Livro Deloitte 100 Anos Brasil

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100 Anos no Brasil

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Uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo conta a história da sua centenária atuação em solo brasileiro.

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  • 100 Anos no Brasil

  • I I D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l I I I

  • IV D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

  • Esta publicao dedicada a todas as pessoas que,

    ao longo de um sculo, ajudaram a construir a grande

    organizao que hoje a Deloitte no Brasil. O legado

    deixado por elas como o ponto verde que acompanha

    a nossa logomarca no mundo inteiro consistente,

    completo, nico. Exatamente como so a histria

    e os servios oferecidos pela Deloitte.

  • Pelo sucesso dos prximos 100 anos

    O resgate da histria da Deloitte em seu primeiro sculo de atuao no Brasil nos oferece a oportunidade de conhecer um pouco melhor o nosso prprio pas. A narrativa que as pessoas de nossa organizao vm escrevendo desde 1911, quando ela aportou no Rio de Janeiro para auditar companhias ferrovirias britnicas, se mescla a muitos dos episdios mais importantes do desenvolvimento do ambiente de negcios brasileiro.

    A Deloitte esteve presente em todos os momentos relevantes da histria econmica nacional desse perodo, apoiando seus clientes empresas estrangeiras e locais a enderear os desafios que se apresentaram, sucessivamente, em meio a alteraes profundas e frequentes no mercado. Mais do que presente, nossa organizao se envolveu fortemente com o Brasil sua economia, suas empresas, sua gente.

    Nossa histria, que tem muitos de seus fatos relatados nesta publicao, evidencia o envolvimento da Deloitte com o Brasil encurtando as distncias entre as necessidades locais e as melhores prticas reconhecidas mundialmente e auxiliando os agentes de mercado a acelerar a integrao do Pas a uma economia global e de transformaes cada vez mais intensas.

    Apesar de j termos entrado para o clube das centenrias, a Deloitte no Brasil continua sendo uma organizao muito jovem. Nossa alma a dos que se apaixonam por desafios de todos os tipos, dimenses e nveis de dificuldade. Levamos para o nosso dia a dia o mesmo prazer dos desbravadores que construram novos caminhos na histria da humanidade. E na vanguarda que queremos nos manter, posicionados efetivamente sempre um passo frente, acreditando que possvel e necessrio fazer tudo cada vez melhor.

    Destes 100 anos no Brasil, podemos afirmar que nunca houve um momento to prspero como este que hoje vivemos. Com fundamentos econmicos firmes, taxas de crescimento acima da mdia mundial, mais investimentos, maior consumo e melhor distribuio de renda, o Pas avanou muito. E, mais uma vez, junto com o Brasil e com nossos clientes, a Deloitte tambm cresceu.

    Entre os scios da nossa organizao, h um compromisso mtuo o de entregar uma Deloitte cada vez melhor s prximas geraes. Para os prximos 100 anos da Deloitte no Pas, queremos renovar e ampliar esse compromisso agora, para toda a sociedade brasileira. Vamos dar continuidade ao trabalho realizado neste sculo, contribuindo para construir um pas sempre melhor para as prximas geraes da Deloitte, para nossos clientes e pelo futuro do Brasil. Juarez Lopes de ArajoPresidente da Deloitte no Brasil

    Vamos dar continuidade ao trabalho realizado neste sculo, contribuindo para construir um pas sempre melhor para as prximas geraes da Deloitte, para nossos clientes e pelo futuro do Brasil.

  • Oportunidade para alar novos voos

    A Deloitte no Brasil tem hoje bons motivos para comemorar. Tendo como pano de fundo o crescimento econmico sem precedentes do Pas, a firma-membro da Deloitte registra neste ano um marco importantssimo de sua histria 100 anos de prestao de servios.

    Criada no Brasil em 1911, a Deloitte hoje uma das principais organizaes locais de servios profissionais, atendendo a mais de 3 mil clientes em todo o Pas. O crescimento e a longevidade da firma brasileira so prova da qualidade de sua liderana no decorrer dos anos e da dedicao, da inovao e dos servios excepcionais oferecidos aos clientes por seus profissionais.

    Mesmo com essas conquistas, acredito que o melhor ainda est por vir para a Deloitte no Brasil. Uma nova era est despontando. Com o Brasil bem posicionado para se tornar uma importante potncia econmica, empresas e investidores de todo o mundo esto prestando ateno no Pas. Portas que nunca antes estiveram ao alcance esto comeando a se abrir, e novas oportunidades de negcios abundam. O fato de o Brasil ter sido escolhido para sediar a prxima Copa do Mundo (2014) e a Olimpada (2016) eventos que traro ao Pas visibilidade, receita e oportunidades de emprego significativas ilustra essa mudana. Essa ser a primeira vez em 64 anos que a Copa do Mundo ser realizada no Brasil e a primeira vez na histria que os Jogos Olmpicos sero sediados na Amrica do Sul.

    Como previram os economistas nos ltimos anos, a hora do Brasil chegou. E, junto com isso, vem a oportunidade de a nossa rede global da Deloitte alar novos voos.

    O sucesso futuro da organizao Deloitte ser conduzido em grande parte pelas firmas-membro cujas economias oferecem as maiores oportunidades de crescimento. Assim, medida que o Brasil se torna um pas central no cenrio internacional, a firma brasileira torna-se tambm um agente central na conduo de nossa aspirao global fazer crescer os negcios, fortalecendo a conexo das firmas e das reas de negcios da Deloitte e operando como uma organizao global sem fronteiras, As One.

    Como CEO da Deloitte Touche Tohmatsu Ltd., no posso deixar de me empolgar com o que estou vendo. O futuro se mostra brilhante. Considerando os incrveis avanos feitos pela Deloitte no Brasil nos ltimos 100 anos e o ambiente no qual opera hoje, no h limite para o que pode ser alcanado.

    Feliz 100 anos! Obrigado aos scios, profissionais e clientes da Deloitte no Brasil por contribuir para levar nossa rede global a um futuro de potencial sem limites.

    Barry SalzbergCEO da Deloitte Touche Tohmatsu Limited DTTL

    Considerando os incrveis avanos feitos pela Deloitte no Brasil nos ltimos 100 anos e o ambiente no qual opera hoje, no h limite para o que pode ser alcanado.

  • Um celeiro de talentosPor que e como a Deloitte conquista seus profissionais: eles entram como assistentes e fazem carreira na Firma

    O passar dos anosOs momentos mais importantes da trajetria da Deloitte, no mundo e no Brasil

    No mapa do BrasilAs cidades em que a Deloitte estabeleceu sua bandeira

    46

    O comeo de tudoQuem e como surgiu uma das maiores organizaes de auditoria e consultoria do mundo

    Sumrio

    6 18Nos trilhos do BrasilO que motivou uma firma inglesa de auditoria a desembarcar no Brasil agrcola 100 anos atrs

    10

    38

  • 32

    62

    64

    67

    68O legado que promovemosA contribuio da Deloitte para disseminar conhecimento, apoiar o esporte e construir um pas socialmente responsvel

    De gerao para geraoOs compromissos legados e deixados pelos scios

    A marca dos lderes Os presidentes que fizeram histria

    A transio para o 2 sculo Consolidao de avanos internos e projeo global

    Crescendo com o BrasilA histria da Deloitte mescla-se com o desenvolvimento do Pas e das prticas de auditoria e consultoria

    2610 anos que valeram por 100A evoluo do mercado de auditoria na ltima dcada e um olhar sobre o papel das prticas de consultoria no mundo de hoje

    Olhares externosPontos de vista de personalidades do mercado sobre o que significa se tornar uma organizao centenria

    54

  • 6 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    O comeo de tudoQuem , onde e como surgiu uma das maiores organizaes de auditoria e consultoria do mundo, que mais tarde desembarcaria nos trpicos brasileiros

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 7

    Quando William Welch Deloitte faleceu, em 1898, a Londres em que ele havia aberto o escritrio precursor da atual Deloitte ainda era o centro do maior imprio do mundo. Era de l que as mais modernas prticas de negcios se irradiavam mundo afora. A auditoria das demonstraes financeiras estava entre elas.

    Este livro nasceu para brindar o primeiro

    sculo de vida da Deloitte no Brasil,

    recuperando no apenas a trajetria

    da organizao, mas tambm uma srie

    de episdios importantes do ambiente

    de negcios do Pas desde o incio do sculo 20. No

    entanto, para narrar essa histria protagonizada no

    Brasil, preciso voltar bastante no tempo e ultrapassar

    as fronteiras nacionais. Os primrdios da organizao

    que hoje denominada Deloitte se deram ainda no

    final da primeira metade do sculo 19, em Londres,

    que era ento a maior cidade do mundo. Foi na

    capital britnica que surgiu o embrio daquela que se

    tornaria uma das maiores organizaes de auditoria

    e consultoria do mundo, hoje com 700 escritrios

    espalhados em mais de 150 pases e uma rede de

    182mil profissionais.

    Esse resgate dos anos iniciais de formao da Deloitte

    no mundo serve hoje para evidenciar que a sua

    jornada est ligada diretamente histria da prpria

    profisso de auditor independente, nos moldes como

    hoje conhecemos. Em especial, carreira do ingls

    William Welch Deloitte, que, aos 15 anos, foi trabalhar

    como assistente do sndico da Corte de Falncias de

    Londres, onde adquiriu todas as bases necessrias para

    a profisso de auditor. A atividade contbil comeava

    a tomar impulso devido ao lucrativo negcio de

  • 8 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    William Welch Deloitte Um dos pais da

    profisso de auditor. A trajetria de William

    Welch Deloitte, neto do Conde de Loitte,

    um refugiado da Revoluo Francesa de quem

    se originou o sobrenome que denominaria a

    futura firma, est diretamente ligada histria

    da auditoria independente. Nascido na

    Inglaterra, comeou sua carreira muito cedo.

    Fundou o embrio do que seria a Deloitte em

    1845, aos 25 anos, quando abriu seu prprio

    escritrio, em frente Corte de Falncias,

    na Basinghall Street. Em 1888, foi fundador

    do Institute of Chartered Accountants. Em

    1893, abriu escritrios nos Estados Unidos, e

    a Deloittes, como era conhecida, comeou

    a auditar empresas fabricantes de velas

    e sabonetes, setor que se encontrava em

    expanso.

    George A. Touche George A. Touch

    (ainda sem a vogal que iria adquirir mais

    tarde) teve desde o princpio uma carreira

    pautada pela reputao e integridade.

    Recebeu o passaporte (ou sua habilitao) de

    auditor em Edimburgo, Esccia, em 1883.

    Assim como muitos de sua gerao, ele

    partiu para a Inglaterra em busca de sucesso.

    Optou por acrescentar a vogal e ao seu

    sobrenome, com a esperta inteno de evitar

    um erro de pronncia bastante comum.

    Tornou-se, ento, George Touche. A sua

    reconhecida austeridade em fazer cumprir

    a lei rendeu-lhe a oportunidade de expandir

    os negcios durante um perodo de

    desastres financeiros no setor de

    administrao de recursos de terceiros.

    O sucesso em salvar e reestruturar empresas

    fadadas ao fracasso abriu caminho para a

    formao da George A. Touche & Co., em

    1899. Em 1900, com John Niven, filho de

    seu primeiro professor de contabilidade,

    abriu a firma Touche, Niven & Co., na cidade

    de Nova York. No Reino Unido, a General

    Electric Company era um de seus clientes

    mais importantes.

    Admiral Nobuzo Tohmatsu Sempre

    prezou pelo bom atendimento s empresas

    japonesas. Aps trabalhar como adido naval

    na embaixada de Londres e como instrutor

    na Academia da Marinha, tornou-se auditor.

    Em 1952, aos 57 anos, Tohmatsu recebeu o

    ttulo de Certified Public Accountant (CPA)

    e tornou-se scio da afiliada estrangeira

    de uma firma de auditoria e diretor de

    uma empresa privada. Em 1967, assumiu a

    presidncia do Instituto Japons de CPAs. A

    pedido do Japo, que queria atrair firmas de

    auditoria para o pas, Tohmatsu incentivou

    o setor. Em maio de 1968, formou-se a

    Tohmatsu & Co. (anteriormente Tohmatsu

    Awoki & Co.). Um dos fatores determinantes

    para seu crescimento foi a deciso de

    exportar scios e colaboradores para

    outros pases, visando estimular a troca de

    experincias. Algo que j revelava o enfoque

    da organizao internacional que ele

    ajudaria a construir.

    A trade que originou o nome DeloitteOs trs principais empreendedores que construram as bases da histria da organizao desde 1845

    Admiral Nobuzo Tohmatsu

    George A. Touche

    William Welch Deloitte

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 9

    A trade que originou o nome Deloitteadministrao de massas falidas e, depois, do avano

    do mercado de capitais. Em 1845, aos 25 anos, ele

    abriu seu prprio escritrio prximo ao miolo financeiro

    londrino (leia mais a respeito no quadro da pgina

    ao lado). Na poca, havia nada menos do que 200

    escritrios de contabilidade na capital inglesa, j que,

    nessa poca, estavam sendo aprovadas importantes leis

    que formaram o alicerce para as modernas sociedades

    por aes.

    Persistente, William Deloitte foi consolidando

    seu nome, sobretudo medida que um setor

    em particular se expandia o de transporte

    ferrovirio. Havia o calor da industrializao, h de

    se lembrar. Em 1849, ele se tornou o primeiro auditor

    independente contratado por uma empresa. Atuando

    na Great North Railway, descobriu irregularidades e

    criou um sistema de contas especfico para companhias

    ferrovirias, que visava proteger os investidores

    da m administrao dos recursos. Tornou-se um

    especialista no assunto.

    A sua conexo com a Great Western Railway fez com

    que fosse visto como o primeiro auditor independente

    do mundo. O prestgio de seu trabalho lhe rendeu

    uma safra de outros clientes na indstria ferroviria,

    como a Lancashire, a Yorkshire e a South Wales todas

    de capital britnico e com negcios espalhados pelo

    mundo, incluindo o Brasil.

    Qual a empresa mais antiga do mundo?

    O respeitado livro dos recordes, o Guinness Book, deu o posto inglesa Favershaw Oyster Fishery, fundada em 1189. Mas h controvrsias. Exatos 596 anos antes dela, o templo

    budista de Shitennoji, localizado no Japo, j existia. Surgiu pelas

    mos da famlia Kongo Gumi. Atualmente, Kongo Gumi Co.

    est sob o leme de Masakazu Kongo, o 40 representante da

    famlia. E, alm de manter os templos, a organizao administra

    e constri igrejas, escolas e asilos. O segredo do sucesso?

    A empresa tratou a sucesso como um tesouro valioso. Mesmo

    sendo de origem japonesa, em que reza a regra de passar o

    comando ao filho primognito, a direo optou, todas as vezes,

    por escolher para o cargo o filho mais comprometido com

    o negcio. Uma firma sria e, claro, com as contas em dia

    (www.kongogumi.co.jp).

    Associaes certeiras

    O sucesso da Deloitte deu-se, entre outros aspectos,

    por conta de uma srie de associaes bem-sucedidas,

    realizadas com o passar dos anos (leia a cronologia

    completa a partir da pgina 19). Mais tarde, no incio

    dos anos 1950, a Deloitte e a empresa de origem

    norte-americana Haskins & Sells uniriam suas operaes,

    criando uma organizao de porte e cobertura global.

    No final da dcada de 80, duas outras associaes de

    expresso ocorreriam, com a firma do escocs George

    A. Touche, e com a do japons Admiral Nobuzo

    Tohmatsu. Tal como William W. Deloitte, cada um havia

    construdo sua firma e partido para a expanso. A unio

    dos trs s poderia resultar, ento, num caso de sucesso

    e visibilidade internacional.

  • Nos trilhos do BrasilO que motivou uma firma inglesa de auditoria a desembarcar no Brasil agrcola de 100 anos atrs, governado por mineiros e paulistas em uma repblica de capital carioca

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 11

    Nos trilhos do Brasil

    As ferrovias britnicas esto fortemente ligadas aos primeiros anos da Deloitte, tanto na Europa como no Brasil

    Pode ser um exerccio curioso e

    historicamente rico pensar no Brasil

    de 100 anos atrs e conhecer quais

    foram os atrativos que uma nao

    genuinamente agrcola despertou em

    uma firma britnica de auditoria. Afinal, quando chegou

    por aqui em 1911 antes mesmo de desembarcar em

    grandes mercados internacionais como Chicago, nos

    Estados Unidos, ou Montreal, no Canad , a Deloitte

    j era uma empresa com mais de seis dcadas de vida e

    alguns grandes clientes mundo afora. E o Brasil no vivia

    o seu melhor momento. Era uma repblica muito jovem,

    sob o leme do presidente Hermes da Fonseca, que

    teve um governo marcado pela renegociao da dvida

    externa. A economia vivia basicamente do caf, o ouro

    negro. O Pas detinha mais de um tero da produo

    mundial da cultura e as vendas ao exterior respondiam

    por 60% da pauta de exportaes do Brasil. A logstica

    para transportar o produto at os navios ainda era

    pouco avanada. Havia, contudo, a grande promessa

    de que as ferrovias cortariam o Brasil de Norte a Sul,

    aposentando de vez o lombo das mulas.

    Estavam sendo feitos investimentos na ampliao da

    malha ferroviria do Pas, algo que traria o sopro para sua

    industrializao e a vantagem de escoar mais produtos

    agrcolas, alm do caf. Foi justamente nesse contexto

    que se iniciou a longeva e certeira como se veria

    depois trajetria da Deloitte no Brasil. O contador ingls

    William Welch Deloitte, que emprestou o sobrenome para

    fundar a firma de auditoria, na Inglaterra de 1845, j havia

    feito fama exatamente por sua expertise em verificar as

    demonstraes financeiras das companhias ferrovirias.

    Os ingleses estavam investindo no Brasil e a Deloitte

    instalou-se no Pas justamente para atend-los, lembra

    o escocs Hugh McManus, scio aposentado que

    chegou por aqui em 1959 e presidiu a Firma de 1976

    a 1992. Quando cheguei, as empresas brasileiras

    no tinham a necessidade de serem auditadas, mas as

    subsidirias das multinacionais que estavam no Brasil

    precisavam prestar contas matriz, acrescenta.

  • 12 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    Por essa razo, havia forte demanda das companhias

    britnicas pelos servios da Deloitte. At porque,

    ou justamente por isso, a Gr-Bretanha continuava

    vivendo e liderando as novas fases da revoluo

    industrial. Para crescer e sustentar o inevitvel xodo

    rural , empresas de origem inglesa levantavam capital

    com a venda de ativos para investidores, uma prtica

    que se repete at hoje no mercado mundial de capitais.

    Tal movimento fez crescer o nmero de companhias

    abertas, com aes listadas em bolsa, e, com elas,

    surgiram revezes inerentes ao setor. Logo, a auditoria

    passou a ser compulsria. O que, como lembrou

    McManus, favoreceu a expanso da firma brasileira

    da Deloitte. medida que as companhias da

    Gr-Bretanha expandiam seus negcios em pases

    como o Brasil, tornava-se interessante poder contar,

    onde quer que fosse, com uma firma inglesa para

    auditar suas contas. Foi a partir daquele ncleo inicial

    que a Deloitte expandiu seus negcios para outros

    setores da economia e outras reas de atuao.

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 13

    Por que a cidade maravilhosa?

    O desembarque da Deloitte no Brasil deu-se com a

    abertura de seu primeiro escritrio no Rio de Janeiro.

    Alm de abranger a capital da Repblica, o Estado

    concentrava 33% da produo brasileira, enquanto

    So Paulo, 17%. A depois reconhecida Cidade

    Maravilhosa vivia o glamour da sua belle poque,

    com a inaugurao do Theatro Municipal, rplica

    fiel da Opra National de Paris, e da Avenida

    Rio Branco, que sediaria, logo depois, grandes

    empresas nacionais e estrangeiras. As decises

    poltico-econmicas atraam importantes instituies

    financeiras para a capital. Entre elas, estavam o London

    and Brazilian Bank, maior banco ingls naqueles

    tempos, e a casa bancria de N.M. Rothschild & Sons,

    que foi uma das principais credoras do Brasil desde

    os tempos de Dom Joo VI.

    Eram essas as instituies financeiras que bancavam,

    em grande parte, o desenvolvimento da infraestrutura

    nacional: no apenas a construo de ferrovias,

    como tambm de obras dos setores de energia eltrica

    e gs. O governo, naquele tempo, fazia concesses

    de seus servios pblicos. A concessionria de energia

    eltrica do Rio, sob o nome The Rio de Janeiro

    Tramway, Light and Power Co. Ltd., por exemplo,

    era de capital canadense. E, entre outras atividades,

    explorava os servios de bondes no tradicional

    bairro de Santa Tereza.

    Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em torno de 1911: a cidade foi a primeira a receber um escritrio da Deloitte no Brasil, que, por coincidncia, est hoje localizado nas redondezas do histrico edifcio centenrio

    Com um mercado de consumo de propores

    razoveis e sede dos grandes bancos, aptos a financiar

    investimentos, o Rio era o polo mais importante

    do Pas. Na cidade, havia uma estrutura social mais

    complexa, em que se concentravam setores menos

    dependentes da atividade agrcola. Havia, por exemplo,

    uma classe mdia profissional e de burocratas,

    incluindo muitos militares de carreira, alguns deles

    egressos da tradicional Escola Militar, localizada em

    Angra dos Reis (RJ).

  • 14 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    Locomotivas pelo territrio nacional

    Embora seu escritrio estivesse no Rio de Janeiro, o

    interesse da Deloitte estava no Brasil inteiro. Inicialmente,

    ou com mais fora, estava nos trilhos de ferro que

    prometiam cortar o territrio nacional de Norte a Sul,

    com as suas locomotivas movidas a vapor. As marias-

    fumaa representavam o progresso do Brasil, e as

    primeiras ferrovias com capital ingls chegaram ao Pas

    pelos portes do Nordeste. Com isso, em 1917, quando

    j estava h seis anos por aqui, a Deloitte abriu outro

    escritrio. Desta vez, no Recife. L, nasceu a Recife and

    So Francisco Railway Company, que comeou a ser

    construda em setembro de 1855, sendo, logo depois,

    Uma vila inglesa no Brasil

    A Estrada de Ferro Santos-Jundia foi construda em vrias partes. O primeiro trecho foi entre So Paulo e o porto de Santos. No alto da serra, foi implantada uma estao que serviu de acampamento para os operrios, denominada Paranapiacaba. Ela possibilitava a troca de sistema pelos trens, ou seja, era centro de controle operacional e residncia para os funcionrios da So Paulo Railway Limited, empresa inglesa de trens, auditada no Brasil pela Deloitte. Em 1898, foi erguida uma nova estao, mais moderna, com madeira, ferro e telhas francesas trazidos da Gr-Bretanha. Essa estao tinha como caracterstica principal o grande relgio fabricado pela Johnny Walker Benson, de Londres, que se destacava no meio da neblina muito comum naquela regio.

    No fim do sculo 19, com a inaugurao da nova estao, tambm se discutia a ampliao da estrada de ferro, com um segundo sistema. Nesse ponto, os ingleses iniciaram a construo da Vila Nova (ou Martin Smith) e, em conjunto, fizeram melhorias na Vila Velha. Juntas, as duas ficaram conhecidas como Parte Baixa ou Vila Inglesa.

    A Vila Inglesa, criada para operrios morarem durante a construo da Estrada de Ferro Santos-Jundia, controlada ento por uma das companhias britnicas atendidas pela Deloitte

    comprada por outra empresa britnica, a Great Western

    Railway. Ao longo do tempo em que permaneceu no

    Brasil, a Great Western chegou a possuir mais de 1.600

    quilmetros de ferrovias, atravessando diversos Estados

    do Nordeste.

    Os britnicos estavam presentes em outros segmentos

    da economia do Estado de Pernambuco, como

    nos negcios de comunicao, com investimentos

    da Western Telegraph. E havia integrao entre

    funcionrios da Great Western Railway e da Western

    Telegraph, que jogavam futebol nos quintais de suas

    casas. Do entusiasmo desses homens, nasceu o Sport

    Lyndon Johnson, que adotou o Brasil como ptria em 1972: subsidirias de empresas estrangeiras sujeitas a diversas exigncias desde os anos 30

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 15

    Club do Recife, o primeiro clube de futebol da cidade,

    fundado em 13 de maio de 1905.

    O Recife sempre teve tradio para a nossa organizao,

    por conta do comeo da sua histria no Brasil, com

    as ferrovias. E ganhou fora, passando a ser um polo

    importante da Deloitte no Nordeste, diz Claudio Lippi,

    scio hoje responsvel pela Firma na regio, que abrange

    os escritrios de Recife, Salvador e Fortaleza.

    Mesmo que a Deloitte tenha tido razes firmes no Recife, a

    mais importante companhia ferroviria que ela atenderia

    no Brasil estava no Sudeste. Trata-se da So Paulo

    Railway Limited, cuja malha ligava So Paulo a Santos e

    se prolongaria at Jundia (SP), sua ltima estao. O seu

    embrio nasceu em junho de 1860, quando investidores

    ingleses, convencidos pelo apoio do baro Lionel de

    Rothschild ao empreendimento do Visconde de Mau,

    decidiram apostar no negcio. Concesso criada por

    decreto imperial, com durao de 90 anos, a estrada de

    ferro tinha 146 quilmetros de extenso. Foi inaugurada

    em 1867, iniciando a malha ferroviria paulista, que,

    no incio do sculo 20, j tinha 3.373 quilmetros. Em

    1910, o Brasil tinha 21,4 mil quilmetros de ferrovias;

    desse total, 23% estavam no Estado de So Paulo.

    Na capital paulista, tempos depois

    Em 1920, a Deloitte abriu seu escritrio na cidade de So

    Paulo. O Brasil ainda era um pas essencialmente agrcola.

    Segundo o censo daquele ano, das 9,1milhes de

    pessoas em atividade, 6,3 milhes, ou 70%, se dedicavam

    agricultura, enquanto 1,2 milho, indstria, e 1,5

    milho, aos servios. A realidade mostrava que, para que

    o Estado se desenvolvesse e reduzisse sua dependncia

    do campo, era preciso ampliar a indstria, aumentar o

    setor de servios e abastecer seu mercado interno com

    bens agrcolas. Indstrias de tecelagem, de metalurgia

    e de fabricao de papis j comeavam a crescer,

    apostando na expanso do mercado interno.

    Do comeo ao fim da dcada de 20, o Brasil e o mundo

    mudaram. Era o fim da Primeira Repblica e da Poltica

    Caf com Leite, pela qual as oligarquias de So Paulo

    e Minas Gerais se alternavam no Governo Federal. E as

    dissidncias polticas indicavam que comeava a surgir

    um novo Brasil, fruto da urbanizao e de um surto

    de industrializao. Os resqucios da crise de 1929 se

    desdobravam em vrias exigncias para as companhias

    abertas, a partir de 1933, o que forava ainda mais

    as subsidirias instaladas em outros pases a prestar

    contas, afirma o norte-americano Lyndon Johnson,

    scio aposentado da Firma, que veio para o Brasil em

    1972. Exemplos que se encaixam nesse movimento

    eram os servios que a Deloitte prestava para a famlia

    Salles Souto, dona do Grupo Lion que, entre outros

    negcios, detinha a representao da norte-americana

    Caterpillar no comrcio de tratores e ceifadeiras ,

    e para o Grupo Matarazzo, ento uma potncia

  • 16 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    industrial e econmica e que necessitava do trabalho de

    auditoria para atender a compromissos assumidos com

    bancos suos.

    Por dcadas, o desenvolvimento da Deloitte limitou-

    se, ento, a atender a essa clientela cativa. At que,

    em dezembro de 1976, a Lei n 6.404 estabeleceu a

    obrigatoriedade de auditoria independente para as

    companhias abertas e imps obedincia aos princpios

    contbeis na escriturao das companhias. A Deloitte

    percebeu que era hora de acelerar seu crescimento

    e se voltar, tambm, para o mercado interno. Os

    scios da Firma queriam participar desse novo mercado

    e tambm abrir novas oportunidades, afirma o scio

    aposentado Jos Beisl Barretto, que, em 1992, se

    tornaria o primeiro brasileiro a assumir a presidncia da

    Deloitte no Pas. At aqueles meados da dcada de 70, a

    organizao era, no Brasil, uma empresa comandada por

    estrangeiros para atender a estrangeiros.

    Ainda em 1976, a Firma se funde a uma das maiores

    empresas brasileiras de auditoria e consultoria tributria,

    Ernesto Marra, scio aposentado, aos 96 anos: testemunha de uma histria de crescimento

  • a Revisora Nacional, e traz, junto, os scios Hilrio

    Franco, Ademar Franco, Ernesto Marra e Luiz Mussolini.

    Com a fuso Revisora Nacional, na dcada de 70,

    que a Deloitte passou a atender uma gama muito maior

    de empresas de capital brasileiro, diz Marra, hoje scio

    aposentado, com a memria de quem era egresso da

    empresa comprada. Com a Revisora Nacional, vieram

    alguns clientes importantes. Entraram na carteira,

    por exemplo, organizaes como o Banco Mercantil,

    o Banco Francs e Brasileiro, o Banco Real e o Grupo

    Camargo Corra. Fuses e aquisies feitas fora do

    A So Paulo do incio do sculo 20: terceira cidade brasileira a receber um escritrio da Deloitte

    Brasil ajudaram a desenvolver outros negcios no

    Pas, como a que aconteceu com a Touche Ross

    que j estava associada firma japonesa Tohmatsu.

    Da operao, vieram clientes como a Toyota, o

    Banco de Tquio e a Komatsu. E, com eles, uma

    mescla de culturas em toda a organizao, tanto

    aqui quanto l fora. Afinal, como diz Altair Rossato,

    scio que hoje lidera os Programas de Mercados e

    Clientes da Deloitte, os nossos desafios so buscar

    oportunidades onde elas estiverem e ajudar nossos

    clientes a serem bem-sucedidos.

  • O passar dos anosOs momentos mais importantes da trajetria da Deloitte, no mundo e no Brasil, contextualizada com grandes fatos econmicos e polticos

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 19

    A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

    Mundo afora

    Nos primeiros anos da Deloitte no Brasil, houve movimentos significativos mundo afora que geraram reflexos tambm em terras latinas. A Primeira Guerra foi o mais marcante. O conflito redesenhou o mapa geopoltico: ps de um lado os imprios britnico, francs e russo mais os Estados Unidos e, de outro, os imprios alemo, austro-hngaro e turco-otomano. Sob o escudo da Trplice Entente, britnicos e franceses, com o apoio dos norte-americanos, vencem a batalha. A vitria, porm, quebra a hegemonia europeia e abre flancos para a expanso de poder dos norte-americanos no cenrio internacional. Os efeitos da guerra foram devastadores para a economia brasileira. Afinal, o conflito desorganizou o mercado internacional de commodities e trouxe novas dificuldades para a exportao do caf, forando o governo a desvalorizar sua cotao. Esse cenrio trouxe novos desafios para o ambiente de negcios nacional, em que a Deloitte j estava inserida, prestando seus servios de auditoria para empresas estrangeiras instaladas no Pas.

    1845 William W. Deloitte, com

    apenas 25 anos, abre escritrio em

    Londres, dando incio organizao

    que mais tarde se chamaria

    Deloitte. A organizao expande-

    se rapidamente e chega, at mesmo,

    a prestar servios na Rssia, antes da

    Revoluo Comunista de 1917.

    1857 A Deloitte faz sua primeira

    parceria, com Thomas Greenwood,

    aps um aporte de 800 libras

    esterlinas no capital da Firma. Passa

    a se chamar Deloitte & Greenwood.

    1869 A Firma absorve um novo

    scio, John George Griffiths, que

    exerceu uma grande influncia

    sobre o crescimento da organizao

    at sua aposentadoria, em 1902.

    rebatizada de Deloitte, Dever,

    Griffiths & Co.

    1905 Associa-se Plender e passa

    a ser conhecida como Deloitte,

    Plender, Griffiths & Co.

    1911 A Deloitte que hoje

    conhecemos inaugura seu primeiro

    escritrio no Brasil, desembarcando

    no Rio de Janeiro, a capital federal

    da poca.

    1917 inaugurado o escritrio

    do Recife, em Pernambuco. Naquele

    tempo, a cidade abrigava o porto de

    entrada para navios que vinham da

    Europa. Apesar de agrcola, como a

    maior parte do Pas, o Estado atraa

    famlias estrangeiras com outras

    vertentes empreendedoras, alm

    do campo.

    1920 No incio da dcada, a

    Deloitte volta-se para o Estado

    de So Paulo. Em 1920, um

    escritrio da organizao se

    estabelece na capital paulista.

    Um ano depois, abre um escritrio

    em Santos. A cidade litornea

    hospedava uma parte importante

    da malha ferroviria nacional,

    que desembocava justamente no

    porto de Santos principal

    canal para escoar mercadorias

    agrcolas, em especial, o caf.

    O escritrio de Santos permaneceu

    ativo at 1933.Conflito desestruturou a j frgil economia brasileira

  • 20 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    para o Pas. Havia o clamor para

    se investir em infraestrutura de

    base, apoiada em setores como

    os de siderurgia e de minerao.

    Naquela dcada, que terminaria

    com o advento da Segunda Guerra

    Mundial, a Deloitte, com trs

    escritrios no Pas, continuava

    firme, acompanhando a presena

    de organizaes estrangeiras

    Depois do crash (1929-1931)

    A Deloitte j estava no Brasil h quase duas dcadas quando o mundo parecia viver em ebulio. O dia 24 de

    outubro de 1929 entrou para a histria.

    A quinta-feira negra foi o crash da

    Bolsa de Nova York, uma tragdia que fez

    fortunas evaporarem, empresas tradicionais

    fecharem as portas e uma multido

    perder seu emprego. Entre 1929 e 1931,

    a produo industrial nos Estados Unidos

    caiu 30%. O efeito domin se replicou no

    mundo. No foi diferente no Brasil, que

    ainda tinha a economia com base agrcola e

    voltada para as exportaes de caf, acar

    e borracha. Houve uma queda vertiginosa

    nos preos de commodities e, l fora, uma

    escassez generalizada no crdito. As vendas

    externas brasileiras desabaram em mais

    de 50%, em quatro anos. A Bolsa de Nova York irradia uma crise mundial

    que decidiam atuar em um Brasil

    de profundas mudanas.

    1950-1952 A Deloitte une-se

    sua concorrente Haskins &

    Sells, a maior dos Estados Unidos.

    O objetivo era reforar a sua presena

    no mercado norte-americano,

    no qual a H&S reinava absoluta,

    enquanto a Deloitte tinha escritrios

    1930 A Deloitte consolida-se

    na capital paulista, justamente no

    momento em que o Brasil vivia

    uma profunda transformao

    poltica e econmica. Era a

    poca da Revoluo de 30, com

    um golpe que colocou Getlio

    Vargas no poder. A sua poltica

    prometia implantar um plano

    de desenvolvimento industrial

    Mundo afora

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 21

    O ouro negro (anos 20 e 30)

    O preo internacional do caf desabou de 67,3 libras esterlinas para 26,2 libras esterlinas a saca, entre 1929 e 1932. A escassez de crdito internacional fez com que o governo colocasse um fim no Convnio de Taubat, de 1906. Por meio dele, o governo contraa emprstimos no exterior e comprava excedentes de produo cada vez que a demanda caa e, assim, ditava as variaes no preo do caf. Entretanto, para pagar os juros dos emprstimos, cobrava uma taxa sobre as sacas exportadas. As dificuldades decorrentes da recesso mundial levaram o Pas a estimular a indstria e a promover a substituio de importaes. Entre 1920 e 1929, a agricultura ainda se sobressaa: cresceu 4,4% ao ano no perodo, enquanto a indstria, 2,8%. J entre 1933 e 1939, perdeu o brilho e a sua taxa de expanso, com uma alta anual de apenas 1,7%. Enquanto isso, a indstria acelerava seu ritmo, passando a crescer 11,2% ao ano.

    Brasil adentroem Nova York, Boston, Cincinnati,

    Saint Louis e Los Angeles. Tambm

    se associou MacLaren, Goode &

    Co., de So Francisco, para operar

    na costa do Oceano Pacfico.

    Depois, a MacLaren, Goode & Co.

    tambm incorporada. O negcio

    ajuda a ampliar as operaes no

    Brasil, onde a Deloitte passa a

    atender tambm a clientes

    norte-americanos, como a Procter

    & Gamble, a Monsanto, a General

    Motors, a Chrysler e a Dow

    Chemical, para as quais j prestava

    servio no exterior. A organizao

    muda globalmente o seu nome para

    Deloitte Haskins & Sells.

    1953 A Deloitte abre, pela

    primeira vez, um escritrio em

    Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    A finalidade era atender de modo

    mais prximo s empresas com

    negcios na regio, a exemplo do

    que j ocorria com clientes como

    Pepsi, Quaker, Amforp, Wilson Sons

    e Souza Cruz. O escritrio gacho

    seria descontinuado anos depois

    para retomar suas atividades, com

    muito mais fora, na dcada

    de 90. Uma curiosidade deste

    momento da histria da Deloitte

    no Pas: depois de a organizao

    global incorporar a filial Haskins

    & Sells de Paris, o gerente norte-

    americano Henry Forbes

    transferido para So Paulo, onde

    logo se tornaria scio. Ao todo,

    somam-se quatro escritrios no

    Brasil: Rio de Janeiro, Recife, So

    Paulo e Porto Alegre.

    1959 Sob o nome de Deloitte,

    Plender, Griffiths & Co., com

    quatro escritrios e quatro scios,

    a Deloitte decide mudar a sede

    do Rio de Janeiro que ainda era

    capital federal para So Paulo,

    que continuava a se expandir

    economicamente, preparando-se

    para ser o principal parque industrial

    da Amrica Latina.

    1960 A Deloitte passa por uma

    grande reorganizao mundial.

    Abre mais escritrios no Reino

    Unido e na Irlanda, mas segmenta

    a gesto por blocos econmicos.

    O avano da auditoria (1933-1950)

    Mundo afora

    Os reflexos da quebra da Bolsa de Nova York resultam, pela primeira vez, na regulao do mercado de capitais, em 1933, quando deputados e senadores dos Estados Unidos aprovaram o Glass-Steagall Banking Act. A proposta era estabelecer normas mais firmes para os mercados e reduzir a alavancagem econmica de empresas e investidores. Conjuntamente, criou-se a Securities and Exchange Commission (SEC), com a misso de ser a xerife do mercado financeiro, fiscalizando operaes e empresas. A nova legislao muda a forma de atuao das instituies financeiras e das firmas de auditoria. Bancos so proibidos de atuar em atividades como seguros, ramos imobilirios ou consultoria, sendo obrigados a contratar empresas externas para analisar situaes delicadas de algumas empresas, como as que estavam em estgio pr-falimentar. Esse cenrio contribuiu para um rpido crescimento dos auditores contbeis e para a institucionalizao das consultorias.

    Mundo afora

  • 22 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    1964 O escritrio de So Paulo,

    j como sede nacional da Deloitte,

    transfere sua base para o Edifcio

    Metrpole, na Praa Dom Jos

    Gaspar.

    1967 A Deloitte fatura no

    Brasil seu primeiro milho de dlares

    norte-americanos. E aproveita

    para se modernizar, instalando

    um sistema computadorizado

    para controlar horas, despesas

    e faturamento de clientes. At

    ento, esses processos eram feitos

    manualmente.

    1969 A firma norte-americana

    decide tornar autnomas as firmas

    da Deloitte na Amrica Latina.

    1976 A firma brasileira da

    Deloitte funde suas operaes com

    a Revisora Nacional, de capital

    brasileiro, e abre escritrio em

    Salvador.

    So Paulo, fim dos anos 50: nova sede brasileira da Deloitte

    A diviso norte-americana da

    Deloitte assume a administrao

    de alguns pases, incluindo os

    da Amrica Latina. Um scio

    dos Estados Unidos nomeado

    managing partner (scio-lder)

    para a regio e estabelece-se em

    Santiago, Chile.

    Modernidade: controle de horas, despesas e faturamento passa a ser feito por um sistema computadorizado na dcada de 60

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 23

    Das S.As. ao desenvolvimento da indstria (anos 40)

    s vsperas do Decreto-lei n 2.627, de setembro de 1940, a terceira norma legal a regulamentar as atividades das Sociedades Annimas, podia ser identificada a inteno de

    alguns contabilistas em criar a obrigatoriedade do exame

    das demonstraes financeiras por contador independente.

    Em 1945, haveria avanos nos aspectos legais e tcnicos, j

    que, naquele ano, foi editado o Decreto-lei n 7.988, de 22

    de dezembro, o qual regulamentava a educao superior nos

    cursos de Economia, Contabilidade e Cincias Atuariais.

    Na mesma dcada, a indstria florescia no Brasil. O passo

    decisivo foi dado em abril de 1941, quando o governo

    instituiu a criao da Companhia Siderrgica Nacional (CSN),

    em Volta Redonda (RJ). Um ano depois, em junho de 1942,

    cria a ento Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Ambas

    eram empresas de capital misto formadas para impulsionar

    a explorao das riquezas minerais do subsolo brasileiro,

    principalmente o minrio de ferro.

    O petrleo nosso (anos 50)

    O presidente Getlio Vargas cria a Petrobras, em outubro de 1953. Sob o calor do desenvolvimentismo, o Brasil movimentava o setor de bens de capital, iniciando o embrio da fabricao de equipamentos para a indstria de base. Em seguida, em 1956, Juscelino Kubitschek assume e define uma poltica econmica em seis grandes grupos: energia, transportes, alimentao, indstrias de base, educao e construo de Braslia. Com o lema 50 anos em 5, quer atrair investimentos privados, tanto nacionais quanto estrangeiros, e melhorar a infraestrutura, com a construo de hidreltricas e de rodovias. De 1957 a 1961, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 7% ao ano, com uma taxa per capita de 4%. O presidente Getlio Vargas na criao da Petrobras: um marco para o desenvolvimento econmico do Pas

    Brasil adentro

  • 24 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    1980 Com dez scios e 200

    profissionais no Brasil atuando

    integralmente nas reas de Auditoria

    e Consultoria Tributria, a Firma

    ganha autonomia administrativa

    em relao organizao global.

    1989/1990 A Deloitte Haskins

    & Sells une suas operaes

    com a Touche Ross que j

    era associada com a japonesa

    Tohmatsu.

    1992 Com 25 scios, a

    Deloitte inicia a sua grande

    transformao no Brasil. Pela

    primeira vez, um brasileiro, Jos

    Beisl Barretto, passa a ocupar a

    presidncia da firma brasileira,

    aps a sada do escocs Hugh

    McManus.

    1993 A organizao adota o

    nome Deloitte Touche Tohmatsu.

    1994 A base de profissionais

    ampliada e inaugurado o escritrio

    de Belo Horizonte, no Estado de

    Minas Gerais.

    O mercado de capitais ganha impulso (anos 60)O crdito continuava aqum das necessidades de financiamento da produo e do consumo, o que impedia a expanso da economia. Para superar esse obstculo, o governo militar ps-1964 modernizou o Sistema Financeiro Nacional (SFN), criou o Sistema Financeiro de Habitao (SFH) para impulsionar a construo civil e fez uma reforma bancria, criando o Banco Central (BC) e o Conselho Monetrio Nacional. A Lei n 4.728 trouxe a profissionalizao do setor, com corretores de fundos pblicos sendo obrigados a se tornarem Sociedades Corretoras. Criaram-se os

    Bolsa de Valores de So Paulo, em torno dos anos 60: auditores independentes comeam a adquirir maior reconhecimento pblico no mercado brasileiro

    Brasil adentro

    bancos de investimento, as Bolsas de Valores e uma diretoria no BC voltada para o mercado de capitais. A Lei n 4.728 tambm citou, pela primeira vez, a expresso auditores independentes, confirmando a importncia da anlise externa especializada dos balanos corporativos. Em 1967, com o surgimento das Sociedades Corretoras e do operador de prego, a Bolsa paulista, criada em 1890, passava a se chamar Bolsa de Valores de So Paulo (BOVESPA). Em 1970, os negcios na Bolsa passaram a ser registrados eletronicamente.

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 25

    1996 A Firma abre escritrio

    em Curitiba, no Estado do Paran.

    1997 O escritrio de

    Braslia, capital da Repblica,

    inaugurado.

    1998 A Deloitte abre escritrio

    em Campinas, no interior de

    So Paulo, e reabre o de Porto

    Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Alcides Hellmeister Filho assume

    a presidncia da Deloitte no

    Brasil.

    2001 A Firma inaugura o

    escritrio de Fortaleza, no Cear.

    2002 A Deloitte d um grande

    salto: contrata grande nmero

    de profissionais da Andersen e,

    no Brasil, alcana a marca de 2.500

    profissionais.

    2003 A marca Deloitte Touche

    Tohmatsu substituda em nvel

    mundial por Deloitte. No Brasil,

    aberto o escritrio de Joinville,

    em Santa Catarina.

    2008 Aps conduzir a Firma

    por uma dcada, em um perodo

    marcado por altas taxas de

    crescimento e forte expanso dos

    negcios nas reas de consultoria

    financeira e empresarial, Alcides

    Hellmeister Filho transfere a liderana

    para Juarez Lopes de Arajo e

    assume a posio de chairman.

    2011 Com cerca de 4.500

    profissionais e 11 escritrios no

    Pas, a firma brasileira comemora

    100 anos de atuao local, como

    parte de uma rede global de 182 mil

    profissionais, em mais de 150 pases,

    comprometidos com o objetivo

    de fazer da Deloitte o padro de

    excelncia do mercado. A Deloitte

    no Brasil continua crescendo muito

    acima do ritmo da economia

    nacional, com a consolidao das

    suas prticas de consultoria, a

    integrao de todas as suas solues

    sob o conceito Deloitte As One, o

    incremento especializao de seus

    profissionais por setores de atividade

    e o fortalecimento do atendimento

    a empresas emergentes.

  • Crescendo com o BrasilA histria da Deloitte mescla-se com o desenvolvimento do Brasil e das prticas de auditoria e consultoria, confundindo-se, muitas vezes, com a prpria modernizao do ambiente de negcios

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 27

    Sabe-se que o trabalho de auditoria tem

    papel muito importante para o equilbrio

    dos mercados, pelo fato de apresentar

    uma opinio independente sobre a

    adequao das demonstraes financeiras

    das empresas. Com base em demonstraes financeiras

    auditadas, investidores definem a aplicao de seus

    recursos, instituies financeiras determinam taxas de

    juros a serem aplicadas em operaes de crdito e

    empresas tomam decises sobre acordos comerciais.

    Se no houvesse a figura do auditor, no seria possvel

    imaginar o funcionamento dos mercados. Haveria

    uma assimetria tal de informaes que requereria

    dos investidores, de instituies financeiras e das

    organizaes em geral o dispndio de tempo e recursos

    incalculveis para a tarefa de compreender a situao das

    empresas, o que inviabilizaria o fechamento de negcios

    na velocidade requerida pelos mercados atualmente.

    Como mostra este livro, especialmente nos captulos

    Nos trilhos do Brasil (pgina 10) e O passar dos

    anos (pgina 18), a prtica de auditoria da Deloitte

    teve sempre uma atuao muito importante no

    mercado brasileiro, apoiando empresas estrangeiras

    que aqui se estabeleceram desde 1911 e, nas dcadas

    mais recentes, uma quantidade cada vez maior de

    organizaes de capital nacional. Por muito tempo,

    ao se falar em Deloitte, falava-se em auditoria de

    demonstraes financeiras.

    A atuao da Deloitte foi se fortalecendo medida em

    que o ambiente de negcios se tornava mais robusto

    e complexo e o cenrio regulatrio se modernizava.

    Os anos 70 marcariam transformaes significativas

    nesse processo, principalmente com a Lei n 6.404, que

    obrigou as companhias abertas do Pas a contarem com

    auditoria independente. No entanto, no foram apenas

    os auditores que sofreram impactos das mudanas,

    mas toda a comunidade de profissionais ligados

    contabilidade.

    Promulgada em 1976 e com vigncia a partir de

    1978, a Lei n 6.404 representava uma mudana

    radical em relao ao Decreto-Lei n 2.627 (antiga Lei

    das Sociedades por Aes). Alm da modernizao

    no tratamento societrio, a nova lei trazia diversas

    modificaes contbeis. Para se ter uma ideia

    do impacto que a lei causou na poca, muitos

    contadores preferiram se aposentar a estudar as novas

    regulamentaes, recorda Jos Beisl Barretto, primeiro

    brasileiro a liderar a Deloitte no Pas.

    Barretto afirma que, apesar de a Lei n 11.638/07 ter

    ajustado alguns pontos da Lei das S.A.s, adaptando-a

    ao atual ambiente de negcios e fortalecendo o

    mercado de capitais com a implementao de normas

    contbeis e de auditoria internacionais, as mudanas

    no se comparam com a revoluo ocorrida na

    dcada de 70. A 6.404 foi uma lei extremamente

  • 28 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    Foram anos de fracassos. De 1986 a 1993, naufragaram seis planos de estabilizao monetria no Brasil: Cruzado 1 (fevereiro de 1986), Cruzado 2 (novembro de 1986), Bresser (1987), Vero (1988), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Em 1 de agosto de 1993, o governo promoveu a stima mudana de moeda no Brasil, de cruzeiro para cruzeiro real, para efeito de ajuste de valores. Era o incio do Plano Real, que se desdobrou em trs fases e, diferentemente dos anteriores, foi anunciado antecipadamente sociedade.

    Em nenhum momento, houve congelamento de preos. A primeira fase, que durou do final de 1993 a fevereiro de 1994, consistiu no Programa de Ao Imediata um conjunto de medidas que preparou a economia para o lanamento

    do Plano Real. O programa apontava para algumas medidas enrgicas. Entre elas, estavam o corte de gastos pblicos no oramento; a recuperao da receita com o combate evaso fiscal, inclusive das grandes empresas; a austeridade no relacionamento com Estados e municpios; os ajustes nos bancos estaduais; a redefinio das funes dos bancos federais; e as privatizaes de empresas dos setores siderrgico, petroqumico e de fertilizantes. O governo sustentou que as empresas pblicas estavam refns de interesses polticos e econmicos.

    A segunda etapa do Plano Real foi marcada pela progressiva cotao dos preos em Unidade Real de Valor (URV), uma referncia estvel de valor. O cruzeiro novo no saiu de cena de imediato. Os bens e servios continuavam a ser pagos

    Eis que chega a estabilizao da moeda

    O incio de uma nova era para a economia e o ambiente de negcios, favorecendo Deloitte ampliar sua

    atuao, com sete novos escritrios abertos em nove anos

    em cruzeiros novos, mas passaram a ter referncia em uma unidade de valor estvel. Assim, a URV permitiu o alinhamento dos preos sem necessidade de congelamento. No dia 30 de junho de 1994, iniciou-se a terceira fase do Plano Real, com a emisso da nova moeda, o real, em lugar do cruzeiro novo. Era o incio da estabilizao da economia e o fim dos tempos de hiperinflao.

    Com a estabilizao econmica, a Deloitte intensificou sua atuao em todo o Pas. Entre 1994, ano do advento do real, e 2003, a Firma abriria, em mdia, quase um escritrio por ano: Belo Horizonte, Curitiba, Braslia, Porto Alegre, Campinas, Fortaleza e Joinville.

    Tempos de privatizaoAlm da estabilidade econmica, os anos 90 trouxeram tambm as privatizaes, a concesso de servios pblicos e a criao das agncias reguladoras. A ideia era modernizar o Estado brasileiro, no qual j no havia mais recursos para investir em sade e educao, nem na indstria de base. Foi uma fase nova para os investimentos, trazendo capital externo, novas regulamentaes e a exigncia de que as companhias privadas tivessem de publicar suas demonstraes financeiras. E a Deloitte atuou em muitos dos processos mais importantes de privatizao conduzidos no Pas quela poca, especialmente, no setor financeiro.

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 29

    inovadora. Pode-se dizer que a contabilidade e

    a auditoria se dividem entre antes e depois da sua

    implementao.

    Foi na dcada de 70 que o papel do contador se

    modificou, com o advento de novas regulamentaes.

    As exigncias para as empresas de capital aberto se

    tornaram mais rgidas. E a funo do contador passou a

    ser fundamental, em especial, para fazer demonstraes

    financeiras mais completas que as anteriores, quando

    a legislao no era to rigorosa.

    Luiz Alberto Fiore, atuao em processos de privatizao e recuperao de empresas, como scio de Corporate Finance

    Assim que os principais processos de privatizao foram concludos no Brasil, no incio dos anos 2000, a Deloitte sabia que precisava de novos grandes desafios diretamente relacionados vanguarda do desenvolvimento do ambiente de negcios do Pas. Uma de suas novas frentes de atuao, no campo das finanas corporativas, deu-se no mbito da recuperao e reestruturao de empresas.

    Para recordar esse papel, importante lembrar do advento de uma legislao que quebrou paradigmas na histria corporativa brasileira: a Lei n 11.101, a chamada nova Lei de Recuperao de Empresas e Falncias, de fevereiro de 2005. Depois de longos 12 anos de tramitao no Congresso Nacional,

    a Lei entrou em vigor, substituindo os dispositivos de um decreto-lei promulgado 60 anos antes. Nasceu com a misso de estimular a recuperao de empresas em situao de crise financeira, enquanto se mostrassem viveis.

    Percebemos que havia um desafio importante, afirma o scio hoje aposentado Luiz Alberto Fiore, que atuou como o administrador judicial da Varig. Antes mesmo de a Lei ser aprovada, a Deloitte estudou a fundo a legislao, e seus scios correram o Pas, ministrando palestras voluntrias nas escolas de magistraturas. O objetivo era explicar para os juzes qual a real importncia de se ter conhecimento administrativo-financeiro, contbil e tributrio na hora de determinar, ou no, a falncia de

    Oportunidades em recuperao de empresasuma empresa. Um juiz conhece as leis, mas no entende necessariamente de negcios e contabilidade. A dedicao deu certo.

    Depois de idas e vindas, a Deloitte foi nomeada para ser o administrador judicial da companhia area Varig. E a sua recuperao judicial foi a maior da Amrica Latina e a segunda maior do mundo. Foram quase trs anos de trabalho intenso, que, algumas vezes, exigiu mais de 100 colaboradores da Deloitte. Um novo filo de negcios se abria para a Firma, que se tornou lder nessa rea. A Deloitte tambm atua como consultora em casos de recuperao extrajudicial, em que no mandatria, por designao de um juiz.

    Esse escopo de atuao exclusiva em auditoria foi,

    porm, se ampliando significativamente para a

    Deloitte com o passar dos anos, especialmente nas

    ltimas dcadas, medida que ela adicionou aos seus

    negcios uma prtica de consultoria robusta, com

    braos em diversos ramos. Ela se tornou, assim, uma

    firma genuinamente completa de servios profissionais.

    Nesse processo de criao e fortalecimento das

    prticas de consultoria, a Deloitte participou de

    empreitadas importantes e consolidou sua posio

    de liderana no mercado.

  • 30 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    Na primeira dcada do sculo 21, o Brasil passou por uma profunda transformao social, em razo de trs fatores principais: a ascenso das classes sociais mais pobres, a consolidao de nichos de consumo desde pessoas solteiras ou que moram sozinhas at idosos e casais sem filho e o incio de um ciclo de bnus

    demogrfico (Populao Economicamente Ativa se tornando preponderante).

    Mais de 48 milhes de brasileiros passaram a pertencer classe mdia entre 2003 e 2011. O novo padro de consumo permitiu um amplo ciclo de investimentos, estimulando de redes varejistas a fabricantes em geral.

    E o mercado interno, enfim, cresceu

    O Brasil dos anos 2000 continuou se modernizando, agora com distribuio de renda e ampliao do consumo

    mais oportunidades s empresas e ao crescimento da Deloitte

    Nesse cenrio, praticamente todo o ambiente de negcios brasileiro entrou em efervescncia. E a Deloitte aproveitou o momento para apresentar ao mercado um conjunto diversificado de solues. Todas as reas de negcios da Firma prosperaram em meio a essa nova fase do mercado interno.

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 31

    A Deloitte sempre se pautou em acompanhar e participar

    do desenvolvimento dos negcios do Brasil e se orgulha

    de ter estado presente nestes diferentes momentos: da

    industrializao do Pas, com a construo de ferrovias,

    estradas e grandes grupos nacionais, at os recentes

    processos de modernizao do ambiente de negcios

    como um todo. Tambm contribuiu com sua expertise

    para o crescimento local e a internacionalizao das

    empresas brasileiras que expandiram suas atividades

    para o exterior, com operaes de lanamento de

    American Depositary Receipts (ADRs) via mercado de

    aes, aquisies de outras empresas e estabelecimento

    de bases produtivas e comerciais.

    Ao longo dos anos, desempenhou o seu papel de

    ajudar os clientes a conviver com as dificuldades

    conjunturais do Brasil: juros elevados, alta carga

    tributria, carncia de linhas de financiamento, alto

    custo financeiro, cmbio desfavorvel para exportaes,

    restries governamentais evaso de recursos, lacunas

    de infraestrutura, mo de obra pouco qualificada e

    presses de toda espcie.

    Em todos os territrios do Brasil por onde circularam

    o capital, as empresas, as oportunidades de negcio

    e o desenvolvimento, a Deloitte fez questo de l

    estar. Sempre optou por estar prxima de seus clientes,

    inclusive geograficamente, estabelecendo filiais

    estratgicas em mercados relevantes.

    Nos anos 90, a Deloitte expandiu negcios por

    todo o territrio nacional, especialmente aps a

    estabilizao econmica do Pas, vivenciada a partir

    de meados da dcada. Marcou presena significativa,

    por exemplo, no amplo processo de privatizao

    brasileiro daqueles tempos, desde o seu comeo,

    prestando consultoria corporativa tanto no servio

    de avaliao patrimonial das empresas quanto no

    de modelagem de venda.

    A Firma chegaria, assim, ao sculo 21, pronta para

    firmar bases muito slidas em diversas reas de

    consultoria. A primeira dcada dos anos 2000 marcaria,

    para a histria da Deloitte, um tempo de grandes

    transformaes, como mostra o captulo seguinte

    deste livro.

  • 10 anos que valeram por 100

    A evoluo dos mercados de auditoria e consultoria no perodo mais crtico, rico e prspero de sua histria

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 33

    Cem anos guardam muitas histrias,

    e poucas so as empresas que podem

    se orgulhar de ter a reserva de

    experincia que a Deloitte adquiriu

    no Brasil. Uma trajetria secular no

    linear. E pode-se dizer que os ltimos dez anos do

    primeiro sculo da Deloitte no Brasil reservaram grandes

    desafios, mas tambm novas e enormes oportunidades,

    que foram muito bem aproveitadas pela Firma, tanto

    nas reas de auditoria quanto de consultoria. Foram,

    assim, 10 anos que valeram por 100.

    O sculo 21 nasceu com novas e severas regras para

    a prtica de auditoria, em meio a um mercado que

    se tornava cada vez mais complexo. A consequncia

    dessas mudanas abalou a profisso, houve presso

    e at maior desconfiana sobre o papel do auditor,

    observa Jos Roberto Carneiro, atual scio da rea de

    Auditoria da Deloitte e lder dessa prtica de negcio

    da Firma entre 2001 e 2011. A Lei Sarbanes-Oxley,

    que uniu, nos Estados Unidos, um democrata e um

    republicano na sua concepo, foi fruto desses tempos.

    No bojo das novas normas, foi institudo um novo

    rgo de fiscalizao da profisso o Public Company

    Accounting Oversight Board (PCAOB). A ideia de uma

    regulao mais estreita do mercado comeou a ganhar

    fora tambm entre organismos reguladores de outras

    partes do mundo. No Brasil, a onda regulatria sobre

    o setor j havia se iniciado anos antes, quando foi

    institudo pela CVM o rodzio obrigatrio de firmas

    de auditoria, a cada cinco anos, para as companhias

    de capital aberto.

    De parte das prprias auditorias, o que se viu, alm

    do empenho em se adequar ao novo cenrio, foi um

    esforo acentuado em contribuir para um mercado

    em transformao e que almejava o mesmo objetivo

    que elas prprias: a disseminao da transparncia nas

    prticas de negcios. Foi justamente nesse perodo que

    as firmas reforaram uma srie de iniciativas, como a

    educao continuada aos profissionais, alm da rotao

    de scios no atendimento ao cliente j existente em

    grande parte delas e o peer review, a reviso dos

    trabalhos pelos pares.

    As firmas de auditoria intensificaram ento um

    processo que j existia desde as dcadas de 80 e 90:

    o foco na formao de profissionais de excelente

    qualidade tcnica e sintonizados s mudanas

    advindas das novas regulamentaes. Acabaram

    criando verdadeiras universidades internas para suprir

    as deficincias das escolas, que ainda formam

    profissionais sem o preparo adequado para um

    ambiente globalizado, com normas internacionais

    de contabilidade sendo adotadas a pleno vapor.

    Elas viraram, assim, celeiros de talentos para

    empresas de diversos setores.

  • 34 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    A grande ebulio da primeira dcada do novo

    sculo pode j ter ficado para trs, mas as lies

    continuam valendo. Ser auditor ainda e sempre ser

    a busca incessante pela integridade em um mercado

    que, cada vez mais, cobra resultados e no qual a

    eficincia medida nos mnimos detalhes. um

    equilbrio sutil, que exige desprendimento e vocao.

    Esta a profisso da tica, observa o scio hoje

    aposentado Ariovaldo Guello, que atuou na Deloitte

    por 40 anos. Ele um dos mais reconhecidos

    entusiastas e colaboradores da profisso de auditoria

    no Brasil, com firme atuao no Instituto dos Auditores

    Independentes do Brasil (Ibracon). Para ele, os

    momentos difceis contribuem, de alguma maneira,

    para a melhora dos profissionais da rea tanto

    dos atuais quanto dos futuros. Os auditores so

    profissionais que tm de zelar pela honestidade sete

    dias por semana, 24 horas por dia.

    A falta de um entendimento claro sobre o papel do

    auditor fez com que a profisso sasse de sua usual,

    e justificada, posio low profile (de baixa exposio)

    para uma postura mais atuante na defesa de seus

    interesses. Era necessria uma atuao conjunta, em

    prol de uma causa comum. Por mais acirrada que

    fosse a competio entre as firmas, havia algo sem

    o qual nenhuma delas sobreviveria: a integridade da

    profisso. No Brasil, os auditores j estavam cientes

    dos problemas de comunicao, como mostrava a

    concluso de um estudo do Ibracon: Urge que a

    profisso se vocalize. Urge que a profisso se una em

    torno de uma posio que seja tecnicamente defensvel

    em qualquer frum, coerente em qualquer parte do

    mundo, acima de eventuais interesses comerciais. Urge

    que a profisso se posicione corajosamente a partir de

    sua melhor verdade tcnica, independentemente de

    o ambiente e clima vivenciados publicamente serem

    ou no inspitos a ns.

    Uma prtica de gesto de riscos

    O fato que, entre as firmas que vivenciaram o

    perodo difcil da primeira dcada do sculo, a

    era de regulao reforada acabou por no trazer

    prejuzos; longe disso. Elas souberam adaptar-se bem

    Jos Roberto Carneiro, lder da rea de Auditoria de 2001 a 2011: perodo de grandes desafios para o exerccio da profisso

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 35

    aos novos tempos. Alm disso, as companhias do

    mercado tiveram de pedir socorro justamente para

    seus auditores quando viram a carga pesadssima de

    exigncias que recaiu sobre elas, especialmente

    no que dizia respeito ao aperfeioamento dos

    controles internos.

    No caso da Deloitte, a nova conjuntura de

    preocupaes do mercado abriu espao para a

    expanso de uma rea de negcios que se tornou

    particularmente promissora desde a virada do sculo

    21: a de consultoria em gesto de riscos empresariais.

    Os profissionais dessa prtica aplicavam-se a ajudar

    as empresas na melhoria de seus controles, no

    estabelecimento de mecanismos de auditoria interna e,

    em ltima instncia, na garantia de maior transparncia

    e segurana diante de cenrios to instveis nos

    negcios. O Brasil foi justamente um dos pases nos

    quais a prtica de gesto de riscos mais prosperou

    entre as firmas-membro da organizao mundial.

    Consultoria para desafios globalizados

    Se, por um lado, a prtica de auditoria teve de se

    superar em um tempo de mudanas profundas no

    mercado mundial aprendendo at a se reinventar

    tantas vezes fossem necessrias nos primeiros anos

    do sculo 21 , as funes de consultoria ganharam

    matizes at ento desconhecidos. E, dessa vez, o

    Brasil no esteve l to distante do epicentro das

    transformaes mundiais que se abateram sobre a

    economia, os negcios e como no poderia deixar

    de ser a forma de atuar das firmas de consultoria

    e auditoria. Muito pelo contrrio, como grande

    pas emergente, que aprendeu a atrair capital e a

    desmistificar alguns dos clichs que historicamente

    o caracterizavam, o Brasil intensificou, como nunca,

    sua entrada na economia globalizada.

    As distncias ficaram curtas demais com o advento

    da internet, das novas tecnologias e da abertura sem

    precedentes dos mercados nacionais. E os desafios das

    empresas brasileiras, chinesas, indianas, mexicanas,

    norte-americanas ou de qualquer pas do mundo

    comearam a ficar muito parecidos.

    No novo fluxo das relaes corporativas, as novas

    empresas transnacionais locais precisaram se

    preocupar cada vez mais com problemas que

    eram tpicos de multinacionais de outros pases.

    Tinham agora de manter controles internos rgidos

    e uniformes, padronizar relatrios gerenciais e

    demonstraes financeiras de acordo com as melhores

    prticas, modernizar seu capital humano e sua

    estrutura de governana e conviver com dificuldades

    conjunturais j conhecidas: cmbio muitas vezes

    desfavorvel, juros elevados, alta carga tributria,

    carncia de linhas de financiamento, alto custo

    financeiro, restries governamentais sada de

    Ariovaldo Guello, scio aposentado da rea de Auditoria e atuante no Ibracon: Esta a profisso da tica

  • 36 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    recursos, burocracia e infraestrutura deficiente.

    E passaram, claro, a precisar de apoio especializado

    para captar recursos, melhorar processos e gesto,

    integrar informaes e tecnologias, expandir

    negcios e se reorganizar.

    Um dos movimentos mais marcantes a incidir

    sobre o ambiente de negcios foi a gradativa

    e consistente transio verificada nas empresas

    brasileiras quanto ao modelo de administrao. Cada

    vez mais, organizaes familiares passaram a adotar

    padres profissionais de gesto, trazendo demandas

    relacionadas constituio de bons padres de

    governana corporativa. Trata-se de um fenmeno

    que se dissemina hoje tambm entre as empresas

    emergentes de todo o Pas.

    E, medida que empresas familiares ou de

    qualquer outro modelo de controle melhoram seus

    modelos de governana, maiores so as perspectivas

    de interesse por parte de outras organizaes e

    investidores para uma eventual transao de compra

    ou fuso. A prpria globalizao da economia, com

    a atuao mais frequente de fundos de investimento

    internacionais no Brasil, potencializa esse processo.

    No movimento de internacionalizao de muitas

    mdias e grandes organizaes brasileiras, os

    desafios vieram na mesma proporo do mundo que

    pretendiam conquistar. Viram-se, em outros mercados

    do mundo, diante de polticas locais de restrio

    econmica e de legislaes peculiares nas reas

    trabalhista, comercial e de repatriao de capital

    e remessa de dividendos.

    A Deloitte esteve sempre ao lado das empresas

    que vislumbraram oportunidades, dentro e fora do

    Pas. E, assim, desenvolveu e expandiu suas diversas

    linhas de servio. Consultoria Tributria, Consultoria

    Empresarial, Corporate Finance, Gesto de Riscos

    Empresariais e Outsourcing foram as denominaes

    das reas de negcio sob as quais as prticas de

    consultoria da Deloitte avanaram fortemente na

    primeira dcada do milnio, proporcionando Firma

    taxas anuais de crescimento que atingiram at a

    casa de dois dgitos.

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 37

    Economia forte e novas perspectivas em consultoriaAbaixo, alguns dos nmeros que mostram a evoluo da nova economia brasileira, que abriu caminhos para grandes demandas das empresas na rea de consultoria. Como consequncia, os anos 2000 coincidiram com uma fase de grandes avanos para todas as prticas de consultoria da Deloitte, que apoiou as organizaes em seus novos desafios de negcio, no mercado interno e no exterior.

    2000

    2010

    A primeira dcada do sculo 21

    Ibovespa(pontos)

    InvestimentoBrasileiro Direto

    (US$ milhes)

    N de operaes de fuses e aquisies

    Exportaesbrasileiras(US$ milhes)

    InvestimentoEstrangeiro Direto

    (US$ milhes)

    Consumodas famlias(R$ milhes)

    55,1

    201,9

    317

    808

    69.304

    15.259

    758,9

    2.226,0

    32,8

    48,5

    2,311,5

    Fontes: Banco Central do Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada e Research Deloitte (com base em dados pblicos)

  • Por que e como a Deloitte conquista seus profissionais: eles entram para aprender com muitos dos grandes consultores e auditores do mercado e constroem carreiras de sucesso na organizao

    Um celeiro de talentos

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 39

    A Deloitte uma empresa de pessoas, formada por pessoas e que tem como seu principal ativo pessoas. uma organizao que vende servios, inteligncia. Por isso, o capital humano se torna um tesouro no qual a Firma

    investe e que ela preserva. A gesto de pessoas vem

    passando, nos ltimos anos, por um processo de

    profunda transformao no mercado. E as organizaes

    frente do seu tempo conseguem enxergar o devido

    potencial nas competncias de cada um de seus

    funcionrios.

    Nesta empresa, qualquer pessoa tem o espao que

    quiser, s depende dela, diz o scio Altair Rossato, que

    lidera os Programas de Mercados e Clientes da Deloitte.

    Essa foi a sensao que tive desde o meu primeiro dia

    de trabalho na Firma, em 1988, acrescenta. Rossato

    entrou como um jovem talento e teve a oportunidade

    de crescer, trilhando um caminho que rene desde a

    aquisio de experincia no exterior at o desbravamento

    em outras reas de negcios e a chance de tornar-se

    scio. Aqui, podemos dizer que h o incentivo

    formao profissional e pessoal, garante.

    A scia-lder para o atendimento indstria de

    Infraestrutura, Iara Pasian, que entrou na Firma em

    1977 quando a presena de mulheres no mercado de

    auditoria era uma exceo , outra que seguiu carreira

    na Deloitte e teve a chance de enriquecer seu currculo

    no exterior. Em 1997, foi enviada para Washington D.C.,

    onde participou de um programa de especializao no

    atendimento a empresas do setor de energia eltrica.

    J tinha tido uma experincia importante com fundos

    de penso, e a Firma percebeu que poderia me transferir

    para o setor eltrico, uma atividade regulada e que,

    com certeza, iria crescer no Brasil, recorda. Hoje, a

    Deloitte referncia nesse setor, tanto no segmento

    de auditoria quanto de consultoria. Primeira mulher a

    tornar-se scia da Firma em 1997, Iara sabe que teve

    uma participao importante. Hoje, mais de 50%

    das pessoas admitidas nos testes do Programa Novos

    Talentos so mulheres. Elas esto por toda parte e em

    diferentes postos e atribuies.

    o caso de Lucilene Domingos de Carvalho, secretria

    do escritrio do Recife. Ela conta que, quando entrou

    na Firma, a empresa ainda se chamava Deloitte Haskins

    & Sells. Era 1985, e Lucilene chegou apenas para cobrir

    frias, prestando o servio de datilgrafa. Acabou

    ficando. Ela lembra que, apesar de na poca a Deloitte

    j contar com mquinas de escrever eltricas, chegou

    a fazer trabalho em um taqugrafo. Apenas mais tarde

    que vieram as mquinas de escrever eletrnicas.

    Eu tinha 18 anos, foi o meu primeiro emprego e aqui

    que vou me aposentar, diz, convicta. No escritrio, fez

    de tudo um pouco sempre na rea administrativa ,

    tornando-se secretria em 1988.

    Iara Pasian, primeira mulher a se tornar scia, hoje a lder para os segmentos de Infraestrutura e uma das maiores especialistas do Pas em auditoria para empresas do setor eltrico

  • 40 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    de centenas de profissionais que, juntos, renem

    uma gama amplamente diversificada de competncias

    de gesto de pessoas a gerenciamento de riscos

    empresariais.

    O scio Joo Alfredo Branco, que liderou a rea

    de Consultoria Tributria da Deloitte at 2011,

    integrou-se organizao depois de 29 anos na firma

    Andersen. Sou imensamente grato Deloitte, como

    organizao, por permitir a continuidade de minha

    carreira e de outros profissionais que trabalhavam

    conosco durante tantos anos. Realmente, eu visto a

    camisa da Deloitte com o mesmo amor com que eu

    visto a camisa do Corinthians para ir a um jogo do

    meu timo, conta, com graa, o scio.

    Esse sentimento tambm citado por Almira

    Maria de Oliveira: Eu amo trabalhar na Deloitte.

    assim que Dona Mira, que ingressou na Firma

    no dia 12 de julho de 1977, define a importncia de

    seu trabalho. Em mais de 30 anos de dedicao, a

    copeira conta que viu muitos profissionais entrarem na

    empresa como novos talentos e se tornarem scios,

    e ainda pde acompanhar a aposentadoria de tantos

    outros. No tenho palavras para agradecer por tudo

    o que ela me proporcionou. Tudo o que eu tenho,

    o que eu conquistei em todos esses anos, devo

    ao meu trabalho nessa empresa, afirma,

    emocionada, Dona Mira.

    A trajetria de Rita Nikolian, que j atuou como

    secretria e hoje supervisora administrativa e

    RH operacional da rea de Consultoria Tributria do

    escritrio de So Paulo, tambm percorreu muitos

    ciclos de profundas mudanas. Na Deloitte desde

    1988, Rita acredita que sua carreira evoluiu porque

    teve a oportunidade de trabalhar com scios que

    enxergaram nela competncias que ela mesma

    no conseguia enxergar. Aprendi muito dentro

    da Deloitte, vivi muitas coisas boas e algumas ruins,

    mas assim que a gente cresce. Minha forma de

    agradecer Firma fazer o meu trabalho da melhor

    maneira possvel.

    Mudanas e avanos

    A mudana constante se apresenta com frequncia

    nas trajetrias profissionais mais bem sucedidas.

    A carreira do consultor Ricardo Balkins acumula uma

    srie de transformaes e caminhos percorridos.

    Ele chegou Deloitte em 1989, contratado para

    ajudar a montar uma rea de Auditoria de Sistemas,

    que contava, na poca, com apenas quatro pessoas.

    O negcio floresceu. Em 1998, tornou-se scio e

    liderou a rea de Consultoria em Gesto de Riscos

    Empresariais. Nos fortalecemos ainda mais quando

    profissionais egressos da firma Andersen se juntaram

    a ns. Foi um perodo de grande aprendizado, diz.

    Em 2006, mudou-se para a rea de Consultoria

    Empresarial, que hoje lidera. Balkins est frente

    Almira Maria de Oliveira, a Dona Mira: amor pela Deloitte

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 41

    O carioca Clodomir Flix, scio-lder para o

    atendimento indstria de Servios Financeiros e

    Sade, se diz maravilhado com o universo da Deloitte

    e a sua firme estrutura organizacional mundo afora.

    Na Firma, ele galgou posies pela rea financeira.

    Essa capacidade de se renovar e avanar o grande

    diferencial da Deloitte, afirma. Na vida, preciso

    ser um desbravador para vencer, receita.

    Para os talentos que trabalham na Firma, a Deloitte

    consolidou uma imagem forte, de organizao que

    forma o seu profissional e aceita as correes de

    rotas ao longo das curvas do tempo e por que no

    dizer da histria? Temos imbudo em nossa cultura o

    desejo de mudana, de querer aprender mais, de querer

    investir em outras reas de nossas vidas, analisa o scio

    Michael J. Morrell, lder nacional de Talent.

  • 42 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l

    Olhares de dentro e de fora

    Quem optou por seguir carreira fora da Firma reconhece

    o aprendizado. Augusto Flores foi profissional da

    Deloitte at abril de 2009, quando saiu para ocupar

    uma posio de liderana na rea de impostos de

    uma montadora automobilstica. A minha passagem

    pela Deloitte foi fundamental, formou o meu carter

    profissional e consolidou em mim uma srie de aspectos

    importantes para a minha carreira, como a necessidade

    de estudar e aprender sempre, de compartilhar o

    conhecimento com os mais novos, de saber lidar

    bem com as pessoas (colegas, chefes, subordinados e

    clientes), de trabalhar em equipe e de estar sempre

    um passo frente, relata.

    Para Leandro Lecheta, que hoje trabalha nos Estados

    Unidos como vice-presidente e CFO mundial de uma

    empresa dedicada ao ramo de mquinas agrcolas e de

    construo , a Deloitte ensinou-lhe questes essenciais.

    Tive uma slida formao tcnica e sempre fui exigido

    a entregar o melhor de mim, diz ele. Sempre tive

    exposio a grandes projetos, nacionais e internacionais,

    e a vrios desafios. E, na Deloitte, tive o apoio

    necessrio para super-los. Alm do excelente aspecto

    tcnico, a formao do carter pessoal e profissional foi

    fator-chave para ter sucesso em minha carreira.

    Quem vem do mercado tambm reconhece a

    diversidade de desafios e oportunidades que a Deloitte

    proporciona. o caso de Eduardo Tavares Raffaini,

    scio do escritrio da Firma no Rio de Janeiro desde

    2009, que pde olhar o trabalho sob outro ponto

    de vista. Ele conta que, na Deloitte, teve de mudar

    seu mindset (mentalidade). Basicamente, tive de

    aprimorar meus skills (competncias) para me tornar

    um empreendedor, o que me fez um profissional muito

    mais completo. Sempre admirei a Deloitte e tinha o

    sonho de me juntar a uma empresa centenria no

    Brasil e lder do mercado de consultoria mundial

    e local, diz.

    A Deloitte assim: pessoas de todos os lugares,

    conhecimentos e aspiraes so bem recebidas para

    crescer e desenvolver seu talento, como o do baiano

    Jos Othon Tavares de Almeida. Hoje scio-lder para

    o atendimento indstria de Manufatura, Othon

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 43

    entrou na Deloitte aos 23 anos, sonhando em ser

    selecionado para uma disputada vaga na Firma, em

    Salvador. Passou por uma concorrida seleo que

    contou com mais de 300 candidatos e, na entrevista

    final, fez uma sugesto ao scio que o entrevistou:

    Me contrate, voc no se arrepender. Deu certo.

    Ingressou na Deloitte em 1983, tornou-se scio em

    1997 e permaneceu no escritrio da capital baiana

    at 2005, quando recebeu um convite para trabalhar

    na sede paulista. Tornou-se o lder para a indstria

    de Manufatura. O que vale o conhecimento que

    voc tem, independentemente de onde voc venha,

    diz, referindo-se disposio da Firma para contratar

    profissionais dos mais diferentes sotaques e

    nacionalidades.

    Histrias pitorescas

    Alm de proporcionar espao para crescer, a Deloitte

    tambm coleciona histrias curiosas vividas por quem faz

    o dia a dia da empresa. O scio da rea de Consultoria

    Ulisses de Viveiros, h 30 anos na Firma, recorda da

    poca em que a tecnologia era outra e as apresentaes

    e propostas de servios eram entregues sempre

    pessoalmente. No havia essa agilidade da internet.

    Os trabalhos eram feitos em papel, manualmente, havia

    um pool de datilografia para transcrever os relatrios.

    Ficava um arquivo enorme e o que tinha de mais

    moderno na poca era um furador de papel importado,

    diz, lembrando que, certa vez, foi parado na alfndega

    difcil, mas, comprovadamente, vivel. Afinal, o que a Deloitte vem conseguindo realizar, ano aps ano mesmo diante do crescente nmero de scios admitidos, como reflexo da expanso dos negcios. O segredo do sucesso pode ser definido em uma nica palavra: consenso. Por trs desse conceito, h um conjunto de aes e, sem dvida, uma estratgia de gesto pautada por uma eficiente estrutura de governana corporativa.

    Desenhado com base nas premissas da organizao global e devidamente adaptado s necessidades locais, o programa de governana da Deloitte no Brasil busca contemplar, de maneira consistente, os objetivos gerais de todos os scios. Somos uma sociedade de pessoas que se juntaram para explorar os seus

    conhecimentos na forma de um negcio. medida que enxergamos que precisamos crescer, olhamos para dentro de casa e vamos buscar qual o melhor profissional para atender s nossas necessidades, diz o chairman Alcides Hellmeister Filho, que hoje lidera o seu board.

    Aos 62 anos, a sada de cada scio compulsria, para dar oportunidades a novos talentos. Ainda como parte do modelo de governana, um mesmo scio pode permanecer na presidncia executiva da Firma por, no mximo, dois mandatos de quatro anos. A filosofia dessa organizao entregar para a prxima gerao uma firma melhor do que a gerao anterior de scios nos legou. Somos todos scios temporrios, com data de entrada e de sada, explica Alcides.

    Como administrar ideias, aspiraes e projetos de tantos scios?

    vindo de um voo internacional porque sua bagagem

    soou no alerta vermelho. Eram 30 furadores de papel

    espalhados pela mala e comprados, inocentemente, para

    agilizar o trabalho na firma brasileira. Hoje, as mudanas

    so rpidas, feitas por apenas um clique no computador.

    Nos tempos do scio aposentado Ariovaldo Guello,

    a rea de Auditoria ainda tinha efeitos surpresas,

    como dar incertas em uma empresa para auditar os seus

    servios. Entrvamos em um banco, por exemplo, s

    cinco da tarde, e passvamos a noite conferindo seus

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    recursos, que iam da compensao at contar todas as

    notas de dinheiro que estavam no cofre, uma por uma,

    recorda-se. O fato curioso que no havia celular, e-mail

    e no podamos nem avisar em casa, para no dissipar a

    informao. Afinal, o intuito da operao era ser secreta.

    A graa, com seu modo pitoresco, tambm fez parte

    da histria do scio da rea de Consultoria Andr

    Gargaro, que teve um crescimento relativamente

    rpido, com passagem pelo exterior, e se tornou scio

    aos 35 anos. Entrou na Firma meio por acaso, depois

    de ver um pequenino e discreto cartaz na faculdade,

    que dizia: Recrutamos novos talentos para Auditoria

    de Sistemas. Era o ltimo dia para enviar o currculo

    e as greves dos Correios e do sistema de transporte

    pblico pareciam conspirar contra o futuro do jovem.

    Com a ajuda de sua me, que lhe emprestou o carro,

    conseguiu fazer com que seu currculo pousasse nas

    mos de uma recepcionista da Firma, no escritrio

    ento localizado no Edifcio Itlia, no centro velho

    de So Paulo. No tinha a menor ideia do que e de

    onde era essa empresa, recorda sincero. Uma semana

    depois, foi chamado para uma entrevista e acabou

    ganhando a vaga.

    A exemplo de Andr Gargaro, todo profissional da

    Deloitte tem histrias peculiares para contar. Hoje,

    se orgulham da empresa, porque sabem que vm

    construindo uma histria e deixaro um legado para

    as novas geraes.

    Ulisses de Viveiros: lembranas de um tempo no qual o que havia de mais moderno era um furador de papel importado

  • D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 45

    A jovem Josiane Maria Poleski tem uma relao estreita e particularmente especial com a Deloitte. Deficiente auditiva, ela ingressou na Firma em 2006. Trabalha no escritrio de Curitiba (PR), onde executa, entre outras funes, o treinamento das reas de Auditoria e de Consultoria Tributria, alm do processo de recrutamento de novos profissionais locais. Comeou timidamente na Firma, fazendo pequenos trabalhos, aqui e ali. Fui crescendo e mostrando o meu potencial na rea administrativa, diz. Aprendi muito, emenda. At que, um dia, foi chamada para aceitar um desafio na rea de Outsourcing, onde permaneceu por seis meses, at voltar para o setor administrativo.

    Para Josiane, a iniciativa da Deloitte de incluir profissionais com deficincia um incentivo fundamental. A empresa apostou em mim, sem cobrar sequer um dia de experincia. Fiquei insegura no comeo por ser a primeira profissional com deficincia a ser contratada, conta. Com o passar do tempo, me sinto

    satisfeita em trabalhar na Deloitte, porque hoje somos tr