LONA 729 - 04/06/2012.

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[email protected] @jornallona Ano XIII - Número 729- Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012 O único jornal-laboratório DIÁRIO do Brasil Oscar Cidri lona.redeteia.com LITERATURA CINEMA Sala de cinema exclusiva para filmes nacionais é anunciada em festival Milton Durski, cria- dor e gerente co- mercial da rede de cinema Cineplus, anunciou em pales- tra durante o fes- tival internacional “Olhar de Cinema”, que a cidade terá uma sala de cinema que exibirá somen- te filmes nacionais. pág. 3 Sicupa, Barcímo, Cracão da camisa 8: conheça mais sobre o ex-jogador do Atlético Pág. 7 PERFIL Marçal Aquino: “Sou ape- nas espectador” Pág. 8 Trabalhadores que pro- curam o Ministério do Trabalho reclamam de fila grande e espera Págs. 4 e 5 Festival traz seminários com importantes figuras do cinema brasileiro Pág. 3 ESPECIAL

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JORNAL-LABORATÓRIO DIÁRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE POSITIVO.

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Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012

[email protected] @jornallona

Ano XIII - Número 729-Jornal-Laboratório do Curso de

Jornalismo da Universidade PositivoCuritiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012

O único jornal-laboratório

DIÁRIOdo Brasil

Oscar Cidri

lona.redeteia.com

LITERATURACINEMA

Sala de cinema exclusiva para filmes nacionais é anunciada em festival

Milton Durski, cria-dor e gerente co-

mercial da rede de cinema Cineplus,

anunciou em pales-tra durante o fes-

tival internacional “Olhar de Cinema”,

que a cidade terá uma sala de cinema que exibirá somen-te filmes nacionais.

pág. 3

Sicupa, Barcímo, Cracão da camisa 8: conheça

mais sobre o ex-jogador do Atlético

Pág. 7

PERFIL

Marçal Aquino: “Sou ape-nas espectador”

Pág. 8

Trabalhadores que pro-curam o Ministério do Trabalho reclamam de

fila grande e espera

Págs. 4 e 5

Festival traz seminários com importantes figuras

do cinema brasileiro

Pág. 3

ESPECIAL

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Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 20122

ExpedienteReitor: José Pio Martins | Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração: Arno Gnoatto | Pró-Reitora Acadêmica: Marcia Sebastiani | Coordenação dos Cur-sos de Comunicação Social: André Tezza Consentino | Coordenadora do Curso de Jornalismo: Maria Zaclis Veiga Ferreira | Professores-orientadores: Ana Paula Mira, Elza Aparecida de Oliveira Filha e Marcelo Lima | Editora-chefe: Suelen Lorianny |Repórter: Vitória Peluso | Pauteira: Renata Pinto| Editorial: Julio Rocha

O LONA é o jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Positivo. Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 - Conectora 5. Campo Comprido. Curitiba - PR. CEP: 81280-30 - Fone: (41) 3317-3044.

Com toda a discussão que tem acontecido nos dias de hoje e a cada vez maior aceitação dos casais homoafetivos pela população, não seria de se espantar que um arco-íris fosse incluído no céu estrelado da bandeira nacional. Atualmente, apesar de eventuais controvérsias, os brasileiros já estão mais maduros para lidar com homossexualidade e aceitar com naturalidade que existem pessoas que não se atraem pelo sexo oposto.

É inexplicável, então, a relutância que muitos ainda encontram em relação à adoção de crianças por casais homossexuais. Afinal, ano passado o STF finalmen-te aprovou a união estável de indivíduos do mesmo sexo, o casamento gay. E qual é a visão prática que se tem de um casamento? Duas pessoas vivendo juntas, compartilhando seus bens e, eventualmente, criando filhos.

Não permitir adoção de crianças por casais homossexuais não é pensar no bem da criança, é não deixar a luta contra o preconceito progredir. O preconceito acaba quando os dois lados entendem que possuem os mesmos direitos e isso deve ser respeitado. Além disso, a adoção não é simplesmente um presente para os novos pais. É, também, dar a uma criança a chance de ter uma família que a dê carinho, educação e uma chance de ter uma vida plena.

Um argumento que muitos gostam de usar para ser contra a permissão é de que os filhos adotivos de casais homoafetivos sofreriam bullying por parte de outras crianças. É um argumento que se baseia na incapacidade do ser humano de se livrar de um preconceito ultrapassado. Mais inteligente seria se, ao invés de impedir as crianças de serem adotadas por gays, fosse ensinado desde cedo que existem tipos diferentes de casais e que eles merecem tanto respeito quanto os tradicionais.

Chega a ser ridículo que se permita uma pessoa solteira a adotar uma criança quando se nega que casais tenham essa chance. Mesmo a decisão do Ministério Público (deixar que a criança, com mais de 12 anos, decida se aceita ou não a adoção) demonstra algum preconceito. E se uma criança não aceitar se adotada por um casal de negros? Ou então não querer ir para casa com um pai solteiro? É importante que fique claro que, seja quem for o pretendente, a adoção é um benefício para essas crianças.

Opinião

Editorial

Lotte ReinigerPriscila Pacheco

Quando falamos em cinema de animação, os primeiros nomes associados a esse tipo de produção normalmente são de homens, como Walt Disney, Irmãos Fleischer, Chuck Jones, John Lasseter, entre outros grandes expoentes deste estilo cinematográfico. De fato, a história desta técnica de cinema teve em sua trajetória grandes realizadores masculinos. Mas, qual será à participação das mulheres na construção desse gênero?

O que poucos sabem é que um nome feminino teve fundamental impor-tância no cinema de animação. Nascida em Berlim em 1899, Lotte Reiniger foi pioneira no cinema de animação no inicio do século XX. Apaixonou-se pelo cinema de George Meliés ainda na adolescência, encantada pela 7ª arte, Lotte passou a trabalhar no grupo de Paul Wegener chegando a construir logo no início de sua carreira os ratos de madeira animados do filme “O Flautista de Hamelin”, de 1918.

A partir daí, Lotte Reiniger não parou mais, tornando-se mundialmente co-nhecida por desenvolver em seu trabalho a técnica de animação com recortes de silhuetas, técnica inspirada no teatro de sombras chinês e também no contraste de claro e escuro do expressionismo alemão. Lotte Reiniger dedicou sua vida ao cinema de animação, fazendo toda a família contribuir na construção de seu trabalho, já que na mesma casa em que Lotte Reiniger era mãe de família, era também cineasta.

Infelizmente, Lotte Reininger é pouco conhecida no Brasil, suas obras são de difícil acesso e até mesmo os conteúdos publicados sobre seus trabalhos foram pouco traduzidos e distribuídos mundo a fora. A alemã que realizou o primeiro longa-metragem do gênero animação não recebeu tantos prêmios e reconhecimento como, por exemplo, Walt Disney. Morreu em 19 de junho de 1981 deixando uma filmografia rica, porém, desconhecida.

Apenas uma visão ultrapassada

Despreparo climático curitibano

Mais um inverno se aproxima. Já vá tirando seu cachecol, sua toca e sua blu-sa de lã do fundo do armário – se você já não o fez. Apesar de o fato de, dizem as más línguas, os invernos curitibanos já não serem tão rigorosos quanto os de décadas atrás, o frio feito na capital paranaense ainda castiga e não perdoa quem está despreparado.

E eis aí um problema: Curitiba parece não estar preparada para enfrentar o clima que possui. Fique uma tarde de agosto parado em casa (na casa de seus parentes, de seus vizinhos) para entender. Mesmo que abrigado e bem agasalha-do, alguma hora o frio aperta. Ou então caminhe pelos corredores de sua escola ou de sua faculdade para sentir até seu dedinho ficar arrepiado com ventos ge-lados que atravessa edifícios inteiros sem vedação.

Há um evidente despreparo climático em Curitiba. Poucos são os prédios ou casas com calefação ou um ar condicionado adequado. Ônibus superlotados circulam de vidros fechados para evitar o ar frio e se transformam em grandes meios de cultura para transmissão de doenças respiratórias. Nem mesmo os aga-salhos usados por aqui parecem ser apropriados ao clima: você pode até vestir duas ou três blusas grossas, mas seus pés continuarão gelados.

O despreparo também fica evidente nos dias mais quentes do ano: em dia de sol, bastam cinco minutos de espera dentro de uma estação tubo para as primei-ras gotas de suor começarem a escorrer pela sua testa. Vá a uma das tantas lojas de rua sem refrigeração e tente não se sentir sufocado com o ar abafado dentro dela.

Não que o despreparo climático curitibano seja um grande problema estru-tural da cidade. Podemos continuar convivendo com Curitiba como ela sempre foi. Mas até que essa situação não mude, continuaremos sempre sujeitos a res-friados frequentes, gripes e rinites desconfortáveis.

Felipe Gollnick

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Curitiba terá sala de cinema exclusiva para filmes nacionaisOscar CidriRodrigo Schievenin

Esta é a promessa de Mil-ton Alexandre Durski, cria-dor e Gerente Comercial da rede de cinema Cineplus, em palestra realizada na última sexta-feira no SESC Paço da Liberdade, dentro da pro-gramação do I Seminário de Cinema Contemporâneo de Curitiba.

Neste, que é o quarto dia de palestras, além de Durski, pal-estraram também Frederico Machado Cineasta, produtor, fotógrafo e ganhador de mais de 100 prêmios internacionais com seus curtas metragens e, também, sócios da Lume Filmes. Frederico contou toda

sua experiência na produção de filmes com baixo custo e como angariar recursos junto aos órgãos de fomento à cul-tura, tanto de fundações públi-cas quanto das privadas.

A terceira a compor a mesa foi Claudia Natividade, for-mada em filosofia e mestre em ciências sociais pela UFPR com especialização em ciên-cia política. Em 2000 fundou a produtora Zencrane Filmes. É dela o longa-metragem fic-cional, “Estômago”, que ar-rebatou 36 prêmios, sendo 17 deles internacionais, e foi vendido para 25 países.

Claudia Natividade ex-pos todas as dificuldades de produção cinematográfica no Brasil, segundo ela, “fazer cinema no Brasil é mais caro do que fazer no Japão”. Ele frisa que “o custo técnico,

de material, de mão de obra e de produção é mais caro aqui do que em qualquer outro lugar do mundo”. Já Milton Alexan-dre Durski – dono da Cineplus – ap-resentou também todos os proble-mas e percalços por que passam os proprietários de cinema no Brasil, salientando que “às vezes o culpa-do por não serem exibidos filmes nacionais é o próprio público que esvazia as salas quando o filme é brasileiro”. Ao finali-zar sua palestra o empresário contou que em breve lançará na capital paranaense a pri-

meira sala de cinema “exclu-siva para filmes nacionais”.

Dentre oficinas, debates, filmes e seminários, são várias as atividades que acontecem na cidade dentro do Festival

Internacional de Cinema de Curitiba – Curitiba Int´l Film Festival. O último dia do evento é hoje, com exibição de filmes à partir das 9h30min no SESC de Esquina.

Modos alternativos de produção no cinema são tema de seminário

Oscar CidriRodrigo Schievenin

Na quinta-feira no SESC Paço da Liberdade, aconteceu o terceiro dia de seminários do Festival Internacional de Curitiba “Olhar de Cinema”. A discussão girou em torno de modos alternativos de pro-dução, devido ao baixo orça-mento do cinema nacional, e o impacto disso na linguagem cinematográfica. Os 56 luga-res do local estavam todos ocupados, na maioria por es-tudantes, e muita gente teve

que ficar de pé.A mesa era composta pelo

palestrante André da Costa Pinto, idealizador do Comuni-curtas – Festival Audiovisual de Campina Grande, também coordenador de Audiovisual do DECOM/UEPB. Junta-mente com Hernani Heffnner, curador de Documentação e Pesquisa da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e professor de cinema na PUC-Rio e UFF.

O debate sobre o tema se torna de extrema relevância, quando observamos que a maioria das produções de ci-nema no Brasil tem um orça-

mento que não passa dos R$ 150 mil. Se torna importante também, quando assistimos à maior premiação do cinema escolher como melhor filme de 2009 “Guerra ao Terror”, com seu orçamento de US$ 11 milhões. Diante de um “Avatar” que custou US$ 500 milhões. Mais recentemente, vimos o Oscar dedicar a es-tatueta de melhor filme para “O Artista”, longa metragem mudo e em preto e branco.

Em outras décadas, a mais avançada tecnologia custava muito dinheiro, era essencial para a produção de um filme e as alternativas eram escassas.

O panorama mudou. O com-putador foi inventado, junto com ele veio a internet banda larga, canais públicos como o You Tube, o digital barateou o equipamento. “Abriu-se uma perspectiva como nunca no mercado audiovisual brasilei-ro”, afirma Hernani. Ele con-tinua e diz que “não é mais uma diferença técnica” ou de “número de linhas, pixels”. O processo criativo é o que ren-de um bom filme.

André é um ótimo exemplo de quem trabalha com modos alternativos de fazer cinema e conseguiu bons resultados. Financiado pela UEPB, uma

parceria inédita, lançou o pri-meiro longa metragem campi-nense, “Tudo que Deus criou”.

Alguns dos primeiros pa-trocinadores de projetos de Costa Pinto lhe pagaram em 300 garrafas de cachaça, 3 caixões e rifas de R$ 1 para uma noite na melhor suíte de motel da cidade. Tudo isso foi vendido e o dinheiro revertido para concretizar as ideias do realizador audiovisual parai-bano. Para os aspirantes a ci-neasta, ele dá um conselho so-bre a importância de valorizar cada oportunidade: “o filme na escola, universidade, pode ser o filme da sua vida”.

Festival Internacional de Curitiba “Olhar de Cinema” traz para a cidade inúmeros seminários com importantes figuras do mercado cinematográfico

Oscar Cidri

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ESPECIAL

A fila que nunca acabaDanaê BubaloMarjori Von Jelita

Em Curitiba, quem precisa dar entrada em documentações para a liberação de serviços do Ministério do Trabalho e Empre-go (MTE) tem que acordar cedo, enfrentar fila e ainda corre o ris-co de não ser atendido no dia, devido ao número limitado de senhas para o atendimento.

Muitas vezes as pessoas que tentam dar entrada na documen-tação para garantir o benefício do seguro desemprego, acabam perdendo o prazo e não solicitan-do o serviço a tempo. É comum ver a população madrugando na fila à espera de uma senha, mas nem sempre o resultado é favorá-vel, o trabalhador não consegue garantir seu atendimento.

Alguns reclamam que só são distribuídas 50 senhas por dia no posto do bairro Fazendinha e que muita gente aproveita a grande procura para vender as vagas na

fila. “Comigo nunca aconteceu, mas já vi diversas pessoas ven-derem a senha por R$ 50,00. Isso já virou rotina aqui no posto da Fazendinha”, afirma Tamya Cris-tina de Freitas, estudante de 24 anos. Muitos também comparam a fila do MTE - para dar entrada no seguro desemprego - com a fila do Sistema Único de Saúde (SUS). “Meu filho veio às oito da manhã na semana passada e não conseguiu pegar a senha, eu cheguei às cinco da manhã e vou conseguir. Essa fila está pior que a do SUS”, observa José Antonio Nascimento, aposentado.

Em toda história do MTE sempre houve uma grande de-manda de trabalhadores para a emissão da primeira ou segun-da via da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), soli-citação do seguro desemprego e outros serviços. “Essa é a quarta vez que eu venho aqui (no pos-to do MTE na Rua da Cidadania da Fazendinha). Antes eu estava tentando tirar a primeira via da minha carteira de trabalho, não consegui. Na segunda tentativa deu certo, e agora é a segunda vez que venho pra tentar dar en-trada no meu seguro desempre-

go”, desabafa Tamya. Não só a procura por esses

serviços é grande, mas também o número de reclamações diaria-mente é constante. Otílio Men-des, 37 anos, está desempregado há um mês e procura as ofertas de trabalho do Posto de Atendi-mento da Rua da Cidadania do Pinheirinho, mas suas tentativas estão sendo em vão. “Eles falam que vão atender a partir das sete da manhã. Você pode ligar, pro-curar vagas na internet, vir até aqui, mas não adianta. É sempre a mesma história, a mesma pa-lhaçada”, afirma indignado.

Mesmo com a realização de mutirões de atendimento, não é possível amenizar a situação. Em 2010 foi criada pelo Ministé-rio do Trabalho uma ferramenta no site oficial onde o trabalhador pode solicitar o adiantamento no atendimento. Juntamente com o Sistema Nacional do Emprego (SINE), órgão responsável pelo seguro desemprego, as pessoas que desejam solicitar o benefício podem acessar o site da Secreta-ria Estadual do Trabalho e agen-dar o dia e o horário de atendi-mento. A criação deste auxílio foi para tentar amenizar as enor-

mes filas e a procura por servi-ços, mas a ferramenta está sendo pouco utili-zada pelos trabalhado-res. Falta de informação e acesso são os princi-pais fatores que impe-dem que o adianta-mento cola-bore com os atendimen-tos solicita-dos.

“Na ver-dade eu só fiquei sa-bendo que

podia fazer o agendamento pela internet porque você me falou”, comenta Suzana Matheus Cha-gas, 32 anos, que chegou à fila do posto da Fazendinha às cinco e meia da manhã. “Não sei se com o agendamento ia ficar mais fá-cil, mas eu tenho certeza de que não ia precisar vir pra cá de ma-drugada. Eu acredito que eles fa-zem isso porque não respeitam o desempregado. Como não traba-lho, então eu posso acordar cedo e posar aqui no terminal. Mas não é bem assim que funcionam as coisas”, desabafa Suzana.

No posto de atendimento da Rua da Cidadania do bairro Fazendinha, são trabalhadores que dormem na fila e outros que buscam atendimentos por mais de três tentativas. Para piorar a situação, as primeiras 25 senhas são para o período da manhã e o restante é atendido à tarde, o que dificulta ainda mais o serviço para a população.

Maria da Penha Kavalac está tentando dar entrada na sua apo-sentadoria. Ela pediu para o neto entrar no site e agendar um ho-rário. Ele fez o procedimento e acreditou que tinha facilitado a conclusão do processo, porém o atendimento levou bem mais tempo do que o esperado. “Não sei do que me adiantou ficar duas horas na frente do computador fazendo isso, já que demorou mais de meia hora o meu aten-dimento. Inventaram isso na in-ternet para tentar fingir serviço”, questiona indignada a trabalha-dora.

Na Rua da Cidadania do Pi-nheirinho, idosos, jovens e mu-lheres com crianças no colo são obrigados a chegar cedo e mes-mo assim correm o risco de ficar sem senha. Das mais de cem pes-soas que passam a noite lá, ape-nas 55 são atendidas. “Eu sempre que chego aqui mais tarde, umas sete, sete e meia da manhã, conto quantas pessoas estão na fila. Se passar o número das senhas dis-tribuídas eu vou embora, fazer o quê?” afirma Custódio Dias dos Santos, 29 anos, desempregado. O número de funcionários tam-

bém é pequeno. São apenas três atendentes para dar entrada no seguro-desemprego e mais três atendentes para o restante dos serviços.

Delegacia Regional do Tra-balho

Outro local com grande mo-vimento é a Delegacia Regional do Trabalho de Curitiba (DRTC). O órgão, que fica no centro da capital paranaense, é o que mais tem atendimento e o que também tem recordes no tamanho das filas para a retirada das senhas, muitas vezes elas acabam dando a volta na quadra. Por dia, mil e quinhentas pessoas passam pelo local procurando emprego, dan-do entrada em seguro desempre-go, e retirando primeira e/ou se-gunda via da carteira de trabalho. O posto concentra a maior parte dos atendimentos, e todas as ma-nhãs são distribuídas cerca de 200 senhas, mas mesmo assim o número é insuficiente para dar conta da demanda.

“Sou de São José dos Pinhais, vim pra cá cedinho, pra ver se consigo dar entrada no meu se-guro, porque lá na nossa regional é um caos. Mas pelo jeito aqui não vai ser diferente”, contou Andréia Matias dos Anjos, de 27 anos, que chegou no centro de Curitiba às sete da manhã e en-trou na fila que já estava na outra esquina da rua José Loureiro.

Além das enormes filas, e grande tempo de espera, muitos trabalhadores questionam a for-ma como são atendidos pelos funcionários e a qualidade dos serviços. Descaso com algumas pessoas, demora no atendimento, desleixo na procura de soluções e falta de respeito com quem pas-sa horas na fila para solucionar questões que são comuns - e que não necessitam de muito tempo para chegar a uma conclusão.

Pessoas que procuram o pri-meiro emprego encontram com muita facilidade os serviços na DRTC. São muitas as ofertas que aparecem diariamente no siste-ma do MTE. O que incomoda Guichês vazios em resposta a falta de funcionários

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alguns dos trabalhadores é a de-ficiência que existe no mercado para pessoas que possuem uma idade mais avançada. “Eu não aguento mais! Faz três horas que estou aqui para tentar conseguir uma vaga de emprego. Na televi-são eles mostram que aqui tudo é muito fácil, tudo lindo, mas não é. É muito difícil uma pes-soa com a minha idade conseguir um emprego digno!”, desabafa Cleonice Correia Alves, 43 anos, colocando mais um problema em pauta.

Agora, além das filas diárias para os serviços do MTE, os grandes incômodos que o traba-lhador está sujeito, a baixa qua-lidade dos serviços ofertados, pouca remuneração e o alto grau de exigência para alguns casos, a falta de ofertas para pessoas acima de 40 anos vem trazendo mais dor de cabeça para os de-sempregados. Realmente são ofertadas diversas vagas diaria-mente, mas muitas vezes o perfil do desempregado não está com-patível com o mercado ao qual ele é direcionado pela DRTC.

O superintendente do Minis-tério do Trabalho e Emprego,

Neivo Beraldin, deixou claro quanto o sistema está com gran-des problemas de administração e organização. “Por ano em Curitiba são emitidas cerca de 350 mil carteiras de trabalho. Existe uma carência muito gran-de de funcionários para atender esta demanda”, afirma Beraldin, salientando ainda mais os pro-blema que a população está sub-metida a encontrar quando pro-cura por esses serviços.

Na opinião do superintenden-te, o MTE precisa urgentemen-te passar por uma reciclagem, com novos funcionários, mais agências, uma maior estrutura. Em carta que o superintendente encaminhou formalmente ao Mi-nistério Público do Trabalho em Brasília, ele pediu mais funcio-nários para a melhoria do atendi-mento ao público, mas a resposta foi negativa com a desculpa de que o Ministério do Planejamen-to não está liberando novas con-tratações. Beraldin ainda afirmou que os funcionários do MTE se aposentam e é difícil a reposição destes, e quando acontece uma reposição, essa leva cerca de cin-co meses.

Suposta solução

As enormes filas nos postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) diminuíram após a escolha do governo em adaptar seus serviços para o atendimen-to eletrônico, que agora pode ser feito por telefone ou internet. Não é mais necessário sair de casa para marcar uma perícia e as cenas que antigamente eram vistas nos postos da Previdência Social agora são bem diferentes.

Antigamente o segurado po-dia levar meses para conseguir marcar um atendimento e, aí sim, requisitar benefícios como salá-rio-maternidade, auxílio-doença ou aposentadoria. Antes eram comuns as críticas feitas pelos jornais com as fatalidades que corriam na fila do INSS e com o grande descaso que o governo tinha com os idosos ou doentes. Atualmente faz muito tempo que não são vistas manchetes em jor-nais criticando a fila do INSS.

Agora já possível ser feito um adiantamento virtual, o que facilitou muito o atendimento para os idosos e para os que ne-cessitam dos serviços do INSS. “Eu fui à busca do meu auxílio de afastamento, pois tive um aci-dente no meu trabalho. Demo-rei um ano para ter o processo concluído”, relembra Shander Iverson Leonardo, 31 anos.

O prazo de espera para as conclusões dos serviços que an-tes demoravam meses, e até mes-mo anos, agora possui um tempo médio de 60 dias, se o idoso ou beneficiário fizer o agendamen-to pela internet. As filas que não existem mais nos postos de aten-dimento, agora são consideradas filas virtuais, pois ainda existe uma demora, mas num tempo muito inferior comparado com anos atrás.

Segundo o jornal Gazeta do Povo, na edição do dia 25 de fevereiro de 2012, no Paraná as agências do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) são as mais demoradas para anali-sar os pedidos de aposentadoria, auxílio-doença e auxílio-mater-nidade, entre outros. Enquan-to a média nacional do tempo estipulado para dar início aos processos dos benefícios é de 25 dias, no Paraná este tempo é do-brado.

Foi divulgado pelo regula-mento do INSS que a primeira

parcela do benefício do trabalha-dor deve ser paga em até 45 dias após a entrega da documentação exigida, mas no estado essa es-pera é muito maior. A culpa por essa demora não é somente da burocracia, mas, também, da

falta de estrutura das agências. Assim como o Paraná é o esta-do mais lento na concessão dos benefícios, também é o mais sobrecarregado. Enquanto o nú-mero de funcionários diminuiu a demanda aumentou.

Trabalhadores reclamam do sistema e exigem respeito

ApenAs um descAso Em entrevista com o superintendente da Regional do Ministé-

rio do Trabalho e Emprego, Neivo Beraldin, ele confirmou o grave problema que o sistema está enfrentando com a falta de funcioná-rios e o descaso da parte do governo federal e a do Ministério do Planejamento com a situação. Beraldin informou que teria em seu gabinete documentos que comprovam tal descaso do poder públi-co e que ele iria divulgar e mostrar para a imprensa. Infelizmente, no caminhar da construção da matéria, isso não aconteceu.

Depois desta entrevista que foi concedida pelo telefone, a equi-pe do Lona marcou alguns encontros para obter mais informações e fazer registros fotográficos. Todas as três vezes que a reporta-gem tentou falar pessoalmente com o Neivo Beraldin – em horário de expediente – ele não estava.

Em uma breve conversa com a assessoria de imprensa do M T E, a jornalista responsável também confirmou a falta de mão de obra e alegou que o problema vem de Brasília. Inclusive citou a grave crise que o Ministério do Trabalho e Emprego de Guarapu-ava, no interior do Paraná, está passando e que o descaso seria por culpa dos mesmos: Brasília. A assessora desconversou a respeito de documentos que está na posse de Beraldin e que comprovam a falta de vontade por parte do governo federal.

Com documentos ou sem, a grande prova está na própria Re-gional do Ministério do Trabalho e Emprego aqui em Curitiba, onde existem sete guichês de atendimento aos trabalhadores à dis-posição e apenas três em funcionamento – como mostra a nossa foto – e, em conseqüência, uma longa fila de espera.M

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Somos todos Binho

Matheus [email protected]

CULTURA

Fazem oito anos que o Bar do Binho, que fica em São Paulo, apre-senta o seu tradicional Sarau. É uma reunião de escritores, poetas e ami-gos locais do Campo Limpo, distrito onde reside Binho. No entanto, com-pletam oito anos também os pedidos de alvará para que o local se torne um bar, conforme a Lei.

Nesse meio tempo, enquanto era driblado pela Prefeitura, Binho reali-zou os mais diversos tipos de Sarau. Local de eferverscência cultural, lá se faz presente todo tipo de discus-são, dentre elas a contestação das po-líticas públicas naquela comunidade. O bar articulava os questionadores populares, e é claro, com eles, seus questionamentos. Enfrentava de ma-neira artística e inteligente a falta de investimentos públicos em Cultura no Campo Limpo.

Com seu próprio dinheiro e apoio da comunidade, Binho também tenta manter uma biblioteca pública para

ciedade. Garante, ainda, o direito à cultura previsto pelo Artigo 125 da Constituição Federal: “O Estado ga-rantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais”.

Produtores Culturais das mais di-versas áreas estão comemorando em todo o país. O sistema deve ser capaz de oferecer aos produtores e à popula-ção estrutura e equipamentos capazes de fomentar a produção e o consumo de cultura local.Inicia-se um processo de valorização de cineastas, escritores, artísticas plásticos e dramaturgos, mas também de rappers, grafiteiros, arte-sãos, músicos tradicionais e remixado-res.

Se um povo sem história não tem memória, um povo sem cultura não existe. A cultura nos esculpe enquan-to indivíduos e povo, mas é ao mesmo tempo construída por indivíduos e pelo povo em um processo dinâmico que se retroalimenta. Por isso deve ser valori-zada em pequena e grande escala, em grandes teatros e no quintal de casa.

A produção cultural espelha seu criador, e portanto, espelha a socie-dade em que se insere. E nesse refle-

CINEMA

Além de ser um cinéfilo de car-teirinha, também coleciono filmes. Como sou estudante e moro sozi-nho, não é sempre que sobre um bom dinheiro no fim do mês para eu gastar com a minha coleção. Na mi-nha última visita ao Shopping Bari-gui, não resisti à tentação e comprei alguns filmes que estou ensaiando faz muito tempo para comprar.

O primeiro deles foi indicado ao Oscar do ano passado, do diretor Darren Aronofsky, Cisne Negro. O suspense psicológico, estrelado pela belíssima Natalie Portman, era um filme que eu estava fazia muito tem-po querendo comprar para poder me deliciar com todos os extras. O se-gundo, foi o nostálgico e divertido Super 8, e é dele que vou falar aqui hoje.

Super 8 é um filme de 2011, di-rigido por J.J Abrams, que o fez re-pleto de homenagens e referências

Beatriz [email protected]

a seu maior ídolo e mestre: Steven Spielberg, produtor do longa. O próprio enredo do filme, repleto de referências a filmes dos anos 70/80 como “Os Goonies”, “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” e “E.T. – O Extraterrestre”, é prova disso.

O filme se passa em 1979, em Li-lian, uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Um acidente com um trem de carga acontece e, sem querer, alguns adolescentes que estão no local filmam todo o ocorri-do. Coisas anormais começam, en-tão, a acontecer na cidade: objetos estranhos aparecem, peças de carro são roubadas, pessoas e cachorros somem…

Os cenários são maravilhosa-mente bem construídos, fazendo com que o filme pareça que foi real-mente gravado na década de oitenta. Como se fora uma obra esquecida de Steven Spielberg. A direção do

filme é praticamente perfeita, Abra-ms consegue construir o mistério sem que nada soe forçado e também monta uma das cenas de acidente mais bem executadas que eu já vi. Mais uma vez J.J. fez parceria com Michael Giagino (trilha sonora). Os dois já trabalharam juntos em Lost e Star Trek. Giagino é também o res-ponsável pela trilha sonora da belís-sima animação da Pixar, “Up – Altas Aventuras”.

O elenco é quase que inteiramen-te liderado por crianças. O maior destaque do filme é com certeza da iniciante Elle Fanning. A menina, de apenas 14 anos, consegue supe-rar a sua irmã mais velha, Dakota Fanning (que também é uma ótima atriz).

O filme não é um clássico de fic-ção científica como E.T, mas o final da obra é satisfatório. Mesmo com toda essa trama bem elaborada, te-

SUPER 8 – Nostalgia, Mistério e Paixão

mos aqui um filme sobre problemas familiares, aceitação e perdão. Mo-desto, divertido e emocionante, “Su-per 8″ é uma ótima opção para curtir com os amigos no fim de semana ou para pessoas que sentem falta de uma boa e emocionante aventura a lá anos 80.

estimular a leitura e o pensamento crítico entre os jovens do local. No entanto, viu fracassarem suas tenta-tivas de regularização junto ao poder público e, na última segunda-feira, o Bar do Binho foi fechado.

Enquanto isso, na quarta-feira, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou a Proposta de Emenda Cons-titucional (PEC) 416, que institui o Sistema Nacional de Cultura (SNC). A ideia é destinar mais recursos à área da cultura, alinhando políticas federais, estaduais e municipais para promover e fomentar a democratiza-ção e a descentralização na gestão de cultural no país.

O SNC é a garantia de que o Es-tado passa a reconhecer a Cultura enquanto expressão inata e dinâ-mica por parte do povo. Ele se tor-na responsável por aplicar políticas públicas contínuas, atestando a im-portância da cultura na identificação do indivíduo como parte de uma so-

xo conseguimos observar a direção em que caminhamos, nos autocri-ticar e nos manifestar por mudan-ça. Enquanto cresce a hegemonia, cai o Binho. Erguemos as mãos aos céus na esperança de que o Sistema Nacional de Cultura faça reconhe-cer os diversos Binhos país afora, reative a plenitude dos Pontos de Cultura e valorize um pouco mais a cultura tão rica e plural do Brasil.

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Curitiba, segunda-feira, 4 de junho de 2012 7

Perfil

Artilheiro debigodes

Inteligente, carismático, amigo e, claro, craque de bola. Poucos adjetivos são capazes de resumir algumas das inúmeras qualidades de um dos maiores ídolos da torcida atleticana, Barcímio Sicupira Junior.

Sicupa, Barcímo, Cracão da camisa 8, como queiram. Nasceu na Lapa, na região central do Paraná, no dia 10 de maio de 1944. No fim daquela tarde de outono, dona Ana e seu Barcímio não imaginavam o tamanho do orgu-lho que um dia sentiriam do recém-nascido.

Barcímio. Eita nomezinho estranho! E pra ajudar, Ju-nior! Você quer saber da onde surgiu essa nomenclatura e suas procedências? Bom, o nome que já vem do pai do nosso craque não tem lá um significado ou história. ”Meu pai, que também é Barcímio, era do Recife e lá no Nordeste eles costumam ter uns nomes meio esquisitos.” Curioso, o ex-jogador foi em busca da raiz da palavra e o mais longe que conseguiu chegar foi “bar de macaco”.

E a família, não satisfeita com dois nomes nada co-muns, decidiu continuar a saga: “Foi um nome que eu me acostumei e dei pro meu filho. E ele decidiu que vai dar pro dele também! O gurizinho não merece, mas ele vai fazer isso”, conta aos risos.

Sicupira mudou-se para Curitiba com meses de vida. E, acredite se quiser, a primeira paixão do lapeano foi uma bola e seu primeiro calçado, um par de chuteiras.

Infância tranquila e bem vivida. Criado em casa, últi-mo filho de três, espoleta e descalço para tudo que é lado, sempre na rua e com muitos amigos. “Isso ajudou minha educação, a minha criação, a formação do meu caráter. E lamento muito que as crianças de hoje não possam fazer o mesmo!”

A história de Sicupira no futebol começou desde a infância, jogando nas ruas com seus colegas. “Eu jogo futebol desde que me conheço por gente”. A coisa passou a ficar séria por volta dos dez anos quando ele iniciou em times organizados, como In-dependência e Linense.

Até que Sicupira começou a jogar no time dos grandes. “A manga da camisa do time ficava com-prida pra mim porque eu era muito pequeno”, re-corda ele.

Por volta dos 12 anos, Sicupira entrou no in-fantil, se destacou, cresceu, criou responsabilida-de, subiu para o juvenil e quando viu já estava no profissional. “Essa é a minha profissão, foi a minha profissão”, sentencia.

O ex-jogador, que também é professor de Edu-cação Física, deixa claro que o curso foi só um com-plemento para sua carreira, que foi essencial, mas não chega nem perto da importância do esporte.

Aos 19 anos, o comentarista já estava no Bota-fogo, time sensação da década de 60, com craques como Garrincha, Didi, Zagallo e Nilton Santos. “Eu joguei com e contra os maiores jogadores do mundo. Fiz parte de uma geração de gênios e es-ses craques não iam pra fora. Eu convivi com boa parte da safra campeã do mundo em 1958. Cheguei ao Atlético bem mais rodado, com 24 anos”, conta Sicupira.

Atlético Paranaense. O clube que marcou a vida do ex-jogador. Foram oito anos vestindo a oitava camisa rubro-negra. Chegou na baixada em 1968 e marcou um gol inacreditável de bicicleta logo na estreia contra o São Paulo. “Eu tive muita sorte. Fiz gols em todas as minhas estreias. Isso fez uma bai-ta diferença.” Foi artilheiro e campeão em 70 (20 gols) e artilheiro em 72 (29 gols). Até hoje ostenta o posto de maior artilheiro do clube, com 158 gols.

O fim da carreira de jogador é uma incógnita para muitos. E é algo que até hoje incomoda Sicu-pira. “Na volta de uma excursão do Espírito Santo, percebi que não tínhamos respaldo e apoio algum da diretoria. Aí simplesmente resolvi parar, sem um jogo de despedida, sem nada. Não tenho nada pra falar contra a instituição Atlético - nem contra a torcida que sempre me tratou muito bem, mas sim contra algumas pessoas que passaram pelo clube. Mas a gente passa e o Atlético fica, e eu sou muito grato a esse clube”.

Devido ao diploma de professor de educação física, o ex-jogador seguiu no ramo esportivo, le-cionando em escolas da capital paranaense. Caris-mático e desenvolto, foi na mídia que Sicupira se reconstruiu. Utilizou a experiência e os anos no fu-tebol para informar e entreter o público.

Virou comentarista esportivo aos 36 anos e con-tinua firme até hoje. “Claro que agora com muito mais respaldo para falar.” Atualmente, atua nas jor-nadas e programas da rádio Banda B e no programa Balanço Esportivo da Rede CNT.

Ana Helena Goebel

Muitas vezes questionado por um segmento no ramo político, Sicupira demonstra um leve interesse, que já é logo substituído pelo cansaço e comodidade. “Não tro-co nada pela minha vida tranquila e meus trucos de fim de tarde.”

Que loucura!O ex-jogador conta o jogo mais bizarro e inespera-

do da sua carreira. Foi no dia 7 de setembro de 1963, quando ele ainda jogava pelo Ferroviário. Era uma par-tida contra o Primavera e Sicupira recebeu a bola, deu chapéu em três adversários e bateu de perna esquerda para o fundo do gol. “A torcida não sabia nem como comemorar aquele gol. Alguns aplaudiram, outros gri-tavam e tiveram alguns que chegaram a jogar dinheiro no campo!”, conta com sorriso nos lábios.

Barcímio ou Aurélio?Para quem pensa que Sicupira só mandava bem den-

tro de campo, o homem é quase um dicionário! Uma vez em Maringá, num encontro casual, o zagueiro do time local adentra no bar e é recebido pelo presiden-te do clube. “Fulano, sente-se aqui e coma conosco.” O zagueiro respondeu: “Obrigado, eu vou aceitar um conosquinho!” A partir daí, Sicupira trouxe o apelido para o que chamamos de aperitivo para a capital. “E já tem um bar que colocou no cardápio ‘Conosquinhos’”. Quem diria, hein?

Ping-pong com o ídolorubronegro

Um amor: “Minha família.”Uma bebida: “Cuba.”

Uma frase: “Unidos venceremos.”O fato que mais marcou sua vida: “Nascimento

dos meus filhos!”Um bar: “O bar do Ulysses.”

Um gol: “Gol de bicicleta contra o São Paulo na estreia do Atlético em 1968.”

Uma partida: “O Atletiba de 1974, que o Atlético ganhou de 4x3.”

Um livro: “Código Matarezi” Um filme: “O Segredo de Brokeback Mountain”

Um(a) artista: “Julia Roberts”Um jogador: “Pelé”

Um esporte: “Futebol, é claro!”Um lazer: “Ah, pescaria! E quantas

histórias...”Uma comida: “Feijoada”Uma mulher: “Várias!”

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Manancial de miséria e maravilha

Jéssica Carvalho

Marçal Aquino se diz andarilho. Não de um jeito vul-gar, como quem larga a família e sai vagando por aí, mas do tipo que gosta de andar para ver o mundo. É por isso que não leva livros para onde quer que vá, mesmo que os adore. “Rua não é lugar de ler, rua é lugar de ver gente”, explica. E vez ou outra, assistindo a vida alheia, presencia uma cena do jeitinho que gosta e a transforma em prosa.

Um dia desses o escritor passeava, distraído, quan-do ouviu uma frase que lhe chamou a atenção. “Deve ser esquisito ser mulher”, dizia um dos dois caras for-tes que conversavam ali por perto. Marçal não sabia o contexto, mas gostou do que ouviu e pensou que ainda

usaria essas palavras. O mesmo aconteceu com o título de sua obra mais recente, “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, de 2005, que foi adaptada para o cinema e estreou no mês passado.

Sobre sua relação com o cinema, o escritor é curto e grosso: “sou apenas espec-tador”, com ênfase no “apenas”. Pode parecer contraditório, já que seu nome assina vários roteiros e outras de suas obras já viraram filmes, mas ele jura de pés juntos que nunca pensou nisso. As coisas simplesmente foram acontecendo. A única vez que viu letras num papel e ao invés de pensar em literatura ou jornalismo pensou em cinema, foi quando leu “O Cheiro do Ralo”, de Lourenço Mutarelli, e percebeu que “aquilo dava um puto filme”, em suas próprias palavras. E deu.

Após passar os últimos seis anos sem publicar novos livros e ouvindo as reclama-ções de seu editor, que sempre pede por material novo, Aquino não tem novos projetos em vista. Também não se queixa de bloqueio criativo ou qualquer um desses caprichos de escritor que são resolvidos por seus colegas de ofício com rituais peculiares, assun-to que lhe aguça o humor. Ele ainda escreve - tudo a mão - e não acredita que precisa de uma nova mania “como escrever pelado”, sugere, para que lhe surjam ideias. Em resumo, diz que vai muito bem, obrigado, só não é o momento. Logo depois começa a monologar sobre gente que, em sua opinião, perdeu a chance de parar de escrever. Diz que as pessoas precisam perceber quando já publicaram tudo de relevante que po-deriam e com esse comentário deixa o ambiente pesado, pois dá a entender que anda refletindo demais sobre fins de carreiras literárias.

Mas a verdade é que se vai parar, nem ele sabe. Reconhece apenas que já chegou muito além do que imaginava quando era aquele menino pobre e alfabetizado tardia-mente mentindo a idade no cadastro da biblioteca de Amparo, sua cidadezinha natal, para que pudesse emprestar livros. Nessa época, via o lugar como um mercado - cheio de opções - e não sabia que possuiria o acervo de mais de 5.000 livros que hoje, aos 54 anos, invade seu quarto, sala e cozinha, na casa em que mora com a filha de 19 anos.

O que Marçal sempre soube, em versão moleque ou adulta, foi ouvir. Durante a infância eram as histórias que as pessoas mais velhas lhe contavam antes de dormir. Hoje ouve os sons do dia-a-dia, que classifica com três palavras iniciadas por “m”, curiosamente a primeira letra de seu nome: “manancial de miséria e maravilha”. As-sim, finalizou a conversa.

Kraw Penas