perfil longitudinal do carril, minimizando o desgaste ondulatório;
Ajustar o perfil transversal e reorientar a faixa de rodagem adequando-as às
tensões internas do carril, removendo as fibras superficiais que apresentam
sinais de fadiga (Leal, 2008).
Figura 4.16. Esmeriladora de carris (Somafel, 2012)
Figura 4.17. Esmeriladora em funcionamento (Fontul, 2011)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 52
Pioches
4.4.3. Atacadeira
Este equipamento é também designado por atacadeira pesada de via. A sua função é
compactar balastro, através de compressão intensa pela ação dos "pioches" (Figura
4.18). Esta máquina realiza movimentos combinados de vibração e aperto, que promove
a eliminação dos vazios existentes no balastro e o aumento da superfície de atrito do
balastro entre si e com as faces inferiores das travessas (REFER, 2012).
Figura 4.18. Atacadeira
Foi na década de 60 que surgiu a atacadeira e desde então têm vindo a ser introduzidas
sucessivas melhorias que lhe permitem, hoje, assegurar simultânea e automaticamente,
além do ataque, o nivelamento longitudinal e transversal e o alinhamento em via corrida
e aparelhos de mudança de via, com rigor inferior ao milímetro (Fergrupo, 2012).
4.4.4. Regularizadora
As regularizadoras (Figura 4.19) são providas de lâminas frontais e laterais que ajustam
a secção transversal da via, removendo balastro quando em excesso, ou colocando
material quando este falta. Após as atividades de vibração, desguarnecimento ou
compactação, é importante a passagem de um equipamento regularizador (Leal, 2008).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 53
Figura 4.19. Regularizadora
4.4.5. Estabilizador Dinâmico da Via
A função deste equipamento (Figura 4.20) é a simulação de passagem de várias
toneladas de material circulante (Fergrupo, 2012), através da aplicação sobre a via de
uma combinação de vibrações horizontais com força vertical estática, obtendo-se muito
bons resultados na densificação do balastro.
Figura 4.20. Estabilizador Dinâmico da Via
4.4.6. “Stoneblower”
O “Stoneblower” (Figura 4.21) é um equipamento de uso pouco corrente, que serve para
restaurar a via-férrea realizando o seu alinhamento vertical e lateral e, ao mesmo tempo,
tem a função de uma niveladora. As ações de alinhamento e nivelamento realizam-se de
forma semelhante às da máquina vibradora. Para além destes ajustes geométricos esta
máquina está provida de um sistema que determina a quantidade necessária de balastro
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 54
sob cada travessa, colocando-o sempre que se revele essa necessidade, garantindo o
bom posicionamento dos carris e sem que ocorra perturbação da infraestrutura [4].
Figura 4.21. Stoneblower [5]
4.4.7. Máquina de Soldadura Elétrica de Carris
Trata-se de um equipamento (Figura 4.22) instalado em veículos ferroviários que utiliza
a técnica de soldagem por resistência elétrica. Este possibilita a formação de barras na
própria via, soldando segmentos de carris de 12metros, constituindo as barras longas
soldadas (BLS) (Leal, 2008).
Figura 4.22. Camião rodo-ferroviário de soldadura (Somafel, 2012)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 55
4.5.Equipamentos de Manutenção Manual
4.5.1. Martelo Compactador
O martelo compactador (Figura 4.23) destina-se a compactar o balastro para enchimento
de travessas (Fergrupo, 2012). Utiliza-se em desguarnecimentos de via manuais.
Figura 4.23. Martelo compactador (Fergrupo, 2012)
4.5.2. Tirefonadora Hidráulica
A tirefonadora hidráulica (Figura 4.24) é uma máquina cuja função é apertar e
desapertar a fixação que prende o carril às travessas. Essa fixação consiste em parafusos
especiais denominados tirafundos, destinados a fixar o carril às travessas (REFER,
2012).
Figura 4.24. Tirefonadora hidráulica (Fergrupo, 2012)
4.5.3. Esmeriladora de Carril
Na Figura 4.25 pode observar-se uma esmeriladora de carril, um equipamento destinado
a esmerilar o carril posteriormente à soldadura de forma a retirar o excesso de material e
deixar a soldadura à superfície do carril (Fergrupo, 2012).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 56
Figura 4.25. Esmeriladora manual de carril (Fergrupo, 2012)
4.6. Considerações Finais
Para realizar e programar as atividades de conservação e manutenção nas ferrovias é
necessário, antes de mais, saber quais as necessidades da via. Depois de realizadas as
inspeções da via-férrea e analisadas as patologias da mesma há que proceder à
realização das atividades de manutenção/conservação.
As ações de manutenção podem dividir-se em ações mecânicas e manuais, sendo que as
ações mecânicas recorrem a equipamentos pesados, enquanto as ações manuais utilizam
instrumentos de pequeno porte.
Nas ações de manutenção mecânicas podem enumerar-se: a depuração do balastro, a
esmerilagem, o ataque da via, a ripagem e a RIV.
A depuração do balastro consiste na substituição parcial ou total do balastro, quando
através da inspeção se determina que este atingiu um determinado valor de
contaminação. Este procedimento é realizado recorrendo a desguarnecedoras ou
depuradoras de balastro. As primeiras removem o balastro colocando de seguida
balastro limpo, enquanto as segundas realizam a limpeza do balastro, livrando-o de
detritos. Concluiu-se que muitas entidades gestoras optam por desguarnecedoras-
depuradoras, ou seja, máquinas que realizam as duas funções em simultâneo.
A esmerilagem é um tratamento que remove décimas de milímetro de material dos
carris reduzindo ou eliminando o desgaste ondulatório, este processo pode ser realizado
com esmeriladoras pesadas ou manuais.
O ataque da via é uma ação destinada a colocar a via no nível correto, consiste na
colocação de balastro abaixo das travessas, para que fiquem solidamente apoiadas
impedindo o seu deslocamento. A atacadeira é o equipamento destinado a este fim e
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 4. AÇÕES DE MANUTENÇÃO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 57
promove a compactação do balastro, seguindo-se a regularizadora que dispõe de
lâminas frontais e laterais que ajustam a secção transversal da via, removendo o balastro
quando em excesso ou colocando material quando este falta e, por fim, o estabilizador
dinâmico da via cuja função é a simulação de passagem de várias toneladas de material
circulante para densificar o balastro.
A ripagem é um fenómeno caracterizado pelo deslocamento transversal da via
proporcionado por determinados fenómenos, como um aumento exagerado da
temperatura ambiente. Ripar a via consiste em deslocar lateralmente a mesma,
geralmente para correção de uma curva.
A RIV surge quando esta já se encontra num estado muito degradado, concluindo-se
que é mais vantajoso a substituição ao invés da reabilitação, tanto para a qualidade da
via como a nível financeiro.
Quanto às ações manuais, as mais importantes tarefas são: a sabotagem, o recalce e a
substituição das travessas, e a colocação de lubrificante. A sabotagem da travessa
consiste em fazer um corte na madeira da travessa de modo a proporcionar aos carris
inclinação transversal. O recalce das travessas diz respeito ao nivelamento das mesmas
e tem como objetivo colocar a via no nível correto e solidamente apoiada. A
substituição das travessas realiza-se quando estas já não desempenham
convenientemente a sua função de apoio e fixação.
O sistema de lubrificação de carris é muito conveniente para atenuar o ruído
proveniente do contacto roda-carril, diminuir o desgaste lateral dos carris e a resistência
de atrito no movimento das composições. Estes sistemas podem ser fixos, quando
aplicados na via, ou móveis quando instalados nas composições.
Além dos equipamentos mecânicos de manutenção já enunciados, estão referenciados
neste capítulo: a reperfiladora que atua desgastando o carril por atrito, tal como a
esmeriladora mas removendo mais massa; o “Stoneblower” é um equipamento que
serve para restaurar a via-férrea realizando o seu alinhamento vertical e lateral, o seu
nivelamento, e ainda coloca balastro sob cada travessa sempre que se revele necessário;
por fim, a máquina de soldadura elétrica de carris é um equipamento destinado a soldar
segmentos de carris constituindo assim as BLS.
Quanto aos equipamentos manuais mais utilizados pode enunciar-se o martelo
compactador, que se destina a compactar o balastro para enchimento de travessas e a
tirefonadora hidráulica, uma máquina cuja função é apertar e desapertar a fixação que
prende o carril às travessas.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 58
CAPÍTULO 5 – CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
5.1. Considerações Iniciais
Este capítulo é dedicado ao que a REFER faz em Portugal na temática da manutenção
das vias-férreas, na atualidade.
Esta empresa como entidade gestora do serviço ferroviário é responsável pela prestação
do serviço público de gestão da infraestrutura da rede ferroviária nacional. As atividades
de manutenção da infraestrutura são uma preocupação da empresa sendo asseguradas
através de um planeamento estratégico, garantindo a normalização das intervenções e
procedimentos e monitorizando o cumprimento de planos de manutenção. O país está
dividido em três regiões operacionais, cada uma com vários centros de manutenção, que
têm como principal função desenvolver ou fiscalizar as ações de manutenção.
A manutenção da REFER assenta sobre três tipos de manutenção: manutenção
preventiva sistemática, manutenção preventiva condicionada e manutenção corretiva. A
manutenção preventiva sistemática que compreende: inspeções semanais, inspeções
mensais, inspeção com veículo de registo contínuo e inspeções ultrassónicas de carris.
A manutenção preventiva condicionada integra trabalhos de reabilitação planeados em
função dos resultados obtidos nos trabalhos de manutenção preventiva sistemática e, por
fim, a manutenção corretiva é destinada à correção de anomalias que necessitam de
intervenção imediata.
Na manutenção preventiva sistemática a REFER utiliza diferentes equipamentos de
inspeção: o EM120 é um veículo de inspeção geométrica da via pesado, o KRAB LIGHT
e o RMF 2.3E são equipamentos ligeiros.
Esta empresa divide as ações de conservação em três grandes grupos: revisão periódica
(prospeção, previsão da quantidade de trabalho, código dos trabalhos, programa anual
de trabalhos), intervenção pontual e renovação, que se explicarão neste capítulo.
O levantamento geométrico e análise dos parâmetros de via serão também abordados
através da apresentação do estudo de uma secção de via com 5 quilómetros numa
determinada linha. Os dados que permitem esta análise foram obtidos através do
EM 120, e dizem respeito à evolução dos parâmetros de via desde o ano de 2008 até ao
ano de 2011. Serão analisados os parâmetros da via: bitola, empeno, nivelamento
transversal e longitudinal e alinhamento.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 59
Por fim, apresentam-se exemplos de ações de manutenção realizadas pela REFER no
decorrer deste ano numa determinada via. Esta seção tem por base visitas ao terreno
para observar as características do troço e o modo de efetuar os trabalhos. O primeiro
trabalho diz respeito a uma rebalastragem e a um ataque de via, sendo que o segundo
consiste num desguarnecimento manual de via.
5.2. Entidade Gestora
Em Portugal, a entidade gestora do serviço ferroviário é a REFER. Esta empresa foi
criada em 1997 como empresa pública responsável pela prestação do serviço público de
gestão da infraestrutura integrante da rede ferroviária nacional.
Para além de garantir a fiabilidade e a segurança da circulação ferroviária, as atividades
de manutenção/conservação da infraestrutura são uma preocupação da empresa, na
medida em que esta assegura a satisfação dos mais exigentes requisitos de qualidade e
aposta na inovação e melhoria permanentes (REFER, 2012).
Todas as atividades de manutenção/conservação são asseguradas através de um
planeamento estratégico, garantindo a normalização das intervenções e procedimentos e
monitorizando o cumprimento desses planos (REFER, 2012).
As inspeções de diagnóstico são apoiadas por equipamentos e técnicas cada vez mais
evoluídas e incidem sobre: a via, pontes, túneis, catenária, energia de tração, sinalização
e geotecnia. Aquelas inspeções incluem ainda ações de observação e controle de
segurança de taludes. O veículo de inspeção de geometria de via mais importante é o
EM 120, existindo ainda os veículos de manutenção de catenária, os veículos de
inspeção de pontes, as inspeções subaquáticas de pontes, etc (REFER, 2012).
A REFER divide a gestão da rede ferroviária em três regiões operacionais:
Região Operacional do Norte;
Região Operacional do Centro;
Região Operacional do Sul.
A cada região operacional correspondem centros de manutenção. Na Tabela 5.1
apresentam-se as regiões operacionais e os respetivos centros de manutenção.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 60
Tabela 5.1. Regiões Operacionais e seus Centros de Manutenção
Região Operacional Centros de Manutenção
Norte Ermesinde e Aveiro
Centro Coimbra, Entroncamento e Lisboa
Sul Setúbal e Tunes
O Centro de Manutenção de Coimbra divide a sua gestão por diferentes áreas:
Catenária, Sinalização, Construção Civil e Via. Dentro de cada área existe uma
hierarquização de trabalhadores. No caso da Via tem-se o Engenheiro, o Especialista de
Via, três Supervisores e três Encarregados responsáveis pelas equipas de operários.
Atualmente a manutenção é realizada por mão-de-obra interna e através de serviços
contratados.
5.3. Tipos de Ações de Manutenção
5.3.1. Manutenção Preventiva Sistemática
A manutenção preventiva sistemática é a mais tradicional e compreende trabalhos de
inspeção e diagnóstico sobre equipamentos e instalações, com periodicidades pré-
definidas, ou seja, é efetuada periodicamente, independentemente do estado do
equipamento. Os seus objetivos são de conhecer as condições em que se encontram os
elementos constituintes da via e reduzir a sua probabilidade de avaria (REFER, 2012).
A manutenção preventiva sistemática traduz-se por ações de vigilância e controlo que se
destinam a detetar anomalias, antes que estas possam causar danos e visam recolher
informações de diagnóstico que permitam programar as ações de conservação. Os
aparelhos inseridos nas linhas afetas à exploração encontram-se sujeitos às seguintes
operações de vigilância e controlo (REFER, 2012):
i. Inspeção Semanal
A inspeção semanal realiza-se semanalmente pelo encarregado de via com o propósito
de detetar anomalias que comprometam a eficácia do serviço. Consiste em verificar
(Leal, 2008):
A limpeza e a lubrificação das peças móveis;
O encosto das lanças e indícios de avaria destas;
Possibilidade de contacto elétrico em juntas isolantes;
O estado das fixações;
Análise da existência de mossas, fissuras, deformações ou fraturas;
Análise da evolução dos defeitos já existentes (nivelamento, desgaste).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 61
ii. Inspeção Mensal
A inspeção mensal realiza-se por uma equipa composta por: representante da via,
representante da sinalização e representante da exploração. O seu objetivo é idêntico ao
da inspeção semanal, isto é, detetar anomalias antes que estas prejudiquem a eficiência
do serviço, mas ainda cabe à inspeção mensal as seguintes tarefas (Leal, 2008):
Análise do funcionamento dos aparelhos de mudança de via;
Medição da bitola;
Verificação dos elementos de encravamento, como por exemplo as agulhas.
iii. Controlo com Veículo de Registo Contínuo
A inspeção com veículo de registo contínuo permite à sua passagem a medição e registo
em contínuo dos parâmetros da via. Através da comparação desses valores com os
valores típicos para esses parâmetros detetam-se os defeitos da via, Seguidamente
procede-se ao planeamento das atividades de manutenção e, por fim, realiza-se a
reparação.
Este procedimento realiza-se pelo menos duas vezes por ano em toda a via embora
dependa de dois fatores: a importância da via e condicionantes que determinem que o
intervalo entre cada controlo deva ser menor. Na atualidade, o controlo entre Lisboa e
Porto realiza-se trimestralmente (Cacho, 2009). O EM 120 é o equipamento utilizado
em Portugal e encontra-se descrito em 3.4.5.
iv. Inspeções Ultrassónicas de Carris
As inspeções ultrassónicas de carris destinam-se a detetar fissuras internas nos carris
(Fernave, 2003).
5.3.2. Manutenção Preventiva Condicionada
A manutenção preventiva condicionada integra trabalhos de regeneração planeados em
função de observações, diagnósticos ou inspeções obtidos nos trabalhos de manutenção
preventiva sistemática, isto é, aquele tipo de manutenção é efetuado na sequência da
deteção de um estado não ideal de funcionamento de um determinado equipamento, de
modo a garantir a funcionalidade e a aptidão dos equipamentos e instalações. A
manutenção preventiva condicionada não afeta a exploração nem põe em causa as
condições de segurança (REFER, 2012).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 62
Este tipo de trabalhos apresenta relativa urgência devido ao grau de danificação dos
materiais. Perante uma anomalia com alguma gravidade que pode ser controlada com
uma intervenção imediata, frequentemente surge o problema de não haver recursos
(mão-de-obra e equipamentos) que permitam a sua rápida reparação, o que origina o
agravamento da situação, podendo passar-se para uma manutenção corretiva.
São exemplos de patologias ligadas a este tipo de manutenção os seguintes casos
(Cacho 2009):
Fixações que já passaram do prazo de validade;
Carril fora de condições;
Travessas e ligações que induzem defeitos na via.
5.3.3. Manutenção Corretiva
A manutenção corretiva é destinada a reparar avarias ou incorretos funcionamentos
ocorridos em serviço, destinando-se à correção de anomalias que não podem aguardar
pela próxima revisão periódica ou substituição do material, obtendo-se assim as
condições de funcionamento ideais (REFER, 2012).
Os responsáveis da via são defrontados com defeitos graves na infraestrutura que
necessitam de intervenção imediata. Algumas patologias que este tipo de manutenção
resolve são (Cacho 2009):
Carris e fixações que partem;
Aparelhos que não se movimentam;
Travessas dançantes.
5.4. Ações de Conservação
5.4.1. Revisão Periódica
A revisão periódica é uma operação que se baseia na verificação de todos os elementos
deterioráveis da via, reparação e eventual substituição dos que se apresentarem
degradados. Posteriormente segue-se a passagem de equipamentos de nivelamento e
alinhamento da via.
Esta operação realiza-se por troços com uma periodicidade a definir pela entidade
gestora e depende das necessidades evidenciadas em diagnóstico, elaborado com base
nos relatórios das ações de vigilância e controlo supramencionadas e, ainda, dos meios
disponíveis (Fernave, 2003).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 63
A revisão periódica integra as seguintes definições:
Prospeção
Com antecedência de alguns meses, efetua-se uma inspeção onde são anotados os
materiais a substituir e os trabalhos a executar.
Previsão da quantidade de trabalho
O responsável da conservação elabora uma previsão da quantidade de materiais e de
horas de trabalho necessárias para a revisão do troço em causa baseando-se nos
resultados da prospeção.
Código dos trabalhos
O código dos trabalhos é realizado para facilitar a organização, sendo que a cada uma
das tarefas de conservação corresponde um número (código) que possibilita a sua
identificação e contabilização mais rapidamente.
Programa Anual de trabalhos
Para cada equipa de via, todos os anos é feito um plano geral de atividades que
contempla o programa de revisão periódica e outros trabalhos previstos. Neste
documento encontra-se o volume de horas estimado para os trabalhos de intervenção
pontual.
São exemplos de trabalhos de revisão periódica (Fernave, 2003):
Verificação e lubrificação de juntas;
Regularização de folgas e correção do desquadramento de juntas;
Retificação do assentamento e correção do desquadramento das travessas;
Retificação da inclinação transversal dos carris;
Retificação da bitola e consolidação da pregação,
Substituição de travessas;
Conservação dos elementos de fixação elástica;
Nivelamento e alinhamento.
5.4.2. Intervenção Pontual
A intervenção pontual tem a finalidade de corrigir anomalias que não podem aguardar
até à próxima revisão periódica.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 64
São exemplos de trabalhos de intervenção pontual:
Reparação de fraturas e deformações;
Verificação e lubrificação de juntas;
Corte de rebarbas em juntas isolantes;
Aperto e substituição de parafusos;
Nivelamento e alinhamento;
Limpeza da via.
5.4.3. Renovação
A renovação caracteriza-se pelo conjunto de tarefas que tem por objetivos a substituição
total ou parcial dos materiais da via, com ou sem ajustamentos do seu traçado. A sua
ciclicidade é de 20/30 anos e é influenciada pela degradação dos materiais e da
plataforma, pelo desenvolvimento de novas tecnologias e pelas crescentes necessidades
em termos de velocidade, intensidade de tráfego e conforto (REFER, 2012).
5.5. Equipamento de Inspeção de Via
Os parâmetros de via são medidos e registados em contínuo por intermédio de
sofisticados equipamentos. A REFER detém vários equipamentos para esse efeito, que
se dividem em equipamentos pesados e equipamentos ligeiros. O EM120 é um veículo
de inspeção geométrica da via pesado, enquanto o KRAB LIGHT e o RMF 2.3E são
equipamentos ligeiros.
5.6. Levantamento Geométrico e Análise dos Parâmetros de Via
De seguida apresenta-se o estudo de uma secção de via com 5 quilómetros numa linha
da rede da REFER, a qual é utilizada neste documento como caso prático. Os dados que
permitem esta análise foram obtidos através do EM 120 que realiza duas campanhas de
inspeção por ano nesta via. A análise diz respeito à evolução dos parâmetros de via
desde o ano de 2008 até ao ano de 2011. Apresentam-se os dados relativos aos
parâmetros da via (bitola, empeno, nivelamento transversal e longitudinal, e
alinhamento) para a 1ª Campanha de 2008, 1ª e 2ª Campanhas de 2009, 1ª Campanha de
2010 e 1ª Campanha de 2011.
Todos os parâmetros de via são registados num ficheiro que apresenta as medições de
25 em 25 centímetros. Para facilidade de apresentação de resultados, selecionaram-se
dados para a bitola, empeno e nivelamento transversal de 50 em 50 metros
representados nas Figuras 5.1, 5.3 e 5.5. Para ser possível mostrar com maior detalhe a
evolução da bitola e do empeno, apresentam-se também dados de uma secção com 20
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 65
metros de extensão (Figuras 5.2 e 5.4), com informação recolhida com um espaçamento
de 25 centímetros. O alinhamento e o nivelamento longitudinais apresentam-se nas
Figuras 5.6 a 5.9 e dizem respeito a medições de 200 em 200 metros. Estes parâmetros
são representados em termos de desvio padrão (DP), o que permite associar-lhes um
nível de qualidade geométrico. Para os restantes indicadores os valores apresentados são
os realmente medidos pelos equipamentos.
Figura 5.1. Evolução da bitola nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011
Figura 5.2. Evolução da bitola nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 no intervalo
[4310; 4330] m com medições de 25 em 25 cm
Na figura 5.2. pode ver-se uma ampliação do
intervalo: [4310 – 4330] m
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 66
Na Figura 5.4. pode ver-se uma ampliação do
intervalo: [1030 – 1050] m
Figura 5.3. Evolução do empeno nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011
Figura 5.4. Evolução do empeno nas campanhas realizadas entre 2008 e 2011 no
intervalo [1030; 1050] m com medições de 25 em 25 cm
Figura 5.5. Evolução do nivelamento transversal esquerdo nas campanhas realizadas
entre 2008 e 2011
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 67
Figura 5.6. Evolução do DP do nivelamento longitudinal esquerdo nas campanhas
realizadas entre 2008 e 2011
Figura 5.7. Evolução do DP do nivelamento longitudinal direito nas campanhas
realizadas entre 2008 e 2011
Figura 5.8. Evolução do DP do alinhamento longitudinal esquerdo nas campanhas
realizadas entre 2008 e 2011
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 68
Figura 5.9. Evolução do DP do alinhamento longitudinal direito nas campanhas
realizadas entre 2008 e 2011
Da visualização das figuras observa-se que foi realizada uma ação de manutenção, neste
caso uma RIV, entre a 2ª campanha de 2009 e a 1ª campanha de 2010. Como foi
referido anteriormente é através da análise dos gráficos e dados do EM 120 que se
obtém a avaliação dos níveis de qualidade dos troços, a qual permite decidir sobre a
necessidade de intervenção em determinados troços. As avaliações têm como base um
documento interno onde constam as tolerâncias dos parâmetros geométricos de via.
Essas tolerâncias são função da classe da via e a classe depende da velocidade à qual se
pode circular na mesma. A análise do estado geométrico da via consiste em comparar os
parâmetros medidos com as tolerâncias definidas para cada parâmetro. São
considerados três tipos de tolerâncias (REFER, 2009):
Tolerâncias de alerta Correspondem ao valor do parâmetro geométrico que,
quando atingido, origina que o troço em questão seja incluído na programação
de trabalhos de manutenção. A sua definição é da responsabilidade do órgão de
manutenção e tem em conta os limites escolhidos e os meios disponíveis;
Tolerâncias de intervenção Correspondem ao valor do parâmetro geométrico
que, quando atingido, origina que o troço a curto prazo seja alvo de ações de
manutenção, impedindo que a tolerância de ação imediata seja atingida;
Tolerâncias de ação imediata Correspondem ao valor do parâmetro geométrico
que nunca deveria ser atingido. Obriga a que o defeito em questão seja alvo de
correção imediata, ou que o respetivo troço seja sujeito a redução de velocidade
ou interdição.
Nas Figuras 5.10 a 5.14 representa-se a bitola em cada campanha e as respetivas
tolerâncias em função da classe da via. Representam-se as tolerâncias de alerta a verde,
as tolerâncias de intervenção a amarelo e as tolerâncias de ação imediata a vermelho.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 69
Na 1ª Campanha de 2008 (Figura 5.10) a classe da via é a V, o que corresponde a
velocidade de operação entre 40 e 80 km/h. A análise desta secção de via no que se
refere à bitola, comparando os parâmetros medidos com as tolerâncias definidas,
permite concluir que há necessidade de se intervir imediatamente na via dado que o
patamar vermelho é ultrapassado.
Após a 1ª Campanha de 2008 realizaram-se algumas operações pontuais de correção de
bitola, tendo sido possível manter a classe da via até à 2ª Campanha de 2008 (Figura
5.11). Porém, em 2009 houve necessidade de baixar a classe da via para a classe VI e,
por consequência, limitar a velocidade máxima a 40 km/h. Para resolver este problema,
foi realizada uma RIV após a 2ª Campanha de 2009 cujos resultados são visíveis na
Figura 5.14.
Figura 5.10. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2008 e tolerâncias da classe V
Figura 5.11. Representação da bitola na 2ª Campanha de 2008 e tolerâncias da classe V
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 70
Figura 5.12. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2009 e tolerâncias da classe VI
Figura 5.13. Representação da bitola na 2ª Campanha de 2009 e tolerâncias da classe VI
Figura 5.14. Representação da bitola na 1ª Campanha de 2010 e tolerâncias da classe VI
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 71
Na Figura 5.15 representa-se o empeno e as respetivas tolerâncias em função da classe
da via. As tolerâncias para o empeno são as mesmas para as classes V e VI pelo que
podem apresentar-se todas as campanhas apenas num gráfico. Através da análise da
figura constata-se que este parâmetro cumpre os requisitos do nível de alerta. Contudo,
com a ação de manutenção que decorreu entre a 2ª Campanha de 2009 e a 1ª Campanha
de 2010 as melhorias são evidentes, passando de valores de +/-5mm para valores
próximos de zero.
Figura 5.15. Representação do empeno e tolerâncias da classe VI/ V
Relativamente ao alinhamento e nivelamento longitudinais a análise faz-se em termos
de DP, podendo ser efetuada de duas formas distintas, consoante o objetivo:
Avaliação dos níveis de qualidade dos troços;
Avaliação com intuito de propor intervenções em troços, com recurso a ataque
mecânico pesado (AMP).
No primeiro caso, calcula-se a média dos DP das filas esquerda e direita, tanto para o
alinhamento como para o nivelamento longitudinal. O nível de qualidade (QN)
geométrica de uma determinada secção de 200 metros assume-se como o pior dos
resultados obtidos (ou o QN associado ao DP do alinhamento, ou o QN associado ao DP
do nivelamento longitudinal).
Para definir troços para AMP, recorremos a considerações ligeiramente diferentes.
Assume-se que o DP do alinhamento é o de menor valor (fila esquerda ou direita). No
caso do nivelamento longitudinal, assume-se que o DP é o de maior valor (fila esquerda
ou direita). Também neste caso, o resultado da secção de 200 m é assumido como o pior
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 72
dos resultados obtidos (ou o QN associado ao DP do alinhamento, ou o QN associado
ao DP do nivelamento longitudinal).
A explicação para se escolher o menor valor do alinhamento e o maior valor do
nivelamento consiste no facto de o AMP corrigir alinhamentos e nivelamentos mas não
corrigir a bitola. Deste modo, antes de realizar o AMP há que corrigir a bitola. Após
esta correção os defeitos no alinhamento tornam-se menos graves podendo até em
alguns casos ficar dentro das tolerâncias, daí o facto de se poder escolher o menor valor
do alinhamento.
Tomemos como exemplo a 2ª Campanha de 2009 para a qual se vai calcular o QN para
cada secção de 200 metros. O QN é atribuído através das tolerâncias da Tabela 5.2,
sendo função da classe de via e consequentemente da velocidade da mesma.
Tabela 5.2. Níveis de qualidade geométrica do DP para nivelamento e alinhamento
longitudinais (REFER, 2009)
Níveis de Qualidade Geométrica – Desvio Padrão (QN´s)
Velocidade Desvio padrão (mm) Níveis de qualidade
Classe (km/h) Niv. Longitudinal Alinhamento
VI V ≤ 40
σ ≤ 3.3 σ ≤ 2.1 QN1
3.3 < σ < 4.29 2.1 < σ < 2.73 QN2
σ ≥ 4.29 σ ≥ 2.73 QN3
V 40 < V ≤ 80
σ ≤ 3.0 σ ≤ 1.8 QN1
3.0 < σ < 3.9 1.8 < σ < 2.34 QN2
σ ≥ 3.9 σ ≥ 2.34 QN3
IV 80 < V ≤ 120
σ ≤ 2.7 σ ≤ 1.5 QN1
2.7 < σ < 3.51 1.5 < σ < 1.95 QN2
σ ≥ 3.51 σ ≥ 1.95 QN3
III 120 < V ≤ 160
σ ≤ 2.4 σ ≤ 1.3 QN1
2.4 < σ < 3.12 1.3 < σ < 1.69 QN2
σ ≥ 3.12 σ ≥ 1.69 QN3
II 160 < V 230
σ ≤ 1.9 σ ≤ 1.1 QN1
1.9 < σ < 2.47 1.1 < σ < 1.43 QN2
σ ≥ 2.47 σ ≥ 1.43 QN3
I V > 230
σ ≤ 1.5 σ ≤ 1.0 QN1
1.5 < σ < 1.95 1.0 < σ < 1.3 QN2
σ ≥ 1.95 σ ≥ 1.3 QN3
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
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Daniela Dias Rodrigues 73
Na Tabela 5.3 apresentam-se os dados do DP do nivelamento e alinhamento
longitudinais em cada secção de 200 metros. Este tipo de dados é gerado com base nas
medições realizadas pelo EM 120.
Tabela 5.3. Dados DP do nivelamento e alinhamento longitudinais da 2ª Campanha de
2009 (Dados cedidos pela REFER)
DE
(Km)
A
(Km)
TOTAL
(m)
Nivelamento
longitudinal
esquerdo (mm)
Nivelamento
longitudinal
direito (mm)
Alinhamento
longitudinal
esquerdo (mm)
Alinhamento
longitudinal
direito (mm)
0,0 0,2 200 3,3 3,6 2,7 2,4
0,2 0,4 200 3,2 2,9 1,7 2,2
0,4 0,6 200 2,6 3,1 2,2 2,5
0,6 0,8 200 4,4 4,5 2,5 2,4
0,8 1,0 200 3,4 3,4 3,0 2,5
1,0 1,2 200 4,2 4,0 2,8 2,6
1,2 1,4 200 3,1 3,0 2,0 1,7
1,4 1,6 200 2,9 3,0 2,4 2,0
1,6 1,8 200 3,2 2,5 2,3 2,0
1,8 2,0 200 3,1 2,8 2,4 2,6
2,0 2,2 200 2,4 2,4 1,9 2,1
2,2 2,4 200 2,7 2,9 3,0 2,4
2,4 2,6 200 2,9 2,9 3,4 3,2
2,6 2,8 200 2,4 3,1 3,7 3,9
2,8 3,0 200 3,4 4,1 4,4 3,8
3,0 3,2 200 2,8 2,4 2,7 2,9
3,2 3,4 200 2,0 1,8 3,1 2,9
3,4 3,6 200 4,0 4,2 4,4 4,0
3,6 3,8 200 3,0 3,1 4,0 3,4
3,8 4,0 200 3,8 3,9 3,8 4,0
4,0 4,2 200 3,9 3,9 4,3 3,1
4,2 4,4 200 2,8 3,0 5,7 4,9
4,4 4,6 200 2,1 3,0 3,7 2,8
4,6 4,8 200 2,4 3,4 4,4 3,5
4,8 5,0 200 3,8 4,6 3,1 2,4
Na Tabela 5.3 apresenta-se a análise dos dados do DP para determinar o QN e o nível de
necessidade de AMP. Para avaliar o QN do troço calcula-se a média dos indicadores,
para o nivelamento e para o alinhamento, por exemplo, para a primeira secção temos:
DP Niv = (3,3 + 3,6) / 2 = 3,45 mm
DP Alin = (2,7 + 2,4) / 2 = 2,55 mm.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
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Por outro lado, para avaliar o nível de necessidade de AMP assume-se o maior valor de
nivelamento e o menor valor de alinhamento, assim:
DP Niv = maior (3,3; 3,6) = 3,6 mm
DP Alin = menor (2,7; 2,4) = 2,4 mm
Com base na informação indicada na Tabela 5.2 e sabendo que a classe da via é a VI
podem definir-se os níveis de qualidade geométrica para as duas situações.
Nível de qualidade do troço (QN):
DP Niv = 3,45 mm, como: 3,3 < σ < 4,29, então QN2
DP Alin = 2,55 mm, como: 2,1 < σ < 2,73, então QN2
Como os níveis são iguais, então conclui-se que o nível de qualidade é o QN2. Se
fossem diferentes escolher-se-ia o mais desfavorável.
Nível de necessidade de AMP (QN):
DP Niv = 3,6 mm, como: 3,3 < σ < 4,29, então QN2
DP Alin = 2,4 mm, como: 2,1 < σ < 2,73, então QN2
Como os níveis são iguais, então conclui-se que o nível de qualidade é o QN2.
Da análise da Tabela 5.4 conclui-se que nos 5 quilómetros de via analisados na
2ªCampanha de 2009, mais de metade da sua extensão apresenta um nível de qualidade
QN3. Após esta campanha (2ªCampanha de 2009) foi promovida uma ação de
manutenção (RIV) na qual mudaram as travessas de madeira para monobloco e também
de linha com juntas para BLS.
Deste modo, a via voltou a garantir os parâmetros de via nos limites de tolerância, tendo
passado da classe VI à classe III, o que permitiu aumentar a velocidade de circulação.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
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Daniela Dias Rodrigues 75
Tabela 5.4. Análise dos dados DP para determinar o QN e o nível necessidade de AMP
(Dados cedidos pela REFER)
Com Base na Média Niv. Max.|Alin. Min.
DE
(Km)
A
(Km)
TOTAL
(m)
DP
Niv.
DP
Alin.
Nivel
Qualidade
DP
Niv.
DP
Alin.
Nivel
AMP
0,0 0,2 200 3,45 2,55 QN2 3,6 2,4 QN2
0,2 0,4 200 3,05 1,95 QN1 3,2 1,7 QN1
0,4 0,6 200 2,85 2,35 QN2 3,1 2,2 QN2
0,6 0,8 200 4,45 2,45 QN3 4,5 2,4 QN3
0,8 1,0 200 3,4 2,75 QN3 3,4 2,5 QN2
1,0 1,2 200 4,1 2,7 QN2 4,2 2,6 QN2
1,2 1,4 200 3,05 1,85 QN1 3,1 1,7 QN1
1,4 1,6 200 2,95 2,2 QN2 3 2 QN1
1,6 1,8 200 2,85 2,15 QN2 3,2 2 QN1
1,8 2,0 200 2,95 2,5 QN2 3,1 2,4 QN2
2,0 2,2 200 2,4 2 QN1 2,4 1,9 QN1
2,2 2,4 200 2,8 2,7 QN2 2,9 2,4 QN2
2,4 2,6 200 2,9 3,3 QN3 2,9 3,2 QN3
2,6 2,8 200 2,75 3,8 QN3 3,1 3,7 QN3
2,8 3,0 200 3,75 4,1 QN3 4,1 3,8 QN3
3,0 3,2 200 2,6 2,8 QN3 2,8 2,7 QN2
3,2 3,4 200 1,9 3 QN3 2 2,9 QN3
3,4 3,6 200 4,1 4,2 QN3 4,2 4 QN3
3,6 3,8 200 3,05 3,7 QN3 3,1 3,4 QN3
3,8 4,0 200 3,85 3,9 QN3 3,9 3,8 QN3
4,0 4,2 200 3,9 3,7 QN3 3,9 3,1 QN3
4,2 4,4 200 2,9 5,3 QN3 3 4,9 QN3
4,4 4,6 200 2,55 3,25 QN3 3 2,8 QN3
4,6 4,8 200 2,9 3,95 QN3 3,4 3,5 QN3
4,8 5,0 200 4,2 2,75 QN3 4,6 2,4 QN3
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 76
5.7. Trabalhos Acompanhados
5.7.1. Caso Prático 1
O caso prático 1 diz respeito a um AMP de via numa extensão de 800 metros. Os
principais objetivos prendem-se com a correção de uma curva (alinhamento,
nivelamento) bem como a recolocação do balastro debaixo das travessas.
Estes trabalhos de manutenção realizaram-se numa determinada linha portuguesa
propriedade da REFER cujos trabalhos foram subempreitados a uma unidade prestadora
de serviços que colabora com a REFER. Todos os trabalhos foram realizados com
equipamento dessa empresa. Dado o tipo de trabalho, houve necessidade de pedir uma
interdição noturna de via, não tendo havido circulação de outros comboios até ao final
da obra.
Ao longo do tempo é normal que o nível de balastro varie, pelo que para manter as suas
funções é necessária a sua regularização. O balastro permite o nivelamento, o
alinhamento e ainda a imobilização da superestrutura da via. Inicialmente realiza-se um
estudo prévio no qual se assinalam os quilómetros e as zonas onde há falta de balastro.
Este é transportado em vagões próprios, balastreiros (Figura 5.16), munidos de
aberturas no fundo que permitem a descarga direta do balastro no leito da via (Figuras
5.17 e 5.18). Depois da descarga de balastro, a via fica com o aspeto representado na
Figura 5.19.
Figura 5.16. Balastreiro Figura 5.17. Descarga de balastro
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 77
Figura 5.18. Esquema da descarga de
balastro (Fernave, 2003)
Figura 5.19. Via depois da descarga de
balastro
Estes procedimentos que permitiram nivelar, alinhar, regularizar e estabilizar a via. Para
este processo recorre-se a três equipamentos: atacadeira, regularizadora e veículo
estabilizador dinâmico. A atacadeira eleva a via, introduzindo balastro debaixo das
travessas e consolidando-o através de vibração. Este equipamento realiza também o
nivelamento e alinhamento da via. Numa primeira fase a atacadeira percorreu os 800
metros da via que era necessário atacar, desde o ponto exato do início da curva a
corrigir, de modo a obter os desalinhamentos e desnivelamentos através de um sistema
de inspeção laser. Numa segunda fase, a atacadeira voltou a posicionar-se no ponto
inicial da curva e deu-se início à fase de ataque de via. Com os dados recolhidos na
primeira fase, o equipamento foi programado para corrigir o alinhamento e o
nivelamento da via nos pontos defeituosos, sendo o ataque realizado em toda a extensão
(Figura 5.20). Ao mesmo tempo que a atacadeira realizou o seu trabalho, o sistema de
inspeção laser leu novamente o estado em que ficou a via atacada e gerou um gráfico de
dados através de equipamento instalado na cabine da mesma (Figura 5.21). Após a
passagem da atacadeira o balastro ficou com o aspeto representado na Figura 5.22,
seguindo-se a fase da regularização.
Figura 5.20. Atacadeira em funcionamento
Saída de
balastro
Pioches
Equipamento de
alinhamento
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
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Daniela Dias Rodrigues 78
Figura 5.21. Cabine da atacadeira
Figura 5.22. Balastro depois da
ação da atacadeira
O balastro foi regularizado com uma regularizadora que se deslocou lentamente sobre a
via e arrastou o balastro das zonas em excesso para as zonas em falta, uniformizando
todo o leito e definindo a banqueta (Figura 5.23).
Na extremidade do equipamento existe um sistema de limpeza (Figura 5.24) que
removeu o balastro que se encontrava na patilha do carril ou por cima das travessas. No
final da passagem deste equipamento a via-férrea ficou com o aspeto da Figura 5.25.
Figura 5.23. Regularizadora em
funcionamento
Figura 5.24. Sistema de limpeza da
regularizadora
Gráfico após AMP
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análise de casos práticos
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Figura 5.25. Via-férrea depois da ação da regularizadora
A fase final consistiu na estabilização da via recorrendo ao veículo estabilizador
dinâmico que vibra a estrutura (Figura 5.26), simulando a passagem de algumas dezenas
de milhares de toneladas de circulações. É com esta operação que se completa o
encastramento das travessas no balastro e a imobilização da via.
Figura 5.26. Sistema de estabilização do Veículo Estabilizador Dinâmico
5.7.2. Caso Prático 2
O caso prático 2 diz respeito a uma ação de depuração manual do balastro, ou
desguarnecimento manual de via como é corrente dizer-se na gíria ferroviária. Optou-se
por uma ação manual ao invés de utilizar equipamento pesado, como é o caso da
desguarnecedora de via, devido ao facto de se tratar de uma extensão de apenas 42
metros e também pelo facto de ser um trabalho muito dispendioso. O principal objetivo
deste trabalho foi a substituição do balastro e dos detritos por balastro limpo.
Estes trabalhos de manutenção realizaram-se numa linha portuguesa propriedade da
REFER cujos trabalhos foram subempreitados a uma empresa prestadora de serviços,
recorrendo a equipamento desta empresa. Dado o tipo de trabalho, houve necessidade de
pedir interdição noturna de via durante os 8 dias em que decorreu a obra, sendo que não
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 80
houve circulação de outros comboios até ao final da mesma em cada noite. Durante o
dia os comboios circularam com limitação de velocidade naquela zona.
O balastro colmatado transforma-se numa estrutura muito rígida em tempo seco e num
lamaçal em tempo húmido. Assim, a realização de qualquer trabalho de manutenção não
resulta devido à instabilidade das travessas. Os trabalhos de nivelamento e de
alinhamento também não têm qualquer resultado prático em tempo húmido e resultam
pouco em tempo seco. Deste modo há que recorrer à depuração do balastro como
condição prévia para o sucesso de qualquer outro trabalho de manutenção.
A necessidade de realização desta obra foi detetada através de uma inspeção visual. À
superfície aparecia uma grande quantidade de finos como podemos ver nas Figuras 5.27
e 5.28.
Figura 5.27. Local da intervenção aquando da inspeção (Imagens cedidas pela REFER)
Figura 5.28. Local da intervenção no dia da obra (balastro contaminado com finos)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 81
O primeiro passo do desguarnecimento manual de via passa por desapertar as fixações e
remover algumas travessas para que a escavadora giratória possa retirar a totalidade do
balastro e dos detritos até à profundidade de 30 cm abaixo da base da travessa, tendo o
cuidado de deixar o fundo com inclinação para escoamento das águas (Figura 5.29). Os
detritos são colocados numa dresina que os transporta até à estação, local onde são
colocados em camiões e levados a vazadouro (Figura 5.30).
Depois de retirado o balastro, a travessa é colocada no seu lugar e apertam-se as
fixações com uma terifonadora (Figura 5.31). É ainda colocado um rolo de geotêxtil,
por baixo do balastro novo, no topo da fundação, com o objetivo de impedir a passagem
dos finos para o balastro (Figura 5.32). De seguida coloca-se o balastro novo e executa-
se um ataque manual de via com recurso a martelos compactadores (Figura 5.33). Este
processo é repetido até ao final do troço que se pretende desguarnecer. Por fim, realiza-
se um ataque de via pesado com recurso à atacadeira e, finalmente, a via pode entrar em
funcionamento reestabelecendo a velocidade normal.
Figura 5.29. Remoção do balastro com a
giratória
Figura 5.30. Dresina para transporte do
balastro e detritos
Giratória Dresina
Balastro e
e detritos
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 82
Figura 5.31. Aperto de fixações com
terifonadora
Figura 5.32. Colocação do geotêxtil e do
balastro novo
Figura 5.33. Ataque manual do balastro com martelo compactador
5.8. Considerações Finais
Neste capítulo foi realizado uma revisão sobre a temática da manutenção/conservação
em vias-férreas que a REFER realiza habitualmente.
Esta empresa dá grande importância à manutenção preventiva sistemática, apresentando
um alargado leque de trabalhos de inspeção que realiza com periodicidades definidas,
Aperto de
fixações
Geotêxtil
Balastro
novo
Martelo
compactador
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 83
tendo o objetivo de analisar a rede, determinar os pontos fracos e definir uma estratégia
de atuação. Por outro lado, a manutenção preventiva condicionada integra trabalhos de
reabilitação planeados em função dos resultados obtidos nos trabalhos de manutenção
preventiva sistemática. Por vezes, estas anomalias não são reparadas de imediato por
falta de mão-de-obra e equipamentos, originando o agravamento da situação, podendo
passar-se para uma manutenção corretiva.
Concluiu-se que a REFER divide as ações de conservação em três parcelas: revisão
periódica, intervenção pontual e renovação. A revisão periódica consiste na verificação
de todos os elementos deterioráveis da via, reparação e eventual substituição com
posterior nivelamento e alinhamento da via. Esta ação integra as seguintes definições:
prospeção (inspeção onde são anotados os materiais a substituir e os trabalhos executar),
previsão da quantidade de trabalho (previsão da quantidade de materiais e de horas de
trabalho necessárias), código dos trabalhos (a cada uma das tarefas de conservação
corresponde um número que possibilita a sua identificação e contabilização), programa
anual de trabalhos (para cada equipa de via, anualmente, é feito um plano geral de
atividades que contempla o programa de revisão periódica e outros trabalhos previstos).
A intervenção pontual tem a finalidade de corrigir anomalias que não podem aguardar
até à próxima revisão periódica. A renovação realiza-se apenas em ciclos de 20/30 anos
e caracteriza-se pelo conjunto de tarefas que tem por objetivos a substituição total ou
parcial dos materiais da via, com ou sem ajustamentos do seu traçado. A sua ciclicidade
é de 20/30 anos e é influenciada pela degradação dos materiais e da plataforma, pelo
desenvolvimento de novas tecnologias e pelas crescentes necessidades em termos de
velocidade, intensidade de tráfego e conforto.
Para completar este trabalho a REFER disponibilizou alguns dados de inspeção do
veículo de medição, EM 120, de um troço de 5 quilómetros da rede. Através desses
dados e da sua análise foi possível concluir que este tipo de equipamento é
indispensável na avaliação do estado da rede e também para que possam ser
programadas as ações de manutenção. Os parâmetros geométricos são registados de 25
em 25 centímetros originando uma ótima base de dados para análise. Para facilidade de
apresentação de resultados selecionaram-se dados para a bitola, empeno e nivelamento
transversal de 50 em 50 metros e, para se perceber melhor o andamento dos gráficos,
apresenta-se também para a bitola e empeno uma ampliação dos gráficos para uma
secção de 20 metros.
Com base nos dados do EM 120, são gerados ficheiros com valores do desvio padrão
para o alinhamento e o nivelamento longitudinais para secções de 200 metros. Através
do desvio padrão é possível associar à via um nível de qualidade geométrico com vista a
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 84
dois fins: avaliar o estado da rede ou avaliar a necessidade de AMP. Esse nível de
qualidade rege-se com base nas tolerâncias de cada parâmetro geométrico. As
tolerâncias dependem da classe da via, ou seja, da velocidade máxima da mesma. São
considerados três tipos de tolerâncias: tolerâncias de alerta, tolerâncias de intervenção e
tolerâncias de ação imediata. As tolerâncias de alerta correspondem ao valor do
parâmetro geométrico que dá origem a que o troço em questão seja incluído na
programação de trabalhos de manutenção. As tolerâncias de intervenção correspondem
ao valor do parâmetro geométrico que origina ações de manutenção no troço a curto
prazo, para evitar atingir as tolerâncias de ação imediata, as quais correspondem a um
valor do parâmetro geométrico que nunca deveria ser atingido, obrigando a uma
correção, redução de velocidade ou interdição do troço.
Pela sobreposição dos gráficos dos diferentes anos para os diversos parâmetros
geométricos constatou-se que a REFER realizou uma ação de manutenção naquela via
entre 2ª Campanha de 2009 e a 1ª Campanha de 2010, pois o comportamento os
parâmetros geométricos passa de bastante instável para constante. Essa ação de
manutenção consistiu numa RIV com mudança de travessas de madeira para monobloco
e substituição de linha com juntas para BLS. É de notar que aquele troço foi sofrendo
limitações de velocidade e, consequentemente, alterações de classe até à data da
realização da manutenção. Porém, após esta ter sido efetuada, a velocidade normal foi
retomada e a classe melhorada.
Dos trabalhos acompanhados e das conversas com os responsáveis da via foi possível
definir a atuação da REFER relativamente à conservação. Foram acompanhadas duas
ações de manutenção: a primeira consistiu num ataque de via numa extensão de 800
metros; a segunda diz respeito a um desguarnecimento de via em 42 metros, sendo que
todos os trabalhos foram subempreitados e com interdição noturna de via.
O primeiro trabalho iniciou-se com a descarga de balastro na via com utilização do
balastreiro seguindo-se a utilização de: atacadeira, regularizadora e veículo estabilizador
dinâmico. A atacadeira eleva a via, introduzindo balastro debaixo das travessas e
consolidando-o através de vibração. Realiza também o nivelamento e alinhamento da
via. Seguidamente o balastro é regularizado com uma regularizadora sobre a via
uniformizando todo o leito. Na fase final realiza-se a estabilização da via recorrendo ao
veículo estabilizador dinâmico que vibra a estrutura, consolidando-a.
O segundo trabalho diz respeito a uma ação de desguarnecimento manual de via. A não
utilização de equipamento pesado nesta ação, como é o caso da desguarnecedora de via,
prendeu-se com o facto de se tratar de uma curta extensão de via e por se tratar de um
trabalho muito dispendioso. Conclui-se que o desguarnecimento de via é de extrema
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 5. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: REFER
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 85
importância pois o balastro não desempenha as suas funções corretamente quando
colmatado, transformando-se num pavimento rígido em tempo seco e num lamaçal em
tempo húmido. Nestes casos, se houver previsão de realizar qualquer outro tipo de ação
de manutenção há que realizar o desguarnecimento de via em primeiro lugar pois
qualquer trabalho de manutenção não resulta devido à instabilidade das travessas. Em
suma, há que recorrer à depuração do balastro como condição prévia para o sucesso de
qualquer outro trabalho de conservação.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 86
CAPÍTULO 6 – CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO
PORTO
6.1. Considerações Iniciais
A rede de metro do Porto é considerada um caso de estudo a nível internacional, sendo
também a maior rede de metro portuguesa. Deste modo opera num espaço que engloba
vários municípios: Porto, Vila Nova de Gaia, Gondomar, Matosinhos, Maia, Vila do
Conde e Póvoa de Varzim. Neste capítulo efetua-se a apresentação das características da
rede e do material circulante que sobre ela se desloca e ainda a constituição da via.
Tal como a REFER E.P., a empresa Metro do Porto S.A. também procedeu à elaboração
de um plano de manutenção para descrever o modo de atuação da entidade gestora face
aos problemas que surgem na via. Nesse documento constam as ações a realizar na rede,
tanto para manutenções preventivas, como corretivas, de maneira a garantir que a via se
encontra dentro dos parâmetros pré-estabelecidos, para poder ser operada em condições
de conforto e de segurança. Permite ainda estabelecer critérios para as condições de
realização, os meios a envolver e define métodos de organização das equipas de
manutenção. Por fim, apresenta ainda as tolerâncias dos parâmetros aos quais a via está
sujeita.
As entidades gestoras utilizam diversos aparelhos de inspeção de via de forma a
avaliarem o estado da mesma e, assim, tomarem a decisão sobre como e quando realizar
ações de manutenção. Os aparelhos mais utilizados são o KRAB, para medição dos
parâmetros de via e o RMF, para medição do desgaste ondulatório. Os dados que podem
ser levantados com os aparelhos anteriormente enunciados são apresentados mais à
frente neste capítulo, sendo analisados em conformidade com as tolerâncias referidas.
6.2. Apresentação da Rede e do Material Circulante
Presentemente, a rede da Metro do Porto é composta por 6 linhas, com uma extensão
total de vias de 67 quilómetros e 81 estações, das quais 14 são subterrâneas (Metro do
Porto, 2012). Os veículos circulam em túnel no centro da cidade, em vias em placa à
superfície e ainda em vias balastradas em alguns troços da rede.
Esta rede foi construída na bitola internacional (1435 mm), apresentando pendentes
máximas de 7 % e raios de curvatura mínimos de 25 metros em exploração (Martins,
2010). Na Figura 6.1 podemos ver o mapa da rede, onde constam as 6 linhas,
designadas pelas letras A, B, C, D, E e F, e as 81 estações.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 87
Figura 6.1. Mapa da Rede de Metro do Porto (Metro do Porto, 2012)
Póvoa de Varzim
ISMAI
Aeroporto
Senhor de
Matosinhos
Senhora da Hora Hospital São João
Fânzeres
Estádio do Dragão
Campanhã
Trindade
Santo Ovídio
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 88
Quanto ao material circulante, a Metro do Porto tem uma frota composta por 72
composições do modelo Eurotram (Figura 6.2) e 30 composições de longo curso do
modelo Flexity Swift ou Tram-Train (Figura 6.3).
O Eurotram atinge uma velocidade máxima de 80 km/h e tem o comprimento de 35
metros, com a capacidade de transportar 80 passageiros sentados. Em 2009, entrou em
operação o novo veículo da Metro do Porto, o Flexity Swift. Estas novas composições,
são mais confortáveis, mais robustas e com maior capacidade de transporte. Os Flexity
Swift atingem uma velocidade máxima de 100 km/h e destinam-se à utilização
prioritária nas linhas Vermelha (B) e Verde (C), as quais têm percursos mais extensos
que as restantes. É também um veículo mais cómodo, com 100 lugares sentados, sendo
pouco mais comprido do que o Eurotram. As 30 unidades Flexity Swift vêm somar-se às
72 Eurotram já em circulação, elevando a frota da Metro do Porto para um total de 102
veículos (Metro do Porto, 2012).
6.3. Constituição da Via
A rede de metro do Porto apresenta troços de via em plataforma betonada e troços de
via balastrada. Quanto ao tipo de carril, coexistem na rede carris de gola e carris U50
que permitem que o mesmo material circulante percorra toda a rede (Figura 6.4).
Figura 6.4. Transição do carril U50 para o carril de gola na Estação de Mandim
A via em placa (plataforma betonada) é constituída pelo solo compactado, camada de
coroamento, betão de enchimento e betão de selagem, local onde as travessas bi-bloco
ficam embebidas. A Figura 6.5 mostra o perfil transversal tipo da via em placa numa
curva com acabamento em relva.
Figura 6.2. Eurotram
(Martins, 2010)
Figura 6.3. Flexity Swift
(Metro do Porto, 2012)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 89
Figura 6.5. Perfil transversal tipo da via em placa com acabamento em relva
(Imagem cedida pela Metro do Porto)
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Betã
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Relv
a
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 90
A Metro do Porto utiliza diferentes tipos de acabamentos na constituição da via. Os
acabamentos podem ser em plataforma relvada, empedrada ou betonada, como se ilustra
nas Figuras 6.6 e 6.7.
Para fixar as travessas aos carris são utilizadas fixações Nabla (Figuras 6.8 e 6.9) ou
Vossloh (Figuras 6.10 e 6.11).
Figura 6.8. Fixação Nabla na Estação da
Trindade
Figura 6.9. Esquema da fixação Nabla
(Edilonsedra, 2012)
Figura 6.10. Fixação Vossloh na Estação
de Mandim
Figura 6.11. Esquema da fixação Vossloh
(Edilonsedra, 2012)
Figura 6.6. Plataforma relvada e
empedrada na Estação de Rio Tinto
Figura 6.7. Plataforma empedrada e
betonada no lado Sul da Ponte D. Luís I
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 91
Ao longo da via podem observar-se também sistemas de lubrificação do carril como
ilustra a Figura 6.12. Esta empresa optou por equipamentos fixos, localizados na via e
acionados à passagem do material circulante, prevenindo deste modo o desgaste lateral
do carril e da roda do veículo, especialmente em curvas de pequeno raio.
Figura 6.12. Sistema de lubrificação instalado num carril de gola
(Imagem cedida pela Metro do Porto)
6.4. Tipos de Ações de Manutenção
6.4.1. Manutenção Preventiva
Manutenção Preventiva Sistemática
A manutenção preventiva sistemática consta da vigilância total e cíclica da situação em
que se encontram os elementos e os parâmetros geométricos da via. O resultado destes
trabalhos consiste em ações que permitem manter os níveis de qualidade necessários
para o tráfego que circula sobre a via, mantendo a via dentro dos parâmetros de
segurança que garantem as condições de operacionalidade exigidas (Via Porto, s.d.).
Este tipo de manutenção divide-se em duas atividades a desempenhar pelo operador:
Inspeções e limpezas
A planificação das operações de controlo do estado de conservação e eficiência da via é
imperativo, por duas razões: prevenir anomalias e organizar da forma mais otimizada
possível as intervenções de manutenção. Os operadores executam estes trabalhos, no
mínimo, mensalmente e prestam especial atenção ao estado e conservação das partes
que compõe a via. Após cada inspeção é elaborado um relatório onde consta a
fiabilidade dos sistemas verificados ou as anomalias detetadas (Via Porto, s.d.).
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 92
Diagnóstico instrumental
Esta atividade consta em verificações periódicas com o objetivo de monitorizar
características físicas ou funcionais dos componentes que constituem o sistema. Existe a
necessidade de recorrer a aparelhos sofisticados, podendo ser necessário colocar a via
fora de serviço. Estas atividades incluem todas as operações de manutenção cíclica e
sistemática, contando com as deslocações e verificações periódicas.
As tabelas 6.1 a 6.7 resumem as inspeções, medições ou limpezas que é necessário fazer
no âmbito da manutenção preventiva, para cada elemento: via, carris, fixações,
travessas, sistemas de drenagem e plataforma (Via Porto, s.d.).
Tabela 6.1. Inspeções e medições a realizar na via (Superestrutura) (Via Porto, s.d.)
Via (Superestrutura)
Inspeção
Visual
Inspeção total da rede, analisando:
Geometria (alinhamento e nivelamentos);
Desgastes, fraturas, patinhagem;
Estado da plataforma (balastro/ betão);
Fixações;
Travessas;
Soldaduras e juntas;
Gabaritos;
Áreas adjacentes que possam constituir risco na segurança da
rede;
Órgãos hidráulicos.
Medida
Bitola;
Escala;
Empeno;
Alinhamento longitudinal e vertical;
Monitorização de pontos definidos (topografia).
Tabela 6.2. Inspeções e medições a realizar no carril U50 (Via Porto, s.d.)
Carril: U50
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação do carril:
Fissuras;
Marcas de patinhagem;
Soldaduras.
Medida Desgaste ondulatório;
Auscultação ultrassónica.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 93
Tabela 6.3. Inspeções, medições e limpezas a realizar no carril de gola (Via Porto, s.d.)
Carril de gola: 41GP, 35GP
Limpeza Limpeza da garganta da mesa de rolamento.
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação do carril:
Fissuras;
Marcas de patinhagem;
Soldaduras.
Medida
Desgaste ondulatório;
Auscultação ultrassónica;
Abertura de gola.
Tabela 6.4. Inspeções e medições a realizar nas fixações (Via Porto, s.d.)
Fixações
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação da fixação:
Oxidações;
Posicionamento do conjunto;
Posicionamento da palmilha.
Medida Verificação do aperto:
Amostra em 2% das fixações.
Tabela 6.5. Inspeções a realizar nas travessas (Via Porto, s.d.)
Travessas
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação da travessa:
Fissuras;
Quadramento;
Cantoneira.
Tabela 6.6. Inspeções e limpezas a realizar nos sistemas de drenagem (Via Porto, s.d.)
Drenagem
Caixas coletoras e valetas transversais, longitudinais e pontuais
Inspeção Visual Inspeção visual do nível de sujidade.
Limpeza Limpeza.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 94
Tabela 6.7. Inspeções e limpezas a realizar na plataforma empedrada, betonada e
balastrada (Via Porto, s.d.)
Plataforma
Plataforma betonada
Limpeza Limpeza da plataforma.
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação da plataforma:
Fissuras;
Estado do revestimento;
Possíveis obstáculos.
Atravessamentos
Rodoviários Aplicação de material nas juntas dos cubos.
Plataforma empedrada
Limpeza da
Plataforma
Empedrada
Varredura mecanizada da plataforma empedrada.
Tratamento da
Plataforma
Empedrada
Aplicação de herbicida.
Plataforma balastrada
Limpeza Limpeza da plataforma.
Inspeção
Visual
Inspeção ao estado de conservação da plataforma:
Estado de contaminação do balastro;
Geometria do perfil.
Tratamento da
Plataforma Aplicação de herbicida.
6.4.2. Manutenção Corretiva
No âmbito do sistema de gestão da conservação adotado, as ações de manutenção
corretivas classificam-se em:
Imediatas, quando a gravidade do defeito do elemento de via compromete o
desempenho do sistema, podendo originar danos às pessoas ou estruturas. Este
tipo de anomalia deve ser corrigido de imediato e, por isso, trata-se de uma
intervenção realizada sem planeamento.
Sistemáticas, quando resultam de defeitos que alcançaram determinado grau de
evolução, ou seja, podem programar-se em função dos controlos a realizar.
A aplicação da ação corretiva apropriada no momento certo resulta de um conhecimento
profundo e contínuo do estado da via. Deste modo, a anomalia é corrigida antes de
chegar a constituir perigo para a circulação, ou de ser incómoda para os passageiros. A
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 95
cada anomalia corresponde uma causa que deve ser determinada através de uma
inspeção no terreno no ponto defeituoso. Após a determinação das causas devem ser
estudadas as medidas corretivas a efetuar.
A rede é ainda relativamente nova (entrou em funcionamento no dia 7 de Dezembro de
2002), pelo que o número de ações de conservação é relativamente pouco extenso.
Contudo, o planeamento das ações corretivas considera as seguintes como mais comuns
são (Via Porto, s.d.):
Execução de soldaduras;
Substituição pontual do carril;
Recargas de carril;
Depuração de desguarnecimento de balastro;
Ataque mecânico pesado;
Retificação da bitola;
Esmerilagem de via;
Substituição pontual de travessas e conjuntos de fixações;
Regulação e reparação de aparelhos de dilatação;
Reparação de avarias causadas por descarrilamento;
Limpeza dos órgãos de drenagem;
Reparação dos emadeirados das PN’s;
Reparação do revestimento da plataforma embebida (cubos de granito, relva,
etc.).
6.5. Tolerâncias dos Parâmetros Geométricos da Via
Parâmetros geométricos
A Metro do Porto definiu tolerâncias para parâmetros geométricos da via tanto para a
via em placa (plataforma betonada) com para a via balastrada. Para cada parâmetro
(bitola, escala, empeno, alinhamento, nivelamento e gola) existem quatro patamares
(Via Porto, s.d.):
Conservação valor ideal medido depois de realizada uma ação de
conservação;
Alerta, definido pela cor verde é o valor a partir do qual devemos
prestar atenção especial a esse ponto;
Conforto, definido pela cor amarela é o valor a partir do qual já não
está garantido o nível de conforto aos utilizadores;
Limite, definido pela cor vermelha a partir deste valor é urgente
realizar uma ação de manutenção.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 96
Mais à frente neste trabalho são apresentados e analisados alguns dados decorrentes de
ações de inspeção, os quais exemplificam os procedimentos utilizados e os patamares
anteriormente referidos.
Desgaste ondulatório
O valor máximo admissível para o desgaste ondulatório é de 0,3 mm de amplitude,
compreendido entre +0,15 e -0,15 mm. É através das inspeções visuais e acústicas em
conjunto com as medições que se definem os critérios e metodologias de intervenção e
possibilitam revelar o nível de criticidade e conforto (Via Porto, s.d.).
Soldaduras
As soldaduras (Figura 6.13) são também inspecionadas recorrendo a uma régua
calibrada, cujo valor máximo é de 0,6 mm. Nas soldaduras pode ser necessário fazer
dois tipos de reparações: recarga (adição de material) ou esmerilagem (remoção de
material), consoante a irregularidade detetada. Quando se suspeita da existência de
poros, fissuras ou deformações nas soldaduras ou troços de carril, deve optar-se pela
realização de ensaios de auscultação ultrassónica, obtendo-se assim resultados mais
fidedignos (Via Porto, s.d.).
Figura 6.13. União de carris através de soldaduras
Ataque de via
Através dos levantamentos geométricos, efetuados com equipamentos de leitura
contínua, e das inspeções decide-se sobre a necessidade de realizar uma intervenção de
ataque na plataforma balastrada (Via Porto, s.d.).
6.6. Equipamentos de Inspeção de Via
A Metro do Porto realiza periodicamente inspeções que permitem fazer o levantamento
das necessidades da via com base nos defeitos detetados. Além das inspeções visuais,
dos tratamentos e limpezas há que fazer a medição rigorosa dos parâmetros da via. Para
tal, esta empresa dispõe dos equipamentos KRAB (Figura 3.26) e RMF (Figura 3.29). O
Soldadura
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 97
KRAB mede os seguintes parâmetros: bitola, escala, empeno, alinhamento e
nivelamento, registando os dados para posterior análise. O RMF é um equipamento
destinado à medição do desgaste ondulatório mas que também mede a bitola, a escala, o
alinhamento e o nivelamento.
6.7. Levantamento Geométrico dos Parâmetros de Via e Desgaste
Ondulatório
Seguidamente, nas Figuras 6.14 a 6.20 apresentam-se os dados de um levantamento
geométrico registados pelo KRAB, na rede de metro do Porto, numa extensão de 375
metros de uma linha (via em placa). Os gráficos encontram-se balizados com diferentes
patamares inferiores e superiores de segurança: alerta, conforto e limite. Nas Figuras
6.21 a 6.24 apresentam-se os dados de levantamento do desgaste ondulatório registado
pelo RMF.
Alerta
Conforto
Limite
Figura 6.14. Levantamento dos parâmetros geométricos: bitola (Relatório KRAB, s.d.)
Figura 6.15. Levantamento dos parâmetros geométricos: escala (Relatório KRAB, s.d.)
Figura 6.16. Levantamento dos parâmetros geométricos: empeno
(Relatório KRAB, s.d.)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 98
Figura 6.17. Levantamento dos parâmetros geométricos: alinhamento da fila direita
(Relatório KRAB, s.d.)
Figura 6.18. Levantamento dos parâmetros geométricos: alinhamento da fila esquerda
(Relatório KRAB, s.d.)
Figura 6.19. Levantamento dos parâmetros geométricos: nivelamento da fila esquerda
(Relatório KRAB, s.d.)
Figura 6.20. Levantamento dos parâmetros geométricos: nivelamento da fila direita
(Relatório KRAB, s.d.)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 99
Figura 6.21. Levantamento do desgaste ondulatório do carril esquerdo 1 no
comprimento de onda 30 a 100 mm (Relatório RMF, s.d.)
Figura 6.22. Levantamento do desgaste ondulatório do carril esquerdo 1 no
comprimento de onda 30 a 100 mm (Relatório RMF, s.d.)
Figura 6.23. Levantamento do desgaste ondulatório do carril direito 2 no comprimento
de onda 10 a 30 mm (Relatório RMF, s.d.)
Figura 6.24. Levantamento do desgaste ondulatório no carril direito 2 no comprimento
de onda 30 a 100mm (Relatório RMF, s.d.)
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 100
6.8. Análise do Levantamento Geométrico
Os gráficos do levantamento geométrico dos parâmetros de via mostrados nas Figuras
6.14 a 6.20 representam no eixo das ordenadas o valor do parâmetro em milímetros e no
eixo das abcissas os pontos quilométricos (local da rede).
O gráfico da bitola (Figura 6.14) é o único que não apresenta simetria dos patamares de
segurança em relação ao seu eixo da ordenadas, o que sugere que o alargamento ou o
encurtamento que a bitola pode ter não variam nos mesmos intervalos. Assim, conclui-
se que a bitola pode alargar mais do que encurtar, pois os limites superiores são mais
largos do que os limites inferiores. Tomemos como exemplo o intervalo de alerta
(limitado pelas linhas verdes). Nesse intervalo a bitola pode alargar 7mm, porém só
pode encurtar 4mm. O mesmo acontece para os intervalos amarelo e vermelho. Em
suma, é mais gravoso um encurtamento de bitola do que o alargamento da mesma, daí
os intervalos não serem simétricos.
A Figura 6.14 sugere que este troço de via se encontra em boas condições sendo que
todo o traçado se desenha no interior do intervalo verde à exceção de um pico singular
no intervalo [45202, 45252] que pode indicar a existência de uma soldadura ou o início
de um AMV. Por vezes, os picos singulares representam somente erros de medição,
quer devido a incorreto manuseamento do equipamento aquando da medição, quer
devido a sujidades acumuladas existentes no carril. Daí ser importante analisar in situ as
razões que possam explicar estes valores isolados.
O gráfico do nivelamento transversal, ou seja, da escala (Figura 6.15) é simétrico. Pela
figura conclui-se que a maior parte do traçado se encontra inscrito no intervalo verde,
ou seja, a via está em muito boas condições relativamente ao parâmetro avaliado. No
entanto, no intervalo [45252, 45302] o traçado ultrapassa ligeiramente o limite verde e
no intervalo [45402, 45452] estão esboçados dois picos que atingem o limite amarelo,
sendo que nesses dois locais o nível de conforto não está garantido. Trata-se de situação
que deve ser acompanhada.
A Figura 6.16 que ilustra o gráfico do empeno demostra que no geral este parâmetro de
via varia dentro do intervalo verde, existindo alguns pontos em que esse intervalo é
ultrapassado, tornando-os por isso locais de alerta. No ponto 45452 o gráfico do empeno
atinge o patamar de conforto, sendo este o local mais desfavorecido do trecho
apresentado como exemplo.
O gráfico do alinhamento da fila direita, representado na Figura 6.17 prova que todo o
traçado se desenvolve dentro do limite de alerta, à exceção de no intervalo [45402,
45452] existir um local onde é ultrapassado o limite de conforto, devendo por isso ser
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 101
alvo de atenção especial. A Figura 6.18 que traduz o alinhamento da fila esquerda
denota-se a existência de três picos, dois deles atingindo o patamar limite e o restante o
patamar de conforto. Quando os gráficos revelam este aspeto não significa que existe
um desalinhamento, podendo corresponder a uma soldadura, o início de um AMV ou
tratar-se de um erro de medição. Excluindo esta particularidade, o restante troço
encontra-se em perfeitas condições, não sendo ultrapassado o intervalo de alerta em
qualquer lugar. Quanto ao nivelamento horizontal da fila da direita e da fila da esquerda
(Figuras 6.19 e 6.20) verifica-se que o troço em análise se encontra perfeitamente em
segurança, pois em nenhum local o traçado atinge o patamar de alerta.
Nas Figuras 6.21 a 6.24 pode observar-se quatro gráficos de inspeções ao carril com o
objetivo de detetar desgaste ondulatório. Tal como foi referido na secção 6.5, a
amplitude máxima admitida para o desgaste ondulatório é de 0,3 mm, compreendendo
valores entre +0,15 e -0,15 mm. Nos gráficos encontram-se, em ordenadas, os limites
permitidos indicados por duas linhas vermelhas, e em abcissas os pontos quilométricos.
Quando os limites são ultrapassados deve proceder-se a uma ação de manutenção.
No topo de cada gráfico encontra-se um valor referente ao comprimento de onda
considerado para o desgaste ondulatório. Na Metro do Porto filtram-se os dados
recolhidos nos dois comprimentos de onda seguintes: 10 a 30 mm e de 30 a 100 mm.
Nas Figuras 6.21 e 6.24, os gráficos de desgaste ondulatório sugerem que naqueles
trechos de via o carril se encontra em perfeitas condições, visto que todo o gráfico se
desenha no limite de segurança. Esta situação já não ocorre na Figura 6.22, cujo gráfico
ultrapassa os limites uma vez antes do ponto quilométrico 42087,940 e três vezes no
intervalo [42035,030; 41982,122]. Logo há que verificar no local o tipo de intervenção
necessário nessa zona. Na Figura 6.23 existem dois locais nos quais o desgaste
ondulatório excede superiormente o limite e aproxima-se bastante do limite inferior,
sendo por isso importante uma intervenção de manutenção (esmerilagem).
6.9. Considerações Finais
A Rede de Metro do Porto é um caso de estudo bastante interessante graças às
características da sua constituição que se estendem aos 67 quilómetros de rede,
percorrendo 81 estações. Sendo a maior rede de metro de Portugal, os seus veículos
circulam tanto em túnel como à superfície (em vias em placa ou em vias balastradas).
Os troços de via em placa podem ter três tipos de acabamento: plataforma relvada,
betonada ou empedrada. Em algumas estações com plataforma betonada é possível
visualizar à superfície as travessas bi-bloco fixas através de fixações Nabla. Por outro
lado, nos troços de via balastrada as fixações são do tipo Vossloh. Nesta rede verifica-se
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 102
a presença de equipamentos de lubrificação de carril, localizados especialmente em
curvas de pequeno raio, onde o desgaste lateral do carril e da roda é maior.
A Metro do Porto elaborou um plano de manutenção onde se encontra definido o modo
de atuação da empresa face às necessidades da rede. Nesse documento encontram-se as
ações de manutenção preventivas e corretivas a realizar por forma a garantir o bom
estado de conservação da rede. A manutenção preventiva engloba todas as atividades de
vigilância total e cíclica do estado dos elementos e parâmetros da via.
A manutenção preventiva divide-se em duas atividades: inspeções e limpezas e
diagnóstico instrumental. As inspeções e limpezas dizem respeito às operações de
controlo do estado de conservação e eficiência da via para prevenir anomalias e
organizar da forma mais otimizada possível as intervenções de manutenção. Depois de
cada inspeção é elaborado um relatório onde consta a fiabilidade dos sistemas
verificados ou as anomalias detetadas. O diagnóstico instrumental tem como objetivo
monitorizar as características físicas ou funcionais dos componentes que constituem o
sistema. Para tal recorre-se a aparelhos sofisticados (KRAB e RMF), podendo ser
necessário colocar a via fora de serviço. Para cada elemento (via, carris, fixações,
travessas, plataforma e sistemas de drenagem) existe informação detalhada de quais as
inspeções, medições e limpezas que são necessárias realizar.
As ações corretivas subdividem-se em: imediatas (quando a gravidade do defeito do
elemento de via compromete o desempenho do sistema devendo ser corrigido de
imediato) e sistemáticas (quando resultam de defeitos que alcançaram determinado grau
de evolução, podendo programar-se em função dos controlos a realizar). Conclui-se que
a aplicação da ação corretiva adequada no momento certo resulta de um conhecimento
profundo e contínuo do estado da via. Assim, a anomalia é corrigida antes de chegar a
constituir perigo para a circulação ou antes de ser incómoda para os passageiros.
Constam ainda deste plano as tolerâncias dos parâmetros de via, especialmente dos
parâmetros geométricos e desgaste ondulatório. Os parâmetros geométricos estão
divididos em quatro patamares: conservação (valor ideal medido depois de realizada
uma ação de conservação), alerta (o valor a partir do qual devemos prestar atenção
especial a esse ponto), conforto (valor a partir do qual já não está garantido o nível de
conforto aos utilizadores) e limite (a partir deste valor é urgente realizar uma ação de
manutenção). O valor máximo admissível para o desgaste ondulatório é de 0,3mm de
amplitude. Este parâmetro é muito importante pois a existência desde tipo de defeito
provoca bastante desconforto aos utentes e ruído.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 6. CASOS PRÁTICOS PORTUGUESES: METRO DO PORTO
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 103
A secção 6.7 e 6.8 permitiu ilustrar o tipo de relatórios gerados pelos equipamentos de
inspeção, bem como o modo como se faz a sua análise. Só assim é possível avaliar o
estado da via e programar as ações necessárias ao seu bom desempenho.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 7. CONCLUSÕES
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 104
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
7.1. Síntese do Trabalho e Conclusões Gerais
Com a elaboração deste trabalho pretendia-se realizar um estudo acerca da
manutenção/conservação de vias férreas compreendendo a ação de operadores de
sistemas ferroviários portugueses.
Os conceitos de manutenção/conservação surgiram pois as antigas entidades gestoras
deste ramo concluíram que estas atividades constituem um processo bastante mais
económico quando comparado com o método utilizado no passado que implicava a
construção de via totalmente nova.
A manutenção aborda duas grandes temáticas: a manutenção preventiva e a manutenção
corretiva. A primeira é programada e tem como objetivo atuar antes do sistema
apresentar degradações já não recuperáveis sem remodelação, a segunda ocorre quando
a anomalia é detetada, ou seja, sem planeamento. Desta forma, todos os trabalhos que
promovam a prevenção das degradações ganharam grande importância, sendo que, hoje
em dia, cada vez se investe mais em manutenções de caráter preventivo reduzindo
intervenções profundas, mais gravosas para a estrutura e mais dispendiosas para as
entidades gestoras.
Com o aparecimento dos conceitos de manutenção/conservação surgiu a temática da
inspeção de via-férrea que consiste em todos os procedimentos que visam a obtenção de
informação acerca do estado em que a via se encontra. Verificou-se que a maioria das
inspeções são realizadas em veículos motorizados mas também podem ser feitas
inspeções a pé. O grande objetivo consiste em determinar os parâmetros de via e
compara-los com os parâmetros de referência, fixados nas normas. Concluiu-se também
que embora os parâmetros de via sejam medidos separadamente contribuem de forma
conjunta para as condições de funcionamento da via, podendo o incumprimento de um
originar problemas associados a outros.
Na REFER, detentora da rede ferroviária nacional, a grande parte das vias são
inspecionadas com recurso à EM 120, equipamento que inspeciona a via até 120km/h,
tendo portanto um bom rendimento. No entanto, a Metro do Porto por ser uma rede com
uma extensão total de vias de 67 quilómetros pode fazer as suas inspeções com recurso
a equipamentos mais pequenos como o KRAB ou o RMF.
Depois de realizadas as inspeções da via-férrea e analisadas as patologias da mesma as
entidades gestoras decidem sobre como vão atuar na via. Este tipo de decisão baseia-se
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 7. CONCLUSÕES
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 105
em tomar a melhor opção, visando sempre garantir a qualidade da via com o menor
custo possível. Quando a via não cumpre os requisitos previstos há que proceder à
realização de atividades de manutenção/conservação. Estas podem dividir-se em ações
mecânicas e manuais, sendo que as ações mecânicas recorrem a equipamentos pesados,
enquanto as ações manuais utilizam pequenos instrumentos.
Concluiu-se que as ações de manutenção mecânicas mais importantes são: a depuração
do balastro (realizada com a depuradora ou desguarnecedora), a esmerilagem
(executada com a esmeriladora), o ataque da via (efetuado com a atacadeira,
regularizadora e estabilizador dinâmico da via), a ripagem e a RIV, que só acontece
quando já não há vantagem em fazer mais ações de conservação, sendo mais económico
optar por uma substituição da via. Quanto às ações manuais, as mais importantes tarefas
são: a sabotagem, o recalce e a substituição das travessas, e a colocação de lubrificante.
É de salientar as diferenças que existem na inspeção de uma rede como a da REFER,
fundamentalmente balastrada e a rede de Metro do Porto, que é betonada, empedrada ou
relvada, tendo apenas uma pequena parte em via balastrada. A REFER preocupa-se
bastante em garantir a boa qualidade do balastro, sendo frequente realizar ações que
promovam a sua depuração. No entanto, no caso da Metro do Porto há que ter em
atenção o estado do pavimento e o aparecimento de fissuras na via betonada. No caso da
via relvada, se por um lado diminui o impacto visual e embeleza a paisagem, por outro,
a preocupação em manter o seu bom estado e as operações de manutenção são
preocupações constantes.
Uma outra particularidade que distingue as redes betonadas passa por garantir a limpeza
da garganta nos carris gola. Como esta rede de metro é bastante jovem ainda só
necessitou uma vez de realizar esmerilagem de carris, porém na REFER esta prática é
bastante mais frequente.
Quanto às travessas, a REFER tem mais preocupações do que a Metro do Porto devido
ao facto de em vias betonadas estas estarem embebidas na estrutura, logo não serem
suscetíveis de deterioração, por outro lado, devem monitorizar a existência de fissuras
no betão.
Em termos de parâmetros de via, os critérios para via betonada são mais apertados do
que para via balastrada, uma vez que esta tende a ser mais flexível. O caso da bitola
distingue-se dos outros parâmetros pelo facto dos patamares não serem simétricos, ou
seja, conclui-se que é mais gravoso um encurtamento de bitola do que o alargamento da
mesma, correndo-se o risco de descarrilamento.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 7. CONCLUSÕES
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 106
Quanto ao desgaste ondulatório os valores que a Metro do Porto apresenta são muito
mais reduzidos do que os praticados pela REFER, sendo esta anomalia uma
consequência física do contacto roda-carril e resultar de travagens e arranques repetidos,
é algo muito incómodo para os utilizadores. Este fenómeno e mais grave em redes
balastradas nas quais o peso das composições que lá circulam ser bastante maior.
Porém, os critérios das redes de metro são muito mais apertados pois esta anomalia é
mais percetível a baixas velocidades, características destas redes.
Concluiu-se que, apesar das empresas deste ramo saberem que os seus recursos não são
suficientes para um programa completo de conservação da via-férrea, amenizam a
situação canalizando os seus recursos para alternativas mais viáveis, que possibilitem
melhorar o desempenho operacional, dentro das restrições existentes, pois a eficácia do
sistema ferroviário está intrinsecamente ligada ao estado de manutenção da via.
A maior limitação resume-se ao financiamento sendo que obter uma via tão satisfatória
quanto possível, é um problema dos mais complexos que se apresenta nas vias-férreas,
sejam elas de carga ou de transporte de passageiros, pois qualquer pequena obra ascende
aos milhares de euros.
Em suma, o grande objetivo consiste em garantir a segurança do tráfego, reduzir as
avarias no material circulante e na própria via, aumentar a velocidade e a capacidade de
produção, reduzindo ao mínimo os custos de manutenção da via.
7.2. Prosseguimento de Trabalhos Futuros
Quanto ao desenvolvimento de trabalhos futuros é fundamental continuar a referir a
importância da realização de estudos de sistemas de gestão na conservação de vias-
férreas em Portugal, com o objetivo de facilitar as tomadas de decisões e,
consequentemente, aumentar a qualidade da rede.
Este trabalho foi um ponto de partida para enquadrar várias temáticas no campo da
manutenção. Demonstra-se que as diversas empresas do ramo têm obtido cada vez mais
equipamento sofisticado com o objetivo de inspecionar com qualidade as redes.
Contudo, o âmbito da análise da gestão da conservação ainda se baseia muito na
experiência e não num sistema de gestão da conservação que permita a análise da
eficiência económica.
Assim, sugere-se a continuação dos estudos bem como o desenvolvimento de um
sistema de gestão da conservação a implementar na rede portuguesa. Tal estudo inclui o
desenvolvimento de um sistema informático que cadastre a informação da rede e trate as
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: 7. CONCLUSÕES
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 107
informações recolhidas aquando das inspeções. Através deste sistema seria possível
melhorar as potencialidades da via, de forma a garantir a máxima operacionalidade da
rede, em condições de utilização ótimas tanto para passageiros como para mercadorias.
Este sistema constituiria um instrumento de apoio na conservação da via-férrea para os
administradores das redes ferroviárias.
Uma fase inicial seria a construção de uma base de dados onde constassem dados de
cada linha com informação relativa ao estado de degradação de cada componente da
via-férrea e respetivos modelos de comportamento. Assim, o sistema pode avaliar a vida
útil que restará em média a cada elemento, prevendo atempadamente a sua substituição.
Existe a necessidade deste tipo de projeto por diferentes aspetos, não só a degradação
isolada de um componente da via, como também casos em que a degradação de um
elemento provoca a deterioração de outro. Além disso, há que prever um sistema de
gestão que permitira essencialmente distribuir os escassos recursos disponíveis, por
forma a garantir o melhor serviço prestado em termos de segurança, economia e
conforto.
Este tipo de sistema deve ser capaz de prever a evolução da estrutura ferroviária,
considerando o estado atual, as solicitações futuras e as ações de conservação realizadas
durante a vida da via-férrea. Deste modo, será possível definir as estratégias de
intervenção e conservação da rede que serão a opção mais rentável, tendo em conta o
custo e benefício e as condições técnicas apresentadas.
Neste tipo de desenvolvimentos certamente seria imprescindível uma união entre a Rede
Ferroviária Portuguesa com uma instituição como um Politécnico ou Universidade,
sendo que as Universidades têm a vocação e as competências para sustentar o tipo de
desenvolvimentos essenciais e a REFER tem o conhecimento, o que atestaria a
aplicabilidade eficiente do sistema.
7.3. Considerações Finais
Finalmente, refere-se que os principais propósitos do presente trabalho foram
conseguidos. Além da realização de um estudo acerca da manutenção e conservação de
vias férreas através da pesquisa bibliográfica, foi possível um maior entendimento
acerca de assuntos como a gestão da conservação, a inspeção de via e as ações de
conservação.
Junto da REFER e da Metro do Porto foi possível perceber o modo das empresas
abordarem esta temática e a forma como planeiam as ações de manutenção e como
atuam nos problemas que vão surgindo.
Manutenção e Conservação de Vias Férreas: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
análise de casos práticos
Daniela Dias Rodrigues 108
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