LÍNGUA & LINGUAGEM

23
LÍNGUA & LINGUAGEM Fátima Andréia Tamanini-Adames (Doutoranda em Letras) 2012 1

description

 

Transcript of LÍNGUA & LINGUAGEM

Page 1: LÍNGUA & LINGUAGEM

1

LÍNGUA &

LINGUAGEM

Fátima Andréia Tamanini-Adames(Doutoranda em Letras)

2012

Page 2: LÍNGUA & LINGUAGEM

2

A CIÊNCIA LINGUÍSTICA

SAUSSURE

Page 3: LÍNGUA & LINGUAGEM

3

LINGUAGEM FACULDADE DADA PELA NATUREZA (NÃO É A LGM Q É NATURAL, MAS A FACULDADE DE

CONSTITUIR UMA LÍNGUA), HETEROGÊNEA E MULTIFACETADA, COM ASPECTOS FÍSICOS (ONDAS SONORAS), FISIOLÓGICOS (ORGÃOS VOCAIS) E PSÍQUICOS (IDÉIA), NÃO SE

DEIXA CLASSIFICAR – UNIDADE IMPOSSÍVEL DE DESCOBRIR – E PERTENCE AO SOCIAL E INDIVIDUAL

LÍNGUA + FALA PROD. SOCIAL PROD.

INDIVIDUAL (SIST. ESTABELECIDO/PROD. DO PASSADO - (EM EVOLUÇÃO/ATUALIZADA

PROD. DE CONVENÇAO ESTABELECIDA - FAZ EVOLUIR A LÍNGUA)

ENTRE MEMBROS DE UM GRUPO) ADQUIRIDA – EXTERIOR AO INDIV. MANIF. EXTERNA DA LÍNGUA

INSTRUMENTO E PRODUTO DA LÍNGUA PSICOLÓGICA

PSICOFÍSICA PARTE ESSENCIAL (DEFINIDA) PARTE ACESSÓRIA (+/- ACIDENTAL)

PROD. REGISTRADO PASSIVAMENTE ATO DE VONTADE

HOMOGÊNEA (SIST. DE SIGNOS) NATUREZA CONCRETA (SIGNOS: REALIDADES COM SEDE NO CÉREBRO E TANGÍVEIS NA ESCRITA) CLASSIFICÁVEL UNIDADE POR SI SÓ -> OBJ. DA LINGUÍSTICA - 1º LUGAR NOS FATOS DA LGM

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 23ª Ed. São Paulo: Cultrix, 2001.

Page 4: LÍNGUA & LINGUAGEM

4

LÍNGUA: LINGUAGEM - FALA Sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas -> unidade da

linguagem. Não exercemos a fala (instrumento e produto da língua) sem o instrumento criado

pela sociedade para exercitá-la: a língua (instrumento e produto da fala). Língua: 1 + 1 + 1... = padrão coletivo (apesar dos dialetos, a língua é

comum) Fala: 1’ + 1’ +... = soma de casos particulares (combinações individuais)

Tesouro depositado pela prática da fala em indivíduos da mesma comunidade. Sistema de valores, conjunto organizado de signos definidos por sua diferença em

rel. a outros signos e pela rel. com o conjunto. O SIGNO (unidade linguística) ESCAPA À VONTADE INDIVIDUAL OU SOCIAL

(Semiologia: ciência dos signos). Só seria atingida na totalidade se pudéssemos abarcar todas as imagens verbais

armazenadas em todos os indivíduos -> Sistema gramatical que existe virtualmente nos cérebros de um conj. de indivíduos, não completo em nenhum, só completo na massa.

Parte psíquica do circuito da fala-> conceito/sgdo + imag. acústica/sgte = signo.

Sistema de valores puros que nada determina fora do estado (sincronia/linguística estática) momentâneo de seus termos (q importa ao falante).

A língua depende: da ação do tempo (1 tempo não a modifica); dos falantes (1 indivíduo não a modifica) -> uma evolução na língua é precedida por uma multidão de fatos similares na fala no decorrer de um tempo.

O sistema da língua é imutável em si mesmo -> metáfora do sist. solar: se um planeta mudar de peso, surgirá outro sistema – as alterações não são no sistema, mas num de seus elementos.

Page 5: LÍNGUA & LINGUAGEM

5

Antes da língua o pensamento é uma massa amorfa indistinta que, associada à massa fônica, formata-a de modo particular: NADA É DISTINTO ANTES DA LÍNGUA.

massa amorfa do pensamento formatada -> conceito/sgdo massa amorfa fônica formatada -> imag. acústica/sgte

= Signo (forma) <-> LÍNGUA

PAPEL DA LÍNGUA Servir de intermediária entre pensamento e som (signo de uma ideia).

A língua é um sistema em que todos os termos são solidários, e o valor de um termo resulta da presença simultânea de outros termos (identidade e diferença): o valor de um termo pode mudar só porque mudou o de outro.

O que permite o funcionamento da língua é o sistema de valores construído a partir das rels. sintagmáticas (por relacionarmos com seu caráter linear) e das rels. associativas (por associação mental) entre as uns. linguísticas (signos, q podem ser percebidos no nível fonológico, morfológico e sintático).

Page 6: LÍNGUA & LINGUAGEM

6

NÃO EXISTE UMA E UMA SÓ DEFINIÇÃO DE LÍNGUA!

TEORIAS LINGUÍSTICAS MAIS IMPORTANTES

Page 7: LÍNGUA & LINGUAGEM

7

(CASTILHO, <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/colunas_interna.php?id_coluna=14>)

Do ponto de vista mental, a língua é uma propriedade dos seres humanos, inscrita no seu código genético, que lhes permite adquiri-la, e nela pensar e se comunicar.

Séc. XIX: Humboldt; séc. XX: Chomsky (estudos sobre aquisição

da linguagem, gramática gerativa, gramática cognitivista, Linguística cognitivista).

Teoria 1: “a língua é uma atividade mental”

Page 8: LÍNGUA & LINGUAGEM

8

TEORIA GERATIVISTA (INTERNALISTA): GERAÇÃO DE SEQUÊNCIAS BEM FORMADAS DA LÍNGUA

RELAÇÃO LINGUAGEM/MENTE (MENTALISMO) -> Há um componente na mente humana dedicado à linguagem (já se descobriu um gene) que

interage com outros sistemas mentais.

TEORIA DOS PRINCÍPIOS E PARÂMETROS (PROGRAMA MINIMALISTA): As línguas operam com propriedades mínimas distintivas -> traços.

A LÍNGUA tem traços que montam itens lexicais (palavras) que serão usados por “operações computacionais” fixas para constituir

“representações semânticas” uniformes.

FACULDADE DA LINGUAGEM (órgão da linguagem - como existem outros órgãos no organismo

humano) ESTÁGIO INICIAL (ei) ESTÁGIO FINAL (PÓS

EXPERIÊNCIA) Se encaixa em sistemas que devem poder “ler” as expressões da

língua e usá-las para instruir o pensamento e a ação. Propriedade da espécie humana – evolução biológica.

CHOMSKY, N. Linguagem e mente. Brasília: Editora UnB, 1998.

Page 9: LÍNGUA & LINGUAGEM

9

LÍNGUA Resultado da ação recíproca do “ei” e da experiência (analisáveis).

Podemos estudar até a comunicação das abelhas - diferente de Benveniste (*). (*) Segundo Benveniste, embora seja bem preciso o sistema de comunicação das

abelhas - ou de qualquer outro animal - ele não constitui uma linguagem, no sentido em que o termo é empregado quando se trata de linguagem humana. Na linguagem das abelhas há a percepção de signos que são compreensíveis para as outras abelhas da colmeia. Assim, podemos observar que essa comunicação é entendida pelas outras abelhas de forma única para aquele grupo. Então podemos dizer que a comunicação das abelhas não é uma linguagem, mas sim um código de sinais no qual esse sistema de transmissão da comunicação está inscrito dentro de uma comunidade e todos seus integrantes irão compreendê-lo da mesma forma.

Há 1 só língua (estr. profunda), com diferença nas margens (estr. de superf. – as minoritárias diferenças importam muito mais que a maioria

em comum – gerada por profundas transformações). COMPETÊNCIA

Conhecimento mental/interno que o falante tem de sua língua -> igual para todos.

DESEMPENHO Uso concreto da língua -> varia conforme as condições socioculturais.

LINGUAGEM Não é um sistema social de comunicação, mas um meio de expressão do

pensamento!

Page 10: LÍNGUA & LINGUAGEM

10

(CASTILHO, <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/colunas_interna.php?id_coluna=14>)

Do ponto de vista gramatical, a língua é um sistema abstrato, é uma estrutura suficientemente complexa para recolher todas as variáveis.

Estudos saussurianos - inclui pontos de vista sobre as unidades linguísticas e sobre os níveis hierárquicos que compõem a estrutura linguística.

Teoria 2: “a língua é uma

estrutura”

Page 11: LÍNGUA & LINGUAGEM

11

SISTEMA: Organização e adequação das partes numa estrutura que explica seus elementos.

ESTRUTURALISTAS: Procuram na rel. dos fonemas entre si o modelo da “estrutura” geral dos “sistemas” linguísticos – filiam-se a Saussure: “A sociedade tb. é uma estrutura com identidades e diferenças que permitem um jogo”(BENVENISTE, 1999).

LÍNGUA COMO REPERTÓRIO COMO ATIVIDADE (1) MANIFESTADA

DE SIGNOS NAS INSTÂNCIAS DE DISCURSO/ ENUNCIADOS (atos cada vez únicos pelos quais

o locutor atualiza a língua em palavra, enunciando): não se concebe língua sem pessoa - eu/tu –ele (2)

CARACTERIZADAS POR ÍNDICES PRÓPRIOS (REFERENTES)

SIST. SEMIÓTICO SIST. SEMÂNTICO

(CUJA UN. É O SIGNO - DE DUPLA FACE) COMO FORMA COMO

ENUNCIADO (= Saussure)

DISCURSO

(1) Na análise dos pronomes pessoais, Benveniste reconhece a natureza da subjetividade, percebendo a necessidade de distinguir a língua como repertório de signos e a língua como ‘atividade’ manifestada nas instâncias de discurso.

(2) Não pessoa.

BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. 4ª Ed. Campinas: Pontes, 1995.

Page 12: LÍNGUA & LINGUAGEM

12

LÍNGUAGEM SISTEMA DE SIGNOS ASSUMIDA

POR UM “EU” (= língua de Saussure) (=

fala de Saussure) (cada locutor assume por sua

conta a linguagem inteira) NÍVEL PRAGMÁTICO (tipo de linguagem

que contem o enunciado que contem “eu”) COMO SISTEMA

EM USO INDIVIDUAL

DIALÓGICA (EU (*)/TU) DISCURSO

(produto da linguagem colocada em uso por um locutor)

Eu não existo fora da linguagem – a linguagem define o indivíduo quando ele se enuncia como locutor pela construção linguística particular de que se serve -> DISCURSO: linguagem em uso.

Quando alguém se apropria da linguagem, ela vira INSTÂNCIAS DE DISCURSO/ENUNCIADOS com referências internas cuja chave é o “eu”.

(*) Única pessoa que pode se manifestar.

Page 13: LÍNGUA & LINGUAGEM

13

LÍNGUAGEM DISCURSO NÃO É INSTRUMENTO DA COMUNICAÇÃO! CARÁTER PRAGMÁTICO

(diferente de Jakobson) LÍNGUA ASSUMIDA POR

UM HOMEM QUE FALA ESTÁ NA NATUREZA DO HOMEM LINGUAGEM POSTA EM AÇÃO

(QUE NÃO A FABRICOU) E ENTRE INTERLOCUTORES

INSTRUMENTO DA LINGUAGEM PROVOCA COMPORTAMENTO ÚNICA FORMA DE NO INTERLOCUTOR COMUNICAÇÃO LINGUÍSTICA PAPEL DE TRANSMISSÃO (ATÉ POR MEIOS NÃO LINGUÍSTICOS – gestos...) NATUREZA NÃO MATERIAL FUNCIONAMENTO SIMBÓLICO ORGANIZAÇÃO ARTICULADA COM CONTEÚDO PROPRIEDADE ASSOCIADA AO HOMEM (NÃO O ATINGIMOS FORA DELA) – MANEIRA PELA QUAL O HOMEM SE CONSTITUI COMO SUJEITO FUNDAMENTA A SUBJETIVIDADE (CUJO FUNDAMENTO ESTÁ NO EXERC. DA LÍNGUA) CONDIÇÃO FUNDAMENTAL: POLARIDADE DAS PESSOAS (CADA LOCUTOR SE APRES. COMO SUJEITO NA LINGUAGEM, REMETENDO A ELE MESMO

COMO “EU” NO SEU DISCURSO (“EU” PROPÕE OUTRA PES. QUE, EMBORA EXTERIOR A MIM, TORNA-SE MEU ECO) – A REALIDADE DO “EU” REMETE À REALIDADE DO DISCURSO CONSEQUÊNCIA PRAGMÁTICA DA LINGUAGEM: COMUNICAÇÃO

Page 14: LÍNGUA & LINGUAGEM

14

LÍNGUA domínio do sentido

2 MODALIDADES/NÍVEIS DE SENTIDO SEMIÓTICO

SEMÂNTICO (= Saussure)

FECHADO ABERTO

LÍNGUA LÍNGUA E CULTURA (deriva de sistema de valores –

branco: paz ou luto) O papel da língua é o de representar, tomar o lugar de outra coisa, tornando-se

substitutivo. O fundamento da Linguística é o simbólico da língua como poder de significação –

todo mecanismo de cultura é simbólico. Propõe 2 TIPOS DE ANÁLISE

INTRALINGUÍSTICA TRANSLINGUÍSTICA

SEMIÓTICA SEMÂNTICA

(introduz língua como) SIGNIFICAR

COMUNICAR UN. SIGNO

DISCURSO PROPR. INTERNA DA LÍNGUA LÍNGUA EM AÇÃO

BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral II. Campinas: Pontes, 1999.

Page 15: LÍNGUA & LINGUAGEM

15

ENUNCIAÇÃO: Colocar a língua em funcionamento por um ato individual de utilização. Ato de produção do enunciado (e não o texto do enunciado). Antes da enunciação, a língua é só uma possibilidade; depois dela, a

língua é efetuada numa instância do discurso, introduzindo um locutor.

A ENUNCIAÇÃO constitui um CENTRO DE REFERÊNCIA INTERNO.

Na língua, há signos plenos e signos vazios que só existem pela enunciação e na rel. aqui/agora do locutor/enunciador.

O locutor usa a língua como instrumento para influenciar o alocutário.

Page 16: LÍNGUA & LINGUAGEM

16

(CASTILHO, <http://www.museulinguaportuguesa.org.br/colunas_interna.php?id_coluna=14>)

Do ponto de vista social, a língua é um feixe de variantes, visto que ela resulta do conjunto das variações.

A Gramática deixa de ser uma disciplina científica autônoma, buscando pontos de contato com a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a Semiologia, a Ciência Política, a História e a Filosofia .

A gramática da língua assim concebida é um conjunto de regras em que se procura correlacionar as classes, as relações e as funções com as situações sociais concretas em que elas foram geradas. Para situar a língua em seu contexto social, essa GRAMÁTICA FUNCIONALISTA ultrapassa o limite da sentença, e avança na análise dos textos extensos.

Halliday propõe uma mudança de enfoque mediante a concentração da atenção nos usuários e nos usos da língua, mediante uma valorização do emissor, do receptor e da variação linguística no quadro da reflexão gramatical.

Teoria 3: “a língua é uma atividade social”

Page 17: LÍNGUA & LINGUAGEM

17

LINGUÍSTICA -> LINGUAGEM EM TODOS OS SEUS ASPECTOS NO ATO E EM EVOLUÇÃO / NASCENTE E EM DISSOLUÇÃO (INCLUI A FALA - fonologia -

AFASIAS)

LINGUAGEM -> DUPLO CARÁTER: FUNÇÃO DISTINTIVA (FONEMAS) + FUNÇÃO SIGNIFICATIVA (MORFEMAS)

FALA: Seleção (P) de palavras (morfemas, fonemas...) a serem combinadas (S) em frases: enunciado.

Quem fala não é livre (é apenas um usuário de palavras), mas seleciona dentro de um repertorio lexical limitado (comum entre EMISSOR e DESTINATÁRIO):

o ATO DE FALA exige um CÓDIGO COMUM - o código impõe limitações de combinações.

Diferentes artes são comparáveis (pode-se converter um livro num filme, balé...) e pertencem não só à linguagem, mas a toda semiótica (Semiótica: ciência dos signos) - traços pansemióticos: compartilhados por vários sistemas de signos, entre eles a linguagem.

O que varia nas línguas são os aspectos gramaticais, mas o significado pode ser expresso identicamente - se uma língua tiver menos aspectos gramaticais, não significa que seja mais obscura.

A diferença entre as línguas está no que deve ou não ser expresso pelo falante, e não no que se possa ou não exprimir - mas, existem aspectos da informação – gramaticais – obrigatórios em todas as línguas.

JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. 20ª Ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

Page 18: LÍNGUA & LINGUAGEM

18

LINGUAGEM ESTRUTURA BIPOLAR

POLO METAFÓRICO POLO METONÍMICO

SIMILARIDADE CONTIGUIDADE

(usamos mais um ou outro polo, conforme o “estilo”)

2 MODOS DE ARRANJO DO SIGNO QUE A LINGUAGEM UTILIZA SELEÇÃO

COMBINAÇÃO SUBSTITUIÇÃO

CONTEXTURA CONCATENAÇÃO (no tempo)

CONCORRÊNCIA (Saussure não viu - crença no caráter linear da linguagem)

ASSOC. AO CÓDIGO ASSOC. AO CÓDIGO E À MSG./CONTEXTO

rel. interna - in absentia rel. externa - in praesentia

Poesia Prosa

Romantismo, Simbolismo, Surrealismo Realismo, Cubismo

Page 19: LÍNGUA & LINGUAGEM

19

A linguagem é um instrumento que serve para transmitir informações – não se pode descrever suas partes sem descrever suas funções – e deve ser estudada em toda variedade de suas funções (FUNCIONALISMO).

PROCESSO LINGUÍSTICO: Ato de comunicação verbal que requer 6 fatores e determina as 6 FUNÇÕES DA LINGUAGEM:

emotiva: determinada pelo emissor, que visa exprimir a sua atitude perante aquilo de que está a falar, uma emoção em relação ao assunto que está a tratar (ex.: "Estou encantada com esta visita.");

conativa: em mensagens centradas no destinatário, tentando influenciá-lo ou levá-lo a agir (ex.: "Fale um pouco mais alto, por favor.");

referencial: na generalidade das mensagens e é determinada pelo contexto: o emissor tem a intenção de informar, de referir, de descrever uma situação um estado de coisas, um acontecimento,. etc. (ex.: "Ontem, em Coimbra, a temperatura atingiu os 32 graus.");

poética: determinada pela mensagem, valorizada por um recurso expressivo (ex.: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!");

metalinguística: quando há a preocupação em esclarecer aspectos do código, quando o emissor e o receptor sentem necessidade de clarificar se estão a referir-se ao mesmo, se não há ambiguidades, etc. (ex.: "Quando disse chá, queria referir-me àquela bebida aromática feita das folhas do chá e não a esta água de limão.")

fática: quando se pretende estabelecer ou manter o contato com o interlocutor, ver se ele está a prestar atenção ou verificar se o canal funciona (ex.: "Estás a ouvir-me?... Sim, claro.").

Page 20: LÍNGUA & LINGUAGEM

20

O estudo das FUNÇÕES DA LINGUAGEM tem sido feito por vários linguistas, além de Jakobson (anos 50), como Karl Buhler, John Lyons e M. A. K. Halliday (<http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=8220>).

BUHLER APRESENTA TRÊS FUNÇÕES DA LINGUAGEM: representativa: a língua é um sistema de representação de tudo aquilo que

constitui para o homem o pensável, tem a função de elaboração do pensamento; através da língua o homem veicula o mundo exterior e interior;

expressiva: ao utilizar a língua, o sujeito falante manifesta uma atitude, uma posição, um ponto de vista (de natureza intelectual, psicológica, moral ou afetiva) em relação àquilo de que fala;

apelativa: o emissor visa uma reação por parte do receptor da mensagem. LYONS DEFINE TRÊS FUNÇÕES: descritiva: idêntica à referencial de Jakobson; expressiva: idêntica à emotiva de Jakobson; social: de comunicação e integração na comunidade a que se pertence. HALLIDAY CONSIDERA TRÊS (META)FUNÇÕES (*): ideacional: a linguagem serve para organizar a experiência e a interpretação

do real, com a referência a tudo o que pretendemos (intervenientes, situações, espaço, tempo, etc.);

interpessoal: a linguagem serve para estabelecer relações entre as pessoas; textual: a capacidade do falante em criar e reconhecer unidades textuais.

(*) FAIRCLOUGH: significados textuais acionais, identitários e representacionais

Page 21: LÍNGUA & LINGUAGEM

21

FILOSOFIA DA LINGUAGEM

BAKHTIN

Page 22: LÍNGUA & LINGUAGEM

22

As esferas de atividade humana estão relacionadas com o uso da língua, que

se efetua na forma de enunciados (unidades reais de comunicação), concretos e únicos (individuais) que emanam dos integrantes de uma dada esfera.

A língua penetra na vida através de enunciados concretos que a realizam e a vida penetra na língua através dos enunciados concretos .

Apenas no enunciado a língua se encarna individualmente.

Os estilos da língua pertencem por natureza ao gênero do discurso (forma prescritiva do enunciado).

A língua requer o locutor e o objeto de seu discurso.

NATUREZA DA LÍNGUA Ter compreensão responsiva ativa

(comunicação verbal– o diálogo é a forma clássica).

BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da Criação Verbal. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes,

1997, p. 277-326.

Page 23: LÍNGUA & LINGUAGEM

23

Para ele o único objeto real e material de que dispomos para entender o fenômeno da linguagem humana é o exercício da fala em sociedade.

[...] Para ele, a língua — que Saussure considera o objeto da linguística — não passa de um modelo abstrato, construído pelo teórico a partir da linguagem viva a real. Coerentemente Saussure afirmava que “não é o objeto que precede o ponto de vista, mas é o ponto de vista que cria o objeto”. No caso da linguística é exatamente o que ocorre: o seu objeto é criado a partir do ponto de vista de que a linguagem humana não pode ser objeto de conhecimento científico, assim como o exercício da fala.

[...] Mas, muito mais do que isto, para Bakhtin, já que se trata de linguagem e não de língua, a unidade básica não pode ser o signo, mas o enunciado. Um enunciado não é um signo pela simples razão de que para existir ele exige a presença de um enunciador (quem fala, quem escreve) e de um receptor (quem ouve, quem lê). O signo faz parte de uma construção teórica que dispensa os sujeitos reais do discurso.

[...] TODA LINGUAGEM SÓ EXISTE NUM COMPLEXÍSSIMO SISTEMA DE DIÁLOGOS, QUE NUNCA SE INTERROMPE.

[...] Portanto, por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema correspondem no texto tudo o que é repetido e reproduzido e tudo que pode �ser repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora de tal texto (o dado).

[...] Vemos assim que aquilo que diz respeito à língua é o que é repetível, o que é recorrente, o que é reprodutível. O que, enfim, não tem identidade própria. Os fonemas (ou as letras na linguagem escrita), os significantes, a sintaxe, enfim, os signos e sus regras de combinação, na linguagem de Saussure. As mesmas palavras podem participar de enunciados diferentes, as mesmas figuras de retórica, uma mesma construção sintática. Tudo isto fica no domínio da língua, do aparato técnico da linguagem. (RIBEIRO, < http://revistabrasil.org/revista/artigos/crise.htm>)