LOCAIS DO INÓSPITO: IDEIAS DE JOVENS AÇORIANOS...

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EMBORA OS AÇORES SEJAM UMA REGIÃO de origem vulcânica, com quase três centenas de cavidades já inventariadas, são ainda largamente desconhecidas as perspectivas da popu- lação sobre estes espaços. A profusão de nomes com que podem ser designadas (furnas, cafuas, grutas, algares, ca- vernas, buracos, galerias), sugere uma relação de interesse e proximidade por parte da população, no entanto têm sido pouco estudadas as perspectivas dos açorianos (e dos turis- tas) sobre as cavidades vulcânicas da região. As cavidades vulcânicas visitáveis dos Açores são alguns dos locais mais emblemáticos de ilhas como a Graciosa (Fur- na do Enxofre), o Pico (Gruta das Torres), São Miguel (Gruta do Carvão) e a Terceira (Algar do Carvão e Gruta do Natal). Além destas grutas (show-caves), especialmente preparadas para receber visitantes, existe ainda nas ilhas um grande con- junto de cavidades, de acesso mais ou menos difícil, mais ou menos conservadas, mais ou menos desconhecidas, com um riquíssimo património biológico e geológico. O valor destas grutas e algares deve-se não só à beleza e exclusividade de elementos geológicos (Pereira et al., in press), mas também aos elementos bióticos (fauna, flora, bactérias) que nelas ha- bitam (Amorim et al., 2013; Borges et al. 2010). Co-existindo com pastagens e florestas, as grutas formam parêntesis ex- 1 GRUPO DE BIODIVERSIDADE DOS AÇORES, CE3C. UNIVERSIDADE DOS AÇORES, ANGRA DO HEROÍSMO. 2 ESCOLA BÁSICA 1,2,3/JI FRANCISCO ORNELAS DA CÂMARA 3 ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA TOMÁS DE BORBA 4 ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DAS LAJES DO PICO 5 ESCOLA SECUNDÁRIA JERÓNIMO EMILIANO DE ANDRADE traordinários na paisagem, gozando de condições ambientais distintas, permitindo entrever o processo de formação das ilhas vulcânicas e comportando-se frequentemente como re- fúgios e motores de biodiversidade. Como primeiro contributo para conhecer as perspectivas dos açorianos acerca das grutas, apresentam-se os resulta- dos obtidos em 2011 com um grupo de alunos das ilhas do Pico e da Terceira, a frequentar o ensino básico (2º e 3º ciclos) e secundário. O que pensam os jovens acerca das grutas? Como as caracterizam? Quais conhecem? Como são viven- ciadas? São estas algumas das perguntas a que se procurou responder com este trabalho. Como foi feita a recolha de informação e o tratamento de dados Os dados foram recolhidos em contexto de sala-de-aula, uti- lizando-se um inquérito por questionário organizado em três partes: i) caracterização sociodemográfica – para obtenção de informações básicas sobre o enquadramento dos partici- pantes, como a naturalidade, o sexo, a idade, a escolarida- de, e também dados relativos à relação de identidade com o lugar de residência; ii) teste de associação livre de palavras – em que se pediu aos jovens para escreverem as primeiras pa- Gruta da Malha. Foto: Paulo A. V. Borges 77 LOCAIS DO INÓSPITO: IDEIAS DE JOVENS AÇORIANOS SOBRE GRUTAS ROSALINA GABRIEL 1 , ISABEL R. AMORIM 1 , MILENE FARIA 1 , NÍDIA HOMEM 2 , BERTA MARTINS 3 , CRISTINA M. M. SILVA 4 , HELENA CORREIA 5 & ANA MOURA ARROZ 1

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  • EMBORA OS AÇORES SEJAM UMA REGIÃO de origem vulcânica, com quase três centenas de cavidades já inventariadas, são ainda largamente desconhecidas as perspectivas da popu-lação sobre estes espaços. A profusão de nomes com que podem ser designadas (furnas, cafuas, grutas, algares, ca-vernas, buracos, galerias), sugere uma relação de interesse e proximidade por parte da população, no entanto têm sido pouco estudadas as perspectivas dos açorianos (e dos turis-tas) sobre as cavidades vulcânicas da região.

    As cavidades vulcânicas visitáveis dos Açores são alguns dos locais mais emblemáticos de ilhas como a Graciosa (Fur-na do Enxofre), o Pico (Gruta das Torres), São Miguel (Gruta do Carvão) e a Terceira (Algar do Carvão e Gruta do Natal). Além destas grutas (show-caves), especialmente preparadas para receber visitantes, existe ainda nas ilhas um grande con-junto de cavidades, de acesso mais ou menos difícil, mais ou menos conservadas, mais ou menos desconhecidas, com um riquíssimo património biológico e geológico. O valor destas grutas e algares deve-se não só à beleza e exclusividade de elementos geológicos (Pereira et al., in press), mas também aos elementos bióticos (fauna, flora, bactérias) que nelas ha-bitam (Amorim et al., 2013; Borges et al. 2010). Co-existindo com pastagens e florestas, as grutas formam parêntesis ex-

    1 GRUPO DE BIODIVERSIDADE DOS AÇORES, CE3C.

    UNIVERSIDADE DOS AÇORES, ANGRA DO HEROÍSMO.

    2 ESCOLA BÁSICA 1,2,3/JI FRANCISCO ORNELAS DA CÂMARA

    3 ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA TOMÁS DE BORBA

    4 ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DAS LAJES DO PICO

    5 ESCOLA SECUNDÁRIA JERÓNIMO EMILIANO DE ANDRADE

    traordinários na paisagem, gozando de condições ambientais distintas, permitindo entrever o processo de formação das ilhas vulcânicas e comportando-se frequentemente como re-fúgios e motores de biodiversidade.

    Como primeiro contributo para conhecer as perspectivas dos açorianos acerca das grutas, apresentam-se os resulta-dos obtidos em 2011 com um grupo de alunos das ilhas do Pico e da Terceira, a frequentar o ensino básico (2º e 3º ciclos) e secundário. O que pensam os jovens acerca das grutas? Como as caracterizam? Quais conhecem? Como são viven-ciadas? São estas algumas das perguntas a que se procurou responder com este trabalho.

    Como foi feita a recolha de informação e o tratamento de dadosOs dados foram recolhidos em contexto de sala-de-aula, uti-lizando-se um inquérito por questionário organizado em três partes: i) caracterização sociodemográfica – para obtenção de informações básicas sobre o enquadramento dos partici-pantes, como a naturalidade, o sexo, a idade, a escolarida-de, e também dados relativos à relação de identidade com o lugar de residência; ii) teste de associação livre de palavras – em que se pediu aos jovens para escreverem as primeiras pa-

    Gruta da Malha. Foto: Paulo A. V. Borges

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    LOCAIS DO INÓSPITO: IDEIAS DE JOVENS AÇORIANOS SOBRE GRUTASROSALINA GABRIEL1, ISABEL R. AMORIM 1, MILENE FARIA1, NÍDIA HOMEM2, BERTA MARTINS3, CRISTINA M. M. SILVA4, HELENA CORREIA5 & ANA MOURA ARROZ1

  • com a ilha em que vivem parece, contudo, ir diminuindo com a idade, uma vez que entre os alunos do 2º e 3º ciclos o valor mais frequente foi 5 (máximo) enquanto no grupo de alunos do secundário, foi 4.

    Vivências nas grutasCerca de três quartos do total dos inquiridos (74,5%) afirma-ram já ter visitado pelo menos uma gruta nos Açores (Figura 1), o que é sem dúvida um resultado notável, enquanto mais de metade (53%) gostariam de visitar grutas no futuro (Figu-ra 2). São os alunos mais novos (a frequentar o 2º CEB) que menos afirmam ter visitado grutas (apenas cerca de metade [54%] di-zem já o ter feito) enquanto entre os alunos que frequentam o secundário mais de 9 em cada 10 já o fez. É compreensí-vel que assim seja, uma vez que os alunos mais novos esta-rão mais dependentes de visitas acompanhadas, pela família ou por professores, do que os alunos mais velhos, e que algu-mas visitas de estudo são promovidas entre os ciclos de es-tudo mais avançados. De realçar que são de novo os alunos do secundário, que mais vontade têm de visitar grutas, ape-sar de serem também aqueles que mais afirmam ter estado nesse ambiente.Entre as grutas visitáveis mais conhecidas por estes jovens terceirenses e picarotos contam-se o Algar do Carvão e a

    lavras de que se lembravam quando pensavam em “Grutas”. Como termo comparativo utilizou-se ainda a palavra-estímu-lo “Ambiente”; e finalmente iii) um grupo questões para apurar a sua experiência direta e interesse por grutas - inquirindo se já tinham visitado alguma gruta e, em caso afirmativo, pedin-do para assinalar quais das grutas visitáveis dos Açores co-nheciam (Algar do Carvão, Furna do Enxofre, Gruta das Tor-res, Gruta do Carvão e Gruta do Natal), indicando finalmente se gostariam de visitar outras grutas, quais seriam e por que razões. Esta pequena ficha demorava cerca de 10 minutos a responder.

    A análise da frequência das palavras obtidas na associa-ção livre foi efectuada, com vista a identificar os significados mais comuns de “Gruta”, para destes inferir as interpretações coletivas que ajudam, de acordo com a Teoria das Represen-tações Sociais (Moscovici, 1978; Abric, 1994), a inteligir e a valorar a realidade. A desocultação da representação social de um objeto ou fenómeno ambiental constitui um recurso precioso para ajudar a definir estratégias para a sua conserva-ção. Em função do modo como as grutas são valoradas posi-tiva ou negativamente e dos atributos que lhe são associados podemos predizer as atitudes de que serão alvo por parte de uma comunidade local.

    Os participantes no estudoParticiparam no estudo 419 jovens, das escolas Francisco Ornelas da Câmara (n=61), Jerónimo Emiliano de Andrade (n=151) e Tomás de Borba (n=95), na Ilha Terceira, e da Esco-la Básica e Secundária das Lajes do Pico (n=112), na Ilha do Pico. O questionário foi passado nas escolas durante os me-ses de Fevereiro e Março de 2011. Entre os inquiridos conta-vam-se 173 alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico (90 meninas; 83 meninos), 174 alunos do 3º Ciclo do ensino Básico (106 meninas; 68 meninos) e 72 alunos do secundário (35 meni-nas; 37 meninos).

    A maior parte dos inquiridos é portuguesa (n=411; 98%), tem idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos e é origi-nária dos Açores (n=403; 96%). Quatro em cada cinco jovens (79%) atribuem grande relevância ao facto de viverem nesta ilha, não se imaginando a viver noutro lugar (pontuações 4 e 5 de uma escala de Likert de cinco pontos). Esta identificação

    FIGURA 2. Proporção de jovens que gostaria (e não gostaria) de visitar grutas no futuro, de acordo com a escolaridade (nr, não responde).

    FIGURA 3. Grutas visitadas pelos jovens (valores em % por ilha).

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    FIGURA 1. Proporção de jovens que visitaram (e não visitaram) grutas, de acordo com a sua escolaridade.

  • Gruta do Natal (Terceira) e a Gruta das Torres (Pico) (Figura 3).Todas as grutas da lista tinham sido visitadas pelo menos por alguns jovens, e foram ainda citadas outras grutas, nomeada-mente a Gruta das Agulhas (Terceira), uma gruta na zona cos-teira da ilha, com entrada assinalada na estrada, de fácil aces-so e conhecida como abrigo de pescadores. De notar que cerca de um em cada dez jovens do Pico afirmam já ter visita-do grutas noutras ilhas, nomeadamente a Gruta do Carvão, a Furna do Enxofre e o Algar do Carvão. O número relativamen-te elevado (mais de 10%) de jovens que afirma ter já visitado a Furna do Enxofre, na Graciosa, pode estar relacionado com o protagonismo que este elemento assume nessa ilha.

    A análise do conjunto de palavras e expressões obtidas a partir da associação livre com o termo indutor “Grutas” inclui 378 palavras diferentes, 170 palavras únicas e 2482 palavras citadas pelo total dos 419 jovens, o que dá uma média de 5,9 palavras citadas por pessoa. No mesmo questionário os jo-vens apresentaram um valor médio de palavras superior para o estímulo “Ambiente” (n=7,9), o que indica que este é um conceito mais presente e familiar do que “Grutas” (para uma discussão acerca de perspectivas infantis acerca do “ambien-te” ver Cordeiro et al., 2012).

    Uma primeira análise da riqueza de termos obtida a par-tir da evocação de “Grutas”, mostra um conjunto interessante de palavras, com frequências distintas, como se pode apre-ciar na Figura 4 e no Quadro 1.

    Pedras, rochas e escuridão, são os termos mais salientes da análise de evocação (Quadro 1), sendo comuns aos três níveis de ensino em estudo. As grutas são assim retratadas como locais inóspitos, rochosos, em grande parte vazios, profun-dos e muito escuros. A noção de inospitabilidade é apenas quebrada pela inclusão, entre os termos salientes, de pala-vras como água ou humidade, mas mesmo estas, vêm mais associadas a “frio” (conceito presente nos três grupos de en-sino) do que a “vida” (termo ausente das representações). De facto, entre os seres vivos que povoam as grutas, contam-se criaturas tradicionalmente consideradas “pouco simpáticas” (Gabriel et al. 2012), como aranhas, cobras, escorpiões, in-sectos, morcegos, ratos e (até) ursos, não estando no entan-to representadas as bactérias, elementos muito típicos destes habitats (Hathaway et al. 2014).

    Apesar do contacto destes jovens com grutas dos Aço-res – região onde vivem e gostam de viver, as grutas aqui des-critas são de algum modo estereotipadas, uma vez que nada as distingue ou diferencia de outras grutas de qualquer lugar

    FIGURA 4. Riqueza de palavras obtidas a partir da evocação do termo “Grutas” (o maior ou menor tamanho das palavras indica a sua maior ou menor frequência) (núvem de palavras obtida a partir do programa www.tagxedo.com) .

    do mundo. Por exemplo, a dimensão histórica – não açoria-na, associada às pinturas rupestres, está muito presente en-tre os jovens do 2º Ciclo do Ensino Básico, embora não seja continuada pelos alunos do 3º ciclo ou Secundário. Os mor-cegos, referidos por mais de um quarto dos jovens (n=122; 29%), dificilmente serão aqueles que mais frequentemente se vêem no arquipélago, (a espécie endémica, Nyctalus azo-reum, Morcego-dos-Açores), uma vez que estes não se abri-gam em grutas e têm comportamentos de caça diurnos, ao contrário do que acontece com outros morcegos. A própria descrição geológica das grutas é vaga, destacando-se pala-vras como “estalactites”, “estalagmites” (comuns a ambientes cársticos) e “lava”, mas sem referência, por exemplo a diato-mitos (rochas formadas pela precipitação das paredes celu-lares de algas microscópicas, as diatomáceas), e às lavas AA (a’a; ásperas e irregulares) ou encordada (pahoehoe; suaves, viscosas, contínuas), tão fáceis de observar nas grutas dos Açores.

    Algumas reflexõesAs grutas não são completamente desconhecidas para estes jovens, uma vez que cerca de três quartos afirmam já ter visi-tado pelo menos uma gruta nos Açores. Estes dados não po-dem no entanto ser generalizados a toda a população estu-dantil do arquipélago, uma vez que existem grutas visitáveis nas duas ilhas onde o estudo foi realizado, o que certamente facilita o acesso dos jovens a este ambiente.

    Em todo o caso, a rede de palavras obtida com a associa-ção livre é de tamanho respeitável e pode considerar-se ajus-tada, embora a visão dominante envolva espaços inóspitos: de origem vulcânica, formados por rocha, escuros, húmidos e pouco habitados. Esta rede de palavras pode considerar-se relativamente pobre em elementos típicos dos ecossistemas cavernícolas insulares açorianos e podemos interrogar-nos se todo o potencial destes elementos está a ser explorado na re-gionalização curricular (DRR nº 17/2011/A de 2 de Agosto).

    A preocupação e o interesse manifestado pelas grutas, aliada à facilidade de acesso em quase todas as ilhas dos Açores, são uma excelente oportunidade para introduzir jun-to das famílias, Escola e Associações de Defesa do Ambien-te, mais alguma informação acerca de:

    • geodiversidade e vulcanismo – processos de formação de ilhas, razão de ser da presença de maior ou menor nú-mero de cavidades vulcânicas conforme a idade da ilha e o tipo de vulcanismo que lhe deu origem, minerais e ou-tras formações características;

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    LOCA IS DO INÓSP ITO : IDE IAS DE JOVENS AÇOR IANOS SOBRE GRUTAS

  • QUADRO 1. Representações das Grutas segundo o ciclo de ensino que os 419 jovens frequentam; apresentam-se apenas as pa-lavras que surgiram cinco ou mais vezes (CEB, Ciclo do Ensino Básico). A seguir a cada termo, indica-se o nº de evocações em cada ciclo de ensino e a sua percentagem.

    2º CEB (N=173) 3º CEB (N=174) SECUNDÁRIO (N=72)TERMOS MAIS SALIENTES PEDRAS (93; 54%) ESCURIDÃO (91; 52%) ROCHAS (33; 46%)

    ESCURIDÃO (88; 51%) PEDRAS (71; 41%) ESCURIDÃO (31; 43%)

      ROCHAS (71; 41%) ESTALACTITES (31; 43%)

    TERMOS SALIENTES Morcegos (56; 32%) Água (53; 30%) Estalagmites (27; 38%)

    Rochas (55; 32%) Morcegos (50; 29%) Humidade (21; 29%)

    Água (31; 18%) Frio (31; 18%) Minerais (16; 22%)

    Terra (30; 17%) Terra (29; 17%) Morcegos (16; 22%)

    Humidade (21; 12%) Humidade (26; 15%) Algar do carvão (13; 18%)

    Buracos (21; 12%) Estalactites (25; 14%) Água (12; 17%)

    Aranhas (20; 12%) Buracos (19; 11%) Capacetes (12; 17%)

    Pinturas rupestres (20; 12%) Lanternas (10; 14%)

    Profundidade (10; 14%)

    Gruta do Natal (9; 13%)

    TERMOS MENOS SALIENTES Estalactites (18; 10%) Vulcão (16; 9%) Montanheiros (7; 10%)

    Carvão (18; 10%) Lava (15; 9%) Turismo (7; 10%)

    Frio (17; 10%) Aranhas (14; 8%) Frio (6; 8%)

    Lava (16; 9%) Capacetes (14; 8%) Mistério (6; 8%)

    Insectos (11; 6%) Estalagmites (14; 8%) Enxofre (5; 7%)

    Minerais (11; 6%) Insectos (14; 8%) Vulcão (5; 7)

    Musgo (10; 6%) Gruta do Natal (13; 7%)

    Animais (9; 5%) Animais (12; 7%)

    Cobras (9; 5%) Medo (10; 6%)

    Mineiros (9; 5%) Musgo (10; 6%)

    Teias (9; 5%) Algar do Carvão (9; 5%)

    Exploração (8; 5%) Calhaus (9; 5%)

    Medo (8; 5%) Minas (9; 5%)

    Petróleo (8; 5%) Plantas (9; 5%)

    Estalagmites (7; 4%) Cavernas (8; 5%)

    Grandes (7; 4%) Profundidade (8; 5%)

    Guia turístico (7; 4%) Cabeçadas (7; 4%)

    Lanternas (7; 4%) Mineiros (7; 4%)

    Vulcão (7; 4%) Ouro (7; 4%)

    Escorpiões (6; 3%) Sujidade (7; 4%)

    Pingos de água (6; 3%) Ursos (7; 4%)

    Ratos (6; 3%) Crateras (6; 3%)

    Barulhentas (5; 3%) Eco (6; 3%)

    Capacetes (5; 3%) Escorregadias (6; 3%)

    Ouro (5; 3%) Teias (6; 3%)

    Fósseis (5; 3%)

    Grandes (5; 3%)

    Labirinto (5; 3%)

    Magnífico (5; 3%)

    Paredes (5; 3%)

    Perigo (5; 3%)

    Ratos (5; 3%)

    Turismo (5; 3%)

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  • • biodiversidade e evolução – algumas espécies são tão raras e especializadas que só existem mesmo em grutas dos Açores, como por exemplo o escaravelho Trechus terceiranus, a aranha Turinyphia cavernicola, e o pseu-doescorpião Pseudoblothrus oromii, excelentes exem-plos de estudo para explorar aspectos evolutivos em contexto insular (Amorim et al., 2012); outras espécies como briófitos, embora existindo fora das entradas das grutas, encontram refúgio nesse habitat, como por exem-plo Echinodium renauldii, o único musgo endémico dos Açores citado na Lista Vermelha da IUCN (mais informa-ção em Homem & Gabriel, 2008).

    • mitos e dados históricos associados – despertando o in-teresse pela história local, uma vez que alguns dos explo-radores e pioneiros na descoberta de novas cavidades fazem parte da comunidade e podem ser entrevistados, partilhando com os jovens experiências com que eles se conseguem identificar, por exemplo, o desejo de aven-tura, a experiência de actividades ao ar livre, cultivando resistência física e mental, ou trabalhando outros temas como a toponímia e histórias (estórias?) associada a cada um destes espaços;

    • utilidades potenciais – chamando a atenção para investi-gação que tem sido desenvolvida nestes ambientes nos Açores, seja em biotecnologia, testando bactérias para determinar os seus efeitos antibióticos (Dapkevicius & Ri-quelme, 2013), seja com a ligação à qualidade da água, ou com o potencial económico associado à visitação e ao turismo, discutindo por exemplo um aumento do número de grutas visitáveis na região, que proporcionaria a mais pessoas o usufruto de experiências únicas.

    • conservação da natureza e dos recursos naturais – reflec-tindo nos papéis que podem ser desempenhados pela sociedade civil (ONGA’s) e pelo estado para promover a conservação; analisando legislação que possa garantir o uso sustentável de espaços que se encontram na maioria dos casos em terrenos particulares, mas cujo principal in-teresse é de utilidade pública.

    Além das importantes funções que desempenham nos ecos-sistemas dos Açores, como locais de captação de água e re-fúgios de biodiversidade, com reflexo na economia das ilhas, atraindo numerosos turistas e albergando um conjunto de se-res únicos, de que só agora começamos a perceber o inte-resse económico, as grutas desempenham também um papel importante na formação e cultura da região e podem ser utili-zadas/usufruídas em vários contextos para expandir o conhe-cimento e as experiências de vida dos açorianos.

    AGRADECIMENTOSAs autoras gostariam de agradecer:

    - à Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo financiamento do Projecto FCT-PTDC/AMB/70801/2006: Understanding Underground Biodiversity: Studies of Azorean Lava Tubes, liderado pela Professora Maria de Lurdes Enes Dapkevicius.

    - aos Conselhos Executivos das Escolas Básica 1,2,3/JI Fran-cisco Ornelas da Câmara, Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade e Básica e Secundária Tomás de Borba (na ilha Ter-ceira) e da Escola Básica e Secundária das Lajes do Pico, na ilha do Pico a autorização para realizar este trabalho junto de

    uma amostra dos seus alunos e de modo muito especial a todos os alunos que partilharam connosco as suas ideias;

    - à Associação “Os Montanheiros – Sociedade de Exploração Espeleológica”, na pessoa do seu Presidente, Paulo Barce-los e do incansável “Professor Pardal” – Fernando Pereira por todo o apoio prestado em várias fases deste trabalho;

    - aos nossos colegas do Grupo da Biodiversidade dos Aço-res, nomeadamente Paulo A. V. Borges e Enésima Mendon-ça por todo o seu apoio ao longo dos anos e

    - a todos quantos estudam e gostam de grutas.

    REFERÊNCIAS

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    Cordeiro, L., Arroz, A. M. & Gabriel, R. (2012). O ambiente sob o signo da infância: diversidade de conceitos e expectativas face ao futuro. In R. Gabriel (Org.), Abordagens do ambiente em contexto educativo (cap. 4: pp. 177-289). Princípia, Cascais.

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    Dapkevicius, M. L. N. E. & Riquelme, C. (2013). Vida microbiana nas grutas dos Açores. Pingo de Lava, 37: 69-75

    Gabriel, R., Faria, M., Homem, N., Martins, B., Silva, M. C., Correia, H. & Arroz, A. M. (2011). Locais do inóspito: perspectivas de alunos dos Açores sobre grutas. «II Encontro Ibérico de Biologia Subterrânea». Universidade de Aveiro, Portugal, 2 a 4 de Setembro de 2011 (Comu-nicação). http://repositorio.uac.pt/handle/10400.3/2410

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    Hathaway, J. J. M., Garcia, M. G., Moya, M., Spilde, M. N., Stone, F. D., Dap-kevicius, M. L. N. E., Amorim, I., Gabriel, R., Borges, P. A. V., Northup, D.E. (2014). Comparison of Bacterial Diversity in Azorean and Hawai-ian Lava Cave Microbial Mats. Geomicrobiology Journal, 31: 205-220.

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