Livro Renovando Atitudes [Hammed]

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 1 RENOVANDO ATITUDES FRANCISCO DO ESPÍRITO SANTO NETO DITADO PELO ESPÍRITO HAMMED

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    RENOVANDO ATITUDES FRANCISCO DO ESPRITO SANTO NETO

    DITADO PELO ESPRITO HAMMED

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    NDICE

    Palavras do mdium O esprito Hammed Renovando atitudes

    CAPTULO 1 = Tua medida = CAPTULO 10, item 11 CAPTULO 2 = Ser Feliz = CAPTULO 5, item 20 CAPTULO 3 = Tempos da Ignorncia = CAPTULO 18, itens 10 e 11 CAPTULO 4 = Contigo mesmo = CAPTULO 17, item 7 CAPTULO 5 = Aprendendo a perdoar = CAPTULO 10, item 2 CAPTULO 6 = Teu lugar na vida = CAPTULO 7, item 5 CAPTULO 7 = Eu no merecia = CAPTULO 5, item 3 CAPTULO 8 = A verdade = CAPTULO 2, item 1 CAPTULO 9 = Pr-ocupao = CAPTULO 25, item 6 CAPTULO 10 = Sacudir o p = CAPTULO 21, itens 10 e 11 CAPTULO 11 = Olhando para trs = CAPTULO 5, item 8 CAPTULO 12 = Desbravando mistrios = CAPTULO 7, item 7 CAPTULO 13 = Tempo certo = CAPTULO 17, item 5 CAPTULO 14 = Quem so os regenerados = CAPTULO 3, item 17 CAPTULO 15 = Servilismo = CAPTULO 9, item 8 CAPTULO 16 = Extenso da alma = CAPTULO 17, item 11 CAPTULO 17 = Simplesmente um sentido = CAPTULO 24, item 12 CAPTULO 18 = Preconceito = CAPTULO 16, item 4 CAPTULO 19 = Gro de mostarda = CAPTULO 19, item 1 CAPTULO 20 = Preceptor das almas = CAPTULO 1, item 4 CAPTULO 21 = Amar no sofrer = CAPTULO 5, item 26 CAPTULO 22 = Lgrimas = CAPTULO 5 item 1 CAPTULO 23 = Os opostos = CAPTULO 10, item 12 CAPTULO 24 = Aparncias = CAPTULO 21, item 1 CAPTULO 25 = Galho verde = CAPTULO 8, item 4 CAPTULO 26 = O amor que tenho o que dou = CAPTULO 11, item 8 CAPTULO 27 = Palavras e atitudes = CAPTULO 18, item 6 CAPTULO 28 = Crenas e carma = CAPTULO 5, item 4 CAPTULO 29 = A arte da aceitao = CAPTULO 5, item 13 CAPTULO 30 = Vnculos familiares = CAPTULO 4, item 18 CAPTULO 31 = Vantagens do esquecimento = CAPTULO 5, item 11 CAPTULO 32 = O cisco e a trave = CAPTULO 10, item 9 CAPTULO 33 = Verniz social = CAPTULO 9, item 6 CAPTULO 34 = Velhos hbitos = CAPTULO 9, item 10 CAPTULO 35 = Belo planeta Terra = CAPTULO 3, item 7 CAPTULO 36 = Imposies = CAPTULO 8, item 8 CAPTULO 37 = Convenincia = CAPTULO 13, item 7 CAPTULO 38 = Viver com naturalidade = CAPTULO 17, item 10 CAPTULO 39 = Carma e parentela = CAPTULO 4, item 19 CAPTULO 40 = Pesos inteis = CAPTULO 5, item 21 CAPTULO 41 = O Espiritismo = CAPTULO 1, item 5 CAPTULO 42 = Todos so caminhos = CAPTULO 18, item 5 CAPTULO 43 = Um impulso natural = CAPTULO 12, item 3 CAPTULO 44 = Desapego familiar = CAPTULO 14, item 5

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    CAPTULO 45 = Grau de sensibilidade = CAPTULO 17, item 4 CAPTULO 46 = Incgnitas = CAPTULO 10, item 18 CAPTULO 47 = Estado mental = CAPTULO 11, item 11 CAPTULO 48 = Os olhos do Amor = CAPTULO 15, item 6 CAPTULO 49 = Velhas recordaes, velhas doenas = CAPTULO 10, item 14 CAPTULO 50 = Tuas Insatisfaes = CAPTULO 10, item 10 CAPTULO 51 = Perfeio versus perfeccionismo = CAPTULO 17, item 1 CAPTULO 52 = Autoperdo = CAPTULO 10, item 15 CAPTULO 53 = Ligar-se a Deus = CAPTULO 28, item 1 CAPTULO 54 = A busca do melhor = CAPTULO 25 itens 1 e 2

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    ndice das Citaes de O Evangelho Segundo o Espiritismo

    ESE. Captulo 1, item 4 = Renovando Atitudes, CAPTULO 20 = Preceptor das almas ESE. Captulo 1, item 5 = Renovando Atitudes, CAPTULO 41 = O Espiritismo ESE. Captulo 2, item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 8 = A verdade ESE. Captulo 3, item 7 = Renovando Atitudes, CAPTULO 35 = Belo planeta Terra ESE. Captulo 3, item 17 = Renovando Atitudes, CAPTULO 14 = Quem so os regenerados ESE. Captulo 4, item 18 = Renovando Atitudes, CAPTULO 30 = Vnculos familiares ESE. Captulo 4, item 19 = Renovando Atitudes, CAPTULO 39 = Carma e parentela ESE. Captulo 5 item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 22 = Lgrimas ESE. Captulo 5, item 3 = Renovando Atitudes, CAPTULO 7 = Eu no merecia ESE. Captulo 5, item 4 = Renovando Atitudes, CAPTULO 28 = Crenas e carma ESE. Captulo 5, item 8 = Renovando Atitudes, CAPTULO 11 = Olhando para trs ESE. Captulo 5, item 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 31 = Vantagens do esquecimento ESE. Captulo 5, item 13 = Renovando Atitudes, CAPTULO 29 = A arte da aceitao ESE. Captulo 5, item 20 = Renovando Atitudes, CAPTULO 2 = Ser Feliz ESE. Captulo 5, item 21 = Renovando Atitudes, CAPTULO 40 = Pesos inteis ESE. Captulo 5, item 26 = Renovando Atitudes, CAPTULO 21 = Amar no sofrer ESE. Captulo 7, item 5 = Renovando Atitudes, CAPTULO 6 = Teu lugar na vida ESE. Captulo 7, item 7 = Renovando Atitudes, CAPTULO 12 = Desbravando mistrios ESE. Captulo 8, item 4 = Renovando Atitudes, CAPTULO 25 = Galho verde ESE. Captulo 8, item 8 = Renovando Atitudes, CAPTULO 36 = Imposies ESE. Captulo 9, item 6 = Renovando Atitudes, CAPTULO 33 = Verniz social ESE. Captulo 9, item 8 = Renovando Atitudes, CAPTULO 15 = Servilismo ESE. Captulo 9, item 10 = Renovando Atitudes, CAPTULO 34 = Velhos hbitos ESE. Captulo 10, item 2 = Renovando Atitudes, CAPTULO 5 = Aprendendo a perdoar ESE. Captulo 10, item 9 = Renovando Atitudes, CAPTULO 32 = O cisco e a trave ESE. Captulo 10, item 10 = Renovando Atitudes, CAPTULO 50 = Tuas Insatisfaes ESE. Captulo 10, item 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 1 = Tua medida ESE. Captulo 10, item 12 = Renovando Atitudes, CAPTULO 23 = Os opostos ESE. Captulo 10, item 14 = Renovando Atitudes, CAPTULO 49 = Velhas recordaes, velhas doenas ESE. Captulo 10, item 15 = Renovando Atitudes, CAPTULO 52 = Autoperdo

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    ESE. Captulo 10, item 18 = Renovando Atitudes, CAPTULO 46 = Incgnitas ESE. Captulo 11, item 8 = Renovando Atitudes, CAPTULO 26 = O amor que tenho o que dou ESE. Captulo 11, item 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 47 = Estado mental ESE. Captulo 12, item 3 = Renovando Atitudes, CAPTULO 43 = Um impulso natural ESE. Captulo 13, item 7 = Renovando Atitudes, CAPTULO 37 = Convenincia ESE. Captulo 14, item 5 = Renovando Atitudes, CAPTULO 44 = Desapego familiar ESE. Captulo 15, item 6 = Renovando Atitudes, CAPTULO 48 = Os olhos do Amor ESE. Captulo 16, item 4 = Renovando Atitudes, CAPTULO 18 = Preconceito ESE. Captulo 17, item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 51 = Perfeio versus perfeccionismo ESE. Captulo 17, item 4 = Renovando Atitudes, CAPTULO 45 = Grau de sensibilidade ESE. Captulo 17, item 5 = Renovando Atitudes, CAPTULO 13 = Tempo certo ESE. Captulo 17, item 7 = Renovando Atitudes, CAPTULO 4 = Contigo mesmo ESE. Captulo 17, item 10 = Renovando Atitudes, CAPTULO 38 = Viver com naturalidade ESE. Captulo 17, item 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 16 = Extenso da alma ESE. Captulo 18, item 5 = Renovando Atitudes, CAPTULO 42 = Todos so caminhos ESE. Captulo 18, item 6 = Renovando Atitudes, CAPTULO 27 = Palavras e atitudes ESE. Captulo 18, itens 10 e 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 3 = Tempos da Ignorncia ESE. Captulo 19, item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 19 = Gro de mostarda ESE. Captulo 21, item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 24 = Aparncias ESE. Captulo 21, itens 10 e 11 = Renovando Atitudes, CAPTULO 10 = Sacudir o p ESE. Captulo 24, item 12 = Renovando Atitudes, CAPTULO 17 = Simplesmente um sentido ESE. Captulo 25 itens 1 e 2 = Renovando Atitudes, CAPTULO 54 = A busca do melhor ESE. Captulo 25, item 6 = Renovando Atitudes, CAPTULO 9 = Pr-ocupao ESE. Captulo 28, item 1 = Renovando Atitudes, CAPTULO 53 = Ligar-se a Deus

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    Palavras do mdium

    Vivi grande parte de minha infncia, no perodo de 1956 a 1967, na fazenda Bela Vista, propriedade de meus pais nas redondezas de Catanduva. Morvamos em um casaro construdo no comeo do sculo, muito alto e alicerado sobre pores. Tinha grandes portas e janelas, uma ampla varanda a marcar a entrada, entrelaada com trepadeiras que a refrescavam com sombra acolhedora. Era todo rodeado de flamboyants floridos, cheirosos jambeiros e muitas outras rvores enormes.

    Apesar das diversas possibilidades de uma criana encontrar num lugar como esse motivos para brincar e divertir-se, eu me lembro de que meus entretimentos preferidos eram escutar minha me tocar piano; e construir com argila dolos, estatuetas e templos com altas colunas, os quais eu utilizava para criar histrias curiosas. Fantasiava e imaginava as personagens durante a noite em meus sonhos, para materializ-las depois, durante o dia, entre dramas e acontecimentos interessantes.

    Outro fato que me marcou profundamente foi que ao amanhecer, quase todos os dias, fazia do criado-mudo do meu quarto o altar de uma igreja, gesticulando com as mos, distribuindo bnos para os meus pais e minhas trs irms, alm de hstias de miolo de po feitas por mim.

    Se reno aqui algumas dentre as muitas recordaes de minha infncia somente para mostrar que, antes de entender-me como pessoa neste mundo e antes de possuir plena conscincia das coisas, j se manifestavam em mim fortes reminiscncias de vidas passadas, assim como tendncias profundas pela religiosidade e interesses vigorosos pela vida espiritual.

    Posteriormente, no incio de minha adolescncia, mudamo-nos para a cidade, onde me recordo das sucessivas indagaes a respeito do fenmeno morte que percorriam minha mente.

    Imensa curiosidade me envolvia quando acompanhava meus pais nos velrios de parentes e de amigos da famlia, pois reflexionava naqueles momentos, querendo desvendar a qualquer preo os mistrios do alm-tmulo. Durante os intervalos das aulas no Instituto de Educao Baro do Rio Branco, onde estudava, por seu prdio encontrar-se ao lado do cemitrio local, eu tinha a possibilidade, s vezes, de acompanhar o sepultamento de pessoas das mais diversas classes sociais.

    Observando os funerais, sempre indagava de mim mesmo o porqu de caixes humildes com tampos de pano ou das umas caras com enfeites de bronze; das corbelhas de flores exticas ou dos ramalhetes de flores caseiras; dos mausolus suntuosos de mrmore ou das covas rasas de terra batida. Se todos tinham a mesma destinao com a morte do corpo fsico, por que tantos contrastes? Para onde iam as almas? Como viviam? Quais os critrios para se viver bem aps a morte?

    Precisamente aos dezessete anos, ao ser tocado pela mediunidade redentora, fui levado a descobrir gradativamente todas as respostas para as perguntas que povoavam h anos meu esprito sedento pelas coisas espirituais. Passei, ento, por diferentes correntes religiosas e em algumas exercitei a mediunidade, aprendendo as primeiras lies sobre a reencarnao e sobre a vida no alm.

    No entanto, foi em 1973 que, pela primeira vez, tomei contato com as obras O Livro dos Espritos, de Allan Kardec, e Voltei, do Irmo Jacob,

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    presentes do querido amigo Diomar Zeviam, nas quais pude sentir uma atmosfera de recordaes saudosas associada emoo de j ter visto e apreciado todos aqueles textos e ensinamentos.

    Apesar de h muito o meu instrutor espiritual Hammed, junto de outros tantos espritos bondosos que me assistem, estar presente dirigindo minhas faculdades medinicas atravs da psicofonia, somente em novembro de 1974 recebi minha primeira pgina psicografada. Tinha como ttulo O Valor da Orao e vinha assinada pelo esprito Ivan de Albuquerque, entidade amiga at ento completamente desconhecida em meu crculo de atividades espirituais.

    No decorrer desses quase vinte e cinco anos nas tarefas da mediunidade, recebi centenas de mensagens, realizando o devido exerccio de ajustamento e flexibilidade que esses mesmos mentores diziam que eu necessitava ter para ser um elemento mais afinado com eles, para adquirir boa receptividade e produzir convenientemente.

    Ao longo desses anos, aprendi a admirar o Bem cada vez mais e, por meio dele, edifiquei, com outros tantos amigos, a Sociedade Esprita Boa Nova, nascida de um trabalho despretensioso de um grupo de jovens em 1981. Os anos passaram e as atividades na rea medinica se mesclaram com as da rea social.

    Os caminhos se alargaram e a luz continuou sempre a atingir a todos ns. Nos ltimos anos, surgiram em nossa sociedade, para nossa alegria, vrios empreendimentos ligados rea do livro esprita, sob a inspirao do Mundo Maior: Clube do Livro, Banca do Livro, Livraria Esprita, Distribuidora e, recentemente, a Editora.

    Nada acontece por acaso. Assim refletindo, consigo visualizar claramente toda a fase de preparao pela qual passei, a fim de poder, hoje, contribuir humildemente com meus poucos recursos de mdium no trabalho iluminado do Espiritismo.

    Agradeo ao Bom Mestre Jesus, bem como aos nobres e generosos Mensageiros Espirituais, a oportunidade de estar colaborando com os leitores deste livro de Hammed, em que servi de simples intermedirio. Que esta obra possa inspir-los em seu dia-a-dia, colocar luz em seus caminhos e dar-lhes entendimento diante dos obstculos.

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    O esprito Hammed *

    Recordo-me de que, no final de 1972, registrei pela primeira vez a presena amiga do meu Instrutor Espiritual, Hammed. Experimentei, durante todo o tempo em que transmitia suas palavras pela psicofonia semi-inconsciente, uma sensao nova, que me envolveu o corao numa serena atmosfera fludica. Uma paz imensa tomou conta de todo o recinto, envolvendo os que ali participavam das tarefas da noite.

    Ele afirmava nesse encontro que seus laos afetivos se prendiam de modo vigoroso aos elementos do grupo ali presentes, e particularmente se dirigiu a mim, reiterando os vnculos espirituais que tnhamos, decorrentes das diversas experincias que juntos vivemos nos muitos sculos das eras distantes.

    Oportunamente, soube outras particularidades de nossas encarnaes, atravs dos constantes contatos medinicos com ele, em que dizia, entre outras coisas, que, antes da Era Crist, j tnhamos vivido vrias vezes juntos no Oriente e, especificamente, na milenar ndia.

    Hammed o pseudnimo que ele adotou, alegando sentir-se assim mais livre para desempenhar os labores espirituais que se props a realizar na atualidade.

    Mais tarde, tambm me confidenciou que, na Frana do sculo 15II, participou do movimento jansenista, precisamente no convento de Port-Royal des Champs, nas cercanias de Paris, como religioso e mdico.

    Costuma mostrar-se espiritualmente, ora com roupagem caracterstica de um indiano, ora com trajes da poca do rei francs Lus XIII. Em meus encontros com ele durante o sono, pude guardar com nitidez seu semblante sereno e ao mesmo tempo firme, o que facilitou a descrio precisa que fiz ao pintor catanduvense Morgilli, que o retratou em 1988 com muita originalidade.

    Hammed tem sido para mim no somente um mestre lcido e lgico, mas tambm um amigo dedicado e compreensivo. Recebo sempre suas lies com muita ateno e carinho, porque ele tem mostrado possuir uma sabedoria e coerncia mpares, quando me orienta sobre fatos e ocorrncias inerentes tarefa na qual estamos ligados no Espiritismo.

    Explica-me demoradamente, quando preciso, as causas reais dos encontros, reencontros e desencontros com as criaturas e o porqu das dores e conflitos do hoje, mostrando-me sempre a origem dos fatos - verdadeiros motivos que culminaram nos acontecimentos agradveis e desagradveis do presente.

    Portanto, no poderia deixar de vir publicamente, no limiar deste livro, agradecer ao meu querido Benfeitor Espiritual todas as bnos de entendimento e paz que ele me tem proporcionado, bem como rogar ao Senhor da Vida que o abenoe e o ilumine agora e para sempre.

    Catanduva, 4 de julho de 1997.

    Francisco do Esprito Santo Neto

    * NOTA: L-se Ramd (palavra de origem rabe).

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    Renovando atitudes

    Recolhemos trechos de algumas mensagens de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para tecer alguns comentrios aos leitores amigos, na esperana de que possam renovar suas atitudes sob a inspirao de Jesus Cristo. Estudar e refletir sobre a profunda sabedoria do Mestre, emrito conhecedor da psique humana, a qual Ele sabia ser a fonte das causas reais dos sofrimentos, nos torna mais francos e honestos com ns mesmos e com os outros e nos possibilita a extino de nossas reaes neurticas nas mltiplas situaes da vida, reaes essas que nos impedem o autoconhecimento e anulam toda e qualquer possibilidade de relacionamento sadio e sincero com os outros. O Mestre sabia das nossas dificuldades de perceber a realidade, dos esconderijos psicolgicos que edificamos como mtodos de defesa e dos inmeros papis e jogos que cultivamos inconscientemente para no assumir responsabilidades ou para camuflar nossas diversas predisposies. O Evangelho luz da obra de Kardec retm um enorme manancial para edificarmos nossos valores morais na renovao de nossas atitudes e para redescobrirmos nossas verdadeiras potencialidades, que herdamos da Paternidade Divina. As armadilhas do ego, as presunes da iluso, as dependncias e inseguranas, as falsas vocaes ou as reais tendncias podem ser identificadas com clareza se examinarmos com ateno nossos limites, fazendo autoobservao da vida em ns e fora de ns mesmos. Ao apresentarmos estas pginas aos leitores amigos, no temos a pretenso de impor regras ou determinar caminhos, nem mesmo regulamentar quais so as melhores atitudes a serem tomadas. Por termos plena conscincia da imensa diversidade dos nveis de amadurecimento dos seres humanos, regidos como todos estamos pela Lei das Vidas Sucessivas, compreendemos que cada ser est num determinado estgio evolutivo e, portanto, fazendo tudo o que lhe possvel fazer no momento, ou seja, conduzindo-se no agora com o melhor de si mesmo.

    Tomemos a Natureza como exemplo: entendemos que passaramos por incoerentes se censurssemos um boto de rosa ainda fechado por no estarj totalmente desenvolvido ou aberto; ou se recriminssemos uma roseira por no ter dado a mesma quantidade de botes do que a roseira plantada a seu lado e cultivada no mesmo canteiro. Na realidade, afirmar aos outros quais atitudes eles deveriam ter desrespeitar sua natureza ntima, ou seja, seu prprio grau de crescimento espiritual.

    O contedo deste livro tem a inteno de contribuir para que todos ns possamos reflexionar sobre o porqu das atitudes humanas, a fim de poder entend-las em seus diversos matizes comportamentais e, como conseqncia, melhorar a ns prprios, reconstruindo-nos ou transformando-nos interiormente, para que o Reino dos Cus se edifique dentro de ns mesmos.

    No podemos assegurar que nestas pginas vocs encontraro sempre interpretaes novas e inditas, pois sabemos que existem excelentes obras amplamente habilitadas a dar grande contribuio, da mesma forma que outros tantos companheiros podero suprir nossa dificuldade de expresso, com maior competncia e destreza.

    Como nosso livro trata de nossas interpretaes pessoais, gostaramos

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    que os leitores se dessem conta de que talvez a maior dificuldade que enfrentamos para entender novas idias seja a tendncia que temos de retom-las ou tentar explic-las utilizando nossa maneira habitual de ver e sentir, e retraduzindo tudo em linguagem coloquial e convencional.

    Finalizando, agradecemos a ateno para conosco e endereamos nosso livro, como uma singela contribuio, a todos aqueles que sinceramente buscam o caminho do autodescobrimento, tendo Jesus Cristo no s como Terapeuta do corpo e da mente, mas tambm como Modelo e Preceptor de almas.

    Catanduva, 4 de julho de 1997.

    Hammed

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    1 Tua medida

    Captulo 10, item 11

    No julgueis, afim de que no sejais julgados, porque vs sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servir para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles. (Captulo 10, item 11)*

    Toda opinio ou juzo que desenvolvemos no presente est intimamente ligado a fatos antecedentes. Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situaes pretritas, que incluem atitudes de defesa, negaes ou mesmo inmeras distores de certos aspectos importantes da vida. Tendncias ou pensamentos julgadores esto sedimentados em nossa memria profunda, so subprodutos de uma srie de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e tambm atravs das vivncias pregressas. Censuras, observaes, admoestaes, supersties, preconceitos, opinies, informaes e influncias do meio, inclusive de instituies diversas, formaram em ns um tipo de reservatrio moral - coleo de regras e preceitos a ser rigorosamente cumpridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou ms. Nossa concepo tico-moral est baseada na noo adquirida em nossas experincias domsticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opinies ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo verdades absolutas. Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos valores sagrados, isto , nossas aquisies mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentao.

    Em razo disso, os freqentes julgamentos que fazemos em relao s outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a forma e o material utilizados para sentenciar os outros residem dentro de ns.

    Melhor do que medir ou apontar o comportamento de algum seria tomarmos a deciso de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde est tudo isso em ns. Os indivduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma tima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as caractersticas gerais de nossos conceitos e atitudes inadequados.

    S poderemos nos reabilitar ou reformar at onde conseguimos nos perceber; ou seja, aquilo que no est consciente em ns dificilmente conseguiremos reparar ou modificar.

    Quando no enxergamos a ns mesmos, nossos comportamentos perante os outros no so totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir opinies. Estamos amarrados a formas de avaliao, estruturadas nos mecanismos de defesa - processos mentais inconscientes que possibilitam ao indivduo manter sua integridade psicolgica atravs de uma forma de auto-engano.

    Certas pessoas, simplesmente por no conseguirem conviver com a

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    verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoes, disfarando-os no inconsciente.

    Em todo comportamento humano existe uma lgica, isto , uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, no se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neurticas ou psicticas, no ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente vlido e possvel o autojulgamento.

    No obstante, cada ser humano descobre suas prprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um eu individualizado.

    Devemos reavaliar nossas idias retrgradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir da, julgar os indivduos de forma no generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma conscincia prpria e diversificada das outras tantas conscincias.

    Julgar uma ao diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituio moralmente errada, mas no posso e no devo julgar a pessoa prostituda. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, sentindo e pensando com ele, em vez de pensar a respeito dele, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.

    Segundo Paulo de Tarso, indesculpvel o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticar as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento. (1)

    O Apstolo dos Gentios manifesta-se claramente, evidenciando nessa afirmativa que todo comportamento julgador estar, na realidade, estabelecendo no somente uma sentena, ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juzo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a ns mesmos.

    Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se- nossa real medida: como iremos viver com ns mesmos e com os outros.

    O ser humano um verdadeiro campo magntico, atraindo pessoas e situaes, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antiptica com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmaes prescrevero as guas por onde a embarcao de nossa vida dever navegar.

    Com freqncia, escolhemos, avaliamos e emitimos opinies e, conseqentemente, atramos tudo aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considervel desses pensamentos e experincias, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acontece de modo automtico, ou seja, atravs de mecanismos no perceptveis. quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso arbtrio, mas, na verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e estabelecido por arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveramos fazer ou no, sobre tudo que errado ou certo.

    Poder-se- dizer que um comportamento completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decises no esto confinadas a padres mentais rgidos e inflexveis, no esto estruturadas em conceitos preconceituosos e no esto aliceradas em idias ou situaes semelhantes que foram vivenciadas no passado.

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    Nossos julgamentos sero sempre os motivos de nossa liberdade ou de nossa priso no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.

    Se criaturas afirmarem idosos no tm direito ao amor, limitando o romance s para os jovens, elas estaro condenando-se a uma velhice de descontentamento e solido afetiva, desprovida de vitalidade.

    Se pessoas declararem homossexualidade abominvel e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que tm algum impulso homossexual, suas medidas estaro estabelecidas pelo dio e pela repugnncia a esses mesmos entes queridos.

    Se indivduos decretarem jovens no casam com idosos, estaro circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etrias e demarcando suas afetividades a padres bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.

    Se algum subestimar e ironizar o desajuste emocional dos outros, poder, em breve tempo, deparar-se em sua prpria existncia com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o faro esconder-se, a fim de no ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.

    Se formos juzes da moral ideolgica e sentimental, sentenciando veementemente o que consideramos como erros alheios, estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela prpria deteno que impusemos aos outros, por no deixarmos que eles se lanassem a novas idias e novas simpatias.

    No julgueis, a fim de que no sejais julgados, ou mesmo, se servir para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles, quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no auditrio da vida todos somos atores e escritores e, ao mesmo tempo, ouvintes e espectadores de nossos prprios discursos, feitos e atitudes.

    Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direo com vista nossa evoluo e crescimento como seres eternos, necessrio observarmos e concatenarmos nossos pesos e medidas, a fim de que no venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenaes diversas.

    * A presente citao e todas as demais que iniciam cada captulo foram extradas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. (Nota do autor espiritual.) (1) Romanos, 2:1

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    2 Ser Feliz

    Captulo 5, item 20

    ... Assim, pois, aqueles que pregam ser a Terra a nica morada do homem, e que s nela, e numa s existncia, lhe permitido atingir o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam... (Captulo 5, item 20.)

    As estradas que nos levam felicidade fazem parte de um mtodo gradual de crescimento ntimo cuja prtica s pode ser exercitada pausadamente, pois a verdadeira frmula da felicidade a realizao de um constante trabalho interior. Ser feliz no uma questo de circunstncia, de estarmos sozinhos ou acompanhados pelos outros, porm de uma atitude comportamental em face das tarefas que viemos desempenhar na Terra. Nosso principal objetivo progredir espiritualmente e, ao mesmo tempo, tomar conscincia de que os momentos felizes ou infelizes de nossa vida so o resultado direto de atitudes distorcidas ou no, vivenciadas ao longo do nosso caminho. No entanto, por acreditarmos que cabe unicamente a ns a responsabilidade pela felicidade dos outros, acabamos nos esquecendo de ns mesmos. Como conseqncia, no administramos, no dirigimos e no conduzimos nossos prprios passos. Tomamos como jugo deveres que no so nossos e assumimos compromissos que pertencem ao livre-arbtrio dos outros. O nosso erro comea quando zelamos pelas outras pessoas e as protegemos, deixando de segurar as rdeas de nossas decises e de nossos caminhos.

    Construmos castelos no ar, sonhamos e sonhamos irrealidades, convertemos em mito a verdade e, por entre iluses romnticas, investimos toda a nossa felicidade em relacionamentos cheios de expectativas coloridas, condenando-nos sempre a decepes crnicas.

    Ningum pode nos fazer felizes ou infelizes, somente ns mesmos que regemos o nosso destino. Assim sendo, sucessos ou fracassos so subprodutos de nossas atitudes construtivas ou destrutivas.

    A destinao do ser humano ser feliz, pois todos fomos criados para desfrutar a felicidade como efetivo patrimnio e direito natural.

    O ser psicolgico est fadado a uma realizao de plena alegria, mas por enquanto a completa satisfao de poucos, ou seja, somente daqueles que j descobriram que no necessrio compreender como os outros percebem a vida, mas sim como ns a percebemos, conscientizando-nos de que cada criatura tem uma maneira nica de ser feliz. Para sentir as primeiras ondas do gosto de viver, basta aceitar que cada ser humano tem um ponto de vista que vlido, conforme sua idade espiritual.

    Para ser feliz, basta entender que a felicidade dos outros tambm a nossa felicidade, porque todos somos filhos de Deus, estamos todos sob a Proteo Divina e formamos um nico rebanho, do qual, conforme as afirmaes evanglicas, nenhuma ovelha se perder.

    sempre fcil demais culparmos um cnjuge, um amigo ou uma

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    situao pela insatisfao de nossa alma, porque pensamos que, se os outros se comportassem de acordo com nossos planos e objetivos, tudo seria invariavelmente perfeito. Esquecemos, porm, que o controle absoluto sobre as criaturas no nos vantajoso e nem mesmo possvel. A felicidade dispensa rtulos, e nosso mundo seria mais repleto de momentos agradveis se olhssemos as pessoas sem limitaes preconceituosas, se a nossa forma de pensar ocorresse de modo independente e se avalissemos cada indivduo como uma pessoa singular e distinta.

    Nossa felicidade baseia-se numa adaptao satisfatria nossa vida social, familiar, psquica e espiritual, bem como numa capacidade de ajustamento s diversas situaes vivenciais.

    Felicidade no simplesmente a realizao de todos os nossos desejos; antes a noo de que podemos nos satisfazer com nossas reais possibilidades.

    Em face de todas essas conjunturas e de outras tantas que no se fizeram objeto de nossas presentes reflexes, consideramos que o trabalho interior que produz felicidade no , obviamente, meta de uma curta etapa, mas um longo processo que levar muitas existncias, atravs da Eternidade, nas muitas moradas da Casa do Pai.

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    3 Tempos da Ignorncia

    Captulo 18, itens 10 e 11

    ... Muito se pedir quele a quem se tiver muito dado, e se far prestar maiores contas queles a quem se tiver confiado mais coisas. ... Somos ns, pois, tambm cegos? Jesus lhes respondeu: Se fsseis cegos, no tereis pecado; mas agora dizeis que vedes e por isso que vosso pecado permanece em vs. (Captulo18, itens 10 e 11.)

    Lucas relata em Atos dos Apstolos a seguinte orientao de Paulo de Tarso: Deus no leva em conta os tempos da ignorncia. (1) Em outras oportunidades, confirmou tambm que muito se pedir quele que muito recebeu. (2) quer dizer, o agravamento das faltas proporcional ao conhecimento que se possui. Compreendemos, dessa forma, que somos todos ns protegidos pela nossa ignorncia, pois somente seremos avaliados pela Divina Providncia, de conformidade com as possibilidades do saber e sentir, isto , segundo a nossa maneira de ver a ns prprios e o mundo que nos rodeia. As leis espirituais que dirigem a vida so sbias e justas e adaptam-se particularmente a cada criatura, levando em conta suas individualidades. O eminente psiclogo e pedagogo suo Jean Piaget, responsvel pela teoria de que o desenvolvimento das crianas propicia seu aprendizado, dizia que elas so diferentes entre si, que cada uma tem seu jeito de crescer e de se realizar como indivduo, e que todos poderamos ajud-las nesse crescimento, porm nunca impondo formas generalizadas e semelhantes. Piaget ensinava que cada criana pensa e interpreta o mundo com seu peculiar pensamento e com suas possibilidades orgnicas e mentais, quase sempre heterogneas.

    Encontramos no mundo atual modernos mtodos pedaggicos que seguem esse raciocnio, levando em conta que cada indivduo, para assimilar sua realidade de vida, portador de um processo psicolgico de aprendizagem prprio. Cada um percebe de forma dissemelhante os estmulos da Vida, decodifica-os e em seguida os reelabora, formando assim sua prpria individualidade.

    Por outro lado, encontramos tambm na reencarnao a guarida desses mtodos de ensino, pois ela se baseia na multiplicidade de experincias ocorridas nos diversos avatares por onde a alma percorre seus caminhos vivenciais, como um ser individual. As diversidades do nosso tempo de criao, nossas heranas reencarnatrias, experincias emocionais e mentais, ambientes sociais onde ocorrem essas mesmas experincias, estruturas sexuais, masculinas ou femininas, e motivaes vrias desenvolvidas na atualidade particularizam os seres humanos com vocaes, tendncias, interesses, grau de raciocnio e discernimento sui generis.

    Relativos e no generalizados devem ser os modos de ver as coisas e as pessoas. O prprio direito penal classifica e pune os crimes dentro dos padres do intencional ou doloso, passional ou ocasional. Por que o Poder Inteligente que nos rege iria julgar-nos sem levar em conta nosso tempo da ignorncia e nossa relatividade?

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    Como educar ou avaliar genericamente, usando o mesmo critrio, crianas que receberam uma educao cheia de energia e vida, ensinadas a questionar e criar; a ter curiosidade e admirao pela natureza; e outras que s vivenciaram discusses, agresses e comportamentos medocres por entre odores de bebidas alcolicas e nicotina, sem uma viso saudvel de Deus; ao contrrio, temerosa, distorcida, adquirida atravs da crena de um ser amea-ador e temperamental?

    O Amor de Deus programou-nos simples inicialmente para permitir que nos desenvolvssemos, de forma gradativa, at atingir maiores plenitudes e totalidades.

    Temos, pois, que seguir essa programao da Natureza, ou seja, caminhar dentro desse projeto estabelecido pelas leis universais para atingirmos a nossa integrao como seres espirituais.

    Esse processo evolucional nos mostra que podemos estar um pouco atrs, ou adiante, das criaturas, embora cada uma delas tenha suas caractersticas prprias e certas de acordo com sua idade astral. Nesse decurso evolutivo, todos ns passamos por fases de egosmo e orgulho at atingirmos mais tarde as grandes virtudes da alma. Consideremos, portanto, que no seremos censurados por estar nessas fases primitivas, porque o que chamamos de defeito ou inferioridade seja, talvez, a passagem por esses ciclos iniciantes onde estagiamos. Lembremos que essas fases ou ciclos no foram criados por ns, mas pelos desgnios de Deus, que regem a Natureza como um todo.

    Coisas inadequadas que vemos em outras pessoas podem ser naturais nelas, ou mesmo do tempo da sua ignorncia, e representam caractersticas prprias de sua etapa evolucional na estrada por onde todos transitamos, alguns mais avanados e outros na retaguarda.

    A vida moderna nos deu raciocnio e reflexo, maturao intelectual e um desenrolar de novas descobertas, ensinando-nos formulaes racionais surpreendentes para que melhor pudssemos compreender os mtodos de evoluo e progresso em ns mesmos e no Universo.

    No somos responsveis por aquilo que no sabemos, no sofreremos um castigo por atos ou atitudes que ignoramos. Talvez essas idias de punio, alienatrias, sejam os frutos da incapacidade de nossa reflexo sobre a Bondade Divina, O que chamamos de sofrimento simplesmente resultado de nossa falta de habilidade para desenvolver as coisas corretamente, pois na vida no existem prmios nem castigos, somente as conseqncias dos nossos atos.

    Vale, porm, considerar que, medida que nossa conscincia se expande e maior lucidez se faz em nossa mente, maiores sero nossos compromissos perante a existncia. Se fsseis cegos, no tereis pecado; mas agora dizeis que vedes e por isso que vosso pecado permanece em vs. (3)

    Podemos pretextar ignorncia, mas se tivermos conscincia de nossos feitos isso sempre ser levado em conta.

    Avaliemos atentamente: os tesouros da alma que j integramos nos obrigaro a prestar maiores ou menores contas perante a Vida Maior.

    (1) Atos 17:30. (2) Lucas 12:48. (3) Joo 9:41.

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    4 Contigo mesmo

    Captulo 17, item 7

    ... O dever comea precisamente no ponto em que ameaais a felicidade ou a tranqilidade do vosso prximo; termina no limite que no gostareis de ver ultrapassado em relao a vs mesmos... (Captulo 17, item 7.)

    Como decifrar o dever? De que maneira observar o dever ntimo impresso na conscincia, diante de tantos deveres sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes nos impem caminhos divergentes?

    Efetivamente, nasceste e cresceste apenas para ser nico no mundo. Em lugar algum existe algum igual a tua maneira de ser; portanto, no podes perder de vista essa verdade, para encontrar o dever que te compete diante da vida.

    Teu primordial compromisso contigo mesmo, e tua tarefa mais importante na Terra, para a qual s o nico preparado, desenvolver tua individualidade no transcorrer de tua longa jornada evolutiva.

    A preocupao com os deveres alheios provoca teu distanciamento das prprias responsabilidades, pois no concretizas teus ideais nem deixas que os outros cumpram com suas funes. No nos referimos aqui ajuda real, que sempre importante, mas intromisso nas competncias do prximo, impedindo-o de adquirir autonomia e vida prpria.

    Assumir deveres dos outros sabotar os relacionamentos que poderiam ser prsperos e duradouros. Por no compreenderes bem teu interior, que te comparas aos outros, esquecendo-te de que nenhum de ns est predestinado a receber, ao mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as mesmas coisas, pois existem inmeras formas de viver e de evoluir. Lembra-te de que deves importar-te somente com a tua maneira de ser.

    No podemos nos esquecer de que aquele que se compara com os outros acaba se sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se d o devido valor e nunca se conhece verdadeiramente.

    Teus empenhos ntimos devero ser voltados apenas para tua pessoa, e nunca devers tentar acomodar pontos de vista diversos, porque, alm de te perderes, no ajustars os limites onde comea a ameaa tua felicidade, ou felicidade do teu prximo.

    Muitos acreditam que seus deveres so corrigir e reprimir as atitudes alheias. Vivem em constantes flutuaes existenciais por no saberem esperar o fluxo da vida agir naturalmente.

    Asseveram sempre que suas obrigaes so em nome da salvao e, dessa forma, controlam as coisas ou as foram acontecer, quando e como querem.

    Dizem: Fazemos isso porque s estamos tentando ajudar. Foram eventos, escrevem roteiros, fazem o que for necessrio para garantir que os atores e as cenas tenham o desempenho e o desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu dever salvar almas, no percebendo que s podem salvar a si prprios.

    Nosso dever redescobrir o que verdadeiro para ns e no esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de ns mesmos, mas sim ter

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    liberdade e segurana em nossas relaes pessoais, para decidirmos seguir na direo que escolhemos. No devemos ser o que nossos pais ou a sociedade querem nos impor ou definir como melhor. Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidades de vida tm valor unicamente para ns; os dos outros, particularmente para eles.

    Obrigao pode ser conceituada como sendo o que deveramos fazer para agradar as pessoas, ou para nos enquadrar no que elas esperam de ns; jo dever um processo de auscultar a ns mesmos, descortinando nossa estrada interior, para, logo aps, materializ-la num processo lento e constante.

    Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensao de auto-realizao toma conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os verdadeiros e fundamentais valores da vida, associados a um prazer inexplicvel.

    Lembremo-nos da afirmao do esprito Lzaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo: O dever a obrigao moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida. (1)

    (1) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Captulo 17, item 7.

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    5 Aprendendo a perdoar

    Captulo 10, item 2

    Se perdoardes aos homens as faltas que eles fazem contra vs, vosso Pai celestial vos perdoar tambm vossos pecados, mas se no perdoardes aos homens quando eles vos ofendem, vosso Pai, tambm, no vos perdoar os pecados. (Captulo 10, item 2.)

    Nosso conceito de perdo tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar. Por possuirmos crenas negativas de que perdoar ser aptico com os erros alheios, ou mesmo, aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, que supomos estar perdoando quando aceitamos agresses, abusos, manipulaes e desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada tivesse acontecendo. Perdoar no apoiar comportamentos que nos tragam dores fsicas ou morais, no fingir que tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta est em runas. Perdoar no ser conivente com as condutas inadequadas de parentes e amigos, mas ter compaixo, ou seja, entendimento maior atravs do amor incondicional. Portanto, um modo de viver O ser humano, muitas vezes, confunde o ato de perdoar com a negao dos prprios sentimentos, emoes e anseios, reprimindo mgoas e usando supostamente o perdo como desculpa para fugir da realidade que, se assumida, poderia como conseqncia alterar toda uma vida de relacionamento. Uma das ferramentas bsicas para alcanarmos o perdo real manter-nos a uma certa distncia psquica da pessoa-problema, ou das discusses, bem como dos dilogos mentais que giram de modo constante no nosso psiquismo, porque estamos engajados emocionalmente nesses envolvimentos neurticos.

    Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo construtivo os poderes do nosso pensamento, evitando os deveria ter falado ou agido e eliminando de nossa produo imaginativa os acontecimentos infelizes e destrutivos que ocorreram conosco.

    Em muitas ocasies, elaboramos interpretaes exageradas de suscetibilidade e camos em impulsos estranhos e desequilibrados, que causam em nossa energia mental uma sobrecarga, fazendo com que o cansao tome conta do crebro. A exausto ntima profunda.

    A mente recheada de idias desconexas dificulta o perdo, e somente desligando-nos da agresso ou do desrespeito ocorrido que o pensamento sintoniza com as faixas da clareza e da nitidez, no processo denominado renovao da atmosfera mental.

    fator imprescindvel, ao separar-nos emocionalmente de acontecimentos e de criaturas em desequilbrio, a terapia da prece, como forma de resgatar a harmonizao de nosso halo mental. Mtodo sempre eficaz, restaura-nos os sentimentos de paz e serenidade, propiciando-nos maior facilidade de harmonizao interior.

    A qualidade do pensamento determina a ideao construtiva ou

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    negativa, isto , somos arquitetos de verdadeiros quadros mentais que circulam sistematicamente em nossa prpria rbita urica. Por nossa capacidade de gerar imagens ser fenomenal, que essas mesmas criaes nos fazem ficar presos em mono-idias. Desejaramos tanto esquecer, mas somos forados a lembrar, repetidas vezes, pelo fenmeno produo-conseqncia.

    Desligar-se ou desconectar-se no um processo que nos torna insensveis e frios, como criaturas totalmente impermeveis s ofensas e crticas e que vivem sempre numa atmosfera do tipo ningum mais vai me atingir ou machucar. Desligar-se quer dizer deixar de alimentar-se das emoes alheias, desvinculando-se mentalmente dessas relaes doentias de hipnoses magnticas, de alucinaes ntimas, de represlias, de desforras de qualquer matiz ou de problemas que no podemos solucionar no momento.

    Ao soltar-nos vibracionalmente desses contextos complexos, ao desatar-nos desses fluidos que nos amarram a essas crises e conflitos existenciais, poderemos ter a grande chance de enxergar novas formas de resolver dificuldades com uma viso mais generalizada das coisas e de encontrar, cada vez mais, instrumentos adequados para desenvolvermos a nobre tarefa de nos compreender e de compreender os outros.

    Quando acreditamos que cada ser humano capaz de resolver seus dramas e responsvel pelos seus feitos na vida, aceitamos fazer esse distanciamento mais facilmente, permitindo que ele seja e se comporte como queira, dando-nos tambm essa mesma liberdade.

    Viver impondo certa distncia psicolgica s pessoas e s coisas problemticas, seja entes queridos difceis, seja companheiros complicados, no significa que deixaremos de nos importar com eles, ou de am-los ou de perdoar-lhes, mas sim que viveremos sem enlouquecer pela nsia de tudo compreender, padecer, suportar e admitir.

    Alm do que, desligamento nos motiva ao perdo com maior facilidade, pelo grau de libertao mental, que nos induz a viver sintonizados em nossa prpria vida e na plena afirmao positiva de que tudo dever tomar o curso certo, se minha mente estiver em serenidade.

    Compreendendo por fim que, ao promovermos desconexo psicolgica, teremos sempre mais habilidade e disponibilidade para perceber o processo que h por trs dos comportamentos agressivos, o que nos permitir no reagir da maneira como o fazamos, mas olhar como e como est sendo feito nosso modo de nos relacionar com os outros. Isso nos leva, con-seqentemente, a comear a entender a dinmica do perdo.

    Uma das mais eficientes tcnicas de perdoar retomar o vital contato com ns mesmos, desligando-nos de toda e qualquer intruso mental, para logo em seguida buscar uma real empatia com as pessoas. Deixamos de ser vtimas de foras fora de nosso controle para transformar-nos em pessoas que criam sua prpria realidade de vida, baseadas no nas crticas e ofensas do mundo, mas na sua percepo da verdade e na vontade prpria.

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    6 Teu lugar na vida

    Captulo 7, item 5

    ... Quando fordes convidados para bodas, no tomeis nelas o primeiro lugar, temendo que se encontre entre os convidados uma pessoa mais considerada que vs, e que aquele que vos tiver convidado no venha vos dizer: Dai vosso lugar a este... ... todo aquele que se eleva ser rebaixado, e todo aquele que se rebaixa ser elevado. (Captulo 7, item 5.)

    Querendo ilustrar suas prdicas, como sempre de modo claro e compreensvel, Jesus de Nazar considerava, certa ocasio, como os convidados de uma festividade se comportavam precipitadamente, na nsia de tomar os lugares principais da mesa, com isso desrespeitando os princpios bsicos do bom senso e da educao.

    Qual o teu lugar mesa? Qual a tua posio no universo de ti mesmo? Essa a grande proposta feita pelo Mestre nesta parbola.

    Ser que o lugar que ocupas hoje teu mesmo? Ou influncias externas te levam a direes antagnicas de acordo com o teu modo de pensar e agir?

    Tens escutado a voz da alma, que Deus em ti, ou escancarado teus ouvidos s opinies e conceitos dos outros?

    Nada pior do que te sentires deslocado na escola, profisso, circulo social ou mesmo entre familiares, porque deixas parentes, amigos, cnjuges e companheiros pensarem por ti, no permitindo que Deus fale contigo pelas vias inspirativas da alma.

    Essa inadaptao que sentes fruto de teu deslocamento ntimo por no acreditares em tuas potencialidades. Achas-te incapaz, no por seres realmente, mas porque te fazes surdo s tuas escolhas e preferncias oriundas de tua prpria essncia.

    Se permaneceres nesse comportamento volvel, apontando freqentemente os outros como responsveis pela tua inadequao e conflitos, porque no assumes que s uma folha ao vento entre as vontades alheias, te sentirs sempre um solitrio, ainda que rodeado por uma multido.

    Porm, se no mais negares sistematicamente que tuas aes so, quase na totalidade, frutos do consenso que fizeste do somatrio de conselhos e palpites vrios, estars sendo, a partir desse instante, convidado a sentar no teu real lugar, na mesa da existncia.

    Por fim, percebers com maior nitidez quem que est movimentando tuas decises e o quanto de participao tens nas tuas opes vivenciais.

    No exame da mxima todo aquele que se eleva ser rebaixado e todo aquele que se rebaixa ser elevado, vale considerar que no a postura de se dar ares de humildade ou a de se rebaixar de forma exagerada e humilhante que te poder levar conscientizao plena da tua localizao dentro de ti mesmo. Sintonizando-te na verdadeira essncia da humildade, que conceituada como olhar as coisas como elas so realmente, e percebendo que a tua existncia responsabilidade unicamente tua, que tu sers tu mesmo.

    Ser humilde auscultar a origem real das coisas, no com os olhos da

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    iluso, mas com os da realidade, despojando-se da imaginao fantasiosa de uma tica mental distorcida, nascida naqueles que sempre acham que merecem os melhores lugares em tudo.

    Vale considerar que, por no estarmos realizando um constante exerccio de auto-observao, quase sempre deduzimos ou captamos a realidade at certo ponto e depois conclumos o restante a nosso bel-prazer, criando assim iluses e expectativas desgastantes que nos descentralizam de nossos objetivos.

    Quem encontrou o seu lugar respeita invariavelmente o lugar dos outros, pois divisa a prpria fronteira e, conseqentemente, no ultrapassa o limite dos outros, colocando na prtica o amor ao prximo.

    Para que encontres o teu lugar, necessrio que tenhas uma simplicidade lcida, e o despojar dos teus enganos e fantasias far com que encontres a autntica humildade.

    Para que no tenhas que ceder teu lugar a outro, indispensvel que vejas as coisas como elas so realmente e que uses o bom senso como ponto de referncia para o teu aprimoramento e para a tua percepo da verdade como um todo. Procura-te em ti mesmo: eis a possibilidade de sempre achares o lugar que te pertence perante a Vida Excelsa.

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    7 Eu no merecia

    Captulo 5, item 3

    ... Por que uns nascem na misria e outros na opulncia, sem nada terem feito para justificar essa posio? Por que para uns nada d certo, enquanto que para outros tudo parece sorrir?... ... As vicissitudes da vida tm, pois, uma causa, e, uma vez que Deus justo, essa causa deve ser justa. Eis do que cada um deve compenetrar-se bem... (Captulo 5. item 3.)

    Assumir total responsabilidade por todas as coisas que acontecem em nossa vida, incluindo sentimentos e emoes, um passo decisivo em direo a nossa maturidade e crescimento interior. A tendncia em acusar a vida, as pessoas, a sociedade, o mundo enfim, to antiga quanto o gnero humano; e muitos de ns crescemos aprendendo a raciocinar assim, censurando todos e tudo, nunca examinando o nosso prprio comportamento, que na verdade decide a vida em ns e fora de ns. Assimilamos o mito do vitimismo nas mais remotas religies politestas, vivenciadas por todos ns durante as vrias encarnaes, quando os deuses temperamentais nos premiavam ou castigavam de conformidade com suas decises arbitrrias. Por termos sido vtimas nas mos dessas divindades, que passamos a usar as tcnicas para apaziguar as iras divinas, comercializando favores com oferendas a Jpiter no Olimpo, a Netuno nas atividades do oceano, a Vnus nas reas afetivas e a Pluto, deus dos mortos e dos infernos. Aprendemos ajustificar com desculpas perfeitas os nossos desastres de comportamento, dizendo que fomos desamparados pelos deuses, que a conjuno dos astros no estava propcia, que a lua era minguante e que nascemos com uma m estrela.

    Ainda muitos de ns acreditamos ser vtimas do pecado de Ado e Eva e da crena de um deus judaico que privilegia um povo e despreza os outros, surgindo assim a idia da hegemonia divina das naes.

    As pessoas que acreditam ser vtimas da fatalidade continuam a apontar o mundo exterior como culpado dos seus infortnios. Recusam absolutamente reconhecer a conexo entre seus modos de pensar e os acontecimentos exteriores. So influenciadas pelas velhas crenas e se dizem prejudicadas pela fora dos hbitos, pelas cargas genticas e pela forma como foram criadas, afirmando que no conseguem ser e fazer o que querem. No sabem que so arquitetos de seu destino, nem se conscientizam de que o passado determina o presente, o qual, por sua vez, determina o futuro.

    A vtima sente-se impotente e indefesa em face de um destino cruel. Sem fora nem capacidade de mudar, repetidas vezes afirma: Eu no merecia isto, A vida injusta comigo, nunca lhe ocorrendo, porm, que o seu jeito de ser que materializa pessoas e situaes em sua volta.

    Defendem seus gestos e atitudes infelizes dizendo: Meus problemas so causados por meu lar, Os outros sempre se comportam desta forma comigo. Desconhecem que as causas dos problemas somos ns e que, ao renascermos, atramos esse lar para aprendermos a resolver nossos conflitos.

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    So os nossos comportamentos interiores que modificam o comportamento dos outros para conosco. Se somos, pois, constantemente maltratados porque estamos constantemente nos maltratando e ou maltratando algum.

    Ningum pode fazer-nos agir ou sentir de determinada maneira sem a nossa permisso.

    Outras pessoas ou situaes podero estimular-nos a ter certas reaes, mas somente ns mesmos determinaremos quais sero e como sero essas reaes. As formas pelas quais reagimos foram moldadas pelas experincias em vrias vidas e sedimentadas pela fora de nossas crenas interiores - mensagens gravadas em nossa alma.

    Portanto, precisamos assumir o comando de nossa vida e sair do posicionamento infantil de criaturas mimadas e frgeis, que reclamam e se colocam como vtimas do destino.

    Admitir a real responsabilidade por nossos atos e atitudes aceitar a nossa realidade de vida - as metas que alteram a sina de nossa existncia.

    Em vez de atribuirmos aos outros e ao mundo nossas derrotas e fracassos, lembremo-nos de que as vicissitudes da vida tm, pois, uma causa, e, uma vez que Deus justo, essa causa deve ser justa.

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    8 A verdade

    Captulo 2, item 1

    ... Pilados, ento, lhe disse: Sois, pois, rei? Jesus lhe replicou: Vs o dissestes; eu sou rei; eu no nasci nem vim a este mundo seno para testemunhar a verdade; qualquer que pertena verdade escuta minha voz. (Captulo 2, item 1.)

    No vemos a verdade, conforme afirmou Jesus Cristo, porque nossa mente trabalha sem estar ligada aos nossos sentidos e emoes mais profundos. As iluses nos impedem que realmente tenhamos os olhos de ver, e porque no buscamos a verdade projetamos nos outros o que no podemos aceitar como nosso. Tentamos nos livrar de nossos prprios sentimentos atribuindo-os a outras pessoas. Ado disse a Deus: Eu no pequei, a culpa foi da mulher que me tentou. Eva se desculpa perante o Criador: Toda a discrdia ocorrida cabe maldita serpente. Assim somos todos ns. Quando desconhecemos os traos de nossa personalidade, condenamos fortemente e responsabilizamos os outros por aquilo que no podemos admitir em ns prprios. Nossa viso sobre as coisas pode enganar-nos, pode estar disforme sob determinados pontos de vista, pois em realidade ela se forjou entre nossas convices mais profundas, sobre aquilo que ns convencionamos chamar de certo e errado, isto , verdadeiro ou falso. Na infncia. por exemplo, se fomos repreendidos duramente por demonstrarmos raiva, se fomos colocados em situaes vexatrias por aparentarmos medo, ou se fomos ridicularizados por manifestarmos afeto e carinho, acabamos aprendendo a reprimir essas emoes por serem consideradas feias, erradas e pecaminosas por adultos insensveis e recriminadores.

    Porm, no damos conta de que, ao adotarmos essa postura repressora, tornamo-nos criaturas inseguras e fracas e, a partir da, comeamos a no confiar mais em ns mesmos.

    Se a nossa verdade no admitida honestamente, como podemos nos aproximar da Verdade Maior?

    Sentir medo ou raiva, quando houver necessidades autnticas, seja para transpor algum obstculo, seja para vencer barreiras naturais, perfeitamente compreensvel, porque a energia da raiva um importante fator de defesa, e o medo um prudente mediador em situaes perigosas.

    Para que possamos encontrar a Verdade, qual se referia Jesus, preciso aceitar a nossa verdade, exercitando o sentir quanto s nossas emoes, e adeq-las corretamente na vida. A sugesto feliz o equilibrio e a integrao de nossas energias ntimas, e nunca a represso e o entorpecimento, nem tampouco a entrega incondicional simplesmente.

    O que a Verdade? Disse o Mestre: Vim ao mundo para dar testemunho da Verdade; todo aquele que da Verdade ouve a minha voz.

    Cremos no que vemos, mas muitas vezes os rgos dos sentidos nos enganam. Vejamos alguns exemplos:

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    A Terra parece parada; o arco-ris nada mais do que raios de sol atravessando gotculas dgua; e certas estrelas que vislumbramos nos cus j no existem, contudo, devido s distncias enormes a serem percorridas, as suas luzes continuam aportando na atmosfera de nosso planeta, dando-nos a falsa impresso de vida real.

    Cremos no que nos disseram, e, embora no sejam situaes vivenciadas ou experimentadas por ns, aceitamos como verdades absolutas, quando de fato eram conceitos relativos.

    Maneiras erradas de se ver a sexualidade, a religio, o casamento, as raas e as profisses distanciam-nos cada vez mais da realidade das situaes e das criaturas com as quais convivemos.

    Em vista disso, procuremos sintonizar-nos com os olhos espirituais, porqanto nossa percepo intuitiva mais ampla e precisa que a viso fsica. E abramos as comportas de nossa alma, para que captemos as inspiraes divinas que deliberam a vida em toda parte.

    Somente assim estaremos mais perto de conhecer a Verdade qual se referia o Mestre Jesus.

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    9 Pr-ocupao Captulo 25, item 6

    ... Observai os pssaros do cu: eles no semeiam nem colhem... ... Observai como crescem os lrios dos campos: eles no trabalham nem fiam... ... no estejais inquietos pelo dia de amanh, porque o dia de amanh cuidar de si mesmo. A cada dia basta o seu mal. (Captulo 25, item 6.)

    A estratgia da preocupao nos manter distantes do momento presente, imobilizando as realizaes do agora em funo de coisas que podero ou no acontecer. Desperdiamos, por conseqncia, tempo e energias preciosas, obcecados com os eventos do porvir, sobre os quais no temos qualquer tipo de comando, pois olvidamos que tudo que podemos e devemos dirigir somente nossas prprias vidas. So realmente diversas as preocupaes sobre as quais no temos nenhum controle: a doena dos outros, a alegria dos filhos, o amor das pessoas, o julgamento alheio sobre ns, a morte de familiares e outras tantas. Podemos, porm, nos pr-ocupar o quanto quisermos com essas questes, que no traremos a sade, a felicidade, o amor, a considerao ou mesmo o retorno vida, porque todas elas so coisas que fogem s nossas possibilidades. Outra questo quando passamos por enormes desequilbrios causados pelo desgaste emocional de nos ocuparmos antes do tempo certo com coisas e pessoas, o que ocasiona insnias, decepes e angstias pelo temor antecipado do que poder vir a acontecer no amanh. No confundamos pr-ocupao com previdncia, porque se preparar ou ser precavido para realizar planos para dias vindouros tino de bom senso e lgica; mas prudncia no preocupao, porque enquanto uma sensata e moderada, a outra irracional e tolhe o indivduo, prejudicando-o nos seus projetos e empreendimentos do hoje.

    Nossa educao social estimula o vcio do pensamento preocupante, principalmente no convvio familiar, onde teve incio o fato de relacionarmos preocupao com dar proteo.

    Passamos a nos comportar afirmando: Lgico que eu me preocupo com voc, eu o amo, Voc tem que se preocupar com seus pais, Quem tem filhos vive em constante preocupao.

    Pensamos que estamos defendendo e auxiliando os entes queridos, quando na verdade estamos confinando-os e prejudicando-os por transmitir-lhes, s vezes, de modo imperceptvel, medo, insegurana e pensamentos catastrficos.

    No estejais inquietos pelo dia de amanh, porque o dia de amanh cuidar de si mesmo.

    A cada dia basta seu mal. O Criador prov suas criaturas como necessrio, porqanto seria

    impossvel a Natureza criar em ns uma necessidade sem nos dar meios para supri-la. Vede os pssaros do cu, vede os lrios dos campos.

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    Alm do mais, pedia-nos que fizssemos observaes de como a vida se comporta e que deixssemos de nos pr-ocupar, convidando-nos a olhar para nossa criao divina que a todos acolhe.

    O Mestre queria dizer com essas afirmativas que tudo o que vemos tem ligao conosco e com todas as partes do Universo e que somos, em realidade, participantes de uma Natureza comum. As mesmas causas que cooperam para o benefcio de uns cooperam da mesma forma para o de outros. Quando h confiana, existe f; e essa f que abre o fluxo divino para a manuteno e prosperidade de nossa existncia, dando-nos juntamente a proteo que buscamos em todos os nveis de nossa vida.

  • 30

    10 Sacudir o p

    Captulo 21, itens 10 e 11

    ... Quando algum no quiser vos receber, nem escutar vossas palavras, sacudi, em saindo dessa casa ou dessa cidade, o p de vossos ps... ... Assim diz hoje o Espiritismo aos seus adeptos: no violenteis nenhuma conscincia; no forceis ningum a deixar sua crena para adotar a vossa... (Captulo 21, itens 10 e 11.)

    No nos influenciemos pelos feitos alheios. Nossas atitudes devem realmente nascer de nossas inspiraes mais ntimas, e no constituir uma forma de reagir contra as atitudes dos outros.

    No permitamos que emoes outras determinem nosso modo peculiar de pensar e agir; caminhemos sobre nossas prprias pernas, determinando como agir

    Quando algum no quiser vos receber, sacudi o p de vossos ps. A recomendao de Jesus poder ser assim interpretada: no devemos impor aos outros o constrangimento de convenc-los nossa realidade, como se nossa maneira de traduzir as leis divinas fosse a melhor; nem achar que a Verdade propriedade nica, e que somente coubesse a ns a posse exclusiva desse patrimnio.

    Em muitas ocasies, a ttulo de aconselhar melhores opes e diretrizes, no sentido de esclarecer e priorizar a seleo de atitudes dos outros, que, na verdade caberia a eles prprios desempenhar, ns extrapolamos nossas reais funes e limites, transformando o que poderia ser esclarecimento e orientao em abuso e ocupao indevida dos valores e domnios dos indivduos.

    Sentimos necessidade de corrigir opinies, indicar caminhos, induzir experincias, privando as pessoas de exercer opes e de vivenciar suas prprias experincias. Deixando-as cair e se levantar, amar e sofrer, estamos, ao contrrio, permitindo que elas mesmas possam angariar seus prprios conhecimentos e, dessa forma, estruturar sua maturao e crescimento pessoal.

    Deixar casas e cidades que no nos ouvem as palavras demonstrar que no temos a pretenso de nicos possuidores da revelao divina e que, no fosse nossa intermediao, as criaturas estariam desprovidas de outros canais de instruo e conhecimento divino.

    Reter o p em vossos ps no ter a viso da imensidade e diversidade das possibilidades universais, que apiam sempre as criaturas de conformidade com sua idade astral e sempre no momento propcio para seu crescimento ntimo.

    A Vida Maior tem inmeras vias de inspirao e revelao, a fim de conduzir os indivduos a seu desenvolvimento espiritual; portanto, no devemos nos arvorar em indispensveis dignitrios divinos.

    Lancemos as sementes sem a pretenso de aplausos e re-conhecimentos, mesmo porque talvez no haja florescimento imediato, mas na terra frtil dos sentimentos humanos haver um dia em que o campo produzir a seu tempo.

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    Ao aceitarmos as pessoas como indivduos de personalidade prpria, respeitando suas opinies, idias e conceitos, at mesmos seus preconceitos, estaremos dando a elas um fundamental apoio para que escutem o que temos para dizer ou esclarecer, deixando depois que elas mesmas, conforme lhes convier, mudem ou no suas diretrizes vivenciais.

    Talvez o servo imprudente, arraigado no orgulho, esperasse louros dourados de considerao e entendimento de todos os que o escutassem, e que fosse amplamente compreendido em suas intenes, mas por enquanto, na Terra, o plantio ainda difcil e as colheitas no so generosas.

    H muitas criaturas intransigentes e rigorosas que no entendem, impem; no ensinam, pregam; no amam, manipulam; no respeitam, criticam; e por no usarem de sinceridade que fazem o gnero de suposta santidade.

    Portanto, se no formos bem acolhidos nos labores que desempenhamos na Seara de Jesus, silenciemos sem qualquer reao aos contratempos e aguardemos as providncias das Mos Divinas.

    Nesse af, prossigamos convictos de nosso ideal de amor, palmilhando, entre as realizaes porvindouras rumo ao final feliz, nosso prprio caminho, cujo mapa est impresso em nosso corao.

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    11 Olhando para trs

    Captulo 5, item 8

    ... Tal aquele que tendo feito mal sua tarefa, pede para recome-la afim de no perder o benefcio do seu trabalho... ... Rendamos graas a Deus que, na sua bondade, concede ao homem a faculdade da reparao e no o condena irrevogavelmente pela primeira falta. (Captulo 5, item 8.)

    Culpa quer dizer paralisao das nossas oportunidades de crescimento no presente em conseqncia da nossa fixao doentia em comportamentos do passado. Quem se sente culpado se julga em peccatum, palavra latina que quer dizer pecado ou culpa. Logo, todos ns vestimos a densa capa da culpa desde a mais tenra infncia. Certas religies utilizam-se freqentemente da culpa como meio de explorar a submisso de seus fiis. Usam o nome de Deus e suas leis como provedores do mecanismo de punio e represso, afirmando que garantem a salvao para todos aqueles que forem tementes a Deus. Esquecem-se, no entanto, de que o Criador da Vida infinita Bondade e Compreenso e que sempre v com os olhos do amor, nunca punindo suas criaturas; na realidade, so elas mesmas que se autopenalizam. por no se renovarem nas oportunidades do livre-arbtrio e por ficarem, no presente, agarradas aos erros do passado. Nossa atual cultura ainda a mais grave geradora de culpa na formao educacional dos relacionamentos, seja no social, seja no familiar. No recinto do lar encontramos muitos pais induzindo os filhos culpa: Voc ainda me mata do corao!, ttica muito comum para manter sob controle uma pessoa rebelde; ou dos filhos que aprenderam a tramia da culpa, para obter aquilo que desejam: Os pais de minhas amigas deixam elas fazer isso.

    Culpar no um mtodo educativo, nem tampouco gerador de crescimento, mas um meio de induzir as pessoas a no se responsabilizar por seus atos e atitudes.

    Em muitas oportunidades encontramos indivduos que teimam em culpar os outros, acreditando ser muito cmodo representar o papel de injustiados e perseguidos. Colocam seus erros sobre os ombros das pessoas, da sociedade, da religio, dos obsessores, do mundo enfim.

    No entanto, s eles podero decidir se reconhecem ou no suas prprias falhas, porque apenas dessa forma se libertaro da priso mental a que eles mesmos se confinaram.

    Dar importncia s culpas focalizar fatos passados com certa regularidade, sempre nos fazendo lembrar de alguma coisa que sentimos, ou deixamos de sentir, falamos ou deixamos de falar, permitimos ou deixamos de permitir, desperdiando momentos valiosos do agora, quando poderamos operar as verdadeiras bases para nosso desenvolvimento intelecto-moral.

    Ningum que lana mo ao arado e olha para trs apto para o reino de Deus. (1)

    Olhando para trs, a alma no caminha resoluta e, conseqentemente,

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    no se liberta dos grilhes do passado. Todos ns fomos criados com possibilidades de acertar e errar; por isso,

    temos necessidade de exercitar para aprender as coisas, de colocar as aptides em treino, de repet-las vrias vezes entre ensaios e erros.

    A culpa se estrutura nos alicerces do perfeccionismo. Alimentamos a idia de que no seremos suficientemente bons se no fizermos tudo com perfeio. Esquecemo-nos, porm, de que todo o nosso comportamento decorrente de nossa idade evolutiva e de que somos to bons quanto nos permite nosso grau de evoluo. A todo momento, fazemos o melhor que podemos fazer, por estarmos agindo e reagindo de acordo com nosso senso de realidade. O arrependimento resulta do quanto sabamos fazer melhor e no o fizemos, enquanto que a culpa , invariavelmente, a exigncia de que deveramos ter feito algo, porm no o fizemos por ignorncia ou impotncia.

    A Divina Providncia sempre concede ao homem a faculdade da reparao e no o condena irrevogavelmente. No h, razo, portanto, para culpar-se sistematicamente, pois ele ser cobrado pelo muito ou pelo pouco que lhe foi dado, ou mesmo, muito se pedir quele que muito recebeu. (2)

    Assevera Paulo de Tarso: a mim, que fui antes blasfemo, perseguidor e injuriador, mas alcancei misericrdia de Deus, porque o fiz por ignorncia, e por ser incrdulo. (3) Tem-se, dessa forma, um ensinamento claro: a culpa sempre proporcional ao grau de lucidez que se possui, isto , nossa ignorncia sempre nos protege.

    No guardemos culpa. Optemos pelo melhor, modificando nossa conduta. Reconheamos o erro e no olhemos para trs, e sim, para frente, dando continuidade nossa tarefa na Terra.

    (1) Lucas 9:62. (2) Lucas 12:48. (3) 1 Timteo 1:13.

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    12 Desbravando mistrios

    Captulo 7, item 7

    E no Jesus disse estas palavras: Eu vos rendo glria, meu Pai, Senhor do Cu e da Terra, por haverdes ocultado essas coisas aos sbios e aos prudentes, e por as haver revelado aos simples e aos pequenos. (Captulo 7, item 7.)

    Vaie considerar que, quando Jesus afirmou que Deus havia ocultado os mistiios aos sbios e aos prudentes e os tinha revelado aos simples e pequenos, em verdade observava que certos homens de cultura e intelectualidade achavam-se perfeitos eruditos, no precisando de mais nada alm do seu cabedal de instruo. Por sua vez, orgulhosos porque retinham vrios ttulos, acreditavam-se superiores e melhores que os outros, fechando assim as comportas da alma s fontes inspirativas e intuitivas do plano espiritual. Porm, os pequenos e simples, aos quais se reportava o Mestre, so aqueles outros que, devido posio flexvel em face da vida, descortinam novas idias e conceitos, absorvendo descobertas e pesquisas de todo teor, selecionando as produtivas, para o seu prprio mundo mental. Por no serem ortodoxos, ou sej a, conservadores intransigentes, e sim afeioados reflexo constante das leis eternas e ao exerccio da f raciocinada, renem melhores condies de observar a vida com os olhos de ver. So conhecidos pela maturidade evolutiva, que avaliada levando-se em conta seus comportamentos nos mais variados nveis de realizao, entre diversos setores (fsico, mental, emocional, social e espiritual) da existncia humana.

    Pelo modo como agem e como se comportam diante de problemas e dificuldades, os pequenos e os simples tm uma noo exata de sua prpria maturidade espiritual. Alm disso, sentem uma sensao enorme de serenidade e paz pela capacidade, pela eficincia e pelos atributos pessoais, e por se comportarem dentro do que esperavam de si mesmos.

    Simples so os descomplicados, os que no se deixam envolver por mtodos extravagantes, supostamente cientficos, e por critrios de anlise rgida. Simples so os que sempre usam a lgica e o bom senso, que nascem da voz do corao.

    So aqueles que no entronizam sua personalidade megalomanaca atrs de mesas douradas e que no penduram pergaminhos para a demonstrao pblica de exaltao do prprio ego.

    Os sbios a quem o Senhor se referia eram os dominadores e controladores da mente humana, que desempenhavam papis sociais, usando mscaras diversas segundo as situaes convenientes. Esto a nossa volta: so criaturas sem originalidade e criatividade, porque no auscultam as vibraes unssonas que descem do Mais Alto sobre as almas da Terra.

    No suportam a mais leve crtica - mesmo quando construtiva - de seus atos, feitos, raciocnios e ideais; por isso, deixam de analis-la para comprovar ou no sua validade. Por se considerarem donos da verdade, reagem e se irritam, esquecendo-se de que esses comentrios poderiam, em alguns casos, proporcionar-lhes melhores reflexes com ampliao da conscincia.

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    Vale considerar que esses sbios no se lanam em novas amizades e afeies, pois conservam atitudes preconceituosas de classe social, de cor, de religio e de outras tantas, amarrando-se aos exclusivismos egosticos.

    No obstante, o Mestre Jesus se reportava s luzes dos cus, que agilizariam os simples a pensar com mais lucidez, a se expressar com maior naturalidade, para que pudessem desbravar os mistrios do amor e das verdades espirituais, transformando-se no futuro nos reais missionrios das leis eternas.

    Simples so os espontneos, porque abandonaram a hipocrisia e aprenderam a se desligar quando preciso do mundo externo, a fim de deixar fluir amplamente no seu mundo interior as correntezas da luz; so todos aqueles que prestam ateno no Deus em si e entram em contato com Ele e consigo mesmo; so, enfim, aqueles que j se permitem escutar sua fonte interior de inspirao e, ao mesmo tempo, confiar nela plenamente.

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    13 Tempo certo

    Captulo 17, item 5

    ... Aquele que semeia saiu a semear; e, enquanto semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho... ... Mas aquele que recebe a semente numa boa terra aquele que escuta a palavra, que lhe presta ateno e que d fruto, e rende cento, ou sessenta, ou trinta por um. (Captulo 17, item 5.)

    Na vida, no existe antecipao nem adiamento, somente o tempo propcio de cada um. A humanidade, em geral, recebe as sementes do crescimento espiritual a todo o instante. Constantemente, a Organizao Divina emite idias de progresso e desenvolvimento, devendo cada indivduo absorver a sementeira de acordo com suas possibilidades e habilidades existenciais. A Natureza nos presenteia com uma diversidade incontvel de flores, que nos encantam e fascinam. Certamente, no as depreciaramos apenas por achar que vrios botes j deveriam ter desabrochado dentro de um prazo determinado por ns, nem as repreenderamos por suas tonalidades no ser todas iguais conforme nossa maneira de ver. Nem poderamos sequer compar-las com outras flores de diferentes jardins, por estarem ou no mais viosas. Deixemos que elas possam germinar, crescer e florir, segundo sua natureza e seu prprio ritmo espontneo. Isso ser sempre mais bvio. Parece racional que ofereamos a quem amamos o mesmo consentimento, porque cada ser tem seu prprio marco individual nas estradas da vida, e no nos permitido violentar sua maneira de entender, comparando-o com outros, ou forando-o com nossa impacincia para que cresam e evoluam, como ns acharamos que deveria ser.

    Cada um de ns possui diferenas exteriores, tanto no aspecto fsico como na forma de se vestir, de sorrir, de falar, de olhar ou de se expressar. Por que ento haveramos de florescer a toque de caixa?

    Nossa ansiedade no faz com que as rvores dem frutos instantneos, nem faz com que as roseiras floresam mais cleres. Respeitemos, pois, as possibilidades e as limitaes de cada indivduo.

    Jesus, por compreender a imensa multiformidade evolucional dos homens, exemplificou nessa parbola a dissemelhana das criaturas, comparando-as aos diversos terrenos nos quais as sementes da Vida foram semeadas.

    As que caram ao longo do caminho, e os pssaros as comeram, representam as pessoas de mentalidade bloqueada e restringida, que recusam todas as possibilidades de conhecimento que as conteste, ou mesmo, qualquer forma que venha modificar sua vida ou interferir em seus horizontes existenciais. So seres de compreenso e aceitao diminuta ou quase nula. So comparveis aos atalhos endurecidos e macerados pela ao do tempo.

    Outras sementes caram em lugares pedregosos, onde no havia muita terra, mas logo brotaram. Ao surgir o sol, queimaram-se porque a terra era

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    escassa e suas razes no eram suficientemente profundas. Foram logo ressecadas porque no suportaram o calor da prova; e,

    por serem qualificadas como pessoas de convico flutuante, torraram rapidamente seus projetos e intenes.

    Nossas bases psicolgicas foram recolhidas nas experincias do ontem. So razes do passado que nos do manuteno no presente para ir adiante, nos processos de iluminao interior.

    Quando os caules no so suficientemente profundos e vetustos, h bloqueios tanto em nossa conscincia intelectual como na emocional. Um mecanismo opera de forma a assimilar somente o que se pode digerir daquela informao ou ensinamento recebido.

    Assim, a disponibilidade de perceber a realidade das coisas funciona nas bases do potencial e da viabilidade evolutiva e, portanto, impor s pessoas que sejam sensveis ou que progridam, alm de desrespeito individualidade, fator perigoso e destrutivo para exterminar qualquer tipo de relacionamento.

    Os espinheiros que, ao crescer, abafaram as sementes representam as idias sociais que impermeabilizam a mentalidade dos seres humanos, pois, no tempo do Mestre, as leis do Torah asfixiavam e regulamentavam no somente a vida privada, mas tambm a pblica.

    Os indivduos que no pensam por si mesmos acabam caindo nos domnios das normas e regras, sem poder erguer em demasia a sua mente, restrita pelas idias vigentes, o que os sentencia a viver numa frustrao grupal, visto que seu grau de raciocnio no pode ultrapassar os nveis permitidos pela comunidade.

    Jesus de Nazar combateu sistematicamente os espinhos da opresso na pessoa daqueles que observavam com rigor rituais e determinaes das leis, em detrimento da pureza interior. Dessa forma, Ele desqualificou todo esprito de casta entre as criaturas de sua poca.

    As demais sementes, no entanto, caram em boa terra e deram frutos abundantes. O que um solo frtil?

    Nossos patrimnios de entendimento, de compreenso e de discernimento no ocorrem por acaso, porqanto nenhum aprendizado nos envolver profundamente se no estivermos dotados de competncia e habilidades propiciadoras.

    A boa absoro ou abertura de conscincia acontece somente no momento em que no nos prendemos na forma. Aprofundarmo-nos no contedo real quer dizer: Quem no quebra a noz, s lhe v a casca. Mas para quebrar a noz e preciso senso e noo, base e atributos que requerem tempo para se desenvolverem convenientemente. A conscincia da criatura, para que seja receptiva, precisa estar munida de despertamento natural e amadurecimento psicolgico.

    Reforando a idia, examinemos o texto do apstolo Marcos, onde encontramos: porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, e por ltimo o gro cheio na espiga. (1)

    O Mestre aceitava plenamente a diversidade humana. Ele se opunha a todo e qualquer nivelamento psicolgico e, portanto, lanou a Parbola do Semeador, a fim de que entendssemos que o melhor apoio que prestaramos a nossos companheiros de jornada seria simplesmente esperar em silncio e com pacincia.

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    Portanto, compreendamos que a ns, somente, compete semear; sem esquecer, porm, que o crescimento e a fartura na colheita dependem da chuva da determinao humana e do solo generoso da psique do ser, onde houve a semeadura.

    (1) Marcos 4:28

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    14 Quem so os regenerados

    Captulo 3, item 17

    Os mundos regeneradores servem de transio entre os mundos de expiao e os mundos felizes, a alma que se arrepende neles encontra a calma e o repouso, acabando de se depurar. Sem dvida, nesses mundos, o homem est ainda sujeito s leis que regem a matria... (Captulo 3, item 17.)

    Regenerados so todos aqueles que aprenderam a compartilhar deste mundo, contribuindo sempre para a sua manuteno e continuao, e que ao mesmo tempo, por perceberem que recebem medida que doam, sustentam com xito esse fenmeno de trocas incessantes. So os homens que descobriram que todos estamos ligados por inmeras formas de vida, desde o micro ao macrocosmo, e que os ciclos da natureza que vitalizam igualmente plantas, animais e eles prprios. Portanto, respeitam, cooperam e produzem, no pensando somente em si mesmos, mas na coletividade.

    Sabem que ao mesmo tempo, sozinhos ou juntos, somos todos viajantes nas estradas da vida universal, em busca de crescimento e perfeio.

    Voltaram-se para si mesmos e descortinaram a presena divina em sua intimidade e, em vista disso, agora no buscam somente a exterioridade da vida, mas a abundncia da vida ntima, fazendo quase sempre uma jornada csmica para dentro do seu universo interior, na intimidade da prpria alma.

    Regenerados so os seres humanos que notaram que no podem modificar o mundo dos outros, mas apenas o seu prprio mundo. Que os indivduos, lugares e ambientes no podem ser mudados, e que as nicas coisas que podem e devem ser alteradas so suas atitudes pessoais, reaes e atos relacionados a esses mesmos indivduos, lugares e ambientes de sua vida.

    Conseguiram angariar sabedoria em decorrncia das vivncias anteriores. Diferenciam o que lhes cabe fazer e, por conseguinte, o que so deveres dos outros. S fazem, portanto, auto-julgamento, deixando a cada um realizar sua prpria avaliao.

    Na realidade, trazem certas competncias e destrezas aliceradas no poder de observao, por j possurem uma considervel coleta de dados. So consideradas criaturas sbias, por seus constantes insights, isto , compreenses sbitas diante de decises e resolues da vida.

    So homens que adquiriram a habilidade de resolver suas dificuldades com recursos novos e criativos, usando maneiras inovadoras de solucionar os acontecimentos do cotidiano.

    Reconhecem que a vida uma sucesso de ocorrncias interdependentes, por possurem a capacidade de observar as relaes existenciais. Sempre lanam mo dos fatos passados e os entrelaam aos atuais, chegando profunda compreenso das situaes e de seus problemas.

    Descortinaram horizontes novos, porque reservaram no dia-a-dia algum tempo para se conhecer melhor, anotando idias e sensaes a fim de esclarecer para si prprios o porqu de sentimentos desconexos, emoes varveis e aes contraditrias, visto que tal conhecimento os ajudar a viver de forma mais serena e previsvel.

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    Obtiveram transformaes ntimas, surpreendentes, pois conseguiram se ver como realmente so.

    Retiram mscaras, que inicialmente lhes davam um certo conforto e segurana, j que depois, eles mesmos reconheceram que elas os aprisionavam por entre grilhes e opresses.

    Aprenderam que no vale a pena representar inmeros papis, como se a vida fosse um grande teatro, mas sobretudo assumir sua prpria misso na Terra, porque constataram que cada um tem uma quota prpria de contribuio perante a Criao, e que no nasce no Planeta nenhuma criatura cuja tarefa no tenha sido predeterminada.

    Regenerados so os reabilitados luz das verdades eternas. Adotaram Jesus como o Sbio dos Sbios e, por seguirem Seus passos, fazem sempre o seu melhor. Reconheceram que o erro nunca ser motivo de abatimento e paralisao e sim de estmulo ao aprendizado. Por isso, seguem adiante, pacientes consigo mesmos e com os outros, ganhando cada vez mais autonomia e discernimento ante as leis de amor que regem o Universo.

  • 41

    15 Servilismo

    Captulo 9, item 8

    ... A obedincia e a resignao, duas virtudes companheiras da doura, muito ativas, embora os homens as confundam erradamente com a negao do sentimento e da vontade. A obedincia o consentimento da razo, a resignao o consentimento do corao... (Captulo 9, item 8.)

    A subservincia pode esconder falta de iniciativa, passividade indesejvel, complexo de inferioridade e uma imaturidade de personalidade. Obedecer no negar a vontade e o sentimento, mas exercitar o prprio poder de escolha para cooperar com os outros na produo de algo maior e melhor do que aquilo que se faria sozinho. Assim considerando, a obedincia deve ser uma postura interna, racional, lgica, compreensiva e a mais consciente possvel. Os problemas do servilismo ou da subservincia nas criaturas foram gerados em muitas circunstncias na infncia, quando pais instigavam o medo e a ameaa como forma de obter obedincia dos filhos. Trata-se de um propsito cmodo e muito rpido, mas contra-indicado na complexa tarefa de educar. Adultos que herdaram tal formao familiar, se no forem espritos maduros e decididos, com farta bagagem espiritual e valores desenvolvidos, podero viver com essa intruso educacional. Esse modo forado de obedecer aos outros desenvolve neles uma postura de anulao das prprias metas, pois substitui sua independncia pela vontade alheia. Outros tantos trazem das vivncias anteriores sentimentos de culpa por abandonarem sem nenhuma considerao entes queridos. So verdadeiros clichs mentais arquivados no inconsciente profundo, que detonam em forma de obedincia e servido compulsria, para compensar o passado infeliz.

    A Psicologia, por seu turno, assevera que certos indivduos desequilibrados por conflitos herdados na infncia trazem enraizados em sua personalidade uma necessidade enorme de satisfazer seus sentimentos de mando e de autoridade, sempre impondo ordens, mtodos e regras que, obedecidos passivamente, lhes trazem um enorme prazer e satisfao.

    Essas pessoas ao entrarem em contato com personalidades submissas, compensaro sua neurose de dar ordens, e em muitos casos, somam ao seu impulso agressivo a neurose de autoridade, satisfazendo assim suas caractersticas sdicas, dominando e afligindo essas criaturas servis, por anos e anos.

    O ser humano que se sujeita a ordens de comando vive constantemente numa confuso mental, absorvendo na atmosfera ntima uma sensao de no ter agradado o suficiente. Numa tentativa intil de cumprir e concordar com ordens recebidas, cai quase sempre na decepo, na revolta e na indignao, pois esperava receber amor e considerao pela obedincia executada.

    Muitos de ns tivemos pais que nunca se importaram em nos impor limites, fatores indispensveis para que a criana aprenda a conhecer o no,

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    evitando a iluso de que ter tudo a seu dispor e que jamais encontrar obstculos e dificuldades.

    Viver querendo ter sempre nossos desejos realizados e executados exigir obedincia, a qualquer preo, daqueles que nos cercam.

    Paralelamente, com o passar do tempo, essa postura pode se tornar inversa. Ao invs de exigirmos sujeio de todos os nossos pontos de vista, passamos a nunca dizer no, sempre tentando satisfazer os outros, sempre dizendo sim, ainda que precisemos ir s ltimas conseqncias.

    Por outro lado, uma pessoa que nunca diz no s pode ser desonesta, porque diz que faz e d muito mais do que tem e pode, expondo-se sempre ao risco de ser tachada de hipcrita e, alm de tudo, de no realizar sua prpria misso na Terra, porque se arvorou em correr atrs das realizaes dos outros.

    A obedincia o consentimento da razo. Quem consente alguma coisa permite que se faa ou no, conforme achar conveniente sua maneira de agir e pensar. A resignao o consentimento do corao, ou melhor, os sentimentos falaro mais alto e a criatura abdicar o seu direito em favor de algum, ou de uma causa, por livre e espontnea vontade, j que o direito era de sua competncia.

    Efetivamente, a obedincia e a resignao, virtudes s quais Jesus de Nazar se referia, no so aquelas que os homens as confundem erradamente com a negao do sentimento e da vontade, conforme bem define o esprito Lzaro no texto em reflexo.

    Lembremo-nos, portanto, de que servir nem semp