LISBOA CAPITAL REPÚBLICA POPULAR # 2012

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Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa, GAC), Diego Armés, Elisa Rodrigues, Flak. Hélio Morais (PAUS), Júlio Resende, Manuel Fúria, Rui Carvalho (Filho da Mãe),Vicente Palma. ESTE JORNAL FOI INTEIRAMENTE ESCRITO E REVISTO A LÁPIS AZUL. ENTREVISTA TEXTOS SOLIDÁRIOS! Alexandre Cortez, Francisco Silva, João Pacheco, Nuno Costa Santos, Nuno Miguel Guedes, Pedro Marques Lopes. GANHA UM PASSE DUPLO PARA 3 DIAS DE MÚSICA! Responde à pergunta que te fazemos na página 15. O QUE FARIAS PARA SALVAR O MUNDO? Perguntámos a muita gente. E responderam. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ABRIL, 2012

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Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa, GAC), Diego Armés, Elisa Rodrigues, Flak. Hélio Morais (PAUS), Júlio Resende, Manuel Fúria, Rui Carvalho (Filho da Mãe),Vicente Palma.

ESTE JORNAL FOI INTEIRAMENTE ESCRITO E REVISTO A LÁPIS AZUL.

EntrEvista TexTos solidários!Alexandre Cortez, Francisco Silva, João Pacheco, Nuno Costa Santos, Nuno Miguel Guedes, Pedro Marques Lopes.

Ganha um passe duplo para 3 dias de música! Responde à pergunta que te fazemos na página 15.

O que farias para salvar O mundO?Perguntámos a muita gente. E responderam.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITAABRIL, 2012

02 I ABRIL, 2012

FICHA TÉCNICA:DIRECÇÃO DO PROJECTO: AlexAndre Cortez e GonçAlo risCAdo (CulturAl trend lisbon, ldA)DIRECÇÃO E COORDENAÇÃO EDITORIAl: nuno MiGuel GuedesAssIsTENTE EDITORIAl E PEsquIsA: MArtA dineiADEsIGN: YuP/PAulo ArrAiAnoIlusTRAÇÃO: YuP/PAulo ArrAiAno

COLABORADORES: AlexAndre Cortez, FrAnCisCo silvA, João PACheCo, nuno Artur silvA, nuno CostA sAntos, Pedro MArques loPesIMPRESSÃO: GrAFedisPortiMPressão e Artes GrÁFiCAs, s. A.TIRAGEM: 10.000 exeMPlAresWWW.MUSICBOXLISBOA.COMWWW.CTLISBOn.COM

Cultural trend lisbon: Musicbox, Povo, Festival silêncio, lisboa caPital RePublica PoPulaR, JaMeson uRban Routes, editoRa tRansFoRMadoRes.Ctl: Gonçalo Riscado, alexandRe coRtez, João toRRes, João Riscado, déboRa MaRques, PedRo ivo Palitos, PedRo azevedo, MaFalda caRvalho, sílvia costa

EDITORIAL

ABRIL, 2012 I 03

Alexandre CortezGonçalo Riscado

03 Editorial

04 SementeSnuno miguel Guedes

05 Classe Contra ClassePedro Marques lopes e Francisco silva abrem o apetite para os debates do Macau

06 ReuniR FoRçasentrevista com alguns dos participantes desta edição do LCRP

10 Não há mal que Não acabeJoão Pacheco escreve sobre a reportagem que ainda não foi feita.

11 Travessia do deserToNuno Costa santos e a urgência de arregaçar as mangas

12 A CAntigA é umA ArmADepoimento na primeira pessoa

Faz agora quatro anos que a Musicbox (CTL - Cultural Trend Lisbon) decidiu promover um evento que celebrasse a efeméride do 25 de Abril, promovendo a reflexão e discussão sobre a actualidade de temas e valores que são de sempre e são de todos.As utopias, a censura, as lutas pela liberdade foram temas que serviram de mote a anteriores edições e pretexto para juntar em palco músicos e artistas de diferentes gerações.Num período conturbado em que são postas em causa algumas das conquistas das  e até o próprio sistema democrático, o tema escolhido para esta edição foi; ‘Ser Solidário!’.Como sempre, o nosso jornal tem como objectivo ajudar a reflectir sem nunca comprometer o agora. Nesse sentido, propomos olhares diversos sobre a maneira de ver a solidariedade – da mais desiludida à

mais optimista – através de textos, entrevistas e depoimentosO que nos interessa é o hoje. Mas o que é mais importante é o que é perene. E os valores de entre ajuda e comunicação – afinal o que é ser humano - são aquilo que nos motiva e que procurámos, nesta edição, torná-los mais do que reféns de um tempo ou lugares. Nunca o apelo à solidariedade foi tão urgente, nunca a união em prol da luta por um regime que favoreça a igualdade de oportunidades foi tão necessária.Poderá a pessoa solidária ser a base de uma sociedade solidária ou será a pessoa solidária um ser solitário e a solidariedade apenas mais um sistema de troca, regido pelo mercado dos nossos interesses pessoais?LCRP lembra Abril como uma motivação para pensar e agir, sempre!

ÍNDICE

09 Eu vim dE longEAlexandre Cortez fala de partilha e solidão musical

13 Qual é a tua, ó meuFomos perguntar ao povo o que faria para salvar o mundo

14 questionário solidárionuno Artur silva responde ao nosso questionário solidário

15 Ronda da alegRiaPassa tempo e ganha passes duplos para o lCRP

Classe Contra ClasseSolidárioS por egoíSmoPara não partir de um conceito enviesado e vago fiz questão de consultar um dicionário que me diz que solidariedade “é uma dependência mútua” ou uma “reciprocidade de obrigações e interesses.” É portanto sobre esta dependência mútua que pretendo falar e não sobre a noção corrente de solidariedade conotada com “dar a mão a quem precisa”.Um dia ouvi da boca de um revolucionário português envolvido nestas andanças do 25 de Abril qualquer coisa como “eu fiz o que fiz por mim, porque estava farto e queria que as coisas mudassem. Fi-lo por egoísmo puro e rejeito o epíteto de altruísta.”Claro que deixou meia sala boquiaberta. Então o raio do homem não tinha como objectivo libertar os seus concidadãos, não era ele solidário com o seu sofrimento? De acordo com a definição inicial e segundo o próprio não fez mais do que a sua obrigação para com aqueles que ao existirem fazem dele português equilibrando a balança das obrigações e interesses.Muitas vezes confundimos ser solidário com “dar uma moedinha” ou “fazer um like” em prol de uma qualquer causa. Faz-nos sentir melhor connosco próprios tirando-nos o peso na consciência que resulta de ser confrontado com uma questão social grave.É mais fácil partilhar um link nas redes sociais e sentir que fizemos a nossa parte do que pensar a fundo quais as causas e as origens desse problema como vimos recentemente com o caso Koni. No entanto as nossas obrigações vão muito para além de campanhas de marketing de empresas especializadas em fazer lucro à custa de boas causas. Há toda uma indústria montada sob a capa da caridade, da venda de aliviadores de consciência instantâneos e todo um circo à sua volta montado para nos convencer da sua utilidade.Se alguém hoje em dia quer ser solidário pare para pensar. Pense no mundo em que vive, no desgoverno que o governa, nas causas dos problemas. Sejam solidários os que têm emprego com as lutas dos desempregados, sejam solidários os livres com os que estão presos, os jovens com os velhos, os pais com os filhos, os europeus com os chineses... e vice versa. Não o façam para se sentirem boas pessoas, façam-no porque é a vossa obrigação para que a sociedade funcione melhor. Se chegámos aqui é porque muitos de nós deixámos de fazer a nossa parte, de cumprir com as nossas obrigações sociais. Deixo-vos um último argumento: sejam solidários por egoísmo se como eu estão fartos deste modelo que promove a miséria, a pobreza, a divisão e a inveja social. Só assim mudaremos alguma coisa e conseguiremos construir um modelo com o qual nos identificamos. Este já deu o que tinha a dar.

Francisco Silva, co-autor do blogue Artigo 58.

AindA São eleS oS noSSoS cAntoreSO casamento da minha irmã foi, pois está claro, uma linda cerimónia. Noiva de branco, missa e uma festa de estadão num daqueles hotéis em que um tipo sente o dinheiro a sair do bolso só de respirar. DJ da moda, e toca a rodar as anquinhas. Não tardou meia hora para que a terrível doença familiar que o tempo mostrou ser incurável, a síndroma do Disc Jockey ansioso, atacou. A bela noiva, mostrando uma desconhecida propensão para o belo jogo, faz uma carga de ombro ao tocador de discos e vai de pôr a nossa música. Aquela com que crescemos, a que nos ainda faz pele de galinha, a que cantamos, para desespero da vizinhança e dos elementos que recrutamos para a nossa família de cada vez que há festa lá em casa. Que força é essa, O charlatão, Maio Maduro Maio, A morte saiu à rua, Os vampiros, Cantar da jorna, A cantiga é uma arma, Uns vão bem e outros mal, Grândola. A lista não tem fim. A banda sonora dum tempo em que o entusiasmo substituía a racionalidade, em que entoávamos modinhas pelo prazer de nos sentirmos parte de qualquer coisa, em que a liberdade estava a passar por aqui, em que sonhávamos com cidades sem muros nem ameias. Queríamos nós lá saber que a cantiga era uma arma para esganar a burguesia, ou seja, para nos esganar. Somos daqueles que não renegamos a nossa memória, dos que se orgulham de ter saído à rua de cravo vermelho no dia 1º de Maio de 1974. De sonhos não se pede desculpa, sobretudo daqueles que em grande parte se cumpriram.  Imagino que a esta altura deveria dizer que a minha família é de direita, que por vezes nos lembramos que os cantores que idolatramos e as músicas que amamos representavam tudo o que não queríamos para nós e para o nosso país. Mas que importância isso terá? Cantávamos a liberdade, o futuro, o fim da ditadura, e continuamos a cantá-la. Nós sabemos que é o povo quem mais ordena e a nossa voz não vai esmorecer, vamos sempre lutar .Erguia-se o sol de Verão, eram eles os nossos cantores.

Pedro Marques Lopes, colunista e blogger

ESTE ANO O LISBOA CAPITAL REPUBLICA POPULAR IRÁ INAUGURAR OS DEBATES DO POVO. IREMOS JUNTAR OPINIÕES DIFERENTES E TEREMOS COMO PETISCO UMA BELA CONVERSA. PARA ABRIR O APETITE, DOIS TEXTOS A PARTIR DO SER SOLIDÁRIO, ASSINADOS PELO FRANCISCO SILVA E PELO PEDRO MARQUES LOPES, QUE IRÃO DEBATER AO VIVO. O DEBATE DO POVO VAI TER LUGAR NO DIA 19 DE ABRIL, PELAS 18.30, NO RESTAURANTE POVO (R. NOVA DO CARVALHO, 32-36). APAREÇAM!

04 I ABRIL, 2012 ABRIL, 2012 I 05

OPINIÃO

SementeSNuNo Miguel guedes sobre ser solidário. uM olhar desiludido Mas coM esperaNça ao fuNdo.Acredito que há um pouco do que fomos naquilo que vamos sendo. O tempo, as ideias, as alegrias e as tristezas – tudo o que de forma não suficiente chamamos de ‘vida’ – vão ajudando na viagem, nas partidas, nos regressos e na surpresa das esquinas que vamos encontrando. Mas nunca, nunca seremos o que fomos.Explico. Uma das minhas maneiras preferidas de me confrontar com o prefácio de mim é reler livros que de gostei muito na primeira vez que os li. O resultado deste exercício é sempre extraordinário: livro e leitor parecem e são diferentes sempre que lidos à luz do hoje. Há algum tempo fiz a releitura de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. A dada altura uma personagem de que agora não me recordo (a própria Alice?) resume tudo o que aqui foi escrito: «Mas não vale a pena voltar a ontem. Nessa altura eu era outra pessoa». O tema que sobrevoa esta edição do Lisboa Capital República Popular, «Ser solidário» fez-me voltar a ontem – e por consequência, a outra pessoa que fui. Não me consinto – porque acho inútil e aborrecido – qualquer tipo de nostalgia que não seja a do instante que agora mesmo passou. Mas foi inevitável, perante esta frase, lembrar tempos, lugares e músicas. Um disco que me marcou e confirmou o génio absoluto de Zé Mário Branco, que transcende ideologias ou visões da vida (e escreve-vos quem tem esses valores

praticamente nos antípodas dos do cantor); uns versos que ainda hoje me guiam («Fazer de cada perda uma raiz/e improvavelmente ser feliz»);um dia muito específico; e as generosidades “solidárias” a que na altura me entregava por convicção. Era o tempo dos concertos «Solidariedade com...». Nicarágua (contras e sandinistas, lembram-se?), Chile, pessoas, qualquer coisa. Os efeitos dos pós-revoluções começavam a assentar, o primeiro presidente eleito (ainda militar) ia para o segundo mandato e a democracia caminhava debilmente para uma normalidade qualquer. E essa pessoa que fui ia a todas, cantando o refrão de O Barco Vai de Saída, do Fausto enquanto acreditava sinceramente que estava a ser solidário e em comunhão com todos os que enchiam coliseus e outras salas. Não estava, sei-o agora. A minha militância era mais afectiva do que efectiva. E houve aquela tarde de calor indolente, em que um amigo chamado Pedro Branco entra pela sala da Associação de Estudantes a que eu pertencia e lança o apelo: «O meu pai precisa de vozes para um coro de uma canção. Agora! Quem vem?». Fomos todos. O “pai” era – adivinharam – o próprio Zé Mário Branco. O resultado está registado e é com muito orgulho que me encontro na vozearia mais ou menos organizada que participa na canção Qual é a tua, ó meu?,

incluída no mesmo disco.Muitas versões de mim depois surpreendo-me a escrever sobre esses ontens que cantavam, de um optimismo quase absurdo mas sincero. E lamento, lamento tanto que a vida me tenha ensinado que o bicho humano gosta de praticar pouco o que louva. Não se trata de não acreditar na solidariedade; trata-se de acreditar (ou de constatar) que ela tem aparecido apenas na pior das situações ou instigada por campanhas massivas. Ela existe, eu sei. Há provas de pessoas e instituições que a praticam, sem medo nem vaidades. Mas por outro lado lembro que os mesmos que aderimos tão entusiasticamente na ajuda às vítimas do terramoto haitiano são exactamente os mesmos que os deixam agora no esquecimento. A media e a nossa consciência flexível faz o resto.Parafraseando Dickens vivemos os piores dos tempos, vivemos os melhores dos tempos. A humanidade que teima em existir no ser humano vem ao de cima com as adversidades e todos os dias vemos exemplos notáveis de ajuda. Não me importo de dizer que eu próprio beneficiei com isso. Mas não consigo deixar de pensar na irritante sazonalidade dos bons sentimentos colectivos. Não é de resto de estranhar: o filósofo Emmanuel Lévinas (de certa forma um precursor e influência no pós-modernismo anunciado por Gilles Lipovetsky) esforçou-se para desenvolver a ideia da primazia do Outro, rejeitando assim

todos os conceitos antropológicos que desde Descartes giravam à volta do ego. Dizia mesmo que a civilização ocidental encontra-se marcada pela redução do Outro ao Mesmo e que seria urgente um «humanismo do Outro», onde a violência de um rosto alheio nos convocaria ainda com mais força a sermos Nós. Infelizmente a nossa sociedade empurra para um isolamento, o que equivale a uma espécie de permanente angústia relacional, o que no limite nega uma das principais características do que é ser humano: a comunicação. É espantoso verificar como esta ideia se transformou na regra da humanidade ocidental , com as excepções a virem apenas em situação de crise. A solidariedade como virtude praticada em unissono é impossivel pela própria natureza humana. Cepticismo antropológico? Sem dúvida, mas um cepticismo que pela minha parte aceita mais o ‘talvez’ do que o ‘não’. Apesar de tudo estes não podem ser os dias do pessimismo. São dias de acção, sob pena de tudo se perder. Iniciativas como a LCRP ajudam a pensar em valores universais e colocá-los em prática. E espero – meu Deus, como eu espero – que quem sou hoje e isto vos escreve esteja completamente enganado naquilo que aqui diz acreditar e que o outro que fui ontem possa regressar em força e confiante.

Nuno Miguel Guedes

OPINIÃO

O que é ser solidário? É algo constante ou que só aparece nos momentos de grande crise? Afonso Cabral (AC): Para mim ser solidário é muito mais do que dar dinheiro ou bens a alguém em necessidade, por muito nobre que isso seja. Ser solidário é tornar minha a preocupação de outro e tentar fazer o que posso para ajudar.Carlos Guerreiro (CG): A solidariedade traduz-se no espírito da entreajuda desinteressada. É um nobre sentimento que deve estar sempre presente na nossa relação com o próximo, e não deve ser sujeito a épocas, modas ou movimentos. Por ser desinteressada não deve ser confundida com caridade, que não é mais do que um contrato em que o fiel faz perante Deus, um investimento em “boas acções”, em troca de um lugar confortável na eternidade, tipo “poupança reforma”.  Luís Gravito (LG): Parece-me que solidário é aquele que provoca o bem de alguém sem qualquer tipo de objectivos pessoais ou alheios ao receptor dessa acção. Quem é verdadeiramente solidário é solidário sempre, independentemente da situação política que está a acontecer no seu país. Agora, quando situações políticas colocam gente numa posição mais fragilizada, a solidariedade vai actuar num contexto mais abrangente e vai manifestar-se de uma forma mais evidente para todos. (pp.8/9)Vicente Palma (VP): Não parafraseando o José Mário Branco, o ser-se solidário está na essência de cada um. É o nosso cerne. Só que, muitas vezes, não nos conhecemos a nós próprios e esquecemo-nos que, antes de nos darmos ao outro, temos de saber quem somos A solidariedade anda de mão dada com o amor. O que é ser-se solidário? Pergunto antes, quem é solidário? São aquelas duas ou três pessoas que, no decorrer de toda uma vida, temos a sorte de conhecer e, com alguma humildade, com as quais vamos aprendendo sobre o verdadeiro significado da vida. Eu ainda estou a aprender.Manuel Fúria (MF): Numa perspectiva cristã, a solidariedade é acção benéfica sobre o outro, exercida pelo amor a Cristo, de forma incondicional, discreta e generosa. Com certeza que momentos mais críticos despertam alguma sensibilidade desse género, mas a verdadeira solidariedade, aquela que não está agrilhoada por conceitos “humanistas”, “sociais” ou “políticos”, está totalmente para lá de circunstâncias culturais e económicas.

Diego Armés (DA): Infelizmente, acho que é mais um ritual – ou um conjunto de rituais – sazonal. Devíamos cuidar melhor uns dos outros.Elisa Rodrigues (ER): Creio que a crise que só existe porque está suportada por uma crescente crise de valores, onde a empatia e a compaixão se perdeu de todo. Não há soluções personalizadas, perdeu-se a preocupação com o outro, não resta muita vontade de ajudar. As regras do sistema são cegas, nunca flexíveis e esquecemo-nos sempre disso até que nos atinge... Desta crise acho difícil sair...

Como é que a música pode ser solidária? Acreditam em solidariedade musical em grande escala, tipo Live Aid?Flak (F): A música é solidária no sentido em que o músico dá o seu melhor para proporcionar um bom momento a quem o ouve. No caso de muitos músicos contemporâneos do GAC, por exemplo, a essa solidariedade era acrescida por andarem por todo o país a tocarem sem cachet em cima de palanques e tractores para ajudarem a criar uma sociedade melhor.   Quanto ao Live Aid, é sempre bom chamar a atenção para as situações que se passam no mundo. Mas também aparecem muitas bandas que aproveitam para se lançarem para um público mais vasto ou relançar carreiras. MF: A música, mais especificamente a música pope, estará sempre, e ainda bem, poluída por alguma espécie de vaidade. Nesse sentido é impossível ser “puramente” solidária. Mas ainda recentemente o Jónatas Pires dos Pontos Negros lançou um disco, convenientemente intitulado, “Tudo é Vaidade” cujas receitas vão integralmente para um projecto de cariz social em Rabo de Peixe, São Miguel. Por isso, em certa medida, é possível a música gerar frutos dessa ordem.Júlio Resende( JR): Acredito que este tipo de eventos pode ajudar a despertar consciências, mas o brilho dos holofotes não é a melhor luz para iluminar o caminho da solidariedade. A melhor luz é a educação.Hélio Morais (HM): A música só pode ser solidária de acordo com cada indivíduo e através da própria música. Há músicas que nos podem ajudar a sentir melhor. Agora, a música enquanto meio, não pode ser solidária. Quanto muito, as pessoas que fazem e trabalham música, podem. Não acredito em solidariedade de instituições, mas sim em solidariedade de pessoas.

LG: Às vezes a música oferece ao ouvinte coisas que ele precisa para se sentir bem, mas não significa obrigatoriamente que tenha sido criada com esse propósito. Já os músicos podem usar o seu trabalho como veículo para a solidariedade. Músicos como os do Live Aid conseguem levar milhares de pessoas a gastar dinheiro para os ver. Se esse dinheiro servir para ajudar outras pessoas a sair de situações complicadas é bom, quer se goste ou não da música deles. Mas eu não conheço bem a história do Live Aid para poder dizer se foi um evento bem feito. E obviamente que também não acredito que toda a solidariedade se resuma a “dar dinheiro”.CG: A música, como as outras formas de arte e cultura, pode ter uma acção solidária, não só veiculando os valores da própria solidariedade, como gerando receitas para acções solidárias ou divulgando casos e situações carentes de solidariedade, servindo de pólo dinamizador.VP: A música pode ser e é solidária, simplesmente por existir. A música é um amigo, é uma paixão, é a magia... a música é a própria solidariedade. Quantos de nós não afirmam que a música lhes salvou a vida? Nos dias que correm, tudo gera em redor do dinheiro... e perdemo-nos sempre do facto de que o dinheiro é apenas um conceito, uma ideia. Há ideias boas e más. Como tal, o dinheiro será uma lâmina de dois gumes. Sim, grandes eventos como o Live Aid podem ajudar, mas eu acho que o nosso problema é muito mais grave. A solução passa pela educação, não só musical, mas a nível de auto-estima, amor-próprio.ER: Acredito que é sempre positivo reforçar e sublinhar determinados valores, se é preciso haver música e luzes para atrair as pessoas, então penso que temos uma ferramenta valiosa e devemos utilizá-la sempre que possível. Sabemos que apesar de ser simbólico o impacto dos concertos na sensibilização do público, pelo menos se gera energia e capital para que se possa agir posteriormente

Ser solidário faz mais sentido nos dias que vivemos?F: Faz exactamente o mesmo que fazia. Há coisas que não mudam.ER: Faz, é mesmo disso que carecemos. Não é segredo nenhum que fazer os outros felizes é a melhor maneira de ser feliz. Se comprares um pacote de fraldas a uma amiga que teve bebé e está apertada com as contas, vais

sentir-te muito melhor do que a ir jantar fora. Parece-me que estamos todos a precisar de ser mais felizes e não é preciso ir muito longe.DA: Ser solidário faz sentido sempre. Nos dias que vivemos, faz sentido que compreendamos isto de uma vez por todas. Se calhar vivemos estes dias porque no passado houve pouca solidariedade. Mas sim, existe mais urgência de solidariedade.AC: Como disse antes, acho que podemos ser solidários sempre. Mas tendo em conta que nestes dias os problemas e as situações em que podemos ajudar estão por vezes tão próximas de nós, talvez faça mais sentido do que nunca ser solidário com quem está por perto.VP: Ser solidário faz sentido agora, ontem, amanhã, no oco dos ossos e à flor da pele. Não há “mais”, nem “menos”. Há “sempre”.JR: Perante a crise, é exactamente quando faz mais sentido. RC: Não. Faz cada vez menos sentido. E é por isso que é preciso contrariar este sentido.

Este ano teremos uma espécie de tributo ao Grupo de Acção Cultural –Vozes Na Luta. O repertório do GAC é novo para muitos. Para outros, menos. Que sentido acham que têm estas canções hoje?CG: Nem todo o repertório do GAC fará sentido nos dias de hoje, uma vez que alguns temas eram extremamente datados e referentes a lutas e à situação política que se vivia no momento. no entanto, há outros temas que permanecem actuais e que reflectem injustiças sociais que permaneceram até hoje.F: Estas canções servem para começar para lembrar às pessoas que para elas terem os direitos e a qualidade de vida que têm hoje foi porque alguém lutou por eles. As novas gerações acham-se com direitos que julgam que vieram do nada… por isso é que os estão a perder.AC: Eu sou um dos muitos para quem o repertório do GAC é novo, e ainda bem porque é sempre um prazer descobrir música nova. Apesar de serem tempos muito diferentes, há um sentimento de revolta nas canções do GAC que pode ser comparado ao que muitos sentem hoje e nesse aspecto, o espírito destas músicas mantém-se actual, o que é interessante de se notar tantos anos depois.LG: Não sei, eu gosto de as ouvir. Acho que isso é o mais importante.RC: Têm um importante valor histórico.

OS DIAS ESTÃO DIFÍCEIS, JÁ O SABEMOS. RETOMANDO AINDA UMA CÉLEBRE CANÇÃO, SOPRAM VENTOS ADVERSOS. E SERÁ APENAS NESTAS ALTURAS QUE SABEMOS SER SOLIDÁRIOS? OU ESSES SÃO VALORES MAIS PRESENTES DO QUE PENSAMOS? CONVERSÁMOS COM ALGUNS DOS PARTICIPANTES DESTA EDIÇÃO DO LISBOA CAPITAL REPÚBLICA POPULAR: AFONSO CABRAL (YOU CAN’T WIN, CHARLIE BROWN), CARLOS GUERREIRO (GAITEIROS DE LISBOA, EX-GAC), DIEGO ARMÊS, ELISA RODRIGUES, FLAK. HÉLIO MORAIS (PAUS), JÚLIO RESENDE, LUÍS GRAVITO (CÃO DA MORTE), MANUEL FÚRIA, RUI CARVALHO (FILHO DA MÃE) E VICENTE PALMA FALAM DO QUE É E NÃO É SER SOLIDÁRIO. ASSIM.

reunir forças

ENTREVISTA

06 I ABRIL, 2012 ABRIL, 2012 I 07

É sobretudo nostalgia... mas é bom que se recorde e se perceba o contexto, musicalmente têm coisas deliciosamente ingénuas com um conteúdo de ferro. Hoje é necessário algo diferente, que toque as pessoas novamente, sem que implique necessariamente retirar-lhe a ingenuidade.MF: Parece-me que, musicalmente, há coisas bem interessantes no repertório do GAC; qualquer outra perspectiva sobre o assunto terá pertinência, sobretudo, museológica.DA: A música de intervenção pode ser intemporal, mesmo quando é criada num momento específico e com uma intenção específica. Pode ser tão intemporal quanto os temas que trata. A injustiça, a desigualdade, a luta de classes, a revolta social – existem onde quer que existam seres humanos, seja em que época for.ER: É difícil a quem não viveu condições tão adversas sentir exactamente o que se sentia, está demasiado fora do meu alcance, mas tive a sorte de ter um pai que me ilustrou muito bem o ambiente... Li um livro com relatos das torturas exercidas pela PIDE tinha ainda doze anos... Marcou-me como me marcam estas canções. O que se passou foi grave e não deve ser repetido jamais, estas canções não devem ser um eco, devem ser uma presença que não nos deixa esquecer, é importante não esquecer.VP: O GAC tem toda a relevância e mais alguma nos dias de hoje. Conta com a mestria de vários ilustres, tais como o Zé Mário e o João Lóio e, já vencendo a nível musical, não é pela timidez que as suas letras se deixam cantar. São autênticos hinos que servem - deveriam servir - para nos acordar. É que ainda não percebemos que vamos mesmo ter de nos zangar.

O papel do músico (ou da arte em geral) deve ter uma função social? Qual?DA: O termo “deve” talvez seja exagerado. Não sei o que a música “deve” ou não “deve” fazer, tal como não sei o que devem ou não devem dizer as outras artes. O que sei é que “pode” – e, se pode, é aproveitar.RC: A arte em geral e a música existe para inundar as pessoas, pode enojá-las, irritá-las, apaixoná-las, influenciá-las... seja lá o que for...mas não “deve” coisa nenhuma. HM: O papel de músico/artista, deve ter,

em primeiro lugar, a função de ser vital para o próprio. Se em segundo plano conseguir tomar uma dimensão social, seja de que que tipo fôr, tanto melhorLG: Penso que não deve existir uma função pré estabelecida, muito menos uma função igual para todos os artistas.É interessante ver o impacto que as canções têm no social e a função que as pessoas lhes atribuem mas isso para mim só deve vir depois. E há grandes canções egocêntricas, narcisistas e despretensiosas que não são menos por isso...VP: O papel do músico é fundamental, seja esta ou outra qualquer arte professada como função social ou não. Tem havido uma lacuna crassa no nosso desenvolvimento como seres humanos, que é focarmo-nos apenas no que é tangível. Nos carros e nas TVs que temos, exibindo-os o mais que podemos, no saber o nome do gajo que está a passear no tapete vermelho ou da outra que está nas capas das revistas, no enunciarmos toda uma série de alíneas enciclopédicas catalogadas como sendo “cultura geral”, no chutarmos este ou aquele estupefaciente para ser aceitável darmo-nos uns com os outros e sentirmos alguma coisa (ou não sentirmos seja o que for) e, no meio de tudo isto, não conseguirmos saber o que nos move realmente. Se calhar sou eu o maluco. Poucas coisas mexem connosco da forma como a música o faz. Não é fácil sobreviver-se como músico - e refiro-me àqueles que estão no meio pela música e não pelo resto - mas preciso do sonho.JR: Eu tenho a certeza que deve ter. A arte tem a capacidade de elevar as pessoas e essa elevação pode fazer exaltar as melhores ou as piores coisas. Ainda assim, para mim a função social deverá ser pensada e posta em prática para todo e qualquer cargo exercido no mundo, os músicos são só uma ínfima parte do todo.ER: Há vários tipos de artista, vários tipos de músico e de sensibilidade. Actualmente interessa-me explorar criativamente coisas diferentes das que interessam a um músico de intervenção, também porque cresci num ambiente mais calmo, daqui para a frente quem sabe se não quero dar voz a palavras dessa família? De qualquer das formas, o artista não cria sem vontade de mostrar o que criou, a obra

não está completa até encontrar o público, até interagir com ele. Tocamos para pessoas, queremos tocá-las. Passar-lhes um momento, ou uma mensagem, ou até dar-lhes uma oportunidade de se sentirem tristes, felizes, de se repensarem, de entrarem em contacto consigo mesmas. De se sentirem. Todos os concertos espero ter ajudado alguém de qualquer forma, penso sempre nisso.

Existem actualmente cantores ou géneros de intervenção em Portugal? E se não, é necessário?HM: Um cantor romântico pode ser um cantor de intervenção. Talvez não no sentido mais romãntico da palavra “intervenção”. Mas sempre que um artista toca em alguém, está a intervir na sua vida.MF: Não faço ideia, não me tenho apercebido que exista alguma coisa desse género. Talvez Os Lacraus e, de certo modo, Os Velhos se coloquem num lugar cuja intransigência possa ser observada sobre essa perspectiva, mas na verdade e citando novamente o Jónatas Pires, “tudo é vaidade”.RC: Talvez não nos mesmos moldes estéticos de há décadas atrás mas é sempre necessário intervenção na música, creio que continua a haver...talvez não em moldes comparáveis com a música de intervenção portuguesa clássica, mas hoje a intervenção na música é difusa, espalha-se por tantas temáticas diferentes que acaba por não chamar tanta atenção, mas isso não faz dela menos importante. Há muito mais gente com coisas para dizer, não que interesse sempre, claro. Acho que há alguns bons exemplos no Hip- -Hop português por exemplo.CG: O mais importante é que a obra, pelo facto de pretender ter abertamente um papel de agitação de ideias, não perca qualidades artísticas e criativas. Enquanto obra artística deve ter sempre como objectivo a máxima qualidade. Vide obras como a de Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Fausto, Júlio Pomar, Paula Rego, Chico Buarque, Caetano Veloso... para só citar uma ínfima parte.LG: Existem cantores e géneros onde podemos encontrar algumas músicas de intervenção. O género em que já ouvi canções de intervenção actuais que gostei mais foi o hip-hop, apesar de não gostar de todo o o

hip-hop interventivo. É certo que há muitos que não escrevem de forma interventiva mas não sei se a questão a colocar é se é necessário haver mais. Há mais coisas sobre as quais se pode cantar e não vale a pena criar canções de intervenção à força. Quando ouço canções de intervenção do Zeca percebo que, além de musicalmente serem muito boas, há ali uma grande honestidade, por ser óbvio que é aquilo que ele realmente tem para dizer.ER: Todo o letrista intervém. Tudo o que ressoa na consciência colectiva tem um peso. E para mim, não se trata de política nem de economia, trata-se de consciência colectiva.DA: Existem muitas formas de intervir, umas mais explícitas, outras mais subtis. Existem, com certeza, cantores e géneros de intervenção em Portugal. E são tão necessários quanto os outros. Fazemos todos muita falta.JR: De intervenção politica é muito raro (pelo menos agora não me lembro). É impressionante e triste pensar que a força do mal-estar que impulsionou a Revolução de Abril era tal que fez com que a tudo o que se fizesse fosse dedicado a superar esse mal-estar,inclusive a Música... a Ditadura é de facto um regime que fumenta a repulsa, e ela sai por todos os poros.Quanto a cantores de intervenção, quantos mais melhor.AC: Existe quem o faça. Assim sem pensar muito no assunto, lembro-me logo do Deus Pátria e Família do B. Fachada. Devem existir mais, com certeza, e outros quantos a quererem ser ouvidos.Se é necessário ou não é discutível. Como disse antes, não pode ser forçado, tem que vir da consciência de cada um, e enquanto houver quem acredite numa causa, haverá alguém para cantá-la.VP: Aquilo que conhecemos como “música de intervenção” está a voltar, se é que alguma vez partiu... porque isto vai mesmo de mal a pior. Mas há várias formas de intervir: uma música não precisa de gritar pelo operário para invocar força; outra que sussurre sobre o amor pode ser bem mais poderosa. Tudo serve para nos despertar os sentidos, abrir os olhos e o coração. A música, já cá canta. Agora só falta a intervenção.

Creio que a crise que só existe porque está suportada por uma crescente crise de valores, onde a empatia e a compaixão se perdeu de todo. Não há soluções personalizadas, perdeu-se a preocupação com o outro, não resta muita vontade de ajudar. As regras do sistema são cegas, nunca flexíveis e esquecemo-nos sempre disso até que nos atinge...Desta crise acho difícil sair... Elisa Rodrigues (ER)

Eu vim dE longE«PARA ELE A MÚSICA É LIBERTADORA: LIBERTA-O DA SOLIDÃO E DA CLAUSURA. LIBERTA-O DA POEIRA DAS BIBLIOTECAS E ABRE-LHE AS PORTAS NO CORPO POR ONDE A ALMA PODE SAIR E CONFRATERNIZAR» MILAN KUNDERA. Há uns alguns dias li numa revista musical em formato digital um classificado em que um músico neozelandês procurava parceiros para um projecto. Segundo ele, quanto mais longínquos estivessem os músicos mais diversificadas seriam as influências e maiores as probabilidades de, em termos musicais, o grupo ser interessante e original. Achei curioso o facto de um grupo de artistas se conhecerem apenas por via da partilha de ficheiros e do resultado poder estar algures na “Cloud” e sempre acessível a todos em qualquer parte do globo.Toda esta realidade me fez recuar ao início da minha carreira em que passei muitas horas a ouvir e a discutir música com um amigo, até que por fim decidimos comprar umas guitarras em segunda mão e com a ajuda de uns baldes de Skip nas percussões criámos a nossa primeira banda. Após intermináveis noites a incomodar a vizinhança, compusemos a nossa primeira canção convencidos que tínhamos inventado um novo género musical, o “Skiprock”.Nesse tempo proliferavam os grupos de garagem, onde a identidade, o estilo e o carisma eram muito mais importantes que a destreza musical. Eram tempos em que a composição musical, pelo menos a este nível, era um acto de partilha entre amigos. Bastavam uma garagem e um pequeno grupo de espectadores atentos e privilegiados para a realização de um concerto.Anos mais tarde, com o aparecimento do ZX Spectrum, tudo começa a mudar. Alguns músicos mais curiosos, percebem o potencial deste novo suporte e começam tirar partido dele. Com a evolução e a democratização destas tecnologias, muitos desenvolvem os seus

primeiros homestudios e a composição musical torna-se um acto muito mais solitário.Se, por um lado, o acesso à informação originou uma maior velocidade na aprendizagem e na comunicação entre músicos, por outro, perdeu-se um certo espírito de equipa e de grupo onde o factor proximidade e comunhão de ideias e ideais eram essenciais à criação do espírito de banda.Naquela época, havia muito menos colaboração entre músicos de diferentes bandas — de certa forma era considerado um acto de alguma promiscuidade —, e a aquisição de discos e instrumentos era mais inacessível, logo a aprendizagem e domínio do instrumento um pouco mais dificultada. Hoje, felizmente, tudo é mais fácil, o acesso às novidades é imediato, as tecnologias muito mais acessíveis e a comunicação mais facilitada. Mas será que todo este manancial de informação, a possibilidade de obter qualquer tipo de informação apenas com um click, não é também um factor de isolamento e de uma certa solidão? Há quem argumente que a internet abriu uma enorme janela para o mundo da música e que hoje em dia é uma das principais ferramentas para a divulgação do trabalho de qualquer artista. Há quem diga que todo este ‘facilitismo’ originou uma certa forma de solidão digital... que as intermináveis horas de ensaios e jam sessions com os amigos se transformaram em horas agarrados ao digital keyboard com os olhos postos no ecrã do computador à procura do sampler perfeito...Enquanto me entrego a esta reflexão, vou enviar os meus ficheiros ao neozelandês, conversar com ele e esperar que disto surja um novo estilo musical, o Skyperock!

Alexandre Cortez

OPINIÃO

ALEXANDRE CORTEZ E UMA HISTÓRIA MUSICAL QUE VAI DA PARTILHA À SOLIDÃO COLECTIVA.

ABRIL, 2012 I 0908 I ABRIL, 2012

10 I ABRIL, 2012 ABRIL, 2012 11

NÃO HÁMAL QUE NÃO ACABEO JORNALISTA JOÃO PACHECO FALA DA URGÊNCIA DE UMA REPORTAGEM QUE AINDA NÃO FOI FEITA.Fico sempre sem jeito quando me passam esta batata quente: “Há uma reportagem que precisa de ser feita.” Muitas vezes os conhecidos, amigos ou familiares só querem ser solidários. Só querem dar ideias e é mesmo só isso. E eu agradeço. O que será do jornalismo quando os jornalistas deixarem de ouvir o que os mais próximos têm para lhes dizer? Obrigado. Obrigado pelas ideias e obrigado pelas críticas.Outras tantas vezes a frase recorrente é dita com algum peso de censura. Como se a seguir a “Há uma reportagem que precisa de ser feita” estivesse implícita a ideia de que “Tu, meu coirão, não fizeste essa reportagem porque és um preguiçoso como todos os jornalistas que andam praí…”.Sim, não sou muito diferente de todos os outros. Estamos quase todos constrangidos a trabalhar cada vez mais em cima do joelho. E somos empurrados para a escolha de assuntos vendáveis, para os perfis de personagens sexy. Ou estamos constrangidos a pelo menos adoptar perspectivas polémicas que possam criar barulho nas chamadas redes sociais. Estamos sobretudo cada vez mais constrangidos a escrever ou a gravar sob o peso de não podermos incomodar a gerência.A gerência reserva o direito de admissão, como nos cafés à antiga lusitana. A gerência reserva também o direito à promoção, sem olhar necessariamente à qualidade do trabalho produzido. Porque afinal o que importa é ser yes-man. E, claro, a gerência reserva o direito à proscrição, caso o jornalista ou a jornalista pisem demasiado a seara do dono. Ou a seara do primo do dono, o que num país pequeno como Portugal acaba por significar qualquer seara, qualquer

assunto, qualquer interesse.E no meio disto tudo, o que é que vos posso dizer quando me vêm com essa de “Há uma reportagem que precisa de ser feita”? Calo-me e assento a morada, anoto a ideia, digo que um dia talvez dê para? Explico-vos que isto de trabalhar em comunicação social é raras vezes parecido com fazer “jornalismo”? Explico-vos que não há condições, que temos dívidas injustas à Segurança Social, que estamos sempre a meio caminho entre o trabalho, o desemprego, os recibos verdes e a solidariedade familiar?Bem sei que há uma reportagem que precisa de ser feita. Obrigado.Há muitas reportagens que precisam tanto de ser feitas. O país precisa tanto de ser reportado. Sem coletes de identificação, obrigado. O país precisa tanto de ser reportado em liberdade, por jornalistas de direita ou de esquerda ou do que quiserem. Mas por bons jornalistas, por jornalistas livres. Não bastam as histórias contadas por comunicadores sociais que não têm tempo nem liberdade de movimentos e de expressão para serem jornalistas – “jornalistas” como fazem falta, entenda-se. Não estou a falar aqui de portadores de microfones nem de tripés de gravador.Há uma reportagem sobre jornalismo que precisa mesmo tanto e tanto de ser feita. Mas ninguém a faz em Portugal. Porque não dá. Não posso, não podemos. Porque seria a última.Até lá continuem por favor a lembrar-me que há uma reportagem que precisa de ser feita

João Pacheco

O ESCRITOR E ARGUMENTISTA NUNO COSTA SANTOS FALA DE SOLIDÃO E SOLIDARIEDADE. E ACABA COM UM APELO AO ARREGAÇAR DE MANGAS.

OPINIÃO

Acho que é o senhor Albert Camus (sim, esse) que tem um conto em que um homem isolado escreve, na solidão do seu quarto, uma inscrição que não se percebe se é “solitário” ou “solidário”. Não tenho a certeza. Mas se é só lhe fica bem ter tido essa ideia no papel. Porque de facto muitas vezes as condições tocam-se. Há muito bom solidário solitário. Há muito boa solidão que se quer dar aos outros, que se quer abrir ao mundo. Só não percebeu como.Até porque os dias não estão para isso. Os dias não estão para gestos largos, generosos, maiores. Não falo apenas da falta de condições financeiras para ajudar quem precisa (tanta gente, caramba!). Falo do cinismo que se instalou e que é, para citar o economês de esquina, um verdadeiro programa de desincentivo ao investimento de quem descer à rua e começar a perceber quem os são os vulneráveis do bairro. Dos mais velhos aos mais pobres.Tornou-se ainda mais difícil tentar ser solidário num mundo que promove não só a solidão mas sobretudo o individualismo blasé. A boca de balcão. Ou de twittada. Tornámo-nos cínicos – e não daquele cinismo bem-humorado e elegante, que põe em causa só para chatear; daquele cinismo que seca - e se calhar ainda não percebemos que essa é a maior doença deste tempo. Os centros de saúde espalhados pelo país deviam ter consultas para acabar com este cinismo, com esta patologia que questiona cada gesto de amor, cada tentativa, que mata quem tenta e se esforça. “Foste ajudar aquela senhora a atravessar a rua? Isso é porque te queres sentir melhor!”. Estão a perceber o que digo?

A especialidade da casa – esta casa que habitamos chamada mundo - tornou-se a problematização. Nisso ninguém nos bate: somos muita bons a problematizar. E nisso, repito, não há solidariedade como a nossa. Estamos sempre prontos a ajudar quem tomou a decisão de arregaçar a manga para ajudar quem precisa. Ajudar a quê? A fornecer-lhe problemas à cachimónia, a dizer-lhe para se deixar de coisas, a voltar para casa, a parar, a regressar à condição de ser autocentrado, sem disponibilidade para outros umbigos, outras respirações. “Não te metas nisso, pá! Vais ajudar os pobrezinhos para quê? O Governo que trate do assunto. Só te vais meter em problemas. Eles ainda se vão virar contra ti. Tu não tens nem condições para te ajudar a ti próprio quanto mais para ajudar os outros”. E um tipo paralisa. Recua. Fica com dúvidas. Sabemos que ser solitário é uma condição que nos cabe a todos pelo menos no essencial da vida. Crescemos, vivemos e morremos sozinhos, numa solidão que pode ser mais ou menos acompanhada e partilhada. Mas esse dado da existência não nos impede, como o outro (no caso, o homem do conto), de sermos solitariamente solidários, que é, em muitos casos, o máximo que podermos ser. Não se pense que esse gesto conta pouco. Conta muito. Acrescenta. Faz cada vez mais a diferença. Volto à imagem: comece-se por arregaçar as mangas em cada bairro, em cada prédio, em cada apartamento, em cada quarto, em cada coração. O resto logo se vê.

Nuno Costa Santos

Travessia do deserTo

OPINIÃO

12 I ABRIL, 2012 ABRIL, 2012 I 13

“Talvez ir ao fim do mundo?! não?”SuSana VinhaiS, 32 anoS, deSempregada

“dizimar os humanos?” diogo FernandeS, 33 anoS, bolSeiro

“Já Te falei no meu ”Plan for World dominaTion 2012/2015”? CasTelo medieval… roboTs guerreiros… míssil TermonuClear… onu sequesTrada… PaPa numa masmorra… fome…. devasTação…. horrores Para além da ComPreensão humana… rings a bell?”antónio padrão, 38 anoS, adVogado

“maTava a PrePoTênCia”CriStina JeSuS SantoS, 52 anoS, Coordenadora de ComuniCação e imagem da Companhia naCional de bailado

“o Problema é que o mundo é um lugar ClaramenTe mal frequenTado. Convidava a sair uns 7 ou 8 mil milhões de Pessoas e Talvez o mundo ainda Tivesse salvação.”nuno gerVáSio, 36 anoS, argumentiSta

“ensinava a Todas as Pessoas do mundo os valores morais e éTiCos, bem Como o resPeiTo Pelos ouTros.“ana gamito, 23 anoS, aSSiStente FinanCeira

“muda-se o mundo mudando. em griTar quando é PreCiso, em mexer o rabo quando somos Chamados a isso. muda-se o mundo nunCa desisTindo de o mudar.”JoSé maria bárCia, 22 anoS, eStudante

“Para salvar o mundo eu volTava ao CamPo.”tânia roSa, 28 anoS, eStudante

“Para salvar o mundo?! Pagava-lhe o melhor dos PsiCoTeraPeuTas. afinal, os

seus “filhos” esTão a deixá-lo dePrimido, PsiCóTiCo, ParanóiCo, biPolar, Com TendênCias suiCidas! ”márCia SilVa, 29 anoS, aSSiStente SoCial

“fazer, fazer, fazer.“bernardo Vilhena, 40 anoS, empreSário

“fazia uma nova arCa de noé, mas desTa vez Com Pessoas. das boas. eu deCidia quem, Claro, Com um CasTing do bem.”ana Santiago, 39 anoS, ComuniCação e relaçõeS públiCaS

“Três Passos simPles:1. feChar o goldman saChs.2. Pôr mulheres à frenTe de Todos os governos do mundo. 3. não deixar Passar nem mais um anúnCio de suPermerCado onde um aCTor CuidadosamenTe seleCCionado Para PareCer vulgar engana velhinhas Com difiCuldade em fazer ConTas ao Preço das “Promoções”alexandre borgeS, 31 anoS, argumentiSta

“nada. fiCava à esPera que alguém me viesse salvar a mim, se for Caso disso.”João trigueiro, 26 anoS, publiCitário

“Traria dos oCeanos Profundos Todos os desCrenTes e amava-os aTé não quererem mais, Para lhes Provar que a vida vale a Pena.”lina niColau, 49 anoS, proFeSSora

“ColoCava Toda a Classe PolíTiCa a reCibos verdes e CarTões vermelhos.”Joana SilVa, 27 anoS, web deSigner

“eu ainda não PerCebi se é o mundo que PreCisa de ser salvo ou nós de sermos salvos do mundo. mas enfim, Para um bom Começo aCabava Com o a Tua Cara não me é esTranha da Tvi e Prendia Para semPre o Pedro granger.”João alVeS, 33 anoS, arquiteCto

Qual é a tua, ó meu? Se é verdade Que o noSSo velho planeta parece eStar a dar aS últimaS fomoS perguntar Se alguém o Quer ajudar. e já agora, como. a pergunta Que fizemoS não é nada ambicioSa, Que ideia.é eSta: o Que fariaS para Salvar o mundo?

POIS CANTÉ!Tiago Pereira, documenTarisTa e auTor da série ‘a música PorTuguesa a gosTar dela PróPria’ fala na Primeira Pessoa sobre solidariedade e a relevância das novas Tradições. Não sei bem dizer o que é ser solidário. Considero que um realizador deve ter uma posição de autor marcada, uma posição política que se manifesta todos os dias, em todos os seus actos. Há muitas pessoas que distinguem o lado lúdico do trabalho; o meu trabalho recompensa-me por si mesmo, mas claramente que quem tem uma vida das 8 às 16 não compreende isto de não ter férias ou fins de semana ou fins de tarde. De manhã à noite tem-se uma missão, uma demanda.Até considero que para a maior parte das pessoas isto é ridículo de se ser tão obcecado, mas de certa forma parar é morrer e o tempo não perdoa, a urgência e a necessidade de documentar são maiores do que tudo. talvez solidário seja essa obstinação.A expressão «ser solidário» ainda tem muito a ver com a insistência do sacralizar um tempo e o PREC. A música tradicional sempre foi evolutiva e de fusão na sua génese. Os puristas por um lado andam à procura do que é genuíno e puro, o que não existe. É como procurar um pote de ouro no fim do arco-íris. A tradição hoje não pode ser vista como uma sacralização do que era há 50/60 anos, a tradição é mutável e foi sempre se adequando e hoje ainda se discute o que é tradicional ou não no meio de grupos de pessoas e bandas que simplesmente repetem o que já foi feito há 30 anos. Para mim que cresci nesse meio da música tradicional, é mesmo estranho ver músicos a fazerem hoje o que o meu pai [ Júlio Pereira] já fez há 30 anos. A lógica da sacralização do que é a noção de rural , tradição campestre e idealismo popular são heranças que vêm do Giacometti e que hoje não acrescentam e não trazem nada de novo. É preciso ver estas coisas como células vivas que se podem imiscuir e misturar com tudo e

que são tão amostras sonoras como a gravação de sons produzidos pelo organismo. ou pelos pássaros na praia.O meu trabalho obviamente que é artístico mas é baseado em arquivos. Eu arquivo para poder “brincar”; basicamente o que faço é criar bases de dados, documentação viva que me permita criar por cima e inventar à vontade. Isto obviamente que me remete para várias posições que se complementam e contradizem, é a mesma situação em relação à tradição mais purista e à música portuguesa actual: se por um lado se deve construir instrumentos de forma a que eles possam servir os músicos em todos os seus devaneios, por outro lado se todas as violas da terra tiverem pick ups e estiverem preparadas para serem tocadas com pedais etc, vão todas soar ao mesmo e vão perder a sua identidade. Tanto podia ser uma viola da terra como uma guitarra eléctrica. No meu trabalho é a mesma coisa:por um lado eu preciso de recolher e de arquivar para que esse trabalho seja feito e as coisas estejam documentadas e mostrem uma música portuguesa viva, fora da indústria, rica e variada, por outro lado é preciso furar os preconceitos e apresentar esses produtos dentro do contexto da arte contemporânea hoje e dentro das teorias do vídeo em tempo real e explorar ao máximo o meio audiovisual. E as duas coisas não passam uma sem a outra mas também criam rupturas e controvérsias.”

Tiago Pereira

OPINIÃO

14 I ABRIL, 2012 ABRIL, 2012 I 15

SOPA DE LETRASTenTe enconTrar as palavras que nos dizem TanTo. TenHa em conTa que esTas podem ser lidas em qualquer direcÇÃo ou senTido.

Quizz “Ser Solidário”

Ser | Solidário | amor | povo | rua | múSica | eu | outro | Gac

QUES-TIO-NÁRIO SOLIDÁRIO

O POvO Canta naRua

T E D A D R G B I L

M O P E R A U S E R

O U O V O P O R M A

R V M V I T O X I A

T A R U A I D A D E

U G C B S C R A E N

O I R A D I L O S A

A I O A G C C M E R

Z X M O V S P A U O

G O A O T A B Z A P

1. Quantas InstItuIções PartIculares de solIdarIedade socIal exIstem em Portugal?a) maIs de 9000B) maIs de 4500c) menos de 500

2. a Palavra “solIdarIedade” aParece Quantas vezes na constItuIção da rePúBlIca Portuguesa?a) 0B) 6c) 10

3. Que InstItuIção, crIada em 1780, é consIderada PrIncIPal referêncIa Para o lançamento da assIstêncIa socIal PúBlIca estatal, em Portugal?a) casa PIaB) santa casa da mIserIcórdIac) cruz vermelha

4. segundo a revIsta forBes, Quem é o maIor fIlantroPo, a nível mundIal?a) mIchael dellB) steve JoBsc) BIll gates

5. InIcIalmente, o álBum “ser solIdárIo” foI recusado no cIrcuIto comercIal. José márIo Branco Pôs então a cIrcular uma carta-cuPão, Que ProPunha um contrato com o PúBlIco: “Quer você aJudar a ProduzIr o meu PróxImo lP?”, Por uma QuantIa de 500$00. aProxImadamente, Quantas Pessoas suBscreveram o cuPão? a) 125B) 800c) 1390

6. em 2009, Quantas Pessoas BenefIcIaram dIrectamente da acção dos 17 Bancos alImentares em actIvIdade, em Portugal?a) 170.000B) 280.000c) 30% da PoPulação Portuguesa

7. “eu vI este Povo a lutar”, canção do álBum “ser solIdárIo”, foI orIgInalmente escrIta Para Que fIlme de luís galvão teles?a) a confederação (1978)B) lIBerdade Para José dIogo (1975) c) cooPeratIva agrícola da torre-Bela (1975)

8. Quantos voluntárIos se encontravam InscrItos na Bolsa de voluntarIado, em 2011?a) 1676B) 16.767c) 10.000

9. Quem dIsse: “a solIdarIedade é o sentImento Que melhor exPressa o resPeIto Pela dIgnIdade humana”?a) franz KafKaB) James Joyce c) sIgmund freud

10. nos estados unIdos, Qual a Percentagem de famílIas Que contrIBuI Para causas não lucratIvas?a) 30%B) 67%c) 89%

respostas: 1. b | 2. c | 3. a | 4. c | 5. b | 6. b | 7. a | 8.b | 9. a | 10. c

Num acto de iNquestioNável solidariedade, NuNo artur silva – argumeNtista e fuNdador das Produções fictícias – aceitou resPoNder ao Nosso iNquérito solidário. Boas PerguNtas Para melhores resPostas.

Ronda da alegRiaPassa o tem-Po, ganha o temPo.

AlertA!Levamos a soLidariedade tão a sério que oferecemos dois passes dupLos para as três noites do Lisboa capitaL repúbLica popuLar.* as duas primeiras respostas certas à pergunta que se segue estão garantidas.*porque a úLtima noite é de entrada Livre, a saLa fica sujeita à Lotação. cheguem cedo!pergunta: a canção “travessia no deserto” foi inspirada num poema de que poeta português?  enviem a resposta para [email protected]

Ser Solidário é Ser piegaS?Ser piegas é ser lamecha, medricas ou mesmo niquento (porto editora). Ser solidário é José Mário Branco.o que é que o outro teM para que o devaMoS aJudar?o outro tem falta.iSto não cheira aSSiM, coMo direMoS, a criStianiSMo?Se o cheiro incomodar abre-se uma janela e deixa-se entrar o ar.neSteS diaS a expreSSão “claSSe Média” ainda faz Sentido? onde?quanto menos há mais sentido faz.Ser Solidário vende?a passagem de modelos de virtudes tem figurinos para todas as bolsas.todo o Solidário é Solitário?Ser solidário é o contrário de ser solitário.o teu acto de Solidariedade ideal?não é ideal. é prático. e não tem publicidade.aJuda ou caridade?em desespero é o que se quiser. Mas o que se quer pode ser o que se fica.Ser Solidário pode Ser criativo?ai pode. tudo pode. neste caso a ideia devia ser o ai pode  substituir o ai pede.a Solidariedade pode ter graça?imensa graça. a maior graça.

GAC/Vozes nA lutAApesar da curta vida e de uma discografia relativamente pequena, o Grupo de Acção Cultural – Vozes Na Luta produziu uma das mais espantosas colecções de canções de combate – ou de intervenção, como se dizia na época. Formados em 1974, no próprio dia em que José Mário Branco regressou do seu exílio parisiense, o GAC (como passou a ser conhecido) definiu-se desde sempre como um colectivo com participação real no então processo revolucionário. Percorreram o país de lés a lés, cantando gratuitamente onde lhes era pedido e em condições extraordinárias: tractores, palanques, adros de igreja, praças – tudo servia para o GAC realizar o trabalho que acreditavam ser o esclarecimento do povo. Os seus membros foram muitos. Para citar apenas alguns: José Mário Branco, Carlos Guerreiro (hoje nos Gaiteiros de Lisboa), Eduardo Paes Mamede, Afonso Dias, João Lisboa, Nuno Ribeiro da Silva ou Raul Vaz, entre outros. Desta aventura, que durou até 1978, resultaram quatro álbuns (recentemente reeditados e rapidamente esgotados) e uma série de singles, alguns dos quais se transformaram literalmente em hinos. Foi o caso de A Cantiga é uma arma e Alerta!, este último apresentado no Festival da Canção RTP de 1975 e posteriormente adaptado pela UDP como o seu hino oficial.

GAC DisCoGrAfiA CompletAÁlbuns

A Cantiga É uma arma - VlP 10001 - 1975 (compilação dos 4 primeiros singles)

Pois Canté!! - VlP 10003 - 1976

...E Vira bom - VlP 10004 - 1977

...Ronda De Alegria!! - VlP 10005 - 1978

singlEs/EPs

Alerta/Em vermelho, Em multidão - Vl 1001 - 1975

Aos soldados e Marinheiros/Ronda do soldadinho - Vl 1002 - 1975

A Cantiga É uma Arma/Viva a guiné bissau - Vl 1003 - 1975

A luta Dos bairros Camarários/A luta do Jornal do Comércio - Vl 1004

A internacional/Classe Contra Classe - Vl 1005 - 1975

Até à Vitória Final/o exército do povo - Vl 1006 - 1975

O poder aos operários e camponeses/Povo Em Armas - Vl 1007

soldados ao lado do Povo/Zé Diogo - Vl 1008 - 1975

Hino da reconstrução do Partido/no sistema Capitalista - Vl 1009 (por editar?)

Contra a Repressão no brasil (sangue em flor/brasil 77) - Al-101

Marchas Populares (o povo canta na rua/o desfile/a festa é nossa/o circo de fachos) -gEP 101

Uma peqUena biografia do grUpo qUe se celebra na última noite do lcrp

DISTRIBUIÇÃO GRATUITAABRIL, 2012

QuIntA . 19 ‘Ser Solidário é Ser humano?’com FranciSco Silva e Pedro marqueS loPeSPovo - 18h. Debate

luiS varatojo+ladrõeS do temPoMusicbox . 23h . Dj+concerto . rock . Pt . 8euros€

seXtA . 20a múSica PortugueSa a goStar dela PróPria’ com gaiteiroS de liSboa, toca’andar e omiri Musicbox . 23h . concertos . Música PoPular Portuguesa . Pt . 8euros€

sÁBADo . 21diego arméSsol & Pesca . 21h30

cão da mortePovo . 22h

vicente Palma velha senhora . 22h30

FeSta anteciPação ‘indieliSboa’ 12+inauguração rua dr. indieliSboa“outrage et rebellion”+Selecta alice, d’eSPiney e eaSyrua Dr. inDie lisboa . 23h . FilMes+Dj’s . entraDa livre

“vozeS na luta” c/ Filho Da Mãe, Manuel Fúria, cão Da Morte, Flak, vicente Pal-Ma, bob Da rage sense, bruno vasconcelos, inês Pereira, Diego arMês, aFonso cabral, hélio Morais + QuiM albergaria e elisa roDrigues + júlio resenDe. Músicos, arranjos: Flak, FiliPe val-entiM e nuno Pessoa Musicbox . 00h . concerto . canção PoPular . Pt . entraDa livre

4/ eDição . 19/20/21 abril . 2012 . Mais inFo eM Musicboxlisboa.coM/ bilhetes eM blueticket.Pt