Little Dancer of Fourteen Years
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La Petite Danseuse
de Quatorze Ans
Trabalho FinalAnálise da Obra
La Petite Danseuse de Quatorze ans“A pequena bailarina de 14 anos”
Edgar Degas, 1880
AUH0308- História da Arte ITurma 1- Professor Agnaldo Farias
Bruno Oliveira Musso 7212510São Paulo-2013
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Universidade de São PauloFaculdade de Arquitetura e UrbanismoDepartamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto
“The only really modern attempt ofwich I know in sculpture”
Joris-Karl Huysmans, 1881
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Índice
Introdução____________________________________________________________ 5Sobre o Impressionismo__________________________________________________6Sobre Degas___________________________________________________________8Degas e a Escultura_____________________________________________________12La Petite Danseuse de Quatorze Ans_______________________________________ 13Bibliografia___________________________________________________________15
Anexo: Análise da Obra
Imagens
Imagem1: Cavalo Trotando; Edgar Degas___________________________________ 5Imagem2: Moças à margem do Sena: Verão; Gustave Coubert___________________7Imagem3: A Catedral; Claude Monet_______________________________________7Imagem4: L´absinthe; Edgar Degas________________________________________ 9Imagem5: A Estrela; Edgar Degas_________________________________________10Imagem6: Aula de Dança; Edgar Degas____________________________________ 10Imagem7: Café da Manhã após o banho; Edgar Degas_________________________11Imagem8: Estudos de Cavalos; Edgar Degas ________________________________11Imagem9: Esculturas em bronze; Edgar Degas_______________________________12Imagem10: La Petite Dansase de Quatorze ans; Edgar Degas___________________ 13
Introdução4
A disciplina AUT0308-História da Arte I apresenta ao aluno ingresso no curso de
arquitetura um exame do método acadêmico de se estudar, do ponto de vista histórico, um
movimento artístico. Dessa maneira a disciplina abrange uma introdução concisa às principais
transformações artísticas ocorridas nos séculos XIX e XX.
Ao invés de o curso se basear na análise de fatos cronológicos e dados biográficos, o
mesmo toma como foco principal o estudo direto das diversas obras que marcaram os
períodos em questão. É através da análise e comparação das pinturas, esculturas e obras de
arquitetura de artistas, contemporâneos ou não, que o curso cria condições de interpretação e
reflexão sobre o contexto social e cultural em que viveram esses artistas, bem como a
influência de seus trabalhos na história da arte.
Assim como o seminário apresentado em classe, essa pesquisa permite que aluno aplique a
análise direta à obra de algum nome da história da arte; introduzindo o estudo acadêmico da
arte.
Esse trabalho consiste no estudo da escultura A Pequena Bailarina de Quatorze Anos, de
Edgar Degas e ele será realizado através da comparação entre a escultura e a obra de Edgar
Degas como um todo, bem como pela comparação entre a obra de Degas com o movimento
impressionista, do qual ele teve considerável contato.
Divergências e contrariedades serão notadas ao final do estudo, evidenciando que ao
contrário do que tende o senso comum, é inviável o estudo da arte através da padronização de
obras, artistas e período de tempos. A riqueza do estudo da arte está no fato de que cada obra
tem uma história independente, sem os limites supostamente empregados por regras ou
estilos.
Imagem 1: Cavalo Trotando; Edgar Degas; não datado; Bronze.
Sobre o Impressionismo
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A arte impressionista surgiu por volta das décadas de 60 a 70 do século XIX, na França. Os
avanços da industrialização e do positivismo permitiram o desenvolvimento de uma arte que
buscasse representar a sociedade de forma realista, científica; superando-se assim a influencia
da poética clássica e romântica que até então disputavam os ideais artísticos.
Desde 1847, Gustave Courbet já propunha uma arte de abordagem direta a realidade,
independente de qualquer poética pré-determinada. Os ideais de Courbet influenciaram a obra
de nomes como Claude Monet, Aguste Renoir, Paul Cézanne e Edgar Degas. Foi em 1874
que esses jovens da burguesia francesa reuniram suas obras pela primeira vez, em exposição
na casa do fotógrafo Nadar.
Embora que com essa exposição, os críticos passassem a citar a “Escola Impressionista”,
seus protagonistas deixaram claro que seus trabalhos, menos que um estilo de pintura, eram
apenas uma maneira comum de avaliar os princípios básicos da pintura (Mathey, 1976).
Para eles, a origem da representação artística está na luz e na impressão que ela passa a
aqueles que veem algo. Assim, a forma mais pura de representar algo através da pintura deve
se dar exclusivamente por meio das cores. Na dimensão da visão não existem pontos, retas,
planos e sólidos, mas apenas a luz refletida. Da mesma maneira, esses artistas repudiavam o
uso do preto e a mistura de tintas em palhetas. Teria dito Delacroix “O inimigo de toda
pintura é o cinzento... na Natureza tudo são reflexos” (Mathey, 1976).
Portanto, a temática impressionista também ganha um tom realista; esses artistas avessos à
pintura de exaltação, aos temas sentimentais e expressivos, se aprimoraram na representação
de cenas sem qualquer julgamento ou ideologia. O quadro é aquilo que se vê. Por esse motivo
a maior parte das obras impressionistas são paisagens, onde a luz natural permite o máximo
de aproveitamento das cores e formas.
Recusava-se a pintura de ateliê, onde o objeto é iluminado para a realização de seu
contorno e apenas depois de sua pintura. (Argan, 1988).
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Imagem 2: Moças à margem do Sena: Verão; Gustave Coubert; 1857; tela 1,74 x 2m.
A pintura realista deixa de lado a poética para a escolha de seus temas. Como nessa obra, apresentando a pura realidade de duas jovens deitadas na relva. O observador não tende a analisar a obra guiando-se por eixo orientador, mas sem apenas pelas mudanças de tonalidade das cores.
Imagem3: A Catedral; Claude Monet; 1894; tela 1,07x0, 73m.
Utilizando-se apenas da impressão visual e de estudos sobre o comportamento físico da luz, Monet experimentou pintar a fachada da catedral Rouen, em Paris, em diferentes momentos do dia, destacando a consequente mudança de incidência luminosa do objeto. Não à mistura de cores nem contornos nas obras; elas representam exatamente o que o pintor via naquele instante.
Sobre Degas
Apesar de Degas se encontrar frequentemente com Monet, Pissaro, Renoir e Cézanne no
Café Guerbois, em Paris, a fim de discutir a nova arte, Degas nunca se identificou como
pertencente a alguma escola artística. Declarava-se com seu estilo e temática própria; e é
descrito na maioria das vezes como um homem recluso, seja na arte, na técnica e até mesmo
na vida social.
Hilaire-Germain-Edgar De Gas nasceu em Paris, em julho de 1834. De origem italiana, seu
pai foi um bem sucedido banqueiro, cuja riqueza permitiu que o filho pudesse dedicar toda a
vida ao ócio e à sua arte.
Em seu monólogo, Paul Valery diz fazer de Degas “a ideia de um personagem reduzido ao
rigor de um desenho duro, um espartano, um estoico, um jansenista artista”. Para Valery, a
característica principal do pintor era sua “brutalidade de origem intelectual”. Degas
constantemente é apresentado como um sujeito independente, duro e conservador. Nas
discussões, costumava tomar posturas inflexíveis e até polemicas. Admirador dos artistas mais
novos, fazia questão de criticar e aconselhar os autores de obras que lhe chamassem a atenção.
Começou sua obra de uma maneira consideravelmente eclética- pintou o clássico e o
romântico; o social e o místico. Após, tornou-se reconhecido como retratista pela alta
sociedade francesa.
Ao contrário dos colegas que valorizavam a luz natural e as paisagens, Degas dedicava-se
ao seu ateliê. Teria escrito “Creio que hoje, se quisermos fazer arte a sério e conseguir um
pequeno canto que seja nosso, original, ou pelo menos manter a mais inocente das
personalidades, é preciso mergulhar, retemperar-se na solidão.” (Mathey, 1976).
Adotou como mestre Ingres, tornando-se mais que um pintor, um desenhista. Tornou-se
um estudioso do desenho, buscando atingir a perfeição da representação através dos traços.
Segundo Valery, Degas era apaixonado pelo desenho, sempre atrás da maneira mais complexa
e trabalhosa de desenhar o objeto. Para ele, o trabalho só valia a pena se partisse de uma ideia
superior, da representação real do que é pintado.
Através do desenho, tornou claro seu ideal de quão contraditório é desenhar o estático, o
modelo em pose. Degas mostra que desenhar a realidade significa eternizar o instante, sendo
esse instante apenas a parte de um movimento completo. A partir dessa ideia a obra de Degas
atinge sua fase mais madura: a representação do movimento.
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Essa devoção ao movimento levou-o aos seus principais objetos de estudo: as dançarinas
de Ballet.
Para Degas, a dança “longe de ser um fútil divertimento, longe de ser uma especialidade
que se limita à produção da alguns espetáculos, à diversão dos olhos que a observam ou dos
corpos que a ela se entregam, é, de modo simples, uma poesia geral da ação dos seres vivos”
(Coelho, 2012).
A dança é o movimento estudado, o movimento pensado. Escreveu Valery que “a dança é
a arte dos movimentos humanos, daqueles que podem ser voluntários”.
Degas buscou da maneira mais exata, precisa possível imortalizar os instantes do
movimento da bailarina. As bailarinas de Degas estão sempre em movimento, pois no
universo real o ser humano não é estático, ou ele esta se movendo ou tenderá a se mover. O
movimento da bailarina não é descrito apenas pela pintura de sua posição no palco, mas sim
pelo contorno de seus membros, pela inclinação de seu corpo, pela tensão nos seus músculos.
Criou o costume de sentar-se nos camarotes dos teatros e pintar suas bailarinas no instante
da ação, representando-as de seu ponto de vista.
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Imagem 4: L´absinthe; Edgar Degas; 1876; tela 0,92x0, 68m.
Adotando certos princípios dos impressionistas, Degas passa a ilustrar cenas cotidianas, sem influência de poéticas e julgamentos.
Como nessa tela, onde são mostrados apenas dois personagens simples, perdidos em seus próprios.
Outra postura de Degas em suas obras é a de não se utilizar de valorizações do observador. Ele se coloca na posição real do espectador da cena, sem ser percebido por quem é pintado, como no caso dessa tela, em que o observador é apenas mais um sentado à mesa do bar, assistindo o que ocorre na sua frente.
Degas se dedicou a outros dois temas: mulheres em toilette e cavalos de corrida.
As pinturas de mulheres se banhando, secando e penteando-se representam grande parte de seus
nus. Ao contrário do nu tradicional, onde ocorre a exaltação ao erotismo e o comum desconforto
criado pelo o olhar da modelo, a mulheres de Degas são simples, vivendo apenas seu cotidiano, sem
notar a presença do observador, nunca olham diretamente para ele. “É como se olhássemos pelo
buraco da fechadura”, disse uma vez a George Moore. (Mathey, 1976)
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Imagem 5: A Estrela; Edgar Degas;1878, Pastel 0,6x0,44m
A partir da técnica impressionista, Degas pinta os fundos do palco apenas através de sua impressão luminosa, sem preocupações com clarezas e detalhamentos. Dessa forma a atenção é desviada imediatamente a dançarina a entrar no palco, podendo se partir do principio de que não temos condição física de focar todo nosso campo de visão, apenas no nosso objeto de interesse.
E nesse objeto de interesse, a bailarina, Degas captura a cena como numa fotografia. Não há dúvida que a jovem começara a dançar, sua saia acompanha com precisão o movimento de suas pernas. O contorno é o fator determinante para se reconhecer a dinâmica da cena.
Imagem 6: Aula de Dança; Edgar Degas;1874, Tela 0,85x0,75m
Mesmo sem estarem dançando, é evidente o movimento natural das meninas. Posicionadas ao redor de seu mestre, pode-se analisa-las uma por uma. A veracidade da pintura é demonstrada pelo fato de não existir duas meninas iguais, ou na mesma posição. Cada uma foi tomada da maneira em que deveriam estar nesse instante. Todas tem praticamente o mesmo grau de detalhamento, não há protagonista na tela, como exigiria a poética.
Quanto aos cavalos, para Degas não havia nada tão semelhante a uma dançarina do que um puro
sangue. “Assim como a bailarina, o cavalo anda na ponta dos pés” (Valery, 1938).
Inicialmente, estudou os movimentos do animal por meio de fotografias para então passar para a
pintura esse animal que segundo ele apresentava uma elegância suprema.
Tanto seus puros sangues quanto suas jovens nuas mostram o anseio de Degas em representar de
maneira mais precisa a forma de um corpo em movimento. Através de seus traços minuciosamente
estudados, Degas buscou atingir a perfeição dessas cenas.
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Imagem 7:Café da Manhã após o banho; Edgar Degas; 1891; tela 0,47x0,65m
Em seus nus, Degas cria desconforto não através do erotismo, mas sim da intimidade, da simplicidade. Nessas obras, põe toda sua técnica em esboçar a forma do corpo feminino, conferindo a modelo uma sensualidade modesta, quase ingênua. Essas moças se banhando não sabem que estão sendo observadas, estão ocupadas consigo mesmas, cumprindo com as rotinas da toilette.
Imagem 8: Estudos de Cavalos; Edgar Degas; não datado.
A elegância no movimento dos cavalos de corrida foi objeto de estudos do desenhista.
Para Degas, o desenho se dava através da pesquisa. Realizava diversos desenhos do animal, em diferentes posições, até atingir a imagem ideal que pudesse reproduzir na tela.
Degas e a Escultura A representação realista, através da escultura, de um corpo em movimento já era estudada no fim do
século XIX por Auguste Rodin. Contrariando a escultura greco-romana, Rodin deixou de lado a
exaltação e o heroísmo para valorizar a representação detalhada e precisa do corpo humano.
Ao contrário do contemporâneo, Edgar Degas não utilizou a escultura como produto final de sua
obra, mas sim como ferramenta de estudo. Criou como rotina de trabalho executar formas de cera de
dançarinas e mulheres se banhando, buscando através de tridimensionalidade o ponto de vista ideal
para realizar a pintura. Na escultura, Degas aperfeiçoou seu método de atingir a representação ideal do
volume em movimento.
Na escultura, seu foco deixa de ser a escolha das cores e a iluminação em seu modelo para tornar-
se a idealização da tensão no corpo de um ser, a influência da gravidade no movimento e a continua
transformação do volume quando se muda o ponto de vista do observador. (Tucker,1974)
Modelando formas desde 1865, teria tornado sua dedicação à cera maior que à pintura no começo
da década de 80. Seu gosto pela arte táctil poderia ter se intensificado junto à gradativa perda de visão,
que tornou o pintor praticamente cego já nos últimos anos de vida.
É marcante a temática das esculturas de Degas. Formas puras, cuja única intensão é transmitir o
real mecanismo de um movimento. Acredita-se que muitas das peças de Degas não tenham nenhuma
ancestral ao longo da história da arte. (Tucker,1974).
Degas teria 150 peças de cera guardadas em seu ateliê, entre elas bailarinas, cavalos e toileittes. A
busca pelo perfeccionismo o impediu de molda-las em bronze, acreditando não poder carregar o fardo
de comprometer as formas com a eternidade do metal.
Seus herdeiros, porém, encaminharam as peças à Fundição Hébrard após sua morte. No total foram
73 a passar pelo tratamento em bronze. Atualmente todas pertencem ao acervo do Museu de Arte de
São Paulo Assis Chateubriand.
Imagem 9: Esculturas em bronze; Edgar Degas. Diversas das poses que o artista moldou em cera podem ser encontradas em suas pinturas. As esculturas, que não atingem mais que 30 cm de dimensão, foram objeto particular de estudo, não as expondo durante sua vida. Hoje, são consideradas marcos da escultura moderna.
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La Petite Danseuse de Quatorze ans“A pequena bailarina de 14 anos”
Pouco se sabe dos motivos que levaram Edgar Degas e executar e expor essa obra tão controversa.
Apresentada na VI Exposição Impressionista, em Paris, 1881, a curiosamente simples imagem chocou
os presentes, seja pela ousadia, seja pela ofensa que essa figura representou.
A única escultura exposta por Degas, a obra apresenta uma menina de cera, com quase um metro
de altura. Suas proporções denunciam sua pré-adolescência, suas discretas curvas tornam claro um
corpo em amadurecimento. Suas roupas são de extrema humildade, dão a impressão que estão a
desmanchar pelos maus cuidados ao longo do tempo. A caixa de vidro na qual o artista confinou a
menina completam esse estranho tom de deboche que a imagem tenta passar.
A estátua é uma representação de Marie Geneviève van Goethem, dançarina da Opera de Paris.
Teria sido filha de uma lavadeira e um alfaiate belgas, que viviam na extrema pobreza, como muitos
naquele período em Paris.
Essa “petit rat” (pequena rata), como eram chamadas a jovens alunas de ballet por seu pequeno
porte e exagerada magreza, teria sido protegida de Edgar Degas. Era costume na aristocracia
parisiense, ricos senhores oferecerem apoio financeiro as meninas com poucas condições para
poderem se dedicar as aulas, atitude muitas vezes vista como um ato de pedofilia e depravação.
Assim também foi descrita a pequena estátua de Degas: uma ofensa, algo completamente contrario
a moral e bons costumes. A imagem de uma menina seminua, encarando o observador de dentro de
uma caixa era perturbadora.
Mesmo a qualidade artística da obra foi questionada. Degas apresentou diversas novidades na obra.
Até então, a cera nunca tinha sido material escultural, sendo extremamente inferior aos clássicos
mármore e bronze. A mistura de materiais também foi inaugurada por Degas, a escultura era toda de
cera, com exceção do “tutu”; vestido utilizado pela bailarina; e do laço nos cabelos. Ambos de tecido,
acredita-se que pertenceram à própria modelo. Evidentemente, a “Pequena Bailarina” não é uma obra
de exaltação, ao contrário dos mestres renascentistas, Degas não pôs a imagem de um ponto de vista
superior ao observador: você deve olha-la de cima para baixo, como algo realmente inferior. Expô-la
dentro de um prisma de vidro foi outro ato de ousadia na escultura até então.
O artista usou sua experiência em modelar mulheres em movimento para apresentar o oposto, a
menina está estática, tensa, como se alguém a afrontasse. Sua maestria conferiu a imagem uma
tendência ao movimento, ao vê-la, temos a impressão de que ela está a dar um passo em nossa direção.
A tensão na pose da menina passa um ar de intimidação, como se ela não estivesse absolutamente
segura do que está para fazer.
Sua face completa a poética tão duvidosa da imagem. Seu rosto é ligeiramente distorcido, tendo por
esse motivo sido comparada com um macaco ou com um índio asteca (Coelho; 2012). A menina é
insolente. Mesmo acuada, ela olha diretamente para o observador, de cabeça erguida e peito para
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frente. Seu olhar discretamente para o lado termina por dar a impressão que no fim das contas, a
menina debocha de quem está diante dela, como uma criança que finge não escutar o diz seu pai.
Embora tenha sido descrita como “uma flor de precoce devassidão”, uma afogada num mar de
“odiosas promessas de todos os vícios” (Coelho;2012); crítica de maior importância dada à imagem
teria sido do romancista Joris-Karl Huysmans. Já conhecido por criticar a falta de pudor nos nus de
Degas, teria escrito que a “Pequena Bailarina” é” a única verdadeira tentativa moderna que eu
conheço de escultura”. (Read, 1964)
Realmente, a obra vai contra vários paradigmas da escultura clássica, onde a nobreza da matéria
prima é fundamental para a nobreza da peça; da arte impressionista em voga no período, sendo tema
da própria exposição que a “Pequena Bailarina” foi apresentada; e da própria obra de Degas, estando
isolada de qualquer temática utilizada pelo pintor. A “Pequena Bailarina” é a única escultura exposta
pelo artista em vida, não pertencendo ao mundo dos grandes teatros, talentosas dançarinas e elegantes
puro-sangue. A escultura está longe de poder ser comparada com as ingênuas moças nuas a se banhar,
que nem sabem que estão sendo observadas.
Praticamente toda obra de Edgar Degas propõe uma arte realista, imparcial, sem julgamentos,
valorizadora da forma e da reprodução perfeccionista. Essa pequena imagem feita em cera, hoje
recoberta em bronze, é a grande exceção e incógnita de sua obra.
Imagem 10: La Petite Dansase de Quatorze ans; Edgar Degas; 1880; 0.99mFotografia tirada enquanto exposta no Tate Gallery, em Londres
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Bibliografia
ARGAN, Giulio Carlo. “A Realidade e a Consciência”; Arte Moderna, Do iluminismo aos
Movimentos Contemporâneos. Companhia das Letras. 1996. São Paulo
MATHEY, François. O Impressionismo. Editora USP. 1976. São Paulo
TUCKER, William. Early Modern Sculpture: Rodin, Degas, Matisse, Brancusi, Picasso,
Gonzalez. Oxford University Press. 1974. Londres
READ, Herbert. Modern Sculpture, A Concise History. Thames and Hudson. 1964. Londres.
VALÉRY, Paul. Degas Dança Desenho. CosacNaify Editora. 2003. São Paulo.
COELHO, Teixeira. Degas, Poesia Geral da Ação. Museu Oscar Niemeyer. 2012. Curitiba.
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