Libras - nova revisão

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Livro que trata da língua de sinais brasileira

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Apresentação: A Capacitação Multiplicadores – LIBRAS foi elaborada com a finalidade de apresentar ao servidor capaz de se comunicar em Língua de Sinais a modalidade de Metodologia de Ensino da Língua Brasileira de Sinais. Temos o objetivo de capacitar servidores em Libras no contexto do seu trabalho, de modo a facilitar o ensino-aprendizagem dentro de um processo contínuo numa perspectiva inclusiva. Sendo que a capacitação deverá ser realizada em etapas; sendo esta a primeira. Antes a Língua de Sinais era usada pelas Comunidades Surdas apenas, hoje Familiares, Educadores, Linguistas, Profissionais Liberais, Entidades Religiosas, Estudantes, enfim, o campo de interesse aumentou bastante. Vocês já conhecem o 'Mundo dos Surdos', agora aproveite para tirar os sapatos, sentar conosco e usufruir de ótimas conversas para descobrirmos mais e mais este Mundo Maravilhoso. Sejam bem vindos! Critérios do curso: FREQUÊNCIA: Metade do curso é presencial. É primordial a presença de todos durante o curso. O excesso de faltas resulta em reprovação. AVALIAÇÃO: • Visitas às comunidades surdas; • Produção de material em Libras; • Avaliação de aprendizagem virtual; • Pontualidade. PRINCÍPIOS GERAIS PARA O ALUNO:

Evite falar durante as aulas, tente utilizar mais o canal visual;

Use a expressão corporal e facial para se expressar sem se envergonhar.

Lembrem-se os surdos usam esses dois recursos naturalmente;

Não tenha medo de errar - pense na mensagem que quer transmitir e não nas palavras.

Sempre fixe o olhar na face do emissor da mensagem.

Atente-se para tudo que está acontecendo durante a aula. Tudo é aprendizagem.

Comunique-se com seus colegas, troque opiniões, formem grupo de estudos.

Envolva-se com as comunidades surdas.

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Introdução Na década de 60 começaram estudos profundos sobre a Língua de Sinais (Stokoe, 1960), tanto a nível de sua estruturação interna como de sua gramática, provando que ela tinha valor lingüístico semelhante às línguas orais e que cumpria as mesmas funções, com possibilidades de expressão em qualquer nível de abstração. Realizaram estudos comparados entre filhos Surdos de pais Surdos (FSPS) e filhos Surdos de pais ouvintes (FSPO), concluindo. FSPS: tinham desenvolvimento escolar melhor que seus colegas FSPO, sem detrimento do desenvolvimento da fala e da leitura oro-facial. Stevenson (1964) e Meadow (1966) concluíram que os FSPS eram superiores aos FSPO em realização acadêmica, matemática, leitura e escrita, vocabulário, sem diferenças na fala e na leitura oro-facial. Como resultado destas pesquisas concluiu-se que os Sinais não prejudicavam o desenvolvimento das crianças Surdas, mas, ao contrário, ajudava-os no seu desenvolvimento escolar sem prejuízo para as habilidades orais. Na Comunicação Total normalmente os sinais são usados na ordem da língua oral sem respeitar as características próprias da Língua de Sinais – S.V.O./S.O.V. É praticamente uma Comunicação Bimodal. Quando é pedido à criança Surda que se comporte linguisticamente de forma semelhante ao outro, sem considerar a sua forma particular de comunicação, dominada pelo outro, ela não é supostamente distinta do outro, mas deve se comportar e construir a sua identidade pelo modelo do outro que não a aceita na sua forma particular de comunicação, e ela não têm como formar uma auto-identificação positiva, intersubjetivamente reconhecida. Durante quase 100 anos existiu o então chamado “império oralista”, e dói, em 1971, no Congresso Mundial de Surdos em Paris, que a Língua de Sinais passou a ser novamente valorizada. Nesse congresso foram também discutidos resultados de pesquisas realizadas nos EUA sobre “comunicação total”. No ano de 1975, por ocasião do Congresso seguinte, realizado em Washington, já era evidente a conscientização de que um século de oralismo dominante não serviu como solução para a educação de Surdos. A constatação de que os Surdos eram sub-educados com o enfoque oralista puro e de que a aquisição da língua oral deixava muito a desejar, além da realidade inquestionável de que a comunicação gestual nunca deixou de existir entre os Surdos, fez com que uma nova época se iniciasse dentro do processo educativo dos Surdos. Os trabalhos de Danielle Bouvet, em Paris, publicados em 1981, e as pesquisas realizadas na Suécia e Dinamarca, na mesma época, introduzem o enfoque bilíngue na educação do indivíduo Surdo.

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Dados sobre os surdos no mundo:

Estima-se em torno de 250 milhões de Surdos no mundo (Coréia/1999).

Estima-se em torno de 3 milhões de Surdos no Brasil (Viena/1995).

Mais ou menos 80% dos Surdos do mundo não desenvolvem escolaridade

completa (Viena/1995).

Muitos países não têm sua própria Língua de Sinais sistematizada – importam a Língua de Sinais e não tem a sua própria cultura desenvolvida.

A Suécia foi o primeiro país do mundo a reconhecer a Língua de Sinais oficialmente em 1981. Tem mais de 400 intérpretes oficiais do governo. Depois do domínio dos sinais os intérpretes precisam ter mais 2 anos de treinamento.

Diversos países já aceitaram legalmente a Língua de Sinais.

A ONU e UNESCO já redigiram um documento reconhecendo a Língua de Sinais para os Surdos.

Na Suécia: 80% dos Surdos não falam bem e é obrigatório aos professores para Surdos o domínio da Língua de Sinais.

Nos Estados Unidos 86% dos Surdos não falam bem.

A Índia possui 4 milhões de Surdos e 50 escolas. Mitos sobre as pessoas com deficiência:

Suzana Baker

Necessitam ser dependentes dos outros;

São mal – ajustados, zangados e infelizes;

São “marcados” e menos inteligentes (Surdo estudando grego e hebraico);

Drenam a economia e são improdutivos;

Não tem os mesmos relacionamentos das pessoas ditas “normais”.

Merecem compaixão e piedade;

Seu lugar é em instituições especializadas;

Estão sendo “punidos” por algum pecado.

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O que é Libras? Libras ou Língua Brasileira de Sinais é a Língua Natural e usada pela maioria dos Surdos do Brasil, cujo aprendizado requer estudo diário, tempo e contato constante com os seus usuários. Esse idioma é uma Língua visual-gestual, diferente de todos os idiomas que temos conhecimento até agora e que são auditivos e orais, como: o português, inglês, francês, japonês, etc. Esta peculiaridade tem suas implicações:

A atenção auditiva que se presta habitualmente para captar a pronuncia será agora substituída pela atenção visual;

A memória auditiva será substituída pela memória visual;

Todos os problemas de pronúncia, entonação e acentuação serão aspectos de expressão facial, corporal e agilidade manual;

Fatores Visuais: Atenção Visual: Este é um fator fundamental na Língua de Sinais: Enfoque: mãos, braços, expressão facial, olhos, cabeça. Discriminação Visual: - Discriminação auditiva; - Sinais aparentemente idênticos diferenciando apenas em dois aspectos. Exemplo: modificação facial e modificação no movimento. Memória Visual: - Fundamental para a recordação de séries de vocabulários e as orações em Língua Brasileira de Sinais. Fatores Gestuais: Expressão Corporal: - Desinibição, descobrimento do corpo, consciência do espaço e segurança no processo de aprendizagem. Expressão Facial: Elemento fundamental na estrutura da Língua Brasileira de Sinais. Motricidade Digital e Manual: - Habilidade que precisa de muita dedicação. Os gestos e o alfabeto precisam ser praticados constantemente. Percepção e Uso do Espaço: O aluno precisa ter uma grande percepção para que faça o sinal no espaço correto. Exemplo: CÉU, SOL, TRABALHAR, LARANJA, etc.

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Bilinguismo

As Línguas de Sinais, que eram conhecidas apenas pelas comunidades surdas, atualmente são alvos de considerável interesse por parte de educadores e lingüistas de todo mundo. Dentro do histórico notamos o questionamento do uso ou não da Língua de Sinais, no entanto onde houver dois ou mais surdos ela estará sem dúvida, presente entre eles. O QUE É BILINGÜISMO?

Não é um método, é enfoque educacional;

Posso usar qualquer método dentro da educação do Surdo, desde que respeite o enfoque do Bilingüismo;

É “multicultural”;

Não fala de reabilitação (como um deficiente), mas em educação (como um diferente);

Procura trabalhar os sinais, a leitura, a escrita, Sign Writing e a fala (os dois últimos opcionais)

GRANDES OBJETIVOS DO BILINGÜISMO:

Facilitar a aquisição de conceitos pelo aluno Surdo;

Facilitar a assimilação de conteúdo do currículo básico;

Proporcionar um real e efetivo meio de informações a estes indivíduos;

Aproveitar a respeitar a língua natural dos Surdos;

Garantir aos Surdos o desenvolvimento normal da linguagem e da inteligência. Primeiro garantir linguagem, conhecimento e desenvolvimento;

Formar uma personalidade saudável, com desenvolvimento emocional-social normal; desenvolver a personalidade sadia de crianças Surdas. Normalmente as crianças ouvintes vêem para escolas com linguagem interior e as Surdas não;

Construção de uma teoria sobre o mundo – um mundo apropriado, com aceitação. As crianças ouvintes fazem algumas perguntas e isso constrói o seu mundo, e isso deve ser permitido as crianças Surdas;

Permitir que o Surdo soubesse que faz parte de um grupo humano com cultura própria e que é solidário com eles; pois eles não podem ser como os ouvintes (ainda que tentem) por que são Surdos. Não podem projetar-se nos pais (modelos) ouvintes porque são Surdos e lhes faltará modelo para o futuro. A formação de um entorna lingüístico de sinais – L.S. (Língua de Sinais) é elemento de poder e os Surdos podem começar a sair da situação de SUBALTERNOS dos ouvintes;

Busca de uma educação que se preocupe com indivíduos e não somente com sistemas que precisam ser aprovados.

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Caracterizando a Surdez: O audiômetro é um instrumento utilizado para medir a sensibilidade auditiva de um indivíduo. O nível de intensidade sonora é medido em decibel (dB). Por meio desse instrumento faz-se possível a realização de alguns testes, obtendo-se uma classificação da surdez quanto ao grau de comprometimento (grau e/ou intensidade da perda auditiva), a qual está classificada em níveis, de acordo com a sensibilidade auditiva do indivíduo: • Audição normal – de 0 a 15 dB; • Surdez leve – de 16 a 40 dB. Nesse caso a pessoa pode apresentar dificuldade para ouvir o som do tic-tac do relógio, ou mesmo uma conversação silenciosa (cochicho); • Surdez moderada – de 41 a 55 dB. Com esse grau de perda auditiva a pessoa pode apresentar alguma dificuldade para ouvir uma voz fraca ou canto de um pássaro; • Surdez acentuada – de 56 a 70 dB. Com esse grau de perda auditiva a pessoa poderá ter alguma dificuldade para ouvir uma conversação normal; • Surdez severa – de 71 a 90 dB. Nesse caso a pessoa poderá ter dificuldades para ouvir o telefone tocando ou ruídos das máquinas de escrever num escritório; • Surdez profunda – acima de 91 dB. Nesse caso a pessoa poderá ter dificuldade para ouvir o ruído de caminhão, de discoteca, de uma máquina de serrar madeira ou, ainda, o ruído de um avião decolando. A surdez pode ser ainda, classificada como unilateral, quando se apresenta em apenas um ouvido e bilateral, quando acomete ambos ouvidos.

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Graus da Surdez e Desenvolvimento Sendo a surdez uma privação sensorial que interfere diretamente na comunicação, alterando a qualidade da relação que o indivíduo estabelece com o meio, ela pode ter sérias implicações para o desenvolvimento de uma criança, conforme o grau da perda auditiva que as mesmas apresentem:

1. Surdez leve: a criança é capaz de perceber os sons da fala; adquire e desenvolve a linguagem oral espontaneamente; o problema geralmente é tardiamente descoberto; dificilmente se coloca o aparelho de amplificação porque a audição é muito próxima do normal;

2. Surdez moderada: a criança pode demorar um pouco para desenvolver a fala e linguagem; apresenta alterações articulatórias (trocas na fala) por não perceber todos os sons com clareza; tem dificuldade em perceber a fala em ambientes ruidosos, são crianças desatentas e com dificuldade no aprendizado da leitura e escrita;

3. Surdez severa: a criança terá dificuldades em adquirir a fala e linguagem espontaneamente; poderá adquirir vocabulário do contexto familiar; existe a necessidade do uso de aparelho de amplificação e acompanhamento especializado;

4. Surdez profunda: a criança dificilmente desenvolverá a linguagem oral espontaneamente; só responde auditivamente a sons muito intensos como: bombas, trovão, motor de carro e avião; freqüentemente utiliza a leitura orofacial; necessita fazer uso de aparelho de amplificação e/ou implante coclear, bem como de acompanhamento especializado.

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Identidades Surdas Gládis Perlin

1. Identidade Surda Política: são as pessoas que têm identidade surda plena, geralmente são filhos de pais surdos, têm consciência surda, são politizados, têm consciência da diferença, e têm a língua de sinais como a língua nativa. Usam recursos e comunicações visuais.

2. Identidade Surda Híbrida: são surdos que nasceram ouvintes e posteriormente se tornam surdos, conhecem a estrutura do português falado. Gládis narra a experiência própria: “Isso não é tão fácil de ser entendido, surge a implicação entre ser surdo, depender de sinais, e o pensar em português, coisas bem diferentes que sempre estarão em choque. Assim, você sente que perdeu aquela parte de todos os ouvintes e você tem pelo meio a parte surda. Você não é um, você é duas metades.

3. Identidade Surda de Transição: eu especificaria nesta categoria os surdos que são oralizados, foram mantidos numa comunicação auditiva, são filhos de pais ouvintes, e tardiamente descobrem a comunidade surda, e nessa transição, os surdos passam pela desouvintização, isto é, passam do mundo “auditivo” para o mundo visual.

4. Identidade Surda Incompleta: são surdos que são dominados pela ideologia ouvintista, ele não consegue quebrar o poder dos ouvintes que fazem de tudo para medicalizar o surdo, negam a identidade surda como uma diferença, são surdos estereotipados, acham os ouvintes como superiores a eles.

5. Identidade Surda Flutuante: os surdos têm consciência ou não da própria surdez, vítima da ideologia ouvintista. São surdos conformados e acomodados a situações impostas pelo ouvintismo, não tem militância pela causa surda, são surdos que oscilam de uma comunidade a outra, não conseguem viver em harmonia, em nenhuma comunidade, por falta de comunicação com ouvintes e pela falta de Língua de Sinais com surdos.

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Intérprete da Libras Intérprete – Pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo) o que foi dito. Língua fonte – É a língua que o intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a tradução e interpretação para a outra língua (a língua alvo). Língua alvo – É a língua na qual será feita a tradução ou interpretação. Intérprete de língua de sinais – Pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outro idioma, ou deste outro idioma para uma determina língua de sinais. O que envolve o ato de interpretar? Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. O intérprete de libras é o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua brasileira de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferências internacionais). Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa observando os seguintes preceitos éticos: a) Confiabilidade (sigilo profissional); b) Imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) Discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) Distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) Fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito).

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Mitos sobre os intérpretes de Libras

1. Professores de surdos são intérpretes de língua de sinais? Não é verdade que professores de surdos sejam necessariamente intérpretes de língua de sinais. Na verdade, os professores são professores e os intérpretes são intérpretes. Cada profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e lingüístico. O intérprete, por outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interferir no processo comunicativo. 2. As pessoas ouvintes que dominam a língua de sinais são intérpretes? Não é verdade que dominar a língua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer a profissão de intérprete de língua de sinais. O intérprete de língua de sinais é um profissional que deve ter qualificação específica para atuar como intérprete. Muitas pessoas que dominam a língua de sinais não querem e nem almejam atuar como intérpretes de língua de sinais. Também, há muitas pessoas que são fluentes na língua de sinais, mas não têm habilidade para serem intérpretes. 3. Os filhos de pais surdos são intérpretes de língua de sinais? Não é verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir que o mesmo seja considerado intérprete de língua de sinais. Normalmente os filhos de pais surdos intermedeiam as relações entre os seus pais e as outras pessoas, mas desconhecem técnicas, estratégias e processos de tradução e interpretação, pois não possuem qualificação específica para isso. Os filhos fazem isso por serem filhos e não por serem intérpretes de língua de sinais. Alguns filhos de pais surdos se dedicam a profissão de intérprete e possuem a vantagem de ser nativos em ambas as línguas. Isso, no entanto, não garante que sejam bons profissionais intérpretes. O que garante a alguém ser um bom profissional intérprete é, além do domínio das duas línguas envolvidas nas interações, o profissionalismo, ou seja, busca de qualificação permanente e observância do código de ética. Os filhos de pais surdos que atuam como intérprete tem a possibilidade de discutir sobre a sua atuação enquanto profissional intérprete na associação internacional de filhos de pais surdos (www.codainternational.org).

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Som e Silêncio

A música é a arte de combinar sons e silêncio seguindo uma pré-organização ao longo

do tempo. Esses sons nos encantam, nos irritam e às vezes até nos protegem. Nós

vivemos em um mundo cercado de sons, sons da Natureza, do cotidiano, do mundo,

das pessoas. Ouvimos sons ao nosso redor quase todo o tempo.

Mas o que é o som?

Som é uma energia que se propaga em ondas. Percebemos os sons porque somos

capazes de captar o movimento das ondas sonoras. Todo nosso organismo é capaz de

sentir o movimento destas ondas, porém o ouvido é o órgão especializado na captação

dos sons e transmissão para o cérebro que é capaz de identificar os sinais enviados e

decodificar o som.

Um objeto produz o som quando vibra a matéria. Quando vibra na atmosfera, move as

partículas do ar próximas que se deslocam ao redor delas, carregando a vibração. Essa

vibração sofre variações em formas de ondas de flutuação. Ouvimos sons diferentes

por causa das variações de ondas sonoras.

Podemos destacar duas variações que formam as características principais de um som:

Frequência está relacionada com o número de vibrações da onda sonora em

determinado intervalo de tempo. Quanto maior a freqüência, mais agudo ou

alto será o som e quanto menor a frequência, mais grave ou baixo será o som.

Intensidade é a característica que nos permite distinguir um som fraco de um

som forte. A intensidade do som é uma característica que está relacionada com

a amplitude das ondas sonoras. Quanto maior for a amplitude, mais forte será

o som e quanto menor for a amplitude, mais fraco será o som.

Quando ouvimos um som de uma música em um aparelho de som, por exemplo,

podemos dizer que o auto-falante esta convertendo os sinais elétricos em ondas

sonoras, ou seja, vibrações na pressão do ar. Quando essas ondas mecânicas chegam

às orelhas, podemos dizer que estamos ouvindo.

Para ouvir precisamos de três coisas básicas:

Direcionar essas ondas sonoras para dentro do aparelho auditivo.

Sentir as flutuações na pressão do ar.

Traduzir essas flutuações para um sinal elétrico que seu cérebro possa

decodificar.

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As orelhas é a parte do sistema acústico que detecta essas ondas mecânicas no

ambiente e as convertem em sinais neurais. Esses sinais são conduzidos ao sistema

nervoso central que ira interpretar os sons e os seus significados: se é uma musica,

uma palavra falada ou um animal.

Mas o que é silêncio?

Você poderia me dizer que silêncio é a ausência total ou relativa de sons. Porém, o

silêncio pode se referir a qualquer ausência de comunicação, ainda que por meios

diferentes da fala. Nas conversas informais, breves pausa no som não quer dizer pausa

na comunicação. Silêncio na fala pode significar hesitação, autocorreção ou diminuição

no ritmo ou velocidade para clarear ou processar as ideias. Os surdos vivenciam uma

cultura completamente silenciosa.

Os surdos vivem no silêncio?

Silêncio para os surdos é o mesmo que silêncio para os ouvintes?

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natomia do Aparelho Auditivo

A audição é um dos sentidos mais apurados para perceber o mundo que nos cerca. A

percepção do som requer do nosso organismo um mecanismo extremamente apurado

que funciona como uma orquestra afinada.

Vamos conhecer um pouco mais...

“Na anatomia humana, o órgão responsável pela audição é a orelha, antigamente

denominada de ouvido. No Brasil, a Comissão de Terminologia da Sociedade Brasileira

de Anatomia, alterou vários termos utilizados para partes do corpo humano, adotando

o termo orelha para todo o aparelho auditivo. Costumava-se adotar o termo ORELHA

(do latim: aurícula) para parte cartilaginosa externa do aparelho auditivo, ligada

diretamente ao canal do ouvido externo.” Ruy Castro

Embora na linguagem médica, o termo correto seja ORELHA, na linguagem comum,

ainda não existe um consenso sobre a utilização dos termos, mantendo o uso desse

termo preferencialmente para parte EXTERNA e OUVIDO para parte interna ou para

identificar o órgão responsável pela audição. Nos ditos e expressões populares esta

distinção é nítida, como podemos observar em: puxar a orelha, com as orelhas

ardendo, de orelha em pé, com a pulga atrás da orelha, espírito santo de orelha, entra

por um ouvido e sai por outro, as paredes têm ouvido, ouvido de tuberculoso, dar

ouvidos, ter bom ouvido, dor de ouvido e outras similares.

Adotaremos para fins didáticos na perspectiva anatômica o uso do termo ORELHA. A

maior parte da orelha fica no osso temporal, que se localiza na caixa craniana. Além da

função de ouvir, o ouvido também é responsável pelo equilíbrio.

A orelha esta dividida em três partes.

Orelha Externa

A orelha externa, formada pelo pavilhão e pelo conduto auditivo, o primeiro tem como

principal função captar as ondas sonoras e o segundo de, como o próprio nome

sugere, conduzir essas ondas a orelha media. O pavilhão auditivo ajuda a determinar a

direção do som. Se o som vem de cima ou de trás, vai ricochetear no pavilhão auditivo

de uma forma diferente do som vindo de baixo ou de frente, alterando a onda sonora.

E ajudando o seu cérebro a reconhecer padrões distintos característicos que determina

a localização do som. O conduto auditivo externo estabelece a comunicação entre a

orelha externa e a orelha média, tem cerca de três centímetros de comprimento e

está escavado em nosso osso temporal. É revestido internamente por pelos e

glândulas, que fabricam uma substância gordurosa e amarelada, denominada cerume

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ou cera. Tanto os pelos como o cerume retêm poeira e micróbios que normalmente

existem no ar e eventualmente entram nos ouvidos.

Você Sabia ?

Alguns mamíferos, como os cães, tem orelhas grandes e móveis que podem ser

direcionadas para a origem do som. O ser humano não possui essa capacidade, pois

suas orelhas são achatadas contra a cabeça e não possuem músculos que permitam

essa mobilidade. Para incrementar a capacidade de captação das orelhas,

instintivamente as pessoas colocam as Mãos em concha próximas a elas.

Você Sabia ?

O uso do cotonete faz mal a saúde!

Embora prazeroso (comparado por alguns especialistas a sensações comparáveis com

a dos orgasmos) o uso de cotonete faz mal a saúde. A sensação agradável acontece,

pois essa é uma região ricamente inervada. Existem aí muitas terminações nervosas

que no contato com qualquer objeto dão origem a estímulos que, no cérebro, se

traduzem nas tais sensações. Primeiro porque o ouvido já tem um mecanismo de

auto-limpeza que empurra as células cutâneas mortas para fora. Segundo, porque o

uso de cotonete pode causar um processo inflamatório que atinge a pele do canal

auditivo externo, além de empurrar a cera para dentro, formando um tampão de

cera. Esse tampão pode provocar uma sensação de eco ou até a perda temporária da

audição. E terceiro, porque, diferentemente do que muitos pensam, o cerume não é

sujeira, funcionando na verdade como proteção. Está certo que não é nem um pouco

agradável ficar com o ouvido sujo. Por isso, os especialistas orientam que o ideal é

limpá-lo após o banho com a ponta da toalha, só até onde o dedo alcançar - e esse

dedo NÃO deve ser o mindinho!

Orelha Média

A orelha média começa na membrana timpânica e consiste, em sua totalidade, de um

espaço aéreo – a cavidade timpânica – no osso temporal. Dentro dela estão três

ossículos articulados entre si, cujos nomes descrevem sua forma: martelo, bigorna e

estribo. Esses ossículos encontram-se suspensos na orelha média, através de

ligamentos. Assim que as ondas sonoras entram no canal auditivo, elas vibram a

membrana timpânica, comumente chamada de tímpano. O tímpano é um pedaço de

pele fina, em forma de cone, com aproximadamente 10 milímetros de largura. Fica

entre o canal auditivo e o ouvido médio (trompa de Eustáquio). Como o ar atmosférico

entra no nosso corpo tanto pelo ouvido externo como pela boca, a pressão do ar nos

dois lados do tímpano continua igual. Esse equilíbrio de pressão permite que o

tímpano se mova livremente para frente e para trás.

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Você Sabia ?

Essa pequena camada de pele funciona como o diafragma em um microfone. O

tímpano pode servir para proteger o ouvido médio interno de exposições prolongadas

a ruídos altos e graves. Quando o cérebro recebe um sinal que indica esse tipo de

ruído, ocorre em reflexo no tímpano. O músculo ao seu redor se contrai de repente.

Isso puxa o tímpano e os ossos conectados a ele em direções diferentes, deixando a

membrana mais rígida. Quando isso acontece, o ouvido capta o som de forma

abafada. A audição fica mais concentrada, mascarando ruídos de fundo altos e graves

para que você possa concentra-se em sons mais agudos. Exemplo uma conversa em

um show de rock.

Orelha Interna

A orelha interna, chamada labirinto, é formada por escavações no osso temporal,

revestidas por membrana e preenchidas por líquido. Limita-se com a orelha média

pelas janelas oval e a redonda. O labirinto apresenta uma parte anterior, a cóclea ou

caracol - relacionada com a audição, e uma parte posterior - relacionada com o

equilíbrio e constituída pelo vestíbulo e pelos canais semicirculares.

Você Sabia ?

Labirintite

A pessoa consegue manter o equilíbrio porque seu cérebro recebe um conjunto de

informações que processa para definir qual é a posição dela no espaço. Quais são

essas informações? São informações táteis, essas percebidas pela pele e que chegam

através dos músculos e articulações, as óticas (por isso quando fechamos os olhos

podemos perder a noção do equilíbrio) e as auditivas que vêm através dos sons.

Para entender melhor o que é labirintite, uma doença que pode comprometer o

equilíbrio, é preciso conhecer um pouco a anatomia do ouvido interno, atrás da

membrana do tímpano. Ele é constituído pela cóclea, uma estrutura enovelada

semelhante a um caracol que contém as terminações do nervo auditivo, e por três

canais semicirculares. Logo abaixo deles está o vestíbulo. Todas as células que

revestem essas estruturas têm a característica de receber as ondas sonoras que fazem

vibrar o tímpano e, identificando essas vibrações, transformá-las em estímulo

nervoso, em sinal elétrico que através do nervo auditivo alcança o cérebro onde são

decodificados os impulsos recebidos. Quando essas estruturas sofrem processos

inflamatórios, infecciosos, destruições ou compressões mecânicas podem provocar os

sintomas próprios da labirintite.

Quando esses mecanismos apresentam falhas, surgem várias deficiências auditivas que podem ter vários graus e culminar na surdez total.

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ausas da Surdez

O dicionário priberam da Língua portuesa define surdez como privação parcial ou total

no sentido de ouvir.

Algumas pessoas nascem surdas e outras ficam surdas com o tempo. Durante toda a

nossa vida estamos expostos a alguns riscos que podem interferir em nossa audição.

Estes riscos podem acontecer antes, durante ou depois do nascimento.

Risco O que significa Causas

Pré-natal A criança adquire a

surdez através da

mãe no período de

gestação.

Desordens genéticas ou hereditárias;

Causas relativas à consangüinidade;

Causas relativas ao fator Rh;

Causas relativas a doenças

infectocontagiosas, como a rubéola;

Sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose,

herpes;

Ingestão de remédios Ototóxicos;

Ingestão de drogas ou alcoolismo materno;

Desnutrição/subnutrição/carências

alimentares;

Pressão alta;

Diabetes;

Exposição à radiação.

Perinatal A criança fica surda

em decorrência de

problemas no parto.

Pré- maturidade

Pós- maturidade

Anóxia,

Fórceps;

Infecção hospitalar.

Pós-natal A pessoa fica surda

em decorrência de

problemas após o seu

nascimento.

Meningite;

Remédios Ototóxicos em excesso ou sem

orientação médica;

Sífilis adquirida;

Sarampo, caxumba;

Exposição contínua a ruídos ou sons muito

altos;

Traumatismos cranianos.

C

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Conforme a causa da surdez, dizemos que o indivíduo nasceu surdo ou que ele é

ensurdecido, ou seja, ficou surdo após o nascimento.

Você Sabia ?

Rubéola

É uma doença congênita, decorrente da infecção da mãe pelo vírus da rubéola

durante as primeiras semanas da gravidez, sendo mais grave quanto mais precoce for

a infecção em relação à idade gestacional. A infecção da mãe pode resultar em

aborto, morte fetal ou anomalias congênitas como diabetes, catarata, glaucoma e

surdez, entre outras.

Além da perda fetal, a infecção congênita pode se manifestar por uma variedade de

sinais e sintomas que vão do aumento do volume do baço e do fígado, icterícia,

manchas rochas na pele, até anomalias congênitas como surdez, catarata, diabetes e

glaucoma, que aparecem em distintos estágios do desenvolvimento da criança. A

surdez é o sintoma mais precoce da SRC.

A mãe infectada transmite o vírus ao feto por meio da placenta.

Como não há um medicamento efetivo, o tratamento é voltado para as más

formações congênitas, de acordo com as deficiências apresentadas. A detecção

precoce facilita os tratamentos clínico, cirúrgico e de reabilitação.

A vacinação é a única maneira de prevenir a doença. O esquema vacinal vigente é de

uma dose da vacina tríplice viral aos 12 meses de idade e uma dose de reforço entre

quatro e seis anos. Caso a mulher chegue à idade fértil sem ter sido previamente

vacinada, deverá receber uma dose da vacina tríplice viral.

Você Sabia ?

Remédios Ototóxicos

São remédios que podem levar à surdez. O uso prolongado e sem receita médica de

certas substâncias faz mal à saúde dos ouvidos. Quase 60 remédios — entre

analgésicos, antibióticos e diuréticos — pode provocar tonteira, zumbido e até surdez.

Segundo especialistas, as substâncias conhecidas como Oto tóxicas causam lesões

graves e, muitas vezes, irreversíveis à cóclea e ao vestíbulo, as partes do ouvido

humano responsáveis pela audição e pelo equilíbrio, respectivamente. O ácido

acetilsalicílico, provavelmente o analgésico mais difundido do mundo, é também um

dos mais famosos remédios Oto tóxicos. No caso dele, porém, o risco de perda

auditiva é reversível e, na maioria das vezes, os indesejáveis efeitos colaterais

costumam sumir após 72 horas de suspensão do produto.

O mesmo já não acontece com os antibióticos da família dos aminoglicosídeos,

utilizados na prevenção e no tratamento de infecções pós-operatórias, que podem

trazer danos irreversíveis.

Muitos bebês prematuros estão sujeitos ao uso de antibióticos para combater

determinadas infecções respiratórias. Nestes casos, nem sempre é possível substituir

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19

um medicamento pelo outro.

Apesar de a ototoxicidade requerer certa predisposição genética, sugiro que os pais

façam exames audiométricos antes, durante e depois do tratamento para avaliar se a

substância provocou alguma lesão ao bebê‖, pondera Sandra Merry, presidente da

Sociedade de Otorrinolaringologia a do Rio de Janeiro (SORL-RJ).

Certos produtos químicos, como solventes, vernizes e lubrificantes, podem ser tão

prejudiciais ao ouvido humano quanto às substâncias Oto tóxicas presentes em alguns

medicamentos. Como o risco é inalatório, otorrinos sugerem que certas atividades

profissionais, como as realizadas nas indústrias metalúrgicas e petroquímicas, sejam

feitas com máscaras.

Você Sabia ?

Índios Urubu Kaapo

Os Ka'apor são lingüisticamente peculiares na Amazônia por terem uma linguagem

padrão de sinais, usada para a comunicação com os surdos, que até a metade dos

anos 80 compunham cerca de 2% da totalidade de sua população. A incidência de

surdez deveu-se evidentemente à bouba neonatal e endêmica, que foi erradicada.

A Língua de Sinais Kaapor Brasileira (em Portugal: Língua Gestual Kaapor Brasileira,

também conhecida por Língua de Sinais Urubú-Kaapor) é a língua de sinais usada por

uma pequena comunidade indígena de surdos, no sul do estado do Maranhão, Brasil.

A tribo Kaapor-Urubú possui uma relação de 1 surdo para 75 ouvintes. Esta alta

percentagem de surdez levou a que tanto surdos como ouvintes usem a língua de

sinais e que a grande maioria das crianças da tribo, cresça bilíngüe.Esta é uma língua

intra-tribal.

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20

ipos de Perdas Auditivas

A surdez, não pode ser vista de forma hegemônica, ela terá sua classificação de acordo

com a área da orelha que apresenta a deficiência. Quando esta relacionada à orelha

interna, cóclea, labirinto ou nervo auditivo (que transmite as informações geradas no

ouvido até o cérebro), chama-se surdez com perda sensorial. Normalmente é de difícil

tratamento e tem sua origem em causas congênitas e hereditárias, ou em razão de

doenças sistêmicas, remédios Oto tóxicos, traumas acústicos e envelhecimento.

Quando se relaciona a dificuldade para que o som chegue do meio externo para a

orelha interna, recebe o nome de surdez com perda condutiva, geralmente tem suas

causas em obstáculos à passagem do som tais como: má formação no pavilhão ou no

conduto auditivo, como ―rolhas de cera, otites (inflamações do ouvido), problemas na

membrana timpânica e micro fraturas nos ossículos. A maior parte dos casos de perdas

condutivas pode ser revertida por tratamentos clínicos ou cirúrgicos.

Alguns casos de surdez podem apresentar características mistas dos dois tipos de

perdas. Ás vezes, uma pessoa poderá em alguns casos apresentar uma surdez

transitória ou súbita.

Você Sabia ?

Algumas pessoas apresentam perdas auditivas transitórias ou súbitas.

As perdas transitórias acontecem quando se esta gripada ou se desce a serra ou,

ainda quando se viaja de avião. As perdas súbitas podem ter causas variadas, elas

quase sempre são unilaterais, mas em raras ocasiões podem atingir os dois ouvidos.

Pressão no ouvido ou estalos são sintomas que podem indicar o aparecimento da

surdez, não só a súbita, como a progressiva, que pode atingir níveis elevados em

poucos dias. A surdez súbita é acompanhada de estalos intensos, podendo haver

vertigem ao mesmo tempo.

São causadoras desse problema:

Lesões na cóclea ou no nervo auditivo.

Formação de coágulos nos vasos que irrigam a cóclea, o que faz com que as

células sensoriais morram por não receber sangue. Problema mais comum em

pessoas com diabetes e hipertensão.

Processos infecciosos como sarampo, rubéola, herpes ou mesmo gripe

comum.

Alergias, como reação a soros, vacinas, picadas de abelha ou comidas.

Tumor no nervo auditivo, causa de 10 % dos casos.

Auto-imunização, quando o mecanismo de defesa do organismo ataca a cóclea

T

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e mata as células como se fosse um corpo estranho.

Excesso de ruído (barulhos acima de 120 decibéis podem provocar falta de

estabilidade no líquido que preenche a cóclea e alimenta as células sensoriais).

Infecção bacteriana no labirinto, que pode desencadear. Hipersensibilidade e

problemas de micro circulação.

Degeneração neurológica (em casos raros, a surdez súbita pode ser o primeiro

sintoma de esclerose múltipla).

Batida na cabeça e fratura do osso temporal.

Fístula Peri linfática, estrutura que liga a caixa do tímpano com a cóclea se

rompe sem causa aparente e provoca perda do líquido que nutre as células

sensoriais. À medida que as células morrem, a audição fica comprometida.

Obstrução por cera ou inflamações (otites).

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raus das perdas auditivas

Nesse mundo cercado de som é comum imaginarmos que a surdez faça a pessoa viver

em um mundo de silêncio. As pessoas variam na sua capacidade de ouvir os sons.

Na surdez essa incapacidade é medidas em graus.

Leve Moderada Grave Severa

Perda de 20 a 40 dB de 41 dB a 70 dB de 71 a 90 dB Acima de 91 dB

Discursos podem

ser de difícil

Audição

especialmente se

estiverem

presentes ruídos de

fundo.

Aparelho ou

prótese auditiva

pode ser

necessário.

Próteses auditivas

são úteis em alguns

casos, mas são

insuficientes em

outros. Alguns

indivíduos com

perda auditiva

severa se

comunicam

principalmente

através de

linguagem gestual,

outros contam com

uso das técnicas de

leitura labial.

Tal como aqueles

com perda auditiva

severa, alguns

indivíduos com

perda auditiva

profunda se

comunicam

principalmente

através de

linguagem gestual,

outros com uso das

técnicas de leitura

labial.

Você Sabia ?

Todos os bebês em seu primeiro contato com a língua apresentam o balbucio oral ou

gestual. Petitto & Marantette (1991) realizaram um estudo sobre o balbucio em bebês

surdos e bebês ouvintes no mesmo período de desenvolvimento (desde o nascimento

até por volta dos 14 meses de idade). Elas verificaram que o balbucio é um fenômeno

que ocorre em todos os bebês, surdos assim como ouvintes, como fruto da

capacidade inata para a linguagem. As autoras constataram que essa capacidade inata

é manifestada não só através de sons, mas também através de sinais. Nos dados

analisados por Petitto & Marantette foram observadas todas as produções orais para

detectar a organização sistemática desse período. Também foram observadas todas

as produções manuais tanto dos bebês surdos como dos bebês ouvintes para verificar

a existência ou não de alguma organização sistemática. Nos bebês surdos foram

detectadas duas formas de balbucio manual: o balbucio silábico e a gesticulação. O

balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das

línguas de sinais. Ao contrário, a gesticulação não apresenta organização interna. Os

G

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dados apresentam um desenvolvimento paralelo do balbucio oral e do balbucio

manual. Os bebês surdos e os bebês ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio

até um determinado estágio e desenvolvem o balbucio da sua modalidade. É por isso

que os estudos afirmavam que as crianças surdas balbuciavam (oralmente) até um

determinado período. As vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim

como as produções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input

favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbuciar. As semelhanças

encontradas na sistematização das duas formas de balbuciar sugerem haver no ser

humano uma capacidade lingüística que sustenta a aquisição da linguagem

independente da modalidade da língua: oral-auditiva ou espaço-visual. FONTE: site do

INES.

Aquisição linguística e Surdez

Algumas pessoas nascem surdas e outras ficam surdas. A relação que elas constroem

com mundo, suas necessidades e potencialidades esta intimamente ligada à vivência

que elas tiveram com a Língua.

Em relação à língua oral da comunidade majoritária ouvinte, podemos classificar a

surdez em:

Pré-linguística: Surdez congênita ou adquirida antes da aquisição da língua oral

Pós-linguística: Surdez adquirida após a aquisição da língua oral.

Medicalização da Surdez

A medicalização da surdez é a visão da comunidade médica que acredita que a surdez

é uma patologia que deve ser tratada ou corrigido por procedimentos médicos. Neste

ponto de vista, o surdo é diminuído a paciente dependente das habilidades médicas

que lhe devolva a audição sentido este tão importante para os ouvintes e minimizado

com força de trabalho.

O surdo é visto com déficit biológico, limitado, decepado. Foi um período em que os

surdos saíram da escola para transitar no campo da medicina.

A ciência avançou muito no campo da medicina. Os surdos que se organizaram política

e socialmente se tornaram objeto de pesquisa, pois como já vimos, para alguns

médicos a surdez é uma anomalia sujeita a cura.

Na concepção médica, surdez é deficiência, falta de eficiência. As escolas são

transformadas em salas de tratamento. As estratégias pedagógicas passam a ser

estratégicas terapêuticas. Os professores surdos sentem-se excluídos por serem

substituídos por professores ouvintes.

Hoje, algumas pessoas com surdez fazem uso de próteses auditivas, da leitura labial e

do implante coclear na tentativa de usar os avanços da medicina para "ouvir" ou

"falar".

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ultura Surda

Estudos atuais propõem uma mudança de concepção da surdez, abandonando o viés

médico e adotando o viés cultural. Olhando para o surdo, não para a surdez.

De acordo com essa concepção, o surdo faz suas próprias escolhas. Podemos observar

os que se identificam ou não com a língua oral, que precisam ou não de próteses, que

usam ou não a leitura labial e que querem ou não o implante coclear.

Podemos observar também pessoas que fazem a opção explícita pelo uso da língua de

modalidade visual-espacial, ou língua de sinais. Essas pessoas baseiam suas percepções

de mundo em sua postura de sujeito visual, com língua e cultura próprias. Elas

motivam a sociedade para a reconstrução do conceito de surdo, a partir dos surdos.

A sociedade relacionou-se com a pessoa surda de várias formas.

Existem registros históricos que mostram diferentes visões em relação aos surdos:

China - eram lançados ao mar para não se reproduzirem.

Grécia - eram tratados como incompetentes.

Itália - eram considerados punição aos pais pela Igreja Católica.

Egito - eram adorados.

Turquia - serviam de bobos da Corte.

Como você pode notar, as visões apresentadas sobre a surdez permeiam o campo

sociocultural e o senso comum. Somente no fim da Idade Média, a deficiência passa a

ser analisada sob a ótica médica e científica, quando se diferenciou surdez de mudez.

Nesse período as crianças das famílias abastadas eram ensinadas por tutores, médicos

ou religiosos, com o objetivo de se comunicarem oralmente ou por escrito.

Os estudos sobre os direitos das pessoas com deficiência não estão dissociados dos fatos históricos. Desde a Antiguidade, a falta de entendimento sobre as diferenças entre os seres humanos fez com que a deficiência fosse alvo de preconceito (MIRANDA, 2008). Em torno dessas pessoas se criavam marcas – estigmas – que as rotulavam, discriminavam, excluíam e, em alguns casos, as condenavam à morte. Expressões como anormais, retardados, dementes, aleijados e outras evidenciam a defi ciência ou a doença em detrimento da pessoa: um sujeito de direitos, capaz de aprender e de participar das mais diferentes atividades da vida social e cotidiana.

C

Entender o que é o som, o silêncio e a surdez, os fatores de risco e como preveni-los é fundamental para compreender a surdez. Dessa forma podemos ver, sentir e comunicar-nos com as pessoas que apresentam algum tipo de surdez. É percebendo e respeitando o outro em sua integridade que cumprimos nosso papel como cidadãos.

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A forma como a sociedade encara as pessoas com deficiência varia em cada época e local, estando essa visão condicionada por fatores culturais, políticos, econômicos e filosóficos, dentre outros. A exclusão das pessoas com deficiência significa impedi-las, em maior ou menor grau, de exercerem algum ou vários dos direitos sociais que lhes outorgam status de cidadão. Contrariamente, o movimento mundial contemporâneo pela inclusão das pessoas com deficiência se fundamenta na concepção de direitos humanos, constituindo-se como uma ação política, cultural, social e pedagógica. Reconhece, assim, a igualdade e a diferença como valores indissociáveis, no sentido como afi rma Boaventura de Souza Santos: “Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza. Temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”(SOUZA apud SEESP, 2007, p.25). Portanto, a educação inclusiva é antes de tudo uma postura que reconhece e valoriza em cada aluno suas potencialidades e sua condição humana. Trata-se de um princípio filosófico que agrega valores humanísticos e democráticos, através dos quais se busca assegurar, indistintamente, a todos os indivíduos o direito de aprender na escola, com vistas ao crescimento, à satisfação pessoal e à inserção social. No curso da história da humanidade, as pessoas com defi ciência sofreram com a exclusão social, foram vítimas de tratamentos desumanos e até de extermínio. Na Antiguidade (4000 a.C. – 476 d.C.), por exemplo, alguns povos abandonavam ou eliminavam as pessoas “deformadas” por considerá-las um estorvo social. Os hebreus acreditavam que a deficiência era uma punição de Deus. Em Roma, os patriarcas eram autorizados a matar seus filhos deficientes e, em Esparta, os pais os lançavam do alto do Taigeto, que era um abismo de mais de 2.400 metros de altura. Em cada época e sociedade, a estrutura econômica, política e cultural influência na forma como as pessoas e as instituições encaram os deficientes. O contexto da Idade Média (476 a 1453) foi fortemente marcado pela influência religiosa cristã e pela ignorância da maior parte da população. Logo, as pessoas com deficiência eram vítimas de superstições, consideradas possuídas por demônios ou com poderes especiais de bruxos e feiticeiros. A literatura da época revela que anões e corcundas eram ridicularizados e usados para diversão da nobreza. Você sabia que até a Idade Média a Igreja Católica acreditava que os surdos não podiam salvar sua alma porque não conseguiam proferir os sacramentos? A partir do século XVI surgem diferentes instituições que passam a cuidar das pessoas com defi ciência. Contudo, tratava-se de uma situação de segregação e isolamento social, alegando-se que seria melhor para elas ficarem distantes, vivendo em um ambiente mais tranquilo. Na verdade, era uma forma de livrar-se desses “inconvenientes”. Persistia uma visão patológica do indivíduo que apresentava defi ciência, o que trazia como consequência o menosprezo da sociedade. A partir do século XVI, registra-se uma preocupação em relação ao cuidado e educação das pessoas com deficiência em instituições especiais, embora ainda

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houvesse muito preconceito e exclusão social. Veja alguns eventos importantes na história mundial:

368 AC Sócrates perguntou ao seu discípulo: Supunha que nós quando não

falávamos e queríamos indicar objetos, nós o fazíamos como fazem os

surdos-mudos sinais com as mãos , cabeça e demais membros do corpo?

530 Monges Beneditinos na Itália, comunicavam-se por sinais e usavam

alfabeto manual.

1520 Pedro Ponce de Leon foi um dos tutores espanhóis que se destacou no

ensino de surdos. Tinha que ensinar os surdos a falarem para reclamarem

sua herança. Utilizou alfabeto manual com duas mãos e fazia uma junção

dos sinais usados pelos monges beneditinos.

1620 Juan Pablo Bonet foi um padre espanhol, educador e um dos pioneiros na

educação de surdos. Publicou um livro sobre o Alfabeto Manual, inclusive

com ilustrações.

1760 Charles Michel de L´Epée era uma abade francês que fundou em 1760 o

Instituto Nacional de Sudos-Mudos de Paris, e ensinava a língua que

aprendeu nas ruas de Paris com surdos. Divulgou, valorizou e lutou para

reconhecer como língua, a língua de sinais francesa. Fez com que a

educação do surdo passasse de individual para coletiva, não mais

priorizando os aristocratas, mas estendendo a todas as classes sociais. Os

seus alunos se tornaram multiplicadores fundando escolas pelo mundo,

inclusive no Brasil. O professor Hernest Huet, a convite do Imperador Dom

Pedro II, veio ao Brasil fundar a primeira escola de surdos do Brasil, o INES.

A partir de 1780 a 1980 iniciou-se a época de ouro na educação dos

surdos. Foi o período mais próspero da educação dos surdos, foram

fundadas várias escolas, a língua de sinais era usada e difundida

livremente, os surdos podiam aprender e dominar diversos assuntos e

exercer diversas profissões, antes inconcebíveis, representando um grande

salto qualitativo na educação dos surdos. Testemunhou a saída dos surdos

da negligência e da obscuridade, sua emancipação, cidadania e a conquista

de posições de eminência e responsabilidade, antes inconcebíveis.

1880 Samuel Heinicke e Thomas Braidwood, educadores da Alemanha e

Inglaterra, respectivamente, privilegiaram majoritariamente a língua na

modalidade oral na educação. Argumentavam que permitir aos surdos

usar a língua de sinais impediriam seu progresso na fala e impediria que os

surdos alcançassem uma posição na sociedade ouvinte. A escola alemã,

ou oralismo, recusavam a gesticulação, língua de sinais ou o alfabeto

manual.

II Congresso Internacional de Educação do Surdo, Milão, Itália. Neste

congresso ficou decidido que o oralismo deveria ser utilizado

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exclusivamente na educação dos surdos. Professores surdos foram

excluídos , a língua de sinais foi proibida na escola e alguns surdos tinham

as mãos amarradas para serem impedidos de sinalizar, entre outros

horrores e perseguições pelos quais os surdos tiveram de suportar.

Alexandre Graham Bell, o inventor do telefone, casado e filho de mãe

surda, foi o maior defensor do oralismo neste congresso. Essa decisão

imposta foi um grande revés na história do Surdo.

1911 O INES adota o método oralista.

1960 Surge nos EUA, a comunicação. Esta proposta durou pouco por ser

parecida com a primeira, ao usar línguas de sinais e outros meios de

comunicação, tais como aparelhos auditivos, com o fim de ensinar e apoiar

a fala.

Literatura Visual "Recuso-me a ser considerada excepcional, deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos. Sinceramente nada me falta. É a sociedade que me torna excepcional." (Emmanuelle Laborrit) A literatura visual A literatura visual surgiu no momento em que as pessoas surdas se apropriaram do saber sobre o poder de produção visual-espacial de sua língua. De acordo com Sutton-Spencer (2005), até o século XVIII não existiam comunidades surdas como as que conhecemos hoje. As formações de comunidades surdas são fruto do movimento científico, social, educacional e cultural da Modernidade. O surgimento das comunidades surdas possibilitou a produção literária sinalizada, mesmo que esta tenha se perdido, devido ao amordaçamento linguístico e cultural vivido pelos Surdos a partir do advento do oralismo em 1880. Em decorrência deste evento, muito da literatura visual-espacial se perdeu, pois, na época a Língua de Sinais ainda não tinha registro escrito, sendo composta de conhecimento tácito. Atualmente há três tipos de literatura visual-espacial: as que são traduzidas do escrito para a língua de sinais; as que literaturas cujos textos são adaptados à realidade dos Surdos e, por fim, a mais importante no ponto de vista da cultura surda: a produção de prosa e versos feito por Surdos, representando o resgate da literatura Surda. As piadas Culturalmente, os surdos apreciam muito contar piadas. As piadas em Libras são contadas e recontadas em rodas e conversas e, em muitas delas, a temática envolve o aspecto da surdez, a língua de sinais e a relação de surdos com ouvintes. A poesia Surda

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A poesia em Língua de Sinais dos Surdos culturalmente se constitui diferente da dos ouvintes. Segundo Sutton-Spence (2005), não há evidências de poemas em língua de sinais antes de 1960. Por outro lado, pesquisas apontam que existiam poetas Surdos nos séculos XVII e XIX. Apesar de não ser tradição entre a comunidade Surda, ela é importante no fortalecimento da identidade dos Surdos, sendo também uma forma de luta contra a opressão. Sacks (1998, p 157) considera que, para os Surdos, a língua de sinais é uma parte imensamente íntima, indissociável de seu ser, algo de que eles dependem, e também, assustadoramente, algo que lhes pode ser tirado a qualquer momento, a exemplo da imposição do oralismo. Há nos surdos uma sensação de que é preciso construir, entre os próprios surdos, uma consciência de valor que a língua de sinais tem para eles - quer seja na forma de literatura espacial, piada ou poemas - de modo que ela não corra o risco de ser usurpada novamente.

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ova filosofia educacional: Bilinguismo

Diferente da concepção negativa que o senso comum atribui à surdez, a noção de cultura busca compreender positivamente os surdos na sua dimensão antropológica, histórica, psicológica e social. A dimensão cultural, associada à vida social e subjetiva das pessoas surdas, destaca as capacidades individuais e coletivas que elas compartilham com todos os seres humanos. Ao contrário, as visões discriminatórias representam as pessoas surdas como meros defi cientes físicos que apresentam uma incapacidade auditiva evidente, destacando, dessa forma, o surdo como diferente de uma pessoa “normal”. Há várias definições para a palavra “cultura”, contudo, a noção de cultura em sua origem remete ao cultivo do campo pelos homens, às técnicas e sentidos para o cuidado com a terra, derivando dessa história social a ideia de comunidade e a identifi cação ao território e seus habitantes, nos seus produtos materiais e simbólicos. Ora, um dos produtos mais notáveis da cultura humana foi as diferentes línguas que surgiram desse convívio para a garantia e desenvolvimento da vida, baseadas na comunicação social, na organização política, na troca de experiências tecnológicas, na elaboração filosófica e científica, nas narrativas poéticas, nos relatos cotidianos, entre outros. Nesse sentido, considerando que a surdez distingue sensorialmente um grupo particular de humanos, criando um modo específico e compartilhado de ser, de ver e de comunicar o mundo, podemos dizer, então, que a cultura surda preenche todos os critérios aqui definidos: comunidade (indivíduos), identificação (sensorial), território (organizações e locais) e uma língua própria (língua de sinais). A denominação cultura e comunidade surda é largamente difundida na bibliografia e produção técnica sobre a questão da surdez, porém, alguns autores defendem o uso da noção de “povo surdo” (STROBEL, 2009), ao invés de comunidade surda, considerando a primeira como o coletivo exclusivo das pessoas surdas e a segunda como o conjunto de surdos e ouvintes (familiares, amigos, estudiosos, interessados) envolvidos com a surdez. É claro que esses diferentes posicionamentos estão envolvidos na adoção de um sentido político. De um lado, destaca-se a luta de associações de surdos pelo reconhecimento de uma cultura particular e por direitos específicos. De outro lado, buscam-se formas ampliadas de inclusão e de participação na cultura social geral (local, regional, nacional, internacional). De fato, para os surdos, o aprendizado da Língua Portuguesa (oral-auditiva) não é o caminho natural, sendo a Língua Brasileira de Sinais (visual-espacial) a mais adequada para o desenvolvimento cognitivo inicial. Todavia, pela convivência histórica e cotidiana com uma cultura de ouvintes, a aquisição da Língua Portuguesa como segunda língua é fator imprescindível para a inclusão das pessoas surdas na sociedade brasileira. Assim, a proposta de ensino bilíngue para surdos, na qual a Libras é reconhecida como a língua natural e como pressuposto para o ensino do Português, “atravessa a fronteira linguística e inclui o desenvolvimento da pessoa surda dentro da escola e fora dela em uma perspectiva socioantropológica” (SILVA, 2008, p. 50).

N

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O ensino bilíngue, tendo a Libras como a língua natural e o Português como segunda língua, preferencialmente na modalidade escrita, é visto como imprescindível para a inclusão democrática das pessoas surdas na sociedade brasileira. O reconhecimento legítimo de particularidades não pode estar dissociado da participação democrática, para que não aconteça o isolamento cultural e este acabe fortalecendo estereótipos ou criando novas discriminações. Para os fins da ação inclusiva na escola comum e da prática pedagógica de professores ouvintes, preferimos a denominação genérica de pessoas surdas ou alunos surdos. Ao contrário das visões discriminatórias sobre os surdos, a noção de cultura atribuída à surdez é compreendida em sua dimensão antropológica, histórica, psicológica e social. A noção de cultura surda preenche os critérios conceituais de: comunidade (indivíduos), identificação (sensorial), território (organizações e locais) e língua própria (língua de sinais).

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urdo: Sujeito Visual

Antes era calado. Era um silêncio total. Eu não aprendi nada durante muito tempo. Só

havia bocas abrindo e fechando. Eu era triste, diferente. Não era só eu. Todos os

surdos eram iguais. Surdo não participava de nada, não dava opinião, não aprendia

nada. Maria, Surda.

A Maria,é uma surda que não conhecia Libras. Ela descreve e expressa em poucas

palavras e sentimentos o significado de ser Surdo sem conhecer a própria língua de

sinais usada pelos surdos brasileiros.

A sociedade não conhece as pessoas surdas. Quando questiona quem são os surdos,

levanta algumas suposições e representações deles por leituras restringidas sobre o

mundo do surdo.

Na verdade, os surdos usam a visão para se comunicar. A questão do olhar é

fundamental e imprescindível para isso. Na aprendizagem de Libras, é preciso que se

preste atenção com o olhar, uma vez que essa é uma língua visual-espacial. Sem esse

olhar não há uma comunicação efetiva com os Surdos.

A comunicação com os surdos às vezes é difícil para alguns que não sabem como se

comunicar com eles. O primeiro passo é estar atento a visão, entender seus hábitos e

conhecer sua cultura. Quando uma pessoa aprende uma língua, aprende também

hábitos culturais e os contextos aos quais certas expressões estão vinculadas. Com a

Língua Brasileira de Sinais, isto também acontece.

Quando conhecemos alguém lhe perguntamos o nome. Na Língua de Sinais, o nome é

representado pelo sinal pessoal ou simplesmente sinal.

Os surdos brasileiros se batizam por meio de sianis. É um evento que acontece quando

um surdo ou um ouvinte entra na comunidade Surda ou passa a ter contato com

surdos.

Os surdos batizam com sinais, identificando alguma característica física,

comportamental, hábito ou uso de objetos pessoais. Veja os exemplos de pessoas

famosas que são conhecidas na comunidade surda e tente dar um sinal para cada uma

delas. Não existe sinal certo ou errado!

Se uma pessoa ainda não tem um sinal, usa-se o alfabeto manual da Libras para

soletrar o nome. Isto é datilologia.

Atenção! O uso do alfabeto manual é restrito a situações específicas. Para se

comunicar com a comunidade surda devemos aprender e usar a Libras.

Os surdos tem acesso ao mundo pela visão. Por este motivo, é natural que sua

comunicação seja visual-espacial. Essa característica também se reflete em sua cultura

e comportamento. Adiante vamos aprender as formas corretas de chamar a atenção

do surdo.

S

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Etiqueta na comunidade surda

Não grite: além de ser falta de educação, você está tomando uma atitude ineficiente.

Simplesmente toque-o no ombro ou no braço.

Se ele não tiver notado sua presença ou estiver distraído, aproxime-se de frente de

forma que ele perceba sua presença, acenando com a mão como se estivesse dando

tchau. Tocá-lo nessa situação pode assustá-lo.

Nunca jogue ou cutuque-o com objetos: essa atitude desrespeitosa pode causar

acidentes. Caso esteja de frente, mas distante, chame a atençaõ dele movimentando

alguma objeto com as mãos, uma folha de papel, por exemplo.

Se estiver numa mesa, simplesmente bata de leve na mesa para que ele sinta a

vibração. Ou então, se ele estiver na sala, distante e de costas, apague e acenda a luz.

Assim que ele se virar, acene com as mãos para ele entender que você o está

chamando ou deseja lhe falar.

Se tiver de passar entre dois ou mais surdos que estão conversando, tente se desviar

deles. Caso não seja possível, tente ser o mais discreto possível, passando no meio sem

interromper a conversa, mesmo que seja para pedir licença.

Se você encontrar dois surdos conversando e deseja falar com um deles que você

conhece, toque de leve com a mão no ombro do surdo que você conhece, e sem

retirar a mão, aguarde até que ele desvie o olhar e conceda pausa para que você fale.

Se sinalizar que entendeu e pedir para você esperar, então aguarde.

Quando estiver diante de um surdo ou na comunidade Surda, evite cochichar ou

obstruir a boca com as mãos. Essas atitudes, além de serem falta de educação, podem

fazer com que os surdos sintam-se ofendidos por acharem que você está se

aproveitando do fato de eles não ouvirem a voz.

Nesta aula você conheceu a cultura do surdo, como ele vive, age e se organiza

socialmente, e aprendeu posturas e atitudes corretas ao se integrar ou se comunicar

com o surdo.

Page 33: Libras - nova revisão

33

cessibilidade

Os direitos humanos surgiram como fruto das lutas contra o poder absolutista do

opressivo Estado Moderno. A preocupação com a integridade física do homem, com a

dignidade da pessoa humana, se deve ―especialmente, ao cristianismo (dignidade do

homem), ao jus naturalismo (direitos inatos) e ao iluminismo (valorização do indivíduo

perante o Estado).‖ – Cesar Fiúza. No final do século XVIII, começaram a surgir

Declarações de Direito com o objetivo de ―armar os indivíduos de meios de

resistência contra o Estado. Seja por meio delas estabelecendo zona interdita à sua

ingerência – liberdades-limites – seja por meio delas armando o indivíduo contra o

poder no próprio domínio deste – liberdades oposição.‖, segundo Manoel Gonçalves

Ferreira Filho.

As declarações de Direitos que surgiram ao longo da história são:

Magna Carta Inglesa (1215);

Bill of Rights (1689);

Declaração Americana (1776-1789);

Declaração Francesa dos Direitos do Homem (1789);

Declaração Universal de Direitos do Homem (1948).

Os direitos individuais nestas declarações evoluíram para o âmbito dos direitos sociais

e econômicos nos séculos XIX e XX. Segundo nos ensina José Afonso da Silva,

―prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,

enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida

aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a equalização de situações sociais

desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade.

Os direitos das pessoas com deficiência têm seu fundamento nos direitos humanos e

na cidadania. Porém, até antes da 2ª Guerra Mundial não havia uma preocupação em

internacionalizar esses direitos fundamentais. Com os genocídios, guerra-fria, criação

da ONU e as afrontas aos direitos humanos na II Guerra Mundial, surgem a Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão americana em 1948. A universalização desses

direitos fez surgir uma série de documentos, como a Declaração dos Direitos dos

Deficientes Físicos de 1975, que buscam efetivá-los cada vez mais.

Além da universalização, vemos outro fenômeno: a multiplicação dos direitos

humanos. Este olha para o homem como um ser específico e concreto nas suas

diversas maneiras de ser com criança, velho, doente, deficiente, etc. Surge nesse

período a especificação quanto ao gênero, às fases da vida e à diferença entre o

A

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34

normal e o com deficiência. Aqui sim, é o momento em que os direitos das pessoas

com deficiência tomam maiores proporções em importância, interesse e quantidade.

A Declaração Universal dos Direitos dos Povos diz que todo povo tem o direito à

existência, ao respeito por sua identidade nacional e cultural, de falar sua língua, de

preservar e desenvolver sua cultura, contribuindo assim para o enriquecimento da

cultura da humanidade, o direito a que não se lhe imponha uma cultura estrangeira e

quando, no seio de um Estado, um povo constitui minoria, tem direito ao respeito por

sua identidade, suas tradições, sua língua e seu patrimônio cultural. Portanto, o povo

surdo tem direito a uma língua!

Os fenômenos de internacionalização e multiplicação dos direitos humanos

influenciaram bastante nossa constituição federal. Dentre os fundamentos desta,

destaca-se neste campo, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. A sociedade

civil e o Estado passam a ver o homem como um ser de direitos. Desta forma uma

cidadania plena, acessível a todos, começa a ter maior possibilidade de materialização.

Buscando esta materialização, surge o Ministério Público como uma instituição

paralela e independente aos demais poderes do estado, com a missão de tutelar os

direitos fundamentais, fiscalizando o cumprimento destes pelo Estado e exigindo

reparação e cessação das ilegalidades e abusos de poder ao Judiciário.

Mesmo nos séculos XVIII e XIX, a despeito da influência iluminista que muito contribuiu para evidenciar a capacidade e o talento de pessoas com deficiência, especialmente cegas e surdas, elas não eram tratadas com igualdade de direitos. Somente no século XX, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos se iniciam os movimentos sociais em defesa das minorias e das pessoas com defi ciência, baseados em vários de seus artigos, principalmente o Art. II: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). No século XX, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), inicia-se um processo mais sistemático de reconhecimento legal dos direitos da pessoa com deficiência. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi um primeiro passo que apontou para a necessidade de se reconhecer o direito das pessoas com deficiência, mas carecia de especificidade. Por isso, a ONU adotou em 1994 a Declaração de Salamanca, que delibera sobre princípios, política e práticas na área das necessidades educativas especiais, com o objetivo de orientar procedimentos para a equalização de oportunidades para pessoas com deficiência.

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35

No Brasil, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC/SEESP, 2007) apontam e orientam suas ações com base noutros documentos legais como, por exemplo:

Constituição Federal (BRASIL, 1988);

Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de defi

ciência, sua integração social e a Coordenadoria Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), instituindo a tutela jurisdicional de

interesses coletivos ou difusos dessas pessoas e disciplinando a atuação do

Ministério Público;

Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Declaração de

Jomtien,UNESCO, 1990);

Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90);

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96);

Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência (Convenção da

Guatemala, Decreto nº 3.956/2001);

Decreto nº 6.571/2008, que dispõe sobre o atendimento educacional

especializado, regulamentando o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de

20 de dezembro de 1996, e acrescentando dispositivo ao Decreto no 6.253, de

13 de novembro de 2007.

Decreto nº 6.949/2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os

Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em

Nova Iorque, em 30 de março de 2007.

A Constituição Federal também destacou o princípio da isonomia. Não é uma

igualdade formal, mas igualdade material através da lei, prevendo tratamento igual

para os iguais e desigual para os desiguais. Esta é a base para o direito de

acessibilidade, propiciando, portanto um desdobramento em todo o ordenamento

infraconstitucional. E

Esta igualdade é base maior de todo o direito à inclusão social e sempre estará

presente na aplicação do direito.

Os direitos são os mesmos, mas as condições de exercê-los não!

A Constituição Federal de 1988 criou um sistema de normas para integração social das

pessoas com deficiência. As regras vão desde o princípio da igualdade, do acesso,

permanência e atendimento especializado, da habilitação e reabilitação até a garantia

da eliminação das barreiras arquitetônicas. Ela enumera dentre os objetivos

fundamentais do Estado, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores

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sociais do trabalho, determinando que todas as decisões judiciais, as decisões

administrativas e a produção legislativa sigam estes vetores. Não se trata de norma

apenas enunciativa, sem qualquer efeito prático.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, e que direitos e

liberdades de cada pessoa devem ser respeitados sem qualquer distinção. A inclusão

social das pessoas com deficiência não deve ser considerada só importante, tem que

ser óbvia, pois já está garantida constitucionalmente. As discriminações absurdas são

vedadas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se

desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça. Adaptado de

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4928 capturado às 18:05 do dia

28/07/2010.

Comente a frase em negrito acima, levando em conta à condição de autonomia das

pessoas com deficiência na região de sua APS.

O que é acessibilidade?

Você conhece a lei da Acessibilidade? Esta é a Lei que possibilita o exercício do direito

de ir e vir das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Imagine você, dependente de uma cadeira de rodas, se deparando com uma escada e

sem alternativas de acesso.

Agora, imagine você, sendo cego e tendo que ler uma cópia de um processo impresso

numa APS. Pense em você como um surdo fluente em Libras, língua oficial no Brasil,

tentando se comunicar com quem grita um português bem articulado e inaudível para

seus ouvidos.

A Lei no 10.098, de 19/12/ 2000, estabelece que o Estado seja o responsável por

promover a acessibilidade de pessoas com deficiência. Esta Lei abre a oportunidade,

para nosso povo seguir seu próprio caminho.

A Lei estabelece as respectivas definições:

Acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com

segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das

edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por

pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida

Pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida: a que temporária ou

permanentemente tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e

de utilizá-lo

(Ajuda técnica: qualquer elemento que facilite a autonomia pessoal ou

possibilite o acesso e o uso de meio físico)

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37

Refletindo...

Como você acha que o INSS poderia promover a acessibilidade das pessoas com

deficiência?

Que tipo de deficiência necessitará de um maior enfoque na promoção da

acessibilidade na sua APS?

Estamos preparados para fazer isso?

Imagine agora você viajando por uma estrada e um longo caminho pela frente.

De repete você vê uma árvore caída na sua frente. Você realmente precisa atravessar

este obstáculo! O sol está bem forte e você arregaça as mangas, faz muita força, mas é

inútil. Você se sente muito angustiado, pois sente que é dever do estado promover a

limpeza daquela estrada, mas ele não o fez o que você esperava dele como um

cidadão.

Esta árvore são as barreiras que dificultam nossa acessibilidade. Não se espera que as

pessoas que necessitam de acessibilidade retirem essas barreiras. O Poder Público tem

a obrigação legal de suprimi-las, talvez até mesmo usando uma ajuda técnica.

Mas o que são barreiras?

Barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de

movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas em:

Barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos

espaços de uso público;

Barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios

públicos e privados;

Barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios d e

transportes;

Barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou

impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos

meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;

O Decreto 5.296 de 02/12/04, regulamentando a Lei 10.098 de 19/12/00 e a Lei 10.048

de 8/11/00, estabeleceu atendimento prioritário às pessoas com deficiência, com um

tratamento diferenciado, serviço especializado e atendimento imediato.

Concluímos que para contribuir com uma sociedade mais inclusiva para o povo surdo e

realizarmos o nosso trabalho com mais eficiência precisamos suprimir as barreiras,

principalmente as de comunicação. Fazemos isso aprendendo e nos qualificando para

melhor atender os surdos da nossa comunidade. Vemos a necessidade de quebrar

outras barreiras que nem mesmo estão elencadas nesta lei ou no seu regulamento,

Page 38: Libras - nova revisão

38

como as barreiras atitudinais. Estas abrangem preconceitos, estigmas e estereótipos.

Quebrar barreiras atitudinais pode significar olhar não para a deficiência, mas para a

pessoa com deficiência.

Refletindo...

Como fazer isso?

O que seria atendimento imediato?

E tratamento diferenciado?

Como o Decreto 5.296, nos ajuda a aplicar o princípio da isonomia no INSS em

relação à comunidade surda, especificamente?

E agora, o que é acessibilidade?

Alguns dicionários definem como a qualidade do que é acessível. Vem do latim

accessibilitas e nos dá a idéia de algo que podemos usufruir conquistar, chegar.

E aí, sua APS é acessível? Um cego consegue usufruir de todos os benefícios que ela

oferece? E o deficiente físico, o surdo, também conseguem?

Lembre que as pessoas com deficiência precisam de autonomia no seu dia-a-dia!

Pensando nisso, descreva o que é acessibilidade no seu ponto de vista. Identifique as

barreiras na sua APS e dê sugestões de como suprimi-las.

"Aprender Libras é um meio de se oferecer acessibilidade aos surdos no seu local de

trabalho"

A Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida oficialmente pela Lei 10.436 de

24/04/2002, como forma de comunicação e expressão, sistema linguístico de

transmissão de ideias e fatos das comunidades surdas do Brasil. A Lei trouxe uma

ressalva: A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade

escrita da língua portuguesa.

Depois de uma longa espera, esta Lei foi regulamentada pelo decreto 5.626 de

22/12/2005, trazendo definições como pessoa surda e deficiência auditiva.

O decreto trata ainda de temas como inclusão da Libras com disciplina curricular, seu

uso e difusão, da formação do professor e do instrutor, tradutor e intérprete de Libras,

destacando neste último ponto os exames de proficiência, ou simplesmente Pró-libras,

para certificar esses profissionais e, entre outras garantias, o Papel do Poder Público

no apoio ao uso e difusão da Libras.

Você provavelmente deve ter pensado em serviços de atendimento especializado para

pessoas com deficiência auditiva prestado por intérpretes ou pessoas capacitadas em

Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Isto deveria ser fato, visto que os surdos foram

enquadrados na lei de acessibilidade, garantindo-lhes o direito legal de escolher a

melhor forma de comunicação, seja em Português ou em Libras. Quem deve retirar

estas pedras do caminho?

Page 39: Libras - nova revisão

39

É óbvio que nós sabemos que o Poder Público tem a obrigação legal de suprimir estas

barreiras. Como servidores públicos de uma autarquia social, temos o dever de fazer a

nossa parte em promover a acessibilidade. No caso dos surdos, devemos nos sentir

com uma dívida com eles pelo tempo que não fomos acessíveis. A partir de agora

devemos encarar a Libras como uma ajuda técnica para suprimirmos estas barreiras,

sejam atitudinais ou de comunicação. Após analisar todos estes termos aqui

empregados, conhecer os direitos dos surdos, faremos o nosso máximo em aprender

Libras, não porque os surdos são coitadinhos e precisam de nossa compaixão. Não!

Dedicaremo-nos ao estudo da Libras Instrumental para cumprir com nossa obrigação

como servidor público. É direito legal conquistado, um processo histórico digno, que

deve ser respeitado e admirado!

LEI N.º 10.436 de 24 de abril de 2002

Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira

de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de

Comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora,

com Estrutura gramatical própria constituem um sistema lingüístico de transmissão de

ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas

concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e

difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de

utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.

Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de

assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos

portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas e educacionais estaduais,

municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de

Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e

superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a

modalidade

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40

escrita da língua portuguesa.

Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independência e 114º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Paulo Renato Souza

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41

Existe também um projeto de lei 4673/2004, de autoria da deputada Maria do Rosário

(PT-RS), que reconhece a profissão de intérprete da língua brasileira de sinais (Libras)

em todo o território nacional. O projeto já passou pela câmara e seguiu direto para

apreciação do Senado Federal.

No dia 26 de setembro é comemorado o dia dos surdos no Brasil.

Esta data corresponde à fundação da primeira escola de surdos no Brasil, a Ines.

Depois de vários municípios e estados, o Governo Federal tornou este dia oficial.

Abaixo vemos a Carta de Agradecimento da Federação Nacional dos Surdos – Feneis

pela Lei 11.976/2008.

Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2008

Carta Aberta de Agradecimento

Ao Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva Presidente do Brasil

Brasília-DF

Excelentíssimo Senhor,

Foi com imensa satisfação e alegria que recebemos a informação da Lei 11.976/2008

publicada no Diário Oficial da União em 29 de outubro que institui em nosso país o dia

26 de setembro como Dia Nacional do Surdo.

Há anos visando despertar e sensibilizar a consciência dos brasileiros para as

dificuldades encontradas no cotidiano das pessoas Surdas, como suas especificidades

educacionais, reconhecimento da Libras, inserção no mercado de trabalho e

desenvolvimento de tecnologias, em 26 de setembro são realizados seminários,

congressos e passeatas. Tais manifestações objetivam o hasteio da bandeira dos

Surdos, para comemorar suas conquistas, dentre elas, a oficialização da Libras-Língua

Brasileira de Sinais (lei 10.436/2002), que vem fazendo a diferença na vida educacional

de milhões de crianças, jovens e adultos surdos, proporcionando-lhes assim uma

sociedade mais justa e igualitária.

A data de 26 de setembro foi escolhida para comemorar o Dia do Surdo, devido ao fato

de lembrar a inauguração da primeira escola para Surdos no país em 1857, com o

nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES-Instituto

Nacional de Educação de Surdos, fundado por Dom Pedro II em 1857.

Embora tenhamos diversos motivos para comemorar o Dia do Surdo em 26 de

setembro, somente alguns municípios dispõem de lei para respaldar esta data, motivo

pelo qual o Brasil, em um brado uníssono de alegria celebra esta semana a noticia da

oficialização deste importante dia. Deveras um marco em nossa história, mais um

motivo de comemoração!

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Diante da oficialização do Dia Nacional do Surdo (Lei 11.976/2008), não podemos nos

esquecer que a mesma é resultado do projeto de lei 1.791 de 1999 proposto pelo

Exmo. Deputado Federal Eduardo Barbosa, amigo, apoiador e conhecedor da causa

dos Surdos, a quem aproveitamos a oportunidade para agradecer.

Com nossos corações repletos de satisfação, agradecemos imensamente a V. Ex.ª por

evidenciar, através da oficialização do Dia Nacional do Surdo, sua sensibilidade e

reconhecimento da importância da História e da Luta da Comunidade Surda Brasileira.

Sem mais, ressaltamos nossos votos de estima e elevada consideração.

Atenciosamente,

Karin Strobel

Presidente

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43

m novo nome

Você deve ter percebido que a terminologia usada para designar as pessoas que têm

deficiência mudou bastante com o tempo. Embarque conosco nessa viagem pelo

tempo e nunca se esqueça que cada termo estava ligado aos valores de sua época. Por

isso nunca me esquecerei que a conquista de um termo usado internacionalmente, foi

fruto de um caminho percorrido passo a passo, removendo pedra a pedra. Veja como

a sociedade de cada época chamava as pessoas que têm deficiência.

Há muito tempo atrás: Decreto federal nº 60.501, de 14/3/67 chamava de ―os

inválidos‖, eram tidos como socialmente inúteis, um peso morto para a sociedade, um

fardo para a família, alguém sem valor profissional.

Século 20 até a década de 60: ―os incapacitados‖. O termo significava ―indivíduos

sem capacidade‖ evoluindo para ―indivíduos com capacidade residual‖. Foi um

avanço para a sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência poderia ter

capacidade residual, mesmo que reduzida.

Das décadas de 60 até 80: No final da década de 50, foi fundada a Associação de

Assistência à Criança Defeituosa – AACD e as primeiras unidades da Associação de Pais

e Amigos dos Excepcionais - APAE. Chamavam de os defeituosos. O termo significava

indivíduos com deformidade. Ou ainda, os deficientes. Este termo significava

indivíduos com deficiência física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, que os levava

a executar as funções básicas da vida de um jeito diferente das pessoas sem

deficiência. E isto começou a ser aceito pela sociedade. Ainda chamavam de os

excepcionais. O termo significava indivíduos com deficiência intelectual. A sociedade

passou a usar estes termos, focalizando as deficiências.

De 1981 até 1987: A ONU nomeia 1981, o Ano Internacional das Pessoas Deficientes. A

sociedade passa a chamar pessoas deficientes. O mundo acha difícil usar o termo

pessoas, mas isso melhora significativamente a visão mundial das terminologias

anteriormente usadas, causando um profundo impacto social. Pela primeira vez em

todo o mundo, o substantivo deficientes passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-

lhe acrescentado o substantivo pessoas. Depois do ano de 1981, foi atribuído o valor

pessoas àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade à

maioria dos membros de qualquer sociedade ou país.

De 1988 até 1993: Ano de 1988, ano da Constituição Federal, trouxe o termo pessoas

portadoras de deficiência e sendo depois reduzido à portadores de deficiência. O

U

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44

portar uma deficiência passou a ser um valor agregado à pessoa. A deficiência passou a

ser um detalhe da pessoa. O termo foi adotado em todas as leis e políticas pertinentes

ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir

o termo em seus nomes oficiais. Alguns líderes de organizações de pessoas com

deficiência contestaram o termo pessoa deficiente alegando que ele sinaliza que a

pessoa inteira é deficiente, o que era inaceitável para eles.

Da década de 90 até hoje: Surge o termo pessoas com necessidades especiais. O termo

surgiu primeiramente para substituir deficiência por necessidades especiais. Daí a

expressão portadores de necessidades especiais. De início, necessidades especiais

representava apenas um novo termo. Posteriormente o termo passou a ser um valor

agregado tanto à pessoa com deficiência quanto a outras pessoas.

Em junho de 1994 e além: pessoas com deficiência A Declaração de Salamanca

preconiza a educação inclusiva para todos, tenham ou não uma deficiência. Este passa

a ser o termo preferido por um número cada vez maior de adeptos, boa parte dos

quais é constituída por pessoas com deficiência que, no maior evento das organizações

de pessoas com deficiência, o Encontrão realizado no Recife em 2000, conclamaram o

público a adotar este termo. Elas esclareceram que não são ―portadoras de

deficiência‖ e que não querem ser chamadas com tal nome.

Os valores agregados às pessoas com deficiência são:

Empoderamento, uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e

assumir o controle da situação de cada um.

Responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade

rumo à inclusão de todas as pessoas, com ou sem deficiência.

Este termo também fez parte do texto da Convenção Internacional para Proteção e

Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, aprovada pela

Assembléia Geral da ONU, em Nova York, em 30 de março de 2007 e promulgada

posteriormente através do Decreto 6.949 de 25/08/2009 pelo Presidente da República

Federativa do Brasil. Estas informações foram adaptadas do site:

http://portal.mj.gov.br/corde/ no dia 27/07/2010 às 10:00 horas.

Os cegos querem ser chamados de cegos. Os surdos querem ser chamados surdos. As

pessoas que tem deficiência de pessoas com deficiência e pronto. Agora você já sabe

como deve chamar os surdos, não é verdade?

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que é a Libras?

“Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser prisioneira desse silêncio que eles

não procuram romper. Esforço-me o tempo todo, eles não muito. Os ouvintes não se

esforçam. Queria que se esforçassem.” (Emmanuelle Laborit, atriz surda francesa)

A Língua Brasileira de Sinas - LIBRAS é a língua usada pela comunidade surda no Brasil.

É uma língua que expressa níveis lingüísticos em diferentes graus, e assim como as

demais línguas, apresenta uma gramática com uma estrutura própria, usada por um

grupo social específico e pode ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela

comunicação com esta comunidade.

Entretanto, da mesma forma que as línguas faladas não são iguais, variando de lugar

para lugar, de comunidade para comunidade, as línguas de sinais também são

diferentes de um país para outro, podendo existir variações regionais dentro de um

mesmo país. A estrutura da Língua Brasileira de Sinais é constituída de parâmetros,

que veremos adiante.

Você já encontrou ou avistou um grupo de surdos conversando em Libras? Já parou

para entender? O que você pensa sobre a Língua de Sinais usada pelos surdos?

“Com a descoberta da minha língua, encontrei a grande chave que abre a porta que

me separava do mundo. Posso compreender o mundo dos surdos, e também o mundo

dos ouvintes. Compreendo que esse mundo não se limita a meus pais, que há outros

também interessantes. Não tinha mais aquela espécie de inocência de antes. Encaro as

situações de frente. Tinha construído uma reflexão própria. Necessidade de falar, de

dizer tudo, de contar tudo, de compreender tudo. (...) Tornei-me falante.”

(Emmanuelle Laborit)

Olhos que vêem

Os surdos usam a visão para se comunicarem. Para eles, a questão do olhar é

fundamental e imprescindível para se comunicarem. Obviamente, na aprendizagem de

Libras é preciso que se preste atenção com o olhar, uma vez que a Libras é uma língua

visual-espacial, e sem isso, não se estabelece uma comunicação efetiva com os surdos.

Poucas pessoas sabem como se comunicar com as pessoas surdas. A grande maioria se

comunica com o surdo de forma incorreta. Então, o primeiro passo para a

comunicação com as pessoas surdas é estar atento com a visão, entender seus hábitos

e conhecer sua cultura.

O

Page 46: Libras - nova revisão

46

Comunicando-se com os surdos

A gente, para a gente mesmo, é a gente. Raramente consegue ser o outro. A gente

para o outro, não é a gente; é o outro. Deve estar confuso. Tento de novo: cada um de

nós vive numa ambigüidade fundamental: Ser a gente e ao mesmo tempo, ser o outro.

Pra gente, gente é a gente. Para o outro, a gente é o outro. Temos, portanto, dois

estados: ser o “eu” de cada um de nós e ser o outro. Na vida de relação, pois, temos

que saber ser o “eu-individual” e ao mesmo tempo aceitar funcionar em estado de

alteridade, ou seja, de “outro”. (Rubem Braga)

“Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito essa pessoa. Quando eu rejeito

a língua, eu rejeito a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos”.

(Terje Basilier, psiquiatra surdo norueguês)

Ao se comunicar com um surdo, evite se referir a ele com os termos mudinho ou surdo-mudo, lembrando que os surdos falam e comunicam em língua de sinais. O termo deficiente auditivo‖, apesar de ser usado pela área médica, também é equivocado, pois, para a comunidade surda tem outro significado. Devemos respeitar a cultura surda, nos referindo ao surdo como surdo mesmo.

Curiosidade

A Universidade de Gallaudet foi a primeira faculdade do mundo voltado para surdos.

Fundada em 1857 com o nome de “Columbia Institution for the Instruction of the Deaf

and Dumb and Blind” (Instituto Columbia para Instrução de Surdos, mudos e cegos),

está localizada em Washington D.C., capital dos Estados Unidos da América. A

Gallaudet é uma instituição privada que conta com o apoio direto do Congresso

Americano. Mais da metade do corpo diretor da universidade é composto por surdos,

incluindo o próprio reitor. Disponível em www.gallaudet.edu

Conversando com surdos

Eu devo ser “eu” para mim e para o outro. O outro deve ser o “eu dele” para mim. Eu

devo aceitar ser “o outro” para o outro. Mas devo desejar e conseguir ser “eu” para

ele. Eu, em estado de “eu” devo aceitá-lo como o eu dele. Eu e ele somos ao mesmo

tempo “eu”. Eu e Ele somos ao mesmo tempo, “ele”. Eu sou Eu, mas sou “ele”. Ele é

“Eu”, mas também é ele. Por isso somos (ao mesmo tempo) semelhantes e diferentes.

Por isso somos irmãos. Por isso a humanidade é uma só. Por isso a igualdade é uma

verdade, na diferença individual. (Rubem Braga)

Page 47: Libras - nova revisão

47

Trilhamos um breve caminho até aqui. A partir deste ponto, as aulas serão mais

práticas. Portanto, deve-se prestar bastante atenção na posição, movimento e

expressão dos sinais a serem estudados, aprendidos e praticados; bem, como observar

as seguintes convenções:

Os sinais em Libras são representados em maiúsculo.

Exemplo: ESTUDAR, TRABALHAR

Para pessoas, locais e palavras que não tem sinais, usa-se a datilologia, isto é, o

alfabeto manual da Libras, representando a palavra separada, letra por letra.

Exemplo: HOTEL G-A-R-V-E-Y

Em Libras não há desinência para gênero masculino e feminino, sendo que a marca de

gênero está terminado com o símbolo ―@‖ para indicar idéia de ausência. São usados

em livros que abordam a Libras.

Exemplo: El@ (ele ou ela), AMIG@ (amigo ou amiga)

Aprendemos quem são os surdos, sua língua, sua cultura, como chamar a atenção do

surdo e como se portar com discrição e respeito diante deles. Também aprendemos

que os surdos têm um sinal próprio, ou sinal pessoal, ou ainda sinal de batismo.

Através de exemplos práticos, vamos assimilando os sinais em Libras. Aproveite para

revisar o Alfabeto Manual da Libras, relembrando e praticando as letras e os números.

Apresentação

Culturalmente, em um diálogo, os surdos costumam perguntar se outra a pessoa é da

comunidade surda ou ouvinte, o sinal e o nome, não obrigatoriamente nesta ordem.

Veja abaixo, o diálogo entre duas pessoas, que vamos usar no decorrer das aulas

práticas:

AULA 1 – Cumprimentos e saudações informais

A – OI! VOCE SURDO?

B – OI! NÃO EU OUVINTE.

A – VOCE BEM?

B – BEM!

A – VOCE SINAL?

B – SINAL (mostra o sinal). VOCE SINAL?

A – SINAL (mostra o sinal). VOCE NOME?

B – MEU NOME A-N-T-O-N-I-O. VOCE NOME?

A – MEU NOME L-U-I-Z.

B – PRAZER CONHECER VOCE!

Page 48: Libras - nova revisão

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A – PRAZER CONHECER VOCE!

Compreendendo os sinais

Cumprimentos

Observe os sinais mais usados pelos surdos na apresentação, consultando o Dicionário

de Libras, disponível em www.acessobrasil.org.br/libras, para as seguintes palavras:

Oi, tudo bem, nome, prazer, conhecer.

Sinais: surdo, ouvinte, bem, sim, não.

Apontação

Na Libras, o sinal de apontação pode indicar pessoas, localização e pronomes

demonstrativos. Consulte no dicionário:

Pessoas: eu, você, ele, nos, grupo.

Localização: aqui, ali.

Pronomes demonstrativos: esta e essa.

Pronomes possessivos: meu ou minha, seu ou sua, dele ou dela.

Expressões faciais

Como vimos nos parâmetros da Libras, as expressões faciais são formas de comunicar

algo, podendo mudar completamente o significado de um sinal de acordo com a

expressão facial utilizada. Existem dois tipos: expressões faciais afetivas e gramaticais.

Afetivas

Expressam o estado emocional, podendo ser de forma gradual. Consulte as palavras:

Atentar para a expressão facial feita junto com o sinal:

Expressões faciais afetiva: triste, alegre.

Gramaticais

Estão relacionadas ao grau de um adjetivo ou a sentenças. Consulte as palavras:

Expressões faciais gramaticais: surpreso, aborrecido.

Atividades

Consultando o dicionário, pratique o diálogo da Aula 1, preferencialmente com outra

pessoa que também esteja aprendendo Libras.

Dica importante: a mão com a qual você possui maior habilidade é conhecida como

mão dominante. Assim, se você vai usar a mão a que está acostumado.

Outra dica: quando dizemos O-I em Libras, estamos nos cumprimentando de modo

informal. O modo formal você aprenderá logo na próxima aula.

Curiosidades...

Page 49: Libras - nova revisão

49

O INES atende em torno de 600 alunos, da Educação Infantil até o Ensino Médio. A arte

e o esporte completam o atendimento diferenciado do INES aos seus alunos. O ensino

profissionalizante e os estágios remunerados ajudam a inserir o surdo no mercado de

trabalho. O Instituto também apóia o ensino e a pesquisa de novas metodologias para

serem aplicadas no ensino da pessoa surda e ainda atende a comunidade e os alunos

nas áreas de fonoaudiologia, psicologia e assistência social.

Toda esta história começou em 26 de setembro de 1857, durante o Império de D.

Pedro II, quando o professor francês Hernest Huet fundou, com o apoio do imperador

o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Huet era surdo. Na época, o Instituto era um

asilo, onde só eram aceitos surdos do sexo masculino. Eles vinham de todos os pontos

do país e muitos eram abandonados pelas famílias.

O Instituto funcionou em vários endereços: na Rua Municipal nº 08 (atual Rua

Maryrink Veiga), no Centro; na Ladeira do Livramento nº 29, no bairro da Saúde; no

Prédio do Campo da Aclamação nº 49 (atual Praça da República), também no Centro;

na rua Real Grandeza, s/nº (canto de São Joaquim), em Botafogo e finalmente na Rua

das Laranjeiras, 95 (atualmente 232).

Cumprimentos e saudações formais

A – BOM DIA!

B – BOM DIA!

A – VOCE LEMBRAR EU?

B – DESCULPA. EU ESQUECER. VOCE NOME COMPLETO?

A – MEU NOME COMPLETO A-N-T-O-N-I-O M-A-C-H-A-DO D-I-N-I-Z

B – AH, SIM! (expressão facial afirmativa). EU LEMBRAR VOCE! VOCE BEM?

A – SIM!(expressão facial afirmativa) EU BEM!

Compreendendo os sinais

Consultar no dicionário, os sinais usados para consideração, respeito ou solicitação:

Sinais: obrigado, nada, por favor ou licença, desculpa.

Saudações: bom dia, boa tarde, boa noite.

Tempo: manhã, tarde, noite, madrugada.

Verbos: lembrar, lembrar-não, esquecer.

Atividades Treine e pratique o dialogo acima. Como em qualquer outra língua, quanto mais

treino, mais facilidade na aprendizagem.

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Dica importante: embora seja possível expressar qualquer ideia em Libras, há casos em

que se usa o alfabeto manual como recurso, tais como nomes próprios, palavras sem

representação em Libras ou palavras que você não conhece o sinal em Libras.

Curiosidade...

A história da Feneis tem início no ano de 1977 com a Federação Nacional de Educação

e Integração dos Deficientes Auditivos (Feneida), organizada por profissionais ouvintes

da área para oferecer suporte aos surdos, uma vez que anteriormente não havia

participação ativa dos sujeitos surdos. E com isto os profissionais da Feneida, por falta

de experiência e de conhecimento, deixavam de fora muito da cultura surda, a língua

de sinais e os anseios da pessoa surda. Isso ocorria devido à falta de ‗voz‘ dos surdos

líderes presentes.

A demanda e a complexidade do trabalho levaram a diretoria a reestruturar o estatuto

da instituição, a fim de promover os avanços almejados pelo povo surdo. Então, em 16

de maio de 1987, foi organizada uma Assembléia Geral na qual foi designado o novo

nome da entidade, que posteriormente passou a chamar-se de Federação Nacional de

Educação e Integração dos Surdos (Feneis).

Hoje, a Feneis está presente em todo o país, através de seus 11 escritórios regionais e

119 entidades filiadas. Estas, formadas por associações de Surdos, de Pais e Amigos de

Surdos, Escolas e Clínicas especializadas.

A Feneis é filiada à Federação Mundial dos Surdos (FMS/WFD) e tem uma cadeira junto

ao Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE, ligado à

Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

Números cardinais e calendário

A – OI! VOCE J-O-S-E? (faz o sinal)

B – SIM, CERTO. (acena um ―sim, sim‖ com a cabeça e junto faz o sinal de ―certo‖)

A – VOCE IDADE?

B – EU IDADE 25.

A – VOCE NASCER ANO QUAL?

B – EU NASCER ANO 1985.

A – MES QUAL?

B – MES DEZEMBRO.

A – D-I-A QUAL?

B – D-I-A 31.

A – AH, SIM! (expressão facial de exclamação) VOCE NASCER SEGUNDA-FEIRA?

B – NAO, EU NASCER TERÇA-FEIRA.

A – LEGAL! HOJE QUARTA-FEIRA?

B – SIM. AMANHA QUINTA-FEIRA.

A – OBRIGADO!

B – NADA!

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Compreendendo os sinais

Consultar no dicionário as seguintes palavras:

Dias da semana: segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo.

Meses do ano: janeiro até dezembro.

Tempo: hoje ou agora, amanhã, ontem, anteontem, depois, passado, futuro.

Verbos e sinais: nascer, morrer, viver, ano, idade, qual, mês, certo, errado.

Procura no dicionário, ordem por assunto e assunto numeral/dinheiro.

Consultar os números 1 até 15 e os números 30, 40, 50, 100.

Atividades

Há sinais em Libras que são soletrações rítmicas. O sinal D-I-A, no sentido de

perguntar, é soletrado desta forma, isto é, um pouco mais rápido.

Pratique a soletração rítmica com nomes curtos, por exemplo, Ana, Eva, Lua, Lima, Eli,

Ari, Ivo, Ovo.

Pratique, respondendo em Libras:

1) Qual o número do seu telefone?

2) Qual a placa do seu carro?

3) Qual o número de sua casa?

4) Qual é o dia da semana é hoje?

5) E amanhã?

6) Ontem foi que dia?

7) E depois de amanhã, será qual dia?

Curiosidades...

Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris (originalmente Instituto Nacional de

Surdos-Mudos de Paris), é o nome da atual da escola mais famosa para Surdos,

fundada por Charles-Michel de L'Épée em 1760, em Paris, França.

Depois da morte de Père Vanin, em 1759, l'Épée foi apresentado a duas jovens Surdas

que precisavam de um tutor. A escola teve início em 1760 e pouco depois aberto ao

público, tornando-se a primeira escola gratuita para Surdos. Originalmente situava-se

numa casa na Rua Moulins, n.º 14, em Saint-Roch, Paris. Em 29 de Julho de 1991, a

legislação francesa aprovou que a escola se tornasse governamental, passando assim

ao seu atual nome, no original, "Institution Nationale des Sourds-Muets à Paris."

Page 52: Libras - nova revisão

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Números de quantidade e Família

A – BOA TARDE!

B – BOA TARDE!

A – VOCE CASAD@?

B – SIM! EU CASAD@.

A – VOCE TER FILH@S? QUANT@S?

B – EU TER FILH@ 1.

A – HOMEM MULHER? QUAL?

B – HOMEM. VOCE CASAD@?

A – NAO, EU SOLTEIR@.

B – VOCE IRM@S TER? QUANT@S?

A – EU TER IRM@S 4.

B – VOCE NASCER PRIMEIRO?

A – NAO, EU NASCER TERCEIRO.

B – OBRIGADO!

A – NADA!

Compreendendo os sinais Consultar no dicionário de Libras as seguintes palavras:

Pessoas: homem, mulher, bebê, criança, jovem, adulto, velh@.

Sinais de família: pai, mãe, filho, irmão, filho adotivo, avô, avó, sobrinho, tio,

tia, cunhado, sogro, sogra, genro, nora, primo, afilhado, padrasto.

Estado civil: casad@, solteir@, amante, companheir@, viúv@.

Relações sociais: amig@, inimig@, noiv@, namorad@.

Verbo TER: o verbo ter é usado para situações de possuir algo, sendo que seu

oposto é NÃO TER.

Números cardinais x números ordinais

Na Libras, os sinais cardinais e ordinais de 1 até 4 são diferentes para quantidades.

Verifique, consultando o dicionário de Libras as seguintes palavras: primeiro, segundo,

terceiro e quarto prestando atenção no contexto descrito na acepção e exemplo.

Números de quantidade:

Assim como no exemplo anterior, os números cardinais e os números de quantidade

de 1 até 4 também são diferentes. Consultar no dicionário, estando atento à que se

refere e aos exemplos.

Curiosidades

A família de surdos.

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Existe família de surdos onde tanto filhos surdos como filhos ouvintes, crescem num

ambiente em que a língua de sinais é a língua da família. Eles conversam nessa língua,

e para eles é normal ser surdo. Neste contexto há uma inversão da lógica social. Para

eles, os ouvintes não entendem os surdos. Porém, o mais comum é a grande maioria

dos surdos nascerem de famílias de pais ouvintes que nunca tiveram contato com a

surdez antes de terem um filho surdo. Para esses surdos, o encontro de um surdo com

outro surdo é muito importante, pois, é por meio deste contato que se estabelece a

aquisição da cultura surda. Há situações em que essas famílias, por desconhecimento,

têm uma visão medicalizada do surdo, isto é, surdez é ―doença‖; e tentam

―consertar‖ a surdez com métodos oralistas. Nesta situação há surdos que rejeitam a

Libras e o contato com surdos, entre outros fatores: por influência familiar, imposição

social ou da educação baseada no oralismo. Esses surdos se comportam tentando se

adaptar ao mundo dos ―ouvintes‖, comportamento esse conhecido com ―identidade

oculta‖, ou ―identidade mascarada‖. Thomas Alva Edison, o inventor da luz elétrica é

um exemplo de identidade oculta, pois, o mesmo era surdo; e, apesar disso, em muitas

enciclopédias, artigos e revistas ele não é citado como sendo surdo, talvez por

imposição social da época.

Informando seu endereço

A – OI! VOCE SUMIR!

B – OI! NÃO, CASA MUDAR!

A – VOCE MORAR ONDE?

B – EU MORAR R-I-O-D-E-J-A-N-E-I-R-O

A – CIDADE ONDE?

B – EU MORAR CIDADE R-I-O.

A – BAIRRO ONDE?

B – EU MORAR BAIRRO P-E-N-H-A.

A – RUA ONDE?

B – RUA PERTO A-V B-R-A-S-I-L.

A – EU CONHECER A-V B-R-A-S-I-L! VOCE MORAR MUITO LONGE!

Compreendendo os sinais

Consultar no dicionário de Libras as seguintes palavras:

Sinais para endereço: casa, prédio, apartamento, rua, avenida, cidade, estado.

Estados do Brasil: estados do Brasil mais conhecidos. (DF, SP, RJ, MG, PE)

Alguns países da América do Sul e outros ao redor do mundo.

Verbos: morar, mudar, aparecer, sumir.

Perto x Longe

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Na Libras, os advérbios perto e longe são representados por sinais distintos com

relação a intensidade, medida ou perspectiva. Consulte as palavras: perto, longe,

próximo, lado e outras dentro do contexto que você encontrar.

Curiosidades

Conversas entrecruzadas

Os surdos, quando em grupo, são capazes de estabelecerem uma conversa

entrecruzada entre si sem interferir umas nas outras. Isso acontece porque a língua de

sinais é uma língua visual, e como não há sons, é possível se comunicar numa roda

simultaneamente, o que não acontece com as línguas faladas. Contudo, os surdos não

podem ter pessoas na frente, pois, causa o chamado ―ruído visual‖. Por isso, quando

perceber que está no meio de uma conversa entre surdos, sempre que possível,

procure um lugar que não esteja obstruindo o campo de visão dos surdos. É um gesto

educado de dizer ao surdo que você de, mente aberta‖, aceita, participa e conhece a

cultura deles.

Uso dos números e documentação no cotidiano

Documentação pessoal em Libras

A – BOM DIA! SENHA POR FAVOR! VOCE J-O-S-E?

B – CERTO.

A – VOCE IDENTIDADE C-P-F TER?

B – EU TER.

A – POR FAVOR VOCE NOME COMPLETO ESCREVER PAPEL AGORA.

B – PAPEL PERGUNTAS EU RESPONDER, CERTO?

A – CERTO!

B – OBRIGADO!

A – NADA!

Compreendendo os sinais

Sinais de documentação

Devemos lembrar que antigamente o CPF chama-se CIC e, portanto, alguns surdos só o

reconhecem pela soletração de C-I-C, enquanto que a maioria conhece por C-P-F.

Agora consulte os sinais para documentação pessoal. Prestar atenção no contexto.

Identidade, título, carteira, documento e as palavras nascimento, casamento,

óbito (que juntas dizem certidão de...).

Sinais usados para informação: pronto, acabou, ainda, ainda não, falta.

Verbos: os verbos perguntar e responder se diferenciam no contexto de acordo

com a direção ao perguntar para alguém, ou alguém me perguntar; e,

Page 55: Libras - nova revisão

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responder para alguém, ou alguém me dar resposta. Consulte: perguntar e

responder.

Moedas e valores em Libras

A – OI!

B – OI! VOCE SAIR HOJE?

A – S-I-M HOJE EU IR BANCO.

B – POR QUE?

A – PORQUE EU PAGAR DIVIDA 9,00 REAIS PRECISO.

B – AH! ENTENDI! ABRAÇO.

A – ABRAÇO.

Compreendendo os sinais

Em libras, para se representar valores monetários de 1 até 9, usamos o sinal desse

número com a incorporação da vírgula, num movimento semicircular. Consulte os

valores para mil, cinco mil, um milhão.

Consultar os sinais em Libras usados no contexto monetário:

Dinheiro, cheque, banco, moeda, centavo.

Verbos: dever, dívida, pagar, juros, desconto, conta corrente, poupança.

Curiosidades...

Casa de família surda

Se você pensa que as residência dos surdos são silenciosas porque são surdos, saiba

que não é necessariamente assim. Exatamente por serem surdos é normal que eles

façam barulhos com móveis ao arrastar de um lugar para outro; ou ao chamarem a

atenção de outro surdo numa conversa; ou ainda às vezes o volume da TV está muito

alto e eles não perceberem. Isso, porque os sons não têm significação para os surdos.

Classificadores

Os classificadores são sinais usados para descrever formas e movimentos onde não é

possível definir um sinal próprio em Libras. Você aprenderá esses sinais quando entrar

em convivência com os surdos.

Considerações finais

Como você deve ter percebido ao longo do curso, os diálogos foram escritos na forma

como pensa o surdo. A formação dos sinais em Libras não segue o padrão do

Português. Por isso que a Libras está traduzida no Português em forma de glosa, uma

tradução mais próxima do significado do sinal. O surdo, apesar do esforço que faz para

escrever corretamente em língua portuguesa, ele tem como primeira língua a Libras.

Ao escrever para um surdo ou ler a escrita dele, tenha isso em mente. A mente do

surdo funciona como um banco de imagens associadas que ele organiza de uma forma

que, para os ouvintes, parece estar num sentido inverso em português.

Page 56: Libras - nova revisão

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que é Comunicação?

A Comunicação é entendida como a transmissão de estímulos e respostas provocadas,

através de um sistema completa ou parcialmente compartilhado.

Em relação aos seres humanos, desde a antiguidade, podemos afirmar que a

comunicabilidade representa um meio de entendimento e agente propulsor da

dimensão do homem em sociedade.

De acordo com Bordenave:

―A comunicação não existe por si mesma, como algo separado da vida em sociedade.

Sociedade e comunicação são uma coisa só. Não poderia existir comunicação sem

sociedade, nem sociedade sem comunicação. A comunicação não pode ser melhor que

sua sociedade nem esta ser melhor que sua comunicação. Cada sociedade tem a

comunicação que merece” (1982, p. 16-17)

A comunicação oral é a mais primordial de todas as linguagens humanas. Nas

civilizações antigas, a cultura dos povos era repassada através de gerações pelo ato de

falar. O contratempo maior, porém, era a falta de alcance. Como forma de expressão,

o homem antigo buscou na fixação de imagens uma maneira de vencer esta distância.

Surgem os pictogramas, que ligam a imagem aos objetos. Desenhos em pedras e

paredes de cavernas são as mais rudimentares e primitivas formas de comunicação

humana.

A evolução da comunicação é desencadeada pela própria necessidade humana. Da

representação gráfica, o homem empreende o conceito de idéia. A idéia foi a marca

fundamental do pensamento humano, atuando como entendimento de uma

determinada realidade. Do conceito de idéia, o homem passou a utilizar sons como

forma de expressá-las. A particularidade de cada som originou o conceito de letra,

elemento fundamental para o nascimento dos alfabetos, primeiro complexo de

comunicação criado pelo homem como maneira de entendimento de sua realidade.

De um modo geral, são três os elementos presentes em um processo de comunicação.

O modelo de R. Jakobson sintetiza:

O emissor cumpre o papel de produzir o elemento básico da comunicação, a

mensagem, que possui um conteúdo. A mensagem, necessariamente, insere-se dentro

de um contexto, uma realidade, e é representado por um código, conjunto de signos.

Barthes (1964, p. 43) define que o signo é composto de um significante e um

significado. Assim, o plano dos significantes representa a expressão e o dos

significados, o conteúdo.

O sistema de codificação é veiculado por meio de um canal de comunicação, que

estabelece um contato do emissor com o receptor, que é o elemento final do

processo. O receptor seleciona os signos por meio da percepção e os decodifica,

O

Page 57: Libras - nova revisão

57

incorporando-a a sua realidade, provocando uma reação interna e/ou externa, que

resulta na interação com o emissor.

Segundo Dias:

"O tempo, o espaço, o meio físico envolvente, o clima relacional, o corpo, os fatores

históricos da vida pessoal e social de cada indivíduo em presença, as expectativas e os

sistemas de conhecimento que moldam a estrutura cognitiva de cada ator social

condicionam e determinam o jogo relacional dos seres humanos"

(DIAS, Fernando Nogueira. Barreiras à comunicação humana)

A interatividade na comunicação pode ser considerada sob dois aspectos: linguagem

verbal e linguagem não-verbal. Na primeira, cabe ressaltar que o suporte da

interatividade está nos emissores e não no significado das palavras. É com base nos

emissores e em sua mensagem que permite a interpretação. Na linguagem não-verbal,

a interatividade é embasada no receptor e no modo como ele interpreta os

movimentos faciais (olhares) e corporais (gestos).

Funções da comunicação

Para que serve a comunicação? Percebemos anteriormente que ela criou-se e evoluiu

de acordo com a necessidade do ser humano. Bordenave (1982, p.46-47) oferece-nos

diversas situações que nos remetem ao uso da comunicação, portanto, suas funções:

função instrumental: satisfaz necessidades materiais ou espirituais do homem

(Ex: eu quero isto);

função informativa: dá uma nova informação (Ex: aconteceu isto);

função regulatória: controla comportamentos, ordenação (Ex: leia isto);

função internacional: relaciona-se com outras pessoas (Ex: eu amo você);

função de expressão pessoal: identifica e expressa o "eu" (Ex: sou contra isto);

função explicativa: explora o mundo dentro e fora da pessoa (Ex: por quê isto?);

função imaginativa: cria realidade (Ex: imagine isto);

De uma maneira geral, traduz "desejos, sentimentos, atitudes, juízos e expectativas"

(BORDENAVE, 1982, p.47).

De acordo com Garção e Aldrighi:

"Um dos princípios básicos da comunicação é a possibilidade de estabelecer um diálogo

que é constituído com base nas emoções, e que esta resulta da participação comum

das interações recorrentes, faz com que nos aproximemos de uma compreensão da

comunicação virtual que cada vez mais vem ocupando espaços na nossa realidade"

(ALDRIGHI, Tânia; GARÇÃO, João).

Page 58: Libras - nova revisão

58

A interação pode estar exemplificada no mais básico processo de comunicação: a

conversa. Bebchuk diz que "toda a conversação é um entrelaçamento de emoção e

linguagem" (BEBCHUK apud GARÇÃO & ALDRIGH, idem).

Elementos da Comunicação:

Codificar: transformar, num código conhecido, a intenção da comunicação ou

elaborar um sistema de signos;

Descodificar: decifrar a mensagem, operação que depende do repertório

(conjunto estruturado de informação) de cada pessoa;

Feedback: corresponde à informação que o emissor consegue obter e pela qual

sabe se a sua mensagem foi captada pelo receptor.

LINGUAGEM VERBAL: as dificuldades de comunicação ocorrem quando as palavras têm

graus distintos de abstração e variedade de sentido. O significado das palavras não

está nelas mesmas, mas nas pessoas (no repertório de cada um e que lhe permite

decifrar e interpretar as palavras);

LINGUAGEM NÃO-VERBAL: as pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os

movimentos faciais e corporais, os gestos, os olhares, a entoação são também

importantes: são os elementos não verbais da comunicação.

Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito de uma

cultura para outra e de época para época. A comunicação verbal é plenamente

voluntária; o comportamento não-verbal pode ser uma reação involuntária ou um ato

comunicativo propositado. Alguns psicólogos afirmam que os sinais não-verbais têm as

funções específicas de regular e encadear as interações sociais e de expressar emoções

e atitudes interpessoais.

expressão facial: não é fácil avaliar as emoções de alguém apenas a partir da

sua expressão fisionômica. Por vezes os rostos transmitem espontaneamente

os sentimentos, mas muitas pessoas tentam inibir a expressão emocional.

movimento dos olhos: desempenha um papel muito importante na

comunicação. Um olhar fixo pode ser entendido como prova de interesse, mas

noutro contesto pode significar ameaça, provocação.

Desviar os olhos quando o emissor fala é uma atitude que tanto pode transmitir

a idéia de submissão como a de desinteresse.

movimentos da cabeça: tendem a reforçar e sincronizar a emissão de

mensagens.

Page 59: Libras - nova revisão

59

postura e movimentos do corpo: os movimentos corporais podem fornecer

pistas mais seguras do que a expressão facial para se detectar determinados

estados emocionais. Por ex.: inferiores hierárquicos adotam posturas

atenciosas e mais rígidas do que os seus superiores, que tendem a mostrar-se

descontraídos.

comportamentos não-verbais da voz: a entoação (qualidade, velocidade e ritmo

da voz) revela-se importante no processo de comunicação. Uma voz calma

geralmente transmite mensagens mais claras do que uma voz agitada.

a aparência: a aparência de uma pessoa reflete normalmente o tipo de imagem

que ela gostaria de passar. Através do vestuário, penteado, maquiagem,

apetrechos pessoais, postura, gestos, modo de falar, etc., as pessoas criam uma

projeção de como são e de como gostariam de ser tratadas. As relações

interpessoais serão menos tensas se a pessoa fornecer aos outros a sua

projeção particular e se os outros respeitarem essa projeção.

Conclusão

Na interação pessoal, tanto os elementos verbais como os não-verbais são

importantes para que o processo de comunicação seja eficiente.

Na música Carinhoso, Pixinguinha sorri com os olhos. Já Carolina, musa de Chico

Buarque, guarda a dor de todo esse mundo‖ em seu olhar. Mas não é preciso ser poeta

para perceber que mãos, posturas, gestos e olhares passam mensagens, às vezes

contrárias às proferidas pela fala.

Charles Darwin publicou em 1872 um trabalho de enorme influência, "A expressão das

emoções no homem e nos animais". Porém, somente em 1960, estes estudos foram

valorizados e confirmados através de pesquisas, daí sua grande influência. A partir de

1970, com a publicação do livro de Julius Fast, sobre a linguagem do corpo, o público

começou a tomar conhecimento do assunto.

Ainda hoje, a grande maioria das pessoas ignora a existência da linguagem do corpo.

Os resultados das pesquisas mostram que o impacto total de uma mensagem é:

7% Verbal (apenas palavras escritas)

38% Vocal (incluindo tom de voz, inflexões e outros sons)

55% Não-Verbal. (gestos e movimentos)

Numa conversa frente a frente, o impacto é:

35% Verbal (palavras)

65% Não-Verbal (gestos e movimentos)

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A maioria dos pesquisadores concorda que o canal verbal é usado para transmitir

informações e o canal não-verbal é usado para negociar atitudes entre as pessoas e

como substituto de mensagem verbal.

Independente da cultura, palavras gestos e movimentos acontecem juntos. O ser

humano raramente está ciente de suas atitudes movimentos e gestos, os quais podem

contar uma história, enquanto sua voz está contando outra.

ATENÇÃO!

Quando a linguagem do corpo não está de acordo com a linguagem verbal, temos a

percepção da mentira. As mulheres são, geralmente, mais perceptivas que os homens.

Elas têm habilidade inata para captar e decifrar sinais não-verbais, além de possuírem

olho acurado para perceber detalhes e sentir mentiras.

Para Beltrami (1996), a comunicação se dá pela junção de quatro fatores. São eles:

relação, motivação, vida e processo. Esses fatores estão diretamente ligados como

complementos, fazendo com que os seres humanos se relacionem.

TEXTO ADAPTADO BASEADO NO TEXTO A comunicação não-verbal nas igrejas de

Limeira por Andréia Carolina Avi e outros.

Page 61: Libras - nova revisão

61

Gramática Aplicada IBRAS: Tópicos de Lingüística Aplicada: Fonologia, Morfologia e Sintaxe

Adriana Di Donato / Sandra Diniz

Os estudos pioneiros sobre a constituição da Língua de Sinais Americana (ASL) de

William Stokoe, em 1960, nos Estados Unidos marcam a história da comunicação

humana. Stokoe defende a ideia dos sinais como símbolos complexos e abstratos que

podem ser analisados em analisados em unidades menores (XAVIER, 2009, p. 10). A

partir destes princípios, o autor descreve três parâmetros da ASL: configuração de mão

(CM); locação (L) ou ponto de articulação (PA); e movimento (M). Com a contribuição

de novos estudos foram

incluídos outros elementos, como orientação de mão (Or) e expressões não-manuais

(ENM), de acordo com Karnopp e Quadros (2004). Segundo classificação adotada por

Felipe (2006), estes mesmos itens correspondem à direção (Dir) e à expressão facial e

corporal (EFC). No Brasil, os estudos sobre as línguas de sinais se iniciam na década de

1980, por Ferreira-Brito e Felipe, seguidos por Karnopp e Quadros. (FERREIRA-BRITO,

1995; QUADROS, KARNOPP, 2004; FELIPE, 2006).

A nomenclatura adotada para a língua de sinais usada por surdos brasileiros é bastante

variada. Encontramos na literatura especializada: Língua de Sinais dos Centros Urbanos

do Brasil (LSCB); Língua de Sinais Brasileira (LSB); Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS ou

Libras). A jurisdição federal, com a Lei de Libras, oficializa a terminologia como Língua

Brasileira de Sinais (Libras). (FELIPE, 1993, FERREIRA-BRITO, 1995; CAPOVILLA, 2001;

QUADROS, BRASIL, 2002; KARNOPP, 2004).

Além desta língua de sinais usada nos centros urbanos brasileiros, há o registro de

outra língua de sinais no Brasil, a Língua de Sinais Urubu-kaapor, de uma comunidade

indígena localizada na floresta amazônica, no norte do Maranhão. Os Kaapor ou

Urubu-kaapor compõe uma população com dez aldeias e calcula-se em cada setenta e

cinco ouvintes, haja um surdo. Calcula-se que hoje existam menos de dez Urubu-

kaapor surdos. De acordo com os estudos de Jim Kakumasu (2004), esta língua

diferencia-se da Língua de Sinais dos Índios da Planície Norte-americana, por ser intra-

tribal e não inter-tribal.

As modalidades de língua são espacial-visual e oral-auditiva. A modalidade espacial-

visual tem por seu canal de produção da língua dos sinais realizados com as mãos em

um determinado espaço, somados às expressões facial e corporal. Sua compreensão se

faz através do canal visual. Na literatura encontramos algumas variantes para esta

terminologia, a saber: viso ou visuo-espacial; gesto ou gestual-visual; e espaço-visual.

Assim, as línguas de sinais diferem-se das orais-auditivas, que apresentam seu canal de

L

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produção o fonatório (aparelho digestório e respiratório). O modo de compreensão da

língua é via canal auditivo (QUADROS, 1997).

As línguas de sinais são línguas naturais porque, como as línguas orais, sugiram

espontaneamente da interação entre pessoas e porque devido à sua estrutura

permitem a expressão de qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal,

metafórico, concreto, abstrato - enfim, permitem a expressão de qualquer significado

decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano. (FERREIRA-

BRITO, 1995, p. 02)

A principal diferença entre as línguas orais-auditivas e as espaço-visuais constam no

modo de organização da estrutura da língua. As línguas orais-auditivas são seqüenciais,

isto é, os fonemas se sucedem um após o outro. Já as línguas espaço-visuais são

simultâneas, pois os sinais possuem uma estrutura paralela, podendo-se sinalizar

utilizando várias partes do corpo ao mesmo tempo, inclusive modificando o sentido

com a expressão facial (QUADROS, KARNOPP, 2004).

Quadros e Karnopp (2004) apresentam alguns traços atribuídos às línguas naturais,

como: flexibilidade e versatilidade; arbitrariedade; descontinuidade;

criatividade/produtividade; dupla articulação; padrão e dependência estrutural. Todos

os acima traços encontram-se presentes nas línguas de sinais.

Klima e Bellugi (1979) apresentam em ASL a diferença entre pantomima e sinais

lingüísticos. Pantomima significa uma representação teatral, uma dramatização,

através de gestos naturais.

Em nosso estudo, tomaremos por base as proposições de Ferreira-Brito (1995; 1997),

Felipe (1988; 1993; 1997; 2006), Capovilla e Raphael (2001), Quadro e Karnopp (2004)

e Felipe e Monteiro (2005).

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que é Linguistica? “A matéria da Linguistica é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana” (Ferdinand de Saussure) Com as palavras do fundador da Linguistica moderna começamos a nossa busca pelo entendimento da Língua de Sinais. Saussure definiu o objeto da Linguistica a 'língua encarada em si mesma e por si mesma.' Quadros e Karnopp (2004) definem a Linguistica como o estudo científico das línguas naturais e humanas. Aristóteles e Platão divergiam quanto às palavras. O primeiro era convencionalista quando dizia que as palavras eram finitamente determinadas pelo homem. O segundo era naturalista, pois achava que a linguagem nasce com o homem. Com o olhar de Platão, entendemos que a faculdade da linguagem do homem é um componente da sua mente. Ou seja, a faculdade humana da linguagem é constituída por princípios e elementos comuns de todas as línguas humanas. A Gramática Universal busca caracterizar os princípios biologicamente determinados desta faculdade. As diferentes línguas existem em razão destes princípios. A Linguistica parte de pressupostos básicos que permitem investigações, citamos aqui pelo menos dois. Primeiro, a linguagem é restringida por regras que fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção da fala e segundo, essas regras são universais. 1) Pesquise o objeto de estudo das áreas da Linguistica que estudam os vários aspectos da linguagem humana como: fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. 2) Agora procure conhecer mais sobre as áreas interdisciplinares da Linguistica: sociolinguística, psicolinguística, Linguistica textual e análise do discurso. O que são as línguas naturais? “É simplesmente óbvio que os seres humanos podem inventar ou adquirir idiomas, caso contrário, não teria qualquer.” Stokoe (1960) Todas as línguas naturais revelam a natureza da linguagem humana. Mas qual a diferença entre língua e linguagem? Saussure diz: 'língua não se confunde com linguagem: é somente uma parte determinada, essencial dela”. Para estabelecer esta diferença existem traços atribuídos às línguas em geral:

flexibilidade e versatilidade; (uso da língua é variável: ordenar, pedir, avisar,

perguntar, etc.)

arbitrariedade; (no geral não há relação entre significante e significado)

descontinuidade; (pequenas diferenças na forma, pode gerar extremas

diferenças no significado)

criatividade; (é possível construir e compreender enunciados indefinidamente

diferentes)

dupla articulação; (organização em duas camadas: fonemas combinados geram

O

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morfemas)

padrão; (existem padrões morfológicos e sintáticos)

dependência estrutural; (presença de estruturas dependentes possibilitando

entendimento da sentença)

A partir destes traços, Quadros (2004) conclui: “língua é um sistema padronizado de sinais/sons arbitrários, caracterizados pela estrutura dependente, criatividade, deslocamento, dualidade e transmissão cultural.” Chomsky (1957) define língua natural como “um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos.” Saussure (1916) menciona: “a língua é uma convenção e a natureza do signo convencional é indiferente.” Portanto, surge a questão: A Libras pode ser encarada como língua natural dos surdos brasileiros? Stokoe (1960), provou que sim. Ele mostrou que as línguas de sinais atendia a todos os critérios linguísticos assumindo os pressupostos saussureanos de uma língua genuína. Ele apresentou os sinais como signos linguísticos complexos dotados de uma estrutura interior, que envolviam pelo menos três estruturas independentes: localização, configuração de mãos e o movimento. Ele inventou um sistema de notação escrita para os sinais, que levaria ao atual SignWriting. Os estudos de Stokoe foram o marco do estudo das Línguas de Sinais em todo o mundo. Antes dele, as definições de línguas naturais limitavam-se às línguas orais. A partir desses estudos novas investigações foram realizadas com respeito a estrutura, uso, aquisição e funcionamento dessas línguas. Portanto as línguas de sinais são consideradas línguas naturais do surdo e não como um problema destas pessoas ou uma patologia da linguagem. Para provarmos que a Língua de Sinais é uma língua natural vamos analisar 6 mitos que a cerca.

1. A língua de sinais não pode expressar conceitos abstratos, pois trata-se de

gestos e mímica.

Algumas pessoas acreditam que as língua de sinais é icônica, porém vários estudos comprovaram a abstração das línguas de sinais. Num estudo feito com a Língua Americana de Sinais (ASL), foi constatado que apenas 30% dos sinais são icônicos. Além disso, forças sociolinguísticas tendem a inutilizar a iconicidade dos sinais com o tempo. Com a língua de sinais, você pode falar sobre qualquer assunto desde futebol, política e religião até ciências, matemática e psicologia.

2. A língua de sinais é universal.

No Brasil os surdos se comunicam através da LIBRAS, mas existe ainda a LSKP, Língua de Sinais Kaapor Brasileira, usadas por índios no interior do país. Em Portugal fala-se a a Língua Gestual Portuguesa. Na Inglaterra, a BSL, nos EUA a

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ASL e assim por diante. Ou seja povos que falam a mesma língua oral geralmente falam diferentes línguas de sinais. Diferente da língua oral, no Brasil a Língua de Sinais tem sua influência na Língua de Sinais Francesa. Um surdo brasileiro dificilmente se comunicará no Japão utilizando a língua de sinais local. Além do mais, Num país continental como é o Brasil, encontramos vários surdos com dialetos conforme a localização geográfica das comunidades surdas.

3. A língua de sinais é inferior à língua oral, subordinada à ela e sem organização

gramatical própria.

As línguas de sinais são independentes das línguas faladas nos países onde são produzidas. O alfabeto manual é usado para soletrar apenas em situações específicas. Por possuírem estruturas gramaticais próprias a LIBRAS e a LGP, Língua Gestual Portuguesa, são diferentes mesmo sendo produzidas em países onde se fala o português. Na tentativa de colocar os sinais na estrutura falada criou-se a comunicação simultânea, um sistema artificial e inconveniente. Este sistema não é aceito pelas comunidades surdas.

4. A língua de sinais é restrita, permite apenas uma comunicação superficial.

Os surdos fazem poesias, piadas, produzem literatura sem limites de qualidade. Embora as línguas de sinais não tenham elementos de ligação, sua modalidade visual-espacial lhe dá a vantagem de maior expressividade em relação às línguas orais. Com a proibição da Língua de Sinais até mesmo na educação seu léxico não pôde se desenvolver, mas com a maior aceitação nos últimos tempos, estas línguas têm sofrido um grande desenvolvimento lexical em diversas áreas como a comunidade científica, esporte, tecnologias, etc.

5. A língua de sinais surge dos gestos espontâneos dos ouvintes.

Devido a proibição ao uso da língua de sinais e aos preconceitos linguísticos muitos acreditam ainda que esta afirmação é verdade. Porém se fosse assim estas formas de comunicação estaria ligada ao hemisfério direito do cérebro.

6. A língua de sinais não está representada no hemisfério esquerdo do cérebro,

responsável pela linguagem, mas no direito, responsável pelo processamento

da informação espacial.

Bellugi e Klima (1990) pesquisaram surdos com lesões nos hemisférios cerebrais. Os surdos com lesões no hemisfério responsável pelo processamento de informação espacial conseguiram processar todas as informações linguísticas visual-espaciais. Porém os surdos com lesões no hemisfério responsável pela linguagem não conseguiram fazer o mesmo. Portanto a linguagem humana independente da modalidade das línguas.

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A partir de agora iremos estudar detalhes sobre a estrutura da Língua de Sinais Brasileira, a Libras. Quadros e Karnopp (2004) Língua de Sinais Brasileira. Editora Artmed. Ferreira-Brito (1995) Por uma Gramática de Língua de Sinais. Tempo Brasileiro. UFRJ.

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istema de transcrição da língua de sinais. No nosso curso utilizaremos o sistema de transcrição para a LIBRAS, usado por Lucinda Ferreira Brito (1995). Os sinais são signos linguísticos produzidos no espaço, por isso para transcrevê-los usaremos as seguintes convenções.

Os sinais são representados por palavras portuguesas em letras maiúsculas.

Exemplo: CASA, BOLA.

Quando em português forem usadas mais de uma palavra para representar o

sinal separaremos as palavras por hífen. Exemplo: MEIO-DIA, PASSAR-UM-PELO-

OUTRO.

Quando estiver utilizando o alfabeto manual para soletrar palavras, as letras

serão separadas por hífen, como é o caso da datilologia e da soletração rítmica.

Exemplo: I-N-S-S, C-P-F, etc.

O sinal composto terá as palavras separadas pelo acento circunflexo. Exemplo:

CASA^CRUZ, CASA^ESTUDAR.

Nas desinências para gênero utilizaremos @. Exemplo: LIND@, EL@.

Os traços não manuais serão representados com a idéia logo acima do sinal.

Exemplo: NOMEinterrogativa, LONGEmuito.

Os verbos que possuem concordância de gênero através de classificadores são

representados com a pessoa, animal ou coisa em subscrito. Exemplo:

pessoaANDAR, carroANDAR.

Os verbos que possuem concordância número-pessoal e lugar com movimento

direcionado são representado com os seguintes símbolos:

i – ponto próximo a 1ª pessoa,

j – ponto próximo a 2ª pessoa,

k e k' - ponto próximo a 3ª pessoa,

e – esquerda,

d – direita,

1s, 2s e 3s – primeira, segunda e terceira pessoa do singular,

1d, 2d e 3d – primeira, segunda e terceira pessoa do dual,

1p, 2p e 3p – primeira, segunda e terceira pessoa do plural.

Exemplo: 2sPERGUNTAR3p – tu perguntas a eles/elas. KdANDARke – andar da

direita para esquerda.

Para marcar o plural com repetição do sinal usa-se o sinal +. Exemplo:

MULHER+.

Para referir-se à mão que faz o sinal usa-se: (me) – mão esquerda e (md) – mão

direita.

Para tradução para o português usa-se: “”.

Fonte: http://www.ines.gov.br/ines_livros/37/APENDICE37.HTM capturado às 13:39 de 31/08/2011

S

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onologia A fonologia tem como objeto de estudo identificar as unidades mínimas de som do sistema linguístico e as combinações possíveis entre essas unidades. Com este conceito era difícil estudar a fonologia da língua de sinais. A partir do estudos de Stokoe (1960), conhecemos o termo quirema, como unidade formacional dos sinais e quirologia, o estudo dos quiremas e seus possíveis padrões de combinações. Porém anos depois, o próprio Stokoe abandona estes termos e passa a usar fonema e fonologia respectivamente. Isto porque apesar das diferenças entre a fala e o sinal, as línguas de sinais possuem os mesmo universais linguísticos das línguas orais, fazendo delas línguas naturais. Nos estudos de Stokoe, percebeu-se que a maior diferença entre estas modalidades de línguas, seria a estrutura simultânea da organização dos fonemas. O autor decompôs os sinais em três fonemas, ou parâmetros: a Configuração de Mão, a Locação da Mão e o Movimento da Mão. Enquanto que as línguas orais os fonemas aparecem na ordem linear, nas línguas de sinais estes aparecem simultaneamente. Exemplo: Português: /ka//za/ e Libras: Configuração de Mão: duas palmas da mão aberta dedos unidos e distendidos, Locação da Mão: espaço neutro, Movimento da Mão: ausente, tudo feito ao mesmo tempo com os dedos médios das mãos encostados e as mão inclinadas imitando o telhado de uma casa simples. Análises posteriores ao modelo de Stokoe feitas por Battison (1974,1978), mostraram a necessidade de mais dois parâmetros: Orientação da Mão e Aspectos não-manuais. Desta forma nos últimos 40 anos, os fonologistas procuraram estabelecer os fonemas ou unidades formacionais dos sinais e os aspectos contrastivos dessas unidades, detalhando aspectos fonológicos e discutindo modelos propostos para as línguas naturais. Fonologia da Libras Os articuladores da Libras são as mãos movimentadas em frente ao corpo e em determinadas locações nesse espaço. O sinal pode ser articulado com uma ou as duas mãos ao mesmo tempo. Se forem articulados com uma mão esta será a sua mão dominante, direita para os destros e esquerda para os canhotos. A Libras é produzida pelas mão e expressões faciais e corporais. Seus fonemas, ou parâmetros fonológicos são:

CM – Configuração de Mão

L – Locação

M – Movimento

OM – Orientação da Mão

ENM – Expressões não-manuais

Quando mudamos um deste parâmetros mudamos o sinal. Exemplo: Pedra e Queijo, Trabalhar e Vídeo, Aprender e Laranja, Precisar e Poder, etc. Portanto as línguas de sinais tem uma estrutura dual, unidades com significado, morfemas e sem significado,

F

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fonemas. Esta é uma prova da abstração e universalidade da estrutura fonológica das línguas naturais. Configuração de Mão A Língua de sinais apresenta 46 Configurações de Mão segundo Brito (1995). Porém hoje já se conseguiu apresentar mais de 60 configurações. Segue abaixo as Configurações propostas por Brito (1995).

Movimento O objeto que se movimenta é a mão do enunciador e o espaço é a área em torno do corpo do enunciador. Mudanças no movimento diferenciam os sinais quanto ao significado, classe gramatical, direcionalidade e tempo verbal. Estes movimentos podem estar nos pulsos, mãos e antebraço; podem ser unidirecionais, bidirecionais ou multidirecionais; as maneiras do movimentos podem se diferenciar quanto a qualidade, tensão e velocidade, a frequência tem a ver com o número de repetições do movimento.

Tipo

Contorno Contato Pulso Interno das mãos

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Tipo

Retilíneo Ligação Rotação Abertura

Helicoidal Agarrar Refreamento Fechamento

Circular Deslizar Dobrar para cima Curvamento

Semicircular Tocar Dobrar para baixo Dobramento simultâneo

Sinuoso Esfregar Dobramento gradativo

Angular Riscar

Pontual Escovar ou pincelar

Direcionalidade

Unidirecional Bidirecional

Para cima Para o centro Para cima e para baixo

Para baixo Para o lado inf./sup.

esquerdo

Para esquerda e direita

Para a direita Para o lado inf./ sup. direito Para dentro e para fora

Para a esquerda Para um ponto referencial Para laterais opostas na diagonal

Para dentro

Para fora

Maneira: contínuo, de retenção ou refreado. Frequência: simples ou repetido. Wilbur (1987) sugeriu dividir este parâmetro em dois: Movimento de Direção e Movimento Local ou movimento interno da mão. Locação É a área do corpo em que o sinal é articulado, envolve o raio de alcance das mãos em que os sinais são articulados. Temos uma descrição das locações de mão da Língua de Sinais segundo Brito (1995). Elas podem estar na cabeça, tronco, mão e no espaço neutro.

Cabeça

Topo superior do rosto olhos bochechas

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Cabeça

Testa inferior do rosto nariz queixo

Rosto orelha boca

Tronco

Pescoço estômago braço pulso

Ombro cintura antebraço

Busto braços cotovelo

Mão

Palma lado do mínimo mínimo indicador

Costas dedos anelar polegar

lado do indicador ponta dos dedos médio

Alguns autores mostram distinções para locação principal (cabeça, tronco, mão passiva e espaço neutro) e subespaço (nariz, boca, olhos, testa, etc.). Estes últimos são subcategorizados pelas locaões principais. Por isso se um movimento de direção ocorre, temos dois subespaços ligados a uma locação principal e, portanto, todo sinal tem apenas uma locação principal. Orientação da mão Stokoe não considerou a Orientação da mão como um parâmetro. Porém autores argumentaram na inclusão deste parâmetro, devido a existência de pares mínimos de sinais em virtude da mudança deste parâmetro. Este parâmetro se refere a direção da palma da mão durante o sinal. Pode ser para cima, para baixo, para frente, para o corpo, para a direita ou para a esquerda. Expressões não manuais Estas expressões marcam a função sintática de interrogação, orações relativas, topicalizações, concordância e foco. Também fazem referência específica, pronominal, de negação, advérbio, grau e aspecto. Estudaremos estes detalhes mais a frente. Estas expressões podem ocorrer simultaneamente. Segue abaixo a identificação de Brito (1995) das expressões não-manuais.

Cabeça

Balançar para frente e para trás (sim) Inclinar para o lado

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Cabeça

Balançar para os lados (não) Inclinar para trás

Inclinar para frente

Rosto

Sobr.franzidas Sobr. levantadas Bochec. Dir. inflada Lábios contr. e proj. Sobr. franzidas

Olhos arregalados Bochec.infladas Contração lábio sup. Correr da língua inf. int. bochecha

Lance de olhos Bochec. contraídas Franzir do nariz

Tronco

Para frente ou para trás

Balanceamento alternado dos ombros

Balanceamento simultâneo dos ombros

Balanceamento de um único ombro

Cabeça e Rosto

Cabeça para frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas

Cabeça para trás e olhos arregalados

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Os Processos de Formação de Palavras na LIBRAS Os livros sobre as gramáticas das línguas geralmente trazem uma parte sobre os processos de formação de palavras. Na LIBRAS, os sinais são formados a partir da: configuração de mãos, movimento, orientação e ponto de articulação, estes parâmetros já foram mencionados. Estes parâmetros podem ser comparados a “pedacinhos” de um sinal porque às vezes eles têm significados e, através de alterações em suas combinações, eles formam os sinais. Portanto: a) a configuração de mãos, pode ser um marcador de gênero (animado: pessoa e animais / inanimado: coisas). Exemplo: PESSOA CL:Gk CARRO CL5k, k’VEÍCULOCOLIDIRk “O carro bateu em uma pessoa”; b) o ponto de articulação pode ser uma marca de concordância verbal com o advérbio de lugar. Exemplo: MESAi COPO objeto-arredondado-COLOCARi “eu coloco o copo na mesa”; c) o movimento pode ser uma raiz. Exemplos: IR, VIR, BRINCAR. A alteração na freqüência do movimento, pode ser uma marca de aspecto temporal: TRABALHAR-CONTINUAMENTE; de modo: FALARDEMASIADAMENTE, ou um intensificador: TRABALHAR-MUITO; d) a orientação pode ser uma concordância número-pessoal. Exemplos: 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você” 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”; ou um advérbio de tempo. Exemplos: ANO e ANO-PASSADO. Fazendo uma paralelo destes parâmetros que, às vezes, como foi mostrado, podem ter um significado, com alguns fonemas da língua portuguesa, que podem também ter um significado, teremos: (1) os artigos definidos: a e o. Exemplos: a menina, o menino; (2) , as desinências de gênero e plural. Exemplos: menina, casas. Na LIBRAS, portanto, os processos de formação de palavras podem ocorrer através de: 1. Modificações por adição à raiz: uma raiz pode ser modificada através da adição de afixos. Por exemplo, a incorporação da negação é um processo de modificação por adição à raiz porque:

como sufixo, ela se incorpora em alguns verbo: a raiz, que possui um determinado movimento em um primeiro momento, finaliza-se com um movimento contrário, que caracteriza a negação incorporada; como nos verbos: QUERER / QUERER-NÃO; GOSTAR / GOSTAR-NÃO2;

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como infixo, ela se incorpora simultaneamente `a raiz através do movimento ou expressão corporal: TER / TER-NÃO; PODER / PODERNÃO.

A negação, além de poder ocorrer através destes processos morfológicos, pode também ocorrer sintaticamente porque, através dos advérbios ‘NÃO’ E ‘NADA’, pode-se construir uma frase negativa, como no exemplo: EU INGLÊS SABER NÃO, ENTENDER NADA “eu não sei inglês, não entendo nada”. Há, ainda, a incorporação do intensificador: “muito” ou de advérbios de modo, que alteram, também, o movimento da raiz. 2. Modificação interna da raiz: uma raiz pode ser modificada por três tipos de acréscimo: a) o da flexão que, através da direcionalidade, marca as pessoas do discurso, fazendo com que a raiz se inverta ou até adquira uma forma em arco3; b) o acréscimo do aspecto verbal que, através de mudanças na freqüência do movimento da raiz marcam os aspectos durativo, contínuo, etc; c) o acréscimo de um marcador de concordância de gênero que, através de configurações de mãos (classificadores), especifica a coisa: objeto plano vertical/horizontal, redondo, etc 3. Processos de derivação Zero: na LIBRAS, como a língua inglesa, há muitos verbos denominais ou substantivos verbais que são invariáveis e somente no contexto pode-se perceber se estão sendo utilizados com a função de verbos ou de nome. Exemplos: AVIÃO / IR-DE-AVIÃO; CADEIRA / SENTAR; FERRO / PASSAR-COM-FERRO; PORTA / ABRIR-PORTA; BRINCADEIRA / BRINCAR; TESOURA / CORTAR-COM-TESOURA; BICICLETA / ANDAR-DE-BICICLETA; CARRO / DIRIGIR-CARRO; VIDA / VIVER, etc. Alguns destes pares, quando possuem uma marca de concordância com o objeto, apresentam uma estrutura OiVi , como o verbo CORTAR-COMTESOURA; ou apresentam uma diferença em relação ao parâmetro movimento, como os verbos IR-DE-AVIÃO, que apresenta um movimento mais alongado, em relação ao substantivo AVIÃO, e PASSAR-COM-FERRO, que apresenta um movimento mais repetido e alongado, em oposição ao movimento repetido e retido para o nome FERRO. 4. Processos de composição: neste processo de formação de palavra duas ou mais raízes se combinam e dão origem a uma outra forma, um outro sinal. Exemplos: CAVALO^LISTRA-PELO-CORPO “zebra” ; MULHER^BEIJO-NA MÃO “mãe” CASA^ESTUDAR “escola”; CASAR^SEPARAR “divorciar”; COMER^MEIO-DIA “almoço”; etc. Pode-se concluir do exposto que, independentemente da modalidade de língua, as categorias gramaticais e os processos de formação de palavras de uma determinada língua apontarão para a sua classificação enquanto língua de um determinado tipo, a partir de seus processos mais produtivos.

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As Categorias Gramaticais na LIBRAS As categorias gramaticais ou parte do discurso são os paradigmas ou classes de palavras de uma língua. Todas língua possui palavras que são classificadas como fazendo parte de um tipo, classe ou paradigma em relação as seus aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. Assim, na língua portuguesa, por exemplo, os substantivos são palavras que possuem desinência de gênero e número, são as palavras-chave de um sintagma nominal que pode ter a função de sujeito ou de objeto. Embora todas as línguas não possuam as mesmas classes gramaticas e muitas línguas não possuem algumas, isso não implica carência ou inferioridade, as línguas tem formas diferenciadas para expressar os conceitos. Por exemplo, na LIBRAS não há artigos, em inglês somente este uma forma para artigo definido: “the”. As outras categorias, que existem na língua portuguesa, também existem na LIBRAS. Verbo na LIBRAS Basicamente na LIBRAS, há dois tipos de verbo: a) verbos que não possuem marca de concordância b) verbos que possuem marca de concordância. Quando se faz uma frase com verbos do primeiro grupo, é como se eles ficassem no infinitivo, por exemplo: (1) EU TRABALHAR FENEIS “eu trabalho na FENEIS”; (2)EL@ TRABALHAR FENEIS “ele/a trabalha na FENEIS”; (3) EL@ TRABALHAR FENEIS “eles/as trabalham na FENEIS. Os verbos do segundo grupo podem ser subdivididos em: 1. Verbos que possuem concordância número-pessoal: a orientação marca as pessoas do discurso. O ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto. Exemplos: (4) 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”; (5) 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta” 2. Verbos que possuem concordância de gênero: são verbos classificadores porque a eles estão incorporados, através da configuração de mão, uma concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL ou COISA. Exemplos: (6) pessoaANDAR (configuração da mão em G); (7) veículoANDAR/MOVER (configuração da mão em 5 ou B, palma para baixo) (8) animalANDAR (configuração da mão em 5 ou 5, palma para baixo); 3. Verbos que possuem concordância com a localização: são verbos que começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado,etc. Portanto o ponto de articulação marca a localização. Exemplos: (9) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk;

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(10) CABEÇAk ATIRARk. Estes tipos de concordância podem coexistir em um mesmo verbo. Assim, há verbos que possuem concordância de gênero e localização, como o verbo COLOCAR acima; e concordância número-pessoal e de gênero, como o verbo DAR. Concluindo, pode-se esquematizar o sistema de concordância verbal, na LIBRAS, da seguinte maneira: 1. concordância número-pessoal => parâmetro orientação 2. concordância de gênero e número => parâmetro configuração de mão 3. concordância de lugar => parâmetro ponto de articulação Classificador na LIBRAS Nas línguas do mundo as classificações podem se manifestam de várias formas. Podem ser:

uma desinência, como em português, que classifica os substantivos e os adjetivos em masculino e feminino: menina - menino;

pode ser uma partícula que se coloca entre as palavras;

e ainda pode ser uma desinência que se coloca no verbo para estabelecer concordância.

Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa como, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras, etc isso representa um tipo de classificação porque é uma adjetivação descritiva, mas isso não quer dizer que seja, necessariamente, um classificador como se vem trabalhando este conceito nos estudos linguísticos. Para os estudiosos deste assunto, um classificador é uma forma que existe em número restrito em uma língua e estabelece um tipo de concordância. Na LIBRAS, os classificadores são configurações de mãos que, relacionadas à coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância. Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal, exemplos: (11) COPO MESAk coisa arredondadaCOLOCARk; (12) 2 CARRO veículoANDAR-UM-ATRÁS-DO-OUTRO (md) veículoANDAR (me) (13) M-A-R-I-A A-L-E-X pessoaPASSAR-UM-PELO-OUTRO (md) pessoaPASSAR (me) Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos

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que, nas línguas de sinais, por estas serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA, que é a característica dos classificadores na LIBRAS, como também em outras línguas orais e de sinais. Advérbios de tempo Na LIBRAS não há marca de tempo nas formas verbais, é como se os verbos ficassem na frase quase sempre no infinitivo. O tempo é marcado sintaticamente através de advérbios de tempo que indicam se a ação está ocorrendo no presente: HOJE, AGORA; ocorreu no passado: ONTEM, ANTEONTEM; ou irá ocorrer no futuro: AMANHÃ. Por isso os advérbios geralmente vem no começo da frase, mas podem ser usados também no final. Para um tempo verbal indefinido, usa-se os sinais:

HOJE, que traz a idéia de “presente”;

PASSADO, que traz a idéia de “passado”;

FUTURO, que traz a idéia de futuro. Adjetivos Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na LIBRAS e sempre estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca para gênero (masculino e feminino), em para número (singular e plural). Muitos adjetivos, por serem descritivos e classificadores, apresentam iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a partir do objeto ou do corpo do emissor. Em português, quando uma pessoa se refere a um objeto como sendo arredondado, quadrado, listrados, etc está, também, descrevendo e classificando, mas na LIBRAS esse processo é mais “transparente” porque o formato ou textura são traçados no espaço ou no corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida pela modalidade da língua. Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o substantivo que qualifica. Exemplos: (14) PASSADO EU GORD@ MUITO-COMER, AGORA EU MAGR@ EVITAR COMER (15) LEÃ@ COR CORPO AMAREL@ PERIGOS@ (16) RAT@ PEQUEN@, COR PRET@, ESPERT@

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Pronomes na LIBRAS Pronomes pessoais A LIBRAS possui um sistema pronominal para representar as pessoas do discurso:

primeira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EU; NÓS-2, NóS-3, NÓS-4, NÓS-GRUPO, NÓS-TOD@;

segunda pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): VOCÊ, VOCÊ-2, VOCÊ-3, VOCÊ-4, VOCÊ-GRUPO, VOCÊ-TOD@;

terceira pessoa (singular, dual, trial, quatrial e plural): EL@, EL@-2, EL@-3, EL@-4, EL@-GRUPO, EL@-TOD@

No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, ou seja, a configuração da mão predominante é em “d” ( dedo indicador estendido, veja alfabeto manual), o que difere uma das outras é a orientação da mão: o sinal para “eu” é um apontar para o peito do emissor (a pessoa que está falando), o sinal para “você” é um apontar para o receptor (a pessoa com quem se fala) e o sinal para “ele/ela” é um apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencionado para uma terceira pessoa que está sendo mencionada. No dual, a mão ficará com o formato de dois, no trial o formato será de três, no quatrial o formato será de quatro e no plural há dois sinais: um sinal composto formado pelo sinal para a respectiva pessoa do discurso, no singular, mais o sinal GRUPO; e outro sinal para plural que é feito pela mão predominante com a configuração em “d” fazendo um círculo. Como na língua portuguesa, na LIBRAS, quando uma pessoa surda está conversando, ela pode omitir a primeira pessoa e a segunda porque, pelo contexto, as pessoas que estão interagindo sabem a qual das duas o verbo está relacionado, por isso, quando estas pessoas estão sendo utilizadas pode ser para dar ênfase à frase. Quando se quer falar sobre uma terceira pessoa que está presente, mas deseja-se uma certa reserva, por educação, não se aponta para esta pessoa diretamente. Nesta situação, o emissor faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça para a direção da pessoa que está sendo mencionada, ou aponta para a palma da mão encontrando o dedo na mão um pouco à frente do peito do emissor, estando esta mão voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida. Pronomes demonstrativos e advérbios de lugar Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar têm o mesmo sinal, somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de expressão facial. Este tipo de pronome e de advérbio estão relacionados às pessoas do discurso e representam, na perspectiva do emissor, o que está bem próximo, perto e distante. Estes pronomes ou advérbios têm a mesma configuração de mãos dos pronomes pessoais (mão em d), mas os pontos de articulação e as orientações do olhar são diferentes.

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Assim, EST@ / AQUI é um apontar para o lugar perto e em frente do emissor, acompanhado de um olhar para este ponto; ESS@ / AÍ é um apontar para o lugar perto e em frente do receptor, acrescido de um olhar direcionado não para o receptor , mas para o ponto apontado perto segunda pessoa do discurso; e AQUELE / LÁ é um apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira pessoa, mas diferentemente do pronome pessoal, ao apontar para este ponto há um olhar direcionado: EU olhando para o receptor EST@ / AQUI olhando para o lugar apontado, perto do emissor (perspectiva do emissor) VOCÊ olhando para o recptor ESS@ / AÍ olhando para o lugar apontado, perto da 2a. pessoa (perspectiva do emissor) EL@ olhando para o receptor AQUEL@ / LÁ olhando para o lugar convencionado para 3a pessoa ou coisas afastadas Como os pronomes pessoais, os pronomes demonstrativos também não possuem marca para gêneros masculino e feminino e, por isso, está ausência, ou neutralidade, está sendo assinalada pelo símbolo @. Pronomes possessivos Os pronomes possessivos, como os pessoais e demonstrativos, também não possuem marca para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não à coisa possuída, como acontece em português:

EU => ME@ SOBRINH@;

VOCÊ => TE@ ESPOS@;

EL@ => [email protected]@ Para a primeira pessoa: ME@, pode haver duas configurações de mão: uma é a mão aberta com os dedos juntos, que bate levemente no peito do emissor; a outra é a configuração da mão em P com o dedo médio batendo no peito. Para as segunda e terceira pessoas, a mão tem esta segunda configuração em P, mas o movimento é em direção à pessoa referida: segunda ou terceira. Não há sinal específico para os pronomes possessivo no dual, trial, quadrial e plural (grupo), nestas situações são usados os pronomes pessoais correspondentes. Exemplo: NÓS FILH@ “nosso(a) filho(a)”

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Tipos de Frases na LIBRAS As línguas de sinais utilizam as expressões faciais e corporais para estabelecer tipos de frases, como as entonações na língua portuguesa, por isso para perceber se uma frase em LIBRAS está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa, negativa ou imperativa, precisa-se estar atento às expressões facial e corporal que são feitas simultaneamente com certos sinais ou com toda a frase, exemplos:

FORMA AFIRMATIVA: a expressão facial é neutra (45) Meu nome M-A-R-I-A.

FORMA INTERROGATIVA: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima.

(46) NOME QUAL? (expressão facial interrogativa feita simultaneamente ao sinal QUAL) (47) NOME? (expressão facial feita simultaneamente com o sinal NOME)

FORMA EXCLAMATIVA: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima e para baixo. Pode ainda vir também com um intensificador representado pela boca fechada com um movimento para baixo.

(48) EU VIAJAR RECIFE, BOM! BONIT@ LÁ! CONHECER MUIT@ SURD@

FORMA NEGATIVA: a negação pode ser feita através de três processos: a) com o acréscimo do sinal NÃO à frase afirmativa: (49) BLUSA FEI@ COMPRAR NÃO; b) com a incorporação de um movimento contrário ao do sinal negado: (50) GOSTAR-NÃO CARNE, PREFERIR FRANGO, PEIXE; (51) EU TER-NÃO TTD; c)com um aceno de cabeça que pode ser feito simultaneamente com a ação que está sendo negada ou juntamente com os processos acima: (52) EU VIAJAR PODER

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Libras no contexto previdenciário Ao pensarmos nos surdos como segurados da previdência social, percebemos que não estávamos acessíveis a eles num determinado momento. Primeiro, tínhamos barreiras atitudinais e, por último, barreiras de comunicação. Ao longo de nossas discussões nesta capacitação, percebemos que estas barreiras foram sendo suprimidas. Agora, surge uma pergunta: existem sinais para o vocabulário previdenciário? Na verdade, não existiam sinais específicos para os termos técnicos que muitos de nós usamos. Daí como cobrir eventos de doença, invalidez, morte, idade avançada, maternidade, desemprego involuntário e prisão quando o nosso cidadão-usuário é surdo? Estes segurados têm cultura, comunicação e necessidades próprias. Portanto o INSS resolve integrar o quadro de servidores às comunidades surdas, numa proposta de instrumentalização do uso de Libras para proporcionar excelência no atendimento, tendo em vista o cumprimento do Decreto 5.296 de 02/12/04. Iniciamos uma pesquisa lingüística na LIBRAS para termos previdenciários. Contando com a ajuda da comunidade surda interna, conseguimos elaborar alguns sinais para idéias como Aposentadorias, Auxílios, Salário Maternidade, salário-família, Pensões, Pecúlios, Serviço Social e Reabilitação Profissional. Ainda analisamos outros termos como empregado, empregado doméstico, contribuinte individual, segurado especial, trabalhador avulso e segurado facultativo. Imaginemos um ambiente de APS, que tipo de serviço o surdo buscaria? O Benefício Assistencial ao portador de deficiência? Não só o BPC. O surdo pode requerer qualquer serviço quando ele se torna segurado obrigatório. Tentamos visualizar as situações em que os surdos procurariam os serviços da APS e quando fariam isso. Pensamos em como passar as informações a estas pessoas de maneira segura. Para finalizar, fica esta mensagem reflexiva: “A surdez, e a conseqüente mudez, são confundidas com uma inferioridade de inteligência. É verdade, porém, que a ausência da linguagem influi profundamente no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Felizmente, o deficiente auditivo pode aprender a se comunicar utilizando a língua dos sinais, ou a própria língua falada.” Você já atendeu uma pessoa surda? Se você fosse atender como você faria? Que estratégias você usaria para se tornar acessível ?

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Atendimento Quando estamos no atendimento numa APS, percebemos algumas rotinas básicas de atendimento. Por exemplo, talvez você já tenha decorado alguns procedimentos como cumprimentar o segurado, solicitar os seus documentos pessoais e pedir que ele assine algum documento. Começaremos então nossa unidade, tentando imaginar situações específicas de atendimento e pensar como nós poderíamos resolvê-las. Para que a comunicação seja nossa aliada e não nossa inimiga, vamos analisar passo a passo cada situação e pensar como resolver estas situações-problema usando Libras. Usaremos uma linguagem simples, para que possamos nos aproximar da realidade o máximo possível. Vamos começar! Como nos sair nas seguintes situações? Eu quero me aposentar. Eu vim requerer o salário maternidade. Eu quero requerer pensão, minha esposa faleceu. Eu quero me aposentar (o agendamento é de um BPC). Eu quero levar meu tempo de serviço no shopping para o estado. Meu marido foi preso. Eu preciso de um auxílio-reclusão. Eu estou doente. Preciso de auxílio-doença. Eu gostaria de ver como estão minhas contribuições no INSS. O meu endereço na carta do benefício está errado, eu quero que você corrija. Eu quero cadastrar a senha da internet para consultar minhas contribuições em casa.

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Requerimento de 30, 45 e 60 minutos Estes benefícios envolvem aposentadoria, pensão, salário maternidade, benefício assistencial, auxílio reclusão e auxílio doença. Recepcionando Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu quero me aposentar. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e CTPS. Estão aqui. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu vim requerer o salário maternidade. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e CTPS e o Registro de Nascimento de seu filho. Eu não tenho CTPS. Você trabalha de quê? Eu sou agricultora. Então, eu preciso de uma declaração do sindicato. Estão aqui. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu quero requerer pensão, minha esposa faleceu. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e Certidão de casamento. Da sua esposa, eu vou precisar de identidade, CPF e CTPS. Minha esposa trabalhava como autônoma. Certo. Você tem algum carnê pago? Sim, estão aqui. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu quero me aposentar. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e CTPS. Estão aqui. O benefício que você agendou é um benefício assistencial. Você preencheu o requerimento? Sim, está aqui. Você trouxe os documentos pessoais dos membros do seu grupo familiar? Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Meu marido foi preso. Eu preciso de um auxílio-reclusão. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e Certidão de casamento. Do seu marido, eu vou precisar de identidade, CPF, CTPS e uma certidão informando o regime de prisão dele. Estão aqui.

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Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu estou doente. Preciso de auxílio-doença. Certo. Eu preciso de seus documentos, identidade, CPF e CTPS. Eu não tenho CTPS. Você trabalha de quê? Eu sou autônomo. Contribuinte Individual Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu vou começar a trabalhar e quero pagar o INSS. Certo. Você vai trabalhar de que? Eu vou trabalhar vendendo lanche na escola perto da minha casa. Quanto eu preciso pagar? Você pode pagar 20% do seu salário, se for o salário mínimo daria R$ 102. Não tem um mais barato, não? Tem o Plano Simplificado de previdência. Você paga apenas 11% do salário mínimo e tem direito a todos os benefícios previdenciários, com exceção apenas da Aposentadoria por tempo de serviço. Mas quanto é 11% do salário mínimo? R$56,10 Tudo bem. Eu quero este. Certo. Eu vou precisar de seus documentos de identidade, CPF, CTPS e comprovante de residência. (Depois de incluir o NIT no CADPF continue) Você já tem o carnê? Sim, está aqui. No campo identificador você escreve o seu NIT, que está na sua CTPS. No campo código de pagamento, você escreve 1163 que corresponde ao recolhimento mensal de 11%. Entendi, obrigado. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu estou com meu carne de pagamento atrasado e gostaria que você calculasse os atrasados. Tudo bem, eu preciso de seu carnê. (Depois de calcular os atrasados) Você deve pagar até o dia 15 do mês seguinte para não atrasar os recolhimentos. Você deve pagar hoje o valor de R$59,16. Certo. Obrigado.

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Atendimento Simples de 10 minutos Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu vim dar entrada num salário maternidade. Pode ser hoje? Eu preciso ver primeiro a nossa agenda. Espere um pouco. Hoje não pode, mas eu tenho vaga para amanhã às 10 horas da manhã e segunda-feira às três horas da tarde. O que você prefere? Eu quero amanhã. Você precisa trazer os documentos desta lista e chegar na hora certa ou um pouco antes, está certo? Certo, obrigado. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu gostaria de ver como estão minhas contribuições no INSS. Você pode mostrar sua CTPS? Sim, posso. Pronto, está aí. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? O meu endereço na carta do benefício está errado, eu quero que você corrija. Você tem o comprovante de residência correto? Sim, está aqui. Pronto, já corrigi. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu quero cadastrar a senha da internet para consultar minhas contribuições em casa. Você trouxe a identidade? Sim está aqui. Digite a senha. Pronto, algo mais? Não, obrigado. Administração de Benefício por Incapacidade 15 minutos Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Meu benefício acaba dia 10, eu quero marcar outra perícia médica. Certo, eu vou marcar um PP. Caiu no dia 9, às 10h20min horas. Você pode vir? Posso. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu não vou poder comparecer amanhã no exame médico. Eu quero remarcar, pode? Pode sim, você poderia vir sexta-feira às 09h30min horas? Sim, eu posso. Então está marcado, este é o seu comprovante. Obrigado, tchau. Tchau.

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Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu gostaria de saber o resultado da perícia médica que eu fiz terça-feira. Espere um pouco. Foi indeferido. E agora, o que eu faço? Você pode entrar com recurso ou voltar pro trabalho. Eu vou pensar depois eu volto. Tchau. Tchau. Atualização Simples 15 minutos Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Meu benefício foi cessado por falta do CPF. Eu vim reativá-lo. Eu preciso da sua identidade e do seu CPF. Estão aqui. Pronto já foi reativado. Obrigado, tchau. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Bom dia! Eu vim cadastrar uma procuração. Certo eu preciso de sua identidade, a procuração e o atestado médico. Estão aí. Tudo bem. Assine aqui. Este é o seu comprovante. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Não está bom, não. Meu pai morreu. Eu vim cessar o benefício dele. Eu lamento. Você tem a certidão de óbito, identidade e número do benefício dele? Tenho. Pronto, está cessado. Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu fiz a aposentadoria do meu sobrinho quarta-feira. Hoje eu vim trazer o termo de guarda no meu nome. Muito bem. Espere um pouco. Pronto já está certo! Mais alguma coisa? Eu vou receber o dinheiro onde e em que dia? Agora, você espera que em vinte dias chega à sua casa uma carta com o resultado. Certo, obrigado e tchau. Atendimento Especializado 30 minutos Bom dia! Como eu posso ajudá-lo? Eu quero saber quanto tempo de serviço eu já tenho. Eu vou precisar de sua identidade e CTPS. Estão aqui. Espere um pouco. Você tem 26 anos três meses e 16 dias. Faltam três anos oito meses e 14 dias para você se aposentar por tempo de contribuição. Esta via é sua. Obrigado. Tchau.

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Entrevistas Reservamos um tópico para apresentar exclusivamente as entrevistas que realizamos comumente numa APS. Abaixo temos o modelo de algumas. Preste bastante atenção em cada pergunta e pense em como nós poderíamos realizar estas entrevistas em Libras. Entrevista rural 1) Dados do segurado

2) Atividade (s) alegada (s) e período (s) a ser (em) comprovado (s): 3) Informar se houve afastamento da atividade durante o período mencionado e o motivo, inclusive nas entressafras: 4) Informar a quem pertence ou pertencia as terras, a localização e descrever, clara e objetivamente, a forma, de acordo com cada período em que a atividade rural é ou foi exercida – histórico da vida profissional do entrevistado: 5) Informações sobre as pessoas que colaboram ou colaboraram no desempenho da atividade rural no período que se pretende comprovar e por quanto tempo no ano (quantidade de dias ou de horas) – nome, informar se são parentes ou não (o vínculo dessas pessoas junto ao entrevistado, qual trabalho executado, inclusive em relação à atividade desempenhada): 6) Descrever o que é ou era produzido, extraído ou capturado ao longo do período de exercício da atividade rural. (Quantificar a produção e informar qual cultura foi explorada ou tipo de artesanato produzido). 7) Descrever os fins a que se destina a produção - subsistência; consumo próprio, artesanato e comercialização; somente comercialização, industrialização. No caso de participar de cooperativa, se a produção é comercializada por meio da cooperativa ou o mesmo a comercializa. 8) Informar se possui outra fonte de renda ou outro membro do grupo familiar. Em caso positivo, qual (is) é (são) durante o período mencionado no item ii desta entrevista, bem como o valor recebido por cada pessoa. 9) Informar se utiliza (ou) mão de obra, explora (ou) atividade turística da propriedade rural, se produz (iu) artesanato e de onde provem a matéria prima, se exerce (ou) atividade artística, qual o valor recebido e qual o período durante cada ano: 10) Outros esclarecimentos que o segurado ou servidor deseja prestar:

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Justificação administrativa Para prova de dependência econômica e inexistência de dependentes preferenciais, no caso de pais: 1) Conhece o (a) justificante?

2) Quando, onde e como se deu esse conhecimento?

3) Quando, onde e como conheceu o (a) segurado (a) falecido (a)?

4) Costumava freqüentar a casa do (a) justificante? Desde quando?

5) O (a) justificante residia em companhia do (a) segurado (a)?

6) Qual o estado civil do (a) segurado (a)? Tinha companheiro (a)? Deixou filhos menores ou inválidos? Quantos? Quais seus nomes e idades? Onde mora?

7) Conhece o marido (esposa) do (a) justificante e os demais membros da família?

8) Quando, onde e como se deu esse conhecimento?

9) Onde trabalhava o (a) segurado (a)? Quanto ganhava aproximadamente?

10) Onde trabalha o (a) marido (esposa) do (a) justificante? Quanto ganhava, aproximadamente, por ocasião do óbito do (a) segurado (a)?

11) O (a) falecido (a) concorria para o sustento do (a) justificante? Por quê? De que forma? Qual o valor aproximado da ajuda financeira prestada?

12) Essa ajuda era necessária, constante e eficiente?

13) Depois do falecimento do (a) segurado (a), o (a) justificante ou qualquer de seus filhos passou a trabalhar ou sua (seu) esposa (marido) passou a exercer atividade remunerada ou a fazer trabalho extraordinário?

14) O (a) justificante trabalha? Onde? Desde quando? Quanto ganhava na época do óbito do (a) segurado (a)?

15) Como teve conhecimento dos fatos relatados?

16) Deseja fazer mais algum esclarecimento? Prova de tempo de serviço/contribuição: 1) Conhece (ou conheceu) o (a) segurado (a)?

2) Quando, onde e como se deu esse conhecimento?

3) Qual a profissão que ele (a) exercia?

4) Exerceu outras profissões? Pode discriminá-las?

5) Pode mencionar as firmas para as quais o (a) segurado (a) trabalhou desde que o conheceu?

6) Em que época(s) esteve nesse(s) emprego(s)? Pode informar pelo menos o mês e ano em que começou a trabalhar para essa(s) firma(s)? 7) Trabalharam juntos? Qual o nome da empresa? Quais os donos, gerentes e chefes de setor do trabalho na época?

8) Pode citar outros colegas de trabalho e seus endereços?

9) Quais os serviços que o (a) segurado (a) prestava?

10) Trabalhava por hora, por dia, ou por mês?

11) Por que saiu desse emprego?

12) Qual o paradeiro atual do (a) empregador (a)? Sabe o destino da documentação da firma?

13) O senhor tem esses empregos anotados em sua carteira profissional (ou ctps)? Por que o (a) segurado (a) não os tem?

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14) Quer fazer mais algum esclarecimento? Prova de exercício de atividade rural: Segurado (a) empregado (a): 1) Conhece (ou conheceu) o (a) segurado (a)?

2) Quando, onde e como se deu esse conhecimento?

3) O interessado é ou foi empregado (a) da fazenda/sítio/chácara?

4) A atividade foi desenvolvida como trabalhador na atividade rurícola, volante, diarista, safrista ou fixo?

5) Em que época o segurado trabalhou na fazenda/sítio/chácara?

6) Trabalharam ou trabalham juntos?

7) Qual o nome completo do patrão e o endereço?

8) Os membros da família do (a) segurado (a) também trabalham? São também empregados? Quem são eles? O que fazem?

9) Que tipo de atividade o (a) segurado (a) desenvolvia (colhia, plantava, cuidava de animais, entre outros)?

10) A remuneração é ou era mensal, diária, por hora ou empreitada?

11) Existe algum tipo de documento que possa confirmar o período da atividade ou o recebimento da remuneração?

12) Como era feito o pagamento (recibos, folhas de pagamento, produtos)? Tem como comprovar?

13) Deseja acrescentar mais algum esclarecimento? Segurado (a) especial: 1) Conhece (ou conheceu) o (a) segurado (a)?

2) Quando, onde e como se deu o conhecimento?

3) O (a) segurado (a) exerce atividade rural, individualmente ou em regime de economia familiar? (no caso do cônjuge, companheiro ou companheira, confirmar se a atividade rural é preponderante em relação à atividade doméstica);

4) Em que período?

5) É do seu conhecimento se o (a) segurado (a) contratou ou ainda contrata mão-de-obra remunerada, ou seja, empregado (fixo bóia-fria, volante, diarista, camarada, entre outros)? A utilização dos assalariados foi ou é feita por períodos contínuos ou para safras, plantios e colheitas? Em que época houve essa contratação?

6) Sabe se o (a) segurado (a) possui outra fonte de rendimento, decorrente do exercício de atividade remunerada ou aposentadoria de qualquer regime?

7) Os membros da família trabalham na área rural? Quem são eles? O que fazem?

8) O (a) segurado (a) reside na cidade ou no próprio local de trabalho?

9) Que tipo de atividade ele (a) desempenha? Que produtos são cultivados? Possui criação de animais?

10) Qual a condição do (a) requerente (a) (meeiro, parceiro, comodatário, posseiro, arrendatário ou proprietário das terras)? Formular perguntas conforme a atividade declarada.

11) Qual o nome do proprietário da terra que foi feito o contrato verbal ou escrito?

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12) Deseja acrescentar mais alguma informação?

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Finalizando... Com certeza foi muito proveitoso encenar as entrevistas acima. Você sentiu na pele como é falar com quem não te entende muito bem. A partir de agora, você provavelmente voltará para sua APS com outros olhos. É claro que ninguém consegue fluência numa língua em poucos dias, mas com certeza você tem as ferramentas necessárias para que você consiga suprimir as barreiras de comunicação que se interpõe no seu ambiente de trabalho. Os termos mais técnicos estarão à sua disposição neste material para uma consulta futura. Além do que, na internet você terá a seu dispor vários dicionários de Libras para uma consulta rápida. Embora você tenha adquirido bastante conhecimento na área de Libras, você precisará, a partir de agora, reconhecer a necessidade de manter o contato com a comunidade surda para aprimorar suas habilidades. Isto é muito importante, visto que nós somos responsáveis na nossa APS por promover a acessibilidade da comunidade surda. Então procure conhecer pessoas surdas na região de sua APS. Se possível, busque uma forma de levar o PEP até elas para que possamos garantir o direito à informação a essas pessoas. O atendente só estará completo quando ele alcançar a excelência no atendimento. Por isso, não deixe de aprimorar o que você já tem de bom. Mostre amor próprio e amor às pessoas que tem o direito de exigir algo de você. Liberte sua mente. Solte suas mãos. Venha unir pessoas com as mãos. Vocabulário técnico de benefício em libras Aposentadoria Especial Aposentadoria por Idade Aposentadoria por Invalidez Auxílio Acidente Auxílio Doença Auxílio Reclusão Avaliação Social Averbação Benefício BPC-LOAS Carteira de Trabalho Comodato Contribuinte Individual Dependente Empregado Empregado Doméstico Empregador Filiação Imposto de Renda Inscrição Justificação Administrativa Laudo Médico Pensão Alimentícia

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BIBLIOGRAFIA: Capovilla, Fernando César & Raphael, Wlkiria Duarte Dicionário de Libras – volumes 1 e 2 FENEIS – SP Felipe, Tânia A. 2005 Libras em contexto: curso básico: Livro do professor. Brasília, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial. ______2005. Libras em contexto: curso básico: Livro do estudante. Brasília, Ministério da Educação. REVISTA Língua de Sinais – Editora Escala – SP – e-mail: [email protected] Apostila Associação dos Surdos de Goiânia – Centro Especial Elysio Campos. Saretto, Tiago M Oficina de Multiplicadores de Interpretação da LIBRAS A Gramática de Libras. Lucinda Ferreira Brito Língua Brasileira de Sinais. Quadros e Karnopp. 2004

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Roteiros das visitas técnicas reflexivas Caracterização da Comunidade Surda

Prezados Servidores,

Vocês vivenciaram a introdução do curso de LIBRAS INSTRUMENTAL e conheceram o Surdo como um sujeito visual, com história e cultura próprias. Diferenciamos a visão médica da visão cultural da surdez. Então você está preparado para conhecer pessoalmente as comunidades surdas.

No entanto como língua viva, a Libras precisa ser utilizada. Para oportunizar esse uso efetivo da língua, convidamos vocês a realizar uma visita técnica reflexiva à comunidade surda local de sua região. O objetivo é iniciar o contato com a comunidade surda local e caracterizá-la.

Vocês não precisam falar em Libras nesta etapa. Vão apenas caracterizar a comunidade seguindo os passos abaixo:

1º Passo: Acesse o site www.feneis.gov.br , verifique o endereço da associação de surdos mais próxima de sua região, entre em contato e obtenha informações referentes aos horários e aos locais de pontos de encontro da comunidade surda. Essa comunidade poderá encontrar-se em shopping, em igrejas, em escolas ou na própria associação.

2º Passo: Entre em contato com a equipe de Gestão de Pessoas de sua Gerência Executiva. Confirme sua participação no curso Libras Instrumental e solicite autorização para a liberação de uma carga horária de 4h para caracterização da comunidade surda da sua região.

3º Passo: A maioria das comunidades permite livremente o acesso dos ouvintes a suas atividades, no entanto, se necessário, solicite à equipe de Educação da sua Gerência Executiva, oficio informativo sobre o objetivo da visita.

4º Passo: Participe das atividades da comunidade até completar a carga horária de 4h, mas fique livre para continuar participando em suas horas vagas, caso queira praticar.

5º Passo : Observe a comunidade e realize as tarefas propostas no roteiro da visita, em anexo.

6º Passo : Elabore o relatório da visita e poste no site da escola da Previdência, para análise dos tutores.

ROTEIRO DA VISITA TÉCNICA REFLEXIVA

Dados da comunidade:

· Observe se trata-se de uma comunidade surda formalizada (associação, grupo de esporte ou escola de surdo) ou livre (ponto de encontro em shopping, igrejas, praças etc.).

· Tratando-se de uma comunidade surda formalizada, relate o número de membros, objetivos, atividades programadas, existência de ações educacionais ou calendário de

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palestras informativas. Caso não haja esse formalização, limite-se a relatar os períodos em que ocorrem, os objetivos e a descrever o ambiente.

· Observe o comportamento dos participantes da comunidade e realize questionamentos quanto aos fatores listados abaixo:

· Formas de comunicação utilizada

· Posturas políticas quanto à acessibilidade ao surdo

· Características linguísticas e culturais dos surdos

· Integração com a família

· Participação de ouvintes na comunidade

· Visão da comunidade quanto aos Serviços oferecidos pela Previdência

· Importância do uso da Libras no INSS

ROTEIRO DO RELATÓRIO

· Dados de identificação do servidor

· Dados de identificação da comunidade

· Descrição da comunidade observada

· Reflexão sobre as dificuldades e possibilidades para prestação de um atendimento com excelência, no INSS, aos cidadãos surdos

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Imersão na Comunidade Surda Prezados Servidores,

Vocês estão preparados para retornar a Comunidade Surda que caracterizou na segunda semana do nosso curso. Apresentamos uma breve visão histórica da educação de surdos no Brasil e no Mundo, focalizando os primeiros estudos sobre as línguas de sinais e da Libras. Identificamos a importância da língua de sinais para construção da identidade e cultura dos Surdos. Apresentamos aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e discursivos da Libras, com base em estudos linguísticos. O Charles nos ajudou a compreender a teoria e ampliamos nosso vocabulário, outrora tão pequeno, através de vídeos.

Agora você está preparado para imersão na comunidade surda local.

Para oportunizar o uso efetivo da língua, convidamos vocês a tentarem se comunicar com os surdos da comunidade que você caracterizou. O objetivo é identificar as dificuldades pessoais em sinalizar e “ouvir” os surdos.

Vocês precisam iniciar o uso da Libras nesta etapa. Mas não se desespere, queremos que você se apresente e explique que está aprendendo Libras para possibilitar o acesso aos surdos aos benefícios e serviços oferecidos pela Previdência Social. Vocês deverão seguir os passos abaixo:

1º Passo: Entre em contato com a equipe de Gestão de Pessoas de sua Gerência Executiva. Confirme sua participação no curso Libras Instrumental e solicite autorização para a liberação de uma carga horária de 8h para imersão na comunidade surda da sua região.

2º Passo: A maioria das comunidades permite livremente o acesso dos ouvintes a suas atividades, no entanto, se necessário, solicite à equipe de Educação da sua Gerência Executiva, oficio informativo sobre o objetivo da visita.

3º Passo: Participe das atividades da comunidade até completar a carga horária de 8h, mas fique livre para continuar participando em suas horas vagas, caso queira praticar.

4º Passo : Anote as dificuldades encontradas e realize as tarefas propostas no roteiro da visita, em anexo.

5º Passo : Elabore o relatório da visita e poste no site da escola da Previdência, para análise dos tutores.

ROTEIRO DA VISITA TÉCNICA REFLEXIVA

Dados da comunidade:

· Cumprimente os surdos, dê Bom Dia! , Boa Tarde! Ou Boa Noite!

· Apresente-se. Usando datilologia sinalize seu nome e mostre seu sinal pessoal (se não tiver, peça que os surdos lhe batizem).

· Pergunte aos surdos seus nomes, sinais pessoais, etc.

· Anote que estratégias você utilizou para se comunicar e as dificuldades encontradas.

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· Explique que está aprendendo a se comunicar em Libras para possibilitar acesso aos Surdos aos benefícios e serviços oferecidos pela Previdência Social.

ROTEIRO DO RELATÓRIO

· Dados de identificação do servidor

· Dados de identificação da comunidade

· Estratégias de comunicação alternativas a Libras utilizadas e resultados

· Dificuldades encontradas

· Como foi a recepção dos surdos

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Laboratório de Comunicação e Autoavaliação Prezados Servidores,

Vocês vivenciaram o curso de LIBRAS INSTRUMENTAL nas etapas EAD e semi-presencial.

Durante o curso nós debatemos sobre o Surdo como um sujeito visual, com historia e cultura próprias. Historiamos a evolução dos Direitos Humanos, que culminaram na publicação de várias leis e decretos que garantem às pessoas com deficiência o direito à acessibilidade. Particularmente com relação ao surdo, o direito ao uso da LIBRAS, respaldada na Lei da Libras e no Decreto 10.526.

Conhecemos alguns sinais de Libras Básico e do vocabulário previdenciário, praticamos a conversação nas atividades em grupo e na interação com os educadores.

Para maturar o aprendizado da língua é necessário tempo e prática, portanto convidamos você a voltar a comunidade surda e aplicar o que aprendeu nesta ação educacional.

Nesta visita, você deve praticar ao máximo a Língua Brasileira de Sinais. Para realizar essa visita, você deverá seguir alguns passos importantes:

1º Passo: Entre em contato com a equipe de Gestão de Pessoas de sua Gerência Executiva. Confirme sua aprovação nas Etapas EAD e Semi-presencial e solicite autorização para a liberação de uma carga horária de 8h para realização do laboratório de comunicação e autoavaliação na comunidade surda da sua região.

2º Passo: A maioria das comunidades permite livremente o acesso dos ouvintes a suas atividades, no entanto, se necessário, solicite à equipe de Educação do RH, oficio informativo sobre o objetivo da visita.

3º Passo: Participe obrigatoriamente das atividades da comunidade até completar a carga horária de 8h, mas fique livre para continuar participando em suas horas vagas, caso queira praticar.

4º Passo : Observe seu progresso desde a primeira visita à comunidade e realize as tarefas propostas no roteiro da visita técnica, em anexo.

5º Passo : Elabore o relatório da visita e poste no site da escola da Previdência, para análise dos tutores

ROTEIRO DA VISITA TÉCNICA REFLEXIVA

· Pratique o uso da Libras

· Observe que progresso você fez desde sua primeira visita

· Se disponha a fornecer informações sobre benefícios e serviços prestados pela Previdência Social.

ROTEIRO DO RELATÓRIO

· Dados de identificação do servidor

· Dados de identificação da comunidade

· Analise crítica da visita

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· Reflexão sobre as dificuldades e possibilidades para prestação de um atendimento com excelência, no INSS, aos cidadãos surdos

· Críticas e sugestões sobre o curso.

Auto-avaliação

Seu espaço

É verdade que existem inúmeras situações que não foram abordadas. Por isso este espaço é todo seu. Escreva abaixo as situações específicas que poderiam ocorrer na sua APS. Fazer isto é muito importante para conquistar uma maior confiança e segurança no atendimento aos nossos cidadãos. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

Bons Estudos!!!