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LETRAS/PORTUGUÊS 5º PERÍODO LITERATURA BRASILEIRA: DAS ORIGENS AO ARCADISMO Fábio Figuereido Camargo

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LETRAS/PORTUGUÊS5º PERÍODO

LiTERATURA BRASiLEiRA: DAS ORiGEnS AO

ARcADiSmO

Fábio Figuereido Camargo

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Fábio Figuereido Camargo

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Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCHMércio Coelho Antunes

Chefe do Departamento de Comunicação e LetrasCoordenadora do Curso de Letras/Português a Distância

Ana Cristina Santos Peixoto

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AUTOR

FÁBIO FIGUEIREDO CAMARGO

Mestre em Literatura Brasileira pela UFMG, Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC Minas e, atualmente é membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Letras/Estudos Literários da UNIMONTES e professor de Literatura Brasileira do departamento de Comunicação e Letras.

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SUmÁRiO

Apresentação ..............................................................................................................................09

Unidade 1: Literatura dos viajantes ............................................................................................ 11

1.1 Literatura de informação .................................................................................................. 11

1.2 Literatura de invasão........................................................................................................ 12

1.3 Referências ...................................................................................................................... 26

Unidade 2 : Barroco ................................................................................................................... 27

2.1 Literatura barroca ............................................................................................................ 27

2.2 Referências ...................................................................................................................... 38

Unidade 3: Arcadismo ................................................................................................................ 39

3.1 Língua e linguagem ......................................................................................................... 39

3.2 Referências ...................................................................................................................... 46

Resumo ......................................................................................................................................47

Referências básicas e complementares ........................................................................................ 49

Atividades de Aprendizagem - AA ............................................................................................... 51

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APRESEnTAÇÃO

Caro(a) acadêmico(a)

Neste caderno você encontrará as informações sobre um pouco da literatura brasileira. Serão três séculos que passarão depressa demais, pois as informações aqui contidas são apenas para que você empreenda uma pequena viagem ao passado e comece a conhecer a literatura brasileira, desde seus princípios até ao final do século XVIII. Como todo manual, este não esgotará o assunto e nem possui essa pretensão.

As informações são básicas, simples e apontam uma possibilidade de leitura dos textos e dos autores que contribuíram para o que hoje conhecemos como literatura brasileira. Faltarão muitos autores, pois a disciplina é muito pequena diante da quantidade de autores e obras existentes, algumas delas ainda por serem levantadas e melhor estudadas. Você encontrará algumas dicas para que possa procurar por si mesmo novas entradas nessa história e poderá, inclusive, construir seu cânone. Tomei a liberdade de selecionar alguns autores e temas que mais me interessam e sem os quais um professor de Literatura Brasileira não pode ir para a sala de aula.

Bom proveito e bem vindo ao mundo da literatura brasileira!

O autor

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UniDADE 1LITERATURA DOS VIAJANTES

inTRODUÇÃO

Nesta unidade você irá travar contato com a História do Brasil e do que chamam erroneamente de descoberta. Na verdade o Brasil foi invadido por uma série de pessoas representantes de diversos segemntos como A Igreja Católica, a Coroa portuguesa que trouxeram seus escrivães, padres, comerciantes, navegadores e corajosos pesquisadores que escreveram sobre as terras e saus riquezas encontradas aqui. Os textos que você vai ler dão notícia sobre o Brasil e nos permite ler como foi a nossa colonização.

Figura 1: Rota de navegação de Pedro Álvares Cabralhttp://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://veja.abril.com.br/historia/descobri-mento Acesso em 10.08.2010

1.1 LiTERATURA DE inFORmAÇÃO

OS cOmEÇOS

Os portugueses chegam ao Brasil em 1500 e trazem sua bagagem cultural que se chocará definitivamente com a cultura que vão encontrar no lugar recém descoberto. A literatura brasileira começa assim a se conformar a partir de documentos escritos por portugueses que dão notícia sobre as terras que mais tarde serão reconhecidas como Brasil. Em um primeiro momento, pode parecer que esta é uma aula de história, mas é que para se falar em literatura brasileira temos que rever sua história e como esta literatura se conforma no tempo.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

Os textos produzidos aqui entre 1500 até aproximadamente 1601 trazem o inconveniente de não serem escritos por brasileiros, pois aqueles que assim poderiam ser chamados, os indígenas, não deixaram nenhum documento escrito em suas línguas, seja por falta de cuidado de conservação ou por mera censura das instituições que patrocinaram a colonização do Brasil: a Coroa portuguesa e a Igreja católica.

Os documentos que ficaram para contar essa história pertencem aos arquivos dos descobrimentos e dizem das relações travadas entre os europeus e seu modo de viver e dos autóctones que aqui viviam antes da chegada dos portugueses. Esses documentos são, muitas vezes, de ordem descritiva, representando pouco do que possa ser literário, embora tenham um caráter estético que não se separa de nenhuma produção humana. Para José Aderaldo Castelo, esses documentos não podem ser chamados de literatura brasileira, pois o Estado ou a Nação brasileira ainda não estavam constituídos e por isso ele denomina essas produções de Manifestações literárias na era colonial.

Essa produção abarcaria textos produzidos durante um período histórico situado entre o descobrimento e a publicação dos poetas árcades (CASTELLO, 1969). Para Luiz Roncari, a produção dos viajantes deve ser levada em consideração devido à documentação que ela imprime ao reconhecimento do Brasil no mundo europeu do século XVI (RONCARI, 2002). Para Flavio Kothe ela não passaria de documentação que foi elevada à condição de literatura quando não tinha essa função (KOTHE, 1997). O que interessa é que esses textos fazem parte do cânone literário brasileiro devido ao uso e à eleição que se fez destes para estudar a composição da nossa literatura. Embora haja uma série de textos produzidos nesse formato, o da literatura de viagens ou dos viajantes, daremos destaque à Carta, de Pero Vaz de Caminha e ao Tratado da terra do Brasil, de Pêro Magalhães de Gândavo.

1.2 LiTERATURA DA inVASÃO

Ano da Graça de Nosso Senhor de 1500. As caravelas de Pedro Álvares Cabral saíram de Portugal em direção às Índias orientais. Das sete caravelas, apenas 5 chegam ao que viria a ser chamado de Terra Papagali, Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Terra do pau Brasil, até finalmente ser nomeada de Brasil. A esquadra de Cabral trazia diversos homens que vão travar contato com os autóctones que se encontravam na costa brasileira no que hoje é denominado Santa Cruz de Cabrália, próximo à cidade de Porto Seguro (BA). Nessa esquadra, além dos Capitães dos navios, virá também o escrivão Pero Vaz de Caminha que será imortalizado pelo documento escrito ao Rei Dom Manuel dando as novas do achamento das terras.

Outros documentos que se destacam no período são: a) Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Souza (1587); b) Diálogo sobre a conversão do gentio, de Manuel da Nóbrega

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1.2.1 A carta de Pero Vaz de caminha

Figura 2: Foto do manuscrito da Carta de Pero Vaz de Caminhahttp://www.google.com.br//carreiradaindia.net/wp-content/carta-pero-vaz-de-caminha.jpg. Acesso em 12.09.2010

Lendo a Carta de Caminha, veremos como ele vai muito além do simples registro frio e burocrático dos fatos. Porém também veremos, pela quantidade de dados numéricos nela contidos, como ele está preocupado em ser preciso, mantendo o cálculo na base de seu pensamento. Assim está constantemente dando número de léguas, de homens, de papagaios, calculando o peso, as distâncias etc. (RONCARI, 2002, p. 25).

De acordo com Luiz Roncari, pode-se perceber que a Carta de Pero Vaz de Caminha, mesmo sendo um texto escrito como documento pode ser lido como um texto literário e suas possibilidades escapam à mera formatação do texto oficial. Por isso podemos ler a Carta de Caminha como um texto literário que se não funda a literatura brasileira dá ao país sua certidão de nascimento. Pela primeira vez o que viria a se tornar o Brasil, é mencionado em um documento no ocidente. Para Roncari a

Carta de Caminha e as de outros escrivães e cronistas, vol-tadas para suprir essas novas necessidades européias, per-tencem ao gênero de relato que se constituiu com vistas a reconstruir o imaginário europeu a partir de valores e de uma nova visão do mundo. [...] os focos centrais da Car-ta estiveram voltados para as terras e os homens, tentando captá-los e criar deles uma imagem cujo poder evocativo [...] dá à forma de seu registro também um valor literário. (RONCARI, 2002, p. 27).

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Por valor literário deve ser entendido aquilo que extrapolaria a mera função de documentação, constituindo a parte ficcional, em pontos nos quais o escrivão-narrador imagina possibilidades para a futura colônia, assim como as orações nas quais descreve os homens e as terras e sua abundância de recursos. Estão mais para a especulação do que propriamente para constatação da realidade, o que foge da conformação que um documento com este formato deveria ter. Desse modo citaremos alguns trechos da Carta e os analisaremos para que você possa perceber, na prática, o que estamos afirmando teoricamente.

Exemplo 1, a descrição dos autóctones:

Figura 3: Índios no Xingu Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com. Acesso em 13.09.2010

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem co-bertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acer-ca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de com-primento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber. (CAMI-

NHA, 1963, p. 2).

Na descrição dos índios, Caminha cumpre, em parte, com o princípio básico da descrição, ser neutro, apenas enumerar os objetos existentes, dando deles as informações que estão à vista. Mas em um determinado momento, o escrivão ultrapassa a fina linha que separa a

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neutralidade científica ou de sua profissão para fazer um juízo de valor. Utiliza a palavra “vergonhas”, para se referir aos órgãos sexuais dos autóctones e logo depois afirma que eles são “de grande inocência”. O código utilizado por Caminha, embora seja um uso costumeiro dos portugueses de seu tempo com relação à genitália, traz em si um julgamento de valor, pois se essa parte do corpo humano é chamada de vergonha, pode-se notar que há um tom pejorativo no uso da palavra. Da mesma forma, ao indicar que os habitantes do lugar encontrados são inocentes, ultrapassa o que é do seu dever de escrivão e utiliza a imaginação para descrevê-los. Como é possível Caminha afirmar que os índios são inocentes? Em base em que contato ele consegue fazer essa afirmação? Não estaria ele, imaginando coisas a partir da cultura que ele já possui?

Essa imagem dos autóctones está no mesmo grau de descrição da natureza, como se pode comprovar a seguir:

Exemplo 2, a natureza:

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infi-nitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! (CAMI-

NHA, 1963, p. 8-9).

Note que a informação dada por Caminha é de que não viram se há ouro em terra, o que demonstra claramente o que os portugueses vieram buscar aqui. De acordo com Luiz Roncari,

Os portugueses procuravam ouro, prata, terras férteis, que estavam se tornando escassas na Europa, drogas, especia-rias, madeiras, produtos tropicais e tudo o mais que trou-xesse lucro para o seu comércio. É a partir desse prisma que enxergam também os homens da terra, como seres passí-veis de serem usados na extração desses produtos. (RON-CARI, 2002, p. 47).

O próximo passo de Caminha é alardear a qualidade das terras, dos ares e das águas. O excesso de entusiasmo se justifica devido ao fato de que quanto melhores as qualidades da terra achada mais fácil para a manutenção da empresa das grandes navegações, empresa arriscada da qual se precisava obter muito lucro. O exagero fica claro quando o escrivão afirma que nessas terras a abundância de águas indicaria um bom lugar para plantação. Note que o Brasil continua com a fama de paraíso terrestre conforme era o desejo no imaginário coletivo europeu do século XVI.

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Dessa forma, Caminha projeta e colabora para a criação da imagem do Brasil no exterior. O Brasil continua a atrair o olhar estrangeiro da mesma forma como fascinou o olhar de Caminha. Das relações entre os indígenas e os portugueses, o escrivão nos dá uma mostra do choque cultural e da dificuldade de comunicação entre eles.

Exemplo 3, nova descrição dos autóctones:

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêsse-mos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as apa-rências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nos-so Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons, por aqui nos trouxe, creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim! (CAMINHA, 1963, p. 7).

É preciso notar como a dificuldade de comunicação entre aqueles que aqui chegam e aqueles que aqui estavam produz uma leitura por parte daquele que domina a escrita formal e o leva a querer aproximar os autóctones do modo de vida português. Como parâmetro, os portugueses têm seu modo de vida e não acatam o modo de viver dos indígenas. Desse modo, a tentativa de Caminha está em fazer com que o rei salve os índios e Deus, o deus cristão, seria o responsável pelo encontro com esses homens. Para Roncari, a inocência dos índios, apontada por Caminha equivale à comparação destes com crianças:

Pela concepção da época sobre a educação, a inocência os equipara às crianças, como páginas em branco [...] junto com a cristianização, os portugueses não perdem tempo em aproveitar-se do indígena como mão-de-obra fácil de ser utilizada no escambo ou como serviçais [...] Um propósito como esse significava que, na relação entre as duas formas de organização social, uma deveria perecer, à medida que acabasse subordinando-se à outra [...] os indígenas seriam integrados à ordem portuguesa como humildes serviçais, escravos [...] (RONCARI, 2002, p. 47).

Desse modo foi narrado e descrito o primeiro encontro. Depois da invasão, ainda tímida por parte da esquadra de Cabral, o Brasil só viria a ser tratado como colônia em 1530. Aí sim começa a verdadeira exploração do solo e do povo narrado e descrito por outros cronistas. Pêro Magalhães

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de Gândavo é um deles e você verá a seguir um trecho do seu Tratado da terra do Brasil.

1.2.2. Tratado da Terra do Brasil, de Pero magalhães de Gândavo

Pero Magalhães de Gândavo viveu no Brasil entre 1565 e 1570. Seu livro faz parte da estratégia do Rei Português de atrair os colonos para as terras Brasileiras. Ele descreve as belezas naturais da região que conhece e dos costumes dos índios que avista aqui. É preciso salientar que Gândavo não vive entre os índios, mas tem deles uma impressão passada por outros viajantes que aqui estiveram e experimentaram alguns dos costumes dos autóctones. De acordo com Luiz Roncari,

[...] além de registrar fatos de interesse tanto para a história política e social quanto para a história natural, falando “Da condição e costumes dos índios da terra”, Gândavo fixou com muita precisão e detalhe como os portugueses viram e julgaram a vida estranha desses homens estranhos que en-contraram nas terras do Brasil. Não devemos perder de vista que a vida dos indígenas contrariava em tudo os valores que ordenavam a vida dos cristãos europeus, que observavam tudo aqui com estranheza. (RONCARI, 2002, p. 51).

Os trechos que serão apresentados aqui dizem respeito aos rituais antropofágicos realizados pelos índios descritos por Gândavo. Neles é possível notar como o europeu via as relações dos indígenas entre si. Percebiam nessas relações a violência dos indígenas.

Exemplo 1, o modo de vida dos autóctones:

Não se pode numerar nem compreender a multidão de bárbaro gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil; porque ninguém pode pelo sertão adentro cami-nhar seguro, nem passar por terra onde não acha povoa-ções de índios armados contra todas as nações humanas, e assim como são muitos permitiu Deus que fossem contrá-rios uns dos outros, e que houvesse entre eles grandes ódios e discórdias, porque se assim não fosse os portugueses não poderiam viver na terra nem seria possível conquistar tama-nho poder de gente. (GANDAVO, 1980, p. 14).

Depois de afirmar da dificuldade que esses povos tem em se relacionar com os estrangeiros e entre si, Gândavo entra em questões como a organização dos indígenas que, como Caminha havia apontado, seria um sistema (des)organizado. Assim, segundo Gândavo, os índios não parecem ter chefes, mas “um principal” como também não possuem em

Leia a Carta de Caminha completa em

http://www.cce.uffc.br/~nupill/literatura/carta.html

e escreva um parágrafo analisando como se dá a visão

de Caminha com relação à natureza encontrada aqui no

Brasil pelos portugueses.Poste no blog para seu tutor.

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sua língua algumas palavras: “não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem justiça e desordenadamente. (GANDAVO, 1980, p. 14). Segue-se a descrição do ritual antropofágico.

Exemplo 2, o ritual antropofágico:

Quando estes índios tomam alguns contrários, se logo com aquele ímpeto os não matam, levam-nos vivos para suas aldeias (ou sejam os portugueses ou quaisquer outros índios seus inimigos), e tanto que chegam a suas casas lançam uma corda mui grossa ao pescoço do cativo para que não possa fugir, e armam-lhe uma rede em que durma e dão-lhe uma índia moça, a mais formosa e honrada que há na aldeia, para que durma com ele, e também tenha cuidado de o guardar, e não vai para parte que não o acompanhe. Esta índia tem cargo de lhe dar muito bem de comer e beber; e depois de o terem desta maneira cinco ou seis meses ou o tempo que querem, determinam de o matar; e fazem gran-des cerimônias e festas aqueles dias, e aparelham muitos vinhos para se embebedarem, e fazem-nos da raiz duma erva que se chama aipim, a qual fervem primeiro e depois de cozida mastigam-na umas moças virgens espremem-na nuns potes grandes, e dali a três ou quatro dias o bebem. E o dia que hão de matar este cativo, pela manhã se al-guma ribeira está junto da aldeia levam-no a banhar nela com grandes cantares e folias tanto que chegam com ele à aldeia, atam-no pela cinta com quatro cordas cada uma para sua parte e três, quatro índios pegados em cada ponta destas e assim o levam ao meio dum terreiro, e tiram tanto por estas cordas que não se possa bolir para uma parte nem para outra, as mãos deixam soltas porque folgam de o ver defender com elas. Aquele que o há de matar empena-se primeiro com penas de papagaio de muitas cores por todo o corpo: há de ser este matador o mais valente da terra, e mais honrado. Traz na mão uma espada dum pau mui duro e pesado com que costumam de matar, e chega-se ao padecente dizendo-lhe muitas cousas e ameaçando-lhe sua geração que o mesmo há de fazer a seus parentes; e depois de o ter afrontado com muitas palavras injuriosas dá-lhe uma grande pancada na cabeça, e logo da primeira o mata e lhe fazem pedaços.

Figura 4: O ritual antropofágico pintado por Theodo-re de Bry e publicado em 1592. Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com. Acesso em 12.09.2010

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Está uma índia velha com hum cabaço na mão, e assim como ele cai acode muito de pressa com ele a meter-lho na cabeça para tomar os miolos e o sangue: tudo enfim cozem e assam, e não fica dele cousa que não comam. Isto é mais por vingança e por ódio que por se fartarem. Depois que comem a carne destes contrários ficam os ódios confirma-dos e sentem muito esta injúria, e por isso andam sempre a vingar-se uns contra os outros. E se a moça que dormia com o cativo fica prenhe, aquela criança, que pare depois de criada, matam-na e comem-na e dizem que aquela me-nina ou menino era seu contrário verdadeiro por isso esti-mam muito comer-lhe a carne e vingar-se dele. E porque a mãe sabe o fim que hão de dar a esta criança, muitas vezes quando sente prenhe mata-a dentro da barriga e faz com que morra. E acontece algumas vezes afeiçoar-se tanto a este cativo e tomar-lhe tanto amor que foge com ele para sua terra para o livrar da morte. E assim alguns portugueses há que desta maneira escaparam e estão hoje em dia vivos; e muitos índios que do mesmo modo se salvaram, ainda que são alguns tão brutos que não querem fugir depois de os terem presos; porque houve algum que estava já no ter-reno atado para padecer e davam-lhe a vida e não quis senão que o matassem, dizendo que seus parentes o não teriam por valente, e que todos correriam com ele; e daqui vem não estimarem a morte; e quando chega aquela hora não a terem em conta nem mostrarem nenhuma tristeza naquele passo. (GANDAVO, 1980, p. 15-16).

É realmente de se espantar o raciocínio dos portugueses ao se depararem com tamanho sucesso! Acredito que até você esteja perplexo! Vivendo em uma cultura cristã que afirma que a vida humana seja a mais importante, acostumados a comer apenas carnes de animais ditos irracionais esses homens jamais poderiam entender a ordem que os índios possuíam. Desde o fato do aprisionamento do guerreiro, passando pela relação deste com a índia que lhe serve de guarda e amante até o modo como é morto, tudo é novidade para os portugueses. Por isso tamanho espanto. Quando se fala ainda o modo como se come a carne do sujeito, então tudo fica muito mais complicado. Os europeus já haviam abolido o canibalismo há muito tempo e se deparam com esse tipo de prática em solo brasileiro. Isso torna os autóctones ainda mais estranhos aos olhos do português. Ele não sabe o que fazer com tanta violência.

Mais uma vez fica claro o choque cultural existente entre os dois povos que se (dês)encontram nas terras brasileiras. Não se percebe como os indígenas davam importância a esses rituais e o quanto isso os estimulava, pois comer a carne de outro guerreiro os fazia, em suas crenças, mais fortes. Pesquisas posteriores iriam demonstrar a força do canibalismo para os rituais simbólicos dos indígenas. Ao não compreender os povos conquistados os europeus não deram conta de conviver e isso trouxe o que toda conquista traz: os mais fracos ou se submetem ou desaparecem.

Notem como esses textos representam esse imaginário que aqui se constrói sobre a terra e sua natureza selvagem e exuberante e sobre a constituição do povo da terra. Assim, espero que vocês tenham achado

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válido ler esses textos e procurem ler os mesmos na íntegra para aprender mais sobre o Brasil. A literatura que apresenta fatos estéticos também está trazendo em si o seu contexto de produção e refletindo sobre ele. Outro tipo de literatura também foi produzido por aqui, a literatura dos padres jesuítas que tinham como função educar os povos aqui encontrados, é o que vocês verão no próximo tópico.

1.2.3 Literatura Jesuítica

Dá-se o nome de Literatura Jesuítica aos textos produzidos no Brasil pelos padres da Companhia de Jesus que para cá vieram a fim de catequizar os índios, conforme Caminha, para “amansá-los e apaziguá-los”. A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola em 1534. Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 na cidade da Bahia. Os principais escritores jesuítas no Brasil são José de Anchieta que chega em 1553 e Antônio Vieira, que você verá na próxima unidade, pois se trata de um escritor exemplar do barroco, que chega em 1614 e ingressa na Companhia de Jesus em 1623. Há vários outros padres escritores, mas nosso tempo é curto para ver e analisar suas obras, como os padres Manuel da Nóbrega, André João Antonil, dentre outros. Anchieta e Vieira são padres que não se atêm a seu papel de missionários, mas deixam inúmeros documentos, dentre cartas, sermões, poesias, tratados e autos.

1.2.3.1 José de Anchieta

Figura 5: Anchieta prega aos índios brasileiros. Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com.Acesso 13.09.2010

A poesia de José de Anchieta é carregada de sua missão nas terras brasileiras. Escrita praticamente para ser recitada nas comemorações religiosas na colônia trata das relações do crente com os dogmas religiosos, ensinando aos índios como lidar com a hóstia, com os milagres dos santos e mártires da igreja católica. De acordo com Eduardo Portella, Anchieta é o

Assista ao filme Hans Staden, de Luís Alberto Pereira, produzido em 1999, baseado nas memórias de Hans Staden, Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil. Nesse filme você verá a encenação do ritual antropofágico. Leia também o texto completo de Pero Magalhães de Gândavo que você encontra em http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda1.html

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primeiro poeta do nosso quinhentismo, sendo o iniciador de nossa poesia. (PORTELLA, 1982, p. 5). Dono de uma poesia simples, no sentido mesmo de que seus poemas são fáceis de serem entendidos, pois seus textos são meramente catequizadores. Para Nelson Werneck Sodré, não é simples aceitar o papel de Anchieta como o precursor da poesia brasileira. Segundo ele:

Aceitar, sem mais discussão, como literatura, e como lite-ratura brasileira, aquelas produções de autoria incerta, a maior parte das quais constituíam simples paráfrases que se destinavam a complementar e facilitar a conversão do gentio e que, por isso, se adaptavam a muito do que eles conheciam e entendiam, parece subordinação a um critério elástico demais e vazio de exigências. (SODRE, 1964, p. 82).

Como estamos de acordo com Sodré, faremos apenas a análise de um dos autos de Anchieta, devido ao fato de estes apresentarem mais qualidades estéticas nos seus escritos. Escolhemos aqui o Auto de São Lourenço. Os autos de Anchieta são produzidos com o intuito de catequizar os índios demonstrando a estes qual o caminho a ser seguido para que se tenha uma vida exemplar como Cristo ensinou. Esses autos eram escritos em três línguas ao mesmo tempo; Castelhano, Português e a língua mais falada na costa do Brasil, como Anchieta irá tratar a língua dos indígenas, ao juntar todos os dialetos e línguas faladas aqui na denominação de Tupi-Guarani. Para Leodegário Azevedo Filho, Anchieta se aproveita do gosto dos autóctones pela festa, pela dança e as utiliza em seus autos. Segundo o autor:

Sabido é, com efeito, que o índio brasileiro manifestava, como qualquer povo primitivo, acentuado gosto pelas re-presentações, pela dança e pelo canto acompanhados de instrumentos rudimentares. Habilmente, pois, Anchieta explorou essas tendências naturais do habitante da terra, incutindo nele, através de pequenos jogos dramáticos, não apenas a moral católica, mas o respeito aos principais dog-mas da Igreja. (AZEVEDO FILHO, 1967, p. 19).

A leitura do crítico procede, mas não esclarece o quanto essas danças e músicas são tomadas de forma simplificada para valorização da cultura portuguesa e cristã. Isso traz uma descaracterização da cultura autóctone que muito contribuiu para a desaparição da mesma. O Auto de São Lourenço foi representado em 1583 no terreiro da Capela de São Lourenço em Niterói e tem o seguinte tema:

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Após a cena do martírio de São Lourenço, Guaixará chama Aimbirê e Saravaia para ajudarem a perverter a aldeia. São Lourenço a defende, São Sebastião prende os demônios. Um anjo manda-os sufocarem Décio e Valeriano. Quatro companheiros acorrem para auxiliar os demônios. Os im-peradores recordam façanhas, quando Aimbirê se aproxi-ma. O calor que se desprende dele abrasa os imperadores, que suplicam a morte. O Anjo, o Temor de Deus, e o Amor de Deus aconselham a caridade, contrição e confiança em São Lourenço. Faz-se o enterro do santo. Meninos índios

dançam. (ANCHIETA, 1967, p. 57).

Nesse auto, Anchieta, como em outros de sua autoria, mistura uma série de culturas e figuras destas para enriquecer sua pregação. Desse modo são chamados à cena imperadores romanos como Décio e Valeriano que perseguiram os cristãos e tiveram como fim, padecer nas mãos dos demônios. Ao mesmo tempo mostra São Lourenço que sofreu o martírio durante a perseguição de Valeriano, no ano de 258, foi amarrado sobre uma grelha, assado vivo e lentamente. Os demônios possuem os nomes de Aimbirê e Guaixará, nomes de chefes indígenas que tentaram invadir o povoado de Niterói. Desse modo, os demônios são a encarnação de tudo aquilo que não é permitido se fazer como beber o cauim, festejar e dançar em dias santos, andar nus, manter relações sexuais fora do casamento, comer carne humana.

Assim, Anchieta colabora para a educação dos indígenas dentro das projeções já colocadas por Caminha e Gândavo. Leia o trecho abaixo do Auto de São Lourenço:

SÃO LOURENÇO

Mas existe a confissão,

bom remédio para a cura.

Na comunhão se depura

da mais funda perdição

a alma que o bem procura.

Se depois de arrependidos

os índios vão confessar

dizendo: “Quero trilhar

o caminho dos remidos”.

- o padre os vai abençoar.

Das primeiras questões apontadas por Anchieta em seu Auto é a relação dos índios com os dogmas religiosos. Assim os indígenas são apresentados aos rituais da igreja católica. Em um primeiro momento, a necessidade da confissão para a remissão dos pecados. Após essa, a

Cauim: bebida alcoólica tradicional dos povos indígenas do Brasil desde tempos pré-colombianos. [...] A preparação de Cauym (como outras tarefas de arte culinária) é um trabalho estritamente feminino, sem envolvimento dos homens. Pedaços finos de mandioca são fervidos até ficarem bem cozidos e se deixa esfriar. Então as mulheres e meninas se reúnem ao redor da panela; levam uma porção até a boca, mastigam bem, ensalivam e botam a porção em um segundo pote. Enzimas na saliva convertem essa pasta em açúcares fermentáveis. A pasta de raiz mastigada é reposta no fogo e é mexida completamente com uma colher de pau até cozinhar. Por fim, a pasta é colocada em grandes potes de barro, para fermentar. [...] A bebida resultante é opaca e densa como sedimentos de vinho e tem gosto de leite azedo. Há variedades claras e escuras de Cauim, e a bebida pode ser misturada com várias frutas. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cauim

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comunhão que substitui o ritual do canibalismo de maneira simbólica, pois se recebe a hóstia, representante do corpo de Cristo. Esta purifica a todos e traz a ligação do homem com o divino. Depois de proceder a esse ato, os índios estariam salvos e trilhariam o bom caminho. Outros pontos da cultura autóctone serão abordados e desqualificados no mesmo auto, veja-se o caso da antropofagia:

AIMBIRÊ

Vou morder seu coração.

SARAVAIA

E os que não nos acompanham

sua parte comerão.

(Chama quatro companheiros para que os ajudem.)

Tataurana,

traze a tua muçurana.

Urubu, jaguaruçu,

traz a ingapema. Sús

Caborê, vê se te inflama

pra comer estes perus.

(Acodem todos os quatro com suas armas)

TATAURANA

Aqui estou com a muçurana

e os braços lhe comerei;

A Jaguaraçu darei

o lombo, a Urubu o crânio,

e as pernas a Caborê

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URUBU

Aqui cheguei!

As tripas recolherei,

e com os bofes terei

a panela a derramar.

E esta panela verei

minha sogra cozinhar.

JAGUARUÇU

Com esta ingapema dura

as cabeças quebrarei,

e os miolos comerei.

Sou guará, onça, criatura,

e antropófago serei.

(ANCHIETA, 1967, p. 98-99)

Nessas falas dos diabos, todos batizados com nomes indígenas, todo o ritual apresentado por Gândavo, aparece para desqualificar os rituais dos autóctones. Os diabos são mostrados em toda sua maldade impingindo a todos seus gostos. A violência é encenada através da partição do corpo a ser devorado e à comparação dos índios/diabos com os animais mais temidos como a onça e o lobo. Por fim, os índios/diabos utilizam a palavra antropófago para se vangloriarem de seus “malfeitos” na visão do branco europeu. Essa relação de desqualificação é muito comum nas representações produzidas por Anchieta em seus textos, pois, pedagogicamente, utilizar-se da cultura do subalterno para imprimir nela a cultura dominante, elencando só os seus defeitos funciona perfeitamente.

No quinto ato, Anchieta apresenta a vitória de Deus sobre os diabos, tendo São Lourenço vencido a todos e trazendo a tranquilidade ao povoado, conforme se pode ver a seguir:

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QUINTO ATO

Dança de doze meninos, que se fez na procissão de São Lourenço.

1º) Aqui estamos jubilosos

tua festa celebrando.

Por teus rogos desejando

Deus nos faça venturosos

nosso coração guardando.

2º) Nós confiamos em ti

Lourenço santificado,

que nos guardes preservados

dos inimigos aqui

Dos vícios já desligados

nos pajés não crendo mais,

em suas danças rituais,

nem seus mágicos cuidados.

3º) Como tu, que a confiança

em Deus tão bem resguardaste,

que o dom de Jesus nos baste,

pai da suprema esperança.

(ANCHIETA, 1967, p. 127)

Ao final, com a presença das crianças indígenas, o autor apresenta a esperança de uma nova forma, modo de olhar e viver a religiosidade cristã no Brasil, pois os indiozinhos cantam alegremente a felicidade de serem catequizados e salvos pelos ensinamentos dos jesuítas. Essa entronização dos índios na cultura cristã e católica se encaminha, embora sua estrutura aparente não deixe transparecer, para a falta de respeito e para a destruição da cultura indígena.

Leia o Auto de São Lourenço, de José de Anchieta disponível

em http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/

download/Auto_de_Sao_Lourenco.pdf

Analise as relações entre a visão dos jesuítas e dos

indígenas sobre os dogmas religiosos. Encaminhe sua

análise ao tutor.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

ANCHIETA, José. Auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967

AZEVEDO FILHO, Leodegário. Prefácio. In: ANCHIETA, José. Auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. São Paulo: Dominus, 1963.

CASTELLO, José Aderaldo. Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix, 1969.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil; História da Província Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.

KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. Brasília: UNB, 1997.

PORTELLA, Eduardo. José de Anchieta: Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1982.

RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira. Dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2002.

SODRE, Nelson Weneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.

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UniDADE 2BARROCO

INTRODUÇÃO:

Nesta unidade você irá estudar o Barroco, movimento que grassou no Brasil a partir do século XVII ao século XVIII. Manterá contato com dois dos autores mais importantes desse movimento: Antônio Vieira e Gregório de Matos. Conhecerá a riqueza de suas escritas recheadas de metáforas, paradoxos, antíteses, dentre outras figuras de linguagem.

2.1 LiTERATURA BARROcA

Figura 6: Teto da Igreja de São Francisco de Assis em Outro Preto.Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://lh3.ggpht.com/adriano14.Acesso em 13.09.2010

O Barroco brasileiro é fruto do tempo: um tempo entre o passado europeu e o do futuro de uma colônia recém implantada. Para cá vêm os homens que tentam trazer sua cultura e com ela a religião dos jesuítas que impregnam a vida das pessoas e ditam as normas de conduta. Nessa produção que vai da arquitetura dos templos à produção de textos específicos para o uso nos mesmos templos se destaca a produção literária que corre por fora e dedica-se a cultuar a forma. Desse modo há um paralelo entre a arquitetura, a música, a pintura e a escultura barrocas refletidas na produção literária. As voltas, volutas, o excesso, o jogo de luz e sombra, as dualidades são utilizadas pelos poetas assim como os músicos.

Nas obras de Gregório de Matos e Antônio Vieira essa estética se faz mais que presente, pois eles, melhor que ninguém souberam representar os excessos barrocos. Em seus textos desfilam as mais diversas características dignas do que se possa chamar de barroco.

Voluta: forma em espiral muito comum no reino animal, que

lembra um caramujo. Há séculos vem sendo utilizada

em exemplos aplicados na geometria, além de servir como objeto de adorno,

no arremate de capitéis de colunas, modilhões, mísulas e outros. É também um dos símbolos da arquitetura dos

períodos Maneirista e Barroco.Jogo de Luz e sombra: O

chiaroscuro (palavra italiana para "luz e sombra" ou, mais

literalmente, «claro-escuro») é uma das estratégias inovadoras

da pintura de Leonardo da Vinci, pintor renascentista do século XV, junto ao sfumato. O chiaroscuro se define pelo

contraste entre luz e sombra na representação de um objeto.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki

http://www.guerrilhageek.com.br/gg/index.php/geekinthepink/

afinal-a-tecnologia-e-azul-ou-rosa/

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2.1.1 Antônio Vieira

O Padre Antonio Vieira, embora tenha nascido em Portugal veio para a Bahia aos 6 anos de idade. Principiou sua carreira de pregador em 1633 e foi para Portugal em 1640. Luta em defesa dos índios no Maranhão e prega contra a invasão holandesa.

Figura 7: Retrato estilizado do pe. Antônio Vieira.F o n t e : h t t p : / / w w w . g o o g l e . c o m . b r /imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com. Acesso em 13.09.2010

De acordo com Eugênio Gomes,

O sermonário político de Vieira é, por conseqüência, o que primeiro se impõe a um estudo mais profundo de sua obra, não tanto pelo lado pragmático de suas idéias, como por causa da conversão dessas idéias em argumento teológico, mediante engenhoso processo de acomodação analógica entre um ou mais episódios do Velho ou do Novo Testa-mento e determinado acontecimento histórico, que o pre-gador tomava a si explicar ou interpretar por esse meio. (GOMES, 1968, p. 7).

Desse modo, pode-se notar que o Padre Vieira foi um grande sermonista que utilizava da sua função para educar os povos aos quais pregava. Nesses sermões Vieira fazia uso de todos os artifícios barrocos possíveis como a metáfora, a alegoria, a hipérbole, os hipérbatos em longos períodos argumentativos que, à primeira vista, parecem incompreensíveis, mas basta um pouco mais de cuidado na leitura para entender a clareza da proposta do autor, embasada em antíteses e paradoxos os mais diversos.

Metáfora: substituição de uma expressão por outra que representa a palavra substituída, produzindo, quase sempre, uma comparação. antítese: aproximação de termos ou frases que se opõem pelo sentido. hipérbato: alteração ou inversão da ordem direta dos termos na oração, ou das orações no período. hipérbole: exagero de uma idéia com finalidade expressiva alegoria: expressão que transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Embora se apreça com a metáfora vai além da simples comparação.

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Ainda de acordo com Gomes, os melhores sermões de Vieira são os que ele se colocava em combate, defendendo a liberdade do homem. (GOMES, 1968, p. 9). Vieira foi um grande defensor da missão cristianizadora e não negou esforços em defender os índios e a fé cristã. Nessa unidade iremos analisar uma parte do “Sermão da sexagésima” pois, segundo Gomes, esse sermão é um ótimo exemplo para se entender a parenética de Vieira. Há uma diversidade de aspectos “tornando-se particularmente indicado para o exame do emprego da metáfora, do respectivo desenvolvimento em alegorias, além de vários outros recursos oratórios”. (GOMES, 1968, p. 10).

A seguir um trecho do “Sermão da sexagésima”:

Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode pro-ceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três con-cursos: há-de concorrer o pregador com a doutrina, persu-adindo; há-de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumian-do. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a con-versão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (VIEIRA, 2010)

De acordo com José Aderaldo Castello, nos sermões de Vieira, o tema é sempre tomado a partir do presente experimentado pelo padre e seus fieis. “[...] E o orador o expõe com rigor e energia, interrogando e respondendo, apostrofando e deprecando, censurando e propondo, ao mesmo tempo, que extrai do tema a matéria do sermão”. (CASTELLO, 1969, p. 94).

Essa forma de organizar o sermão tem a ver com a opção de Vieira pela pedagogia que o próprio gênero utiliza como ponto de partida. O sermão já se organiza como monólogo, embora dirigido a um público maior que um só interlocutor. No entanto, o Padre se coloca como aquele que, tendo o dom da oratória e conhecedor da palavra de Deus, pode esclarecer, iluminar os espíritos néscios carentes da palavra divina. Daí a força de convencimento que deve ter o pregador conforme vai dizer o próprio Vieira:

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Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que coisa é a con-versão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (VIEIRA, 2010)

Note como Vieira se vale de um sistema de enumeração, indicando a existência de três coisas para que o homem se veja a si mesmo. Depois de enumerá-las, ele as descreve, demonstrando suas funções, para dar continuidade a seu raciocínio, comparando-as com a palavra do pregador e dando aos sujeitos envolvidos nas ações de conversão da alma, o pregador, Deus e o homem, suas funções pertinentes. Assim a metáfora dos olhos e do espelho é utilizada como modo de esclarecimento aos ouvintes sobre como age a palavra de Deus e como devem fazer os pregadores. Isso é utilizado por Vieira para explicitar qual é sua ideia do que deva ser um bom sermão, conforme se pode ver a seguir:

Assim há-de ser o pregar. Hão-de cair as coisas hão-de nascer; tão naturais que vão caindo, tão próprias que ve-nham nascendo. Que diferente é o estilo violento e tirânico que hoje se usa! Ver vir os tristes passos da Escritura, como quem vem ao martírio; uns vêm acarretados, outros vêm arrastados, outros vêm estirados, outros vêm torcidos, ou-tros vêm despedaçados; só atados não vêm! Há tal tirania? Então no meio disto, que bem levantado está aquilo! Não está a coisa no levantar, está no cair: Cecidit. Notai uma alegoria própria da nossa língua. O trigo do semeador, ain-da que caiu quatro vezes, só de três nasceu; para o sermão vir nascendo, há-de ter três modos de cair: há-de cair com queda, há-de cair com cadência há-de cair com caso. A queda é para as coisas, a cadência para as palavras, o caso para a disposição. A queda é para as coisas porque hão--de vir bem trazidas e em seu lugar; hão-de ter queda. A cadência é para as palavras, porque não hão-de ser esca-brosas nem dissonantes; hão-de ter cadência. O caso é para a disposição, porque há-de ser tão natural e tão desafecta-da que pareça caso e não estudo: Cecidit, cecidit, cecidit. (VIEIRA, 2010).

Essa modalidade de texto vai constituir um forte movimento no Brasil do século XVII e XVIII, tempo em que os sujeitos utilizam de seus conhecimentos para poderem exercitar sua oratória, além de ser utilizado como pedagogia sobre os espíritos que necessitam de ser educados para o bom caminho da religião. Vieira compara o pregador ao semeador da

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parábola contada por Jesus Cristo no Novo Testamento. Como o semeador, o pregador faz sua pregação, espalhando a palavra de Deus e esta cai, como as sementes na terra, nos ouvidos dos homens. Note-se a metáfora vieiriana produtora de diversas alegorias, pois sua conclusão é de que se a palavra de Deus for bem pregada/semeada pelo pregador ela poderá gerar frutos na terra/ouvido dos homens.

O que parece obscuro em Vieira nada mais é do que fruto do estilo próprio do barroco que se multiplica em hipérboles e hipérbatos para repetir exaustivamente em seu excesso uma verdade já preestabelecida pelo pregador, que a palavra de Deus deve ser levada a sério pelos homens e que estes devem temer ao Senhor. Desse modo a religião católica se espalha através do uso da palavra com os artifícios retóricos e produzem uma estética de alta qualidade, mesmo com uma função política. Nosso próximo tópico abordará finalmente um poeta que escreve pensando especificamente em sua produção estética, embora mantendo uma relação bastante forte com a crítica social muitas vezes.

2.1.2 Gregório de matos

Figura 8: Retrato de Gregório de Matos.Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://4.bp.blogspot.com/gre-gorio_de_matos.jpg. Acesso em 14.09.2010

Gregório de Matos e Guerra nasceu na Bahia em 1633 e doutorou-se em Leis pela Universidade de Coimbra. De acordo com José Aderaldo Castello a poesia de Gregório de Matos,

Você encontra diversos sermões de Antônio Vieira,

inclusive com comentários e texttos críticos sobre eles no

site: http://www.brasiliana.usp.br/vieira_sermoes

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

Reparte-se entre a poesia lírica religiosa e amorosa e a po-esia satírica, tendo repousado toda sua fama nesta última, freqüentemente associada ao poeta boêmio, talvez desre-grado e frustrado, cheio de revoltas [...] Considerada em seu conjunto, os contrastes entre a obra do lírico e a do satírico revigoram a posição barroca de Gregório de Matos, mas onde ele se revela mais autenticamente poeta barroco, pelo sentimento e pelos processos técnicos e expressivos, é na parte lírica, religiosa e amorosa. (CASTELLO, 1969, p. 76).

POESIA LíRICA

A poesia lírica de Gregório de Matos apresenta as possibilidades que um poeta barroco tinha a seu serviço. A poesia barroca produzida no Brasil, assim como toda poesia produzida na colônia segue a matriz europeia que se utiliza muitas vezes das formas fixas e dos esquemas já estabelecidos como modo de se fazer poesia já preconizado em livros de poética seguidos como modelos na Europa. Desse modo, Gregório de Matos produz uma lírica que trata dos principais temas barrocos como a fugacidade da vida, o contraste entre a beleza da juventude e a decadência da velhice como se pode notar no soneto a seguir:

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo claramente

Na vossa ardente vista o sol ardente,

E na rosada face a Aurora fria:

Enquanto pois produz, enquanto cria

Essa esfera gentil, mina excelente

No cabelo o metal mais reluzente,

E na boca a mais fina pedraria:

Gozai, gozai da flor da formosura,

Antes que o frio da madura idade

Tronco deixe despido, o que é verdura.

Que passado o zenith da mocidade,

Sem a noite encontrar da sepultura,

É cada dia ocaso da beldade.

(Fonte:www.dominiopublico.br)

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Neste soneto as metáforas estão a serviço da pena do poeta. O soneto é dedicado à Sra. Maria dos Povos, esposa de Gregório de Matos. Mas a Maria do soneto pode ser qualquer uma devido à característica do próprio nome bíblico da personagem. Essa Maria é um arquétipo de todas as mulheres do mundo, que, em sua juventude, apresenta a beleza toda descrita nos dois primeiros quartetos. O olhar de Maria é ardente, pois sua vista apresenta-se clara, brilhante, provavelmente ela possua olhos claros; a face é rosada, o que pode ser visto na metáfora da Aurora, figura mitológica sempre representada com seus dedos róseos; no cabelo Maria possui a cor dourada, pois seu cabelo é feito do metal mais brilhante; e na boca a mais fina pedraria revela os dentes brancos como marfim.

Essa positividade dos dois primeiros quartetos será substituída pela negatividade dos dois tercetos que se seguem, nos quais as palavras, antes indicadoras de beleza e claridade, serão trocadas por expressões que lembram escuridão e morte. À juventude será apresentada a maturidade, à verdura seu oposto, tronco, e os vocábulos noite e sepultura se juntarão à expressão ocaso. Desse modo, o discurso do eu-lírico indica o famoso carpe diem barroco que dá conselhos para que as pessoas vivam e aproveitem o presente, pois o amanhã será mais difícil ou virá de modo a destruir as esperanças da juventude. Essa antítese barroca estará em toda a produção do período e contamina diretamente o sujeito da escrita, pois antes de ser mero artifício literário faz parte da concepção barroca do mundo, estando incrustada na noção religiosa do tempo, como se pode notar na poesia religiosa do autor.

A LíRICA RELIGIOSA

Do mesmo modo, a lírica religiosa de Gregório de Matos trabalha com as metáforas e exprime o mistério e o contraste entre a posição humana, extremamente frágil, diante do poder divino, tensionado pelo próprio perfil barroco do poeta que não se rende completamente a essa equação, como pode ser visto no seguinte poema:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,

Da vossa piedade me despido,

Porque quanto mais tenho delinqüido,

vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido,

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

Se uma ovelha perdida, e já cobrada

Glória tal, e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada

Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(Fonte:www.dominiopublico.br)

De acordo com José Aderaldo Castello, a poesia de Gregório de

Matos,

Exprime o conflito continuamente renovado da culpa e do arrependimento. É a supremacia dos sentidos, confundidos com a natureza instintiva, em face da consciência do peca-do como uma condição humana inevitável, colocando-se o homem à sombra não punitiva mas inesgotavelmente tole-

rante de Deus. (CASTELLO, 1969, p. 78)

No soneto anterior o eu-lírico monta um pacto com Deus. Reconhece-se como pecador, mas apresenta sua contraproposta, pois mesmo tendo pecado não se concebe pecando, pois a glória do nome de Deus é maior. O poeta cita a história bíblica e com base neste exemplo da ovelha desgarrada coloca-se diretamente dentro da história sacra e exige, em uma manobra um tanto quanto radical para a época, cerceada pela inquisição, que Deus o perdoe, pois se ele é uma ovelha desgarrada ele deve ser reconduzido ao caminho do bem para que a glória de seu Senhor seja maior. Desse modo, o eu-lírico produz a humanização do divino e a divinização do humano ao tensionar as forças antitéticas em jogo. Essa poesia religiosa dá ideia de o quanto a noção de pecado, culpa e perdão estão imbricadas na concepção barroca de vida.

A POESIA SATíRICA

A poesia satírica de Gregório de Matos faz uso das matrizes européias para desarticular e achincalhar os governantes portugueses que comandavam a cidade da Bahia e sua população conformada por Brancos, Negros, Mulatos, Judeus, comerciantes e indígenas. Desse caldo Gregório de Matos consegue tirar os mais diversos efeitos com os quais brinda seus leitores/ouvintes com suas pilhérias. Note-se o seguinte poema:

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EPíLOGOS

Que falta nesta cidade?...................................Verdade

Que mais por sua desonra ..............................Honra

Falta mais que se lhe ponha ...........................Vergonha.

O demo a viver se exponha,

por mais que a fama a exalta,

numa cidade, onde falta

Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?.............................. Negócio

Quem causa tal perdição? ................................ Ambição

E o maior desta loucura?.................................. Usura.

Notável desaventura

de um povo néscio, e sandeu,

que não sabe, que o perdeu

Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?....................... Pretos

Tem outros bens mais maciços?........................ Mestiços

Quais destes lhe são mais gratos?...................... Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,

dou ao demo a gente asnal,

que estima por cabedal

Pretos, Mestiços, Mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?......................... Meirinhos

Quem faz as farinhas tardas? ...............................Guardas

Quem as tem nos aposentos? ............................. Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,

e a terra fica esfaimando,

porque os vão atravessando

Meirinhos, Guardas, Sargentos.

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E que justiça a resguarda? ................................ Bastarda

É grátis distribuída? ......................................... Vendida

Que tem, que a todos assusta?............................ Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,

o que El-Rei nos dá de graça,

que anda a justiça na praça

Bastarda, Vendida, Injusta.

Que vai pela clerezia? ........................................ Simonia

E pelos membros da Igreja? ............................. Inveja

Cuidei, que mais se lhe punha?......................... Unha.

Sazonada caramunha!

enfim que na Santa Sé

o que se pratica, é

Simonia, Inveja, Unha.

E nos Frades há manqueiras?........................... Freiras

Em que ocupam os serões? .............................. Sermões

Não se ocupam em disputas?............................ Putas.

Com palavras dissolutas

me concluis na verdade,

que as lidas todas de um Frade

são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?..................................... Baixou

E o dinheiro se extinguiu?............................... Subiu

Logo já convalesceu? .......................................... Morreu.

À Bahia aconteceu

o que a um doente acontece,

cai na cama, o mal lhe cresce,

Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?........................................ Não pode

Pois não tem todo o poder?.............................. Não quer

É que o governo a convence? .......................... Não vence.

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Quem haverá que tal pense,

que uma Câmara tão nobre

por ver-se mísera, e pobre

Não pode, não quer, não vence.

(Fonte:www.dominiopublico.br)

De acordo com José Aderaldo Castello, o poeta,

Criticou tanto o reinol quanto o brasileiro, o preto ou o metiço, tendo visado principalmente o clero e ao elemento português, não por uma questão de nativismo, mas princi-palmente porque eram estes os dois elementos mais res-ponsáveis pela situação em que se vivia no Brasil-Colônia. E usou com freqüência uma linguagem livre, ferina, agressiva, com vocábulos às vezes de baixo calão. Nesse caso a sua maior importância é histórica, social e lingüística, enquanto foi ele o primeiro poeta que, no Brasil-Colônia, se comu-nicou diretamente com o povo, retratando ou fazendo a caricatura, cheia de mordacidade, de indivíduos e figurões de sua época. Ferindo todos os elementos em todas as ca-madas da sociedade em que viveu, ele pôde tornar-se um poeta vivo, mencionado pelo povo, constantemente repeti-do, envolvendo-se numa tradição que ainda hoje perdura. (CASTELLO, 1969, p. 83).

No poema anterior, o poeta, exacerba a desgraça da cidade da Bahia ao mostrar que seus habitantes, compostos e apresentados a partir de suas funções destruíram a cidade com a quantidade enorme de seus vícios. Para a voz enunciadora do poema, a usura, a desonra, a sexualidade desabrida dos padres e freiras são colaboradores para as desgraças da cidade. Essa visão de quem parece que não pratica nenhum dos atos citados está de acordo com a postura do sujeito satírico. Este se coloca do lado de fora dos acontecimentos e narra as desventuras sofridas por sua personagem principal, a cidade da Bahia, conspurcada por seus habitantes. Com o sentimento de que anda só nesse mundo perdido pela ganância dos comerciantes, o poeta tem a sensação de que o mundo anda às avessas, noção tipicamente barroca, e que ele, a voz que domina seu poema, está vivendo em uma desordem muito grande com a qual ele não compactua. Isso só faz aumentar o sentimento de desconcerto e de angústia no qual o sujeito vive, restando-lhe apenas a alternativa de tripudiar em cima de todas essas condições que lhe são exteriores. Com suas poesias, Gregório de Matos dá estatuto estético ao pé da letra à Literatura brasileira.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

CASTELLO, José Aderaldo. Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix, 1969.

GOMES, Eugênio. (Org.) Antônio Vieira: Sermões e cartas. Rio de Janeiro: Agir, 1968.

MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1976

VIEIRA, Antonio. “Sermão da Sexagésima”. 2010. Disponível em http://www.brasiliana.usp.br/vieira_sermoes acessado em 25.09.2010

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UniDADE 3ARCADISMO

INTRODUÇÃO

Nesta unidade você aprenderá sobre a literatura árcade, iniciada no Brasil no século XVIII e cultuada pelos poetas mineiros, principalmente Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esses poetas atingiram a excelência nesse estilo, apresentando-se como pastores levando uma vida tranqüila junto à natureza.

3.1 LiTERATURA ÁRcADE

Figura 9: paisagem bucólica que mostra cenas campestres, desejo de na-tureza estática. Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.grupoescolar.com/materia/arcadismo_no_brasil.html. Acesso em 14.09.2010

Os poetas árcades consideravam-se como estrangeiros em sua própria terra. No Brasil do século XVIII, dificilmente esses sujeitos, formados ao gosto europeu, pois muitos deles se foram à Europa estudar, reconheceriam na paisagem bruta, principalmente a paisagem de Minas Gerais, a civilização tão decantada na Europa. Formados nas escolas mais importantes de Portugal, Itália e França voltam ao Brasil e têm que lidar com a dura falta de “cultura civilizada” da colônia. Os ideais árcades baseados na Arcádia Lusitana que pregava a volta ao classicismo renascentista, a uma poesia que se faria sem os arroubos e excessos do barroco, a normatização da estética, da métrica e da ordem, refletem-se no gosto por uma natureza que se organize segundo as leis da mimese. Para Antonio Candido, ao analisar os manuais de escrita literária que dão forma ao arcadismo,

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

A poesia, tanto para ser útil quanto para ser agradável, deve basear-se na verdade – que não é a verdade objetiva e uní-voca da ciência, mas a verossimilhança. Na conceituação desta encontra-se geralmente a pedra de toque das teo-rias poéticas de inspiração aristotélica e horaciana: para o nosso tratadista, ela é (...) uma verdade possível, presa, por um lado, à analogia com as verdades objetivamente cons-tatáveis; por outro à imaginação criadora (...) (CANDIDO,

1981, p. 51).

Explicando melhor: a natureza tem um modo muito diferente de se organizar que não serve para a ordem da representação das coisas. Daí o gosto dos árcades em pintar cenas pastoris nas quais tudo aparece imóvel de tão perfeito, conforme a gravura apresentada logo na introdução desta unidade. Verdadeiras cenas teatrais, os poemas árcades são a celebração da poesia, o que leva um crítico como Antonio Candido a considerar, analisando um dos poemas de Tomás Antonio Gonzaga, como uma aldeia falsa. (CANDIDO, 1993, p. 20). Assim se expressa o crítico paulista em outro texto no qual fala sobre os poemas de Tomás Antônio Gonzaga:

Mais de uma lira é votada à tarefa quase didática de mos-trar à bem amada a naturalidade do amor, mostrando-lhe a ordenação das coisas naturais. E, por outro lado, valorizar a noção civil da vida social, salientando a nobreza das artes da paz, o falso heroísmo da violência, a ordem serena da razão. (CANDIDO, 1981, 122).

Desse modo, pode-se notar que o que os poetas árcades fazem é dotar a natureza de algo que ela não possui, devido ao fato de seguirem os moldes clássicos de representação da beleza. Há vários poetas árcades, mas nos ateremos neste caderno a apenas dois: Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

3.1.2 cláudio manuel da costa

Na obra de Cláudio Manuel da Costa fica patente em seus Sonetos as características e os conflitos apresentados na introdução desta unidade. O livro, publicado em 1768, data que marca o início do Arcadismo no Brasil, demonstra claramente a dificuldade do eu-lírico em se relacionar com as paisagens de sua terra natal e casar estas com os moldes clássicos aprendidos na Europa. Para Péricles Eugênio da Silva Ramos,

Os poetas árcades tinham como eixo central de sua poética a oposição entre cidade e campo. Estes eram vistos como oposições sendo o campo considerado como lugar ideal para se viver, o locus amoenus, e a cidade, vista como a perdição do homem, daí a necessidade do eu-lírico em fugir da cidade, o fugere urbem.

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A poesia de Cláudio Manuel da Costa (...) coloca-se sob o signo de uma oposição, entre o estilo simples e a propensão para o sublime. (...) No período que medeia entre os estu-dos de Cláudio em Coimbra e a publicação de suas obras, em 1768, houve em Lisboa a implantação de um marco nas tendências neoclassicistas que em Portugal se observavam e já havia tempo se desenvolviam na Itália e na França. (RA-

MOS, 1976, p. 16).

Exemplo disso é o soneto que se segue:

Soneto I

Para cantar de amor tenros cuidados,

Tomo entre vós, ó montes, o instrumento;

Ouvi pois o meu fúnebre lamento;

Se é, que de compaixão sois animados:

Já vós vistes, que aos ecos magoados

Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;

Da lira de Anfião ao doce acento

Se viram os rochedos abalados.

Bem sei, que de outros gênios o Destino,

Para cingir de Apolo a verde rama,

Lhes influiu na lira estro divino:

O canto, pois, que a minha voz derrama,

Porque ao menos o entoa um peregrino,

Se faz digno entre vós também de fama.

(Fonte: www.dominiopublico.br)

O tema do soneto já é em si, distante do espaço que o eu-lírico utiliza na sua enunciação, pois para cantar o amor nos montes é difícil a ele, devido à diferença entre o tema – o amor, algo delicado, leve –, e a paisagem que lhe serve de fundo – os montes, a dureza das pedras, a aspereza do relevo. Como o poeta está cantando o mal de amor, algo que é da ordem da cultura e estabelecido como algo que o faz sofrer. Devemos nos lembrar que nem todo amor é feito de sofrimento, mas, na convenção poética seguida pelo poeta, vinda da Europa, o amor deve ser cantado como aquilo que faz o sujeito sofrer, por isso ele lembra aos montes do seu “fúnebre lamento”, para que estes tenham dele compaixão.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

Você deve notar também que o modo da escrita, embora seja árcade, lembra a produção barroca, pois muitas vezes há a inversão na ordem frasal ou dos versos como ocorre no verso 1 e no verso 2, que devem ser invertidos para se entender o que o poeta quer dizer. Isso ocorre também nos versos 5 e 6, 7 e 8, 9, 10 e 11 e nos versos do terceto final. A isso se chama hipérbato, conforme você já viu quando discutimos os textos barrocos. O que parece algo muito estranho, na verdade é uma forma muito comum no século XVIII para aqueles que sabiam escrever e praticavam a escrita. Esse modo é diferente da própria estrutura educacional que se encontrava na colônia, pois a maioria de sua população era de analfabetos.

O eu-lírico vai continuar seu poema com indicações de sua cultura europeia. A mitologia grega é chamada para o teatro do poema. Figuras como Anfião, Orfeu, Apolo e o Destino não estão aí apenas como objetos decorativos. Fazem parte da demonstração do poeta de que ele sabe escrever conforme mandam as regras da “boa” poesia. É um método de bem escrever, além de colaborar com a ideia de que a natureza precisa ser educada, colocada em ordem. A poesia deve trabalhar com a civilização da natureza, conforme manda o figurino do movimento. Para Antonio Candido, o poeta neoclássico e, por consequência, o poeta árcade, deve seguir o modelo, pois ele deve desejar a aprovação da posteridade. Daí o crítico apontar como “um dos alvos do Arcadismo: criar pontos de referência para o homem medianamente culto, propiciando e reforçando a comunicabilidade”. (CANDIDO, 1981, 54).

Os instrumentos que o eu-lírico utiliza para compor seu poema estão mais ligados à música, mas são metáforas para a sua produção poética. Com base na mitologia grega, o eu-lírico demonstra ser um grande compositor. Ao mesmo tempo em que canta seus amores, o eu-lírico também pretende impor seu ambiente, mesmo que áspero e inóspito à tradição da qual ele faz parte, por isso ele deseja, ao final de seu soneto, produzir a fama para sua natureza cantada. Essa mesma natureza só será famosa com a ordem que ele consegue dar a ela em seus poemas. A mimese, a representação, vale mais do que o natural, embora a natureza é que deva ser cantada.

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3.2.3 Tomás Antônio Gonzaga

Figura 10: Imagem de Marília de Dirceu produ-zida por Guignard. F o n t e : h t t p : / / w w w. g o o g l e . c o m . b r /imgres?imgurl=http://www.integral.br/zoom/imgs/277/image002.jpg. Acesso em 14.09.2010

O poeta Tomás Antônio Gonzaga nasceu no Porto em 1744 e chega ao Brasil em fins de 1782. Conhece Cláudio Manuel da Costa por quem é inspirado e apaixona-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas que irá imortalizar em seu livro Marília de Dirceu, que, de acordo com José Aderaldo Castello possui uma,

[...] poesia lírica que historia uma experiência sentimental autêntica, pelo menos real e conhecida, além de apresen-tar-se associada a certas circunstâncias que envolveram o poeta na Inconfidência Mineira. Tudo isto favoreceu a cria-ção do mito romântico do poeta enamorado que sacrifica seus ideais sentimentais pela liberdade da pátria, e de tal forma que a sua projeção na literatura brasileira é atestada preferência de poetas e prosadores que o tomaram como assunto literário. (CASTELLO, 1969, p. 162).

Apresentamos a Lira I, retirada de Marília de Dirceu:

LIRA I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d’expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado.

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Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta,azeite;

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores, que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado:

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela concerto a voz celeste;

Nem canto letra, que não seja minha.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,

Só apreço lhes dou, gentil Pastora,

Depois que o teu afeto me segura,

Que queres do que tenho ser senhora.

É bom, minha Marília, é bom ser dono

De um rebanho, que cubra monte, e prado;

Porém, gentil Pastora, o teu agrado

Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces, que são cor de neve.

Os teus cabelos são uns fios d’ouro;

Teu lindo corpo bálsamos vapora.

Ah! não, não fez o céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.

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Graças, Marília bela,

Graças à minha estrela!

(Fonte: www.dominiopublico.br)

De acordo com José Aderaldo Castello,

Todas as liras [contidas em Marília de Dirceu] são escritas [...] em linguagem simples, às vezes graciosa e, apesar do estilo mitológico e de outras reminiscências clássicas, per-cebe-se que o poeta teve a preocupação de fazer-se clara-mente entendido por Marília. Daí talvez o tom familiar e, podemos dizer, matrimonial, de boa parte dessas composi-ções. Admitimos a espontaneidade da linguagem do poeta, assim como a sinceridade de suas intenções. Mas achamos, por outro lado, que não há nas liras um transbordamento lírico de apaixonado autêntico, senão a frieza calculada e disfarçada de um cortesão portador de apreciável intuição psicológica, suficiente para eliminar certos possíveis proble-mas em suas relações com a mulher escolhida para o matri-mônio. (CASTELLO, 1969, p. 162).

Nesse amor fingido, Tomás Antonio Gonzaga apresenta à sua amada seus bens e pertences. Note que ele não é qualquer vaqueiro, mas alguém que tem posses, representadas por seu próprio rebanho, sobrevivendo de sua fazenda. Ele se protege das intempéries e consegue ser dono de seu próprio destino. Ele dá graças à Marília, mas também à sua boa estrela, sua sorte. Ele não está envelhecido e os outros pastores o respeitam. Na segunda estrofe o eu-lírico faz referência ao poeta Cláudio Manuel da Costa que tinha por pseudônimo Glauceste Satúrnio, nomeado, nesta lira, como Alceste.

Note também que assim como seus pertences o pastor afirma que não canta poesias que não são dele. Do mesmo modo o eu-lírico pastoril encontra sua felicidade toda em sua amada o que não faz com que ele se sinta feliz com seus pertences, mas que queira ver sua amada junto dele, maior bem que a vida lhe dá: o amor de Marília. Esse amor que a tudo supera servirá de mote aos amores dos românticos no próximo século, o século XIX, que acreditará na indestrutibilidade do sentimento amoroso contra todas as forças sociais. Gonzaga, desse modo é precursor do pré-romantismo no Brasil. Os escritores românticos serão motivos para o próximo período.

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CANDIDO, Antonio. Formação da literatura no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.

CANDIDO, Antonio. Uma aldeia Falsa. In: _____________. Na sala de aula. Rio de Janeiro: Atica, 1993.

CASTELLO, José Aderaldo. Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix, 1969.

KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. Brasília: UNB, 1997.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. (Org.). Cláudio Manuel da Costa. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1976.

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RESUmO

Neste Caderno você teve contato com a colonização brasileira através dos textos de viajantes, padres, comerciantes e poetas. Esses textos fazem parte da literatura brasileira mesmo que tenham sido escritos por portugueses. Eles dão notícias do Brasil, inscrevendo o país no Ocidente, produzem a educação/catequização dos povos presentes na região, e tentam colocar o país em pé de igualdade com o mundo europeu, como tentam fazer os poetas do século XVIII. A literatura brasileira começa a se organizar como objeto estético e a se constituir nessa relação entre ser uma literatura que fala da terra e também se pensa como objeto estético.

Na Unidade I você travou contato com a invasão do Brasil e, a partir dos textos dos viajantes, padres, dentre outros, pôde notar como a terra e seus habitantes foram vistos e entendidos. Você deve se lembrar que várias dessas noções chegaram até nosso tempo e ainda são responsáveis pela leitura que se faz do país.

Na Unidade II você conheceu o modo barroco de ser, o excesso da fé e da luta que os poetas tiveram que travar com a vida. Esse mundo rico de figuras de linguagem foi o modo como esses escritores conseguiram se exprimir para liberarem todas as tensões existentes em seu tempo e no seu interior.

Finalmente, na Unidade III você conheceu dois poetas que tentaram, a partir das matrizes européias elevar o país à condição de lugar de cultura civilizada, dotado de sujeitos com mentes brilhantes que conseguiram se igualar ao raciocínio iluminista.

Esses modos de escrever tornaram-se possíveis pelos contextos histórico-sociais vivenciados por esses homens e pelo desejo de resistirem ao tempo e deixar suas marcas e noções sobre o mundo em que eles viviam.

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REFERÊnciAS

BÁSICAS

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. Das Letras, 1992.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.

CASTELLO, José Aderaldo. Manifestações literárias da era colonial. São Paulo: Cultrix, 1969.

RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira. Dos primeiros cronistas aos últimos românticos. 2.ed. São Paulo: EDUSP, 2002.

COMPLEMENTARES

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1975.

CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. Rio de Janeiro: Atica, 1993.

SODRE, Nelson Weneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.

SUPLEMENTARES

ANCHIETA, José. Auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967

AZEVEDO FILHO, Leodegário. Prefácio. In: ANCHIETA, José. Auto de São Lourenço. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967

CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. São Paulo: Dominus, 1963.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil; História da Província Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.

GOMES, Eugênio. (Org.) Antônio Vieira: Sermões e cartas. Rio de Janeiro: Agir, 1968.

KOTHE, Flávio R. O cânone colonial. Brasília: UNB, 1997.

MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1976

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

PORTELLA, Eduardo. José de Anchieta: Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 1982.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. (Org.). Cláudio Manuel da Costa. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1976.

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ATiViDADES DE APREnDiZAGEm

AA

1) Elabore um parágrafo demonstrando porque ao invés de se falar em descobrimento do Brasil, devemos falar em invasão do Brasil.

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2) Elabore um parágrafo analisando porque de se poder considerar a Carta de Pero Vaz de Caminha como um objeto estético além de um documento informativo.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) A partir do ritual antropofágico apresentado no texto de Pero Magalhães de Gândavo, elabore um parágrafo sobre a questão do etnocentrismo contido nos textos dos viajantes.

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Letras/Português caderno Didático - 5º Período

4) Elabore um parágrafo justificando o estudo dos textos dos viajantes, jesuítas e comerciantes para o entendimento da literatura brasileira.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5) Sobre o Barroco, assinale a alternativa incorreta:

a) ( ) No Brasil, o barroco tem seu marco inicial em 1601, com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira.

b) ( ) O estilo barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses, leigos e religiosos.

c) ( ) A arte barroca teve sua maior inspiração nos trabalhos feitos pelos jesuítas.

d) ( ) O rebuscamento que aflora na arte barroca é reflexo do dilema entre o terreno e o celestial.

6) Assinale a opção incorreta sobre o barroco:

O Barroco surgiu como a reação aos ideais de Idade Média e a valorização demasiada da Antiguidade clássica, apresentando:

a) ( ) A fusão do teocentrismo com o antropocentrismo.

b) ( ) Predomínio do equilíbrio em todas as formas artísticas.

c) ( ) Estilo rebuscado como manifestação de angústia.

d) ( ) fusão do pecado com o perdão.

7) Leia a estrofe abaixo de um soneto de Gregório de Matos Guerra e assinale a principal característica do Barroco que pode ser percebida nessa estrofe:

“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia.

Depois da luz, se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.”

a) ( ) O uso de aliterações.

b) ( ) A forte presença de antíteses.

c) ( ) O culto à natureza.

d) ( ) A utilização de rimas alternadas.

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Literatura Brasileira: das origens ao arcadismo UAB/Unimontes

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8) Conforme os estudos realizados, todas as opções sobre o arcadismo estão corretas, exceto:

a) ( ) Época do Iluminismo (século XVIII) – Racionalismo, clareza, simplicidade.

b) ( ) Volta aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, imitação da natureza).

c) ( ) Ornamentação estilística, predomínio da ordem inversa, excesso de figuras.

d) ( ) Pastoralismo, bucolismo suaves idílios campestres.

9) Indique a característica presente nos versos abaixo, de autoria de Claudio Manuel da Costa:

Pastores, que levais ao monte o gado, Vêde lá como andais por essa serra; Que para dar contágio a toda a terra, Basta ver se o meu rosto magoado:

a) ( ) Utilização de um eu-lírico que se traveste em pastor.

b) ( ) Rompimento com os clássicos.

c) ( ) Recurso à mitologia greco-romana.

d) ( ) Predominância de subjetivismo.

10) Sobre o Neoclassicismo é correto afirmar:

a) ( ) Baseava-se no modelo greco-romano.

b) ( ) Teve em Gregório de Matos o seu apogeu.

c) ( ) Elegeu o espaço urbano como sendo o ideal.

d) ( ) É um período que precede ao Barroco.

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