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EMN-008 OSTENSIVO LIDERANÇA MILITAR MARINHA DO BRASIL ESCOLA DE APRENDIZES-MARINHEIROS DO ESPÍRITO SANTO 2017

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EMN-008 OSTENSIVO

LIDERANÇA MILITAR

MARINHA DO BRASIL

ESCOLA DE APRENDIZES-MARINHEIROS DO ESPÍRITO SANTO

2017

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LIDERANÇA MILITAR

MARINHA DO BRASIL

ESCOLA DE APRENDIZES-MARINHEROS DO ESPÍRITO SANTO

2017

FINALIDADE: DIDÁTICA

2ª REVISÃO

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OSTENSIVO EMN-008

ATO DE APROVAÇÃO

Aprovo, para emprego nas Escolas de Aprendizes-Marinheiros, a 2ª revisão da publicação

EMN-008 – APOSTILA DE LIDERANÇA MILITAR.

VILA VELHA, ES.

Em, de janeiro de 2017.

FÁBIO CASES PASSOSCapitão de Fragata

ComandanteASSINADO DIGITALMENTE

AUTENTICADOPELO ORC

RUBRICA

Em _____/___/____

OSTENSIVO - II - REV 2

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ÍNDICE

PÁGINASFolha de Rosto............................................................................................................................... IAto de Aprovação.......................................................................................................................... IIÍndice ............................................................................................................................................ IIIIntrodução ..................................................................................................................................... VII

CAPÍTULO 1 - ETIMOLOGIA DO TERMO ÉTICA

1.1.1 - Introdução 1-1

1.1.2 – Definição de ética 1-1

1.2 – CONCEITOS DE ÉTICA 1-3

1.3 – MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS ARMADAS 1-3

1.4 – PRINCIPIOS ÉTICOS 1-4

1.5 – A ÉTICA MILITAR 1-5

1.5.1 – Preceitos da Ética Militar 1-4

1.5.2 – Deveres Militares 1-7

1.6 – RESPONSABILIDADE MORAL E LEGAL 1-7

CAPÍTULO 2 - COMPORTAMENTO MILITAR NAVAL E SOCIAL2.1 - COMPORTAMENTO SOCIAL 2-1

2.1.1 - Breve histórico 2-1

2.2 - CONDUTA ÉTICO-MILITAR E COMPORTAMENTO SOCIAL 2-2

2.2.1-Ética Militar 2-3

2.3 - EDUCAÇÃO E POSTURA 2-3

2.3.1 - Boas maneiras 2-3

2.3.2 - Inimigos da etiqueta 2-3

2.3.3 - Onde começa a etiqueta 2-5

2.3.4 - Cuidados Importantes 2-5

2.3.5 - Postura e Elegância 2-7

2.3.6 - Afabilidade 2-9

2.4 - REUNIÕES, ENCONTROS E CERIMÔNIAS: AMBIENTE CIVIL E MILITAR 2-92.4.1 - Tradição 2-9

2.4.2 - Reuniões, Encontros e Cerimônias 2-10

2.4.3 - Auditório 2-11

2.4.4 - Na Marinha do Brasil 2-11

2.5 - SALÃO DE RECREIO E REFEITÓRIO 2-11

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2.5.1 – Salão de recreio 2-11

2.5.2 – Refeitório ou coberta de rancho 2-12

2.6 – POSTURA À MESA 2-12

2.6.1 - Imprevistos 2-14

2.6.2 - Inconvenientes 2-14

2.7 – CUMPRIMENTOS MILITARES E SOCIAIS 2-14

2.7.1 - Cumprimentos militares e sociais 2-14

2.7.1.1 – Cumprimentos Militares 2-14

2.7.1.2 – Cumprimentos Sociais (em ambiente civil e sem uso de farda) 2-15

2.7.2 – Apresentações 2-16

2.8 – CONVERSAÇÃO 2-16

2.9 – FOTOGRAFIAS 2-17

2.10 – TELEFONEMAS 2-17

2.11 – SÍTIOS DE RELACIONAMENTO SOCIAL 2-18

2.11.1 – Cuidados com a exposição pessoal na internet 2-19

2.11.2 – Agradecimentos 2-19

2.12 – VESTUÁRIOS E TRAJES 2-19

2.13 – UNIFORMES E TRAJE CIVIL 2-19

2.13.1 – Comportamento de militares uniformizados em cerimônias e eventos sociais 2-20

2.13.2 – Traje civil 2-21

2.14 - CUIDADOS IMPORTANTES COM OS TRAJES 2-21

2.15 – CAVALHEIRISMO X HIERARQUIA 2-22

2.15.1 - O que faz um cavalheiro 2-22

2.15.2 - Cavalheirismo X Hierarquia 2-22

CAPÍTULO 3 - HIERARQUIA, DISCIPLINA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE3.1 – ASPECTOS PRIMORDIAIS DA HIERARQUIA, AUTORIDADE E

RESPONSABILIDADE.

3-1

3.1.1 - Hierarquia 3-1

3.1.2 - Autoridade 3-2

3.1.3 – Delegação de autoridade 3-2

3.1.4 - Responsabilidade 3-33.2 – IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA E DA AUTODISCIPLINA 3-4

3.2.1 – Disciplina 3-4

3.2.2 – Autodisciplina 3-5

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3.2.3 – Decálogo de Liderança 3-6

CAPÍTULO 4 - 4.1 – Ética militar naval 4-1

CAPÍTULO 5 - LIDERANÇA5.1 – CONCEITO DE LIDERANÇA 5-1

5.1.1 – Fatores a considerar 5-1

5.1.2 – Teorias e abordagens 5-1

5.1.3 – Definições 5-2

5.2 – IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA COMO ATRIBUTO ESSENCIAL AO

MILITAR

5-3

5.2.1 – Importância da Liderança 5-3

5.2.1.1 – A importância de uma liderança transformadora 5-3

5.2.2 – Rendimento do elemento humano 5-4

5.2.3 – Desenvolvimento da Liderança 5-4

5.3 – A TEORIA DOS GRUPOS HUMANOS 5-5

5.3.1 – Introdução 5-5

5.3.2 – Definição de grupo 5-5

5.3.3 – O indivíduo e o grupo 5-5

5.3.4 – Classificação do grupos 5-65.3.5 – Características de uma participação eficiente no grupo 5-7

5.3.6 – Comunicação no grupo 5-7

5.3.7 – Formação da personalidade do grupo 5-8

5.3.8 – Dinâmica de grupo 5-8

5.4 – BASES DA LIDERANÇA 5-105.4.1 – Bases Filosóficas da Liderança 5-105.4.2 – Bases Psicológicas da Liderança 5-145.4.3 – Bases Sociológicas da Liderança 5-205.5 – TIPOS DE LIDERANÇA E SUAS CARACTERÍSTICAS 5-26

5.5.1 – Estilos de liderança 5-26

5.5.2 – Níveis de liderança 5-295.5.3 – Manifestações patológicas da liderança 5-305.6 – FORMAS DO LÍDER TRABALHAR COM OS PROBLEMAS COMUNS NA

DI- NÂMICA DE UM GRUPO

5-30

5.6.1 – Formas de exercer influência no grupo Aspectos psicológicos a considerar 5-305.6.2 - Processos de influenciação 5-315.7 – COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS DE UM GRUPO DIANTE DOS

ES- TILOS DE LIDERANÇA

5-33

5.7.1 - Introdução 5-33

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5.7.2 – Comportamento diante da liderança autocrática ou autoritária 5-34

5.7.3 – Comportamento diante da liderança democrática ou participativa 5-34

5.7.4 – Comportamento diante da liderança delegativa ou liberal 5-35

5.7.5 – Repercussões da experiência e Iowa 5-35

5.8 – ATRIBUTOS E CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DO LÍDER 5-35

5.8.1 - Introdução 5-355.8.2 – Principais atributos de um líder 5-365.8.3 – Procedimentos para se tornar um líder 5-39

ANEXO – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASA-1

A-2

A-3

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INTRODUÇÃO

1 – PROPÓSITO

Esta publicação tem o propósito de apresentar uma síntese dos conceitos e princípios que regem o

processo de liderança, extraída das publicações relacionadas na bibliografia, em conformidade com

o Sumário da Disciplina, ministrada no Curso de Formação de Marinheiros para a Ativa. Permite

aos Aprendizes-Marinheiros, utilizando uma única fonte de referência, a obtenção dos

conhecimentos iniciais, formando as bases para o desenvolvimento de sua capacidade de liderança

no decorrer da carreira naval. Além disso, contribui para a padronização do conteúdo ministrado

pelos diversos instrutores, espelhando, de forma homogênea, a doutrina da Marinha sobre a matéria.

2 - DESCRIÇÃO

No capítulo 1, são apresentados os elementos conceituais, os princípios básicos de liderança, sua

importância, bem como noções das ciências humanas que lhe dão suporte.

No capítulo 2, a ênfase está voltada para o contexto militar, os estilos e níveis de liderança,

destacando-se os valores cultuados pela Marinha, o desenvolvimento de atributos pessoais, o cultivo

da disciplina e o respeito à hierarquia.

As referências bibliográficas encontradas entre parênteses, no texto, possuem o seguinte

significado: o primeiro algarismo refere-se ao número de ordem das publicações conforme

aparecem no Anexo A; os demais algarismos, após o sinal de dois pontos, significam a página em

que o assunto pode ser encontrado na citada referência.

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CAPÍTULO 1

FUNDAMENTOS DA ÉTICA

1.1 – ETIMOLOGIA DO TERMO ÉTICA

1.1.1 - Introdução

É próprio de a Marinha apresentar singular dicotomia que, no decorrer dos séculos, se

mantém como característica muito perene e rejuvenescedora: Se, por um lado, cultua o passado com

incomum devoção, por outro se dedica, com audácia de pioneiros, a averiguar o futuro. Mantém

tradições como talvez nenhuma outra instituição brasileira e, com o mesmo afã, lança-se à linha de

frente nas fronteiras da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico.

Sem choque de mentalidades, os usos e costumes formadores de nossa rica tradição naval

convivem, com a busca metódica e contínua dos mais avançados conhecimentos da ciência e, em

decorrência, da arte da guerra no mar e do mar para a terra. É o passado e o futuro em perfeita

harmonia.

Assim é a Marinha. É da sua própria natureza esse extraordinário contraste, que em nada a

abala como instituição nacional permanente e em nada lhe esmorece a coesão como instituição

profissional-militar.

As múltiplas e rápidas mudanças ocorrem nas organizações e grupos humanos, consequência

da exponencial evolução da ciência e da tecnologia em todos os campos do conhecimento humano.

Elas influenciam inevitavelmente nossa instituição naval. Negar isto é negar o óbvio.

Por esses motivos, devemos cuidar com perseverança de nossas tradições, usos e costumes

navais como uma espécie de elo a nos tornar um grupo distinto, seja na paz, seja nas crises e

conflitos armados, se porventura para tal formos chamados pela Nação.

No decorrer de séculos, a cultura de nossa Marinha nos dá fantástica lição de sabedoria ao ter

permanentemente harmonizado “o tradicional” com “o inovador”. O encontro desse justo

denominador comum, o ponto ideal de equilíbrio característico do nosso modo de vida institucional,

advém da forma marinheira de cuidar de nossos navios e pensar a Defesa da Pátria - mais uma

herança de nossa História Naval.

1.1.2 – Definição de ética

Ética, do grego ethos, que significa modo de ser, caráter, comportamento, é o ramo da

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filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade.

Diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes

ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a ética, ao contrário, busca

fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano.

Na filosofia clássica, a ética não se resume ao estudo da moral, entendida como "costume", do

latim mos, mores, mas a todo o campo do conhecimento que não é abrangido na física, metafísica,

estética, na lógica e nem na retórica. Assim, a ética abrangia os campos que atualmente são

denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, educação física, dietética e

até mesmo política, em suma, campos direta ou indiretamente ligados a maneiras de viver.

Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à

revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia, particularmente

da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim, é comum que

atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais

nas sociedades humanas" e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento

humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido,

ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade desta

conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.

A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa frequência a lei tenha

como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser

compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer

sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões

abrangidas no escopo da ética.

Hoje em dia, a maioria das profissões tem o seu próprio

código de ética profissional, que é um conjunto de normas de

cumprimento obrigatório, derivadas da ética, e que por ser um

código escrito e frequentemente incorporado à lei pública não

deveria se chamar de "código de ética" e sim "Legislação da

Profissão". Nesses casos, os princípios éticos passam a ter força

de lei; note-se que, mesmo nos casos em que esses códigos não

estão incorporados à lei, seu estudo tem alta probabilidade de

exercer influência, por exemplo, em julgamentos nos quais se

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discutam fatos relativos à conduta profissional. Ademais, o seu não cumprimento pode resultar em

sanções executadas pela sociedade profissional, como censura pública e suspensão temporária ou

definitiva do direito de exercer a profissão, situações essas algumas vezes revertidas pela justiça

comum, principalmente quando os "códigos de ética" de certas profissões apresentam viés que

contraria a lei ordinária.

1.2 – CONCEITOS DE ÉTICA

É a ciência do comportamento moral dos

homens em sociedade.

É o conjunto de normas de comportamento e

formas de vida através do qual o homem tende a

realizar o valor do bem.

É um padrão aplicável à conduta de um grupo

bem definido, padrão esse que nos permite aprovar ou

desaprovar agentes e suas ações. (Comissão de Ética

da Presidência da República).

É o conjunto de princípios, valores, costumes, tradições, normas estatutárias e regulamentos

que regem o juízo de conduta do militar. Na Marinha do Brasil esse conceito é entendido como

Ética Militar Naval.

1.3 – MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS ARMADAS

As Forças Armadas, essenciais à execução da

política de segurança nacional, são constituídas pela

Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, e destinam-

se a defender a Pátria e garantir os poderes

constituídos, a lei e a ordem. São Instituições

nacionais, permanentes e regulares, organizadas com

base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade

suprema do Presidente da República e dentro dos limites da lei.

Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma

categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares.

São considerados reserva das Forças Armadas:

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I – individualmente:

a) os militares da reserva remunerada; e

b) os demais cidadãos em condições de convocação ou de mobilização para a ativa;

II – no seu conjunto:

a) as polícias militares; e

b) os corpos de bombeiros militares.

A Marinha Mercante, a Aviação Civil e as empresas declaradas diretamente relacionadas com

a segurança nacional são, também, consideradas, para efeitos de mobilização e de emprego, reserva

das Forças Armadas.

O pessoal componente da Marinha Mercante, da Aviação Civil e das empresas declaradas

diretamente relacionadas com a segurança nacional, bem como os demais cidadãos em condições de

convocação ou mobilização para a ativa, só serão considerados militares quando convocados ou

mobilizados para o serviço das Forças Armadas.

A carreira militar é caracterizada por atividade continuada e inteiramente devotada às

finalidades precípuas das Forças Armadas, denominada atividade militar.

1.4 – PRINCIPIOS ÉTICOS

1.4.1- Diferença entre a ética normativa (institucionalizada) e a ética moral.

A Ética pode ser entendida como a Ciência da Moral. E se divide na ética normativa e na

teoria da moral. A primeira investiga o problema do bem e do mal, estabelece o código moral do

comportamento, identifica aspirações dignas e a boa conduta, e qual o sentido da vida.

Normalmente dá origem a códigos ou estatutos. A teoria da moral enfoca a essência da vida, sua

origem e desenvolvimento, as leis que prescrevem suas normas e a origem e a essência das virtudes,

seu caráter histórico e cultural, distinguindo o indivíduo do grupo. Está relacionada com o

comportamento individual.

1.5 – A ÉTICA MILITAR

O militar deve se esforçar na preservação das manifestações essenciais do valor militar,

estabelecidas no Estatuto dos Militares:

• o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever militar e pelo

solene juramento de fidelidade à Pátria até com o sacrifício da própria vida;

• o civismo e o culto das tradições históricas;

• a fé na missão elevada das Forças Armadas;

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• o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização onde serve;

• o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é exercida; e

• o aprimoramento técnico-profissional.

Além dessas, inclui-se a “obediência aos superiores” - virtude essencial ao cumprimento

pronto e eficiente das ordens legais dos legítimos superiores hierárquicos. Entretanto, para permitir

desempenhos adequados, deve ser alicerçada num ideal de competência profissional, fundamentada

nas tradições e no espírito de servir ao País, fatores unificadores e motivadores das Forças Armadas.

Consequentemente, a obediência não pode estar subordinada aos prazeres ou às afinidades sociais,

econômicas, políticas ou religiosas de cada indivíduo; deve resultar, sim, de um padrão coerente de

atitudes, valores e visões que fazem parte da ética militar.

1.5.1 – Preceitos da Ética Militar

A Ética Militar Naval é um atributo que induz ao

atendimento das regras de conduta compatíveis com o

comportamento militar naval desejado.

A Marinha precisa de militares, homens e

mulheres, que observem em suas vidas,

permanentemente, os preceitos da ética militar

estabelecidos no Estatuto dos Militares:

a) amar a verdade e a responsabilidade como

fundamento de dignidade pessoal;

b) exercer, com autoridade, eficiência e probidade,

as funções que lhe couberem em decorrência do cargo;

c) respeitar a dignidade da pessoa humana;

d) cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades

competentes;

e) ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados;

f) zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados,

tendo em vista o cumprimento da missão comum;

g) empregar todas as suas energias em benefício do serviço;

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h) praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemente, o espírito de cooperação;

i) ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;

j) abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza;

k) acatar as autoridades civis;

l) cumprir seus deveres de cidadão;

m) proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular:

n) observar as normas da boa educação;

o) garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de família

modelar;

p) conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na inatividade, de modo que não sejam

prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e do decoro militar;

q) abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de qualquer

natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros;

r) abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas;

• em atividades político-partidárias;

• em atividades comerciais;

• em atividades industriais;

• para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou

militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente

autorizado;

• no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja na administração

pública; e

s) zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um de seus integrantes; obedecendo e

fazendo obedecer os preceitos da ética militar.

Além dos preceitos acima elencados, fazem parte ainda, dentre outros, o código de honra

expresso na “Rosa das Virtudes” e os dizeres do juramento à Bandeira.

Todos os preceitos da Ética Militar Naval constituem um poderoso instrumento para o

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exercício da liderança naval e devem, sempre que possível, serem exaltados.

1.5.2 – Deveres Militares

Como estabelecido no Estatuto dos Militares, não deve ser esquecido que “os deveres

militares emanam de um conjunto de vínculos racionais e morais que ligam o militar à Pátria e ao

seu serviço, e compreendem, essencialmente:

• a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser

defendidas, mesmo com o sacrifício da própria vida;

• o culto aos Símbolos Nacionais;

• a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;

• a disciplina e o respeito à hierarquia;

• o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e

• a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.”

1.6 – RESPONSABILIDADE MORAL E LEGAL

Entende-se por responsabilidade a

obrigação de responder por certos atos, próprios

ou de outrem. É inquestionável que sem

responsabilidade não há liderança.

Distinguem-se, nitidamente, dois tipos de responsabilidade: a responsabilidade moral e a

legal.

A responsabilidade moral, conhecida também como senso de responsabilidade, é a capacidade

que o militar deve ter para cumprir as suas atribuições e as que sejam requeridas pela administração

e de assumir e enfrentar as consequências de seus atos e omissões, de suas atitudes e decisões.

A responsabilidade moral não tem limites fixados. Está na consciência de cada um, no senso

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de moralidade, na sua assimilação dos padrões de moral da sociedade, em determinada época e

cultura.

A responsabilidade moral significa um indivíduo senhor de

suas ações, respondendo por elas perante a própria consciência e

de acordo com o padrão de moralidade existente, mesmo sem estar

obrigado a prestar contas por força de lei ou regulamento.

A responsabilidade legal, por sua vez, é a estabelecida por lei ou regulamento, fruto da função

exercida pelo militar.

O líder assume a responsabilidade legal e moral, e tem plena consciência de quando cabem as

duas e em que extensão. Tal fato lhe acarreta dignidade e autoridade moral.

A responsabilidade moral é um processo de avanço na batalha pessoal contra a fraqueza, a

conveniência e a relutância pessoais. Ela traz como recompensa o ganho em força de caráter,

decisão e conquista de confiança quer dos outros, quer de si mesmo.

Um procedimento é considerado moralmente ou eticamente correto não somente por ser fiel

aos regulamentos e manuais, ou seja, ser legal, mas também por ser basicamente forjado no dia a

dia, na rotina de bordo e nos adestramentos, e serem, finalmente, considerados como parte

inalienável de nossas tradições e costumes. Nem todas as decisões envolvem um problema moral ou

ético; inclusive, a maioria é eticamente neutra. Entretanto, isto não significa que devemos

desconsiderar as consequências de nossos atos.

Quando refletimos sobre nossos pensamentos e ações estamos desenvolvendo o senso de certo

e errado, característica fundamental das pessoas eticamente sensíveis, como o são os grandes

líderes.

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CAPÍTULO 2

COMPORTAMENTO MILITAR NAVAL E SOCIAL

2.1 - COMPORTAMENTO SOCIAL

2.1.1 - Breve histórico

Quando se fala em etiqueta, é comum a

associação da palavra a regras restritas aos

extratos mais elevados da sociedade, fora do

alcance da maior parte das pessoas. Por muito

tempo esta foi a ideia de etiqueta, porém, hoje,

deve ser entendida como um importante

elemento de formação individual que engloba

um conjunto de regras e hábitos sociais capaz

de disciplinar a atitude de cada um em relação

ao próximo.

Os indivíduos que sabem se portar em cada circunstância e ocasião acabam se sentindo mais

seguros e proporcionam em seus meios sociais um lugar mais agradável ao convívio e também à

produção. No campo profissional vale ressaltar a importância das boas maneiras para melhorar as

relações no trabalho e a capacidade de representação de instituições pelos indivíduos que as

compõem, principalmente num mundo globalizado.

De pouco adianta um profissional extremamente qualificado, mas que não tenha aptidão para

se relacionar com as pessoas. O ser humano precisa compreender qual o seu grau de

comprometimento e sua inserção social para ter uma melhor qualidade de vida.

As regras de etiqueta variam no tempo e no espaço. As regras mudam conforme as mudanças

da própria sociedade e de sociedade para sociedade porque refletem hábitos, tradições, crenças,

concepções, influências etc.

A palavra francesa étiquette, adotada pelo português, significa rótulo, tarja, bilhete de

qualidade. Desta forma, etiqueta é o resultado de uma boa educação acrescida do bom senso para

discernir e decidir as melhores escolhas.

A etiqueta tem como objetivos: promover maior segurança em situações sociais diversas;

propiciar a melhoria nos relacionamentos interpessoais (convívio social harmônico); promover uma

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maior respeitabilidade entre os membros de uma família ou do trabalho; e promover uma boa

imagem social (fator diferencial entre os indivíduos).

A função básica da etiqueta social é possibilitar um convívio social agradável. Preservar bons

hábitos e costumes pode ser relevante e possibilita que a vida em sociedade seja mais harmônica.

A inspiração da etiqueta está no cuidado e respeito com o próximo, baseada em regras

simples, no bom senso e na cordialidade.

2.2 - CONDUTA ÉTICO-MILITAR E COMPORTAMENTO SOCIAL

Conforme consta na publicação Normas

Para a Conduta Ético-Militar e Atividades

Sociais no âmbito Militar (DGPM-319), o

comportamento militar deverá ser sempre

orientado pelas prescrições constantes do

Estatuto dos Militares, pelos deveres do

pessoal estipulados na Ordenança Geral para

o Serviço da Armada, pelo respeito à

condição do militar, homem ou mulher, pela

dignidade de seu papel na família, pelo seu compromisso profissional, bem como pelas tradições de

disciplina, decoro e dedicação, características da vida naval.

As boas normas aplicadas ao comportamento social estão intimamente relacionadas à conduta

ético-militar e são complementares entre si. São procedimentos e atitudes transmitidas pelos

ascendentes ou adquiridos pela observação rigorosa do que é moralmente aceito no seio de uma

sociedade, na vida familiar e na vida militar.

Os militares da MB devem, em todas as circunstâncias da vida privada e profissional, nas

cerimônias militares e nos eventos sociais, de cunho militar ou não, proceder à constante

autocrítica, pautando seu comportamento pela discrição, elegância, fidalguia e primor em suas

atitudes e maneiras, de modo a zelar pelo bom nome da Instituição e de cada um de seus

integrantes. Nesse sentido, deverá informar-se e observar atentamente as regras de etiqueta

referentes à postura, aos cumprimentos, à linguagem e ao modo de se expressar, aos procedimentos

à mesa, à movimentação no ambiente, aos modos de sentar, evitando todo e qualquer excesso.

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2.2.1-Ética Militar

Segundo o Art.28, da Seção II do Estatuto dos Militares, o sentimento do dever, o pundonor

militar e o decoro da classe impõem, a cada um dos integrantes das Forças Armadas, conduta moral

e profissional irrepreensíveis, com a observância de alguns preceitos de ética militar, entre eles:

amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de dignidade pessoal; respeitar a dignidade

humana; zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, também, pelo dos subordinados;

ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada; proceder de maneira

ilibada na vida pública e particular; observar as normas da boa educação; garantir assistência moral

e material ao seu lar e conduzir-se como chefe de família modelar.

2.3 - EDUCAÇÃO E POSTURA

2.3.1 - Boas maneiras

Etiqueta, boas maneiras e postura são

quesitos aprimorados ao longo da vida, porém,

a base de tudo é a educação. Educação que nos

é ensinada desde tenra idade. Nada é muito

novo: respeitar as pessoas para ser respeitado,

lembrar dos limites, ser gentil, ser agradável

numa conversa, fazer o melhor possível, ouvir

mais em vez de falar e tantas outras

delicadezas pertinentes a uma pessoa educada. Educação não depende de classe social. Uma pessoa

com bons recursos financeiros e status social pode não ser educada e certamente fechará algumas

portas em seu caminho por sua arrogância. Por outro lado, pessoas esforçadas, com poucos recursos,

podem crescer por força de sua educação e bons modos. E num ambiente militar tudo é observado e

até mesmo avaliado.

Este texto servirá como um manual, abordando vários tópicos pertinentes à educação e à

postura, que não devem ser nunca descuidados.

2.3.2 - Inimigos da etiqueta

Existem alguns impasses para a Etiqueta como um todo:

a) Impaciência

Uma pessoa nervosa, que não pode esperar, nem para receber algo e nem para fazer,

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negligencia fatores importantes como a cautela, a prudência, a coerência, a parcimônia, a calma nas

decisões, a firmeza nas atitudes porque faz tudo às pressas ou quer tudo para ontem, sem refletir nas

consequências das escolhas e na qualidade do trabalho desenvolvido. Quando se trabalha numa

equipe, sendo chefe, afoba-se, acaba atropelando-se, levando imensos prejuízos para os

profissionais que ali se esmeram.

b) Intolerância

Um profissional que não tolera nada além das suas ordens restritas, não se abre à

possibilidade do novo, do criativo, do mais produtivo e eficiente, fica limitado à sua própria

fraqueza, e, certamente, nunca será um líder.

c) Egoísmo

O egoísta é alguém que só pensa em si mesmo. Vivemos num meio social, cercados de

pessoas das mais diferentes esferas, com os mais diversos pensamentos e formas de agir. O sujeito

egoísta não vai além dele mesmo, o mundo gira em torno de si. Ele não vê o horizonte, não olha ao

lado, não caminha lado-a-lado com ninguém, é absolutamente solitário. Atropela sentimentos e só

se importa em lucrar nas situações.

d) Arrogância

A arrogância é prima-irmã do egoísmo e da vaidade. Quem acha alguma coisa não tem certeza de

nada. O arrogante acha muito: acha que está certo, acha que sabe fazer melhor, acha que os outros

só erram, acha, acha. A arrogância nada mais é do que uma defesa da incompetência.

e) Vaidade

Quando uma pessoa, por vaidade, faz algo para obter prestígio e reconhecimento, desprezando o

trabalho e o esforço de muitos ao redor, desqualifica todo o serviço.

f) Ostentação

Eu é uma palavra muito pequena para significar tanta coisa. Eu faço, eu consigo, eu quero,

eu posso, eu exijo, eu sou, eu tenho... Porém, tudo piora quando aliado ao pronome eu vem o mais:

eu faço mais, eu consigo mais, eu quero mais, eu posso mais, eu exijo mais, eu sou mais, eu tenho

mais. Existem pessoas que numa conversa informal cortam assuntos para introduzir o “eu”, seguido

da ideia de sempre algo melhor ou maior. Talvez, para disfarçar a pequenice que deve ser a vida

delas.

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g) Excesso de intimidade e naturalidade

Sempre se peca nos extremos: excesso ou nada. Em relação à intimidade, o excesso

transgride o limite alheio e pode acabar constrangendo. Assim como a naturalidade excessiva. O

meio social nos obriga a regras de convívio e educação, a questões éticas e morais, leis e costumes.

Portanto, para usufruir direitos é necessário cumprir os deveres. Não se pode tudo, em qualquer

tempo, em qualquer lugar, para qualquer um. O respeito é fundamental em todas as relações sociais,

é preciso saber medir a magnitude dos comportamentos e assumir a consequência de todos os atos.

2.3.3 - Onde começa a etiqueta

O princípio da etiqueta é o respeito ao próximo, logo: nunca entre num ambiente sem

anunciar-se, podem estar tratando assuntos confidenciais, segredos de família ou outros que podem

não lhe dizer respeito; não se comunique aos brados, nem murmurando, você tem que se comunicar

de forma clara, objetiva e sem insinuações; seja pontual (especial atenção em cerimônias militares e

à chegada de autoridades), afinal contam com todos para o início de uma solenidade, evento,

refeições, reunião, casamento etc; evite invasão de privacidade de qualquer espécie:

• nunca leia correspondências de outros;

• nunca mexa em “material alheio” sem expresso consentimento;

• não ouça conversa de terceiros;

• não abra outra geladeira que não a sua.

2.3.4 - Cuidados Importantes

a) Uso de perfumes

Perfume é algo particular, não público. Cada pessoa tem um gosto.

Não se deve saturar um ambiente com o seu cheiro, pois se todos sentiram

o perfume é porque está forte, exagerado. Lembre-se da questão do limite.

O mesmo deve ser em relação ao desodorante, loção de barba, cremes de

beleza etc. O perfume deve ser agradável ao chegar perto. Quando bom,

faz lembrar uma pessoa, um ambiente, uma geração, uma época da vida, logo, não transforme uma

lembrança num desastre.

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a) Fumo

Lembre-se de que o fumo é um vício pessoal, não um castigo

coletivo. Se você fuma, deve ter alguns cuidados importantes,

como não fumar em lugares públicos, perto de gestantes, durante

um evento ou refeições etc. O hálito de um fumante não é muito

agradável, portanto procure por pastilhas para amenizar o cheiro.

O fumante fica com as roupas mal cheirosas, o cabelo fedido, as

mãos meio amareladas e a saúde totalmente prejudicada. Se você fuma, repense este hábito.

Quando a necessidade de fumar for irresistível e nos locais onde for permitido, peça licença às

pessoas com quem estiver conversando, principalmente às senhoras, antes de acender um cigarro.

Em ambientes militares, em que for permitido o fumo, peça permissão ao mais antigo presente antes

de acender um cigarro.

b) Uso de óculos escuros

Óculos escuros servem para proteger os olhos do sol e ponto. É

uma indelicadeza conversar com uma pessoa usando óculos escuros,

isto porque você não vê os olhos de quem fala e não tem certeza para

onde ela está olhando. Ao conversar, retire os óculos e os reponha

quando a conversa terminar. Se você sofre de algum mal e precisa

usar os óculos escuros regularmente, peça desculpa pelo

inconveniente. Após o sol se pôr não se tem motivo para continuar usando os óculos escuros.

Em ambientes militares só devem usar óculos escuros os que tiverem problemas de fotofobia

ou estiverem com recomendação médica. De qualquer forma, em ambos os casos, só será permitido

seu uso com autorização do Comando.

c) Bocejos

São imperdoáveis em qualquer circunstância. Em

formaturas militares são inaceitáveis, em sala de aula são de uma

grosseria sem igual para com o professor/ instrutor, em eventos e

refeições são da maior indelicadeza. Todos os exemplos são para

explicar que não se deve bocejar em hipótese alguma. Mas,

quando eles simplesmente acontecem, o que fazer? Deve-se pedir desculpas, colocar a mão na

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frente da boca e tentar o uso da técnica de apertar a língua sob o céu da boca com força. Se puder se

ausentar por alguns instantes, procure um lugar para lavar o rosto.

e) Chicletes

O hábito de mascar chiclete não é elegante, reserve este hábito para

ambientes mais descontraídos e informais. Mascar deve ser com a boca

fechada, afinal você não é um camelo! Quando você fala com alguém

mascando um chiclete, a pessoa com quem você fala não consegue

prestar atenção ao que você diz, pois a atenção fica condicionada aos

movimentos com o chiclete. No final você falou sozinho porque o outro não entendeu nada do que

você disse e ainda deve estar distraído, procurando o chiclete em sua boca.

f) Guarda-chuva

O guarda-chuva serve para proteger você da chuva, então não converse

mexendo-o, apontando-o (caso ele seja grande e pontudo), revirando-o. Isto

incomoda, atrapalha e pode até machucar alguém. Os militares fardados,

geralmente, não usam guarda-chuva, mas, sim, capa de chuva.

g) Não fure filas

Dizem que furar filas é uma mania de brasileiro. Mentira. Isto é mania de pessoas mal

educadas, seja de qualquer naturalidade e sob qualquer pretexto (até de antiguidade).

Se você estiver numa fila e chegar algum militar mais antigo, você deve, por cortesia, ceder

seu lugar a ele. Mas não insista: se ele não quiser, seja cortês e mantenha seu lugar.

h) Limpe o nariz no banheiro!

Limpe o nariz em casa, no banheiro, sozinho, com a porta fechada.

Ninguém precisa ver. Se você precisar limpar num momento inoportuno,

procure um sanitário para resolver seu problema, mas nunca com o dedo

encravado dentro do nariz!

2.3.5 - Postura e Elegância

a) Mantenha uma postura adequada a cada ambiente.

Viver bem começa por sentir-se bem. E postura é fundamental. Costas retas, queixo erguido,

elegância e fluidez no andar.

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Em cada ambiente você se colocará de forma diferente: uns formais, outros mais informais,

mais descontraídos, outros relaxados etc. O importante é saber como se portar em cada momento,

na apresentação com as pessoas com as quais você se relaciona.

b) Costas retas, mãos, como sentar-se, como ficar em pé, olhos nos olhos.

As costas devem ficar retas, mas não esticadas demais,

causando uma sensação de artificialidade. As mãos podem

revelar muito de nós: insegurança, timidez, confiança, alegria,

entusiasmo e tristeza, pela forma como gesticulamos. Porém, é

perfeitamente possível treinar para aprender a usar os gestos com

moderação. Ombros erguidos e braços pendentes com suavidade, as mãos devem ficar à frente do

corpo, podendo ficar uma sobre a outra. Evite balançá-las, prendê-las, imitar um açucareiro, enrolar

os cabelos ou roer unha!

Ande com naturalidade e sente-se confortavelmente com as pernas fechadas, cruzando-as sem

encostar nos outros. Os homens devem ter atenção à sola do sapato que não deve ficar à mostra.

Ao parar em pé, o ideal é apoiar o peso do corpo nas duas pernas porque transmite uma

sensação de tranquilidade e segurança, tornando a conversa mais agradável, além de preservar a

coluna.

Em ambientes militares observe antes: se existem mais antigos sentados, se é permitido

sentar no momento, se existem mais antigos em pé a procura de assentos, onde se localiza seu

círculo hierárquico etc.

O olhar é muito importante. O primeiro contato deve transmitir simpatia, interesse e

confiança. As pessoas sentem a diferença entre um olhar caloroso e um olhar indiferente. Outro fato

marcante em relação aos olhos: ao falar com alguém mantenha sempre contato com os olhos,

transmita segurança, firmeza nas atitudes, convicções e decisão. Não use o choro como defesa para

seus erros ou incompetência, principalmente em ambiente militar. Assuma seus erros e possíveis

deslizes com um “desculpa, vou me esforçar, vou providenciar”, é mais digno.

Mantenha também uma certa distância das pessoas ao falar. Nem muito longe, criando

uma verdadeira barreira para o entendimento, nem muito perto, invadindo a intimidade do

outro. Evite toques, puxões, segurar a pessoa com quem conversa e respingar saliva devido ao

entusiasmo do assunto.

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d) Palestras em presença de militares de maior precedência

Atenção com o horário de chegada, com o lugar de sentar, com seu comportamento e com os

bocejos.

2.3.6 - Afabilidade

a) Simpatia: é fundamental em qualquer situação, aproxima as

pessoas e torna a convivência mais fácil;

b) “Palavras Mágicas”: “obrigado(a), desculpe e por favor”.

Estas expressões podem transformar o mundo num lugar melhor

para viver. Abuse delas e você só ganhará;

c) Saber perdoar: ninguém é perfeito, nem você. As pessoas que

erram tentaram acertar e isto é que torna o processo válido. Confusões, enganos acontecem e, se

viram problemas, terão solução. “Tem poder quem também sabe perdoar”, seja tolerante;

d) Bom humor: sorria, mantenha o astral nas nuvens. Isto

transforma qualquer ambiente, melhora os relacionamentos, o modo de ver o mundo e os

problemas, e você ainda ficará jovem por mais tempo; e

e) Gentileza: ser gentil é diferente de ser cortês, afável ou

simpático. É mais sutil, é estar mais atento aos pequenos problemas cotidianos dos outros e fazer o

possível para amenizá-los.

2.4 - REUNIÕES, ENCONTROS E CERIMÔNIAS: AMBIENTE CIVIL E MILITAR

2.4.1 - Tradição

A Publicação “Normas a Respeito das Tradições Navais, do

Comportamento Pessoal e dos Cuidados Marinheiros” (EMA-

207) ressalta que algumas tradições e costumes derivam dos

fundamentos militares da hierarquia e disciplina, binômio este

considerado a base institucional das Forças Armadas. Entende-se

por hierarquia a ordenação da autoridade em níveis diferentes, por postos ou graduações e, dentro

de um mesmo nível, pela antiguidade relativa de cada militar. O respeito à hierarquia é

consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. Disciplina é a rigorosa

observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam

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o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo

perfeito cumprimento do dever por parte de todos os seus componentes.

As tradições navais remontam aos primórdios da navegação à vela, quando se mantinham um

conjunto de práticas, normas de cortesias, saudações, valores éticos e morais, honras, sinais de

respeito, em uso nas marinhas de guerra. As tradições navais devem ser cultivadas por todos, num

ambiente de respeito e cortesia de todos os militares para com seus superiores, em todas as

circunstâncias. A espontaneidade e a correção dos gestos, atitudes e procedimentos são indicadores

não só do grau de disciplina, mas também da educação moral e militar dos componentes de uma

organização. Desta forma, os usos, costumes e tradições navais compõem a Etiqueta Naval.

2.4.2 - Reuniões, Encontros e Cerimônias

a) Nunca apareça em casa alheia sem prévio contato: se quiser fazer uma visita, ligue antes

para ver se a pessoa tem algum compromisso ou se está disposta a atendê-lo. Não apareça de súbito.

Se for uma visita a uma Organização Militar (OM), ligue com antecedência para verificar a

possibilidade da visita, se o dia e a hora são adequados, se a OM tem alguma solenidade, qual o

uniforme adequado e se os militares estão disponíveis para atendê-lo.

b) Em reuniões, dê atenção a todos: se você convida ou foi convidado para algum evento,

procure conversar com todos, circular pelo ambiente, evitando patotas. Na hora de sentar, não

marque seu lugar antecipadamente, fechando um círculo de companheiros.

c) Em visita de pêsames ou a doentes, seja breve: evite comentários e detalhes sobre a

doença/morte, machucando as pessoas que estão doloridas pela doença ou pela perda de alguém

querido. Em enterro/missa, evite roupas e acessórios extravagantes. Seja discreto, coerente com a

ocasião, respeite a dor alheia;

d) Apresentação: um homem sempre se levanta ao ser apresentado a uma mulher, a um

homem mais velho ou a um superior hierárquico. Em sociedade, a mulher tem precedência sobre o

homem. O subordinado, homem ou mulher, é sempre apresentado ao superior hierárquico. A

iniciativa de estender a mão para o cumprimento deve partir sempre da pessoa mais importante, da

mulher, da pessoa mais velha ou do superior hierárquico. As apresentações devem ser feitas

indicando os nomes completos; e

Despedidas: nestas ocasiões aguarde que o dono da casa abra a porta. Se você é militar,

aguarde o mais antigo se retirar ou dar a permissão para sair. Caso tenha que sair antes, peça

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permissão a ele com uma pequena justificativa, sem entrar em detalhes.

2.4.3 - Auditório

Todos os militares, quando em cerimônias, palestras ou eventos

em auditórios devem se portar de maneira educada: prestar atenção

ao que está sendo explanado e não conversar paralelamente. Os celulares

devem ser desligados ou mantidos no modo silencioso. É importante

também que demonstrem interesse no assunto e, ao final da apresentação,

levantem questões pertinentes, inteligentes e adequadas ao palestrante.

2.4.4 - Na Marinha do Brasil

Sempre baseado no princípio da hierarquia:

a) Os mais modernos sempre cedem lugar aos mais antigos, abrem a porta aos mais antigos,

cedem passagem a eles e levantam-se na sua presença;

b) Em cerimônias, as autoridades se apresentam de acordo com a antiguidade, os mais

modernos chegam antes que os mais antigos; e

c) Se você é militar e chegou num evento onde tenha um militar mais antigo, é mandatório ir

cumprimentá-lo.

2.5 - SALÃO DE RECREIO E REFEITÓRIO

2.5.1 – Salão de recreio

É o local de lazer dos Cabos e Marinheiros a bordo, normalmente dotado de aparelhos de

televisão e som, local destinado à leitura e a jogos lícitos, como jogos de damas, xadrez, dominó,

pebolim (totó), sinuca, etc. Ali também são realizadas algumas cerimônias de confraternização,

como: embarques, desembarques, promoções etc.

Apesar de ser um lugar de descanso e lazer, não se esqueça que você é um militar dentro de

uma organização militar, sujeito a todas as normas e regulamentos (disciplina) e convivendo com

militares mais antigos (hierarquia).

Procure preservar o compartimento, o mobiliário e os equipamentos. Lembre-se de que esse

espaço existe para o seu lazer, e que um local limpo, adequadamente mobiliado e dotado de

equipamentos destinados à diversão funcionando adequadamente irá tornar a sua estadia a bordo

mais agradável.

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2.5.2 – Refeitório ou coberta de rancho

É o local onde são feitas as refeições. Normalmente, denomina-se refeitório nas Organizações

Militares (OM) de terra e coberta de rancho nos navios.

São dotados de balcões térmicos, do tipo self-service.

Normalmente, o almoço e o jantar são divididos em “rancho para

serviço”, destinado aos militares que entrarão de efetivo serviço, e

“rancho geral”, para os demais militares. Na maioria das organizações

militares, é respeitada a ordem de chegada, por graduação, controlada

por um militar de serviço com a função de manter a ordem na entrada do rancho.

Durante a refeição, procure não falar com um tom de voz muito alto, respeitando seus

vizinhos. Considerando que o próprio militar se serve, procure colocar no prato/bandeja a

quantidade de alimentos que realmente irá consumir, diminuindo, deste modo, o desperdício.

Não esqueça de que estará ranchando com militares de graduação superior, visto que o

refeitório/coberta de rancho também é destinado aos cabos, deste modo, tenha atenção à disciplina e

à hierarquia.

As mesas de rancho da guarnição serão chefiadas pelo mais antigo de cada uma delas,

cabendo-lhe manter a ordem na mesa.

2.6 – POSTURA À MESA

A maneira como você se senta e se coloca à mesa torna-se um

fator diferencial de civilidade. Manter o corpo nem muito próximo

nem afastado da borda da mesa é a postura correta ao sentar. As mãos

ficam colocadas sobre a mesa, com os braços apoiados e não os

cotovelos. As costas apoiam-se levemente no encosto da cadeira.

Você deve se inclinar ligeiramente e não se curvar em direção ao prato. Os cotovelos devem

permanecer junto ao corpo sem bater nos vizinhos da mesa. Cuidado com as pernas, pois elas não

devem bater nos demais ocupantes da mesa, ficar esticadas ou balançando. Se precisar de algo que

esteja fora do seu alcance, peça gentilmente ou peça desculpa pelo inconveniente. Gestos

expansivos na mesa não são de bom tom, dedinhos levantados ao levantar xícaras são desastrosos e

assuntos íntimos têm lugar e hora para serem discutidos. Dê atenção a todos os vizinhos na mesa,

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mantendo uma conversa sadia e agradável e corrija-se quando cometer uma indelicadeza.

Algumas recomendações nunca são demais: comer sempre de boca fechada, as garfadas são

decentes, sem entupir a boca com alimentos, não cuspa no prato ou no talher que está comendo, não

deseje “saúde” a alguém resfriado, não cutuque o nariz à mesa, seja cortês, gesticule

comedidamente, não faça comentários maldosos, respeite a todos e, acima de tudo, aproveite!

Palito é uma heresia à etiqueta. Ele não aparece em mesas finas, pois seu uso é um ato

privado e contestado por dentistas, por isso foi abolido terminantemente das boas

maneiras.

O comportamento nos serviços de bufê exige controle e atenção. Siga a fila e respeite as

pessoas. Não misture tudo no prato e nem embaralhe os talheres de servir nos recipientes. Ao

compor seu prato principal, faça-o harmonizando os alimentos, podendo servir-se novamente, se

assim desejar. Sirva-se comedidamente e siga para mesa segurando firmemente o prato, sem deixá-

lo cair. Com as sobremesas é um pouco diferente: você pode agrupar até três tipos delas.

Simpatia e boa aparência contribuem muito para causar boa impressão, mas, sem boas

maneiras à mesa, toda impressão inicialmente favorável se desvanece. O comportamento ao comer

é um teste infalível do grau de civilidade de uma pessoa, pois o manuseio com os talheres e a

postura durante uma refeição falam mais que palavras.

Apenas alguns pratos devem ser comidos com as mãos, como, por exemplo: frango a

passarinho, asinha de frango, costeletinha de porco e espiga de milho. Em geral, os talheres devem

ser sempre utilizados durante as refeições.

A bebida servida não deve ser para saciar a sua sede nem para empurrar os alimentos,

fazendo-o virar o copo. Tenha compostura! Saboreie-a em pequenos goles sentindo seu sabor.

O domínio da etiqueta à mesa é cheio de pequenos gestos e atitudes, frutos de um longo

aprendizado, que não deve ser esquecido, negligenciado ou desleixado, pois estamos a todo instante

sendo observados, mesmo que a distância.

O importante é que comportamentos inapropriados podem e devem ser modificados. Mesmo

só com observação, aprendemos regras de conduta com pessoas mais experientes. Desta forma,

boas maneiras à mesa são regras de civilidade praticadas diariamente para que possamos assumir,

com o tempo, uma postura correta e natural, sem artificialidades, tanto em família com em

ambientes mais refinados que exigem mais cerimônias. A naturalidade e espontaneidade nas

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atitudes transmitem confiança, tornando o ambiente mais descontraído e aprazível.

Em resumo:

DURANTE a refeição:

✔ Atenção à postura;

✔ Cuidado com os cotovelos;

✔ Ao tomar sopa, cuidado com ruídos;

✔ Não mastigue de boca aberta e não fale de boca cheia;

✔ Come-se pão/ torrada com as mãos;

✔ Antes de beber água/comer pão, descanse os talheres; e

✔ Antes de levar o copo/taça à boca, limpe os lábios com o guardanapo.

2.6.1 - Imprevistos

Para tratar os imprevistos: fique calmo e seja discreto. Às vezes, por sua postura, mesmo que

o imprevisto seja grande, poderá passar despercebido. Tudo depende da forma como você o tratar.

Aja sempre com discrição.

2.6.2 - Inconvenientes

Com os inconvenientes a situação muda um pouco. Se uma pessoa está sendo inconveniente

com você, seja discreto e afaste-se. Se você perceber que alguém está sendo vítima de um

inconveniente, disfarce e tente apaziguar a situação, afastando as pessoas e, na pior das hipóteses,

peça para o “engraçadinho” se retirar.

2.7 – CUMPRIMENTOS MILITARES E SOCIAIS

2.7.1 - Cumprimentos militares e sociais

2.7.1.1 – Cumprimentos Militares

Quando fardado, a saudação militar a outro militar é a continência, em postura marcial. Deve

ser feita com: elegância, energia, franqueza, correção e vivacidade. Os três elementos da

continência são: atitude, gesto e duração.

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A saudação militar nasceu nos tempos medievais. Os

cavaleiros costumavam se apresentar ao Rei antes das batalhas. Sua

Majestade queria ver nos olhos dos soldados "o brilho da confiança

e do amor ao Rei". Como estavam sempre de armadura, os

soldados eram obrigados a levantar a viseira que lhes cobriam os olhos. Faziam isso com a mão

direita, pois a esquerda conduzia a espada. Desde então, em respeito às autoridades, surgiu o sinal

de continência.

Como mostrado anteriormente, quando fardado, a saudação militar a outro militar é a

continência, em postura marcial. Admite-se o aperto de mão após a saudação militar, desde que a

iniciativa para tal tenha sido tomada pelo superior hierárquico. Ao cumprimentar um civil, o militar

fardado poderá fazer-lhe uma continência, como cortesia, além de lhe dar o usual aperto de mão, ao

que se descobrirá, em se tratando de uma senhora. Se for uma militar, não se descobrirá para efetuar

qualquer cumprimento.

No exercício de suas atribuições, fardado ou à paisana, é vedado ao pessoal militar qualquer

intimidade ou manifestação de respeito, apreço, sentimentos ou cumprimentos que não estejam

previstos nos regulamentos. Deverão ser evitadas demonstrações excessivas de afetividade, que

contrariem a ética, a moral, os bons costumes e o pundonor militar (DGPM-319).

Não estão autorizados os seguintes atos: “abraçar-se”, “beijar-se” ou outras manifestações

afetivas ou cumprimentos não previstos como saudação entre militares ou entre estes e indivíduos à

paisana, militares ou não.

2.7.1.2 – Cumprimentos Sociais (em ambiente civil e sem uso de farda)

Como fazê-los:

A maneira como tratamos as pessoas revela a nossa educação. Qualquer que seja o

cumprimento, deve ser honesto. O cumprimento pode ser um aceno, um aperto de mão, um beijo na

mão ou uma troca de beijos.

O aperto de mão deve ser equilibrado: nem frouxo nem apertado. O beijo é uma forma

educada de cumprimento na nossa sociedade. Às vezes diferem na quantidade, no lugar a ser

beijado, na forma ou na execução. Todo cumprimento deve dizer algo de positivo, como “bom dia,

boa tarde, como vai, seja bem-vindo, entre, sente, olá” etc.

a) Aperto de mão

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OSTENSIVO EMN-008

O aperto de mão deve ser forte e firme. Não precisa

esmigalhar a mão do outro ou segurá-la indefinidamente. Por

outro lado, não segure a mão de uma pessoa como se não tivesse

firmeza do propósito e segurança em suas atitudes. O aperto deve

ser rápido, forte, firme, seguro e sincero, demonstrando estima e

confiança. Durante o aperto de mão, não se deve sacudir o braço e nem deixá-lo esticado. O

cotovelo deve estar ligeiramente flexionado, formando um ângulo de noventa graus. O outro braço

deve estar estendido ao lado.

Não se deve estender a mão quando se está à mesa, pois se pressupõe que as pessoas tenham

lavado as mãos antes da refeição. Também não se deve estender a mão para enfermos.

b) Beijo social

Os beijos devem ser rápidos, naturais e sem marcas no rosto. Para as mulheres, atenção ao uso

de batons que mancham a pele e aos beijos melados.

2.7.2 – Apresentações

a) As apresentações devem ser feitas indicando os nomes completos;

b) Os mais jovens são apresentados aos mais velhos, assim como o mais moderno (seja

homem ou mulher) ao mais antigo;

c) O homem é apresentado à mulher (a iniciativa do cumprimento é da mulher);

d) Mulher solteira é apresentada à mulher casada;

e) Deve ser feita pelo anfitrião; e

f) O homem sempre se levanta para cumprimentar.

2.8 – CONVERSAÇÃO

a) Atenção ao excesso de gestos, tom de voz, expressões, saber o que falar, saber,

principalmente, ouvir. Aprenda a não interromper as pessoas e a ouvi-las atentamente;

b) No meio social: é facultativo à mulher permanecer sentada enquanto o homem fica de pé;

c) Em ambiente militar: independentemente do sexo, caso o mais antigo esteja de pé, é

mandatário que o mais moderno também esteja;

d) Adeque o vocabulário e a informação a cada grupo (evite maneirismos, gírias,

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obscenidade);

e) A formalidade está relacionada ao nível de intimidade com os convidados. Evite excessos;

f) Evite falar de: doenças, problemas íntimos, consultas profissionais, piadas;

g) Não entre em seara religiosa, política e esportiva (evite conflitos com os convidados); e

h) Seja discreto e não seja arrogante nem maledicente.

2.9 – FOTOGRAFIAS

Saiba o que fotografar, se o momento é oportuno, se é permitido, se tem permissão. Não use

fotos de terceiros sem a devida concordância. Cuidado com as exposições na internet e com as fotos

pessoais trazidas a bordo.

2.10 – TELEFONEMAS

É importante saber:

a) Horário indesejável: antes das 9h e após as 22h, durante o

almoço/jantar;

b) Se o assunto for longo, pergunte antes se a pessoa tem tempo;

c) Em caso de chamadas de longa distância, não prolongue a conversa;

d) Se o telefone não se encontra em lugar privado, as pessoas próximas devem evitar ouvir o

diálogo e, por elegância, devem abaixar o tom de voz;

e) Em ambientes públicos ou no trabalho, evite conversas longas;

f) Não use o celular em cinemas, teatros, reuniões, auditórios, salas de aula etc;

g) Os celulares em ambientes militares devem ser desligados ou colocados no modo vibrar

durante cerimônias, palestras ou em presença de autoridades;

h) Se alguém liga para fazer um convite, não prolongue a conversa;

i) Se alguém ligar e a pessoa procurada não puder atender, anote o recado; e

j) Nos e-mails mantenha um nível inteligente de conversa (Netiqueta).

Na Marinha do Brasil: o mais moderno aguarda na linha até que o mais antigo atenda,

não deixando que o militar de maior precedência aguarde na linha.

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2.11 – SÍTIOS DE RELACIONAMENTO SOCIAL

De forma a minimizar a exposição da MB e de seu pessoal, os militares

devem seguir as seguintes orientações (DCTIMARINST Nº 31-01, 2009):

a) nunca postar ou publicar informações sigilosas da MB ou pessoais;

b) nunca nomear ou utilizar, na titulação do grupo, símbolos, siglas, brasões, indicativos ou

nome de OM da MB;

c) nunca postar informação que possa ser explorada em ação contra o pessoal ou contra a MB;

d) nunca postar nada que não queira que se torne público. Todas as informações veiculadas

em sítios de relacionamento devem ser consideradas como públicas;

e) ter o mesmo comportamento dentro do sítio de relacionamento que se tem quando em uma

reunião social com presença física;

f) seguir os padrões de comportamento navais orientados pelos bons costumes;

h) limitar a quantidade de informação pessoal postada;

i) lembrar que a internet é pública;

j) desconfiar que algum componente possa ser um estranho;

k) cuidado ao falar com estranhos em chats, blogs, comunidades;

l) não participar de comunidade virtual criminosa que “odeia” alguma coisa, pois se a mesma

for investigada por conduta indevida ou pratica de crime, todos os participantes podem ser

envolvidos;

m) não acreditar em tudo que se lê online;

n) manter os grupos sempre fechados e protegidos por fortes senhas de forma a restringir o

acesso às informações somente ao pessoal do grupo;

o) não criar grupos sociais vinculados ou que denotem vínculo à Marinha ou suas OM; e

p) usar e manter os antivírus e sistemas operacionais atualizados.

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2.11.1 – Cuidados com a exposição pessoal na internet

Uma vez interligado à internet, o usuário tem, virtualmente, acesso a

diversas informações contidas em redes de computadores em todo o mundo,

mas, a recíproca também é verdadeira, ou seja, informações sobre sua vida

tornam-se públicas de maneira descontrolada.

Privacidade: palavra valorizada por muitos, desconhecida por outros. Tem gente que

simplesmente não teme em se expor. Para elas, existe um mundo ideal, onde a discrição não tem

vez. A internet é um mundo infinito, onde cada palavra também é eterna. Caiu na rede, é de todos.

Cuidado: pode ser usado contra você no futuro.

Quem usa, sabe ou deveria saber que a internet não perdoa. Ela registra tudo: fotos,

mensagens, blogs... Os arquivos digitais são públicos e, atenção, permanentes. A internet não

esquece. Um comentário malicioso sobre uma pessoa, uma foto inadequada, um posicionamento

contrário aos bons costumes fica eternamente e pode, inclusive, ter consequências judiciais.

2.11.2 – Agradecimentos

Ao fazer um agradecimento, tenha em mente para quem o está fazendo. Se for um

agradecimento para autoridade, mantenha as formas adequadas de tratamento e seja objetivo. Seja

claro, sucinto, muito respeitoso e siga o protocolo e trâmites administrativos cabíveis.

2.12 – VESTUÁRIOS E TRAJES

"A carreira militar não é uma atividade inespecífica e descartável, um simples emprego, uma

ocupação, mas um ofício absorvente e exclusivista, que nos condiciona. Ela não nos exige as horas

de trabalho da lei, mas todas as horas da vida, impondo-nos também nossos destinos. A farda não é

uma veste, que se despe com facilidade e até com indiferença, mas uma outra pele, que adere à

própria alma, irreversivelmente para sempre".

2.13 – UNIFORMES E TRAJE CIVIL

A correção do uniforme militar nunca é excessiva. O andar

corretamente trajado, de acordo com o RUMB (Regulamento de

Uniformes da Marinha do Brasil), é uma obrigação do militar.

Para os homens, a barba bem feita e os cabelos cortados são

essenciais.

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Sendo assim, um militar não deve ceder espaço ao desleixo, mantendo sua dignidade em

todos os momentos, tanto fardado como à paisana.

Todo militar deve ter uma andaina completa de uniformes. Os uniformes diários devem

ser trocados e lavados sempre que necessário. Ter mais de uma peça a bordo é bem aconselhável.

Em casos de acidentes, o uniforme deve ser trocado assim que possível. Com o tempo, o tom do

uniforme, devido à exposição e às lavagens constantes, acaba se modificando. Repare

constantemente seu uniforme e observe se a sua coloração não está destoando dos demais.

No RUMB existe a correspondência entre os uniformes das Forças Armadas e entre estes e as

roupas civis.

2.13.1 – Comportamento de militares uniformizados em cerimônias e eventos sociais

Em cerimônias militares e eventos sociais, o comportamento de militares da ativa

uniformizados deve estar baseado nas normas e regulamentos vigentes, tais como:

a) saudações entre militares fardados por meio de continência ou aperto de mão, se a

iniciativa do cumprimento de estender a mão for do mais antigo;

b) apresentação pessoal com o devido apuro e utilização de uniformes em alinho e de acordo

com as normas em vigor, contribuindo para a compostura social, a saber:

I. atenção ao uniforme previsto para o evento;

II. uniformes bem passados e com as cores corretas, isto é, calça e camisa da mesma tonalidade;

III. calças em comprimento regulamentar, sem estarem apertadas no corpo;

IV. camisas sociais com colarinhos fechados e bem ajustados;

V. sapatos com as cores corretas, sem estarem desbotados;

VI. barba, costeleta e pé do cabelo devem estar bem feitos; e

VII. lenço e gola de marinheiro alinhados.

Nas cerimônias em que o militar comparecer como convidado ou acompanhante de parente,

cônjuge, companheiro ou pessoa de seu relacionamento afetivo, também militar, deverá fazê-lo no

uniforme previsto para a cerimônia, no caso de pertencerem ao mesmo Círculo (Círculo de oficiais

e praças). Quando os militares forem de círculos diferentes (Círculo de oficiais e praças), aquele

que comparecer na condição de convidado deverá fazê-lo em traje civil.

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2.13.2 – Traje civil

Para cada ocasião há um traje e uma forma de se vestir. Tudo deve ter coerência e o senso

crítico é essencial (adequando tipo físico, estilo, ocasião, clima, horário).

A indumentária (vestuário) tem forte poder de influência nos contatos sociais e profissionais.

Toda pessoa bem vestida tem melhor performance, impõe respeito, é bem tratada e bem atendida, e

recebe atendimento preferencial.

Ao escolher seu guarda-roupa, leve em consideração o seu tipo físico, idade e personalidade.

Você não é obrigado a vestir determinada roupa só porque está na moda. Estar na moda nem sempre

significa estar bem vestido. A vestimenta também muda de acordo com a situação, o lugar, o horário

e a companhia. Você pode ter um armário diversificado e saber usar adequadamente as roupas. As

roupas não precisam ser de grife, mas de bom gosto. A combinação e o saber usá-las é que faz a

diferença. Por fim, a postura correta e os movimentos harmoniosos valorizam todo o conjunto.

Desta forma, Elegância é o conjunto harmonioso de gestos, atitudes, expressões, palavras,

tom de voz, procedimentos civilizados, normas de conduta, postura física e de vida, bom gosto,

senso, discrição etc. Quem tem de ser sensual é você e não sua roupa. A roupa deve ser um

instrumento para provocar a imaginação e não os sentidos.

2.14 - CUIDADOS IMPORTANTES COM OS TRAJES

a) Use no máximo três tons de cores diferentes;

b) Evite estampas diferentes e/ou animalescas;

c) Cuidado com as bainhas das calças;

d) Abrigos de moletom só devem ser usados para a prática de exercícios;

e) Evite deixar que peças íntimas fiquem à mostra;

f) Cuidado com as botas e óculos escuros;

g) Roupas apertadas NÃO são sensuais, nem charmosas e muito menos elegantes;

h) Os cabelos devem estar penteados de acordo com a ocasião;

i) Para os homens: usando um traje mais fino, a meia combina com o sapato. Já com traje

esporte, a meia pode combinar com a camisa;

j) Sempre verifique suas roupas antes de vestir, pode estar faltando um botão, estar

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manchada, desfiada etc; e

k) Confira seu desodorante, seu zíper e seu hálito.

2.15 – CAVALHEIRISMO X HIERARQUIA

Quando primeiro usado, o termo “cavalheirismo”

significava habilidade em lidar com cavalos. O guerreiro de

elite da Idade Média se distinguia dos camponeses, clérigos e

deles mesmos por sua habilidade como cavaleiro e guerreiro.

Cavalos fortes e velozes, armas bonitas e eficientes, e

armaduras bem-feitas eram o símbolo de status.

Por volta do século XII, o cavalheirismo se tornou um estilo de vida. As principais regras do

código de cavalaria eram as seguintes: proteger as mulheres e os fracos; defender a justiça contra a

injustiça e o mal; amar sua terra natal e defender a Igreja, mesmo com risco de morte.

2.15.1 - O que faz um cavalheiro

Cavalheiros abrem a porta do carro para as senhoras entrarem

e saírem; protegem as mulheres nas escadas; ao caminharem

zelam pelo amparo das mulheres; no restaurante, provam

elegância; são sempre solícitos e bem-humorados; no táxi, as

senhoras sentam do lado esquerdo e os homens à direita; nas

escadas, cuidam para que as mulheres não caiam, servindo de amparo tanto na subida como na

descida. No restaurante, os cavalheiros puxam a cadeira e a ajeitam delicadamente para as senhoras

se sentarem.

Na relação entre um casal, o homem deve tratar com deferência sua mulher, principalmente

em público, e vice-versa. Havendo contenda, não deve pedir a opinião de terceiros, o que é

constrangedor. Estando ambos em casa de amigos, mesmo que não se deem bem, devem ser gentis.

A delicadeza é imperiosa.

2.15.2 - Cavalheirismo X Hierarquia

Um homem cavalheiro, educado, prestativo e gentil com as mulheres não deve se descuidar e

romper com o princípio da hierarquia militar. Ser mulher nas Forças Armadas não garante sua

hierarquia superior aos homens.

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Ao ceder um dos costumes do cavalheirismo a uma mulher mais moderna, perante um militar

mais antigo ou de mesma patente, rompe-se com a hierarquia vigente.

Dois exemplos: um cavalheiro, ao andar numa calçada com uma mulher, oferece o lado de

dentro, ficando na beira, próximo à rua. Porém, se forem militares, seguirão o costume, sendo ela

mais moderna, oferecerá sua direita ao mais antigo, mesmo que seja o lado da beirada da rua. Numa

cerimônia, sendo ela mais moderna, esta se levantará, cedendo seu lugar ao mais antigo.

Em ambientes militares a hierarquia é a base e o cavalheirismo está na educação do militar, na

sua postura, sem protecionismos para com as mulheres, agindo com justiça, com respeito e exigindo

sempre de seus subordinados a disciplina.

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CAPÍTULO 3

HIERARQUIA, DISCIPLINA, AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE

3.1 – ASPECTOS PRIMORDIAIS DA HIERARQUIA, AUTORIDADE E

RESPONSABILIDADE.

3.1.1 - Hierarquia

De acordo com o Estatuto dos Militares, “hierarquia

militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes,

dentro da estrutura das Forças Armadas”.

O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de

acatamento à sequência de autoridade.

a) Cadeia de Comando

É a sucessão de pessoas, em ordem hierárquica, por onde

passa, obrigatória e ordenadamente, o fluxo de comunicação,

autoridade e responsabilidade, dentro de uma organização

militar. Esse fluxo é vital para a boa ordem, o entendimento

harmonioso e eficaz.

A cadeia de comando é uma ordem a ser seguida normal

e obrigatoriamente. Todavia, quando por alguma razão especial

ela não for seguida, cumpre, de imediato, dar conhecimento da

alteração da ordem do fluxo às autoridades,

momentaneamente não consideradas na cadeia.

b) Mantendo os superiores informados

O militar deve manter seu superior oportunamente informado a respeito de suas ações e as

de seu grupo.

Procedimento a adotar se um erro for cometido em alguma atividade sob sua

responsabilidade:

I) Assuma-o;

I) Trate de corrigi-lo o mais rápido possível;

II) Dê conhecimento imediato a seu superior;

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IV) Conforme o caso e as circunstâncias, informe diretamente a seu comandante; e

V) Evite que o assunto chegue ao conhecimento dele por outras vias, e com matizes que não

sejam os da verdade.

3.1.2 - Autoridade

Autoridade legal ou organizacional é o direito legal de se fazer obedecer, é o poder de

mandar, de obrigar alguém a fazer alguma coisa.

Autoridade moral ou de liderança é valor pessoal; competência em determinado assunto;

prestígio, influência, domínio.

Segundo a Ordenança Geral para o Serviço da Armada (OGSA), “a autoridade de cada um

promana do ato de designação para o cargo que tiver que desempenhar, ou da ordem superior que

tiver recebido”.

Cumpre ao superior:

a) Manter a disciplina em todas as circunstâncias;

b) Exigir o respeito e a obediência que lhe são devidos por seus subordinados; e

c) Conduzir seus subordinados, estimulando-os, reconhecendo-lhes os méritos, instruindo-

os.

Autoridade é fundamental. Sem ela não haveria disciplina, e a hierarquia perderia

significado.

Autoridade é um direito e, ao mesmo tempo, um poder. Saber exercê-la apropriadamente é,

sem dúvida, a mais importante qualidade da liderança.

O exercício da autoridade exige equilíbrio, probidade, justiça, energia, integridade. Para o

bom uso da autoridade, é necessário um pouco de todos os valores da liderança, abordados

anteriormente.

A autoridade de um militar sobre seus subordinados deve apoiar-se não só na legitimidade da

posição que ocupa como também nas suas elevadas e reconhecidas qualidades morais, força de

caráter e capacidade de liderança.

3.1.3 - Delegação de autoridade

Define-se delegação de autoridade como sendo a designação para o cumprimento de

tarefas, atribuindo-se ao designado, com as responsabilidades, a autoridade para a tomada de

decisões.

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Existem duas características fundamentais da delegação:

a) A cada responsabilidade correspondem poderes, estabelecidos pelo superior; e

b) A delegação de autoridade não exclui a responsabilidade do superior.

3.1.4 - Responsabilidade

Responsabilidade é obrigação – dever de fazer.

A responsabilidade está inseparavelmente ligada à autoridade. Por isso, assim como a

autoridade, a responsabilidade deriva de ato de designação para o cargo, exercendo-se com a plena

autoridade estabelecida legalmente para o mesmo e de ordem superior, exercendo-se com a

autoridade estabelecida pelo superior, para o cumprimento da atividade.

O que distingue um líder de um não-líder, entre outros fatores, é a propensão do primeiro para

procurar responsabilidades e as assumir se necessário.

A função militar gera responsabilidades que, por sua vez, implicam autoridade e acarretam

prestação de contas.

a) Delegação de responsabilidade

É comum dizer-se que autoridade pode ser delegada, mas responsabilidade não.

Tal afirmativa pode dar margem a uma interpretação dúbia. A responsabilidade imposta

pelo superior ao subordinado não exime o superior da plena responsabilidade sobre tudo o que se

passa na organização, porquanto ela é inerente ao seu cargo.

Assim, de acordo com a OGSA, ambos são responsáveis. O superior é responsável:

I) pelo acerto, oportunidade e consequências das ordens que der; e

II) pelas consequências da omissão de ordens, nos casos em que for de seu dever

providenciar.

O subordinado é responsável:

I) pela execução das ordens que receber; e

II) pelas consequências da omissão em participar ao superior, em tempo hábil, qualquer

ocorrência que reclame providência, ou que o impeça de cumprir a ordem recebida.

b) Nova ordem prejudicando o cumprimento de ordem recebida

O subordinado deixa de ser responsável pelo não cumprimento de uma ordem recebida de

superior quando outro superior lhe der outra ordem que prejudique o cumprimento da primeira e

nela insistir, apesar de cientificado pelo subordinado da existência da ordem anterior. Deve,

porém, participar a ocorrência ao primeiro, logo que possível.

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3.2 – IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA E DA AUTODISCIPLINA

3.2.1 – Disciplina

Um dos alicerces básicos de toda e qualquer

organização militar, em todas as nações do

mundo, é a disciplina.

Disciplina significa a sujeição de cada um,

e de todos, a regras estabelecidas para o bem

geral. Essas regras são estabelecidas em códigos,

leis, estatutos, regulamentos e ordens do

comando.

A disciplina propicia condições favoráveis para o desenvolvimento de atividades, mormente

as que exigem uma ação ordenada, organizada e sincronizada. Cada parte do processo age na

certeza de que as demais agirão corretamente, conforme planejado. Isso é fundamental para o

cumprimento de qualquer missão.

“Não há progresso sem ordem, não há ordem sem disciplina e não há disciplina sem

obediência, responsabilidade, noção de dever e lealdade.”

a) Como obter disciplina

Para obter disciplina é necessário:

I) Determinar cuidadosamente deveres específicos ou bem definidos, responsabilidades daí

decorrentes e direitos paralelos;

II) Fazer com que os subordinados conheçam o sistema de prêmio ou recompensa

e de punições;

III) Assegurar a prática constante do comportamento e da conduta desejáveis, a fim de

desenvolver hábitos de pronta obediência às ordens;

IV) Supervisionar os subordinados, usando recompensas e punições quando necessário ou

razoável;

V) Certificar-se de que os subordinados saibam o que se espera de sua conduta e de seu

trabalho;

VI) Não exigir mais do que o seu treinamento permite que façam;

VII) Dobrar e amoldar lenta e progressivamente o pessoal, exigindo e mantendo uma

disciplina consciente, sólida, inabalável;

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VIII) Saber distinguir as faltas involuntárias e de menor importância, das faltas graves,

premeditadas e intencionais; e

IX) Elogiar e louvar sempre que possível, e em público; censurar, punir ou reprimir quando

necessário, e em particular.

3.2.2 – Autodisciplina

Autodisciplina ou disciplina consciente é a capacidade de disciplinar a si mesmo adquirida

pelo militar firme, que cumpre corretamente suas responsabilidades, em quaisquer circunstâncias,

mesmo sem supervisão.

Obtém-se a disciplina consciente quando se deseja fazer o que é certo, por compreensão,

convicção, participação, cooperação, sentido de missão, senso de dever, lealda de orgulho e amor

à Marinha.

a) Manifestações da disciplina consciente

A disciplina consciente manifesta-se como uma

atitude, identificada pelos seguintes comportamentos:

I) Escolher fazer o que é correto, ainda que mais

difícil, em vez de fazer o que é menos trabalhoso;

II) Aceitar as regras consagradas, estabelecidas pela

Instituição; e

III) Agir em função do grupo a que pertence, e não

de forma egoísta, num individualismo nada construtivo.

O toque de licença, ou volta às faxinas, só toca, na cabeça do autodisciplinado, quando

seus compromissos e responsabilidades já foram absolutamente cumpridos.

b) Como desenvolver a autodisciplina

A autodisciplina é obtida pela conscientização, através dos seguintes passos:

I) Estabelecimento de padrões de conduta – determinar o que é certo fazer;

II) Formação de hábitos – fazer sistematicamente o que é certo, mesmo que difícil; e

III) Criação de código de conduta pessoal – incorporar os hábitos formados.

Para conhecer a si mesmo é recomendável:

I) Ouvir seus chefes, companheiros, amigos e subordinados mais experientes;

II) Ouvir e não repelir abruptamente; mas sim, ouvir, filtrar, maturar e, se aprovado, assimilar;

III) Pensar antes no que vai falar;

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IV) Se já falou, refletir sobre o que disse;

V) Lembrar o que já falou e procurar determinar os motivos que o levaram a falar;

VII)Identificar seus erros;

VIII) Ser cauteloso em suas ações e observar as consequências delas;

IX) Buscar outro caminho, se os resultados não correspondem ao que planejou.

3.2.3 – Decálogo de Liderança

Há dez regras básicas que podem ser usadas, pelo militar, no desenvolvimento de sua

capacidade de liderança:

1) Lembre-se que liderar é muito mais do que chefiar e vai muito além de apenas expedir

ordens e aguardar que elas sejam cumpridas.

2) Cultive a ética militar, em todos os momentos e em quaisquer circunstâncias.

3) Preserve a sua saúde:

I) Esteja atento para a fadiga, incapacidade de concentração, irritabilidade, insônia;

II) Dose o emprego de suas energias; e

III) Trabalhe, mas se distraia e repouse, tanto quanto possível.

4) Saiba falar, calar e, especialmente, ouvir;

5) Evite:

I) alimentar sentimentos de superioridade;

II) cercar-se de pessoas que não expressam opinião própria;

III) embriagar-se pelo poder e a vaidade; e

IV) deixar-se enganar pelo preconceito.

6) Dê o exemplo.

7) Ponha o grupo a serviço do cumprimento da missão e em permanente sintonia com os

objetivos estabelecidos para a OM.

8) Mantenha com os subordinados uma relação sadia, calcada em confiança mútua, desejo

de progredir e de ser feliz.

9) Incuta nos subordinados a disciplina consciente e fique atento ao moral deles.

10) Faça com que o grupo, aprimorando-se, vise a excelência no trabalho.

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OSTENSIVO EMN-008

CAPÍTULO 4

ROSA DAS VIRTUDES

4.1 – Ética militar naval

O conjunto dos princípios, valores, costumes, tradições,

normas estatutárias e regulamentos que regem o juízo de conduta

do militar da Marinha é entendido como Ética Militar Naval.

Ela é atributo que induz ao atendimento das regras de

conduta compatíveis com o comportamento militar naval desejado

e dela fazem parte, dentre outros, o valor e a ética militar (Estatuto

dos Militares), os dizeres do juramento à Bandeira e o código de

honra expresso na “Rosa das Virtudes”.

a) Honra

A Honra é o sentimento que induz o indivíduo à prática do Bem, da Justiça e da Moral. É a

força que o impele a prestigiar sua própria personalidade, como um sentimento de seu patrimônio

moral, um misto de brio e valor. Ela exige a posse do perfeito sentimento do que é justo e

respeitável, para a elevação da dignidade e da bravura desse indivíduo, e, assim, afrontar perigos de

toda a ordem, na sustentação dos ditames da Verdade e do Direito. É a virtude por excelência,

porque em si contém todas as demais. A Honra está acima da vida e de tudo que existe no mundo.

Os haveres e demais bens que o indivíduo possui são transitórios, enquanto que a Honra a tudo

sobrevive; transmite-se aos filhos, aos netos, ao lar, à profissão escolhida e à terra em que se nasce.

A Honra é o patrimônio da alma. Na profissão, ela consiste, principalmente, na dedicação ao

serviço, no cumprimento do dever, na intrepidez e na disciplina, tudo inspirado pelo patriotismo.

Um navio nunca se entrega ao inimigo e sua bandeira jamais se arria em presença dele. A Honra do

Marinheiro o impede!

b) Lealdade

A Lealdade é o verdadeiro, espontâneo e incansável devotamento a uma causa, a sincera

obediência à autoridade dos superiores e o respeito aos sentimentos de dignidade alheia. O

subordinado leal cumpre as ordens que recebe sempre com o mesmo ardor, quer esteja perto ou

longe de quem as deu, ainda que, por vezes, intimamente não as compreenda. A Lealdade é mais do

que a Obediência, porque esta se refere à vontade expressa pelo superior e aquela, ao firme

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propósito de honestamente interpretá-la e fielmente cumpri-la. É o sentimento que leva, pois, o

subordinado a fazer tudo quanto for humanamente possível para bem cumprir uma ordem ou

desempenhar uma dada missão. A Lealdade exige que se manifeste ao superior, disciplinadamente e

no interesse do serviço, toda eventual incompreensão em relação à determinação ou orientação

recebida. A franqueza respeitosa, oportuna e justa é uma autêntica expressão de lealdade. Mantida,

porém, a ordem, a mesma lealdade exige que se cumpra rigorosa e interessadamente o que foi

determinado.

c) Iniciativa

A Iniciativa é o ânimo pronto para conceber e executar. É uma manifestação de inteligência,

imaginação, atividade, saber e dedicação ao serviço. Um militar cumpre de forma conscienciosa as

obrigações, as rotinas de seu cargo, faz o treinamento regular de seus homens, etc. Um outro faz

tudo isto e vê onde um aperfeiçoamento pode ser introduzido. Não só o concebe, como se interessa

por sua adoção. Se é coisa que só dele dependa e a sua ideia não vai ferir a conveniência da

uniformidade dos diversos serviços, nem a harmonia da cooperação, ele a adota, estuda e a

desenvolve. A Iniciativa, em um plano mais elevado, é a faculdade de deliberar acertadamente em

circunstâncias imprevistas ou na ausência dos superiores, agindo sob responsabilidade própria, mas

dentro da doutrina, a bem do serviço. Para assim fazer, é preciso ter capacidade profissional,

confiança em si e estar bem orientado.

d) Cooperação

Cooperar é auxiliar eficiente e desinteressadamente; é esforçar-se em benefício de uma causa

comum. O militar deve sempre agir no interesse maior do conjunto dos serviços. É a Cooperação

que faz a eficiência da Marinha. Em todas as atividades, o trabalho deve obedecer a esse espírito de

comunhão de esforços, a fim de que a potencialidade do conjunto, como um todo, seja a mais

elevada possível. Assim, superiores e subordinados não devem limitar-se apenas ao cumprimento

das tarefas que lhes tiverem sido cometidas, mas, sim, procurar ajudar-se mutuamente na execução

das mesmas, buscando compreender as necessidades e prioridades da instituição como um todo.

A Cooperação é uma exigência imperiosa para a eficiência da instituição, mas só possui esta

qualidade quem não dá guarida às influências perniciosas do egoísmo, da intriga ou da indiferença,

em prol de um sincero e profissional desprendimento.

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e) Espírito de Sacrifício

O Espírito de Sacrifício é a disposição sincera de realmente oferecer, espontaneamente,

interesses, comodidades, vida, tudo, em prol do cumprimento do dever. O cultivo do Espírito de

Sacrifício é praticado vencendo os pequenos incômodos pessoais, os menores percalços do dia a

dia. “Quem não é fiel no pouco, certamente não será no muito”: somente percebendo o valor das

coisas é que se desenvolve o Espírito de Sacrifício e se torna capaz de dar um passo a mais na

formação do caráter marinheiro.

f) Zelo

O Zelo é atributo que não depende, em alto grau, de preparo profissional, de predicados

especiais de inteligência e de saber. É, por isso mesmo, virtude que deve ser comum a todos os que

servem à Marinha. Essa qualidade é consequência direta do “amor próprio”, do amor à Marinha e à

Nação. É o sentimento que leva a não poupar esforços para o bom desempenho das funções que lhes

são atribuídas. É o sentimento que conduz à dedicação ao serviço, como autêntica expressão do

Dever. No Zelo, está implícita a aceitação de que se serve à Nação e não a pessoas. Ninguém tem o

direito de deixar de zelar por suas obrigações, por motivos circunstanciais, alheios ou não à sua

vontade. O Zelo está intimamente ligado à probidade, vista como a capacidade de bem administrar

os bens, fundos e recursos que nos foram confiados. Faz-se presente, assim, no exato cumprimento

de orçamentos e planos financeiros e no atento cuidado com o patrimônio da Marinha.

g) Coragem

A Coragem é a disposição natural que nos permite dominar o medo e enfrentar qualquer

perigo. É a força capaz de fazer com que aquele que ama a vida, e que nela é feliz, saiba arriscá-la e

se disponha a morrer por uma causa nobre. A Coragem é o destemor em combate.

Há também a coragem moral – não menos imprescindível e valiosa, a força psíquica que

ampara os homens nas crises do pensamento e do caráter. É a sustentação das próprias ordens,

atitudes e convicções; o saber assumir a responsabilidade dos seus atos; o afrontamento à perfídia, à

inveja e à incompreensão; a manutenção intransigente do rumo moral, custe o que custar. A

coragem tem de andar de mãos dadas com a sabedoria, a prudência, o bom senso e a calma. O

militar corajoso é otimista; confia em si; é eficiente; acredita no valor de seus companheiros.

Comanda seus subordinados, certo de conquistar o êxito.

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h) Ordem

A Ordem é diligência, porque economiza o tempo, e é previdência, porque o conserva. Como

exemplo de disciplina e método, a ordem orienta o espírito e promove segurança, porque resguarda

e alinha em lugar próprio aquilo que será utilizado no futuro. A sua falta traz o desperdício e a perda

do tempo, bem precioso, e que, uma vez perdido, não há como reaver. A arte de organizar, pôr em

ordem, é essencial em um condutor de homens. O aprendizado da arte de organizar inicia-se

individualmente na ordenação do próprio trabalho; organizando o material, os livros, os uniformes;

encontrando o tempo necessário para se ocupar adequadamente dos estudos e das demais atividades

de formação.

i) Fidelidade

Ser fiel é ser honesto, ter têmpera forte para opinar e agir sempre pelo bem, mesmo, e

principalmente, quando não favorecer ou até contrariar as conveniências pessoais. A fidelidade ao

serviço impede que o militar cuide de afazeres e atividades estranhos à Marinha, enquanto estiver

ao seu serviço, e negligencie as suas obrigações. Executar ordens que são agradáveis, ou que partem

de pessoas a quem se dedica estima, é um dever fácil de cumprir. Mas, cumprir ordens difíceis,

arriscando a vida, contrariando os próprios interesses e opiniões, por fidelidade ao serviço, é muito

mais digno, porquanto implica sacrifício, que caracteriza a virtude militar.

j) Fogo Sagrado

O “Fogo Sagrado” é a paixão, a fé, o entusiasmo com que o militar se dedica à sua carreira; é

o seu intenso amor à Marinha, o seu devotamento pela grandeza da sua profissão; é a larga medida

de uma verdadeira vocação e de um sadio patriotismo; é o supremo amor pelo serviço. É essa

crença que anima a ponto de, naturalmente, julgar que os deveres que a lei marca são o mínimo, e

que para bem servir cumpre ir além do próprio dever, fazer tudo quanto é humanamente possível, à

custa, embora, de ingente labor. O “Fogo Sagrado” é essa força misteriosa que, dominando a alma

do verdadeiro marinheiro, o conduz sempre ao sacrifício com inexcedível vibração e estóica

resignação. O “Fogo Sagrado” transmite-se, mas para tanto é preciso possuí-lo em grande

intensidade e demonstrá-lo mais por atitudes e ações do que por ordens e palavras. O “Fogo

Sagrado” é a alma da Marinha!

k) Tenacidade

Aplicação é uma forma de dedicação, de amor ao serviço. É a disposição para estudar tanto o

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material em si como também a maneira de utilizá-lo; para estar a par das rotinas, da organização

interna de bordo, da ordenança, dos regulamentos e das leis; para bem conhecer tudo referente aos

aspectos essenciais da profissão. Na arte de conduzir os homens, o campo é mais profundo: faz-se

necessária a tenacidade, o poder da vontade. É o saber querer longamente, sem desfalecimento e

sem trégua. É a presença de ânimo perante qualquer obstáculo ou dificuldade, a vontade constante

de tudo superar e bem desempenhar a tarefa ou função, de caráter operativo ou administrativo. O

espírito de tenacidade transmite-se, pois, exatamente, pela continuidade da ação.

l) Decisão

Decidir é tomar resolução, é sentenciar, é orientar a ação. Não há qualidade, no trato geral dos

militares para com seus subordinados, que mais tenda a aumentar o respeito e confiança desses

subordinados, do que sua capacidade de decidir. O irresoluto, o perplexo, jamais poderá conduzir

homens ou comandar navios. Uma orientação insegura é tão nociva quanto a ausência de

orientação. Uma decisão vigorosa é a característica dos vencedores.

Evidentemente, para acertar, é necessário meditação, cálculo, considerações cuidadosas e

reflexão a respeito das circunstâncias, a fim de chegar a uma decisão conveniente. Tal “exame de

situação” deve preceder à emissão da ordem. O verdadeiro chefe medita bem antes de chegar a uma

decisão. Se sabe dizer sim ou não, com serena energia e acerto, e mantém-se firme em sua posição,

ganha confiança de seus subordinados. A menos que novas circunstâncias se apresentem, a

modificação de uma decisão tomada dá a impressão de que houve precipitação ou leviandade em

formulá-la. O hábito constante de examinar todas as possíveis situações e analisar todos os dados

disponíveis é muito recomendável.

Assim procedendo, há sempre certeza de decisões oportunas e adequadas.

m) Abnegação

A Abnegação é o esquecimento voluntário do que há de egoístico nos desejos e tendências

naturais, em proveito de uma pessoa, causa ou ideia. É a renegação de si mesmo e a disposição de

se colocar a serviço dos outros com o sacrifício dos próprios interesses. O caráter marinheiro é

carregado de Abnegação: tem a consciência do “servir”; inclui a base de todas as virtudes, a

humanidade; e possui a simplicidade em todas as suas ações e palavras. A Abnegação, portanto,

fortalece o desenvolvimento de todas as atividades de serviço à Marinha, criando a unidade de ação,

pois ela é passar por cima de qualquer interesse individual.

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n) Espírito Militar

Espírito Militar é a qualidade que impele o militar de cumprir com natural interesse, dentro da

ética, os deveres e obrigações do serviço, com disciplina e lealdade, sempre animado pelo desejo de

ver brilhar o seu navio, a sua classe e aumentar a eficiência e o prestígio da Marinha. O militar

demonstra estar possuído de Espírito Militar em suas maneiras de agir e de se expressar; no apuro

de seus uniformes; na saudação a seus superiores; na discrição com que se manifesta; na seriedade

que imprime ao seu serviço, como expressão da dignidade da sua função e da eficiência dos seus

encargos. O militar dotado de Espírito Militar cria em torno de si um ambiente de compostura,

seriedade e confiança, qualidades essenciais a quem comanda e tem sob sua direta responsabilidade

a guarda e a defesa de preciosos valores morais e materiais da Nação.

o) Disciplina

A força de coesão de qualquer coletividade humana é a Disciplina. É indispensável não só a

um Organismo Militar, mas a qualquer outro que pretenda reunir indivíduos em uma unidade sólida

e eficaz. A Disciplina tem um único inimigo verdadeiro, que é o egoísmo, tão mais obstinado

quanto mais inconsciente de si mesmo. O amor próprio ilimitado separa o homem de seus mais

nobres pensamentos, tornando-o um ser isolado, que nada aceita fora do seu eu. Despido de todo o

sentimento de solidariedade, não pode conceber a Disciplina a não ser como forma de escravidão. A

Disciplina não visa a tolher a personalidade, mas sim a regular e coordenar esforços. Ela somente

torna-se fecunda quando há condições de ser alegre e ativa. Um simples conformismo ou o receio

das censuras ou sanções não trazem a Disciplina. O que a faz presente e aceita é um forte

sentimento de interesse comum e, principalmente, a correta percepção de um dever comum.

Assim entendida, não haverá o risco de ela coibir ou enfraquecer as iniciativas, pois não será

imposta, mais sim adquirida. A Disciplina Militar manifesta-se basicamente: pela obediência pronta

às ordens do superior; pela utilização total das energias em prol do serviço; e pela correção de

atitudes e cooperação espontânea em benefício da disciplina coletiva e da eficiência da instituição.

Na Marinha, a Disciplina é inseparável da hierarquia e traduz-se no perfeito cumprimento do dever

por cada um de seus componentes.

p) Patriotismo

O Patriotismo é o sentimento irresistível que prende os indivíduos à terra em que nasceram. É

a trama de afetos que, através das gerações, vai sendo tecido em suas almas ao redor do solo

querido. Externamente, é a emoção que os indivíduos sentem ao ouvir os acordes do Hino Nacional

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e ao ver desfraldada a Bandeira de sua Pátria. Em essência, é a crença na defesa dos ideais de

Nacionalidade. Expressão de carinho que os liga à terra que serviu de berço, o Patriotismo é a força

de coesão poderosa que os torna solidários em um interesse comum, ensinando-os a bem querer,

servir, honrar e defender a Pátria.

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CAPÍTULO 5

LIDERANÇA

5.1 – CONCEITO DE LIDERANÇA

5.1.1 – Fatores a considerar

Na conceituação da palavra líder, o

primeiro fator a considerar é o destaque – o líder

é aquele que se destaca no grupo. Assim, é a

primeira característica da liderança.

Embora o fator destaque seja inerente ao

líder, não é o mais importante e nem está

sozinho na conceituação da palavra. Há outro

fator que completa o conceito de líder - a

influência.

A influência é a verdadeira essência da liderança. A pessoa que influencia as outras

pessoas no grupo é o seu líder. Essa influência pode manifestar-se sob diversas formas, desde o

simples comando – o ato de mandar para que os outros obedeçam – até a complexa inspiração –

impulso que leva os homens a fazer ou deixar de fazer alguma coisa que, eles sabem, se o líder

gostaria que fizessem ou deixassem de fazer (8:2). Concluindo, o líder é aquele que se destaca no

grupo, influenciando-o de alguma forma.

5.1.2 – Teorias e abordagens

Diversas teorias e abordagens têm sido escritas sobre

liderança:

a) A liderança é um dom natural;

b) Para ser líder basta conhecer um conjunto de

princípios e adotá-lo;

c) A liderança é um processo de conduta, de formação

de caráter, de desenvolvimento moral;

d) O líder se faz pelo estudo e imitação da vida dos grandes líderes; e

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e) A liderança é a arte de influenciar o comportamento humano.

"O verdadeiro líder age como facilitador para que a equipe possa atuar de forma confortável

no dia a dia e, consequentemente, consiga se desenvolver e desempenhar ao máximo o seu

potencial."

O assunto é controverso, face à multiplicidade de situações e ambientes em que a liderança

pode surgir.

5.1.3 – Definições

“Liderança é a influência interpessoal, exercida na

situação e dirigida, através do processo da comunicação

humana, à consecução de um ou diversos objetivos

específicos”. (Tannenbaum, Weschler e Massarik).

“Liderança é a habilidade de exercer influência

interpessoal, por meio de comunicação, para a consecução

de um objetivo”. (Koontz e O’Donnell).

“Liderança é o processo que consiste em influenciar

pessoas no sentido de que ajam, voluntariamente, em prol dos objetivos da instituição”. (Manual de

Liderança – DEnsM).

“Liderança é o processo de influenciar pessoas para motivá-las e obter seu

comprometimento na realização de empreendimentos e na consecução dos objetivos da

organização” (Doutrina de Liderança da Marinha).

Em outras palavras, a Liderança também pode ser definida como o processo que permite a

alguém dirigir os pensamentos, planos e ações de outros, de forma a obter sua obediência,

confiança, respeito e leal cooperação.

Liderança Naval é um processo de influenciação utilizado por todos os escalões, no trato com

os subordinados, em busca da harmonia entre os objetivos da Instituição e os interesses pessoais.

Essa liderança está fundamentada em leis e tradições navais.

Fica evidente, pelas definições, que a liderança inclui não só a capacidade de fazer um grupo

realizar uma tarefa específica, mas , sobretudo, executá-la de forma voluntária, atendendo ao

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desejo do líder como se fosse o seu próprio.

Nas definições de liderança estão contidos os seus agentes, ou seja, o líder e os liderados, as

relações entre eles e os princípios filosóficos, psicológicos e sociológicos que regem o

comportamento humano.

5.2 – IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA COMO ATRIBUTO ESSENCIAL AO MILITAR

5.2.1 – Importância da Liderança

“Os homens e não os navios é que ganham as batalhas”

Toda organização humana depende primordialmente da liderança. Sem liderança, por parte

dos que dirigem as organizações, sejam elas sociais, políticas, econômicas, militares, etc., estas

estarão certamente em crise.

Principalmente, no caso de uma organização militar, todo aquele que dá ordens deve

também liderar. Deve desenvolver em si próprio as qualidades e os atributos necessários e

essenciais ao líder.

Não se pode conceber um navio sem liderança organizada. É condição essencial a uma

organização militar a existência de um sistema para controlar pessoas. A Marinha nos dá esse

sistema, por meio de uma engrenagem de leis, regulamentos e costumes.

A Marinha caracteriza-se por ser uma Instituição em que há predominância de ações

envolvendo o relacionamento humano, visando ao cumprimento das mais diferentes missões.

Portanto, a importância do exercício da liderança é fundamental para que se possa alcançar altos

índices de operacionalidade, coesão e lealdade entre os seus integrantes.

O exercício de liderança pode significar a diferença entre a vitória e a derrota, mesmo em um

cenário onde as operações militares se valerão de complexa e avançada tecnologia bélica.

5.2.1.1 – A importância de uma liderança transformadora

“Nos últimos anos, temos nos deparado com

inúmeros questionamentos sobre quais seriam as

características importantes e imprescindíveis que um

líder deve possuir tanto no âmbito das competências

quanto no das habilidades e atitudes. Observamos que

a resposta esperada, na maioria das vezes, é a de um gestor que deve beirar quase à perfeição.

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Entretanto, as expectativas nele depositadas muitas vezes não condizem com a realidade

encontrada no dia a dia das organizações. Não é preciso ser um super-herói, tampouco um líder

absoluto e inatingível. Pelo contrário, para alcançar os objetivos, gerar resultados e inspirar as

pessoas, a pessoa à frente do grupo precisa atuar de forma transformadora”.

5.2.2 – Rendimento do elemento humano

O pessoal mal conduzido tem sua eficiência reduzida pelo baixo rendimento, tornando

praticamente inoperante e inútil o material que lhe é confiado.

O material, de grande valor técnico, mas mal conduzido, não terá a eficiência e o rendimento

desejados.

Além disso, a má conduta do pessoal faz brotar um estado depressivo, cria tal disposição

negativa de ânimo, que sua influência, desfavorável e destrutiva sobre o conjunto da organização,

é para esta um permanente fator antieconômico, de baixo rendimento, ou de dissolução.

A eficiência e a qualidade de qualquer Marinha dependem grandemente do nível de

instrução, de adestramento, e da capacidade técnica dos militares que irão combater em tempo

de guerra, ou em tempo de paz estarão mantendo esta vasta organização em constante estado de

preparação.

A lealdade, a cooperação, o esforço e a obediência de cada homem só podem ser obtidos de

maneira completa através da liderança.

O chefe sem liderança não obtém de cada seu comandado uma cooperação uma lealdade e

um esforço completos. O bom chefe, o líder, conduzirá o mesmo homem, na execução de uma

mesma tarefa, de tal modo, que este se esforçará, voluntariamente, para fazer o seu serviço da

maneira mais perfeita e mais eficiente possível.

5.2.3 – Desenvolvimento da Liderança

Os melhores resultados no tocante à liderança ocorrem quando ela é desenvolvida, não sendo

impositiva.

Desta forma, o contínuo desenvolvimento das qualidades dos militares da Marinha, como

líderes, deverá ser objeto de permanente atenção e tal meta deverá ser trabalhada, conjuntamente,

pela Instituição e, prioritariamente, por cada militar.

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5.3 – A TEORIA DOS GRUPOS HUMANOS

5.3.1 – Introdução

“Ninguém consegue estar satisfeito consigo mesmo ao ponto de prescindir da aprovação de,

pelo menos, outra pessoa.” (W.S.H. Sprott)

No estudo da liderança, três componentes coexistem e interagem:

a) O líder – com seus atributos psicológicos;

b) Os liderados – com seus problemas, atitudes e necessidades; e

c) A situação – que determina o ambiente, onde líder e liderados atuam. (2:34)

5.3.2 – Definição de grupo

“Reunião de duas ou mais pessoas entre as quais

existe um sistema estabelecido de interação psicológica,

sendo reconhecida como entidade pelos próprios membros e

igualmente pelos demais indivíduos”. (Sanderson)

“É um conjunto de diversas pessoas que partilham de

padrões organizados de interação recorrente, ou seja, indivíduos que interagem repetidamente e

não circunstancialmente, de acordo com determinados padrões de relacionamento”. (Manual de

Liderança da Marinha)

A primeira conclusão a que nos levam as definições apresentadas é de que o grupo é uma

entidade coletiva.

Por outro lado, o grupo não é um simples aglomerado de pessoas, pois seus membros

precisam estar em permanente interação; por exemplo, os transeuntes em uma rua, ou os

passageiros do metrô não constituem um grupo, já que não atendem às condições acima.

Podemos concluir que a simples proximidade física das pessoas não caracteriza o grupo social

e, sim, a consciência de interação conjunta.

5.3.3 – O indivíduo e o grupo

Em geral, nosso individualismo impede a percepção clara da influência do grupo sobre nosso

comportamento. Mas ela é exercida de forma poderosa.

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Um homem isolado de quaisquer grupos em geral se fragiliza até a morte. Por outro lado,

sua resistência aumenta de forma impressionante, caso seja integrado à lealdade de um grupo.

Pesquisas americanas, realizadas após as experiências da Segunda Guerra Mundial, da Coréia

e Vietnã, mostraram que os prisioneiros norte-americanos resistiam a toda sorte de mudanças ou

var iações , caso mantivessem vínculos com seus grupos. O contrário acontecia com

prisioneiros isolados de seus companheiros, que se tornavam presas fáceis da guerra psicológica

desencadeada por seus inimigos.

A Psicologia Social aceita que, não só em situações de guerra, o indivíduo se fortalece quando

pertence a um grupo. O grupo é uma realidade social vital, com profundo efeito sobre o

comportamento dos indivíduos, em quaisquer situações sociais.

5.3.4 – Classificação do grupos

Não há na sociologia um critério uniforme para a caracterização e classificação dos grupos

sociais. Veremos, a seguir, dois exemplos de classificação de grupos.

a) Classificação de René Maurier

I) Grupos biológicos – todos os membros têm um traço físico em comum,

pelo qual se unem mutuamente. Ex.: a família.

II) Grupos geográficos – fundam-se na comunidade de habitações. Ex.:

tribos, aldeias, cidades.

III) Grupos sociológicos – baseiam-se na comunidade de ação, operação,

ocupa- ção ou preocupação. Ex.: ordens religiosas, sindicatos profissionais.

b) Classificação de Bogardus:

I) Grupos delegados – são aqueles onde os membros são eleitos ou designados (Ex:

convenção ou congresso).

II) Grupos grandes ou pequenos – pelo tamanho, os grupos sociais podem partir,

do mínimo de duas pessoas até chegar ao máximo de englobar, no grupo, toda a espécie

humana.

III) Grupos temporários ou permanentes – de acordo com a sua duração no tempo, desde os

temporários (Ex: pessoas que se encontram calmamente na rua) até os permanentes (Ex: estados e

igrejas).

IV) Grupos genéticos – considera-se genético o grupo onde o indivíduo nasce.

V) Grupos insociáveis - é aquele que vive para si mesmo, isolado de todos os outros.

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VI)G rupo pseudo-social - é o que vive às custas de um grupo social mais extenso, do qual

depende como verdadeiro parasita.

VII)Grupo anti-social - é o que trabalha contra o bem-estar da sociedade (Ex: quadrilha de

bandidos).

VI I I ) G rupo pró-social – é o que caracteriza-se por trabalhar em benefício da

comunidade humana.

IX)G rupos primários são aqueles em que as pessoas se conhecem intimamente, como

personalidades individuais; os contatos são íntimos, pessoais e integrais. Seus membros se

interessam uns pelos outros como pessoas (Ex: a família, grupo de infância ou adolescência, circulo

de amigos íntimos).

X)G rupos secundários se caracterizam por contatos impessoais, eventuais e utilitários. As

pessoas têm interesse umas pelas outras, não em termos pessoais e, sim funcionais (Ex:

sindicatos profissionais, associações de moradores, condomínios residenciais). As sociedades

modernas tendem, cada vez mais, a impor grupos secundários a seus membros.

5.3.5 – Características de uma participação eficiente no grupo

É usual e enganoso pensar nos membros do grupo desempenhando apenas duas funções

distintas: liderança e participação simplesmente (7:125).

A própria liderança não pode ser assim tão marcada e continuamente desempenhada por apenas

um membro do grupo. Outros membros assumem liderança informal, de acordo com as diferentes

situações por que passa o grupo em seus processos de interação (7:125).

O complexo processo de interação humana exige de cada participante um determinado desempenho,

o qual variará em função da dinâmica de sua personalidade e da dinâmica grupal na situação.

5.3.6 – Comunicação no grupo

É fundamental o processo de comunicação no interior do grupo. Importante ressaltar que

comunicação não é simplesmente uma questão de linguagem falada, de formas impressas ou

audiovisuais capazes de transmitir mensagens.

Comunicação, no caso, relaciona-se intimamente com a estrutura do grupo.

Estamos sempre comunicando algo, seja por meio de palavras ou outros meios não verbais,

tais como gestos, postura corporal, posição e distância em relação aos outros, etc.

Quando alguém, em presença de outros, fica silencioso, afasta-se, vira-se de costas etc., na

verdade está interagindo e comunicando algo aos demais, como, por exemplo: indisposição para

dialogar, constrangimento, ressentimento, agressão ou qualquer outro sentimento.

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A comunicação facilita o funcionamento do grupo. Onde os canais de comunicação estão

abertos, existe menos ambiente para hostilidades e atritos, mais compreensão mútua, cordialidade,

maior coesão e maior potencial para a produção.

a) Comunicação centralizada: o líder fala e os outros ouvem, como ocorre nas paradas

diárias de nossas OM; tal processo é eficaz nas produções de rotina, possibilitando maior atenção

de todos a tópicos específicos, como também a concentração de esforços;

b) Comunicação descentralizada: todos podem falar em igualdade de condições. Tende a

oferecer menor produtividade em tarefas rotineiras, embora estimule a criatividade e a

participação, trazendo muitas vezes soluções novas para os problemas; o grupo tende a se mostrar

mais flexível, adaptando-se mais rapidamente a situações novas; e

c) A situação: o líder deve sempre considerar a situação ao definir a forma mais eficaz de

passar informações a seus liderados.

5.3.7 – Formação da personalidade do grupo

Existem duas correntes de pensamento em relação à formação da personalidade dos grupos

humanos:

a) A mais antiga considera a personalidade do grupo o somatório das personalidades dos

indivíduos que o compõem;

b) A mais recente defende que a personalidade do grupo é a combinação das personalidades

dos membros, ou seja, a personalidade do grupo é algo novo, o grupo tem “cara” própria.

5.3.8 – Dinâmica de grupo

Consiste no estudo das forças que atuam nos relacionamentos internos do grupo.

a) Características da dinâmica dos grupos

À semelhança das pessoas, os grupos não se estruturam segundo um padrão único. O grupo

pode apresentar características marcantes, em função de sua dinâmica passada e presente.

Para o líder é indispensável estar atento e ser capaz de perceber, logo que possível, as

características do grupo subordinado, diagnosticando-as e buscando suas causas.

Tal preocupação possibilitará tomar medidas no sentido de preservar as características

positivas e anular ou minimizar aquelas consideradas indesejáveis. Assim como se pode

caracterizar um indivíduo pelo seu traço dominante,

Auren Uris classifica uma série de grupos típicos pelo critério do traço dominante:

I) Grupo Hostil

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Hostilidade é um sentimento que o ser humano ou um grupo de seres humanos tem que

representa um tipo de violência emocional e rivalidade contra outras pessoas ou grupos.

II) Grupo Lerdo

Caracteriza-se pela lentidão e falta de iniciativa.

III) Grupo de Probidade Duvidosa

A raiz da palavra probidade é a mesma da palavra prova. É probo aquele que sempre está

pronto a provar a retidão dos seus atos. É evidente que esta definição pode causar calafrios em

alguns políticos, mas quem cuida do que é dos outros, tem de ser capaz de provar que agiu bem.

IV) Grupo Vadio

Um grupo de indivíduos entrega-se à ociosidade, abstendo-se voluntariamente de procurar

trabalho honesto para prover subsistência, o que consegue recorrendo a expedientes ilícitos.

V) Grupo Apático

É o grupo que tem “falta de motivação e desinteresse” o que gera uma redução ou ausência de

iniciativa para a manifestação de comportamentos direcionados a um objetivo qualquer, além de

uma atitude de aparente indiferença emocional.

VI) Grupo Entusiasta.

É o grupo que por ter tanta paixão por algo, se dedica e vai lá e faz. É a ação motivada pelo

entusiasmo interno de cada membro do grupo.

b) Diferenças individuais e o grupo

As pessoas diferem na maneira de perceber, pensar, sentir e agir. As diferenças individuais

são, portanto, inevitáveis com suas conseqüentes influências na dinâmica interpessoal.

Vistas por um prisma mais abrangente, as diferenças individuais podem ser consideradas

intrinsecamente desejáveis e valiosas, pois propiciam riqueza de possibilidades, de opções.

Num grupo de trabalho, as diferenças individuais trazem, naturalmente, diferenças de opinião,

expressas em discordâncias quanto a aspectos de percepção da tarefa, metas, meios ou

procedimentos. Essas discordâncias podem conduzir a discussões, tensões, insatisfações e

conflito aberto, ativando sentimentos e emoções mais ou menos intensos, que afetam a

objetividade, reduzindo-a a um mínimo, e transformam o clima emocional do grupo.

c) Papéis não construtivos

Em todos os grupos em funcionamento, seus membros podem desempenhar, eventualmente,

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alguns papéis não-construtivos, dificultando a tarefa do grupo, criando obstáculos e canalizando

energias para atividades e comportamentos não conducentes aos objetivos comuns do grupo .

Esses papéis correspondem a necessidades individualistas, motivações de cunho pessoal ou,

muitas vezes, decorrem de falhas de estruturação ou da dinâmica do próprio grupo:

I) O dominador – procura afirmar sua autoridade ou superioridade, dando ordens incisivas,

interrompendo os demais, manipulando o grupo ou alguns membros, sob forma de adulação,

afirmação de status superior e etc.

II) O dependente – busca ajuda, sob forma de simpatia dos outros membros do grupo,

mostrando insegurança, autodepreciação, carência de apoio.

III) O criador de obstáculos – discorda e opõe-se sem razões, mantendo-se teimosamente

negativo até a radicalização, obstruindo o progresso do grupo após uma decisão ou solução já

atingida.

IV) O agressivo – ataca o grupo ou o assunto tratado, fazendo ironia ou brincadeiras

agressivas, mostra desaprovação dos valores, atos e sentimentos dos outros.

V) O vaidoso – procura chamar a atenção sobre sua pessoa de várias maneiras, contando

realizações pessoais e agindo de forma diferente para afirmar sua superioridade e vantagens em

relação aos outros.

VI) O reivindicador – manifesta-se como porta-voz de outros, de subgrupos ou classes,

revelando seus verdadeiros interesses pessoais, preconceitos ou dificuldades.

VII) O confessante – usa o grupo como platéia ou assistência para extravasar seus

sentimentos, suas preocupações pessoais ou sua filosofia, que nada têm a ver com a disposição ou

orientação do grupo na situação-momento.

VIII) O gozador – aparentemente agradável, evidencia, entretanto, seu completo

afastamento do grupo, podendo exibir atitudes cínicas, desagradáveis, indife- rente à preocupação e

ao trabalho do grupo através de poses estudadas de espectador, que se diverte com as dificuldades e

os esforços dos outros.

5.4 – BASES DA LIDERANÇA

5.4.1 – Bases Filosóficas da Liderança

a) Conceituação de filosofia

Entende-se como Filosofia o conjunto de concepções, práticas ou teóricas, acerca do

homem e de seu papel no universo.

Cada ciência experimental possui seu domínio, no entanto, há questões que nenhuma ciência

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enfrenta: o valor da vida, a liberdade, as leis morais, os valores em geral, o dilema corpo x espírito

e etc. Somente a filosofia se ocupa de tais aspectos.

Pitágoras, o célebre filósofo e matemático grego, foi quem usou, pela primeira vez, a palavra

filosofia (philos-sophia), que significa amor à sabedoria.

O que a filosofia tem buscado – até nossos dias – são respostas a indagações fundamentais do

homem:

“Quem somos?”

“Para onde vamos?” “Qual o sentido da vida?”

Obviamente, não foram encontradas respostas definitivas para dúvidas de tal magnitude, o

que não invalida a pesquisa filosófica, inclusive porque a filosofia pretende fomentar uma atitude de

permanente questionamento, de não aceitação plena de verdades acabadas.

b) Os grandes temas filosóficos

I) A axiologia - estuda os valores filosóficos, especialmente os valores morais, e sua

hierarquização;

II) A ética - trata da moral e de sua prática;

III) A cultura - estudo do homem inserido em seu grupo social abrangendo, entre outras, as

estruturas sociais e religiosas e as manifestações intelectuais e artísticas que caracterizam uma

sociedade.

c) Relação entre filosofia e liderança

A relação entre filosofia e liderança é profunda, especialmente entre os temas filosóficos ética

e axiologia (ou teoria dos valores).

O processo de influenciação de um grupo, que é a essência da liderança, está profundamente

ligado aos valores éticos e morais que devem ser transmitidos e praticados pelo líder.

d) A Ética

A ética, ou filosofia moral, é a parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito

dos fundamentos da vida moral.

Podemos definir moral como: um conjunto de regras que determinam o comportamento de

indivíduos em uma dada sociedade.

Dois aspectos devem ser enfatizados:

I) tais regras são dinâmicas, ou seja, variam no tempo e no espaço; por exemplo, a moral do

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século XIX, que aceitava a escravidão, não vale mais para os dias de hoje nos países civilizados;

além disso, o que é moralmente aceito em uma determinada sociedade, como a poligamia praticada

pelos muçulmanos, não o é em outros grupos sociais;

II) a moral tem caráter coletivo, mas só tem valor real se for aceita, em termos pessoais, por

cada membro do grupo social; portanto, quando educamos jovens não basta citarmos um elenco

de regras de convívio social, sendo indis- pensável que acreditemos efetivamente nelas e as

pratiquemos, para que os jovens acreditem em tais normas e possam praticá-las, sinceramente,

com pleno convencimento.

Ao líder cabe transmitir, permanentemente, a ética e a moral da instituição a que pertence, ou

do seu grupo social.

Em todos os níveis, desde o grupo familiar, célula da vida social, até a condução de um povo,

há que haver uma ética norteando qualquer ato dos indivíduos em sociedade.

III) Elevação do moral

O moral é o estado de espírito de alguém, gerado pelas circunstâncias que afetam sua

participação como membro de um grupo.

É a atitude mental do militar em relação ao dever a ser cumprido e a tudo mais que com ele

se relacione, manifestando-se pela força de vontade, superioridade e segurança.

O moral influi de maneira decisiva no modo pelo qual os trabalhos são feitos e as ordens

executadas.

Há uma relação direta e recíproca entre a disciplina e o moral, já que o fortalecimento de um

se reflete imediatamente sobre o outro.

O moral elevado só existe em grupos em que a disciplina consciente predomina, constituindo-

se no melhor indicativo de uma liderança efetiva.

Assumir um erro exige, em muitas situações, coragem moral. Covardia moral pode levar à

desonestidade e aí, em vez de um, cometem-se dois erros, sendo o segundo bem pior do que o

primeiro. Agrava-se a situação, em vez de resolvê-la.

Regras para construção, elevação e consolidação do moral dos subordinados:

a) Conquistar-lhes a confiança, pela imparcialidade, serenidade, acerto e firmeza de suas

decisões;

b) Manter-se em contato com seus problemas e aspirações pessoais;

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c) Garantir-lhes a melhor condição de vida, nas circunstâncias;

d) Mantê-los permanentemente orientados e informados;

e) Tratá-los como seres humanos, na plenitude de seus direitos;

f) Proporcionar-lhes momentos de lazer e descanso;

g) Evitar o ócio e a monotonia, a todo o custo;

h) Interessar-se por suas carreiras;

i) Promover o seu desenvolvimento pessoal;

j) Cuidar do seu bem-estar, na medida certa para as circunstâncias;

k) Discipliná-los e incentivar a disciplina;

l) Fazer com que sintam a importância do seu trabalho e do papel que desempenham no

grupo;

m) Incentivar o espírito de equipe;

n) Fazer com que sintam a presença e o pulso da liderança; e o) Doutriná-los nos momentos

adequados.

e) Axiologia (ou teoria dos valores)

A axiologia, também conhecida como a teoria dos valores, é considerada a parte mais nobre

da filosofia.

O valor indica a qualidade pela qual um objeto (material ou não) possui dignidade portanto

merece estima e respeito por parte de um sujeito.

Uma característica essencial do valor é a sua polaridade, ou seja, o valor tem de ser

positivo ou negativo. A indiferença significa ausência de valor.

Outra é o seu caráter ao mesmo tempo objetivo e subjetivo. O objeto tem qualidades que o

fazem desejável ou não desejável. Por outro lado, o sujeito precisa reconhecer tais qualidades no

objeto, atribuindo-lhe valor positivo ou negativo.

O ser humano precisa receber uma educação adequada para ser capaz de valorizar um objeto

(a vida humana, a pátria, a família, a natureza, uma doutrina religiosa). Sem essa educação, perde-se

a capacidade de perceber esses valores, especialmente quando se trata daqueles universais, tais

como: honra, dignidade e honestidade.

A característica fundamental da axiologia consiste na hierarquização desses valores, que são

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transmitidos pela educação familiar, pela sociedade, pelo grupo.

Assim é que, geralmente (embora não sempre), o homem tem como valor primor- dial a

própria vida e a luta permanente por sua preservação.

Essa hierarquização de valores varia de um país para outro, de uma sociedade organizada

para outra, de um grupo social para outro. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, os

“kamikaze”, pilotos-suicidas japoneses e, atualmente, os fundamentalistas islâmicos, que se

sacrificam em atentados nos EUA e Oriente Médio, priorizam a causa da pátria à frente de sua

própria vida, contrariando o instinto de preservação, valor primordial do ser humano.

Exemplo mais próximo é o juramento proferido solenemente pelos militares da Marinha,

assegurando defender a honra, integridade e instituições da Pátria, com o sacrifício da própria vida.

Nas Forças Armadas, valores como a honra, a dignidade, a honestidade, a lealdade e o

amor à pátria, assim como todos os outros considerados vitais, devem ser praticados e transmitidos,

permanentemente, pelo Líder aos seus liderados, como tarefa de doutrinamento. Este procedimento

visa transmitir a correta hierarquização e prioriza-os em relação aos valores materiais, como

dinheiro, o poder e a satisfação pessoal.

Este é o maior desafio a ser enfrentado por aquele que pretende exercer a liderança de um

grupo.

O momento é oportuno para transcrevermos o conceito de honra, externado pelo Almirante

Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil:

“Honra é a força que nos impele a prestigiar nossa personalidade. É o sentimento avançado

do nosso patrimônio moral, um misto de brio e valor. Ela exige a posse da perfeita

compreensão do que é justo, nobre e respeitável, para elevação da nossa dignidade; a bravura

para desafrontar perigos de toda ordem, na defesa da verdade, do direito e da justiça.

Este sentimento está acima da vida e de tudo quanto existe no mundo, porque a vida se

acaba na sepultura e os bens são transitórios, enquanto que a honra a tudo sobrevive”.

5.4.2 – Bases Psicológicas da Liderança

a) Conceituação de psicologia

A matéria-prima da psicologia é a vida humana em seus múltiplos aspectos: mentais,

corporais e de interação com o mundo externo. Seu objeto de estudo são os fenômenos

psicológicos.

Fenômenos psicológicos são processos que ocorrem no mundo interno dos indivíduos,

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construídos ao longo de suas vidas; são contínuos, e nos permitem sentir o mundo de forma

própria.

b) Relação entre Psicologia e Liderança

A Liderança consiste em uma relação de interação envolvendo pessoas (líder e liderados); a

maneira como se processa essa interação depende, em muito, dos fenômenos psicológicos que

ocorrem na mente dos indivíduos envolvidos.

O processo de liderança deve ser constantemente submetido a uma reavaliação, pelo fato de

envolver pessoas interagindo, de forma estrita, durante um determinado período.

A psicologia permite compreender o modo como os seres humanos são condicionados pelos

estímulos, que se refletem no comportamento, e pelo ambiente que os envolve. As atitudes formam

um conjunto de fatores pelos quais as pessoas podem ser observadas, tais como: gestos, participação

e apresentação.

O líder, em todos os níveis, deve ser capaz de compreender o processo psicológico do

“estímulo – comportamento – atitude”, que permite moldar e avaliar os liderados para tarefas que

envolvam até risco de vida, como em situações de combate.

A seguir abordaremos os três aspectos da psicologia que mais interessam, objetivamente,

processo da Liderança São eles: percepção, motivação e atitude.

c) Percepção

O homem é sempre capaz de receber estímulos do mundo externo e responder a eles, após os

haver interpretado. Tais estímulos incluem coisas, pessoas e situações.

O psiquismo do próprio observador, sua subjetividade, vai interferir decisivamente em seu

processo de percepção. Quanto mais complexo for este estímulo, maiores são as possibilidades

de ocorrerem percepções distintas, por parte de diferentes observadores.

Quando o objeto percebido é concreto, por exemplo, um automóvel pequeno com a pintura

em bom estado, a maioria dos observadores perceberá claramente tais características.

Quando o objeto percebido é uma pessoa, surgem maiores dificuldades. Quando

conhecemos alguém, tendemos a formar impressões imediatas sobre a pessoa. Podemos achá-la

simpática e inteligente, por exemplo. Um outro observador, ao conhecer a mesma pessoa, pode

considerá-la simpática, mas não muito inteligente. Já um terceiro poderá dizer que nem se

aproximou muito, por considerá-la bastante antipática. Isso acontece porque a subjetividade de

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quem percebe interfere poderosamente no processo de formação de juízos.

Outro fator complicador em nosso processo de avaliação dos outros é a tendência que as

pessoas tem, principalmente em um primeiro contato, de revelar apenas alguns traços de sua

personalidade, normalmente os que consideram favoráveis. Tais constatações nos levam a uma

conclusão: nossa percepção é falha, quando estamos observando pessoas (ou grupos delas); isto

porque os seres humanos têm emoções muitas vezes secretas.

Assim, qual deve ser o procedimento para evitar a forte tendência de estabelecermos

percepções equivocadas sobre terceiros? Reconhecer que as pessoas não são formulações

matemáticas que apresentam solução-padrão e ter suficiente humildade para não confiar cegamente

na própria percepção, tendo capacidade para reformulá-la, após observação mais duradoura e

acurada.

A seguir, são apresentados alguns dos processos, mais comumente postos em prática pelos

observadores em geral, e que conduzem a graves equívocos na formação de juízos sobre

terceiros:

I) Efeito de halo

É muito comum categorizarmos o objeto de nossa percepção em termos de bom e mau,

deduzindo, a partir desta primeira classificação, os demais traços do indivíduo observado; esta

tendência é chamada de efeito de halo, porque a pessoa rotulada de boa passa a ser cercada por uma

aura positiva, sendo a ela atribuídas todas as qualidades consideradas favoráveis; ao contrário, se o

indivíduo é rotulado de mau, passa a possuir um halo negativo, sendo a ele atribuídas todas as más

qualidades.

II) Similaridade suposta

É a tendência da maioria das pessoas para supor que as outras são semelhantes a elas mesmas,

se o indivíduo gosta de futebol, tende a acreditar que os outros também gostam isto é, grande parte

dos indivíduos atribui suas próprias características aos outros.

III) Preconceito

É a tentativa de avaliar alguém, a priori, pelo fato de pertencer a um grupo étnico, religioso,

político, etc. Isto pode nos conduzir a graves equívocos.

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d) Motivação

Todo comportamento humano é motivado, ou seja, nossos

atos, mesmo os mais rotineiros, têm, por trás de si, motivos que

os norteiam.

I) Motivo: é a condição interna que leva o indivíduo a agir

e persistir em um dado comportamento, visando um

determinado objetivo.

II) Motivação consciente: está associada a comportamentos em que o sujeito sabe claramente

qual o motivo que o impeliu à ação, como por exemplo, o ato de beber água quando sente sede,

escolher um transporte, uma roupa, etc..

III) Motivação inconsciente: em outras situações, o motivo pode não ser claro – o que não

impede a manifestação do comportamento; neste caso o sujeito crê em um motivo aparente, que

não é o verdadeiro, como por exemplo, uma pessoa que lava compulsivamente as mãos poderá

explicar seu comportamento, alegando que age assim porque as mãos estão sujas (motivo

aparente), quando na verdade se comporta daquela forma porque tem pensamentos pecaminosos,

que considera sujos (motivo latente).

Atos inconscientes de coçar a cabeça ou balançar as pernas também são formas de

transparecer preocupação, nervosismo, ansiedade ou tensão.

IV) Origem dos motivos: para a maioria dos psicólogos sociais, os motivos têm origem nas

necessidades, ou seja, o motivo é uma condição interna que conduz à ação, desde que haja uma

necessidade; caso o indivíduo não tenha necessidades de qualquer natureza, ele simplesmente não

age.

V) Gráfico de Maslow:

O conhecido psicólogo social Maslow formulou uma interessante teoria sobre a motivação

humana a partir de cinco categorias de necessidades, as quais ele hierarquiza partindo das mais

genéricas e elementares (base da pirâmide) às mais sutis (topo da pirâmide).

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A interpretação do gráfico é feita a partir da base do triângulo; uma vez atendidas as

necessidades de um determinado nível o indivíduo passará a sentir necessidades em um grau

imediatamente acima.

• Necessidades fisiológicas - são aquelas mais prementes, as quais afetam todos os indivíduos

da espécie, tais como fome, sede, repouso, sexo, etc.

• Necessidades de segurança – são aquelas relativas à preservação de sua integridade física.

• Necessidades de amor e afeto - neste nível de necessidade está incluído tanto o dar como

receber amor; consideram os psicólogos, em sua maioria, que a frustração no atendimento destas

necessidades é a origem mais comum da falta de adaptação e da psicopatologia grave.

• Necessidades de auto-estima - correspondem ao desejo de avaliação estável e elevada, além

do respeito das outras pessoas.

• Necessidades de auto-realização - são definidas como a tendência do indivíduo para

realizar plenamente seu próprio potencial, ou seja, ser efetiva mente o que pode ser.

VI) Incentivos

São objetos ou condições que despertam motivos e, portanto, tornam-se finalidades para as

quais se dirigem os comportamentos; só serão eficazes, porém, em função das necessidades do

indivíduo, por exemplo: o alimento só funciona como incentivo para alguém que esteja faminto.

Como incentivos, podemos citar: recompensas e punições, elogio, censura e competição.

Os psicólogos, em geral, consideram que a recompensa se mostra mais eficaz do que o

castigo, principalmente em processos de aprendizagem. Pesquisas também mostraram que o elogio

é superior à censura, e esta, por sua vez, superior à indiferença.

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A curto prazo, elogio e censura apresentam resultados idênticos como incentivos; no entanto,

a longo prazo, o elogio se mostra mais eficaz.

A competição também é bastante utilizada em grupos de indivíduos, com o propósito de

estimular melhor desempenho entre seus membros. Deve ser empregada com bastante critério,

uma vez que apresenta uma grave limitação: apenas um indivíduo vence, enquanto os demais

membros do grupo podem sentir-se perdedores, gerando frustração e desestímulo.

Os psicólogos consideram que deve ser estimulada a competição do indivíduo consigo

mesmo, na busca de melhores resultados, e não contra os demais componentes do grupo.

e) Atitude

“É um sistema relativamente estável de organização de experiências e comporta- mentos

relativos a um objeto ou evento particular”. (McDavid e Harari)

Atitude é um conceito hipotético, isto é, não pode ser diretamente observável, o que não

impede que seu efeito possa ser inferido a partir do comportamento decorrente.

Comportamento á a expressão de uma atitude ou a manifestação aparente de uma vontade.

Por exemplo, nada assegura a um professor que o fato de um aluno estar em silêncio, olhando para

o quadro, com postura ideal, signifique que tal aluno esteja efetivamente atento ao conteúdo da aula,

aprendendo o que está sendo ministrado. Seu comportamento parece indicar uma atitude neste

sentido, mas não há garantias disso.

De início, afirma-se que atitude é um sistema; portanto, compõe-se de partes.

Que partes são estas?

Uma delas, de caráter racional, é chamada de elemento cognitivo; é conceitual, ligado,

portanto, à consciência do indivíduo. Outra parte componente do sistema de atitudes de uma pessoa

é elemento afetivo, relacionado a sentimentos e emoções do sujeito; este elemento trata do gostar

(ou não) de um determinado objeto, independentemente de argumentos racionais. Um terceiro

elemento, chamado comportamental, trata das tendências ou predisposições do indivíduo para agir

de maneira própria.

É importante ressaltar que os elementos citados não atuam isoladamente, mas se

interpenetram, imbricam-se, apresentando uma resultante final, que se manifestará através do

comportamento por ela gerado.

Convém chamar atenção para outra parte da definição que afirma que as atitudes são relativas

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a um dado objeto. Os objetos podem ser pessoas (o pai, o vizinho, o patrão, etc.), grupos sociais

idéias ou crenças.

É possível concluir que as atitudes têm fortes propriedades motivadoras, isto é, orientam o

comportamento dos indivíduos.

O sistema de atitudes de um indivíduo vai sendo estruturado ao longo de sua existência, por

meio de experiências vividas, desde a primeira infância; é um processo dinâmico, que acompanha o

desenvolvimento psicosocial do sujeito. Ou seja, mesmo um adulto pode rever seus conceitos,

reformular suas crenças, reconsiderar suas relações afetivas, em suma, reorganizar seu sistema de

atitudes.

A possibilidade de atuação sobre os sistemas de atitudes de adultos é a grande arma da

propaganda em geral, quer tenha como finalidade vender um produto comercial, quer pretenda

disseminar uma crença, quer apoie um candidato político. Liderança, sendo um processo de

influenciação e persuasão, consiste precisamente em atuar no complexo sistema de atitude de

indivíduos adultos.

5.4.3 – Bases Sociológicas da Liderança

a) Conceituação de sociologia

A sociologia é a ciência humana que tem como objeto a descrição sistemática de

comportamentos sociais e, também, o estudo dos fenômenos sociais;

Podemos nos referir as sociedades compostas por muitos milhões de seres humanos (a

sociedade brasileira, por exemplo) ou a sociedades de dimensões muito mais modestas (a

associação de moradores de um bairro).

O que caracteriza uma sociedade é o grau de complexibilidade das relações internas desta

coletividade, suficientemente amplo para ser analisado do ponto de vista sociológico.

A sociologia tem como meta mostrar o lado interno das sociedades, com o propósito de

refletir, com profundidade, sobre a dinâmica de forças atuantes em dada coletividade.

b) Relação entre Sociologia e Liderança

Como já vimos, a liderança envolve líder e liderados em um processo ímpar de interação

social. Tal processo ocorre sempre no interior de grupos humanos, razão pela qual existe uma

relação muito próxima entre sociologia e liderança.

Em um agrupamento humano, o indivíduo que melhor conseguir personificar anseios e

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objetivos de sobrevivência, coletivamente comungados em uma determinada situação, passa a ser

candidato em potencial para assumir a liderança.

Naturalmente, para que alguém possa ser considerado como a personificação da vontade

coletiva de um grupo, é necessário possuir atributos pessoais que o qualifiquem como Líder, tais

como: credibilidade e persuasão.

A seguir trataremos de alguns aspectos da sociologia que têm relação estreita com a liderança.

c) A cultura

Podemos definir cultura como tudo que é socialmente aprendido e partilhado pelos membros

de dada sociedade.

O homem é fundamentalmente um ser cultural; nascemos dentro de determinado contexto

cultural, do qual recebemos uma herança social; podemos introduzir modificações nesta última e

transformá-la, contribuindo para o legado de futuras gerações.

I) Elementos que compõem as culturas: os elementos fundamentais, relativos a uma dada

sociedade, que compõem as culturas em geral são:

• a língua;

• os costumes (vestuário, alimentação, música, religião, etc.);

• as técnicas (meios de trabalho e produção de bens);

• os valores (normas, critérios e ideias, relacionados com formação de atitudes).

II) Subcultura: dentro de uma determinada cultura, podemos notar grupos de pessoas que

desenvolvem comportamentos próprios, não compartilhados por todos os membros desta cultura; é

o que se define como subcultura; as Subculturas se distinguem umas das outras por traços

específicos, entre os quais podemos citar a religião, a ocupação, a faixa etária, a classe social e

outros; por exemplo, os militares constituem uma subcultura dentro da sociedade brasileira e a

Marinha é uma subcultura dentro das Forças Armadas.

III) Cultura ideal: consideramos como cultura ideal aquela que inclui os comportamentos

aprovados em determinada sociedade, os quais se espera que serão praticados por seus membros

(são as normas culturais).

IV) Cultura real: inclui os comportamentos efetivamente postos em prática pelos membros

da sociedade; na maioria das sociedades existem padrões de comportamento que, embora

condenados, são amplamente praticados, por exemplo, o jogo do bicho no Brasil.

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d) Etnocentrismo

Diretamente decorrente do conceito de cultura, a noção de etnocentrismo é de capital

importância, uma vez que sua prática é muito frequente no interior de grupos humanos.

Tal prática consiste em considerar a cultura do próprio grupo como superior às demais; ou

seja, é usada como padrão de referência em relação às outras; por exemplo, afirmações do tipo:

povo eleito, raça superior, verdadeiros fiéis, etc..

I) Aspecto positivo: fortalecimento da auto-estima do grupo, sua lealdade interna e,

consequentemente, sua autopreservação; é fator de estímulo do patriotismo, do nacionalismo, do

espírito de corpo e do “espírito de navio”.

II) Aspecto negativo: proteção contra eventuais mudanças e a não-aceitação de elementos

externos àquela cultura, podendo conduzir ao isolamento, à cristalização e à falta de autocrítica

no seio do grupo.

e) Papel e Status

São aspectos de um mesmo fenômeno; status é um conjunto de privilégios e deveres; papel é

o comportamento derivado de tal conjunto de privilégios e deveres.

Podemos dizer que papel é o comportamento esperado de um indivíduo que detém

determinado status.

As normas da cultura são retidas através da aprendizagem de papéis; todos nós, ao longo da

existência, devemos aprender a desempenhar vários papéis, como os de cidadão, pai, filho, marido,

profissional de determinada área, membro de determinada classe social ou de uma religião.

É possível a ocorrência de conflitos entre os diferentes papéis que o indivíduo desempenha na

vida; também podem ocorrer choques entre o status e o desempenho real do papel.

I) Papéis atribuídos: são aqueles que independem de escolha do indivíduo, e se referem a

atribuições por sexo, idade, raça, nacionalidade, classe social etc.; por exemplo, ser homem,

brasileiro e jovem, forma um conjunto de papéis atribuídos a determinado indivíduo.

II) Papéis adquiridos: se referem a escolhas do indivíduo, e são obtidos através de sua

capacidade e desempenho; por exemplo, o status de marido e o de militar são adquiridos.

III) O papel do líder: como a liderança tem caráter situacional, o papel do líder se modifica

em função de eventuais mudanças contextuais; por exemplo, liderar em função de paz requer

atributos distintos daqueles da liderança em situação de combate. O papel de chefe militar é um

papel atribuído, cuja complexidade é crescente, à medida que o indivíduo vai galgando postos

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hierárquicos na carreira. Mas, ao mesmo tempo, o militar deve exercer o papel adquirido de líder

militar, que deve ser conquistado, permanentemente, por iniciativa própria.

f) Processos Sociais

São definidos como a interação repetitiva de padrões de comportamento comumente

encontrados na vida social (Horton e Hunt).

Os de maior incidência nas sociedades e grupos humanos são: cooperação, competição e

conflito.

Como sua ocorrência é frequente no interior dos grupos humanos, compete ao líder identificar

a existência de tais processos, estimulando-os ou não, em função das especificidades da situação

corrente e da natureza da missão a ser levada a termo.

I) Cooperação

Significa trabalhar em conjunto, implicando em uma opção pelo coletivo em detrimento do

individual; sob muitos aspectos e de um ponto de vista humanista, é a forma ideal de atuação de

grupos; exemplos: no mundo animal, abelhas e formigas; nas sociedades humanas as cooperativas,

os processos de cooperação científica e cultural, a ONU, etc..

II) Competição

É definida como a luta pela posse de recompensas cuja oferta é limitada; ou a tentativa de

obter uma recompensa superando todos os rivais; tais recompensas incluem dinheiro, poder, status,

amor e muitos outros.

A competição, sob o ponto de vista psicológico, tem o mérito de estimular a atividade dos

indivíduos e dos grupos, aumentando-lhes a produtividade. Tem, porém, o grave inconveniente de

desencorajar os esforços daqueles que se habituaram a fracassar. Vencedor há um só; todos os

demais são perdedores.

Outro sério inconveniente decorrente do estímulo à competição consiste na forte

possibilidade de desenvolvimento de hostilidades e desavenças no interior do grupo, contribuindo

para sua desagregação.

Os especialistas concordam que os processos de competição e de cooperação coexistem e, até

mesmo, sobrepõem-se na maioria das sociedades. O que varia, em função de diferenças culturais, é

a intensidade com que cada um é experimentado.

A instabilidade inerente ao processo competitivo faz com que este, com frequência, se

transforme em conflito.

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III) Conflito

É a exacerbação da competição; consiste em obter recompensas pela eliminação ou

enfraquecimento dos competidores (e não pela superação destes, como ocorre no processo de

competição); é uma forma de competição em que a violência tende a se instalar e vai-se

intensificando, à medida que aumenta a duração do processo, já que este tem caráter cumulativo (a

cada ato hostil surge uma represália cada vez mais agressiva).

A partir de divergências de percepção e ideias, as pessoas se colocam em posições

antagônicas, caracterizando uma situação conflitiva. Desde as mais leves até as mais profundas, as

situações de conflito são componentes inevitáveis e necessárias da vida grupal.

O conflito, em si, não é patológico nem destrutivo, podendo ter conseqüências funcionais

ou disfuncionais, a depender de:

• sua intensidade;

• estágio de evolução;

• contexto; e

• forma como é tratado.

O aspecto negativo do conflito é a sua tendência a destruir a unidade social e da mesma forma

desagregar grupos menores.

Por outro lado, doses regulares de conflito de posições podem ter efeito integrador dentro do

grupo, levando a uma revitalização dos valores autênticos próprios daquele grupo.

De um ponto de vista amplo, o conflito tem muitas funções positivas:

• Previne a estagnação decorrente do equilíbrio constante da concordância;

• Estimula o interesse e a curiosidade pelo desafio da oposição;

• Descobre os problemas e demanda sua resolução;

• Funciona como a raiz de mudanças pessoais, grupais e sociais.

Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de um grupo, seu respectivo líder terá de

buscar soluções alternativas para manter o controle da situação. Não é fácil ou agradável para os

líderes atuar em situações de conflito, o que não justifica sua pura e simples negação; é

indispensável que o líder seja capaz de diagnosticar as situações de conflito, mesmo quando ainda

latentes, de modo a buscar alternativas para o mesmo.

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g) Alternativas para os conflitos

Nem sempre há como evitar, em uma sociedade ou grupo humano, o surgimento de

situações de conflito; existem, porém, as seguintes possibilidades:

• Acomodação - consiste de um acordo temporário entre as partes (indivíduos ou grupos)

conflitantes, desde que tais partes considerem prioritário agir em conjunto, a despeito de

hostilidades e diferenças; a acomodação não resolve o conflito, mas funciona como uma suspensão

temporária do mesmo; exemplo: casais que adiam uma separação legal, aguardando a emancipação

dos filhos.

• Deslocamento – trata-se de suspender determinado conflito, substituindo-o por outro;

exemplo: guerra, ou ameaça de guerra, contra um inimigo externo, com o propósito de promover a

unidade nacional.

• Institucionalização da liberação da hostilidade – consiste na canalização da energia

agressiva inerente aos conflitos, para formas socialmente aceitas, como festas e rituais religiosos, ou

práticas esportivas; exemplo: carnaval e futebol.

• Arbitramento – uma terceira pessoa aceita de comum acordo pelos oponentes decide por

uma solução própria para o conflito, a qual será respeitada por ambos; exemplo: nas relações

internacionais muitas vezes os países recorrem ao arbitramento como solução para conflitos de

fronteiras, evitando a confrontação e o uso da violência.

h) Processo psicossocial de mudança

São as seguintes as fases do processo psicosocial de mudança:

I) Descongelamento - Para que ocorra mudança nas pessoas, faz-se necessário que haja

algum desequilíbrio ou crise interna que propicie alteração de percepções e introdução de novas

ideias, sentimentos, atitudes, comportamentos. Pode se alcançar este estágio através de

comunicação, questionamento, introdução de novas informações e ideias, levando à sensibilização e

à conscientização de problemas e da necessidade de algumas mudanças para resolvê-los;

II) Incorporação – Consiste na decisão pela mudança e sua implementação, pela

aprendizagem de novos padrões de percepção, conhecimentos, atitudes e ações; e

III) Congelamento – Se estabelece o equilíbrio após a transição da mudança. Esta última fase

precisa de reforço externo para que as atitudes e comportamentos antigos não se manifestem

novamente.

i) Resistência à mudança

Toda mudança provoca resistência.

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Em geral as pessoas sentem medo do novo, do desconhecido, do que não lhes é familiar. A

percepção vem acompanhada de um sentimento de ameaça à situação já organizada e segura da

pessoa.

Do ponto de vista psicológico, a resistência à mudança é uma reação normal, natural e sadia,

desde que represente um período transitório de tentativas de adaptação, em que a pessoa busca

recursos para enfrentar e lidar com o desafio de uma situação diferente.

A resistência à mudança é, portanto, uma fase inicial prevista em qualquer programa de

mudança planejada.

5.5 – TIPOS DE LIDERANÇA E SUAS CARACTERÍSTICAS

5.5.1 – Estilos de liderança

Muitas teorias descrevem e preconizam estilos de liderança baseados no conhecimento

técnico-profissional, nas características pessoais, no relacionamento entre líderes e liderados e,

ainda, segundo as circunstâncias em que se encontra o grupo.

a) Liderança Autoritária ou Autocrática

É baseada na autoridade formal,

aceita como correta e legítima pela

estrutura do grupo. Essa autoridade

formal, que é conferida ao líder, dá-lhe

autonomia para motivar os seus

subordinados por intermédio de

recompensas e punições.

O Líder autocrático baseia a sua

atuação numa disciplina rígida, impondo

obediência e mantendo-se afastado de relacionamentos menos formais com os seus subordinados.

Controla o grupo por meio de inspeções de verificação do cumprimento de normas e padrões

de eficiência, exercendo pressão contínua.

Este tipo de liderança pode ser útil e, até mesmo, recomendável em situações especiais – em

combate, por exemplo, sendo a forma de liderança mais conhecida e de mais fácil adoção.

A principal restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse pelos problemas e idéias,

imped indo a iniciativa e, por conseguinte, a participação e a criatividade dos subordinados.

O uso desse estilo de liderança pode gerar resistência passiva dentro da equipe e inibir a

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iniciativa do subordinado, além de não considerar os aspectos humanos, entre eles o relacionamento

líder liderados.

b) Liderança Participativa ou Democrática

Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte

da autoridade formal em prol de uma esperada

participação dos subordinados e aproveitamento de suas

ideias.

Os componentes do grupo são incentivados a

opinarem sobre as formas como uma tarefa poderá ser

realizada, cabendo a decisão final do líder (exemplo

típico é o Estado-Maior).

O êxito desse estilo é condicionado pelas características pessoais, pelo conhecimento técnico-

profissional e pelo engajamento e motivação dos componentes do grupo como um todo.

Em se obtendo sucesso, a satisfação pessoal e o sentimento de contribuição, por parte dos

subordinados, são fatores que permitem uma realimentação positiva do processo.

Na ausência do líder, uma boa equipe terá condições de continuar agindo, de acordo com o

planejamento previamente estabelecido, para cumprir a missão.

O líder deve estabelecer um ambiente de respeito, confiança e entendimento recíprocos,

devendo possuir, para tanto, ascendência técnico-profissional sobre seus subordinados e conduta

ética e moral compatíveis com o cargo que exerce. Um líder que adota estilo democrático encoraja a

participação e delega com sabedoria, mas nunca perde de vista sua autoridade e responsabilidade.

c) Liderança Delegativa ou Liberal

Esse estilo é indicado para assuntos de natureza técnica, nas

quais o líder atribui a assessores a tomada de decisões

especializadas, deixando-os agir por si só. Desse modo, ele tem

mais tempo para dar atenção a todos os problemas, sem se deter

especificamente a uma determinada área.

É eficaz quando exercido sobre pessoas altamente

qualificadas e motivadas. O ponto crucial do sucesso desse tipo

de liderança é saber delegar atribuições sem perder o controle da

situação e, por essa razão, o líder também deverá ser altamente

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qualificado e motivado.

O controle das atividades dos elementos subordinados é pequeno, competindo ao chefe às

tarefas de orientar e motivar o grupo para atingir as metas estabelecidas.

d) Liderança Situacional

Também conhecida como teoria do ciclo vital da liderança, define que, para diferentes

situações, o estilo de liderança a ser exercido deve ser distinto. O êxito do processo está pautado

na percepção do ambiente (grau de maturidade/prontidão do grupo) e na capacidade de adaptação

do comportamento do líder para atender às necessidades dos seus liderados.

Os estilos de liderança efetivos seguem uma relação curvilínea entre tarefa, relacionamento e

maturidade dos subordinados.

Os aspectos mais importantes a serem considerados no ciclo vital da liderança são os

seguintes:

I) Muitos grupos não atingem a parte madura do ciclo, embora haja evidências de que, com

aumento do nível de educação e experiência, isso possa se alcançado;

II) A maturidade depende, também, das ferramentas disponíveis; um grupo maduro em

determinado trabalho, com suas ferramentas clássicas, torna-se imaturo se tiver que utilizar novas

ferramentas cuja operação não domine;

III) O estilo de liderança de uma pessoa reflete sua estrutura básica motivacional e de

necessidades, sendo de fato, difícil fazer mudanças bruscas no seu estilo; e

IV) As pessoas que ocupam cargos de nível mais elevado tendem a ser mais “maduras” e,

portanto, precisam de menos supervisão do que as pessoas que ocupam posições de nível mais

baixo.

Os melhores líderes utilizam estilos diferentes, em diferentes situações. Na prática, em um dia

de trabalho, o líder pode empregar os três processos de liderança, de acordo com a situação e com

os liderados.

Manda cumprir uma ordem, consulta o grupo antes de tomar uma decisão e sugere a um

subordinado realizar determinada tarefa.

Ao mandar, é líder autocrático; consultando, é líder democrático; e sugerindo é líder

delegativo.

A esse estilo de liderança que assume, de acordo com as circunstâncias, características

autocráticas, democráticas ou delegativas, denomina-se liderança situacional.

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5.5.2 – Níveis de liderança

A Doutrina de Liderança da Marinha adotou três

níveis que definem, com precisão, toda a abrangência da

liderança:

• Liderança direta ou pessoal

• Liderança organizacional; e

• Liderança estratégica.

a) Liderança Direta ou Pessoal

A liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a face entre o líder e seus

liderados e é mais presente nos escalões inferiores, quando o contato pessoal é constante.

Conquanto seja mais intensa no comando pequenas frações ou unidades, será sempre exercida na

carreira de um militar, tendo em vista que a estrutura organizacional da Força exige o trato com

assessores e subordinados diretos.

b) Liderança Organizacional ou de Organização

Normalmente é exercida nos grandes grupos. Ao contrário do que acontece no nível de

liderança direta, a influência dos líderes organizacionais é basicamente indireta: eles expedem suas

políticas e diretivas e motivam seus liderados por meio de seu “staff” e comandantes subordinados.

Devido ao fato de sua liderança ser distante, os resultados de suas ações são

frequentemente menos visíveis e mais demorados.

Sempre que possível, o líder organizacional deve mostrar sua presença junto aos escalões

subordinados, seja por intermédio de visitas e mostras, seja por meio de reuniões funcionais com

os comandantes subordinados.

c) Liderança Estratégica

Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos níveis mais elevados da

Instituição. Sua influência é ainda mais indireta e distante do que a dos líderes organizacionais.

Os líderes estratégicos trabalham para deixar, hoje, a instituição pronta para o ama- nhã, ou

seja, para enfrentar os desafios do futuro.

A visão dos líderes estratégicos é especialmente crucial na identificação do que é

importante com relação ao pessoal, material e tecnologia, a fim de subsidiar decisões críticas que

irão determinar a estrutura e a capacidade futura da organização.

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Para obter o suporte necessário, os líderes estratégicos procuram obter o consenso não só no

âmbito interno da organização, como também trabalhando, junto ao Congresso e a outros órgãos,

nos assuntos relativos a orçamento, estrutura da Força e questões estratégicas, além de estabelecer

contatos com outros países e Forças em assuntos de interesse mútuo.

A maneira como eles comunicam as suas políticas e diretivas aos militares e civis

subordinados, e apresentam aquelas de interesse aos demais cidadãos, vai determinar o nível de

compreensão alcançado e o possível apoio para as novas idéias.

Esses líderes preparam a Instituição para o futuro por meio de sua liderança. Isso significa

influenciar pessoas – integrantes da própria organização, membros de outros setores do governo,

elites políticas – por meio de propósitos significativos, direções claras e motivação consistente.

d) Utilização dos atributos de cada nível de liderança

O líder organizacional deve ser também um líder direto, assim como o líder estratégico deve

acumular os atributos dos líderes direto e organizacional.

5.5.3 – Manifestações patológicas da liderança

a) Liderança Carismática

Em consequência da conjunção de fatores intelectuais e emocionais, presentes em grau

sumamente elevado, em circunstâncias altamente favoráveis, o líder atinge o clímax de sua

ascendência; passa a ser amado, com freqüência de modo doentio, com as seguintes

consequências:

I) A razão se enfraquece;

II) O convencimento por parte do líder chega a ser desnecessário; e

III) Estabelece-se a obediência cega inconsequente.

A liderança militar deve repelir qualquer manifestação dessa natureza).

b) Liderança que atenta contra a ética

Consiste no emprego da liderança para atingir objetivos que estão em desacordo as regras que

determinam o comportamento de indivíduos em uma dada sociedade. Enquadra-se neste caso, por

exemplo, a liderança exercida por certos chefes de organizações criminosas.

5.6 – FORMAS DO LÍDER TRABALHAR COM OS PROBLEMAS COMUNS NA DI-

NÂMICA DE UM GRUPO

5.6.1 – Formas de exercer influência no grupo Aspectos psicológicos a considerar

O chefe que desejar tornar-se um líder, influenciando seus subordinados, deverá utilizar as

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contribuições que a psicologia coloca a serviço da liderança, considerando, principalmente, os

seguintes aspectos:

I) A habilidade de impelir os indivíduos a agirem depende e se baseia num conhecimento

das possíveis e prováveis reações desses mesmos indivíduos;

II) Quem deseja influenciar alguém não deve levar em conta apenas o lado intelectual da sua

personalidade, mas, igualmente, o seu lado sentimental – não basta se dirigir à razão, sendo também

necessário falar ao sentimento do indivíduo;

III) Deve-se ter em vista que a reação do indivíduo, em conjunto, é diferente da sua reação

isolada ou individual – os homens se transformam quando em coletividade, perdendo suas

características individuais e incorporando a si, como individualidade própria, as características do

grupo;

IV) As qualidades e habilidades necessárias aos líderes bem sucedidos são determinadas,

em grande parte, pelas exigências específicas da situação em que o líder se encontra – o líder tem de

se conduzir de acordo com a situação, em que se incluem as características de cada membro e do

aspecto coletivo do grupo;

V) A liderança eficiente não é um comportamento único, um modo de proceder invariável,

mas um conjunto harmonioso e adequado às diversas situações de:

• qualidades postas em evidência;

• processos de influenciação; e

• métodos de condução e de direção;

VI) O líder, ao procurar obter ação e resultados, deve sempre procurar fazer os subordinados

sentirem que a atividade a realizar satisfaz aos seus próprios propósitos, desejos e necessidades; e

VII)Às vezes, a justificação doutrinária de uma ideia não basta para fazer com que os homens

a aceitem e ajam com eficiência, sendo necessário ir além, influenciar toda a estrutura mental,

abrangendo a razão, o sentimento, a inteligência e, até mesmo, o subconsciente.

5.6.2 - Processos de influenciação

Influenciar implica em descobrir as molas do comportamento humano, em cada situação; as

forças psicológicas em jogo; os motivos, que nem sempre estão claros nas ocorrências diárias.

Porém, um pouco de cuidado, observação atenta e oportunidade para poder percebê-los, são

suficientes para descobrir esses motivos e utilizá-los convenientemente, dentro dos princípios

preconizados pelo estudo da liderança.

São os seguintes, os principais processos de influenciar pessoas:

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I) Motivação - apelo às necessidades, interesses, valores e aspirações.

A motivação nada mais é do que um processo qualquer de impulsionar as pessoas a agirem. O

ideal é que elas ajam conscientemente, espontaneamente, voluntariamente, que tenham vontade,

queiram e até mesmo gostem de realizar a ação proposta.

Sem motivação não existe atividade espontânea. A qualidade da ação depende do interesse do

homem. A motivação é exatamente um meio de despertar esse interesse, de canalizar a vontade dos

indivíduos.

Compete ao líder perceber as necessidades e os interesses de seus liderados.

II) Afirmação e repetição - apelo à memória, ao hábito.

São elementos que têm uma poderosa influência sobre as opiniões e as convicções; sobre a

maneira de pensar e de julgar. A educação é em parte baseada neles.

As empresas propagam os seus produtos pela publicidade, pois conhecem o valor da

afirmação.

A afirmação só adquire influência real sob a condição de ser constantemente repetida e,

sempre que possível, nos mesmos termos. Pela repetição, a coisa afirmada implanta-se nos

espíritos, a ponto de ser aceita como uma verdade demonstrada.

Suficientemente repetida, uma afirmação acaba por criar primeiramente uma opinião e,

mais tarde, uma crença. Assim se explica a espantosa força da publicidade.

III) Exortação – apelo ao sentimento e às emoções.

Tem como propósito transmitir entusiasmo e fervor, não servindo para transmitir informações

ou argumentos racionais.

Por isso ela se aplica melhor onde os valores emotivos estão profundamente enraizados na

pessoa a ser influenciada: o homem emotivo ou emocionado é quase inacessível e indiferente à

argumentação racional, mas não aos apelos sentimentais.

Ao utilizá-la, o líder deve lembrar-se de que a exortação é um apelo emocional, e que as

emoções produzidas por tal apelo não são capazes de subsistir prolongadamente. Por isso, o seu

uso deve ser criterioso e sempre acompanhado de ações concretas, úteis e práticas.

IV) Argumentação – apelo à razão e ao raciocínio lógico.

A argumentação tem como objetivo influenciar o ouvinte ou leitor no sentido de não

escolher, não decidir ou não opinar antes de conhecer os fatos, as evidências, as verdades e a

lógica envolvidas na consideração de determinado problema ou situação.

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V)Publicidade, Propaganda e Informação – apelo à atenção.

São técnicas que servem de apoio aos demais processos.

São ações conscientes, destinadas a transmitir informações ou ideias, com o fim de

levarmos pessoas a pensar ou agir de determinada forma.

A escolha dos meios e métodos para a publicidade e para a propaganda depende do tamanho,

espécie, natureza e nível do grupo de pessoas dirigido ou comandado.

A informação, sob a forma de impressos diversos, relatórios, gráficos, estudos comparativos,

mostra aos homens os seus progressos pessoais e os progressos de seu grupo.

VI) Prestígio – apelo à afeição

De todos os processos este é talvez o que mais predispõe os subordinados a se deixarem

influenciar.

Quando um líder de prestígio, possuindo determinadas qualidades pessoais, faz uso das

mesmas, não será difícil se observar a reação dos subordinados, no sentido de enfrentar tarefas

difíceis e fazer o que for preciso para seguir suas de- terminações.

VII) Efeito de atmosfera ou de ambiente – apelo à sugestibilidade

O ambiente que cerca as palavras, atos e gestos, através do qual o líder pretende influenciar

seus comandados, é de particular importância para que estes últimos se tornem sugestionáveis.

Tudo o que no ambiente, no local e no cenário for capaz de estimular, de influir sobre o

ânimo, o estado de espírito, o humor e os sentimentos dos comandados, deve merecer todo o

cuidado e atenção do líder.

5.7 – COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS DE UM GRUPO DIANTE DOS ES-

TILOS DE LIDERANÇA

5.7.1 - Introdução

Em 1939, na Universidade de Iowa, os cientistas Kurt Lewin, Ronald Lippitt e Ralph White

realizaram uma experiência, que ficou conhecida como a experiência de Iowa, visando estabelecer

relações entre estilos de liderança e comportamento de grupos.

Foram selecionados quatro grupos de meninos de 10 anos de idade, pelo método de

apresentação voluntária, os quais foram submetidos a diversos tipos de controle e entregues as

atividades tais como pinturas murais, escultura em massa e construção de aeromodelos.

De seis em seis semanas, assumiam a direção de cada grupo líderes diferentes, os quais

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empregavam estilos alternados de liderança autocrática, democrática e delegativa. Os resultados da

experiência foram os seguintes:

5.7.2 – Comportamento diante da liderança autocrática ou autoritária

Neste tipo de liderança, o líder exige apenas obediência, a ele competindo, exclusivamente,

traçar as normas de ação e tomar decisões; o líder manda.

Foram feitas as seguintes constatações:

a) A liderança autocrática originou muita tensão e frustração;

b) Verificaram-se atos agressivos e danos na sala;

c) Insistência em fazer coisas proibidas;

d) Saídas da sala fora de hora;

e) Alunos fingindo não ouvir o líder;

f) Alguns caíram num conformismo apático, com total submissão ao líder;

g) O grupo não ria, não brincava, não conversava e o movimento e a iniciativa estavam

ausentes;

h) Seus membros pareciam gostar das tarefas, mas se percebia não estarem satisfeitos com a

situação;

i) A presença do líder era indispensável para que o trabalho se desenvolvesse;

j) Quando o líder saía, tudo parava, e o grupo dava expansão a todos os sentimentos

reprimidos;

k) Houve casos de agressão entre membros do grupo, na ausência do líder.

5.7.3 – Comportamento diante da liderança democrática ou participativa

Neste tipo de liderança, o líder extrai idéias e sugestões do grupo através de debates livres,

sendo os subordinados encorajados a participar das decisões e traçar objetivos comuns; o líder

consulta.

Foram feitas as seguintes constatações:

a) As relações entre os membros do grupo e o líder foram cordiais e amistosas;

b) Líder e subordinados comunicavam-se com franqueza e espontaneidade;

c) O trabalho progrediu em ritmo suave, seguro, sem interrupções na ausência do líder;

d) Desenvolveu-se um sentido de responsabilidade entre todos; e

e) Tornou-se evidente a integração do grupo.

5.7.4 – Comportamento diante da liderança delegativa ou liberal

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Neste tipo de liderança, o líder é quase exclusivamente um centro de informações,

manifestando-se quando solicitado, e os subordinados dispõem da mais ampla liberdade de

movimentos, decidindo normas e objetivos. o líder sugere.

Foram feitas as seguintes constatações:

a) O trabalho progrediu ao acaso, repleto de altos e baixos;

b) Embora a atividade fosse aparentemente intensa, a produção jamais chegou a ser

satisfatória;

c) Perdeu-se tempo considerável em discussões e querelas causadas sempre por motivos

pessoais, sem qualquer ligação com o grupo;

d) Desenvolveu-se o individualismo agressivo; e

e) Embora os líderes despertassem a simpatia da maior parte dos membros do grupo, nenhum

sentimento maior de respeito por sua autoridade surgiu.

5.7.5 – Repercussões da experiência e Iowa

No mundo empresarial, a experiência de Iowa foi recebida como demonstração de

superioridade dos processos democráticos de Liderança, os quais foram adotados pela maioria

dos administradores.

Até o sistema disciplinar das Forças Armadas Norte-americanas foi influenciado pelos

processos democráticos de liderança. O autoritarismo transformou-se em tabu, enquanto o estilo

delegativo confundia-se com negligência e irresponsabilidade.

A experiência teve o mérito de despertar, nos homens de empresa, a atenção para a

complexidade e a delicadeza dos problemas de como conduzir as pessoas.

Toda problemática da Liderança está em quando empregar qual processo com quem.

5.8 – ATRIBUTOS E CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DO LÍDER

5.8.1 - Introdução

Certos traços de personalidade encontram-se acentuados nos líderes militares, porém, não

existem fórmulas que indiquem quais os mais necessários ou como são utilizados no exercício da

liderança.

Os atributos de um líder não devem ser considerados isoladamente, e sim, em conjunto (6:5).

A liderança militar comporta uma variada gama de fatores que compõem o perfil do líder;

o domínio de alguns deles não assegura êxito, assim como a inexistência de outros não indica falta

de condições para ser líder.

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5.8.2 – Principais atributos de um líder

a) Atributos de Higidez

Higidez é o estado de saúde do indivíduo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),

saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social. Nesse estado, o homem se encontra na

plenitude de suas potencialidades somáticas.

É imperativo criar condições físicas e mentais favoráveis ao bem-estar do pessoal. Os homens

não são máquinas. O tempo deve ser utilizado considerando suas necessidades de: trabalho, lazer e

descanso, tudo dentro das circunstâncias e objetivando o cumprimento da missão (2:46).

O líder deve estar sempre preocupado em renovar suas próprias energias, evitando entrar em

estado de fadiga física ou mental, tendo igual preocupação em relação ao seu pessoal (2:46).

b) Atributos de Caráter

Constituem um conjunto de valores éticos que apresentam como componente comum a

verdade.

I) Caráter: é a soma total dos traços de personalidade que dão consistência ao

comportamento e tem por base a ética, a integridade, a honestidade, o respeito e a confiança, sendo

fator preponderante nas decisões e no modo de agir de qual- quer pessoa; e

II) Coerência/Integridade: capacidade de agir de acordo com as próprias ideias e pontos de

vista, em qualquer situação; significa firmeza, franqueza, sinceridade e honestidade para si mesmo e

em relação a superiores, pares e subordinados.

c) Atributos de Cavalheirismo

É uma das mais cultuadas tradições da Marinha. Compõem o cavalheirismo:

I) Bondade: demonstração de preocupação com o bem estar pessoal e profissional dos

liderados;

II) Comportamento social (postura): correção de atitudes e cortesia em todos os círculos

sociais que frequenta; cumprimento dos deveres de cidadão; procedimento exemplar na vida

particular, educação civil, cavalheirismo, civilidade e boas maneiras;

III) Compostura (autocontrole, equilíbrio emocional): manifestação coerente de reações

emocionais apropriadas, sobretudo em situações difíceis ou críticas;

IV) Consideração individual: é desejável que se relacione com cada pessoa individualmente;

V) Discrição: capacidade de se manifestar comedidamente em atitudes, maneiras e

linguagem. Saber relatar e comentar fatos ou situações, ou mesmo ficar calado, levando em conta os

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interesses do serviço e da convivência social;

VI) Espírito de cooperação: capacidade de auxiliar eficiente e desinteressada- mente, de

esforçar-se em benefício das necessidades e prioridades da organização a que pertence, sem ater-se

aos problemas peculiares e limitados de sua função;

VII) Expressão escrita: capacidade de apresentar, por escrito, idéias, pensamentos, fatos e

situações com correção, clareza, precisão, objetividade, concisão e estilo apurado;

VIII) Expressão oral: capacidade de apresentar, oralmente, ideias, pensamentos, fatos e

situações com correção, clareza, precisão, objetividade e propriedade de linguagem;

IX) Ligação (relação): quanto mais fortes a relação e a ligação entre as pessoas, maior será a

probabilidade de o subordinado querer ajudar o Líder. Deve-se utilizar a emoção como fator de

estímulo à ação;

X) Respeito: é um atributo do relacionamento superior-subordinado que deve co- existir nos

dois sentidos desta relação, tanto do mais antigo para com o mais moderno como vice-versa.

Implica em observar as normas da moralidade e da urbanidade; e

XI) Tato: faculdade de tratar e resolver habilmente questões com outrem, de ser oportuno

nas palavras, nos gestos, nas ordens, nas soluções, nos elogios e nas críticas.

d) Atributos Essenciais

São atributos que, vindo do íntimo, referem-se à essência de cada um:

I) Autoconfiança: fé em si mesmo e na própria capacidade; demonstração de segurança e

convicção de ser bem sucedido diante de dificuldades. É demonstrada pela aparência, pelo olhar,

pela voz, pelo entusiasmo no modo de falar e de agir;

II) Confiança: capacidade de inspirar a crença de ser capaz de executar com êxito a missão

que lhe foi atribuída, de agir conforme com o que fala, de ser coe- rente, responsável e justo;

III) Motivação: força interna que sustenta todas as ações humanas; e

IV) Persistência/tenacidade: capacidade para executar uma tarefa vencendo as dificuldades

encontradas até concluí-la; é a perseverança para alcançar um objetivo, apesar de obstáculos

aparentemente insuperáveis.

e) Atributos do Julgamento

São demonstrados pela capacidade de analisar os problemas ou situações, pesar os fatores e

chegar a uma decisão judiciosa.

I) Capacidade de decisão: capacidade de tomar posição diante de várias opções; é a

habilidade para tomar medidas seguras e corretas no momento adequado; a percepção e a

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sensibilidade são elementos críticos para a tomada de decisões;

II) Flexibilidade: capacidade de adaptação, de decidir, agir ou reagir corretamente, de modo

diferente em situações diferentes; e

III) Imparcialidade (senso de justiça): capacidade de julgar, baseando-se em da- dos

objetivos, sem se envolver, de acordo com o mérito e o desempenho de cada um, sem se deixar

influenciar pelas características pessoais e relacionamentos.

f) Atributos de Liderança

São valores que apresentam como componente comum a influenciação:

I) Apresentação pessoal: aprumo militar, conjugado com o apuro dos trajes civis e militares e

os cuidados com a aparência física requeridos ao militar;

II) Competência: proficiência em habilidades tangíveis, como técnicas funcionais e os

conhecimentos específicos; e habilidades intangíveis, como inter- pessoais, de comunicação, de

trabalho em equipe e administrativas; o militar com reconhecida capacidade profissional em seu

ambiente de trabalho, torna-se referência para seus superiores, pares ou subalternos e desponta

como líder;

III) Conhecimento profissional: conhecimento teórico e prático de sua profissão e

especialidade; domínio de campos de conhecimento correlatos e afins com sua profissão.

Habilidade no emprego de seus conhecimentos em prol do serviço;

IV) Coragem: a coragem apresenta-se sob duas formas: coragem física – superação do medo

ao dano físico no cumprimento do dever – e coragem moral – disposição para defender crenças

e desafiar os outros, baseado em valores e princípios morais, admitir erros e mudar o próprio

comportamento quando preciso, mesmo que esse ato contrarie os próprios interesses;

V) Dedicação: realizar as atividades com empenho, esforçar-se por concluí-las

corretamente, dentro dos prazos estabelecidos;

VI) Desprendimento (desinteresse, abnegação): é o esquecimento voluntário do que há de

egoístico nos desejos e tendências naturais do homem, em proveito de uma pessoa, causa ou ideia;

VII)Disciplina consciente: capacidade de se conduzir dentro das normas e regu- lamentos,

mesmo quando não estiver sendo observado ou quando suas ideias e concepções pessoais forem

contrárias; possuir auto-liderança;

VIII) Entusiasmo: executar as tarefas com ânimo elevado, vibração e vigor; mostrar-se feliz e

orgulhoso do cargo que exerce;

IX) Exemplo: o exemplo aos subordinados se materializa pelo comportamento do líder, pleno

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de valores inerentes à ética militar, aceitos e respeitados pelo grupo; esse comportamento deve ser

firme, permanente e coerente; o líder jamais deve dizer: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu

faço”;

X) Iniciativa: capacidade de agir face a situações inesperadas, sem depender de ordem ou

decisão superior;

XI) Persuasão: capacidade de utilizar argumentos convincentes, para influenciar ações e

opiniões dos outros; e

XII) Responsabilidade moral (senso de responsabilidade): capacidade de cumprir suas

atribuições e as que sejam requeridas pela administração e de assumir e enfrentar as consequências

de seus atos e omissões, de suas atitudes e decisões.

5.8.3 – Procedimentos para se tornar um líder

Em resumo, pode-se dizer que, para se aperfeiçoar como líder, todos devem buscar se tornar

ponto de referência, adotando os seguintes procedimentos:

a) Ser sempre sincero com seus superiores, pares e subordinados;

b) Obedecer e assegurar-se que as normas disciplinares são obedecidas;

c) Estimular em seus subordinados o sentimento de sempre dizer a verdade;

d) Ser justo e criterioso na aplicação de recompensas, elogios e punições;

e) Desenvolver o gosto por atividades esportivas e intelectuais;

f) Respeitar a dignidade humana dos seus subordinados, evitando o uso de expressões

depreciativas, preconceituosas ou grosseiras;

g) Desenvolver a coesão e a disciplina; e

h) Ser criativo.

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OSTENSIVO EMN-008ANEXO A

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