LITERÁCIA FINANCEIRA DE EDUCADORES: um estudo na rede...

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARCELO NUNES MOTA LITERÁCIA FINANCEIRA DE EDUCADORES: um estudo na rede pública do município de Sorocaba São Paulo 2016

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    MARCELO NUNES MOTA

    LITERÁCIA FINANCEIRA DE EDUCADORES:

    um estudo na rede pública do município de Sorocaba

    São Paulo

    2016

  • MARCELO NUNES MOTA

    LITERACIA FINANCEIRA DE EDUCADORES:

    um estudo na rede pública do município de Sorocaba

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial.

    ORIENTADORA: Profª. Drª. Ana Maria Roux Valentini Coelho Cesar

    COORIENTADORA: Profª. Drª. Larissa Margareta Batrancea

    São Paulo

  • 2016

    MARCELO NUNES MOTA

    LITERACIA FINANCEIRA DE EDUCADORES:

    um estudo na rede pública do município de Sorocaba

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial.

    Aprovada em

    BANCA EXAMINADORA

    _____________________________________________

    Profª. Drª. Ana Maria Roux Valentini Coelho Cesar

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    _____________________________________________

    Profª. Drª. Larissa Margareta Batrancea

    Universitate Babes-Bolyai

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Denis Forte

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    _____________________________________________

    Profª. Drª. Ana Paula Matias Gama

    Universidade Beira Interior

  • M917l Mota, Marcelo Nunes. Literácia financeira de educadores: um estudo na rede pública do município de Sorocaba / Marcelo Nunes Mota – 2016. 98 f.; il.; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016. Orientação: Profª. Drª. Ana Maria Roux Valentini Coelho Cesar. Bibliografia: p. 90-95 1. Literacia financeira. 2. Literácia financeira de educadores. 3. Educação financeira. 4. Finanças pessoais. 5. Administração do dinheiro. I. Título.

    CDD 658.15

  • A Deus em primeiro lugar pela capacitação, à minha esposa, pelo constante incentivo e apoio; a meus pais, pela confiança na realização deste trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus, pois sem Ele nada disso seria possível;

    Aos meus pais, Nair e José Paulo por me conduzirem sempre para o melhor caminho,

    e por me darem todo a apoio necessário desde o início;

    À Andresa minha amada esposa que esteve presente em todos os momentos dando

    o apoio fundamental para que eu chegasse até aqui;

    À Profª. Drª. Ana Maria Roux Valentini Coelho Cesar, que foi muito além do processo

    de orientação, esteve sempre prestativa e me incentivando a continuar;

    À Secretaria de Ensino do Município de Sorocaba pela confiança em disponibilizar

    suas escolas e professores para a realização desse estudo;

    Aos 236 professores que aceitaram o convite para participar da pesquisa que

    viabilizou este trabalho;

    Ao professor André Wakamatsu pela colaboração na análise estatística;

    Aos familiares, amigos e colegas de trabalho que me incentivaram durante este longo

    período.

  • "O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis." (José de Alencar)

  • RESUMO

    Entende-se que as decisões financeiras, das mais simples às mais complexas,

    estejam sempre presentes na vida das pessoas. Neste sentido, destacam-se a

    importância de fundamentos sobre os variados recursos utilizados em compras,

    negociações, aplicações, e outras ações que demandam um mínimo de discernimento

    financeiro. A esse conjunto de conhecimento chamamos educação financeira. Este

    trabalho tem como objetivo determinar o nível de literácia financeira em suas três

    dimensões (conhecimento, comportamento e atitude) dos professores do ensino

    fundamental e médio de escolas da rede do município de Sorocaba. Destaca-se a

    importância da educação financeira na infância e adolescência do indivíduo, momento

    de formação de seus hábitos e princípios, reforçando o aspecto diferenciado do

    educador que pode contribuir significativamente para futuras decisões financeiras

    destas pessoas. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento de pesquisa com

    três partes. A primeira era composta por dados demográficos relacionados ao sujeito

    ou à sua atuação como professor. A escala proposta para esta parte era categórica

    ou métrica (idade e tempo de experiência). A segunda parte era um questionário com

    perguntas relacionadas a três dimensões: conhecimento, comportamento e atitude.

    As dimensões analisadas foram propostas por Potrich et al (2015). Os indicadores

    (variáveis) de cada dimensão foram adaptados do instrumento de Potrich e inspirados

    no instrumento proposto pela OCDE para levantamento dos níveis de literácia

    financeira. A terceira parte do questionário foi baseada em S&P de Klapper, Lusardi e

    Oudheesden (2014), na qual o sujeito avalia algumas situações relacionadas a

    investimento e ao valor do dinheiro no tempo. A escala proposta para esta parte do

    questionário era nominal, sendo que cada alternativa indicava um comportamento

    diferente. Foram feitas análises fatoriais que mostraram inconsistências nas

    dimensões propostas. Ainda dentro das dimensões propostas foram feitas

    estratificações em três categorias de clusters para cada dimensão, sendo

    consideradas as categorias: baixa, média e alta literácia financeira. No decorrer do

    estudo é mostrado como o tema tem sido desenvolvido no mundo e também no Brasil,

    bem como evidencia que com o fomento a ações de disseminação do assunto e a

    redução da barreira da inclusão financeira, pode ser gerada uma consciência maior

    sobre o tema. Das conclusões retiradas do trabalho, espera-se contribuir para que as

  • lacunas relativas à Literácia Financeira sejam exploradas, bem como a criação de

    instrumentos de ensino voltados à educação financeira possa ser inserido junto aos

    professores da educação fundamental e do ensino médio.

    Palavras-chave: 1.Literacia financeira. 2. Literacia financeira de educadores. 3.

    Educação financeira. 4. Finanças pessoais. 5. Administração do dinheiro.

  • ABSTRACT

    It is understood that financial decisions, from the simplest to the most complex, are

    always present in people´s lives. In this sense, we can highlight the importance of

    foundations on the several resources used in purchasing, negotiation, applications,

    and other actions that require a minimum of financial insight. This set of knowledge is

    called financial education. Thus, this study aims to measure and determine the level

    of financial literacy of teachers in municipal primary and middle schools of Sorocaba,

    in its three dimensions (knowledge, behavior and attitude), with the use of studies

    about the extent of research on the theme, their metrics and their approaches. It

    highlights the importance of financial education during a person´s childhood and

    adolescence, and the formation of habits and principles as well, reinforcing the fact

    that one well informed educator can significantly contribute to future financial decisions

    of those individuals. A survey instrument, divided in three parts, was used for data

    collection. The first part was composed of demographic data about the teachers and

    their professional performance. The proposed scale for this part was categorical or

    metric (age and experience). The second part consisted of questions related to three

    dimensions: knowledge, behavior and attitude. These analyzed dimensions were

    proposed by Potrich et al (2015). The indicators (variables) of each dimension were

    adapted from Potrich’s instrument, and inspired by an OECD proposed survey for

    detecting levels of financial literacy as well. The third part of the questionnaire was

    based on S&P Klapper, Lusardi and Oudheesden (2014), when the teachers evaluated

    some investment-related situations and the value of money across the time. The

    proposed scale for this part of the questionnaire was nominal, being that each

    alternative showed a different behavior. Some of the factor analysis showed

    inconsistencies in the proposed dimensions. These proposed dimensions were

    stratified in three categories of clusters for each dimension, i.e. low, medium and high

    financial literacy. This study shows how that theme has been developed in the world

    and also in Brazil, as it turns evident that as far as there is a reduction of the barrier for

    financial inclusion, an awareness on the subject can be generated. Conclusions drawn

    from this work build an expectation to contribute to the evolution of the practice of

    financial education among the teachers of primary and secondary schools.

    Keywords: 1. Financial literacy. 2. Financial literacy of teachers. 3. Financial Education.

    4. Personal Financial. 5. Cash Management.

  • 11

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 13

    1.1 Contextualização do Tema ........................................................................... 13

    1.2 Problema de Pesquisa ................................................................................. 17

    1.3 Objetivos ...................................................................................................... 18

    1.3.1 Objetivo Geral.........................................................................................18

    1.3.2 Objetivos Específicos..............................................................................18

    1.3.2.1 Objetivo Específico 1................................................................18

    1.3.2.2 Objetivo Específico 2................................................................18

    1.3.2.3 Objetivo Específico 3................................................................19

    1.3.2.4 Objetivo Específico 4................................................................19

    1.3.2.5 Objetivo Específico 5................................................................19

    1.4 Justificativa e Contribuições ......................................................................... 19

    1.5 Desenvolvimento do Texto............................................................................20

    CAPÍTULO 2: REFERENCIAL TEÓRICO 21

    2.1 Conceitos sobre Literácia Financeira ........................................................... 22

    2.2 A importância e o Desenvolvimento da Literácia Financeira no Mundo ....... 25

    2.3 Literácia Financeira no Brasil ....................................................................... 45

    CAPÍTULO 3: PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 48

    3.1 Tipologia de estudo ...................................................................................... 48

    3.2 Método ......................................................................................................... 49

    3.2.1 Etapas da Pesquisa................................................................................49

    3.2.2 População e Amostra.............................................................................49

    3.2.3 Procedimento e Coleta de Dados...........................................................50

    CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 52

    4.1 Análise Descritiva ......................................................................................... 52

    4.1.1 Análise Preliminar do Banco de Dados..................................................53

    4.1.2 Análise Demográfica dos Respondentes................................................54

    4.1.3 Análise Descritiva das Variáveis de Mensuração do Modelo.................54

    4.2 Análise Multivariada ..................................................................................... 62

    4.2.1 Análise Fatorial......................................................................................62

    4.2.2 Análise de Clusters.................................................................................70

  • 12

    4.2.3 Análise Discriminante.............................................................................81

    CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS 86

    REFERÊNCIAS 90

    APÊNDICE

  • 13

    CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

    1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

    No decorrer da vida as pessoas são obrigadas a realizar diversas escolhas que

    envolvem questões financeiras. Dentre essas escolhas, algumas são mais simples,

    como a compra de um produto doméstico, na qual se pode escolher entre pagar à

    vista e parcelado, ou situações mais complexas, como as que envolvem uma

    obrigação de longo prazo (como a compra de um imóvel ou veículo) ou a decisão de

    efetuar uma aplicação de recursos poupados, (nas mais diversas opções como

    caderneta de poupança, renda fixa, variável ou mercado de ações). Nesse contexto,

    o conhecimento sobre juros simples, compostos, taxas nominais, taxas reais, relação

    entre risco e retorno, são os mínimos necessários para que o indivíduo possa tomar

    decisões financeiras adequadas. A esse conjunto de conhecimento chamamos

    educação financeira.

    Educação financeira é um tema que tem sido percebido por toda a sociedade

    como importante pelo seu potencial de gerar reflexos importantíssimos para a

    economia como um todo.

    Os fundamentos da educação financeira promovem o desenvolvimento de

    competências pessoais necessárias para tomar decisões financeiras apropriadas;

    além disso, proporciona aos cidadãos compreenderem a economia e suas políticas

    sociais. A educação financeira também contribui para reduzir a barreira da inclusão

    financeira, pois permite que o indivíduo crie consciência de seus direitos financeiros,

    sinalizando caminhos que o levem à inclusão.

    No contexto brasileiro é correto afirmar que o assunto ainda é algo embrionário

    pois embora existam pesquisas e estudiosos dedicados ao assunto, bem como um

    esforço do governo em dar força ao tema, principalmente em sua disseminação à

    sociedade, todo o esforço feito ainda é muito recente.

    A emergência deste tema no cenário brasileiro também se justifica pelas

    características do país, um país em desenvolvimento e que passou nas últimas três

  • 14

    décadas por mudanças muito importantes no campo econômico e que começaram a

    traçar uma nova realidade à população.

    De acordo com Giambiagi e Moreira (1999, p.14) a década de 80 sofreu

    profundamente com a estagnação do nível de atividade, pelos desequilíbrios

    macroeconômicos e, em especial, pela hiperinflação. No período entre os anos de

    1980-1993, a taxa de crescimento média da economia brasileira foi muito baixa, de

    apenas 2,1% a.a. O crescimento do produto interno bruto foi também muito irregular,

    alternando anos de grande expansão com outros de significativo declínio.

    Conforme descreveu Giambiagi e Moreira (1999, p.14) a questão da inflação

    foi um capítulo árduo na história brasileira,

    Nesse mesmo período de 1980 a 1993, a taxa de inflação, medida pelo IGP-DI, atingiu o patamar médio de 438% a.a. Paradoxalmente, ao mesmo tempo que se tentava conter a inflação, iam sendo criados mecanismos que objetivavam torná-la suportável, o que acabava facilitando a sua aceleração. O fracasso de uma sequência de planos heterodoxos de estabilização em curto período de tempo – cinco planos em cinco anos – contribuiu para aumentar a instabilidade na economia, intensificando a aceleração da inflação.

    Em 1994 o Brasil instituiu um novo plano econômico que tinha como principal

    objetivo abolir a inflação. Giambiagi e Moreira (1999, p.22) explicam que:

    O Plano Real foi lançado em fins de junho de 1994, depois do fracasso dos cinco programas de estabilização anteriores, desde 1986 tais planos tiveram, como característica comum, o congelamento de preços, que levava a uma queda imediata da inflação, com posterior aceleração da taxa de crescimento dos preços, conduzindo a uma rota hiperinflacionária. Em junho de 1994, a inflação brasileira, medida pelo IGP-DI acumulado em 12 meses, era de 5.154%. No tocante à queda da inflação, o êxito do Plano Real não poderia ter sido maior: pela primeira vez na história do índice, a inflação calculada pela Fundação Getúlio Vargas registrou queda por cinco anos consecutivos, caindo para 1,7% em 1998.

  • 15

    Sem dúvida, o principal êxito do Plano Real, no primeiro mandato do presidente

    Fernando Henrique Cardoso, foi a eliminação do maior problema da economia

    brasileira até 1994: o fenômeno da “superinflação”.

    Para o ambiente brasileiro, a implantação do plano Real foi muito positiva, pois

    trouxe inúmeros benefícios à população, dentre elas: a migração da classe pobre para

    a classe média, cidadãos que antes não dispunham de dinheiro e nem de crédito para

    compra de bens essenciais e básicos passaram a ter, em muitas situações, dinheiro

    sobrando, além de acesso a limites de crédito antes impensáveis.

    Os cidadãos, que antes sofriam com o descontrole inflacionário e não

    conseguiam ter perspectiva de médio e longo prazo, agora passavam a ter mais

    previsibilidade econômica, porém não estavam habituados a planejar seu futuro

    financeiro e a cuidar de suas finanças; ou seja, não se preocupavam com sua

    educação financeira. Esse cenário também se repetia nas agendas governamentais,

    isto é, o tema não tinha a devida importância nas iniciativas de políticas públicas.

    Sendo assim, a educação financeira não fez parte dos parâmetros do ensino brasileiro

    entre os anos de 1980 até 2008.

    De acordo com Gruber (2012, p.153),

    [...] desde então, houve uma clara recuperação socioeconômica e a afirmação dos princípios democráticos no Brasil, como mostram as pacíficas transferências presidenciais, a manutenção de um razoável índice de preços, o aumento do PIB, o forte incremento das reservas internacionais e uma intensa evolução no setor financeiro. Isso explica o reduzido impacto sofrido pelo país após a crise financeira internacional em 2008.

    A crise financeira internacional de 2008 foi o evento mais marcante dos últimos

    anos no mercado financeiro mundial, e teve como origem as hipotecas subprimes

    americanas, fato que mostrou ao mundo os efeitos prejudiciais que decorrem do

    despreparo financeiro das pessoas.

    Paula e Filho (2011, p.316) descrevem quais foram os passos para a crise

    subprime, explicando que

  • 16

    [...] a necessidade de ampliação de escala levou as instituições financeiras a incorporarem segmentos de baixa renda em condições de “exploração financeira” — no caso do subprime, com taxas de juros variáveis (baixas no início e se elevando ao longo do tempo) — que acabou resultando em um processo de estrangulamento financeiro do tomador de crédito. A securitização, que serviria para diluir riscos, na prática serviu para esconder riscos — títulos lastreados em hipotecas eram emitidos por instituições financeiras de grande porte, sendo tais ativos classificados como grau de investimento por uma agência de rating. Tais ativos, como resultado da globalização financeira, passaram, por sua vez, a ser comprados por investidores de diferentes nacionalidades. Criaram-se, assim, novos instrumentos financeiros que não foram devidamente regulamentados pelas autoridades. Mecanismos de auto regulação mostraram-se falhos devido ao caráter pró-cíclico da tomada de risco: projetos que eram considerados ruins na desaceleração passaram a ser visto como bons no boom cíclico. [...]

    No entanto, mesmo não trazendo consequências econômicas de grande vulto

    ao Brasil, o advento da crise trouxe ao mundo a necessidade de dar mais atenção à

    literácia financeira. Diversos países e órgãos começaram a olhar a problemática da

    educação financeira com outros olhos. Dentre diversos órgãos, destaca-se o banco

    mundial com o estudo feito em 2009 sobre o tema, intitulado The Case for Financial

    Literacy in Developing Countries.

    Nesse estudo o Banco mundial (The Case for Financial Literacy in Developing

    Countries, 2009) menciona que a crise de 2008 destacou vulnerabilidades criadas

    pela inovação financeira e o crescimento da complexidade do mercado financeiro. Os

    produtos de empréstimos tornaram-se demasiadamente complexos para os

    consumidores entenderem, assim como a divulgação sobre esse tipo de operação foi

    insuficiente para esclarecer os riscos. Até mesmo as áreas comerciais das instituições

    financeiras não tinham conhecimento da extensão dos riscos que estavam assumindo.

    A visão do banco mundial (2009) sobre literácia financeira, no auge da crise

    financeira de 2008, era de que o tema é especialmente importante por diversas

    razões, dentre elas a redução de acesso ao crédito e o aumento de custos em

    mercados em desenvolvimento, como ocorreu nos Estados Unidos e Europa.

    Segundo a visão do banco, a literácia financeira pode ajudar a preparar consumidores

    para tempos financeiros difíceis, promovendo estratégias que mitiguem risco, como

    poupar recursos, diversificar ativos e comprar seguros. O estudo ainda argumenta que

    a literácia financeira reforça o controle das finanças evitando pagamento

  • 17

    desnecessário de juros e a manutenção do acesso a crédito em tempos de aperto

    econômico.

    Olhando para essas transformações que a sociedade brasileira passou em

    função da melhora econômica vivida pelo país, e também observando a crise sub-

    prime vivida nos mercados externos, e a atenção dada por outros países e órgãos

    renomados acerca da educação financeira ao redor do mundo, o governo brasileiro

    instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) no ano de 2010,

    através do decreto 7397/2010, publicado no Diário Oficial de União de 22 de dezembro

    de 2010, (ENEF, 2015).

    O objetivo da ENEF é contribuir para o fortalecimento da cidadania ao fornecer

    e apoiar ações que ajudem a população a tomar decisões financeiras mais autônomas

    e conscientes. A estratégia foi criada através da articulação de oito órgãos e entidades

    governamentais e quatro organizações da sociedade civil, que juntos integram o

    Comitê Nacional de Educação Financeira – CONEF (ENEF, 2015).

    Pensar na educação financeira de cidadãos requer também pensar naqueles

    que irão transmitir esse conhecimento, ou seja, os professores. O professor, enquanto

    educador, participa de um momento fundamental na formação de crianças e jovens,

    especialmente aqueles que atuam no período que vai da infância à adolescência. É

    nesse período que o aprendizado se enraíza e posteriomente é levado para toda a

    vida, através de hábitos e princípios.

    Sthepahni (2005, p.12) explica que:

    Cada indivíduo participante do processo de formação do ser humano tem uma parte de responsabilidade nesse processo de mudança pela qual a educação passa. E a educação financeira vem ser um elo entre várias áreas do conhecimento, no sentido de fazer com que trabalhem juntas e formem na epistemologia do aluno, conceitos capazes de instrumentalizá-lo para a construção de sua autonomia.

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

    Considerando-se o papel do professor do ensino fundamentla e médio para a

    disseminação da educação financeira, este estudo está focado na análise da literácia

  • 18

    financeira de professores desse segmento, trazendo como problema de pesquisa:

    Qual o nível de literácia financeira de educadores do ensino fundamental e médio da

    rede pública de ensino do município de Sorocaba?

    1.3 OBJETIVOS

    1.3.1 Objetivo Geral

    Determinar o nível de literácia financeira em suas três dimensões

    (conhecimento, comportamento e atitude) junto aos professores do ensino

    fundamental e médio de escolas da rede do município de Sorocaba.

    1.3.2 Objetivos Específicos

    1.3.2.1 Objetivo específico 1

    Identificar o nível de literácia financeira de professores do ensino fundamental

    e médio de escolas da rede do município de Sorocaba, utilizando o instrumento de

    pesquisa adaptado de Potrich et al (2015), sendo:

    Objetivo específico 1.a: Identificar o nível de literácia financeira na dimensão

    do conhecimento;

    Objetivo específico 1.b: Identificar o nível de literácia financeira na dimensão

    comportamento;

    Objetivo específico 1.c Identificar o nível de literácia financeira na dimensão

    atitude;

    1.3.2.2 Objetivo específico 2

    Identificar o nível de literácia financeira de professores do ensino fundamental

    e médio de escolas da rede do município de Sorocaba, na dimensão conhecimento,

    utilizando questionário adaptado do instrumento de pesquisa de S&P de Klapper,

    Lusardi e Oudheesden (2014).

  • 19

    1.3.2.3 Objetivo específico 3

    Confirmar se os indicadores utilizados para captar conhecimento,

    comportamento e atitude se agrupam dentro das dimensões propostas para a amostra

    estudada.

    1.3.2.4 Objetivo específico 4

    Analisar se é possível discriminar grupos de professores com alto ou baixo grau

    de alfabetização financeira tendo como critérios sua experiência anterior com o tema,

    seu interesse e a percepção que têm do interesse dos pais e dos alunos sobre o tema

    literácia financeira.

    1.3.2.5 Objetivo específico 5

    Identificar se variáveis demográficas (gênero, tempo decorrido desde a

    graduação, idade, tipo de curso feito na graduação, a disciplina que leciona, o nível

    de aperfeiçoamento) influenciam o grau de alfabetização financeira do professor.

    1.4 JUSTIFICATIVA E CONTRIBUIÇÕES

    Uma vez que este estudo aborda a importância da literácia financeira e seu

    papel em todos os estágios de vida das pessoas, entende-se que seja bastante

    importante trabalhar a literácia financeira na infância e adolescência do indivíduo,

    momento em que ele está formando seus princípios e adquirindo hábitos que ele

    levará por toda a vida. O aprendizado adquirido neste momento será para o jovem

    uma ferramenta essencial para a condução de suas decisões financeiras no decorrer

    de sua existência.

    Sendo assim, um importante disseminador da literácia financeira para os

    indivíduos que se encontram nesta fase da vida é o professor dos ensinos fundamental

    e médio. Por esta ótica, esse profissional possui um poder multiplicador de

    conhecimento pois pode, através de ferramentas e exercícios práticos, mostrar ao

    aluno a importância do tema e a importância de aprender conceitos que o ajudarão na

    gestão financeira do seu dia a dia, bem como no seu planejamento futuro, como

    aposentadoria, poupança e investimentos.

  • 20

    Para que o professor cumpra esse papel de multiplicador é preciso que ele

    compreenda a importância do tema para a sociedade e para si próprio, de modo que

    possa disseminar esse conhecimento.

    Objetivando contribuir para que essa prática evolua nessa categoria de

    profissionais, este trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de ações de

    desenvolvimento de literácia financeira à medida que mapeia o conhecimento dos

    professores nessa área, sinalizando possíveis lacunas a serem trabalhadas em cursos

    de formação específica para que esses professores ocupem o papel de

    disseminadores da educação financeira. Essa formação deve propor conteúdos e

    aspectos didáticos para que esse professor possa transmitir aos seus alunos uma

    educação financeira de qualidade e que esses ensinamentos sejam práticos, atrativos

    e se tornem importantes para suas decisões financeiras futuras.

    A cidade de Sorocaba foi escolhida como base para a pesquisa porque é hoje

    umas das regiões economicamente mais desenvolvidas do Estado de São Paulo, com

    uma população estimada em 644 mil habitantes. A cidade se destaca pelo

    desenvolvimento de sua indústria, comércio e serviços.

    1.5 DESENVOLVIMENTO DO TEXTO

    Este capítulo introdutório, conforme já visto, aborda a contextualização do

    tema, trata da questão de pesquisa, dos objetivos propostos e das justificativas para

    o estudo.

    O segundo capítulo aborda conceitos sobre educação financeira, a

    importância da educação financeira e o estado da educação financeira no Brasil,

    sendo este capítulo o arcabouço teórico do trabalho.

    O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos adotados no

    estudo.

    No quarto capítulo apresentam-se e discutem-se os achados do estudo.

    O texto finaliza com a conclusão, onde serão retomados os objetivos gerais

    propostos e a forma como foram contemplados no estudo.

  • 21

    CAPÍTULO 2: REFERENCIAL TEÓRICO

    Para explorar o tema literácia financeira, proposta desta dissertação, fez-se

    uma revisão sistemática da literatura, buscando-se as publicações relacionadas aos

    temas educação financeira e literácia financeira, especialmente para verificar aquelas

    que têm interação com o problema de pesquisa deste trabalho. A revisão foi feita em

    4 periódicos internacionais, considerando-se o período compreendido entre os anos

    de 2010 a 2015, sendo eles:s i) International Journal of Consumer Studies; ii) Journal

    of Banking & Finance; iii) Journal of Economic Psychology; iv) The Journal of

    Consumer Affairs. Esses periódicos foram selecionados por terem fator de impacto

    maior do que 1,0 e por terem como foco editorial assuntos correlatos ao tema deste

    trabalho.

    Além da revisão sistemática desses quatro períodicos, este trabalho também

    analisou outros artigos de diferentes periódicos e produçôes acadêmicas

    (dissertações e teses) disponibilizados em meio eletrônico.

    2.1 CONCEITOS SOBRE LITERÁCIA FINANCEIRA

    A literatura traz muitas definições conceituais para os termos literácia financeira

    e educação financeira, alguns autores enxergam diferenças e dividem alguns pontos

    entre um e outro termo, outros consideram os dois termos como tendo o mesmo

    significado, todavia ainda não há uma definição clara, porém de forma geral essas

    definições são convergentes, ou seja, caminham para a mesma direção. Este trabalho

    aborda os dois termos, considerando uma convergência em seus objetivos.

    Sendo assim, para um melhor entendimento é importante navegar sobre as

    várias definições dadas por diferentes autores, pesquisadores e órgãos/instituições

    que tratam do assunto.

    De acordo com Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

    Econômico (OCDE, 2015), Educação financeira é definido como sendo:

    O processo pelo qual os consumidores financeiros/investidores melhoram a sua compreensão dos produtos financeiros, conceitos e riscos, e através da informação, instrução ou aconselhamento objetivo, desenvolvem habilidades e confiança para se tornar mais consciente dos riscos e oportunidades

  • 22

    financeiras, para fazer escolhas assertivas, saber onde procurar ajuda, e tornar outras ações efetivas para melhorar seu bem estar financeiro. (OCDE, 2005a)

    Segundo a OCDE (2005) esta definição pode ser interpretada como a

    necessidade individual em diferentes contextos socioeconômicos. A educação

    financeira começa com noções básicas, como as características de produtos

    financeiros e progride até conceitos mais sofisticados, como o de investimentos em

    mercados acionários e de câmbios.

    Fica claro que a educação financeira passa por estágios de conhecimento, que

    vão desde o básico até conceitos mais sofisticados.

    Outro organismo internacional que trata do assunto é a Financial Consumer

    Agency of Canada (2016). A Financial Consumer Agency of Canada foi criada pelo

    governo Canadense em 2001 para atuar como fomentadora do conhecimento

    financeiro, entre suas funções estão as de proteger e informar consumidores sobre

    produtos e serviços financeiros.

    A Financial Consumer Agency of Canada (2016) define Educação Financeira

    com sendo: Literácia Financeira é ter o conhecimento, habilidades e confiança

    financeira para tomar decisões financeiras responsáveis. Onde: i) Conhecimento

    refere-se a um entendimento de questões financeiras pessoais e mais amplas; ii)

    Habilidades referem-se à capacidade de aplicar esse conhecimento financeiro na vida

    cotidiana; iii) Confiança significa ter a autoconfiança para tomar decisões importantes;

    iv) Decisões Financeiras Responsáveis referem-se à capacidade dos indivíduos de

    utilizar o conhecimento, as habilidades e a confiança que eles ganharam para fazer

    escolhas apropriadas para suas próprias circunstâncias.

    A importância da criação de órgãos que visem fomentar mundialmente esses

    conceitos, bem como o incentivo à pesquisadores do tema são fundamentais para a

    disseminação de conhecimento e nivelamento da população mundial com relação à

    literácia financeira.

    Brackin (2007, p. 6) argumenta que literacia financeira tem sido definida como

    "a capacidade de fazer julgamentos informados e tomar decisões eficazes em relação

    ao uso e gestão de dinheiro".

  • 23

    Worthington (2006 apud BRACKIN 2007, p. 6) argumenta que,

    Embora os decisores políticos e pesquisadores têm tentado definir, a literacia financeira pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Pode ser um conceito amplo que envolve uma compreensão da economia, ou, alternativamente, um conceito mais restrito centrado principalmente na administração básica dinheiro.

    Sherraden e Johnson (2007) acrescentam o acesso a serviços e instituições

    como algo importante, segundo eles sugerem, a capacidade financeira engloba não

    só o conceito de educação financeira, ou seja, o conhecimento, mas também o acesso

    a serviços e instituições, pois segundo os autores, se não houver acesso aos recursos

    e instituições financeiras, principalmente para aqueles “desbancarizados”, não será

    possível que as pessoas alcancem um estilo de vida de pessoas financeiramente

    alfabetizados.

    Na visão de Lusardi (2008, p. 2),

    literácia financeira afeta as decisões financeiras, a falta de conhecimento sobre conceitos financeiros básicos podem ser relacionados com a posterior falta de plano de aposentadoria, a ausência de participação no mercado de investimentos, mercado acionário, e tem reflexo na contração de empréstimos inadequados.

    Para Lusardi e Mitchel (2006, 2008, 2009) literácia financeira está associada

    ao comportamento, por exemplo, pessoas menos alfabetizadas financeiramente são

    menos propensos a planejar suas aposentadorias e menos propensos a investir no

    mercado de ações.

    Segundo, Remund (2010), literácia financeira é a competência pessoal de

    administrar o dinheiro.

    Huston (2010) expõe uma visão interessante a respeito do conceito. Para ela,

    literácia financeira pode ser conceitualizada em duas dimensões de entendimento: o

    conhecimento de finanças pessoais e a habilidade e confiança na aplicação desses

    conhecimentos em finanças pessoais.

  • 24

    Figura 1: Dimensões da Literácia Financeira retratadas por Huston. Fonte: Huston (2010, p.307).

    Huston (2010) também argumenta que literácia financeira é um componente do

    capital humano que pode ser usado em atividades para melhorar o bem-estar

    financeiro. Ela também demonstra que outras influências como viés comportamental,

    problemas de autocontrole, família, colegas de trabalho, problemas econômicos e

    comunidade podem afetar o comportamento financeiro das pessoas. Porém, segundo

    a autora, uma pessoa alfabetizada financeiramente, que tem conhecimento financeiro,

    pode talvez não apresentar divergência de comportamento em função dessas outras

    influências.

    Em seu estudo Hastings, Brigitte e Skimmyhorn (2013) mencionam que a

    literácia financeira tem assumido diversos significados, em muitos casos ela é utilizada

    para se referir aos conhecimentos relacionados a produtos financeiros, em outras

    situações é relacionada a conhecimentos e conceitos financeiros como inflação,

    diversificação e scoring de crédito. A habilidade matemática necessária para tomada

    de decisões financeiras também é lembrada como sendo um dos significados do

    termo literácia financeira.

  • 25

    Conforme Mavlutova, Sarnovics e Armbruster (2015), a literácia financeira é

    composta de um conjunto de competências que permite às pessoas gerirem de forma

    eficaz seus recursos, bem como lhes permite ver várias oportunidades de melhorar

    sua qualidade de vida.

    Ainda de acordo com Mavlutova, Sarnovics e Armbruster (2015), cientistas e

    especialistas concordam que literácia financeira é apenas uma parte da economia e

    da literácia geral.

    Para Remund (2010 apud, ASAAD 2015, p.1) literacia financeira,

    é uma medida do grau em que se compreende principais conceitos financeiros e que se possui a habilidade e confiança necessárias para gerir as finanças pessoais através de uma adequada tomada de decisões de curto prazo e do planejamento financeiro de longo prazo, diante dos eventos e mudanças nas condições econômicas no decorrer da vida.

    Ainda em seu texto Mandell (2009 apud ASSAD, 2015, p.2) descreve literácia

    financeira como “a habilidade dos consumidores em tomar as melhores decisões

    financeiras para seus interesses no curto e longo prazo”.

    Remund (2009 apud ASSAD, 2015, p.2) em seu nível mais básico “literácia

    financeira refere-se à competência pessoal para a administração do dinheiro a é

    tipicamente mensurado a nível individual e em seguida agregados por grupos”.

    Segundo Potrich, Vieira, Coronel e Filho (2015), literácia financeira é conhecida

    como uma habilidade essencial dos cidadãos que precisam operar de uma forma mais

    complexa cenários financeiros.

    2.2 A IMPORTÂNCIA E O DESENVOLVIMENTO DA LITERÁCIA FINANCEIRA NO

    MUNDO

    A educação financeira tem se tornado cada vez mais importante na vida das

    pessoas, mesmo que estas não sejam investidores ativos ou traders do mercado

    financeiro, ocupando desta forma papel importante no desenvolvimento individual em

    qualquer cenário.

    Conforme Savoia, Saito e Santana (2007, p.1122), na sociedade atual, “os

    indivíduos precisam ter domínio de um conjunto amplo de propriedades formais que

  • 26

    proporcione uma compreensão lógica e sem falhas das forças que influenciam o

    ambiente e as suas relações com os demais”. Parte deste domínio, é atingido através

    da educação financeira, compreendida como um processo de transmissão de

    conhecimento que proporciona o desenvolvimento de habilidades nos indivíduos, para

    que eles possam tomar decisões fundamentadas e seguras, melhorando o

    gerenciamento de suas finanças pessoais; a partir do momento em que aprimoram

    tais capacidades, os indivíduos passam a ser mais integrados à sociedade e se tornam

    mais atuantes no âmbito financeiro, ampliando o seu bem-estar.

    Em seus objetivos estão os de auxiliar as pessoas na administração dos seus

    rendimentos, as suas decisões de poupança e investimento, aposentadoria, compra

    de bens imóveis, consumo de forma consciente e prevenção de situações de fraude,

    etc.

    Diante disso, é possível enxergar a importância da educação financeira pessoal

    na sociedade, pois isto influencia diretamente as decisões econômicas dos indivíduos

    e das famílias e consequentemente tem reflexo importante no ambiente econômico

    de toda a população.

    De acordo com Johnson e Sherraden (2007) a literácia financeira é uma parcela

    de contribuição, mas não é suficiente. A participação na vida econômica deveria

    maximizar as chances de vida e permitir que as pessoas levassem vidas mais plenas.

    Isso requer conhecimentos e competências, habilidade para agir sobre esse

    conhecimento e a oportunidade para fazê-lo. Isso envolve o uso de métodos

    pedagógicos que permitam às pessoas praticar e ganhar competência naquelas

    funções.

    Savoia, Saito e Santana (2007, p.1122) explicam que,

    A educação financeira tornou-se uma preocupação crescente em diversos

    países, gerando um aprofundamento nos estudos sobre o tema. Embora haja

    críticas quanto à abrangência dos programas e seus resultados,

    principalmente entre a população adulta, é inegável a importância do

    desenvolvimento de ações planejadas de habilitação da população.

    Nas últimas duas décadas, três forças produziram mudanças fundamentais nas relações econômicas e sociopolíticas mundiais: a globalização, o desenvolvimento tecnológico e alterações regulatórias e institucionais de caráter neoliberal. Isso levou os países desenvolvidos a reduzirem o escopo e o dispêndio de seus programas de seguridade social, ou seja, houve o rompimento do paradigma paternalista do Estado.

  • 27

    Figura 2: FORÇAS PRODUTORAS DE MUDANÇAS FUNDAMENTAIS Fonte: Savoia, Saito e Santana (2007, p.1122)

    Na visão de Lusardi (2008) os indivíduos precisam mais do que nunca possuir

    habilidade financeiras pois, segundo ela, esse conhecimento está tipicamente focado

    em conhecimento em economia e finanças, e seus efeitos recaem sobre as decisões

    financeiras relacionadas à poupança, planejamento de aposentadoria e escolha de

    investimentos dos indivíduos.

    Na visão de Lusardi (2008), aqueles indivíduos que estudam economia na

    escola ou na faculdade estão mais propensos a apresentar níveis mais elevados de

    literácia financeira na vida adulta.

    Conforme o Banco Mundial (2009), argumenta que os consumidores

    financeiramente alfabetizados teriam sido mais cautelosos em assumir crédito que

    não pudessem arcar, pois tanto nos países pobres quanto nos desenvolvidos as

    habilidades financeiras são importantes, sendo a literácia financeira um conceito

    amplo que inclui comportamento e informação de relevância, independentemente da

    sua riqueza ou renda. Para pobres e ricos a literácia financeira proporciona maior

    controle do futuro financeiro, utilização mais eficaz dos produtos e serviços

    financeiros, e redução da vulnerabilidade.

    O mesmo artigo menciona que a literácia financeira é a principal forma de

    capacitar e educar os consumidores com intuito de deixá-los bem informados sobre

    finanças de uma forma relevante para suas vidas, e possibilitá-los usar esse

    conhecimento para avaliar produtos e tomar decisões bem informadas. Este estudo

    evidencia ainda que aqueles que são menos financeiramente alfabetizados são mais

  • 28

    propensos a ter problemas com endividamento, poupam menos, envolvem-se em

    crédito de alto custo e não planejam o futuro, argumentando que a literácia financeira

    permite que além das pessoas tomarem melhores decisões financeiras, exijam assim

    seus direitos e responsabilidades como consumidores de produtos financeiros,

    compreendam e gerenciem riscos. O estudo finaliza afirmando que os consumidores

    mais do que nunca precisam de um nível de entendimento financeiro adequado para

    avaliar e comparar os produtos financeiros, tais como: contas bancárias, produtos de

    poupança, crédito e opções de empréstimo, instrumentos de pagamento,

    investimentos, seguros, entre outros.

    Torna-se explícita que a falta de literácia financeira pela incapacidade do

    indivíduo gerenciar suas finanças pessoais, estabelecer e reservar para momento de

    dificuldades de obtenção de renda, etc., pode trazer consequências desastrosas.

    Muitas pessoas não possuem o hábito de poupar recursos, e isso é algo ruim, pois a

    falta de poupança pode trazer inúmeros problemas relacionados à gestão financeira

    pessoal no decorrer de suas vidas.

    Nos estudos avaliados, também se destacou a importância do quesito

    poupança na gestão financeira pessoal do indivíduo.

    De acordo com (Financial Literacy and Emergency Saving, 2013) a poupança

    pessoal por parte dos consumidores é um elemento essencial na acumulação de

    riqueza e influencia tanto o micro quanto o crescimento macroeconômico (GAO 2001).

    O mesmo estudo menciona que a taxa de poupança baixa não só apresenta

    problemas potenciais em termos de insegurança financeira a longo prazo, mas ainda,

    no curto prazo, preocupações sobre a capacidade das famílias para atender despesas

    inesperadas relacionadas com as suas necessidades presentes. Como notado por

    Chase et al. (2011) , a investigação relacionada com poupança pessoal tende a

    enfatizar a segurança da aposentadoria ao invés de preocupações financeiras de

    curto prazo, e estudos sobre poupança de emergência são relativamente raros.

    Em seu estudo sobre poupança, Kennickell e Lusardi (2006)examinaram os

    valores alvo da poupança que os indivíduos calculam que precisam para situações de

    emergência, e relatam que tais poupanças representam cerca de 8 % da riqueza total

    das famílias.

  • 29

    O quesito crédito também é ressaltado nos estudos relacionados ao tema.

    Na visão de Gerardi, Goette, e Stephan (2010), a melhoria do acesso ao crédito,

    como tal, oferece os benefícios de suavização do consumo ao longo do tempo, pois o

    modelo padrão em economia assume que os agentes são racionais e compreendem

    perfeitamente seu ambiente.

    De acordo com a OCDE,

    Governos de todo o mundo estão cada vez mais preocupados com os baixos níveis de literacia financeira entre os seus cidadãos. Eles reconhecem que as boas habilidades de literacia financeira capacitaria os indivíduos a tomar melhores decisões em um mercado financeiro cada vez mais complexo , e que por sua vez, estas bem decisões poderiam ter repercussões positivas nos mercados financeiros e na economia como um todo. (OCDE,2012)

    Ainda segundo a OCDE (2012), a literácia financeira tem sido globalmente

    reconhecida como uma habilidade fundamental à vida e como um elemento

    importante da estabilidade e desenvolvimento econômico e financeiro da sociedade.

    Nesta linha, diversos autores e organismos mundo afora têm estudado a

    importância da educação financeira para os indivíduos e a sociedade. Apresenta-se,

    a seguir, o ponto de vista de alguns deles.

    Hastings, Brigitte, e Skimmyhorn (2013) argumentam que a falta de literácia

    financeira é um problema que torna os indivíduos incapazes de aperfeiçoar seu bem

    estar financeiro, especialmente quando os riscos são altos. Os autores argumentam

    ainda que as consequências são óbvias para o bem estar individual e social.

    Para Njehia (2014), literácia financeira ajuda a capacitar e educar investidores

    para que sejam bem informados sobre finanças e isso os torne capaz de usar esses

    conhecimentos na avaliação de produtos e na tomada de decisões financeiras.

    Com esta mesma ideia, Njehia (2014) enfatiza em seu estudo que literácia

    financeira prepara investidores para tempos de crise financeira através de meios que

    mitiguem riscos, como constituição de poupança, a diversificação de investimentos e

    a aquisição de seguros. A autora argumenta ainda que a literácia financeira facilita a

    gestão pessoal de pagamento das contas, a tomada de empréstimos pessoais e que

  • 30

    ela também contribui para o crescimento econômico, sistemas financeiros sólidos e

    redução da pobreza.

    Os autores citados evidenciam a importância do conhecimento financeiro e a

    influência da falta deles na vida dos indivíduos, principalmente por seus reflexos em

    decisões financeiras que afetarão suas poupanças, plano de aposentadoria e

    escolhas financeiras que poderão conduzí-los ao endividamento. A importância é tida

    como um diferencial muito grande no desempenho financeiro das pessoas ao longo

    de suas vidas. Quem as possui está mais preparado para entender o ambiente

    econômico, bem como mais apto a tomar decisões assertivas. Os autores reforçam o

    reflexo disso na sociedade, que pode tornar-se um problema sistêmico.

    Em alguns estudos percebe-se que é dada importância às fases nas quais a

    literácia financeira é aplicada aos indivíduos.

    Alguns autores argumentam que a educação financeira não é o único agente

    de importância neste processo, pois a participação das pessoas no processo

    econômico, o acesso ao sistema financeiro e ao crédito são, da mesma forma, fatores

    destacados como de grande importância.

    Também se argumenta em alguns estudos que a regulamentação da educação

    financeira pelos órgãos governamentais seja algo fundamental, mas que de qualquer

    forma é necessário fomentar o desenvolvimento facultativo do tema.

    Conforme explanação de Araújo e Souza (2012),

    [...] o reconhecimento de que a educação financeira não é um remédio

    universal para todos os males auxilia na correta decisão sobre seu uso, como

    formulação de políticas públicas ou no desenho de produtos financeiros, entre

    outros. As descobertas das limitações mostram que é necessário, para

    garantir e alavancar os benefícios trazidos pela educação financeira, o

    fortalecimento da rede de proteção ao consumidor e a correta regulação das

    instituições financeiras.

    Todas as opiniões e argumentações convergem para um único caminho, ou

    seja, que a educação financeira é tema de grande importância para o desenvolvimento

    de uma sociedade economicamente saudável.

  • 31

    Bernheim, Garrett, e Maki (2001), Grimes, Rogers e Smith (2010 p. 3) apud

    Assad (2015) argumentam que os indivíduos que estudaram economia ou negócios

    na escola são menos propensos a ser indivíduos desbancarizados.

    Em seus estudos, Assad (2015) aponta a confiança como um componente

    crítico na tomada de decisões financeiras do indivíduo; sua análise explora o excesso

    de confiança, por ele chamado de overconfidence, ou o excesso de confiança.

    Assad (2015) identifica ainda que na maioria das situações a confiança

    financeira é benéfica, porém em algumas situações ela é altamente prejudicial,

    principalmente em situações que envolvem análise de risco.

    Estudos feitos no Reino Unido apontam que a assimetria de informações é um

    fator importante na relação entre consumidores e emprestadores de dinheiro naquele

    local.

    Leyshon et al. (2006 apud CLARK, 2013), usam termos como "parasitismo" e

    "mutualismo simbiótico" para conceituar a relação entre consumidores e agiotas nos

    centros urbanos do Reino Unido. Eles alegam que esse tipo de relacionamento é

    produzido por aqueles que têm a ganhar com geografia assimétrica de conhecimento

    e informação e a incapacidade dos consumidores de compreender as maneiras nas

    quais podem se tornar vulneráveis.

    French et al. (2011, p.1 apud CLARK, 2013) com estudos semelhantes

    comentam que consumidores não educados em literácia podem ter pouca escolha.

    Mapas de literácia financeira fornecem serviços de oportunidades da indústria

    financeira de explorar a ignorância e falta de juízo. Em algumas configurações, os

    baixos níveis de literácia (geral), combinadas com a discriminação e a pobreza

    (FULLER e MELLOR, 2008) podem efetivamente excluir pessoas do que Scott (2008,

    2010) e outros têm referido como "cognitivo capitalismo". Testes formais de literácia

    financeira podem ser tangenciais, na melhor das hipóteses, e para muitos indivíduos

    em suas comunidades.

    Conforme argumenta Fagan (2007), pessoas jovens requerem ser apoiados no

    desenvolvimento de entendimento de uma gama de questões econômicas que eles

    irão encontrar tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

  • 32

    Hutchings et al. (2002, apud Fagan 2007) descrevem que é vital que os

    indivíduos tenham o poder de lidar com a economia diária de consumo, empréstimos

    e poupança em um mundo que está cada vez mais complexo economicamente.

    O cidadão comum na Europa de hoje precisa entender sobre as taxas de

    juros, empréstimos, cartões de crédito e débito, regime de previdências, modalidades

    de financiamento público e privado, e assim por diante. Aqueles que não conseguem

    compreender são impotentes e podem ficar desfavorecidos financeiramente.

    De acordo com Lachance (2007, p. 1) “com a complexidade cada vez maior no

    universo de produtos financeiros, o desenvolvimento da literatura financeira é mais

    que nunca fundamental para os consumidores”.

    Ainda em seu estudo, Lachance (2007), apud Lusardi e Mitchell (2011) ressalta

    que infelizmente muitos estudos revelam que há baixos níveis de conhecimento

    financeiro na população, sendo mulheres, minorias, e os menos instruídos os mais

    vulneráveis.

    O que se discute no texto de Mandell e Klein (2009) é que os que estudam

    literatura financeira geralmente concordam que muitos, se não a maioria, dos

    consumidores têm falta de conhecimento de literatura financeira necessária para

    tomar decisões importantes sobre seus interesses financeiros.

    O ano de 2010 apresenta estudos que englobam o tema literácia financeira

    através de várias vertentes. Estudos selecionados mostram o envolvimento da

    literácia financeira em assuntos como endividamento do consumidor, confiança em

    investimentos, conhecimentos financeiros para aplicação em planos de

    aposentadoria, regras dos pais em relação ao comportamento dos filhos em idade

    escolar, bem como aspectos de influência da educação financeira em escolas de

    ensino básico, impactos do consumo sem o conhecimento ou com o baixo

    conhecimento em literácia financeira e a preocupação em diversas partes do mundo

    sobre o tema.

    Cäzilia Loibl (2010) relata em seu estudo que o endividamento dos

    consumidores americanos chamou a atenção para o papel do currículo do Ensino

    Médio para preparar os consumidores a tomar boas decisões financeiras. Estas

  • 33

    análises são vertentes de vários estudos de anos anteriores que se refinam em alguns

    aspectos e, em outros, abrem um leque de possibilidades de estudos.

    Sendo a literácia financeira um estudo que evolui, percebe-se que conforme os

    anos vão avançando, as pesquisas neste campo ganham mais atenção e importância.

    “Participantes informados ajudam a criar um mercado mais competitivo e mais

    eficiente”. (BRAUNSTEIN, S.; WELCH, C., 2002, p. 445).

    Nas afirmações de Braunstein e Welch (2002, p. 447),

    Os esforços dos órgãos governamentais para melhor compreender o empréstimo predatório, em geral, descobriram que a distorção ou uso inadequado de provisões para crédito, juntamente com a complexidade inerente de empréstimos hipotecários, às vezes resulta em mutuários se enrolando em um atoleiro de crédito financeiramente devastador. Os mutuários que não estão familiarizados com operações de crédito e desconhecem as implicações das condições de empréstimo podem ser vulneráveis a estratégias de vendas dos credores antiéticos. Embora proteções regulamentares e remédios legais são importantes, a educação do consumidor é vista como um elemento essencial para o combate e prevenção aos empréstimos predatórios.

    Estudos de Braunstein e Welch (2002) concluem que após senso de 2000 nos

    EUA, a população tornou-se diversa devido à imigração de famílias, as quais geraram

    uma grande importância no mercado consumidor; no entanto, como grande parte dos

    grupos advém de populações carentes, estas usualmente não têm familiaridade com

    práticas contábeis norte-americanas ou não têm acesso a sistemas financeiros

    tradicionais, e acabam pagando altas taxas por transação.

    Idioma, barreiras educacionais e culturais podem desencorajar algumas populações de estabelecer uma relação bancária para adquirir serviços financeiros. Em vez disso, eles podem usar prestadores alternativos para realizar transações básicas, tais como descontar cheques, obtenção de empréstimos ou fundos de fiação. (BRAUNSTEIN, S.; WELCH, C., 2002, p. 447).

    Na Austrália estudos sobre conhecimento fiscal ou literácia fiscal estão em

    crescimento. Em 2004 o governo australiano financiou uma força tarefa de pesquisa

    que obteve resultados em junho de 2005, e através deste grupo de trabalho foi lançada

    a Fundação Financial Literacy.

  • 34

    A participação do governo Australiano foi decidida através dos resultados

    daquela pesquisa que sugeriram que a melhoria das competências financeiras e a

    promoção da educação são fundamentais para a prosperidade econômica global e

    que os baixos níveis de literácia financeira atuam como uma barreira à participação

    do sistema financeiro. Uma grande investigação foi feita, tanto na Austrália como no

    exterior em relação aos níveis de literácia financeira em diferentes grupos

    demográficos, bem como a avaliação de programas de literácia financeira.

    Sherraden e Johnson (2007, p. 3), comentam que “o governo americano

    reconhece a importância da educação financeira” e criou em 2002 e 2003 o Escritório

    de Educação Financeira dentro do Departamento do Tesouro dos EUA e da Comissão

    de educação de literácia financeira nacional, respectivamente.

    Em função desta importância, em 2006 os Estados Unidos lançaram uma

    estratégia nacional de literácia, “estabelecendo ligações gratuitas, hotline e câmara

    de compensação da educação financeira e de materiais de literácia (MYMONEY,

    2016), bem como conferências regionais e encontros para criar a consciência pública

    e construir parcerias público-privadas”.

    A literácia financeira tem um papel preponderante na seguridade social de um

    país. Para as economias pobres, decisões de investimento podem ter implicações

    sérias na segurança financeira em longo prazo, pois populações que têm menos

    conhecimentos financeiros nos EUA são menos propensas às práticas financeiras

    recomendadas, como o planejamento para uma aposentadoria. (HUNG, PARKER e

    YOONG, 2009).

    Uma iniciativa interessante pode ser observada nos estudos em conjunto

    efetuados pela organização Microfinance Opportunities e Freedom from Hunger para

    desenvolvimento de um currículo de educação financeira para a indústria de micro

    finanças.

    A organização Freedom from Hunger trabalha em países em desenvolvimento

    onde a fome crônica acomete uma grande parte da população de um país. O foco está

    em regiões rurais, onde a pobreza e a fome se apresentam na sua pior forma.

    Atualmente a fundação trabalha em diversos países, tais como Benim, Bolívia, Brasil,

    Burkina Faso, Camboja, Colômbia, Equador, El Salvador, Gana, Guatemala, Haiti,

  • 35

    Honduras, Índia, Madagascar, Mali, México, Níger, Peru, Filipinas, Senegal, África do

    Sul, Togo, Uruguai e Vietnã.

    Com este propósito, iniciaram o lançamento do Programa de educação

    financeira global para populações de baixa renda em países em desenvolvimento

    através de,

    análises de mercado em que os clientes compartilharam suas metas

    financeiras e desafios, e seus atuais conhecimentos, habilidades, atitudes e

    práticas como relacionados para administrar o dinheiro. Como resultado

    deste programa, um currículo único adaptado para baixa renda populações

    dos países em desenvolvimento foi desenvolvido. Em dois anos e meio

    aproximadamente 350.000 clientes de micro finanças receberam formação

    em educação financeira e 19 milhões tiveram acesso a algumas das

    mensagens-chave de educação apresentadas através de rádio, televisão,

    imprensa e teatro de rua. (GRAY, SEBSTAD, COHEN, STACK, 2009, p.9)

    Os módulos do programa estavam sendo finalizados e priorizavam a formação

    dos eventos de treinamento para o instrutor. Sendo assim, desenvolveram um quadro

    para avaliar os resultados e impactos da educação financeira. (GRAY, SEBSTAD,

    COHEN, STACK, 2009)

    Entradas Saídas Resultados Impactos

    Concepção e oferta de educação

    financeira

    INDICADORES: * Qualidade de

    treinamento * Número de participantes

    Curto Prazo: Melhora de

    conhecimentos, habilidades e

    atitudes Financeiras Longo prazo: Melhora do

    comportamento que melhora os

    resultados financeiros

    NÍVEL DE

    INDICADORES Aumento de ativos

    Vulnerabilidade reduzida

    Melhorar bem-estar financeiro

    Experiências de aprendizagem

    financeiras

    MÉTODOS:

    * Divulgação de Acompanhamento

    * Lista de Verificação de

    Observação

    MÉTODOS:

    * Pré-E * Pós testes

    * Técnicas Foco-grupo de discussão

    e Participativa

    INDICADORES

    FINANCEIROS DE NÍVEL

    * O desempenho financeiro melhorou * Melhor

    capacidade de resposta

    Figura 3 – Estrutura para assessoria de resultados e impactos de educação financeira

  • 36

    Fonte: Autor GRAY, SEBSTAD, COHEN, STACK, 2009. Disponível em: Acesso em: 23 set. 2016.

    O desenvolvimento da educação financeira, bem como as estratégias de

    aprendizagem financeira são referidas como as entradas para o programa.

    As saídas consistem na qualidade de treinamentos entregues e a avaliação de

    participantes em atividades de educação financeira através de lista de verificação

    padronizada que foi desenvolvida para que organizações monitorem a qualidade da

    educação empregada na implementação.

    Os indicadores de resultados a curto e longo prazo foram desenvolvidos para

    cada um dos módulos, compostos por: indicadores de conhecimentos, habilidades,

    atitudes e comportamentos esperados. Estes indicadores foram considerados

    genéricos para que pudessem suportar os módulos.

    Aqueles indicadores são adaptáveis aos parceiros da organização,

    dependendo dosobjetivos das principais aprendizagens. Abordam-se aqui também os

    métodos de captação de dados e informações para alimentação dos indicadores.

    O impacto é avaliado por indicadores tanto no nível de clientes quanto no nível

    de instituições financeiras, assim como as formas de redução, implementação ou

    incremento nestes níveis.

    O estudo apresenta resultados satisfatórios em treinamento de educação

    financeira para povos em desenvolvimento através de três modalidades de projetos

    que dão ênfase em gestão de dívidas, poupança e orçamento.

    Na Europa, O EBF 1 (2009) produziu um relatório com as várias iniciativas feitas

    em educação financeira pelos membros de países europeus das promoções de

    melhores práticas entre instituições financeiras e o encorajamento de provisões de um

    alto nível de educação financeira no panorama das iniciativas europeias. O relatório

    salienta ainda a importância da abordagem de políticas de responsabilidade social

    corporativa.

    Para o EBF (2009, p. 2), literácia financeira é:

    1 European Bank Federation

  • 37

    central no complexo mercado financeiro de hoje. É um componente essencial

    do empoderamento do consumidor, uma vez que lhes dá uma compreensão

    de como gerenciar suas finanças na real economia, a fim de evitar riscos

    desnecessários, dívida excessiva e possível exclusão financeira. Além disso,

    ele permite que às pessoas melhorem sua compreensão das oportunidades

    financeiras que os produtos que estão disponíveis a eles podem oferecer.

    Um dos pontos de preocupação do relatório EBF (2009), é que para a maior

    parte dos membros o assunto mais comum ainda seria em programas de educação

    básica, como por exemplo: formas de utilização de conta bancária, habilidades de

    orçamentação e gestão de crédito e débito.

    De acordo com a pesquisa, “as questões de investimento, poupança e

    aposentadoria, seguros e gestão de risco têm menos destaque, indicando que estas

    podem ser áreas que requerem maior atenção” (EBF, 2009, p. 14).

    O relatório identifica várias atividades feitas por entidades de países europeus,

    destacando que as iniciativas não são somente direcionadas aos consumidores e

    bancos, mas também para o público em geral.

    Destaca em especial os benefícios de ensino às crianças sobre orçamentação

    e poupança, referenciando que a educação financeira poderá ajudá-los a

    compreender o valor do dinheiro, e mais que isso, proporcionar habilidades de

    extrema importância para a vida independente, tal como gerir empréstimos estudantis.

    Reforça aos adultos a habilidade para gerir grandes eventos tais como:compra

    de casa, planejamento de filhos para o casal e, principalmente, a habilidade e cultura

    de provisão financeira para situações de imprevistos, bem como investir de forma

    inteligente e também poupar para a aposentadoria.

    As iniciativas dos membros do EBF também visam a que pessoas com

    educação financeira ajudem outras pessoas a evitar armadilhas de fraude de

    pagamento.

    As pessoas que melhor entenderem questões financeiras fazem melhores

    escolhas de serviços financeiros para a sua necessidades específicas e são

    mais inclinados a dar ouvidos às advertências de risco regulatórias. Eles são

    menos propensos a comprar produtos que não precisam, ser amarrados em

    produtos que eles não entendem, ou assumir riscos que poderiam colocá-las

    em dificuldades financeiras. (EBF, 2009, p. 59)

  • 38

    Neste sentido, ajudar outras pessoas com menos educação financeira sugere

    certa habilidade em transmitir seus conhecimentos de forma que a pessoa a ser

    ajudada consiga compreender os conhecimentos transmitidos.

    A escolaridade tem, então, profundo impacto, pois conforme Lusardi (2010, p.

    17),

    literácia financeira é fortemente correlacionada com o comportamento que é

    indicativo da capacidade financeira. Mesmo que estas sejam correlações

    simples e não se controle outros determinantes do comportamento, aqueles

    com maior escolaridade são mais propensos a planejar a aposentadoria, são

    mais propensos a ter um fundo de emergência, e são menos propensos a se

    envolver em comportamentos de cartão de crédito que gere grande interesse

    em pagamentos e taxas.

    Conforme Lusardi (2010) os resultados daquela época da pesquisa nacional

    sobre literácia levantaram um preocupante estado da capacidade financeira da

    população adulta dos EUA.

    Em suas palavras,

    a maioria dos indivíduos não planeja para a aposentadoria ou toma

    providências contra choques. Gestão de empréstimos e da dívida muitas

    vezes resulta em interesse de pagamentos consideráveis e taxas e é notável

    quantas pessoas usaram métodos de alto custo de empréstimos nos últimos

    cinco anos. Níveis de conhecimento financeiro são notavelmente baixos e,

    além disso, há uma desconexão nítida entre o quanto as pessoas pensam

    que sabem e o que eles realmente sabem. ( LUSARDI, 2010, p. 19)

    Percebe-se grande movimentação em vários países sobre ações de pesquisa

    em educação financeira que com o passar do tempo acabam refinando os estudos,

    buscando métricas e frameworks que possam cada vez mais fazer análises

    comparativas entre países e cenários diferenciados.

    A Inglaterra em 2003 também investiu em uma estratégia nacional para a

    capacitação em habilidade financeira, inclusive aprovando o currículo para

    capacitação de crianças do Ensino Fundamental (TAYLOR, JENKINS, SACKER,

    2011).

    Estas pesquisas geraram dados e métricas para medição da capacidade de

    conhecimento financeiros no país, propiciando aos pesquisadores Atkinson, McKay,

    Kempson, e Collard (2006, 2007) identificarem cinco domínios contributivos: fazer face

  • 39

    às despesas, administrar o dinheiro, planejar com antecedência, escolher produtos e

    ficar informado. (TAYLOR, JENKINS, SACKER, 2011).

    No Reino Unido um estudo feito por Hoelzl, Kamleitner e Kirchler (2011, p. 621),

    aponta que “apesar da importância de tais operações, existem evidências de que as

    decisões de empréstimo frequentemente feitas a menos de bem-informados, estão

    sujeitos a vieses”, devido o mesmo se balizar sobre impactos psicológicos de estudos

    sobre a análise de longo prazo.

    Para um público com baixo conhecimento de literácia financeira, fica explícita

    a preferência por empréstimos de longo prazo, em detrimento ao valor a ser pago. “Há

    evidências de que um perfil de amortização crescente pode até ter benefícios

    hedônicos, embora os consumidores não estão cientes desses benefícios” (HOELZL,

    KAMLEITNER E KIRCHLER, 2011, p.628).

    Taylor, Jenkins e Sacker (2011), do Reino Unido sugerem que as pessoas com

    alta capacidade financeira têm mais controle sobre sua situação financeira e seu

    ambiente externo e são mais capazes de gerir os seus recursos econômicos e adotar

    estilos de vida desejados.

    Encontramos no estudo de Gathergood (2011) uma interessante relação entre

    autocontrole e literácia financeira nos consumidores do Reino Unido.

    Gathergood (2011, p.1), cita que “a falta de autocontrole e analfabetismo

    financeiro estão associados positivamente com o não pagamento do crédito ao

    consumo e auto relato de encargos financeiros excessivos de dívida”. O pesquisador

    relata que a maioria das amostras de sua pesquisa, encontrou mais a falta de controle

    do que analfabetismo financeiro para a explicação de consumidores com sobre

    endividamento.

    Sua pesquisa retrata que compras por impulso são facilitadas devido acesso

    fácil ao crédito, principalmente o maior uso de cartões de crédito, catálogos de venda

    por correspondência, crédito habitação e vales-salário. A facilidade destes acessos

    associada à falta de autocontrole financeiro torna-se agravante à sociedade,

    principalmente se a causa principal for o analfabetismo financeiro.

  • 40

    A pesquisa salienta ainda que “estas formas de crédito permitem acesso rápido

    em um ponto de compra e por isso podem ser usadas para facilitar gastos impulsivos”.

    (GATHERGOOD, 2011, p. 2).

    Fehr (2002), Heidhues & Kőszegi (2010) e Laibson (1997) apud Gathergood

    (2011), citam problemas de autocontrole como uma possível explicação para altos

    níveis de endividamentono cartão de crédito.

    Na Austrália desde 2003, a ANZ Survey faz pesquisas para melhoria da

    inclusão de pessoas vulneráveis, indivíduos e comunidades com baixa literácia

    financeira.

    Aquela organização conta com apoio de pesquisadores como David Blackmore

    do social Centro de Investigação, Stephen Prendergast de Prescience Research por

    sua alta qualidade de pesquisa e análise, bem como com a orientação e compromisso

    em iluminar questões de literácia financeira de Delia Rickard do ASIC e Catriona Lowe

    do Consumer Action Law Centre. O relatório da ANZ de 2011 é a quarta série

    publicada desde 2003.

    Para os pesquisadores da ANZ Survey (2011, p. 01),

    literácia financeira é a capacidade de fazer julgamentos informados e tomar

    decisões eficazes em relação ao uso e gestão de dinheiro, literácia financeira

    é, portanto, uma combinação de habilidades, conhecimentos e atitudes de

    pessoas e finalmente os seus comportamentos em relação ao dinheiro.

    A pesquisa ANZ Survey busca captar estes conceitos através de

    “comportamentos que podem ser considerados indicadores de literácia financeira de

    uma pessoa”. (ANZ SURVEY, 2011, p. 01)

    Dentre estes comportamentos, a pesquisa ANZ Survey (2011) destaca:

    Manter o controle das finanças, Planejar com antecedência, Escolha de produtos

    financeiros, Manter-se informado e Controle financeiro.

    De certa forma, identificados os comportamentos para avaliar a literácia

    financeira de uma pessoa, segue-se à análise de grupos para verificação de quais

    apresentam altos índices de literácia financeira e quais apresentam índices baixos.

    Além da análise principal, a pesquisa visa a explorar diferentes níveis de

    literácia entre grupos, associações com características de pessoas como: idade,

  • 41

    educação, circunstâncias domésticas, conhecimento financeiros e atitudes

    financeiras.

    O relatório deixa claro que as pesquisas não são completas, mas ajudam a

    compreender características de grupos de comunidades que podem ser beneficiadas

    em melhorar o nível de literácia financeira.

    Importante frisar que em 2011 o relatório já incluiu perguntas do programa de

    literácia financeira da OCDE, o que permitirá a análise comparativa entre medidas de

    literácia financeira australiana com benchmarks internacionais.

    Na Austrália também se apresenta um estudo muito interessante de literácia

    financeira associada a problemas psicológicos como compulsividade para compras, e

    o tema abre novas possibilidades de pesquisas tanto no campo da psicologia quanto

    no campo da literácia financeira.

    Os episódios sucessivos de compras compulsivas contribuem para os

    problemas financeiros que variam de dívida de cartão de crédito moderada à falência.

    (PRETO, 2007; ROBERTS & PIROG, 2004 apud PHAM, YAP e DOWLING, 2012).

    Os autores comentam que,

    se pessoas impulsivas são ensinadas a assumir atitudes financeiras positivas

    e consistentemente se envolverem em comportamentos pró-poupança,

    podem ser menos propensos a comprar itens supérfluos impulsivamente.

    (PHAM, YAP e DOWLING, 2012, p. 461).

    Na Islândia os pesquisadores Gardarsdóttir e Dittmar (2012, p. 1), relatam que

    “as pessoas que endossam valores materialistas têm mais preocupações financeiras,

    pior habilidades de gerenciamento de dinheiro e maior tendência para compras

    compulsivas e gastos”.

    Assim como outros estudos, também reforçam evidências de que estudos de

    motivos psicológicos de compra poderiam prever gastos excessivos e compras

    compulsivas.

    Segundo eles,

    os nossos resultados mostram que, a fim de minimizar e evitar gastos

    excessivos e dívida não é suficiente incrementar habilidades de

    gerenciamento de dinheiro das pessoas, embora seja necessário. Também é

  • 42

    vital para chegar à raiz do problema, os valores que orientam a busca por

    posses ao nível individual. (GARDARSDÓTTIR e DITTMAR, 2012, p. 10).

    Huston (2010) apud Nicolini, Cude e Chatterjee (2013), avalia uma amostra de

    pesquisa no periódico mensal de finanças de consumo da Universidade Estadual de

    Ohio (EUA) encontrando apenas 14% dos entrevistados classificados com “total

    cultura financeira”.

    Através da pesquisa feita em quatro países (Canadá, Itália, Reino Unido e

    EUA), Nicolini, Cude e Chatterjee (2013) expressam as “diferenças significativas” de

    conhecimento e o que necessitam saber sobre conhecimento financeiro entre as

    famílias entrevistadas.

    A pesquisa chama a atenção para essas diferenças e alerta que o

    desenvolvimento de ferramentas de avaliação de literácia, deve levar em

    consideração as diferenças culturais dos países.

    Danes e Haberman (2007), Lusardi e Tufano (2009), Van Rooij et al (2011),

    estão entre aqueles que examinaram a influência do gênero no conhecimento

    financeiro e concluem que os homens geralmente têm uma maior literácia

    financeira. Lusardi e Tufano (2009), Van Rooij et al (2011) e Gerardi (2010),

    demonstraram a influência da idade, com literácia financeira em geral,

    aumentando à medida que se envelhece. (apud NICOLINI, CUDE e

    CHATTERJEE, 2013, p. 691).

    McNeill (2013), pesquisadora do departamento de marketing da Universidade

    de Otago, Dunedin, Nova Zelândia, apresenta uma pesquisa um tanto não materialista

    sobre literácia financeira.

    Esse estudo nos chama a atenção para a geração Y dizendo que “este grupo

    nasceu em uma sociedade que reforça o “ser” através do “ter” e tem sido incentivada

    a consumir desde a infância”. (MCNEILL, 2013, p. 69).

    Sua pesquisa destaca a experiência de consumidores individuais jovens e

    como é a sua transição de consumo como parte de uma unidade familiar para o

    consumo de forma independente através da acumulação de dívida.

    Belk et al (2003 apud MCNEILL 2013, p. 70), comentam que “o apelo de objetos

    nem sempre é aparente no próprio objeto, mas no contexto social do consumidor

    individual, que precisa apresentar uma determinada imagem ou status dentro de uma

    certa hierarquia social”.

  • 43

    Para Bernthal e al (2005 apud MCNEILL 2013 p. 70), os estilos de vida são

    espaços socialmente construídos e categorizados por objetivos definidos pelo

    consumo.

    O desejo de alcançar estes objetivos pode estar ligado à uma inclusão em

    alguns grupos sociais, sendo a acumulação de dívida pessoal ligada à busca do

    materialismo e da unidade para criar ou manter um estilo de vida consumista, apesar

    de terem habilidades financeiras contraditórias (BRENNAN et al, 2011; LACHANCE,

    2012, apud MCNEILL, 2013).

    A autora menciona ao final da pesquisa que o crédito financeiro torna-se uma

    ferramenta transitória para os pesquisados se estabelecerem em seus meios ao invés

    de um serviço financeiro, legitimando-se a dívida como um direito.

    Na Finlândia, um estudo publicado no Jornal Internacional de Estudos do

    Consumidor, pelos autores Luukkanen e Uusitalo (2014) da Escola de Negócios e

    Economia da Universidade de Jyväskylä, traz à luz do saber o estudo Percepções dos

    jovens e das responsabilidades das organizações que promovem a capacidade

    financeira, tendo como principal resultado dos grupos pesquisados, que os jovens não

    tinham adquirido habilidades financeiras nas escolas e que a escola deveria ser

    promotora desta capacidade.

    Através de grupos focais, respostas confirmaram a relevância para a inclusão

    de gestão do dinheiro nos materiais de ensino e no currículo escolar ou pelo menos

    garantir a familiaridade dos jovens com atores e materiais que promovem a

    capacidade financeira.

    Nos Estados Unidos, Xiao, Chatterjee e Kim (2014) das Universidades de

    Rhode Island, Geórgia e Maryland, buscam identificar fatores associados à

    independência financeira percebida entre os jovens adultos americanos com idades

    entre 18 e 23 anos, enfatizando ao final da pesquisa que para se atingir o objetivo de

    independência financeira completa e bem-estar financeiro sustentável, necessita-se

    de estratégias que devem ser cuidadosamente estudadas, considerando-se valores

    de responsabilidade financeira bem como limitações psicológicas que devem ser

    abordadas nos programas de educação financeira.

  • 44

    No Quênia, Mwangi (2012) apud Njehia (2014, p. 9) cita que “a população do

    Quênia vive com menos de US$2 por dia e aproximadamente 11 milhões não têm

    acesso a serviços financeiros, especialmente os jovens e aqueles que vivem em áreas

    rurais”, sendo que “a maioria dos jovens está envolvida na economia informal e precisa

    de serviços financeiros, bem como formação profissional para melhorar seus meios

    de subsistência”.

    Neste sentido, Njehia (2014) propõe estudo sobre literácia financeira para

    autonomia da gestão financeira pessoal em empregados de uma empresa privada de

    Nairóbi, com resultados afirmativos sobre a necessidade primordial daquela

    alfabetização.

    De acordo com Moore (2003 apud NJEHIA 2014, p. 43),

    a alfabetização financeira afeta os indivíduos com baixa escolaridade, pois

    são mais propensos a confiar em outras pessoas como sua principal fonte de

    aconselhamento financeiro e são menos propensos a tomar decisões de

    investimento informadas tomada de decisão financeira.

    Em função da amplitude de temas que os estudos sobre literácia financeira

    passam a ser desenvolvidos, Lusardi e Mitchell (2014) identificam modelos de

    métricas nos estudos sobre literácia financeira no mundo e, como forma sintetizá-las,

    comentam quatro princípios usados na formulação de perguntas relativas aos estudos

    e pesquisas, sendo: simplicidade, relevância, brevidade e capacidade de se

    diferenciar. Em suas pesquisas realizadas em vários países, encontram

    características bastante interessantes, como por exemplo que

    não são apenas os homens mais velhos, geralmente financeiramente mais

    conhecedores do que as mulheres mais velhas, mas padrões semelhantes

    também aparecem entre os mais jovens respondentes” (LUSARDI e

    MITCHELL, 2014, p. 17).

    Estas pesquisadoras comentam que essas lacunas persistem em ambas

    pesquisas sobre alfabetização financeira, sejam básicas ou sofisticadas.

    De acordo Atkinson and Messy (2012 apud POTRICH, VIEIRA, CORONEL E

    BENDER FILHO, 2015, p.1) governos ao redor do mundo estão interessados em

    encontrar

  • 45

    abordagens eficientes para melhorar nível de literácia financeira da

    população através de criação ou melhoria das estratégias nacionais de

    educação financeira com o objetivo de oportunidades de aprendizagem na

    oferta de diferentes níveis de ensino.

    Na Alemanha, Mavlutova, Sarnovics e Armbruster (2015, p. 162) mencionam

    que

    as diretivas relativas à integração interdisciplinar de temas financeiros nas

    escolas já existem há muitos anos, materiais sobre educação financeira

    também e que eles são de alta qualidade e livre de publicidade.

    Há uma percepção de importância tanto em pesquisas acadêmicas quanto na

    aplicação empírica de literácia financeira para a sociedade, apoiando e deixando

    disponível de forma ampla e gratuita possibilidades de aprendizado.

    “Os materiais pedagógicos para quase todos os temas disponíveis podem

    ser baixados na internet gratuitamente. No entanto, na gramática geral das

    escolas, a literácia financeira ainda não é coberta suficientemente e também

    não é integrada nas aulas”. (MAVLUTOVA, SARNOVICS e ARMBRUSTER,

    2015, p. 170).

    Mavlutova, Sarnovics e Armbruster (2015), ressaltam que “as razões para isso

    podem ser encontradas nos currículos escolares congestionados, devido a curto

    período de tempo por um lado, e à falta de conhecimento financeiro dos professores

    em outro”.

    Conforme apresentado, as pesquisas em vários países do exterior tornam-se

    vastas e com ampla variedade de estudos. Há anos alguns países, principalmente os

    desenvolvidos, se preocupam com o tema literácia financeira, dispondo à sociedade

    algumas alternativas de educação financeira, bem como ao mundo acadêmico a cada

    ano, novos olhares ou olhares mais refinados sobre o tema. No Brasil, apesar da

    relevância, este tema ainda é pouco explorado, encontrando-se poucos trabalhos

    sobre literácia financeira.

    2.3 LITERÁCIA FINANCEIRA NO BRASIL

    O desenvolvimento do tema no Brasil ain