Livro “Homens São Analógicos, Mulheres São Digitais” de Walter Longo
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homens so analgicos,
mulheresso digitais
por que sua empresa
precisa adotar o
arqutipo feminino
walter longo
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homens so analgicos,
mulheresso digitais
por que sua empresa
precisa adotar o
arqutipo feminino
walter longo
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walter longo
edio: afcom
projeto grfico: estao
foto: adriana campos
traduo: marcelo nunes
reviso portugus: mrcia menin
reviso ingls: regina stocklen
outubro de 2014
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3sumrio
#0 em Gauteng, h 100 mil anos... 5
#1 a cincia, estpido! 7
#2 as diferenas-chave 12
#3 a economia ps-digital 16
#4 a alma digital feminina 23
#5 o futuro (e o homem) 29
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5#0 em Gauteng, h 100 mil anos...
Quando se visita Johannesburgo, na
provncia de Gauteng, frica do Sul, um passeio obrigatrio o
que leva a cerca de 50 quilmetros da cidade. Patrimnio histrico,
a regio considerada o bero da humanidade; l que ficam
as cavernas Sterkfontein, stio arqueolgico onde se encontraram
50 fsseis de homindeos de mais de 2 milhes de anos, incluindo o
mais antigo conhecido, do sexo feminino.
Recentemente, em 2013, uma equipe de pesquisadores de ge-
nmica da Universidade Stanford, Estados Unidos, liderada pelos
pesquisadores Carlos Bustamante e David Poznik, validou a hip-
tese de que todos os seres humanos descendem de uma mesma
Eva e um mesmo Ado e que eles devem ter vivido, na frica,
entre 100 mil e 150 mil anos atrs.
O que mais surpreende nessas descobertas incrveis quanto
os homens de hoje se parecem com os que viveram h 100 mil
e poucos anos, e o mesmo se pode dizer das mulheres. De igual
modo, surpreendente que se mantenham, entre os gneros, as
diferenas que existiam em Sterkfontein.
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O propsito deste livro conscientizar o leitor sobre a existn-
cia de tais diferenas e mostrar como influem no desempenho nos
negcios muito mais do que se imagina, a ponto de pocas econ-
micas distintas pedirem arqutipos dominantes diversos.
Minha tese simples: enquanto a economia era analgica e
baseada na escassez de produtos, servios e informaes ,
o estilo masculino era o mais bem-sucedido. Agora que entramos
na economia ps-digital e vivemos a abundncia de produtos,
servios e informaes , o comportamento feminino que pre-
cisa prevalecer.
J vemos padres ps-digitais se implementarem nas organiza-
es com mais mulheres e tambm naquelas com homens que ex-
ploram seu lado feminino. Mas isso deve disseminar-se muito mais.
(Ou teremos problemas.)
Fazer a transio da cultura analgica para a ps-digital no ser
fcil para empresas e executivos; em ambos os casos, h hegemonia
masculina. No ser fcil tambm para a sociedade de maneira ge-
ral, porque, politicamente, a cartilha reza que homens e mulheres
sejam percebidos como iguais.
Porm ser a compreenso dessas diferenas que permitir o
aproveitamento do melhor de ambos os profissionais e aumentar
a probabilidade de sucesso das corporaes. o que defendo nas
pginas a seguir.
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A sociedade atual est convencida de
que homens e mulheres possuem, essencialmente, as mesmas
aptides e capacidades. Segundo esse raciocnio, as diferenas ob-
servadas nos gneros ao longo dos sculos derivam do condiciona-
mento social somos vtimas de esteretipos que perpetuamos.
No entanto, estudos cientficos vo na direo oposta, espe-
cialmente em campos de conhecimento darwinistas, como a so-
ciobiologia e a psicologia evolucionista.
Tais estudos afirmam, por exemplo, que as mulheres geralmen-
te falam muito mais do que os homens, e tm uma hiptese sobre
a razo disso. Em 2000, a pesquisadora Shelley E. Taylor, da Uni-
versidade da Califrnia em Los Angeles, Estados Unidos, publicou
um artigo na revista Psychological Review, em que comprovou que
as reas do crebro responsveis pela linguagem so mais de 17%
maiores nas mulheres do que nos homens. esperado: no tempo
das cavernas, as mulheres precisavam fazer barulho para afastar os
possveis predadores; os homens, ao contrrio, deviam ficar silen-
ciosos para conseguir caar ou pescar o alimento.
#1 a cincia, estpido!
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Em linhas gerais, a sociobiologia deriva da etologia, que a cin-
cia do comportamento animal, aplicando-a especificamente ao animal
homem. Utiliza a biologia, em especial a gentica, para explicar as
causas do comportamento humano, da mesma forma que usa a an-
tropologia, por exemplo, e estende seus achados cultura. Embora re-
monte dcada de 1940, vem popularizando-se dos anos 1970 para c
e tem entre seus principais tericos cientistas clebres como Richard
Dawkins, autor de O Gene Egosta, e Edward Wilson, conhecido, sobre-
tudo, como maior autoridade mundial no estudo das formigas.
A psicologia evolucionista, por sua vez, mais recente: surgiu
por volta de 1970 e comeou a se disseminar nos anos 1990.
muito associada ao canadense Steven Pinker e tem sido bastante
adotada para o entendimento do direito, da psiquiatria e at do
sexo. De modo geral, ela busca compreender caractersticas espe-
cficas, entre elas memria, percepo e linguagem, como adapta-
es dos seres humanos ao longo de sua evoluo.
No se trata de uma cincia livre de crticas. O cruzamento de
reas como comportamento, biologia e cincias sociais ainda so-
fre resistncia dos cientistas mais puristas, que reclamam de falta
de evidncias suficientes e certo sexismo dos pesquisadores que
seguem essa linha. Diga-se que nomes respeitveis como o do pa-
leontlogo Stephen Jay Gould esto entre seus questionadores.
Sou um leigo, naturalmente, mas, de maneira instintiva e com
o reforo em leituras, eu me alinho com a sociobiologia e a psi-
cologia evolucionista. Uma vez que o crebro humano quase no
mudou nos ltimos 100 mil anos, desde a Eva e o Ado das caver-
nas Sterkfontein, a programao comportamental feita para aque-
las circunstncias continua vlida at hoje.
Pensemos na rotina dos seres humanos de 100 mil anos atrs.
As tarefas s quais o crebro deles se adaptou eram simples: ca-
bia aos homens caar e pescar, e as mulheres tinham de cuidar da
moradia e dos filhos.
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Para caar e pescar, os homens precisavam ter noo espacial
aguada e viso focada na distncia, ser silenciosos para no es-
pantar as presas e concentrar-se naquela nica misso. E, impor-
tante, eles buscavam conquistar algo que no possuam.
J os requisitos das mulheres para que cumprissem suas fun-
es eram outros. Vivendo nas cavernas, espaos reclusos e res-
tritos em que protegiam a prole, elas precisavam ter viso prxima
e na penumbra, fazer barulho para manter a moradia a salvo dos
predadores e lidar com vrias atividades ao mesmo tempo, pela
quantidade de filhos, que no devia ser pequena. E, claro, elas cui-
davam do que j possuam.
Outro aspecto interessante que, por conta dessas funes dis-
tintas, a reao ao perigo era oposta em homens e mulheres. Eles
respondiam a toda ameaa com o tpico movimento de fight or
flight (lutar ou fugir). Elas invariavelmente apelavam para o tend
and befriend (proteger e formar alianas), uma vez que a ameaa
se localizava em sua moradia e o objetivo era preservar o mximo
dos filhos, que ali se encontravam. As mulheres aliavam-se a outras,
para aumentar seu poder de resistncia, e compunham-se at mes-
mo com o inimigo, se fosse necessrio.
Segundo as cincias darwinistas, essas circunstncias foram
definindo e adequando o funcionamento cerebral com elementos
qumicos e fsicos.
Por exemplo, no aspecto qumico, vrios estudos j demonstra-
ram que o hormnio feminino estrognio alavanca o comportamento
afiliativo e conciliador da mulher, ao estimular a produo da subs-
tncia oxitocina. A composio com o inimigo fica mais fcil com ele,
assim como o dilogo com o outro. J o hormnio masculino testos-
terona responsvel pela agressividade e pela competitividade.
No aspecto fsico, o neurologista Roger Gorski, da Universida-
de da Califrnia em Los Angeles, conseguiu evidncias de que o
crebro feminino dispe de um corpo caloso mais espesso do que
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o masculino. Como o corpo caloso o feixe de fibras nervosas que
liga os hemisfrios cerebrais esquerdo e direito, as mulheres tm
30% mais ligaes entre os dois lados do que os homens, o que
permite maior interao entre os hemisfrios, dando a elas uma
capacidade de raciocnio mais complexa e elaborada do que a de-
les. Assim, com baixa interao entre os dois hemisfrios, os ho-
mens tm seu raciocnio compartimentado. Isso o que explica-
ria a preferncia masculina por fazer uma coisa de cada vez, seja
caar um javali, seja ler um mapa (desligando o rdio do carro).
E tambm permitiria entender a habilidade multitarefas feminina.
Hoje vivemos uma dicotomia entre o que a sociedade deseja
e a cincia prova. A sociedade deseja uma igualdade absoluta en-
tre os gneros, reao compreensvel a anos de desigualdade de
direitos e deveres e, como muitos dizem, anos de opresso. No
entanto, a cincia prova que somos todos produtos biolgicos e,
com a evoluo, desenvolvemos diferenas significativas em nos-
sas caractersticas inatas.
No pode haver juzo de valor nas diferenas de gnero; nin-
gum melhor ou pior por causa delas. Precisamos apenas
compreend-las e aproveit-las de maneira inteligente. Estamos
diante de uma desafiadora mudana de paradigma: pela primeira
vez na histria, vamos respeitar o que somos intrinsecamente e
adaptar as atividades a isso. Para as empresas, tal quebra de para-
digma tende a ser particularmente grande, por conta da economia
ps-digital, conforme discutiremos adiante.
Homens e mulheres so iguais, sim iguais no direito de
expressar plenamente suas potencialidades. Agora, no somos
idnticos em nossas capacidades inatas e isso, mais cedo ou mais
tarde, deixar de ser contestado.
Estudiosos do comportamento humano como o casal austra-
liano Allan e Barbara Pease, autores de vrios best-sellers sobre
comunicao interpessoal e relacionamento, afirmam que pesqui-
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sas realizadas com bebs de poucos meses j demonstram clara-
mente essas diferenas: meninos se sentem atrados por coisas, e
meninas, por pessoas. Um pouco maiores, os garotos brincam com
objetos de construo procurando erigir edifcios grandes e altos;
j as garotas constroem suas edificaes sem se preocupar com
tamanho, e sim imaginando as pessoas que vo morar ali. E, quando
crescem, os representantes do sexo masculino buscam status e po-
der, enquanto as mulheres almejam relacionamento e cooperao.
James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton pre-
sidncia dos Estados Unidos em 1992, notabilizou-se pela frase
a economia, estpido!, referindo-se economia como explicao
para o desejo de mudana. Eu o parafraseio aqui com a cincia,
estpido!, referindo-me cincia como explicao para as dife-
renas existentes entre homens e mulheres.
Vamos conhecer um pouco mais dessas diferenas?
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12 #2 as diferenas-chave
Entre os homens, 54% pensam em sexo
todos os dias, vrias vezes por dia, enquanto apenas 19% das mulhe-
res fazem o mesmo. Esse dado vem do livro The Social Organization of
Sexuality (A Organizao Social da Sexualidade), publicado em 1994
nos Estados Unidos pelos pesquisadores Edward O. Laumann, John
H. Gagnon, Robert T. Michael e Stuart Michaels, e chama a ateno
para uma das diferenas mais patentes entre homens e mulheres.
Essa diferena de comportamento entre os gneros j faz parte
do senso comum e unanimemente aceita como biolgica. atribu-
da ao hormnio testosterona, mais elevado neles do que nelas a
tese sociobiolgica, embora no consensual, que cabia aos homens
perpetuar a espcie com o desejo sexual permanentemente em alta,
j que as mulheres se ocupavam dos filhos. O objetivo era gerar um
nmero de bebs suficiente para compensar os que morreriam.
Ocorre que uma srie de outras diferenas comportamentais
entre os gneros ainda no so to bem compreendidas. Tomemos
como exemplos os homens incapazes de encontrar uma ma
na geladeira, mas capazes de calar uma meia preta em um p
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e uma azul-marinho no outro, e as mulheres que se perdem com
frequncia quando esto na direo do carro e no conseguem ler
um mapa. Essas diferenas se devem ao fato de os homens terem
melhor viso de longa distncia e melhor orientao espacial, en-
quanto as mulheres se destacam pela viso de curta distncia e
pela viso perifrica, o que explicado pela sociobiologia.
So vrias as pesquisas que comprovaram tais distines, mas
vou me permitir citar algumas delas apenas:
Pesquisadores do departamento de psicologia da Universidade
Estadual da Gergia, Estados Unidos, fizeram uma bateria de testes
com homens e mulheres em 1998. O que James M. Dabbs Jr., E-Lee
Chang, Rebecca A. Strong e Rhonda Milun concluram que os ho-
mens so melhores na capacidade de rotao mental (ou seja, ima-
ginar um objeto movendo-se no espao), conseguem identificar em
mapas mais lugares do que as mulheres e mostram maior noo de
norte, sul, leste e oeste, alm da distncia em milhas (ou quilmetros).
Temos genes que nos fazem reconhecer trs cores verme-
lho, verde e azul e percebemos as outras como misturas dessas
trs. Em 2004, os pesquisadores Brian Verrelli e Sarah Tishkoff, da
Universidade de Maryland, tambm nos Estados Unidos, focaram
o gene que permite identificar a cor vermelha, transportado apenas
pelo cromossomo X. Trata-se de um gene que tem mais variaes
do que o usual. Como os homens possuem um cromossomo X e as
mulheres, dois, 40% delas tm um gene vermelho regular e um va-
riante, o que aumenta o espectro de cores que elas enxergam entre o
vermelho e o laranja. Eles, em compensao, tm maior dificuldade
em distinguir as cores. Isso seria compreensvel pelo fato de que, na
fase em que a humanidade apenas caava e coletava, a mulher cole-
tora precisava distinguir entre frutos, folhas e insetos.
A faculdade de educao fsica e sade da Universidade de Toron-
to, Canad, provou, em 2004, que os homens se adaptam a um novo
ambiente mais rpida e facilmente do que as mulheres. O professor
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Luc Tremblay, frente do estudo, formulou a hiptese de que os ot-
litos, estruturas do ouvido interno que so sensveis a foras inerciais
como a da gravidade, tendem a ser maiores neles do que nelas, o que
explicaria a maior facilidade deles em ajustar-se ao entorno.
A pesquisa realizada pela psicloga Helen Stacey e sua equi-
pe do Hammersmith and West London College, de Londres, Reino
Unido, em 2009, mostrou que a viso masculina mais precisa em
relao a alvos a 100 centmetros de distncia ou mais, enquanto as
mulheres enxergam melhor o que est no raio de 50 centmetros.
Em 2012, pesquisadores da Universidade da Cidade de Nova
York liderados pelo professor Israel Abramov concluram que os ho-
mens tm maior sensibilidade para o detalhe fino e imagens em
movimento rpido, enquanto as mulheres so melhores em discri-
minar cores, como j comentado. Os homens possuem uma quan-
tidade 35% maior de neurnios no crtex visual, porque estes tm
seu desenvolvimento controlado pelos hormnios masculinos.
Soma-se a essas pesquisas uma triste estatstica, para falar da
viso perifrica. Em um nico ano, 1997, analisaram-se no Reino Uni-
do quantas crianas haviam sido atropeladas: das 4.132 vtimas, dois
teros eram meninos e um tero, meninas. Embora isso possa ser
parcialmente atribudo ao fato de as meninas serem mais cuidado-
sas, os cientistas consideram que a viso perifrica feminina contribui
para proteg-las. Segundo os exames, as mulheres enxergam tudo o
que estiver em um ngulo de pelo menos 45 graus para cada lado da
cabea, e algumas chegam a 90 graus. J a viso dos homens em
profundidade, como se enxergassem um tnel diante de si.
Todos esses dados nos levam de volta ao Ado e Eva de
Sterkfontein, na frica. Ado saa para caar e precisava mirar as
possveis presas a distncias longas e em linha reta, provavelmen-
te escondido atrs de rochedos ou rvores. Tinha de antecipar o
movimento do animal com rotao mental. E no podia se per-
der na caada, se quisesse voltar para a caverna da famlia.
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Eva, por sua vez, mantinha-se na caverna com os oito filhos e
devia observar o que todos os menores estavam fazendo para que
no se metessem em encrenca. Tambm necessitava enxergar
na escurido e como se tivesse quatro ou seis olhos, para achar
a pedra com que o filho nmero 5 gostava de brincar ou a pele
de guepardo que cobria a filha nmero 3 ou ainda para identificar
uma cobra perigosamente prxima.
Transpondo isso para o mundo atual, fcil perceber que as ha-
bilidades se complementam e ambas so teis sociedade, o que
reitera a importncia de haver tanto homens como mulheres no co-
mando das coisas. Mas, na mudana da era analgica para a ps-
-digital, existem ao menos quatro diferenas de gnero sociobiolo-
gicamente justificadas com impacto bem maior do que o percebido:
1. Homens valorizam o monlogo e so mais retrados; mu-
lheres priorizam o dilogo e adoram relacionar-se com os outros.
2. Homens conversam racionalmente sobre assuntos de interesse
geral; mulheres expem emoes e compartilham a vida pessoal.
3. Homens concentram-se em atividades e conhecimentos es-
pecficos; mulheres so eclticas e multitarefas.
4. Homens respondem a ameaas lutando ou fugindo; mulhe-
res, diante do perigo, tornam-se protetoras e formam alianas.
Em resumo, as pesquisas mostram que somos muito mais pro-
dutos de nossa biologia do que vtimas de esteretipos sociais.
Como, no passado longnquo, os homens no precisavam ser do-
tados para a conversa nem sensveis s necessidades emocionais
dos companheiros, nunca desenvolveram zonas cerebrais para as
trocas interpessoais. J as mulheres tinham de possuir aptido
para a comunicao interpessoal, qualidade fundamental para
conviver e colaborar com as demais habitantes da caverna. A con-
sequncia disso uma estrutura psquica mais complexa, e da a
necessidade de se comunicar mais, dividindo emoes e compar-
tilhando sentimentos.
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16 #3 a economia ps-digital
Fenmenos como as burrneshas alba-
nesas, mulheres que se passam por homens, adotando compor-
tamento hostil e de comando e controle, causam estranhamento
hoje, at na prpria Albnia.
Isso ocorre pela mesma razo que faz com que qualquer de-
monstrao de comando e controle facilmente vire piada no mun-
do atual ou, no mnimo, desperte forte resistncia.
Uma rpida reviso das entrevistas de empregos recentes per-
mitir ao leitor identificar quais comportamentos o departamento
de recursos humanos de sua empresa vem priorizando ao recrutar:
Pessoas (A) competitivas ou (B) cooperativas?
Pessoas (A) agressivas ou (B) participativas?
Pessoas (A) que correm muitos riscos ou (B) mais cuidadosas?
Pessoas (A) individualistas ou (B) que trabalham em equipe?
Pessoas (A) desagregadoras ou (B) integradoras?
Pessoas (A) centralizadoras ou (B) descentralizadoras?
Pessoas (A) pr-hierarquia ou (B) que se conectam em rede?
Pessoas (A) lgicas ou (B) intuitivas, cheias de insights?
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No sei quais sero as respostas relativas a sua organizao
especificamente, mas posso dizer, sem medo de errar, quais so
as das quatro empresas hegemnicas da economia mundial atual:
Apple, Google, Amazon e Facebook. Repetidamente, seus gesto-
res de pessoas tm preferido candidatos do tipo B.
importante notar que, h dez anos, empresas hegemnicas
possivelmente preferiam profissionais do tipo A em suas contra-
taes. Est havendo uma mudana de paradigma nada pequena,
e ela ainda passa despercebida maioria dos executivos. A seguir,
exploro a essncia da era ps-digital: a abundncia.
Escassez j eraTudo isso tem a ver com uma mudana maior, na verdade: pas-
samos de uma economia baseada em escassez para outra carac-
terizada pela abundncia.
Na pr-histria das cavernas Sterkfontein, predominava a escas-
sez, de alimentos e de outros recursos essenciais sobrevivncia. A
atividade de caar e pescar era fundamental, e os homens saam-se
magistralmente bem nela. Conforme a humanidade se desenvolveu,
caar e pescar o prprio alimento foi se tornando menos necessrio,
mas a escassez persistiu, de outras maneiras. Para a maioria das pes-
soas, os alimentos e demais recursos de sobrevivncia pertenciam a
outros e, para t-los, era preciso compr-los ou roub-los.
Pense nas aulas de histria. Lembre a brutal escassez da Gr-
cia Antiga e do Imprio Romano, da Idade Mdia das cruzadas e
do feudalismo, mesmo do Renascimento e da poca das grandes
navegaes e da descoberta da Amrica. Se escravido houve,
ela decorreu fundamentalmente da escassez. A economia que se
estabeleceu com a Revoluo Industrial no mudou o panorama;
basta pensar nos romances de Charles Dickens, que retratavam
a realidade das crianas famintas, exaustas e castigadas por uma
vida durssima em Londres.
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A escassez manteve, por sculos, uma economia baseada no
comando e controle, na qual as atitudes que faziam sentido eram
lutar ou fugir, e era preciso ter um comportamento acentuada-
mente hostil. Afinal, onde tudo escasso, a disputa por poder pre-
cisa ser constante. Estruturas piramidais, organogramas rgidos e
incentivos promotores do esprito competitivo individual foram a
tnica desse perodo.
A economia ps-industrial e ps-digital diferente: caracteriza-se
pela abundncia de recursos e de informaes, resultante da globali-
zao e das tecnologias em rede, entre outras coisas. Por isso, em vez
do comando e controle masculinos, estamos cada vez mais na era da
colaborao e do senso de comunidade, caractersticas predominan-
temente femininas estruturas matriciais, organogramas flexveis
e processos colaborativos determinam os novos modelos de gesto.
Estamos tambm na era da comunicao abundante, da liberdade de
expresso, da humanizao das relaes e da espontaneidade das
emoes. E mais uma vez o arqutipo feminino leva vantagem.
Hoje, ao menos potencialmente, se faltarem batatas por conta
de algum fenmeno da natureza, ningum passar fome. Impor-
tam-se batatas de outro pas e o governo local (ou as entidades
filantrpicas) as faz chegar a quem no pode compr-las. Ou
clonam-se as batatas armazenadas com base em seu DNA. Na
verdade, temos sementes geneticamente modificadas que criam
batatas prova de seca e das doenas e pragas agrcolas mais
improvveis. H sensores nas plantaes avisando dos mnimos
problemas antes que eles se espalhem, por meio da chamada in-
ternet das coisas, dando aos produtores tempo para reagir.
E o fim da escassez no tem a ver apenas com o fim da fome,
que tende a ocorrer em um futuro prximo. Vou citar Peter Dia-
mandis, empreendedor e investidor que inspirou a teoria da abun-
dncia: ele explica que no se trata de todos terem uma vida de
luxos, e sim de criar um mundo no qual todos possam sonhar e
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fazer, em vez de sofrer e lutar, depois de terem suas necessidades
bsicas atendidas. A tecnologia facilita, cada vez mais, o acesso
aos recursos e, a seu ver, nas prximas duas dcadas, com o avan-
o exponencial da inteligncia artificial, da robtica, da indstria
digital, da nanotecnologia e da biologia sinttica, a abundncia
ser efetivamente o status dominante.
Novas vantagensEm um ambiente de escassez, tinha maior chance de sobrevi-
ver quem fosse competitivo, agressivo, tomador de riscos, indivi-
dualista, centralizador, lgico, seguidor da hierarquia, como se faz
no exrcito em uma guerra.
Em um contexto de abundncia, por sua vez, no preciso mais
disputar poder; ainda h competio, mas o objetivo dela consiste em
obter o reconhecimento alheio, e os resultados do tipo ganha-ganha
so o objetivo maior. Passa a prevalecer, na verdade, uma coopetio,
que a mistura de cooperao com competio. Assim, mudam os
comportamentos que representam vantagem competitiva.
Ser cooperativo e participativo torna-se muito mais interes-
sante do que competir e agredir, por exemplo. O mesmo vale para
descentralizar as decises e iniciativas. Valoriza-se demais quem
sabe trabalhar em equipe e atuar em rede. E, claro, a intuio e os
insights so vistos como especialmente poderosos em uma situa-
o em que todos tm as mesmas informaes.
A economia ps-digital marcada pela inteligncia coletiva e pela
exteligncia. A primeira, mais compreendida, a inteligncia de um
grupo de pessoas, que supera a soma das inteligncias individuais; para
ilustrar, ao longo da histria, encontramos vrios exemplos de exrcitos
inteligentes. A segunda a inteligncia espalhada em uma rede.
Ambos os tipos de inteligncia foram ampliados e fortalecidos
como consequncia das tecnologias em rede e da globalizao,
superando em muito a inteligncia individual. Agora, o sucesso
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de uma empresa na competio com outras depende basicamen-
te do desempenho de suas equipes e, muitas vezes, vem de um
desempenho que ocorre fora de suas fronteiras, de algo que foi
desenvolvido externamente a ela.
O efeito mais bvio da inteligncia coletiva que o fator social
ficou mais importante preciso que os relacionamentos dentro
de um grupo sejam bem gerenciados. Por sua vez, a decorrncia da
exteligncia que perde importncia o controle do know-how (saber
como fazer) e aumenta o peso do know-who (saber quem sabe fazer).
Mesmo sem sair das fronteiras corporativas, nota-se uma organi-
zao matricial em substituio piramidal, porque chefes e subor-
dinados tm iguais chances de dar boas contribuies. Observam-se
organogramas flexveis em substituio aos rgidos, com maior capa-
cidade de resposta ao imprevisvel e maior adaptao ao ambiente.
Na abundncia ps-digital, o comando e o controle cedem lu-
gar colaborao e ao senso de comunidade.
Quatro macrotendnciasPercebem-se nos negcios, e especificamente no marketing,
quatro macrotendncias ntidas na era ps-digital, com as quais
os gestores tero obrigatoriamente de lidar: efemeridade, multi-
plicidade, sincronicidade e tensionalidade.
A efemeridade diz respeito ao fato de vivermos em um tempo
em que as pessoas mudam constantemente de ideia elas esto,
mais do que so e, talvez por isso, desenvolvem relacionamentos
fugazes. No ambiente empresarial, refiro-me a relacionamentos fu-
gazes tanto de marcas com consumidores como de empresas com
seus colaboradores e fornecedores.
Isso faz com que qualquer estratgia de negcios precise fun-
cionar como o desafio do caador que atira em um pato que est
em pleno voo: no adianta mirar onde o pato est agora, mas onde
ele estar em determinado intervalo de tempo.
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A multiplicidade, por sua vez, consiste na diversidade de meios
que temos de utilizar, muitas vezes de modo simultneo, para
chegar aos consumidores e gerar receita. Isso fcil de visualizar,
por exemplo, no trabalho de comunicao e em sua analogia com
dois jogos que envolvem bola. Se o trabalho de comunicao era
como uma partida de boliche (a verba de comunicaes era a bola
e os consumidores, as garrafas), agora virou catico e imprevis-
vel como um jogo de pinball. Isso acontece por causa da primeira
tendncia, inclusive, a da efemeridade, com pessoas e relaciona-
mentos mudando constantemente.
Prosseguindo com as analogias, se os gestores fossem aplica-
tivos de smartphone, a multiplicidade os faria passar do GPS para
o Waze, que o perfeito smbolo da era ps-digital. No Waze, as
informaes sobre o fluxo do trnsito mudam o tempo inteiro con-
forme as pessoas acrescentam novos dados e nos fazem reavaliar
nossos conceitos o tempo inteiro. Assim como o Waze, as empre-
sas agora precisam focar seu trajeto mais do que seu destino.
Sobre a macrotendncia da sincronicidade, trata-se de um subs-
tituto para a velha especificidade dominante na economia indus-
trial. O objetivo deixou de ser personalizar um produto ou servio
para determinado consumidor; passou a ser alcanar o consumidor
no momento em que ele mais necessita de um produto ou servio.
Em outras palavras, isso significa que eu, consumidor, prefiro ser
chamado de fulano e receber a oferta de uma boia enquanto me
afogo a ser chamado de Walter, identificado como publicitrio, e
receber a oferta de um par de remos com meu nome gravado. A
empresa deve dedicar-se a entender o momento que estou vivendo
e no apenas quem eu sou.
A tensionalidade, ou tenso, a quarta macrotendncia que
impera na economia ps-digital e talvez a mais difcil de ser com-
preendida pelos homens e mulheres de negcios. Isso porque
rompe brutalmente com a tradio. Todo o esforo estratgico das
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empresas, e em especial o esforo do branding e do marketing,
sempre se deu em torno da ideia de coerncia, e agora no mais
assim que as coisas funcionam.
Hoje cada vez mais elevado o risco de uma empresa passar
despercebida no mercado, pois, como eu disse, nossa era carac-
terizada pelo efmero, em que nos distramos muito facilmente.
Embora coerncia seja algo bom, coerncia demais tende a causar
desateno do consumidor, transformando o que era especial em
trivial. Assim como a tenso o que torna as pessoas interessantes,
ela que faz as marcas e as empresas merecerem nossa ateno.
Basta pensar na tenso que envolve a diva norte-americana
Marilyn Monroe, que tanta ateno recebeu: ela era, simultanea-
mente, sedutora e inocente. O mesmo acontece com o lder Steve
Jobs, a um s tempo carismtico e tirano, e o roqueiro Bono Vox,
com sua dualidade inclusiva de filantropo e roqueiro. At na reli-
gio encontramos personagens que simbolizam a tenso: Jesus
Cristo era divino e humano, imortal e mortal, superior e humilde.
Quando um produto de limpeza, como um sabo em p, afir-
ma que se sujar faz bem, ele est trabalhando essa tenso com
os consumidores. O mesmo se passa com uma seguradora que
diz A vida imprevisvel e isso muito bom!, criando a tenso
entre a insegurana e o seguro. Na verdade, em um mundo com
um nmero crescente de pessoas padecendo de DDA, a sndrome
do dficit de ateno, tenso chama ateno. E, ao menos em co-
municao, se no h ateno, no h nada.
Vejamos, ento, por que a alma de uma economia ps-digital
uma alma feminina.
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23#4 a alma digital feminina
Apple, Google, Amazon e Facebook, em-
presas que simbolizam a era ps-digital, tm um nmero significativo de
mulheres em seus quadros. Em maio de 2014, o Google divulgou em seu
relatrio de diversidade que 30% de seus colaboradores so do sexo fe-
minino, o mesmo percentual da Apple e do Facebook. A Amazon no di-
vulga relatrios de diversidade, mas sua liderana j foi avaliada sob esse
aspecto e 15% dos 120 gestores mais seniores da empresa so mulheres.
As propores parecem baixas, mas, na realidade atual, no o so,
em especial entre organizaes ligadas a tecnologia, que sempre foram
um campo quase exclusivamente masculino. Mais ainda, essas em-
presas tm tomado iniciativas ostensivas para aumentar o nmero de
mulheres, porque j entenderam o que est em jogo o Google, por
exemplo, montou um grupo de 4 mil lderes mulheres, o women@goo-
gle, para serem mentoras de outras mulheres e alavancarem sua carreira.
Isso significa que, em um futuro prximo, o nmero de colaboradoras
ser significativamente maior nas quatro grandes.
O que essas empresas descobriram que, embora os homens vene-
rem tecnologia, sendo os primeiros a adotar gadgets e inovaes em geral,
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so as mulheres as maiores usurias dessas inovaes, como o caso
das redes sociais. A presena delas superior deles em todas as redes
sociais, exceto no LinkedIn, no qual se equivalem. Em levantamentos fei-
tos em 2013, 76% das mulheres dos Estados Unidos utilizavam o Face-
book (ante 66% dos homens), 54%, o TumbIr (46% dos homens), 33%,
o Pinterest (8% dos homens), 20%, o Instagram (8% dos homens),
18%, o Twitter (17% dos homens) e 19%, o LinkedIn (24% dos homens).
Por isso, podemos afirmar que homens so tecnolgicos e mulheres so
sociais. Homens gostam do universo digital pelos equipamentos em si e
mulheres, pelo que podem fazer com eles. Outra questo interessante
que homens parecem ser mais early adopters, mas essa tambm uma
falsa percepo: homens compram antes qualquer novo gadget, porm
mulheres utilizam antes novos aplicativos e servios.
Na verdade, segundo estudos recentes da Universidade de Bonn,
Alemanha, as mulheres seriam mais suscetveis ao vcio da internet
em comparao com os homens, por conta de uma mutao no gene
CHRNA4, que ocorre com muito mais frequncia no sexo feminino.
O que essas empresas j perceberam que, apesar de os ho-
mens terem maior capacidade de abstrao, o que sem dvida os
impulsiona a inovar, o arqutipo feminino de desenvolver rela-
cionamentos, de usar a intuio e a viso perifrica que move a
inovao da economia ps-digital mais facilmente.
Quatro vantagens competitivasO que Google, Apple, Amazon e Facebook entenderam que, por
comportamentos naturais explicados pela sociobiologia e pela psi-
cologia evolucionista, os homens so principalmente tecnolgicos,
enquanto as mulheres so sociais. Como, na economia ps-digital,
marcada pela abundncia, a sociedade opera, comunica-se e traba-
lha cada vez mais em rede, de maneira colaborativa e lidando com o
efmero e com a mudana contnua, as habilidades que constituem
vantagens competitivas para os negcios passam a ser outras, nota-
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damente quatro: o poder do relacionamento, a capacidade emocional,
a polivalncia e a flexibilidade, e a resposta cordial ao perigo.
O poder do relacionamentoO Massachusetts Institute of Technology, o MIT, dos Estados Unidos,
realizou um experimento, coordenado pelo professor e pesquisador Tho-
mas Malone, com o objetivo de entender o que define a inteligncia de
uma equipe. Setecentas pessoas organizadas em equipes de trs a cinco
integrantes participaram dele e foram feitas trs descobertas cruciais:
1. Um grupo mais inteligente se seus integrantes forem, em
mdia, mais sensveis socialmente, ou seja, mais hbeis na leitura
das emoes nos olhos de outras pessoas.
2. Um grupo mais inteligente quando as conversas no so
dominadas por uma ou duas pessoas, mas muitas, ou todas, con-
tribuem de maneira similar.
3. Um grupo mais inteligente quando tem mais mulheres em
sua composio.
A interpretao dos pesquisadores, ligada ao fator estatistica-
mente mais significativo, que a alta sensibilidade social de um
grupo o que condiciona sua inteligncia coletiva e a faz superar a
soma das inteligncias individuais.
Como vimos no captulo 2, as mulheres so naturalmente mais
propensas ao dilogo do que os homens. Comprovadamente, isso
tem grande impacto sobre a inteligncia de um grupo, o que fun-
damental em uma era em que a competitividade alavancada pela
inteligncia coletiva e pela exteligncia.
Trata-se, inclusive, de uma questo de custo. Como o menor
custo possvel uma mxima tanto de startups como de compa-
nhias estabelecidas, colaboradores externos so cada vez mais fre-
quentes, inclusive trabalhando em conjunto com equipes internas, e
a habilidade social essencial para que haja uma organizao desse
trabalho mesmo sem a possibilidade de comando e controle, ou,
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traduzindo em bom portugus, sem a hierarquia rgida e o distancia-
mento entre patro e empregado.
A capacidade emocionalA amizade feminina um fator de sade cada vez mais estudado
pela cincia, uma vez que as mulheres compartilham suas emoes
e trocam impresses sobre sua vida pessoal, diferentemente dos ho-
mens. Isso tem efeitos interessantes sobre a liderana.
Segundo pesquisa conduzida pela firma de desenvolvimento
de liderana norte-americana Zenger Folkman em 2014, mulheres
so mais apreciadas e respeitadas como gestoras, o que atribudo
ao fato de combinarem o pensamento lgico com as emoes de
maneira mais natural, a serem mais conscientes do efeito de suas
decises sobre terceiros e a trs habilidades de liderana em alta no
sculo 21 cooperao, comunicao e compartilhamento , as
quais passam por lidar bem com emoes, as prprias e as alheias.
A polivalncia e a flexibilidadeEm uma economia marcada por um consumidor que est mais
do que , que muda o tempo todo, que requer mltiplas aborda-
gens ao mercado e que pede sincronicidade permanentemente,
um gestor multidisciplinar e multitarefas fundamental para gerar
respostas rpidas, em especial em um contexto de custos enxutos,
como o que se pede hoje em nome da maior agilidade.
Assim, se os profissionais de gesto empresarial precisam conseguir
pular de um assunto a outro em um piscar de olhos, as mulheres tendem
a fazer isso com mais facilidade, tanto pelo jogo de cintura como pela ca-
pacidade de aprendizado. Elas estudam mais do que os homens, inclusi-
ve no Brasil. A pesquisa A Batalha por Talentos Femininos no Brasil, divulga-
da no final de 2011 pela ONG Center for Work-Life Policy, por exemplo,
afirma que cerca de 60% dos graduados no ensino superior que ingres-
sam todos os anos na fora de trabalho brasileira so mulheres.
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Alm disso, as mulheres no deixam de pensar como consumidoras
tambm elas so as principais consumidoras, pois controlam cerca de
70% a 80% das decises de compra, segundo diversas estimativas.
A resposta cordial ao perigoComo descrito no captulo anterior, a tenso se torna um elemento
de negcios importante em um mercado catico por definio e, atrs
de cada tenso, h um perigo espreita. Saber conviver com a tenso
sem perder o autocontrole torna-se praticamente obrigatrio.
Se a resposta dada a cada situao de tenso que surgir for de
luta ou fuga (fight or flight), como costuma ser a resposta dos ho-
mens diante da escassez, o perigo que era apenas insinuado tem
alta probabilidade de se materializar. A melhor maneira de lidar com
ameaas constantes tende a ser a proteo dos negcios e a criao
de alianas para isso, o que um padro comportamental natural-
mente feminino, como j vimos (tend and befriend).
A resposta natural masculina, que forja escassez e disputa, pode, in-
clusive, causar graves problemas a uma empresa nesse cenrio.
Outras caractersticasEu poderia listar outro bom nmero de atributos naturalmente femininos
que se encaixam como uma luva na economia ps-digital e da abundncia,
como a tendncia a ter insights e a trabalhar com a intuio, a compreenso
do simblico, a imaginao, a criatividade, o apego ao visual e ao design.
Em paralelo, os atributos dos homens perdem um pouco de sua
importncia relativa no dia a dia dos negcios, como o pensamento
abstrato, as habilidades lingusticas e cientficas, a capacidade de ra-
ciocnio e a lgica, a anlise, os nmeros, as palavras, a memria.
NmerosNo apenas o esforo de Google, Apple, Facebook e Amazon para
aumentar o nmero de mulheres em suas equipes que confirma essa li-
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gao direta entre os requisitos da economia ps-digital e as caracte-
rsticas naturalmente femininas. Alguns nmeros sinalizam o mesmo:
Empresas de tecnologia de capital fechado lideradas por mu-
lheres oferecem retornos sobre o investimento 35% mais eleva-
dos e, quando apoiadas por fundos de investimento, geram re-
ceitas 12% maiores do que as lideradas por homens, conforme
pesquisa da Fundao Kauffman.
Organizaes que tm mais mulheres na alta gerncia esto ge-
rando um retorno sobre ao 35% mais alto e um retorno total aos
acionistas 34% superior na comparao com outras, particularmente
aquelas em que a inovao chave, como empresas de internet, mo-
bile e mdia social, conforme pesquisa da Illuminate Ventures.
Em um ambiente de abundncia, so as mulheres que se saem
melhor, e a anlise biocomportamental explica por qu, com dida-
tismo. Cada uma delas foi programada, geneticamente, para cuidar
dos outros e fazer amizades. Assim, elas ficam completamente
vontade em uma estrutura mais participativa e descentralizada,
como a estrutura-padro destes novos tempos. Isso no significa
que os homens tenham se tornado dispensveis; eles apenas preci-
sam adquirir habilidades femininas.
ExpectativaNo tenho dvida de que o avano digital melhorou a quali-
dade de vida das mulheres que trabalham e que vai melhor-la
ainda mais, suavizando o peso de seus trs turnos e permitindo
sua ubiquidade. Elas ficaro cada vez mais confortveis na nova
organizao e podero exercer plenamente sua alma digital.
O desafio agora transformar a empresa, organizao to mas-
culina quanto a Igreja, em uma instituio feminina como, por
exemplo, a democracia. Mas ser que a feminizao das empresas
acontecer rapidamente, em 20 anos?
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Em 1976, o economista bengals Mu-
hammad Yunus enxergou algo que, na poca, ningum mais parece
ter observado: o modo feminino de lidar com questes econmicas.
Ele lanou sua ambiciosa iniciativa de microcrdito para acabar com
a pobreza, o Grameen Bank, apostando em clientes do sexo feminino.
Yunus, que ganharia o Prmio Nobel da Paz em 2006 por isso, des-
cobriu que as mulheres administram o dinheiro fazendo pouco render
muito e de maneira distribuda, por famlias e por comunidades, utili-
zando capacidades inatas, como a dos relacionamentos, a de lidar com
emoes, a de ser multitarefas e a de formar alianas e ter uma atitude
protetora diante das ameaas. Com isso, as mulheres tambm mostra-
ram ser melhores pagadoras de dvidas do que os homens.
Cerca de quatro dcadas depois, com uma revoluo das tecno-
logias digitais nesse intervalo e uma economia ps-digital em insta-
lao, a vez de o megainvestidor norte-americano Warren Buffett
observar o talento feminino. Buffett j conclamou investidores e em-
presas a apostar mais nas mulheres como gestoras se quiserem gerar
melhores produtos, servios e resultados. O icnico investidor tem
#5 o futuro (e o homem)
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trs mulheres entre os 13 membros do conselho de administrao de
sua Berkshire Hathaway, nmero acima da mdia do mercado.
Por que Buffett, que sabidamente um homem conservador
nos negcios, adota essa postura? No se trata de ser politica-
mente correto. Trata-se de entender que o paradigma de gesto
na economia ps-digital o arqutipo feminino.
claro que os homens podem adaptar-se s caractersticas fe-
mininas valorizadas na era ps-digital, mas, enquanto isso lhes re-
quer esforo, nelas tudo inato. Assim, o caminho para as empre-
sas parece realmente ser o de ter mais mulheres em seus quadros.
Arrisco-me a imaginar quais so as trs maiores preocupaes
dos empresrios nessa seara.
A primeira delas tem a ver com uma pergunta-chave feita pelo
pesquisador neozelands James Flynn, autor do livro O que In-
teligncia?: Quantas pessoas que so capazes de alcanar algo
efetivamente o alcanam?. Em outras palavras, a dvida se as
mulheres, tendo todos esses talentos naturais por razes biocom-
portamentais, conseguiro materializar tudo isso.
A segunda dvida diz respeito a inovao. Acredita-se que
esse campo, cada vez mais demandado nos tempos atuais, mui-
to mais masculino do que feminino, tambm por razes biocom-
portamentais o pensamento abstrato que favorece a inovao
mais masculino, assim como a disposio de correr riscos.
O terceiro questionamento tem a ver com a falta de ambio. Quase
todos os homens temem as consequncias de a empresa sempre vir em
segundo plano para as mulheres, sempre atrs da famlia.
Quero dedicar-me a responder s trs dvidas, justamente com
essa viso futurista, embora ningum tenha bola de cristal para cra-
var respostas. Como as mulheres atuaro nas empresas amanh?
Antes de mais nada, quero dizer que cada vez mais mulheres
esto convertendo seu potencial em realidade. Essa converso
depende sobretudo do que os acadmicos chamam de contexto
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capacitante. Ou seja, precisa haver nas empresas um ambiente
que facilite os caminhos para as mulheres. Estamos vendo isso
acontecer de diversas maneiras, desde os programas de liderana
feminina cada vez mais frequentes (com mentoria e coaching es-
pecficos, planos de carreira agressivos e facilidades como creches
internas para lidar com as questes familiares) at o estabeleci-
mento de cotas e polticas afirmativas em pases europeus.
Em segundo lugar, para falar de inovao, trago como refern-
cia a descoberta de Larry Keeley, autor de Ten Types of Innovation,
com base na anlise de trs dcadas de inovao: The Discipline of
Building Breakthroughs. Segundo Keeley, mulheres abordam a re-
soluo de problemas diferentemente dos homens. Seu mtodo
holstico e sistemtico. Em vez de se contentarem com respos-
tas simples e rpidas, elas se dedicam principalmente a solues
abrangentes, que sirvam para mais de um problema. No uma
complementaridade perfeita ao modo masculino? Alm disso, a
capacidade de relacionamento ajuda a inovar, assim como os in-
sights, a intuio, a imaginao, a criatividade. Se a abordagem
menos abstrata e mais utilitarista, no h problema, contanto que
haja complementaridade.
Por fim, no existe falta de ambio: 80% das gestoras brasileiras
aspiram a melhores cargos, por exemplo, ndice maior do que os 52%
dos Estados Unidos, conforme a ONG Center for Work-Life Policy.
Quanto a priorizar cuidar de um filho doente a estar na empresa, o
avano tecnolgico que gera ubiquidade resolver esse problema.
Na verdade, muitos dados so animadores quanto presena
de mais mulheres nas empresas. Segundo o levantamento da ONG
Center for Work-Life Policy, 81% das mulheres brasileiras amam
seu trabalho (mais do que nos Estados Unidos, onde esse ndice
de 71%) e 95% so leais s organizaes em que atuam, sendo que
58% tm inteno de permanecer no atual emprego por trs anos
ou mais. Investir nas mulheres compensa tambm no longo prazo.
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E, do ponto de vista do dinheiro, precisamos ser mais realistas.
Elas j so economicamente relevantes. As pesquisas com a nova
classe C indicam que quase 60% das famlias brasileiras j so lide-
radas por mulheres e, nos Estados Unidos de 2030, estima-se que
elas controlaro cerca de dois teros da renda nacional.
No falei, neste livro, de identidade de gnero em momento al-
gum, nem quero mostrar uma preocupao poltica com a equidade
entre homens e mulheres. Minha provocao tem como objetivo
to somente a competitividade empresarial nesta era ps-digital.
As mulheres tm uma estrutura mental e psquica diferente da dos
homens de novo, nem melhor, nem pior e ela mais adequada
s caractersticas econmicas atuais.
Isso significa que ns, homens, estamos fora do jogo? De modo
algum. Apenas teremos de nos dedicar mais para fazermos o que a
maioria delas faz com naturalidade.
Termino falando em batatas e em sua nova abundncia. Se o
crebro masculino continua programado para o comando e o con-
trole e ele continua , como um homem tipicamente responde
a esse novo ambiente onde no mais h escassez de batatas? Ele
tenta faz-lo voltar ao modelo anterior, forjando uma escassez que
gere uma contnua disputa pelo poder. Se isso acontecer, suas habi-
lidades masculinas ficaro mais valorizadas, como era antigamente.
No tenho dvida: os homens so analgicos, as mulheres so
digitais. Elas so mais sociveis, mais interessadas em relaciona-
mentos e conexes, mais eclticas e polivalentes do que os homens
exatamente o que propicia e estimula o universo ps-digital. Dei-
xemos que elas protagonizem a economia ps-digital. Deixemos
que implantem nas empresas os novos paradigmas de gesto. Ns
tambm podemos fazer isso e faremos , mas elas o fazem na-
turalmente, desde Gauteng, h pelo menos 100 mil anos. l
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